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MASSAÚ, G. BERTOLDI, M. R. O dever fundamental sobre o meio ambiente equilibrado.

Constitucionalismo e Meio Ambiente. 1º ed. Porto Alegre: Editora Fi, 2021.

O artigo possui como tema central a proteção ao meio ambiente, colocando-o como
uma garantia constitucional de qualidade de vida para as futuras e próximas gerações.
Enquanto direito fundamental1, a proteção ambiental é dever do Estado e responsabilidade
da coletividade, como expressa o artigo 225, caput, da CRFB (p. 400).
O objetivo do artigo é examinar a solidariedade e a igualdade entre as gerações
como suporte à construção do dever coletivo de proteção ao meio ambiente. Além disso,
busca analisar as normas que o efetivam em matéria penal, administrativa e cível (p. 400).
O referido artigo possui três hipóteses. A primeira hipótese é que a solidariedade
supera a soberania dos Estados (p. 411) e o dever de solidariedade também é
intergeracional, por se estabelecer entre gerações, as presentes e as futuras (p. 412). A
segunda se refere a ideia de que o dever fundamental requer densidade, necessita de
regulamentação infraconstitucional, (p. 401) e que qualquer direito e dever só possuem
sentido no ambiente social por serem formas de controle social (p. 402). Além disso,
aponta, como terceira hipótese, que uma das características do direito ambiental é
justamente ser um direito dever, como um direito objetivo, que, conforme a densificação da
norma que deriva do direito objetivo, surge o direito subjetivo, que corresponde ao dever de
outros (p. 405).
Os principais conceitos utilizados pelo autor são: meio ambiente ecologicamente
equilibrado, técnica dos deveres constitucionais, dever geral e positivo, princípio da
solidariedade, dever da equidade intergeracional, dano ambiental, dever penal, dever cível e
dever administrativo.
O conceito de meio ambiente equilibrado é um direito de todos. Por isso, ele possui
um elemento individual, pois depende de cada um para ser alcançado, e uma dimensão
coletiva, pois é de interesse de todos o dever de um meio ambiente sadio. Devido às
características citadas, qualquer indivíduo poderá exigi-lo tanto de maneira individual quanto
coletiva. O referido conceito está ligado a outros direitos fundamentais, como à vida e à
saúde, apesar de não ser reconhecido como um direito humano (p. 405).
O segundo conceito é a técnica dos deveres constitucionais, que diz respeito à
obrigação explícita, tanto individual quanto coletiva, de cuidar do meio ambiente. Além
disso, abrange o dever implícito de não causar danos ao meio ambiente.
Já o dever geral e positivo é o conceito mais importante para que a preservação de
fato aconteça. É uma norma constitucional fundada no princípio da prevenção, dado que o
comportamento para evitar os danos ambientais para as futuras gerações deve ser
realizado hoje, como, por exemplo, o uso racional dos recursos naturais, a elaboração de
planos de estudos de impactos ambientais e a notificação a Estados quanto a danos
ambientais.
Para que o dever se concretize é necessário que deixe de ser apenas um princípio
elencado na CF. O dever do Art. 225, que estabelece que a preservação do meio ambiente
cabe à coletividade e ao poder público, carece de eficácia normativa. Contudo, ao Poder

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O direito fundamental é essencial à dignidade da vida humana (art. 1; CRFB). É muito importante
que seja abordado pela Constituição Federal para que exista a possibilidade de cobrança judicial.
Nesse sentido, se difere dos direitos humanos que não são sempre passíveis de exigência interna,
dada a sua materialidade internacional.
Público cabe a responsabilidade de ação para garantir um meio ambiente equilibrado e as
suas ações possuem regulamentação infraconstitucional (p. 418).
Para sanar a carência de normas, o Poder Judiciário tem o papel de julgar os casos
a respeito, mas não pode fazê-lo exclusivamente e cabe à legislação infraconstitucional o
papel de especificar os casos concretos que se enquadram como dano ambiental ou de
falta de cumprimento do dever de proteção ao meio ambiente no que se refere à
coletividade (p 415). Um exemplo da concretização normativa da responsabilidade estatal é
o Capítulo V – Dos crimes contra o meio ambiente da Lei n. 9.605/98, a qual especifica o
que é considerada conduta danosa ao meio ambiente (p. 418).
O dever geral e coletivo de preservar está ligado, também, à conscientização da
população a respeito do meio ambiente como um sistema integrado, ou seja, permeado por
dinâmicas e complexas relações entre várias partes que o compõem, como a econômica, a
psicológica, a jurídica, a social, entre outras (p. 409).
O dever e princípio da solidariedade expressa a codependência entre as partes que
compõem o meio ambiente (citadas acima) e os seres, tanto vivos quanto humanos.
Conscientizar-se de que as ações humanas ambientais hoje podem causar danos futuros e
comprometer as gerações a médio e longo prazo simboliza a ligação entre as gerações e o
sentimento de finitude (p. 410). Afinal, um meio ambiente equilibrado somente será possível
com os esforços de todos e sua conscientização a fim de garantir a igualdade, a liberdade e
condições de vida digna, tanto no presente quanto no futuro.
O dever da equidade intergeracional a um ambiente equilibrado não exclui a esfera
do dever que a ela é inerente. Destarte, as presentes e futuras gerações têm o dever de
proteger o meio ambiente para que as próximas gerações tenham seu direito fundamental
ao meio ambiente equilibrado plenamente assegurado, principalmente no que se refere ao
acesso aos recursos naturais. Ademais, esta preocupação é mundial desde 1972, na
Conferência de Estocolmo, evidenciando a busca pela continuidade da vida na terra, em
contraposição à lógica racional de deterioração de recursos naturais (p. 412).
O conceito de dano ambiental diz respeito à degradação, tanto individual quanto
coletiva, causada no meio ambiente, passível de reparação, pois está consubstanciado no
direito fundamental de todos ao gozo de um meio ambiente equilibrado. Se o dano não foi
recuperado é passível de reparação por meio dos deveres cível, penal e administrativo.
Lei n. 9.605/98 (BRASIL, 1998) trata do dever penal, a qual é um exemplo de lei
infraconstitucional em que o poder público se responsabiliza pelas penalidades cabíveis em
caso de dano ao meio ambiente. Além disso, a coletividade, enquanto possuidora de seu
dever coletivo de proteção ao meio ambiente, pode invocar a Ação Civil Pública2 e a Ação
Popular3 para a defesa do meio ambiente (p. 418)
O dever administrativo deriva da responsabilidade do Estado, enquanto detentor de
interesses coletivos, na proteção ambiental. A ele cabe a realização de estudos de impacto
ambiental, aplicação de multas em caso de descumprimento, advertência e embargo de
obra. Contudo, a aplicação de multas sempre caberá após respeitados o direito ao
contraditório e a ampla defesa (p.419).

2
A Ação Civil Pública está prevista na Constituição Federal. Ela é utilizada para a defesa de
interesses difusos (como é o caso da proteção ao meio ambiente, pois não se esgota numa só
pessoa), coletivos e individuais homogêneos. Pode ser realizada pelo Ministério Público ou outras
entidades legitimadas.
3
A Ação Popular é garantia constitucional que pode ser perpetrada por qualquer cidadão ao verificar
a existência de dano ao patrimônio público, à administração pública ou ao meio ambiente.
As principais conclusões do autor são que o dever de cuidar o ambiente segue os
princípios-deveres da solidariedade e da equidade intergeracional, que exigem do ser
humano um comportamento vinculado à ética da vida e à responsabilidade, tendo em
consideração o pensamento sistêmico (p. 421). Além disso, traz a consideração de que a
partir do marco constitucional e da regulamentação infraconstitucional que se estabelece no
Estado brasileiro uma rede normativa de proteção e defesa do meio ambiente é
estabelecida (p. 421).
O meio ambiente equilibrado é uma política de Estado e também da comunidade
internacional. O direito-dever ao/e com o meio ambiente são categorias constitucionais
associadas que se efetivam em contrapartida, quer dizer, o dever fundamental de proteger o
ambiente pode efetivar o direito correspondente para o qual o dever será um influente
materializador (p. 421/422).
Por fim, as minhas considerações pessoais a respeito do texto são que os direitos
fundamentais mudam com o passar do tempo. Nas próximas gerações, pode ser que o
direito fundamental a ter acesso a um meio ambiente equilibrado dependa de mais
garantias constitucionais, tanto na esfera cível, administrativa e penal, pois, conforme
analisado pelo referido artigo, a proteção ao meio ambiente ainda está elencada como um
princípio constitucional e carece de proteção normativa que determine os casos concretos
para a sua materialização, tanto no que se refere a enquadramento jurídico quanto a
penalidades.
Destarte, é muito importante que o Direito seja uma força jurídica capaz de fazer
com que as suas disposições sejam cumpridas em uma cenário que engloba o sistema
ambiental como um todo. Entretanto, sabe-se que em uma economia baseada nas relações
de consumo a intersecção entre os interesses ambientais e de mercado não costumam
colidir, mas divergir, pois o ser humano, em sua busca pelo padrão de consumo cada vez
mais elevado, acaba por degradar o meio ambiente - esta dinâmica de degradação têm
aumentado cada vez mais após a Revolução Industrial.
Do ponto de vista econômico e social, há uma estrutura polarizada, que permite que
alguns países, por exemplo, paguem uma quota maior para poluir, como ocorre quando há
um preço médio global do carbono fixado pelo Fundo Monetário Internacional. Os países
mais ricos pagam mais pela poluição.
Apesar de os Estados possuírem um direito relativo sobre o uso de seus recursos
públicos, o pensamento de integridade do meio ambiente, principalmente como o traz o
pensamento sistêmico, ajuda a entendê-lo como um sistema em que o dano em uma das
partes provocará efeitos em cadeia por toda a rede sistêmica, ou seja, fora da jurisdição
própria do Estado que a causou - um dano ambiental.
O pensamento sistêmico deixa de considerar uma análise puramente derivada das
partes e considera o todo, permitindo que a abordagem dos efeitos da ação humana sobre
o meio ambiente sejam debatidas a partir tanto do olhar do Estado e do Direito quanto de
outros focos, como o econômico, o jurídico, o social, entre outros.
As principais palavras-chave utilizadas no artigo são: meio ambiente equilibrado,
dever fundamental, solidariedade, igualdade, coletividade e responsabilidade.
As fontes utilizadas foram as primárias, secundárias e terciárias. Incluem-se como
fontes primárias as que apresentam informações em seus dados originais, como, por
exemplo, o Decreto nº 4.297, 2002, a Lei 6.938/1981, a Lei 9.605 e a Resolução CONAMA
nº 01, dentre outras. Já como fontes secundárias, que envolvem análise, síntese e
discussões, pode-se citar os artigos utilizados como “Introdução ao Direito”, “Derecho
Ambiental”, “Direito ao Meio Ambiente", “Princípios do Direito Ambiental”, pois envolvem um
compilado que discute dados a respeito da temática ambiental, considerados uma
conclusão baseada em dados primários. Ademais, como fonte terciária pode-se citar o
próprio artigo ora discutido “O dever fundamental sobre o meio ambiente equilibrado.
Constitucionalismo e Meio Ambiente”, formado pela junção das fontes primárias e terciárias,
que tratou de apresentar uma síntese dos dados e das discussões dos artigos fonte a
respeito da matéria.

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