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A DITADURA ESPELHADA
São Paulo
2017
© 2017 UNINOVE
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CDU 321.6
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UNINOVE – uso exclusivo para aluno
Prefácio................................................................................................................. 13
Introdução, 17
1 Gênese do tema................................................................................................ 19
2 Conjuntura, objeto e universo de investigação............................................ 22
3 Procedimentos metodológicos....................................................................... 25
3.1 Considerações gerais sobre as etapas da pesquisa.................................. 25
3.2 Categorias.................................................................................................... 27
3.3 Sobre o conceito de representação............................................................ 28
3.4 Contribuições de Pierre Bourdieu............................................................ 33
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Parte I
O Livro Didático como
Produto do Campo Editorial, 39
1 O significado do livro didático e de seu uso................................................. 41
2 O campo editorial do livro didático............................................................... 45
2.1 Avaliação institucional do livro didático e
suas implicações no campo editorial............................................................ 50
Parte II
A Oficialização da
História da Ditadura, 57
1 A ditadura militar e a reprodução de suas representações......................... 59
1.1 Introdução................................................................................................... 59
1.2 O saber histórico e sua utilidade............................................................... 60
2 O livro didático, o professor e a legitimação da história oficial ................ 62
2.1 Representações do educador educado pela ditadura............................. 64
2.2 Caracterização do período pré-militar.................................................... 66
2.3 Representações do livro didático educando pela ditadura.................... 69
2.4 Submissão e subversão: coerência das
representações e contradição histórica........................................................ 72
2.5 O sentido do período militar..................................................................... 75
2.6 Manifestações simbólicas da ditadura
em concepções e práticas pedagógicas.......................................................... 77
Parte III
O Discurso Didático, o Sentido da
História e a Historiografia Brasileira, 83
1 O papel político do discurso do livro didático na redemocratização........ 85
2 O contexto da historiografia acadêmica........................................................ 90
2.1 A influência positivista............................................................................... 91
2.2 A presença marxista................................................................................... 92
2.3 A incorporação dos Annales...................................................................... 94
2.4 A historiografia inglesa.............................................................................. 95
2.5 A Nova História e de suas tendências...................................................... 96
3 Epistemologias dos discursos na historiografia
contemporânea e nas produções didáticas brasileiras.................................. 99
3.1 Presenças e ausências da historiografia nas
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Parte IV
O Discurso Presente e o
Discurso Ausente, 121
1 Ditadura militar: a eleição deste tema pelos manuais didáticos................ 123
1.1 Os vários enfoques didáticos da ditadura................................................ 126
1.2 A mesma temática sob olhares divergentes ............................................ 128
2 Ditadura militar: forma e conteúdo .............................................................. 129
2.1 O livro didático como instrumento de crítica e de
militância política........................................................................................... 129
2.2 A “revolução” de 1964 como imagem
consolidada no livro didático........................................................................ 132
2.3 A ditadura como produto didático sob duas óticas acadêmicas.......... 137
2.4 Dissolução do conteúdo e desintegração histórica................................. 138
2.5 O período militar como centralidade
temática do livro didático ............................................................................. 141
Conclusões, 151
Referências, 163
Jason Ferreira Mafra - 11
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Prefácio
Theodor W. Adorno, sociólogo alemão dos mais expressivos no sé-
culo XX, fez uso de dois conceitos em suas pesquisas, dos quais não se
deve afastar quando se alude ao livro didático. Os dois conceitos são:
“personalidade” e “autoritarismo”.
Os autores de A personalidade autoritária, coordenados por Adorno,
deram continuidade à crítica do autoritarismo ao considerá-lo uma “sín-
drome” e não um simples comportamento. Esta “síndrome” revela sinais
e sintomas agregados a determinadas condições de crise, capazes de gerar
reações de temor e de insegurança. O autoritarismo, como “síndrome”,
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Tão lamentável quanto o que foi dito, é que, como diz o Autor, em
1989 se reproduziam “imagens e abordagens muito semelhantes às ver-
sões contidas em livros de Estudos Sociais, produzidos ainda na déca-
da de 1970”.
A leitura da obra de Jason Ferreira Mafra, A ditadura espelhada –
conservadorismo e crítica na memória didática dos anos de chumbo, com
sua simplicidade e dedicação, contribui essencialmente para o aprimora-
mento da consciência social de professores e de todos aqueles que dese-
jam viver num Brasil melhor. Com certeza, a leitura desse livro deixará
boa lembrança.
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Evaldo A Vieira
Jason Ferreira Mafra - 17
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Introdução
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Jason Ferreira Mafra - 19
1 Gênese do tema
A ideia inicial deste trabalho tem origem na inquietação pessoal de
educador e professor de História em relação ao ensino desta disciplina,
mais especificamente, ao ensino de História Contemporânea do Brasil.
Lecionando a disciplina de História em escolas privadas e da rede
pública, para alunos do ensino fundamental e do ensino médio, por cerca
de duas décadas, pude constatar, no trabalho cotidiano de sala de aula, o
que foi certamente uma preocupação de muitos profissionais e militantes
da educação: um longo período de apatia e alienação política de gran-
de parte dos estudantes, especialmente, entre os anos oitenta e noventa.
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1 Geralmente sem grande expressividade, excetuando-se, talvez, alguns movimentos, entre os quais
o “diretas já” (1983-1984) e o “pró-impeachment” (1992), este último com a participação dos ditos
“caras-pintadas”. Há que se considerar que, mesmo esses movimentos de maior impacto social são
vistos por muitos com ressalvas e críticas em relação à consciência política desses jovens em tais
acontecimentos, o que, certamente, merece uma análise aprofundada.
2 No campo da historiografia brasileira, formado que é por distintas correntes, não há consenso
sobre esse termo, quando se refere ao marco histórico 1964-1985. Desde os mais conservadores,
20 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
2005, e estando em contato com uma média anual superior a 500 alunos,
presenciei raríssimos casos de discussões referentes ao contexto histó-
rico brasileiro das últimas quatro décadas em que esses jovens, mesmo
os das séries finais do ensino médio, demonstraram conhecimento ou
interesse por tais assuntos3.
Em grande medida, esta é uma situação paradoxal: de um lado, o
desconhecimento quase absoluto sobre a história recente do Brasil en-
tre a maioria esmagadora dos jovens que concluem o ensino médio; de
outro, a admissão da relevância histórico-cultural desse período de-
monstrada pela significativa quantidade de material produzida sobre o
assunto. Esse quadro nos permite afirmar que a abordagem sobre o pe-
ríodo militar tem condição privilegiada em nossos temas históricos, ao
considerarmos que parte significativa dos autores contemporâneos (e
que o chamam de “revolução”, até os mais críticos, distintos conceitos têm sido empregados para
designar este período: “estado militar”, “estado civil-militar”, “ditadura civil-militar”, “regime militar”,
“regime civil-militar”, “ditadura militar”. Como o propósito aqui não é entrar na discussão concei-
tual, optamos por usar esta última expressão por ser a mais consagrada na historiografia crítica,
reconhecendo, obviamente, que os militares jamais poderiam governar o país sem a conivência e
apoio integral dos setores conservadores, mormente das classes e frações de classe dominantes,
que estiveram presentes na gestão do país durante toda a vigência daquele modelo político.
3 Salvas as iniciativas de determinados professores mais politizados ou quando o tema em questão
fora tratado pelos grandes meios de comunicação de massa – em especial a televisão, por meio
de filmes ou minisséries –, além dos casos de alunos participantes de determinadas organizações
estudantis, ou, ainda, daqueles portadores de um capital cultural superior à média dos estudantes.
Jason Ferreira Mafra - 21
4 Pesquisa realizada com 234 alunos do 3º ano do ensino médio em duas escolas da Diretoria de
Ensino Norte I, da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo, demonstrou essa tese. Tratou-se
de uma avaliação em que os alunos deveriam dissertar sobre três temas (à escolha deles ou dentre
os 21 propostos no questionário, incluindo tópicos sobre história geral e do Brasil) sobre os quais
tivessem maior conhecimento. O resultado mostrou que dos pesquisados que escolheram o tema
“ditadura militar”, apenas três alunos demonstraram algum conhecimento sobre o significado e
o contexto desse momento histórico; os demais, limitadamente, esboçaram vagos comentários
a respeito de acontecimentos da época. Em contrapartida, outros assuntos como “Escravidão e
Abolição no Brasil” (123 respostas), “Feudalismo” (68 respostas), “Independência do Brasil” (62
respostas), “Segunda Guerra Mundial” (58 respostas), “Renascença cultural” (18 respostas) e
“Descobrimento do Brasil” (16 respostas) mereceram muito mais atenção e aprofundamento por
parte desses educandos.
5 Sabe-se, por exemplo, que muitos professores de História nem chegam a abordá-lo. Alegam, muitas
vezes, que não dá tempo de cumprir o planejamento anual. Por consequência, esse conteúdo fica
prejudicado já que se situa, em geral, no final do último bimestre escolar.
22 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
6 Levantamento realizado entre docentes do Ensino Básico revelou que os livros escolhidos para esta
análise foram utilizados por grande parte dos professores da área de História que integraram, desde
a década de 1980, o magistério no ensino fundamental e médio no Estado de São Paulo. O primeiro
(SOUZA; ARAÚJO, [197-]), por exemplo, fez parte do programa de distribuição de livros do MEC na
Jason Ferreira Mafra - 23
7 Definir pós-modernismo é tarefa complexa. Expomos aqui algumas considerações de Agnes Heller e
Ferenc Fehér (1998). Segundo estes autores, a condição política pós-moderna deve-se às discussões
feitas acerca da crise do marxismo, das polêmicas sobre os microdiscursos, do renascimento religioso
e da compreensão de um conceito incompleto de justiça ético-política. Todos estes são sintomas que
indicam o fim da grande narrativa. No sentido helleriano, a pós-modernidade não é um novo período
histórico, é em “todos os sentidos ‘parasítica’ da modernidade; vive e alimenta-se de suas conquistas
e seus dilemas”. A novidade está na “inédita consciência histórica surgida na post-histoire”; sendo,
portanto, o “sentido grassante de que vamos ficar sempre no presente e ao mesmo tempo depois
dele”. Deve ser entendida como o tempo e o espaço privado-coletivo; uma pluralidade de espaços e
temporalidades heterogêneos que englobam as sociedades pós-estruturalistas, pós-industriais, pós-
-revolucionárias e pós-históricas (HELLER; FEHÉR, 1998, pp. 11-26).
Ser pós-moderno, nesse olhar, significa recusar a grande narrativa, o seu caráter ostensivamente
causal e teleológico, assim como sua posição de superioridade para com a história e o seu trans-
cendentalismo filosófico e político. A pós-modernidade coincide, neste sentido, com a museificação
da Europa em oposição à europeização do mundo moderno, ocorrida até o início do século XX. De
acordo com a autora, Marx, com sua tentativa de universalizar uma teoria, só conseguiu provar
que foi o “último europeu”. O pós-estruturalismo, como característica da pós-modernidade, indica
a predominância social e política do funcional sobre o enfraquecimento estrutural. Deste modo,
embora não tenham sido eliminados os conflitos, principalmente os de natureza econômica, não
se pode falar na existência da luta de classes no sentido revolucionário. A política funcionalista pós-
-moderna, entretanto, não deve ser vista como sinônimo de harmonia social, mas como a busca para
a solução de problemas, tanto por parte da esquerda quanto por parte da direita, para reorganizar
a rede de funções existentes numa determinada sociedade. A pós-modernidade é a condição de
post-histoire, uma confirmação da filosofia política de Hegel, o “estar depois”; é o sentimento de
vida que domina a contemporaneidade, sendo o presente sua única eternidade. A possibilidade
revolucionária não pertence à pós-modernidade, posto que “as expectativas messiânicas significam
infinitamente mais que apenas questionar e criticar a modernidade, que é tarefa auto adotada da
pós-modernidade”. Outra característica fundamental da pós-modernidade é a “reciclagem de teo-
rias”, entendida como soluções políticas; pois, segundo esses autores, embora tenhamos presenciado
o fim da ideologia, da religião, do marxismo, do cientificismo e do evolucionismo, nenhuma destas
proposituras se perdeu definitivamente e cada discurso pode dar a sua contribuição. Tais autores,
embora expressem o entendimento da pós-modernidade como um processo de desconstrução,
rejeitam a ideia de busca de soluções holísticas como se estivesse ocorrendo um vale-tudo das
teorias (HELLER; FEHÉR, 1998, pp. 11-26).
Jason Ferreira Mafra - 25
3 Procedimentos metodológicos
3.1 Considerações gerais sobre as etapas da pesquisa
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
3.2 Categorias
Esta é uma pesquisa de caráter empírico-teórico, por isso, os pro-
cedimentos básicos serão a reflexão crítica sobre a análise dos dados le-
vantados e conteúdos dos livros didáticos – referentes ao tema “ditadura
militar” – e a pesquisa bibliográfica direcionada na perspectiva de diá-
logos críticos com os autores, livros, teses, artigos, etc.
Os fundamentos epistemológicos constroem-se num instrumental
teórico elaborado sob referências de autores que buscam fornecer análises
a partir de uma perspectiva dialética, característica de determinadas ten-
dências da História, da Filosofia, da Sociologia e da Filosofia da Educação
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
aos fins deste estudo, não se trata de uma reconstrução histórica exten-
sa nem de um aprofundamento de tal conceito – uma vez que isso de-
mandaria extenso trabalho, principalmente devido à complexidade de
interpretações e aplicações que esta categoria adquiriu no transcorrer
de sua elaboração nas ciências sociais8 –, mas de uma apropriação espe-
cífica do mesmo, tomado como ferramenta necessária às reflexões pos-
teriormente apresentadas.
A noção de representação é muito antiga, surgindo, entre outros
lugares, já na Grécia desde os filósofos pré-socráticos, quando os deu-
ses e suas capacidades eram entendidos como representações huma-
nas ou, inversamente, vale dizer, na medida em que os homens e suas
ações e virtudes eram vistos como projeções dos deuses. Para Platão, a
representação ou o mundo invisível (o mundo das ideias) era a realida-
8 A noção de representação social ocupa, cada vez mais, posição central nas ciências humanas
sendo objeto de estudo nas mais diversas disciplinas (como a Antropologia, História, Sociologia,
Psicologia, etc.) abrangendo, por isso, domínios diversos de pesquisas como o campo científico
(teorias e disciplinas científicas, difusão dos conhecimentos, didática das ciências, desenvolvimen-
to tecnológico...), campo cultural (cultura, religião, artes...), campo social e institucional (política,
movimentos sociais, economia, sistema jurídico...), campo biomédico (corpo, sexualidade, esporte,
saúde...), campo psicológico (personalidade, inteligência, grupos...), campo educacional (institui-
ções escolares, formação, funções educacionais...). É, portanto, como se pode observar, objeto de
vasto estudo tratando de investigações relativas aos diferentes atores sociais – crianças, mulheres,
homens, diferenciação de gêneros... – e às variadas relações intergrupais – nação, etnias, sexos,
categorias sociais, identidade cultural, etc. (JODELET, 1991, pp. 5-7).
Jason Ferreira Mafra - 29
de mesma, uma vez que a ideia era o real verdadeiro, absoluto e eter-
no, a síntese de todas as possibilidades, existindo independente de nós9.
Já o mundo visível, sensível, concreto, constituía-se no mundo da apa-
rência, dos reflexos da verdadeira realidade, que por sua vez se configu-
rava, não pela existência, mas pela essência das coisas. Esse método de
explicação da realidade, postulado na metafísica, permaneceu, de certa
forma, hegemônico até o século XVIII, quando se iniciaram os traba-
lhos de Immanuel Kant (1724-1804) e, posteriormente, os de Georg W.
F. Hegel (1770-1831).
O materialismo filosófico marxista, que se consolidou como uma
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
9 Na concepção platônica, a ideia de árvore, por exemplo, supera a noção de quaisquer árvores
existentes na natureza concreta, pois, para ele, a “ideia” é a síntese de todas as árvores existindo
aprioristicamente.
30 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
10 Publicado como livro, mas que na verdade trata-se de notas completas de um curso que o autor
ministrou no Collège de France entre dezembro de 1942 e abril de 1943 ou, nas palavras do mesmo,
“um ensaio sobre o poder das palavras em história” (FEBVRE, 1995, p. 27).
Jason Ferreira Mafra - 31
11 Tais categorias fazem parte de um complexo arcabouço teórico que Bourdieu constrói e desenvolve
no decorrer da evolução de sua vasta obra, que se inicia na década de 1950 e se estende até os
seus últimos trabalhos, no início do século XXI. Não é proposta aprofundá-las aqui, uma vez que
tal procedimento demandaria outro trabalho. O objetivo é expô-las, sucintamente, apenas para os
fins e os limites das análises aqui apresentadas.
12 Neste enfoque, compreende-se a estrutura e a superestrutura no sentido que Marx as pensou: “[...]
na produção social de sua existência os homens estabelecem relações determinadas, necessárias,
independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de
desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui
a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura
jurídica e política a qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de
produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em
geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente,
determina a sua consciência” (MARX, 1973, p. 28).
34 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
Parte I
ser resolvida, uma vez que mesmo autores desses livros reconhecem a
dificuldade de defini-lo. Assim constatamos ao examinar as afirmações
de um deles:
Eu acho que o livro paradidático é um livro didático. Por que,
exatamente, o que é didático e o que é paradidático? Uma coisa
meio complicada. Paradidático! Não é didático! Os autores desses
livros, os professores que trabalham com esse material, e talvez,
até os editores não sabem exatamente a distinção entre o livro
didático e o livro paradidático, mas trabalha-se, de um modo
subjacente, com uma coisa mais ou menos assim: o livro didático
seria aquele manual que pode ser utilizado ao longo de um curso,
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
13 A partir da década de 1990, a academia passou a influenciar, em certa medida, a confecção do livro
didático. Isso ocorreu principalmente quando o resultado desses trabalhos reverberou nos órgãos
oficiais, que passaram a orientar, via propostas curriculares, os materiais didáticos (OLIVEIRA;
GUIMARÃES; BOMÉNY, 1984, pp. 69-74). É certo que as editoras procuram acompanhar as orientações
oficiais na organização do livro, exatamente para não correr o risco de perda de mercado. Entretanto,
mesmo que se possa dizer que as políticas oficiais para o livro didático influenciam no seu processo
de produção editorial, as inúmeras críticas, sobretudo acadêmicas, que se configuraram sobre tais
livros, em especial a partir da década de 1980 (e que, portanto, deveriam ter provocado substantivas
mudanças nos manuais), até meados da década de 1990, demonstram os limites dessa influência.
14 Em O livro didático e a popularização do saber (publicado em Repensando a História – ANPUH),
Kátia Maria Abud (1984, p. 81) faz, entre outras, as seguintes observações a respeito do livro
didático: “Instrumento de trabalho indispensável, pois não há professor que nele não se apóie, o
livro didático tem sido um dos mais utilizados canais de transmissão [...] um dos responsáveis pelo
conhecimento histórico que constitui o que poderia ser chamado de conhecimento do homem
comum [...] mais recentemente, outra função tem sido assumida pelo livro didático: a de informar
também o professor”.
44 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
15 É sabido que, para atender suas necessidades materiais básicas, o professor obriga-se a ampliar
cada vez mais sua jornada de trabalho, o que o leva frequentemente ao espontaneísmo e ações
por vezes alienadas, decorrentes principalmente do pragmatismo e improvisos cotidianos, o que
faz do livro didático uma espécie de manual único de trabalho.
16 De acordo com a atual grade curricular adotada por várias escolas de algumas diretorias de ensino,
como, por exemplo, a Diretoria Regional Norte I da capital de São Paulo, cada classe possui duas
horas-aula semanais desta disciplina, fator que amplia consideravelmente o número de classes e
alunos a serem atendidos pelo professor.
Jason Ferreira Mafra - 45
Dessa forma, conquanto este tema tenha sido discutido por vários
autores, e ainda que se considere os atuais manuais escolares qualitativa-
mente superiores aos produzidos até a década de 80 (cf. MUNAKATA,
1998, pp. 271-296)17, torna-se necessário manter sempre um olhar crí-
tico em relação ao material didático (e paradidático), decodificando-o,
compreendendo-o, observando sua tendência, coerência ou incoerência,
seu objetivo submerso nas entrelinhas, ou mesmo seu objetivo imediato
ou explícito, enfim, o significado de suas representações.
18 O autor Gilberto Cotrim afirma que os trabalhos acadêmicos influenciam sua produção na medida
em que possuem “eco na sociedade”, isto é, tornam-se livros. Sabemos, entretanto, que a maior
parte dos trabalhos permanece como documentos restritos à academia, dadas as dificuldades de
publicação.
19 Vale considerar que até o início do século XX, o acesso à educação superior era extremamente
restrito, situação que se acentuava muito mais em relação aos alunos egressos da escola pública.
20 Destacam-se em tais estudos, entre outros, os trabalhos já citados de Oliveira, Guimarães e Bomény
(1984), Molina (1987), Freitag (1987), Meksenas (1992).
21 Trata-se de um levantamento de vasto material publicado pelo jornal Folha de São Paulo sobre o livro
didático, no período de 1994 a 2000. Encontramos nos arquivos da biblioteca virtual deste jornal
grande quantidade de publicações abordando a temática do livro didático, das quais selecionamos
cerca de 72 artigos para análise. A opção por usar como fonte jornalística este veículo justifica-se por
duas razões: primeiro porque existiam poucos trabalhos sistematizados (livros, teses) sobre o tema
Jason Ferreira Mafra - 47
nesse período; segundo, pelo fato de este jornal ter acompanhado sistematicamente a discussão
sobre a distribuição e avaliação dos livros didáticos no referido período, abordando esse assunto em
seus editoriais e abrindo espaços para as considerações dos agentes do campo (editoras, autores,
governo, sociedade civil) envolvidos nesta questão.
48 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
milhões são comprados pelo MEC para serem distribuídos nas escolas
públicas, 20 milhões vendidos em livrarias e 50 milhões distribuídos en-
tre os professores para análise e escolha dos livros que adotarão.
Segundo a revista Nova Escola, de acordo com dados do FNDE, 130
milhões de didáticos foram comprados pelo MEC em 2000, totalizando
um gasto de 474 milhões de reais incluindo os custos de sua distribui-
ção (PRADO, 2001). No ano anterior, o consumo dos didáticos e para-
didáticos correspondeu a 56% do mercado editorial, pelas informações
da Câmara Brasileira do Livro (PRADO, 2001).22
Contudo, se, por um lado, esse mercado é mesmo gigante do pon-
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22 Ainda que a Câmara Brasileira do Livro disponibilize na rede mundial de computadores (internet)
algumas informações sobre o mercado editorial, os dados naquele momento, não eram acessíveis
ao público, mas restritos às editoras associadas, mediante pagamento de mensalidade. Tal fato
evidencia algumas características, já comentadas, que configuram um determinado campo como
espaço de luta e disputa simbólica.
50 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
Nesse mesmo ano, a empresa que mais lucrou com essas vendas
foi a editora Ática, com faturamento de R$ 31,81 milhões e 10.932.289
exemplares vendidos ao setor público. O menor lucro entre as dez maio-
res ficou com a editora IBEP, que faturou R$ 480 mil e vendeu 198.189
exemplares. No ano seguinte, quase não houve alteração nesse qua-
dro. Nas compras da FAE para 1997, a classificação foi a seguinte: 1ª –
Nacional; 2ª – Ática; 3ª – FTD; 4ª – Scipione; 5ª – Saraiva; 6ª – Brasil; 7ª
– Formato; 8ª – Moderna; 9ª – Lê; 10ª – Atual23 (PERFIL..., 1996, p. 6).
Como se observa, das dez maiores de 1996, nove permaneceram
no ano de 1997, saindo do ranking apenas a editora IBEP e entrando
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
23 No ano de 1998, a editora Saraiva comprou a editora Atual, passando a ocupar o terceiro lugar
entre as editoras de livros didáticos. No mesmo período, a editora Moderna saltou do oitavo para
o quarto lugar (AGUIAR, 1998).
24 A partir de 1995, o MEC institui, por intermédio do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), o Guia
de livros didáticos, para alunos de 5ª a 8ª séries, uma avaliação dos manuais didáticos feita por
especialistas da Educação. Em sua primeira versão, qualquer livro poderia ser inscrito sob o risco de
ser “recomendado” ou “não-recomendado”. O Guia era uma referência para os professores, que, por
sua vez, tinham autonomia para segui-lo ou não, o que significa que poderiam adotar livros não reco-
mendados pelo Guia. Na edição de 1999, o PNLD excluiu do Guia de Livros Didáticos a categoria “não
recomendados” e criou a seguinte classificação: uma estrela para os “recomendados com ressalvas”,
duas para “recomendado” e três estrelas para “recomendado com distinção” (PRADO, 2001, p. 18).
A versão mais recente dessa avaliação, destinada às escolhas para 2002, mantém essa classificação,
entretanto, não avaliam mais por série, mas por coleção, ou seja, para o conjunto das séries de um
dado ciclo de estudo. Segundo o MEC, as coleções estavam classificadas da seguinte maneira:
“– Recomendadas com distinção: são as que destacam pelo esforço em se aproximar o mais possível
do ideal representado pelos princípios e critérios. Constituem propostas pedagógicas elogiáveis,
criativas e instigantes.
– Recomendadas: são aquelas que cumprem todos os requisitos mínimos de qualidade exigida.
Por isso mesmo, asseguram a possibilidade de um trabalho didático correto e eficaz por parte do
professor.
Jason Ferreira Mafra - 51
– Recomendadas com ressalvas: nessa categoria estão reunidos os trabalhos isentos de erros
conceituais ou preconceitos que obedecem aos critérios mínimos de qualidade, mas por este ou
aquele motivo, não estão a salvo de ressalvas. Desse modo, pode subsidiar um trabalho adequado
se o professor estiver atento às observações, consultar bibliografias para revisão e complementar
a proposta” (BRASIL, 2001, p. 13, grifo do autor).
25 Assim afirmava na época o presidente da associação de autores: “A Abrale (Associação Brasileira de
Autores de Livros Educativos) deseja tornar público seu apoio às medidas recentemente adotadas
pelo presidente da FAE (Fundação de Assistência ao Estudante), sr. José Luiz Portella, que estende
o programa de distribuição gratuita de livros didáticos, beneficiando agora também os estudantes
da 5ª a 8ª séries das escolas da rede pública de todo o Brasil” (PAINEL..., 1995, p. 3).
52 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
(RESISTIR..., 1996).
Por intermédio da Abrale, os autores se mobilizaram formalizando
protesto contra o ministro, afirmando que os acontecimentos envolven-
do o processo de avaliação dos livros se transformaram em “momentos
constrangedores para todos os presentes, com um clima que evocou as
pressões que regimes autoritários exercem sobre as pessoas de opinião
livre” (ASSOCIAÇÃO..., 1996).
Os pais dos alunos, mediados pela Aipa (Associação Intermunicipal
de Pais e Alunos de São Paulo), na mesma perspectiva, radicalizaram,
conseguindo na justiça uma liminar que obrigava o MEC a divulgar a
lista “em juízo no prazo de cinco dias”: “Sabemos que o ministro dis-
se que vai divulgar na semana que vem, mas ele já tinha dito isso antes.
Como vamos confiar? Agora, com a decisão da justiça, ele será obriga-
do a mostrar essa lista”, afirmava o presidente da entidade amparado pe-
los professores que, por meio da Apeoesp (Sindicato dos professores do
ensino oficial do Estado de São Paulo), também entraram na justiça exi-
gindo do governo a divulgação do tão esperado documento.
Finalmente, depois de quase um mês da promessa de publicação,
em 25 de junho de 1996, a lista dos livros reprovados foi divulgada, con-
Jason Ferreira Mafra - 55
tendo 347 títulos, nove a mais do que o governo havia anunciado, sendo
que 266 foram reprovados por erros de conceito, preconceito, desatu-
alização, ou falta de qualidade física (sic), e 75 por serem considerados
paradidáticos (FALCÃO, 1996d).
O impacto que isso teria no mercado foi imprevisível. Em tese, a
avaliação do governo, explicitando os melhores e os piores livros, sig-
nificaria, para estes últimos, grande queda nas vendas das editoras res-
ponsáveis por suas publicações, uma vez que os professores tenderiam a
escolher, por questões técnico-pedagógicas, somente os livros recomen-
dados pelo MEC. Surpreendentemente, não foi o que ocorreu.
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28 Entre outras coisas, esse lobby consistia em enviar “exemplares dos livros que querem transformar
em best-sellers aos diretores das escolas (e, evidentemente, aos professores) e, no caso das cidades
pequenas, aos secretários municipais da Educação” (SÓ 14%..., 1997).
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Parte II
A Oficialização da
História da Ditadura
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Jason Ferreira Mafra - 59
29 Isto porque se trata de uma publicação sem data e sem edição explicitadas no copyright, contudo,
como suas abordagens encerram-se sobre o ano de 1973, com estimativas de dados geoeconômicos
para 1975, supõe-se que esta seja sua data de edição. Todavia, a Editora IBEP, que não permite
acesso público aos seus arquivos, informou que tal livro foi publicado em 1979, informação um
tanto duvidosa pelas evidências já apresentadas. Há que se considerar também que este livro foi
escolhido por tratar-se de um típico manual utilizado nas escolas, numa época em que o ensino
de História estava submetido à disciplina Estudos Sociais e a censura do Estado operava ainda de
forma muito rigorosa nos diversos campos da sociedade.
60 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
32 Para Bourdieu: “Na luta pela imposição da visão legítima do mundo social, em que a própria ciência
está inevitavelmente envolvida, os agentes detêm um poder à proporção de seu capital, quer dizer,
em proporção ao reconhecimento que recebem de um grupo. A autoridade que fundamenta a
eficácia performativa do discurso sobre o mundo social, a força simbólica das visões e das previsões
[...] têm em vista impor princípios de visão e divisão desse mundo” (BOURDIEU, 1999, p. 145).
33 Consideramos assim, pelo fato de que não se trata de uma pessoa sem condições para uma reflexão
crítica sobre o período. Pelo contrário, o entrevistado é um professor da área de História, pedagogo e
filósofo, à época com mais de 60 anos. Além de, pela própria formação, ter a possibilidade de leituras
64 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
Esta era uma das etapas das atividades propostas na dissertação citada,
que, dentre outros fins, objetivava caracterizar o ensino de História na-
quele período.
É bem verdade que a visão deste professor de História, talvez, não
corresponda às visões da maioria dos profissionais da área naquela épo-
ca. De fato, para se ter uma visão panorâmica a este respeito demandar-
-se-ia complexa análise quantitativa. Entretanto, neste estudo de caso,
vejamos como esse olhar se manifesta na relação com a “produção his-
toriográfica oficial” e com os trabalhos que tratam do assunto de for-
ma mais crítica e independente. Para tanto, examinaremos, a seguir, um
conjunto de respostas obtidas na referida entrevista com o menciona-
do docente de História.
críticas sobre o tema, teve a oportunidade de presenciar acontecimentos políticos importantes da época,
uma vez que morava na cidade de São Paulo, um dos centros de atividades políticas daquele período.
Jason Ferreira Mafra - 65
Observemos que, para ele, era como se a escola fosse um campo des-
vinculado de toda problemática do país, em especial daquele momento,
como se sabe, dramaticamente marcante para a época e que interferiu
decisivamente nos acontecimentos histórico-sociais dessas últimas dé-
cadas da vida nacional. Dado esse contexto, caberia nos perguntar: “Por
que, então, o referido professor haveria de omitir outros aspectos, con-
siderando apenas este como relevante?”
Num primeiro momento é possível supor que ele não tenha enten-
dido a abrangência da questão, atendo-se apenas a este foco de análise
(a escola), mas tal hipótese é de imediato desconsiderada, ao verificar-
mos que as demais questões – previamente conhecidas pelo entrevistado,
que as respondeu de forma escrita – eram todas relativas à problemáti-
ca educacional. Isto nos leva a crer que omite as reflexões sobre as ques-
tões políticas do país não por ignorá-las (como podemos verificar em
várias respostas, em especial as das questões 10, 12, 13 e 20), mas por
considerá-las irrelevantes do ponto de vista de suas relações com estes
aspectos; quer dizer, um desconhecimento e, portanto, reconhecimen-
to de um poder arbitrário, que, como diz Bourdieu (1999, p. 9) só “pode
ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que
lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”.
66 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
34 Tais aspectos, entre outros, podem ser vistos no livro Estado Social e Miséria no Brasil (VIEIRA, 1983),
no qual, por meio de estudo sócio-histórico, são criticamente examinadas as áreas da Educação,
da Saúde Pública, da Habitação Popular, da Previdência Social e da Assistência Social no período
de 1951 a 1978.
35 “O campo político é o lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes que nele se acham
envolvidos, produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos, aconte-
cimentos, entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de ‘consumidores’, devem
escolher, com probabilidades de mal-entendido tanto maiores quanto mais afastados estão do
lugar da produção” (BOURDIEU, 1999, p. 164).
68 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
litar, isto é, as suas causas, Souza e Araújo, em seu livro Estudos Sociais,
explicam que “uma sequência de greves, o aumento da inflação, as difi-
culdades econômicas e as agitações políticas, fizeram surgir o movimen-
to revolucionário que depôs o Presidente João Goulart: a Revolução de
31 de março de 1964” (SOUZA; ARAÚJO, [197-], p. 95).
Em seguida, na mesma página, em quadro destacado, há um tex-
to complementar escrito por Hélio de Alcântara Avellar intitulado “A
38 Consideramos aqui o livro Estudos Sociais: Nossa Terra Nossa Gente (SOUZA; ARAUJO, [197-]), um
modelo representativo da “produção historiográfica oficial” devido ao contexto em que foi escrito (me-
ados da década de 1970) e ao caráter de reprodução ideológica observado a partir de muitos aspectos,
alguns dos quais evidenciados, já de imediato, na leitura de suas primeiras páginas. Observamos por
exemplo que a capa do livro é uma foto da frente da rampa de acesso à sede do Governo Federal no
Palácio do Planalto em Brasília, tomada por civis e militares com bandeiras brasileiras, comemoran-
do alguma data cívica. Ainda na capa, destaca-se centralizada, a Bandeira Nacional hasteada e, em
primeiro plano, também no centro, ocupando mais da metade da capa, o contorno em cor branca do
mapa do Brasil. Na parte superior estão os títulos e subtítulos: “Estudos Sociais – Nossa Terra, Nossa
Gente (os jovens, a mulher, o homem, as raças, os conquistadores, as imagens e as ideias do Brasil
de ontem e de hoje)”. Na apresentação do livro asseveram, os autores ao aluno, que depende dele
tornar o estudo mais fácil ou não, pois, segundo os mesmos, “tudo o que se faz com alegria e boa
vontade torna-se fácil”. Por fim, Souza e Araújo concluem a apresentação com instruções gerais de
estudos marcadas por aforismos destacados em caixas de textos do tipo “ninguém nasceu sabendo,
é preciso estudar”, “não seja parasita! participe”, “aceite a opinião dos outros, que eles aceitarão
também a sua”, “todo indivíduo tem uma experiência que merece ser transmitida aos outros”, “pela
criatividade expressamos a riqueza dentro de nós” (SOUZA; ARAÚJO, [197-], pp. 6-7).
39 Conforme expõe Bourdieu (1999, pp. 86-87), “a subordinação do conjunto das práticas a uma in-
tenção objetiva, espécie de orquestração sem maestro, só se realiza mediante a concordância que
se instaura, como por fora e para além dos agentes, entre o que estes são e o que fazem, entre sua
‘vocação’ subjetiva (aquilo para que se sentem ‘feitos’) e a sua missão ‘objetiva’ (aquilo que deles
se espera), entre o que a história fez deles e o que ela lhes pede para fazer”.
70 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
41 Atualmente existem centenas de títulos com abordagens críticas sobre as questões do negro e do
índio (cf. CHIAVENATO, 1988, p. 118). Os livros Escravidão no Brasil, de Jaime Pinsky, A Abolição, de
Emília Viotti, e Os Voluntários da Pátria, de Júlio Chiavenato, publicados, respectivamente, em 1981,
1982 e 1983, são trabalhos significativos (entre outros) que procuraram, já no início da década de
1980, salientar o caráter mascarador das visões da historiografia tradicional, colocando em relevo
a violência do escravismo no Brasil e as lutas constantes dos negros pela libertação.
74 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
42 No livro Sociedade Brasileira: uma História através dos Movimentos Sociais (AQUINO et alii, 1999,
599 p.), a partir de relevante suporte bibliográfico, os autores fazem um levantamento histórico de
diversos movimentos sociais até então esquecidos nos escritos tradicionais (como, por exemplo, as
revoltas “da Cachaça”, “do Reino Encantado”, “do Ronco da Abelha”, “do Motim da Carne Sem Osso”,
“Contra o Xumbergas”, “Levante do terço Velho”, etc.), além dos já tradicionalmente abordados na
história do Brasil, desde o início da colonização até o final do período monárquico. Ainda que seja
significativa a defasagem de pesquisas e publicações sobre as lutas populares, segundo Munakata
(cf. 1998, pp. 284-287), essa tentativa de escrever ou reescrever a história geral e nacional sob uma
abordagem diferenciada da historiografia tradicional é, desde as duas últimas décadas, manifes-
tada em muitos trabalhos (livros paradidáticos de cunho não ficcional ou de utilização moderada
de texto ficcional) publicados por várias editoras paulistas em mais de duas dezenas de coleções,
o que supõe a existência de centenas de títulos, mesmo considerando-se o fato de que ocorre,
frequentemente, repetições de temas tradicionais em coleções distintas.
Jason Ferreira Mafra - 75
cretizando-se nas ações armadas (cf. REIS FILHO; SÁ, 1985, pp. 7-22),
quer por pressões reformistas várias, como greves, passeatas, denúncias
e até mesmo pela via parlamentar, em especial nos últimos anos da dita-
dura. Sobre este período, Evaldo Vieira (1992, p. 25) recorda que
Os grupos de oposição foram-se unindo precariamente, atuando
em grandes manifestações e passeatas de protesto nos anos de 1967
e 1968. O movimento estudantil, a ação dos trabalhadores e a Fren-
te Ampla irromperam em diversos lugares no país. Opunham-se
ao governo, tanto nas ruas, nos comícios e nas passeatas, quanto
no Congresso Nacional, por meio de parlamentares, em especial
do MDB, eleitos em 1966.
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43 Epicentro do poder simbólico, instaurado a partir da “nova ordem nacional” que justificou e legitimou
a ação militar de 64.
44 Situados em geral nas camadas economicamente menos favorecidas onde há também maior de-
fasagem de capital cultural, e, conseqüentemente, de informação e de conhecimento histórico.
Jason Ferreira Mafra - 77
45 Ainda que concordemos com Bourdieu em relação ao caráter reprodutivista da educação, não
negamos neste espaço reprodutor seu aspecto dialético fundamental, qual seja, a contradição (cf.
CURY, 1985), o que nos faz concordar com Severino (1986, p. 97, grifo do autor) quando afirma
que “a educação pode também desenvolver um discurso contra-ideológico, ou seja, desnudar,
explicitando-o, o vínculo que relaciona as várias formas de discurso às condições sociais que o
engendram e tornando manifestas as causações reais, denunciando as explicações que apelem
para causações que o são apenas na aparência”. Cabe, portanto ao professor, não apenas o papel
de reprodutor – função inerente a existência social, uma vez que, para continuar a existir, o homem
necessita reproduzir a si mesmo e às suas relações (cf. Heller, 1991) –, mas de organizador da
cultura (cf. GRAMSCI, 1968) escolar numa perspectiva crítica e, por isso mesmo, contra-hegemônica.
78 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
46 A este respeito, conferir entre outros, os livros História e Historiografia Brasil Pós-64 (Lapa, 1985),
Imagens da Revolução (REIS FILHO; SÁ, 1985)
47 Ainda, segundo Vieira (1998, p. 47), “o conservadorismo prende-se particularmente à concepção
de mundo produzida pelos membros de um grupo ou de uma classe social, mesmo com prosélitos
dispersos pela sociedade”.
80 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
Note-se que o entrevistado não quer dizer que “não se ouvia falar”
porque havia censura, mas que “não se ouvia falar” porque (ou acredita-
va que) não ocorriam mesmo falcatruas, escândalos financeiros, ou que
procedimentos como gastos financeiros gigantescos em obras públicas e
em projetos militares feitos sem a aprovação da sociedade civil48, cassa-
ções políticas, atentados de Estado, prisões, desaparecimentos, torturas,
assassinatos49, em sua avaliação, não constituam um quadro degenerati-
vo como o exposto pelo mesmo em relação ao momento atual.
Referente às questões educacionais, é importante refletir sobre o que
leva esse professor, com formação acadêmica em três áreas do conheci-
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48 Entre 1964 e 1984, a dívida externa brasileira aumentou quarenta vezes saltando de 2,5 bilhões de
dólares para 102,4 bilhões (Arruda, 1989, p. 49). Em 1985, último ano dos governos militares,
momento em que a dívida atingiu a cifra dos 108 bilhões de dólares, os economistas Joelmir Beting,
Paulo Sandroni, Aluízio Mercadante e Paulo Schlling participaram de um ciclo de debates promo-
vidos pela CUT, cujo documento final intitulou-se Dívida Externa: não fizemos, não devemos, não
podemos pagar essa dívida (cf. CUT, 1988). O documento explicita, entre outras coisas, a maneira
pela qual tais governos contraíram e administraram os empréstimos externos durante a ditadura. Em
maio de 1987, 56 centrais sindicais e sindicatos de 25 países da América Latina e Caribe, liderados
pelo movimento sindical brasileiro, elaboraram a Declaração de Campinas, uma campanha latino-
-americana pelo não pagamento da dívida externa desses países. A sangria econômica do Brasil
naquele período – que tem origem nos empreendimentos faraônicos e empréstimos estrangeiros
adquiridos neste período, inicialmente, para sustentar o “milagre brasileiro”, e posteriormente para
o pagamento dos débitos nacionais (taxados pelo Fundo Monetário Internacional) –, resultante
desse espantoso endividamento externo, levou o país à categoria de maior devedor internacional
do grupo dos países do mencionado “mundo em desenvolvimento”, até o início do século XXI,
seguido pelo México e Argentina (ARRUDA, 1989, p. 44).
49 Calcula-se que por motivos políticos, durante a vigência da ditadura, mais de 50 mil pessoas tenham
sido presas, cerca de 20 mil submetidas a torturas, 320 militantes de esquerda mortos e 144 dados
como desaparecidos; centenas de baleados em manifestações, 8 mil acusados e mais de 11 mil
indiciados em 800 processos judiciais; centenas de condenações a penas de prisão, 4 condenados
a pena de morte, 130 exilados, 780 cassações de direitos políticos por dez anos, inúmeras aposen-
tadorias compulsórias e demissões do serviço público (cf. GORENDER, 1987, p. 235). Ainda a este
respeito é importante destacar o conhecido relatório Brasil: Nunca Mais (ARQUIDIOCESE DE SÃO
PAULO, 1985).
Jason Ferreira Mafra - 81
50 Em Questões de Sociologia, Pierre Bourdieu (1983) discute, entre outras coisas, a “cozinha das ci-
ências”, quer dizer, não o produto científico em si, mas as condições sociais pelas quais tal produto
se constitui. Dessa forma, a ideia de autonomia é questionada tanto na produção do conhecimento
como em sua divulgação. Por isso, considera a neutralidade “um discurso imbecilizante”, uma vez
que, entre outros argumentos, se o “sociólogo (ou qualquer cientista) consegue produzir alguma
verdade, não é apesar de seu interesse em produzir, mas por causa de seu interesse”, ou seja, o
resultado da descoberta, ou em outras palavras, a produção do conhecimento é sempre contextu-
alizada. Assim, a linguagem ou o discurso decorrente deste contexto possui um tal poder que “não
são as palavras que agem por uma espécie de poder mágico”, mas as condições sociais que dão
força às palavras; “tiram sua força de uma instituição que possui sua própria lógica, os títulos, o
arminho, e a toga, o púlpito, a palavra ritual, a crença dos participantes, etc.”. Quem age, portanto,
em certo nível, é o poder, a Instituição (cf. BOURDIEU, 1983).
51 A partir de afirmações do tipo “sempre utilizei livros didáticos [...] a adoção de um livro didático é
um mapa para um viajante desconhecido [...] como um roteiro pré-traçado” (resp. 6); “A imprensa
falada e escrita [...] era livre. A censura se atinha aos assuntos políticos” (resp. 10); “As aulas seguiam
de certa forma uma rotina” (resp. 3).
52 Compreendendo que “a dominação é a manifestação concreta e empírica do poder” (VIEIRA, 1998,
p. 52), posto que “as tomadas de posição ideológica dos dominantes são estratégias de reprodução
que tendem a reforçar dentro da classe e fora da classe a crença na legitimidade da dominação da
classe” (BOURDIEU, 1999, p. 11).
82 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
Parte III
O Discurso Didático, o
Sentido da História e a
Historiografia Brasileira
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
Jason Ferreira Mafra - 85
53 Afirma o autor que “essa renovação não contou apenas com a incorporação, nos livros didáticos,
de ‘novos problemas, novas abordagens, novos objetos’ propostos pela chamada Nova História [...]
Empresas que antes funcionavam com três ou quatro trabalhadores capazes e dispostos a fazer
todo tipo de serviço foram recrutando mais e mais profissionais, distribuindo-os numa minuciosa
divisão de trabalho de acordo com funções cada vez mais especializadas: edição, copidesque, leitura
crítica, revisão, edição de arte, diagramação e paginação, ilustração, pesquisa iconográfica, etc.”
(MUNAKATA, 1998, p. 275).
88 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
para baixo [...] a partir daí muitos outros paradigmas foram sendo
desenvolvidos [...] sob esse fluxo da Nova História, esses elementos
que eu estou dizendo, ganharam um novo perfil, um novo ritmo,
etc. E hoje, eu diria que na minha produção dos últimos três anos,
eu tenho procurado rever este paradigma.
De fato, na perspectiva de uma abordagem marxista, busca-se não
apenas produzir conhecimento, teoria, mas ordená-los sob uma inten-
cionalidade, poderíamos dizer, contra-hegemônica, levando em conta
o contexto sobre o qual discorremos. No caso de Rufino, sendo ele um
militante político, inclusive preso pelo Estado militar, em razão de suas
ações, não há como negligenciar a estreita relação entre sua produção
intelectual e sua dedicação às forças pela redemocratização.
Porém, ainda que não se confrontasse mais explicitamente por meio
de ações diretas, Cotrim, no decurso de suas produções também expres-
sa sua militância. Isto pode ser logo percebido ao observarmos que suas
coleções levavam sempre explícita a perspectiva política em seus títu-
los História Geral para uma geração consciente (Cotrim; ALENCAR,
1984) ou ainda História e consciência do Brasil (Cotrim, 1999b).
Dessa forma, não podendo ser absolutamente neutro, uma vez
que a legitimidade em qualquer campo requer tomadas de posição
Jason Ferreira Mafra - 89
(BOURDIEU, 1999, pp. 105-116), não há como negar que uma parte des-
ses autores, em certo nível, fez de sua profissão e do produto de seu traba-
lho, espaço e momento de reflexão crítica da conjuntura política do país,
assumindo por vezes, explicitamente, suas posições político-ideológicas.
O contrário disso também ocorreu, isto é, a presença de posturas
reacionárias de autores que, em seus textos, empenhavam-se em legiti-
mar o regime, mesmo no quadro da decadência da ditadura. Contudo,
ainda que possamos evidenciar isso em seus escritos, difícil é encontrar
nomes que assumam, de forma transparente, uma posição como essa.
Pela experiência que tivemos, ficou evidente que os autores de li-
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vros didáticos têm grande receio em comprometer sua imagem por meio
de entrevistas, visto que seus livros têm sido alvo constante de trabalhos
acadêmicos, e, nos últimos anos, de uma parte da imprensa que acom-
panhou o processo de avaliação dos mesmos pelos órgãos oficiais54.
Essa perspectiva de ocultação, de fato, não ocorre gratuitamente,
mas manifesta-se como estratégia de garantia da legitimação, isto é, tem
a ver com o jogo desse campo, que, entre outros aspectos, consiste em
preservar a imagem das exposições de possíveis críticas, uma vez que,
como se sabe, tem sido o livro didático um dos seus principais focos.
Soma-se a isso, entre outros motivadores, o fato de que na economia das
trocas simbólicas do campo em que se insere esse tipo de livro, o lucro
54 Por esse motivo, gostaríamos de esclarecer o porquê de expormos aqui falas de apenas dois autores,
os quais, por sua vez, explicitam concepções políticas semelhantes, no contexto aqui abordado.
Durante três meses, de junho a setembro de 2000, mantivemos contato com dezessete autores por
meio de sete editoras (Ao Livro Técnico, Atual, FTD, IBEP, Moderna, Saraiva, Scipione), objetivando
realizar cinco entrevistas dentro de um critério que levava em consideração o período de inserção
desses autores no campo didático, qual seja, dois nomes que já escreviam no período de maior
controle da censura e três que entraram neste mercado a partir da redemocratização. Tal critério
supunha a apreensão de uma maior visão de conjunto deste campo a partir da experiência de um
número mais significativo de autores. Todavia, encontramos grande resistência, tanto por parte
das editoras, quanto por parte dos autores para a realização das entrevistas. Apesar de buscarmos
atender a todas as exigências dos mesmos para as condições das entrevistas (como data, horário,
apresentação antecipada das questões da entrevista, sinopse da abordagem e dos caminhos da
pesquisa), dos dezessete nomes procurados, apenas dois se prontificaram a concedê-las.
90 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
vro didático exige, pelo menos, uma rápida exposição sobre o contexto
da historiografia brasileira nas últimas décadas.
No exame que fizemos em seis obras relativas à historiografia bra-
sileira contemporânea55, revelou-se que ela se configura, grosso modo,
pelas seguintes características: a) predominância da concepção de orien-
tação positivista, até o início de 1960; b) influência marxista e da escola
dos Annales, a partir da década de 1970; c) incorporação dos paradig-
mas da Nova História e da historiografia inglesa desde os anos de 1980;
d) estudos relacionados à subjetividade e ao cotidiano a partir do final
da década de 1980 e na década de 1990.56
Não cabe aqui aprofundar a conceituação dessas correntes, por isso,
correndo o risco de grosseiras simplificações, expomos, de maneira bem
sintética, um breve panorama das referidas tendências. Tal procedimen-
55 Para isso tomamos como referência as seguintes obras: Repensando a história (SILVA, 1984), História
e historiografia: Brasil pós-64 (Lapa, 1985), História nova do Brasil (SANTOS et alii, 1993), A velha
história: teoria, método e historiografia (MALERBA, 1996), Historiografia brasileira em perspectiva
(FREITAS, 1998) e Anais do II Encontro “Perspectivas do Ensino de História” (1996).
56 Esse quadro representa um panorama geral, porém não se trata de uma “evolução” cronológica
das correntes, visto que nenhuma delas desapareceu das academias. Soma-se a isso o fato de que
nomes significativos das ciências humanas não se encaixaram no quadro acima exposto. É o caso,
entre outros, de Caio Prado Junior, Antonio Candido, Astrojildo Pereira, Leôncio Basbaun, Nelson
W. Sodré, Florestan Fernandes, Octavio Ianni e Emília Viotti da Costa, Álvaro Vieira Pinto, Celso
Furtado, autores de obras significativas produzidas ainda na década de 1950, ou até a primeira
metade da década de 1960 (KONDER, 1998, pp. 355-374).
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57 Na verdade, o termo história tradicional é carregado de grande subjetividade, podendo ser com-
preendido corretamente apenas dentro do contexto em que ele é afirmado. Assim, para qualquer
corrente, “tradicional” é sempre o modelo anterior. Por exemplo, para um positivista, tradicional
é a concepção metafísica, para o marxista, é a positivista, para o discípulo da Nova História, pode
ser o marxismo, e assim por diante.
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58 José Roberto do Amaral Lapa, considerado um dos importantes analistas do campo historiográfico
(cf. FICO; POLITO, 1996, p. 196), cita que entre os nomes mais influentes na historiografia brasileira, a
partir do final da década de 1970, destacam-se: Hen-Irénée Marrou, G. Barraclough, Pierre Chaunu,
H. Vedrine, E. H. Carr, Lucien Febvre, Antonio Gramsci, Marc Bloch, Fernand Braudel, Paul Veyne,
Michel Foucault, François Furet, Claude Lévi-Strauss, Jean Piaget, Ernest Nagel e Jean Bouvier.
59 No já referido estudo, A historiografia brasileira nos últimos 20 anos, Carlos Fico e Ronald Polito
(1996, p. 194) afirmam que “a história política no Brasil, nunca deixou de ser praticada e, na verdade,
não experimentou grandes renovações teóricas ou metodológicas como de algum modo ocorreu
com a história social. Muitos trabalhos de história política persistiram numa perspectiva linear de
análises de individualidades ou da corriqueira sucessão de episódios da ‘pequena política’”.
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60 Trata-se aqui, apenas de uma expressão para designar algumas categorias e ou conceitos que são
tradicionalmente mais recorrentes em autores ditos marxistas ou empregados pelo próprio Marx.
Evidente que esta discussão é polêmica visto que, como diz Hobsbawm (1998, p. 10), nem todos
os que se intitulam podem ser considerados “Historiadores na tradição de Marx”.
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61 De fato, notamos que não se trata de uma tentativa desses autores de reescrever a história, intro-
duzindo novos temas, mas, mantendo os temas já consagrados pela historiografia, inverter-lhes o
ponto de análise. É o que percebemos, por exemplo, ao examinarmos certos títulos e subtítulos de
alguns capítulos: “Unidade I – Pindorama (a comunidade primitiva e o período pré-colonizador), Os
donos da terra”; “Unidade II – O inferno dos Negros (a agro-manufatura do açúcar e a colonização
nos séculos XVI e XVII), A cultura literária colonizada”; “Unidade IV – O que anda nas cabeças e
anda nas bocas? (as conspirações do final do século XVIII), ‘Animai-vos, povo bahiense!’” (ALENCAR,
CARPI; RIBEIRO, 1979, sumário, p. IX).
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62 Na exposição de Bourdieu (1999, p. 135), “pode-se descrever o campo social como um espaço
multidimensional de posições”, ou seja, o conjunto dos variados campos, responsáveis pelo capital
cultural e simbólico adquirido e reproduzido por determinado agente.
63 Não é necessário entrar aqui em extensos dados biográficos, mas, somente para ilustrar, lembramos
que as duas autoras de História do Brasil: da colônia à república eram, desde a primeira edição do
livro, em 1980, docentes universitárias. Elza Nadai participou das atividades político-estudantis na
Juventude Universitária Católica (JUC), desde a década de 1960, na cidade de São Paulo. Dos autores
de História da sociedade brasileira, Marcus Venício T. Ribeiro exercia a função de pesquisador do
Instituto de História Social Brasileira e Francisco Alencar ligava-se, à época, ao movimento sindical e
aos grupos fundadores do Partido dos Trabalhadores, tornando-se, mais tarde, vereador e deputado
estadual por esse partido, no Rio de Janeiro.
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64 Em razão dos objetivos deste estudo, todos os livros aqui analisados são os exemplares destina-
dos ao professor, excetuando-se o livro de Alencar, Carpi e Ribeiro (1979), que não possuía esta
indicação. Desta obra, mesmo nas edições até o ano de 1985, não há o exemplar específico do
professor, apenas um carimbo de “cortesia da editora e do autor”, mas seu conteúdo é, na íntegra,
o mesmo do exemplar do aluno. Nos outros livros, a indicação destacada “livro do mestre” ou “livro
do professor” especificam o exemplar.
65 Sem querer reduzir as múltiplas e profundas discussões a respeito da análise do discurso, tal afir-
mação pode ser compreendida na perspectiva do paradigma indiciário de Ginzburg (1989, p. 178),
segundo o qual, “alguns indícios mínimos” podem ser “assumidos como elementos reveladores de
fenômenos mais gerais” como “a visão de mundo de uma classe social, de um escritor ou de toda
uma sociedade”.
110 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
possível encontrar autores que não tratam desse aspecto em suas pro-
duções, a maioria, porém, faz sua apresentação, ora dirigida ao aluno,
ora dirigida ao professor, ora a ambos.
Examinando 24 livros de História dos ensinos médio e fundamen-
tal, publicados entre 1979 e 2001, nos quais o tema ditadura é aborda-
do, constatamos que em apenas dois deles não há preocupação de se
fazer uma apresentação formal em seus trabalhos, ainda assim, mesmo
nesses livros, tal quesito pode ser compreendido num pequeno texto na
capa dos livros66. Os demais o fazem, em geral, como item introdutório
de seus trabalhos.
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
66 São os livros das coleções de ensino médio das versões “volume único” e “compacta”, escritos por
Ricardo de Moura Faria, Adhemar Martins Marques e Flávio Costa Berutti, ambos publicadas pela
editora LÊ, nos anos de 1989 e 1998.
Jason Ferreira Mafra - 111
67 O livro de Tereza Rodrigues, assim como o de Souza e Araújo, também não possui data de publicação,
mas a leitura de suas abordagens evidencia que teve sua primeira edição em meados de 1988 ou
no início do ano de 1989, porque encerra suas análises sobre a economia brasileira citando o mês
de fevereiro de 1988.
112 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
68 São citados ainda mais oito nomes de pessoas que tiveram destaque na elaboração do livro e
apresentadas suas respectivas colaborações.
Jason Ferreira Mafra - 113
69 Considerando que as autoras são também docentes acadêmicas, tal fato é compreendido por
Bourdieu (1999, p. 211) como “habitus cultivado”, disposições incorporadas que se transferem de
um campo para outro. Em entrevista, a coordenadora do departamento de História do Colégio Dante
Alighieri, à época, uma escola privada e tradicional da capital paulista, afirmou que tal livro fora
adotado na escola por um determinado período, contudo, os alunos consideravam que o mesmo
possuía uma linguagem “muito difícil”. Segundo a mesma coordenadora, em razão da percepção
desta situação, a editora solicitou revisões às autoras, todavia, mesmo com tais revisões, persistiram
as dificuldades, o que fez com que os professores buscassem alternativas e, no limite, optassem
por outro livro que foi adotado pela escola.
70 Esta discussão sobre historiografia será abordada na quarta parte deste livro.
114 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
71 Pelo volume de sua obra (superando as mil e cem páginas distribuídas em dois volumes), este
tradicional historiador é até bem mais modesto em sua investida que os seus atuais concorrentes.
Isso se revela, sobretudo, se comparamos o tratamento que Burns dá ao seu tema, com a amplitude
dos títulos de algumas coleções didáticas nessa linha, visto que o citado autor propõe dar conta,
não de “toda a história”, como fazem alguns, mas de toda a história “apenas” do mundo ocidental.
72 Mantendo as mesmas linhas totalizantes de Burns, tais coleções têm títulos consideravelmente
pretensiosos: História: das cavernas ao terceiro milênio (editora Moderna); História para o ensino
médio: história geral e do Brasil (editora Scipione); História da civilização ocidental: geral e Brasil,
integrada (editora FTD); História global: Brasil e geral (editora Saraiva); Toda história: história
geral e do Brasil (editora Ática); História (da editora IBEP, com um subtítulo que diz “atende aos
parâmetros curriculares do ensino médio” e em destaque “curso completo”). Excetuando-se esta
última coleção, todas as outras ultrapassam 500 páginas, chegando uma delas a 688 páginas.
Jason Ferreira Mafra - 117
timo item de cada unidade, sem que este se relacione aos desdobramen-
tos dos processos e temporalidades mais amplos.
Excetuando-se o subtítulo “A América de colonização portuguesa”
(p. 196-204) – que, aliás, por razões óbvias, trata-se apenas deste nosso
país –, o Brasil é abordado em temas bem específicos: “A ordem imperial
brasileira e sua desagregação” (pp. 282-301) “O Brasil até 1945” (pp. 367-
-380) “O Brasil pós-45” (pp. 439-456).
Assim, coloca-se um tema geral no capítulo “As configurações do
Mundo Contemporâneo”, mas o “Brasil pós-45” entra como um tema
desconexo desse processo, sendo abordado como um subtema à parte,
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
Parte IV
O Discurso Presente e o
Discurso Ausente
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
Jason Ferreira Mafra - 123
73 Numa avaliação do MEC realizada em 2001, por exemplo, das 111 coleções analisadas, 46 (41%)
não foram incluídas no Guia do Livro Didático por falta de qualidade, sendo que nas disciplinas de
Português, Ciências e Geografia, não havia nenhuma opção com três estrelas, isto é, livros considera-
dos com a melhor classificação. No caso de Ciências, a situação era pior: nenhuma coleção recebeu
124 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
zer, por uma atitude subjetiva, ainda que conectada às condições sociais
que interferem em tal escolha. O fato é que, de uma forma ou de outra,
qualquer recorte no âmbito do conhecimento, seja na abordagem epis-
temológica, seja na escolha do objeto, implica, em maior ou menor grau,
uma escolha ideológica.
Partindo, portanto, desse pressuposto, de que a abordagem que os
autores dão a um determinado tema reflete, entre outras coisas, sua in-
tencionalidade nas presenças e nas ausências de conteúdos e de ideias,
indagamos: que importância atribuíram esses autores ao tema ditadura
militar? Uma resposta a esta indagação passa evidentemente pelo recor-
sequer duas estrelas. Das 111 coleções de 5ª a 8ª séries, apenas 4 conseguiram a nota máxima
(Weber, 2001). Dessas coleções, 154 livros foram reprovados e não podem ser utilizados na rede
pública. Todavia, é possível discordar dos critérios de avaliação dos livros, mas não há como negar
que, apesar de todas as melhorias que vêm ocorrendo nesses manuais, ainda são frequentes as
incorreções, algumas amadoristicamente absurdas. Por exemplo, em dois dos casos de reprovação,
nessa última avaliação, há um livro que afirma que “a pobreza no país é explicada como fruto de
muitos filhos fora do casamento” e outro que sugere uma “experiência científica com correntes
elétricas, que poderia causar um acidente e levar o estudante à morte” (MEC..., 2001).
74 Esta afirmação pauta-se na ideia do conhecimento visto enquanto fator de divulgação de massa e
como um produto socialmente submetido aos agentes do campo científico da produção. De acordo
com Paulo Miceli (1988, p. 34, grifo do autor), “nenhum tema possui em si uma carga maior ou
menor de ‘Historicidade’; é a relação que com ele estabelece quem o trabalha que pode ou não
fazer dele um tema histórico”. Todavia, “quem o trabalha”, não é apenas o cientista histórico, mas
o conjunto de determinações do campo ao qual ele se insere.
Jason Ferreira Mafra - 125
te que os mesmos fizeram deste objeto e pela forma como tal conteú-
do foi tratado.
No que tange à temática do período militar, sobre o primeiro aspec-
to, não há de fato, nos livros aqui analisados, uma relação direta – em
dar maior ou menor ênfase ao tema – com a época de elaboração dos li-
vros didáticos. Afirmamos isto porque, num primeiro momento, pode-
ríamos imaginar que a lógica se daria da seguinte maneira: quanto mais
distante do regime militar, mais esse tema seria enfocado criticamente,
vez que os autores teriam maior autonomia para tratá-lo, em função de
não haver mais elementos limitadores relacionados à censura do regime.
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
75 Num certo sentido, e tendo em vistas as formas de abordagens de alguns livros, tal procedimento
poderia ser descrito como uma interpretação positivista da história. Porém, essa generalização é
imprecisa, aplicando-se aos casos dos didáticos aqui estudados. Isso se deve ao fato de que, se, por
um lado, nota-se um conjunto de livros, nessa linha, que destaca os “fatos positivos”, por outro,
há um grupo que, sem abandonar esse método de exposição dos “três momentos”, apresenta
Jason Ferreira Mafra - 127
categorias que, mesmo vulgarizadas nas formas de sua aplicação, poderiam ser entendidas como
que referenciadas numa perspectiva dialética.
128 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
77 Vale destacar que se trata de uma época em que, dadas as condições derivadas do centralismo e
do fechamento político pelo qual o país passava, geralmente, valiam-se os livros de uma linguagem,
no mínimo, narrativa dos fatos, quando não, favorável ao regime (como demonstrado no livro de
Souza e Araújo, analisado na segunda parte desta pesquisa).
78 A menos que na criação desse título haja uma intenção oculta de comparar “Um novo Estado” com
“Estado Novo”, uma alusão à ditadura getulista.
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79 Evidentemente as datas, a ocorrência dos fatos e os seus atores sociais são resultados de pesquisa,
mas estamos falando aqui de análise histórica, visões sobre os fatos.
134 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
mesmo como uma “revolução”, ainda que de direita80, mas de uma orde-
nação interiorizada (BOURDIEU, 1999, p. 349), decorrente de uma repre-
sentação muito bem construída pelo Estado militar: “a Revolução de 64”.
Assim, seguindo uma lógica, aparentemente derivada de uma “or-
dem natural” dos acontecimentos, a autora intitula seu capítulo como
sendo “A revolução de 1964 e o regime militar”, e mantém seus subtítulos
nessa coerência: “causa da revolução de 1964”, “marcha da revolução”,
“as medidas revolucionárias” e os “presidentes depois da revolução”.
Isso parece ser mesmo muito mais resultado de um habitus do que pro-
priamente uma convicção ideológica à maneira que teria ocorrido em
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
80 Não vamos retomar aqui a discussão sobre os problemas relativos ao conceito de revolução, vez
que isso já foi abordado na segunda parte desta obra, precisamente, no item “sobre o significado
do período militar”.
136 - A DITADURA ESPELHADA – Conservadorismo e Crítica na Memória Didática...
respostas contidas nessa parte, ainda que todas elas tenham as caracte-
rísticas expostas anteriormente, apenas para não sermos muito exten-
sos, destacamos três:
1) Quais foram as causas do movimento revolucionário de 1964?
R: Agitações no campo, indisciplina das forças armadas e comício
de março no Rio de Janeiro.
6) Como foi o governo do presidente Médici?
R: Construiu a Transamazônica e ampliou para 200 milhas a faixa
do mar territorial.
8) Como o Brasil resolveu o problema da falta de petróleo no
mercado internacional?
R: Adotando o álcool como combustível. (p. 192).
81 Há que se destacar que a parte do livro destinada ao manual do professor refere-se à 16ª edição
da obra.
82 Cf. a 17ª edição do ano de 1995 (pp. 359-441).
Jason Ferreira Mafra - 143
83 Do levantamento de livros feitos por nós a partir da década de 1970, esse foi de fato, o primeiro livro
a relacionar de maneira organizada e tecnicamente correta, suas fontes bibliográficas, mencionando-
-as em suas páginas finais.
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84 Mantivemos aqui os registros bibliográficos das obras da forma como estão no livro.
Jason Ferreira Mafra - 145
85 Não estamos com isso afirmando que o trabalho ora avaliado seja rigorosamente um trabalho
acadêmico. Todavia, é possível assegurar que existem nele elementos de cientificidade, aspecto
pouco comum em obras dessa natureza.
Jason Ferreira Mafra - 149
Conclusões
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
Jason Ferreira Mafra - 153
86 Não se trata aqui de uma afirmação teórica, mas de uma constatação empírica em 15 anos de
trabalho em sala de aula, ministrando História para alunos dos ensinos fundamental e médio.
87 Consideramos que não há necessidade, nesse contexto, de explicitar levantamento de dados
sobre tal postura, visto que a questão demandaria outra pesquisa. É possível também que isso
não corresponda às justificativas da maioria dos professores de História, mas – recorrendo aqui
ao paradigma indiciário de Ginzburg (1989) –, uma afirmação dessa natureza parece-nos um dado
bastante revelador.
Jason Ferreira Mafra - 159
que seus agentes, produtores desse campo, servem aos interesses da luta
que aí se estabelece, servem também aos “interesses dos grupos exterio-
res ao campo de produção” (Bourdieu, 2000, p. 12).
Dessa maneira, este trabalho procurou discutir uma produção his-
tórica dentro do seu ato de produzir. Sabemos que quando se trata de
conhecimento relacionado à explicação de uma realidade social, histo-
ricamente, ninguém tem a última palavra. Nem os que dizem que tudo
é assim, nem os que dizem que nada é assim. Nesse caso, o bom senso
talvez seja a melhor saída.
Quando pensamos em história, sobretudo na história que, cons-
UNINOVE – uso exclusivo para aluno
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