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Visao Saude v1
Visao Saude v1
ANO 1 NO 01
ISSN 2448-0630
REMÉDIO
Debate equilibrado
para o bem da saúde
A
Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), o Sindicato Nacional
das Empresas de Medicina de Grupo (Sinamge) e o Sindicato Nacional das
Empresas de Odontologia de Grupo (Sinog), realizadores da revista Visão
SHUTTERSTOCK / POGONICI
Saúde, representam operadoras de medicina e odontologia de grupo que atendem cerca
de 35 milhões de brasileiros [1]
SHUTTERSTOCK / USSR
mas também dos diferentes atores dessa importante cadeia econômica, como gestores
hospitalares, médicos e dentistas, administradores públicos e estudiosos.
[2]
Nesta primeira edição, a reportagem de capa [1] mostra o que as operadoras estão
[3]
fazendo para enfrentar a recessão econômica, que deixou mais de 1,6 milhão de pessoas
sem planos médico-hospitalares desde o início de 2015 até os dias atuais. Essa crise
motivou as empresas a serem mais eficientes na gestão de seus negócios e a oferecerem
inovações em produtos e serviços. A expectativa é de que, a partir da retomada da
SHUTTERSTOCK / MEUNIERD
economia, o setor volte ainda mais forte.
Outro assunto muito relevante, que ameaça a sustentabilidade do modelo atual
do setor, é a escalada dos custos da assistência médica [2]. A incorporação de novas
tecnologias contribui para o quadro, mas os verdadeiros vilões são as fraudes, os
desperdícios e os procedimentos desnecessários. A busca por maior eficiência e controle
certamente dominará o debate nos próximos anos. [4]
Este número um também apresenta os pontos fortes e fracos dos sistemas de saúde
do Canadá, EUA e Inglaterra [3], as principais oportunidades no curto prazo para o
segmento de planos odontológicos e outras seções com conteúdos diversos. E, como a
cereja do bolo deste cardápio, temos a entrevista com o professor Gonzalo Vecina [4],
com 40 anos de experiência em diversas áreas da saúde, que explica o atual momento do
Brasil e clama por mudanças.
Uma vida longa para a Visão Saúde e todos nós.
CHICO MAX
Boa leitura.
SUMÁRIO
PRESIDENTE DO SINOG
SHUTTERSTOCK / POGONICI
DO SISTEMA ABRAMGE
DO SISTEMA ABRAMGE
G
onzalo Vecina Neto já esteve em muitos lados do balcão. Conhece os
corredores de hospitais públicos e particulares, dá aula na Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e já circulou pelos
gabinetes das três esferas do governo executivo. No início dos anos
2000, foi presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, depois,
secretário municipal da Saúde de São Paulo. Antes disso, já havia ocupado cargos
importantes no Ministério da Saúde e na Secretaria de Estado da Saúde de São Pau-
lo, onde atuou na divisão de fiscalização e na coordenadoria de assistência hospitalar.
Em 2007, Vecina aceitou o convite para ser superintendente corporativo do hos-
pital Sírio-Libanês, cargo que ocupou até o início de 2016. Como médico, ele
acumula ainda uma experiência de mais de 20 anos de atendimento no Hospital
das Clínicas de São Paulo, instituição em que chegou a desempenhar também
algumas funções executivas. Hoje ele passa boa parte de seu tempo nas salas de
aula da USP, falando sobre um tema que conhece como poucos. “Precisamos ter
cuidado para não oferecer um sistema para o rico e outro para o pobre. A saúde
tem de ser um instrumento de inclusão, e não o contrário”, ele diz. Leia a seguir os
principais trechos da entrevista que concedeu à Visão Saúde.
Visão Saúde – O Brasil vive hoje uma crise que ameaça des desafios para o sistema de saúde. Na área pública, há
reduzir os recursos do SUS, ao mesmo tempo que o um problema grave de subfinanciamento e de políticas
desemprego e a queda da renda familiar dificultam o tributárias e fiscais. O Brasil gasta cerca de 9% do PIB
acesso aos planos de saúde. Como desatar esse nó e em saúde, um índice semelhante ao de grande parte dos
melhorar a assistência à população no curto prazo? países europeus, mas nosso PIB per capita é cinco vezes
Gonzalo Vecina – Estruturalmente, temos dois gran- menor que o da Inglaterra, por exemplo. Se você olhar
para o investimento em saúde, vai ver que 45% do gasto também evita custo. O problema todo é saber se o sis-
no Brasil é público, e o restante, privado. Quer dizer, te- tema de saúde está preparado para isso. E aí entra uma
mos de repensar a equação do financiamento. O segundo discussão que a sociedade brasileira ainda não enfren-
desafio crítico é a gestão, tanto no setor público como no tou: quão civilizados nós queremos ser? Em 2050, sere-
privado. Embora você tenha algumas modalidades que mos mais ou menos civilizados?
avançaram nessa questão, como a medicina de grupo,
ainda temos muitos desafios pela frente. Pensando no De que forma os sistemas público e privado
curto prazo, o recálculo da forma de pagamento do SUS, podem caminhar juntos e ampliar a assistência
em tramitação no Congresso, significará uma redução de da população à saúde?
investimentos do governo federal da ordem de R$ 30 a 40 Precisamos ter cuidado para não gerar um desequilí-
bilhões nos próximos anos. Isso vai ser um desastre. brio entre os dois setores e também para não oferecer um
SUS excludente, um sistema para o rico e outro para o
Quais são os principais desafios na parte de gestão? pobre. O grande problema do Brasil é a exclusão social,
O nível de informatização dos hospitais é um deles. e a saúde tem de ser um instrumento de inclusão, não o
Hoje em dia não dá para você ter planilhas aqui e ali. contrário. Temos de garantir que os dois sistemas ofere-
É preciso integrar o conjunto de informações gerado no çam o que for necessário, partindo de um marco de ava-
processo de atenção à saúde e contar com softwares que liação tecnológica, representado hoje pelo que estamos
tenham capacidade de fazer essa integração desde a pro- chamando de medicina baseada em evidências. O que
moção da saúde até a reabilitação da doença. Mas nossos ela diz que é eficaz e seguro deve ser oferecido nos dois
sistemas, inclusive uma parte do privado, estão voltados sistemas. Em termos práticos, a alternativa é caminhar
para o atendimento vertical, para o momento em que se para um modelo em que se tenha uma oferta qualitativa
vai ao hospital. Não estamos preparados para atender, de e quantitativa adequada no SUS, e existente na iniciativa
forma horizontal, quem é hipertenso, diabético, portador privada. E, eventualmente, negociar que alguns procedi-
de câncer. Por isso temos de mexer no modelo de serviços mentos de menor frequência e maior tecnologia possam
de saúde. Precisamos de um modelo assistencial que não ser feitos pelo SUS, com algum tipo de compensação fis-
estimule os pacientes a procurar os hospitais. cal ou tributária. Por exemplo, transplante de fígado, de
coração, casos mais complexos, só o setor público faria.
Como isso funcionaria na prática? Aquilo que for de média ou baixa complexidade, os pla-
A alternativa está naquilo que vem sendo chamado nos deveriam fazer. Essa é uma discussão importante da
de gestão da clínica, um conjunto de componentes que qual não estamos nem próximos.
aumentam a eficiência e a eficácia do processo de aten-
ção. Na prática, isso significa criar sistemas de gestão Uma das principais sugestões para equilibrar
de doenças e de doentes. Como os programas para hi- o sistema é a mudança no modelo de remuneração
pertensos, por exemplo. Idosos hipertensos, cardiopatas, dos procedimentos médico-hospitalares. Quais são
com reumatismo internam mais que outros pacientes e as melhores alternativas ao modelo atual?
precisam de uma equipe que os acompanhe diariamen- O modelo atual é um desastre. Pagamento por proce-
te, alguém que ligue para eles para saber se tomaram dimento, o fee for service, estimula o consumo e, desse jei-
o remédio, se precisam que alguém vá à casa deles, se to, a conta nunca vai fechar. A alternativa é olhar para o
se alimentaram adequadamente. Tudo isso custa, mas resultado, remunerando o que é feito para uma determi-
nada população ou pagando por performance em relação
aos resultados de um paciente. A possibilidade que tem
Precisamos discutir uma questão que a sido mais aceita nesse sentido observa o resultado médio
de um conjunto de diagnósticos, por exemplo. Não é tão
sociedade brasileira ainda não enfrentou: complexo, mas tem um processo que precisa ser incorpo-
quão civilizados nós queremos ser? Em 2050, rado ao sistema. As instituições privadas que aceitarem
esse caminho vão ter de criar uma expertise para lidar
seremos mais ou menos civilizados?” com esses processos.
Inimigo público
O zika vírus foi isolado pela primeira vez
em 1947, em macacos da floresta de Zika,
na Uganda. Uma de suas características
principais é a capacidade de se ligar a uma
grande variedade de moléculas presentes
nas células animais. Seu genoma completo
foi sequenciado no Brasil e apresentou
10.808 nucleotídeos, com 99,7% de
similaridade com um vírus encontrado
na Polinésia Francesa em 2013 – daí a
suspeita de ele ter chegado ao Brasil no
ano seguinte, trazido por atletas que vieram
participar de uma competição de remo,
ou por torcedores estrangeiros durante
a Copa do Mundo de 2014.
11
O que eles dizem sobre os planos?
Três estudos diferentes abordam o perfil e a avaliação dos beneficiários sobre os
planos de saúde e levantam questões fundamentais para o setor. Veja e compare
A SATISFAÇÃO DO
BENEFICIÁRIO,
SEGUNDO TRÊS
PESQUISAS DE
OPINIÃO
7%
18%
SHUTTERSTOCK / ELENABSL
75%
IBOPE / IESS
MUITO SATISFEITO + SATISFEITO
MAIS OU MENOS SATISFEITO
POUCO SATISFEITO + NADA
A
SATISFEITO
avaliação dos usuários sobre os planos de saúde mais utilizado, seguidas pelos exames diagnósticos.
foi tema de três estudos diferentes do setor, en- Para os entrevistados, os principais problemas estão
8% comendados pelo Conselho Federal de Medici- no pronto atendimento, com destaque para a lotação
na (CFM), pela Associação Paulista de Medicina (APM) do local e a demora para serem atendidos. A pesquisa
26%
e pelo Instituto de Estudos da Saúde Suplementar mostrou também que 20% dos beneficiários recorreram
66% (Iess). Neste último, realizado pelo Ibope, mostrou-se ao SUS porque não puderam ser atendidos pelo plano
que a saúde é o terceiro bem ou serviço mais importan- de saúde. Do total de usuários, 2% recorreu à justiça
te na vida das pessoas, atrás apenas da educação e da contra a operadora, a maioria (60%) por negativa de
DATAFOLHA / APM casa própria. O trabalho revelou que a qualidade dos cirurgia – lembrando que determinados procedimentos
MUITO SATISFEITO + SATISFEITO
MAIS OU MENOS SATISFEITO
médicos e do atendimento, a agilidade na marcação requerem o uso de Diretrizes de Utilização, e outros
MUITO INSATISFEITO + de consultas e a cobertura oferecida pelos planos são podem não estar contemplados no rol de obrigações da
INSATISFEITO
os três principais motivos de satisfação. O tempo para Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
autorizar e liberar consultas também aparece como a No trabalho encomendado pelo CFM, também feito
6% principal reclamação das pessoas, seguido pelo preço pelo Datafolha, a qualidade das instalações dos locais
das mensalidades e pela qualidade dos médicos. Ou de atendimento é boa ou excelente para 60% das pes-
36%
seja, os mesmos aspectos recebem avaliação positiva soas que têm plano de saúde. O acesso a medicamen-
56%
e negativa de muitos usuários. tos aparece como aspecto negativo na avaliação dos
No estudo da APM, realizado pelo Datafolha, os da- usuários, apesar de os planos de saúde não cobrirem
dos mostram que 42% das pessoas têm plano de saúde esses custos fora do ambiente hospitalar: 30% acham
DATAFOLHA / CFM no estado de São Paulo e, desse total, 88% usaram o acesso ruim ou péssimo e 28% disseram ser bom ou
BOM + EXCELENTE
REGULAR
os serviços oferecidos pelas operadoras nos últimos 24 excelente. O estudo ouviu mais de 2 mil pessoas em
PÉSSIMO + RUIM meses. As consultas aparecem como o procedimento diferentes regiões do Brasil.
E
É possível encontrar de tudo quando se fala em
studo da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou que o número de pessoas com diabetes
aplicativos na área de saúde. Guias de anatomia,
no mundo já chega a 422 milhões. Isso significa que o total de casos quadruplicou nas últimas simuladores de cirurgia, busca de médicos para
quatro décadas, especialmente por conta do envelhecimento da população e do aumento da obe- atendimento em domicílio e chats interativos com
pacientes são só alguns exemplos. Dá até para
sidade. O trabalho considerou as informações de 4,4 milhões de diabéticos em diferentes regiões transformar um iPhone em estetoscópio para gravar
do planeta e estimou a prevalência da doença em 200 países. Segundo a OMS, a situação merece o batimento de um coração. Não por acaso, a saúde
é a terceira categoria que mais cresce em número de
atenção especial nos países mais pobres e tornou-se uma questão central de saúde pública no
aplicativos nas lojas virtuais da Apple e do Google.
mundo. O estudo mostrou ainda que os menores índices da doença estão na Europa (Suíça, Áustria, Segundo a consultoria digital americana Float, há
Dinamarca, Bélgica e Holanda); os dados indicam também que metade da população mundial de mais de 10 mil apps médicos e de cuidados com a
saúde disponíveis para tablets e smartphones. Alguns
adultos diabéticos vivem apenas em cinco países: China, Índia, Estados Unidos, Brasil e Indonésia. números interessantes sobre o assunto:
80%
diálogo sobre o excesso de exames, trata-
mentos e procedimentos desnecessários acaba de
chegar ao Brasil por meio da Sociedade Brasileira dos médicos americanos usam
de Cardiologia (SBC) e da Sociedade Brasileira de smartphones e aplicativos relacionados à área
de saúde e medicina
Medicina de Família e Comunidade (SBM-
78%
FC). Chamada de Choosing Wisely (Esco-
lhendo com Sabedoria, no Brasil), a ação
foi lançada nos Estados Unidos em 2012 dos consumidores americanos
pelo American Board of Internal Medicine se interessam por soluções de dispositivos
móveis na área de saúde
(Abim), a fim de reforçar a importância da
medicina baseada em evidências e criar
recomendações para médicos e pacientes
A DENGUE TAMBÉM
sobre os procedimentos mais adequados em
PESA NO BOLSO
DIVULGAÇÃO
R$ 35 MILHÕES
exames desnecessários. Mais sobre o assunto nos
sites http://educacao.cardiol.br/choosing; www.sb-
mfc.org.br e www.choosingwisely.org de gasto total
72,6%
R$1,2 BILHÃO
de aumento nas despesas
NA REDE PÚBLICA
M
ais de 22,5 milhões de pessoas nunca foram com expectativa de crescimento de 2,6% para 2016. Em
ao dentista no Brasil, entre elas 2,5 milhões de 2015, o aumento foi impulsionado pelos planos coletivos
adolescentes. Calcula-se que 3,8% das crianças por adesão (10,9%) e individuais/familiares (8,7%). Os
com 5 anos estejam livres de cáries, e cerca de 8 milhões coletivos empresariais, que detêm a maior fatia do mer-
de brasileiros com mais de 30 anos usem prótese. Esses cado, registraram alta de 2,3% no ano. Dados elaborados
dados refletem uma parte dos desafios para garantir o pelo Sinog com informações da ANS(1) mostram ainda
acesso da população à assistência odontológica no país, que o número de beneficiários com cobertura odontológi-
mas também mostram que há espaço para evoluir mui- ca vinculados aos planos médico-hospitalares se estabi-
to nessa direção. No setor privado, os planos exclusiva- lizou nos últimos anos, em torno de 3,7 milhões de pes-
mente odontológicos crescem a cada ano e hoje cobrem soas, mas apresentou forte queda percentual em relação
22 milhões de brasileiros, ou 11,2% da população. O nú- ao total coberto por esse tipo de assistência, que inclui
mero de beneficiários subiu 4,01% em 2015 e continua os clientes de planos exclusivamente odontológicos. Em
apresentando tendência de alta, embora decrescente, dez anos, essa participação caiu de 36% para 14,6%.
22,5
MILHÕES
12,8%
da população
8 MILHÕES
com mais de 30 anos
3,8%
das crianças
11,2%
dos brasileiros
adulta com mais de já utilizam próteses com 5 anos estão são cobertos por planos
de brasileiros
35 anos possui mais livres de cáries exclusivamente
nunca foram ao dentista
de 20 dentes odontológicos
SH
UT
TE
TOTAL DE BENEFICIÁRIOS(2)
RS
TO
CK
/D
MI
ANO NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS VARIAÇÃO
TR
YK
AL
IN
OV
SK
Y
2015 22 MILHÕES 4,0%
2014 21,1 MILHÕES 4,6%
2013 20,2 MILHÕES 6,4%
2012 19 MILHÕES 12,1%
2011 16,9 MILHÕES 16,5%
2010 14,5 MILHÕES 9,5%
0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Desequilíbrio de preços
Reajuste de planos individuais e familiares autorizado pela ANS é maior do que a
inflação geral de 2015 e menor do que a variação de custos médico-hospitalares
A
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) (Iess). A inflação médica é historicamente acima da in-
reajustou o preço dos planos de saúde individuais flação geral, inclusive em países desenvolvidos, mas os
e familiares em até 13,57%, a partir da data de dados também mostram uma defasagem entre o preço
aniversário dos contratos. O aumento abrange 8,3 mi- médio real e o valor que acompanha o percentual do
lhões de pessoas, ou 17% do total de beneficiários no VCMH. Em 2015, o preço médio dos planos de saúde
Brasil, e vale até abril de 2017. O índice autorizado foi de R$ 231. Se fosse aplicada a mesma variação que
pela ANS é maior do que a inflação de 2015 (10,7%) e ocorreu com os custos médico-hospitalares no período,
menor do que a variação de custos médico-hospitalares esse valor subiria para R$ 295. Ao longo do tempo, ve-
(VCMH), que encerrou o ano passado acima de 19%, rifica-se que esse desequilíbrio aumenta a cada ano,
segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar como mostra o gráfico abaixo.
300
295
250
252
231
200 214 208
189 186
150
162 165
149 138 150
135 128
100 119 119 PREÇO DE EQUILÍBRIO
(CORRIGIDO CONFORME A
VARIAÇÃO DOS CUSTOS MÉDICO-
50
-HOSPITALARES)
PREÇO MÉDIO (VALOR ATUAL
0
DOS PLANOS DE SAÚDE)
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
R$ 1,4
Em março de 2016, 1.125 operadoras
R$ 117,9
de planos de saúde atendiam
70,5
BILHÃO
Equivalente em despesas assistenciais
BILHÕES
a toda a
população da
MILHÕES 35% em despesas assistenciais médico- exclusivamente odontológicas
França de beneficiários, equivalentes -hospitalares em 2015, R$ 2.363 em 2015, R$ 65 em média
a 35% da população brasileira em média para cada beneficiário para cada beneficiário
1% 31%
261,7 MILHÕES
668,5 MILHÕES
LEGISLAÇÃO E REGULAÇÃO
SÃO RECENTES
51,1 MILHÕES
Lei 9.656/1998 regulou a
saúde suplementar no país
CONTRIBUIÇÃO
EM TRIBUTOS 40
R$ 36,4
em tributos foram pagos pelos
BILHÕES
30
26,7%
21,9 %
Tributação dos planos de
saúde é mais alta que em
outros segmentos básicos
planos de saúde em 2015
(ESTIMATIVA DA ABRAMGE)
20
16,6%
SANEAMENTO - 16,6
10
Este valor é um pouco maior que SAÚDE SUPLEMENTAR – 26,7
o custo estimado das Olimpíadas EDUCAÇÃO - 21,9
2016 no Rio de Janeiro
0 FONTE: IBPT
2015 36,4
31,4
0 5 10
5 15 20 25 30 35 40
FONTE: ABRAMGE, COM DADOS DA ANS
CONSELHOS /
ANS JUDICIÁRIO CADE ANVISA MIN. DA SAÚDE
ASSOCIAÇÕES
PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO DE SAÚDE
FORNECEDORES
DE MATERIAIS / HOSPITAIS
EQUIPAMENTOS
HOSPITALARES
Remédio
ANTICRISE
Para acelerar a recuperação do crescimento, empresas
de saúde suplementar apostam em aumento
da produtividade e inovação, além de demandar
ajustes no marco regulatório
POR MAURÍCIO OLIVEIRA
O
número impressiona: os planos médico-hospitalares no
Brasil perderam quase 1,6 milhão de beneficiários en-
tre janeiro de 2015 e março de 2016 – o total de segu-
rados caiu, nesse período, de 50,4 milhões para 48,8
milhões. A explicação mais óbvia para esse fenômeno está relaciona-
da ao aumento do desemprego. Segundo o Ministério do Trabalho e
Previdência Social (MTPS), nesse mesmo período, foram fechados
1,8 milhão de postos de trabalho formais.
providências e exige a reorganização da cadeia”, avalia. Um exemplo é o Amil Life, lançado no ano passado. A
proposta é resgatar o vínculo entre médico e paciente,
EM BUSCA DA EFICIÊNCIA com foco em atenção primária e nos cuidados integra-
Cada empresa do setor encontra suas próprias estra- dos. Nesse sistema, o beneficiário é atendido por uma
tégias para lidar com a crise. Depois de registrar um de- equipe composta por médico, enfermeiro e agentes de
créscimo de 1,6% na carteira de clientes no ano passado, saúde, que podem ser acessados tanto no celular como
a Amil iniciou 2016 apostando nos planos de saúde para diretamente nos espaços de atendimento exclusivo, os
Jorge Kropf, da
pequenas e médias empresas – e obteve um aumento Clubes Vida e Saúde.
Amil: comitês de 136% nas vendas desse segmento no primeiro tri- A primeira unidade do Amil Life, instalada em Su-
multidisciplinares para mestre de 2016, em comparação ao mesmo período do maré (SP), registrou 87% de adesão entre os associados
fortalecer a gestão e
customizar os programas ano anterior. A maior ênfase dada à coparticipação e às locais no período entre novembro de 2015, quando foi
a serem oferecidos soluções customizadas nos mais de 19 mil novos contra- inaugurada, a março de 2016. Em junho, a iniciativa
chegará a São Paulo e ao Rio de Janeiro. Junta-se, as- do país. O faturamento subiu 26% em relação a 2014,
FALCÃO JÚNIOR
sim, a mais de 20 programas de medicina preventiva chegando a R$ 2,5 bilhões. E o número de associados
que a Amil já desenvolve, em temas como combate ao subiu 10% nos planos médicos e 20% nos planos exclu-
tabagismo, obesidade infantil, suporte a gestantes e cor- sivamente odontológicos – chegando, respectivamente,
reção postural. a 2,2 milhões e 1,1 milhão de beneficiários em cada
“Procuramos ter uma atuação diferenciada em ges- uma dessas modalidades.
tão de saúde”, diz o diretor institucional da Amil, Anto- “Os momentos de crise reforçam o processo de sele-
nio Jorge Kropf, citando como exemplo os comitês de ção natural do mercado, em que os mais adaptáveis so-
saúde multidisciplinares instalados nas empresas-clien- brevivem melhor”, diz o diretor de assuntos estratégicos Gustavo Barros, da
Hapvida, ressalta a rede
tes. “Esses comitês estão voltados ao levantamento de do Hapvida, Gustavo Barros. O grande trunfo do grupo, própria de atendimento,
estatísticas de eventos médicos, estudos epidemiológicos para Barros, é ter uma ampla rede própria – 96% das in- responsável por 96%
das internações da
e prevalência de doenças, que servem de base para a cus- ternações são feitas nos 20 hospitais próprios. Ao mesmo
operadora
tomização dos programas a serem oferecidos”, explica. tempo, 16 unidades de pronto atendimento contribuem
Há operadoras que conseguiram contrariar a ten- fortemente para filtrar os casos menos complexos e evi-
dência e cresceram em 2015. É o caso do Grupo Hap- tar que cheguem aos hospitais sem necessidade.
vida, sediado em Fortaleza (CE), com 17 mil funcio- Continuar ampliando e aprimorando a infraestrutu-
nários e atuação em 13 estados do Nordeste e Norte ra, mesmo em meio à crise econômica, é uma decisão
0.5
0.0
-0.5
-1.0
-1.5 -1.6
-2.0
-2.5 -2.7
-3.0
-3.5
-3.8 -3.9
-4.0
CENTRO-OESTE NORDESTE SUL SUDESTE NORTE BRASIL
da qual o Hapvida não abre mão – há R$ 170 milhões inflação médica tende a continuar evoluindo em ritmo
previstos para investimentos neste ano, crescimento de mais acelerado que o da inflação da economia como
15% em relação ao orçado em 2015. Outra priorida- um todo (ver mais detalhes na reportagem sobre custos,
de é o aperfeiçoamento constante dos mecanismos de na página 24). O mantra para alcançar o objetivo sem
controle de desperdícios e de fraudes, característica que sacrificar a qualidade e a resolubilidade dos atendimen-
vem de muito tempo – o grupo foi pioneiro, há 20 anos, tos todos conhecem, mas nem sempre conseguem pra-
na implantação de um sistema de identificação biomé- ticar: uso racional.
trica por impressão digital. “Essas medidas contribuem Ninguém discorda que o caminho para tornar o sis-
para uma vigilância rigorosa sobre os custos”, diz Barros. tema mais eficiente é ampliar a sinergia entre os elos da
cadeia da saúde suplementar. Afinal, todas as partes – os
PROPOSTAS PARA O SETOR consumidores, as empresas clientes dos planos coletivos,
O momento econômico delicado agravou a preocu- as operadoras e os prestadores de serviços médicos – de-
pação com os custos crescentes dos planos de saúde – sejam o mesmo: qualidade no atendimento com custos
de acordo com projeção da consultoria Towers Watson –, equilibrados. Apesar da unanimidade, colocar em prá-
esses custos saltarão em 20 anos de 11,4% para 25,7% da tica medidas que consigam efetivamente avançar nessa
folha de pagamento das empresas brasileiras, em média. direção tem se mostrado um desafio complexo.
A única forma de evitar um salto nessas proporções é A reavaliação do modelo de cobrança e remunera-
promover medidas estruturais para conter a progressão ção é uma demanda que vem aparecendo com frequên-
dos custos assistenciais. cia nas discussões do setor. No Simpósio Internacional
Esse é o maior desafio das operadoras para os próxi- de Planos Odontológicos, o Sinplo, evento promovido
mos anos – ainda mais diante de um cenário em que a pelo Sinog no final de abril, o presidente da Agência
Envelhecimento da
população exige busca Nacional de Saúde Suplementar, José Carlos de Souza
maior pela eficiência Abrahão, admitiu de forma objetiva a necessidade de
uma reavaliação nesse sentido. “A capacidade do bene-
ficiário de pagar os planos está se esgotando. As opera-
doras, os hospitais, os laboratórios e os médicos estão
insatisfeitos. Se quisermos continuar a ter saúde suple-
mentar, está na hora de sentarmos e mudar o modelo de
cobrança e remuneração”, declarou.
Para Furquim, do Insper, o calcanhar de aquiles do
sistema é o desalinhamento entre quem decide e quem
arca com os custos das decisões. Um exemplo está no
cotidiano do atendimento médico. Ao prescrever um
remédio ou encaminhar o paciente para um exame, o
médico está mais preocupado com os interesses das pes-
soas diretamente envolvidas – o paciente e ele próprio –,
e não com a necessidade coletiva de ter um sistema efi-
ciente e financeiramente equilibrado.
Uma das alternativas é a substituição do princípio
da conta aberta – mais vulnerável a descuidos, desper-
dícios e fraudes – pela definição prévia de valores para
a remuneração de determinados procedimentos, a partir
do cruzamento de informações que torna essa previsão
relativamente segura. Assim, a necessidade de eficiência
seria mais bem incorporada a todas as etapas do pro-
cesso. Seria um princípio com efeito semelhante ao da
SXC
DIVULGAÇÃO
para ter apenas pacientes particulares, como vem acon- eficiência cada vez maior na gestão. Entre essas tendên-
tecendo”, diz Furquim, defensor da ideia. cias, estão o encarecimento provocado pela necessidade
Um modelo novo de remuneração que tem sido de investimentos em novas tecnologias e o envelheci-
avaliado pela Associação Brasileira de Planos de Saúde mento da população brasileira. O país verá a população
(Abramge) é o DRG (Diagnosis Related Group ou Gru- com mais de 45 anos de idade passar da taxa de 20% do
po de Diagnósticos Relacionados). Nos EUA esse mode- total, em 2000, para 45% em 2050 – e o custo médio do
lo foi implantado ainda na década de 1980 e atualmente atendimento de saúde cresce bastante em beneficiários
Paulo Chapchap,
é possível selecionar um hospital por critérios objetivos, a partir dessa idade.
do Sírio-Libanês:
como a taxa de infecção hospitalar. Outro problema apontado pelo presidente do Eins- desvalorização do real
Os benefícios da implantação desse programa con- tein é o modelo hospitalocêntrico de seguridade ado- pressiona os custos
com materiais e
templam desde a melhoria de gestão da operadora até tado no Brasil – muitos casos que poderiam ser resolvi- equipamentos
a qualidade assistencial, de acordo com aferição do dos em ambulatórios acabam chegando aos ambientes
nível de atendimento entre diferentes prestadores de de alta complexidade, o que contribui para encarecer
serviços, conforme desempenho. Para Pedro Ramos, os serviços prestados. Os custos com internação vêm
diretor da Abramge, definir um conjunto de indicado- crescendo proporcionalmente ano a ano e hoje já res-
res para o mercado é uma das prioridades da saúde pondem por metade dos custos totais das operadoras
suplementar. “A melhor qualidade assistencial a pre- de planos de saúde. Os principais gastos relacionados
ços mais competitivos é um dos maiores benefícios que às internações são materiais (23%), honorários médicos
um plano de saúde pode oferecer para seus clientes”, (17%) e medicamentos (16%).
conclui Ramos. Um importante elemento adicional relacionado à
RAMEDE FÉLIX
crise, para os hospitais, é que a desvalorização do real
HOSPITAIS TAMBÉM SE ADAPTAM pressiona os custos com materiais e equipamentos. “Vá-
“A situação econômica vai melhorar, mais cedo ou rios dos nossos insumos têm preço atrelado ao dólar”,
mais tarde, mas a crise da saúde é permanente”, diz lembra o CEO do Sírio-Libanês, Paulo Chapchap. A
Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita instituição tem 75% da receita proveniente do atendi-
Albert Einstein, de São Paulo, referência nacional em mento a segurados dos planos de saúde e 25% de pa-
qualidade de atendimento. Lottenberg usa uma metáfo- cientes privados, que pagam diretamente pelos serviços.
ra médica para definir melhor o quadro que vê à frente: Para enfrentar a crise sem perda de receita nem de qua- Claudio Lottenberg, do
hospital Albert Einstein:
há uma dor aguda provocada pela crise conjuntural do lidade no atendimento, o Sírio-Libanês tem feito nego- “A situação econômica
momento, que tende a passar completamente quando as ciações cada vez mais difíceis pela redução dos preços vai melhorar, mas
a crise da saúde é
causas forem adequadamente tratadas, e também uma praticados pelos fornecedores. Além disso, intensificou
permanente”
dor crônica, permanente, com a qual é preciso aprender iniciativas relacionadas à busca de eficiência, incluindo
a conviver, tentando diminuir ao máximo seus efeitos. a revisão completa dos processos e remanejamentos de
As causas da dor crônica são tendências que vão 6.100 funcionários.
O
avanço da medicina e o envelhecimento da população influenciaram
uma transição epidemiológica importante nas últimas décadas. Vive-se
mais hoje em dia, a qualidade do serviço de saúde melhorou e a tecno-
logia trouxe novas perspectivas para o tratamento de diversas doenças.
Em boa parte do mundo, inclusive nos países desenvolvidos, esses fatores também
elevaram os custos com a assistência à saúde acima da inflação geral, provocando, em
muitos casos, um desequilíbrio financeiro difícil de ser superado. Nesse aspecto, o Bra-
sil não foge à regra. A conta fica cada vez mais amarga para beneficiários, operadoras e
outros prestadores de serviços ligados à saúde. Mas, aqui, há um agravante em relação
a outros países: o desperdício ainda é um dos maiores entraves à eficiência do setor.
Segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplemen- de 9%, seguidos por Reino Unido (7,8%) e França (6%).
tar (Iess), o custo médico-hospitalar, ou seja, as despesas Historicamente, as despesas assistenciais apresentam
com internações, consultas, exames, medicamentos e aumentos superiores ao crescimento do PIB e também
outros tipos de procedimentos, cresceu 19% em 2015, estão associadas ao maior poder aquisitivo da população,
confirmando uma tendência cada vez mais forte nesses que passa a ter mais acesso à saúde e, assim, gera um
tempos de crise. O índice é quase duas vezes superior à importante aumento de demanda. No sentido inverso, a
inflação geral registrada no ano passado, e corrobora a tendência é de que a inflação médica registre queda em
conclusão de estudos que apontam o Brasil como uma tempos de crise econômica, como aconteceu na França
das nações que apresentam a maior inflação médica en- e no Reino Unido depois da turbulência de 2008. Na
tre os grupos analisados. ocasião, a desaceleração da taxa de crescimento dos gas-
Um relatório da consultoria Aon Hewitt mostra que, tos com a saúde acompanhou a retração da economia.
nesse quesito, estamos muito atrás de outros países lati- No Brasil, no entanto, não é o que vem acontecendo.
no-americanos. De acordo com o documento, a inflação
médica bruta no Brasil encerrou 2015 em 18%, acima QUESTÕES ESTRUTURAIS
do índice do México (9,3%) e do Chile (6%). Nos países A explicação para o crescente aumento dos gastos
desenvolvidos, os Estados Unidos aparecem com taxa médico-hospitalares no país não se resume apenas aos
FONTE: AON HEWITT / 2015 GLOBAL MEDICAL TREND RATE SURVEY REPORT
danças que também se traduzam em retorno financei-
ro. De qualquer forma, são investimentos necessários, 4,8 6,0
que trazem outros benefícios não só para os pacientes, França
mas também aos médicos, hospitais e às próprias ope-
5,9 7,8
radoras de saúde. “De modo geral, há muita inovação Reino Unido
na área da saúde, e a tecnologia pode melhorar subs-
tancialmente a qualidade do atendimento”, diz Paulo 3,1 6,0
Chile
Furquim, professor do Insper. “A questão é que ela [a
tecnologia] não tem foco na redução dos custos de 5,8 9,3
saúde. Isso pode abrir um leque enorme de problemas México
ligados ao desperdício”, conclui. 0 5 10 15 20 25 30 35
Modelos de remuneração
que são referência no mundo
premiam a eficiência do hospital
e a qualidade do atendimento
TERAPIAS
R$ 119,3 BILHÕES
de despesas assistenciais em 2015
(1)
5,3
DEMAIS DESPESAS
MÉDICO-HOSPITALARES BILHÕES RESSARCIMENTO AO SUS
2,5
18,2%
AMBULATORIAIS INTERNAÇÕES BILHÕES
13%
7,5% OUTRAS DESPESAS
16,7 BILHÕES
9,2 BILHÕES
22%
CONSULTAS 20,7% MATERIAIS MÉDICOS
21,8 BILHÕES
10,8 BILHÕES
24,7 BILHÕES
no modelo de remuneração conseguiram reduzir os cus- e com base em critérios que considerem o custo-benefício
ÉDI PEREIRA/HÓRUS PHOTOGRAPH 2009
tos assistenciais na saúde”, lembra Eliane Kihara, da PwC. de sua decisão. Nos sistemas de coparticipação, por exem-
Ela cita o exemplo da África do Sul, que vivia uma reali- plo, o usuário do plano de saúde pode ter de desembolsar
dade muito parecida com a do Brasil e conseguiu reverter uma parte da despesa com determinados procedimentos.
a alta das despesas com a adoção do DRG (sigla em inglês “Hoje, o complexo sistema de contratações na cadeia da
para Grupo de Diagnósticos Relacionados). saúde suplementar distorce decisões fundamentais. Para
Bastante conhecido no mundo e adotado em muitos o seu bom funcionamento, é importante que o ônus e o
países desenvolvidos da Europa, esse modelo estabelece bônus da decisão por determinado procedimento sejam
a precificação dos procedimentos de acordo com o per- Eliane Kihara, da dos agentes que realmente são responsáveis por essa deci-
PwC: “os países
fil e os riscos do beneficiário. Os desembolsos ocorrem que passaram por
são”, comenta Paulo Furquim, do Insper.
por evento e não há valor adicional para consultas de mudanças no modelo Em comum, os modelos que hoje servem de referên-
retorno, por exemplo, de modo que o sistema premie de remuneração cia para o Brasil preconizam mais garantias na qualidade
conseguiram
não só a eficiência do hospital, mas também a qualidade reduzir os custos do atendimento, como a criação de indicadores que es-
do atendimento. “Em três anos, o DRG permitiu que a assistenciais na tejam disponíveis ao público em geral e aos prestadores
saúde”
África do Sul economizasse 30% nas despesas assisten- de serviços. “Na Europa, como não há pagamento por
ciais de saúde”, diz a especialista da PwC. retorno, o médico é incentivado a resolver o problema
Há outros modelos similares e algumas possibilidades do paciente”, diz Furquim. “Aqui, não. O sistema paga a
de combinar soluções que incentivem não só médicos e mesma coisa para todos os médicos, porque se olha ape-
hospitais a reduzir o número de procedimentos, mas tam- nas para a quantidade de procedimentos. Ou seja, além de
bém estimulem os beneficiários a procurar os serviços de não haver incentivos para esses profissionais, eles também
saúde de forma assertiva, apenas em caso de necessidade, não são reconhecidos pela qualidade de seu trabalho.”
O National Health
Service, do Reino
Unido, é referência
mundial em atenção
básica de saúde
C
ena 1. Denver, EUA. Um senhor de meia-idade mostra para a câmera o
dedo médio amputado e conta sua história. Um acidente com uma serra
elétrica havia amputado dois de seus dedos, o anelar e o médio. Mas ele só
tivera dinheiro para pagar a reconstituição do anelar, por 12 mil dólares. O
outro teria custado 60 mil dólares. Ele não tinha essa quantia nem plano de saúde.
Cena 2. Windsor, Canadá. Uma moça de vinte e sistema público de saúde, chamado National Health
poucos anos, residente em Detroit, nos EUA, atravessa Service (NHS), foi implantado em 1948, como uma das
a fronteira canadense e forja um relacionamento com primeiras medidas de reconstrução dos países após a Se-
um nativo para ser atendida no sistema público daquele gunda Guerra Mundial.
país. De graça. O NHS é reconhecido mundialmente como uma
Cena 3. Londres, Inglaterra. No caixa do hospital, referência na assistência de saúde básica – e gratuita – a
um paciente com alta médica recebe algumas dezenas todos os cidadãos residentes, seja rico, pobre, nascido no
de libras, originadas dos cofres públicos, para pagar por Reino Unido ou estrangeiro.
um transporte confortável até sua residência. Ele não Custeado principalmente por impostos, com uma
havia pagado nada por seu tratamento. E ainda recebia pequena participação de recursos da seguridade social,
uma ajudinha do governo. o sistema é atualmente um dos principais objetos de
Embora um tanto simplificadoras, essas três cenas debate político, pois sofre com o aumento de custos e
do documentário SiCKO, de Michael Moore, indicado da população atendida. Segundo dados do Banco Mun-
ao Oscar em 2007, retratam a diferença entre os siste- dial, em 2014, 83,1% do total dos gastos com saúde no
mas de saúde de EUA, Canadá e Reino Unido. Três paí- Reino Unido saíram dos cofres públicos – em compara-
ses ricos e anglo-saxões, mas que adotaram modelos dis- ção, esse índice nos EUA era de 48,3%, apenas.
GETTY IMAGES / CHRISTOPHER FURLONG
tintos para oferecer assistência médica a sua população. A necessidade de recuperação do NHS, inclusive,
foi uma das principais bandeiras dos grupos a favor da
BOM, MAS NÃO PERFEITO saída do Reino Unido da União Europeia, aprovada
No Reino Unido, a divisão política formada por In- em referendo realizado em junho deste ano. Segundo
glaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, o essa corrente, o atendimento de cidadãos estrangeiros
pessoa mais rica tem de pegar a mesma fila de um de PERCENTUAL DE GASTO DO SETOR PRIVADO
menor renda, e aguardar em alguns casos, por exemplo, (EM RELAÇÃO AO GASTO TOTAL COM SAÚDE)
até um ano para realizar uma consulta com um especia- 29,1
lista. Ou ir fazer o tratamento nos EUA. 51,7
Do outro lado da fronteira, em 2010, quase 60 mi- 16,9
lhões de americanos ficavam numa espécie de limbo do 54
sistema de saúde. Isso porque não tinham planos priva- 0 10 20 30 40 50 60
renda. Já o Medicare, vinculado à previdência social, aten- MORTALIDADE INFANTIL (A CADA 100 NASCIMENTOS)
de apenas pessoas com deficiências ou com mais de 65 4,4
anos, por meio do reembolso de despesas hospitalares e de 5,7
consultas médicas. 3,7
Há seis anos, para tentar resolver a situação desses
14,4
60 milhões de desassistidos, que tinham de pagar todas
0 3 6 9 12 15
as eventuais despesas para cuidar de sua saúde, o presi-
dente Barack Obama disputou voto a voto no Congresso EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER (EM ANOS)
CRISE
Simpósio sobre planos odontológicos indica os melhores
caminhos para operadoras desse segmento se destacarem em
cenário turbulento como o vivido pelo Brasil atualmente
N
os dias 28 e 29 de abril, em São Paulo, mais de 200 pes- [1]
H
á 50 anos, em São Paulo, um grupo de médicos e o amadurecimento da associação foram marcados
e profissionais da área de saúde fundava uma por fatos e eventos que contribuíram para ampliar e
entidade para organizar e propagar garantir o acesso à saúde de um número
Em 50 anos de
o sistema privado de serviços do setor. A
atuação, a Abramge cada vez maior de pessoas.
Abramge nasceu em 1966, época em que Um desses eventos foi o surgimento
se tornou
a saúde pública era precária e o custo da do Sinog, em 1996, a partir da própria
a principal entidade
medicina liberal, bastante elevado. Nesse Abramge. Nesses 20 anos de atuação, o
representativa
contexto, as empresas buscavam mecanis- sindicato cumpriu seu papel na defesa
do setor
mos para atrair os melhores trabalhadores dos interesses das empresas de odonto-
e, ainda, reduzir o nível de absenteísmo. Assim surgi- logia de grupo e no compartilhamento de informações
ram os primeiros planos de saúde no Brasil. relevantes para o setor. Não por acaso, a história das
Cinco décadas depois, a Abramge se estabeleceu duas associações se confunde com a própria história
como a principal entidade representativa da saúde su- da saúde suplementar no Brasil. Veja a seguir os gran-
plementar no país. Nesse período, a evolução do setor des marcos dessa trajetória.
30
Hoje, a medicina
de grupo cobre
%
mais de 20
milhões de
beneficiários
dos cerca de
70 milhões
de clientes
da saúde
suplementar
brasileira
Fachada da sede atual da Abramge: ações para ampliar e garantir o acesso das pessoas à saúde
Um parto de novela
A história de uma mãe que teve o apoio de sua médica e do plano de saúde
para fazer um parto normal no país campeão mundial das cesáreas
E
ra fevereiro de 2015. A empresária
ARQUIVO PESSOAL
Tatiana Yuomoto, de São Bernardo
do Campo, estava com 36 semanas
de gestação de sua primeira filha, a Letícia.
Três anos antes havia dado à luz Lucas, que
nascera em parto assistido por fórceps. Mes-
mo assim, Tatiana estava decidida a evitar
a cesárea, pois, nas suas palavras, “se tudo
corresse normalmente, parto normal era o
melhor para mim e para a criança”.
Desde sua primeira gravidez, Tatiana
dera a sorte de encontrar em sua médica
uma aliada. Nunca havia sido induzida a
pré-agendar uma cesárea, como virou praxe
no Brasil, nos últimos anos. E melhor: todo
o acompanhamento pré-natal estava sendo
coberto por seu plano de saúde, assim como
seria o parto e a internação. “Não coloquei a
mão no bolso para nada, zero.”
Quando foi constatada a dilatação do
colo do útero, a primeira fase do trabalho de
parto, Tatiana deu entrada na Maternidade
Pro Matre Paulista, uma das mais renoma-
das da cidade de São Paulo. Era meio-dia e
a mãe do Lucas estava ansiosa pelo nasci-
mento da Letícia. “Estava com um pouco
de medo também, confesso”, lembra Tatia-
na. Afinal, a primeira experiência havia sido
um pouco sofrida, apesar do final feliz.
Sentindo algumas contrações, Tatiana
foi conduzida a uma das suítes LDR, sigla
O parto assistido à
fórceps do primeiro filho,
Lucas, não fez Tatiana
optar pela cesárea para
dar à luz Letícia
Tatiana plenamente recuperada, logo após o parto, segura a recém-nascida Letícia
GIL TOKIO
ue o sistema tributário brasileiro é fonte geradora de receitas ao erário. Trabalho
complexo e oneroso, bem sabe qual- produzido pelo Instituto Brasileiro de Planeja-
quer um que já se aventurou a em- mento Tributário (IBPT), a pedido da Abram-
preender ou tem de cumprir obrigações ge, identificou que a saúde suplementar reco-
com os fiscos. Os malfeitos do sistema lheu, diretamente, R$ 4,3 bilhões em tributos,
se prestam também a outros desservi- em 2013. Outros R$ 19 bilhões adicionais vie-
ços. Por exemplo, o de criar condições, ram de tributação indireta, projeta o estudo.
por conta do confuso cipoal de leis e normas, Não bastassem leis para desmentir o
para a disseminação de conceitos errados e mito, cabe ainda uma análise pragmática.
que se tornam verdades no consciente coleti- De 2009 a 2012, o Iess apurou que a soma das
vo. Um dos mitos é o que prega a existência despesas assistenciais das operadoras com be-
de renúncia fiscal pelo Estado em benefício neficiários totalizou mais de R$ 263 bilhões.
da saúde suplementar. É hora de desmistificar Além disso, R$ 12,2 bilhões foram recolhidos
essa história. em tributos diretos e, de quebra, R$ 180 mi-
O Código Tributário Brasileiro define que
o Imposto de Renda incide sobre os acrésci-
mos patrimoniais dos contribuintes, pessoas
Para cada R$ 1 a que o
físicas e jurídicas. Já que a saúde é, pela Cons- Estado teria abdicado,
tituição, um direito do cidadão e um dever do
Estado, toda vez que o contribuinte paga por
A Lei nº 9.250 diz que despesas com saúde
podem ser deduzidas do Imposto de Renda
recebeu de volta R$ 9,11
um serviço de saúde privado, visando suprir da Pessoa Física (IRPF). Muitos críticos, por
suas necessidades básicas de existência, sofre, ignorância ou má-fé intelectual, alegam que
na prática, um decréscimo patrimonial. Seja o Estado promove renúncia fiscal ao permitir lhões pagos ao questionável processo de ressar-
via contratação direta, seja via plano de saúde. essas deduções. A origem dessa tese advém do cimento ao SUS. A somatória representa um
Isso é lógico, porque se trata de um recurso conceito difundido pela Secretaria da Receita alívio aos governos, entre despesas evitadas
financeiro no qual se abriu mão do consumo Federal que classifica, no relatório “Demons- ao SUS e tributos recolhidos, da magnitude
ou do aumento de patrimônio para cumprir trativo dos Gastos Tributários”, as despesas de R$ 275,3 bilhões. No mesmo período, as
o que seria uma responsabilidade do Estado. com dependentes (manutenção da família), deduções fiscais das pessoas físicas e jurídicas
Esse conceito é defendido, por exemplo, pelo educação e saúde como benefícios tributários com planos de saúde, no imposto de renda,
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da (ou renúncia fiscal). somaram R$ 30,2 bilhões. Ou seja, para cada
Receita Federal do Brasil (Unafisco Sindical). Quem conhece o assunto, caso do advo- R$ 1 que o Estado teria abdicado de arreca-
gado tributarista Ricardo Lodi, demonstra que dação, recebeu de volta R$ 9,11 da saúde
tal conceituação está errada. No portal do suplementar. Essa verdade, se propagada por
O contribuinte que paga Instituto de Estudos de Saúde Suplementar todo setor, acabará com o mito de que a saúde