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19/05/2021
INTRODUÇÃO:
Este trabalho tem como intuito apresentar o movimento de expressão musical “Música Circular”
e traçar correlações com os movimentos expressionista e surrealista. Trata-se de uma nova corrente de
criação musical baseada na improvisação, canto acappela, criação coletiva e intuitiva. Será delineado,
além dos traços desta corrente musical, alguns de seus principais expoentes como o fundador do
movimento: o músico norte-americano Bobby Mcferrin.
MÚSICA CIRCULAR
A música circular, tradução do termo “Circlesong” foi desenvolvida pelo cantor e performer
norte-americano Bobby Mcferrin com intuito de promover a aprendizagem musical a partir de criações
vocais coletivas.
Esta prática vocal em roda consiste em uma organização em grupos onde um líder será escolhido
para orientar e criar os arranjos que serão cantados por cada grupo. O papel de liderança se mantém
fluido, dando a todos a oportunidade de atuar como regente e incentivando a criatividade de cada um
independente de seu nível musical.
Vale constar que tal prática é realizada em movimento, considerando de grande importância a
movimentação corporal tanto para auxílio na visualização do que será cantado, quanto para aumentar a
liberdade e a possibilidade de melhor exploração vocal. De acordo com pedagoga em educação musical
Teresa Mateiro, “A consciência rítmica é resultado de uma experiência corporal, e essa consciência pode
ser intensificada através de exercícios que combinem sensações físicas e auditivas” (MATEIRO, T. e
ILARI, B., 2013, p 31)
Os participantes das rodas de canto circular consideram a aprendizagem musical um dos muitos
frutos das relações sociais desenvolvidas pelo grupo. Se tratando de uma imersão em atividades de
experimentação, criação e apreciação musical, a presença e a abertura são de enorme importância, e sendo
assim em um grupo formado por pessoas de diferentes culturas musicais, a troca que acontece é muito
rica. Nesta dinâmica de fazer musical, as relações interpessoais e comunitárias são fortalecidas num
intimo dialogo não verbal, de expressão do inconsciente e de criação horizontal e coletiva.
Leticia Billwiller Lopes Domingues
19/05/2021
Bobby Mcferrin regendo o estádio Veltins Arena na Alemanha na comemoração do “Day of Song”
Bobby Mcferrin e seu grupo de Circlesongs se apresentando em Salle Pleyel / Paris 2018
Leticia Billwiller Lopes Domingues
19/05/2021
Nos círculos as frases criadas por cada líder para serem repetidas e improvisadas são
completamente aleatórias e muitas vezes não tem um significado, podendo ser apenas sons como
“timbelê” “sapwuka” “nimbilim” e muitas vezes sons de mastigada, de sussurros, estalos de língua, o que
muito remete à vertente surrealista do expressionismo, na qual utiliza-se de barulhos para compor a
música. No movimento de música circular brasileiro, também é muito usado a percussão corporal,
podendo ser percebido ainda mais características surrealistas e surpreendentes nas composições.
Anne LeBaron (2002, 27) cita o automatismo, incluindo a improvisação e a colagem como as
principais técnicas do surrealismo musical, características estas que são alguns dos principais pilares da
Musica circular. De forma complementar, Theodore Adorno define a música surrealista como “a
combinação de fragmentos musicais historicamente desvalorizados por meio de tal edição que lhes
permite dar sentido a eles dentro da estrutura de uma nova unidade estética”. Pode-se analisar os motivos
Leticia Billwiller Lopes Domingues
19/05/2021
improvisados da musica circular como fragmentos de fonemas e melodias, que muitas vezes remetem a
sons e fonemas tribais e étnicos, manifestações sonoras essas que por muito tempo foram execrados do
cenário musical predominante na academia. A junção e ressignificação destes fragmentos ganham nova
vida a partir do movimento da música circular.
No Brasil o movimento de música de círculo se manifesta muito fortemente em São Paulo, pelo
grupo autodenominado “fritura livre”. O nome do grupo é uma brincadeira insinuando que a música
criada é para “fritar o cérebro”. Este grupo foi iniciado pelo Fernando Barba (músico fundador da banda
mundialmente conhecida “Barbatuques”) em 2003, e se mantem até hoje com estrutura colaborativa,
coordenado pelos membros mais antigos e ativos na área: Pedro Consorte, Ronaldo dos Santos e Zuza
Gonçalves.
Zuza Gonçalves foi nascido e criado em São Paulo, e além de ter aplicado worshops de canto
circular ao redor do mundo, também faz parte do corpo discente de Bobby Mcferrin e aplica seus
workshops no instituto ômega, de Nova York.
Os encontros de fritura livre são inspirados nos cursos de Bobby e portanto seu fazer musical
também é constituído de jogos de improvisação e movimentação corporal e ocorrem mensalmente em
praças públicas e é aberto e divulgado para todos que se interessarem e estiverem abertos a experiencia,
independendo de nível musical.
Em 2020 com o início da pandemia do vírus covid 19, os encontros de fritura livre estão
ocorrendo via zoom com os links para acesso disponíveis em sua rede social no Facebook.
Leticia Billwiller Lopes Domingues
19/05/2021
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como neste trabalho se pôde observar que a música circular nos trás muitas características
surrealistas e expressionistas, o estudo de periodização musical pode então nos auxiliar a discernir
características marcantes de tempos passados e como estas se fazem presentes na música contemporânea.
BIBLIOGRAFIA
http://abemeducacaomusical.com.br/conferencias/index.php/isme/2017/paper/viewFile/2280/1168
https://anppom.org.br/anais/anaiscongresso_anppom_2018/5293/public/5293-18180-1-PB.pdf
https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/7343/1/CS_Vol1N2%283%29.pdf
https://www.hisour.com/pt/surrealist-music-35145/#:~:text=M%C3%BAsica%20surrealista
%20%C3%A9%20m%C3%BAsica%20que%20usa%20justaposi%C3%A7%C3%B5es%20inesperadas
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