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1.

ULTRATIVIDADE DAS NORMAS COLETIVAS, ADOTADA PELO


TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. IMPOSSIBILIDADE. DECISÃO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DETERMINA A SUSPENSÃO DE
TODOS OS PROCESSOS E EFEITOS DAS DECISÕES DA JUSTIÇA DO
TRABALHO, NO PARTICULAR.

O presente artigo visa analisar a recente decisão do Supremo Tribunal


Federal, proferida em sede de medida cautelar, no sentido de “suspender todos
os processos e efeitos de decisões no âmbito da Justiça do Trabalho que
discutam a aplicação da ultratividade de normas de acordos e de convenções
coletivas”, e o impacto por ela trazido. Em suma, tem-se por ultratividade, nas
palavras transcritas pelo Relator da liminar, a incorporação das cláusulas
normativas ao contrato individual de trabalho, “até que novo acordo ou
convenção coletiva [seja] firmado”1, com a projeção temporal da eficácia da
norma coletiva.

O Ministro Gilmar Mendes, nos autos da Arguição de Descumprimento


de Preceito Fundamental (ADPF) 323, ajuizada pela Confederação Nacional
dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen), julgou o questionamento
levantado pela Confenen em face da nova redação da Súmula nº 277 do
Tribunal Superior do Trabalho (TST), alterada em setembro de 2012, por meio
da Resolução nº 185/20122. A decisão ainda precisa ser referendada pelo
Pleno do STF.

Quando da concessão da liminar, o Ministro considerou que “da análise


do caso extrai-se indubitavelmente que se tem como insustentável o
entendimento jurisdicional conferido pelos tribunais trabalhistas ao interpretar
arbitrariamente a norma constitucional”3.

Para proceder às considerações ambicionadas, alguns apontamentos


introdutórios são necessários.

1.1. O DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO BRASILEIRO. BREVES


CONSIDERAÇÕES. SISTEMA DE PRECEDENTES.

O Direito Processual do Trabalho Brasileiro pode ser considerado


anômalo em vários aspectos. O primeiro deles, dos mais importantes, é o fato
de não existir propriamente um Código de Processo do Trabalho. O apanhado
de “(...) normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho,
nela previstas”4, encontra-se na Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, de

1
In http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF323.pdf, consultado em
08/01/2017, às 23h30min.

2
Íntegra da decisão: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF323.pdf,
consultado em 30/11/2016, às 10h30min.

3
Íntegra da decisão: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF323.pdf,
consultado em 30/11/2016, às 10h30min.

4
CLT, artigo 1º.

1
1943. Como é sabido, uma Consolidação difere de um Código, posto que a
primeira reúne legislação esparsa sobre determinada matéria 5, ao passo que o
segundo representa um arcabouço normativo escrito em lei única.

Por não se tratar de um diploma processual stricto sensu, em seu artigo


8º, parágrafo único, a CLT já previa a utilização subsidiária de outras fontes de
Direito (“direito comum”), a saber:

Art. 8º. As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta


de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela
jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas
gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de
acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de
maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o
interesse público.
Parágrafo único. O direito comum será fonte subsidiária do direito do
trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios
fundamentais deste.

Com o advento do Código de Processo Civil atual, promulgado em 2015


e com vigência a partir de 16/03/2016, deu-se algo inusitado: desta vez, o
próprio CPC determinou a sua aplicação a outros campos do Direito, inclusive
o Direito Processual do Trabalho. E não de modo apenas subsidiário, mas,
igualmente, supletivo:

Art. 15.  Na ausência de normas que regulem processos eleitorais,


trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão
aplicadas supletiva e subsidiariamente.
(Destaque não original.)

Ainda no campo das fontes formais, o Direito Processual do Trabalho


Brasileiro baseia-se largamente na jurisprudência, o que se justifica pela
própria natureza do Direito do Trabalho, que, por não ser estanque, sofre
alterações periódicas constantes. Esta particularidade o aproxima do sistema
de common law do direito norte-americano, por exemplo. A constatação é
importante pelo fato de o direito brasileiro ser marcadamente “positivo”, no
sentido de a atividade normativa ter natureza estatal.

A propósito, uma das grandes inovações do novo Código de Processo


Civil repousa na valorização do sistema de Precedentes, na linha do quanto
5
No particular, quanto à CLT, leciona Valentin Carrion (“Comentários à Consolidação das Leis
do Trabalho”. 31ª ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 20): “1. A
Consolidação das Leis do Trabalho passou a ter vigência em 10.11.43, sistematizando a
esparsa legislação existente e introduzindo inúmeras disposições inovadoras, (...)” (destaque
não original).

No mesmo sentido, o artigo 13, § 1º, da Lei Complementar nº 95/1998:


“Art. 13. omissis
§1º A consolidação consistirá na integração de todas as leis pertinentes a determinada
matéria num único diploma legal, revogando-se formalmente as leis incorporadas à
consolidação, sem modificação do alcance nem interrupção da força normativa dos dispositivos
consolidados”.

2
adotado pelo já referido sistema norte-americano 6. No campo do Direito
Processual do Trabalho, podem ser citados como ferramentas de
uniformização os institutos de IRDR7, IUJ8 e Súmulas (inclusive as Vinculantes,
oriundas do Supremo Tribunal Federal), as quais podem ser editadas pelo
Tribunal Superior do Trabalho (estas, contudo, sem caráter vinculante).

A edição de Súmulas pelo Tribunal Superior do Trabalho, ainda que não


vinculantes, direciona o entendimento de todos os Tribunais Regionais do
Trabalho pátrios. O artigo 896, da CLT, que regulamenta as hipóteses de
cabimento de recurso de revista para o TST, similar ao recurso especial para o
STJ – ou seja, com a função precípua de consolidar a jurisprudência, e não a
de funcionar como uma “terceira instância” –, equipara as súmulas do TST,
para esta finalidade, às Súmulas Vinculantes editadas pelo STF (alínea “a”):

Art. 896. Cabe Recurso de Revista para Turma do Tribunal Superior do


Trabalho das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em
dissídio individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho, quando:

a) derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa da


que lhe houver dado outro Tribunal Regional do Trabalho, no seu Pleno
ou Turma, ou a Seção de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do
Trabalho, ou contrariarem súmula de jurisprudência uniforme dessa
Corte ou súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal;
(...)
(Destaque não original.)

Verifica-se, portanto, a importância do entendimento reiterado dos


Tribunais, em especial do TST, na seara trabalhista nacional. Contudo, é
preciso atentar para que a produção jurisprudencial não gere situações de
ativismo judicial, com a consequente criação de insegurança jurídica. O que,
entende-se, ocorre no exemplo estudado.

1.2. ULTRATIVIDADE DAS NORMAS COLETIVAS. ARTIGOS 611, CAPUT E


§ 1º, E 614, § 3º, DA CLT. ARTIGO 7º, XXVI, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. A SÚMULA Nº 277 DO TST.

No campo do direito do trabalho, a negociação coletiva representa uma


das mais importantes fontes formais. De acordo com Arnaldo Süssekind, trata-
se de “(...) instrumentos normativos de ampla utilização e inquestionável relevo
na auto-composição dos interesses que afetam os atores das relações de
trabalho”9. A possibilidade de elaboração de convenções ou acordos coletivos
de trabalho está prevista no artigo 611, caput e § 1º, da CLT:

6
Vide artigos 926 a 928 do NCPC.

7
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas.
8

Incidente de Uniformização de Jurisprudência.

9
Süssekind, Arnaldo “Curso de Direito do Trabalho”. 2ª edição, revisada e atualizada, Rio de
Janeiro: Renovar, 2004, p. 125.

3
Art. 611. Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter
normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de
categorias econômicas e profissionais estipulam condições de
trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às
relações individuais de trabalho.

§ 1º É facultado aos Sindicatos representativos de categorias


profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais
empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem
condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das
acordantes respectivas relações de trabalho. 
(Destaque não original.)

Mais adiante, o artigo 614, § 3º, determina que o prazo de duração de


tais normas coletivas não poderá ultrapassar dois anos:

Art. 614. Omissis.


(...)
§ 3º Não será permitido estipular duração de Convenção ou Acôrdo
superior a 2 (dois) anos. 

De seu turno, a Constituição da República, no Título dedicado aos


Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo dos Direitos Individuais e
Coletivos, expressamente prevê o “reconhecimento das convenções e acordos
coletivos de trabalho”:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visem à melhoria de sua condição social:
(...)
XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de
trabalho;

A consequência imediata da fixação do prazo de duração das normas


coletivas é a sua não aderência ao contrato de trabalho. Ou seja: os benefícios
previstos em instrumentos de negociação coletiva são temporários,
dependendo da sua inclusão na norma coletiva seguinte. Esse era o
entendimento do Tribunal Superior do Trabalho, representado pela Súmula nº
277.

Para fins históricos, cabe ressaltar que a redação original da Súmula em


questão (Resolução nº 10/1988 do TST) se referia apenas a sentença
normativa:

Nº 277. Sentença normativa. Vigência. Repercussão nos contratos de


trabalho.
As condições de trabalho alcançadas por força de sentença normativa
vigoram no prazo assinado, não integrando, de forma definitiva, os
contratos.
(Destaque não original.)

4
Alteração posterior (Resolução nº 121/2003 do TST) estruturou a
Súmula em incisos e incluiu a menção a acordos e convenções coletivas no
inciso I:

Nº 277. Sentença normativa. Convenção ou acordo coletivos. Vigência.


Repercussão nos contratos de trabalho.
I – As condições de trabalho alcançadas por força de sentença
normativa, convenção ou acordos coletivos vigoram no prazo
assinado, não integrando, de forma definitiva, os contratos
individuais de trabalho.
(...)
(Destaque não original.)

Vale repetir: entre 2003 e 2012, o entendimento consolidado acerca da


aderência das normas coletivas aos contratos individuais de trabalho, em
consonância com os dispositivos legais supra referidos, era no sentido de que
encerrado o prazo de vigência de acordos e convenções coletivas, os direitos
por eles previstos não se integravam ao patrimônio jurídico do trabalhador.
Para que empregados tivessem direito às vantagens instituídas por meio de
negociação coletiva, era imperativo que as cláusulas fossem repetidas na
redação dos instrumentos normativos posteriores.

O entendimento, perfeitamente razoável, resultava inclusive em


segurança jurídica. Configuradas situações sobre as quais o empregador não
tem controle, a exemplo de flutuações econômicas, não haveria a
obrigatoriedade de pagamento de benesses previstas em normas coletivas nos
períodos posteriores ao seu prazo de duração, sem que se considerasse que
as parcelas estariam sendo irregularmente extintas, em prejuízo do
trabalhador10.

Ocorre que, em 2012, revisando a matéria sumulada, o TST houve por


bem alterar mais uma vez a redação da Súmula em questão:

Nº 277. CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO OU ACORDO


COLETIVO DE TRABALHO. EFICÁCIA. ULTRATIVIDADE (redação
alterada na sessão do Tribunal Pleno realizada em 14.09.2012) –
Res. 185/2012 – DEJT divulgado em 25, 26 e 27.09.2012
As cláusulas normativas dos acordos coletivos ou convenções coletivas
integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser
modificadas ou suprimidas mediante negociação coletiva de trabalho.
(Destaque não original.)

A mudança é patente. Se anteriormente, como visto, as previsões


normativas não possuíam natureza permanente – e, ao contrário, tinham prazo
certo para terminarem –, a partir de tal modificação o entendimento passou a
ser o exato inverso, diametralmente: as vantagens automaticamente se
integravam aos contratos de trabalho, até que outra norma as extinguisse. O
TST, portanto, dotou as normas coletivas de ultratividade.
10
Vide o artigo 468 da CLT.

5
Além da insegurança jurídica criada, em face, p.ex., de não existir um
horizonte próximo de alteração da norma (que, por ser bilateral, demanda uma
confluência de vontades), aparentemente não foram considerados os impactos
em situações concretas do dia-a-dia, como a recusa do Sindicato em negociar
as próximas normas coletivas, ou retardar a sua entabulação.

Sem prejuízo de haver meios que obriguem à negociação, tome-se


como exemplo um dissídio coletivo, cuja tramitação pode ser demorada, em
especial se a demanda for levada até o TST, por qualquer das partes.
Enquanto não concluído, os benefícios que deveriam ter se desvinculado dos
contratos de trabalho continuam obrigatoriamente sendo pagos,
indefinidamente.

Não obstante o fundamento do TST seja a interpretação dada pelo


Pretório Excelso Trabalhista ao artigo 114, § 2º, da Constituição, com redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004, sua análise foge ao tema
proposto. Importa perscrutar a ampliação da intervenção do Supremo Tribunal
Federal nas decisões e entendimentos sumulados do TST, que é a mais alta
corte trabalhista do país, e a quem vem sendo imputada a transposição dos
limites da divisão de poderes, assim como a prática de “legislar” por meio de
ativismo judicial.

1.3. A LIMINAR DO STF NOS AUTOS DA ADPF 323. IMPACTOS DA


DECISÃO.

A exemplo do caso estudado, assim como em outras situações, o STF


vem deixando claro que considera que o “TST tem agido com intervencionismo
talvez exagerado nas relações de trabalho”, segundo o Ministro Gilmar
Mendes11. Desenvolvendo este conceito sob a ótica da proteção à Constituição,
ao explorar os argumentos de sua decisão na ADPF 323, o referido Relator cita
o exemplo de Magnaud, magistrado francês do Tribunal da primeira instância
em Château-Thierry, que atuou entre os anos 1889 a 1904, conhecido como “o
bom juiz” pela sua prática de interpretar a lei por meio de critérios humanos e
sociais, desatrelado de qualquer dispositivo legislativo, comparando-o por
semelhança à postura do TST na interpretação da norma 12.

Contudo, o Ministro, em seu relatório, criticou duramente a Corte


Superior Trabalhista pelo que chamou de seu “ativismo naif”, ao julgar com
distanciamento da realidade, em atuação na causa que entende nobre, apenas
para beneficiar “determinada categoria”. Com efeito, verifica-se que o
posicionamento do Tribunal Superior do Trabalho tem contribuído para o
enfraquecimento da vontade formal das partes, chegando a contrariar
previsões constitucionais, o que vem sendo combatido pelo STF, o qual,
quanto ao tema, na função de guardião da Constituição, vem assegurando a

11
In: http://jota.info/justica/para-gilmar-tst-tem-agido-com-intervencionismo-talvez-exagerado-
nas-relacoes-trabalho-18102016, consultado em 22/12/2016, às 19h08min.

12
Íntegra da decisão: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF323.pdf,
consultado em 09/01/2017, à 00h11min.

6
prevalência do acordado sobre o legislado, na seara das relações
trabalhistas.

“O Supremo tem assegurado a prevalência de acordos coletivos entre


sindicatos e empresas sobre a legislação trabalhista. Em setembro, o ministro
Teori Zavascki manteve cláusula que suprimiu o pagamento de horas de
deslocamento (in itinere) a trabalhadores de uma usina de açúcar e álcool de
Pernambuco, reformando entendimento do TST. O ministro Luís Roberto
Barroso também deu ganho de causa a um banco que havia feito acordo no
qual quitava dívidas com os trabalhadores que não entrassem na Justiça após
o pagamento” 13.

Curiosamente, no mesmo mês de outubro de 2016, também no dia


14/10 (data da decisão liminar da ADPF 323), foi publicado acórdão da 7ª
Turma do TST, nos autos nº 0000166-30.2010.5.01.0066, em que a discussão
gira em torno, precisamente, do alcance do quanto acordado entre empresa e
empregado, com participação sindical14. Em entendimento diametralmente
contrário ao do STF, de mesma data, o TST anulou, de forma discricionária,
cláusula de negociação coletiva, impondo à empresa o pagamento de
diferenças salariais, quando a norma coletiva previa a redução de salários (com
fundamento no artigo 7º, XIII, da CR) em troca da manutenção dos postos de
trabalho, com garantia de emprego por cinco anos, além de outros benefícios e
vantagens compensatórias para os trabalhadores 15 – sendo que referidos
empregados passaram não apenas cinco, mas sete anos laborando
normalmente na empresa acordante.

A aplicação desenfreada do princípio da ultratividade, como reflexo da


atuação do TST em extrapolação às suas atribuições, tem como consequência
natural o engessamento das relações de trabalho. As negociações coletivas
são ferramentas de estabilidade social, esta contrária à insegurança jurídica, e
cuja promoção e restabelecimento é um dos principais fundamentos do
Supremo Tribunal Federal, como visto.

Nesta ordem de ideias, a conclusão a que se chega, quanto à


suspensão dos andamentos de todos os processos sobre o tema da
ultratividade, é: o Supremo Tribunal Federal parece dizer ao Tribunal Superior
do Trabalho que a possibilidade de criação e consolidação de
jurisprudência não se confunde com ativismo judicial ou violação ao
13
In: http://jota.info/justica/para-gilmar-tst-tem-agido-com-intervencionismo-talvez-exagerado-
nas-relacoes-trabalho-18102016, consultado em 09/01/2017, à 00h54min. Quanto à decisão
sobre as horas in itinere dos trabalhadores da usina de álcool e açúcar, cf., igualmente, os
termos da liminar da ADPF 323.

14
In: http://www.tst.jus.br/pmnoticias/-/asset_publisher/89Dk/content/id/23068347, consultado
em 26/12/2016, às 11h00.

15
In: http://aplicacao4.tst.jus.br/consultaProcessual/resumoForm.do?
consulta=1&numeroInt=140960&anoInt=2013&qtdAcesso=118631889, consultado em
26/12/2016, às 11h37.

7
princípio constitucional da separação dos poderes, não podendo,
igualmente, gerar insegurança jurídica. E que, ao se deparar com situações
nas quais considere que o Tribunal Superior do Trabalho extrapolou sua
competência, maculando a Carta Magna, irá intervir, determinando o
desfazimento do quanto emanado pelo TST.

Considerando-se, ainda, que em dia, mês e ano coincidentes,


analisando matéria idêntica àquela discutida perante o STF (quanto aos limites
da negociação coletiva à luz da Carta Magna), o TST julgou em sentido
contrário à mais alta corte pátria, a coincidência de datas reforça o
descompasso do Pretório Trabalhista em face do Tribunal Supremo.

Sob tais circunstâncias, outra não pode ser a conclusão a ser


apresentada, senão a de que a reconsideração da postura até então adotada
pelo TST é essencial para a retomada da ordem, não só trabalhista como
também constitucional, evitando, a um só tempo, a fragilização ainda maior das
relações trabalhistas e das esferas dos poderes, ambas igualmente
necessárias para o funcionamento regular e manutenção da segurança jurídica
e do Estado Democrático de Direito16.

16
Já aos 21/11/2016, ao proferir decisão no primeiro julgamento de recursos repetitivos do
TST, a sua Sessão de Dissídios Individuais 1 resolveu restaurar a redação da Súmula nº 124
do Tribunal, alterada também em 2012, quanto ao divisor de horas dos bancários, para retomar
a interpretação da cláusula normativa repetida por, pelo menos, 20 anos, e defendida pelos
empregadores, no sentido, em suma, de que a norma coletiva não alterou a natureza dos
sábados para os bancários, não se tratando de dia de repouso remunerado, mas sim de dia útil
não trabalhado.

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