O documento discute a doença de Parkinson, incluindo sua história, epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamentos. Aborda os principais tratamentos farmacológicos como levodopa e agonistas dopaminérgicos, assim como tratamentos multidisciplinares e cirúrgicos neuroablativos.
O documento discute a doença de Parkinson, incluindo sua história, epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamentos. Aborda os principais tratamentos farmacológicos como levodopa e agonistas dopaminérgicos, assim como tratamentos multidisciplinares e cirúrgicos neuroablativos.
O documento discute a doença de Parkinson, incluindo sua história, epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamentos. Aborda os principais tratamentos farmacológicos como levodopa e agonistas dopaminérgicos, assim como tratamentos multidisciplinares e cirúrgicos neuroablativos.
Em 1817, o médico londrino James Parkinson descreveu pela primeira vez
uma doença caracterizada pela tríade de tremor, bradicinesia e instabilidade postural. Posteriormente foi reconhecido que a rigidez muscular também era um aspecto fundamental dessa doença. Em homenagem a esse médico a doença recebeu o seu nome, sendo conhecida como Doença de Parkinson (DP). 7,9 Hoje é sabido que a DP é um transtorno neurodegenerativo, progressivo com predominância de sintomas motores, porém podem haver ainda concomitantemente alterações autonômicas, psiquiátricas e cognitivas. 7 A DP é a segunda doença neurodegenerativa mais comum no mundo, afetando em torno de 1% da população mundial. 6 Sendo, então, uma situação frequente, que provoca grande impacto na qualidade de vida dos pacientes e 3,7 acarreta elevados custos sociais, familiares e econômicos.
2.1.1 Epidemiologia
Nos EUA, a DP afeta cerca de 750.000 a 1 milhão de pessoas, sendo a
principal doença neurológica em indivíduos com mais de 65 anos. 9 Homens são mais acometidos pela DP do que as mulheres, a relação é de 3:2 e há um pico de incidência dos 60-65 anos.3,8 Segundo Barbosa et al, em 2006, no Brasil a 10
prevalência de DP em idosos era de 3,3%. 8 Várias teorias tentam explicar o
mecanismo de surgimento da doença, porém a sua etiologia ainda é incerta. 9,8
2.1.2 Etiologia
Existem diversas hipóteses para o desenvolvimento da DP, as mais descritas
e estudadas atualmente são; o estresse oxidativo pelo acúmulo de radicais livres na substância negra; a atividade aumentada dos neurotransmissores excitatórios; disfunção mitocondrial; fatores inflamatórios e gliais; neurotoxinas ambientais presentes em plantas com agrotóxicos e fatores genéticos. 8 Recentemente, tem-se valorizado a participação de genes e de mutações no mecanismo de desenvolvimento da DP. Foram identificados mais de 10 genes relacionados a DP entre eles os Parkin e o gene da alfa-sinucleína.6,8 Provavelmente, uma combinação de fatores descritos acima devam contribuir e ser determinante para o surgimento da DP.8
2.1.3 Fisiopatologia
A base fisiopatológica da DP é a morte prematura dos neurônios
dopaminérgicos pigmentados na parte compacta da substância negra. Há degeneração da substância negra, com características inclusões intraneuronais hialinas eosinofílicas chamadas Corpúsculos de Lewy. Esses neurônios dopaminérgicos se projetam da substância negra até o estriado, onde fazem sinapses com vários tipos celulares.6,9. Dentro dos Corpúsculos de Lewy, é encontrada grande quantidade da proteína chamada alfa-sinucleín, o qual é responsável pela formação desses agregados e pela disfunção mitocondrial levando ao estrese oxidativo presente na doença.10 Os núcleos da base funcionam como iniciadores e terminadores dos movimentos. O disparo inibitório de seu axônio eferente seria um “freio” permanente de movimentos indesejados, na necessidade de realizar um movimento, esse disparo inibitório é freado, e os comandos motores corticais são liberados. 6 11
No início da DP, os receptores de dopamina no estriado são supra regulados,
em resposta a diminuição da aferência dopaminérgica pela substância negra. Progressivamente, essa capacidade compensatória é superada, surgindo assim os sinais e sintomas clínicos.9 Estimasse que aproximadamente 60 a 80% dos neurônios dopaminérgicos são perdidos antes do início dos sintomas da DP. 7
2.1.4 Manifestações Clínicas
Tipicamente, os sintomas iniciais da DP são unilaterais (tremor nas mãos,
diminuição do balanço dos membros superiores e micrografia). Os sintomas se propagam e acometem ambos os lados. Posteriormente, surge a instabilidade postural.6,9 As características clínicas da DP podem ser divididas em: características primárias e secundárias. As características primárias são fundamentais para o diagnóstico da DP, são elas: bradicinesia, tremor em repouso, rigidez, instabilidade postural e resposta positiva a terapêutica com levodopa. 9 As características secundárias nem sempre estão presentes e não são fundamentais para o diagnóstico da DP. As características são: expressão facial em máscara (hipomimia facial), disfagia, hipofonia/palilalia, micrografia, postura curvada, marcha festinante, hesitação para iniciar movimentos, câimbras distônicas, disfunção autonômica, hipotensão ortostática, incontinência urinária e constipação. Alterações comportamentais também são observadas, tais como: depressão, demência, distúrbio do sono, hipoestesia e parestesias.9 No anexo 7.1 encontra-se descritos no formato de quadro os sinais e sintomas da doença 32.
2.1.5 Diagnóstico
O diagnóstico da DP é essencialmente clínico e requer o reconhecimento
inicial da sintomatologia característica e exclusão de outras doenças neurodegenerativas, as quais podem simular os mesmos sintomas, como em outras síndromes parkinsonianas.8 12
O Banco de Cérebro de Londres propõe critérios diagnósticos
internacionalmente utilizados. Segue em anexo o quadro 7.2 que demonstra quais são os critérios adotados 32.
2.2 TRATAMENTOS NA DP
2.2.1 Tratamento farmacológico
Não existe cura para a DP, o tratamento medicamentoso vigente tem como objetivo o controle sintomático da doença. Portanto, o início do tratamento deve ser guiado pelo impacto dos sintomas na vida do paciente. 3, 8, 17 Nenhuma droga existente mostrou eficácia em alterar a história natural da DP. 8 Existem uma gama de drogas antiparkinsonianas, com mecanismos de ação diversos, e a decisão de qual utilizar, em que momento e em qual dose, vai depender dos sintomas predominantes, tais como idade do paciente, presença de comorbidades, intensidade das limitações e principalmente efeitos colaterais. 8 Os fármacos utilizados atualmente são: Levodopa, associada a um inibidor de dopa-descarboxilase periférica como a carbidopa; Agonistas dopaminérgicos: ergotamínicos e não ergotamínicos; Inibidores da MAO-B; Inibidores da COMT; Anticolinérgicos; Moduladores do Glutamato; O medicamento com melhor resposta aos sintomas motores é a levodopa. No entanto, essa medicação está associada ao aparecimento de complicações motoras a longo prazo.3,18 13
2.2.1.1 Tratamento com L-Dopa (Levodopa)
Como o problema fundamental da DP é a deficiência de dopamina, o
tratamento com a levodopa é o mais eficaz em virtude da sua conversão para esse neurotransmissor.8 Existem duas enzimas principais envolvidas na degradação da levodopa, a dopadexcarboxilase periférica (DDC) e a catecol-0-metiltransferase (COMT). A inibição dessas enzimas pode reduzir a degradação dessa droga, otimizando a sua disponibilidade no cérebro. 8,15,22 Não há evidencia de neurotoxicidade causado pela levodopa ou aceleração da progressão da doença, no entanto o seu uso prolongado é associado ao desenvolvimento de flutuações motoras e discinesias, o que até justifica o retardo da sua introdução quando possível.8,23 Com o tempo, os esquemas de tratamento deixam de ser eficazes, ocorrendo várias formas de flutuações de resposta. A mais comum é o encurtamento da duração do efeito (wearing off). Outras formas são acinesia matinal ou noturna, fenômeno on-off (período sob efeito da medicação – on – alternando com períodos sem efeitos – off), bloqueio motor ou congelamento (freezing).15,16 Quando a dose já é elevada e há curto período de tempo entre elas, deve-se evitar o aumento da mesma, pois há o risco de ocorrência das discinesias, que são hipercinesias, movimentos anormais involuntários, coreiformes ou distônicos. 24,25,30
2.2.2 Tratamento multidisciplinar
O paciente com DP, tem um comprometimento progressivo de suas funções
motoras. O tratamento fisioterapêutico pode evitar e minimizar essas disfunções motoras. O objetivo é reduzir as incapacidades e as limitações geradas pela doença e melhorar a independência desse paciente, com isso há uma melhora na qualidade de vida do mesmo. Segundo Goodwin et al., 2008, exercícios terapêuticos se mostraram eficazes com relação a melhora da força muscular, o equilíbrio, a 8 marcha, redução de quedas e melhora funcional. 14
Muito importante também é a abordagem fonoaudióloga na DP, nos casos de
hipofonia e engasgos pois podem sugerir a possibilidade de disfagia e risco de aspiração. Outras áreas como terapia ocupacional, neuropsicologia e nutrição fazem parte das intervenções nesses pacientes de acordo com as necessidades individuais.8
2.2.3 Tratamento cirúrgico neuroablativo
Desde a década de 50 são conhecidos os efeitos das lesões terapêuticas
talâmicas, no controle de tremores.11 Nessa modalidade cirúrgia, é exercida uma lesão lítica na área responsável pelos sintomas. Uma lesão no tálamo (talamotomia) quando o tremor é o sintoma predominante e no globo pálido (palidotomia) quando a discinesia é o problema principal.8,19 Ao longo do tempo, foram observadas reações adversas relacionadas a esse tipo de procedimento, entre os mais comuns, hemiparesias, disestesias, hipotonias, distúrbios cognitivos graves e permanentes.11,20 Os primeiros ensaios clínicos com o uso da Estimulação Cerebral Profunda (ECP) iniciaram em 1987, e foi observado que comparativamente as técnicas neuroablativos, obtinha vantagens, no sentindo de ser reversível, menos invasiva e 21,26 com índice de reações adversas menores.
2.3 ESTIMULAÇÃO CEREBRAL PROFUNDA (ECP)
A ECP do núcleo subtalâmico consiste numa cirurgia estereotáxica, sendo o
objetivo principal uma reorganização do circuito nigro-estriatal dopaminérgico de modo que seja ajustável e reversível.13,26 Os mecanismos precisos que determinam a melhora motora e o efeito anti- discinético por parte da ECP ainda continuam desconhecidos. Os estudos mais recentes defendem que há uma neuromodulação e também um efeito de ativação, os quais contribuem para a dessincronização dos padrões anormais de 15
despolarização do núcleo subtalâmico, associado um efeito de inibição da produção
e liberação de neurotransmissores e hormônios.12,27,28 A ECP, quando indicada, tem sido considerada o padrão ouro no tratamento da DP moderada a grave. Sabe-se que a ECP, devido a estimulação continua, diminui os sintomas cardinais da doença, as discinesias associadas a levodopa e também é capaz de diminuir a dosagem dessa droga no pós-operatório. 13,29,31
2.3.1 Indicação
A seleção adequada para a ECP, é fundamental para que haja um benefício
real desse procedimento. Na literatura as recomendações mais citadas são: pacientes com critérios diagnóstico para DP; idade inferior a 70 anos; resposta aguda ao teste de levodopa superior a 33%; presença de discinesias e flutuações motoras incapacitantes apesar da terapêutica medicamentosa correta. Os doentes também devem ter pelo menos 5 anos de evolução da DP para que se considere o tratamento cirúrgico.12,29 Pacientes com outras doenças neurológicas, alterações na RMN e alterações cognitivas e/ou psiquiátricas graves serão excluídos do procedimento.12,31
2.3.2 Efeitos do pós operatório
Existem diversas formas de avaliação dos resultados da ECP. Para os
sintomas motores é usada a escala de UPDRS (Unified Parkinson’s Disease Rating Scale). Esta consiste em quadro categorias: UPDRS I: Avalia atividade mental, comportamento e humor; UPDRS II: Avalia atividades da vida diária; UPDRS III: Atividade Motora; UPDRS IV: Complicações da terapêutica. Cada categoria possui diversas sub-categorias pontuadas entre 0 e 4, onde 0 é o normal e 4 é o comprometimento severo da atividade, desta forma pontuações elevadas nessa escala significam sintomas mais graves. A categoria mais utilizada 16
no pós operatório de ECP, é a UPDRS III, em todos estudos mostraram melhoras
evidentes desses parâmetros e que essas melhoras duram um longo período de tempo. Essa melhora pode ser explicada pela própria estimulação contínua e também pelo uso de doses mais baixas de levodopa após a cirurgia. 12 Em anexos, a tabela 7.3, exemplifica a aplicação da escala UPDRS III 11.