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O sentido de um fim

Oracula, São Bernardo do Campo, v. 1, n. 2, 2005


O principal impacto político da literatura apocalíptica não está em nenhum programa que possa implicar no futuro, mas
em sua rejeição e condenação da presente ordem. Muitas das mais memoráveis imagens na literatura apocalíptica são
representações do império do mal – tal como a quarta besta de Daniel ou a prostituta de Babilônia em Apocalipse. A
mensagem essencial é que o fim virá sobre este império. Em nenhum outro lugar a queda dos poderosos é imaginada com
tal alegria como neste apocalipse cristão, onde um anjo de pé sobre o sol chama os pássaros do céu para “a grande ceia de
Deus, para comer a carne dos reis, a carne dos capitães, a carne dos poderosos – a carne de todos... tanto pequenos como
grandes” (Ap 19,18). A condenação se estende a todos os reis deste mundo, mas nas composições apocalípticas originais
isto é bem específico: diz respeito ao reino selêucida em Daniel e ao império romano em Apocalipse.
O tom negativo e às vezes vingativo de passagens como Ap 19 transmite uma impressão mais desprezível da literatura
apocalíptica como algo que é somente destrutivo, não construtivo. O novelista D. H. Lawrence escreveu severamente do
Apocalipse:
No tempo de Jesus, todas as classes inferiores e pessoas medíocresperceberam que nunca teriam uma chance de serem
reis, nunca andariam emcarruagens, nunca beberiam vinho em taças de ouro. Muito bem então – eles teriam sua
vingança ao destruir tudo. ‘A grande Babilônia caiu, caiu, e se tornou
a habitação dos demônios.’ E então todo o ouro e prata e pérolas e pedras preciosas e linho fino e púrpura e seda e
escarlate – e canela e olíbano, trigo, animais selvagens, ovelhas, cavalos, carruagens, escravos, as almas dos homens –
todas estas coisas que estão destruídas na grande Babilônia – como se ouve a inveja, a inveja sem fim gritando através
deste cântico de triunfo!

Mas enquanto Lawrence era um membro da classe dominante, ele internalizou a atitude do império e não tinha nem
empatia nem simpatia com os assuntos de Roma (ou do império britânico de seus dias). Para João de Patmos, Roma não
era tão esplendorosa para ser invejada enquanto um peso opressor que tinha que ser removido antes que um mundo livre e
justo pudesse mesmo ser imaginado. Ele podia fazer um pouco mais do que proclamar um fim ao império: dizer ‘não’ a
sua demanda por submissão.

O ‘não’ do apocalíptico não é um nein barthiano à natureza e a este mundo como tal. Mais que isso, é um ‘não’ político,
uma rejeição de uma ordem particular de mundo. Nas palavras do antigo ativista americano Daniel Berrigan, “é o mesmo
não que abalou tronos e os entronizados sentados neles. É o não de Bonhoeffer, o não de Park... o não de Mandela e o
Vaclav”.41 Não foi por nada que o imperador Augusto recolheu e queimou oráculos. A visão apocalíptica era a negação e
contradição da Roma eterna, a escatologia oficial do império.

Retornamos aqui àquele ponto do qual partimos. Os propagandistas imperiais e os dissidentes apocalípticos tinham visões
similares da estrutura da história – uma seqüência de reinos transitórios seguidos por um governo definitivo que duraria
para sempre. A diferença crucial era de ponto e local vantajoso na escala temporal. Para o triunfalista, o reino final já
chegou; para o visionário, o reino do presente está passando. Se o advento de um reino final é iminente ou adiado para
algum tempo no futuro, isto não faz uma diferença essencial tanto quanto é real a convicção de que um fim à presente
ordem é assegurado.

Inserido na Alemanha nazista em 1939, Walter Benjamin argumentou: “Que as coisas ‘apenas se mantêm prosseguindo’ é
a catástrofe.”43 Como os autores de Daniel e Apocalipse, ele percebeu que o desiderato mais urgente era o fim do
presente curso de relações, seja lá o que viesse em seguida. Se Benjamim era apocalíptico, entretanto, ele teria
acrescentado que ele não “weiter gehen” indefinidamente. Por mais poderosamente entrincheirado que o regime nazista
pudesse ser, seu fim era inevitável. Certamente é um fato notório que um reinado predito em visões apocalípticas nunca
veio e, assim, apocalipses são freqüentemente criticados por alimentar ilusões. A ilusão, entretanto, somente diz respeito à
nova ordem. A convicção de que “a Babilônia cairá” tem sempre sido comprovada, eventualmente, mesmo se o
cumprimento é às vezes adiado por séculos.

Alguém argumentaria que o poder do gênero apocalíptico como foi desenvolvido no judaísmo e no cristianismo primitivo
depende da permanente procrastinação da parousia. Quando se pensa que o reino final chegou, a utopia se transforma em
ideologia e o espírito revolucionário dos apocalipses é traído (isto é verdade para a visão agostiniana de que o reino de mil
anos é realizado na igreja, apenas tanto como nas ideologias políticas que pedem um cumprimento milenarista). O insight
do qual a visão apocalíptica extrai sua vitalidade duradoura não é a certeza ilusória de um novo reino, mas a
temporalidade de toda a existência humana. O romano Scípio teve o insight de que todo poder terreno deveria passar, mais
profundamente do que fez Daniel. Mas o visionário judeu compartilhou-o a um grau significante. Mas enquanto a
temporalidade de poder deixou Scípio triste, ela deu esperança a Daniel e a João de Patmos, e continuou a dar esperança
aos oprimidos através dos séculos, mesmo se o sonho de um reino utópico permanece indefinido.
Falando neste berço de império e colonialismo, não posso resistir em concluir com uma vaga adaptação do esquema de
quatro reinos encontrada em um poema irlandês anônimo do século XVIII, traduzido por Frank O’Connor com o título
“Esperança”. Parece-me que ele compreendeu tão bem como qualquer formulação no sentido de temporalidade que está
na raiz de toda a esperança apocalíptica, mesmo que falte a convicção apocalíptica de Daniel ou de Apocalipse:

Vida conquistou; o vento soprou Alexandre, César, e todo o poder e domínio deles;
Tara e Tróia fizeram não mais permanecer; Talvez os ingleses também terão seu dia.

Um poeta tchetcheno hoje substituiria os russos pelos ingleses; alguns palestinos sem dúvida substituiriam os israelitas e
vários povos no Terceiro Mundo substituiriam os americanos. Pois o insight de Scípio permanece tão verdadeiro hoje
como foi quando ele contemplou as ruínas de Cartago. Entretanto predições apocalípticas podem ser incertas se
estabelecem uma data para o “fim” da história ou prometem um reino glorioso. Podemos estar quase certos de que todo
império humano, incluindo aquele de que gostamos, está condenado a passar.

SOBRE O DIABÓLICO
Ao ler o texto de apocalipse nos deparamos com uma figura que faz parte do imaginário popular que é o Diabo, para
muitos ele é apenas a mistificação dos maus desejos, outros alegam ser ele o chefe do infernos e alguns até mesmo um
instrumento de Deus.

Contudo ao nos depararmos com a literatura apocalíptica é importante compreendermos as várias formas que o texto
bíblico usa para falar sobre o diabólico. O diabólico deve ser entendido como toda qualquer força que gera uma oposição.

No Antigo Testamento o diabólico é apresentado como o caos, o mal, o pecado, mas não há uma referência sobre uma
personagem. É preciso esperar os escritos tardios da época persa e grega para descobrir certa tendência personalizada do
força diabólica. Assim o projeto que tem o rei Davi de fazer o censo do povo é atribuído a ira de Javé ( 2Sm 24.1) e mais
tarde a Satã ( I Cr 21.1).

No livro de Jó, Satã é um personagem celeste, não mau, mas que exerce uma função de fiscal ( Jo 1-2). A versão grega da
Bíblia traduz “Satã” por diabo. E o que no paraíso terreno aparece simplesmente como um animal, a serpente ( Gn 3.1) –
no ´´ultimo livro do AT (bíblia católica) é denominado diabo ( Sb 2.24).

No novo testamento as alusões ao diabólico e demoníaco são mais freqüentes, contudo aparecem sempre em
contraposição a Cristo. Jesus vem combater e vencer o diabólico, que é tudo o que destrói a existência e a dignidade dos
homens.

A práxis do reino é ajustar o homem a ser homem, gozar de liberdade, desenvolver-se em dingnidade e viver em
pelnitude. Muitas doenças são atribuídas a demônios, como aepilpsia, que se qualifica de possessão diabólica ( Lc 9.37-
43). Numa ocaisão Jesus cham Pedro de Satanás ( Mt 16.23) e Judas de diabo ( Jo 6.70).

É óbvio que no NT o diabólico existe e tem-se que se lutar contra ele, mas não parece claro se sua personificação é um
simples elemento cultural da época. Em Tiago 1. 13-14, vemos que o mundo e a carne explicariam suficientemente o mal,
as tentações e o pecado.

O Dragão em Apocalipse (Apoc. 12,3)representa a personificação da serpente do Gen. 3.15. seria satanás que não se
cansa de perseguir os filhos da Eva. É o poder que persegue, acusa os homens ao sofrimento. São as hostes satânicas
infiltradas nas relações do poder, daqueles que tiranizam e exploram e por fim querem ser chamados de benfeitores ( Lc
22.24-26).

OS SELOS E AS TORMBETAS
Os sete selos que fechavam o livro (Apocalipse 6 ) representam a idéia de que o livro não poderia ser violado e o conteúdo
do livro era algo legítimo. Dessa forma os selos só poderiam ser abertos pelo seu proprietário ou por seu legítimo
representante. E apenas Cristo foi achado digno de abri-los.
O objetivo dos sete selos é apresentar aos seus leitores os eventos que se apresentam diante da ira de Deus, diante da
injustiça e maldade da humanidade e dos poderosos. Os destinatários originais do Apocalipse de João deveriam entender
que Deus é soberano sobre todas a coisas e que ele está no controle da história. Com isso em mente os destinatários do
livro poderiam acompanhar os acontecimentos da história consolados pela certeza da vitória final de Deus e de todos os
remidos pelo sangue do cordeiro, que é Cristo Jesus.

OS QUATRO CAVALOS
Apocalipse 6. 1-8
Os quatro primeiros selos que são rompidos pelo Cordeiro, apresentam quatro cavaleiros e quatro cavalos, essas são
figuras usadas pelo autor para apresentar os efeitos que a humanidade tem causado à natureza. Essas cenas apresentam
quatro forças de destruição e de sofrimentos presentes na história da humanidade. Algo importante para se compreender
neste momento é que muitos acham que esses eventos são acontecimentos futuros apenas, contudo diante a literatura
apocalíptica pode-se entender que estes são eventos que acontecem ao longo da existência da humanidade. E os cristãos
devem estar atentos a esses alertas, pois Deus tem os usado, por toda a história para alertar ao homem da necessidade de
se voltar para Deus.

O CAVALO BRANCO (Apocalipse 6.1-2) - o cavaleiros branco usa uma coroa e tem um arco, isso simboliza a força do
desejo humano de conquista e de estabelecer domínio sobre os outros, como uma das forças atuantes na formação da
história. Entender este símbolo é importante, pois desde que a história do homem passou a ser escrita e contada, ouvimos
e lemos relatos de pessoas e impérios que tentam subjugar os outros, isso aconteceu na época de João com o Império
Romano, muitos antes na época do Império Babilônico isso também acontecia e em nossos dias continua acontecendo,
hoje por exemplo com as incursões norte-americas pelo mundo tentando dominar o máximo de países possíveis.
O CAVALO VERMELHO ( Apocalipse 6.3-4) – este cavaleiro possuía uma espada, matava e tirava a paz da terra. O
símbolo é o guerra, este é o primeiro grande problema da humanidade, aliada ao espírito de conquista vem a guerra que
mata e destrói o ser humano.
O CAVALO NEGRO ( Apocalipse 6.5-6) – este cavaleiro representa a fome, que é conseqüência dos dois primeiros. A
fome acontece tanto em momentos de guerra com também em momentos de paz. Isso por causa das prioridades erradas de
consumo e produção, este cavaleiro ilustra a exploração e o abuso econômico que são forças geradoras da fome. Na época
do apocalipse, o preço do trigo e da cevada itens essenciais na alimentação daquele período era exorbitante. Um denário
era o salário de um dia para um trabalhador. E apenas uma media de trigo, necessária para a subsistência de uma pessoa,
num daí custava todo o salário de um dia.

O CAVALO AMARELO ( Apocalipse 6.7-8) – este simboliza a morte, o amarelo é a cor dos cadáveres. O cavaleiro da
morte vai ceifando as vidas, pela guerra, pela fome, pelas pestes e por outros fatores, enquanto “hades” (sepultura ou
morada dos mortos) segue atrás da atuação da orte, tragando os que vão morrendo.

A finalidade das dessas quatro visões é alertar o cristão para que ele entende que vive em mundo real, com problemas e
dores, mas que essas coisa não podem fazer com que percamos o ânimo, pois essas coisas são passageiras e não podem ser
comparadas as coisas eternas.

AS SETE TROMBETAS
As sete trombetas são os anúncios completos e inalteráveis da justiça de Deus sobre a terra e seus habitantes. Três coisas
acontecem quando o último selo é aberto:

fez-se silêncio no céu durante meia hora em sinal de reverência e expectativa.


apareceram os anjos, arautos que anunciariam, ao toque de suas trombetas, a completa justiça de Deus.
Um anjo pôs incenso junto com as orações dos crentes no altar de Deus. A fumaça subiu a Deus e, como resposta, o
incensário foi cheio com as próprias brasas do altar de Deus e derramado sobre a terra. A cena significa que as orações
dos crentes, que foram perseguidos, subiram aos céus e por isso Deus lançará sobre a terra seu poder e sua ira. O incenso
era uma “substância aromática” que servir para os atos de culto. Em apoclispe 5.8 é identificado como sendo as orações
dos santos, o que coloca como símbolo das orações na linguagem apocalíptica.

No verso 2, do capítulo 8, aparecem os anjos com sete trombetas, estas são as sete pragas finais da história. Em meio a
uma celebração os sete anjos se preparam para tocar as suas trombetas e jogar as pragas (8.6). as cinco primeiras pragas
são: granizo, sangue, água amarga, escuridão e gafanhotos. Estas pragas são um nova edição, revista e aumentada, das
pragas do Egito. As cenas que aparecem ao toque das quatro primeiras trombetas representam calamidades naturais que
seriam usadas por Deus na destruição do império romano e que, em sentido mais amplo, são usadas no decorrer da
história para manifestar a justiça de Deus. Por exemplo:

A PRIMEIRA TROMBETA (Apocalipse 8.7) – esta destrói um terço da terra, das arvores e de toda a vegetação. Aqui é o
mal causado a natureza, por causa de sua ambição e ganância a natureza sofre.

A SEGUNDA TROMBETA (Apocalipse 8.8-9) – aqui se faz referencia ao mar e a navios, pode-se dizer que João está
fazendo uma alusão a queda do poderio naval de Roma. Quando fala da queda da montanha no mar, esta se referindo a
queda de Roma e de seu impero, pois Deus não permitira que esse mal durasse para sempre.
Por outro lado a quinta trombeta ( apocalipse 9-13-21) significa a destruição provocada pelo própria corrupção da
humanidade. A visão das estrela que cai do céu e dos gafanhotos representa a atuação do pecado sobre a humanidade,
pecado este que gera sofrimento. Na sexta trombeta também se fala sobre a destruição de Roma, causada pela invasão de
outros povos, vitimas das opressões e repressões de Roma. A sétima trombeta só aparece no capítulo 11, nos versos 14 a
19 do Apocalipse, pois após o relato da sexta trombeta o autor faz referência a outras visões. A sétima trombeta fala sobre
o tempo do fim, ela não indica o fim, mas o começo do fim. Ela também reafirma a soberania de Deus sobre todas as
coisas. Aparecem a restauração do templo como sinal de que Deus estará habitando no meio do seu povo. A arca do
concerto aparece, significando que Deus se lembra de seu acordo e é fiel às promessas e as cumprirá, ouvem-se trovões e
relâmpagos para que se entenda que Deus continua manifestando o seu poder e a sua ira e que outros crentes não temesse,
mesmo sendo cruelmente perseguidos, pois a vitória final é certa.

Apocalipse: o gênero literário no Novo Testamento

Um exemplo clássico de um apocalipse é o livro neotestamentário do Apocalipse de João, o qual deu nome ao gênero. Por
razões compreensíveis, a apocalíptica foi associada com livros de gênero semelhante ao Apocalipse de João,
compartilhando, até certo grau, das características gerais deste. Os apocalipses judaicos de Daniel, 1 Enoque, 4 Esdras e 2
Baruque são os exemplos mais citados (embora, diferenciando-se destes, o Apocalipse de João não seja pseudônimo). A
questão, então, que se levanta é se o termo “apocalíptico” deveria ser usado exclusivamente em relação às obras deste
gênero e com os temas atestados neles. Por exemplo, para John J. Collins, escatologia apocalíptica é, em primeira
instância, a escatologia encontrada em um apocalipse,5 e sempre que uma escatologia similar for encontrada em qualquer
outro lugar, ela pode ser chamada “escatologia apocalíptica” apenas “em um sentido amplo”.

Pode-se duvidar que algum livro antigo judaico como um todo possa ser chamado de apocalipse. O livro de Daniel, do
Antigo Testamento, é freqüentemente citado neste caso. Mas de fato, apenas os capítulos 7-12 contêm revelações que
cabem nas definições de Hanson e de Collins. Da mesma forma, apenas partes de 1 Enoque, 4 Esdras e 2 Baruque cabem
dentro da definição.

John J. Collins também observou6 que um apocalipse é apenas “uma estrutura geral”, que incorpora outros gêneros
literários (carta, testamento, parábola, hino, oração etc.). Segundo ele, um apocalipse “não é constituído por um ou mais
temas distintivos, mas por uma combinação de elementos, os quais são encontrados em outros lugares”. Hanson,7 por sua
vez, observa que um apocalipse “não é necessariamente o gênero exclusivo, dominante na maioria dos escritos
apocalípticos, mas é encontrado junto a muitos outros, incluindo o testamento, os oráculos de julgamento e de salvação, e
a parábola”. Estas considerações tornam qualquer tentativa de dar uma clara definição do gênero, em que um apocalipse
(como obra autônoma) possa ser suficientemente distinto de outros gêneros literários (outros livros), quase impossível.

Além do mais, há dúvidas se há obras judaicas que podem ser consideradas ‘apocalipses’ antes do segundo século d.C..
Collins escreve que “o uso do título grego apokalypsis (revelação) não é comprovado no período anterior ao cristianismo.
A primeira obra apresentada como um apokalypsis é o Apocalipse de João, e mesmo lá não é claro se a palavra denota um
tipo especial de literatura ou se é usado mais geralmente no sentido de revelação”.

As obras chamadas de apocalípticas antes do final do primeiro século ou do começo do segundo, conforme Collins, “ainda
não tinham adotado uma autoconsciência geral”, como é evidente em obras tardias e, portanto, “têm afinidades com mais
de um gênero”.8 Ele chega então a afirmar que não podemos de fato falar de apocalipse como um gênero específico até o
começo do segundo século d.C.

A definição de Collins, apresentada acima, parece ser uma definição do que pode ser chamado uma ‘visão’, ou melhor,
um relato escrito, na forma de narrativa, de uma visão (do futuro, de realidades celestiais, de Deus, de realidades presentes
ou passadas).Tal entidade literária não é um Gattung literário por si mesmo (Gattung = um livro autônomo), mas um
elemento menor (uma forma, como na história das formas) de um todo literário mais amplo, semelhante a uma parábola,
um hino ou uma narrativa de milagre. Assim, “apocalipses” seriam o que se pode chamar de um “sub-gênero” de
literatura, pequenas “formas” literárias contidas em obras literárias maiores (como Daniel ou 2 Baruque), as quais,
enquanto complexos literários (obras), não são apocalipses em si mesmos, no sentido estrito.9 Esta pressuposição também
é confirmada por J. VanderKam, o qual observa que “os únicos apocalipses de que não se pode duvidar [note o plural] na
Bíblia Hebraica são as diferentes visões reveladas a Daniel em capítulos 7-12”.10 Livros como Daniel e 4 Esdras contêm
não apenas apocalipses, mas também outras formas literárias, como reconhecem Collins e Hanson.

O Apocalipse de João, mencionado acima, é o único livro do Novo Testamento considerado um apocalipse. Este é, de
fato, o paradigma do gênero. Mas, no entanto, como já dissemos acima, a abertura do livro (“Apocalipse de Jesus Cristo”)
poderia não descrever o gênero do livro, mas seus conteúdos, ou simplesmente aquele que é mostrado pelo conteúdo, ou
seja, Jesus Cristo. Além do mais, à parte do prefácio de abertura (1,1-3), que pode ter sido até um acréscimo posterior, o
restante do livro tem a estrutura formal de uma carta antiga, como mostra uma comparação com as cartas paulinas:

João às sete igrejas que estão na Ásia: graça e paz da parte daquele que é, que era, e que
virá ... (Ap 1 ,4)
Paulo, apóstolo .... às igrejas da Galácia: Graça a vós e paz da parte de Deus nosso pai e
do Senhor Jesus Cristo (Gl 1,1-3)
A graça do Senhor Jesus seja com todos os santos. Amém. (Ap 22,21)
A graça do Senhor Jesus seja contigo. Amém (1Tes 5,28)

Em concordância com esta estrutura formal está o fato de que o apocalipse de João não é pseudônimo (em contraste com a
literatura apocalíptica judaica, como Daniel, 4 Esdras e 2 Baruque). Esta carta, exageradamente longa, tinha por intenção
ser lida em voz alta nas igrejas da Ásia Menor. Esta longa carta contém uma série contínua de “apocalipses”, ou seja, uma
descrição narrativa de visões do futuro, de realidades celestiais ou espirituais, de Deus e do Cristo, que se estende de 1,9 a
22,5. Enquanto todas estas visões são ligadas umas às outras e, evidentemente, tomam lugar no mesmo dia (1,9-10), elas
todas podem ser consideradas como um (longo) “apocalipse”, mais que uma série de apocalipses distintos. Seja como for,
o tamanho enorme desta série contínua de apocalipses, ou deste único e longo apocalipse, contribuiu para a suposição de
que o livro como um todo é um apocalipse, suposição esta apoiada pela linha inicial da obra e por usos posteriores do
termo “apocalipse” (no começo do segundo século d.C.). Mas o livro do Apocalipse de João realmente é distinto nesta
questão: a quantidade de material apocalíptico é de fato sem paralelo nas fontes judaicas (ou cristãs) contemporâneas,
assim como na riqueza do simbolismo do livro e de suas imagens.11 Em todo caso foi composto na forma de uma carta
(além do mais, os três primeiros capítulos contém mensagens separadas em forma de epístolas para cada uma das sete
igrejas).

Há apocalipses em outras partes do Novo Testamento (definidos como uma forma ou um sub-gênero)? 1 Tes 4,13-18 o é
provavelmente, uma vez que contém: (1) uma revelação supostamente dada por Deus, (2) por meio de um mediador (o
Espírito, o Cristo ressuscitado?), (3) para um visionário (Paulo) a respeito de (4) eventos futuros (a ressurreição dos
cristãos mortos). Marcos 13 é comumente mencionado como o Apocalipse Sinótico, mas em sua forma atual ele foi
caracterizado por Adela Yarbro Collins como um “diálogo escolástico com conteúdo profético ou apocalíptico”. 12
Exceto no caso do Apocalipse de João, o debate sobre o gênero apocalipse é de pouca importância para a compreensão
dos escritos do Novo Testamento e das formas que eles contém.

O Drama por Trás da História: Sete Visões da última realidade


O Milênio - Chegamos, nesta cena, a uma das partes mais difíceis ou, de qualquer maneira, a uma das mais discutidas
partes do livro. Veja o que o comentarista tem a dizer acerca de Apocalipse 20, e você terá uma ótima idéia de como ele
interpreta o resto do livro. O milênio, os "mil anos", é palpável em cada versículo de 20:2 até 20:7; porém o seu lugar no
esquema geral da história cristã é muito menos óbvio. Os intérpretes geralmente se dividem em três blocos quanto a esta
questão. Um corte transversal no comentário acerca do milênio, no entanto, revela mais do que o mero problema de onde
ele se encaixa. Uma razão por que o assunto é complicado é o fato de estar extremamente cheio de subdivisões às quais
será dispensada apenas uma breve referência. Outra razão é que a compreensão do milênio não pode ser alcançada
independentemente do estudo do resto do livro, quiçá do resto das Escrituras. Em outras palavras, as três interpretações do
capítulo 20 têm não só galhos como raízes. Porém nossa atenção estará concentrada nas últimas.
Mesmo despojado de complicações extras, o problema não pode ser definido sem um bom estudo dos detalhes.
simplificá-lo drasticamente é perder todo o seu conteúdo. Daremos, portanto, no início, atenção a numerosos aspectos que
devemos ter em mente.

a. Dados do Problema - Em primeiro lugar, há acordo de que a parousia, a volta de Cristo em glória, foi descrita pelo
menos uma vez antes do capítulo 20: muitos diriam que foi imediatamente antes, em 19:11,12, mas mesmo que não tenha
sido ali, apareceu em outros capítulos anteriores. Em segundo lugar, o capítulo 21 começa com a descrição da nova era, na
qual os variados males do capítulo 20 não mais existem. Em terceiro lugar, entre aqueles acontecimentos nós temos o
capítulo 20. Satanás é aprisionado, acorrentado, jogado para dentro e mantido prisioneiro no abismo; durante mil anos ele
será incapaz de enganar as nações (vs. 2, 3). Durante o mesmo período os mártires e os santos fiéis vivos viverão e
reinarão com Cristo: isto é descrito como "a primeira ressurreição" (vs. 4, 5). No final dos 1000 anos, Satanás é libertado e
prepara um último ataque aos santos (vs. 7-9). Satanás é então derrotado e destruído (vs. 9,10); o restante dos mortos
ressuscitará e será julgado (vs. 5,12,13); e juntamente com Satanás, a besta, o falso profeta, a morte, o inferno, e todos
cujos nomes não se encontram escritos no livro da vida são jogados para dentro do lago de fogo que é "a segunda morte"
(vs. 10,14,15). Há uma seqüência lógica, pois os eventos são mencionados de acordo com o tempo em que ocorrem: se
antes, durante, ou no fim do milênio. Para recapitular, haverá o aprisionamento de Satanás, o reinado de mil anos dos
santos, a última revolta e a derrota de Satanás e então o julgamento e o banimento do mal.
Em quarto lugar, existem vários eventos mencionados em outra parte do Novo Testamento, alguns dos quais ou todos
eles, pertencentes ao tempo do fim, e estão, portanto, relacionados de alguma maneira, presume-se, com a seqüência de
Apocalipse 20. Esses incluem a propagação mundial do evangelho, a salvação de Israel, a "grande apostasia", a "grande
tribulação", a vinda do "homem do pecado" ou Anticristo, e o "arrebatamento" ou remoção dos cristãos "para o encontro
do Senhor nos ares" (1 Ts 4:17).
As três diferentes figuras que podem ser montadas pelas peças deste quebra-cabeça são conhecidas como pré-
milenismo, amilenismo e pós-milenismo. A razão destes nomes ficará clara tão logo comecemos a considerá-los de forma
mais objetiva.
b. Pré-milenismo - O pré-milenismo está arraigado na crença de que a verdade do Apocalipse é basicamente uma verdade
literal, em dois aspectos. Em primeiro lugar, a descrição deve ser aceita pelo seu valor aparente. Não significa
necessariamente um literalismo crasso que envolveria, por exemplo, imaginar Satanás sendo preso fisicamente (uma vez
que pensamos ser ele um espírito) com uma corrente de metal de verdade. Mas pode muito bem significar mil anos de
forma literal; e certamente o texto quer dizer que Satanás será preso e os santos reinarão de tal forma que o abandono
satânico será inconfundível e a autoridade dos santos será manifesta de maneira tal como não foi jamais conhecida. Em
segundo lugar, a seqüência deve ser considerada como se apresenta. Na ordem da História, o aprisionamento de Satanás
acontecerá após a parousia, porque na ordem do livro o capítulo 20 segue-se ao 19. Há pleno acordo que este capítulo (20)
é o único lugar nas Escrituras onde a idéia de um milênio depois da parousia parece ser claramente ensinado. Mas levar
esta ordem a sério significa que esta seqüência de eventos, apesar de única, tem tanta autoridade quanto o esboço dado,
por exemplo, em Mateus 24; portanto não deve ser considerada uma mera ênfase a algumas verdades contidas nos ensinos
do Senhor mas e, sim, uma adição extra de verdade, omitida pelo Senhor. O ensino da passagem é extensivo e não
intensivo.
A interpretação que resulta dessas raízes é, em resumo, como se segue. O retorno de Cristo em poder e glória privará
Satanás de todo o seu poder, ressuscitará os cristãos mortos e estabelecerá o reinado dos santos sobre toda a terra. Depois
de mil anos, Satanás re-emergirá da sua prisão, e tentará destruir os santos mais uma vez, falhará e se destruirá. Então virá
a ressurreição do restante dos mortos, o julgamento do grande trono branco, a destruição final dos perversos e a criação de
novos céus e de nova terra. Os eventos do quarto grupo, mencionados acima (aqueles encontrados em outras partes do
Novo Testamento: o aparecimento do Anticristo, a tribulação, o arrebatamento, etc), geralmente se considera que
ocorrerão antes da vinda de Cristo em poder e glória, e esta vinda vem, por sua vez, antes (pré) do milênio. É daí que
procede o nome desta interpretação.
Por causa da interpretação literal, o pré-milenismo está aberto a dois tipos de perigos. A atitude de interpretar o
Apocalipse de forma tão ingênua levou, no passado, aos excessos do que ficou conhecido como "quiliasma" 1 que nada
mais era do que a expectativa de um "domínio dos santos" completamente materialista, o qual apela va aos piores instintos
dos homens. As tentativas de estabelecer as seqüências do Apocalipse de modo tão formalista, por outro lado, e construir
com elas uma detalhada cronologia do futuro pode levar a excessos de outro tipo: prolongados debates sobre se o
arrebatamento precede ou não a tribulação, cálculos detalhados acerca do "tempo dos gentios" ou a duração do "pouco
tempo", uma visão futurista do livro cuja contribuição para a vida cristã se limita a conferir-lhe um pouco de emoção
vicária, ou conduzir a especulação sobre alguns pormenores do dispensacionalismo. 1 Onde o quiliasma prometeu ali-
mentar os estômagos dos famintos, tais tipos de ingenuidade alimentam a vaidade da mente.
Porém o valor positivo do pré-milenismo nos nossos dias é que ele se recusa a tratar o Apocalipse como um livro
preso ou ao misticismo particular de João ou às remotas circunstâncias históricas do primeiro século. É bem possível que
ele produza uma super-reação contra as velhas noções liberais que fizeram exatamente isso e, como conseqüência,
mantém o desafio apresentado pelo livro dentro daquilo que podem alcançar. Mas leva a sério o Apocalipse como
mensagem oriunda de Deus para o nosso próprio tempo e para o porvir.

c. Amilenismo - A visão do amilenista surge de uma diferente interpretação sobre em que sentido o Apocalipse é verdade.
Sustenta que nem descrições nem seqüências podem ser consideradas superficialmente. Há tanta descrição no livro (de
fato o próprio livro o declara) mais simbólica do que literal, que ele presume ser esta a regra geral de que João se utiliza, e
que a linguagem não metafórica é de fato a exceção. A corrente e o abismo não são literais; provavelmente, então, os mil
anos também não serão. Ele ainda tem que decidir, é claro, o que é símbolo e o que não é símbolo e como os símbolos
podem ser explicados. Se ele for sábio, ele o fará, não mediante um julgamento subjetivo, mas através de uma comparação
com o resto das Escrituras.
Esta é, portanto, a única maneira pela qual ele pode interpretar as seqüências do livro. O pré-milenista acredita em um
milênio verdadeiro, o qual, apesar de não ser mencionado em nenhum outro lugar, permanece, contudo, por méritos
próprios, baseado em Apocalipse 20 e, portanto, deve ser construído pelo sistema de profecias existente. O amilenista não
acredita nisso, e precisa encontrar uma outra forma de encaixar os mil anos, e (novamente, se ele é sábio) tentará fazê-lo
utilizando-se do resto das Escrituras.
Vamos ver o que cresce dessas raízes. O Novo Testamento ensina que há somente uma parousia e esta é "o dia do
Senhor" o qual porá um fim em todas as coisas. Este "fim" está descrito no capítulo 19, mas os mil anos descritos no
capítulo 20, mesmo que venham em seqüência, dentro do livro, devem preceder o capítulo 19 na História; resumindo,
Apocalipse 20:1 -6 é uma narração de fatos precedentes. A prisão de Satanás, a primeira ressurreição e o milênio são
metáforas que descrevem a situação atual do mundo, cobrindo o período que vai da primeira até a segunda vinda de
Cristo. A última revolta do mal está ainda por vir, o que se considera como sendo a preparação para outros eventos
preditos, como a grande tribulação e o aparecimento do homem da iniqüidade. Esta terminará com a ruína e o julgamento
de Satanás, os quais são descritos não somente em 20:9-15, mas também em 19:11 -21. Deste ponto de vista Cristo
retornará sem (a -) qualquer milênio do tipo preconizado pelas outras interpretações, isto é, mil anos que são apenas uma
seção da história cristã, distinguida em grande parte pelos seus extremos do bem e do mal.
O perigo deste tipo de abordagem é que quando certos símbolos são explicados como verdades gerais eles tendem a
perder sua força. As arestas agudas são arredondadas; o imediatismo e a expectativa são niveladas para baixo. O
amilenista precisa lembrar-se de que a verdade que ele proclama ver para além das metáforas não são vagas
espiritualizações e, sim, realidades exigentes: não algo menor, porém maior do que o conteúdo das suas visões.
De fato, é isto que faz sobressair o valor especial da visão amilenista. O que é mais real: um reino espiritual dos
santos, que é, de fato, a época da igreja, ou um reinado verdadeiro dos santos na terra depois da vinda de Cristo? O último
é concreto, definido, e alimenta a esperança cristã. O primeiro, porém, pelo próprio fato de ser uma generalização, desafia
a experiência do cristianismo não ontem e amanhã, mas hoje.

d. Pós-milenismo
Vamos supor que você não se sinta capaz de aceitar totalmente nenhuma destas perspectivas. No que diz respeito à
seqüência dos eventos, a simplicidade do esquema de tempo do amilenista, com um simples "dia do Senhor" destruindo o
mal e trazendo a História ao seu final, parece estar mais de acordo com a objetividade das profecias do Novo Testamento.
Você sente que as complexidades do Apocalipse são muito menos uma extensão do esquema básico (como tacos coloca -
dos no piso de um quarto) e muito mais uma repetição desse esquema com diferentes palavras (como cobrir com tinta um
desenho feito a lápis). Até este ponto, no que diz respeito à descrição do milênio, você se encontra ao lado dos pré-
milenistas, esperando por um aprisionamento mais efetivo de Satanás e um reinado dos cristãos mais objetivo do que este
que o cristianismo através dos séculos parece ter experimentado. Você há de esperar que perto do fim da História haja um
período em que o poder do mal seja marcadamente menor e a autoridade da igreja marcadamente maior, como nunca
antes. Você é um literalista até o ponto de querer ver Satanás acorrentado e os santos coroados, senão fisicamente, ainda
assim de uma forma mais evidente do que a vaga forma espiritual de aprisionamento e coroação da qual o amilenista fala.
Se este é o modo como você interpreta Apocalipse 20, você é um "pós-milenista". Você leva em consideração mil anos
que podem ou não ser mil anos literais, porém certamente é um período especial da história distinguido do resto dela pela
maneira como Deus triunfa sobre o mal. Alguns o entendem como referência a progres sos no campo social; outros, mais
leais à ênfase bíblica, esperam por um grande avanço espiritual, com a conversão de judeus em alta escala (Rm 11:12) e
com a pregação do evangelho "por todo o mundo, para testemunho a todas as nações; então virá o fim" (Mt 24:14). Ha -
verá um clímax único para a História, a parousia; e isto terá lugar depois (pós-) do milênio.
Qualquer que seja o seu ponto de vista sobre a profecia, todo cristão é otimista, pois sabe que Deus está no controle
de tudo. Mas aceitar o pós-milenismo pode torná-lo mais otimista do que tem direito de ser, pois tende a concentrar-se nas
promessas de sucesso da igreja e a desprezar as numerosas advertências acerca da tribulação vindou ra. O perigo de estar
seguro demais de que as coisas estão inevitavelmente indo para cima é que se pode tornar-se complacente e esquecer a
urgência da convocação do Senhor para sermos zelosos e para vigiar. O que, todavia, precisa ser dito em favor do pós-
milenismo é que, no seu melhor aspecto, coloca diante de nós uma visão bastante inspiradora da igreja, como deve de fato
ser, onde todos os membros deveriam compreender o desafio que é a evangelização do mundo. Houve cristãos que
pensaram ter visto a aurora da época de ouro nos dias do colonialismo do último século, quando o acesso a continen tes até
então nas trevas foi seguido por um alastrar sem precedentes de benefícios duplos (é como se pareciam então) da
civilização e do cristianismo. A influência do pós-milenismo é sensível em muitos dos hinos missionários que herdamos
da época vitoriana. A obscuridade do nosso próprio século fez-nos assumir uma visão mais realista das dificuldades da
tarefa. No entanto, não devemos desistir de alcançar um ideal, simplesmente porque não conseguimos compreendê-lo.
e. Conclusão
Cada interpretação de Apocalipse 20 pode ter um certo valor espiritual. A pergunta permanece: Qual é o valor que
realmente pretendemos encontrar nele? Tendo considerado todas as três, por qual iremos optar? É questão de voltar para
inspecionar suas raízes, e de perguntar a nós mesmos não somente qual devemos escolher, mas por quê. Em que sentido
entendemos como verdadeiros o esboço geral e as frases descritivas do capítulo 20?
No que diz respeito à descrição, a posição deste livro é que a prática utilizada no resto do Novo Testamento precisa
ser normativa; e as conclusões de um estudo detalhado (para o qual nos falta espaço) demonstrariam que a igreja
apostólica teria entendido a linguagem de Apocalipse 20 como altamente simbólica e, na sua maioria, des vinculada do
tempo. O que os primeiros cristãos pensavam ser o valor simbólico daqueles textos será sugerido durante o comentário
desta cena. No que diz respeito às partes do capítulo que eles não conside rariam desvinculadas do tempo, mas que
deveriam ser, de alguma forma, encaixadas dentro de um esquema ou seqüência de eventos, aí também o Apocalipse não
deveria permanecer por força própria como uma estrutura independente, mas deveria ser tomado como repetição em uma
linguagem altamente colorida da seqüência já suficientemente esclarecida em linguagem não-simbólica nos evangelhos e
nas epístolas. A interpretação resultante coloca-se, portanto, ao longo das linhas do amilenismo. Esperamos ter dito o
suficiente, durante esta exposição, para recomendar este ponto de vista, que não é nem fora de tom, nem anti-bíblico, e
sim um método que procura aplicar o ensino do Apocalipse às necessidades espirituais dos nossos dias.

MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE

1 PRETERISTA: crê que as profecias do Apocalipse já se cumpriram nos primeiros séculos da história da Igreja. O
Apocalipse foi escrito para atender aos aspectos históricos de uma igreja contemporânea, onde Roma oprimia o povo de
Deus.
2 HISTÓRICO: vê o Livro como descrições simbólicas da história da Igreja desde a época do Novo Testamento até o
final dos tempos. É a interpretação aceita pelos Reformadores, nações e personagens são buscados na história da Igreja,
que se enquadrem nos selos, trombetas, taças, etc. A mais importante identificação nesta interpretação é a da Besta e a do
falso profeta com o papado em seus aspectos políticos e religiosos.
3 IDEALISTA: firma-se nos princípios espirituais do Livro e não dogmatiza sobre detalhes das visões mais misteriosas.
Vê no Livro apenas símbolos dos poderes espirituais atuando no mundo. A mensagem do livro é garantia aos santos
sofredores do triunfo final de Deus, sem a predição de eventos concretos, nem no passado nem no futuro. É a descrição do
conflito cósmico espiritual entre o Reino de Deus e os poderes satânicos. A besta é o mal satânico em qualquer forma que
ele tome para oprimir a igreja.
4 FUTURISTA: entende a maior parte do livro (4-22) como profecia ainda a ser cumprida. Se baseia numa interpretação
literal do Livro. O ponto de vista futurista se subdivide em, principalmente:
a) FUTURISTA EXTREMO OU DISPENSASIONALISTA: prevê dois programas divinos diferentes: Israel e Igreja.
O tempo presente é "a era da Igreja" ou a "dispensação do Espírito Santo". Todos os selos, trombetas e taças do
Apocalipse pertencem à grande tribulação - a hora da "angústia para Jacó" (Jer. 30:7). Os capítulos 2 e 3 de Apocalipse se
referem à Igreja vista na terra, entretanto do capítulo 4 a 21 tudo se refere a Israel, num espaço de 7 anos. Os 24 anciãos
representam a Igreja arrebatada. As sete dispensações deste sistema são: 1 a o homem em inocência (Gen. 1:28-3:6); 2a o
homem sob a consciência (Gen. 4:1-8:14); 3 a o homem em autoridade sobre a terra (Gen. 8:15-11:32); 4 a o homem sob a
promessa (Gen. 12:1-Ex. 18:27); 5 a o homem sob a lei (Ex. 19:1 até a morte sacrificial de Cristo; 6 a o homem sob a graça
(Mat. 27:57-Apoc. 4:1 (final da dispensação da Igreja e início da dispensação do Reino) Apoc. 20:4-6 (fim da dispensação
do Reino); 7a o homem sob o reino pessoal de Cristo (Apoc. 21:1 e ss.).
b) FUTURISTA MODERADO: a diferença deste método e o anterior está na questão das dispensações, onde os
moderados não as aceitam necessariamente. Entende as sete cartas como endereçadas a sete igrejas históricas, que são
representativas da Igreja inteira. os selos representam as forças, na história, qualquer que seja a sua duração, pelas quais
Deus elabora seus propósitos de redenção e julgamentos na história, conduzindo-a ao fim. Os eventos que estão no
capítulo 7 estão no futuro.

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