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Revista Aquivos Brasileiros de Medicina Naval 2016 0
Revista Aquivos Brasileiros de Medicina Naval 2016 0
ARQUIVOS BRASILEIROS DE
MEDICINA NAVAL
VOLUME 77 N.1 JANEIRO / DEZEMBRO 2016 - ISSN 0365074-X
ARTIGO HISTÓRICO
A Tuberculose nos arquivos da perícia médica na
Marinha do Brasil - histórico e atualidades
ARTIGOS ORIGINAIS
Doses de radiação efetiva para os pacientes
nos exames de tomografia computadorizada
realizados no Hospital Naval Marcílio Dias
ARTIGOS DE REVISÃO
Azul da Prússia: aspectos químicos,
DIRETORIA DE SAÚDE DA MARINHA farmacológicos e de eficácia e segurança para uso
como medicamento
ARTIGO ESPECIAL
O uso de biotraçadores polínicos: novas
perspectivas para o desenvolvimento da estratégia
de defesa contra ataques por via atmosférica
A Revista Arquivos Brasileiros de Medicina Naval foi criada pelo Aviso nº 1070, de 19 de junho de 1939,
do Exmº Sr. Ministro da Marinha, Vice-Almirante Henrique Aristides Guilhem, sendo Diretor Geral de
Saúde Naval, o Contra-Almirante (Md) Otávio Joaquim Tosta da Silva.
O Título desta revista foi registrado no Departamento Nacional de Propriedade Industrial do Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio, conforme termo de depósito número 247.731, de 15 de junho de 1953,
e no Registro Civil das pessoas Jurídicas (Vara de Registro Público do Distrito Federal), sob o número
635, no livro “B”, número 1 de matrícula de oficinas impressas, jornais e outros periódicos, em 15 de
junho de 1953.
Anos 30 - No final da década de 30, a revista Anos 80 – A periodicidade passa a ser regular
científica foi criada pelo aviso n° 1.070, do e a revista adquire o formato tradicional - “in
Ministro da Marinha, o Vice-Almirante Hen- octavo”.
rique Aristides Guilhem, em 19 de junho de Meados de 80 e início de 90 - A informatiza-
1939. ção torna necessária a indexação, para facilitar
Anos 40 – É publicada a primeira edição com a busca e recuperação de artigos.
nove artigos e 145 páginas. A periodicidade é Final de 90 – O novo padrão na publicação dos
semestral. artigos científicos obedece aos avanços cientí-
Segunda metade do século XX - Fase da bus- ficos e tecnológicos provocados pela globali-
ca pela padronização no processo de editora- zação.
ção dos artigos científicos. Anos 2000 – A revista passa a ser disponibiliza-
Anos 60 – Os artigos passam a aparecer com da em formato digital na página da Diretoria de
resumo, bibliografia consultada e o crédito Saúde da Marinha.
dos autores.
Anos 70 – A revista passa a incluir introdução,
material & métodos, resultados, discussão e
conclusão na sua estrutura. A periodicidade
continua irregular.
Mensagem
S
ócrates (470-399 a.C) afirmava que a vida sem reflexão não
vale a pena ser vivida.
Hoje, vivemos tempos de profunda transformação e, con-
sequentemente, necessária reflexão. As Forças Armadas, inseri-
das neste contexto, vêm reestruturando os seus diversos níveis de
Gestão em Saúde, e consideram estratégica a vertente de Ensino e
Pesquisa. O Sistema de Saúde da Marinha (SSM), em consonância
com esta linha de pensamento procura, incessantemente, fomentar o
crescimento da expertise e a produção de conhecimento em saúde.
Assim, no ano em que celebra-se o 167º Aniversário do Corpo de
Saúde da Marinha (CSM) é com muito orgulho que disponibilizamos
a 77ª edição da revista Arquivos Brasileiros de Medicina Naval. Pu-
blicada desde a década de 40, a nossa revista alcança patamar de
visibilidade perante a comunidade científica nacional e internacional
pela qualidade e efetividade para a Sociedade dos trabalhos nela
apresentados.
A presente edição conta com a colaboração de diversos represen-
tantes das mais variadas vertentes do SSM. Estes, não mediram es-
forços para escreverem os artigos, buscando passar as informações
de forma atraente e reunindo as últimas evidências publicadas.
Tal como aconteceu nas edições anteriores, fomos grandemente
encorajados pela ajuda e suporte constante que recebemos de mui-
tas pessoas. Assim, aproveito a ocasião para agradecer a todos que
de alguma forma contribuíram para a concretização da presente edi-
ção. Temos plena consciência do engajamento em prol do sucesso.
Agradeço, ainda, a todos os integrantes do CSM que de forma
entusiástica, dedicada e perseverante contribuem para o bem-estar
de nosso maior patrimônio: a Família Naval.
Aos nossos queridos seguidores desejo uma prazerosa leitura e
uma profícua reflexão!
Sérgio Pereira
Vice-Almirante (Md)
Diretor de Saúde da Marinha
Editorial
E
ste ano, ao publicarmos o 77º volume de nosso periódico “Arquivos
Brasileiros de Medicina Naval” (ABMN), acreditamos que, acima
de tudo, ficou evidente o grau de atualização e desenvolvimento
das atividades de saúde na Marinha, demonstrando que a ciência per-
manece, de forma inequívoca, guiando o rumo de nossos profissionais.
Os trabalhos englobam temas que vão desde de doenças que aco-
metem a espécie humana há milênios, tais como tuberculose e parasi-
toses intestinais, até doenças emergentes como a infecção pelo vírus
Zika. Aspectos modernos do dogma da assistência em saúde “primum
non nocere”, são explorados no artigo sobre as doses de radiação nos
exames de tomografia computadorizada e no trabalho sobre a seguran-
ça do paciente. Incluídos também nesta edição, artigos a respeito do
azul da Prússia e sobre biotraçadores, fazem referência a questões que
revelam a complexa e inseparável relação entre os serviços de saúde
das Forças Armadas e a Defesa Nacional.
Agradeço aos autores pela excelência dos artigos e pela contribuição
que fazem para manter vivo o espírito acadêmico, tão necessário na
área de saúde, cedendo parte de seu valioso tempo dedicado às tarefas
do cotidiano e, certamente, abrindo mão de incontáveis horas de conví-
vio familiar.
Da mesma forma, agradeço a todos os membros do Conselho Edito-
rial da ABMN, pela árdua tarefa de selecionar os trabalhos, dentre tantos
recebidos do mais alto nível, sugerindo as alterações necessárias para
a publicação e, dessa forma, mantendo nossa revista com excepcional
qualidade.
Aos leitores, espero que apreciem as próximas páginas.
Muito obrigado.
COMANDANTE DA MARINHA
Almirante de Esquadra EDUARDO BACELLAR LEAL FERREIRA
EDITOR CHEFE
Capitão de Mar e Guerra (Md) ANDRÉ GERMANO DE LORENZI
CONSELHO EDITORIAL
Capitão de Mar e Guerra (Md) ANDRÉ GERMANO DE LORENZI
Capitão de Fragata (Md) MARCELO LEAL GREGÓRIO
Capitão-Tenente (S) CARLA SALES MAIA
Primeiro-Tenente (RM2-S) JULIANA PANDINI CASTELPOGGI
Primeiro-Tenente (RM2-S) JESSÉ GUIMARÃES DA SILVA
Primeiro-Tenente (RM2-T) AUGUSTO CESAR DA SILVA
Primeiro-Tenente (S) DANIEL FILISBERTO SCHULZ
Primeiro-Tenente (RM2-S) RODRIGO JORGE DE ALCANTARA GUERRA
Primeiro-Tenente (S) HALLINY SIQUEIRA RUELA
Primeiro-Tenente (RM2-Md) MARIA ALICE FUSCO DE SOUZA
Servidora Civil ANDREIA JORGE DA COSTA
CONSELHO CONSULTIVO
Contra-Almirante (Md) EDMAR DA CRUZ ARÊAS
Diretor do Hospital Naval Marcílio Dias
Contra-Almirante (Md) DALVA MARIA CARVALHO MENDES
Diretora do Centro Médico Assistencial da Marinha
Contra-Almirante (Md) LUIZ CLAUDIO BARBEDO FRÓES
Diretor do Departamento de Saúde e Assistência Social do Ministério da Defesa
Contra-Almirante (Md) MARCO ANTONIO GOMES DE FREITAS
Assessor do Diretor de Saúde da Marinha
Contra-Almirante (Md) ANTONIO BARRA TORRES
Diretor do Centro de Perícias Médicas da Marinha
Contra-Almirante (Md) HUMBERTO GIOVANNI CANFORA MIES
Diretor do Centro de Medicina Operativa da Marinha
Redação e Administração
ARQUIVOS BRASILEIROS DE MEDICINA NAVAL
Rua César Zama, 185 – Lins de Vasconcelos
Rio de Janeiro – Brasil – CEP 20725-090
Tel: (21) 2599-5452
abmn@hnmd.mar.mil.br
Periodicidade
Anual
Tiragem
2.000 exemplares – Distribuição gratuita
ARTIGOS ORIGINAIS
Doses de radiação efetiva para os pacientes nos exames de tomografia computadorizada realizados
no Hospital Naval Marcílio Dias............................................................................................................... 15
CF (Md) Mônica Silva Costa Janson Ney / Alair Augusto Sarmet Moreira Damas dos Santos /
1º Ten (T) Giuliana Vasconcelos de Souza Fonseca
Perfil dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica em Hospital Militar localizado na cidade do
4 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1)
ARTIGOS DE REVISÃO
Azul da Prússia: aspectos químicos, farmacológicos e de eficácia e segurança para uso como
medicamento ............................................................................................................................................... 37
1º Ten (S) Halliny Siqueira Ruela / 1º Ten (RM2-S) Joel Flores Bueno / 1º Ten (RM2-S) Erika Bachini Fonseca /
1º Ten (S) Ana Paula Felix Trindade Carmo
ARTIGO ESPECIAL
O uso de biotraçadores polínicos: novas perspectivas para o desenvolvimento da estratégia de
defesa contra ataques por via atmosférica .............................................................................................. 65
3º SG-EF Luiz Antonio da Costa Rodrigues / 1º Ten (RM2-S) Shana Priscila Coutinho Barroso /
1º Ten (RM2-Md) Maria Alice Fusco de Souza / CB-EF Caroline Corrêa de Aguiar /
3º SG-EF Bruno de Lima Miranda
A TUBERCULOSE NOS ARQUIVOS DA PERÍCIA
MÉDICA NA MARINHA DO BRASIL –
HISTÓRICO E ATUALIDADES
Recebido em 04/07/2016
Aceito para publicação em 16/09/2016
RESUMO
Segundo dados atuais da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o único país das Amé-
ricas entre os 22 responsáveis por 80% dos casos mundiais de Tuberculose, numa triste 16ª posição.
Os autores apresentam os resultados de pesquisa documental, realizada para conhecer os procedi-
mentos médico-periciais utilizados nas avaliações das guarnições da Marinha do Brasil, no período de
1860 a 1900, realizados no Hospital Central da Marinha (HCM), na Ilha das Cobras - Rio de Janeiro.
Comprovam, nesse período, a alta frequência de Tuberculose como causa de incapacidade tempo-
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo apresentar os primeiros registros documentais sobre a Tuber-
culose, nas suas diversas apresentações, que acometia os marinheiros no período de 1860 a 1900,
através de consultas aos arquivos médico-periciais depositados na Diretoria do Patrimônio Histórico e
Documental da Marinha e no Centro de Perícias Médicas da Marinha.
Inicia por uma revisão histórica e documental dos arquivos de perícia, da ocorrência da Tuberculo-
se, entre os anos de 1860 e 1900, com a finalidade de estudar os procedimentos médico-periciais nas
avaliações dos militares.
Como na Marinha do Brasil, a primeira Junta de Saúde oficial, a Junta Médica da Marinha, foi apro-
vada em 1858, pelo Imperador Dom Pedro II, e o Ministro dos Negócios da Marinha estabeleceu e
regulamentou a perícia médica, por meio do Decreto nº 1981/1857 e do Aviso de 27 de julho de 1858,
com a finalidade de executar perícias médicas e inspeções de saúde de oficiais e praças, a presente
revisão revela os primórdios da atividade pericial da Marinha.
No período estudado (1860-1900), foi observado que, nas inspeções de saúde com a finalidade de
verificação de deficiências funcionais, a Junta de Saúde constatou que a principal causa de incapaci-
dade definitiva para o SAM foi a Tuberculose pulmonar, seguida pela sífilis.
1
Médico Auditor do Centro de Perícias Médicas da Marinha. Membro Titular da Academia Brasileira de Medicina Militar. Membro da Sociedade Brasileira
de História da Medicina
2
Chefe da Seção de Medicina Pericial da Diretoria de Saúde da Marinha
Como prova da importância da Tuberculose O faraó Amenophis IV e sua linda esposa Ne-
pulmonar já no contexto nosológico do início do fertiti, cujo busto de ouro maciço é a maior atração
século XX, é compilado o original de Relatório do do museu egípcio de Berlim, morreram de Tuber-
ano de 1901 apresentado ao presidente da Re- culose em torno de 1.300 a.C.
pública dos Estados Unidos do Brasil pelo Contra Na América do Sul, foram encontradas mú-
-Almirante J. Pinto da Luz, Ministro de Estado dos mias pré-colombianas no Peru, nas quais, a partir
Negócios da Marinha, em abril de 1902. de técnicas de Reação em Cadeia da Polimerase
….Merece a tuberculose especial atenção, pois (Polymerase Chain Reaction – PCR), foram anali-
tem se desenvolvido em grande escala nas tripu-
sados fragmentos de tecido, constatando-se sequ-
lações e Corpos de Marinha parecendo-me que
todo o marinheiro, em começo da moléstia, deve ências compatíveis com o DNA do Mycobacterium
ser inspecionado e, confirmada a moléstia, ter bai- tuberculosis (figura 2).4
xa immediata; a promiscuidade dos tuberculosos
com outros doentes ou com companheiros sãos é
sempre nociva, e no Hospital de ordinário isso se
dá por não haver um local para isolla-os.1
Não. A única coisa a fazer é tocar um tango ar- Marinha foi a Tuberculose pulmonar, seguida pela
gentino7 sífilis (figuras 3 e 4).8
direito.... incapaz
Tuberculose.
Braille, cego e organista, contraiu a Tuberculo-
se e foi obrigado a permanente repouso que lhe Á época, o problema da hospitalização dos
facultou a paciência e o tempo para criar um alfa- marinheiros tuberculosos foi motivo de sérias pre-
beto com pinos salientes para a leitura dos cegos, ocupações das autoridades navais.
até hoje universalmente adotado. Na Marinha, entre os pacientes portadores ou
suspeitos de doenças infectocontagiosas, era alta
A TUBERCULOSE NA MARINHA DO BRASIL a incidência de beribéri, que eram baixados em
Na Marinha do Brasil, a Tuberculose também hospital-barraca na Ilha do Governador e na Ilha
se apresentou como um grande problema de saú- da Boa Viagem, em Niterói. A situação era muito
de. À época, a vida a bordo era extremamente precária. O local era impróprio e os barracões de
rigorosa: alimentação deficiente, porque muitas madeira que serviam para abrigar os acometidos,
vezes os navios ficavam longos períodos sem além dos inconvenientes do material de constru-
atracar, privando o acesso da tripulação a uma ção, deterioravam rapidamente, sendo necessá-
alimentação saudável. O confinamento também rio retirar os doentes o mais breve possível.9
Inicialmente, foram encaminhados para a En-
fermaria Auxiliar de Copacabana (figura 5), situa-
da no caminho que ligava a Rua Real Grandeza à
Rua Barrozo, atual Siqueira Campos. Esse local
era destinado aos marinheiros beribéricos, que
como pensava-se tratar de uma doença contagio-
sa, necessitariam de mudança de ambiente e cli-
ma. Pelo aumento significativo de novos casos, foi
necessário providenciar instalações maiores.10
O Decreto Federal nº 7203 de 3 de dezembro
de 1908, em seu artigo 2º, assim regulamentava o
Serviço Hospitalar na Marinha:
Art 2º - Os hospitais dividir-se-ão em duas clas- Figura 5 - Enfermaria de Copacabana10
ses: primeira e segunda.
§1º - Os de 1ª Classe são destinados ao trata-
mento das moléstias médicas e cirúrgicas em ge-
ral e neles não serão recebidos doentes afetados
de enfermidades infecciosas ou transmissíveis.
§2º- Os de 2ª Classe são destinados ao trata-
mento dos beribéricos, dos tuberculosos e de mo-
REFERÊNCIAS
Figura 19: Reclame Correio do Povo (Santos, SP) - 1. Almeida SCP. Corpo, saúde e alimentação
11/01/190018 na Marinha de Guerra brasileira no período
pós-abolição, 1890-1910. Hist Ciênc Saúde-
Como resultado, os sanatórios foram sendo Manguinhos. 2012 dez;19(supl 1):15-33.
gradativamente desativados. No passado, alguns 2. Hijjar MA, Procópio MJ. Tuberculose –
casos eram submetidos a cirurgia com o objetivo epidemiologia e controle no Brasil. Rev. Hosp.
de retirar o pulmão doente, de modo a que ele Univ. Pedro Ernesto. 2006jun/dez;5(2):15-23.
RESUMO
Este estudo visa avaliar a dose de radiação para o paciente nos exames de tomografia computa-
Palavras-chave: Dose de radiação; Dose efetiva; Tomografia computadorizada por raios X; Redução
de dose.
ABSTRACT
To assess the radiation dose to the patient in computed tomography (CT) performed at the Marcilio
Dias Navy Hospital, from the effective doses mean values for each type of examination. Methods:
A retrospective, descriptive study, through the analysis of radiation dose to the patients undergoing
head, chest and abdomen / pelvis CT examinations, from the value of the dose-length product that
was subsequently converted into the effective dose for each examination. The study was conduct in
the multidetector scanner Somatom Sensation 40 slices; Siemens Healthcare, Germany. A descriptive
analysis of the data with the presentation of percentages, average and standard deviations values
*Trabalho realizado no Serviço de Radiodiagnóstico do Hospital Naval Marcílio Dias – Rio de Janeiro-RJ
1
Médica. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal Fluminense. Chefe do Serviço de Radiodiagnóstico do
Hospital Naval Marcílio Dias. Endereço para correspondência: Rua César Zama 185- 3º andar – Departamento de Radiologia - Lins de Vasconcelos – RJ.
CEP 20725-090. E-mail costa.ney@hotmail.com
2
Médico. Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense.
3
Estatística. Encarregada da Seção de Bioestatística do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias.
were performed. 95% confidence intervals were da dose de radiação para o paciente num dado
built to verify that the average effective doses exame.2 A dose para o paciente também varia
were within the typical values of effective dose de acordo com a marca, modelo e número de
for CT examinations proposed by the American fileiras detectoras de raios-X do equipamento
Association of Physicists in Medicine (AAPM) utilizado. Equipamentos multidetectores tendem
Report # 96. Results: The sample consists of a contribuir com doses maiores do que aqueles
1,410 examinations, such that 407 were head, single-slice, devido à combinação de fatores geo-
461 chest and 542 abdomen / pelvis. The average métricos e necessidade de volumes maiores para
effective doses found were 1.55 mSv, 3.87 mSv reconstrução das imagens.2 Um estudo britânico
and 7.75 mSv for head, chest and abdomen / mostrou uma variação de 40 vezes na dose de
pelvis examinations, respectively. Conclusion: radiação apenas com a utilização de parâmetros
This study identified that the chest examinations técnicos diferentes.8
were performed with effective doses below the Existem várias ferramentas técnicas utilizadas
typical values, while the effective doses for head para reduzir a dose de radiação na Tomografia
and abdomen / pelvis examinations were within Computadorizada (TC), como a modulação auto-
the range provided by the AAPM Report # 96. mática da corrente do tubo, filtração dos feixes
de radiação, colimação, diminuição do potencial
Key words: radiation dose; effective dose; do tubo ou da corrente do tubo, aumento do ín-
computed tomography; dose reduction. dice de ruído e do pitch, que é a velocidade de
deslocamento da mesa durante o exame, redu-
16 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1): 15-20
Tórax
mes. Foi observado que a média da dose efetiva (1,5655)
foi maior em pacientes do sexo masculino que do Tabela 6: Valores médios e desvios-padrão das doses efeti-
feminino (tabela 5). vas calculados para cada tipo de exame.
Crânio Adome Torax Dose efetiva
Idade Exame AAPM
(n=407) (n=542) (n=461) (mSv)
Min 15 15 17 Crânio 1-2 1,54-1,56
1st Qu 51 34 54 Abdome 8-14 7,50-8,01
Median 70 50 68 Tórax 5-7 3,73-4,02*
Mean 62,7 51,2 63,8 * intervalo inferior aos valores típicos.
3rd Qu 78 67 77 Tabela 7: Intervalo de 95% de confiança para as médias das
Max 95 96 101 doses efetivas comparados aos valores das doses efetivas
para exames de TC fornecidas pelo AAPM.
Tabela 3: Resumo descritivo das idades dos pacientes estati-
ficado por tipo de exame.. DISCUSSÃO
Nas últimas décadas vêm sendo observando
um aumento crescente do uso da TC na prática
Crânio Abdome Tórax médica, e consequentemente um aumento subs-
Gênero
(n=407) (n=542) (n=461)
tancial da exposição dos pacientes à doses de
200 244 227 radiação ionizante. Nos Estados Unidos, estudos
Masculino
(49,1%) (45%) (49,2%)
recentes reportam que 10% de todos os exames
207 298 234 com radiação ionizante são TC, contribuindo para
Feminino
(50,9%) (55%) (50,8%) cerca de dois terços da dose coletiva naquele
Tabela 4: Sexo dos pacientes por exame para cada tipo de país.13 Atualmente a dose para o paciente e a
equipamento.
dose coletiva resultantes de exames de tomogra-
fia constitui um problema de saúde pública em di-
As médias das doses efetivas de radiação versos países europeus e nos Estados Unidos. No
foram 1,55 mSv, 7,75 mSv e 3,87 mSv, para os Brasil, o número de tomógrafos instalados tam-
exames de crânio, abdome/pelve e tórax, respec- bém vem crescendo progressivamente, trazendo
tivamente. Estes valores com os respectivos in- esta preocupação do aumento da exposição à
tervalos de confiança encontravam-se dentro da radiação ionizante e da dose coletiva. O contro-
faixa de valores típicos tanto para os exames de le das doses de radiação para o paciente, bem
crânio quanto abdome. Já nos exames de tórax, como o conhecimento destas doses por parte dos
as médias estavam abaixo do intervalo, conforme profissionais de saúde, não é uma prática habitual
demonstrado nas tabelas 6 e 7. no nosso meio, o que contribui para o aumento
desnecessário na exposição e dos riscos associa- de tórax e crânio houve uma maior frequência de
dos. O Food and Drug Administration (FDA) consi- pacientes acima de 60 anos, enquanto nos exa-
dera os raios-X utilizados na prática médica como mes de abdome, a maioria dos pacientes estava
um carcinógeno conhecido5, sendo estimado que abaixo de 60 anos. Com relação à dose efetiva,
a radiação decorrente de exames de tomografia houve diferença significativa entre os gêneros
foi responsável por 1,5-2,0% de todos os cânce- para todos os tipos de exames, onde os homens
res nos Estados Unidos e por 29.000 casos de receberam maiores doses, em concordância com
câncer no ano de 2007.4-5,10,14 Sendo assim, é ex- a literatura que relatou que os pacientes do sexo
tremamente importante que medidas de proteção masculino recebem principalmente nos exames
radiológica sejam tomadas no sentido de prevenir de abdome uma dose de radiação maior que as
as irradiações desnecessárias e doses elevadas do sexo feminino, devido à diferença anatômica
nos exames. Para tal, deve-se primeiro conhe- onde os homens têm, em média, uma circunfe-
cer as doses de radiação que são ofertadas aos rência abdominal maior do que as mulheres.19 Se-
pacientes durante os exames de TC que liberam gundo Rodrigues (2012), a altura e a idade não
doses maiores de radiação, quando comparada influenciam a dose de radiação efetiva recebida.19
à radiologia convencional.15 Pesquisas sugerem Neste estudo, quando os valores das doses efe-
que as doses de radiação recebidas pelos pa- tivas encontradas foram comparados ao preconi-
cientes submetidos a procedimentos radiológicos zado no AAPM relatório nº 96, verificou-se que os
são subestimadas por cerca de 90% dos médicos valores médios nos exames de crânio e abdome/
assistentes, com a média da dose recebida sen- pelve estavam dentro da faixa especificada. Já os
radiation: BEIR VII Phase 2 [Internet]. 2006[acesso 19. Rodrigues SI, Abrantes AF. Estudo da dose
em 06 ago 2015]. Disponível em: http://www.nap. nos exames de tomografia computadorizada
edu/ em um equipamento de 6 cortes. Radiol Bras.
8. Linton OW, Mettler FA Jr. National conference 2012;45:326-33.
on dose reduction in CT, with an emphasis
on pediatric patients. Am J Roentgenol. 2003 Como citar este artigo: Ney MSCJ, Santos
Aug;181(2):321-9. AASMD, Fonseca GVS. Doses de radiação efe-
9. Sodickson A, Baeyens PF, Andriole KP, tiva para os pacientes nos exames de tomogra-
Prevedello LM, Nawfel RD, Hanson R, et al. fia computadorizada realizados no Hospital Na-
Recurrent CT, cumulative radiation exposure and val Marcílio Dias. Arq Bras Med Naval. 2016 jan/
associated radiation-induced cancer risks from CT dez;77(1):15-20.
of adults. Radiology. 2009 Apr;251(1):175-84.
10. Koller CJ, Eatough JP, Bettridge A. Variations
in radiation dose between the same model of
multislice CT scanner at different hospitals. Brit J
Radiol. 2003;76: 798-802.
11. McCollough CH, Christner JA, Kofler
JM. How effective is effective dose as predictor
of radiation risk? Am J Roentgenol. 2010 Apr;
194(4):890-6.
12. American Association of Physicists
in Medicine. The measure, reporting and
management of radiation dose in CT. Report of
AAPM Task Group 23: CT Dosimetry. Diagnostic
Imaging Concil CT Committee. College Park:
American Association of Physicists in Medicine;
2008 Jan. AAPM Report n. 96.
13. Daros KAC, Medeiros RB. Estudo de
protocolo otimizado para exames de tomografia
computadorizada de crânio. São Paulo:
Universidade Federal de São Paulo; 2002.
14. Dijkstra H, Groen JM, Bongaerts FA, van der
Jaqt EJ, de Bock TG, Greuter MJ. The cumulative
risk of multiple CT exposures using two different
PREVALÊNCIA DE PARASITOSES INTESTINAIS
EM PACIENTES ATENDIDOS PELO SISTEMA DE
SAÚDE DA MARINHA EM POSTOS SEDIADOS NO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO, EM 2015.
Recebido em 15/08/2016
Aceito para publicação em 16/09/2016
ABSTRACT
Intestinal parasitosis (IPs) is a group of diseases that usually occurs via ingestion of protozoan
cysts or helminth eggs, affecting more than two billion people worldwide. IPs predominantly affects
children and adolescents and is directly associated with geographic and socioeconomic factors. Due to
1
Graduando em Farmácia pela Faculdade Bezerra de Araújo.
2
Técnica em Patologia Clínica - Setor de Parasitologia do Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Naval Marcílio Dias. Endereço: Estrada do Mendanha,
1531 Rua: B, Quadra B, Casa 6 – Campo Grande – RJ. CEP: 23087-286. Telefone: (21) 3406-5007 E-mail do autor principal: farmaedu@gmail.com
3
Técnica em Patologia Clínica - Setor de Parasitologia do Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Naval Marcílio Dias
4
Técnica em Patologia Clínica – Auxiliar do Laboratório de Biologia Molecular do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias.
5
Bióloga. Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Ajudante da Divisão de Pesquisa do Instituto de
Pesquisas Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias.
6
Biólogo. Pós-Doutorado em Biociências Nucleares pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Encarregado da Divisão de Pesquisa Clínica do Instituto
de Pesquisas Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias e do Laboratório de Biologia Molecular.
its high prevalence rates in developing countries, que o saneamento básico oferecido de forma pre-
where sanitation is poor or even inexistent, IPs cária à população mais carente pode contribuir
is a global public health issue. Considering this para a alta prevalência das PIs nessas regiões.2
scenario, the present study aimed to analyze A transmissão das PIs, na maioria dos casos,
the prevalence of IPs in patients assisted by the ocorre por via oral passiva e cutânea. Ao instalar-
Brazilian Navy Healthcare System (NHS), placed se no organismo, o parasito retira do hospedei-
in the State of Rio de Janeiro, in order to evaluate ro todas as substâncias necessárias para a sua
the epidemiology of IPs within the local population. nutrição e sobrevivência, exercendo ação tóxica,
For that, it was conducted a broad search in data devido ao produto do seu metabolismo, promo-
provided by Complab Advanced System, with the vendo assim uma série de sintomas, como: ane-
inclusion criteria solely patients treated by NHS mias, cólica abdominal, diarreia, perda de apetite,
attended in health posts located in the State of fraqueza, febre, irritabilidade e perda de sono. A
Rio de Janeiro who underwent fecal examinations ocorrência de PIs na infância, principalmente na
in 2015. The prevalence of IPs was 3.8% and idade escolar, é considerada como um fator agra-
the most common IPs found were protozoa, vante da subnutrição, podendo levar a morbidade
Endolimax nana (59.6%) and Giardia lamblia nutricional, geralmente acompanhada da diarreia
(16.6%). The present work is relevant to present crônica e desnutrição, e como consequência pode
the epidemiological profile of NHS users and to acarretar em atrasos no desenvolvimento físico
reinforce the need of improvement the sanitary e intelectual. Algumas espécies podem também
and health infrastructures within the State of Rio de causar distúrbios de forma mecânica, ao provoca-
22 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1): 21-28
Janeiro, as the parasites found are strictly related rem a obstrução de ductos, canais ou vasos, pa-
to both poor sanitation and healthcare. It also ralisando o intestino, podendo levar o hospedeiro
stresses that hygiene and cultural characteristics à morte, caso não haja uma intervenção cirúrgica
of the population are extremely important factors para a remoção desses parasitos.3-5
on the prevention of IPs. Inúmeras são as espécies parasitárias com
capacidade de desenvolvimento no hospedeiro
Keywords: intestinal parasites; parasitology; humano, durante o ciclo biológico ou parte dele.
public health. Dentre as PIs, destacam-se as protozooses cau-
sadas por Entamoeba coli, Entamoeba dispar,
INTRODUÇÃO Endolimax nana, Entamoeba histolytica e Giardia
As parasitoses intestinais (PIs) ou enteropa- lamblia. Nas parasitoses causadas por helmintos,
rasitoses são doenças transmitidas geralmente destacam-se as espécies Ascaris lumbricoides,
pela ingestão de cistos de protozoários ou ovos Trichuris trichiura, Enterobuis vermicularis, Necator
de helmintos e atingem mais de dois bilhões de in- americanus, Strongyloides stercoralis, Taenia
divíduos da população mundial. Acometem predo- saginata,Taenia solium e Schistosoma mansoni,
minantemente crianças e adolescentes, além de dentre outras.6-7
estarem diretamente associadas a fatores geográ- Segundo estimativas da Organização Mundial
ficos e socioeconômicos. Devido aos altos índices da Saúde (OMS), cerca de um bilhão de indivíduos
de prevalência, constituem até os dias atuais, um estão infectados por Ascaris lumbricoides, com nú-
relevante problema de saúde pública, ocorrendo meros um pouco menores para os casos de para-
mais frequentemente nos países em desenvolvi- sitados por Ancilostomídeos e Trichuristrichiura. A
mento onde o saneamento básico é precário ou OMS estima também que cerca de 200 e 500 mi-
até mesmo inexistente.1 Dentre os principais fato- lhões de pessoas estejam parasitadas por Giardia
res que contribuem para o surgimento e evolução lamblia e Entamoeba histolytica, respectivamen-
clínica das PIs destacam-se as condições do hos- te.8 No Brasil, as últimas três décadas demonstra-
pedeiro, do agente etiológico e do meio ambiente. ram uma redução na prevalência de infecção por
Com relação ao hospedeiro, os fatores principais enteroparasitoses, embora em algumas regiões
são: idade, estado nutricional e imunológico, fa- com elevados índices de desenvolvimento ainda
tores genéticos, culturais, comportamentais e apresentem aproximadamente 30% de taxa de
profissionais. Quanto ao parasito, destaca-se a infecção por pelo menos uma espécie de entero-
resistência ao sistema imune do hospedeiro e os parasita.9
mecanismos de escape ligados às transforma- Em 2013, pesquisadoras e alunas da Faculda-
ções bioquímicas e imunológicas verificadas ao de Integradas de Santa Fé do Sul, desenvolveram
longo do ciclo biológico. Frei e Paes (2008) citam um estudo em escolas municipais de Rubinéia
e Esmeralda – São Paulo, no qual relataram o tamente para os altos índices de PIs no país, bem
quanto é complexo sensibilizar os escolares e como diversas patologias que surgem relaciona-
seus respectivos responsáveis para a participa- das à falta de saneamento básico.10
ção em atividades propostas pelo projeto. Num Perante este cenário, este trabalho teve como
total de 150 alunos que receberam frasco coletor objetivo analisar a prevalência de PIs em pa-
de fezes, apenas 21 retornaram com a amostra. cientes assistidos pelos postos de atendimento
Destas, 47,6% apresentaram positividade de car- pertencentes ao Sistema de Saúde da Marinha
ga parasitária.8 (SSM), situados no Estado do Rio de Janeiro. O
Dependendo da cepa do parasito, da intensi- SSM engloba um conjunto de recursos humanos,
dade da infecção e do estado imunológico do hos- financeiros, tecnológicos, físicos e de informações
pedeiro, as PIs são assintomáticas. Sendo assim, para prover o desempenho de suas atividades,
diversos casos não são diagnosticados, o que di- em cumprimento à Política de Saúde e Diretrizes
ficulta estabelecer a prevalência e o controle de emanadas da Administração Naval. O Subsiste-
transmissão.9 ma Assistencial é o responsável pela prestação
Mesmo apresentando índices consideráveis de Assistência Médico-Hospitalar (AMH) aos usu-
de desenvolvimento e uma significativa redução ários do SSM.11
na prevalência de PIs, o Brasil ainda apresenta Acredita-se que o conhecimento do perfil epi-
números expressivos em relação à taxas de infec- demiológico destas patologias na população es-
ções parasitárias. Devido a esse quadro, o Minis- tudada possa contribuir para o delineamento e
tério da Saúde editou em 2005 o Plano Nacional melhoria das ações de promoção em saúde do
RESULTADOS
Foram analisados os resultados de exames
24 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1): 21-28
que pode provavelmente ser um fator relevante região, associado às situações expostas anterior-
na baixa prevalência de helmintos. mente, pode explicar o resultado obtido nesse
Levai e cols. (1986) realizaram um estudo so- estudo, o qual o PNCG apresentou a maior pre-
bre a presença de ovos de helmintos e cistos de valência de casos de parasitoses intestinais.32-33
protozoários em cédulas e moedas. Das amostras
com positividade, 60% foram de cistos de proto- CONCLUSÃO
zoários e 40% de ovos de helmintos, sendo que As PIs constituem um grave problema de saú-
dentre os achados de helmintos, 75% eram na de pública em todo o mundo, e os indivíduos que
forma infectante, e 25% apresentaram alterações mais sofrem com as patologias causadas por es-
morfológicas e infertilidade, não havendo a pos- ses parasitas residem em países em desenvolvi-
sibilidade de infecção. Das moedas infectadas, mento, principalmente em zonas rurais ou comu-
100% continham cistos de protozoários. Esse re- nidades carentes de saneamento básico.
sultado reforça a tese de que os cistos resistem O levantamento de dados sobre a prevalência
mais tempo em outros ambientes do que os hel- de parasitoses intestinais em pacientes atendidos
mintos, que necessitam de um período mais longo pelo Sistema de Saúde da Marinha, em postos
no solo para atingirem a forma infectante.29 sediados no Estado do Rio de Janeiro, possibili-
Ludwing e Frei (1999) constataram em levan- tou as seguintes conclusões:
tamento parasitológico, em diferentes bairros da • A prevalência geral de PIs foi de 3,8%, con-
cidade de Assis, São Paulo, que a prevalência de siderado um baixo número comparado a outros
parasitoses intestinais é mais elevada em bairros trabalhos citados nesse estudo, como no das Es-
da periferia, com moradores com baixo nível so- colas Municipais de Rubinéia e Esmeralda, SP, o
cioeconômico, quando comparado aos morado- qual relatou uma prevalência de 47,6%;
res de bairros mais centrais, de maior poder aqui- • A baixa prevalência encontrada nesse traba-
sitivo.13 lho pode estar relacionada com a população estu-
Uma maior predominância de casos de mono- dada, a qual tem acesso facilitado ao SSM;
parasitismo (90,1%) foi observada em relação aos • O PNCG foi o posto que apresentou o maior
casos de biparasitismo (9,1%) e poliparasitismo número de casos positivos (23,4%) e o menor foi
(0,8%). Resultados similares foram encontrados a UMESQ (0,8%);
nos estudos de Espindola (2014), Pereira-Cardo- • As PIs patogênicas mais encontradas foram
so e cols. (2010) e de Mello e cols. (2001).14,30-31 as que são causadas por cistos de protozoários,
Com relação à prevalência de PIs, de acordo como a Giardia lamblia (16,6%) e a Entamoeba
com os postos de atendimento naval, foi observa- histolytica (7,7%);
do que o posto que apresentou o maior número • Foi encontrada apenas uma amostra conten-
de casos positivos foi a PNCG (23,4%). De acordo do positividade para o helminto Ascaris lumbricoi-
des, resultado diferente dos demais estudos cita- de Guarapuava, PR. Rev Salus. 2007;1(1):97-
dos nesse trabalho, os quais mostraram uma alta 100.
prevalência dessa espécie; 8. Pessoa JLA, Fernandes TMS, Ferro DAM.
• Os comensais mais frequentes foram Levantamento epidemiológico das parasitoses
Endolimax nana (59,1%) e Entameba coli (15,2%); intestinais humanas em alunos das escolas
• Embora a maioria dos parasitos encontrados municipais de Rubinéia e Esmeralda–SP. Rev
nesse estudo tenha sido os ditos comensais, este FUNEC Cient – Multidisciplinar. 2014;3(5):74-89.
trabalho se torna relevante por apresentar o perfil 9. Trata Brasil. Ranking do saneamento 2015
epidemiológico dos usuários do SSM e, além dis- (base SNIS 2013) [Internet]. 2015 [acesso em
so, demonstra que há uma premente necessidade 2016 jun 30]. Disponível em: http://www.tratabrasil.
da melhoria da infraestrutura sanitária do Estado org.br/ranking-do-saneamento-2015
do Rio de Janeiro, visto que estes parasitas são 10. Costa ACN, Borges BC, Costa AV,
frequentemente transmitidos em localidades em Ramos MF, Gomes JM, Gomes JM, Bueno H,
que o saneamento básico não funciona adequa- Faria TA. Levantamento de acometidos por
damente; enteroparasitoses de acordo com a idade e sexo
• Por fim, cabe ressaltar que além da questão e sua relação com o meio onde está inserido o
sanitária, os hábitos e as características culturais PSF prado da cidade de Paracatu – MG. Rev
da população também são fatores extremamente Patol Trop. 2012;41(2):203-14.
importantes na prevenção das PIs. 11. Brasil. Diretoria de Saúde da Marinha.
Manual do usuário do Sistema de Saúde da
RESUMO
A pesquisa teve como objetivo descrever o perfil dos pacientes que realizaram a cirurgia bariátrica
Palavras-Chave: Cirurgia bariátrica; Obesidade; Perda de peso; Hospitais militares; Perfil de saúde.
ABSTRACT
The study aimed to describe the profile of patients who underwent bariatric surgery at a military
hospital in the city of Rio de Janeiro. This is a descriptive cross-sectional study of retrospective data for
the year 2014. This study was approved by the Ethics Committee as Protocol: 1173219 of 08/03/2015.
The sample is of 26 obese patients who underwent bariatric surgery as a resource for weight loss.
The data collection was done through individual electronic medical records of patients (PIN). Among
the data collected preoperatively, we used the gender, age, body weight, height, BMI, date of surgery,
1
Nutricionista. Pós-graduanda em Terapia Nutricional pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Endereço para correspondência: Rua Chá do Pilar,
295 – Guaratiba – RJ – CEP: 23028-360. Telefone: (21) 3795-0335. E-mail: nutriheloisaguerra@yahoo.com.br
2
Biólogo. Pós-Doutorado em Biociências Nucleares pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Encarregado da Divisão de Pesquisa Clínica do Instituto
de Pesquisas Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias e do Laboratório de Biologia Molecular.
3
Estatística. Encarregada da Seção de Bioestatística do Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias.
4
Nutricionista. Encarregada do Serviço de Nutrição da Policlínica Naval Nossa Senhora da Glória. Doutora em Ciências – Instituto de Biofísica Carlos
Chagas Filho. Mestre em Ciências – Fisiologia e Fisiopatologia Clínica e Experimental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pós graduada em
Nutrição Esportiva pela Universidade Estácio de Sá. Pós-graduada em Nutrição Clínica Ortomolecular, Biofuncional e Fitoterapia - NUTMED
physical activity habits, alcohol consumption and com IMC acima de 40kg/m2 a cirurgia independe
cigarette and comorbidities (diabetes mellitus and de doenças associadas. Pacientes com IMC entre
hypertension). They also used the data collected 30kg/m2 e 40kg/m2 a cirurgia poderá ser realizada
on the day of surgery (weight and BMI) and na presença de patologias ou comorbidades classi-
postoperative (weight after 6 months, BMI and ficadas como graves, determinadas por um médico
development of Dumping Syndrome). Statistical especialista na respectiva área da doença, desde
analyzes were performed using the software que comprovada a impossibilidade de tratamento
R.3.2.2, with 5% significance level. It was observed clínico da obesidade por um endocrinologista. Com
that the female population was majority and relação ao tempo da doença, os pacientes candi-
younger men. Diabetes Mellitus affects 19.2% datos ao tratamento cirúrgico devem apresentar
of the study group and 73.1% are hypertensive. IMC e doenças em faixa de risco por pelo menos
Pre BMI and after surgery showed a significant 2 anos.3
decrease. It was seen that 56.5% did not exercise, Em 2014 houve um crescimento de 10% nas re-
71.4% did not drink, and observed the development alizações de cirurgias em comparação ao ano de
of Dumping Syndrome in 14.3% patients. The 2013, totalizando 88 mil procedimentos somente
practice of bariatric surgery has increased, making em 2014. Esses dados colocam o Brasil em segun-
it necessary that health professionals are up to date do lugar no ranking de cirurgias bariátricas no mun-
and prepared to provide patients the best possible do, atrás apenas dos Estados Unidos. Esse núme-
quality of life. ro também é crescente nas cirurgias realizadas
pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com aumento
30 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1): 29-35
Keywords: Bariatric surgery; Obesity; Weight loss; de 45% entre 2010 e 2013, de 4.489 para 6.493.3-4
Military hospitals; Health profile. Após a cirurgia existe a necessidade de mudan-
ças nos hábitos alimentares, sociais e comporta-
INTRODUÇÃO mentais, uma vez que inúmeras complicações po-
A obesidade é uma doença crônica não trans- dem ocorrer em decorrência deste procedimento
missível caracterizada pelo excesso de gordura cirúrgico e do resultado anatômico obtido. Dentre
corporalcausada por fatores genéticos, compor- as principais alterações observadas, destaca-se a
tamentais e ambientais que traz consequências Síndrome Dumping, que ocorre quando o jejuno
sociais e psicológicas graves e afetam todas as enche-se rapidamente com alimento não digerido
idades e grupos sociais. Ela aumenta o risco do no estômago, causando desagradáveis efeitos di-
indivíduo desenvolver doenças como diabetes tipo gestivos. Pode ser desencadeada devido ao con-
2, hipertensão, cardiovasculares, dislipidemias e sumo de carboidratos simples ou carboidratos com
algumas formas de câncer. Essa doença, que tem alto índice glicêmico.5-6
sido considerada pela Organização Mundial de O presente estudo se justifica à medida que
Saúde como um problema de saúde pública mun- podemos observar o crescimento constante do
dial, pode trazer mortes prematuras e condições de sobrepeso, o grande número de indivíduos que
saúde crônicas que diminuem a qualidade de vida.1 apresentam obesidade e o crescimento da cirur-
Segundo dados divulgados em 2015 pelo Ministé- gia bariátrica como solução para este problema.
rio da Saúde, atualmente 52,5% da população bra- O nutricionista exerce papel fundamental nesses
sileira está com sobrepeso e 17,9% dos brasileiros indivíduos nas ações de prevenção dos agravos
apresentam obesidade. causados pela obesidade e sobrepeso, atuando
As primeiras e principais estratégias para o tra- de forma ativa no pré e pós-operatório imediato do
tamento da obesidade são o planejamento dieté- paciente submetido ao procedimento cirúrgico, no
tico, programação de atividades físicas e uso de acompanhamento nutricional do pós-cirúrgico tar-
medicamentos antiobesidade. Outro tratamento dio reduzindo carências nutricionais, melhorando a
oferecido é a cirurgia bariátrica, procedimento in- qualidade de vida daquele que desenvolve algum
vasivo utilizado no mundo todo. Trata-se de um tipo de transtorno gastrointestinal causado pela ci-
processo cirúrgico realizado no trato gastro intes- rurgia, além de promover a perda de peso deste
tinal e é tida como um tratamento eficaz contra a paciente com reeducação alimentar e educação
obesidade grave.2-3 nutricional.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirur- Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é
gia Bariátrica e Metabólica, o tratamento cirúrgico descrever o perfil dos pacientes que realizaram a
é indicado com base no Índice de Massa Corporal cirurgia bariátrica em 2014 no Hospital Naval Mar-
(IMC), idade e tempo da doença. Para pacientes cílio Dias.
MÉTODO cuidado maior com a saúde, procuram por trata-
O estudo foi realizado no Hospital Naval Mar- mentos e acompanhamentos médicos. Ainda as-
cílio Dias, um hospital militar da zona norte do Rio sim, as inúmeras questões culturais da vaidade,
de Janeiro. Todos os procedimentos foram avalia- por vezes, pré-estabelecem padrões de beleza
dos e aprovados pelo Comitê de Ética nem pes- feminina que influenciam essa parcela da popu-
quisa sob número 1.173.219 em 03/08/2015. lação na busca, muitas vezes exagerada, por um
Trata-se de estudo descritivo e transversal, perfil aceitável pela sociedade. O público mascu-
com dados retrospectivos do ano de 2014 obtidos lino parece sofrer menos influência dos padrões
de pacientes encaminhados ao Serviço de Nutri- de beleza estipulados, apresentando uma maior
ção e Dietética (SND), específico para atendimen- aceitação independentemente da condição física.
to a pacientes candidatos a cirurgia bariátrica, pe- Por questões culturais, o homem tem seu perfil
las clínicas de endocrinologia e/ou cirurgia geral mais associado ao poder aquisitivo e ao sucesso
deste hospital. profissional, além disso, a frequência dos homens
Foram coletados dados provenientes dos pron- pela busca por acompanhamento médico é menor
tuários eletrônicos dos pacientes (PIN), sendo uti- quando comparado ao gênero feminino.13
lizado como critério de inclusão os pacientes que Essa tendência de gêneros foi observada por
realizaram a cirurgia bariátrica no período de ja- Nascimento e colaboradores (2013) e Barros e
neiro a dezembro de 2014. colaboradores (2015), que também apontaram o
A amostra excluiu os pacientes que realiza- gênero feminino como predominante na realiza-
ram a cirurgia fora do período determinado (jan- ção desse procedimento, assim como observado
Padrão
sos estudos já demonstraram que a obesidade é 6 A informação não foi registrada para 2 pacientes do sexo feminino
um extremo facilitador para o surgimento de pato- 7 A informação não foi registrada para 1 paciente do sexo masculino
8 A informação não foi registrada para 4 pacientes do sexo masculino
logia dessa natureza.3,11
Tabela 2 - IMC médio (desvio-padrão) dos pacientes por
No mesmo estudo de Germano e colaborado- sexo.
res (2010) realizado em um hospital de João Pes-
soa - PB foi observado que 6,25% dos pacientes A pouca sensibilidade nos resulados dos IMCs
do sexo masculino possuíam a doença e 6,77% do início do tratamento e no dia da cirurgia talvez
dos pacientes do sexo feminino eram diagnostica- possa ser explicado pelo paciente já estar espe-
das com DM tipo 2.11 Foi observado no estudo de rando o procedimento cirúrgico para começar a
Gomes, Rosa e Faria (2009), que 27,8% dos pa- perder peso. Esses pacientes têm toda expecta-
cientes analisados eram diabéticos antes do pro- tiva na cirurgia e provavelmente acreditam que
cedimento cirúrgico.10 O estudo de Oliveira, Pas- se apresentarem uma perda de peso significativa
sos e Marques, (2013) constatou que 26,47% dos antes do procedimento cirúrgico ele pode não rea-
pacientes candidatos à cirurgia bariátrica também lizá-lo e ser retirado da fila. Durante o acompanha-
possuíram esse diagnóstico, o que reforça a as- mento pré cirúrgico, os pacientes são orientados
sociação entre obesidade e DM tipo 2.13 pela equipe que a perda de peso antes da cirurgia
O presente estudo observou que 73,1% dos não é um fator determinante para não realização
pacientes apresentavam HAS. Pacientes do sexo do procedimento, mas que eventualmente, em
feminino têm maior prevalência, com 77,8% dos casos muito específicos isso pode ocorrer.É im-
casos totalizando 14 pacientes. Cinco pacientes portante destacar que a perda de peso antes da
do sexo masculino apresentaram essa comorbi- cirurgia é muito favorável para o paciente porque
dade, representando 62,5% da amostra. Essa pre- melhora suas condições clínicas e atua positiva-
valência não foi observada no estudo de Germano mente no resultado da cirurgia.26
e colaboradores (2010), que mostrou predomínio Os dados obtidos e correlacionados na tabela
dessa comorbidade em pacientes do sexo mascu- acima apresentam o mesmo perfil identificado por
lino, com 22,98%, sendo observado em 20,97% Germano e colaboradores (2010).11 No estudo de
do gênero feminino.11 Oliveira, Passos e Marques Oliveira, Passos e Marques (2013), a média de
identificaram (2013) que 79,41% dos pacientes do IMC entre os pacientes candidatos à cirurgia foi
estudo tinham a doença.13 É evidente o impacto de 48,99kg/m2 nos homens e e 47,76kg/m2 entre
da obesidade nos índices de HAS, justificado pela as mulheres, perfil que também se assemelha ao
hiperinsulinemia apresentada em indivíduos obe- presente estudo, demonstrando que os homens
sos que provoca o aumento das atividades do sis- apresentaram IMC inicial um pouco acima do
tema nervoso simpático e a reabsorção de sódio quando comparado aos pacientes de sexo femi-
que reflete no aumento da pressão arterial.19 nino.13
Quanto a diferença entre o IMC inicial e o IMC vas. Diversos profissionais de saúde citam que a
após 6 meses de procedimento, o estudo do am- desmotivação apresentada pelos pacientes, por
bulatório de Nutrição do Centro Universitário do conta de tentativas frustradas de emagrecimento,
Leste de Minas Gerais identificou que houve uma parece ser um fator determinante para um menor
variação muito grande entre eles, apesar de não comprometimento e perda de peso, além de de-
diferenciar os gêneros em suas análises.10 Aná- positarem somente na cirurgia a esperança des-
lise similar foi realizada em estudo de 2014, ve- sa perda de maneira mais significativa e efetiva.
rificando que a média do IMC pós-operatório foi Dentre os indivíduos avaliados observou-se
8,72kg/m2 menor.15 Boscatto, Duarte e Gomes que apenas 6 pacientes do sexo feminino (40%) e
(2011) identificaram redução similar de IMC, no 4 pacientes do sexo masculino (50%) declararam
qual verificaram a mudança do comportamento realizar atividades física, ou seja, 10 pacientes
para atividade física em obesos mórbidos antes (43,5%) fazem alguma atividade física, enquanto
e depois da cirurgia bariátrica e mostraram que que 13 pacientes (56,5%) não realizam nenhum
o IMC médio dos pacientes no pré-operatório foi tipo de exercício.
de 46,9kg/m2 e no pós-operatório o IMC caiu para A atividade física e o hábito etílico estão muito
32,4kg/m2.20 Em 2012, um estudo similar realiza- associados ao convívio social e comportamento
do em Presidente Prudente - SP e constatou que humano. Indivíduos obesos normalmente se sen-
houve redução bastante significativa do IMC pré e tem desconfortáveis em realizar atividades físicas
pós-operatório.21 Mota (2011) mostrou que a ava- muitas vezes porque não conseguem executá-las
lização do estado nutricional obtida pelo IMC no da forma correta e acabam desistindo, além disso
Dentre os sintomas clínicos, a Síndrome de encarar as dificuldades que o paciente pode apre-
Dumping é um sintoma caracterísco no pós cirúr- sentar no decorrer do tratamento.
gico da técnica de Bypass gástrico em Y de Roux.
Um estudo de 2009 demonstrou que 8 pacientes REFERÊNCIAS
relataram o desenvolvimento dessa Síndrome, 1. Baptista TJR. A obesidade e a indústria do
de um total de 18 indivíduos após o tratamento emagrecimento. Com Ciência. 2013 fev;(145).
cirúrgico.10 O mesmo problema pós-cirúrgico foi 2. Ehrenbrink PP, Pinto EEP, Prando FL.
observado em 2012 por 32% dos pacientes.9 Em Um novo olhar sobre a cirurgia bariátrica
e os transtornos alimentares. Psicol Hosp.
2011, pesquisadores realizaram análises de pro-
2009;7(1):88-105.
blemas pós-cirúrgicos em 69 pacientes, dos quais
3. SBCBM – Sociedade Brasileira de Cirurgia
37,7% apresentaram algum tipo de intolerância
Bariátrica e Metabólica [Internet]. São Paulo:
alimentar. A Síndrome de Dumping representou
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e
19% dessa população.23 O desenvolvimento de
Metabólica; 2015 [acesso em 22 out 2015].
intolerâncias alimentares pós-cirúrgicas foi obser-
Disponível em: http://www.sbcb.org.br/
vado em outros estudos recentes. Na cidade de
4. Blog da Saúde [Internet]. Número de cirurgia
Recife, de 61 pacientes com intolerância alimen-
bariátrica cresce em 2014 no Brasil. Brasília:
tar operados em uma clínica particular, observa-
Ministério da Saúde; c2014 [acesso em 2 set
ram o desenvolvimento de Síndrome de Dumping
2015]. Disponível em: http://www.blog.saude.gov.
em 3 pacientes, entre os primeiros 6 meses de
br/34789-numero-de-cirurgiasbariatricas-cresce-
cirurgia, e 2 pacientes a partir do sétimo mês de em-2014-no-brasil
cirurgia.24 Em 2014, um estudo que acompanhou 5. Fandiño J, Benchimol AK, Coutinho WF,
o pós-cirúrgico de 31 indivíduos observou que a Appolinário JC. Cirurgia bariátrica: aspectos
Síndrome de Dumping afetou um total de 10 des- clínico-cirúrgicos e psiquiátricos. Rev Psiquiatr.
tes pacientes.25 2004;26(1):47-51.
6. Loos AB, Souza AAP, Pitombo CA, Milcent
CONCLUSÃO M, Madureira FAV. Avaliação da síndrome
Esse estudo mostrou que o público feminino é de dumping em pacientes obesos mórbidos
o segmento da população que mais procura a ci- submetidos à operação de bypass gástrico com
rurgia bariátrica para o tratamento da obesidade. reconstrução em Y de Roux. Rev Col Bras Cir.
Esse público também se mostrou mais jovem e 2009;36(5):413-9.
com maior prevalência de HAS quando compa- 7. Nascimento CAD, Bezerra SMMS, Angelim
rado ao sexo masculino. No entanto, são os ho- EMS. Vivência da obesidade e do emagrecimento
mens que apresentam maior incidência de DM. em mulheres submetidas à cirurgia bariátrica.
Estud Psicol. 2013;18(2):193-201. multidisciplinar de tratamento da obesidade grave
8. Barros LM, Moreira RAN, Frota NM, Araújo e em préoperatório de cirurgia bariátrica. Arq Bras
TM, Caetano JA. Qualidade de vida Cir Dig. 2014;27(1):31-4.
entre obesos mórbidos e pacientes submetidos 19. Burgos PFM, Costa W, Bombig MTN,
à cirurgia bariátrica. Rev Eletr Enf [Internet]. 2015 Bianco HT. A obesidade como fator de risco para
abr/jun;17(2): 312-21. Disponível em: <http:// hipertensão. Rev Bras Hipertens. 2014;21(2):68-
dx.doi.org/10.5216/ree.v17i2.27367>. 74.
9. Mota DCL. Comportamento alimentar, 20. Boscatto EC, Duarte MFS, Gomes MA.
ansiedade, depressão e imagem corporal em Estágios de mudança de comportamento e
mulheres submetidas à cirurgia bariátrica barreiras para atividade física em obesos
[dissertação]. 135 f. Mestrado em Ciências - mórbidos.Rev Bras Cineantropom Desempenho
Departamento de Psicologia da Universidade de Hum. 2011;13(5):329-34.
São Paulo. Ribeirão Preto: Universidade de São 21. Portaluppi VA, Portella LM, Garcia JR Jr.
Paulo; 2012. Avaliação dos parâmetros nutricionais
10. Gomes GS, Rosa MA, Faria HRM. Perfil de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.
nutricional de pacientes de pós-operatório de Colloquium Vitae. 2012 jul/dez;4(Espec):54-62.
cirurgia bariátrica. Nutrir Gerais. Rev Digit Nutr. 22. Antonini VDS, Hintze LJ, Silva DF, Hermoso
2009 ago/dez;3(5):462-76. DAM, Carolino IDR, Nardo Jr N. Comportamentos
11. Germano ACPL, Camelo CMBM, Batista associados a manutenção dos resultados após
FM, Carvalho NMA, Liberali R, Coutinho VF. cirurgia bariátrica. Medicina (Ribeirão Preto).
RESUMO
O Azul da Prússia (AP) é uma substância utilizada para o tratamento de pacientes contaminados
por césio ou tálio radioativos. A única forma efetiva de se tratar a contaminação por radioisótipos é au-
ABSTRACT
The Prussian Blue (PA) is a substance used for treatment of patients contaminated with radioactive
cesium or thallium. The only effective way to treat radioisotopes contamination is increasing their rate
of elimination. PA, orally, is capable of binding to 137Cs in gastrointestinal tract, interrupting it´s enterohe-
patic circulation and accelerating its elimination in feces. By having an enterohepatic circulation similar
to the 137Cs, Thallium poisoning may also be treated with this drug. Although understudied, this effect
has been reported since 1960. This study deals with a review of data from the 46 patients treated with
PA during Goiânia radiological incident, as well as additional data from 19 patients and 7 volunteers,
not related to the accident in Goiânia, and still 34 patients poisoned with thallium, demonstrating the
effectiveness and safety of use of this substance as a medicine.
INTRODUÇÃO
O Azul da Prússia (Ferrocianeto Férrico) é uma substância utilizada para o tratamento de pacientes
contaminados por césio e tálio radioativos.
137
Cs e 134Cs são dois radioisótopos de césio que apresentam risco potencial para contaminação
1
Farmacêutica do Laboratório Farmacêutico da Marinha. Doutorado em Biotecnologia Vegetal. Endereço para correspondência: Av. Dom Helder Câmara,
315 – Benfica - Rio de Janeiro – RJ. CEP: 20911-291. E-mail: *halliny@lfm.mar.mil.br
2
Farmacêutico do Laboratório Farmacêutico da Marinha. Pós-gradução em Análises Clínicas.
3
Farmacêutica do Laboratório Farmacêutico da Marinha. Mestrado em Gestão, Pesquisa e Desenvolvimento na Indústria Farmacêutica.
4
Farmacêutica do Laboratório Farmacêutico da Marinha. Doutorado em Química dos Produtos Naturais.
interna. O 134Cs (t1/2 2,1 anos) decai tanto por trato gastrointestinal, amplamente distribuído por
emissão do tipo β quanto do tipo ɣ. O 137Cs (t1/2 30 todo o corpo e pode ser detectado na urina e nas
anos) decai por emissão do tipo β e é o mais co- fezes após uma hora. No entanto, possui uma eli-
mum subproduto da fissão do 133Cs, podendo ser minação muito lenta, o que faz com que o tempo
componente ativo de fontes seladas de radiação de meia-vida biológica seja bastante prolongado.4
em clínicas, laboratórios e indústrias. Além disso, Desde 1960 trabalhos vêm relatando a se-
é um importante radionucleotídeo na terapia on- gurança e a eficácia do tratamento com AP. No
cológica e está presente também em armas nu- evento de Goiânia, foi verificada uma efetiva re-
cleares, nas chamadas “bombas sujas”. A conta- dução da meia-vida do Cs em até 2 vezes. Al-
minação por este isótopo causa diversas injúrias, guns autores demonstram que essa diminuição
sendo de grande interesse da saúde pública.1 pode chegar a 3 vezes. Para o tálio, a redução
A mais importante fonte de dados clínicos so- observada foi de 2/3 da meia-vida. Pode-se con-
bre o tratamento de contaminação por Cs com o siderar que o medicamento é bem tolerado, uma
Azul da Prússia (AP) é o incidente ocorrido em vez que poucos efeitos adversos foram relatados,
Goiânia, em 1987, em que 249 pessoas foram como leve constipação (tratada com dieta rica em
contaminadas, das quais 46 receberam o trata- fibras) e hipocalemia assintomática (tratada com
mento. Os dados deste evento mostram que pa- suplementação de potássio) em pacientes que fi-
cientes que receberam doses de radiação de 1 zeram uso concomitante de diuréticos.1-4
Gy ou mais tiveram um aumento do risco de de-
senvolver insuficiência aguda da medula óssea. CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS
38 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1): 37-45
Foi observado que a taxa de mortalidade aumenta Azul da Prússia, como é popularmente co-
com a dose, uma vez que entre 5 e 6 Gy o dano nhecida a substânica de fórmula molecular
causado na medula óssea foi 100% letal. Nas do- Fe4[Fe(CN)6]3·(14-16)H2O, é um pó de cor azul
ses abaixo de 1Gy, o principal dano causado pela escuro que possui uma estrutura cristalina cúbica
radiação é a indução de câncer, que pode ocorrer de face centrada com os átomos de Fe (II), Fe
alguns anos ou décadas após exposição.2 (III) ocupando os cantos do cubo e os grupos C•N
O Cs pode entrar na circulação sanguínea pe- posicionados nos lados com 14-16 moléculas de
las vias respiratória e/ou gastrointestinal. A ativi- água de cristalização e uma quantidade variável
dade corporal do 137Cs aumenta durante as 4 h de água de superfície (adsorvida). Em meio aquo-
após a ingestão e permanece estável até que se so, esta estrutura cúbica é mantida por causa
iniciem as perdas por secreção e excreção. Ele da forte estabilidade termodinâmica da estrutura
segue a circulação entero-hepática, sendo secre- dimensional. É praticamente insolúvel em água,
tado juntamente com a bile, reabsorvido no intes- ácidos diluídos e na maioria de solventes orgâni-
tino e novamente secretado para o trato gastroin- cos. Quando recém-preparado é solúvel em solu-
testinal. Sua distribuição no corpo ocorre de forma ção aquosa de ácido oxálico. A 250°C, perde toda
semelhante a do potássio, uma vez que eles com- sua água somente com parcial decomposição.5
petem pelos mesmos transportadores de membra- Na unidade cúbica, nem todas as posições
na celular. Sua retenção no organismo pode ser atômicas ficam ocupadas, o que gera “buracos”
descrita como a soma de duas funções exponen- na estrutura cristalina, que podem ficar vagos ou
ciais, sendo o primeiro componente corresponden- preenchidos com água de cristalização.5 Alguns
te a 20% do total corporal, com meia-vida biológica autores acreditam que essas posições atômicas
de um dia (componente rápido), e o restante com podem estar relacionadas ao mecanismo de cap-
meia-vida de 40 a 140 dias ou mais. É finalmente tação de césio e tálio pelo medicamento. Estudos
excretado nas fezes ou na urina. Por ser facilmen- indicam que esta captação é uma combinação de
te absorvido por diferentes rotas e por apresentar troca iônica química e adsorção física. A troca iô-
meia-vida física de 30 anos, o 137Cs representa nica ocorreria com o íon hidrônio pelas moléculas
um alto impacto sobre a saúde humana.3 de água do cristal, o que é evidenciado pela redu-
Assim como para o césio, o tratamento de en- ção do pH quando a troca ocorre. A diminuição de
venenamento por tálio é feito por meio do aumen- pH não ocorre somente pela troca iônica do césio,
to da sua taxa de eliminação do corpo. Este metal é considerada também a absorção nos “buracos”
pesado era usado originalmente como agente de- da estrutura cristalina, onde o césio é mantido ele-
pilatório, porém, sua aplicação como rodenticida trostaticamente ou mecanicamente.6
é que tem sido associada à intoxicação, acidental Segundo estudos de estabilidade convencio-
ou intencional. Ele é rapidamente absorvido no nais (12 meses) realizados pela empresa deten-
tora do registro do medicamento referência (Ra- a tálio e avaliar o efeito das condições de pH fi-
diogardase® - AP 500 mg), o mesmo é estável à siológico, tamanho das partículas e condições de
temperatura ambiente e parece ser estável para armazenamento sobre essa capacidade. Concluí-
5 anos de armazenamento. Testes iniciados após ram que a mesma é dependente do pH, reduzindo
12 e 16 anos de armazenamento mostraram que em pH mais baixo, é influenciada pelo estado de
a capacidade de ligação a césio e tálio foi man- hidratação do AP, de forma que a perda da umida-
tida, o que pode ser considerado como um indi- de reduz a capacidade e a velocidade de ligação
cador de longa estabilidade térmica. A empresa ao tálio, e ainda pode ser aumentada quando uti-
também observou, a partir de lotes fabricados em lizadas partículas menores do ativo.9
1987 e 2002, que em pH baixo ou alto pode ocor- Ainda no tocante à estabilidade a longo prazo,
rer dissociação de cianeto (CN). Valores altos de o IFA e o produto acabado de AP 500 mg foram
dissociação do CN em baixo pH tem gerado pre- monitorados para a perda do conteúdo de água
ocupação, em função do risco para os pacientes e a ligação in vitro a césio, após 10 anos de ar-
que apresentam distúrbios associados a estados mazenamento. As mesmas amostras foram tes-
hipersecretores, que podem ter níveis extrema- tadas em 2003 e em 2013. Os resultados mos-
mente baixos de pH gástricos por períodos de traram uma redução do teor de água de ambos
tempo prolongados. Laboratórios certificados pelo (IFA e produto acabado), em média, em cerca de
FDA (Food and Drug Administration) realizaram 12-24%, após o período de armazenamento. Com
uma série de experimentos para determinar o CN isso, a capacidade máxima de ligação a césio foi
livre em amostras de cinco lotes do insumo farma- diminuída, comparando as leituras de 2003 e de
via oral, cerca de 99% da dose é excretada nas vivo para césio, resultando em um bloqueio quase
fezes, podendo ter quantidades mínimas de fer- completo de absorção gastrointestinal, tal como
ro e de íons CN absorvidos. No entanto, é impro- avaliado pela excreção urinária de corpo inteiro,
vável que essa absorção seja aumentada após a dias após a aplicação. Resultados similares foram
administração repetida do medicamento, já que obtidos no estudo com porcos. O estudo concluiu
para que os íons CN sejam absorvidos, o AP deve que os três compostos testados são potentes an-
estar dissolvido e em um ambiente fortemente tídotos para inibir a absorção de 134Cs.15
ácido, e estas condições não são passíveis de se- Em relação ao efeito do AP na contaminação
rem encontradas. Também é importante ressaltar por tálio, foi realizado um experimento com ratos
que não foram encontrados relatos de toxicidade machos que receberam 204Tl livre e foram tratados
relacionada ao CN em qualquer um dos estudos com AP administrado por tubo gástrico. O estu-
clínicos ou animais analisados.4 do concluiu que o AP diminui significativamente a
Em um estudo que avaliou a eficácia do ferro- retenção do 204Tl por inibição de sua absorção e
cianeto férrico sobre a absorção enteral e sobre reabsorção no trato gastrointestinal. O resultado
a eliminação de 137Cs, foi observado que, mesmo observado foi dose-dependente e o efeito máxi-
quando o tratamento foi iniciado após 60 minu- mo obtido quando administrado simultaneamente
tos da administração do 137Cs, a primeira foi sig- com 204Tl, porém a redução também foi considerá-
nificantemente reduzida, enquanto a segunda foi vel com AP administrado 60 minutos depois. É im-
efetivamente acelerada. Esse dado é de bastante portante destacar que o AP oralmente administra-
relevância quando se avalia que, num contexto do foi efetivo contra 204Tl dado intravenosamente,
de acidente radiológico, o acesso ao tratamento o que corrobora com a literatura que sugere que
pode ser tardio, como ocorrido em Goiânia.12 o medicamento pode interromper a recirculação
O mesmo autor descreveu que, ao se admi- enteral de tálio.16
nistrar 137Cs livre (2 µCi; pH 2,5) por via oral ou
injeção intraperitoneal a ratos albinos de ambos ASPECTOS TOXICOLÓGICOS
os sexos e tratá-los com AP em diferentes inter- Para a avaliação da toxidez do AP, foi utilizado
valos de tempo, a eficácia permanece constante, um protocolo de estudo com grupos de ratos, sen-
independente do momento em que o tratamento do 10 machos e 10 fêmeas. Esses animais foram
é iniciado, sendo esta proporcional à duração do alimentados por 90 dias com refeições contendo
tratamento e à quantidade total de medicamento 0; 0,05; 0,5 e 5% de ferrocianeto sódico, o que
administrada. Foi ainda observado que o AP tam- equivale a 25, 250, 2500 mg/kg/dia. Foi observa-
bém foi efetivo mesmo quando o tratamento foi do que o consumo foi normal, mas a eficiência na
retardado por 6 dias após a ingestão de 137Cs.13 utilização da alimentação (ganho de peso/alimen-
Ioannides e cols. (1991) verificaram a influên- tação consumida) foi prejudicada no nível de 5%
em ambos os sexos, apresentando um ganho de do tratamento de pacientes com contaminação
peso reduzido significantemente, em comparação por 137Cs, de voluntários normais que ingeriram
aos outros grupos. Ao final do experimento, os ra- traços 137Cs e de pacientes com envenenamento
tos machos e fêmeas do grupo de 5% tiveram va- por tálio. Os dados pré-clínicos evidenciam resul-
lores de hemoglobina e hematócrito diminuídos, tados obtidos em experimentos utilizando ratos,
enquanto os demais apresentaram resultados cães e animais de fazenda.
normais.17 O acidente radiológico de Goiânia se deu em
Mudanças histopatológicas significativas foram 1987, quando uma fonte selada de 137Cs erronea-
encontradas somente nos rins. Ambos os sexos mente abandonada foi removida por catadores e
do grupo de 5% apresentaram um aumento desse vendida como sucata a um ferro velho. A cápsula
órgão, o que também foi evidenciado nas fêmeas selada foi violada e o pó de cloreto de césio, que
no nível de 0,5%. Viu-se ainda cor anormal na pele, brilhava no escuro, foi distribuído para amigos e
acúmulo de urina por causa de uma obstrução na parentes. Foram contaminadas 249 pessoas an-
uretra e depósitos cristalinos, especialmente na tes que as autoridades tomassem conhecimento
concentração de 5%. Além disso, este grupo exi- da situação. Dessas, 46 estavam com os valores
biu depósitos calcificados no epitélio pélvico renal mais altos de contaminação interna e foram tra-
e a mucosa apresentou áreas de metaplasia es- tados com AP. Os indivíduos receberam doses
camosa. De acordo com o estudo, as mudanças de radiação de até 7 Gy. O método de dosagem
observadas podem ser secundárias ao acúmulo utilizado para estimar a radiação absorvida foi a
de depósitos cristalinos identificados como uratos dosimetria in vivo, que analisa aberrações cro-
em cada paciente, o que contribui para a diminui- Aquality assessment of water content and cesium
ção da dose de radiação absorvida pelo corpo e, binding. Pharm Biom Anal. 2015 Nov;103:85-90.
consequentemente, reduz o risco de supressão 11. Mohammad A, Faustino PJ, Khan MA,Yang
da medula óssea e de desenvolvimento de cân- Y. Long-term stability study of Prussianblue – A
cer. Ainda, os dados clínicos também suportam a quality assessment of water content and thallium
conclusão de que o AP é seguro e eficaz no tra- binding. Int J Pharm. 2014 Oct;477:122-7.
tamento de envenenamento por tálio, tendo sido 12. Nigrovic V. Enhancement of the excretion of
relatada uma redução da meia-vida sérica do tálio radio cesium in rats by the ferric cyanoferrate (II).
de 8 para 3 dias, sem qualquer complicação em Int Rad Biol. 1993 Apr;7:307-9.
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RESUMO
O vírus Zika, é um arbovírus, membro da família dos flavivírus. Em fevereiro de 2016, a Organiza-
ção Mundial de Saúde declarou o vírus uma emergência de saúde pública devido ao grande aumento
de casos de microcefalia e outras manifestações neurológicas associadas à infecção pelo vírus. A
transmissão por mosquitos é a rota mais comum de infecção. Várias espécies de mosquitos do gênero
Aedes podem transmitir o vírus Zika, sendo o Aedes aegypti o vetor mais importante para os humanos.
46 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1): 46-56
A infecção pelo vírus Zika é diagnosticada clinicamente e com teste laboratorial de confirmação pos-
terior. Como infecções por Dengue e vírus Chikungunya têm sintomas e distribuição geográfica seme-
lhantes, os pacientes com suspeita de infecção pelo vírus Zika também devem ser avaliados para es-
tas infecções. Testes disponíveis em soro incluem RT-PCR e pesquisa de anticorpos IgM específicos
contra vírus. A maioria das infecções são brandas e autolimitadas e não há nenhum tratamento antiviral
específico disponível. O tratamento indicado é o gerenciamento dos sintomas da doença. Apesar do
grande número de artigos publicados nos últimos meses, pouco se sabe sobre a doença, incluindo a
biologia viral e as suas possíveis complicações. Atualmente, o que temos para controlar os surtos são
modificações comportamentais. Na ausência de antivirais e de vacinas para combatê-lo, o controle dos
vetores é uma estratégia prática para limitar novas infecções.
ABSTRACT
The Zika virus is an arbovirus, a member of a flavivirus family. In February 2016, the World Health
Organization declared the virus as a public health emergency due to the large increase in cases of
microcephaly and other neurological manifestations related to the infection. The most common route of
infection is the transmission by mosquitoes. Several species of genus Aedes mosquitoes can transmit
the Zika virus nevertheless Aedes aegyptiis the most important vector for humans.The infection by Zika
virus is diagnosed clinically and with laboratory confirmation testing further. Patients with suspected
infection by Zika virus should also be evaluated for Dengue and Chikungunya viruses because they
have similar symptoms and geographical distribution. Available tests, include RT-PCR and detection of
specific IgM antibodies against viruses. There is no specific antiviral treatment available. Most infections
are mild and self-limited and the treatment is management of symptoms. Little is known about the disease
despite the large number of articles published in recent months,including the viral biology and its possible
complications.Currently, we have to control the outbreaks are behavioral changes. In the absence of
1
Bióloga. Doutorado em Química Biológica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ajudante da divisão de pesquisas do Instituto de Pesquisa
Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias.
2
Bióloga. Doutorado em Neurociências pela Universidade Federal Fluminense. Ajudante da divisão de pesquisas do Instituto de Pesquisa Biomédicas do
Hospital Naval Marcílio Dias.
3
Estatística. Especialização em Epidemiologia e Vigilâncias em Saúde pela AVM Faculdade Integrada. Encarregada da Seção de Bioestatística do Instituto
de Pesquisa Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias.
4
Médico com pós-graduação em coloproctologia pela PUCRJ, HNMD e em Gestão de Saúde pelo Instituto COPPEAD de Administração, Encarregado do
Instituto de Pesquisas Biomédicas do HNMD
antivirals and vaccines to combat it, the vector missão autóctone deste vírus no Brasil.7
control is a practical strategy to limit new infections. O primeiro caso bem documentado de trans-
missão do ZIKV fora da Ásia e da África ocorreu
Keywords: Zika virus; Microcephaly; Guillain- nas Ilhas Yap nos Estados Federados da Micro-
Barré syndrome. nésia, em 2007. Estima-se que 70% da população
do arquipélago foi infectado com o vírus durante
INTRODUÇÃO um período de 13 semanas.8 Outro grande surto
O vírus Zika (ZIKV) é um arbovírus (vírus foi relatado na Polinésia Francesa, em 2013, des-
transmitido por mosquitos) de RNA fita simples. sa vez com associação à síndrome de Guillain-
Ele é um membro da família dos flavivírus, com- -Barré (GBS). No Hemisfério Ocidental, a primei-
posta por mais de 70 vírus, incluindo alguns bem ra detecção do vírus ocorreu em 2014 na Ilha de
conhecidos por causar doenças nos seres huma- Páscoa no Chile.9
nos, tais como os vírus da Dengue, Febre Amare- O ZIKV foi detectado em nosso país em maio
la, encefalite japonesa e vírus do Nilo Ocidental.1 de 2015, a partir do isolamento viral em casos
Em 01 de fevereiro de 2016, a Organização suspeitos de Dengue. Desde então, o vírus foi
Mundial de Saúde (OMS) declarou o ZIKV uma detectado em uma taxa crescente em vários paí-
emergência de saúde pública de interesse inter- ses da América do Sul e Central e no Caribe. Em
nacional devido ao grande aumento de casos de setembro do mesmo ano, relatos de aumento do
microcefalia e outras manifestações neurológicas número de crianças nascidas com microcefalia
associadas à infecção.2 em áreas afetadas pelo vírus começaram a surgir,
HISTÓRICO TRANSMISSÃO
O ZIKV foi isolado pela primeira vez na floresta A transmissão por mosquitos é a rota mais co-
de Zika, na Uganda, a partir de uma amostra de mum de infecção com o ZIKV. Várias espécies de
soro de um macaco Rhesusque servia de animal mosquitos do gênero Aedes podem transmití-lo,
sentinela para o estudo de vigilância da Febre sendo o Aedes aegypti o vetor mais importan-
Amarela.5 te para os humanos atualmente.12 O mosquito
Após análise filogenética do genoma viral, per- Aedes é bem estabelecido em todas as Américas,
cebeu-se que provavelmente o vírus surgiu em exceto para o Canadá e Chile e, portanto, todas
Uganda em torno de 1920, e após duas fases estas áreas estão potencialmente em risco.13
de migração para o Oeste Africano deu início às O Aedes albopictus tem despertado preocupa-
duas linhagens africanas. De Uganda, o vírus te- ção por apresentar maior dispersão territorial que
ria migrado no ano de 1940 para a Ásia originan- o Aedes aegypti e notável adaptação a climas
do a linhagem asiática, com surtos registrados na mais frios.14
Indonésia e na Micronésia.6 A linhagem asiática A transmissão vertical (perinatal e transplacen-
também foi a responsável pelos casos de trans- tária) já foi documentada.15 Embora o vírus esteja
presente no leite materno, não existem relatos de vírus da Dengue, morte e complicações hemorrá-
casos de transmissão através da amamentação.16 gicas são raramente descritas.23
A via sexual também foi relatada. Partículas re- Informações acerca das alterações hemato-
plicativas do ZIKV foram identificadas no sémen lógicas e bioquímicas na doença pelo ZIKV são
de um paciente, na Polinésia Francesa, que apre- escassas e conflitantes na literatura. Em alguns
sentava hematospermia. Anteriormente, houve relatos de casos são descritos aumento da desi-
relato de transmissão sexual para a cônjuge de drogenase lática e da proteína C reativa. Pode ha-
um homem norte-americano que havia retornado ver leucopenia e trombocitopenia discretas.24
do Senegal.3,17 Nos casos do surto brasileiro as manifestações
Vários arbovírus são transmitidos através do mais comuns são artralgia e erupção cutânea. A
sangue. O Brasil relatou dois casos de infecção erupção maculopapular estava presente em todos
pelo ZIKV por transfusão de sangue.18 Na Poliné- os pacientes e a artralgia é caracterizada como
sia Francesa, RNA do vírus estava presente em grave, sendo mais comum nas mãos, tornozelos,
3% dos doadores de sangue.19 cotovelos, joelhos e punhos. Os relatos de febre
chegam a 39oC.7 São relatadas também mialgia,
A DOENÇA dores articulares e lombalgia discreta.5
A replicação viral ocorre em células dendríti- Não se conhecem casos de reinfeções pelo
cas no local da inoculação com posterior disse- ZIKV, logo acredita-se que a infeccção gere imu-
minação para os gânglios linfáticos e na corrente nidade permanente.25
sanguínea. O período de incubação varia de 2 a
48 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1): 46-56
O Instituto Butantan está desenvolvendo três ti- última década resultaram numa notável disse-
pos de vacina contra o ZIKV: uma vacina à base de minação da Ásia e do Oceano Pacífico para as
DNA, outra vacina com vírus inativado (semelhan- Américas.65 O vírus tem se espalhado rapidamen-
te à vacina da Dengue), e uma vacina híbrida que te, sendo relacionado a problemas no desenvolvi-
tem como base a vacina de Sarampo. Um grupo mento nervoso fetal.
na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) A ocorrência do ZIKV em áreas onde já se ob-
está estudando a inativação do vírus por alta pres- serva a transmissão de outros flavivírus, como os
são hidrostática e sua resposta imunogênica, ten- diferentes sorotipos dos vírus da Dengue, traz a
do bons resultados em camundongos. Nos EUA, o possibilidade de aumento da mortalidade por di-
Food and Drug Administration aprovou a pesquisa ficuldades no diagnóstico diferencial e também
clínica de vacinas chamada GLS-5700, da Inovio®, pela indisponibilidade de kits diagnósticos comer-
que gerou robusta resposta de anticorpos em ca- ciais.65
mundongos e macacos.59 Até pouco tempo a doença era pouco conheci-
A mesma urgência é vista na busca por antivi- da e pouco estudada. Apesar do grande número
rais capazes de reter a replicação e os danos as- de artigos publicados nos últimos meses, ainda
sociados aos vírus. A principal abordagem interna- sabemos pouco sobre a biologia viral e suas pos-
cional tem sido a pesquisa em torno de antivirais já síveis complicações. A informação sobre o vírus
aprovados para uso em outros flavívirus.60 deve vir de fontes especializadas, uma vez que
A principal preocupação dos cientistas é a bus- existe um grande número de pessoas da ciência
ca por medicamentos que possam ser usados em e leigas publicando informações sobre o vírus e
mulheres grávidas. O teste de novos medicamen- a doença. O mesmo cuidado deve-se ter ao ana-
tos é demorado e levaria muito tempo de pesquisa lisarmos os números relacionados ao ZIKV e os
e aprovação pelos órgãos mundiais de regulamen- problemas neurológicos ligados a ele.
tação. Atualmente, o que temos para controlar os sur-
Pesquisadores da UFRJ e do Instituto D’Or de tos de ZIKV são modificações comportamentais.
Pesquisa e Ensino obtiveram sucesso em testes, Na ausência de antivirais e de vacinas para com-
in vitro, com uma tradicional droga antimalárica, batê-lo, o controle dos vetores é uma estratégia
a cloroquina. Os estudos mostraram que a droga prática para limitar novas infecções. A abordagem
protegeu as neurosferas, estruturas celulares que principal inclui a remoção de água parada, o uso
reproduzem o cérebro em formação, sem efeitos de inseticidas e larvicidas, o uso de roupas lon-
citotóxicos.61 Outro grupo de pesquisadores da gas, mosquiteiro e repelentes. Tais ajustes sociais
Fundação Oswaldo Cruz conseguiram bons re- são a saída para proteger a população contra a
sultados com o sofosbuvir, droga tradicionalmente doença causada pelo ZIKV e outras doenças
utilizada em indivíduos com Hepatite C crônica.62 transmitidas por mosquitos.
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Recebido em 15/08/2016
Aceito para publicação em 16/09/2016
RESUMO
A qualidade da assistência à saúde resulta em um importante impacto nos sistemas de saúde, o que
torna a Segurança do Paciente uma questão de relevância e discussão na área de Saúde Pública. O
ABSTRACT
The quality of health care has a significant impact on Health Systems, which makes the Patient
Safety an issue of relevance and discussion in the field of Public Health. This paper is an experience
report that aimed to describe the process of implementation of the Center for Patient Safety (CPS)
at the Marcílio Dias Navy Hospital (HNMD), occurred in 2014, and its development to the present
day. This report was compiled from bibliographic/documentary research and professional experience
of the authors during the process. The results showed that the CPS of HNMD has been acting in line
with the objectives of the National Patient Safety Policy and the National Health Surveillance Agency
(Anvisa) Board Resolution RDC No. 36/2013 and has developed different strategies to promote the
improvement in the quality of healthcare provision. It is understood that the work performed by this new
service proposed by the legislation in question confirms the need for investment in a risk management
focused on the assistance, which can be considered a challenge, given the complexity of the care
provided by a large hospital.
1
Bióloga. Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz). Ajudante da Divisão de Pesquisa do Instituto de Pesquisas
Biomédicas (IPB) do Hospital Naval Marcílio Dias. Endereço para correspondência: Hospital Naval Marcílio Dias - Instituto de Pesquisas Biomédicas.
Rua César Zama, 185 – Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20725-090. E-mail: apereira.ioc@gmail.com – Telefone: (21) 2599-5452
2
Farmacêutica. Especialista em Qualidade e Segurança do Paciente pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Membro do Núcleo
de Segurança do Paciente do Hospital Naval Marcílio Dias.
3
Enfermeira. Especialista em Qualidade e Segurança do Paciente pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Assessora do Núcleo
de Segurança do Paciente do Hospital Naval Marcílio Dias.
Keywords: Patient safety; Risk management; cialmente no contexto atual, onde é caracterizada
Public health; Health care. pela maior complexidade do cuidado associado à
incorporação tecnológica, pelo aumento na carga
INTRODUÇÃO de trabalho dos profissionais de saúde e pelo en-
Conceitualmente, a expressão segurança do velhecimento da população que vem acarretando
paciente significa “redução, a um mínimo aceitá- no aumento de Doenças Crônicas Não Transmis-
vel, do risco de um dano desnecessário associa- síveis.2,8
do à atenção à saúde”1 e é difundido como um De acordo com Caldas, Sousa & Mendes
dos atributos da qualidade do cuidado em saúde.2 (2014),9 investigar este tema é relevante, pois
Este assunto passou a ser percebido, em con- possibilita a produção de conhecimento e a dis-
texto global, como um grave problema de saúde seminação da informação, dá suporte às tomadas
pública, principalmente a partir da publicação do de decisão, promove práticas baseadas em evi-
Relatório Errar é Humano em 1999. Os resultados dências e permite monitorar e avaliar o impacto
deste estudo revelaram uma estimativa de que 44 das medidas que visam aumentar a segurança do
mil a 98 mil americanos morriam anualmente em paciente. Tais benefícios resultam em oportuni-
decorrência de erros associados aos cuidados dade de mudança na prática de cuidados, o que
em saúde.3 Segundo Wachter (2013),4 a partir daí propicia serviços mais seguros e aprimora a qua-
surgiram outras investigações que mostraram um lidade e o desempenho da assistência em saúde.
número considerável de erros de medicação, pro- No Brasil, a Agência de Vigilância Sanitária
blemas de comunicação em unidades de terapia (Anvisa) incorporou em seu escopo de atuação,
58 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1): 57-64
intensiva (UTI), lacunas no processo de alta hos- as ações previstas na Aliança Mundial para a Se-
pitalar e gazes esquecidas em pacientes durante gurança do Paciente, criada pela OMS em 2004,
procedimentos cirúrgicos, entre outras diversas com o intuito de dedicar atenção ao problema da
falhas. segurança do paciente e com a missão de coor-
Atualmente, a Organização Mundial de Saúde denar, disseminar e estimular melhorias para a
(OMS) afirma que 1 a cada 10 pacientes são pre- segurança do paciente.10
judicados durante a prestação de cuidados hospi- Esta Aliança estabeleceu metas internacionais
talares em países desenvolvidos e que cerca de de segurança do paciente, com o objetivo de pro-
20% a 40% de todos os gastos em saúde é des- mover avanços específicos em situações da as-
perdiçado devido à má qualidade dos cuidados sistência à saúde consideradas de maior risco.
prestados.5 Tais metas são: identificar corretamente os pa-
Na Bélgica, Marquet e cols. (2015)6 identifica- cientes, melhorar a efetividade da comunicação
ram eventos adversos (EAs)i em 56% dos prontu- entre profissionais da assistência, melhorar a se-
ários examinados de transferências de pacientes gurança de medicações de alta vigilância – high
não planejadas para um nível de atenção mais -alert medications, assegurar cirurgias com local
elevado e verificaram que 25,9% de todas estas de intervenção correto, procedimento correto e
transferências estiveram associadas a EAs alta- paciente correto, reduzir o risco de infecções as-
mente evitáveis. sociadas aos cuidados de saúde e reduzir o risco
Em 2011, um estudo envolvendo 58 hospitais de lesões aos pacientes decorrentes de quedas e
de cinco países latino-americanos observou um lesões por pressão.10
total de 11.379 pacientes internados. Dentre es- Neste contexto, como forma de avançar rumo
tes, 1.191 apresentaram, no mínimo, um EA rela- a implantação de protocolos que contemplassem
cionado à qualidade do cuidado recebido e não a estas metas, o Ministério da Saúde (MS) insti-
condições subjacentes. A prevalência pontual es- tuiu a Portaria MS n°529 de 2013, oficializando
timada foi de 10,5%. Mais de 28% dos EAs cau- o Programa Nacional de Segurança do Paciente
saram incapacidade e outros 6% estiveram asso- (PNSP), cujo objetivo geral foi “contribuir para a
ciados à morte do paciente. Quase 60% dos EAs qualificação do cuidado em saúde em todos os
foram considerados evitáveis.7 estabelecimentos de saúde do território nacional”.
Neste sentido, a discussão no campo da se- Este programa visa à prevenção, o monitoramen-
gurança do paciente ganha notoriedade, espe- to e à redução a incidência de EAs nos atendi-
i
Segundo a Classificação Internacional de Segurança do Paciente da Organização Mundial da Saúde, evento adverso é um incidente que resulta em dano
ao paciente.1
mentos prestados, promovendo a segurança do riódicos Capes, PubMed, Bireme; normas, regu-
paciente e qualidade em serviços de saúde do lamento nacionais e internacionais e documentos
país.11-12 de diversas instituições relacionadas ao tema pro-
O PNSP apresenta quatro eixos: o estímulo a posto. Os descritores pesquisados foram: segu-
uma prática assistencial segura, o envolvimento rança do paciente, gestão de risco, qualidade na
do cidadão na sua segurança, a inclusão do tema assistência à saúde. Além disso, foram analisados
no ensino e o incremento de pesquisa sobre o documentos como ordens internas e relatórios do
tema. Cabe ressaltar que um dos seus principais NSP do HNMD. Porém a maioria das informações
objetivos específicos é promover e apoiar a imple- aqui apresentadas é fruto da vivência profissional
mentação de Núcleos de Segurança do Paciente das autoras no respectivo Hospital.
(NSPs) nos serviços de saúde.11-12 O universo de estudo apresentando é o HNMD.
Em consonância com o PNSP, a Anvisa publi- Este hospital situa-se no Município do Rio de Ja-
cou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) neiro e é um hospital geral de grande porte per-
n°36, tornando a constituição do NSP nos servi- tencente ao Sistema de Saúde da Marinha (SSM),
ços de saúde uma obrigatoriedade.13 voltado para a assistência em saúde nos níveis de
Conforme esta RDC, a função dos NSPs é a alta e média complexidade, que atua nas áreas de
integração das diferentes instâncias que traba- Assistência em Saúde, Ensino em Saúde e Pes-
lham com riscos na instituição, considerando o quisa Biomédica. Seus usuários são os militares
paciente como sujeito e objeto final do cuidado da Marinha do Brasil (MB) e seus dependentes.
em saúde. Os núcleos devem adotar os seguintes Conforme informações contidas no site da pá-
ii
Dados visualizados no site oficial do Hospital Naval Marcílio Dias no dia 28 de abril de 2016.
iii
Segundo a Anvisa, a Rede Sentinela é “uma estratégia da Vigilância Sanitária Pós-Uso/Pós-Comercialização de Produtos (Vigipós), que visa à prevenção
de riscos associados ao consumo de produtos sujeitos à vigilância sanitária. A rede funciona como observatório nos serviços para o gerenciamento de riscos
à saúde, e atua em conjunto com o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária”.14
iv
A Anvisa conceitua queixa técnica como “qualquer notificação de suspeita de alteração/irregularidade de um produto/empresa relacionada a aspectos
técnicos ou legais, e que poderá ou não causar dano à saúde individual e coletiva”.14
2010, foram realizados investimentos relaciona- Além disso, apontam-se os esforços envidados
dos aos aspectos assistenciais, principalmente, para a dispensação por dose unitária que podem
nas áreas referentes à humanização da assistên- ser elucidados a partir da elaboração do projeto
cia, estimulados pela Política de Humanização do de reforma da Farmácia Hospitalar, cuja obra foi
Serviço de Saúde da Marinha (SSM).15 Neste es- concluída no final de 2015. Este investimento per-
copo, Campos & Bartolly relataram o estabeleci- mitiu reestruturar o setor conforme legislação em
mento de um serviço de acolhimento ao paciente vigor, que atualmente conta com áreas limpas e
com base na classificação de risco no Serviço de capelas de fluxo laminar, possibilitando a melho-
Emergência.16 ria dos processos de preparo de medicamentos
No ano seguinte, o Departamento de Enferma- injetáveis e manipulação de quimioterápicos, bem
gem foi incumbido de capitanear atividades como como dos procedimentos de fracionamento de
o Projeto Escara Zero (PEZ), com a aplicação medicamentos sólidos e líquidos orais, realizados
de um protocolo sistematizado de ações para a no HNMD desde 2009.
prevenção e acompanhamento das taxas de in- Outro relevante avanço foram as mudanças
cidência e prevalência das lesões por pressão. ocorridas no Sistema Farmacêutico (SISFARMA),
Outra estratégia adotada, neste mesmo ano, foi a sistema eletrônico que gerencia os medicamentos
implantação do protocolo para prevenção de que- dos pacientes internados no HNMD, que permite
das do leito. Esse protocolo consistia na avaliação o controle adequado e redução nos intervalos da
dos pacientes admitidos, conforme seu respectivo dispensação de entrega única de medicamentos.
perfil de risco de queda. A partir desta classifica- Cabe sinalizar também as rotinas adotadas
60 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1): 57-64
ção eram traçadas estratégias de cuidados espe- pelo Departamento de Farmácia visando a obten-
cíficos a serem adotadas pelos profissionais de ção de melhores resultados e mitigação de riscos.
Enfermagem. Além disso, prospectos explicativos Há um protocolo de dupla checagem após a dis-
sobre este tema foram elaborados e distribuídos pensação dos medicamentos, onde um profissio-
para os pacientes e/ou acompanhantes visando à nal confere as unidades farmacêuticas separa-
prevenção de quedas. das para cada paciente, verificando a respectiva
No que tange o Departamento de Farmácia, prescrição médica. Esta estratégia possibilita a
em 2012, iniciou-se uma reestruturação organiza- detecção de eventuais falhas na dispensação e
cional que gerou a redistribuição de tarefas e o na prescrição médicav, permitindo que estas se-
redimensionamento de pessoal dos serviços su- jam corrigidas antes do envio para os postos de
bordinados a fim de aprimorar seus respectivos Enfermagem.
processos. Ressalta-se que a atividade da revi- No âmbito da Farmacovigilância, cabe ressaltar
são farmacêutica das prescrições médicas, antes que além do lançamento das suspeitas de desvio
realizada apenas pelo farmacêutico plantonista, da qualidade de medicamentos no NOTIVISA e
passou a ser atribuição do Serviço de Farmácia da resposta às demandas da Anvisa feitas à Rede
Clínica (SFC). Sentinela, em 2012, iniciou-se uma busca ativa de
Cabe destacar que desde janeiro de 2016, foi reações adversas a medicamentos (RAM). Con-
reforçada a parceria entre o SFC e o Serviço de forme a metodologia trigger tools (medicamentos
Controle de Infecções Hospitalares (SCIH), pelo rastreadores) é realizada revisão de prontuários
Programa de Gerenciamento de Antibióticos no dos pacientes que fizeram uso de antialérgicos,
HNMD. Na ocasião foi criada uma rotina de ava- corticóides e antídotos em algum momento da in-
liação diária da prescrição dos antimicrobianos ternação, a fim de verificar se tais medicamentos
indicados por este Serviço, com verificação da foram prescritos para controlar alguma RAM que
adequação do regime proposto ao preconizado não foi notificada pela equipe ao setor responsá-
na literatura e necessidade do ajuste de dose dos vel pela Farmacovigilância.18-19
antimicrobianos, com base na função renal e/ou Desta forma, entende-se que a busca pela
peso do paciente, entre outros fatores. Desta for- qualidade na dispensação de medicamentos, a
ma, quando alguma não-conformidade é detecta- atuação clínica do farmacêutico e as ações de far-
da, o SFC entra um contato com o prescritor e, macovigilância citadas acima, entre outros impor-
quando necessário, com o SCIH. tantes investimentos, vêm de encontro com uma
v
Exemplificam-se como falhas de dispensação as trocas de forma farmacêutica (comprimido versus ampolas), o envio de quantidade errada de itens para os
profissionais que farão administração dos medicamentos e como falhas de prescrição médica as prescrições de doses incorretas e as posologias solicitadas
de forma inadequada.
política assistencial voltada à segurança como sentantes dos Departamentos de Medicina Clíni-
eixo fundamental para a qualidade.9,12-13,16 ca, Cirurgia, Enfermagem, Farmácia, Engenharia,
Quanto ao Serviço de Hemoterapia, foram efe- Hemoterapia, da CCIH e um Oficial da Escola de
tivados investimentos na capacitação dos profis- Saúde, como forma de se estabelecer um elo en-
sionais que atuam nos processos de transfusão tre a assistência e atividades de ensino.
de sangue e hemocomponentes no intuito de esti- O NSP adota os seguintes indicadores para
mular o aumento da segurança e da vigilância na avaliação de desempenho de suas atividades:
assistência transfusional. Estas atividades possi- avaliação do grau de implantação de protocolos
bilitaram a atualização de conhecimentos teóricos estabelecidos pelo PSP, número de treinamentos
e práticos destes colaboradores, já que promove- aplicados pelo NSP à tripulação do HNMD refe-
ram o acesso a recursos e tecnologias modernas rentes à cultura de segurança e o número de reu-
também utilizadas por outras instituições de exce- niões do NSP.
lência, propiciando diversas trocas de experiên-
cias e saberes. Ações desenvolvidas pelo NSP/HNMD
Estas ações prepararam um terreno fértil para Desde sua criação, o NSP/HNMD desenvol-
a implantação das normas do MS e da Anvisa, veu diversas atividades, tais como: elaboração
regulamentadas em 2013. No intuito de atender do PSP, estabelecimento de bases documentais
as exigências do MS foi criado o NSP do HNMD, para o funcionamento e estabelecimento do NSP
por meio da Portaria nº 65 de 11 de março de como elemento de assessoria no organograma do
2014. Este documento designou, nominalmen- HNMD e confecção de impressos próprios para
RESUMO
A função constitucional das Forças Armadas é a defesa da Pátria. A monitorização de riscos e possí-
veis agravos à soberania nacional diante dos modernos e versáteis cenáros de combate existentes no
ABSTRACT
The constitutional function of the Armed Forces is to ensure the territorial security. To achieve this
goal, one way is the monitoring of risks to national sovereignty in face of the modern combat scenarios
more versatile and dynamic every day. The emission of biological and chemical contaminants in the
atmosphere, among others forms of offensive. The predicted size of an attack of this nature can be
carried out by the identification of biomarkers such as pollen and spores. These biomarkers may be
used as a tool for analyzing the air mass trajectory to the geographical point sampled. Previous studies
in Antarctica by national educational and research institutions demonstrated the untapped potential
of this region for the study of as a defense strategy. The Brazilian Navy has conditions that allow the
development of research on the use of biomarkers within the Defense scope.
1
Biólogo. Auxiliar do Laboratório de Biologia Celular do Instituto de Pesquisa Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias.Doutorando em Ciências Bioló-
gicas (Botânica) pelo Museu Nacional – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Endereço para correspondência: Rua Professor Eurico Rabelo, 127 - Apto
402 – Maracanã – Rio de Janeiro - RJ. Tel.: (21) 98217-0671E-mail:rodriguespalino@gmail.com
2
Bióloga. Doutorado em Química Biológica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ajudante da divisão de pesquisas do Instituto de Pesquisa Bio-
médicas do Hospital Naval Marcílio Dias.
3
Médica Veterinária. Doutorado em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Encarregada da Seção de Microcirurgia do Instituto de Pesquisa
Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias.
4
Graduanda em Biomedicina. Auxiliar do Laboratório de Microcirurgia do Instituto de Pesquisa Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias.
5
Farmacêutico. Auxiliar de Laboratório de Bioanálises do Instituto de Pesquisa Biomédicas do Hospital Naval Marcílio Dias.
INTRODUÇÃO do no desenvolvimento de pesquisas básicas e
Embora pacífico e de relações diplomáticas aplicadas pelo Exército, Marinha e Aeronáutica.5
baseadas no diálogo e respeito às diferentes No que tange à Marinha do Brasil, a busca por
culturas, o Brasil investe no Setor de Defesa no autonomia tecnológica pode ser notada na inde-
sentido da equalização de seu potencial bélico pendência nacional de formação de engenheiros
visando o enfrentamento de potenciais amea- navais, através de convênio com a Universida-
ças internas e externas.1 Neste aspecto, o apoio de de São Paulo (USP) na década de 1970, em
militar Naval se faz presente com os recentes substituição à formação no exterior. Tal processo
avanços na prospecção do submarino nuclear resultou da busca pela recuperação da estagna-
brasileiro, somado às contínuas ações de ma- ção gerada pelo fornecimento de meios navais
nutenção da soberania territorial, o combate ao através de acordo firmado entre Estados Unidos
tráfico de drogas e armas nas áreas de fronteira e Brasil após o fim da Segunda Guerra Mundial.6
e a proteção do mar territorial, diretamente be- Identificar e desenvolver tecnologia, formar e ca-
neficiado pelo constante avanço tecnológico do pacitar recursos humanos também foram alter-
setor. nativas presentes na área da saúde.7 Neste con-
As dimensões continentais do país apresen- texto, o uso de biotraçadores enquadra-se como
tam fronteiras terrestres, marítimas e fluviais, ferramenta estratégica na identificação prévia
além de um enorme espaço aéreo.2 Estas devem de ameaças por via atmosférica e na obtenção
ser constantemente conservadas e monitoradas de meios para a garantia da integridade da vida
visando o estabelecimento de barreiras sanitárias frente a possíveis ameaças químicas e biológi-
66 │ Arq. Bras. Med. Naval, Rio de Janeiro, 77 (1): 65-68
para manutenção do bem estar da população em cas disseminadas por esta via de propagação
geral, além da proteção dos diferentes ecossis- desses agentes.
temas e fontes de recursos naturais. No contex-
to de barreira sanitária, devem-se considerar os IDENTIFICAÇÃO DE PÓLEN, ESPOROS E
ataques químicos e biológicos por via atmosféri- SEU USO COMO BIOTRAÇADOR
ca representativos como possíveis ferramentas Pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório
dos atuais cenários de combate, cada vez mais Professor Álvaro Xavier Moreira do Museu Na-
versáteis e dinâmicos.2 Assim, a identificação de cional da Universidade Federal do Rio de Janei-
emissões de contaminantes na atmosfera mostra ro e Laboratório de Radioecologia e Mudanças
ser um campo com potencial para aplicabilidade Globais da Universidade do Estado do Rio de
nas ações desenvolvidas para Defesa Nacional.3 Janeiro, identificaram que grãos de pólen e es-
Neste aspecto o uso de traçadores atmosféricos poros diversos podem ser utilizados como biotra-
revela-se como ferramenta de potencial científico çadores, uma vez que os registros mostram seu
relevante4 na prevenção e mitigação de ameaças transporte do Continente Sul-Americano para a
que comprometam a soberania nacional. Antártica.4 Tal utilização representou um avanço
A execução de pesquisas com amostras am- no conhecimento sobre a dinâmica de transpor-
bientais que identifiquem traçadores (biotraçado- te de particulados para o continente. Através da
res) pode permitir a abertura de novas fronteiras análise da morfologia dos grãos de pólen e es-
na pesquisa Naval. Figuram nesta perspectiva poros, identificados em microscopia óptica de luz
a identificação de contaminantes atmosféricos, branca, é possível comparar os resultados com
tempo de resposta contra ataques biológicos, publicações e coleções de referência, verifican-
identificação de vírus, bactérias e fungos trans- do a biogeografia das espécies representadas
portados por massas de ar, identificação de at- em amostras coletadas. Os dados biogeográfi-
mosfera contaminada e modelagem do desloca- cos e informações sobre o local de coleta podem
mento de contaminantes no ar em alto mar e em ser compilados por meio de ferramentas lógicas
terra, modelagem e inferência de áreas impacta- disponíveis em versão software para desktop ou
das por contaminantes oriundos da descarga de em plataformas on line como a plataforma Hybrid
meios navais marítimos e terrestres. Single-Particle Lagrangian Integrated Trajectory
(HYSPLIT) da National Oceanic and Atmosphe-
O SETOR DE DEFESA E A PRODUÇÃO DO ric Agency (NOAA). Como produto da aplicação
CONHECIMENTO das ferramentas lógicas pode-se verificar as tra-
O investimento em Ciência e Tecnologia jetórias das massas de ar que alcançaram um
pelo Ministério da Defesa, previsto na portaria ponto amostrado, permitindo identificar sua ori-
nº 1.317 de 04 de novembro de 2004 é traduzi- gem e partículas que chegam em determinada
região, bem como a previsão do seu comporta- INSTITUTO DE PESQUISAS BIOMÉDICAS
mento4 sendo relevante na identificação de áreas DO HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS
atingidas por ameaças biológicas e na previsão do O Instituto de Pesquisas Biomédicas do Hos-
seu impacto em outras regiões. pital Marcílio Dias (IPB) representa uma das pri-
A identificação do comportamento de massas meiras ações da Marinha do Brasil na busca pelo
de ar através de registro e identificação de grãos desenvolvimento científico, com pesquisas bási-
de pólen e esporos em amostras de neve coleta- cas, aplicadas e clínicas, em áreas relacionadas
das na Ilha Joinville (Antártica), revelaram novas à saúde, no âmbito hospitalar e em combate.
possibilidades para o desenvolvimento de análise O processo histórico de criação do IPB de-
de material particulado na atmosfera.4 O particula- nota a vocação pra ciência de base e aplicada,
do atmosférico fornece informações sobre eventos através de pesquisas realizadas ao longo de sua
climáticos, descarga de poluentes, contaminações existência. As atividades de pesquisa tiveram
biológicas e radiológicas. Tais informações podem início antes mesmo da construção do Hospital
fornecer dados para: gestão do impacto ambien- Naval Marcílio Dias, ainda no ano de 1934 com
tal da operação de meios e organizações militares; a implantação do Instituto Naval de Biologia.7
hostilidade de terrenos em combate; e previsão de Inicialmente com o objetivo de buscar melhoria
cenários climáticos subsidiando a tomada de deci- da saúde dos militares, o Instituto colaborou com
são estratégica. instituições de pesquisa, universidades e com a
A composição dos aerossóis, dividida basica- iniciativa privada.
mente em uma parcela orgânica e outra inorgâni- Recentemente reformulado, o IPB possui
Nacional de Defesa e o Livro Branco de Defesa uso de biotraçadores polínicos: novas perspecti-
Nacional, encaminhados ao Congresso Nacional vas para o desenvolvimento da estratégia de de-
pela Mensagem nº 83, de 2012. (Mensagem nº fesa contra ataques por via atmosférica. Arq Bras
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