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Brasil

Corte ilegal atinge 40% da madeira


da Amazônia
Da extração não permitida, 15% ocorreram em territórios indígenas ou em unidades de
conservação

Por Daniela Chiaretti — De São Paulo


03/10/2022 05h00 · Atualizado há uma semana

Madeira embargada em Colniza, Mato Grosso, durante ação de fiscalização do Ibama em 2018: o Estado
concentra mais de 70% da extração irregular da região — Foto: Rodrigo Vargas/ICV/Divulgação

Uma pesquisa inédita feita por quatro entidades revela que quase 40%
da extração de madeira na Amazônia não teve autorização dos órgãos
ambientais. É a primeira vez que se faz um levantamento sobre o
percentual de irregularidade da exploração madeireira na região. Deste
total, 15% da extração não permitida aconteceu em territórios
indígenas ou em unidades de conservação.

A análise mapeou 377 mil hectares com extração de madeira na


Amazônia entre agosto de 2020 e julho de 2021. No estudo foram
analisadas imagens de satélite com degradação florestal pela
exploração da madeira e depois confrontadas com as autorizações
dadas pelos órgãos ambientais. Foram analisados seis Estados - Mato
Grosso, Pará, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima. Do total, 142 mil
hectares tiveram exploração madeireira não permitida no período - ou
38% do total.
Dito de outra forma, em apenas um ano, a Amazônia teve “uma área
de floresta equivalente à cidade de São Paulo afetada pela atividade
irregular de madeira”, diz a nota enviada à imprensa.

“O ineditismo deste estudo é que conseguimos fazer a checagem da


ilegalidade da exploração florestal”, diz Vinicius Silgueiro, coordenador
de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), um dos
quatro institutos que formam a Rede Simex (Sistema de
Monitoramento da Exploração Madeireira), ao lado do Imazon
(Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), do Idesam
(Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do
Amazonas) e do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e
Agrícola).

A maior irregularidade aconteceu em imóveis rurais privados. O estudo


aponta, contudo, que 21 mil hectares foram explorados ilegalmente em
terras indígenas e em unidades de conservação - 15% de toda a área
com atividade irregular na Amazônia. O território indígena mais
afetado é Aripuanã, em Mato Grosso, com mais de 4 mil hectares de
extração madeireira. A área é habitada por indígenas cinta larga.

No ranking das áreas protegidas com maior área explorada, três


unidades de conservação são de proteção integral. É uma categoria
mais restritiva, destinada à preservação da biodiversidade.

Mato Grosso é o Estado que concentra mais de 70% da extração


irregular. Foram 103 mil hectares com exploração ilegal de madeira no
Estado no período, segundo a análise. Em Mato Grosso, a extração
permitida aproximou-se do volume irregular -173 mil hectares. “Mas,
apesar da maior parte da exploração de madeira ter sido autorizada
em Mato Grosso, a ilegalidade cresceu 17% em relação ao período
anterior”, diz Silgueiro, referindo-se ao estudo que observou o que
ocorreu entre agosto de 2019 e julho de 2020. No Pará, o aumento foi
de 14%, de áreas sem autorização em relação ao total.

O Pará é o segundo Estado com maior área de exploração madeireira -


57 mil hectares, sendo 23 mil não autorizados. O Amazonas é o terceiro
com maior área ilegal, seguido por Rondônia e Roraima.

Para Tayane Carvalho, pesquisadora do Idesam, o volume ilegal de


extração de madeira na Amazônia mostra que as ações de fiscalização
continuam insuficientes. “Esse cenário torna ainda mais necessário o
incentivo ao manejo florestal sustentável, pautado na legislação”, diz
ela, na nota à imprensa.

“Analisamos a exploração madeireira em um contexto de pandemia,


em que houve muito aumento da demanda do mercado da construção
civil e no preço também”, diz Silgueiro.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)


divulgados há poucos dias indicam crescimento de 30,1% em 2021 em
relação a 2020, no volume de madeira em tora extraído de florestas
nativas no país. Foi o maior percentual desde 1990, segundo a
pesquisa Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura, do IBGE.

O crescimento no volume de madeira, segundo Carlos Alfredo Guedes,


responsável pela pesquisa do IBGE, foi estimulado pela expansão da
fronteira agropecuária, pela retomada da construção civil e pela
produção de móveis depois da pandemia, e pelo crescimento do
desmatamento ilegal, além do aumento no preço da madeira.
“O nosso método de mapeamento detecta a exploração madeireira em
áreas degradadas, mas com cobertura vegetal. Não consideramos
desmatamento por corte raso, que indica conversão do uso do solo”,
diz Silgueiro, do ICV.

Os pesquisadores verificaram que nos Estados da região batizada de


Amacro (projeto de pecuaristas e representantes do agronegócio que
querem transformar a fronteira do Acre, Amazonas e Rondônia em
espécie de Matopiba, região do agronegócio no Maranhão, Tocantins,
Piauí e Bahia). “Ali o processo de desmatamento está bem acelerado”,
diz Silgueiro.

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