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ALFABETIZAÇÃO
Desde a época das cavernas a imagem está presente na vida das pessoas como
meio de comunicação. Hoje vivemos na era da cultura visual, onde imagens substituem
palavras. A intenção não é diferente das mesmas vividas pelos homens da caverna – imagem
também comunica a idéia -, porém temos muito mais contato com imagens, pois além da
televisão estar muito presente em nossos lares, contamos também com jornais, revistas,
multimeios, e imagens que encontramos nas ruas, os rótulos de produtos industrializados, nas
obras de artes, entre outros. Essa diversidade de imagens se transforma em experiências
culturais que envolvem a oralidade, a escrita e a leitura, as quais contribuirão para a
construção do conhecimento no processo de alfabetização.
Nossos olhos estão o tempo todo recebendo informações por meio de imagens. O
que contribui para a necessidade da alfabetização visual, pois, em alguns casos não é
necessário que haja a escrita para que possamos nos comunicar, mas torna-se imprescindível
que sejamos capazes de ler e interpretar a mensagem da imagem para haver comunicação.
Essa inquietação nos despertou o interesse de investigar e analisar junto a alguns
desses professores, a ocorrência e a maneira como a leitura de imagem acontece no processo
de alfabetização. Faz se necessário também à interação sobre o conhecimento que os
professores apresentam sobre a relevância da mesma no processo de alfabetização e a
importância que dispensam a essa prática.
Como formadoras de cursos para professores da REME - Rede Municipal de
Educação nos foi possível constatar durante o acompanhamento a esses professores que não
utilizam em suas aulas a imagem como fonte de leitura, nem mesmo desenvolvem atividades
relacionadas a Artes ou junto com o professor de Artes.
1
Professora Graduada em Artes, Especialista em Alfabetização e Técnica do Centro de Formação de
Formadores – CEFOR, da Secretaria Municipal de Educação.
2
Professora Graduada em Pedagogia, Especialista em Alfabetização e Técnica do Centro de Formação de
Formadores – CEFOR, da Secretaria Municipal de Educação.
Talvez um dos motivos pelo qual a leitura de imagem não aconteça seja pela falta
de conhecimento da Arte e da possibilidade de saber alfabetizar visualmente, por parte de
alguns professores. Nos propomos a pesquisar a qualidade com que aplicam a leitura de
imagem no processo de alfabetização, faz-se necessário investigar e perguntar por que a
alfabetização se limita aos significados que as palavras proporcionam, enquanto os alunos
estão em contato permanente com as imagens, seja no ambiente escolar ou além dos muros da
escola.
Deste modo, defendemos a educação do olhar dos alunos desde os primeiros anos
da escolaridade, enfocando no presente texto o processo de alfabetização de crianças de seis
anos de idade
Possibilitando assim, ler imagens e perceber muito além do fascínio das cores e
das formas a compreensão da imagem em seu contexto e estruturando o pensamento crítico e
a reconstrução de conhecimentos, “a opção realmente libertadora recusa, de um lado uma
prática manipuladora, de outro uma prática espontaneísta. A manipulação é castradora, por
isso autoritária. O espontaneísmo é licencioso por isso irresponsável” (Freire, 1995 apud Pilar,
2003, p. 81). Nesse sentido o professor alfabetizador não ensina os alunos a ler imagens de
uma maneira mais ou menos correta, não existe uma receita para ler imagens, como não há
uma receita pronta para alfabetizar.
O professor, numa visão contemporânea da leitura de imagem, busca possibilitar
atividades de leitura em que os alunos desenvolvam e construam seus conhecimentos a partir
de estratégias bem elaboradas de percepção, observação, investigação, pesquisa e reeducação
do olhar. Para ler com atribuição de sentido e construção de conhecimento, em função da
aquisição da leitura não só de palavras, mas de sentidos atribuídos a imagens e contextos, para
que cada aluno desenvolva seu próprio processo de leitura de imagem e alfabetize-se tanto
visual quanto verbal, simultaneamente. Sendo assim, o professor não será espontaneísta nem
autoritário como afirma Freire (1995), será um propositor que expõe o aluno as imagens e as
problematiza na intenção de que os alunos reflitam e compreendam o que olham.
Uma interpretação que não é só verbal ou visual, mas sim une e vincula esses dois
processos. Processos que vão além dos objetos, pois com os objetos artísticos ou
produtos culturais com os quais se relaciona. O que se persegue é o ensino do
estabelecimento de conexões entre as produções culturais e a compreensão que cada
pessoa, os diferentes grupos (culturais, sociais, etc.) elaboram. Trata-se, em suma,
de ir além de “o quê” (são as coisas, as experiências, as versões) e começar-se a
estabelecer os “porquês” dessas representações, o que as tornou possíveis, aquilo
que mostram e o que excluem, os valores que as consagram, etc. (HERNÁNDES,
2000, p. 49).
Nota-se que os alunos, em seu meio social e cultural já desenvolveram sua própria
construção de espaço antes mesmo de entrar para a escola. Durante este período o aluno já
construiu alguns conceitos sobre imagens, principalmente por meio da mídia (desenhos
animados, filmes, propagandas, oudoors, internet, etc) bem como a oferta dessas imagens
pode interferir no processo de criação.
Instigar os alunos à reflexão sobre as imagens que lhes são apresentadas é uma
tarefa pertinente aos professores, muitas vezes tais imagens serão responsáveis pela aceitação
de modelos estereotipados de representação que eles começam a considerar corretos e ideais,
e passam a copiá-los seguindo o padrão estabelecido pela sociedade. Alguns desses alunos
podem apresentar resistência em desenhar e pintar, produzir, fruir e refletir sobre a Arte e a
imagem.
Os educadores, mesmo aqueles que não são especialistas da área de Arte, podem e
devem contribuir para que o paradigma do belo e do feio seja questionado, para os alunos
perceberem e compreenderem o papel da Arte na construção e reconstrução do conhecimento.
Esta atitude possibilita uma mudança no comportamento infantil que já pode estar marcado
por estereótipos, tais como: os desenhos copiados que representam sempre a casinha, o
coqueiro, a árvore e o “homem palito”, como nos exemplos a seguir:
Buscar a liberdade de expressão permite que o desenho e a pintura também
colaborem para o processo de aquisição da leitura e da escrita, pois de acordo com (Derdyk,
2004, p. 99), “Existem estudos que estabelecem uma correspondência e uma similaridade
operacional e significativa entre o desenho infantil e a gênese da escrita”.
Muitos alunos utilizam os estereótipos para fortalecer a idéia do que estão
desenhando na tentativa de convencer as pessoas que observam os desenhos do significado
que desejam transmitir. O aluno deixa de expressar-se livremente para atender a uma
solicitação dentro de um padrão previamente estabelecido ao longo da escolaridade, muitas
vezes por medo de ser reprovado, por insegurança, por pensar que o desenho do estereótipo é
normalmente aceito, gerando acomodação e limitação. Isto, ao mesmo tempo desencoraja e
inibe o desenvolvimento gráfico da criança, que passa a se preocupar apenas em “figurar”.
Para ilustrar estes estereótipos utilizamos uma citação do livro Pequeno Príncipe:
Dizia o livro: "As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não
podem mover-se e dormem os seis meses da digestão."
Refleti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu
primeiro desenho. Meu desenho número 1 era assim:
Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes
fazia medo.
Respondera-me: "Por que é que um chapéu faria medo?"
Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia
digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas
grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações. Meu
desenho número 2 era assim:
As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas
ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à
gramática.
Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora
desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número
2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as
crianças, estar toda hora explicando (SAINT-EXUPÉRY, 2006, p.9-10)
Uma das primeiras referências da existência humana na Terra aparece nas imagens
desenhadas nas cavernas, que hoje chamamos de imagens artísticas. Neste sentido,
pode-se dizer que a Arte está presente no mundo desde que o homem é homem
(BUORO, 2003, p. 19).
3
Autopoiese (grego auto próprio, poiesis criação) é como os biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e
Humberto Maturana chamam a capacidade dos seres vivos produzirem a si próprios. Cunhado na década de 70, é
a fusão de dois termos: “auto” que refere-se ao próprio objeto e “poiese” que diz respeito à reprodução/criação.
Para elucidar melhor o sentido da leitura de imagem no processo de alfabetização
e para compreender melhor o sentido de alguns conceitos, devido à variedade dos mesmos,
cabe neste texto uma breve discussão sobre os termos utilizados tais como: Proposta
Triangular4, leitura de imagem, leitura, releitura5 e fruição.
Os PCNs (1997), para melhor explicar a Proposta Triangular, citada
anteriormente, utilizam termos como fruição, reflexão e produção em arte, como três eixos
norteadores. No próprio documento o termo fruição muitas vezes é substituído por
“apreciação significativa”, para referir-se à ações como: observação, apreciação, deleite,
percepção, identificação de elementos da linguagem visual entre outros que poderiam ser
citados.
A reflexão está vinculada ao processo de contextualização da imagem com a
cultura, a história, a história da arte, a sociedade e a influência que exerce sobre os povos e
como é possível que exista por si só. Já a produção não está vinculada a obrigatoriedade,
muitas estratégias propõe a produção de imagens pelo aluno, mas, não é sempre que ela
acontece, porém é o momento em que o aluno realiza a ação, experimenta, cria, desconstrói e
reconstrói seu conhecimento em arte.
Quanto à questão que envolve a opção pelo termo “leitura de imagem” em lugar de
“fruição”, como aparece nos PCNs e RCN (Referencial Curricular Nacional), o
Novo Dicionário Aurélio (Ferreira, 1999), informa pontualmente que o termo
“fruição”, tal como aparece no contexto dos PCNs e RCN, origina-se “do latim
fruition” e significa “ação ou efeito de fruir; gozo, posse, usofruto”. O verbo de ação
“fruir” (idem), por sua vez, origina-se da forma latina “fruere” e significa “estar na
posse de; possuir, gozar, desfrutar”. A mesma fonte revela que o substantivo
“leitura” (idem) origina-se “do latim medieval lecture”, significa “ato ou efeito de
ler; arte ou modo de interpretar e fixar um texto de autor, segundo determinado
critério”. Assim, a opção pela palavra leitura faz sentido, posto que pretende
focalizar o processo de construção do leitor com base na ação desse mesmo leitor
como decifrados do texto de um autor [...] reforçando contudo [...] que, ao decifrar a
mensagem do autor, estabelece relações significativas com a obra de arte pela vias
da operação da leitura (BUORO, 2003, p.30).
4
Proposta triangular “Proposta introduzida no Brasil por Ana Mae Barbosa (1991) no final da década de 80,
com a intenção de organizar o ensino de das Artes Visuais no Brasil, enfatizando três eixos norteadores: a leitura
da obra de Arte, a contextualização histórica e o fazer artístico do aluno, ou como sugerem os Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino de Arte (PCN-Arte) produção do aluno, a fruição das obras e a reflexão”.
5
Releitura segundo Heleny Galati * (MASP) "a diferença entre Releitura e cópia é a seguinte: na cópia você
reproduz fielmente (ou pelo menos tenta) o quadro do artista. É isso que os falsificadores fazem. Neste caso você
está apenas preocupado com o poder de observação e capacidade para copiar que seu aluno tem. Já a Releitura
implica em produzir aquilo que se entendeu da obra, sem preocupações com semelhanças. É o sentimento se
aliando à observação na produção de um trabalho."
A este respeito, pode-se afirmar que o conceito de leitura de imagem pode ser
aplicado ao processo de decodificação e compreensão de expressões simbólicas e formais que
envolvem e ao mesmo tempo desenvolvem componentes sensoriais, emocionais, intelectuais,
neurológicos, tanto quanto econômicos ou culturais. É poder ampliar as possibilidades de
leitura da realidade social de uma outra linguagem tão encantadora como a das Artes Visuais
e sua expressão.
O termo leitura de imagem começou a ser usado a partir da década de 80, partindo
da Proposta Triangular. Segundo Rossi (2003), nem tudo o que lemos está escrito, podemos
ler mapas, passos de dança, imagens, relógios, notas musicais. A leitura também seria
possível no sentido metafórico e abstrato, tais como: ler o céu, as estrelas, a expressão no
rosto humano, os gestos, as condições climáticas e até as intenções, podendo acrescentar a
esta lista as obras de arte sem qualquer constrangimento. Decodificar signos e interpretar
contextos, dar sentido ao que se olha, se vê.
Assim, o termo leitura pode ser confundido com apreciação, fruição, percepção,
recepção, acesso, apreensão, compreensão, atribuição de sentido. Todos servem para
denotar o processo que o leitor vive na relação com a obra/imagem, seja na
interatividade, na pintura, no museu ou na sala de aula, [...] (ROSSI, 2003, p. 19).
IV. ALFABETIZAÇÃO
6
“Tecnologia em seu sentido mais amplo, como um conjunto de métodos, processos, instrumentos e técnicas”.
a intenção de atender a esse objetivo principal da alfabetização vários métodos foram se
alternando, ora pelo fônico7, ora pelo silábico8, ora pelo alfabético9, entre outros, porém
nessas ações o objetivo era a aprendizagem do sistema alfabético e ortográfico da escrita. Em
todos os casos, eram usados textos artificialmente construídos, para servir a decomposição em
palavras, sílabas e fonemas.
Percebe-se que até os anos 80, no Brasil, a alfabetização ficava entre o método
sintético10 e o analítico11. Esses métodos eram aplicados com o cuidado para que a criança
desenvolvesse sua aprendizagem do sistema de escrita por meio de estímulos externos,
selecionados ou construídos artificialmente com o objetivo de dominar o sistema de leitura e
escrita. Aprendendo primeiro a ler e escrever palavras para depois conseguir ler textos, livros
e produzir textos próprios.
A partir dos anos 80, com a contribuição de Ferreiro ( 2005), sob a denominação
de “construtivismo” surgem mudanças significativas nos pressupostos para a alfabetização, o
que alterou profundamente esse conceito. Bem como destaca Ferreiro (2005, p. 19), “Um dos
objetivos sintomaticamente ausente dos programas de alfabetização de crianças é o de
compreender as funções da língua escrita na sociedade”. Pensando nessa afirmação, pode-se
dizer que as crianças têm diferentes concepções sobre a função da língua escrita, pois,
crianças que vivem num ambiente onde os adultos alfabetizados utilizam a escrita como, por
exemplo, para fazer listas de supermercado, deixar bilhetes para os familiares, escrever
convites, cartas, e-mail, comprovam a necessidade e utilização da linguagem escrita.
No entanto, crianças que não convivem com adultos letrados, onde o nível de
alfabetização é nulo ou baixo, o acesso a essas funções da escrita é restrito, assim, sentem
maiores dificuldades para reconhecer as funções da língua escrita e sua utilização.
Com base em experiências inovadoras, a alfabetização apresenta alguns objetivos
para melhorar a qualidade desse processo. Destacam-se abaixo alguns objetivos para a
alfabetização:
7
“Método Fônico pode ser classificado como sintético e tem como característica principal ensinar as relações
entre letra/som, para que se relacione a palavra falada com a escrita”.
8
“Método Silábico outro método sintético, vai das partes para o todo, é o método da silabação, a principal
unidade a ser analisada é a sílaba”.
9
“Método Alfabético é o método sintético mais antigo, utilizado em massa até o início do século XX, Consistia
em apresentar partes mínimas da escrita, as letras do alfabeto, que, ao se juntarem umas às outras, formavam
sílabas ou partes que dariam origem às palavras”.
10
“Método Sintético baseia-se num mesmo pressuposto: o de que a compreensão do sistema de escrita se faz
sintetizando/juntando unidades menores, que são analisadas para estabelecer a relação entre a fala e a sua
representação escrita”.
11
“Método Analítico parte da síntese para a análise, do todo para as partes. Métodos globais que trabalham com
diversos pressupostos, que podem ser verificados nas discussões sobre sua utilização, desde Comênio até a
atualidade”.
- Compreensão do modo de apresentação da linguagem que corresponde ao sistema
alfabético de escrita;
- Compreensão das funções sociais da escrita, que determinam diferenças na,
organização da língua escrita e, portanto, geram diferentes expectativas a respeito do
que se pode encontrar por escrito nos múltiplos objetos sociais que são portadores de
escrita ( livros diversos, jornais, cartas, embalagens de produtos comestíveis ou
medicamentos, cartazes na rua, etc.);
- Leitura compreensiva de textos que correspondem a diferentes registros de língua
escrita (textos narrativos, informativos, jornalísticos, instruções, cartas, recados,
listas etc.) enfatizando a leitura silenciosa mais que a oralidade convencional;
- produção de textos respeitando os modos de organização da língua escrita que
correspondem a esses diferentes registros;
- atitude de curiosidade e falta de medo diante da língua escrita. (FERREIRO, 2005,
p. 23 e 24)
12
“Quando afirmam que os alunos apresentam problemas referentes à saúde, à linguagem ou questões de ordem
psicológica”.
13
“Problemas quanto à formação do professor que pode ser inadequada ou por ter incompetência profissional”.
14
“Problemas familiares ou socioculturais”.
Assim, para atender as necessidades e características da sociedade atual, é
necessário que as pessoas sejam alfabetizadas e letradas; no entanto é possível encontrar
pessoas alfabetizadas não letradas e pessoas com um determinado nível de letramento que não
são alfabetizadas. Vejamos um trecho do texto de Soares (2005), extraído do livro
“Letramento: um tema em três gêneros”:
“Um adulto pode ser analfabeto e letrado: não sabe ler nem escrever, mas usa a escrita: pede a
alguém que escreva por ele, dita uma carta, por exemplo (e é interessante que, quando dita,
usa as convenções e estruturas lingüísticas próprias da linguagem escrita, evidenciando que
conhece as particularidades da linguagem escrita) – não sabe escrever, mas conhece as
funções da escrita, usa-as, lançando mão de um “instrumento” que é o alfabetizado (que
funciona como uma máquina de escrever...); pede a alguém que leia para ele a carta que
recebeu, ou uma notícia de jornal, ou uma placa na rua, ou a indicação do roteiro de um
ônibus – não sabe ler, mas conhece as funções da escrita, e usa-a, lançando mão do
alfabetizado. É analfabeto, mas é, de certa forma, letrado, ou tem um certo nível de
letramento.
Uma criança pode ainda não ser alfabetizada, mas ser letrada: uma criança que vive num
contexto de letramento, que vê adultos lendo e escrevendo, cultiva e exerce práticas de leitura
e de escrita: toma o livro e finge que está lendo (e aqui de novo é interessante observar que,
quando finge ler, usa as convenções e estruturas lingüísticas próprias da narrativa escrita),
toma papel e lápis e “escreve” uma carta, uma história. Ainda não aprendeu a ler e escrever,
mas é, de certa forma, letrada, tem já um certo nível de letramento.
Uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada: sabe ler e escrever, mas não cultiva nem
exerce práticas de leitura e de escrita, não lê livros, jornais, revistas, ou não é capaz de
interpretar um texto lido; tem dificuldades para escrever uma carta, até um telegrama – é
alfabetizada, mas não letrada”. (SOARES, 2005, p.47).
VI. A PESQUISA
Após a coleta de dados foram obtidos alguns resultados, apresentados a seguir nos
gráficos 1 a 11. A análise foi realizada por meio da porcentagem relativa por ter como
instrumento de pesquisa um questionário aberto o qual possibilitou em algumas perguntas
mais de uma resposta.
100% Sim
Atualmente o homem frui imagens com olhar intrigante, pois tudo o que é
oferecido em termos de imagem pode ser aproveitado, mas não se sabe como é esse
aproveitamento.
Tendo em vista que a imagem está presente na vida das pessoas o tempo todo é
coerente que a resposta dada pelos professores tenha sido 100% positiva. De acordo com
Buoro (2003), “A Arte, portanto, se faz presente, desde as primeiras manifestações de que se
tem conhecimento, como linguagem, produto da relação homem/mundo”. É necessário
perceber que a imagem se faz presente no cotidiano escolar por meio da mídia, dos livros, das
ilustrações, dos próprios objetos, etc.
O fato da imagem estar presente no cotidiano escolar é real, isso não significa que
a partir dessa constatação os professores sejam os responsáveis por apresentar tais imagens
aos alunos ou façam uso das mesmas no processo de alfabetização. Segue abaixo a análise da
segunda parte da pergunta.
38,46% Cartazes
76,92%
Livros
100% Sim
Através de
questionamentos
observando imagens
23,07
7,69
Interpretações
diversificadas através
de palestras e
oralidade
Analisando o dado que mais chama a atenção nas respostas supracitadas é o fato
de alguns professores afirmarem que realizam a leitura de imagem a partir de palestras com
7,69%. Prática essa que não é conhecida em atividades de leitura de imagem, não é possível
observar, analisar, fruir, interpretar imagens na palestra porque a mesma ocorre no campo da
oralidade, considerando ainda que a palestra não é uma atividade permanente no cotidiano
escolar.
Entende-se também que é difícil realizar leitura de imagem somente por meio
da linguagem oral. Para trabalhar a imagem é necessário investir no campo visual e na
observação, principalmente tratando-se de alunos alfabetizandos que necessitam de
experimentação e vivência, ficar na oralidade se torna muito abstrato e sem sentido para eles.
Como a leitura de imagem não é uma prática freqüente no cotidiano escolar há
a necessidade de um estudo e planejamento para preparação do professor. Conseqüentemente
o aluno terá melhor entendimento e desenvolvimento da leitura de imagem que não vem a ser
simplesmente mais um conteúdo entre tantos, mas é um conteúdo em si, traz uma linguagem
própria, contribui no processo de alfabetização visual para o reconhecimento de elementos
gráficos e na interpretação da mensagem que ela transmite.
Se decodificar um texto é entrar em sua trama, na sua textura, no seu tecido, ler um
texto pictórico é adentrar em suas formas, linhas, cores, volumes e particularidades,
na tentativa de desvelar um código milenar que muitas vezes não está explicito, nos
é desconhecido e por vezes, nos assusta. Por ser um sistema simbólico, de
representação, a subjetividade contida na arte proporciona uma infinidade de leituras
e interpretações que dependem das informações do leitor, das suas experiências
anteriores, das suas vivências, lembranças, imaginação, enfim, do seu repertório de
saberes (KEHRWALD, 2006, p.24).
Despertar curiosidade,
criatividade, fantasia,
7,69%
imaginação e
desenvolver desenho e
escrita
Desenvolver leitura de
15,38% mundo e compreensão
Estudos recentes têm demonstrado que as crianças desde muito pequenas formulam
hipóteses sobre as imagens da arte na tentativa de compreendê-las. As análises de
Parsons (1992) nos permitem entender melhor o que as crianças pensam sobre a arte
e deixam pistas de como podemos ajudá-las nesta leitura/conversa. Mas como se faz
na prática a leitura de uma imagem? Pode-se transpor esse processo para a leitura de
uma imagem que não seja da arte? (KEHRWALD, 2006, p.25).
Desenvolver
letramento,
alfabetização,
7,69% observação e
ampliar a
Criar, descobrir o
15,38% mundo, desenvolver
compreensão e
imaginação
Todo ensino que se baseia na cópia não é ensino inteligente. O aprendizado que
depende basicamente do desempenho eficiente da capacidade de copiar é um ensino
que não considera a criança como um ser cognitivo. A criança se torna um depósito
de informação sem reflexão, exercício do poder e da dominação. Fornecer um
“modelo” para ser copiado exclui a possibilidade de a criança selecionar seus
interesses e necessidades reais. No ato da seleção está inclusa uma leitura da
realidade, que, em si, é um exercício reflexivo e criativo (DERDYK, 2004, p. 107).
Pergunta 5 - Você concorda com a afirmação de que nossos alunos vivem na era da cultura
visual?
Gráfico 7 - Aluno e a era da cultura visual.
100% Sim
A cultura visual se faz presente no cotidiano por meio de imagens que podem ser
ilustrações de livros, propagandas, fotografias, outdoors, revistas, jornais e entre outros a
tecnologia. Este é um caminho pelo qual o ser humano consegue compreender o contexto
histórico de outras décadas e da atualidade, construindo a própria história, pois está inserido
nesta cultura por meio da mídia.
Parafraseando Hernández (2006), é valido refletir sobre as imagens e os códigos
produzidos pelos seres humanos, pois a utilização dos mesmos tanto na questão da imagem
quanto dos objetos como na interpretação possibilita a participação ativa de cada indivíduo na
construção de sua própria história. Estamos numa época que parte de um discurso moral
baseado na beleza, na ordem e no equilíbrio e no que transcende da cultura da imagem e da
expressão artística. Hoje vivemos diante de situações em que se torna cada vez mais
necessário refletir sobre estudos que possam contribuir para a caracterização de uma nova
cultura, pautados em uma ética que possibilite agir de maneira não acomodada em relação ao
pensamento de que a cultura visual apresenta-se cada vez mais frenética e sem pausa, é uma
constante na vida das pessoas.
Ver e transmitir
46,15% através da visão
23,07% Representação da
realidade por meio da
imagem
100% Sim
Dos professores, 100% afirmam que proporcionam aos seus alunos o contato com
imagens considerando que nem todos têm acesso a todos os meios da cultura visual.
Observa-se que os alunos da escola pública, muitas vezes têm um aceso restrito ao
computador e a outros meios tecnológicos, na maioria das vezes seu único contato com o
computador é na escola, também se entende que em muitas residências a leitura não é
praticada e faltam livros, revistas, gibis e outros suportes para o acesso ao que chamamos de
cultura visual. Os alunos que tem acesso a materiais de leitura desde muito cedo, apresentam
maior domínio sobre eles, reconhecem suas características como capa, início, meio, fim, de
um livro. Pintam e utilizam outros materiais diversificados, expressando-se desde pequenos,
desenvolvendo a confiança.
Não se pode negar a mídia que invade essas residências por meio da televisão, que
está presente em quase todos os lares brasileiros. Assim quando professores afirmam que
oportunizam o acesso a cultura visual estão se referindo a apresentação desses materiais a que
têm maior facilidade e acesso no ambiente escolar.
Outro fator a ser observado, é o de que não basta ter materiais impressos ou
tecnológicos à disposição dos alunos na escola, se os mesmos não receberem uma utilização
adequada, ter acesso significa também compreender e utilizar os materiais.
A escola contribui na ampliação do conhecimento dos alunos em relação à cultura
visual e à cultura de uma maneira geral, quando os professores se comprometem com cultura
e conhecimento para ampliação do repertório dos alunos, assim cabe a todos os envolvidos no
processo de alfabetização envolver-se com a cultura visual.
Segue abaixo a segunda parte da pergunta.
Gráfico 10 – Contato com imagens aos alunos que não tem acesso à cultura visual.
Meios de
61,53% multimídia
38,46%
Materiais
impressos
Questionados sobre como oferecem aos alunos o acesso à cultura visual 38,46%
dos professores responderem que oferecem materiais impressos aos alunos.
Já os meios de multimídia representam 61,54% do contato com as imagens que os
professores oferecem aos alunos. O fato que mais chama a atenção na análise deste gráfico é a
quantidade representada pelos meios de multimídia que se sobressaem aos materiais
impressos sendo que a escola, em sua realidade, apresenta muito mais materiais impressos do
que a disponibilidade de multimídia, pelos acompanhamentos realizados nas escolas sabe-se
que a sala de informática é dividida com todas as turmas, sendo assim uma turma tem direito
a aulas semanais, quinzenais, mensais ou bimestrais conforme a quantidade de turmas da
escola em relação ao número de salas de informática. Os outros meios de multimídia também
são divididos entre toda a escola, esta realidade confirma a contradição das respostas dos
professores para esta pergunta.
Para Hernández (1998), a escola precisa ser repensada para poder atender novas
exigências do mundo contemporâneo - valores culturais, referências estéticas e artísticas,
relações entre os indivíduos, as novas tecnologias, a mídia e a educação em geral - pois se
torna urgente uma contextualização no tocante ao que se pretende no processo de ensino-
aprendizagem relacionando a imagem e a realidade.
Entende-se que esta proposta deve considerar que a cultura visual pode ser vista
como uma contribuição com significado para viabilizar uma cidadania cultural em que os
sujeitos sejam críticos, conhecedores, fruidores, leitores e dominadores dos instrumentos
necessários para compreenderem essa cultura visual, seja dentro ou fora da escola.
Despertar interesse,
explorar conceitos e
conhecimentos,
7,69% desenvolver
observação
CONCLUSÃO
BARBOSA, Ana Amália Tavares Bastos. Releitura, citação, apropriação ou o que? In:
BARBOSA, Ana Mae (Org.). Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais.
São Paulo: Cortez, 2005.
_______Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002.
FERREIRO, Emilia. Com todas as letras. 13ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.
KEHRWALD, Isabel Petry. Ler e escrever em artes visuais. In: NEVES, Iara Conceição
Bitencourt et al. (Orgs.). Ler e escrever compromisso de todas as áreas. 7ª ed. Porto
Alegre: Editora UFRGS, 2006.
MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do
Ensino da Arte A Língua do Mundo: Poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.
ROSSI, Maria Helena Wagner. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto Alegre:
Mediação, 2003.
______. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, MG.: Ed. Autênticatica,
2005.
http://teclec.psico.ufrgs.br/mec-nte/Projetos/releitura/inspira.htm#obs1.Acessado em 13/08/08