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LER É BRINCAR

Esse trabalho consiste em um relato das práticas de leitura desenvolvidas por


mim em conjunto com os alunos de duas turmas de segundo ciclo dos anos iniciais
de ensino municipal em Porto Alegre.
Sabendo que os alunos têm pouco contato com a leitura no ambiente familiar
e demonstram pouco ou nenhum interesse pela mesma no ambiente escolar,
considerando-a enfadonha e desinteressante e que é função da escola propiciar um
ambiente favorável ao processo de aquisição da leitura, comecei a pensar em como
transformar essa realidade.
Acredito ser o professor o maior incentivador na aproximação da criança ao
livro e a leitura mas, para incutir o gosto pela leitura nas crianças, percebi que
deveria criar um ambiente lúdico, estimulante, acolhedor, com clima afetivo e de
aproximação entre todos, ter muita criatividade e ser um grande contador de
histórias.
Foi dessa percepção que surgiu a ideia do Projeto Ler é Brincar, um projeto
que tem como objetivo despertar nos alunos a vontade de ouvir, ler e contar
histórias, questionando e expressando suas ideias.
Quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara
sentimentos que têm em relação ao mundo [...] as histórias trabalham problemas
existênciais típicos da infância como medos, sentimentos de inveja, carinho,
curiosidade, dor, perda, além de ensinar infinitos assuntos (CARUSO, 2013, p. 24).
Os PCNS (1998, p. 90) orientam que o ensino da leitura deve contemplar
“elementos outros que o próprio texto escrito”, isto é, o conhecimento prévio, a
organização textual entre outros.
Procedimentos como estes,realizados ao longo do processo ensino-
aprendizagem, tendem a contribuir para que o educando torne-se um sujeito - leitor,
não reprodutor da mensagem lida, mas capaz de recontruir o significado do texto.
Trabalhar o projeto tem sido gratificante, significativo e prazeroso, uma vez
que o mesmo está despertando nos educandos o gosto pela leitura e houve uma
melhora significativa no processo de aprendizagem e nas relações interpessoais dos
alunos.
Iniciei o Projeto Ler é Brincar no início do mês de abril do corrente ano; em
um dia levei para a sala de aula uma grande caixa de presente, dentro dela haviam
alguns adereços, tais como: livros de gêneros variados, chapéu, xale, capa, saia,
colete, avental, máscaras e fantoches,coloquei-a em cima da mesa sem falar nada a
respeito da mesma, as crianças ficaram alvoroçadas e especulavam aos cochichos
entre si sobre o conteúdo da caixa enquanto eu fazia de conta que nada percebia.
Fiz a chamada dos alunos e iniciei a aula sem falar nada sobre a caixa, um
aluno então perguntou o que havia naquela caixa, falei que era uma surpresa, que
fossem imaginando o que poderia haver ali e que só saberiam ao final da aula.
Foi uma manhã e uma tarde de muita expectativa, ao final da aula sentamos
em círculo e passei a caixa de mão em mão para que sentissem o peso e
arriscassem um palpite do que havia ali dentro, depois de ouvir de todos o que
imaginavam conter a caixa, coloquei uma música de suspense e abri a caixa, a
expectativa era grande, fui tirando os objetos um a um e mostrando a todos.
Cada objeto retirado da caixa era entregue aos alunos para que olhassem e
experimentassem, foi muito divertido, como era final de aula após recolher os
objetos perguntei se podiam imaginar o que seria feito com aqueles objetos, os
alunos deram variadas respostas, pedi então que pensassem em casa para o que
serviriam e trouxessem as respostas no dia seguinte.
Na manhã e na tarde seguinte perguntei-lhes sobre o conteúdo da caixa, se
haviam descoberto o que faríamos com os objetos, surgiram muitas respostas, como
ninguém acertou, retirei da caixa o avental e o vesti, no bolso do mesmo estavam os
personagens da história “A Galinha Ruiva”, contei então a história, ao final, após
conversar sobre a história contada perguntei se agora já sabiam para o que serviria
aquela caixa e os objetos dentro dela, responderam em coro que era para contar
histórias.
Expliquei que era isso mesmo e que a partir daquele dia nós iríamos ler e
contar muitas histórias, que os objetos serviriam para a leitura e a contação e que eu
precisaria muito da ajuda de todos, ofereci um livrinho de histórias a cada criança,
comentando que eram um presente de entrada no mundo mágico e divertido da
leitura, que veriam que a leitura era tão mágica que podíamos até brincar a partir
dela.
Propus que cada um realizasse a leitura do livro que ganhou e perguntei se
alguém gostaria de ler para os colegas ou contar a história que leu, vários
levantaram a mão, como eram muitos alunos decidimos em conjunto que cada dia
um leria ou contaria a história de seu livro para os demais, combinamos que a caixa
com os objetos ficaria a disposição de todos caso quisessem utilizá-la para contar a
história lida, a escolha do aluno que realizará a contação ou leitura é feita por
sorteio, todos leram seus livros para a turma, continuamos então a atividade com
outros livros.
Combinamos que toda a sexta-feira um aluno no começo da aula fará a
leitura ou o reconto de uma história para os colegas, depois de cada história
fazemos comentários a respeito do que foi lido ou contado, algumas vezes são
produzidos desenhos das histórias e em outros momentos recontam o que ouviram
através de produção escrita, foram criados fantoches e maquetes de algumas
histórias.
Como há uma biblioteca bem equipada na escola, levei as crianças até a
mesma para que se associassem e pudessem retirar livros para continuarmos a
atividade, na segunda-feira os alunos retiram um livro para leitura, na sexta-feira é
relizado um sorteio do aluno que fará a leitura para a classe ou o reconto, antes da
devolução do livro à biblioteca.
Em maio levei para a sala uma sacola contendo um livro de história, um
caderno de desenho, lápis preto, borracha e lápis de cor e um comunicado aos pais
explicando que toda quinta- feira um aluno levaria a sacola e a devolveria na
segunda- feira seguinte, o livro deveria ser lido pelo aluno com a participação da
família e que após a leitura deveria ser criada uma atividade com o material para o
aluno apresentar aos demais, poderiam ser perguntas para responder a respeito da
história, reconto escrito ou oral, desenho ou até mesmo a encenação da história pelo
aluno.
O aluno só recebe a sacola ao final da aula para que seja aberta com a
família, a atividade será realizada durante todo ano, pois a mesma dá grande prazer
aos alunos e é de interesse de todos.
Criamos também o cantinho da leitura de informação, em uma caixa enfeitada
pelos alunos colocamos revistas e jornais que foram trazidos pelas crianças de casa
e doados por alguns professores, todas as quartas-feiras vamos ao pátio da escola,
lemos algumas reportagens de revistas ou de jornais, contamos o que lemos na roda
de conversa e na volta a sala montamos o mural de notícias da semana que é
colocado no corredor da escola para que outros alunos também possam ler.
Atualmente, além dessas atividades, ainda na quarta-feira, é escolhido por
sorteio um aluno ou dois para fazerem a leitura de uma história infantil aos alunos
das turmas de jardim dos turnos manhã e tarde.
Algumas vezes o livro de histórias é lido pelos alunos em casa e recontado
para as crianças, outras vezes os alunos são divididos em grupos, todos do grupo
leem o mesmo livro e montam um teatro para encenar aos pequenos, a caixa de
objetos é muito utilizada pelos alunos contadores nessa atividade com os pequenos.
As atividades de leitura, reconto e teatro são realizadas pelas crianças na
sala de aula do jardim.
Uma das histórias lidas pelos alunos para os colegas do jardim foi “O
sanduiche da Maricota”, depois da leitura, com a professora da turma, foi montado
na sala de aula o sanduíche para alegria da criançada. Nesse dia já havia sido
combinado previamente com a professora do jardim, que todos de minha turma
participariam da atividade.
Toda semana procuro iniciar uma de minhas aulas com uma atividade de
leitura, onde eu sou o contador da história, algumas vezes faço a leitura da história
através de um livro, outras vezes conto a história através de gravuras, máscara,
dedoches, sucatas, fantoches, ou avental de histórias e utilizo bastante a caixa de
objetos que no momento possui vários objetos trazidos de casa pelos alunos.
Após a leitura são desenvolvidos trabalhos de pintura, recorte e colagem,
desenho, produção textual, uso de dicionário, confecções de fantoches, criação dos
personagens com sucata, maquetes,máscaras, alguns jogos e brincadeiras, trava-
línguas e adivinhas o que levou os alunos a perceberem que a leitura também pode
ser diversão.
No começo do projeto todas as escolhas e organização das atividades eram
feitas por mim, pois além de sentirem vergonha os alunos não estavam habituados a
decidir e fazer suas escolhas, aos poucos tudo foi mudando, começaram a escolher
o que queriam, a se organizar sem auxílio, emitir opiniões e compartilhar todos os
momentos, respeitando o outro.
A culminância do projeto será ao final do ano letivo com uma exposição dos
trabalhos desenvolvidos pelos educandos, sacola de leitura, paineis, textos
produzidos, fantoches confeccionados e maquetes, máscaras, jogos e brinquedos.
Todos os livros e textos disponibilizados por mim aos alunos estão de acordo
com o desenvolvimento cognitivo dos mesmos, com seus interesses e sua
motivação.
Pois, como bem diz Libâneo (1999, p. 37) “quando os educandos estiverem
se interessando por uma leitura prazerosa é que o professor terá atingido seus
objetivos educacionais de literatura e leitura, estimulando a busca do saber e do
aprendizado”.
A leitura é o caminho para ampliação da percepção do mundo a nossa volta.
Quanto mais se lê, mais integrado com seu meio o indivíduo estará.
A avaliação do projeto será realizada através da participação e envolvimento
dos alunos com as atividades propostas, reconhecendo que a leitura é lúdica, dá
prazer e promove o letramento.

Palavras-chave: Práticas de Leitura; Professor e Escola; Formação do Leitor.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculare nacionais:


terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Língua Portuguesa. Brasília:
MEC. SEF, 1998.

CARUSO, Carla. Almanaque dos Sentidos. Porto Alegre: Moderna, 2013.

LIBÂNEO, José Carlos. Formação de Profissionais da Educação: visão crítica e


perspectiva de mudança. Revista Educação & Sociedade, ano XX. nº 68,1999, p.
37. Disponível em: http// www.scielo.br.scielo. Acesso em: 15 jun. 2014.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Escola Municipal Nossa Senhora do Carmo

Professora: Maria José Baltar de Azambuja

Matrícula: 121085

E-mail: mj.azambuja@bol.com.br

Telefones: 51 34073402 / 92130620

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