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BIOÉTICA E PESQUISA EM

ANIMAIS
UM POUCO DA HISTÓRIA

ARISTÓTELES – 384-322 aC
VIVISSECÇÃO

• Vivissecção é dissecar
um animal vivo para
fins de estudo e
experimento.
HIPÓCRATES 450 aC

Relacionava o aspecto de
órgãos humanos com o de
animais para compreender
melhor as doenças que
atingem os homens
CLÁUDIO GALENO – 129 – 210 dC

Foi o primeiro a realizar a vivissecção


com objetivos experimentais, ou seja, ao
invés de apenas observar, ele testava
algumas variáveis.
RENÉ DESCARTES – Século XVII

Defendia a ideia de que os animais não


possuíam alma, e por isso eram
incapazes de sentir dor.
WILLIAM HARVEY - 1638

Primeira pesquisa científica que


utilizou animais.

Realizou estudos experimentais


sobre a fisiologia da circulação em
torno de 80 espécies animais.
JEREMY BENTHAN - 1789
Lança o um livro se posicionando a favor da proteção animal,
causando grande impacto na comunidade científica.
CLAUDE BERNARD - 1880

Utilizou o cachorro de estimação da sua filha


para dar aula aos seus alunos. Foi o
acontecimento para ser “ fundada a primeira
associação para a defesa dos animais
de laboratório"
LEI INGLESA ANTICRUELDADE
(BRITISH ANTICRUELTY ACT) - 1822
No Reino Unido, foi criada a primeira lei que regulamentava o
uso de animais em pesquisas:

Os animais domésticos de grande porte foram, protegidos por


lei.
PRIMEIRAS SOCIEDADES PROTETORAS DOS
ANIMAIS - SÉCULO XIX

Inglaterra Alemanha

Bélgica

Áustria França
ASSOCIAÇÃO MÉDICA AMERICANA - 1909

Primeira publicação Norte Americana sobre os aspectos éticos


da utilização de animais experimentais:
O livro estabelece os 3 “Rs” da pesquisa em
animais.
Substituição do uso de animais por métodos
REPLACE alternativos, tais como: testes in vitro, modelos
matemáticos, cultura de células e/ou tecidos,
simulação por computador, etc.

Redução do número de pesquisas realizadas em


REDUCE modelos animais, redução do número de animais
utilizados nas pesquisas e aumento na qualidade do
tratamento estatístico.

Refinamento das técnicas utilizadas visando reduzir a


REFINE dor e o sofrimento dos animais, incluindo cuidados de
analgesia e assepsia nos períodos pré, trans e pós-
operatório.
©Raymundo-Goldim/2000
PETER SINGER - 1975
 Publicou o livro ‘’Animal Liberation’’ no qual relatou as condições as quais
os animais eram submetidos na indústria de cosméticos e de alimentos.

 Dá início ao debate sobre a


utilização de animais em
pesquisas.
UNESCO- 1978
 Estabeleceu a Declaração Universal dos Direitos dos Animais -
15/10/1978
 Códigos de Bioética
 Há, fundamentalmente, três grupos:
•vivisseccionistas,
•abolicionistas e
•defensores dos 3R´s.
BRASIL -1979

PRIMEIRA LEI SOBRE USO DE ANIMAIS EM PESQUISA NO BRASIL


 A LEI FEDERAL 6.638 DE 1979, assinada pelo presidente João
Figueiredo.
 Estabelece normas para a prática didático-científica da
vivissecção de animais e determina outras providências.
 Determinava que a vivissecção não poderia ser realizada sem
o uso de anestesia e que não poderia ser efetuada em locais
não regulamentados.
 LEI NÃO FOI REGULAMENTADA E, PORTANTO, NÃO FOI
APLICADA.
BRASIL -1979 -1991
 Constituição Federal de 1988, artigo 255,
estabeleceu sanções penais e
administrativas a quem cometesse atos
cruéis contra animais. Porém, também
não foi regulamentada.

 Em 1991, o Colégio Brasileiro de


Experimentação Animal - COBEA –
publicou os Princípios Éticos na
Experimentação Animal.
BRASIL -COBEA -1991
O Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA)
divulgou 12 artigos intitulados ”Princípios Éticos na Experimentação Animal”,
procurando orientar a conduta dos profissionais envolvidos com a utilização de
animais em pesquisa

• ARTIGO I –Todas as pessoas que pratiquem a


experimentação biológica devem tomar
consciência de que o animal é dotado de
sensibilidade, de memória e que sofre sem
poder escapar à dor;
BRASIL
Lei de Crimes Ambientais - 1998
 Dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, e dá
outras providências.
 Art. 32,
 Estabelece pena a quem realizar
experiência dolorosa ou cruel em animal
vivo, ainda que com fins didáticos ou
científicos, quando existirem recursos
alternativos.
• Foi apresentada na Câmara dos Deputados em 1995 pelo deputado
Sérgio Arouca (Lei Arouca)
• Estabelece procedimentos para o uso científico de animais

• Experimentos:
• Procedimentos efetuados em animais vivos, visando à elucidação de fenômenos
fisiológicos ou patológicos, mediante técnicas específicas e preestabelecidas.
• Não se considera experimento:
• I –a profilaxia e o tratamento veterinário do animal que deles necessite;
• II – o anilhamento, a tatuagem, a marcação ou a aplicação de outro método com
finalidade de identificação do animal, desde que cause apenas dor ou aflição
momentânea ou dano passageiro;
• III – as intervenções não-experimentais relacionadas às práticas agropecuárias
LEI 11.794/2008
DEFINE QUE: As instituições e os laboratórios que utilizam animais
em suas pesquisas

1º SE CREDENCIAR AO CONSELHO NACIONAL DE CONTROLE DE EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL


(CONCEA)

 Estabelece que o CONCEA é responsável por monitorar e avaliar a introdução de técnicas


alternativas que substituam a utilização de animais em ensino e pesquisa.
 •Competências
 •Contituição
DEFINE QUE: As instituições e os laboratórios que utilizam animais
em suas pesquisas
2º Ter seus protocolos de pesquisas aprovados pela Comissão de Ética do Uso de
Animais (CEUA)

3º- Regulamentar o uso dos animais. Ex: é necessário que o laboratório tenha um
biotério (local onde as cobaias são mantidas) adequado e que não estresse o
animal
COMISSÃO DE ÉTICA DO USO DE ANIMAIS (CEUA)

• Art. 8o É condição indispensável para o credenciamento das instituições com


atividades de ensino ou pesquisa com animais a constituição prévia de Comissões de
Ética no Uso de Animais – CEUAs.

• Art. 9o As CEUAs são integradas por:


• I –médicos veterinários e biólogos;
• II – docentes e pesquisadores na área específica;
• III –1 (um) representante de sociedades protetoras de animais legalmente
estabelecidas no País, na forma do Regulamento.
DAS CONDIÇÕES DE CRIAÇÃO E USO DE ANIMAIS PARA ENSINO E
PESQUISA CIENTÍFICA
• Art. 12. A criação ou a utilização de animais para pesquisa ficam restritas,
exclusivamente, às instituições credenciadas no CONCEA.
• Art. 13. Qualquer instituição legalmente estabelecida em território nacional que crie
ou utilize animais para ensino e pesquisa deverá requerer credenciamento no
CONCEA, para uso de animais, desde que, previamente, crie a CEUA.
• Art. 14. O animal só poderá ser submetido às intervenções recomendadas nos
protocolos dos experimentos que constituem a pesquisa ou programa de
aprendizado quando, antes, durante e após o experimento, receber cuidados
especiais, conforme estabelecido pelo CONCEA.
§ 8o É vedada a reutilização do mesmo animal depois de alcançado o objetivo
principal do projeto de pesquisa.
PÓS LEI 11.794
 2009 criado o sistema de Cadastro das Instituições de Uso
Científico de Animais-CIUCA (decreto 66.899)
 O CIUCA foi modificado pela Portaria MCTIC nº 5.861, de 05.10.2017
 2010 Dispõe sobre a instalação e o funcionamento das Comissões de
Ética no Uso de Animais (CEUAs)
 2012 -Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em
atividades de ensino ou de pesquisa científica – DBCA, alterada em
2016
 2013 –Por portaria, estabelece-se a “Diretriz para prática da
eutanásia”
PÓS LEI 11.794
RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 38, DE 17 DE ABRIL DE 2018; MINISTÉRIO DA
CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES; CONCEA; DOU de
19/04/2018 (nº 75, Seção 1, pág. 16)
Dispõe sobre restrições ao uso de animais em ensino, em complemento à
Diretriz Brasileira para o Cuidado e a Utilização de Animais em Atividades de
Ensino ou de Pesquisa Científica – Diretriz Brasileira para o Cuidado e a
Utilização de Animais - DBCA

RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 39, DE 20 DE JUNHO DE 2018


Dispõe sobre restrições ao uso de animais em procedimentos classificados
com grau de invasividade 3 e 4, em complemento à Diretriz Brasileira para o
Cuidado e a Utilização de Animais em Atividades de Ensino ou de Pesquisa
Científica DBCA

Nível 3 (GI3): que causam estresse, desconforto ou dor de intensidade intermediária


Nível 4 (GI4): que causam dor de alta intensidade
E-book Normativas CONCEA

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ESPÉCIES MAIS UTILIZADAS EM
PESQUISAS COM ANIMAIS
1) Roedores - camundongos, ratos, hamster e cobaias (criados
para essa finalidade). Fsiologia é bastante semelhante à humana.
Período de gestação, de apenas 21 dias (o mesmo do
camundongo), é muito curto, o que faz com que os resultados das
experiências possam ser checadas rapidamente. As fêmeas dão
de três a seis ninhadas por
2) Peixes, anfíbios, répteis e pássaros.
2) Peixes, anfíbios, répteis e pássaros.
3) Coelhos, cabras, bois, porcos e, em menor quantidade, cachorros,
gatos e algumas espécies de macacos
QUANTIDADE DE ANIMAIS POR
EXPERIMENTO
 É exigido para cada projeto apresentar a justificativa para o
tamanho amostral a ser empregado, ou seja, o número de sujeitos
animais que pretende-se utilizar.

 Essa justificativa deve ser feita pela demonstração do cálculo


amostral ou por apresentação de trabalhos similares publicados em
revistas indexadas. A não inclusão deste requerimento implica na
reprovação automática do processo.

 DEPENDE DO EXPERIMENTO:
SUGESTÃO:
 https://epitools.ausvet.com.au/samplesize
MÉTODOS ALTERNATIVOS NO BRASIL
 2012 – Brasil, pela cooperação entre a FIOCRUZ, ANVISA e o Instituto
Nacional de Controle de Qualidade em Saúde

 RENAMA – Rede Nacional de Métodos Alternativos http://renama.org.br/

 2014 e 2016 - Resoluções Normativas do CONCEA, determinam a


substituição do uso de animais por métodos alternativos quando
disponíveis e descreve o processo de reconhecimento de métodos
alternativos validados e com aceitação regulatória internacional.
ALTERNATIVAS AO USO DE ANIMAIS
 Métodos alternativos in silico: a utilização de modelos matemáticos ou
computacionais de softwares pode predizer o potencial risco oferecido
por novas substâncias, com base na semelhança de propriedades
físico-químicas com outras substâncias já existentes e em outras
informações extraídas de bancos de dados.

 Métodos alternativos in vitro: cultivo de células, tecidos e órgãos fora


do organismo, em laboratório. Muitos destes métodos já são validados
e aceitos por órgãos regulatórios como metodologias para avaliação
de segurança de produtos.

 Sistemas microfisiológicos: conhecida pelas nomenclaturas organ-on-


a-chip, multi-organ-chip e human-on-a-chip, esta tecnologia robusta
promete maior poder preditivo e combina o cultivo de células em três
dimensões, os chamados organóides, em dispositivos microfluídicos, na
tentativa de mimetizar o organismo de forma fisiológica e assim
substituir, ou ao menos reduzir, o uso do modelo animal.
ALTERNATIVAS AO USO DE ANIMAIS
 Cultura de células e tecidos como alternativa à pesquisa com animais
As células podem ser retiradas diretamente de um animal ou ser humano
(células primárias) ou cultivo de linhas celulares imortalizadas (HeLa) (3R)

 HeLa: conheça a história das células imortais e o seu legado para a


ciência: https://kasvi.com.br/hela-celulas-imortais-legado-ciencia/

 BANCO DE CÉLULAS DO RJ: http://bcrj.org.br/pagina/bcrj


ALTERNATIVAS AO USO DE ANIMAIS
 Pele em 3D para teste de cosméticos
 Um modelo de pele humana reconstruída in vitro para testar toxicidade.
Assim, produtos podem ser testados quanto à irritação e corrosão antes
de chegar ao paciente.
ALTERNATIVAS AO USO DE ANIMAIS
 USO DE TÉCNICAS FÍSICAS E QUÍMICAS: Cromatografia a gás e
espectrometria de massa podem substituir ou reduzir o número de
animais para alguns tipos de estudos como os testes para a Vitamina D.

 SISTEMAS MICROBIOLÓGICOS:
- Ames: carcinogênese e teratogênese- Salmonella typhimurium
- Estudos de DNA recombinante - Escherichia coli
- Daphnia species pode ser usada para avaliara a influência da
temperatura nos batimentos cardíacos -difícil extrapolação para o
homem.
- Testes bacteriológicos como o de Ames, que causa alterações
genéticas, já estão bem estabelecidos e estão sendo usados para a
tomada de decisões preliminares em testes toxicológicos. Similaridade
entre o material genético nas bactérias e nas células humanas-câncer
ALTERNATIVAS AO USO DE ANIMAIS
 SISTEMAS MATEMÁTICOS SIMULAÇÃO EM COMPUTADORES

- Modelo das relações estrutura/atividade, correlação entre a estrutura


molecular e a atividade biológica na previsão de efeitos químicos
desejáveis e não desejáveis;
- Modelo molecular e o uso gráfico de computadores
- Modelo de sistemas e processos bioquímicos, fisiológicos, toxicológicos,
farmacológicos e comportamentais
- Quando se conhece a natureza e formato dos locais receptores é possível
projetar moléculas de drogas que se acoplem aos mesmos, ou saber quais
podem interagir
ALTERNATIVAS AO USO DE ANIMAIS

 PLANTAS
- Principalmente fungos-estudo de mecanismos moleculares básicos
OCDE = OECD
 OCDE corresponde à sigla em português. Em inglês, a formação é denominada
Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD).
 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é formada
por países-membros que se dedicam a promover o desenvolvimento econômico e o
bem-estar social.
 A OCDE é integrada por países-membros que se empenham em promover padrões
internacionais que permeiam questões econômicas, financeiras, comerciais, sociais e
também ambientais.
TESTES ALTERNATIVOS
 – Potencial de irritação e corrosão da pele
1) OECD TG 430 – corrosão dérmica in vitro: teste de resistência elétrica
transcutânea
2) OECD TG 431 – corrosão dérmica in vitro: teste da epiderme humana
reconstituída
3) OECD TG 435 – teste de barreira de membrana in vitro
4) OECD TG 439 – teste de irritação cutânea in vitro
 – Potencial de irritação e corrosão ocular
5) OECD TG 437 – teste de permeabilidade e opacidade de córnea bovina
6) OECD TG 438 – teste de olho isolado de galinha
7) OECD TG 460 – teste de permeação de fluoresceína
 – Potencial de fototoxicidade
8) OECD TG 432 – teste de fototoxicidade in vitro 3T3 NRU
 – Absorção cutânea
9) OECD TG 428 – método in vitro de absorção cutânea
TESTES ALTERNATIVOS
 – Potencial de sensibilização cutânea
10) OECD TG 429 – sensibilização cutânea: ensaio do linfonodo local
11) OECD TG 442A – versão não radioativa do ensaio do linfonodo local
12) OECD TG 442B – versão não radioativa do ensaio do linfonodo local
 – Toxicidade aguda
13) OECD TG 420 – toxicidade aguda oral: procedimento de doses fixas
14) OECD TG 423 – toxicidade aguda oral: classe tóxica aguda
15) OECD TG 425 – toxicidade aguda oral: procedimento “up and down”
16) OECD TG 129 – estimativa da dose inicial para teste de toxicidade
aguda oral sistêmica
 – Genotoxicidade
17) OECD TG 487 – teste do micronúcleo em célula de mamífero in vitro

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