RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN RECORRENTE : MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ PROCURADOR : PAULA HUSEK SERRÃO E OUTRO(S) - SP227705 RECORRIDO : RENATO CLEMENTE ALVES RECORRIDO : MARLI LOPES ALVES ADVOGADOS : MÁRCIO VICENTE FARIA COZATTI - SP121829 ANA PAULA JANZON MORENO E OUTRO(S) - SP164522 INTERES. : SOCIEDADE JUNDIAIENSE DE SOCORROS MUTUOS - MASSA INSOLVENTE ADVOGADO : ADNAN ABDEL KADER SALEM E OUTRO(S) - SP180675
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator):
Trata-se de Recurso Especial (art. 105, III, "a", da CF) interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, às fls. 1245-1262, cuja ementa é a seguinte: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. Má prestação de serviço público. Erro médico. 1. É devida indenização pelo dano moral resultante de falecimento de neonato em virtude de complicações atribuídas à falta de assistência especializada no momento do parto. 2. A indenização, arbitrada no equivalente a 300 salários mínimos, deve ser reduzida à metade mercê da situação econômica dos réus, pelo risco de supressão de serviços prestados à população, notadamente a carente. 3. Inconstitucionalidade parcial do art. 5° da Lei n° 11.960/09. 4. Ação julgada procedente em parte. Recursos parcialmente providos.
Os Embargos de Declaração foram rejeitados às fls. 1279-1284.
A recorrente sustenta que ocorreu violação dos artigos 20, § 4º, 128, 436, 458, 535, inciso II, do CPC/1973 sob os argumentos de que o acórdão que rejeitou os Embargos de Declaração negou vigência ao art. 535, inciso II, do CPC/1973, de que os honorários advocatícios de sucumbência são excessivos, e aduz: Outrossim, verifica-se que o valor estipulado à título de danos morais é excessivo e fere o princípio da razoabilidade e proporcionalidade, especialmente diante das circunstâncias dos fatos e da ausência de envolvimento de agente público, pelo que merece provimento o presente Recurso Especial. (fl. 1294). Documento: 76265866 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 1 de 6 Superior Tribunal de Justiça
Contrarrazões apresentadas às fls. 1336-1340.
Houve juízo de admissibilidade negativo na instância de origem, o que deu ensejo à interposição do Agravo, que foi convertido em Recurso Especial, conforme a decisão de fl. 1369. É o relatório.
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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.686.093 - SP (2017/0160927-2)
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Os
autos foram recebidos neste Gabinete em 2.8.2017. O recurso não merece prosperar. Cuida-se, na origem, de Ação Ordinária proposta por Marli Casarin Lopes e Renato Clemente Alves, ora recorridos, contra o Município de Jundiaí, ora recorrente, e a Sociedade Jundiaiense de Socorros Mútuos, "objetivando indenização por danos morais decorrentes de alegada má prestação do serviço de saúde no atendimento e realização do parto da autora, que teria acarretado na morte da criança recém-nascida." (fl. 1248). O Juiz de 1º Grau julgou parcialmente procedente o pedido. O Tribunal a quo deu parcial provimento às Apelações do Município de Jundiaí, ora recorrente, e da Sociedade Jundiaiense de Socorros Mútuos, e assim consignou na decisão: Nas circunstâncias a indenização de trezentos salários minimos foi arbitrada em excesso por um motivo: deixou de atentar à sabidamente precária situação econômica dos réus. É fato notório encontrarem-se as santas casas, em geral, em situação de penúria, havendo nos autos, inclusive, notícia de reconhecida insolvência da sociedade assistencial que integra o polo passivo. Muito melhor não é o estado das contas dos municípios, salvo poucas exceções. Reduzo-a à metade, pois, em consonância com a jurisprudência desta Câmara, por considerar o montante consentâneo frente à situação fática e à dupla finalidade a que se presta: terapêutico-compensatória. Tal valor deve ser convertido na data da publicação do acórdão, ficando em torno de R$ 101.700,00. (...) 4. A honorária, arbitrada em 10% do valor da condenação, está em consonância com a natureza da causa, sua complexidade mercê da denunciação da lide dos médicos envolvidos e sua longa duração. Não se incompatibiliza com o § 4° do art. 20 do Código de Processo Civil. A redução colimada implicaria aviltamento do munus da advocacia. (...) 6. Em resumo, dou parcial provimento aos recursos exclusivamente para reduzir a verba arbitrada a titulo de danos morais e determinar a aplicação da Lei n° 11.960/09 nos termos suso. Para efeito de exercício de recursos nobres, deixo expresso que Documento: 76265866 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 3 de 6 Superior Tribunal de Justiça o desate não ofende norma legal alguma, constitucional ou infraconstitucional. Consigno, ainda, que foram consideradas todas as normas destacadas pelos litigantes, mesmo que não citadas expressamente. (fls. 1259-1262, grifei).
Enfim, o Tribunal de origem reconheceu o dano moral, mas reduziu a
indenização à metade. Vejamos: "Reduzo-a à metade, pois, em consonância com a jurisprudência desta Câmara, por considerar o montante consentâneo frente à situação fática e à dupla finalidade a que se presta: terapêutico-compensatória. Tal valor deve ser convertido na data da publicação do acórdão, ficando em torno de R$ 101.700,00." (fl. 1259, grifei).
Esclareço que, quanto ao valor da indenização por danos morais, é
inviável analisar a tese defendida no Recurso Especial, a qual busca afastar as premissas fáticas estabelecidas pelo acórdão recorrido, pois inarredável a revisão do conjunto probatório dos autos. Aplica-se o óbice da Súmula 7/STJ. Ademais, o "quantum indenizatório arbitrado na instância ordinária, a título de danos morais, só pode ser examinado nesta Corte nos casos em que o valor indenizatório for irrisório ou exorbitante." (AgInt no AREsp 1074215/PE, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellize, Terceira Turma, DJe 01/09/2017) (grifei). In casu, o valor fixado para a indenização por danos morais não é irrisório ou exorbitante. Nesse sentido: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. RESPONSABILIDADE CIVIL. 1. SIMPLES REFERÊNCIA A DISPOSITIVO LEGAL DESACOMPANHADA DA NECESSÁRIA ARGUMENTAÇÃO QUE SUSTENTE A ALEGADA OFENSA À LEI FEDERAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284 DO STF. 1.1. AINDA QUE ASSIM NÃO FOSSE, O ENTENDIMENTO DA CORTE DE ORIGEM É CONSENTÂNEO COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. RECUSA INDEVIDA DE LIBERAR ÓRTESES OU PRÓTESES. DANO MORAL CONFIGURADO. 1.2. ACOLHIMENTO DO INCONFORMISMO QUE DEMANDA REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7 DO STJ. 2. PRETENSÃO DE ALTERAÇÃO DO VALOR FIXADO A TÍTULO DE DANO MORAL. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7 DO STJ. 3. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. 1. A alegação de ofensa à lei federal presume a realização do Documento: 76265866 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 4 de 6 Superior Tribunal de Justiça cotejo entre o conteúdo preceituado na norma e os argumentos aduzidos nas razões recursais, com vistas a demonstrar a devida correlação jurídica entre o fato e o mandamento legal. Nesse passo, a simples referência a dispositivo legal, desacompanhada da necessária argumentação que sustente a alegada ofensa à lei federal, não é suficiente para o conhecimento do recurso especial. Incidência da Súmula 284 do STF. 1.1. Ainda que assim não fosse, é pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de que a recusa indevida/injustificada, pela operadora de plano de saúde, em autorizar a cobertura de tratamento médico prescrito, a que esteja legal ou contratualmente obrigada, gera direito de ressarcimento a título de dano moral. 1.2. Além disso, o acolhimento do inconformismo, segundo as alegações vertidas nas razões do apelo nobre, demanda revolvimento do acervo fático-probatório dos autos, situação vedada pela Súmula 7 do STJ. 2. O quantum indenizatório arbitrado na instância ordinária, a título de danos morais, só pode ser examinado nesta Corte nos casos em que o valor indenizatório for irrisório ou exorbitante. 2.1. Na hipótese em foco, o Tribunal de origem fixou os danos morais em R$ 10.000,00 (dez mil reais) de acordo com as peculiaridades do caso concreto, seguindo os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Desse modo, a compensação fixada na origem não se mostra excessiva, sendo, portanto, caso de aplicação do enunciado n. 7 da Súmula desta Corte Superior. 3. Agravo interno improvido. (AgInt no AREsp 1074215/PE, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, DJe 01/09/2017) (grifei).
No mais, com relação à alegação de que não houve ação ou omissão do
Município que ensejasse a responsabilidade civil, esclareço que modificar a conclusão a que chegou a Corte de origem, de modo a acolher a tese do recorrente, demandaria reexame do acervo fático-probatório dos autos, o que é inviável em Recurso Especial, sob pena de violação da Súmula 7 do STJ. Súmula 7/STJ: " A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial".
Constato que não se configura a ofensa ao art. 535, inciso II, do
CPC/1973, uma vez que o Tribunal de origem julgou integralmente a lide e solucionou a controvérsia, tal como lhe foi apresentada. Não é o órgão julgador obrigado a rebater, um a um, todos os argumentos trazidos pelas partes em defesa da tese que apresentaram. Deve apenas enfrentar a demanda, observando as questões relevantes e imprescindíveis à sua
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Superior Tribunal de Justiça resolução. Nesse sentido: REsp 927.216/RS, Segunda Turma, Relatora Ministra Eliana Calmon, DJ de 13/8/2007; e REsp 855.073/SC, Primeira Turma, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, DJ de 28/6/2007. Por fim, verifico que o Tribunal de origem manteve o percentual dos honorários advocatícios de sucumbência de 10% (dez por cento), fixados na sentença, pois entendeu que a verba "honorária, arbitrada em 10% do valor da condenação, está em consonância com a natureza da causa, sua complexidade mercê da denunciação da lide dos médicos envolvidos e sua longa duração." (fl. 1260, grifei em itálico). Esclareço que o STJ pacificou a orientação de que o quantum da verba honorária, em razão da sucumbência processual, está sujeito a critérios de valoração previstos na lei processual, e sua fixação é ato próprio dos juízos das instâncias ordinárias, às quais competem a cognição e a consideração das situações de natureza fática. Nesses casos, esta Corte Superior atua na revisão da verba honorária somente quando esta tratar de valor irrisório ou exorbitante, o que não se configura neste caso. Assim, o reexame das razões de fato que conduziram a Corte de origem a tais conclusões significaria usurpação da competência das instâncias ordinárias. Dessa forma, aplicar posicionamento distinto do proferido pelo aresto confrontado implicaria, necessariamente, o reexame da matéria fático-probatória, o que é obstado a este Tribunal Superior, conforme determinado na Súmula 7/STJ: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial. Diante do exposto, conheço parcialmente do Recurso Especial e, nessa parte, negou-lhe provimento. É como voto.
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