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Helga Lana ajuizou ação de obrigação de fazer com pedido de reparação por danos
morais e materiais em face do município do Rio de Janeiro, alegando que em
fevereiro de 2015, foi nomeada para ocupar cargo em comissão, oportunidade
em que passou a exercer as funções de administradora de Posto de Saúde, recebendo
por isso a remuneração mensal de R$ 1.800,00.
A autora aduz ter havido violação do direito social de proteção à maternidade, cujo
espeque pode ser encontrado no art. 6º da Constituição Federal. Observa-se, ainda, a
violação do princípio da dignidade da pessoa humana. O correto seria o
reconhecimento de sua estabilidade, porque, ainda que o contrato fosse
temporário, a dispensa somente ocorreu por causa da sua gravidez.
Existe na conduta do réu, pois, uma tentativa de burlar o ordenamento jurídico, haja
vista que o verdadeiro motivo, a sua gravidez, não pode fundamentar o ato de
exoneração, independentemente de o vínculo com a Administração ser precário ou
não.
Pede, ainda, que seja anulado o ato administrativo que ensejou a sua exoneração,
com a consequente volta às funções de administração que exercia no Posto de
Saúde e a condenação em honorários advocatícios.
No mérito, o réu alega que, em se tratando de cargo comissionado, não pode subsistir
nenhum argumento favorável a uma possível estabilidade. Nesses casos, é pacífico
em nossa jurisprudência que toda exoneração é ad nutum, quer dizer, independe de
motivação, e, no caso, o fato de o período de gravidez da autora ter coincidido com o
ato administrativo em questão é irrelevante. Logo, a autora não tem direito às
indenizações e tampouco à estabilidade que almeja. Dessa forma, o réu requer a total
improcedência dos pedidos.
A petição inicial, de fls. 02-15, veio instruída com os documentos de fls. 16-27.
Elabore a sentença.
Petição Inicial:
Contestação
• Questões Prévias: Incompetência absoluta do Juízo uma vez que alega que
a matéria deve ser discutida na Justiça do Trabalho.
Legislação Aplicável:
- Artigo 10, II, “b” do ADCT – (Art. 10. Até que seja promulgada a lei
complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição: (...) II - fica vedada a
dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...); b) da empregada gestante, desde a
confirmação da gravidez até cinco meses após o parto).
RELATÓRIO
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FUNDAMENTAÇÃO
(...).
Percebe-se, pois, que o cargo em comissão deverá ser ocupado por pessoa de
confiança da autoridade competente.
(...);
(...)
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV,
VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo
a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo
o exigir.
Por fim, cumpre informar que o prazo para o oferecimento da presente demanda é
prescricional e quinquenal.
Questão Prévia.
A parte ré aduziu questão prévia relacionada à competência funcional do juízo
estadual para conhecer e julgar a demanda posta em juízo.
MÉRITO
No mérito, cabe destacar que o cargo em comissão, espécie do gênero cargo público,
se destina exclusivamente às atribuições de direção, chefia e assessoramento.
Percebe-se, pois, que como regra geral a nomeação se dá a título precário, não tendo
o seu ocupante, como regra geral, estabilidade no cargo em comissão, essa reservada
somente aos cargos de caráter efetivo, preenchidos após aprovação em
concurso público de provas e/ou provas e títulos.
No entanto, o artigo 39, §3º da Constituição da República, determina a aplicação aos
ocupantes de cargo público de algumas das garantias previstas no artigo 7º do mesmo
diploma.
Nesse ponto, restou demonstrado acima, diferente do afirmado pela parte ré, que a
gestante ocupante de cargo em comissão possui direito à estabilidade provisória.
Dessa forma, não se pode mais reintegrá-la ao cargo em comissão, pois como visto
linhas acima, a nomeação para se ocupar o cargo em comissão depende do juízo da
autoridade competente, sendo tal cargo de livre nomeação e exoneração, cabendo
nessa fase discutir se a parte autora faz jus ou não as verbas pleiteadas.
Inicialmente convém destacar que o pedido em questão é ilíquido e, por isso, em caso
de eventual procedência, deverá ser apurado em sede de liquidação de sentença.
Além disso, a autora não delimitou no tempo o quantum pretendido, isto é, a data
final para o recebimento das remunerações pretendidas, o que deverá ser feito por
esse juízo.
Feitas tais considerações, deve ser ressaltado que o pedido da parte autora encontra
fundamento diretamente no texto constitucional.
Não se pode autorizar que a autora seja exonerada do seu cargo durante o período de
estabilidade provisória e nada receba.
Nesse ponto, alega a parte autora que foi exonerada em 03 (três) de março de
2017, 05 (cinco) meses antes do nascimento de sua filha, fato esse não contestado
pela parte ré nos termos do artigo 373, II do CPC.
Tais verbas são devidas desde o dia 03 (três) de março de 2015 (data do ato de
exoneração) até 5 (cinco) meses após o nascimento da criança.
Por fim, quanto ao dano moral, embora existam precedentes do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro julgando improcedente tal pedido em razão da natureza do
cargo, não se pode desconsiderar que a gravidez é um momento onde a mulher
necessita de maiores recursos para preparar a chegada do seu filho.
O dano moral deverá ser arbitrado de forma proporcional à repercussão que teve na
vida social e privada da reclamante.
OBS: Com a modificação legislativa no artigo 292, V do CPC, a parte autora passou
a ter que especificar o quantum pretendido a título de dano moral.
(...);
V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido;
(...)”
Com isso, caso o pedido de dano moral não seja acolhido integralmente, gerará para o
demandante uma sucumbência parcial quanto a esse pedido, conforme artigos 85,
caput e 86, caput e parágrafo único, todos do Código de Processo Civil, abaixo
transcritos.
Deve ser destacado que o verbete sumular nº 105 do TJRJ (“A indenização por dano
moral, fixada em valor inferior ao requerido, não implica, necessariamente, em
sucumbência recíproca”) foi cancelado.
Quando da criação do citado verbete, a lei não exigia que a parte autora indicasse o
valor pretendido a título de danos morais, ou seja, que quantificasse o valor
pretendido a esse título.
Como visto acima, com a reforma do Código de Processo Civil, o artigo 292, V do
CPC passou a exigir que o pedido de dano moral seja liquido.
Como consequência, caso o mesmo não seja integralmente acolhido, gerará com isso
a sucumbência recíproca da parte autora.
(...)
§ 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários
observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes
percentuais:
III - não havendo condenação principal ou não sendo possível mensurar o proveito
econômico obtido, a condenação em honorários dar-se-á sobre o valor atualizado
da causa;
(...)
(...)
§ 18. Caso a decisão transitada em julgado seja omissa quanto ao direito aos
honorários ou ao seu valor, é cabível ação autônoma para sua definição e
cobrança.
“Se for o Município autor estará isento da taxa judiciária desde que se comprove
que concedeu a isenção de que trata o parágrafo único do artigo 115 do CTE, mas
deverá pagá-la se for o réu e tiver sido condenado nos ônus sucumbenciais.”
Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão
depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:
§ 1o Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o
juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do
respectivo tribunal avocá-los-á.
DISPOSITIVO
P.I. ou P.R.I.
DATA
JUIZ DE DIREITO