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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.686.093 - SP (2017/0160927-2)


RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN
RECORRENTE : MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ
PROCURADOR : PAULA HUSEK SERRÃO E OUTRO(S) - SP227705
RECORRIDO : RENATO CLEMENTE ALVES
RECORRIDO : MARLI LOPES ALVES
ADVOGADOS : MÁRCIO VICENTE FARIA COZATTI - SP121829
ANA PAULA JANZON MORENO E OUTRO(S) - SP164522
INTERES. : SOCIEDADE JUNDIAIENSE DE SOCORROS MUTUOS -
MASSA INSOLVENTE
ADVOGADO : ADNAN ABDEL KADER SALEM E OUTRO(S) - SP180675

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator):


Trata-se de Recurso Especial (art. 105, III, "a", da CF) interposto contra acórdão do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, às fls. 1245-1262, cuja ementa é a
seguinte:
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. Má prestação de
serviço público. Erro médico.
1. É devida indenização pelo dano moral resultante de
falecimento de neonato em virtude de complicações atribuídas à falta de
assistência especializada no momento do parto.
2. A indenização, arbitrada no equivalente a 300 salários
mínimos, deve ser reduzida à metade mercê da situação econômica dos réus,
pelo risco de supressão de serviços prestados à população, notadamente a
carente.
3. Inconstitucionalidade parcial do art. 5° da Lei n° 11.960/09.
4. Ação julgada procedente em parte. Recursos parcialmente
providos.

Os Embargos de Declaração foram rejeitados às fls. 1279-1284.


A recorrente sustenta que ocorreu violação dos artigos 20, § 4º, 128, 436,
458, 535, inciso II, do CPC/1973 sob os argumentos de que o acórdão que rejeitou os
Embargos de Declaração negou vigência ao art. 535, inciso II, do CPC/1973, de que
os honorários advocatícios de sucumbência são excessivos, e aduz:
Outrossim, verifica-se que o valor estipulado à título de danos
morais é excessivo e fere o princípio da razoabilidade e
proporcionalidade, especialmente diante das circunstâncias dos fatos e da
ausência de envolvimento de agente público, pelo que merece provimento o
presente Recurso Especial. (fl. 1294).
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Contrarrazões apresentadas às fls. 1336-1340.


Houve juízo de admissibilidade negativo na instância de origem, o que
deu ensejo à interposição do Agravo, que foi convertido em Recurso Especial,
conforme a decisão de fl. 1369.
É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.686.093 - SP (2017/0160927-2)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Os


autos foram recebidos neste Gabinete em 2.8.2017.
O recurso não merece prosperar.
Cuida-se, na origem, de Ação Ordinária proposta por Marli Casarin
Lopes e Renato Clemente Alves, ora recorridos, contra o Município de Jundiaí, ora
recorrente, e a Sociedade Jundiaiense de Socorros Mútuos, "objetivando indenização
por danos morais decorrentes de alegada má prestação do serviço de saúde no
atendimento e realização do parto da autora, que teria acarretado na morte da criança
recém-nascida." (fl. 1248).
O Juiz de 1º Grau julgou parcialmente procedente o pedido.
O Tribunal a quo deu parcial provimento às Apelações do Município de
Jundiaí, ora recorrente, e da Sociedade Jundiaiense de Socorros Mútuos, e assim
consignou na decisão:
Nas circunstâncias a indenização de trezentos salários
minimos foi arbitrada em excesso por um motivo: deixou de atentar à
sabidamente precária situação econômica dos réus. É fato notório
encontrarem-se as santas casas, em geral, em situação de penúria, havendo
nos autos, inclusive, notícia de reconhecida insolvência da sociedade
assistencial que integra o polo passivo. Muito melhor não é o estado das
contas dos municípios, salvo poucas exceções.
Reduzo-a à metade, pois, em consonância com a
jurisprudência desta Câmara, por considerar o montante consentâneo frente
à situação fática e à dupla finalidade a que se presta:
terapêutico-compensatória. Tal valor deve ser convertido na data da
publicação do acórdão, ficando em torno de R$ 101.700,00.
(...)
4. A honorária, arbitrada em 10% do valor da condenação,
está em consonância com a natureza da causa, sua complexidade mercê da
denunciação da lide dos médicos envolvidos e sua longa duração. Não se
incompatibiliza com o § 4° do art. 20 do Código de Processo Civil. A redução
colimada implicaria aviltamento do munus da advocacia.
(...)
6. Em resumo, dou parcial provimento aos recursos
exclusivamente para reduzir a verba arbitrada a titulo de danos morais e
determinar a aplicação da Lei n° 11.960/09 nos termos suso.
Para efeito de exercício de recursos nobres, deixo expresso que
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o desate não ofende norma legal alguma, constitucional ou infraconstitucional.
Consigno, ainda, que foram consideradas todas as normas destacadas pelos
litigantes, mesmo que não citadas expressamente. (fls. 1259-1262, grifei).

Enfim, o Tribunal de origem reconheceu o dano moral, mas reduziu a


indenização à metade. Vejamos:
"Reduzo-a à metade, pois, em
consonância com a jurisprudência desta Câmara, por
considerar o montante consentâneo frente à situação fática e
à dupla finalidade a que se presta:
terapêutico-compensatória. Tal valor deve ser convertido
na data da publicação do acórdão, ficando em torno de R$
101.700,00." (fl. 1259, grifei).

Esclareço que, quanto ao valor da indenização por danos morais, é


inviável analisar a tese defendida no Recurso Especial, a qual busca afastar as
premissas fáticas estabelecidas pelo acórdão recorrido, pois inarredável a
revisão do conjunto probatório dos autos. Aplica-se o óbice da Súmula 7/STJ.
Ademais, o "quantum indenizatório arbitrado na instância ordinária, a
título de danos morais, só pode ser examinado nesta Corte nos casos em que o valor
indenizatório for irrisório ou exorbitante." (AgInt no AREsp 1074215/PE, Rel.
Ministro Marco Aurélio Bellize, Terceira Turma, DJe 01/09/2017) (grifei).
In casu, o valor fixado para a indenização por danos morais não é
irrisório ou exorbitante.
Nesse sentido:
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. RESPONSABILIDADE CIVIL. 1.
SIMPLES REFERÊNCIA A DISPOSITIVO LEGAL DESACOMPANHADA
DA NECESSÁRIA ARGUMENTAÇÃO QUE SUSTENTE A ALEGADA
OFENSA À LEI FEDERAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284 DO STF. 1.1.
AINDA QUE ASSIM NÃO FOSSE, O ENTENDIMENTO DA CORTE DE
ORIGEM É CONSENTÂNEO COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
RECUSA INDEVIDA DE LIBERAR ÓRTESES OU PRÓTESES. DANO
MORAL CONFIGURADO. 1.2. ACOLHIMENTO DO INCONFORMISMO
QUE DEMANDA REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7 DO STJ. 2.
PRETENSÃO DE ALTERAÇÃO DO VALOR FIXADO A TÍTULO DE
DANO MORAL. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 7 DO STJ. 3. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.
1. A alegação de ofensa à lei federal presume a realização do
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cotejo entre o conteúdo preceituado na norma e os argumentos aduzidos nas
razões recursais, com vistas a demonstrar a devida correlação jurídica entre o
fato e o mandamento legal. Nesse passo, a simples referência a dispositivo
legal, desacompanhada da necessária argumentação que sustente a alegada
ofensa à lei federal, não é suficiente para o conhecimento do recurso especial.
Incidência da Súmula 284 do STF.
1.1. Ainda que assim não fosse, é pacífica a jurisprudência desta
Corte no sentido de que a recusa indevida/injustificada, pela operadora de
plano de saúde, em autorizar a cobertura de tratamento médico prescrito, a que
esteja legal ou contratualmente obrigada, gera direito de ressarcimento a título
de dano moral.
1.2. Além disso, o acolhimento do inconformismo, segundo as
alegações vertidas nas razões do apelo nobre, demanda revolvimento do acervo
fático-probatório dos autos, situação vedada pela Súmula 7 do STJ.
2. O quantum indenizatório arbitrado na instância ordinária,
a título de danos morais, só pode ser examinado nesta Corte nos casos em
que o valor indenizatório for irrisório ou exorbitante.
2.1. Na hipótese em foco, o Tribunal de origem fixou os danos
morais em R$ 10.000,00 (dez mil reais) de acordo com as peculiaridades do
caso concreto, seguindo os princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
Desse modo, a compensação fixada na origem não se mostra excessiva, sendo,
portanto, caso de aplicação do enunciado n.
7 da Súmula desta Corte Superior.
3. Agravo interno improvido.
(AgInt no AREsp 1074215/PE, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, DJe 01/09/2017) (grifei).

No mais, com relação à alegação de que não houve ação ou omissão do


Município que ensejasse a responsabilidade civil, esclareço que modificar a conclusão
a que chegou a Corte de origem, de modo a acolher a tese do recorrente, demandaria
reexame do acervo fático-probatório dos autos, o que é inviável em Recurso Especial,
sob pena de violação da Súmula 7 do STJ.
Súmula 7/STJ: " A pretensão de simples reexame de prova não
enseja recurso especial".

Constato que não se configura a ofensa ao art. 535, inciso II, do


CPC/1973, uma vez que o Tribunal de origem julgou integralmente a lide e solucionou
a controvérsia, tal como lhe foi apresentada.
Não é o órgão julgador obrigado a rebater, um a um, todos os
argumentos trazidos pelas partes em defesa da tese que apresentaram. Deve apenas
enfrentar a demanda, observando as questões relevantes e imprescindíveis à sua

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resolução. Nesse sentido: REsp 927.216/RS, Segunda Turma, Relatora Ministra Eliana
Calmon, DJ de 13/8/2007; e REsp 855.073/SC, Primeira Turma, Relator Ministro
Teori Albino Zavascki, DJ de 28/6/2007.
Por fim, verifico que o Tribunal de origem manteve o percentual dos
honorários advocatícios de sucumbência de 10% (dez por cento), fixados na sentença,
pois entendeu que a verba "honorária, arbitrada em 10% do valor da condenação,
está em consonância com a natureza da causa, sua complexidade mercê da
denunciação da lide dos médicos envolvidos e sua longa duração." (fl. 1260, grifei
em itálico).
Esclareço que o STJ pacificou a orientação de que o quantum da verba
honorária, em razão da sucumbência processual, está sujeito a critérios de valoração
previstos na lei processual, e sua fixação é ato próprio dos juízos das instâncias
ordinárias, às quais competem a cognição e a consideração das situações de natureza
fática.
Nesses casos, esta Corte Superior atua na revisão da verba honorária
somente quando esta tratar de valor irrisório ou exorbitante, o que não se configura
neste caso.
Assim, o reexame das razões de fato que conduziram a Corte de origem a
tais conclusões significaria usurpação da competência das instâncias ordinárias.
Dessa forma, aplicar posicionamento distinto do proferido pelo aresto
confrontado implicaria, necessariamente, o reexame da matéria fático-probatória, o
que é obstado a este Tribunal Superior, conforme determinado na Súmula 7/STJ: "A
pretensão de simples reexame de prova não enseja Recurso Especial.
Diante do exposto, conheço parcialmente do Recurso Especial e,
nessa parte, negou-lhe provimento.
É como voto.

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