Você está na página 1de 2

Germes e asma

 
reduzir / aumentar

Asma é uma doença que afeta principalmente crianças e adolescentes, mas aflige todos
os que os cercam.

De forma simplificada, podemos dizer que se trata de uma enfermidade inflamatória


crônica, causada pela resposta exagerada das vias aéreas inferiores a agentes irritantes.

Toda vez que um agente irritante chega aos pequenos brônquios, a musculatura lisa que
os envolve se contrai (broncoconstricção), para bloquear a passagem. Ao mesmo tempo,
células de defesa migram para o local com a finalidade de neutralizar a agressão.

Na asma, a resposta contra o invasor é exagerada: células inflamatórias, mediadores


químicos e anticorpos liberados localmente agridem o revestimento interno dos
bronquíolos, alteram a função dos cílios que os revestem, aumentam a produção de
muco e a reatividade dos músculos responsáveis pela contração brônquica.

Desse conjunto de reações resulta broncoconstricção, dificuldade de entrada e de saída


do ar, chiado no peito, sensação de respiração “pesada” e tosse para eliminar o muco
produzido em excesso.

A genética tem papel importante na instalação da doença: quando um dos pais sofre de
asma ou de outros processos alérgicos, a probabilidade de o filho desenvolvê-la
aumenta. Se pai e mãe apresentarem essas condições, o risco aumenta ainda mais.

Já foram identificados alguns genes envolvidos no processo, mas isso não quer dizer
que seus portadores estarão fadados a desenvolvê-lo: a asma resulta da interação entre a
herança genética e a exposição continuada a fatores ambientais capazes de disparar as
crises (gatilhos).

Embora a fisiologia pulmonar e os mecanismos imunológicos responsáveis pelas crises


sejam razoavelmente conhecidos, a doença ainda é cercada de alguns mistérios
epidemiológicos:

1) A incidência aumenta à medida que as sociedades se tornam mais desenvolvidas;

2) Filhos únicos correm mais risco do que os nascidos com vários irmãos;

3) Crianças que começaram a frequentar creches ou escolas mais precocemente têm


menos asma;

4) Crianças criadas nas cidades têm mais asma do que as do campo;

5) Crianças de oito anos nascidas em partos cesarianos apresentam duas vezes mais
asma do que aquelas vindas ao mundo por via vaginal;

6) Quanto mais antibióticos recebe a criança, maior a incidência.


Para explicar esses dados epidemiológicos foi lançada a “hipótese higiênica”, baseada
na ideia de que as condições relativamente livres de germes da vida moderna romperiam
a integridade do sistema imunológico.

Milhares de espécies de bactérias, fungos e vírus colonizam o interior de nosso


organismo. Em número absoluto, há mais bactérias no intestino humano do que o total
de células do corpo inteiro. Esse conjunto de microorganismos constitui o que
chamamos hoje de microbioma.

No caso da asma, o que interessa não é a presença ou ausência de determinadas


bactérias, mas as características da comunidade inteira. Crianças que desenvolvem asma
são portadoras de microbiomas com menor biodiversidade do que o das saudáveis.

Hans Bisgaard, da Universidade de Copenhagen, estudou 400 grávidas asmáticas.


Material colhido da garganta dos bebês na quarta semana de vida mostrou que 20%
apresentavam bactérias patogênicas nesse local, mesmo sem estar doentes. Cinco anos
mais tarde, 33% dos que eram portadores desses germes patogênicos haviam
desenvolvido asma, contra apenas 10% dos demais.

Num estudo ainda em andamento na Universidade da Califórnia, duzentos bebês com


pelo menos um dos pais com asma foram divididos em dois grupos: um deles recebeu
um lactobacilo presente no iogurte, enquanto o outro recebeu placebo. Resultados ainda
preliminares mostram que seis meses de iogurte na dieta alteram a composição do
microbioma intestinal das crianças.

O que não sabemos é por que crianças expostas aos mesmos fatores de risco respondem
de forma tão diferente. Muitos filhos únicos, nascidos de cesariana, criados na cidade
em ótimas condições de higiene, tratados inadequadamente com diversos antibióticos
não desenvolvem asma.

É provável que alguns bebês tenham órgãos mais suscetíveis à colonização por
determinados germes ou tendência maior para desenvolver asma, quando esse tipo de
colonização ocorre.

Você também pode gostar