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CUSTO DA SAÚDE DESPESAS

ASSISTENCIAIS SOBEM 19%


EM 2015, QUASE DUAS VEZES MAIS
DO QUE A INFLAÇÃO GERAL

NO MUNDO É ASSIM O QUE


PODEMOS APRENDER COM AS
EXPERIÊNCIAS DE PAÍSES COMO
EUA, CANADÁ E INGLATERRA

GONZALO VECINA FALA SOBRE


OS DESAFIOS E AS TENDÊNCIAS DO
SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO
A REVISTA DOS PLANOS DE SAÚDE JUL/AGO/SET • 2016

ANO 1 NO 01
ISSN 2448-0630

REMÉDIO

O QUE É POSSÍVEL E NECESSÁRIO


FAZER PARA AMPLIAR O ACESSO
À SAÚDE E REVERTER A QUEDA DO
NÚMERO DE USUÁRIOS DE PLANOS
EDITORIAL

Debate equilibrado
para o bem da saúde
A
Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), o Sindicato Nacional
das Empresas de Medicina de Grupo (Sinamge) e o Sindicato Nacional das
Empresas de Odontologia de Grupo (Sinog), realizadores da revista Visão

SHUTTERSTOCK / POGONICI
Saúde, representam operadoras de medicina e odontologia de grupo que atendem cerca
de 35 milhões de brasileiros [1]

A responsabilidade de cuidar da saúde de tantas pessoas estimulou as entidades a


criar esta publicação para promover o debate sobre as principais questões relacionadas à
saúde suplementar no Brasil. Aqui, a cada três meses, traremos reportagens, infográficos
e artigos que revelem não só o ponto de vista da Abramge, do Sinog e de seus afiliados,

SHUTTERSTOCK / USSR
mas também dos diferentes atores dessa importante cadeia econômica, como gestores
hospitalares, médicos e dentistas, administradores públicos e estudiosos.
[2]
Nesta primeira edição, a reportagem de capa [1] mostra o que as operadoras estão
[3]
fazendo para enfrentar a recessão econômica, que deixou mais de 1,6 milhão de pessoas
sem planos médico-hospitalares desde o início de 2015 até os dias atuais. Essa crise
motivou as empresas a serem mais eficientes na gestão de seus negócios e a oferecerem
inovações em produtos e serviços. A expectativa é de que, a partir da retomada da
SHUTTERSTOCK / MEUNIERD
economia, o setor volte ainda mais forte.
Outro assunto muito relevante, que ameaça a sustentabilidade do modelo atual
do setor, é a escalada dos custos da assistência médica [2]. A incorporação de novas
tecnologias contribui para o quadro, mas os verdadeiros vilões são as fraudes, os
desperdícios e os procedimentos desnecessários. A busca por maior eficiência e controle
certamente dominará o debate nos próximos anos. [4]
Este número um também apresenta os pontos fortes e fracos dos sistemas de saúde
do Canadá, EUA e Inglaterra [3], as principais oportunidades no curto prazo para o
segmento de planos odontológicos e outras seções com conteúdos diversos. E, como a
cereja do bolo deste cardápio, temos a entrevista com o professor Gonzalo Vecina [4],
com 40 anos de experiência em diversas áreas da saúde, que explica o atual momento do
Brasil e clama por mudanças.
Uma vida longa para a Visão Saúde e todos nós.
CHICO MAX

Boa leitura.
SUMÁRIO

18 COMITÊ EXECUTIVO SISTEMA ABRAMGE


Reinaldo Camargo Scheibe
Geraldo Almeida Lima
PRESIDENTE ABRAMGE

PRESIDENTE DO SINOG

Cadri Massuda PRESIDENTE DO SINAMGE

Carlito Marques SECRETÁRIO-GERAL DA ABRAMGE

Pedro Ramos DIRETOR DA ABRAMGE

Lício Cintra DIRETOR DO SINAMGE

Antonio Carlos Abbatepaolo DIRETOR EXECUTIVO

SHUTTERSTOCK / POGONICI
DO SISTEMA ABRAMGE

Francisco Eduardo Wisneski SUPERINTENDENTE

DO SISTEMA ABRAMGE

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SISTEMA ABRAMGE


6 PÁGINAS AZUIS Gustavo Sierra ASSESSOR DE IMPRENSA ABRAMGE
Em entrevista, o professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Keiko Otsuka Mauro GERENTE DE MARKETING E EVENTOS
e ex-Secretário Municipal da Saúde de São Paulo, Gonzalo Vecina, defende Luis Fernando Russiano ASSESSOR DE COMUNICAÇÃO,
novo pacto para a saúde brasileira. MARKETING E EVENTOS SINOG

PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO


CAPA MIOLO EDITORIAL

18 Remédio anticrise www.mioloeditorial.com

A turbulência econômica e política do Brasil gerou desemprego e levou mais de


1,6 milhão de pessoas a perderem seus planos de saúde. Saiba como as operadoras
estão transformando essa crise em oportunidades de inovação e melhorias na gestão.

24 O custo da saúde PRODUÇÃO DE CONTEÚDO


Beto Gomes, Eduardo Lima e Gustavo Magaldi (EDIÇÃO) ,
Entenda como a tecnologia, o envelhecimento populacional e o desperdício elevam
Kátia Shimabukuro (REVISÃO) , Maurício Oliveira (TEXTO)
os gastos da assistência médica no Brasil, acima do índice geral da inflação.
Marco Cançado (ARTE)

28 Mesma língua, diferentes sotaques PUBLICIDADE


Conheça as vantagens e desvantagens dos modelos adotados pelos sistemas de saúde Nominal Representações
de Canadá, EUA e Inglaterra; cada um desses países escolheu seu próprio caminho. 11 3063-5677 / 11 98187-5880

A revista Visão Saúde é uma publicação


SEÇÕES das entidades que representam os planos de saúde.
A reprodução total ou parcial do conteúdo é expressamente
10 Imagem proibida sem prévia autorização.
12 Notas Os artigos assinados não refletem necessariamente
a opinião da Visão Saúde ou do Sistema Abramge.
16 Raio X
32 Checklist
ABRAMGE Associação Brasileira de Planos de Saúde.
34 Por dentro SINAMGE Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo.
DIVULGAÇÃO ABRAMGE

SINOG Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo.


36 Acesso REVISTA VISÃO SAÚDE Rua Treze de Maio, 1540 - São Paulo - SP - CEP 01327-002
TEL.: (11) 3289-7511
38 Diagnóstico SITE: www.abramge.com.br | www.sinog.com.br
www.visaosaude.com.br
E-MAIL: redacao@visaosaude.com.br | comercial@visaosaude.com.br
CAPA: SHUTTERSTOCK / CHAIKOM

4 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


FOTOS: CHICO MAX
PÁGINAS AZUIS

6 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


Olhar
SISTÊMICO
Entre os gabinetes da política e os corredores dos hospitais,
Gonzalo Vecina Neto já trabalhou em diferentes setores da saúde pública –
e ainda encontra tempo para dar aula sobre o assunto

G
onzalo Vecina Neto já esteve em muitos lados do balcão. Conhece os
corredores de hospitais públicos e particulares, dá aula na Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e já circulou pelos
gabinetes das três esferas do governo executivo. No início dos anos
2000, foi presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, depois,
secretário municipal da Saúde de São Paulo. Antes disso, já havia ocupado cargos
importantes no Ministério da Saúde e na Secretaria de Estado da Saúde de São Pau-
lo, onde atuou na divisão de fiscalização e na coordenadoria de assistência hospitalar.
Em 2007, Vecina aceitou o convite para ser superintendente corporativo do hos-
pital Sírio-Libanês, cargo que ocupou até o início de 2016. Como médico, ele
acumula ainda uma experiência de mais de 20 anos de atendimento no Hospital
das Clínicas de São Paulo, instituição em que chegou a desempenhar também
algumas funções executivas. Hoje ele passa boa parte de seu tempo nas salas de
aula da USP, falando sobre um tema que conhece como poucos. “Precisamos ter
cuidado para não oferecer um sistema para o rico e outro para o pobre. A saúde
tem de ser um instrumento de inclusão, e não o contrário”, ele diz. Leia a seguir os
principais trechos da entrevista que concedeu à Visão Saúde.

Visão Saúde – O Brasil vive hoje uma crise que ameaça des desafios para o sistema de saúde. Na área pública, há
reduzir os recursos do SUS, ao mesmo tempo que o um problema grave de subfinanciamento e de políticas
desemprego e a queda da renda familiar dificultam o tributárias e fiscais. O Brasil gasta cerca de 9% do PIB
acesso aos planos de saúde. Como desatar esse nó e em saúde, um índice semelhante ao de grande parte dos
melhorar a assistência à população no curto prazo? países europeus, mas nosso PIB per capita é cinco vezes
Gonzalo Vecina – Estruturalmente, temos dois gran- menor que o da Inglaterra, por exemplo. Se você olhar

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 7


PÁGINAS AZUIS

para o investimento em saúde, vai ver que 45% do gasto também evita custo. O problema todo é saber se o sis-
no Brasil é público, e o restante, privado. Quer dizer, te- tema de saúde está preparado para isso. E aí entra uma
mos de repensar a equação do financiamento. O segundo discussão que a sociedade brasileira ainda não enfren-
desafio crítico é a gestão, tanto no setor público como no tou: quão civilizados nós queremos ser? Em 2050, sere-
privado. Embora você tenha algumas modalidades que mos mais ou menos civilizados?
avançaram nessa questão, como a medicina de grupo,
ainda temos muitos desafios pela frente. Pensando no De que forma os sistemas público e privado
curto prazo, o recálculo da forma de pagamento do SUS, podem caminhar juntos e ampliar a assistência
em tramitação no Congresso, significará uma redução de da população à saúde?
investimentos do governo federal da ordem de R$ 30 a 40 Precisamos ter cuidado para não gerar um desequilí-
bilhões nos próximos anos. Isso vai ser um desastre. brio entre os dois setores e também para não oferecer um
SUS excludente, um sistema para o rico e outro para o
Quais são os principais desafios na parte de gestão? pobre. O grande problema do Brasil é a exclusão social,
O nível de informatização dos hospitais é um deles. e a saúde tem de ser um instrumento de inclusão, não o
Hoje em dia não dá para você ter planilhas aqui e ali. contrário. Temos de garantir que os dois sistemas ofere-
É preciso integrar o conjunto de informações gerado no çam o que for necessário, partindo de um marco de ava-
processo de atenção à saúde e contar com softwares que liação tecnológica, representado hoje pelo que estamos
tenham capacidade de fazer essa integração desde a pro- chamando de medicina baseada em evidências. O que
moção da saúde até a reabilitação da doença. Mas nossos ela diz que é eficaz e seguro deve ser oferecido nos dois
sistemas, inclusive uma parte do privado, estão voltados sistemas. Em termos práticos, a alternativa é caminhar
para o atendimento vertical, para o momento em que se para um modelo em que se tenha uma oferta qualitativa
vai ao hospital. Não estamos preparados para atender, de e quantitativa adequada no SUS, e existente na iniciativa
forma horizontal, quem é hipertenso, diabético, portador privada. E, eventualmente, negociar que alguns procedi-
de câncer. Por isso temos de mexer no modelo de serviços mentos de menor frequência e maior tecnologia possam
de saúde. Precisamos de um modelo assistencial que não ser feitos pelo SUS, com algum tipo de compensação fis-
estimule os pacientes a procurar os hospitais. cal ou tributária. Por exemplo, transplante de fígado, de
coração, casos mais complexos, só o setor público faria.
Como isso funcionaria na prática? Aquilo que for de média ou baixa complexidade, os pla-
A alternativa está naquilo que vem sendo chamado nos deveriam fazer. Essa é uma discussão importante da
de gestão da clínica, um conjunto de componentes que qual não estamos nem próximos.
aumentam a eficiência e a eficácia do processo de aten-
ção. Na prática, isso significa criar sistemas de gestão Uma das principais sugestões para equilibrar
de doenças e de doentes. Como os programas para hi- o sistema é a mudança no modelo de remuneração
pertensos, por exemplo. Idosos hipertensos, cardiopatas, dos procedimentos médico-hospitalares. Quais são
com reumatismo internam mais que outros pacientes e as melhores alternativas ao modelo atual?
precisam de uma equipe que os acompanhe diariamen- O modelo atual é um desastre. Pagamento por proce-
te, alguém que ligue para eles para saber se tomaram dimento, o fee for service, estimula o consumo e, desse jei-
o remédio, se precisam que alguém vá à casa deles, se to, a conta nunca vai fechar. A alternativa é olhar para o
se alimentaram adequadamente. Tudo isso custa, mas resultado, remunerando o que é feito para uma determi-
nada população ou pagando por performance em relação
aos resultados de um paciente. A possibilidade que tem

Precisamos discutir uma questão que a sido mais aceita nesse sentido observa o resultado médio
de um conjunto de diagnósticos, por exemplo. Não é tão
sociedade brasileira ainda não enfrentou: complexo, mas tem um processo que precisa ser incorpo-

quão civilizados nós queremos ser? Em 2050, rado ao sistema. As instituições privadas que aceitarem
esse caminho vão ter de criar uma expertise para lidar
seremos mais ou menos civilizados?” com esses processos.

8 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


O custo assistencial aumenta em níveis maiores
que a inflação geral, e o desperdício, as fraudes
e os procedimentos desnecessários contribuem
para isso. Como os gestores hospitalares devem
combater esses problemas?
Precisamos melhorar muita coisa nos nossos hospi-
tais, que têm taxas de ocupação relativamente baixas,
próximas ou inferiores a 80%, quando tem de ser pelo
menos 85%. Isso é fruto da desocupação do hospital no
fim de semana, uma vez que os médicos não operam aos
domingos e, eventualmente, aos sábados também não.
Há de se estimular a realização de cirurgia pelo menos
aos sábados, para se utilizar a estrutura que está lá de for-
ma mais eficiente. Outra questão é o gasto com pessoal,
um dos mais altos da cadeia de valor da saúde. Muitas
vezes há pessoas não comprometidas com a atenção aos
pacientes. Então precisa de mais engajamento, porque a
gestão de pessoas é o nó mais crítico nos hospitais, pela
característica da atividade. Outro grande desafio é de
comunicação, é mostrar o que as pessoas devem fazer e
quando fazer. Nesse processo, é fundamental a educação
permanente, mas as organizações na área de saúde não
têm essa cultura. Tem de existir formação contínua de
todos os profissionais que estão ligados ao hospital, inclu-
sive os terceirizados, que são muitos.
Não estamos preparados para atender,
E no caso das fraudes? de forma horizontal, quem é hipertenso,
Uma boa maneira de combater fraudes, de forma ge-
ral, é adotar mecanismos de transparência. Qual a taxa de
diabético, portador de câncer. Isso gera custo,
erros e de infecção nos hospitais, por exemplo? Isso tem mas também o evita”
de ser divulgado e auditado. Outra boa maneira é bus-
car certificação, nacional ou internacional, e isso sempre
tem um custo. Não se faz uma certificação de graça, mas exemplo, que permitam melhores negociações. Equipa-
isso traz um retorno importante para a organização, pois mentos com oferta de ressonância nuclear conjuntas e
afirma que ela está andando na direção certa. Nas áreas lavanderias compartilhadas também seriam muito bené-
mais sensíveis, como as próteses, tem de ter um cuidado ficos para o sistema.
especial. Ou seja, um novo procedimento só entra se for
comprovada sua eficácia científica. A recusa ou escolha Qual é o papel da saúde suplementar nesse cenário?
de determinado material tem de estar pautada por conhe- Teremos de passar por uma evolução disruptiva e esta-
cimento, senão não vale, não pode ser aceita. belecer qual vai ser a relação entre o público e o privado.
Hoje, o setor privado atende 25% da população, e quer
O senhor acredita que um movimento de consolidação fazer mais. O público também. Nunca teremos um siste-
de redes hospitalares é benéfico para o sistema? ma como o americano, porque não temos uma economia
Isso é importante, é uma tendência que veio para fi- como a deles. E olha que eles oferecem uma assistência
car. Os hospitais vão comprar e capacitar melhor, e as de baixa qualidade. Então, a saúde suplementar terá de
evidências mostram isso. Podem ser criadas também re- ser capaz de se reformar disruptivamente, para continuar
des virtuais, com centros de compra compartilhados, por a ter seu próprio espaço.

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 9


IMAGEM

Inimigo público
O zika vírus foi isolado pela primeira vez
em 1947, em macacos da floresta de Zika,
na Uganda. Uma de suas características
principais é a capacidade de se ligar a uma
grande variedade de moléculas presentes
nas células animais. Seu genoma completo
foi sequenciado no Brasil e apresentou
10.808 nucleotídeos, com 99,7% de
similaridade com um vírus encontrado
na Polinésia Francesa em 2013 – daí a
suspeita de ele ter chegado ao Brasil no
ano seguinte, trazido por atletas que vieram
participar de uma competição de remo,
ou por torcedores estrangeiros durante
a Copa do Mundo de 2014.

10 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE
MANUEL ALMAGRO RIVAS / WIKIMEDIA / PUBLIC DOMAIN

11
O que eles dizem sobre os planos?
Três estudos diferentes abordam o perfil e a avaliação dos beneficiários sobre os
planos de saúde e levantam questões fundamentais para o setor. Veja e compare

A SATISFAÇÃO DO
BENEFICIÁRIO,
SEGUNDO TRÊS
PESQUISAS DE
OPINIÃO
7%
18%

SHUTTERSTOCK / ELENABSL
75%

IBOPE / IESS
MUITO SATISFEITO + SATISFEITO
MAIS OU MENOS SATISFEITO
POUCO SATISFEITO + NADA

A
SATISFEITO
avaliação dos usuários sobre os planos de saúde mais utilizado, seguidas pelos exames diagnósticos.
foi tema de três estudos diferentes do setor, en- Para os entrevistados, os principais problemas estão
8% comendados pelo Conselho Federal de Medici- no pronto atendimento, com destaque para a lotação
na (CFM), pela Associação Paulista de Medicina (APM) do local e a demora para serem atendidos. A pesquisa
26%
e pelo Instituto de Estudos da Saúde Suplementar mostrou também que 20% dos beneficiários recorreram
66% (Iess). Neste último, realizado pelo Ibope, mostrou-se ao SUS porque não puderam ser atendidos pelo plano
que a saúde é o terceiro bem ou serviço mais importan- de saúde. Do total de usuários, 2% recorreu à justiça
te na vida das pessoas, atrás apenas da educação e da contra a operadora, a maioria (60%) por negativa de
DATAFOLHA / APM casa própria. O trabalho revelou que a qualidade dos cirurgia – lembrando que determinados procedimentos
MUITO SATISFEITO + SATISFEITO
MAIS OU MENOS SATISFEITO
médicos e do atendimento, a agilidade na marcação requerem o uso de Diretrizes de Utilização, e outros
MUITO INSATISFEITO + de consultas e a cobertura oferecida pelos planos são podem não estar contemplados no rol de obrigações da
INSATISFEITO
os três principais motivos de satisfação. O tempo para Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
autorizar e liberar consultas também aparece como a No trabalho encomendado pelo CFM, também feito
6% principal reclamação das pessoas, seguido pelo preço pelo Datafolha, a qualidade das instalações dos locais
das mensalidades e pela qualidade dos médicos. Ou de atendimento é boa ou excelente para 60% das pes-
36%
seja, os mesmos aspectos recebem avaliação positiva soas que têm plano de saúde. O acesso a medicamen-
56%
e negativa de muitos usuários. tos aparece como aspecto negativo na avaliação dos
No estudo da APM, realizado pelo Datafolha, os da- usuários, apesar de os planos de saúde não cobrirem
dos mostram que 42% das pessoas têm plano de saúde esses custos fora do ambiente hospitalar: 30% acham
DATAFOLHA / CFM no estado de São Paulo e, desse total, 88% usaram o acesso ruim ou péssimo e 28% disseram ser bom ou
BOM + EXCELENTE
REGULAR
os serviços oferecidos pelas operadoras nos últimos 24 excelente. O estudo ouviu mais de 2 mil pessoas em
PÉSSIMO + RUIM meses. As consultas aparecem como o procedimento diferentes regiões do Brasil.

12 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


422 MILHÕES DE DIABÉTICOS SAÚDE NA PONTA DOS DEDOS

E
É possível encontrar de tudo quando se fala em
studo da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou que o número de pessoas com diabetes
aplicativos na área de saúde. Guias de anatomia,
no mundo já chega a 422 milhões. Isso significa que o total de casos quadruplicou nas últimas simuladores de cirurgia, busca de médicos para
quatro décadas, especialmente por conta do envelhecimento da população e do aumento da obe- atendimento em domicílio e chats interativos com
pacientes são só alguns exemplos. Dá até para
sidade. O trabalho considerou as informações de 4,4 milhões de diabéticos em diferentes regiões transformar um iPhone em estetoscópio para gravar
do planeta e estimou a prevalência da doença em 200 países. Segundo a OMS, a situação merece o batimento de um coração. Não por acaso, a saúde
é a terceira categoria que mais cresce em número de
atenção especial nos países mais pobres e tornou-se uma questão central de saúde pública no
aplicativos nas lojas virtuais da Apple e do Google.
mundo. O estudo mostrou ainda que os menores índices da doença estão na Europa (Suíça, Áustria, Segundo a consultoria digital americana Float, há
Dinamarca, Bélgica e Holanda); os dados indicam também que metade da população mundial de mais de 10 mil apps médicos e de cuidados com a
saúde disponíveis para tablets e smartphones. Alguns
adultos diabéticos vivem apenas em cinco países: China, Índia, Estados Unidos, Brasil e Indonésia. números interessantes sobre o assunto:

MAIS DIÁLOGO, MENOS EXAMES


40%
dos médicos americanos acreditam que
as tecnologias de dispositivos móveis podem

U ma campanha americana para ampliar o reduzir o número de consultas

80%
diálogo sobre o excesso de exames, trata-
mentos e procedimentos desnecessários acaba de
chegar ao Brasil por meio da Sociedade Brasileira dos médicos americanos usam
de Cardiologia (SBC) e da Sociedade Brasileira de smartphones e aplicativos relacionados à área
de saúde e medicina
Medicina de Família e Comunidade (SBM-

78%
FC). Chamada de Choosing Wisely (Esco-
lhendo com Sabedoria, no Brasil), a ação
foi lançada nos Estados Unidos em 2012 dos consumidores americanos
pelo American Board of Internal Medicine se interessam por soluções de dispositivos
móveis na área de saúde
(Abim), a fim de reforçar a importância da
medicina baseada em evidências e criar
recomendações para médicos e pacientes
A DENGUE TAMBÉM
sobre os procedimentos mais adequados em
PESA NO BOLSO
DIVULGAÇÃO

determinadas especialidades. O objetivo é O número de internações por causa da dengue no


auxiliar o profissional de saúde na tomada de primeiro trimestre de 2016 aumentou tanto na rede
pública quanto na privada. No período, o total de
decisão, sem estabelecer ou impor condutas
gastos dos planos de saúde atingiu o valor mais alto

JAMES GATHANY - PHIL, CDC


e critérios, assim como trazer informações já registrado
relevantes para o paciente sobre a realização de
NA REDE PRIVADA

R$ 35 MILHÕES
exames desnecessários. Mais sobre o assunto nos
sites http://educacao.cardiol.br/choosing; www.sb-
mfc.org.br e www.choosingwisely.org de gasto total

72,6%
R$1,2 BILHÃO
de aumento nas despesas

NA REDE PÚBLICA

Foi o valor gasto pelos convênios com despesas judiciais em 2015,


R$ 8,7 MILHÕES de gasto total

o dobro do total pago no ano anterior, segundo a Abramge.


Balanço da ANS mostra que R$ 320 milhões são destinados para
o atendimento de procedimentos não cobertos em contrato.
60%
de aumento nas despesas

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 13


Mais acesso à saúde bucal
Cerca de 22 milhões de brasileiros têm acesso a planos exclusivamente
odontológicos, quase o mesmo número de pessoas que nunca foram ao dentista

M
ais de 22,5 milhões de pessoas nunca foram com expectativa de crescimento de 2,6% para 2016. Em
ao dentista no Brasil, entre elas 2,5 milhões de 2015, o aumento foi impulsionado pelos planos coletivos
adolescentes. Calcula-se que 3,8% das crianças por adesão (10,9%) e individuais/familiares (8,7%). Os
com 5 anos estejam livres de cáries, e cerca de 8 milhões coletivos empresariais, que detêm a maior fatia do mer-
de brasileiros com mais de 30 anos usem prótese. Esses cado, registraram alta de 2,3% no ano. Dados elaborados
dados refletem uma parte dos desafios para garantir o pelo Sinog com informações da ANS(1) mostram ainda
acesso da população à assistência odontológica no país, que o número de beneficiários com cobertura odontológi-
mas também mostram que há espaço para evoluir mui- ca vinculados aos planos médico-hospitalares se estabi-
to nessa direção. No setor privado, os planos exclusiva- lizou nos últimos anos, em torno de 3,7 milhões de pes-
mente odontológicos crescem a cada ano e hoje cobrem soas, mas apresentou forte queda percentual em relação
22 milhões de brasileiros, ou 11,2% da população. O nú- ao total coberto por esse tipo de assistência, que inclui
mero de beneficiários subiu 4,01% em 2015 e continua os clientes de planos exclusivamente odontológicos. Em
apresentando tendência de alta, embora decrescente, dez anos, essa participação caiu de 36% para 14,6%.

22,5
MILHÕES
12,8%
da população
8 MILHÕES
com mais de 30 anos
3,8%
das crianças
11,2%
dos brasileiros
adulta com mais de já utilizam próteses com 5 anos estão são cobertos por planos
de brasileiros
35 anos possui mais livres de cáries exclusivamente
nunca foram ao dentista
de 20 dentes odontológicos

SH
UT
TE
TOTAL DE BENEFICIÁRIOS(2)
RS
TO
CK
/D
MI
ANO NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS VARIAÇÃO
TR
YK
AL
IN
OV
SK
Y
2015 22 MILHÕES 4,0%
2014 21,1 MILHÕES 4,6%
2013 20,2 MILHÕES 6,4%
2012 19 MILHÕES 12,1%
2011 16,9 MILHÕES 16,5%
2010 14,5 MILHÕES 9,5%

USUÁRIOS POR TIPO DE PLANO


25 22
21,1 MILHÕES
20,2 MILHÕES

PLANO EXCLUSIVAMENTE ODONTOLÓGICO 19 MILHÕES


MILHÕES
20
COBERTURA ODONTOLÓGICA ASSOCIADA A PLANO MÉDICO-HOSPITALAR 16,9
MILHÕES
14,5
15
13,2 MILHÕES
MILHÕES
11
MILHÕES
9,2
MILHÕES
10 7,3
6,2 MILHÕES
MILHÕES
3,8 4 4,2 3,9 3,9 3,8 3,8
3,6 MILHÕES MILHÕES 3,7
5 3,5 3,5 MILHÕES MILHÕES MILHÕES MILHÕES MILHÕES MILHÕES MILHÕES
MILHÕES MILHÕES

0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

(1) BASE DE DADOS MARÇO/2016 (TABNET/ANS) (2) PLANOS EXCLUSIVAMENTE ODONTOLÓGICOS

14 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


A PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE, DIVULGADA PELO IBGE, MOSTROU QUE 22,5% DAS PESSOAS COM MAIS DE 18 ANOS
PRATICAM O NÍVEL RECOMENDANDO DE ATIVIDADE FÍSICA DURANTE O TEMPO LIVRE. CERCA DE 30% DEDICA TRÊS HORAS OU
MAIS DO DIA PARA ASSISTIR À TELEVISÃO E 46% FORAM CONSIDERADOS INSUFICIENTEMENTE ATIVOS. O IBGE MOSTRA AINDA QUE
40% DAS MULHERES E 34,8% DOS HOMENS CONSOMEM CINCO PORÇÕES DE FRUTAS E HORTALIÇAS POR DIA.

Desequilíbrio de preços
Reajuste de planos individuais e familiares autorizado pela ANS é maior do que a
inflação geral de 2015 e menor do que a variação de custos médico-hospitalares

A
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) (Iess). A inflação médica é historicamente acima da in-
reajustou o preço dos planos de saúde individuais flação geral, inclusive em países desenvolvidos, mas os
e familiares em até 13,57%, a partir da data de dados também mostram uma defasagem entre o preço
aniversário dos contratos. O aumento abrange 8,3 mi- médio real e o valor que acompanha o percentual do
lhões de pessoas, ou 17% do total de beneficiários no VCMH. Em 2015, o preço médio dos planos de saúde
Brasil, e vale até abril de 2017. O índice autorizado foi de R$ 231. Se fosse aplicada a mesma variação que
pela ANS é maior do que a inflação de 2015 (10,7%) e ocorreu com os custos médico-hospitalares no período,
menor do que a variação de custos médico-hospitalares esse valor subiria para R$ 295. Ao longo do tempo, ve-
(VCMH), que encerrou o ano passado acima de 19%, rifica-se que esse desequilíbrio aumenta a cada ano,
segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar como mostra o gráfico abaixo.
300
295
250
252
231
200 214 208
189 186
150
162 165
149 138 150
135 128
100 119 119 PREÇO DE EQUILÍBRIO
(CORRIGIDO CONFORME A
VARIAÇÃO DOS CUSTOS MÉDICO-
50
-HOSPITALARES)
PREÇO MÉDIO (VALOR ATUAL
0
DOS PLANOS DE SAÚDE)
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

FELIZ MUNDO VELHO PROJETO AUMENTA TAXA


A expectativa de vida cresceu cinco vezes de
2000 a 2015 e aumenta cada vez mais rápido
DE PARTO NORMAL
no mundo. Um relatório da Organização Mundial
de Saúde (OMS) mostra que os bebês nascidos em
E m apenas seis meses, o total de partos normais au-
mentou 7,4 pontos percentuais nos 42 hospitais que
fazem parte do projeto Parto Adequado, iniciativa conjun-
2015 viverão, em média, até os 71 anos de idade.
ta da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), do
Os principais fatores se relacionam aos avanços no
Institute for Healthcare Improvement (IHI) e do Hospital
combate a doenças evitáveis e curáveis, com uma
Israelita Albert Einstein. O índice passou de 19,8% em
grande contribuição da luta contra a aids e a ma-
2014 para 27,2% em setembro de 2015, o que mostra
lária no continente africano. Ainda assim, nota-se
uma redução das cesáreas para 72,8% do total de nas-
uma diferença significativa na comparação entre
cimentos nesses locais. Os dados mostram a reversão
países pobres e ricos. Uma menina que nasce no
de uma tendência que elevou o número de cesáreas de
Japão, o líder da longevidade feminina, tem expec-
75,5%, em 2006, para 85,5%, em 2015. O projeto Parto
tativa de vida de 86,8 anos. Para as mulheres que
SHUTTERSTOCK / CHRISTIAN MUELLER

Adequado tem o objetivo de diminuir o número de cesá-


nascem em Serra Leoa, a idade cai para 50,8 anos.
reas desnecessárias e incentivar médicos e gestantes a
Entre os homens, a maior expectativa de vida está
optarem pelo parto normal. A iniciativa conta com o apoio
na Suíça (81,3 anos), e a menor, também em Serra
do Ministério da Saúde e envolve também a participação
Leoa (49,3 anos). No Brasil, a expectativa média é
de 34 operadoras de planos de saúde de todo o país.
de 75 anos, quatro acima da média mundial.

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 15


A saúde suplementar no Brasil
Setor atende um terço dos brasileiros e paga tributos em valor maior
do que o SUS investe em assistência hospitalar e ambulatorial

R$ 1,4
Em março de 2016, 1.125 operadoras

R$ 117,9
de planos de saúde atendiam

70,5
BILHÃO
Equivalente em despesas assistenciais
BILHÕES
a toda a
população da
MILHÕES 35% em despesas assistenciais médico- exclusivamente odontológicas
França de beneficiários, equivalentes -hospitalares em 2015, R$ 2.363 em 2015, R$ 65 em média
a 35% da população brasileira em média para cada beneficiário para cada beneficiário

MODALIDADES DOS PLANOS


COLETIVO EMPRESARIAL ODONTOLÓGICO
INDIVIDUAL OU FAMILIAR
OUTROS
21,7 MILHÕES

COLETIVO POR ADESÃO MÉDICO-HOSPITALAR


19% 48,8 MILHÕES

1% 31%

FONTE: ANS – MAR/16


11%
69% 69%

PROCEDIMENTOS REALIZADOS (2013)

261,7 MILHÕES

668,5 MILHÕES
LEGISLAÇÃO E REGULAÇÃO
SÃO RECENTES
51,1 MILHÕES
Lei 9.656/1998 regulou a
saúde suplementar no país

Lei 9.961/2000 criou a 8,02 MILHÕES


da Agência Nacional de Saúde
Suplementar, ANS, responsável por
fomentar, regular e fiscalizar o setor
11,7 MILHÕES
FONTE: ANS

Reajustes de planos individuais/


familiares são definidos pela ANS CONSULTAS MÉDICAS EXAMES COMPLEMENTARES TERAPIAS INTERNAÇÕES CONSULTAS ODONTOLÓGICAS

16 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


PERCENTUAL DO FATURAMENTO GASTO EM TRIBUTOS (2013)
50

CONTRIBUIÇÃO
EM TRIBUTOS 40

R$ 36,4
em tributos foram pagos pelos
BILHÕES
30
26,7%
21,9 %
Tributação dos planos de
saúde é mais alta que em
outros segmentos básicos
planos de saúde em 2015
(ESTIMATIVA DA ABRAMGE)
20
16,6%
SANEAMENTO - 16,6
10
Este valor é um pouco maior que SAÚDE SUPLEMENTAR – 26,7
o custo estimado das Olimpíadas EDUCAÇÃO - 21,9
2016 no Rio de Janeiro
0 FONTE: IBPT

CARGA TRIBUTÁRIA EM CRESCIMENTO (R$ BILHÕES)


TRIBUTOS DOS PLANOS DE SAÚDE DESPESAS SUS (AMBULATORIAIS E HOSPITALARES)
27,9
2013
28,9
2014
32,4
30,8

2015 36,4
31,4
0 5 10
5 15 20 25 30 35 40
FONTE: ABRAMGE, COM DADOS DA ANS

Mapa da cadeia de valor


AMBIENTE REGULATÓRIO

CONSELHOS /
ANS JUDICIÁRIO CADE ANVISA MIN. DA SAÚDE
ASSOCIAÇÕES

PRESTAÇÃO DE
SERVIÇO DE SAÚDE
FORNECEDORES
DE MATERIAIS / HOSPITAIS
EQUIPAMENTOS
HOSPITALARES

LABORATÓRIOS OPERADORAS BENEFICIÁRIOS


DISTRIBUIDORES E MEDICINA DE PLANOS
DIAGNÓSTICA DE SAÚDE ENTIDADES
COLETIVAS
MEDICAMENTOS
FONTE: INSPER
MÉDICOS

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 17


MATÉRIA DE CAPA

Remédio
ANTICRISE
Para acelerar a recuperação do crescimento, empresas
de saúde suplementar apostam em aumento
da produtividade e inovação, além de demandar
ajustes no marco regulatório
POR MAURÍCIO OLIVEIRA

O
número impressiona: os planos médico-hospitalares no
Brasil perderam quase 1,6 milhão de beneficiários en-
tre janeiro de 2015 e março de 2016 – o total de segu-
rados caiu, nesse período, de 50,4 milhões para 48,8
milhões. A explicação mais óbvia para esse fenômeno está relaciona-
da ao aumento do desemprego. Segundo o Ministério do Trabalho e
Previdência Social (MTPS), nesse mesmo período, foram fechados
1,8 milhão de postos de trabalho formais.

Diante da evidente relação causa-efeito A retração registrada nos últimos me-


entre as demissões e a saída de beneficiá- ses é uma experiência inédita para a saúde
rios dos planos de saúde, a recuperação suplementar no país. Mesmo na crise eco-
do setor está diretamente condicionada à nômica de 2009, ano em que a economia
retomada do crescimento e da capacidade brasileira recuou 0,1%, o número de bene-
de produção e de contratação por parte ficiários cresceu 2,6%. Diante da impossi-
das empresas. Os planos coletivos de assis- bilidade de prever a duração da atual crise
tência médica, oferecidos como principal e os efeitos que ainda poderá provocar, as
benefício aos trabalhadores, foram os gran- operadoras de saúde suplementar passaram
des responsáveis pela ampliação da base da a colocar em prática estratégias para lidar
saúde suplementar registrada nos últimos com a conjuntura.
15 anos, período em que a modalidade sal- O lado potencialmente bom desse pro-
tou de uma participação de 68% para 80% cesso é que o setor poderá sair do período
do total de beneficiários. de crise fortalecido por práticas que propor-

18 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


SHUTTERSTOCK / POGONICI

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 19


MATÉRIA DE CAPA

A Amil iniciou 2016 apostando


DIVULGAÇÃO

cionam mais eficiência e controle. “Muitas dessas medi-


das precisavam ser tomadas de qualquer forma. Mas os
problemas estruturais estavam sendo acobertados pelos
nos planos para pequenas e
números favoráveis que o setor vinha apresentando nos médias empresas e obteve
últimos anos”, diz o professor Paulo Furquim de Azeve-
do, coordenador do Núcleo de Regulação e Concorrên-
um aumento de 136% nesse
cia do Insper. segmento, no primeiro trimestre
Para Paulo Furquim,
Furquim aponta como principal origem desses pro-
do Insper, os números blemas estruturais, não diretamente relacionados à crise
favoráveis do setor econômica, o modo de organização da cadeia produti- tos empresariais firmados no período foi essencial para
acobertaram os
problemas estruturais va, demasiadamente propício a desperdícios, na visão do reduzir os custos da operadora e equilibrar as contas.
nos últimos anos especialista. “O custo decorrente disso vinha sendo in- A Amil aposta no desenvolvimento de produtos que
corporado, mas a situação econômica força a tomada de aliam qualidade assistencial ao uso racional de recursos.
FERNANDO MEND

providências e exige a reorganização da cadeia”, avalia. Um exemplo é o Amil Life, lançado no ano passado. A
proposta é resgatar o vínculo entre médico e paciente,
EM BUSCA DA EFICIÊNCIA com foco em atenção primária e nos cuidados integra-
Cada empresa do setor encontra suas próprias estra- dos. Nesse sistema, o beneficiário é atendido por uma
tégias para lidar com a crise. Depois de registrar um de- equipe composta por médico, enfermeiro e agentes de
créscimo de 1,6% na carteira de clientes no ano passado, saúde, que podem ser acessados tanto no celular como
a Amil iniciou 2016 apostando nos planos de saúde para diretamente nos espaços de atendimento exclusivo, os
Jorge Kropf, da
pequenas e médias empresas – e obteve um aumento Clubes Vida e Saúde.
Amil: comitês de 136% nas vendas desse segmento no primeiro tri- A primeira unidade do Amil Life, instalada em Su-
multidisciplinares para mestre de 2016, em comparação ao mesmo período do maré (SP), registrou 87% de adesão entre os associados
fortalecer a gestão e
customizar os programas ano anterior. A maior ênfase dada à coparticipação e às locais no período entre novembro de 2015, quando foi
a serem oferecidos soluções customizadas nos mais de 19 mil novos contra- inaugurada, a março de 2016. Em junho, a iniciativa

NADANDO CONTRA A CORRENTE


N a contramão dos planos médico-hospitalares, os planos exclusivamente odon-
tológicos tiveram um acréscimo de 2,7% no número de beneficiários entre ja-
neiro de 2015 a março de 2016, conquistando cerca de 572 mil novos clientes. O
crescimento dessa carteira vem ganhando força à medida que a população começa
a enxergar o benefício de se prevenir o aparecimento ou agravamento de problemas
com os dentes e gengivas. Além disso, o custo acessível dos planos odontológi-
cos favorece a entrada de pessoas que precisam dos procedimentos mais usuais
na odontologia, seja nos planos individuais e familiares, seja nos planos coletivos
empresariais e por adesão. Estes últimos, ganharam força ao longo dos anos com a
inclusão do benefício odontológico nas pautas de reivindicações dos trabalhadores
em suas convenções coletivas.
Embora o crescimento pareça contínuo para os planos odontológicos, o primeiro
trimestre de 2016 acendeu a luz amarela para o segmento. Houve redução de 275
mil pessoas nessa carteira. E tal redução, claro, é consequência direta do fecha-
mento dos postos de trabalho, igualmente como se tem observado em quase todos os
setores da economia. Ainda assim, a previsão para 2016 é de que o resultado para o
segmento odontológico seja positivo.
SXC

20 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


MENOR ACESSO À SAÚDE
Tendência de queda no número de beneficiários registrada em 2015 permanece forte em 2016

PERÍODO JAN/14 A DEZ/14 JAN/15 A DEZ/15 JAN/16 A MAR/16

NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS AO FINAL 50.394,741 49.441,541 48.824,150


DO PERÍODO

VARIAÇÃO NOMINAL EM RELAÇÃO AO 1.047,814 - 953,200 - 617,391


PERÍODO ANTERIOR

VARIAÇÃO EM % EM RELAÇÃO AO 2,1% - 1,9% - 1,2%


PERÍODO ANTERIOR

VARIAÇÃO DAS VAGAS DE EMPREGO 418,384 - 1.518,674 - 323,052


NO PERÍODO (CAGED/MTPS)
OBS: NÃO INCLUEM PLANOS EXCLUSIVAMENTE ODONTOLÓGICOS.

chegará a São Paulo e ao Rio de Janeiro. Junta-se, as- do país. O faturamento subiu 26% em relação a 2014,

FALCÃO JÚNIOR
sim, a mais de 20 programas de medicina preventiva chegando a R$ 2,5 bilhões. E o número de associados
que a Amil já desenvolve, em temas como combate ao subiu 10% nos planos médicos e 20% nos planos exclu-
tabagismo, obesidade infantil, suporte a gestantes e cor- sivamente odontológicos – chegando, respectivamente,
reção postural. a 2,2 milhões e 1,1 milhão de beneficiários em cada
“Procuramos ter uma atuação diferenciada em ges- uma dessas modalidades.
tão de saúde”, diz o diretor institucional da Amil, Anto- “Os momentos de crise reforçam o processo de sele-
nio Jorge Kropf, citando como exemplo os comitês de ção natural do mercado, em que os mais adaptáveis so-
saúde multidisciplinares instalados nas empresas-clien- brevivem melhor”, diz o diretor de assuntos estratégicos Gustavo Barros, da
Hapvida, ressalta a rede
tes. “Esses comitês estão voltados ao levantamento de do Hapvida, Gustavo Barros. O grande trunfo do grupo, própria de atendimento,
estatísticas de eventos médicos, estudos epidemiológicos para Barros, é ter uma ampla rede própria – 96% das in- responsável por 96%
das internações da
e prevalência de doenças, que servem de base para a cus- ternações são feitas nos 20 hospitais próprios. Ao mesmo
operadora
tomização dos programas a serem oferecidos”, explica. tempo, 16 unidades de pronto atendimento contribuem
Há operadoras que conseguiram contrariar a ten- fortemente para filtrar os casos menos complexos e evi-
dência e cresceram em 2015. É o caso do Grupo Hap- tar que cheguem aos hospitais sem necessidade.
vida, sediado em Fortaleza (CE), com 17 mil funcio- Continuar ampliando e aprimorando a infraestrutu-
nários e atuação em 13 estados do Nordeste e Norte ra, mesmo em meio à crise econômica, é uma decisão

VARIAÇÃO NO NÚMERO DE BENEFICIÁRIOS, POR REGIÃO (MARÇO/2015-MARÇO/2016)


Ao contrário da tendência de queda observada nas outras regiões, o Nordeste e o Centro-Oeste apresentaram
crescimento no número de usuários
1.0
+1,0
+0,1
FONTE: INSTITUTO DE ESTUDOS DA SAÚDE SUPLEMENTAR (IESS)

0.5

0.0

-0.5

-1.0

-1.5 -1.6
-2.0

-2.5 -2.7
-3.0

-3.5
-3.8 -3.9
-4.0
CENTRO-OESTE NORDESTE SUL SUDESTE NORTE BRASIL

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 21


MATÉRIA DE CAPA

da qual o Hapvida não abre mão – há R$ 170 milhões inflação médica tende a continuar evoluindo em ritmo
previstos para investimentos neste ano, crescimento de mais acelerado que o da inflação da economia como
15% em relação ao orçado em 2015. Outra priorida- um todo (ver mais detalhes na reportagem sobre custos,
de é o aperfeiçoamento constante dos mecanismos de na página 24). O mantra para alcançar o objetivo sem
controle de desperdícios e de fraudes, característica que sacrificar a qualidade e a resolubilidade dos atendimen-
vem de muito tempo – o grupo foi pioneiro, há 20 anos, tos todos conhecem, mas nem sempre conseguem pra-
na implantação de um sistema de identificação biomé- ticar: uso racional.
trica por impressão digital. “Essas medidas contribuem Ninguém discorda que o caminho para tornar o sis-
para uma vigilância rigorosa sobre os custos”, diz Barros. tema mais eficiente é ampliar a sinergia entre os elos da
cadeia da saúde suplementar. Afinal, todas as partes – os
PROPOSTAS PARA O SETOR consumidores, as empresas clientes dos planos coletivos,
O momento econômico delicado agravou a preocu- as operadoras e os prestadores de serviços médicos – de-
pação com os custos crescentes dos planos de saúde – sejam o mesmo: qualidade no atendimento com custos
de acordo com projeção da consultoria Towers Watson –, equilibrados. Apesar da unanimidade, colocar em prá-
esses custos saltarão em 20 anos de 11,4% para 25,7% da tica medidas que consigam efetivamente avançar nessa
folha de pagamento das empresas brasileiras, em média. direção tem se mostrado um desafio complexo.
A única forma de evitar um salto nessas proporções é A reavaliação do modelo de cobrança e remunera-
promover medidas estruturais para conter a progressão ção é uma demanda que vem aparecendo com frequên-
dos custos assistenciais. cia nas discussões do setor. No Simpósio Internacional
Esse é o maior desafio das operadoras para os próxi- de Planos Odontológicos, o Sinplo, evento promovido
mos anos – ainda mais diante de um cenário em que a pelo Sinog no final de abril, o presidente da Agência
Envelhecimento da
população exige busca Nacional de Saúde Suplementar, José Carlos de Souza
maior pela eficiência Abrahão, admitiu de forma objetiva a necessidade de
uma reavaliação nesse sentido. “A capacidade do bene-
ficiário de pagar os planos está se esgotando. As opera-
doras, os hospitais, os laboratórios e os médicos estão
insatisfeitos. Se quisermos continuar a ter saúde suple-
mentar, está na hora de sentarmos e mudar o modelo de
cobrança e remuneração”, declarou.
Para Furquim, do Insper, o calcanhar de aquiles do
sistema é o desalinhamento entre quem decide e quem
arca com os custos das decisões. Um exemplo está no
cotidiano do atendimento médico. Ao prescrever um
remédio ou encaminhar o paciente para um exame, o
médico está mais preocupado com os interesses das pes-
soas diretamente envolvidas – o paciente e ele próprio –,
e não com a necessidade coletiva de ter um sistema efi-
ciente e financeiramente equilibrado.
Uma das alternativas é a substituição do princípio
da conta aberta – mais vulnerável a descuidos, desper-
dícios e fraudes – pela definição prévia de valores para
a remuneração de determinados procedimentos, a partir
do cruzamento de informações que torna essa previsão
relativamente segura. Assim, a necessidade de eficiência
seria mais bem incorporada a todas as etapas do pro-
cesso. Seria um princípio com efeito semelhante ao da
SXC

coparticipação para os usuários, que ajudou a tornar o

22 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


uso mais racional porque associou a conscientização a Definir indicadores de
consequências financeiras até então inexistentes.
Outra proposta que vem sendo discutida é a criação
qualidade, como a taxa
de mecanismos de remuneração diferenciada para mé- de retorno dos pacientes,
dicos que apresentem bons indicadores de qualidade, a
partir do cruzamento de dados como a instituição de
infecção hospitalar e índice
formação, os cursos de especialização, a experiência de satisfação dos clientes,
acumulada, a taxa de retorno dos pacientes e o índice
de satisfação dos clientes. “Um sistema de remuneração
é uma das prioridades da
que leve esses elementos em conta, premiando a exce- saúde suplementar
lência, é uma forma de incentivar o bom profissional
a fazer carreira dentro do sistema, e não de expulsá-lo
à medida que ele ganha experiência e reconhecimento exigir um esforço constante em busca de um nível de

DIVULGAÇÃO
para ter apenas pacientes particulares, como vem acon- eficiência cada vez maior na gestão. Entre essas tendên-
tecendo”, diz Furquim, defensor da ideia. cias, estão o encarecimento provocado pela necessidade
Um modelo novo de remuneração que tem sido de investimentos em novas tecnologias e o envelheci-
avaliado pela Associação Brasileira de Planos de Saúde mento da população brasileira. O país verá a população
(Abramge) é o DRG (Diagnosis Related Group ou Gru- com mais de 45 anos de idade passar da taxa de 20% do
po de Diagnósticos Relacionados). Nos EUA esse mode- total, em 2000, para 45% em 2050 – e o custo médio do
lo foi implantado ainda na década de 1980 e atualmente atendimento de saúde cresce bastante em beneficiários
Paulo Chapchap,
é possível selecionar um hospital por critérios objetivos, a partir dessa idade.
do Sírio-Libanês:
como a taxa de infecção hospitalar. Outro problema apontado pelo presidente do Eins- desvalorização do real
Os benefícios da implantação desse programa con- tein é o modelo hospitalocêntrico de seguridade ado- pressiona os custos
com materiais e
templam desde a melhoria de gestão da operadora até tado no Brasil – muitos casos que poderiam ser resolvi- equipamentos
a qualidade assistencial, de acordo com aferição do dos em ambulatórios acabam chegando aos ambientes
nível de atendimento entre diferentes prestadores de de alta complexidade, o que contribui para encarecer
serviços, conforme desempenho. Para Pedro Ramos, os serviços prestados. Os custos com internação vêm
diretor da Abramge, definir um conjunto de indicado- crescendo proporcionalmente ano a ano e hoje já res-
res para o mercado é uma das prioridades da saúde pondem por metade dos custos totais das operadoras
suplementar. “A melhor qualidade assistencial a pre- de planos de saúde. Os principais gastos relacionados
ços mais competitivos é um dos maiores benefícios que às internações são materiais (23%), honorários médicos
um plano de saúde pode oferecer para seus clientes”, (17%) e medicamentos (16%).
conclui Ramos. Um importante elemento adicional relacionado à

RAMEDE FÉLIX
crise, para os hospitais, é que a desvalorização do real
HOSPITAIS TAMBÉM SE ADAPTAM pressiona os custos com materiais e equipamentos. “Vá-
“A situação econômica vai melhorar, mais cedo ou rios dos nossos insumos têm preço atrelado ao dólar”,
mais tarde, mas a crise da saúde é permanente”, diz lembra o CEO do Sírio-Libanês, Paulo Chapchap. A
Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita instituição tem 75% da receita proveniente do atendi-
Albert Einstein, de São Paulo, referência nacional em mento a segurados dos planos de saúde e 25% de pa-
qualidade de atendimento. Lottenberg usa uma metáfo- cientes privados, que pagam diretamente pelos serviços.
ra médica para definir melhor o quadro que vê à frente: Para enfrentar a crise sem perda de receita nem de qua- Claudio Lottenberg, do
hospital Albert Einstein:
há uma dor aguda provocada pela crise conjuntural do lidade no atendimento, o Sírio-Libanês tem feito nego- “A situação econômica
momento, que tende a passar completamente quando as ciações cada vez mais difíceis pela redução dos preços vai melhorar, mas
a crise da saúde é
causas forem adequadamente tratadas, e também uma praticados pelos fornecedores. Além disso, intensificou
permanente”
dor crônica, permanente, com a qual é preciso aprender iniciativas relacionadas à busca de eficiência, incluindo
a conviver, tentando diminuir ao máximo seus efeitos. a revisão completa dos processos e remanejamentos de
As causas da dor crônica são tendências que vão 6.100 funcionários.

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 23


INFLAÇÃO MÉDICA

Por que os custos da


saúde SOBEM TANTO?
Pressionada pelo avanço da tecnologia e pelo envelhecimento
da população, a variação das despesas assistenciais tende
a superar a inflação geral no Brasil e no mundo

O
avanço da medicina e o envelhecimento da população influenciaram
uma transição epidemiológica importante nas últimas décadas. Vive-se
mais hoje em dia, a qualidade do serviço de saúde melhorou e a tecno-
logia trouxe novas perspectivas para o tratamento de diversas doenças.
Em boa parte do mundo, inclusive nos países desenvolvidos, esses fatores também
elevaram os custos com a assistência à saúde acima da inflação geral, provocando, em
muitos casos, um desequilíbrio financeiro difícil de ser superado. Nesse aspecto, o Bra-
sil não foge à regra. A conta fica cada vez mais amarga para beneficiários, operadoras e
outros prestadores de serviços ligados à saúde. Mas, aqui, há um agravante em relação
a outros países: o desperdício ainda é um dos maiores entraves à eficiência do setor.

Segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplemen- de 9%, seguidos por Reino Unido (7,8%) e França (6%).
tar (Iess), o custo médico-hospitalar, ou seja, as despesas Historicamente, as despesas assistenciais apresentam
com internações, consultas, exames, medicamentos e aumentos superiores ao crescimento do PIB e também
outros tipos de procedimentos, cresceu 19% em 2015, estão associadas ao maior poder aquisitivo da população,
confirmando uma tendência cada vez mais forte nesses que passa a ter mais acesso à saúde e, assim, gera um
tempos de crise. O índice é quase duas vezes superior à importante aumento de demanda. No sentido inverso, a
inflação geral registrada no ano passado, e corrobora a tendência é de que a inflação médica registre queda em
conclusão de estudos que apontam o Brasil como uma tempos de crise econômica, como aconteceu na França
das nações que apresentam a maior inflação médica en- e no Reino Unido depois da turbulência de 2008. Na
tre os grupos analisados. ocasião, a desaceleração da taxa de crescimento dos gas-
Um relatório da consultoria Aon Hewitt mostra que, tos com a saúde acompanhou a retração da economia.
nesse quesito, estamos muito atrás de outros países lati- No Brasil, no entanto, não é o que vem acontecendo.
no-americanos. De acordo com o documento, a inflação
médica bruta no Brasil encerrou 2015 em 18%, acima QUESTÕES ESTRUTURAIS
do índice do México (9,3%) e do Chile (6%). Nos países A explicação para o crescente aumento dos gastos
desenvolvidos, os Estados Unidos aparecem com taxa médico-hospitalares no país não se resume apenas aos

24 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


SHUTTERSTOCK / GRAPHICWORLD
números e indicadores da macroeconomia. Alguns INFLAÇÃO MÉDICA BRUTA LÍQUIDA* *Descontada a inflação da economia
estudos internacionais indicam que os avanços tec-
12,6 18,1
nológicos respondem por mais de 50% do aumento Brasil
das despesas assistenciais, uma vez que exigem altos
investimentos e não promovem necessariamente mu- 7,4 9,0
Estados Unidos

FONTE: AON HEWITT / 2015 GLOBAL MEDICAL TREND RATE SURVEY REPORT
danças que também se traduzam em retorno financei-
ro. De qualquer forma, são investimentos necessários, 4,8 6,0
que trazem outros benefícios não só para os pacientes, França
mas também aos médicos, hospitais e às próprias ope-
5,9 7,8
radoras de saúde. “De modo geral, há muita inovação Reino Unido
na área da saúde, e a tecnologia pode melhorar subs-
tancialmente a qualidade do atendimento”, diz Paulo 3,1 6,0
Chile
Furquim, professor do Insper. “A questão é que ela [a
tecnologia] não tem foco na redução dos custos de 5,8 9,3
saúde. Isso pode abrir um leque enorme de problemas México
ligados ao desperdício”, conclui. 0 5 10 15 20 25 30 35

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 25


INFLAÇÃO MÉDICA

Modelos de remuneração
que são referência no mundo
premiam a eficiência do hospital
e a qualidade do atendimento

saúde suplementar. O resultado é conhecido por quem


circula nos corredores e consultórios dos hospitais.
Calcula-se que a ineficiência do setor consuma quase
um terço dos custos com serviços médico-hospitalares.
SHUTTERSTOCK / USSR

Segundo a American Board of Internal Medicine, 30%


dos gastos são destinados a procedimentos desneces-
sários, como exames, consultas e internações que não
precisariam ser realizados. Estima-se ainda que 20% das
Desperdício é mesmo um ponto central para reduzir cirurgias também poderiam ser evitadas e que 30% das
os gastos com serviços médico-hospitalares. A ineficiên- consultas marcadas não acontecem porque o paciente
cia produz impactos no setor como um todo e também não comparece no dia e hora agendados.
decorre de questões estruturais, principalmente as asso- Esses números tornam-se ainda mais relevantes
ciadas ao modelo de remuneração vigente no Brasil – quando se olha para a composição das despesas assis-
conhecido como fee for service, em que os pagamen- tenciais. As internações consomem mais de 40% do
tos a médicos e hospitais se baseiam na quantidade de total de recursos destinados ao atendimento à saúde da
procedimentos realizados. “Nesse modelo, não existem população, seguidas pelos exames (20%) e consultas
incentivos para os prestadores de serviço buscarem uma (18%). Ou seja, juntos, esses três procedimentos so-
gestão mais adequada dos recursos utilizados”, comenta mam quase 80% dos custos médico-hospitalares – uma
Eliane Kihara, líder da área de saúde da PwC. cifra que totalizou R$ 119 bilhões em 2015, segundo a
Na prática, isso significa que há pouca atenção aos Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Den-
custos e benefícios do atendimento, uma vez que a de- tre as despesas com internações, a compra de materiais
cisão do gasto com procedimentos desnecessários não médicos recebe a maior parte dos recursos (22%), se-
considera suas consequências ao longo da cadeia da guida pelos honorários médicos (19%) e pela aquisição
de medicamentos (13%).
Os dados do Instituto de Estudos de Saúde Suple-
mentar (Iess) também mostram que as internações con-
DE OLHO NO CUSTÔMETRO tinuam respondendo pela maior parte do crescimento

A Abramge lançou em março de 2016 uma iniciativa para acompanhar o total


investido em assistência à saúde pelas operadoras de planos médico-hospi-
talares. Chamada de Custômetro, a ferramenta tem o objetivo de dar transparência
de 19% do VCMH (Variação dos Custos Médico-Hos-
pitalares), índice calculado pelo instituto que resulta
de uma combinação de fatores e preços dos serviços
aos custos da saúde suplementar no Brasil, contabilizando os recursos destinados oferecidos pelas operadoras de saúde. Segundo o Iess,
para a prestação de serviços de consulta, exames, terapias, internações e outros o aumento do VCMH entre 2014 e 2015 foi de quatro
atendimentos ambulatoriais. O valor indicado pelo Custômetro é calculado a partir de pontos percentuais.
dados históricos da ANS, e resulta da multiplicação de duas variáveis estimadas: a
despesa de saúde média por beneficiário e o número médio de beneficiários, ambos GANHOS DE EFICIÊNCIA
para o ano corrente. A ferramenta pode ser acompanhada no site da Abramge e Para reverter esse cenário, as alternativas vão da otimi-
consolida informações divulgadas pela ANS todo trimestre, pois visa ajustar e tornar zação e padronização de processos a mudanças estruturais,
mais preciso o valor informado. que gerem ganhos de eficiência e garantam a qualidade
do atendimento. “Os países que passaram por mudanças

26 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


CUSTOS EM SAÚDE
Divisão das despesas assistenciais por tipo de procedimento (Valores em reais)

TERAPIAS
R$ 119,3 BILHÕES
de despesas assistenciais em 2015
(1)

5,3
DEMAIS DESPESAS
MÉDICO-HOSPITALARES BILHÕES RESSARCIMENTO AO SUS

8,9 BILHÕES 640 MILHÕES


TERAPIAS (3)

OUTROS ATENDIMENTOS 0,5% 3,3 BILHÕES


EXAMES

2,5
18,2%
AMBULATORIAIS INTERNAÇÕES BILHÕES

9 BILHÕES 49 BILHÕES MEDICAMENTOS (2)


PROCEDIMENTOS
COM PREÇO FIXO
6,2 7% 5% 0,3% 164
7,5%
BILHÕES
MILHÕES

13%
7,5% OUTRAS DESPESAS

16,7 BILHÕES

41% 19% 34%


18,2%
HONORÁRIOS
MÉDICOS

9,2 BILHÕES
22%
CONSULTAS 20,7% MATERIAIS MÉDICOS

21,8 BILHÕES
10,8 BILHÕES

(1) DADOS ESTIMADOS PELA ABRAMGE COM BASE EM INFORMAÇÕES DA ANS


(2) OS MEDICAMENTOS COBERTOS PELA SAÚDE SUPLEMENTAR SÃO DE USO HOSPITALAR
EXAMES (3) A MAIORIA DAS TERAPIAS SÃO TRATAMENTOS ONCOLÓGICOS E INCLUI A UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO

24,7 BILHÕES

no modelo de remuneração conseguiram reduzir os cus- e com base em critérios que considerem o custo-benefício
ÉDI PEREIRA/HÓRUS PHOTOGRAPH 2009

tos assistenciais na saúde”, lembra Eliane Kihara, da PwC. de sua decisão. Nos sistemas de coparticipação, por exem-
Ela cita o exemplo da África do Sul, que vivia uma reali- plo, o usuário do plano de saúde pode ter de desembolsar
dade muito parecida com a do Brasil e conseguiu reverter uma parte da despesa com determinados procedimentos.
a alta das despesas com a adoção do DRG (sigla em inglês “Hoje, o complexo sistema de contratações na cadeia da
para Grupo de Diagnósticos Relacionados). saúde suplementar distorce decisões fundamentais. Para
Bastante conhecido no mundo e adotado em muitos o seu bom funcionamento, é importante que o ônus e o
países desenvolvidos da Europa, esse modelo estabelece bônus da decisão por determinado procedimento sejam
a precificação dos procedimentos de acordo com o per- Eliane Kihara, da dos agentes que realmente são responsáveis por essa deci-
PwC: “os países
fil e os riscos do beneficiário. Os desembolsos ocorrem que passaram por
são”, comenta Paulo Furquim, do Insper.
por evento e não há valor adicional para consultas de mudanças no modelo Em comum, os modelos que hoje servem de referên-
retorno, por exemplo, de modo que o sistema premie de remuneração cia para o Brasil preconizam mais garantias na qualidade
conseguiram
não só a eficiência do hospital, mas também a qualidade reduzir os custos do atendimento, como a criação de indicadores que es-
do atendimento. “Em três anos, o DRG permitiu que a assistenciais na tejam disponíveis ao público em geral e aos prestadores
saúde”
África do Sul economizasse 30% nas despesas assisten- de serviços. “Na Europa, como não há pagamento por
ciais de saúde”, diz a especialista da PwC. retorno, o médico é incentivado a resolver o problema
Há outros modelos similares e algumas possibilidades do paciente”, diz Furquim. “Aqui, não. O sistema paga a
de combinar soluções que incentivem não só médicos e mesma coisa para todos os médicos, porque se olha ape-
hospitais a reduzir o número de procedimentos, mas tam- nas para a quantidade de procedimentos. Ou seja, além de
bém estimulem os beneficiários a procurar os serviços de não haver incentivos para esses profissionais, eles também
saúde de forma assertiva, apenas em caso de necessidade, não são reconhecidos pela qualidade de seu trabalho.”

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 27


SAÚDE NO MUNDO

O National Health
Service, do Reino
Unido, é referência
mundial em atenção
básica de saúde

28 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


À procura do
MODELO PERFEITO
As diferentes experiências nos sistemas de saúde de Canadá,
EUA e Reino Unido mostram que sempre há vantagens e
perdas de acordo com as escolhas da sociedade

C
ena 1. Denver, EUA. Um senhor de meia-idade mostra para a câmera o
dedo médio amputado e conta sua história. Um acidente com uma serra
elétrica havia amputado dois de seus dedos, o anelar e o médio. Mas ele só
tivera dinheiro para pagar a reconstituição do anelar, por 12 mil dólares. O
outro teria custado 60 mil dólares. Ele não tinha essa quantia nem plano de saúde.

Cena 2. Windsor, Canadá. Uma moça de vinte e sistema público de saúde, chamado National Health
poucos anos, residente em Detroit, nos EUA, atravessa Service (NHS), foi implantado em 1948, como uma das
a fronteira canadense e forja um relacionamento com primeiras medidas de reconstrução dos países após a Se-
um nativo para ser atendida no sistema público daquele gunda Guerra Mundial.
país. De graça. O NHS é reconhecido mundialmente como uma
Cena 3. Londres, Inglaterra. No caixa do hospital, referência na assistência de saúde básica – e gratuita – a
um paciente com alta médica recebe algumas dezenas todos os cidadãos residentes, seja rico, pobre, nascido no
de libras, originadas dos cofres públicos, para pagar por Reino Unido ou estrangeiro.
um transporte confortável até sua residência. Ele não Custeado principalmente por impostos, com uma
havia pagado nada por seu tratamento. E ainda recebia pequena participação de recursos da seguridade social,
uma ajudinha do governo. o sistema é atualmente um dos principais objetos de
Embora um tanto simplificadoras, essas três cenas debate político, pois sofre com o aumento de custos e
do documentário SiCKO, de Michael Moore, indicado da população atendida. Segundo dados do Banco Mun-
ao Oscar em 2007, retratam a diferença entre os siste- dial, em 2014, 83,1% do total dos gastos com saúde no
mas de saúde de EUA, Canadá e Reino Unido. Três paí- Reino Unido saíram dos cofres públicos – em compara-
ses ricos e anglo-saxões, mas que adotaram modelos dis- ção, esse índice nos EUA era de 48,3%, apenas.
GETTY IMAGES / CHRISTOPHER FURLONG

tintos para oferecer assistência médica a sua população. A necessidade de recuperação do NHS, inclusive,
foi uma das principais bandeiras dos grupos a favor da
BOM, MAS NÃO PERFEITO saída do Reino Unido da União Europeia, aprovada
No Reino Unido, a divisão política formada por In- em referendo realizado em junho deste ano. Segundo
glaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, o essa corrente, o atendimento de cidadãos estrangeiros

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 29


SAÚDE NO MUNDO

Apesar de terem nível de desenvolvimento semelhante e de dividirem extensa


fronteira, Canadá e EUA têm políticas de saúde que diferem desde o princípio
residentes no país é um dos motivos da perda de qua- ao máximo a cesárea, pois há uma orientação governa-
lidade do sistema, o que prejudicaria os “verdadeiros mental para que o procedimento seja realizado apenas
britânicos”. em casos de complicações na gestação ou no parto.
A brasileira Tatiana (que pediu para não ter o so- Seja nos atendimentos de rotina, seja nas emergên-
brenome divulgado devido aos protestos contra os imi- cias, Tatiana sempre teve acesso a quase tudo de forma
grantes no Reino Unido), residente legal na área me- gratuita. O único gasto custeado diretamente pelo cida-
tropolitana de Londres, capital inglesa, está inscrita no dão do Reino Unido é uma taxa fixa por medicamento
National Health Service desde 2003. usado, em torno de 8 libras (cerca de 35 reais), indepen-
Assim como qualquer cidadão, ela, seu marido e dentemente do valor do remédio.
seus dois filhos têm o acompanhamento gratuito de um Apesar de ter uma experiência geral positiva com
clínico geral no centro de saúde de sua comunidade. o sistema de saúde britânico, nem tudo são flores, se-
Esse médico funciona como porta de entrada para qual- gundo ela. “O NHS privilegia a medicina reativa, o que
quer atendimento que não seja de emergência. faz com que muitas doenças não sejam detectadas no
Nos casos de consultas de rotina, Tatiana afirma seu início”, diz a brasileira. Exemplo concreto disso é
que sempre consegue realizá-las em poucos dias após o exame ginecológico papanicolau, feito para detectar
o agendamento. Seus filhos, quando tiveram viroses, fo- doenças como câncer de colo de útero e HPV, que só é
Hospitais privados
ram atendidos no mesmo dia. oferecido uma vez a cada três anos.
recebem do governo A brasileira teve seus dois partos normais custeados Tatiana também afirma ser uma privilegiada por
pelos serviços pelo estado. Ela afirma que os médicos do NHS evitam conseguir acesso tão fácil ao clínico geral, pois conhece
prestados à população
canadense muitas pessoas que demoraram duas semanas ou mais
para serem recebidas. Nas emergências de hospitais, ela
disse já ter esperado duas horas para o atendimento de
um de seus filhos. A visita a especialistas também pode
demorar, segundo ela, três meses para ser agendada.
“Eu tenho seguro particular oferecido pela minha
empresa, o que me dá acesso imediato a um especia-
lista”, afirma. “Mas antes disso, de qualquer forma, sou
obrigada a passar pelo clínico geral.”

UMA FRONTEIRA, DOIS SISTEMAS OPOSTOS


Separados por 8.891 quilômetros de fronteira, Ca-
nadá e Estados Unidos têm nível de desenvolvimento
semelhantes, mas políticas de saúde que diferem desde
o princípio.
No Canadá, o estado financia praticamente toda a
assistência médica, no que é conhecido pelos america-
nos como “medicina socializada”. Apenas os segmentos
oftalmológico e odontológico, além de medicamentos,
são pagos pelas pessoas aos profissionais que prestam o
SHUTTERSTOCK / MEUNIERD

serviço ou por meio da contratação de seguros privados.


Nos demais casos, incluindo clínicos gerais, médi-
cos especializados, emergências e tratamentos com alta
tecnologia, o cidadão canadense não coloca a mão no

30 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


bolso. Ao contrário do Sistema Único de Saúde (SUS) COMPARAÇÃO DE INDICADORES DE
brasileiro, porém, a grande maioria dos profissionais são QUATRO MODELOS DISTINTOS
autônomos ou ligados a hospitais privados. CANADÁ EUA REINO UNIDO BRASIL

O governo reembolsa os profissionais de saúde pe-


PERCENTUAL DO PIB GASTO COM SAÚDE
los serviços prestados aos cidadãos. Até aí, muitos outros
países também fazem isso. O curioso, aqui, é o meca- 10,4
nismo encontrado para dar igual acesso à saúde: o Ato 17,1
de Saúde do Canadá (em tradução livre), de 1984, proí- 9,1
be que médicos e hospitais recebam diretamente pelo 8,3
atendimento. Com isso, mesmo que assim deseje, uma 0 05 10 15 20

pessoa mais rica tem de pegar a mesma fila de um de PERCENTUAL DE GASTO DO SETOR PRIVADO
menor renda, e aguardar em alguns casos, por exemplo, (EM RELAÇÃO AO GASTO TOTAL COM SAÚDE)
até um ano para realizar uma consulta com um especia- 29,1
lista. Ou ir fazer o tratamento nos EUA. 51,7
Do outro lado da fronteira, em 2010, quase 60 mi- 16,9
lhões de americanos ficavam numa espécie de limbo do 54
sistema de saúde. Isso porque não tinham planos priva- 0 10 20 30 40 50 60

dos, geralmente oferecidos como benefício das empresas


GASTO COM SAÚDE PER CAPITA (EM DÓLARES AMERICANOS, NO ANO)
aos seus empregados, e também não eram cobertos pelos
5.292
dois principais programas públicos de assistência.
O Medicaid e o Medicare, criados em 1965, são desti- 9.402
nados a públicos específicos. No primeiro caso, o progra- 3.935
ma é uma espécie de seguro, financiado conjuntamente 947
por estados e pelo governo federal, para pessoas de baixa 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000

renda. Já o Medicare, vinculado à previdência social, aten- MORTALIDADE INFANTIL (A CADA 100 NASCIMENTOS)
de apenas pessoas com deficiências ou com mais de 65 4,4
anos, por meio do reembolso de despesas hospitalares e de 5,7
consultas médicas. 3,7
Há seis anos, para tentar resolver a situação desses
14,4
60 milhões de desassistidos, que tinham de pagar todas
0 3 6 9 12 15
as eventuais despesas para cuidar de sua saúde, o presi-
dente Barack Obama disputou voto a voto no Congresso EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER (EM ANOS)

para ter aprovada a Lei de Proteção ao Paciente e de 82


Saúde Acessível (em tradução livre), vulgarmente co- 78,9
nhecida como “Obamacare”. 81,1
Talvez a maior bandeira da gestão presidencial, a 74,4
nova lei trouxe como principal medida a obrigatorieda- 0 20 40 60 80 100
FONTE: BANCO MUNDIAL (2014)
de, para todos os cidadãos sem cobertura, de contrata-
rem um plano de saúde privado. O governo criou um
marketplace na internet, no qual o requerente tem aces- E as operadoras que participam desse novo mercado,
so a todos os planos que operam no seu estado e pode que conta com subvenções públicas, também não estão
escolher a opção que melhor lhe convier. plenamente satisfeitas. Em abril deste ano, a maior segu-
Desde então, o número de pessoas sem seguro caiu radora de saúde do país, a UnitedHealth, anunciou que
para cerca de 30 milhões de pessoas. Mas a lei continua deixará de participar do marketplace em diversos estados,
sendo controversa. Em janeiro de 2016, Obama teve de no próximo ano. Segundo comunicado, a empresa estaria
vetar um projeto de lei que havia sido aprovado no Con- tendo prejuízo por causa do volume de serviços demanda-
gresso e que revogava o Obamacare. dos pelos novos segurados.

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 31


oportunidades
em tempos de

CRISE
Simpósio sobre planos odontológicos indica os melhores
caminhos para operadoras desse segmento se destacarem em
cenário turbulento como o vivido pelo Brasil atualmente

N
os dias 28 e 29 de abril, em São Paulo, mais de 200 pes- [1]

soas, entre empresários, profissionais da saúde, regulado-


1. CONSOLIDAÇÃO DE MERCADO
res e consultores, participaram da 11ª edição do Sinplo, Obter ganhos de escala, capturar si-
o Simpósio Internacional de Planos Odontológicos. O nergias e elevar a produtividade. Ser mais
competitivo. Esses são os principais fa-
tema dessa edição foi “oportunidades em tempos de crise”.
tores que explicam a tendência de maior
“A instabilidade social e econômica tem trazido dificuldades para o nosso setor”, afirmou, concentração do mercado de saúde su-
na abertura do evento, o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de plementar. “O setor ainda é muito pulve-
Grupo (Sinog), Geraldo Lima. “Por isso, estamos aqui antecipando tendências para apoiar a rizado. Por isso, continuará o movimento
reestruturação dos negócios, visando manter o grande crescimento dos planos odontológicos de consolidação por meio de aquisições e
independentemente da situação macroeconômica.” fusões”, disse Antonio Carlos Abbatepao-
Nos dois dias de palestras e debates, alguns assuntos foram recorrentes, como a necessidade lo, diretor executivo do Sistema Abramge.
de melhoria na gestão das operadoras, de aprimoramento do marco regulatório e de investir em Na última década, o número de operadoras
programas de prevenção de doenças, além da tendência de consolidação do mercado de saúde exclusivamente odontológicas ativas e com
suplementar (ver na página ao lado). beneficiários diminuiu 23%, passando de
Entre os convidados de destaque, esteve o presidente da Agência Nacional de Saúde Su- 413, em dezembro de 2006, para 319, em
plementar (ANS), José Carlos Abrahão, que reconheceu a urgência de todos os atores do setor, março de 2016. Considerando também as
incluindo governo e operadoras, negociarem medidas que possam estimular a recuperação do operadoras de planos médico-hospitalares,
crescimento da base de clientes. Nesse sentido foi a mensagem a queda foi de 33%. Para Vander Riscifina,
de Carlos Ivorra Server, diretor-geral da Asisa, uma operadora diretor financeiro da São Francisco Odon-
espanhola de planos odontológicos: “Sempre há oportunida- tologia, a “crescente restrição regulatória
des em tempo de crise. Nos anos seguintes à crise financeira de contribui para essa tendência”, vista como
2008, por exemplo, houve uma mudança muito rápida no mo- benéfica pelo presidente da ANS, José Car-
delo de negócio dos planos odontológicos na Espanha, e o setor los Abrahão, pois “forma empresas capa-
foi um dos poucos que se desenvolveu nesse período no país”. zes de se sustentar”.

32 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


FOTOS: RICARDO MANSHO
[2]
[1] Geraldo Lima, do
Sinog: “antecipar
tendências para
seguir crescendo”
[2] Abrahão, da
ANS, defendeu foco
no “cuidado com
os associados” [3]
Consultor Fernando
Botelho pediu olhar
diferenciado para
planos odontológicos
[4] Lott, da Falconi:
“mercado vai premiar
a eficiência e a
[3] [4]
produtividade”

2. PROGRAMAS PREVENTIVOS 3. NOVAS REGRAS 4. REESTRUTURAÇÃO


Para cada dólar investido em programas “As coisas mudarão no Brasil. Este é Em tempos de crise, torna-se mais ne-
preventivos de medicina e odontologia, eco- um bom momento para aprimorar o mar- cessário que as operadoras revejam suas
nomizam-se três dólares em tratamentos. co regulatório”, disse Fernando Botelho, práticas, das mais simples às mais comple-
Revelado em estudo de 2015 da Organi- da Tendências Consultoria Integrada. Se- xas, em busca de oportunidades de melho-
zação para Cooperação e Desenvolvimento gundo o consultor, a legislação vigente cria ria. “O mercado vai premiar a eficiência e
Econômico (OCDE), o dado demonstrou, na distorções que comprometem o equilíbrio a produtividade”, afirmou Alberto Lott, da
ponta do lápis, a efetividade dessa estratégia financeiro das operadoras e, consequente- Falconi Consultores de Resultados. Entre di-
para beneficiários e operadoras. “O investi- mente, os serviços para os beneficiários. versos aspectos que podem ser aprimorados,
mento em programas de promoção da saúde Para Botelho, existem diversas ferramentas três foram destacados pelos palestrantes do
e prevenção de doenças contribui para dimi- que poderiam ser adotadas para melhorar a Sinplo. O primeiro é a qualificação dos pro-
nuir a sinistralidade e, consequentemente, relação entre as empresas do setor e seus fissionais, necessária para as melhores deci-
as despesas assistenciais”, disse Abrahão, clientes: prontuário eletrônico dos pacien- sões de gestão e estratégia. No longo prazo,
da ANS. Ele ressaltou a necessidade de uma tes; transparência na formulação do rol de isso pode alavancar diferenciais competiti-
mudança de foco nas operadoras, passando procedimentos; ranking de clínicas e con- vos e determinar o sucesso de uma empresa.
do “volume de serviços para os resultados sultórios odontológicos; e adoção de paga- Aprimorar a gestão de riscos, por sua vez, é
dos cuidados com os associados”. Hoje, mento de franquias pelos usuários, entre indispensável para evitar perdas e preparar
a ANS tem cadastrados 20 programas de outros. Botelho também alerta para a ne- as empresas para as tendências de merca-
odontologia preventiva no Brasil, entre eles cessidade de um olhar diferenciado para os do. Por fim, é importante investir no moni-
o da OdontoGroup, cujo objetivo é localizar planos odontológicos: “Apesar de o preço toramento contínuo de indicadores e, mais
e tratar doenças graves ou com potencial de médio dos planos odontológicos ser menor, do que isso, na utilização desses dados no
agravamento. Estudos demonstram que pro- as exigências de obrigações regulatórias planejamento e na operação das operadoras.
blemas na boca podem servir de porta de são iguais às dos planos médicos, gerando Análises sistemáticas permitem a identifica-
entrada para outras doenças. pressão em custos administrativos”. ção precoce de pontos de melhoria.

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 33


Celebração em dose dupla
Abramge completa 50 anos de fundação, Sinog comemora duas décadas de
atividades, e ambos celebram uma história marcada por grandes avanços
no setor de saúde complementar

H
á 50 anos, em São Paulo, um grupo de médicos e o amadurecimento da associação foram marcados
e profissionais da área de saúde fundava uma por fatos e eventos que contribuíram para ampliar e
entidade para organizar e propagar garantir o acesso à saúde de um número
Em 50 anos de
o sistema privado de serviços do setor. A
atuação, a Abramge cada vez maior de pessoas.
Abramge nasceu em 1966, época em que Um desses eventos foi o surgimento
se tornou
a saúde pública era precária e o custo da do Sinog, em 1996, a partir da própria
a principal entidade
medicina liberal, bastante elevado. Nesse Abramge. Nesses 20 anos de atuação, o
representativa
contexto, as empresas buscavam mecanis- sindicato cumpriu seu papel na defesa
do setor
mos para atrair os melhores trabalhadores dos interesses das empresas de odonto-
e, ainda, reduzir o nível de absenteísmo. Assim surgi- logia de grupo e no compartilhamento de informações
ram os primeiros planos de saúde no Brasil. relevantes para o setor. Não por acaso, a história das
Cinco décadas depois, a Abramge se estabeleceu duas associações se confunde com a própria história
como a principal entidade representativa da saúde su- da saúde suplementar no Brasil. Veja a seguir os gran-
plementar no país. Nesse período, a evolução do setor des marcos dessa trajetória.

1966 ANOS 1980 1986 1988 1990 1991


FUNDAÇÃO DA ABRAMGE MILHÕES DE BENEFICIÁRIOS CRIAÇÃO DO SINAMGE A SAÚDE NA CONSTITUIÇÃO O CONAMGE CÓDIGO DE DEFESA DO
A Associação Brasileira Em meados dessa Nesse ano, o Ministério O artigo 199 da Carta O Conselho de CONSUMIDOR
de Medicina de Grupo é década, mais de 250 do Trabalho reconhece o estabelece que “a Autorregulamentação A Lei nº 8.078,l de 11 de
fundada em São Paulo empresas operadoras de Sindicato das Empresas assistência à saúde é de Medicina de Grupo agosto de 1990, que entrou
com a proposta de planos de saúde no Brasil de Medicina de Grupo do livre à iniciativa privada”, é criado para promover em vigor apenas em 11 de
unir, organizar, regular, atendiam a cerca de Estado de São Paulo. No com participação “de a regulamentação, março de 1991, consolidou
disciplinar, defender e 13 milhões de pessoas, ano seguinte, a entidade forma complementar fiscalização, registro e o Código de Defesa
representar as empresas com 55 hospitais ganha abrangência em ao sistema único de controle das empresas do Consumidor como
privadas de assistência próprios, 6.500 leitos, todo o país, além de saúde”. As principais que integram o sistema de importante instrumento
à saúde. 500 ambulatórios uma nova denominação: regras que orientam a planos privados de saúde. de regulação de todas as
e diversos serviços Sindicato Nacional das funcionamento do setor Anterior ao Código de relações de consumo, seja
ANOS 1970 auxiliares. Empresas de Medicina de estão na MP 44/01, em Defesa do Consumidor, que na esfera pública, seja na
OS PLANOS INDIVIDUAIS Grupo (Sinamge). vigor, e na Lei 9.656/98, só seria aprovado meses privada.
Essa modalidade que estabeleceu critérios depois, o Conamge também
desenvolve-se a partir para a operação de teve entre seus principais MEADOS DOS ANOS 1990
dos planos coletivos empresas, discriminou objetivos a defesa do CURSOS E EVENTOS
empresariais, estendendo padrões de cobertura usuário de plano de saúde. A Abramge inicia a
o sistema a quem se e de qualidade da No início dos anos 2000 promoção de congressos,
dispõe a pagar por assistência e transferiu o órgão foi extinto após a treinamentos e cursos
atendimento particular para o Poder Executivo a criação da ANS – Agência (incluindo pós-graduação
de serviços médico- regulação e fiscalização Nacional de Saúde lato sensu e MBA), além de
hospitalares. Nesse do setor. Suplementar. palestras e simpósios com
período, surgem ainda as foco no desenvolvimento
cooperativas médicas, os do sistema e no
sistemas de autogestão, aprimoramento de seus
WIKIMEDIA COMMONS / CÉLIO AZEVEDO

seguros de saúde e os atores. Entre 1994 e 2005,


planos odontológicos. mais de 7.900 pessoas
participaram de 212
DIVULGAÇÃO ABRAMGE

eventos promovidos pela


entidade.

34 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


O PRINCIPAL OBJETIVO DA ABRAMGE É REPRESENTAR INSTITUCIONALMENTE AS EMPRESAS PRIVADAS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO
SEGMENTO DE MEDICINA DE GRUPO, JUNTO AOS ÓRGÃOS DO GOVERNO EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL. O CHAMADO SISTEMA ABRAMGE
ENGLOBA O SINDICATO DAS EMPRESAS DE MEDICINA DE GRUPO (SINAMGE), O SINDICATO DAS EMPRESAS DE ODONTOLOGIA DE GRUPO
(SINOG) E A UNIVERSIDADE CORPORATIVA ABRAMGE (UCA).

30
Hoje, a medicina
de grupo cobre
%
mais de 20
milhões de
beneficiários
dos cerca de
70 milhões
de clientes
da saúde
suplementar
brasileira

Fachada da sede atual da Abramge: ações para ampliar e garantir o acesso das pessoas à saúde

1996 2000 2003 2005 2008 2014 E 2016


A FUNDAÇÃO DO SINOG A CRIAÇÃO DA ANS ESTATUTO DO IDOSO FORMAÇÃO E MOVIMENTO PELO 50 MILHÕES DE
Os serviços odontológicos A Agência Nacional de A publicação do Estatuto DESENVOLVIMENTO PARTO NORMAL BENEFICIÁRIOS
se desvinculam dos Saúde Suplementar (ANS) do Idoso estabelecido Entre 2000 e 2005, A Abramge lança o projeto Pela primeira vez na
planos médicos e é criada pela Lei nº 9.961, pela Lei Nº 10.741 cerca de 500 alunos Parto é Normal, que prevê história, o número de
empresas dedicadas promulgada em 28 de provoca mudanças se formam e obtêm um amplo programa de beneficiários dos planos
exclusivamente ao janeiro. A agência tem importantes no mercado titulação de MBA ações para reduzir as médico-hospitalares
segmento de saúde bucal a missão de promover a de planos de saúde, e pós-graduação cesáreas desnecessárias em ultrapassa a marca de 50
e começam a ganhar defesa do interesse público especialmente na lato sensu na todo o país. O público- milhões de pessoas – o
força. A criação de um na assistência suplementar reformulação das regras Universidade -alvo envolve gestantes, equivalente a 25% da
sindicato específico à saúde e regular as para o reajuste por faixa Corporativa Abramge médicos e operadoras população brasileira. No
para a categoria, já operadoras setoriais e suas etária. e no Centro associadas, com a produção mesmo ano, somando
com características de relações com prestadores Universitário São de materiais educativos e os usuários de planos
associação, torna-se e consumidores, bem Camilo. Ao todo, o estímulo à melhoria de odontológicos, o setor
naturalmente necessária, como contribuir para o 19 turmas foram indicadores por parte dos supera 70 milhões de
e assim é fundado, em desenvolvimento das ações formadas no período. planos de saúde. clientes de planos de
22 de agosto, o Sindicato de saúde no país. saúde.
Nacional de Odontologia
de Grupo. Naquela época, LONGA ATUAÇÃO
um plano odontológico Abramge comemora 50
custava cerca de R$ 10 anos de existência; Sinog
mensais, o equivalente a completa 20 anos.
três refeições. Hoje, esse
é o terceiro benefício
mais utilizado pelos
trabalhadores.
DIVULGAÇÃO ABRAMGE

JUL/AGO/SET 2016 VISÃO SAÚDE 35


ACESSO

Um parto de novela
A história de uma mãe que teve o apoio de sua médica e do plano de saúde
para fazer um parto normal no país campeão mundial das cesáreas

E
ra fevereiro de 2015. A empresária

ARQUIVO PESSOAL
Tatiana Yuomoto, de São Bernardo
do Campo, estava com 36 semanas
de gestação de sua primeira filha, a Letícia.
Três anos antes havia dado à luz Lucas, que
nascera em parto assistido por fórceps. Mes-
mo assim, Tatiana estava decidida a evitar
a cesárea, pois, nas suas palavras, “se tudo
corresse normalmente, parto normal era o
melhor para mim e para a criança”.
Desde sua primeira gravidez, Tatiana
dera a sorte de encontrar em sua médica
uma aliada. Nunca havia sido induzida a
pré-agendar uma cesárea, como virou praxe
no Brasil, nos últimos anos. E melhor: todo
o acompanhamento pré-natal estava sendo
coberto por seu plano de saúde, assim como
seria o parto e a internação. “Não coloquei a
mão no bolso para nada, zero.”
Quando foi constatada a dilatação do
colo do útero, a primeira fase do trabalho de
parto, Tatiana deu entrada na Maternidade
Pro Matre Paulista, uma das mais renoma-
das da cidade de São Paulo. Era meio-dia e
a mãe do Lucas estava ansiosa pelo nasci-
mento da Letícia. “Estava com um pouco
de medo também, confesso”, lembra Tatia-
na. Afinal, a primeira experiência havia sido
um pouco sofrida, apesar do final feliz.
Sentindo algumas contrações, Tatiana
foi conduzida a uma das suítes LDR, sigla

O parto assistido à
fórceps do primeiro filho,
Lucas, não fez Tatiana
optar pela cesárea para
dar à luz Letícia
Tatiana plenamente recuperada, logo após o parto, segura a recém-nascida Letícia

36 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016


em inglês para espaço de trabalho e parto.
O apartamento contava com banheira de
O Brasil é o recordista em 2014, de acordo com a Agência Nacio-
nal de Saúde Suplementar (ANS), conferin-
relaxamento e outros utensílios, como a de cesáreas, com mais do ao país o indesejado posto de campeão
bola suíça (a mesma usada no pilates), que
estimulam os bebês a descerem do confor-
da metade dos mundial do procedimento.
Segundo a diretora da ANS Karla Coe-
to uterino para esse mundo à primeira vista nascimentos, enquanto lho, estudos científicos indicam que a cesa-
hostil. Tudo acompanhado por uma trilha
sonora escolhida especialmente para tran-
a OMS recomenda riana aumenta em até 120 vezes a chance
de o bebê nascer prematuro. O parto nor-
quilizar as gestantes. índice de 15% mal, segundo a OMS, também é mais segu-
Quando as dores aumentaram, Tatiana ro para a gestante, ao evitar riscos associados
logo pediu para tomar anestesia – ela defen- a procedimentos cirúrgicos.
de o parto normal, mas não é “dessas radi- por conta da icterícia que, assim como atinge Por causa desse cenário e consciente de
cais que querem sentir todas as dores do par- metade dos recém-nascidos, deixou a pele de seu papel social, a Abramge lançou em 2008 a
to”. E assim, sem dor, nem demora, Letícia Letícia com coloração amarelada. Mas nem campanha “Parto é Normal”, com o objetivo
veio ao mundo, saudável e perfeitinha, por tudo pode ser como nas novelas, não é? de estimular a redução de cesáreas em todo o
volta das 4 horas da tarde. Segundo Tatiana, país. O projeto inclui ações de incentivo ao
“pareceu um parto de novela”. TÍTULO INDESEJADO parto normal dirigidas a médicos, operadoras
No dia seguinte, ao contrário do que Enquanto a Organização Mundial da de planos de saúde associadas e gestantes.
acontece com mulheres que passam por Saúde (OMS) recomenda que as cesáreas
cesáreas, Tatiana estava 100% recuperada e sejam no máximo 15% dos partos em um PARA CONHECER MAIS SOBRE A CAMPANHA “PARTO É
NORMAL” E VER A CARTILHA DESTINADA ÀS MÃES, COM DICAS
ativa. Só ficou mais três dias na maternidade país, no Brasil esse índice chegou a 55,6% SOBRE GESTAÇÃO, ACESSE O SITE WWW.ABRAMGE.COM.BR
DIAGNÓSTICO

O fim do mito da desoneração fiscal


O ARTICULISTA DEMONSTRA, COM BASE NA LEGISLAÇÃO E NA ARRECADAÇÃO DE IMPOSTOS,
QUE O SALDO DA SAÚDE SUPLEMENTAR É POSITIVO PARA OS COFRES PÚBLICOS
POR LUIZ AUGUSTO CARNEIRO*

GIL TOKIO
ue o sistema tributário brasileiro é fonte geradora de receitas ao erário. Trabalho
complexo e oneroso, bem sabe qual- produzido pelo Instituto Brasileiro de Planeja-
quer um que já se aventurou a em- mento Tributário (IBPT), a pedido da Abram-
preender ou tem de cumprir obrigações ge, identificou que a saúde suplementar reco-
com os fiscos. Os malfeitos do sistema lheu, diretamente, R$ 4,3 bilhões em tributos,
se prestam também a outros desservi- em 2013. Outros R$ 19 bilhões adicionais vie-
ços. Por exemplo, o de criar condições, ram de tributação indireta, projeta o estudo.
por conta do confuso cipoal de leis e normas, Não bastassem leis para desmentir o
para a disseminação de conceitos errados e mito, cabe ainda uma análise pragmática.
que se tornam verdades no consciente coleti- De 2009 a 2012, o Iess apurou que a soma das
vo. Um dos mitos é o que prega a existência despesas assistenciais das operadoras com be-
de renúncia fiscal pelo Estado em benefício neficiários totalizou mais de R$ 263 bilhões.
da saúde suplementar. É hora de desmistificar Além disso, R$ 12,2 bilhões foram recolhidos
essa história. em tributos diretos e, de quebra, R$ 180 mi-
O Código Tributário Brasileiro define que
o Imposto de Renda incide sobre os acrésci-
mos patrimoniais dos contribuintes, pessoas
Para cada R$ 1 a que o
físicas e jurídicas. Já que a saúde é, pela Cons- Estado teria abdicado,
tituição, um direito do cidadão e um dever do
Estado, toda vez que o contribuinte paga por
A Lei nº 9.250 diz que despesas com saúde
podem ser deduzidas do Imposto de Renda
recebeu de volta R$ 9,11
um serviço de saúde privado, visando suprir da Pessoa Física (IRPF). Muitos críticos, por
suas necessidades básicas de existência, sofre, ignorância ou má-fé intelectual, alegam que
na prática, um decréscimo patrimonial. Seja o Estado promove renúncia fiscal ao permitir lhões pagos ao questionável processo de ressar-
via contratação direta, seja via plano de saúde. essas deduções. A origem dessa tese advém do cimento ao SUS. A somatória representa um
Isso é lógico, porque se trata de um recurso conceito difundido pela Secretaria da Receita alívio aos governos, entre despesas evitadas
financeiro no qual se abriu mão do consumo Federal que classifica, no relatório “Demons- ao SUS e tributos recolhidos, da magnitude
ou do aumento de patrimônio para cumprir trativo dos Gastos Tributários”, as despesas de R$ 275,3 bilhões. No mesmo período, as
o que seria uma responsabilidade do Estado. com dependentes (manutenção da família), deduções fiscais das pessoas físicas e jurídicas
Esse conceito é defendido, por exemplo, pelo educação e saúde como benefícios tributários com planos de saúde, no imposto de renda,
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da (ou renúncia fiscal). somaram R$ 30,2 bilhões. Ou seja, para cada
Receita Federal do Brasil (Unafisco Sindical). Quem conhece o assunto, caso do advo- R$ 1 que o Estado teria abdicado de arreca-
gado tributarista Ricardo Lodi, demonstra que dação, recebeu de volta R$ 9,11 da saúde
tal conceituação está errada. No portal do suplementar. Essa verdade, se propagada por
O contribuinte que paga Instituto de Estudos de Saúde Suplementar todo setor, acabará com o mito de que a saúde

um serviço de saúde (www.iess.org.br) oferecemos farto conteúdo


que analisa o tema, inclusive um vídeo bas-
suplementar se beneficia de desoneração fis-
cal. E nem o confuso regime tributário, nem
privado sofre decréscimo tante didático do dr. Lodi. quem pretende valer-se dele para criar mitos

patrimonial Junto ao erro conceitual, os críticos “es-


quecem” que o setor, bem como outros elos
resistirão aos fatos.

SUPERINTENDENTE EXECUTIVO DO INSTITUTO DE


da cadeia produtiva da saúde, é expressiva ESTUDOS DE SAÚDE SUPLEMENTAR (IESS)

38 VISÃO SAÚDE JUL/AGO/SET 2016

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