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MECÂNICA DOS SOLOS

autor
ANDRÉ VINICIUS AZEVEDO BORGATTO

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2017
Conselho editorial  roberto paes e gisele lima

Autor do original  andre vinicius azevedo borgatto

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gisele lima , paula r. de a. machado e aline karina


rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  jonathan tenório de lima

Imagem de capa  naypong | shutterstock.com

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por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

B732m Borgatto, Andre Vinicius Azevedo


Mecânica dos solos / Andre Vinicius Azevedo Borgatto.
Rio de Janeiro: SESES, 2017.
136 p: il.

isbn: 978-85-5548-523-7

1. Geotecnia. 2. Solos. 3. Mecânica dos solos. 4. Tensões. I. SESES.


II. Estácio.
cdd 624

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Prefácio 7

1. Introdução à Mecânica dos Solos 9


A ciência mecânica dos solos 11
Conceitos iniciais 11
Histórico e evolução da mecânica dos solos 11
O desenvolvimento da mecânica dos solos no Brasil 13

Características gerais dos solos 16


Definição, origem e formação dos solos 16
Classificação, composição química e mineralógica dos solos 18
Composição química e mineralógica dos solos 21

Propriedades índices dos solos 22


Introdução 22
Índices físicos 24
Granulometria do solo 27

2. Propriedades, estrutura e classificação


dos solos 33
Estado dos solos 34
Conceitos Iniciais 34
Tamanho e forma das partículas do solo 35
Estado dos solos granulares 37
Estado dos solos finos 39

Estrutura do solo 43
Introdução 43
Estrutura dos solos granulares 44
Estrutura dos solos finos 45
Amolgamento, sensibilidade e tixotropia das argilas 46
Atividades das argilas 48
Comportamento mecânico dos solos granulares e finos 48
Classificação dos solos 51
Introdução 51
Sistema unificado de classificação dos solos 51
Sistema rodoviário de classificação dos solos 53
Classificação dos solos quanto à origem 54
Classificação dos solos tropicais (MCT) 55

3. Compactação dos solos e a interação


solo-água 59
Compactação dos solos 60
Conceitos Iniciais 60
Curva de compactação dos solos 61
Ensaio laboratorial de compactação dos solos (ensaio de Proctor) 66
Compactação dos solos em campo 68
Controle de compactação dos solos em campo 69
Índice de suporte Califórnia do solo (CBR) 70

Interação solo-água 70
Conceitos iniciais – tensão capilar 70
Permeabilidade dos solos 72

4. Estudo das tensões no solo 83


Tensões nos solos 85
Conceitos Iniciais 85
Tensão vertical 87
Pressão neutra (poro-pressão) 90
Tensões totais em um solo 91
Princípio das tensões efetivas 95
Distribuição de tensões no solo 98

5. Resistência ao cisalhamento, compressibilidade


dos colos e investigação geotécnica 105
Resistência ao cisalhamento dos solos 107
Conceitos iniciais 107
Critérios de ruptura 111
Ensaios para determinação da resistência dos solos 115
Resistência dos solos arenosos e dos solos argilosos 119

Compressibilidade e adensamento dos solos 120


Conceitos iniciais 120
Teoria do adensamento dos solos 123

Investigação geotécnica 125


Conceitos Iniciais 125
Métodos diretos de investigação geotécnica 126
Métodos indiretos de investigação geotécnica 127
Métodos semidiretos de investigação geotécnica 128
Prefácio

Prezados(as) alunos(as),

Caros alunos do curso de Engenharia Civil, é com grande satisfação que apre-
sento nosso livro didático, pensado e personalizado para auxiliá-los no estudo do
ciclo de disciplinas da área de geotecnia. Afortunadamente, as informações basilares
de nossa fascinante ciência, batizada de Mecânica dos Solos, irá provê-los dos princi-
pais conceitos e teorias até hoje utilizados. A título de apresentação, definimos geo-
tecnia como a ciência de aplicação dos métodos científicos e princípios de engenha-
ria para a aquisição, interpretação e uso do conhecimento dos solos para a solução
dos desafios da Engenharia Civil. A Geotecnia é, portanto, subdividida em subáreas
de conhecimento, a saber: Geologia, Mecânica dos Solos, Mecânica das Rochas e, a
mais recentemente introduzida na família, a Mecânica dos Resíduos.
Diante do epígrafe inicial, mesmo para os alunos que optarem pelo sabor das
demais áreas de conhecimento da Engenharia Civil, o conhecimento básico da
mecânica dos solos é imprescindível. Inevitavelmente, na vida profissional, en-
quanto engenheiros civis, desafios e interface com a ciência dos solos surgirão, seja
pela utilização como meio de suporte para as obras (fundações, arrimos, escava-
ções) ou seja como material de construção (aterros, pavimento etc.).
No capítulo 1 de nosso livro, trataremos dos conceitos iniciais da Mecânica
dos Solos apresentando um breve histórico de sua evolução e, em seguida, as
principais características deste complexo e heterogêneo material. No capítulo 2,
você começará a explorar as principais características e propriedades do solo para
aprender entender o seu comportamento mecânico diante da aplicação da enge-
nharia. Já no capítulo 3, iniciaremos com a aplicação dos conceitos introdutórios
da Mecânica dos Solos já apresentados nos capítulos anteriores. Trataremos assim
das propriedades índices dos solos, o entendimento da compactação dos solos e da
interação solo-água. Veremos aqui a importância do conhecimento dos mecanis-
mos de interação do solo com a água, presentes na maior parte de nossos desafios
da engenharia civil. No capítulo 4, iniciaremos o estudo das tensões no solo e sua
distribuição. Este tópico, como vocês verão, é considerado o cerne da Mecânica
dos Solos. Por fim, no capítulo 5, vocês conhecerão as principais propriedades
mecânicas que regem o comportamento dos solos e constituem os pilares funda-
mentais de sustentação da engenharia geotécnica. Desejo-lhes bom proveito!

Bons estudos!

7
1
Introdução à
Mecânica dos Solos
Introdução à Mecânica dos Solos
No primeiro capítulo de nosso livro, você será apresentado à fascinante ciência
denominada Mecânica dos Solos. Pela natureza de nossa formação em engenharia,
iremos obrigatoriamente nos deparar com a utilização dos solos, seja para usá-lo
como meio de suporte para nossas obras (fundações, arrimos, escavações) seja para
usá-lo como material de construção (aterros, pavimento, etc.).
Obviamente, se formos utilizá-lo nas diversas áreas da engenharia civil, obri-
gatoriamente teremos de conhecê-lo. Para isso, graças à evolução da Mecânica
dos Solos, os métodos de “erros e acertos” utilizados no passado já fazem parte
da história. Atualmente, a moderna ciência da Mecânica dos Solos já possui um
arcabouço prático e teórico bastante fundamentado e em constante evolução. Será
apresentado adiante neste capítulo um breve histórico da evolução da Mecânica
dos Solos e, em seguida, as principais características deste complexo e heterogêneo
material. Então, vamos lá!

OBJETIVOS
•  Introduzir na formação do aluno de Engenharia Civil os conceitos iniciais da ciência Mecâ-
nica dos Solos;
•  Contextualizar a importância do conhecimento desta ciência para a formação do engenhei-
ro civil, por meio da demonstração das principais aplicações;
•  Apresentar um breve histórico e evolução da Mecânica dos Solos no contexto mundial e
no Brasil;
•  Apresentar as principais características dos solos desde sua origem e formação até suas
principais propriedades físicas;
•  Introduzir o conceito de estado do solo e as propriedades índices;
•  Apresentar o conceito e fundamentos da análise granulométrica dos solos.

capítulo 1 • 10
A ciência mecânica dos solos

Conceitos iniciais

Mecânica dos Solos, por definição, é a ciência da engenharia que estuda o


comportamento dos solos em sua utilização nas diversas aplicações da Engenharia
Civil, seja como elemento suporte, seja como elemento estabilizante ou até mesmo
como material de construção. De maneira geral, a necessidade do conhecimento
das propriedades mecânicas dos solos para o engenheiro civil advém do funda-
mental papel exercido por este material nas diversas obras de engenharia. Além do
aproveitamento do solo como material de construção em diversos tipos de obras,
de modo geral cabe aos solos a tarefa de absorver e suportar os carregamentos
externos advindos dos elementos estruturais de fundações das construções. Ainda,
em aplicações específicas da Engenharia tais como escavações e taludamentos, in-
cumbe-se aos solos a manutenção de sua estabilidade estrutural e geométrica.
Assim, o estudo do comportamento dos solos para as diversas aplicações da
Engenharia Civil deu origem à ciência Mecânica dos Solos, disciplina básica para
o ramo da engenharia denominado de geotecnia.

Histórico e evolução da mecânica dos solos

Conforme apresentado por Bueno e Vilar (1979), a mecânica dos solos já era
empregada pelos povos das antigas civilizações, mesmo que de forma empírica,
em obras colossais e consagradas como grandes feitos da engenharia tais como as
pirâmides do Egito, os palácios da Babilônia, os aquedutos romanos e mesmo,
em tempo mais recente, a muralha da China. Notadamente, é de se esperar que
a aplicação da mecânica dos solos nas citadas obras, seja como elemento de fun-
dação seja como material de construção, tenha sido baseada no empirismo e nas
experiências comparativas com aplicações similares à época.
O primeiro trabalho científico de fato reconhecido na história da mecânica
dos solos é creditado ao engenheiro francês Charles Coulomb no ano de 1776.
Coulomb enunciou o princípio da resistência ao cisalhamento dos solos por meio
da caracterização dos parâmetros de resistência dos solos, a saber, coesão e ângulo
interno de atrito – ainda hoje empregada na Engenharia com a utilização da teoria
clássica de Coulomb.

capítulo 1 • 11
Notadamente, em anos seguintes, outros pesquisadores de renome no meio
científico também contribuíram para a evolução da mecânica dos solos. Podemos
destacar as contribuições do engenheiro francês Henry Darcy em 1856, com o
estabelecimento da lei que define o movimento da água em meios porosos – im-
portante conceito utilizado no estudo de percolação da água através dos solos.
Ainda, no mesmo ano, podemos destacar também as contribuições do engenheiro
escocês William Rankine, com a formulação de equações para análise de estabili-
dade de maciços terrosos. Já em meados do século XX, no ano de 1908, o químico
sueco Albert Atterberg apresentou ao meio científico a definição de limites de
consistência para solos argilosos, conhecidos hoje na mecânica dos solos como
os limites de Atterberg. Anos depois, em 1914, o engenheiro alemão Otto Mohr
aplicou aos solos sua teoria de ruptura de materiais através do conceito de curvas
envoltórias. Tal proposição que, posteriormente veio a associar-se com a teoria
de Coulomb, estabeleceu o critério de resistência conhecido como Critério de
Resistência de Mohr-Coulomb – teoria mais utilizada ainda hoje na mecânica
dos solos. Adiante, em 1922, o engenheiro sueco Wolmar Fellenius desenvolveu
uma metodologia de análise de estabilidade de taludes com a consideração de
uma superfície circular de escorregamento. Pelo apresentado fica evidente que a
mecânica dos solos, como ciência, teve sua evolução e desenvolvimento a partir de
meados do século XX.
A pedra fundamental da ciência mecânica dos solos deu-se com a publicação
da obra Erdbaumechanik auf bodenphysikalisher grundlage – Mecânica das constru-
ções de Terra baseada na física dos solos – de autoria do célebre engenheiro austría-
co Karl von Terzaghi no ano de 1925. Segundo Bueno e Vilar (1979), “Terzaghi
preocupou-se em enfatizar a importância do estudo das tensões e deformações nos
solos. Estabeleceu a diferença entre pressões totais efetivas e neutras. Criou a teoria
do adensamento, aplicada a solos saturados. Concebeu e esquematizou ensaios e a
respectiva aparelhagem e, sobretudo, fez sugestões para a interpretação dos resul-
tados conseguidos e sua aplicação aos diferentes problemas práticos enfrentados
pela mecânica dos solos”. Pelas meritórias contribuições, Terzaghi é considerado
o pai da mecânica dos solos e da engenharia geotécnica definindo-a como: “A
mecânica dos solos é a aplicação das leis da mecânica e da hidráulica aos pro-
blemas de engenharia relacionados com os sedimentos e outros depósitos não
consolidados de partículas sólidas produzidas pela desintegração mecânica
ou química das rochas, prescindindo do fato de conterem ou não elementos
constituídos por substâncias orgânicas”.

capítulo 1 • 12
Conforme citado em Caputo (1988, p.3), o Primeiro Congresso Internacional
de Mecânica dos Solos e Fundações, realizado em 1936, veio a consagrar esta nova
ciência. Ninguém menos que o próprio Terzaghi foi o responsável pela realização
do discurso inaugural. Na ocasião, Terzaghi proferiu o seguinte texto:

A instalação deste congresso é um acontecimento de significação invulgar. Represen-


ta o primeiro conselho internacional na perpétua guerra da engenharia civil contra as
forças traiçoeiras da natureza, ocultas na terra. Graças aos esforços despendidos em
diferentes partes do mundo, durante um período de 25 anos, armas novas e eficientes
foram forjadas para combater essas forças e o objetivo principal desta reunião con-
siste em discutir os meios de explorar as vantagens assim asseguradas. Com o fito de
abreviar, deu-se o nome de mecânica dos solos a estes recentes progressos.

Ademais, pesquisadores contemporâneos a Terzaghi, como Arthur


Casagrande, Donald W. Taylor, William Lambe e Robert Whitman, apresen-
taram significantes trabalhos que contribuíram para o desenvolvimento e consoli-
dação da ciência mecânica dos solos.
Atualmente, em uma breve observação aos principais centros de pesquisas des-
tinados ao desenvolvimento da engenharia geotécnica, nacionais e internacionais,
a mecânica dos solos continua em constante evolução com pesquisas e trabalhos
práticos em suas diversas áreas de aplicação como, por exemplo, em fundações,
contenções, barragens, geossintéticos, solos não saturados, resíduos, rochas, talu-
des, pavimentação, túneis, estudos geoambientais, aterros sanitários, investigação
geotécnica, entre outros.

O desenvolvimento da mecânica dos solos no Brasil

No Brasil imperial do início do século XIX, surgiram os primeiros estudos


geológicos devido ao grande interesse na extração do minério de ferro. Deste in-
teresse surgiram os primeiros estudos sobre os solos brasileiros, em que podemos
destacar a obra intitulada Geologia e geografia física do Brasil, de autoria do geólogo
canadense-americano Charles Frederick Harrt, publicada em Boston em 1874
(Dantas Neto, 2006). Ainda, segundo aponta o mesmo autor, “neste livro são fre-
quentes as citações às investigações geológicas ao longo dos traçados das estradas
de ferro construídas na época, contribuindo assim para o surgimento da geolo-
gia de engenharia, que só viria a acontecer em 1907, quando Miguel Arrojado
Lisboa investigou as formações geológicas ao longo do traçado da estrada de Ferro

capítulo 1 • 13
Noroeste Brasil e, em 1909, estudou geologicamente os locais de construção de
barragens de obras contra a seca no Nordeste do país”. Dado o relato, obviamente
a mecânica dos solos no Brasil teve como grande indutor os desafios oriundos da
implantação e construção das estradas de ferro da época, em especial as demandas
de fundação, aterros de solo e obras de artes.
©© DANNA MERRIL | WIKIMEDIA.ORG

Figura 1.1  –  Autoridades em inauguração de trecho (1912): Estrada de Ferro


Madeira-Mamoré.

Anos seguintes, em meados do século XX, as cidades de São Paulo e Rio de


Janeiro tiveram as construções dos primeiros edifícios em concreto armado apoia-
das em fundações do tipo profunda como estacas de madeira e pré-moldadas de
concreto. Em 1938, foi implantado no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT),
pelo engenheiro geotécnico Odair Grillo, a Seção de Solos e Fundações. Grillo
trouxe para o IPT sua experiência adquirida em estudos de técnicas de constru-
ção de estradas nos Estados Unidos, sob forte influência das teorias de Karl von
Terzaghi e Arthur Casagrande. De acordo com Dantas Neto (2006): “As princi-
pais atividades desenvolvidas no IPT visavam atingir dois campos de atuação bem
específicos, o de construção de estradas e o estudo das fundações de pontes e edifí-
cios. Na área de estradas, o desafio era desenvolver métodos de dimensionamento

capítulo 1 • 14
de pavimentos baseados nas teorias da mecânica dos Solos. Na área das fundações
de edifícios, o desafio inicial era desenvolver métodos de prospecção de subsolo”.
©© WIKIMEDIA.ORG

Figura 1.2  –  Palácio dos Correios no Vale do Anhangabaú, em 20 de outubro de 1922.

Ainda no século XX, no dia 21 de julho de 1950, foi fundada a Associação


Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS). Com am-
pla contribuição e atuação no desenvolvimento da mecânica dos solos no Brasil,
a ABMS é membro permanente da International Society for Soil Mechanics and
Geotechnical Engineering (ISSMGE), da International Society for Rock Mechanics
(ISRM) e da International Tunneling Association (ITA).
Segundo Caputo (1988, p.13), “no desenvolvimento das atividades brasileiras
no campo da mecânica dos solos e suas aplicações, veja-se o excelente apanhado
sobre a história da mecânica dos solos no Brasil escrito em 1970, quando das co-
memorações do XX Aniversário da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos
(ABMS), de autoria de A. D. Ferraz Nápoles Neto [...] textos publicados por oca-
sião do 30º aniversário da ABMS: um panorama histórico da mecânica dos solos
no Brasil, do Prof. Milton Vargas [...] A contribuição do Rio de Janeiro à mecânica
dos solos no Brasil do Prof. Fernando Emmanuel Barata”.

capítulo 1 • 15
Para uma vista completa dos principais pesquisadores brasileiros e importan-
tes obras desenvolvidas com base na ciência da mecânica dos solos no Brasil re-
comendo a você, aluno, a leitura do livro A história da engenharia geotécnica no
Brasil, de autoria do professor e engenheiro Alberto Sayão.

Características gerais dos solos

Definição, origem e formação dos solos

De acordo com a ABNT NBR-6502/1995, o solo é definido como um “mate-


rial proveniente da decomposição das rochas pela ação de agentes físicos ou quími-
cos, podendo ou não ter matéria orgânica”. Em outros termos, você pode entender
o solo como um produto da decomposição das rochas causado pela ação contí-
nua de agentes físicos, químicos e biológicos conhecidos como intemperismo.
Esta definição normativa tende por sua natureza a uma visão geológica do solo.
Como ponto de atenção, para o assertivo entendimento da origem e formação dos
solos, você deve sempre atentar-se às diferentes definições deste material que va-
riam de acordo com seu campo de aplicação. De modo diferente ao entendimento
dos solos sob a ótica das ciências agronômicas, a engenharia civil considera o solo
como um material que não oferece resistência a uma ação de escavação (manual
ou mecânica) e que, em contato prolongado com a água, tem suas propriedades
mecânicas afetadas. Portanto, sob o ponto de vista técnico, aplica-se o termo solo
aos materiais da crosta terrestre que servem de suporte, são arrimados, escavados
ou perfurados e utilizados nas obras da Engenharia Civil. Tais materiais, por sua
vez, reagem sob as fundações e atuam sobre os arrimos e coberturas, deformam-se
e resistem a esforços nos aterros e taludes, influenciando as obras segundo suas
propriedades e comportamentos (De Moura, 2009, p.2).
A formação dos solos, conforme citado por Caputo (1988, p.14), dá-se basi-
camente pela ação do intemperismo físico sobre as rochas causando sua desinte-
gração mecânica, através de agentes como água, temperatura, vegetação e vento.
A variação de temperatura, sobretudo, provoca um estado de tensões na rocha
causando sua fragmentação. Desta, formam-se os pedregulhos e areias (solos de
partículas grossas) e até mesmo os siltes (partículas intermediárias) e, somente em
condições especiais, as argilas (partículas finas). Já no processo de intemperismo
químico e biológico, em que o principal agente é a água, ocorre a modificação
química ou mineralógica das rochas de origem. Destes, os principais mecanismos

capítulo 1 • 16
de ataque dão-se pela oxidação, hidratação, hidrólise, lixiviação, carbonatação e
os efeitos biológicos da vegetação. O solo por consequência é uma função da
rocha-mater (rocha-mãe) e dos diferentes agentes de intemperismo. Observe na
figura 1.3 o sequenciamento de formação dos solos.

ROCHA-MÃE

INTEMPERISMO FÍSICO
Expansão e Contração Fraturamento Mecânico Desintegração das Rochas
Térmica das Rochas das Rochas em Fragmentos

INTEMPERISMO QUÍMICO-BIOLÓGICO
Alteração Química dos Decomposição dos Transformação dos
Minerais Minerais das Rochas Fragmentos

FORMAÇÃO DO SOLO - FRAÇÕES AREIA / SILTE / ARGILA

AGENTES DE TRANSPORTE
SIM NÃO

SOLO RESIDUAL SOLO SEDIMENTAR OU TRANSPORTADO

EVOLUÇÃO PEDOGENICA DO SOLO

Figura 1.3  –  Origem e formação dos solos.

Finalmente, você pode assumir que o solo propriamente dito trata-se da ca-
mada superior do manto de intemperismo onde as partículas que o constituem
diminui de tamanho conforme se aproximam da superfície. Os fatores mais im-
portantes na formação do solo são:
99 Rocha de origem;
99 Tempo de exposição ao intemperismo;

capítulo 1 • 17
99 Clima local;
99 Ação de organismos vivos;
99 Condições topográficas.

Classificação, composição química e mineralógica dos solos

Os solos são classificados de acordo com sua formação e demais ações externas
a que foram submetidos:
99 Solos residuais;
99 Solos sedimentares ou transportados;
99 Solos orgânicos.

Solos residuais

Os solos classificados como residuais são aqueles que permanecem no local


da rocha de origem (rocha-mãe) onde se faz possível uma gradual transição da
superfície até a rocha. Para a formação dos solos residuais, faz-se necessário que
a velocidade de decomposição de rocha seja maior que a velocidade de remo-
ção pelos agentes externos (agentes de transporte). Tomando-se como exemplo
o perfil de um solo residual na direção da superfície para o interior do maciço
terroso, temos graus de intemperismos decrescentes identificados pelas seguintes
camadas: solo residual maduro, saprólito, rocha alterada e rocha sã. A figura 1.4
apresenta a diagramação do perfil de um maciço terroso de uma formação de solo
residual.
Segundo Caputo (1988, p.15), “dentre os solos residuais (ou autóctones) me-
recem destaque os solos lateríticos, os expansivos (como o "massapê" da Bahia)
e os porosos (ex.: solos de Brasília). Estes últimos são assim denominados pelo
fato de sua porosidade ser extremamente elevada; na literatura estrangeira, desig-
nam-se por "solos colapsíveis", pois em determinadas condições de umidade sua
estrutura quebra-se, dando origem a elevados recalques das obras que se assentam
sobre eles”.

capítulo 1 • 18
Camada Homogênea
SOLO RESIDUAL MADURO Não apresenta nenhuma relação
com a Rocha Mãe

Camada Homogênea
SOLO RESIDUAL JOVEM OU SAPRÓLITO Grãos com tamanhos variados e
propriedades diferentes

Camada que guarda


ROCHA ALTERADA caracteristícas da da Rocha Sã,
porém, com resistência inferior

Rocha original que sofreu


ROCHA-MÃE Intemperismo

Figura 1.4  –  Perfil do maciço terroso de formação de um solo residual.

As espessuras das camadas que compõem o perfil do solo residual são variáveis
e dependentes das condições climáticas locais e das características da rocha-mãe.

Solos sedimentares ou transportados

São classificados como sedimentares (alotóctones) ou transportados os solos


que sofreram a ação de agentes transportadores. De acordo com o agente respon-
sável pelo transporte e a distância percorrida, define-se a textura dos solos sedi-
mentares. Assim, os solos sedimentares, em função do agente de transporte, são
distribuídos nos seguintes tipos:
99 Solos sedimentares aluvionares – solos formados a partir do transporte
pela água. Sua constituição depende da velocidade das águas no momento da de-
posição do solo. Em geral, apresentam baixa capacidade de suporte (resistência),
elevada compressibilidade e são susceptíveis à erosão. São muito utilizados como
material de construção e evitados como suporte para fundação.
99 Solos sedimentares eólicos – solos formados a partir do transporte pelo
vento. Em geral, são representadas por areais com grãos arredondados. Sua maior
ocorrência no Brasil está nos depósitos da faixa litorânea;
99 Solos sedimentares coluvionares – solos formados a partir do transpor-
te pela gravidade. Em geral, são representados por escorregamentos de escarpas,
sendo encontrados nos “pés de elevações” e encostas. Sua composição depen-
de do tipo de rocha existente nas partes elevadas, por isso apresentam grande
heterogeneidade;

capítulo 1 • 19
99 Solos sedimentares glaciares – solos formados a partir do transporte pelas
geleiras. São comuns na Europa e nos Estados Unidos, dando a origem aos drifts.

Como exemplo, a figura 1.5 a seguir apresenta um perfil de solo com forma-
ção por agentes de transportes – solo sedimentar.
©© MICHAEL C. RYGEL | WIKIMEDIA.ORG

Figura 1.5  –  Perfil de solo sedimentar.

Solos Orgânicos

Este último grupo é representado pelos solos considerados problemáticos para


a Engenharia Civil, em especial devido à sua alta compressibilidade e baixa re-
sistência. São originados a partir da decomposição e posterior apodrecimento de
matérias orgânicas, sejam estas de natureza vegetal (plantas, raízes) ou de natureza
animal (conchas, carapaças). Em algumas formações de solos orgânicos, ocorre
uma importante concentração de folhas e caules em processo de decomposição,
formando as turfas (matéria orgânica combustível). São solos facilmente identifi-
cados por seu odor característico, coloração escura (em geral) e granulometria fina.
A figura 1.6 a seguir exemplifica um tipo de solo orgânico.

capítulo 1 • 20
©© WOJSYL | WIKIMEDIA.ORG

Figura 1.6  –  Solo orgânico.

Composição química e mineralógica dos solos

Do ponto de vista geológico, os minerais são substâncias homogêneas, sóli-


das e de origem inorgânica que surgem de forma espontânea na crosta terrestre.
Os minerais, por sua característica, possuem composição química definida e, se
formados em condições favoráveis, apresentam estrutura atômica ordenada. Esta
estrutura atômica, por sua importância, condiciona sua formação cristalina e, por
consequência, suas propriedades físicas. Segundo a ABNT NBR-6502/1995, as
rochas são definidas como um material sólido, consolidado e constituído por um
ou mais minerais, com características físicas e mecânicas específicas para cada tipo.
Como já sabemos que o solo é um produto do intemperismo das rochas,
podemos afirmar que os minerais presentes em sua composição são os mesmos
encontrados na sua rocha de origem (rocha-mãe). Estes minerais são classificados
como minerais primários e podem estar associados a outros tipos originados da
decomposição química, classificados como minerais secundários, formando a es-
trutura sólida dos solos.

capítulo 1 • 21
Caputo (1988, p.16) apresenta um agrupamento da composição química dos
principais minerais componentes dos solos grossos:
99 Silicatos – feldspato, mica, quartzo, serpentina, clorita, talco;
99 Óxidos – hematita, magnetita, limonita;
99 Carbonatos – calcita, dolomita;
99 Sulfatos – gesso, anidrita.

O mineral quartzo, presente na maioria das rochas, apresenta elevada resistên-


cia à desagregação e forma solos com grãos do tamanho areia e silte. Apresenta
composição química simples (SiO2) com partículas equidimensionais como cubos
ou esferas e apresenta baixa atividade superficial. Outros exemplos de minerais,
como feldspato, calcita e mica, também podem ser encontrados neste tamanho
(Pinto, 2002, p4).
O mesmo autor cita que “os feldspatos são os minerais mais atacados pela na-
tureza, dando origem aos argilominerais, que constituem a fração mais fina dos so-
los, geralmente com dimensão inferior a 2 mm”. Nos solos finos (argilominerais),
a atividade de superfície apresenta elevada importância, pois define o comporta-
mento e as principais propriedades destes solos. Os argilominerais são formados
por silicatos de alumínio hidratados, podendo conter pequenas quantidades de
elementos alcalinos (potássio, sódio, magnésio, cálcio, entre outros). Sua estrutura
mineral bastante complexa explica a diversidade de comportamento dos solos fi-
nos. Os principais argilominerais são a caulinita, ilita e montmorilonita.

Propriedades índices dos solos

Introdução

Do ponto de vista das propriedades físicas, o solo, tal qual afigurado na crosta
terrestre, é um material composto por três fases físicas conhecidas em maior ou
menor proporção. Desta maneira, os solos são uma estrutura trifásica compos-
ta por um arcabouço sólido (formado das partículas sólidas dos minerais),
entremeado de vazios que podem estar preenchidos com água (fase líquida) e
ou ar (fase gasosa). De forma simplificada, podemos dizer que o solo é formado
por três fases: sólida, líquida e gasosa – as duas últimas citadas podem ocorrer

capítulo 1 • 22
de forma simultânea (em proporções variadas) ou estarem ausentes em caso de
completude da outra. Na figura 1.7, você pode observar representações de forma
esquemática das três fases que, em geral, ocorrem nos solos. Lembre-se de que as
proporções de ocorrência das fases variam conforme seu estado natural, geologia
local, condições climáticas e ações antrópicas.

Ar Fase Gasosa - Ar

Água Fase Líquida - Água

Sólidos
Fase Sólida - Minerais

Figura 1.7  –  Esquema da estrutura trifásica dos solos.

Desta forma, no estudo dos solos, devemos lembrar que somente parte do
volume é ocupada por partículas sólidas. Do volume remanescente, conhecido
como vazios, este é ocupado pelas demais fases (água e/ou ar). De acordo com
Prevedello (1996), o solo para os propósitos da física do solo pode ser assumido
como um sistema multicomponente, integrado pela fase sólida, líquida e gasosa.
Essas duas últimas complementares: a máxima presença de uma implica a ausência
da outra. A porção do espaço poroso não ocupado pela fase líquida é complemen-
tada pela fase gasosa, portanto a fase líquida pode estar completa ou parcialmente
presente nos poros do solo. No primeiro caso, o solo é dito saturado e, no se-
gundo, não saturado.
Assim, a quantidade de água e ar pode variar. A evaporação pode fazer a água
diminuir, substituindo o volume por ar e, num período chuvoso, ocorre o contrá-
rio, preenchem-se os vazios com água, expulsando o ar. Num processo de compac-
tação, a compressão do solo pode provocar a saída de água e ar, reduzindo o volu-
me de vazios. O solo, no que se refere às partículas que o constituem, permanece
o mesmo, mas seu estado se altera. As diversas propriedades do solo dependem do
estado em que as três fases se encontram. Quando diminui o volume de vazios,
por exemplo, a resistência aumenta (De Moura, 2009, p.24).
Finalmente, para a identificação do estado em que se encontra um determina-
do solo em um dado momento de estudo, iremos utilizar o conceito denominado
de índices físicos dos solos.

capítulo 1 • 23
Índices físicos

O comportamento geomecânico de um solo e, consequentemente, suas pro-


priedades físicas dependem das quantidades relativas de cada uma das três fases
constituintes em termos de massas e volumes. As relações entre a ocorrência das
três fases que constituem os solos é denominada de índices físicos dos solos.
Conforme se apresentam esquematicamente as três fases constituintes dos so-
los na figura 1.8, temos no lado esquerdo os volumes ocupados por cada fase e no
direito seus respectivos pesos.

Var Ar War

V Vw Água Ww W

Vs Ws
Sólidos

Figura 1.8  –  Fases constituintes dos solos

As principais grandezas utilizadas para definição dos índices físicos de solo são:
99 Ws – peso das partículas sólidas;
99 Ww – peso da água;
99 War – peso do ar (o peso do ar é considerado desprezível);
99 Vs – volume das partículas sólidas;
99 Vw – volume da água;
99 Var – volume do ar;
99 Vv – volume de vazios → onde: Vv = Vw + Var;
→ W = Ws + Ww
→ V = Vs + Vw + Var = Vs + Vv

Conforme apresentado por Bueno e Vilar (1979), as três relações de volume


mais utilizadas são: a porosidade, o índice de vazios e o grau de saturação.

capítulo 1 • 24
A porosidade (n) é definida pela relação entre o volume de vazios e o volume
total da amostra. A porosidade de um solo varia entre 0 a 100% e os valores mé-
dios encontrados situam-se entre 30 a 70%.
Vv
n=
V

O índice de vazios (e) é definido pela relação entre o volume de vazios e o vo-
lume de sólidos. Os valores médios situam-se entre 0,5 a 1,5, porém, em algumas
argilas, o índice de vazios pode atingir valores superiores a 3.
e= Vv/Vs
Vv
e=
Vs

O grau de saturação (S) representa a relação entre o volume de água e o vo-


lume de vazios. O grau de saturação de um solo varia de 0 a 100%. Solo saturado
possui grau de saturação = 100% e solo completamente seco = 0%.
Vw
S=
Vv

Já a relação entre os pesos mais utilizada é o teor de umidade (w), que é a


relação entre o peso de água e o peso de sólidos presentes na amostra. Os teores
de umidade em geral situam-se entre 10 e 40%, podendo, em casos específicos,
atingir valores acima de 150%.
Ww
w=
Ws

Esses índices físicos, como se vê, são adimensionais e, com exceção do índice
de vazios (e), todos os demais são expressos em termos de porcentagem. As rela-
ções entre pesos e volumes mais utilizados são o peso específico natural, o peso
específico dos sólidos e o peso específico da água.
O peso específico natural (γn) é a relação entre o peso do elemento e o vo-
lume total desse elemento. A faixa de variação do peso específico natural dos solos
encontra-se entre 17 e 21 kN/m³ em geral, porém, para casos muito específicos,
estes valores podem atingir valores próximos a 14 kN/m³ (argilas orgânicas moles):
W
γn =
V

capítulo 1 • 25
Por sua vez, o peso específico dos sólidos ou dos grãos (γs) é determinado
dividindo-se o peso dos sólidos pelo volume ocupado por eles. A faixa de variação
do peso específico dos sólidos encontra-se entre 26 kN/m³ (areia) e 30 kN/m³
(argilas lateríticas):
Ws
γs =
Vs

Por extensão, o peso específico da água (γw), na maior parte dos casos práti-
cos, é assumido como γw = 10 kN/m3:
Ww
γw =
Vw

Ainda, temos o peso específico aparente saturado que representa o peso


específico do solo, se ele vier a ficar saturado e se isto ocorrer sem variação de
volume. Este índice físico é utilizado em aplicação prática de ensaios na análise de
depósitos de areia que possam vir a saturar. Seu valor é da ordem de 20 kN/m³:
Wsat
γsat =
V

Em seguida, temos também o peso específico submerso que representa o


peso específico efetivo do solo quando submerso. Este índice físico é utilizado
para cálculo das tensões efetivas no solo. É igual ao peso específico natural menos
o peso específico da água, portanto com valores da ordem de 10 kN/m³:

γsub = γn - γw

O peso específico aparente seco (γd) é a relação entre o peso dos sólidos e
o volume total do solo. A faixa de variação do peso específico aparente seco de
um solo encontra-se entre 13 e 19 kN/m³ em geral, porém, para casos muito
específicos, estes valores podem atingir valores próximos a 5 kN/m³ (argilas orgâ-
nicas moles):
Ws
γd =
V

Por último, a densidade dos sólidos ou dos grãos (Gs) é a razão entre o peso
específico real dos grãos (γs) e o peso específico da água (γW) a 4 ºC. Esta relação

capítulo 1 • 26
possui valor adimensional. Como adendo, da física básica temos que a densidade
se refere à massa específica e que a densidade relativa é a relação entre a densidade
do material e a densidade da água a 4 ºC. Comumente, estende-se o conceito de
densidade relativa à relação dos pesos e adota-se como peso específico a densidade
relativa do material multiplicada pelo γW:
γs
Gs =
γw

De acordo com Pinto (2002, p.26), os índices físicos apresentados são direta-
mente determinados, em laboratório, à umidade, ao peso específico dos sólidos e
ao peso específico natural. O peso específico da água é adotado e os demais índices
físicos dos solos são calculados com base nos índices determinados em laboratório.
Abaixo, você irá encontrar algumas correlações que resultam da definição dos
índices físicos aqui apresentados:
e γs (1 + w ) γs + (e x γ w )
n= γ= γsat =
1+ e 1+ e 1+ e

γd =
γn
e=
γs
−1 S =
( γs x w ) Gs =
γs
1+ w γd (e x γ w ) γw

Granulometria do solo

A granulometria do solo é a distribuição, em termos percentuais, dos diversos


tamanhos de grãos que o compõem. Desta forma, sua identificação é feita por
meio da execução de ensaios laboratoriais denominados de análise granulométrica.
Na análise granulométrica, realizada em duas fases distintas (peneiramento
e sedimentação), os grãos que compõem o solo são separados de acordo com seu
tamanho (dimensão). Na primeira fase da análise granulométrica (peneiramento),
os grãos dos solos são forçados, no procedimento, a atravessar peneiras, as quais
são dispostas ordenadamente, de acordo com uma série, sempre iniciando-se com
a de maior abertura de malha. A determinação das dimensões dos grãos do solo e
das proporções relativas em que eles se encontram, é representada por um gráfico
denominado de curva granulométrica. Este gráfico é traçado de ponto em ponto
por uma escala logarítmica no eixo das abscissas (onde estão dispostos os logarit-
mos das dimensões dos grãos ou diâmetros das partículas de solo) e sobre o eixo

capítulo 1 • 27
das ordenadas são apresentadas as porcentagens, em peso, do material que tem
dimensão média menor que a dimensão considerada na peneira em referência.
Para fins de ilustração na figura 1.9, apresenta-se uma curva de distribuição gra-
nulométrica do solo.

CURVA GRANULOMÉTRICA

100 0

90 10

80 20

70 30
Percentagem que passa

Percentagem retida
60 40

50 50

40 60

30 70

20 80

10 90

0 100
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro das partículas (mm)

Figura 1.9  –  Curva de distribuição granulométrica do solo

A realização de uma análise granulométrica deve seguir a normativa ABNT


NBR-7181/1984 que estabelece o procedimento para realização do ensaio, divi-
dindo-o em três etapas:
99 Peneiramento grosso – fração > 2,0 mm;
99 Peneiramento fino – 2,0 mm > fração > 0,075 mm;
99 Sedimentação – fração inferior a 0,0075 mm.

Para as fases de peneiramento, são utilizadas peneiras classificadas de acordo


com suas dimensões nominais das aberturas da malha, expressas em milímetros,
conforme estabelecido pela normativa ABNT NBR-5734/1989:

Nº 1” 3/4” 1/2” 3/8” 4 10

mm 25 19 12,5 9,5 4,8 2,0

capítulo 1 • 28
Nº 16 30 40 60 100 200

mm 1,20 0,60 0,42 0,25 0,15 0,075

Para a análise granulométrica das partículas com dimensões inferiores a 0,0075


mm, ou seja, para os solos finos teremos que empregar a técnica de sedimentação
que se baseia na lei de Stokes, a qual considera que a velocidade de queda das par-
tículas de solo em um fluido atinge um valor-limite que depende do peso específi-
co do material constituinte, do peso específico do fluido, da viscosidade do fluido
e do diâmetro da esfera. Desta forma, sendo a água o fluido de análise, as partí-
culas de solo cairão com velocidade proporcional ao quadrado do seu diâmetro.
Como citado por Bueno e Vilar (1979), frequentemente os solos são uma
mistura de partículas dos mais diversos tamanhos, por isso costuma-se conduzir
conjuntamente os ensaios de peneiramento e sedimentação, ou seja, faz-se uma
análise granulométrica conjunta para determinação dos diâmetros e das respecti-
vas porcentagens de partículas que ocorrem no solo.
Algumas definições são importantes para a uma assertiva interpretação de cur-
vas de distribuição granulométrica de solos. A seguir, em estrutura de tópicos,
separamos para você estes pontos:
99 Porcentagem passante – percentual do peso de solo que passou em cada
peneira analisada (sempre em relação ao peso seco total da amostra de solo);
99 Porcentagem retida – percentual do peso de solo retido em uma peneira
analisada (sempre em relação ao peso seco total da amostra de solo);
99 Porcentagem acumulada – somatório dos percentuais retidos nas penei-
ras superiores com o percentual retido na peneira em análise;
99 Diâmetro efetivo (D10) – ponto característico da curva granulométrica
utilizado como referência da finura do solo (diâmetro da partícula do solo que
corresponde ao ponto de 10% na porcentagem passante);
99 Coeficiente de uniformidade (Cu) – razão entre os diâmetros corres-
pondentes a 60% e 10%, tomados na curva granulométrica. Esta relação indica,
na realidade, falta de uniformidade, pois, quanto mais uniforme o material, mais
seu valor diminui:
D60
Cu =
D10

capítulo 1 • 29
Sendo:
Cu < 5 → solo uniforme
5 < Cu < 15 → solo de uniformidade média
Cu > 15 → solo desuniforme

De acordo com De Moura (2009, p.38), a finalidade da realização da aná-


lise granulometria é conhecer a distribuição granulométrica dos grãos do solo.
Pode-se atribuir algumas propriedades e também obterem-se parâmetros dos
solos no ensaio de granulometria, o que ajuda a escolher o material apropriado
para dada finalidade. Solos com maior participação granular em sua composição
apresentam em geral maior resistência quando utilizados em base-suporte de fun-
dações (edificações e pavimentos). É comum também esperar que materiais com
elevada porcentagem de areia apresentem maior densidade, quando comparados
a materiais de granulação mais fina, e ainda a materiais de granulação mais grossa
que apresentam baixa expansibilidade. Por outro lado, solos com predominância
de granulometria fina (argilas) apresentam em geral baixa capacidade de suporte,
baixa densidade, elevada plasticidade e são comumente associados a elevado índice
de expansão.
Para Bueno e Vilar (1979), um solo com Cu = 1 é composto de partículas de
mesmo tamanho (mal graduado). Por outro lado, valores de Cu maiores do que
a unidade indicam uma variedade de dimensões das partículas, podendo o coefi-
ciente de não uniformidade atingir valores da ordem de 300 ou 400, sem que isso
signifique que o solo seja bem graduado. Um solo bem graduado apresenta uma
distribuição proporcional do tamanho de partículas, de forma que os espaços dei-
xados pelas partículas maiores sejam ocupados pelas menores. Tais solos, quando
bem compactados, normalmente apresentam alta resistência, o que é bastante
interessante para aplicação na prática. A curva de distribuição granulométrica
encontra aplicação prática na classificação do solo quanto à textura, na es-
timativa do coeficiente de permeabilidade e no dimensionamento de filtros
de proteção.

ATIVIDADES
01. Na etapa inicial de uma investigação geotécnica de uma obra de terraplenagem, foi cole-
tada na área da jazida uma amostra de solo úmido (umidade natural do solo). Uma vez levada
para o laboratório de mecânica dos solos, a amostra do solo foi pesada e posteriormente sub-

capítulo 1 • 30
metida a um ensaio para determinação de seu teor de umidade. Conforme procedimento nor-
mativo, o solo foi colocado em uma cápsula de alumínio, pesado e posteriormente levado para
secagem em uma estufa com temperatura constante de 105 ºC. O peso obtido para a amostra
úmida é igual a 460 g. Após a secagem em estufa, obteve-se o peso seco da amostra: 365 g.
Assim, determinar o teor de umidade do solo considerando o peso da cápsula vazia igual a 38 g.

02. A mesma amostra de solo da atividade anterior foi saturada a fim de prepará-la para
outros ensaios geotécnicos. Por isso, a amostra de solo agora possui um teor de umidade
igual a 36%. O peso específico dos sólidos desta amostra de solo é igual a 28,5 kN/m³.
Determinar o índice de vazios (e), a porosidade (η) e o peso específico natural do solo (γ) da
amostra de solo em análise.

RESUMO
Pelo apresentado neste capítulo introdutório, você pode notar que a mecânica dos solos
é uma ciência nova, ainda em intensa evolução. Os solos, apesar de sua constante utilização
ao longo do desenvolvimento de nossa civilização, servindo de suporte e de material de cons-
trução para obras consideradas como “grandes feitos da engenharia”, somente passaram a
ser intensamente estudados com a mecânica dos solos, que foi concebida como ciência a
partir do início do século XX com o engenheiro Karl von Terzagui. Com Terzagui, estudos
realizados por cientistas como Coulomb, Rankine, Fellenius, Mohr, entre outros, passaram a
incorporar o arcabouço do conhecimento do comportamento mecânico dos solos dando à
mecânica dos solos o status de ciência geotécnica.
Daí em diante, a mecânica dos solos foi incorporada ao cerne da Engenharia Civil, forne-
cendo-lhe subsídios científicos para o entendimento da interação solo-estrutura, visando ao
atendimento do desempenho e da durabilidade.
Você deve ter notado que, para entender a mecânica dos solos, visivelmente se faz ne-
cessário o conhecimento do solo e suas propriedades físicas. Por isso, introduzimos neste
capítulo inicial conceitos básicos como origem e formação dos solos e sua composição quí-
mica e mineralógica – importantes informações para entender as propriedades e o com-
portamento mecânico dos solos. Ademais, nos itens em que você deve tecer esforços para
compreensão, foram apresentadas as propriedades índices dos solos e o conceito da análise
granulométrica. Estes conceitos são primordiais para o desenvolvimento do conhecimento da
mecânica dos solos, pois traduzem, em números e proporções, as características dos solos e
o que esperar de seu comportamento mecânico.

capítulo 1 • 31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5734: Peneiras de ensaio – elaboração.
Rio de janeiro, 1989.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e solos – elaboração. Rio
de janeiro, 1995.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7181: Solo – Análise granulométrica –
elaboração. Rio de janeiro, 1984.
BUENO, BENEDITO de SOUSA e VILAR, ORÊNCIO MONJE. M. Mecânica dos solos. São Carlos:
EESC/USP, 1984. 131p.
CAPUTO, HOMERO PINTO. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6ª Ed. v1. São Paulo: LTC
Editora, 1998. 234p.
DANTAS NETO, SILVRANO ADONIAS. Fundação e obras de contenção. Apostila, Centro de
Tecnologia, Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental, Universidade Federal do Ceará,
2006.
DE MOURA, EDSON. Mecânica dos solos. Apostila, Faculdade de Tecnologia de São Paulo,
Departamento de Transportes e Obras de Terra, 2009.
PINTO, CARLOS DE SOUSA. Curso básico de mecânica dos solos. Oficina do Texto. 2000. Rio de
Janeiro/RJ.
PREVEDELLO, CELSO LUIZ. Física do solo com problemas resolvidos. Curitiba. 446 p. 1996.

capítulo 1 • 32
2
Propriedades,
estrutura e
classificação dos
solos
Propriedades, estrutura e classificação dos
solos

Aqui, no segundo capítulo de nosso livro, você começará a explorar as prin-


cipais características e propriedades do solo com um único objetivo: entender
e pressupor o comportamento mecânico de um solo diante de uma solicitação.
Mergulhando na Mecânica dos Solos, agora passaremos a conhecer o conceito
de estado de um solo, a entender sua estrutura, suas propriedades e classificações.
Assim, daí em diante você estará apto à compreensão das principais proprieda-
des que regem o comportamento mecânico dos solos. Vamos em frente!

OBJETIVOS
•  Introduzir ao aluno o conceito de estado dos solos;
•  Apresentar ao aluno as características e diferenças entre os solos granulares e os so-
los finos;
•  Definir e apresentar os limites de Atterberg para os solos finos;
•  Apresentar a estrutura dos solos demonstrando as características e diferenças os solos
granulares e os solos finos;
•  Apresentar os sistemas de classificação dos solos, sua aplicação e resultados esperados.

Estado dos solos

Conceitos Iniciais

Conforme você estudou no capítulo 1 deste livro, o solo pode ser entendido
como um elemento trifásico composto por uma estrutura mineral entremeada de
vazios. Assim, por sua natureza, o solo é considerado um material poroso onde a
proporção de ar e de água varia em seus poros por influência de fatores internos
e externos. Todas as vezes que examinarmos um solo em que os vazios estiverem
completamente preenchidos de água, você poderá afirmar que este solo encontra-
se saturado. Caso contrário, diremos que o solo encontra-se não saturado. Este
conceito torna-se ainda mais importante quando se percebe que o comportamento

capítulo 2 • 34
mecânico dos solos é fortemente influenciado pela presença e pela variação da água
em sua estrutura. Além disso, sabemos que, de acordo com a origem, a formação
e as características dos minerais, as partículas que compõem o arcabouço sólido
dos solos apresentam diferentes dimensões e formas. Estas variações geométricas
também exercem grande influência sobre o comportamento mecânico e sobre as
propriedades físicas dos solos.
Podemos, então, dizer que o estado dos solos é decursivo da proporção em
que as três fases se apresentam na natureza e isso irá determinar como ele irá se
comportar mecanicamente. Pela importância do estado dos solos, para a com-
preensão do seu comportamento mecânico, utilizamos as propriedades índices,
apresentadas no capítulo 1, para sua mensuração e controle. Como exemplo, se
o Índice de vazios de um solo for reduzido por meio de um processo mecânico
de compactação, por exemplo, espera-se que sua resistência também aumente.
Em outro exemplo, onde há um solo seco e lhe é adicionada uma quantidade de
água, sua coesão e, consequentemente, sua resistência tendem também a aumen-
tar. Assim, como já visto, iremos utilizar as propriedades índices dos solos para
determinação de seu estado.

Tamanho e forma das partículas do solo

As partículas minerais que constituem os solos possuem diferentes tamanhos


(granulometria) e formas – tudo isso em função dos agentes de intemperismo e
de transporte que lhe deram origem. Em geral, um determinado solo pode estar
constituído de partículas dos mais diversos tamanhos. De acordo com Bueno e
Vilar (1979), em termos qualitativos, deve-se frisar que o intemperismo físico
(desintegração) é capaz de originar partículas de tamanhos até cerca de 0,001 mm
e somente o intemperismo químico (decomposição) é capaz de originar partículas
de diâmetro menor que 0,001 mm. Nos solos sedimentares, os agentes de trans-
porte são os grandes responsáveis pela forma que as partículas minerais (grãos do
solo) tomam. Solos submetidos a longos trajetos de transporte e em condições
severas de abrasividade tendem a possuir forma esférica (como ocorre nas areias
de origem fluvial). Como exemplo, partículas esféricas angulares propiciam ao
solo maior ângulo de atrito interno efetivo - quanto maior esse ângulo, maior a
resistência que o material oferece às deformações.
Você deve atentar-se ao fato de que o tipo dos minerais também influencia
fortemente a forma final das partículas dos solos – grãos em formato de lamelas

capítulo 2 • 35
(onde duas dimensões são maiores que a terceira) ou aciculares (onde uma das
dimensões prevalece sobre as outras duas) são características de argilominerais. Em
relação à influência da origem do solo sobre a forma final de suas partículas, solos
sedimentares tendem a possuir grãos minerais em forma esférica, enquanto solos
residuais apresentam maior ocorrência de grãos com formatos irregulares.
Ainda, em texto transcrito de Bueno e Vilar (1979), os autores citam: “O
mineral constituinte da partícula determina sua forma, enquanto o comporta-
mento desses solos é determinado pelas forças de superfície (moleculares, elétricas
e eletromagnéticas), uma vez que a relação entre a superfície da partícula e o seu
volume é muito alta. Nos solos finos, a afinidade com a água é uma característica
marcante, que irá influenciar sobremaneira o seu comportamento arbitrariamente
a certa faixa de variação de tamanhos”.
A ABNT NBR-6502/1995 classifica os solos em função do tamanho de suas
partículas conforme segue:
•  Bloco de rocha – Fragmentos de rocha com diâmetro superior a 1,0 m;
•  Matacão – Fragmentos de rocha com uma dimensão compreendida entre
20 cm e 1,0 m;
•  Pedregulho – Solos formados por minerais ou partículas de rocha, com
diâmetro compreendido entre 2,0 e 60,0 mm. Quando arredondados ou semiar-
redondados, são denominados cascalhos ou seixos;
•  Areia – Solo não coesivo e não plástico formado por minerais ou partículas
de rochas com diâmetros compreendidos entre 0,06 mm e 2,0 mm. A areia de
acordo com o diâmetro é subclassificada em areia fina (0,06 mm a 0,2 mm), areia
média (0,2 mm a 0,6 mm) e areia grossa (0,6 mm a 2,0mm);
•  Silte – Solo que apresenta baixa ou nenhuma plasticidade e baixa resistência
quando seco ao ar. É formado por partículas com diâmetros compreendidos entre
0,002 mm e 0,06mm;
•  Argila – Solo de graduação fina constituída por partículas com dimen-
sões menores que 0,002 mm. Apresenta características marcantes de plasticida-
de; quando suficientemente úmido, molda-se facilmente em diferentes formas,
quando secas, apresenta coesão suficiente para construir torrões dificilmente de-
sagregáveis por pressão dos dedos. Caracteriza-se pela sua plasticidade, textura e
consistência em seu estado e umidade naturais.

capítulo 2 • 36
A título de conhecimento, existem outras associações técnicas interna-
cionais que também classificam os solos em função de sua granulometria, tais
como American Society for Testing Materials (ASTM), American Association for
State Highway and Transportation Officials (AASHTO), Massachusetts Institute of
Technology (MIT)I, entre outros.

Estado dos solos granulares

Nos solos granulares, também denominados na mecânica dos solos como


areia, o estado de sua ocorrência será mensurado pela propriedade índice de va-
zios. Daí, temos que o estado da areia, ou sua compacidade, será em geral carac-
terizado como areia fofa ou areia compacta. De acordo com Sousa Pinto (2002,
p.27), “Este dado isolado, entretanto, fornece pouca informação sobre o compor-
tamento da areia, pois, com o mesmo índice de vazios, uma areia pode estar com-
pacta e outra fofa”. Assim, para a identificação do estado da areia, faz-se necessária
a definição dos extremos superior e inferior do índice de vazios deste solo, ou seja,
definir seu índice de vazios máximo e mínimo característico da seguinte forma:
•  Índice de vazios máximo – para sua determinação, a areia deverá ser pre-
viamente seca, colocada num recipiente e vertida através de um funil (com peque-
na altura de queda) até uma superfície plana. Esta condição de repouso indicará
o estado mais fofo possível para a areia em análise. Assim, o índice de vazios
máximo desta areia poderá ser calculado com o auxílio da determinação prévia do
peso específico ao final do ensaio;
•  Índice de vazios mínimo – para sua determinação, a areia deverá ser vi-
brada dentro de um receptáculo até que não haja variação de seu abatimento.
Nesta condição, a areia obtém seu estado mais compacto possível, no qual a ele
corresponderá o índice de vazios mínimo.

Na figura 2.1 está apresentado um esquema comparativo entre o índice de


vazios mínimo e máximo para uma mesma areia.

capítulo 2 • 37
emínimo

emáximo

Figura 2.1  –  Esquema comparativo entre o índice de vazios mínimo e máximo para uma
mesma areia.

Em uma reflexão sobre o apresentado, é perceptivo que a forma e a variação


granulométrica das partículas que compõem esta areia irão influenciar, sobretudo,
o valor característico de seu índice de vazios máximo e mínimo. Areia uniforme
de grãos angulares, por exemplo, apresenta maiores valores absolutos do índice de
vazios, tanto para os valores máximo e mínimo, quando comparada a uma areia
bem graduada de grãos arredondados. Ainda de Sousa Pinto (2002, p.27), “Os
valores são tão maiores quanto mais angulares forem os grãos e quanto mais
mal graduadas as areias”. Na figura 2.2, está apresentado um esquema compa-
rativo da influência da distribuição granulométrica e da forma no índice de vazios
de uma areia.
Para comparação do estado de uma areia ou de sua compacidade, você deve
utilizar o conceito de compacidade relativa definido por Terzagui:
e máximo − e natural
CR = e máximo − e mínimo

Assim, quanto maior for o resultado do CR, mais compacto estará o estado
desta areia. De estudos de Terzagui, valores de CR abaixo de 0,33 indicam um
estado fofo enquanto valores acima de 0,66 indicam um estado compacto. Daí,
podemos intuir que a areia compacta apresenta, em geral, maior resistência e me-
nor deformabilidade.

capítulo 2 • 38
Areia uniforme de grãos angulares

Areia bem graduada de grãos


arredondados

Figura 2.2 – Esquema comparativo da influência da distribuição granulométrica e da forma


no índice de vazios de uma areia.

Estado dos solos finos

Nos solos finos, também denominados na Mecânica dos Solos como argilas
(apesar da participação da fração silte neste grupo), contrariamente ao visto nos
tipos de areia, o estado das argilas é associado à sua resistência a compressão. De
acordo com Sousa Pinto (2002, p.28), “A consistência das argilas pode ser quan-
tificada por meio de um ensaio de compressão simples, que consiste na ruptura
por compreensão de um corpo de prova de argila, geralmente cilíndrico”. Assim,
do conhecimento difundido na literatura da Mecânica dos Solos podemos afirmar
que uma argila com resistência à compressão simples inferior a 25 kPa encontra-se
em estado ou consistência muito mole. Já uma argila que atinja valores de resis-
tência acima de 100 kPa tem consistência tida como rija.
Nas argilas, dadas a característica e a complexidade dos argilominerais, a sim-
ples observação da sua análise granulométrica não se mostra suficiente para ca-
racterização de seu comportamento mecânico. Assim, as propriedades plásticas
na argila mostram-se dependentes do seu teor de umidade, da forma de suas
partículas constituintes e de sua composição química e mineralógica. De acor-
do com Caputo (1988, p.52), “A plasticidade é normalmente definida como uma
propriedade dos solos, que consiste na maior ou menor capacidade de serem eles
moldados, sob certas condições de umidade, sem variação de volume. Trata-se de
uma das mais importantes propriedades das argilas”.

capítulo 2 • 39
De forma análoga à areia, a definição do estado ou da consistência de uma
argila será mensurada pelo índice de vazios. Como as argilas encontram-se nor-
malmente saturadas, o estado de sua ocorrência acaba por ser dependente do teor
de umidade. Conforme relatado por Sousa Pinto (2002, p.30), “a umidade da
argila é determinada diretamente e o seu índice de vazios é calculado a partir desta,
variando linearmente com ela. Da mesma maneira como o índice de vazios, por si
só, não indica a compacidade das areias, o teor de umidade, por si só, não indica o
estado das argilas”. Assim, os teores de umidade que definem o estado ou consis-
tência de uma argila são definidos como limites de consistência. Para cada teor de
umidade alcançado, em uma escala crescente de umidade as argilas apresentarão
determinada consistência. Para baixos teores de umidade, a consistência das argilas
será sólida. Com o aumento gradativo do teor de umidade, a mesma argila variará
entre consistências semissólidas, plásticas e líquidas (alto teor de umidade). O teor
de umidade que corresponde à mudança de uma consistência para outra em uma
argila é definido como limites de consistência.
Ainda, segundo Caputo (1988, p.53), “Sendo a umidade de um solo muito
elevada, ele se apresenta corno um fluido denso e se diz no estado líquido. À me-
dida que evapora a água, ele endurece e, para certo teor de umidade (LL - limite
de liquidez), perde sua capacidade de fluir, porém pode ser moldado facilmente e
conservar sua forma. O solo encontra-se, agora, no estado plástico. A continuar a
perda de umidade, o estado plástico desaparece até que, para um teor de umidade
(LP - limite de plasticidade), o solo se desmancha ao ser trabalhado. Este é o
estado semissólido. Continuando a secagem, ocorre a passagem gradual para o
estado sólido. O limite entre os dois estados é um teor de umidade denominado
limite de contração (LC)”. Em outras palavras, podemos dizer que a faixa de
variação do teor de umidade entre o limite de liquidez e o limite de plasticidade
é aquela que indica valores de umidade em que o solo apresenta comportamento
plástico. A diferença entre estes dois limites é chamada de índice de plasticidade.
O limite de liquidez pode ser determinado pela normativa ABNT NBR
6459/1984, com a utilização de um equipamento desenvolvido por Arthur
Casagrande, conforme apresentado na figura 2.3. O teor de umidade de um solo,
com uma ranhura feita com a utilização de um gabarito (cinzel), fecha-se com a
aplicação de 25 golpes, considerado o limite de liquidez de um solo.

capítulo 2 • 40
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Figura 2.3  –  Aparelho de Casagrande para determinação do limite de liquidez de um solo.

A estes limites de umidade que definem os índices de consistências dá-se o


nome, na Mecânica dos Solos, de Limites de Atterberg em homenagem ao quí-
mico sueco Albert Atterberg.
A figura 2.4 apresenta um esquema dos diferentes estados ou consistência de
uma argila em função da umidade.

ESTADO LÍQUIDO

Limite de Liquidez

ESTADO PLÁSTICO
UMIDADE

Limite de Plasticidade

ESTADO SEMI-SÓLIDO

Limite de Contração

ESTADO SÓLIDO

Figura 2.4  –  Esquema dos estados ou consistência das argilas.

capítulo 2 • 41
A seguir, você poderá verificar as principais características de cada estado ou
consistência de uma argila em função do teor de umidade:
•  Estado líquido – o solo apresenta as propriedades e a aparência de uma
suspensão, sem nenhuma resistência ao cisalhamento;
•  Estado plástico – o solo apresenta o comportamento mecânico de acordo
com a propriedade de plasticidade;
•  Estado semisólido – o solo tem a aparência de um sólido, entretanto ainda
passa por variações de volume ao ser secado;
•  Estado sólido – não ocorrem mais variações de volume decorrentes da se-
cagem do solo.

Terzagui propôs a utilização de um conceito denominado índice de consistên-


cia para determinar o estado de uma argila, conforme os teores de umidade-limite.
O índice de consistência pode ser expresso por:
Limite de Liquidez − Teor de Umidade Natural
IC =
Limite de Liquidez − Limite de Plasticidade

De acordo com os estudos de Terzagui e de outros pesquisadores, argilas com


valores de IC abaixo de 0,50 indicam estado mole enquanto valores acima de
1,0 indicam argila em estado duro. O índice de consistência não tem significado
quando aplicado a argila não saturada. Ainda podemos utilizar outro parâmetro
para intuir o comportamento mecânico da argila, com base em seu estado: o índi-
ce de plasticidade (IP). O índice de plasticidade, a seguir apresentado, é definido
como a diferença entre o limite de liquidez e o de plasticidade.
=IP Limite de Liquidez − Limite de Plasticidade

Assim, o índice de plasticidade (IP) de um solo mensura a maior ou menor


plasticidade do solo em análise, o que fisicamente representa a quantidade de água
que deveria ser acrescentada a um solo, para que ele venha a mudar do estado plás-
tico para o líquido. De acordo com Jenkins apud Caputo (1988, p. 56), as argilas
são tanto mais compressíveis quanto maior for o seu índice de plasticidade. Solos
com IP entre 1 a 7 são considerados fracamente plásticos. Já aqueles solos
com IP entre 7 a 15 passam à condição de medianamente plásticos, enquanto
os acima de 15 são altamente plásticos. Um exemplo de solo altamente plástico
é a argila orgânica encontrada em regiões de manguezais.

capítulo 2 • 42
Estrutura do solo

Introdução

De maneira simples, você pode entender que estrutura do solo é a forma como
estão dispostas suas partículas , formando uma estrutura. Esta estrutura constitui
a propriedade que mantém a sustentação do solo, ou seja, seu esqueleto. As prin-
cipais características que influenciam a estrutura do solo são:
•  Tipo de mineral do solo (composição mineralógica);
•  Tamanho das partículas do solo (granulometria);
•  Arranjo físico das partículas;
•  Estado do solo (proporção entre as três fases – sólida, líquida e gasosa);
•  Ligação química entre os elementos das três fases constituintes do solo (com
ênfase às forças existentes entre as partículas).

Segundo Caputo (1988, p.48), os principais tipos de estruturas em que ocor-


rem os solos são:
•  Estrutura granular simples – é característica das areias e pedregulhos, pre-
dominando as forças da gravidade na disposição das partículas, que se apoiam
diretamente umas sobre as outras. A estrutura pode ser mais densa ou mais fofa,
o que é definido pelo grau de compacidade. O comportamento mecânico e hi-
dráulico desse tipo de estrutura é definido pela compacidade da camada e pela
orientação das partículas;
•  Estrutura alveolar – é o tipo de estrutura comum nos siltes mais finos e,
em algumas areias, quando, na formação de um solo sedimentar, um grão cai
sobre o sedimento já formado. Devido à predominância da atração molecular
(coesão) sobre o seu peso, ele ficará na posição em que se der o primeiro contato,
dispondo-se assim em forma de arco. Assim, elas poderão chegar a formar uma
tela, com quantidade importante de vazios;
•  Estrutura floculenta – nesse tipo de estrutura, que só é possível em solos
cujas partículas componentes sejam todas muito pequenas, as partículas, ao se
sedimentarem, dispõem-se em arcos, os quais, por sua vez, formam outros arcos.
Na formação de tais estruturas, desempenham uma função importante as ações
elétricas que se desenvolvem entre as partículas, as quais, por sua vez, são influen-
ciadas pela natureza dos íons presentes no meio onde se processa a sedimentação;

capítulo 2 • 43
•  Estrutura em esqueleto – nos solos onde, além de grãos finos, há grãos
mais grossos, estes se dispõem de maneira a formar um esqueleto cujos interstícios
são parcialmente ocupados por uma estrutura de grãos mais finos. É o caso das
complexas estruturas das argilas marinhas.

Ainda, de acordo com estudo de Lambe (1953) apud Sousa Pinto (2002,
p.7), os dois tipos básicos de estrutura são: estrutura floculada, quando os con-
tatos se fazem entre faces e arestas, ainda que através da água adsorvida; e estru-
tura dispersa, quando as partículas se posicionam paralelamente, face a face. Na
figura 2.5 está apresentado um esquema das estruturas dispersas e floculadas de
um solo.

(a)

(b)

Figura 2.5  –  Estruturas do solo: (a) dispersa (b) floculada.

Estrutura dos solos granulares

Como também apresentado no item 3.3 deste capítulo, na estrutura de um


solo granular a disposição das partículas varia de acordo com sua compacidade
entre uma estrutura fofa e uma estrutura compacta. Nos solos granulares, estas
estruturas são classificadas como tipo intergranular. De acordo com Bueno e Vilar
(1979), “a força que atua quando do processo da sedimentação na formação de
solos granulares é a de gravidade (peso próprio dos grãos). O comportamento me-
cânico desses solos grossos fica determinado fundamentalmente pela condição de
compacidade com que ele se encontra, mensurado pelo conceito de compacidade
relativa (CR)”.

capítulo 2 • 44
Estrutura dos solos finos

Da mesma forma que ocorre nos solos granulares, a forma das partículas e
sua distribuição granulométrica influenciam fortemente a estrutura final dos solos
finos e, por consequência, seu comportamento mecânico. Conforme afirmado
por Bueno e Vilar (1979, p.27) “... tratando dos solos finos, a situação torna-se
muito mais complexa, uma vez que agora passa a interferir uma série de fatores,
tais como as forças de superfície entre as partículas e a concentração de íons, no
líquido em que se deu a sedimentação”.
Terzagui sugeriu, acerca da estrutura dos solos finos, duas estruturas típicas:
alveolar e floculenta. Ainda dos autores Bueno e Vilar (1979, p.27) “Na estrutura
alveolar, característica de solos com partículas da ordem de 0,02 mm, a força da
gravidade e as forças de superfície quase se equivalem. No caso de partículas meno-
res que 0,02 mm, estas não se sedimentam isoladamente por causa do seu pequeno
peso. Entretanto, estas partículas ainda em suspensão podem vir a tocar-se e unir-
se, formando grumos de peso maior que podem vir a sedimentar. Completada a
sedimentação, os diversos grumos formam a chamada estrutura floculenta...”.
Assim, você pode entender que estrutura de um solo é a expressão utilizada
para esboçar o arranjo das partículas no interior da massa de solo, o qual
depende, em geral, da granulometria, da forma e da composição mineraló-
gica de seus grãos. A figura 2.6 apresenta um esquema das principais estruturas
encontradas nos solos finos.

Estrutura Alveolar

Estrutura Floculenta

Figura 2.6  –  Principais estruturas de ocorrência dos solos finos (apud Terzagui).

capítulo 2 • 45
Em uma simples observação das estruturas dos solos finos, você pode verificar
que as argilas apresentam grandes volumes de espaços vazios. Assim, por serem
“porosos”, os solos finos em geral possuem considerável compressibilidade. O ter-
mo compressibilidade representa a capacidade do solo de diminuir seus vazios
quando comprimidos por uma tensão externa. Então, apenas como exemplo prá-
tico desta observação, peço-lhe que imagine a construção de um aterro sobre um
solo argiloso. A disposição de novas camadas sobre este faz com que seja reduzido
o volume de vazios, com a consequente expulsão da água contida nesses espaços.
Como as partículas sólidas do solo são incompressíveis, teremos redução dos poros
com a expulsão da água contida. Este fenômeno é conhecido na mecânica dos
solos como adensamento.

Amolgamento, sensibilidade e tixotropia das argilas

Amolgamento das argilas

Com o conteúdo até aqui apresentado, você já deve ter notado que a pres-
suposição do comportamento mecânico dos solos finos é cercada de incertezas
e variáveis. Características como a elevada atividade de superfície e propriedades
físico-químicas dos argilominerais somadas à influência da variação da água em
seus poros fazem da utilização dos solos finos um grande desafio. Por outro lado,
obras com a utilização de solos finos são constantes na construção civil e por vezes
desejáveis. Obras que necessitem de solos como baixa permeabilidade, por exem-
plo, utilizam rotineiramente os solos finos como material preferencial.
Nos solos finos, a simples mudança em sua estrutura original (conforme dis-
posto na natureza) pode provocar a redução de sua resistência mecânica. De acor-
do com esta afirmativa, definimos mais uma propriedade inerente aos solos finos,
denominada amolgamento. Assim, o amolgamento pode ser entendido como
uma ação de amassamento da argila em todas as direções, sem que para isso
provoque alteração do teor de umidade. Em outras palavras, podemos dizer que
amolgar um solo fino é uma ação que remodela sua estrutura, eliminando as liga-
ções existentes desde sua formação, transformando-a em outra. Daí pode-se ter, a
depender da nova estrutura formada, redução da resistência mecânica deste solo.
Para que você possa entender melhor, basta escavar um solo ou penetrá-lo com
uma estrutura (estaca, bloco de fundação etc.) que será provocado o amolgamento
do solo do entorno.

capítulo 2 • 46
Sensibilidade das argilas

A sensibilidade da argila pode ser entendida como a mensuração da redução


da resistência mecânica sofrida em função da ação de amolgamento, ou seja, o
quanto este solo é perturbado pelo amolgamento.
A sensibilidade de uma argila ( St ) ao amolgamento é determinada pela razão
entre a resistência à compressão em estado indeformada ( σc ) e sua resistência
à compressão após amolgamento ( δc ) . Quanto maior a sensibilidade da argi-
la, maior será sua redução de resistência mecânica. Argilas com St igual a 1 são
consideradas sem sensibilidade ao amolgamento. Valor de St entre 2 a 4 indicam
argilas entre pequena e média sensibilidade ao amolgamento e, acima de 8, solos
extrassensíveis ao amolgamento.
Finalmente, ainda como consequência do amolgamento, uma amostra amol-
gada comprime mais que a amostra indeformada, embora o seu índice de com-
pressão seja menor. O que realmente ocorre é que o amolgamento elimina o pré
-adensamento do solo e este passa agora a comprimir-se sob efeito de seu próprio
peso. Outra alteração importante é com referência à permeabilidade, que se torna
menor, quando o solo é amolgado (Bueno e Vilar, 1979).

Tixotropia das argilas

De acordo com Bueno e Vilar (1979, p.30,) a definição da propriedade ti-


xotropia das argilas refere-se à recuperação da resistência perdida pela argila pelo
efeito do amolgamento. Quando a argila permanece em repouso, a argila tende a
recuperar a resistência inicial que foi perdida pelo amolgamento. No amolgamen-
to da argila, ocorre o desequilíbrio das forças interpartículas, contudo, quando a
argila está em repouso, os potenciais de atração e repulsão no interior da argila
tendem ao equilíbrio, de maneira a recuperar a resistência inicial. A tixotropia é
mais evidente nas argilas formadas dos minerais montmoriloníticos. A proprie-
dade tixotropia é de grande utilidade prática para estabilizar, por exemplo, furos
de sondagem com o uso de lamas de argila betonita (ou lamas betoníticas), pois a
lama evita desmoronamentos no furo de sondagem.

capítulo 2 • 47
Atividades das argilas

Você, então, pode entender que a plasticidade de um solo fino é função do


tipo de argilomineral e de sua respectiva quantidade na constituição do solo.
Assim, o conceito de atividade de uma argila é medido pela razão entre o índice de
plasticidade deste solo com a percentagem de partículas com diâmetro inferior a
2 μm presentes na amostra, ou seja, a participação dos argilominerais. Em outras
palavras, se em determinado solo tivermos quantidades pequenas de argila com
elevado índice de plasticidade, poderemos, então, dizer que a argila em análise é
muito ativa. Com base nos estudos realizados pelo engenheiro inglês Alec Westley
Skempton, tem-se que argilas com atividade abaixo de 0,75 são consideradas ina-
tivas. Aquelas com atividade entre 0,75 e 1,25 são consideradas normais e, acima
de 1,25, são consideradas ativas.
Ainda, do mesmo pesquisador, temos que as argilas são constituídas por varia-
dos argilominerais. Assim, pode acontecer que, em determinado tipo de solo, os
valores dos índices de plasticidade sejam elevados enquanto o teor de argila pre-
sente é baixo. Quando isso ocorre, diz-se que a argila é muito ativa. Solos com alta
atividade de argila são considerados problemáticos sob a ótica geotécnica, devido
à sua característica de expansibilidade.

Comportamento mecânico dos solos granulares e finos

Ao final deste capítulo, dada a importância da compreensão das informações


aqui apresentadas, você poderá verificar na figura 2.7 (comportamento dos solos
granulares) e figura 2.8 (comportamento dos solos finos) uma compilação dos prin-
cipais pontos que irão influenciar o entendimento do comportamento mecânico
dos solos.

capítulo 2 • 48
SOLOS
GANULARES

ESTRUTURA ESTADO

DISTRIBUIÇÃO
FORMA DOS GRÃOS
GRANULOMÉTRICA
COMPACIDADE

GRÃOS ARREDONDADOS BEM GRAUDUADO ÍNDICE DE VAZIOS


GRÃOS ANGULARES MAL GRADUADO Indice de Vazios Máximo
UNIFORME Indice de Vazio Mínimo
Indice de Vazios Natural

emáximo − enatural
CR =
emáximo − emínimo
ÍNDICE DE COMPACIDADE RELATIVA
CR < 0,33 Areia Fofa
0,33 < CR < 0,66 Areia Compacidade Média
CR > 0,66 Areia Compacta

emáx emin
Areia Uniforme Grãos Arredondados 1,1 0,7
Areia Bem Graduada Grãos Angulares 0,75 0,45
Areia Uniforme Grãos Arredondados 0,75 0,45
Areia Bem Graduada Grãos Arredondados 0,65 0,35

Figura 2.7 – Comportamento mecânico dos solos granulares.

capítulo 2 • 49
SOLOS
FINOS

ESTRUTURA ESTADO

LIMITE DE ATTERBERG
AMOLGAMENTO (CONSISTÊNCIA)
SENSIBILIDADE LL - Limite de Liquidez
TIXOTROPIA LP - Limite de Plasticidade
ATIVIDADE DA ARGILA LC - Limite de Contração

St = σc´ IC = LL – W
σc LL – LP
SENSIBILIDADE DA ARGILA ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA
St = 1 Insensível IC < 0,5 Mole
St = 1 a 2 Baixa Sensibilidade 0,5 < IC < 0,75 Média
St = 2 a 4 Média Sensibilidade 0,75 < IC < 1 Rija
St = 4 a 8 Sensível IC > 1 Dura
St = 8 Ultra Sensível

A= IP IP = LL – LP
% < 2µm ÍNDICE DE CONSISTÊNCIA
ATIVIDADE DA ARGILA IP = 0 Não Plástico
A < 0,75 Inativa 1 < IP < 7 Pouco Plástico
0,75 < A < 1,25 Normal 7 < IP < 15 Plasticidade Média
A > 1,25 Ativas IP > 15 Muito Plástico

Figura 2.8  –  Comportamento mecânico dos solos finos.

capítulo 2 • 50
Classificação dos solos

Introdução

Assim como ocorre em diversas ciências, existe também na mecânica dos so-
los a necessidade da classificação dos solos em agrupamentos cujos integrantes
apresentem as mesmas características. Com base nesses agrupamentos, espera-
se atribuir propriedades similares que conduzam a um determinado e específico
comportamento mecânico diante de solicitações. Desta forma, você pode en-
tender que um sistema de classificação de solos visa agrupar a diversidade de
solos existentes em classes que, sob o ponto de vista da engenharia geotécnica,
possibilitem antever o provável comportamento mecânico quando solicitado.
Terzagui apud Sousa Pinto (2002, p.51) descreve que “um sistema de classifica-
ção sem índices numéricos para identificar os grupos é totalmente inútil”. Desta
forma, como citado por Bueno e Vilar (1979, p.31), a classificação na geotecnia
utiliza em geral, para o agrupamentos dos solos, parâmetros físicos como origem
formação, constituição, granulometria e os índices de Atterberg. É claro que, a
depender da necessidade, outros parâmetros podem ser aplicados para classifi-
cação dos solos, tais como características peculiares (presença ou não de matéria
orgânica), estrutura, entre outros.
Finalmente, conforme apresentado por Bueno e Vilar (1979, p.31), um siste-
ma de classificação dos solos deve seguir os seguintes preceitos:
•  Ser simples, facilmente memorizável e permitir uma rápida determinação
do grupo a que o solo pertence, ou seja, a classificação por meio de processos sim-
ples de análise visual-táctil;
•  Ser flexível para tornar-se geral ou particular, quando o caso exigir;
•  Ser capaz de permitir uma expansão a posteriori, criando subdivisões.

Sistema unificado de classificação dos solos

O sistema unificado de classificação dos solos, elaborado pelo engenheiro geo-


técnico austríaco Prof. Arthur Casagrande, é baseado tão e somente na distri-
buição granulométrica dos solos complementada por características peculiares de
comportamento. Neste sistema, os solos são classificados por meio da associação
de duas letras, em que a primeira representa a classe granulométrica do solo e a

capítulo 2 • 51
segunda corresponde à sua característica de comportamento. A figura 8 apresenta
a terminologia utilizada no Sistema Unificado de Classificação dos Solos.

1ª TERMINOLOGIA 2ª TERMINOLOGIA
G → Pedregulho W → Bem graduado

S → Areia P → Mal graduado

M → Silte H → Alta compressibilidade

C → Argila L → Baixa compressibilidade

O → Solo orgânico Pt → Turfa

Figura 2.9  –  Terminologia utilizada no Sistema Unificado de Classificação dos Solos.

A metodologia utilizada para a classificação dos solos pelo sistema unificado


preconiza, em primeiro passo, a realização de uma análise granulométrica (confor-
me normativa apresentada no capítulo 1). No resultado da análise granulométrica
dos solos, é observado o percentual retido na peneira nº 200 (0,075 mm). Como
se sabe, a peneira nº 200 é tida na mecânica dos solos como o divisor entre os solos
granulares e os solos finos. Assim, pelo resultado obtido temos:
•  Porcentagem passante menor de 50%: o solo é classificado como granular
podendo ser representado pelas letras G (pedregulho) ou S (areia);
•  Porcentagem passante maior de 50%: o solo é classificado como fino po-
dendo ser representado pelas letras M (silte), C (argila) ou O (solo orgânico).

Depois de realizada a fase inicial de classificação, a qual definirá a primeira


letra da terminologia do sistema unificado de classificação, os solos seguirão para
a segunda fase a depender do resultado obtido. Para os solos classificados no agru-
pamento granulométrico dos solos granulares, teremos a seguinte complemen-
tação secundária:
•  Teor de finos < 5%: os solos granulares serão subclassificados como bem
graduados (W) quando seu coeficiente de curvatura (Cc) estiver entre 1 e 3 e o
coeficiente de uniformidade (Cu) for maior que 4 para pedregulho e maior que
6 para areia. Para condições que não atendem os valores mencionados, o solo é
subclassificado como mal graduado (P);

capítulo 2 • 52
•  Teor de finos entre 5 e 12%: o sistema de classificação recomenda que se-
jam apresentadas características secundárias tais como uniformidade e proprieda-
des dos finos. Desta forma, poderemos ter uma terminologia para esta faixa como
SW-SC (areia bem graduada, argilosa);
•  Teor de finos > 12%: os solos granulares serão secundariamente subclas-
sificados de acordo com a propriedade destes finos presentes (de acordo com seu
posicionamento em relação ao índice de plasticidade). Desta forma, poderemos
ter uma terminologia para esta faixa como GC, SC, GM ou SM (pedregulho ar-
giloso, areia argilosa, pedregulho siltoso e areia siltosa).

Lembrando que, na mecânica dos solos, solos bem graduados são aqueles
que em sua análise granulométrica foi constatada a presença de grãos com diversos
diâmetros. Em geral, os solos bem graduados apresentam melhor comporta-
mento mecânico, pois as partículas menores ocupam os espaços vazios entre
as partículas maiores, conferindo-lhe, assim, melhor entrosamento e contato
grão a grão. Como consequência, os solos bem graduados são menos compressí-
veis e possuem maior resistência ao cisalhamento quando solicitados.
Para os solos classificados no agrupamento granulométrico dos solos finos,
teremos a seguinte complementação secundária:
•  Solos finos com fração fina predominante serão secundariamente subclas-
sificados em função de seu índice de Atterberg (consistência) verificadas em seu
posicionamento na carta de plasticidade deste material;
•  A depender de sua posição na carta de plasticidade, os solos finos serão se-
cundariamente subclassificados como solos com comportamento argiloso, siltoso
ou orgânico;
•  Complementarmente, os solos finos poderão ser secundariamente subclas-
sificados por alta ou baixa compressibilidade (quanto maior o limite de liquidez,
mais alta será sua compressibilidade).

Sistema rodoviário de classificação dos solos

O sistema rodoviário de classificação dos solos foi desenvolvido com o propó-


sito de classificar os tipos de solo para utilizar na engenharia de estradas. Têmcomo
principais critérios de agrupamento das classes dos solos as características granulo-
métricas e os limites de Atterberg. Da mesma forma que na classificação unificada,
o primeiro passo da metodologia de classificação baseia-se no resultado da análise

capítulo 2 • 53
granulométrica do solo, em especial a porcentagem fracionada pela peneira nº 200
(0,075 mm). Diferentemente da classificação unificada, aqui é considerado como
solo granular aquele que tem menos de 35% passando nesta peneira. A classifica-
ção rodoviária é distribuída da seguinte forma:
•  Grupos A-1, A-2 e A-3 (solos granulares): solos que possuem uma por-
centagem passante na peneira nº 200 de no mínimo 35%;
•  Grupos A-4, A-5, A-6 e A-7 (solos finos): solos que possuem uma porcen-
tagem passante na peneira nº 200 maior que 35%.

De acordo com Sousa Pinto (2002,p.58/59), tanto a metodologia de classi-


ficação dos solos unificada quanto a rodoviária são bastante semelhantes. Ambas
baseiam-se na separação dos solos entre granulares e finos por meio da análise
granulométrica e,definem como critério de classificação da fração fina os limites
de Atterberg.
Dentre os sistemas rodoviários de classificação dos solos, destacam-se os
desenvolvidos pela American Association of State Highway and Transportation
(AASTHO), Highway Research Board (HBR) e Transportation Research Board
(TRB). Os critérios granulométricos utilizados por estes métodos rodoviários de
classificação dos solos são:
•  Seixos e pedras: fração retida na peneira 75 mm;
•  Pedregulho: fração passante na peneira 75 mm e retida na peneira 2 mm;
•  Areia: fração passante na peneira 2 mm e retida na peneira 0,075 mm;
•  Silte e argila: fração passante na peneira 0,075 mm.

Classificação dos solos quanto à origem

Conforme estudado no capítulo 1, os solos podem ser classificados quanto à


origem em dois grandes grupos:
•  Solos residuais: são aqueles que se encontram na natureza, no próprio lo-
cal que se formaram. Para sua ocorrência, faz-se necessário que a velocidade de
decomposição da rocha seja maior que a velocidade de remoção pelos agentes de
transporte. Podem ser subclassificados, de acordo com seu grau de intemperização
entre o solo residual jovem (saprolítico), solo residual maduro e rocha alterada.
São fortemente influenciados pela temperatura e pelo regime de chuvas do local
de formação;

capítulo 2 • 54
•  Solos sedimentares: são aqueles que foram levados ao seu atual local por
um agente de transporte e lá depositado na natureza. São subclassificados de acor-
do com o agente de transporte. São tipos de solo sedimentar os solos coluvionares,
aluvionares, eólicos, entre outros.

No Brasil, por exemplo, dada a condição predominante de clima tropical


(condição favorável à degradação das rochas de forma mais rápida), há várias
ocorrência de solos residuais.

Classificação dos solos tropicais (MCT)

As metodologias de classificação dos solos apresentadas anteriormente foram,


em sua maioria, desenvolvidas para solos temperados. Já a classificação dos solos
com uso da metodologia MCT (miniatura, compactada, tropical) foi desenvolvi-
da pelos professores Job Nogami e Douglas F. Villibor no ano de 1981, tendo como
vista o estudo dos solos tropicais. Diferentemente das metodologias apresentadas
à classificação MCT, esta foi baseada na mensuração das propriedades mecânicas
do solo. Para tanto, são utilizados corpos de prova (CP) de solos compactados
com dimensões reduzidas. Assim, a metodologia de classificação MCT possibilita
separar os solos tropicais em duas grandes classes, a saber:
•  Solos de comportamento lateríticos: os solos lateríticos são representados
pela terminologia “L”. São subclassificados em areia laterítica quartzosa (LA), solo
arenoso laterítico (LA’) e solo argiloso laterítico (LG’). Em geral, os solos late-
ríticos podem ser superficiais (característico de regiões tropicais, úmidas e bem
drenadas), residuais e ricos em argilominerais do tipo caulinita (contendo elevado
teor de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio). Os solos lateríticos apresentam
um comportamento desejável para a engenheira geotécnica após a compactação
(elevada resistência mecânica, baixa permeabilidade e baixa deformabilidade).
•  Solos de comportamento não lateríticos (saprolíticos): os solos saprolíti-
cos são representados pela terminologia “N”. São subclassificados em areias, siltes
e misturas de areias e siltes com predominância de grão de quartzo e/ou mica,
não laterítico (NA), misturas de areias quartzosas com finos de comportamento
não laterítico (NA’), solo siltoso não laterítico (NS’) e solo argiloso não laterítico
(NG’). O saprólito, em geral, é o resultado do intemperismo da rocha mantendo,
de maneira nítida, a estrutura da rocha que lhe deu origem. Sua ocorrência dá-se

capítulo 2 • 55
nas camadas mais profundas do perfil do solo tropical. Os argilominerais presentes
nos saprólitos de solos tropicais em sua maioria são montmorilonita, ilita e alguns
minerais primários.

ATIVIDADE
01. Você foi contratado para definir, sob o ponto de vista de engenharia geotécnica, qual
entre 03 terrenos seria o mais adequado para a implantação de um centro logístico de dis-
tribuição. Após sua visita, você constatou que todos apresentam topografia favorável para a
construção, porém, após chegarem os resultados da investigação geotécnica realizada nos
03 terrenos, você se deparou com as seguintes informações:

Terreno 01:
Predominância de solo residual de gnaisse
Limite de liquidez do solo = 47%
Limite de plasticidade do solo = 29%

Terreno 02:
Predominância de solo residual de granito
Limite de liquidez do solo = 53%
Limite de plasticidade do solo = 41%

Terreno 03:
Predominância de solo argiloso poroso vermelho
Limite de liquidez do solo = 74%
Limite de plasticidade do solo = 41%

REFLEXÃO
No começo deste capítulo, foi apresentado um dos principais conceitos da mecânica
dos solos denominado estado dos solos. O estado dos solos é decursivo da proporção
em que as três fases se apresentam na natureza, o que irá determinar como ele vai se com-
portar mecanicamente. Deste conceito, podemos entender os principais comportamentos
e propriedades mecânicas de um solo tais como resistência ao cisalhamento, capacidade

capítulo 2 • 56
suporte, compressibilidade, permeabilidade – todas igualmente importantes em nossas apli-
cações geotécnicas.
Adentro no capítulo, começamos a descobrir as principais diferenças entre os solos,
com a nítida formação de dois grandes grupos – os solos granulares e os solos finos. Cada
grupo é minuciosamente detalhado quanto às suas características físicas, passando pela
compacidade relativa, nos solos granulares e limites de Atterberg (limites de consistência)
nos solos finos. Também, dentro do mesmo viés geotécnico, foi apresentada a estrutura dos
solos, tanto focado no grupo dos granulares quanto nos finos. Ficou claro que a estrutura de
formação de um solo é, entre as demais características físicas, a que influencia diretamente
a resistência deste material.
Ademais, já no final deste capítulo, foram apresentadas as diversas metodologias de
classificação dos solos. Ficou evidente que os sistemas de classificação de solos, do ponto
de vista da mecânica dos solos, têm como objetivo principal a avaliação preliminarmente dos
solos, indicando suas prováveis propriedades para determinada finalidade. Busca-se com a
classificação correlacionar cada classe de solos com o seu esperado comportamento em
campo diante de uma solicitação de engenharia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo – determinação do limite
de liquidez - elaboração. Rio de janeiro, 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e solos - elaboração. Rio
de janeiro, 1995.
BUENO, BENEDITO de SOUZA e VILAR, ORÊNCIO MONJE. M. Mecânica dos solos. São Carlos:
EESC/USP, 1984. 131p.
CAPUTO, HOMERO. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6ª Ed. v1. São Paulo: LTC Editora,
1998. 234p.
LAMBE, T.W.; WHITMAN, R.V. Soil mechanics. Nova Iorque: John Wiley & Sons, 1969.
NOGAMI, J.S.; VILLIBOR, D.F. Uma nova classificação de solos para finalidades rodoviárias.
1981. In Simpósio Brasileiro de Solos Tropicais em Engenharia, Rio de Janeiro -RJ.
SOUSA PINTO, CARLOS. Curso básico de mecânica dos solos. Oficina do Texto. 2000. Rio de
Janeiro/RJ.

capítulo 2 • 57
capítulo 2 • 58
3
Compactação dos
solos e a interação
solo-água
Compactação dos solos e a Interação solo-
água

Iniciaremos este capítulo com a aplicação dos conceitos introdutórios da me-


cânica dos solos apresentados nos capítulos anteriores. Você irá notar que a com-
preensão da origem e formação dos solos bem como das principais propriedades
índices será de suma importância para o entendimento da compactação dos solos
e da interação solo-água.
Na prática, temos, a compactação dos solos e o conhecimento dos mecanis-
mos de interação do solo com a água presentes na maior parte de nossos desafios
da engenharia civil, dada influência destas propriedades no comportamento me-
cânico dos solos. Venha, vamos encarar!

OBJETIVOS
•  Apresentar os conceitos teóricos do princípio de compactação dos solos;
•  Contextualizar a aplicação dos conceitos teóricos da compactação dos solos com a prática
da engenharia geotécnica;
•  Apresentar os princípios da interação do solo com a água;
•  Detalhar a Lei de Darcy e sua aplicação com a permeabilidade dos solos;
•  Apresentar a metodologia para determinação do coeficiente de permeabilidade;
•  Apresentar os coeficientes de permeabilidade típicos da literatura da mecânica dos solos;
•  Contextualizar a influência das propriedades físicas do solo e do fluido em sua
permeabilidade.

Compactação dos solos

Conceitos Iniciais

Na mecânica dos Solos, a compactação deve ser interpretada como a aplicação


de um esforço mecânico ou manual sobre os solos com o intuito de reduzir os
vazios existentes em sua estrutura. É verdade que, com o procedimento de com-
pactação, iremos alterar o estado inicial dos solos com a redução imediata de seu

capítulo 3 • 60
índice de vazios. Como consequência direta do procedimento de compactação, é
esperado o aumento da resistência mecânica deste solo bem como a melhoria das
propriedades hidráulicas. Como dito, o ganho de resistência mecânica por meio
da compactação será traduzido pelo acréscimo da resistência ao cisalhamento do
solo e pela redução de sua compressibilidade e permeabilidade.
Há de se enfatizar que a redução dos vazios da estrutura de um solo, ocor-
rida pelo procedimento de compactação, dá-se pela simples expulsão do ar de
seus poros imediatamente após a aplicação do esforço (energia de compacta-
ção). Esta redução do índice de vazios é função do tipo e estado inicial do solo
antes da compactação, bem como da energia aplicada. Entre os tipos usuais de
compactação dos solos podemos destacar os processos manuais, com a aplicação
de golpes por meio de soquetes, e os processos mecânicos, com o emprego de so-
quetes mecânicos, rolos estáticos e vibratórios.
Conforme Bueno e Vilar (1984), “as técnicas de compactação evoluíram em
face dos problemas de estabilidade e estanqueidade de maciços de barragens e pela
imposição da ausência de recalque em pavimentos rodoviários. Nos dias atuais,
é também usada como método de melhorar a capacidade de suporte dos solos
superficiais”. Ainda, de acordo com Sousa Pinto (2002), o desenvolvimento da
primeira técnica de compactação dos solos é de autoria do engenheiro americano
Ralph Proctor. Mundialmente utilizada até hoje, a técnica de compactação dos
solos foi publicada por Proctor em 1933. Anos depois, em 1958, a técnica de
compactação criada por Proctor foi modificada apenas na escala dos equipamen-
tos e no nível de energia de teste, vindo a ser denominada de Proctor Modificado.

Curva de compactação dos solos

O ensaio de Proctor, como ficou conhecida a técnica de compactação dos so-


los desenvolvida pelo engenheiro Ralph Proctor, é baseado na correlação existente
entre característica física, propriedades índices do solo e esforço aplicado, a saber:
99 Tamanho e forma dos grãos, distribuição granulométrica;
99 Peso específico seco;
99 Teor de umidade;
99 Energia de compactação.

Ao aplicar-se uma energia de compactação fixa sobre um solo, seu peso específico
seco aumenta com o incremento ascendente do teor de umidade até atingir um valor

capítulo 3 • 61
máximo de pico. Assim, depois de atingido este ponto, ainda com o contínuo aumen-
to do teor de umidade do solo, o peso específico seco começa agora a decrescer. Este
procedimento é representado graficamente para cada amostra de solo, sendo denomi-
nado na mecânica dos solos como curva de compactação dos solos.
Conforme detalhado em Souza Pinto (2000), na compactação de um solo,
sob um determinado teor de umidade, os grãos sólidos e a quantidade de água pre-
sente nos poros é mantida constante. Com a aplicação de uma energia de compac-
tação pré-determinada, temos o aumento do peso especifico seco do solo em razão
da eliminação do ar presente nos vazios. Com a eliminação de parte do ar presente
nos vazios do solo, temos uma imediata redução de volume (com a aproxima-
ção dos grãos), levando assim à densificação deste material. Desta forma, a ideia
principal do processo de compactação é a busca pelas condições de obtenção do
maior peso específico seco possível para dada amostra de solo. É fato que, quando
o solo encontra-se com baixo teor de umidade, o atrito entre os grãos é elevado.
Por consequência, a aproximação dos grãos e a eliminação do ar dos vazios é limi-
tada. Com o aumento da quantidade de água no solo, ou seja, aumento do teor
de umidade, a água começa a atuar como um lubrificante entre os grãos sólidos
proporcionando maior aproximação e eliminação do ar. Desta forma, é obtida a
redução dos vazios do solo e, por consequência, aumento do peso específico seco
(a quantidade de água permanece constante, o índice de vazios é reduzido e seu
peso específico seco aumenta). A figura 3.1 apresenta um esquema da compacta-
ção do solo pela aproximação da fase sólida, manutenção da fase líquida e redução
da fase gasosa.

Energia de Compactação

Redução Volumétrica
Ar
Ar

Água Água Densificação do Solo

Sólidos Sólidos

Antes da Compactação Após Compactação


Figura 3.1  –  Esquema de compactação do solo.

capítulo 3 • 62
A partir de determinado teor de umidade, a água presente nos poros começa a
dificultar a saída do ar, mantendo-o ocluso. Assim, um elevado grau de saturação
do solo impossibilita a redução de seu volume com a aplicação da mesma energia
fixa e, por consequência, o peso específico seco atinge um máximo para dada
condição. Portanto, para determinado teor de umidade, em uma energia fixa
de compactação aplicada, temos a obtenção do peso específico seco máximo
deste solo. Este teor de umidade é conhecido na mecânica dos solos como teor de
umidade ótimo, que varia de solo para solo a depender de características tais como
distribuição granulométrica, estrutura e composição química e mineralógica.
A figura 3.2 a seguir apresenta uma curva granulométrica de um solo onde é
possível observarem-se pontos notáveis como o peso específico seco máximo e o
teor de umidade ótimo.
ρd(kN/m3 )

Peso Específico Seco Máximo

Teor de Umidade Ótimo W (%)

Figura 3.2  –  Curva de compactação de um solo.

De acordo com Bueno e Vilar (1984), “no ramo seco da curva de Proctor (à
esquerda do teor ótimo de umidade) tendo o solo baixo teor de umidade, a água
de seus vazios está sob o efeito capilar. As tensões de capilaridade tendem a aglu-
tinar o solo mediante a coesão aparente entre suas partículas constituintes. Isto
impede a sua desintegração e o movimento relativo das partículas para um novo
rearranjo. Este efeito é reduzido à medida que se adiciona água ao solo, uma vez
que ela destrói os benefícios da capilaridade, tornando este rearranjo mais fácil.
No ramo úmido da curva de Proctor, sendo eleva do o teor de água, ela, em
forma de água livre, absorve parte considerável da energia de compactação aplica-
da. Como a água é incompressível, parte desta energia é dissipada. A aplicação de
energias de compactação maiores produz a redução do teor ótimo de umidade e a

capítulo 3 • 63
elevação do valor da massa específica seca máxima”. Deve ser lembrado também
que, como não é possível expulsar todo o ar existente nos vazios do solo, a curva
de compactação nunca poderá alcançar a curva de saturação do solo.
Diante do apresentado, você deve ter notado que se torna fácil entender à
correlação entre as propriedades índices do solo, teor de umidade versus peso es-
pecífico seco. Conforme adiantado no início do capítulo, as características físicas
(granulometria, forma dos grãos e distribuição) dos solos bem como a energia
dispendida sobre este também interferem no desempenho final da compactação
deste material.
Em relação às características físicas dos solos, as curvas de compactação para
solos granulares com distribuição granulométrica do tipo bem graduado, por
exemplo, apresentam maiores valores absolutos de peso especifico seco máximo
num menor teor de umidade ótimo. Ainda, para solos também granulares, porém,
com distribuição granulométrica uniforme, o valor absoluto para o peso específico
seco máximo é menor do que na configuração anterior e em um maior teor de
umidade ótimo. O mesmo ocorre para os solos finos, onde em relação aos solos
granulares, os valores absolutos do peso específico seco máximo são menores com
maiores valores para o teor de umidade ótimo.
A figura 3.3 apresenta curvas granulométricas de solos com características fí-
sicas diferentes evidenciando a influência, nos valores máximos do peso específico
seco e do teor de umidade ótimo.

ρd(kN/m3 ) (1) Areia


(1)
(2) Areia Argilosa

(3) Argila Arenosa


(2)
(4) Argila Plástica
(3)

(4)

W (%)

Figura 3.3  –  Efeito das características físicas dos solos nas curvas de compactação (modi-
ficado de Caputo, 1998).

capítulo 3 • 64
Agora, em relação à influência da energia dispendida para a compactação dos
solos, no caso de o teor de umidade encontrar-se abaixo do ótimo (ramo seco), a
aplicação de maior energia de compactação provoca aumento do peso específico
seco, porém, no caso do teor de umidade do solo encontrar-se acima do ótimo
(ramo seco), quanto maior o esforço de compactação, pouco ou nenhum ganho
do peso específico seco será obtido. O aumento da energia de compactação sobre
solos com teor de umidade no ramo seco de uma curva de compactação não
possibilita o aumento do peso específico seco. Para esta umidade, a água presente
nos poros do solo não possibilita a expulsão do ar ocluso. Conforme relatado por
Sousa Pinto (2002, p.71), “essa situação ocorre no campo também, pela insistên-
cia de passagem do equipamento compactador quando o solo se encontra muito
úmido. Isso faz com que ocorra o fenômeno que os engenheiros chamam de bor-
rachudo. Este fenômeno acontece quando o solo se comprime na passagem do
equipamento e, logo a seguir, dilata-se como a borracha. O que se comprime são
as bolhas de ar ocluso”.
Ralph Proctor, tendo notado a influência da energia de compactação sobre o
par, peso especifico seco e teor de umidade, propôs uma nova metodologia para seu
ensaio, denominados de ensaios de Proctor Modificado e Proctor Intermediário.
Assim, observando as maiores intensidades de energia dispendidas por unidade de
volume de um solo, sua curva de compactação deslocava-se para esquerda e para
o alto. Percebeu-se, então, que a principal diferença entre o ensaio de Proctor
Normal e o Modificado dá-se pela energia de compactação elevada e seu número
de golpes por camadas. Já o ensaio de Proctor Intermediário ocorre na mesma
energia de compactação que o Modificado, porém com menos números de golpes
aplicados por camada de solo. A figura 3.4 ilustra curvas de compactação de um
solo com a aplicação de diferentes níveis de energia. Nitidamente, é observada a
influência da energia de compactação sobre o solo, representada pelos ensaios de
Proctor Normal, Intermediário e Modificado. A energia de compactação pode
ser definida matematicamente pela seguinte equação:
M x H x Ng x Nc
EC =
V

Onde:
99 EC – Energia de compactação;
99 M – Massa do soquete;
99 H – Altura de queda do soquete;

capítulo 3 • 65
99 Ng – Número de golpes;
99 Nc – Número de camadas;
99 V – Volume do solo.

ρd(kN/m3 )
Linha P. Específico Seco Máx.

Modificado

Intermediário

Normal

Teor de Umidade Ótimo W (%)

Figura 3.4  –  Curvas de compactação de um solo para diferentes energias aplicadas (modi-
ficado de Sousa Pinto, 2002).

Ensaio laboratorial de compactação dos solos (ensaio de Proctor)

O ensaio de compactação dos solos, conhecido na mecânica dos solos como


Ensaio de Proctor, é padronizado no Brasil de acordo com a ABNT NBR
7182/1986 – Solo – Ensaio de Compactação. De acordo com a referenciada nor-
mativa, o teste laboratorial permite a determinação do peso específico seco má-
ximo de compactação e o seu teor de umidade ótimo. A saber, você conhecerá os
principais tópicos do ensaio de compactação, também detalhados em Sousa Pinto
(2002, p.66):
99 A amostra de solo deve ser previamente seca ao ar e destorroada;
99 Água deve ser acrescida à amostra até que o solo fique com cerca de 5% de
umidade abaixo da umidade ótima;
99 A umidade da amostra do solo deve ser uniformizada e uma porção deve
ser separada e colocada em cilindro metálico-padrão (volume de 1000 cm³) e
submetida a 26 golpes de um soquete com massa de 2,5 kg a uma altura de queda
de 30,5 cm;

capítulo 3 • 66
99 A porção do solo a ser compactado deve ocupar cerca de 1/3 da altura do
cilindro. Este processo deverá ser repetido mais duas vezes até atingir uma altura
um pouco superior à do cilindro;
99 Determina-se o peso específico total da amostra e seu respectivo teor de
umidade. Com este par de valores, determina-se o peso específico seco do solo;
99 Após esta etapa, a amostra de solo deve ser destorroada, a umidade aumen-
tada em cerca de 2% e uma nova fase de compactação deve ser realizada;
99 Para as novas etapas, novos pares de valores do peso específico e teor de
umidade devem ser obtidos;
99 Repetem-se os procedimentos descritos até que se perceba que o peso
específico seco, depois de ter subido, já tenha caído em duas ou três operações
sucessivas;
99 Com os resultados obtidos, a curva de compactação é traçada, determinan-
do-se o peso específico seco máximo e o teor de umidade ótimo.

A figura 3.5 apresenta um esquema do equipamento de ensaio de compacta-


ção de solos, conforme preconizado por Proctor.

Soquete Padrão Com Guia


(Peso = 2,5 Kg)

Cilindro Metálico (Proctor)


(Volume = 1000 cm3)

Figura 3.5  –  Esquema do equipamento para ensaio normal de compactação de solo.

capítulo 3 • 67
Pela experiência prática, devem ser executadas de 4 a 5 etapas do ensaio para
cada amostra de solo, de forma a obterem-se, no mínimo, dois pontos abaixo e
dois acima do teor de umidade ótimo. Assim, o peso específico seco máximo de
uma amostra de solo pode ser determinado pela seguinte expressão:
ρ
ρd =
1− w

Onde:
99 ρd – peso específico seco;
99 ρ – peso específico natural;
99 w – teor de umidade.

Compactação dos solos em campo

A compactação dos solos em campo, diferentemente do ensaio realizado em


laboratório (ensaio de Proctor), é realizada com o emprego de equipamento de
médio e grande porte. De acordo com Bueno e Vilar (1984, p.128), “o solo local
ou aquele trazido das áreas de empréstimos deve ser espalhado uniformemente
sobre a área a ser aterrada, em espessuras tais que, após a operação de compac-
tação, atinjam as especificadas. Quanto mais finas, mais melhoria haverá não só
da compactação como também do controle. Uma faixa ideal de espessura deve
situar-se entre 20 a 30 cm, chegando ao máximo de 45 cm. A escolha do tipo de
equipamento e do número de passadas pode ser feita em aterros experimentais, os
quais podem mesmo ser as primeiras camadas da obra a ser construída. Uma vez
definidos a espessura da camada, o tipo de equipamento e o número de passadas,
restaria apenas manter o solo tanto quanto possível perto da unidade ótima, a
fim de que se possa obter uma alta eficiência na operação de compactação”. Além
das características físicas do solo e de seu teor de umidade, outros fatores devem
ser considerados para que o peso específico seco de compactação no campo seja
atingido. É sabido que a energia aplicada na superfície de uma camada de solo
diminui em função de sua profundidade onde passam a figurar como elementos
importantes a espessura da camada de solo e a intensidade da energia dispendida
pelo equipamento.
Para todas as etapas de compactação dos solos no campo, são empregados
diversos equipamentos, a saber:
99 Caminhão basculante – transporte e movimentação do solo;

capítulo 3 • 68
99 Trator de pneu e/ou esteira – espalhamento, homogeneização e unifor-
mização do solo;
99 Caminhão-pipa – irrigação de água para correção do teor de umidade
do solo;
99 Rolo compressor e/ou soquetes – aplicação de energia ao solo.

Caputo (1998, p. 177) cita que, a depender da natureza do terreno, empregam-


se rolos lisos, rolos pé de carneiro ou rolos pneumáticos. Os primeiros, em geral,
para solos arenosos e os segundos para solos argilosos, sendo que os últimos são
adaptáveis a quase todos os tipos de terreno. Rolos lisos são adequados para serviços
de acabamento de aterros, tanto para solos arenosos quanto para solos argilosos.
Dada a característica de seu tambor, os rolos lisos fornecem 100% de cobertura sob
as rodas, com pressões de contato com solo entre 310 a 380 kN/m². Os rolos de
pneus de borracha também são utilizados tanto em solos arenosos como nos argi-
losos. São mais eficazes (a compactação é combinação de pressão e amassamento)
do que os rolos lisos aplicando uma pressão de contato da ordem de 600 kN/m².
Os rolos equipados com tambores com várias projeções, conhecidos como rolo pé
de carneiro, são os mais eficientes para solos argilosos. A pressão de contato varia,
em geral, entre 1 400 a 7 000 kN/m². As passagens iniciais já compactam a porção
inferior da camada do solo através das “patas”. Entre os equipamentos portáteis,
temos os soquetes vibratórios, utilizados para trabalhos secundários como reaterro
de valas, bases de fundação em área limitada etc. Assim, recomenda-se que a camada
compactada tenha entre 10 a 15 cm para o caso dos solos finos e em torno de 15 cm
para o caso dos solos grossos.

Controle de compactação dos solos em campo

Para o controle e garantia da obtenção do peso específico seco máximo do


solo, conforme determinado em laboratório pelos ensaios de Proctor, no campo,
na medida em que o aterro de solo for sendo executado, deve-se verificar o teor de
umidade empregado para cada camada compactada e compará-lo com o teor de
umidade ótimo. Pela prática, o teor de umidade do solo, em campo, deve estar na
faixa de + 2% do teor de umidade ótimo.
Assim, o peso específico seco do solo no campo, comparando-o com o obtido
no laboratório, em geral deve ser mantido acima de 95%. Esta razão entre peso

capítulo 3 • 69
específico seco do solo no campo com o obtido no laboratório é conhecida na
mecânica dos solos como grau de compactação, expressa pela seguinte fórmula:
ρ(campo )
GC = x 100(%)
ρd m Æx .( laborat�rio )

Em caso de o grau de compactação não atender as recomendações de pro-


jeto ou normativa, o solo deverá ser revolvido e uma nova compactação deverá
ser efetuada.

Índice de suporte Califórnia do solo (CBR)

O índice de suporte Califórnia de um solo, comumente conhecido pela sigla


CBR (California Bearing Ratio), é um ensaio laboratorial que visa determinar a
capacidade de suporte de um solo compactado. Esta metodologia de ensaio foi
concebida pelo engenheiro americano O. J. Porter em 1939. O ensaio CBR de
um solo é um método de ensaio empírico, frequentemente utilizado na mecâ-
nica dos pavimentos. Tem-se por objetivos a determinação do índice de suporte
Califórnia (CBR) e a expansão (E) do solo. No Brasil, o ensaio do índice de su-
porte Califórnia foi padronizado pela ABNT NBR 9895/1987: Solo – Índice de
suporte Califórnia – Método de Ensaio.
Resumidamente, o ensaio CBR consiste na determinação da relação entre a
pressão necessária para produzir a penetração de um pistão num corpo de prova
de solo e a pressão necessária para produzir a mesma penetração em uma mis-
tura-padrão de brita estabilizada granulometricamente. Essa relação é expressa
em porcentagem.

Interação solo-água

Conceitos iniciais – tensão capilar

De acordo com o conceito da física, podemos definir a capilaridade como


um processo onde a água, em contato com um meio sólido, eleva-se e mantém-
se elevada a uma certa altura em relação à sua linha de pressão atmosférica. A
ascensão da água dá-se através de “caminhos” de pequena dimensão ou “capilares”
existentes na estrutura sólida. Intui-se, então, que a capilaridade é um mecanismo

capítulo 3 • 70
de tensão superficial nos líquidos dado pela combinação de forças de adesão (atra-
ção da molécula de água por uma superfície sólida) e coesão (atração entre si das
moléculas de água).
Nos solos, você poderá observar o mecanismo de capilaridade pela ascensão da
água presente nos poros de um solo saturado, além de sua linha freática. A altura
alcançada pela água que ascende pelos interstícios do solo varia de solo para solo a
depender de sua natureza. A figura 3.6 ilustra a distribuição típica da umidade do
solo considerando-se o mecanismo de capilaridade.
Nível Terreno Poço Freático Grau de Saturação (%)

Nível Capilar

Nível Saturação
Altura de
Ascensão

Profundidade
Nível Freático Capilar

100%

Figura 3.6 – Distribuição típica da umidade do solo (modificado de Caputo, 1988).

De acordo com Sousa Pinto (2002, p.93), os vazios dos solos são tão peque-
nos que podem ser assumidos como tubos capilares irregulares e interconectados.
Assim, a altura de ascensão da água no solo dada pelo mecanismo de capilaridade
dependerá da ordem de grandeza dos vazios que, por sua vez, dependerão do ta-
manho das partículas. Ainda, do mesmo autor, em pedregulhos a altura de ascen-
são da água por capilaridade tem o alcance de poucos centímetros, enquanto, nas
areias, o alcance dá-se na ordem de 1 a 2 metros acima da linha freática. Já, nos
siltes, a altura de ascensão é da ordem de 3 a 4 metros, enquanto, nas argilas, estes
valores abrangem dezenas de metros.
Na mecânica dos solos, o entendimento do mecanismo de capilaridade tem
grande importância para o entendimento da interação solo-água. Desta, diversas
soluções de engenharia advêm da interpretação do efeito da capilaridade nos solos
tais como:
9 Mecânica do pavimentos – Conforme citado por Caputo (1988, p.64)
“no dimensionamento de fundação para pavimentos onde temos um constituído
por um solo siltoso e o nível freático está pouco profundo, a fim de evitar que a água
capilar venha a prejudicar a estabilidade do pavimento a ser construído, tornam-se

capítulo 3 • 71
necessárias certas precauções, quer substituindo o material siltoso por outro de
menor grau de capilaridade, quer construindo sub-bases e bases adequadas”;
99 Contração dos solos – Ainda, do mesmo autor, é citado que à medida
que a água evapora do solo, uma pressão em todas as direções do interior do solo é
produzida pelo efeito da capilaridade. Tal estado, denominado de pressão capilar,
explica a contração dos solos durante o seu processo de perda de umidade;
99 Resistência ao cisalhamento dos solos granulares – A também deno-
minada coesão aparente das areias podem ser explicadas pelo mecanismo de ca-
pilaridade da água nos solos. De acordo com Sousa Pinto (2002, p.94), a tensão
superficial da água tende a aproximar as partículas do solo resultando no “aumen-
to de sua resistência ao cisalhamento”. Em geral, a coesão aparente refere-se às
areias, dada sua capacidade de saturar e secar-se facilmente. Este efeito é também
significativo nas argilas onde os valores da coesão aparente podem atingir altos
índices, o que nos permite, por exemplo, explicar a existência de taludes íngremes
em condições estáveis;
99 Barragens de Solo – O conhecimento do mecanismo de capilaridade da
água nos solos é de suma importância no dimensionamento e operação de barra-
gens de solo. De acordo com Caputo (1988, p.65), o efeito sifonamento capilar
consiste na percolação da água sobre o núcleo impermeável da barragem. Tal fato
ocorre quando a altura capilar do material que cobre o núcleo impermeabilizante
é maior que a distância entre a crista do núcleo e o nível d'água de montante.
Este efeito é nocivo à estabilidade e função da barragem de solo, pois, além de
possibilitar a passagem da água reservada, potencializa condições de instabilidade
no maciço terroso.

Permeabilidade dos solos

A Lei de Darcy – Coeficiente de permeabilidade

Conforme apresentado em capítulos anteriores, você deve se recordar de que


o solo é constituído por partículas sólidas oriundas do processo de decomposição
e/ou deterioração das rochas (fase sólida) e de vazios, definidos pelas fases líquida
e gasosa. A constituição da fase fluida – junção das fases líquida e gasosa – dá-se
sob a influência de diversos fatores, anteriormente detalhados.
É sabido que, com certa frequência, a água ocupa a maior parte dos vazios dos
solos e, não muito obstante, sua totalidade. Dá-se assim que a água presente nos

capítulo 3 • 72
vazios dos solos, quando não em condição de equilíbrio hidrostático, encontra-
se em constante movimento a depender, essencialmente, da diferença de poten-
cial hidráulico a qual esteja submetida. Iremos,então, nominar o teor geotécnico
percolação ao movimento da água através das partículas sólidas do solo (si-
milar ao termo escoamento da hidrodinâmica). A maior ou menor facilidade de
percolação da água através dos vazios do solo representa, na mecânica dos solos,
a definição da propriedade permeabilidade dos solos. Assim, podemos definir
permeabilidade como a propriedade de um solo em permitir a percolação de água
ou de um outro fluido qualquer, através de seus vazios. Em havendo diferença
de potencial hidrostático, nos solos granulares, onde a água presente nos poros
encontra-se livre, a percolação dá-se mais facilmente. Em contraposição, para os
solos finos, a atuação da força de superfície dificulta a percolação da água. Dada a
existência de uma camada de água adsorvida ao redor dos argilominerais, sujeita a
elevadas pressões, apenas parte da água existente nos poros encontra-se livre para
fluir.
Entre as principais aplicações do conhecimento da permeabilidade dos solos
na engenharia geotécnica, podemos destacar:
99 Cálculo do volume de água – estimativa do volume de água a ser bom-
beado em serviços de rebaixamento do lençol freático bem como no volume de
água que se infiltra em uma escavação etc;
99 Análise de recalque – previsibilidade da magnitude da taxa de recalque
(velocidade de recalque), dado que, em geral, este ocorre pela expulsão da água dos
vazios dos solos (velocidade de percolação da água pelo solo);
99 Análise de estabilidade – a estabilidade dos solos é função de sua tensão
efetiva que, por sua vez, tem dependência da variação da pressão neutra do solo,
que depende das tensões provocadas pela percolação da água;
99 Estruturas de contenção– o dimensionamento, operação e monitora-
mento de estruturas de contenção como, por exemplo, barragens feitas com solo
dá-se, em geral, pela aplicação dos conceitos de força de percolação da água pelo
maciço terroso.

No ano de 1856, o engenheiro francês Henry Philibert Darcy enunciou a


lei fundamental do movimento da água subterrânea. Por definição, o termo “água
subterrânea” é entendido como a água abaixo da linha freática do solo e cujo fluxo
ocorre em regime laminar. Tal enunciado, conhecido como Lei de Darcy, baseia-
se em fatores geométricos do solo e demais variáveis que influenciam a vazão da

capítulo 3 • 73
água através de meios porosos. Da Lei de Darcy, temos que a velocidade de fluxo
da água através de meios porosos é diretamente proporcional ao gradiente hidráu-
lico existente. Desta, temos o gradiente hidráulico (i) de um solo definido através
da razão da diferença de carga hidráulica entre dois pontos do solo pela distância
existente entre estes, dado pela seguinte expressão:
h1 − h 2 ∆h
i= = → a dim ensional
L1 − L 2 L

Assim, de acordo com a Lei de Darcy, com parâmetros válidos apenas para
fluxo de água subterrânea ocorrendo em regime de escoamento laminar (Nº de
Reynolds < 2000), em solo saturado e com fluxo ocorrendo em regime permanen-
te (sem variação temporal das características), temos a velocidade de percolação (v)
definida pela seguinte expressão:

v = k × i → cm/s

Sendo:
99 v – Velocidade de percolação da água em meio poroso;
99 k – Constante denominada coeficiente de permeabilidade de Darcy;
99 i – Gradiente hidráulico.

Dessa forma, a permeabilidade de um solo é medida pelo seu coeficiente de


permeabilidade, ou seja, cada solo, a depender de suas características e condições
locais, possui um coeficiente específico. Este coeficiente de permeabilidade indica,
em outras palavras, a velocidade de percolação da água quando o gradiente hi-
dráulico é igual a um. Ainda de Darcy, agora aplicando-se o princípio de continui-
dade da hidrodinâmica, podemos reescrever a equação da Lei de Darcy conforme
a seguinte expressão:
Q = v × A → cm3/s
Q = (k × i) × A
 ∆h 
Q = k x x A
 L 
Q
k= → cm / s
ixA

capítulo 3 • 74
Sendo:
99 Q – Vazão de percolação da água em meio poroso;
99 k – Constante denominada coeficiente de permeabilidade de Darcy;
99 i – Gradiente hidráulico;
99 A – Área do permeâmetr.

A figura 3.7, a seguir, apresenta a aplicação da Lei de Darcy para determina-


ção da velocidade de percolação de água em um meio poroso. Você pode observar,
em comparação, uma aplicação comum à engenharia geotécnica de utilização dos
conceitos de permeabilidade em uma barragem de solo (esquema superior) com
um equipamento conhecido na mecânica dos solos como permeâmetro (esquema
inferior). Observe que a diferença de potencial hidrostático (carga hidráulica) irá
provocar a ocorrência de um fluxo de água através do solo (meio poroso).
Nível D’Água Barragem de Solo

Nível D’Água

Nível D’Água

Diferença de Carga Nível D’Água


Hidráulica (Δh)

Comprimento (L)

Vazão (Q) Solo Vazão (Q)

Figura 3.7  –  Aplicação da Lei de Darcy para fluxo de água através de meio poroso.

Determinação do coeficiente de permeabilidade

Como dito anteriormente, cada solo possui um valor específico que determina
sua maior ou menor permissibilidade de percolação da água através de seus poros,
mensurável através de seu coeficiente de permeabilidade. Para determinação do

capítulo 3 • 75
coeficiente de permeabilidade, podemos utilizar os métodos diretos e indiretos.
Os ensaios diretos são realizados em laboratórios, com a utilização de permeâme-
tro, ou em ensaios in situ (ensaios de campo). Já os métodos indiretos utilizama
aquisição de informações acerca da permeabilidade do solo por meio da execução
de outros ensaios geotécnicos, em geral, o ensaio de adensamento.
Os métodos diretos para determinação do coeficiente de permeabilidade dos solos são:
99 Permeâmetro de carga constante – A metodologia para determinação do
coeficiente de permeabilidade do solo baseia-se na Lei de Darcy. É também pro-
cedimentalizada pela ABNT NBR 13292/1995: Solo – determinação do coefi-
ciente de permeabilidade de solos granulares à carga constante. Para tal, é uti-
lizado um permeâmetro de carga constante, onde um corpo de prova do solo em
análise é submetido a uma carga hidráulica (h) definida pela diferença de altura (h)
entre o reservatório superior e inferior O permeâmetro possui uma área (A), assim
do corpo de prova temos um comprimento (L). Conforme detalhado por Bueno
e Vilar (1984, p.96), a água que percolada através do corpo de prova é recolhida
em uma proveta graduada, tomando-se medida de tempo. O ensaio à carga cons-
tante é empregado para solos de permeabilidade alta (areias e pedregulhos),
uma vez que nos solos pouco permeáveis, o intervalo de tempo necessário para
que a água percole, em uma quantidade apreciável, é bastante grande. A figura 3.8
ilustra um permeâmetro de carga constante;
Nível D’Água Constante

Solo Comprimento (L)


Altura (h)

Nível D’Água

Figura 3.8  –  Permeâmetro de carga constante – solos granulares.

Uma vez conhecida a carga hidráulica constante (h), tomando-se o tempo


(t) e o volume de água vertido, teremos a vazão. Conhecendo-se os parâmetros

capítulo 3 • 76
geométricos do permeâmetro, podemos determinar o coeficiente de permeabilida-
de com a utilização da Lei de Darcy, que pode ser calculado pela seguinte equação:
Q xL
k= → cm / s
Axhxt

9 Permeâmetro de carga variável – De acordo com Sousa Pinto (2002,


p.103-104), quando o coeficiente de permeabilidade é muito baixo (solos fi-
nos), sua determinação deve ser conduzida com a utilização de um permeâ-
metro de carga variável, em que o tempo que a água leva para permear no solo é
tomado pela medição da descida da água de um ponto inicial (hi) até um ponto fi-
nal (hf ) em uma bureta localizada na parte superior do permeâmetro. Este ensaio é
padronizado pela ABNT NBR 14545/2000: Solo – determinação do coeficiente
de permeabilidade de solos argilosos à carga variável. A figura 3.9 ilustra um
permeâmetro de carga constante. Aqui, a vazão de água que passa pelo solo é igual
à vazão da água que passa pela bureta;

Nível D’Água Variável


Altura Inicial (hi)

Altura Final (hf)

Solo Comprimento (L)

Nível D’Água

Figura 3.9 – Permeâmetro de carga variável – solos finos.

Como os parâmetros geométricos entre a área ocupada pelo corpo de prova do


solo no permeâmetro e a área da bureta são diferentes, o coeficiente de permeabi-
lidade para ensaio à carga variável é dado pela seguinte expressão:
axL hi axL hi
k = 2, 3 x x log = x In → cm / s
Axt hf Axt hf

capítulo 3 • 77
99 Ensaio de campo – A determinação do coeficiente de permeabilidade
através da realização de ensaios in situ, em geral, são menos precisas quando com-
paradas aos métodos desempenhados em laboratório. Para solos granulares e pe-
dregulhos, os ensaios de bombeamento e de tubo aberto podem ser utilizados
para avaliações preliminares ou comprobatórias do coeficiente de permeabilidade;
99 Método indireto – Com a realização de ensaios geotécnicos, aqui espe-
cificamente o ensaio de adensamento de solos, faz-se possível a determinação da
velocidade de percolação da água pormeio da aquisição da velocidade de recalque
do solo, quando este é submetido a uma compressão. Daí, de forma indireta, po-
demos determinar o coeficiente de permeabilidade deste solo.

Valores típicos de coeficiente de permeabilidade

Citado por Sousa Pinto (2002, p.105), os coeficientes de permeabilidade dos


solos, dada a percolação da água através de um meio poroso, são baixos quando
comparados a escoamentos em meio livres. Numericamente, o coeficiente de per-
meabilidade é expresso por uma potência negativa de 10. Quanto menores os va-
zios do solo e menores os tamanhos das partículas sólidas, menor o coeficiente de
permeabilidade. Temos, do mesmo autor, referências para valores do coeficiente
de permeabilidade para diversos tipos de solo, conforme apresenta a tabela 3.1.

COEFICIENTE DE PERMEABILIDADE - K [CM/S]


Alto Médio Baixo Muito baixo Baixíssimo

x 10 2 x10 x10-2 x10-4 x106 x10-8

Areias muito finas, siltes, mis-


Pedregulhos Areia Argilas
turas e algumas argilas

Tabela 3.1  –  Referência de grandeza numérica para coeficiente de permeabilidade para di-
versos tipos de solos (modificado de Caputo, 1988).

Fatores que influem na permeabilidade dos solos

O coeficiente de permeabilidade dos solos, conforme premissas relacionadas


à validade da Lei de Darcy, é dependente das propriedades físicas dos solos e do
fluido em fluxo de percolação.

capítulo 3 • 78
99 Influência do estado do solo – Como sabido, a permeabilidade dos solos
sofre grande influência de seu estado, representado pelas propriedades índice po-
rosidade e índice de vazios. Assim, quanto mais fofo for um solo, ou seja, quanto
maior for a dimensão de seus poros, maior será o seu índice de vazios e, por con-
sequência, maior será seu coeficiente de permeabilidade.
99 Influência da distribuição granulométrica e tamanho dos grãos do
solo – É sabido que os solos que apresentam distribuição granulométrica unifor-
me tendem a maiores valores de coeficiente de permeabilidade. Em comparação,
solos com distribuição classificada em bem graduados, em geral possuem valores
mais baixos de coeficiente de permeabilidade. Adicionalmente, solos formados
por grãos de tamanho acima de 2,0 mm possuem, em geral, valores de coeficien-
te de permeabilidade superiores a 10-2 cm/s, enquanto, para tamanhos de grãos
abaixo de 0,074 mm, os valores do coeficiente de permeabilidade são menores que
10-4 cm/s.
99 Influência da composição mineralógica – Solos formados de rochas de
argilominerais (caulinitas, ilitas, montmorilonitas etc.) possuem baixa permeabi-
lidade. Em geral, o coeficiente de permeabilidade para solos oriundos de argilo-
minerais variam de valores de 10-7 a 10-9 (cm/s). Já solos formados de rochas de
silicatos, em geral, apresentam valores de coeficiente de permeabilidade da ordem
de 10-2 a 1,0 (cm/s);
99 Influência do grau de saturação do solo – Sabe-se que, pela baixa velo-
cidade de percolação da água no solo em geral, o fluxo do fluido não consegue
remover bolhas de ar presentes nos vazios de solos não saturados. Estes bolsões de
ar acabam por oferecer barreiras à percolação do fluido, afetando a permeabilidade
do solo. O coeficiente de permeabilidade de um solo saturado é maior do que este
apresentaria, caso estivesse em uma condição de não saturamento;
99 Influência da estrutura do solo – Conforme apresentado por Sousa Pinto
(2002, p.107), “a permeabilidade depende não só da quantidade de vazios do
solo, mas também da disposição relativa dos grãos”. Em geral, os solos residuais
apresentam maiores valores de coeficiente de permeabilidade em virtude dos ma-
croporos de sua estrutura. Já os solos sedimentares, dada sua natureza de forma-
ção, em geral apresentam maiores valores de coeficiente de permeabilidade na
direção horizontal do que na vertical. Ainda, do mesmo autor, para condições de
solos compactados, o coeficiente de permeabilidade na direção horizontal cos-
tuma apresentar valores de 5 a 15 vezes maiores do que na direção vertical. Em

capítulo 3 • 79
complemento, solos com estruturas floculadas também apresentam coeficiente de
permeabilidade maior do que estruturas dispersas;
99 Influência da viscosidade do fluido – De acordo com Bueno e Vilar (1984,
p.71), “o peso especifico e a viscosidade são duas propriedades do fluido que exer-
cem influência significativa. Sabe-se que essas duas propriedades variam, em função
da temperatura, entretanto a viscosidade é muito mais afetada”. Assim, para fins de
padronização, os métodos diretos para determinação do coeficiente de permeabili-
dade são desempenhados com o fluido (em geral água) à temperatura de 20 ºC.

ATIVIDADES
01. Para a construção de uma estrada, uma jazida de solo para construção dos aterros foi
selecionada. Após a coleta de amostras de solo desta jazida, foram conduzidos ensaios de
compactação em que os resultados foram apresentados na tabela a seguir. Pede-se, assim,
que se elabore a curva de compactação para o solo da jazida bem como a determinação do
peso específico seco máximo e do teor de umidade ótimo.

02. Durante o processo de construção do aterro da estrada do exercício anterior, a primeira ca-
mada de solo obteve o seguinte resultado de campo: ρd = 13,85 kN/m³ (peso específico seco)
Admitindo-se que o projetista tenha especificado um grau de compactação de 95% do
Proctor Normal, defina se a referida camada está liberada para o recebimento da camada
superior. Justifique sua resposta.

03. Uma amostra de solo foi submetida a um ensaio de permeabilidade a fim de determinar
sua condutividade hidráulica. Pede-se que se determine o coeficiente de permeabilidade do
solo. Os parâmetros do ensaio são:
•  Comprimento do corpo de prova (L) = 40 cm
•  Diâmetro da amostra no permeâmetro = 190 cm²
•  Diferença de carga hidráulica aplicada (h) = 40 cm
•  Volume de água vertido = 285 cm³
•  Tempo de coleta da água vertida = 5 min.

capítulo 3 • 80
RESUMO
Ao final da leitura deste capítulo, tenho certeza de que você notou o quão importante é,
para a compreensão do comportamento mecânico dos solos, o entendimento da origem e
formação dos solos e de suas propriedades índices.
Agora, uma vez apresentados os conceitos e aplicações da compactação dos solos e,
também, os mecanismos de interação da água com o solo, vocês estão aptos a experimentar
os principais desafios de um engenheiro geotécnico. O entendimento da compactação dos
solos, atividade imprescindível praticamente à totalidade das obras, mostra-se dependente
do controle do teor de umidade do solo, sendo também fortemente influenciado por seu
tipo, textura e granulometria. Já o mecanismo de interação solo-água, existente em todas as
obras geotécnicas, abre aqui uma “porta” para uma área de estudos das mais complexas e
desafiadoras da mecânica dos solos. Estes mecanismos, traduzidos pela Lei de Darcy e, por
conseguinte, caracterizados pela definição da permeabilidade de um solo, estão presentes
no entendimento das análises de recalque, estruturas de contenção em solo, escavações e
obras subterrâneas, etc.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação -
elaboração. Rio de janeiro, 1986.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13292: Solo – Determinação do
coeficiente de permeabilidade de solos granulares à carga constante – elaboração. Rio de janeiro,
1995.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14545: Solo – Determinação do
coeficiente de permeabilidade de solos argilosos à carga variável – elaboração. Rio de janeiro, 2000.
BUENO, BENEDITO de SOUSA e VILAR, ORÊNCIO MONJE. M. Mecânica dos solos. São Carlos:
EESC/USP, 1984. 131p.
CAPUTO, HOMERO PINTO. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6ª Ed. v1. São Paulo: LTC
Editora, 1998. 234p.
PINTO, CARLOS DE SOUSA. Curso básico de mecânica dos solos. Oficina do Texto. 2ª Edição,
2002. Rio de Janeiro/RJ.

capítulo 3 • 81
capítulo 3 • 82
4
Estudo das tensões
no solo
Estudo das tensões no solo
No capítulo 4, vocês serão agora apresentados ao cerne da mecânica dos solos,
ou seja, ao estudo das tensões no solo. Nas diversas aplicações da engenharia geo-
técnica, a interação total estrutura-solo, um estado de tensões no solo é desenvol-
vido. Além disso, mesmo na natureza o solo já se encontra submetido a tensões.
Para análise do desenvolvimento das tensões nos solos e respectivas consequências
geomecânicas, as principais teorias e parametrizações físico-matemáticas para o
entendimento deste fenômeno no solo serão agora apresentadas. As solicitações
externas aplicadas ao solo, somadas às tensões geostáticas locais (aquelas causadas
pelo próprio peso do solo), irão criar um estado de tensão no solo a serem aqui,
neste capítulo, interpretadas e calculadas. Adicionalmente, baseado na teoria da
elasticidade, iremos também abordar os meios para avaliação da distribuição das
tensões no perfil do solo.
Ainda, para que o apreço pela mecânica dos solos seja encorajado, iremos
também apresentar-lhes a notória obra-prima elaborada pelo pai de nossa ciên-
cia, amplamente conhecida e utilizada na geotécnica: o princípio das tensões
efetivas. O que você está esperando? Vamos lá!

OBJETIVOS
•  Apresentar os conceitos teóricos das tensões no solo;
•  Contextualizar o conceito de tensões geostáticas;
•  Apresentar o conceito das tensões principais no solo;
•  Apresentar o desenvolvimento e aplicação das tensões no solo e seus componentes: ten-
sões totais, efetivas e pressão neutra;
•  Apresentar o princípio das tensões efetivas e suas aplicações na mecânica dos solos;
•  Analisar a distribuição de tensões em um perfil do solo;
•  Apresentar a solução de Boussinesq.

capítulo 4 • 84
Tensões nos solos

Conceitos Iniciais

Dos conhecimentos advindos da mecânica básica, entendemos a tensão como


o mecanismo de aplicação de esforços mecânicos sobre um determinado sólido,
tendo como efeito final sua deformação. Assim, o conceito de tensão é fisicamen-
te representado pela relação entre as forças aplicadas sobre uma área de contato
deste sólido.Temos para a mecânica dos solos o mesmo conceito e, nele, a tensões
nos solos são interpretadas por meio da relação entre as forças internas e externas
aplicadas sobre um solo por sua área de contato. A figura 4.1 apresenta um fluxo-
grama do mecanismo das tensões e deformações em um material sólido.

APLICAÇÕES DA ESFORÇOS TENSÕES


SOLICITAÇÕES
ENGENHARIA MECÂNICOS
DEFORMAÇÕES

Figura 4.1  –  Mecanismo de tensões e deformações em um material sólido.

Na análise de tensões na mecânica dos solos, você já deve imaginar que os


esforços aplicados sobre o solo, em geral, são provenientes dos diversos carrega-
mentos oriundos das aplicações da engenharia civil, tais como o peso de uma edi-
ficação. É importante saber que, quando aplicamos um esforço sobre a superfície
de um solo, teremos, como consequência, a distribuição desta tensão ao longo de
seu perfil. Desta particularidade, devemos, então, acrescer os esforços provenientes
de seu peso próprio à análise de tensões nos solos.
Diferentemente dos sólidos, os solos são constituídos de partículas minerais
(sólidos) entremeadas por vazios (ar e/ou água. Assim, o entendimento do meca-
nismo de tensões nos solos difere do concebido para a mecânica dos sólidos. Nos
solos, os esforços são transmitidos de partícula a partícula, sendo, a depender do
tipo de solo, resistente por este contato e também pela água. A figura 4.2 ilustra
o mecanismo de transmissão dos esforços em um solo.
Conforme citado em Sousa Pinto (2002, p.83), o mecanismo de transmissão
dos esforços nos solos, de partícula a partícula, é bastante complexo e dependente
do tipo de mineral. Para os solos granulares, a transmissão dos esforços se faz pelo
contato direto entre as partículas minerais do solo. Já para os solos finos, a trans-
missão dos esforços dá-se por meio da água adsorvida quimicamente à superfície

capítulo 4 • 85
do argilomineral. Ainda, do mesmo autor, para ambos os tipos de solo, a transmis-
são dos esforços ocorre nos contatos, porém em áreas muito reduzidas em relação
à área total envolvida.

Figura 4.2  –  Mecanismo de transmissão de esforços em um solo.

Quando um solo é submetido a esforços mecânicos, tais solicitações geram


um estado de tensão que, por consequência, tendem a deformá-lo e modificar
seu volume e sua forma inicial. Nesse sentido, o nível de deformação do solo de-
penderá de suas propriedades mecânicas e do carregamento aplicado. Conforme
citado em Futai e Gonçalves (2014, p.23/24) “o estado de tensões no maciço
depende do peso próprio do solo, da intensidade da força aplicada e da geometria
do carregamento”. Como dito anteriormente, a transmissão das tensões ocorre
em áreas muito reduzidas, quando comparadas à área de aplicação dos esforços.
Analisando-se uma seção transversal hipotética no perfil do solo e sendo esta pa-
ralela à superfície de aplicação da solicitação no contato das partículas com tal
“plano”, teremos os esforços decompostos em componentes normais e tangenciais.
A somatória das componentes normais ao plano, dividida pela área total que
abrange as partículas em que estes contatos ocorrem, é definida como tensão nor-
mal. Já a somatória das forças tangenciais, dividida pela área, é referida como
tensão cisalhante (Sousa Pinto, 2002, p.84).

capítulo 4 • 86
Podemos, então, representar as tensões normais e tangenciais com as seguin-
tes expressões:
ΣN
σ= → Tensão normal
Área
ΣT
τ= → Tensão cisalhante
Área

A figura 4.3 apresenta o esquema do contato entre as partículas do solo no


mecanismo de desenvolvimento das tensões.

F F N
N F N
T T T

ÁREA

Figura 4.3 – Esquema do contato entre as partículas do solo no mecanismo de desenvolvi-


mento das tensões (modificado de Sousa Pinto, 2002).

Mesmo sabendo que o solo é um material particulado por simplificação, con-


sidera-se na mecânica dos solos o conceito de tensão como meios contínuos. Desta
forma, as áreas de contato entre as partículas de um solo são bem menores do que
a área total de aplicação do esforço, o que leva ao desenvolvimento de tensões
muito menores em relação às que, de fato, ocorrem nos contatos reais entre as
partículas.

Tensão vertical

A tensão vertical total atuante em maciços terrosos advém da composição de


esforços provenientes do peso próprio das camadas de solos (tensões geostáticas)
bem como da ocorrência de carregamentos externos aplicados em sua superfície.

capítulo 4 • 87
Também se faz possível o desenvolvimento de tensões nos solos quando da ocor-
rência de alívio de peso como, por exemplo, aquelas advindas de processos de
escavação. Desta forma, é definido um estado de tensão vertical total em cada
ponto do maciço terroso em função do peso próprio do solo, dos esforços exter-
nos aplicados e da geometria da área solicitada. Conforme apresentado por Bueno
e Vilar (1984, p.46), a tensão total em um ponto qualquer do perfil do solo, a
determinada profundidade, pode ser obtida considerando apenas o peso do solo
sobrejacente ocasionado pelo peso próprio do solo (tensões geostáticas). Sendo
horizontal a superfície do terreno, não existem assim tensões de cisalhamento nos
planos horizontais (as componentes das forças tangenciais tendem a se anular) e,
dessa forma, a tensão vertical total causada pelo solo é a tensão principal.
Dependendo, em geral, de fatores como origem, formação e utilização dos
solo, temos uma variação do peso específico com a profundidade. Sendo o solo
constituído por diferentes camadas horizontais, cada qual com seu peso específico
natural e espessura de ocorrência, podemos calcular a tensão vertical atuante em
um ponto qualquer do perfil considerando o peso próprio, sobrejacente, dividido
pela sua área de aplicação da seguinte forma:
peso solo
γnat = → peso específico natural do solo
volume
Peso solo = γnat x volume
Volume = profundidade x área de aplicação
peso γnat x volume γnat x profundidade x área
σ= = =
área área área
σ v = γnat x profundidade

No esquema apresentado na figura 4.4, a seguir, é possível observar a meto-


dologia do desenvolvimento da tensão vertical atuante em um ponto qualquer
localizado a uma profundidade n em um perfil do solo.

capítulo 4 • 88
H1
H2
Profundidade
H3
Hn

Área de
Aplicação

(
σ v = ∑ γnat i x Hi
i=1
)
Figura 4.4  –  Desenvolvimento da tensão vertical atuante em um ponto qualquer em um
perfil do solo..

Para maior compreensão do conceito de desenvolvimento da tensão vertical


total em um ponto qualquer, em um solo formado por camadas aproximadamente
horizontais, apresentamos o seguinte exemplo:
99 Assumindo que o perfil do solo da figura 4.4 apresente as seguintes carac-
terísticas, calcule a tensão vertical total ao final da terceira camada:
Camada 1 (argila) → γnat = 14 kN/m³ e h = 5,0 m
Camada 2 (areia) → γnat = 17 kN/m³ e h = 3,0 m
Camada 3 (pedregulho) → γnat = 20 kN/m³ e h = 2,0 m

capítulo 4 • 89
0 σ v (kPa)
0

Camada 1 - Argila
70 I
5

Camada 2 - Areia 121 II


8

161 III
Camada 3 - Pedregulho 10
Prof. (m)

Ponto I → σv1 = 14 kN/m³ x 5,0 m = 70 kPa;


Ponto II → σv2 = σv1 + (17 kN/m³ x 3,0 m) = 70 + 51 = 121 kPa;
Ponto III → σv3 = σv2 + (20 kN/m³ x 2,0 m) = 121 + 40 = 161 kPa.

Desta forma, o valor da tensão vertical total ao final da terceira camada de


solo do perfil da figura 4.4 é igual a 161 kPa. Cabe lembrar que, por hipótese,
foi considerado o solo completamente seco em um plano acima do nível de água
(nível freático).

Pressão neutra (poro-pressão)

Conforme apresentado por Futai e Gonçalves (2014, p.27), a pressão neutra


ou poro-pressão em um solo corresponde à pressão desenvolvida na água dos
vazios do solo, em função das cargas externas e internas. Assim, a pressão neutra
pode ser calculada de acordo com o conceito da hidrodinâmica de carga piezo-
métrica, segundo a Lei de Bernoulli. Ainda dos mesmos autores, quando da
existência de um nível de água, porém sem fluxo, a pressão neutra (u) será dada
pelo cálculo da pressão hidrostática existente. Então, você pode calcular a pressão
neutra do solo por meio da seguinte equação:

u = γágua x altura coluna de água

Sendo:
99 γágua → Peso específico da água (1 g/cm³ ou 10 kN/m³).

capítulo 4 • 90
Novamente, afim de facilitar sua compreensão sobre o tema, tomemos o exem-
plo anterior considerando que o nível freático do perfil esteja na fronteira entre a
camada 1 e 2. Assim, temos o seguinte desenvolvimento da pressão neutra no solo:
u (kPa)
0

Camada 1 - Argila
N.A. 0 I
5

Camada 2 - Areia 30 II
8

50 III
Camada 3 - Pedregulho 10
Prof. (m)

Ponto I → u1 = 10 kN/m³ x 0 m = 0 kPa;


Ponto II → u2 = 10 kN/m³ x 3,0 m = 30 kPa;
Ponto III → u3 = u2 + (10 kN/m³ x 2,0 m) = 30 + 20 = 50 kPa.

Desta forma, o valor da pressão neutra, ao final da terceira camada de solo


do perfil da figura 4.4, é igual a 50 kPa. Segundo Sousa Pinto (2002, p.86) “a
água no interior dos vazios, abaixo do nível de água, estará sob uma pressão que
independe da porosidade do solo; depende só de sua profundidade em relação ao
nível freático”.

Tensões totais em um solo

Como já descrito anteriormente, a tensão total vertical atuando em um ponto


do solo, abaixo da superfície, é dado pelo peso dos carregamentos sobrejacentes,
considerando-se o solo, a água e os possíveis carregamentos externos. Desta forma,
você poderá calcular a tensão total no solo a partir de seu peso específico (seco ou
saturado), do peso específico da água (a partir do nível freático) e dos possíveis
carregamentos externos. A seguir, apresentam-se as diversas configurações para
entendimento do desenvolvimento das tensões totais no solo:
99 Tensão total em um solo homogêneo – a tensão total aumenta com a
profundidade e peso específico até o um ponto qualquer no perfil do solo;

capítulo 4 • 91
σv
σh H
σh

σv

σv = γ x H

99 Tensão total em solo com diferentes camadas – a tensão total em um


ponto qualquer no perfil do solo é calculada por meio da soma dos pesos das
camadas sobrejacentes;

1 H1

2 H2

3 σv
H3
σh σh

σv

σv = γ1 x H1 + γ2 x H2 + γ3 x H3

99 Tensão total em solo abaixo de uma lâmina de água – a tensão total


em um ponto qualquer no perfil de um solo situado abaixo de uma lâmina de
água é calculada por meio da soma do peso do solo (do ponto considerado até a
superfície de contato com a água) e o peso da água acima da camada considerada.
A tensão total no solo poderá variar de acordo com mudanças no nível de água e/
ou escavação no solo;

Água Hw
σv
σh H
σh

Solo σv

σv = (γsat x H) + (γágua x Hw)

capítulo 4 • 92
99 Tensão total em solo com carregamento externo – a tensão total em
um ponto qualquer no perfil de um solo onde, na superfície do terreno, haja um
carregamento externo é calculada por meio da soma do peso do solo e do carre-
gamento externo. Para os casos onde o carregamento externo seja extenso como,
por exemplo, em aterros de barragem, o aumento da tensão total no solo poderá
ser considerado constante com a profundidade e de magnitude igual ao peso do
carregamento. Para os casos de carregamentos pontuais como, por exemplo, em
sapatas de edificações, a tensão total no solo irá decrescer com o aumento da pro-
fundidade e com o distanciamento horizontal a partir do limite da geometria de
aplicação do carregamento externo.
Carregamento Externo (q)

σv
σh H
σh

σv

σv = (γ x H) + q

Conforme apresentado em Bueno e Vilar (1984, p.46/47), em um elemento


de solo, além da tensão vertical originada através do peso próprio, também ocor-
rem tensões horizontais. Cabe lembrar que, em análises do desenvolvimento da
tensão vertical, considerando-se a atuação dos esforços em um plano horizontal ou
vertical no maciço terroso, devido à simetria as tensões de cisalhamento se anulam.
Assim, a tensão horizontal em um solo pode ser calculada com a seguinte equação:

σhorizontal = σvertical × K

Sendo:
99 K → coeficiente de empuxo do solo

Ainda, dos mesmos autores, ressalta-se que o conhecimento do coeficiente


de empuxo é de fundamental importância para a resolução de muitos problemas
da engenharia geotécnica como, por exemplo, cálculo de muros de arrimo e de
escavações. Deste permite-se determinar as tensões horizontais em massa de solo
e, por extensão, a resultante dessas tensões é denominada empuxo. Ainda, quando

capítulo 4 • 93
não ocorrem deformações na massa do solo e este encontra-se em repouso, con-
sidera-se o coeficiente de repouso (K = K0), que pode ser determinado aplicando-
se a teoria da elasticidade (admitindo-se o solo como um material homogêneo
e isótropo). O desenvolvimento das tensões normais em um plano vertical no
interior do maciço terroso é função do tipo do solo e de seu histórico de tensões
anteriormente submetidas. Assim, a correlação entre as tensões normais efetivas,
horizontal e vertical, em um ponto qualquer no interior do solo pode ser repre-
sentada pelo coeficiente de empuxo no repouso conforme ilustra a figura 4.5. As
tensões normais, verticais e horizontais, são também comumente nominadas na
mecânica dos solos como tensões principais.
N.T.

N.A.

H
σ'v = Σ(γxH) − u
σ'h σ'h = K0 xσ'v

σ'v

Figura 4.5  –  Tensões verticais e horizontais em um elemento do solo com superfície hori-
zontal (modificado, Sousa Pinto, 2002).

Observe, então, que a tensão vertical é desenvolvida pelo peso específico do


solo da camada sobrejacente ao ponto em análise e pelas possíveis sobrecargas
aplicadas na superfície. As tensões horizontais também sofreram acréscimos, po-
rém não da mesma magnitude das ocorridas na tensão vertical. Tal fato dá-se pela
existência de atrito entre as partículas que compõem o solo. De acordo com Sousa
Pinto (2002, p.241), o valor de K0 é menor do que a unidade, situando-se entre
0,4 a 0,5 para solos granulares e 0,5 a 0,7 para solos finos, ou seja, quanto mais
plástico for o solo, maior será seu K0. Ainda do mesmo autor, relata-se que, em
1944, o professor húngaro J. Jaky propôs a seguinte formulação empírica para
determinação do coeficiente de empuxo no repouso, a saber:

K0 = 1 - sen ø

capítulo 4 • 94
Sendo:
99 K0 → coeficiente de empuxo em repouso;
99 ø´ → ângulo de atrito interno efetivo do solo.

Princípio das tensões efetivas

Conforme apresentado em Sousa Pinto (2002, p.86), o professor e engenhei-


ro austríaco Karl Terzaghi, em 1936, estabeleceu um dos principais axiomas da
mecânica dos solos, sobretudo para o entendimento de seu comportamento me-
cânico, denominado princípio das tensões efetivas. Deste princípio temos que,
quando o solo se apresentar na condição saturada (os poros preenchidos por água),
a tensão normal total (σ) em um plano qualquer deve ser considerada como a
soma de duas parcelas, a saber:
99 Tensão efetiva – tensão transmitida pelos contatos entre as partículas do solo (σ´);
99 Pressão neutra – pressão atuante na água existente nos poros do solo (u).

Assim, desta assertiva, Terzaghi definiu a seguinte equação para os solos saturados:

σ´ = σ - u

Do princípio das tensões efetivas de Terzaghi, temos que todos os efeitos


mensuráveis de variações de tensões nos solos, como compressão, distorção e resis-
tência ao cisalhamento, são devidos a variações de tensões efetivas (Sousa Pinto,
2002). Em continuação à explicação do citado autor, temos que, nos solos, as defor-
mações correspondem a variações de forma ou de volume do conjunto, resultantes
do deslocamento relativo de partículas, sendo estas devidas somente a variações de
tensões efetivas que correspondem à parcela das tensões referentes às forças transmi-
tidas pelas partículas. Podemos ainda afirmar que a resistência do solo é controlada
pela tensão efetiva, pois maior nível de tensão efetiva (tensões normais entre
grãos) fornece ao solo maior capacidade de resistir a tensões cisalhantes. A figu-
ra 4.6 apresenta um esquema da composição das tensões em um solo.

capítulo 4 • 95
TENSÕES TOTAIS TENSÕES INTERNAS

TENSÃO EFETIVA σ´

σ
PRESSÃO NEUTRA u

τ TENSÃO CISALHANTE τ

Figura 4.6 – Composição das tensões no solo.

A tensão efetiva em solos secos (não saturados) é igual à tensão normal total,
devido à inexistência de pressão neutra. Além disso, tensões de cisalhamento não
podem ser suportadas pela água, cabendo esta função somente às partículas do
solo. A figura 4.7 ilustra a atuação das parcelas que compõem o princípio das
tensões efetivas em um solo.

σ σ σ σ σ
υ
υ σ′ σ′
σ′ σ′
υ σ′ σ′
σ′ σ′
σ′ σ′ υ σ′
υ

σ σ σ σ σ
Figura 4.7 – Desenvolvimento das parcelas que compõem a tensão total nos solos (tensão
efetiva e pressão neutra).

Em observação ao conceito estabelecido no princípio das tensões efetivas, é


fácil perceber que mudanças no nível freático, em um maciço terroso, quando

capítulo 4 • 96
este situado abaixo da superfície, geram como consequência a mudança da tensão
efetiva do solo. Ao contrário, em caso da existência de um nível de água acima da
superfície do solo, variações na coluna de água não implicam aumento ou dimi-
nuição da tensão efetiva deste solo. Neste último caso, o acréscimo ou decréscimo
do nível de água resulta em um aumento ou diminuição da pressão neutra, a
depender do caso, ocasionando a variação da tensão total do solo. Como relatado
por Sousa Pinto (2002, p.88), “se um carregamento é feito na superfície do terre-
no, as tensões efetivas aumentam, o solo se comprime e alguma água é expulsa de
seus vazios, ainda que lentamente. Mas se o nível de água numa lagoa se elevar, o
aumento da tensão total provocado pela elevação será igual ao aumento da pressão
neutra nos vazios e o solo não se comprimirá”.
Como entendimento final do aqui exposto temos que a tensão efetiva se apre-
senta como responsável pelo comportamento mecânico dos solos, e somente me-
diante a análise de sua intensidade e variação se faz possível estudar os fenômenos
de resistência e deformação dos solos (Sousa Pinto, 2002).
Afim de facilitar sua compreensão sobre o tema, tomemos o exemplo anterior
utilizado, porém aplicando-se nele o princípio das tensões efetivas:
σ vuσ(kPa)
0

Camada 1 - Argila
70
N.A. 5 I

Camada 2 - Areia
30 121
8 II
Tensão Efetiva

50 161
Camada 3 - Pedregulho 10 III
Prof.(m)

Verificar sobreposição na Camada 3


Nível do terreno:

σv0 = 0 kPa
u0 = 0 kPa
σo´ = 0 kPa

capítulo 4 • 97
Ponto I:

σv1 = 14 kN/m³ x 5,0 m = 70 kPa


u1 = 10 kN/m³ x 0 m = 0 kPa
σ1´ = σv1 = 70 kPa

Ponto II:

σv2 = σv1 + (17 kN/m³ x 3,0 m) = 70 + 51 = 121 kPa


u2 = 10 kN/m³ x 3,0 m = 30 kPa
σ2´ = σv2 – u2 = 121 - 30 = 91 kPa

Ponto III:

σv3 = σv2 + (20 kN/m³ x 2,0 m) = 121 + 40 = 161 kPa


u3 = u2 + (10 kN/m³ x 2,0 m) = 30 + 20 = 50 kPa
σ3´ = σv3 – u3 = 161 - 50 = 111 kPa

Desta forma, a tensão efetiva ao final da terceira camada de solo do perfil


apresentado é igual a 111 kPa. Da mesma forma, se faz possível a observação do
axioma desenvolvido por Terzaghi: princípio das tensões efetivas.

Distribuição de tensões no solo

Uma vez apresentado o conceito de desenvolvimento do estado de tensões


no solo, iremos agora analisar sua distribuição. Para tal, em analogia às diversas
aplicações geotécnicas da engenharia civil, tomemos um carregamento aplicado
na superfície de um terreno. Desta solicitação, tensões são induzidas no maciço
terroso, tendo, como consequência, a ocorrência de deformações na estrutura do
solo. A partir daí, além das tensões geostáticas inerentes ao peso próprio do solo,
o acréscimo de tensão promovido por eventuais estruturas assentes no terreno
devem ser consideradas e calculadas. Esta necessidade visa atestar a estabilidade
da estrutura de fundação e/ou dos efeitos destes carregamentos, por ela induzidos,
em obras na vizinhança.
Assim, a aplicação de uma sobrecarga ao terreno produz modificações nas
tensões até então existentes (tensões geostáticas). Tais modificações ocorrem em

capítulo 4 • 98
todos os pontos do maciço solicitado. Desta forma, o modo como as tensões apli-
cadas se distribuem em um maciço terroso é chamado, na mecânica dos solos, de
distribuição de tensões no solo. Vale ressaltar que o mecanismo de distribuição
de tensões no solo também é válido para situações opostas à condição de aplicação
de sobrecarga ao terreno, como ocorre, por exemplo, nos casos de escavação e re-
moção do solo. Tal situação cria uma condição de “alívio de tensões”. A figura 4.8
ilustra condições típicas de distribuição de tensões no solo.
N.T. N.T. N.T. q

H H H

σ0 σ 0 − Δσ1 σ 0 − Δσ1 + Δσ2

Figura 4.8  –  Condições típicas de distribuição de tensão no solo .

Sabe-se, na mecânica dos solos, que um carregamento aplicado na superfície


do terreno induz acréscimo de tensões que se distribuem até certa profundidade
no perfil do solo, tanto na área subjacente à área de contato carga-terreno quanto
nas áreas laterais. Segundo Sousa Pinto (2002, p.151), “a somatória dos acrésci-
mos das tensões verticais, nos planos horizontais, em qualquer profundidade, é
sempre constante, os acréscimos das tensões imediatamente abaixo da área carre-
gada diminuem à medida que a profundidade aumenta, porque a área atingida au-
menta com a profundidade”. Desta forma, a intensidade do acréscimo de tensões
no solo tende a diminuir tanto com a profundidade como lateralmente, à medida
que aumenta a distância horizontal do ponto à área de carregamento. A figura 4.9
ilustra a distribuição de tensões típicas em um perfil do solo com a profundidade.

Figura 4.9  –  Distribuição de tensões no solo com profundidade (modificado Sousa Pinto, 2002).

capítulo 4 • 99
De acordo com Futai e Gonçalves (2014, p.34), para a determinação do acrés-
cimo de tensões no solo e, consequentemente, os recalques devido a carregamentos
externos, utiliza-se a teoria da elasticidade, pois esses recalques limitam-se às defor-
mações do solo. Os carregamentos externos induzem a uma distribuição de tensões
na massa de solo cuja magnitude, em um ponto no interior da massa de solo, é fun-
ção da posição no interior do terreno em relação ao carregamento externo. Assim, as
relações tensão-deformação não são lineares, porém, para fins práticos na mecânica
dos solos, a teoria da elasticidade linear é utilizada. Ainda, de acordo com os mes-
mos autores, limitações à aplicação da teoria da elasticidade nos solos se aplicam
apenas onde pequenos níveis de deformações são aceitos. Como alguns solos são
heterogêneos (estratificado, com matacões), outros isotrópicos (com descontinuida-
des, sobretudo em alguns solos sapróliticos), é comum a rigidez do solo aumentar
com a profundidade. Sousa Pinto (2002, p.153) afirma que a teoria da elasticidade é
aceita para interpretação da distribuição de tensões no solo, dado que, na mecânica
dos solos, ainda não se dispõe de melhor alternativa e, também, tal consideração tem
obtido satisfatória avaliação das tensões atuantes no solo. Desta forma, a distribui-
ção das tensões no solo pode ser representada por linhas de iguais valores de tensão,
denominadas de bulbo de tensões. De acordo com Futai e Gonçalves (2014, p.35),
considera-se o bulbo de tensões até 10% da carga aplicada.

Aplicação da teoria da elasticidade para solos – solução de Boussinesq

O matemático francês Joseph V. Boussinesq publicou, no ano de 1885,


equações para cálculo dos acréscimos de tensões efetivas nos solos, originadas
pela aplicação de uma carga pontual, agindo perpendicularmente na superfície
do terreno. Para tal formulação, Boussinesq adotou o solo como um material com
comportamento linear elástico, desconsiderando a variação volumétrica do solo
sob carregamento. Desta forma, os acréscimos das tensões verticais em um ponto
qualquer da aplicação de uma carga pontual na superfície do terreno, conhecida
como equação de Boussinesq, é apresentada na figura 4.10 a seguir:
3 x z3
σv = 5
xQ
2 x π x (r 2 + z 2 ) 2

Figura 4.10  –  Equação de Boussinesq para carga concentrada.

99 Q – Carga concentrada aplicada na superfície do terreno;

capítulo 4 • 100
9 z – Profundidade de um ponto qualquer no perfil do solo.
Quando se deseja conhecer a tensão vertical exatamente abaixo do alinha-
mento do carregamento concentrado Q, ou seja, raio igual a zero, a equação de
Boussinesq pode ser reescrita da seguinte forma:
Q

σv
σr
P
r 0, 48 x Q
σt σv =
z2

Outro pesquisador, o engenheiro americano Nathan M. Newmark, assumin-


do como válida a teoria da elasticidade para os solos, desenvolveu a equação para o
cálculo das tensões provocadas no interior do solo por meio de um carregamento
uniformemente distribuído em uma área retangular na superfície do terreno.

ATIVIDADES
01. O galpão de uma planta industrial será construído sobre um terreno, cujo perfil do solo
(informações extraídas de uma campanha de sondagens em percussão) apresenta a seguin-
te característica:
9 A camada superficial é formada por uma areia com compacidade fofa apresentando um
peso específico natural de 16,5 kN/m³ e espessura de 3,0 m.
9 A segunda camada de solo é também formada por areia, porém compacta. Seu peso es-
pecífico determinado é de 19,2 kN/m³ e a espessura de ocorrência é de 5,0 m.
9 Subjacente a esta camada, identificou-se um solo muito resistente, constituído de pedre-
gulhos, com peso específico determinado de 21,5 kN/m³. A espessura desta camada é de
2,0 m.
9 O nível freático do terreno foi encontrado a 2,0 m da superfície do terreno.
Pede-se que se determinem as tensões totais, efetivas e a pressão neutra ao final da
última camada.

capítulo 4 • 101
02. Utilizando a solução proposta por Boussinesq, determine o acréscimo de tensão em dois
pontos no perfil do solo, dado um carregamento pontual aplicado na superfície do terreno, à
profundidade de 6,0 m, conforme ilustra o esquema a seguir.

Q = 20 tf

6,0 m
σ va

A σ vb
B
8,0 m
σt

RESUMO
Como visto neste capítulo, entendemos a tensão nos solos como a relação entre as for-
ças internas e externas aplicadas sobre ele por sua área de contato. Na análise de tensões
na mecânica dos solos, os esforços aplicados sobre o solo são provenientes dos diversos
carregamentos oriundos das aplicações da engenharia civil tais como, por exemplo, o peso
de uma edificação, pavimentos, aterros, entre outros. Assim, nos solos, os esforços são trans-
mitidos de partícula a partícula e o grau de resistência a este contato e ao contato com a
água é dependente do tipo de solo sobre o qual se está trabalhando. Quando um solo é
submetido a esforços mecânicos, tais solicitações geram um estado de tensão que, por con-
sequência, tende a deformá-lo e a modificar seu volume e sua forma inicial. Desta maneira, o
nível de deformação do solo dependerá de suas propriedades mecânicas e do carregamento
aplicado.
Em uma análise de uma seção transversal hipotética no perfil do solo e sendo esta para-
lela à superfície de aplicação da solicitação no contato das partículas com tal “plano”, teremos
os esforços decompostos em componentes normais e tangenciais, em que a somatória das
componentes normais ao plano, dividida pela área total que abrange as partículas em que es-

capítulo 4 • 102
tes contatos ocorrem, é definida como tensão normal. Já a somatória das forças tangenciais,
dividida pela área, é referida como tensão cisalhante.
A tensão total em um ponto qualquer no perfil do solo, a uma determinada profundidade,
pode ser obtida considerando-se apenas o peso do solo sobrejacente ocasionado pelo peso
próprio do solo, denominado na mecânica dos solos como tensões geostáticas. Já a pressão
neutra ou poro-pressão em um solo corresponde à pressão desenvolvida na água dos vazios
do solo, em função das cargas externas e internas. Por final, do princípio das tensões efetivas,
elaborado por Karl Terzaghi, quando o solo se apresentar na condição saturada (os poros
preenchidos por água), a tensão normal total em um plano qualquer deve ser considerada
como a soma da tensão efetiva (tensão transmitida pelo contato entre as partículas do solo)
e pressão neutra (pressão atuante na água existente nos poros do solo).
Adicionalmente, além das tensões geostáticas inerentes ao peso próprio do solo, o
acréscimo de tensão promovido por eventuais estruturas assentes no terreno devem ser
consideradas e calculadas, pela metodologia de distribuição de tensões no solo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, BENEDITO de SOUSA e VILAR, ORÊNCIO MONJE. M. Mecânica dos solos. São Carlos:
EESC/USP, 1984. 131p.
CAPUTO, HOMERO PINTO. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6ª Ed. v1. São Paulo: LTC
Editora, 1998. 234p.
FUTAI, MARCOS MASSA0 e GONÇALVES, HELOISA HELENA SILVA. Notas de aula revisadas –
mecânica dos solos e fundações. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP / PEF-522, 2014.
143P.
PINTO, CARLOS DE SOUSA. Curso básico de mecânica dos solos. Oficina do Texto. 2ª Edição,
2002. Rio de Janeiro/RJ.

capítulo 4 • 103
capítulo 4 • 104
5
Resistência ao
cisalhamento,
compressibilidade
dos colos e
investigação
geotécnica
Resistência ao cisalhamento,
compressibilidade dos solos e investigação
geotécnica
Caríssimos alunos, enfim chegamos o desfecho de nosso livro didático da dis-
ciplina Mecânica dos Solos. Aqui, no capitulo 5 vocês serão introduzidos, de for-
ma basilar, às principais propriedades mecânicas que regem o comportamento dos
solos e constituem os pilares fundamentais de sustentação de nossa ciência e da
engenharia geotécnica. Então, sem mais delongas, primeiramente iremos estudar
a resistência ao cisalhamento dos solos – tópico responsável pelo entendimento da
capacidade de sustentação e estabilidade dos solos quando submetidos às necessi-
dades da geotecnia. Mais adiante, abordarem o tópico de compressibilidade, para
compreender os mecanismos de recalques aos quais os solos submetem-se quando
carregados. De quebra, novamente o pai da mecânica dos solos deixará aqui sua
marca com sua proposição para a teoria de adensamento dos solos. Por fim, iremos
conversar sobre a importância da investigação geotécnica para o sucesso de nossas
aplicações na engenharia civil e as principais metodologias empregadas para a ex-
ploração do subsolo. Bom divertimento a todos e um até breve. Sucesso!

OBJETIVOS
•  Compreender o fenômeno de resistência ao cisalhamento dos solos;
•  Conhecer os critérios de ruptura dos solos;
•  Conhecer os parâmetros de resistência ao cisalhamento dos solos;
•  Conhecer os ensaios para determinação da resistência ao cisalhamento dos solos;
•  Entender os conceitos de compressibilidade dos solos e principais ensaios para determi-
nação da deformabilidade dos solos;
•  Conhecer a teoria de adensamento dos solos;
•  Compreender a importância da investigação geotécnica;
•  Conhecer os principais métodos utilizados para a investigação geotécnica.

capítulo 5 • 106
Resistência ao cisalhamento dos solos

Conceitos iniciais

No contexto da engenharia geotécnica, a busca pelo entendimento da máxima


capacidade de um solo, conforme seu estado de ocorrência, em suportar esforços
e/ou carregamentos oriundos das diversas aplicações da engenharia civil é sempre
um grande desafio. Em um breve olhar para o histórico de nossa ciência, mecânica
dos solos, o anseio e a necessidade de conhecer a resistência dos solos têm sido,
desde sempre, os principais intentos de seus pesquisadores. Assim, dá-se grande
destaque e importância ao estudo e conhecimento da resistência ao cisalhamento
dos solos, enquanto propriedade mecânica.
Neste contexto, as aplicações de esforços de compressão aos solos desenvolvem
no interior do maciço terroso tensões de compressão e cisalhantes. Sabe-se que
tanto os solos quanto os demais materiais de largo emprego na construção civil,
tal qual o concreto simples, resistem satisfatoriamente a tensões de compres-
são, porém apresentam capacidade limitada de suportar tensões de tração e
de cisalhamento. Especificamente para os solos, dada sua natureza granular e
friccional, a tendência de sua ruptura dá-se preferencialmente por esforços de cisa-
lhamento. Assim como afirmado por Souza Pinto (2002, p.248), “a ruptura dos
solos é quase sempre um fenômeno de cisalhamento”. O referido autor define
ainda a resistência ao cisalhamento de um solo como a máxima tensão de cisalha-
mento que o solo pode suportar sem sofrer ruptura ou a tensão de cisalhamento
no plano em que a ruptura estiver ocorrendo. Como exemplificação, a ocorrência
do deslizamento de um talude terroso ou mesmo de colapso de sistemas de fun-
dação de construções, via de regra, têm como causa a ruptura por cisalhamento.
Também a realização de escavações ou cortes de um maciço terroso podem induzir
tensões de cisalhamento no solo. As figuras 5.1, 5.2 e 5.3 ilustram alguns casos
típicos de ruptura por cisalhamento dos solos de aplicações da engenharia civil.

capítulo 5 • 107
Carregamento

Superfície de Ruptura

Figura 5.1 – Colapso da sapata de fundação.

Aterro

Figura 5.2 – Tensões cisalhantes induzidas por aterro.


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Figura 5.3 – Escorregamento de talude.

Para o entender o processo de cisalhamento nos solos, faz-se necessária a com-


preensão dos mecanismos de deslizamentos em sua fase sólida (minerais). Desta
afirmativa entendemos também que o mecanismo de deslizamento no interior do
solo depende também da natureza e da origem de sua formação, bem como das
características físico-químicas de suas partículas sólidas componentes tais como a
forma dos grãos, o tamanho deles e sua distribuição granulométrica, as atividades
de superfície, a presença de água e de elementos químicos, a evolução pedológica

capítulo 5 • 108
etc. Como também relatado por Souza Pinto (2002, p.248,) o mecanismo de
deslizamento entre corpos sólidos, a saber das partículas minerais que compõem o
solo, pode ser analisado por meio do fenômeno de atrito e da coesão.
Da física básica, temos que a resistência ao cisalhamento entre corpos sólidos
pode ser entendida por meio da proporcionalidade entre os esforços tangenciais e
a força normal aplicada sobre este. Assim, tal proporcionalidade é traduzida mate-
maticamente em uma grandeza denominada ângulo de atrito (ϕ), que é formado
entre as resultantes das forças tangenciais com a força normal. A figura 5.4 ilustra
o ângulo de atrito.
T

F N
φ
φ

T
N

Figura 5.4  –  Esquema de desenvolvimento do ângulo de atrito.

Para a mecânica dos solos, o ângulo de atrito pode ser entendido como o ân-
gulo máximo que a força transmitida pelo corpo à superfície pode fazer com a nor-
mal ao plano de contato sem que ocorra deslizamento (Sousa Pinto, 2002). Em
outras palavras, podemos afirmar que a resistência ao cisalhamento de um solo é
diretamente proporcional à componente normal do carregamento aplicado sobre
este. Ainda, dada a natureza granular dos solos, o atrito ocorre pelo deslizamento
e/ou deslocamento das partículas sólidas entre si. Fica assim evidente a influência
do estado do solo (“disponibilidade de vazios”) bem como das características fí-
sicas das partículas sólidas (formas, tamanho, distribuição granulométrica). Nos
solos predominantemente granulares, o esforço normal oriundo do carregamento
se faz suficiente para expulsar a água da superfície da partícula sólida de tal for-
ma que o atrito venha a ocorrer no contato grão a grão. Já, para os solos finos,
dada sua natureza (grandes quantidades de partículas dimensionalmente pequenas
envoltas por moléculas de água), as forças de contato oriundas da componente
normal do carregamento não se fazem suficientes para prover a remoção das mo-
léculas de água como ocorre nos solos granulares. Assim, a transmissão das forças

capítulo 5 • 109
de contato (atrito) entre as partículas sólidas nos solos finos ocorre por meio da
água adsorvida na superfície de seu mineral. Tal fato induz aos solos finos menor
“resistência friccional” quando comparados a solos granulares. Ainda, tal caracte-
rística traduz a “dependência” dos solos finos à velocidade do carregamento dos
esforços e, consequentemente, ao fenômeno de adensamento secundário (tópico a
ser também discutido neste capítulo). A figura 5.5 apresenta de forma compara-
tiva o contato entre as partículas sólidas dos solos granulares (areias) e solos finos
(argilominerais).

QUARTZO ARGILO-MINERAL
moléculas de água

1 mm 0,0001 mm
Escala Escala

Figura 5.5 – Transmissão de forças entre partículas de areias e de argilas (Sousa Pinto,
2002).

Em Sousa Pinto (2002, p.250), temos a citação que, apesar da resistência ao


cisalhamento dos solos ser predominantemente advinda do atrito entre as partícu-
las sólidas, a atração química entre as partículas pode provocar uma resistência
independente da tensão normal atuante no plano e que constitui uma coesão
real (c) como se uma cola tivesse sido aplicada entre os corpos. Evidentemente, a
parcela de resistência ao cisalhamento advinda da coesão é “mais representativa”
nos solos finos, o que se explica por sua natureza.
Diante do apresentado, vê-se que em praticamente todos os tipos de cons-
truções geotécnicas envolvendo escavações, fundações, túneis, barragens, taludes,
obras de contenção etc., sempre serão relacionados os esforços normais com a
resistência ao cisalhamento dos solos. Os esforços normais advindos do carrega-
mento poderão causar a compressão e consolidação do solo, acarretando variações
volumétricas ao maciço terroso. Já a resistência ao cisalhamento dos solos atuará

capítulo 5 • 110
na vertente de suporte, resistindo ao colapso da estrutura geotécnica. Em certos
casos, variações volumétricas do maciço terroso podem ocorrer quando da ativa-
ção da resistência ao cisalhamento, devido ao fenômeno de deformação do solo.
Assim, a ocorrência de colapso de um maciço terroso diante da aplicação de
um esforço sobre este dá-se quando os limites de resistência ao cisalhamento
dos solos forem excedidos. Assim, ao nos referirmos à resistência dos solos, esta-
remos implicitamente falando de sua resistência ao cisalhamento.

Critérios de ruptura

A ruptura dos solos ocorrerá em planos no interior do maciço terroso onde


a razão entre a tensão cisalhante e a tensão normal atingir um valor crítico.
Estes planos são denominados de planos de ruptura e ocorrem em inclinações que
funcionam como parâmetros de resistência do solo. Assim, as tensões, passando
por um ponto qualquer do solo (plano α), podem ser decompostas em suas com-
ponentes cisalhante e normal ao plano, conforme ilustra a figura 5.6.

σz

Z τ zx

σx
τ xz

X
Figura 5.6  –  Definição de um plano α com as componentes cisalhante e normal.

Traçando-se um círculo no espaço τ x σ, conhecido como Círculo das ten-


sões de Mohr, temos a representação de um estado de tensões em um ponto qual-
quer do solo em equilíbrio. Como os planos horizontal e vertical não apresentam
tensões cisalhantes atuando sobre eles, estes são chamados de planos principais e
as tensões que atuam sobre eles são as tensões principais. Para tanto, a aplicação
do círculo de tensões de Mohr tem seu melhor entendimento e aplicação por meio
da definição dos critérios de ruptura.

capítulo 5 • 111
Conforme apresentado por Sousa Pinto (2002, p.251), critério de ruptura
define-se como formulações matemáticas que buscam refletir as condições em que
ocorrem a ruptura dos materiais. Para os solos, os critérios de ruptura estabelecem
as máximas tensões de compressão, de tração ou de cisalhamento para o qual
este material pode experimentar sem colapsar. Estes critérios de ruptura podem
também ser representados em limites admissíveis de deformação, conforme sua
aplicação na engenharia. Ainda, esses critérios de ruptura podem ser considerados
níveis máximo de deformação dos solos. Desta forma, podemos afirmar que um
critério de ruptura se mostra eficiente quando ele reflete o real comportamento
do solo. De forma simplificada, podemos dizer que um maciço terroso, diante
de um dado estado de tensão, encontra-se em condição segura de utilização
quando seus parâmetros de resistência se situam no interior de sua envoltória
de ruptura.
Quando nos referimos à resistência ao cisalhamento de um determinado solo,
devemos sempre entender que o conceito de ruptura deste material é dependente
de suas características. Tal necessidade de compreensão decorre do fato de que cada
solo ou grupos de solos podem apresentar comportamentos mecânicos específicos,
representados por suas curvas de tensão vs. deformação. Em algumas situações, se
um solo é carregado até uma condição de ruptura iminente, as deformações apre-
sentadas podem ser tão grandes que, para todos os propósitos práticos, o material
deve ser considerado como rompido. Isto significa que o material não pode mais
suportar de modo satisfatório as cargas a ele aplicadas. Assim, poderíamos definir
como ruptura a máxima tensão que um determinado solo pode suportar ou,
de outra forma, a tensão apresentada por este para um nível de deformação
suficientemente grande para caracterizar uma condição de ruptura. Como
exemplo, podemos afirmar que, quando as cargas ou tensões em uma camada
de fundação ou em um talude são aumentadas, de modo que as deformações se
tornem inaceitáveis, dizemos que a fundação ou o talude romperam. Neste caso,
podemos afirmar que a resistência-limite do solo foi ultrapassada.
Segundo Sousa Pinto (2002, p.251), com consenso de diversos autores da
literatura da mecânica dos solos, os critérios de ruptura que melhor representam
o comportamento dos solos são os critérios de Coulomb e de Mohr (ampla-
mente conhecidos como critério de Mohr-Coulomb). O critério proposto por
Coulomb assume que não há ruptura do solo se a tensão de cisalhamento mo-
bilizada, em função de um determinado estado de tensão, não ultrapassar um
valor expresso pela seguinte equação:

capítulo 5 • 112
τ = c + (tan ϕ⋅σ)

Onde:
• τ – máxima tensão cisalhante que o solo pode suportar sem romper sob
uma tensão normal σ;
•  c – coesão real do solo;
•  tanϕ – ângulo interno de atrito do solo;
• σ – tensão normal.

Em complemente, o critério proposto por Mohr diz que não há ruptura do


solo enquanto o círculo representativo do estado de tensões se encontrar no inte-
rior de uma curva, que é a envoltória dos círculos relativos a estados de ruptura,
observados experimentalmente para o solo. “A ruptura de um solo se dá quando
a tensão cisalhante no plano de ruptura alcança o valor da tensão cisalhante de
ruptura do solo, o qual é uma função única da tensão normal neste plano, ou seja,
τf = f (σf )”. A figura 5.7 apresenta um esquema da representação do critério de
ruptura de um solo, conforme proposto por Mohr-Coulomb.

σ
τ
τ

τ
σn
τf
σn
τ 0 σnf
σn

Figura 5.7 – Esquema representativo do princípio do critério de ruptura Mohr-Coulomb.

capítulo 5 • 113
De acordo com o critério de ruptura de Mohr-Coulomb, podemos então dizer
que a tensão de cisalhamento de um solo pode ser compreendida como sua
resistência ao cisalhamento. Assim, adquirindo-se os círculos de Mohr para os
vários estados de tensão de um solo, é possível então traçar a sua envoltória de
ruptura-limite (envoltória de Mohr), que estabelece a relação entre a tensão de ci-
salhamento e a tensão normal na ruptura. As figuras 5.8 e 5.9 ilustram, de forma
representativa, a envoltório de Mohr para um solo conforme seus vários estados
de tensão ensaiados.

Envoltório da Ruptura

Figura 5.8  –  Envoltório de ruptura de Mohr.

Envoltório da Ruptura
σ′a τ′
φ′
σn′
τ′f
c′
τ′ σ′
σr′ σr′ σn′

σ′a

Figura 5.9  –  Envoltório de ruptura de Mohr-Coulomb.

Com conclusão do entendimento, podemos então afirmar que qualquer cír-


culo de tensão de Mohr localizado abaixo da envoltória de ruptura representa uma
condição estável. Assim, a ruptura somente ocorre quando a combinação das

capítulo 5 • 114
tensões normal e cisalhante resulta em um círculo que tangencia a envoltória de
Mohr. Coulomb (1776) constatou que existem duas componentes que influen-
ciam a resistência ao cisalhamento dos solos: uma delas é dependente das tensões
normais aplicadas e a outra independente. A componente dependente da tensão
normal traduz-se pelo ângulo interno de atrito do solo (ϕ) enquanto a indepen-
dente é relacionada com a coesão real do solo (c).
Desta forma, o ângulo interno de atrito (ϕ) e a coesão real (c) dos solos
são conhecidos na mecânica dos solos como os de parâmetros de resistência
do solo. Cabe aqui lembrar que estes parâmetros de resistência não são proprieda-
des inerentes do solo, e sim, ao contrário, estes são dependentes das condições de
parametrização dos ensaios laboratoriais para sua determinação. Podemos ainda
afirmar que, quanto maiores forem os valores dos parâmetros de resistência de um
solo, maior também será sua resistência ao cisalhamento. A figura 5.10 ilustra a
seguir a envoltória de ruptura de Mohr-Coulomb.

τf

φ } σ x tan φ

}
c
c
σf σ

Figura 5.10  –  Envoltória de resistência de Mohr-Coulomb..

Ensaios para determinação da resistência dos solos

Conforme apresentado por Caputo (1988, p.159/160), a resistência ao ci-


salhamento dos solos é, usualmente, determinada em laboratório por meio dos
seguintes ensaios:
•  cisalhamento direto;
•  compressão triaxial;
•  compressão simples.

capítulo 5 • 115
Os ensaios laboratoriais citados utilizam amostras de solo indeformadas. Caso
sejam utilizadas amostras deformadas, estas deverão obrigatoriamente ser molda-
das de forma a reproduzir as condições que se pretende alcançar na obra.
O ensaio de cisalhamento direto consiste em uma caixa de metal bipartida
(caixa de cisalhamento) na qual o corpo de prova de solo é colocado mediante
parametrização do ensaio. Sobre esta amostra de solo, é aplicada uma força nor-
mal (no sentindo vertical) por meio de um pistão hidráulico e, a seguir, é agora
aplicada, na caixa de cisalhamento, uma força cisalhante no sentindo horizontal.
Desta forma, sob um carregamento vertical constante, uma das partes da caixa de
cisalhamento move-se em relação a outra até que a amostra de solo seja rompida
(ou até um nível máximo de deformação pré-estipulado). A figura 5.11 apresen-
ta um esquema representativo de um equipamento para ensaio de cisalhamento
direto de solos.
Esforço Normal
N

Esforço Tangencial
T
Plano de Ruptura

Figura 5.11 – Esquema representativo de um equipamento de ensaios de cisalhamento di-


reto de solos (adaptado de Sousa Pinto, 2002).

O ensaio pode ser executado sob "tensão controlada" ou sob "deformação


controlada”. Assim, o esforço resistente ao deslocamento horizontal traduz a re-
sistência ao cisalhamento da amostra do solo, para determinada força normal (N)
aplicada sobre o corpo de prova ensaiado. Para cada tensão normal aplicada, ob-
tem-se um valor de resistência cisalhante. Conforme detalhado por Caputo (1988,
p.160), com a obtenção dos pares (σ, τ) obtidos nos ensaios, determina-se direta-
mente a envoltória de resistência do solo. Com a envoltória, determinam-se os pa-
râmetros de resistência ao cisalhamento (ϕ) e (c). A figura 5.12 ilustra resultados
representativos obtidos nos ensaios de cisalhamento direto.

capítulo 5 • 116
τ =T/A
τ3

τ2 σn3 = P3 / A
τ1 σn2 = P2 / A
σn1 = P1 / A

τ
φ
τ3

τ2
τ1

c
σn1 σn2 σn3 σn
Figura 5.12  –  Representação de resultados típicos de ensaios de cisalhamento direto.

Vale lembrar que os ensaios de cisalhamento direto de solos não permitem a


determinação de parâmetros de deformabilidade e os resultados são obtidos em
termos de tensões efetivas.
O ensaio de compressão triaxial, conforme descrito por Caputo (1988,
p.161), é teoricamente mais completo que o ensaio de cisalhamento direto sendo
também o mais utilizado. Os ensaios triaxiais são realizados em aparelhos, como
esquematizados na figura 5.13, constituídos por uma câmara cilíndrica, de parede
transparente, no interior da qual se coloca a amostra, envolvida por uma membra-
na de borracha muito delgada . A base superior do cilindro é atravessada por um
pistão que, por intermédio de uma placa rígida, aplica uma pressão à amostra. A
câmara cilíndrica é cheia com um líquido, geralmente água, que pode ser subme-
tido a uma pressão que atua sobre a base da amostra. A tensão causada pela carga
axial, diferença entre as tensões principais, é comumente chamada de deviator
stress. Determinando-se os pares de tensões principais correspondentes à ruptura
das diversas amostras ensaiadas, traçam-se os respectivos círculos de Mohr. Em
seguida, assimilando-se a envoltória desses círculos à reta de Coulomb, obtêm-se

capítulo 5 • 117
os valores dos parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo (ϕ) e (c). A figura
5.14 ilustra resultados representativos obtidos de ensaios triaxiais.

Δσ1

σc σc
membrana

σc
corpo
de σc Pedras porosas
prova

drenagem ou Aplicação da
medição de
pressão neutra
pressão confinante

Figura 5.13 – Esquema representativo de um equipamento de ensaios triaxial de solos


(adaptado de Sousa Pinto, 2002).

σ1 − σ 3 σ 33
φ

σ 32
σ 31
c
σ 31 σ 32 σ 33 σ 12 σ 13 σ
ε σ 11

Figura 5.14 – Representação de resultados típicos de ensaios de triaxiais.

Os ensaios triaxiais, em referência às condições de drenagem e confinamento


da amostra de solo, podem ser realizados das seguintes formas:
•  Ensaio adensado drenado (CD);
•  Ensaio adensado não drenado (CU);
•  Ensaio não adensado não drenado (UU).

Cabe lembrar que o ensaio triaxial é mais versátil que um ensaio de cisalha-
mento direto, pois permite simular as diversas trajetórias de tensão próximas das
condições de campo. Além disso, também se faz possível durante o ensaio a reali-
zação do controle e medição da poropressão.

capítulo 5 • 118
O ensaio de compressão simples, conforme descrito por Caputo (1988,
p.162), é definido como um caso especial de compressão triaxial, com tensão de
confinamento igual a zero. Uma amostra de solo cilíndrica é colocada entre dois
pratos de uma prensa (em geral, toma-se uma amostra de solo de altura h, com va-
lor igual a duas ou três vezes o diâmetro D). A carga é aplicada progressivamente,
sendo a curva tensão-deformação traçada diretamente por um dispositivo adapta-
do ao aparelho utilizado para esse ensaio. Em função da resistência à compressão
R (σ1 =R), o valor da coesão de um solo puramente coesivo é igual à sua metade
(c = R/2), resultado particularmente expressivo e que se obtém do diagrama de
Mohr. A figura 5.15 ilustra, de forma representativa, resultados obtidos de um
ensaio de compressão simples:

τ σ1 = R

σ1 R
τ =c= =
2 2
0 σ

Figura 5.15  –  Representação de resultados típicos de ensaios de compressão simples


(adaptado de Caputo, 1988).

Resistência dos solos arenosos e dos solos argilosos

A resistência ao cisalhamento dos solos arenosos (areias) resulta exclusivamen-


te do atrito entre partículas sólidas (minerais). Desta forma, o atrito entre os grãos
da areia dá-se devido ao deslizamento e ao rolamento das partículas. A resistência
ao cisalhamento de solos arenosos pode ser determinada por ensaios laborato-
riais de compressão triaxial (do tipo adensado drenado – CD) bem como por
ensaio de cisalhamento direto. A resistência ao cisalhamento dos solos arenosos
é influenciada pelo seu estado (expresso pelo índice de vazios), bem como pela
distribuição granulométrica, formato e tamanho dos grãos, composição mineraló-
gica e presença de água. A presença de água influencia diretamente os valores das
tensões efetivas e elevam o ângulo de atrito. Por isso, quando se encontram drena-
das, apresentam melhores resultados de resistência ao cisalhamento. O estudo do

capítulo 5 • 119
comportamento resistente dos solos arenosos é realizado de acordo com seu estado
específico, a saber, sua compacidade fofa ou compacta.
Conforme apresentado por Caputo (1988, p.167), ao contrário do que ocorre
com os solos arenosos, o estudo da resistência ao cisalhamento das argilas, dado
o número de fatores interferentes, não apresenta a mesma simplicidade. Os prin-
cipais fatores que influem na resistência ao cisalhamento dos solos coesivos são o
estado de adensamento do solo, a sensibilidade de sua estrutura, as condições de
drenagem e a velocidade de aplicação das cargas.
De acordo com Sousa Pinto (2002, p.289), a distinção entre o comportamen-
to resistente dos dois grupos de solos apresentados, arenosos (solos não coesivos)
e argilas (solos coesivos), dá-se principalmente pela condição de drenagem em
campo. As areias, durante o carregamento, devido à sua alta permeabilidade, per-
mitem a saída da água de seus poros, mostrando um comportamento regido pelas
tensões efetivas, pois as pressões neutras são nulas. Com relação às argilas, nos pro-
blemas de campo não há tempo para a dissipação das pressões neutras e, embora
fisicamente a resistência seja determinada pelas tensões efetivas, o comportamento
visível, em termos de tensões totais, sugere serem elas material coesivo, cuja resis-
tência independe da tensão normal.

Compressibilidade e adensamento dos solos

Conceitos iniciais

Ao lado das propriedades mecânicas dos solos anteriormente apresentadas em


nosso livro, a compressibilidade e o adensamento dos solos formam o suporte bá-
sico para a resolução dos problemas práticos da engenharia geotécnica.
Conforme apresentado em Bueno e Vilar (1984, p.81), todos os materiais
existentes na natureza deformam-se quando submetidos a esforços. Para os solos,
devido à sua estrutura multifásica que lhe confere um comportamento a compres-
são próprio, sua curva representativa de tensão versus deformação é, normalmen-
te, dependente do tempo. Caputo (1988, p.78) cita que uma das principais causas
de recalques é a compressibilidade do solo, ou seja, a diminuição do seu volume
sob a ação das cargas aplicadas; em particular, um caso de grande importância
prática é aquele que se refere à compressibilidade de uma camada de solo, saturada
e confinada lateralmente (recalques por adensamento).

capítulo 5 • 120
Ainda, de citação dos autores Bueno e Vilar (1984, p.81), um esforço de com-
pressão aplicado a um solo fará com que ele varie seu volume, devido a uma com-
pressão da fase sólida, a uma compressão da fase fluida ou a uma drenagem
da fase fluida dos vazios. Ante a grandeza dos esforços aplicados na prática e
admitindo-se o solo saturado, tem-se que tanto a compressibilidade da fase sólida
como a da fase fluida serão quase desprezíveis e a única razão, para que ocorra
uma variação de volume, será uma redução dos vazios do solo com a consequente
expulsão da água intersticial.
Desta afirmação podemos então intuir que, por ser a compressibilidade uma
função da saída da água intersticial presente nos vazios do maciço terroso, solos
com alta permeabilidade como as areias, tal qual já o conhecemos, podem ser me-
nos compressíveis. Já nas argilas, pelo conhecimento de sua peculiaridade de baixa
permeabilidade, espera-se que a expulsão da água dos vazios necessite de tempo
até que se conduza o solo a um novo estado de equilíbrio, sob as tensões aplicadas.
Assim, variações volumétricas que se processam nos solos finos, ao longo
do tempo, constituem o fenômeno de adensamento e são as responsáveis pelos
recalques a que estão sujeitas estruturas apoiadas sobre esses solos (Bueno e Vilar,
1984) . O recalque final de um solo, diante do apresentado, será também compos-
to de outras parcelas como o recalque imediato estudado na teoria da elasticidade.
Caro aluno, diante do até aqui apresentado você poderá admitir que, quando
um maciço terroso sofrer um carregamento, por exemplo, através do lançamento
de um aterro ou de uma estrutura construída sobre ele, deformações irão ocorrer.
Assim, a deformação vertical ocorrida na superfície do terreno em função de um
carregamento, é denominada na mecânica do solos de recalque. As deformações
de compressão do solo, responsáveis pelo aparecimento de recalques na superfície
do terreno, são devidas ao deslocamento relativo das partículas que compõem o
solo, diminuindo os vazios existentes entre elas.
Podemos também, em função da velocidade de ocorrência das deformações
que se sucedem no maciço terroso, caracterizá-los em dois grupos, a saber:
•  Deformações rápidas – ocorrem, em solos granulares ou solos finos não
saturados, imediatamente após a aplicação do carregamento;
•  Deformações lentas – desenvolvem-se lentamente, após a aplicação das
cargas, em solos argilosos saturados, pois, para existir o recalque, é necessária a
expulsão de água dos vazios do solo.

capítulo 5 • 121
Conforme apresentado por Sousa Pinto (2002, p.171), o comportamento dos
solos perante os carregamentos depende da sua constituição e do estado em que
ele se encontra e pode ser expresso por parâmetros que são obtidos em ensaios ou
em correlações estabelecidas entre estes parâmetros e as diversas classificações. Os
dois principais ensaios utilizados são o ensaio de compressão axial, que consiste
na moldagem de um corpo de prova cilíndrico e no seu carregamento pela ação
de uma carga axial, e o ensaio edométrico, que consiste na compressão do solo
contido dentro de um molde que impede qualquer deformação lateral.
Como desfecho, a deformação total de um maciço terroso, sujeito a um car-
regamento qualquer, ou seu recalque total podem ser entendidos como o so-
matório das componentes recalque imediato ou distorção (Ri), do recalque
devido ao adensamento (Rc) e do recalque secundário ou rastejamento (Rs).
Podemos então, em forma de expressão matemática, representar o recalque total
da seguinte forma:

Rt = Ri + Rc + Rs

O recalque imediato, embora não ocorra de forma totalmente elástica, é


normalmente calculado utilizando-se a teoria da elasticidade. O recalque por
adensamento (consolidação) é um processo que depende do tempo que ocorre
em solos finos saturados, devido sua à baixa permeabilidade. Assim, a velocidade
de deformação depende da velocidade de escoamento da água dos poros do solo.
Já o recalque secundário, que é também dependente do tempo, ocorre para
tensão efetiva constante e sem nenhuma mudança na poropressão, ao contrá-
rio do que ocorre no recalque por adensamento. Além do aqui apresentado, para
o cálculo dos recalques por adensamento, além do conhecimento do perfil geo-
técnico do maciço terroso, faz-se necessário o conhecimento da distribuição das
pressões neutras produzidas e das propriedades dos solos envolvidos no processo.
A figura 5.16 ilustra, em esquema, a influência do desenvolvimento do recalque
em função do tipo de solo.

capítulo 5 • 122
Aterro

Carregamento da Construção
Solo Natural

Carregamento Total - σ o

Tempo de Construção
Tempo (t)

Tempo (t)

Solo não Coesivo


Recalque

Solo Coesivo

Figura 5.16  –  Evolução do processo de recalque em função do tipo do solo.

Teoria do adensamento dos solos

Como visto no tópico anterior, você deve se lembrar de que o termo aden-
samento pode ser entendido, na mecânica dos solos, como o fenômeno no qual
os recalques ocorridos no solo foram causados pela expulsão da água presente em
seus vazios, ou seja, a saída da água intersticial do solo devido aos esforços promo-
veu o recalque.
Para o estudo do adensamento, por tal sorte, iremos nos amparar na teoria
do adensamento dos solos estabelecida por Terzaghi. Apesar da evolução dos es-
tudos e conhecimentos acerca deste tema, a teoria do adensamento e a evolução
dos recalques com o tempo é estudada à luz dos conhecimentos estabelecidos por
Terzagui. Assim, o professor Terzagui, estabeleceu as seguintes premissas para va-
lidação de sua teoria:
•  O maciço terroso é considerado totalmente saturado;
•  O solo é homogêneo;
•  A água intersticial e as partículas sólidas componentes dos solos
são incompressíveis;
•  Há uma relação linear entre a tensão aplicada e a variação volumétrica ocorrida;

capítulo 5 • 123
•  O coeficiente de permeabilidade do solo é constante e obedece à Lei
de Darcy;
•  O índice de vazios do solo varia linearmente com o aumento da tensão efetiva;
•  O adensamento é unidimensional (vertical), não considerando o escoamen-
to lateral de água ou movimento lateral de solo;
•  As amostras utilizadas são indeformadas.

Como apresentado em Sousa Pinto (2002, p.193/194), Terzagui descreveu


o fenômeno de adensamento por meio de uma analogia mecânica, elaborada
aqui por Taylor: Consideremos que a estrutura sólida do solo seja semelhante a
uma mola, cuja deformação é proporcional à carga sobre ela aplicada. Assim, su-
ponha um solo saturado, representado por uma mola dentro de um pistão cheio
de água onde, no êmbolo, que simboliza a aplicação do esforço de carregamento
sobre a mola, haja um pequeno orifício por onde a água possa passa lentamen-
te – a pequena dimensão do orifício representa a baixa permeabilidade do solo.
Considerando o pistão indeformado e a água incompressível em relação à mola,
temos o seguinte desfecho:
•  No momento da aplicação de uma carga qualquer sobre o pistão (represen-
tando um carregamento no solo), o orifício encontra-se fechado. Neste instante,
portanto, a pressão total transmitida ao conjunto mola–água (solo saturado) é
absorvida totalmente pela água;
•  A abrir-se o orifício, a água começa lentamente a escoar, havendo agora
uma transferência gradual de pressão da água para a mola. Se pensarmos agora no
solo, este modelo, de fato, é perfeitamente representativo, pois, com a saída lenta
da água, a pressão advinda do carregamento começa pouco a pouco (a depender da
velocidade de escoamento da água) a ser suportada pelo arcabouço sólido do solo;
•  Com a saída da água, a mola (arcabouço sólido do solo) irá absorver todo o
carregamento, não havendo assim mais a sobrecarga na água. Cabe lembrar, agora,
que as partículas sólidas passaram por um processo de reagrupamento causando
uma variação volumétrica.
Assim, em um solo saturado, quando um carregamento é aplicado sobre ele,
a pressão aumenta no mesmo valor do acréscimo da pressão aplicada, enquanto as
tensões efetivas se mantêm inalteradas. Neste instante, como não há variação da
tensão efetiva, o solo não se deforma. Com a saída gradual da água, ocorrerá au-
mento da mobilização da tensão efetiva no solo, levando-o, por conseguinte, a de-
formar-se (recalques). Assim, o processo de adensamento do solo continua até que
toda a pressão aplicada pelo carregamento tenha se transformado em acréscimo

capítulo 5 • 124
de tensão efetiva e a sobrepressão neutra tenha se dissipado (Sousa Pinto, 2002).
A figura 5.17 apresenta, em esquema, a analogia mecânica proposta por Terzagui
para o processo de adensamento dos solos.

Carregamento

Tempo (t)

Figura 5.17  –  Analogia mecânica proposta por Terzagui para o processo de adensamento
do solo (Futai e Gonçalves, 2004-Adaptado).

Investigação geotécnica

Conceitos Iniciais

Pela clareza de explanação do tópico de investigação geotécnica, valho-me


aqui, em nosso livro, da citação do professor Caputo que diz o seguinte: “O pri-
meiro requisito para se abordar qualquer problema de mecânica dos solos consiste num
conhecimento tão perfeito quanto possível das condições do subsolo, isto é , no reco-
nhecimento da disposição, natureza e espessura das suas camadas, assim como das suas
características, com respeito ao problema em exame. Tal conhecimento implica, pois, a
prospecção do subsolo e a amostragem ao longo do seu decurso. Nesta fase dos estudos e
em determinadas obras, torna-se indispensável, ainda, a colaboração, com o engenhei-
ro civil, de um geólogo experimentado. A importância desses estudos é tão grande e tão
evidente que alguém já comparou o engenheiro que os omitisse com um cirurgião que
operasse sem um prévio diagnóstico ou com um advogado que defendesse uma causa
sem um prévio entendimento com o seu cliente” (Caputo, 1988, p.189).
Diante desta fortuita citação, que dispensa qualquer comentário, começare-
mos este tópico dizendo que, dentro dos métodos disponíveis de investigação geo-
técnica, que utilizam um sortimento de equipamentos para se fazer a prospecção
geotécnica do subsolo, segundo Bueno e Vilar (1984, p.103) o custo de um pro-
grama de prospecção bem conduzido situa-se entre 0,5 a 1,0% do valor total da
obra, ou seja, custo este irrisório diante de sua necessidade e benefício. Cabe aqui
enfatizar que o engenheiro geotécnico deve ter uma consciência crítica acentuada

capítulo 5 • 125
das limitações e um conhecimento profundo dos instrumentos disponíveis para a
prospecção geotécnica, de tal forma que possa, mediante informações obtidas por
seu intermédio, realizar os projetos dentro dos padrões de segurança e economia
exigidos. Ainda, de citação dos mesmos autores, temos que, em um programa de
investigação geotécnica, as principais informações basilares que se buscam são:
•  A área em planta, profundidade e espessura de cada camada de
solo identificado;
•  A compacidade dos solos granulares e a consistência dos solos coesivos;
•  A profundidade do topo da rocha e suas características tais como litologia,
área em planta etc.;
•  A profundidade e espessura de cada estrato rochoso, mergulho e direção das
camadas, espaçamento de juntas, planos de acabamento, presença de falhas e ação
do intemperismo ou estado de decomposição;
•  A localização do nível de água e a quantificação do artesianismo, se existir;
•  A coleta de amostras indeformadas, que possibilitem identificar as proprie-
dades mecânicas do solo;
•  Informações sobre as principais propriedades mecânicas tais como a com-
pressibilidade, permeabilidade e resistência ao cisalhamento do solo.

Dentre os métodos estabelecidos na mecânica dos solos para a realização de


investigação geotécnica, podemos destacar os diretos, indiretos e semidiretos:
•  Método direto – sempre que houver possibilidade de se coletarem amostras
de solo e de observar o subsolo (poços, trincheiras, sondagens etc.);
•  Métodos Indiretos – quando as propriedades do solo forem obtidas por
estimativas indiretas ou correlações (ensaios geofísicos, sensoriamento etc.);
•  Métodos semidiretos – solução mista de investigação, na qual informações
mecânicas do solo prospectados, correlações indiretas são relacionadas com sua
natureza (vane test, ensaios piezométricos, etc.).

Métodos diretos de investigação geotécnica

Conforme apresentado em Bueno e Vilar (1984, p.113), os métodos diretos


de investigação permitem o reconhecimento do solo prospectado, mediante aná-
lise de amostras provenientes de furos executados no terreno, por processos de
perfuração expeditos. As amostras deformadas fornecem subsídios para um exame
visual-táctil das camadas e, sobre elas, pode-se executar ensaios de caracterização
(teor de umidade, limites de consistência e granulometria). Ainda, informações

capítulo 5 • 126
acerca das diferentes camadas do subsolo, da posição do nível do lençol freático,
da consistência das argilas e da compacidade das areias podem ser aqui também
obtidas. Entre os principais métodos diretos, destacam-se:
•  Poços – perfurados manualmente com o auxílio de pás e picaretas, com
diâmetro mínimo da ordem de 60 cm. A profundidade atingida é limitada pela
presença do N.A. ou desmoronamento;
•  Trincheiras – são valas profundas, feitas mecanicamente com o auxílio de
equipamento mecânico. Permitem um exame visual continuo do subsolo;
•  Sondagem a trado – equipamento manual de perfuração composto de uma
barra de torção horizontal conectada a um conjunto de hastes de avanço, em cuja
extremidade se acopla uma lavadeira ou uma broca (geralmente em espiral). As
informações obtidas são apenas do tipo de solo, espessura de camada e posição do
lençol freático. As amostras colhidas são deformadas;
•  Sondagem a percussão (SPT) – é o método de prospecção do subsolo para
fins de fundação mais empregado no Brasil. Entre suas vantagens, destacam-se o
seu baixo custo, a simplicidade de execução, a possibilidade de colher amostras,
a determinação da posição do lençol freático e a obtenção de informações sobre a
consistência e a compacidade dos solos. Permite a obtenção do perfil estratigráfico
do subsolo;
•  Sondagem rotativa – empregada na perfuração de rochas, de solos de alta
resistência e de matacões ou blocos de natureza rochosa. O equipamento compõe-
se de uma haste metálica rotativa, dotada, na extremidade, de um amostrador que
dispõe de uma coroa de diamante;
•  Sondagem mista – conjugação da sondagem à percussão com a sonda-
gem rotativa.

Métodos indiretos de investigação geotécnica

Os métodos indiretos de investigação geotécnica são baseados nos processos


geofísicos. Desta forma, os resultados obtidos não fornecem os tipos de solos pros-
pectados, mas tão somente correlações entre estes e sua resistividade elétrica ou sua
velocidade de propagação de ondas sonoras. Entre os principais métodos indire-
tos, destacam-se:
•  Resistividade elétrica – ensaio fundamentado no princípio de que os dife-
rentes tipos de solo do subsolo possuem valores característicos de resistividade elé-
trica. O equipamento de resistividade é dotado de eletrodos colocados na super-
fície do terreno, onde os centrais são ligados a um voltímetro e os dois externos,

capítulo 5 • 127
de corrente, são conectados a uma bateria e a um amperímetro. A resistividade
elétrica do solo é medida a partir de um campo elétrico gerado artificialmente pela
injeção de uma corrente elétrica no subsolo, que possibilita determinar se o seu
perfil estratigráfico;
•  Sísmica de refração – ensaio fundamentado no princípio de que a veloci-
dade de propagação de ondas sonoras em corpos elásticos é função do módulo de
elasticidade do material, de seu coeficiente de Poisson e de sua massa especifica.
Assim, por meio da produção de uma emissão sonora do terreno, explosivos ou
pancadas, registra-se, em geofones instalados à superfície, o tempo gasto entre a
explosão e a chegada das ondas aos geofones. Por meio de formulações matemáti-
cas, consegue-se medir a espessura das camadas de solo do perfil investigado.

Métodos semidiretos de investigação geotécnica

Os métodos semidiretos de investigação geotécnica ocorrem em ensaios in


situ, porém não fornecem o tipo de solo. Por meio de correlações indiretas, é pos-
sível a obtenção de comportamentos mecânicos das camadas investigadas. Entre
os principais métodos semidiretos, destacam-se:
•  Vane Test – ensaio de palheta desenvolvido para medir, in situ, a resistência
ao cisalhamento de argilas não drenada. O ensaio consiste na cravação de uma
palheta onde é medido o torque necessário para cisalhar o solo, segundo uma
superfície cilíndrica de ruptura, que se desenvolve ao redor da palheta quando se
aplica ao aparelho uma velocidade constante;
•  Ensaio de penetração estática de cone – ensaio que consiste na cravação
de um cone instrumentado no solo com o propósito de simular a cravação de esta-
cas. Os dados obtidos são utilizados em correlações que fornecem boas indicações
das propriedades do solo como, por exemplo, ângulo de atrito interno de areias,
coesão e consistências das argilas;
•  Ensaio pressiométrico – ensaio desenvolvido com o objetivo de medir o
módulo de elasticidade e a resistência ao cisalhamento dos solos e rochas in situ.
O aparelho é constituído de uma célula que é introduzida em furos de sondagem,
ligada a um aparelho de medida de pressões e volume.

capítulo 5 • 128
REFLEXÃO
A resistência ao cisalhamento dos solos é representada em praticamente todos os tipos
de construções geotécnicas envolvendo escavações, fundações, túneis, barragens, taludes,
obras de contenção etc. Esse estudo relaciona os esforços normais com a resistência ao
cisalhamento dos solos. Os esforços normais advindos do carregamento poderão causar a
compressão e consolidação do solo, acarretando variações volumétricas no maciço terroso.
A ocorrência de um colapso de um maciço terroso diante da aplicação de um esforço sobre
este dá-se quando os limites de resistência ao cisalhamento dos solos forem excedidos.
Em referência à compressibilidade dos solos, vimos que todos os materiais existentes na
natureza se deformam quando submetidos a esforços. Nos solos, devido à sua estrutura mul-
tifásica, que lhe confere um comportamento a compressão próprio, sua curva representativa
de tensão versus deformação é, normalmente, dependente do tempo. Podemos então dizer
que, sendo a compressibilidade uma função da saída da água intersticial presente nos vazios
do maciço terroso, solos com alta permeabilidade como as areias, tal qual já o conhecemos,
são teoricamente menos compressíveis. Conforme apresentado por Caputo (1988,p.189), o
primeiro requisito para se abordar qualquer problema de mecânica dos solos consiste num
conhecimento tão perfeito quanto possível das condições do subsolo, isto é, no reconheci-
mento da disposição, natureza e espessura das suas camadas, assim como das suas carac-
terísticas, com respeito ao problema em exame. As investigações geotécnicas podem ser
realizadas por métodos diretos, indiretos e semidiretos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUENO, BENEDITO de SOUSA e VILAR, ORÊNCIO MONJE. M. Mecânica dos solos. São Carlos:
EESC/USP, 1984. 131p.
CAPUTO, HOMERO PINTO. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6ª Ed. v1. São Paulo: LTC
Editora, 1998. 234p.
FUTAI, MARCOS MASSA0 e GONÇALVES, HELOISA HELENA SILVA. Notas de aula revisadas –
Mecânica dos solos e fundações. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP / PEF-522, 2014. 143P.
PINTO, CARLOS DE SOUSA. Curso básico de mecânica dos solos. Oficina do Texto. 2ª Edição,
2002. Rio de Janeiro/RJ.

capítulo 5 • 129
GABARITO
Capítulo 1

01. P = Ps + Pw → peso total = peso dos sólidos + peso da água


Peso dos sólidos = peso após secagem em estufa
460 = 365 + Pw → peso total = peso dos sólidos + peso da água
Peso da água = 460 – 365 = 95 g
Pw
w= → teor de umidade
Ps
95
w= → teor de umidade = 0,2603 = 26,03 %
365

Logo, o teor de umidade da amostra de solo é igual a 26,03%.

02. Vv = Vw + Va → volume de vazios = vol. água + vol. ar


Para solo saturado = vol. vazios = vol. água
Ww
w= → teor de umidade = 36 % = 0,36
Ws
Pw
0, 36 = → Pw = 0, 36 × Ps ... equação (I)
Ps
Ws
γs = → peso específico dos sólidos = 28,5 kN/m³
Vs
Pw
28, 5 = → Ps = 28, 5 × Vs ... equação (II)
Vs

Substituindo equação (II) em (I) temos:


Ww = 0,36 x (28,5 x Vs) = 10,26 x Vs

Ww
γw = → peso específico da água = 10,0 kN/m³
Vw
Ww 10, 26 × Vs
10 = → 10 = → Vw = 1, 026 × Vs
Vw Vw
Vv
e= → índice de vazios
Vs
Vv
e= → Vv = Vw → solosaturado
Vs
Vw 1, 026 × Vs
e= →e= → e = 1, 026
Vs Vs

capítulo 5 • 130
Logo, o índice de vazios da amostra de solo é igual a 1,026.

W → peso específico natural


γ=
V
W = Ws + Ww → peso total = peso dos sólidos + peso da água
W = (28,5 x Vs) + (10,26 x Vs) → W=38,76 x Vs

V = Vw + Vs → volume total = volume água + volume de vazios


V = (1,026 x Vs) + Vs → V = 2,026 x Vs

W 38, 76 × Vs
γ= =γ= = γ = 19,13 kN / m3
V 2, 026 × Vs

Logo, o peso específico da amostra de solo é igual a 19,13 kN/m³.

Capítulo 2

01. Por tratar-se da construção de um centro logístico de distribuição, composto por galpões
e estrutura viária, para que a construção não seja onerada por soluções de fundação profun-
da e/ou melhoramento de solo, você deve optar pelo terreno cujo solo tenha baixa compres-
sibilidade. Como você sabe, quanto mais plástico for o solo (maior o índice de plasticidade)
maior será a sua compressibilidade, calculamos o IP de cada terreno.
Terreno 01:
IP = LL - LP → Índice de Plasticidade = Limite de Liquidez – Limite de Plasticidade
IP = 47 - 29 → Índice de Plasticidade = 18%

Terreno 02:
IP = LL - LP → IP = 53 - 41 → IP = 12%

Terreno 03:
IP = LL - LP → IP = 74 - 41 → IP = 33%

Logo, a escolha sob o ponto de vista da engenharia geotécnica deverá ser o TERRENO 02.

capítulo 5 • 131
Capítulo 3

01. Tabela – Resultados do ensaio de compactação do solo da jazida

PESO ESPEC. SECO 14,10 14,40 14,40 14,00 13,70


(KN/M³)
TEOR DE UMIDADE (%) 24,70 27,40 29,70 31,80 33,40

Curva de Compactação
14.5
14.4
14.3
14.2
14.1
14
13.9
13.8
13.7
13.6
22 24 26 28 30 32 34

Gráfico – Pela curva de compactação do solo da jazida, podemos determinar o peso


específico seco máximo e o correspondente teor de umidade ótimo.
→ Logo: ρd máximo = 14,30 kN/m³ e Wótimo = 28,7 %

02.

ρ (campo)
GC = x100 (%)
ρd máx. ( laboratório)

GC= 13,85/14,30 x 100 (%)=96.85%

→ Como o valor do grau de compactação é maior que o limite admissível definido pelo
projetista, a camada está liberada para continuidade do aterro.

03. De acordo com os parâmetros fornecidos, podemos intuir que a amostra ensaiada se
trata de um solo granular. A metodologia utilizada, portanto, foi um ensaio de permeabilidade
com carga constante.

capítulo 5 • 132
Temos, então:

Q xL
k= → cm / s
Axhxt
volume
Q= → cm3 / s
tempo
285
Q= = 0, 95 cm3 / s
5 x 60
0, 955 x 40
k= = 1, 67 x 10−5 cm / s
190 x 40 x 300

→ Logo, o coeficiente de permeabilidade do solo é igual a 1,67 x 10-5 cm/s.

Capítulo 4

01. Esquemático do perfil

N.T.
0
N.A.
Camada 1 - Areia Fofa N.A.
2
3 I

Camada 2 - Areia Compacta

8 II

Camada 3 - Pedregulho

10 III
Prof. (m)

capítulo 5 • 133
Gráfico das tensões no solo x profundidade

0,00 0,00

1,00
0,00 33,00
2,00
10,00 49,50
3,00
39,50
Profundidade (m)

4,00

5,00

6,00

7,00
60,00 85,50 145,50
8,00

9,00
80,00 108,50 188,50
10,00

11,00
0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00 160,00 180,00 200,00
Tensões no Solo (kPa)

Resumo da memória de cálculo

PESO
PERFIL DO ESPESSURA PROFUN-
ESPECÍFICO σT (KPA) U (KPA) σ' (KPA)
TERRENO (M) DIDADE (M)
(KN/M3)

NÍVEL
- - 0 0,00 0,00 0,00
TERRENO

CAMADA I 16,50 2,00 2,00 33,00 0,00 33,00

CAMADA I
16,50 1,00 3,00 49,50 10,00 39,50
(N.A.)

CAMADA
19,20 5,00 8,00 145,50 60,00 85,50
II

CAMADA
21,50 2,00 10,00 188,50 80,00 108,50
III

capítulo 5 • 134
Ao final da terceira camada do solo do proposto perfil, teremos as seguintes ten-
sões atuantes:
σt = 188,50 kPa
σ`= 108,50 kPa
u = 80,00 kPa

02. Equação de Boussinesq

3 x z3
σv = 5
xQ
2 x π x (r 2 + z 2 ) 2

99 Ponto A:

3 x (6, 0)
σ vA = 5
x 200 kN
2 x π x (0, 02 + 6, 02 ) 2

σ vA = 0, 074 kN / m 2

99 Ponto B:

3 x (6, 0)
σ vB = 5
x 200 kN
2 x π x (8, 02 + 6, 02 ) 2

σ vB = 5, 73 x 10−3 kN / m 2

capítulo 5 • 135
ANOTAÇÕES

capítulo 5 • 136

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