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DRAMATURGIAS DO CAVALO MARINHO:

CORPORALIDADES E SENTIDOS AMBIVALENTES

The dramaturgies of the Cavalo Marinho:


Corporalities and ambivalent senses

Carolina Dias Laranjeira1


Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Resumo: O artigo propõe refletir sobre as dramaturgias da brincadeira do


Cavalo Marinho articuladas às corporalidades dos brincadores. A partir de
diálogos com a literatura acadêmica e a experiência de campo, apresentam-
se sentidos ambivalentes entre a visibilidade e a invisibilidade, a força e a
soltura de movimentos, a contenção e o excesso, a conformação de normas e
suas subversões.

Palavras-chave: Dramaturgias corporais; Cavalo Marinho; Culturas Tradicionais.

Abstract: The article proposes to reflect on the dramaturgies of Cavalo


Marinho traditional performance, articulated with the corporalities of the
players. Field experience and academic literature are brought in dialogue to
present the ambivalent senses between visibility and invisibility, strengh and
untied movements, containment and excess, the conformation of norms and
their subversions.

Keywords: Bodily Dramaturgies; Cavalo Marinho; Traditional Cultures.

1 Programa de Mestrado Profissional em Artes (PROFARTES), Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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Carolina Dias Laranjeira

A proposta deste artigo é pensar e propor de questões cênicas em vistas de uma


pontos de vista sobre as dramaturgias da dramaturgia corporal, gerada pela fricção
brincadeira2 do Cavalo Marinho, tradição entre os materiais apreendidos em campo
dos trabalhadores da cana-de-açúcar da e a formação em dança e o teatro. Tais
Zona da Mata de Pernambuco. Entendendo ideias foram geradas a partir de diálogos
as dramaturgias enquanto processos ou com o pensamento dos brincadores
maneiras como se articulam os sentidos (relatos coletados em entrevistas), com
que estruturam a brincadeira, o trabalho se autores dos campos das Artes Cênicas e
baseia em experiências vividas como das Ciências Sociais, entre outros, e com
artista da dança e pesquisadora material decorrente da exploração das suas
interessada em processos de criação que dinâmicas corporais em investigações
buscam se alimentar de fontes divergentes corporais, em salas de ensaio e
daquilo que é considerado como “arte”, do apresentações do espetáculo Cordões4.
que está dentro dos cânones. Desde 2004
Primeiramente, passo a descrever esta
realizo pesquisas com o Cavalo Marinho,
brincadeira, ressaltando aspectos chaves
buscando uma formação corporal, técnica e
para se pensar as suas dramaturgias
poética por meio do contato direto com
sempre em processo. O Cavalo Marinho,
seus brincadores em campo. Estas
identificado como brincadeira, por seus
pesquisas geraram dois processos criativos
agentes, é um misto de festa, ritual e jogo,
desenvolvidos com materiais das
expresso por teatralidade, corporalidade,
pesquisas de campo com o Grupo Peleja3,
musicalidade e poesia singulares. Esta
formado por dançarinos e atores. Proponho
performance tradicional ocorre por
aqui reflexões sobre as corporalidades e
devoção, ao abarcar aspectos religiosos do
dramaturgias da brincadeira e do corpo
catolicismo e da Jurema; ocorre por
brincador, enquanto chave de leitura da
dinheiro, ao ser realizada por contratos
manifestação e também como disparador
desde a época em que era brincada nos
engenhos; é espetáculo e jogo, feita para
2 Durante o texto vou me referir ao Cavalo Marinho ser vista, mas sobretudo, para ser jogada,
enquanto brincadeira e seus agentes enquanto
brincadores . Essas são categorias nativas que vivida, brincada, por seus brincadores,
compreendem a complexidade de seus significados que a moradores da periferia das cidades da
meu ver não devem ser reduzidos pelo uso de outros
termos vindos de fora. Zona da Mata Norte de Pernambuco. Pode-
3 O Grupo Peleja foi formado em Campinas a partir de um
se dizer que, verdadeiramente, ela não se
grupo de pesquisa e treinamento iniciado por Luiz Canoa
e Daniel Braga Campos em 2002. Em 2004, começamos enquadra em relações binárias de
a apresentar pequenas intervenções cênicas e pensamento e que uma de suas
participamos de apresentações de uma síntese da
brincadeira do Cavalo Marinho com os brincadores da características marcantes é o excesso.
Zona da Mata, mestre Inácio Lucindo e Aguinaldo Roberto
da Silva, a convite da Cia. MunduRodá, o que resultou em
Este é percebido em sua composição que
uma aproximação definitiva entre o grupo e esta se configura por uma grande quantidade de
brincadeira. Desde então, pesquisas acadêmicas e
produções artísticas foram realizadas por seus membros.
figuras presentes na memória da
Devido a esta aproximação parte do grupo, em 2008, brincadeira (relatadas em torno de 70), pela
fixou residência em Pernambuco estabelecendo aí sua
sede. A última formação do grupo teve como
4
participantes, além de mim, Tainá Barreto, Lineu Espetáculo resultante da pesquisa de doutorado
Guaraldo e Eduardo Albergaria. realizada entre 2009 e 2013.

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Corporalidades e sentidos ambivalentes

aglutinação de informações vindas de escravo do século XIX e o contexto sócio-


diversas outras brincadeiras e de outros econômico em que vivia, parecem
meios, como a literatura oral e pelas sustentar a trama que envolve significados
informações da corporalidade dos que são reverberados ainda hoje na
brincadores. Tal corporalidade é também brincadeira. Os diálogos de negociação, os
constituída pela exaustão física e por conflitos, cobranças e acertos, desvios e
estados corporais singulares gerados ao se esquivas que permeiam a brincadeira
brincar, sambar e tocar. A exaustão, ao através dos diálogos entre o Capitão –
contrário de arrefecer a energia dos sobreposição de figuras histórico-sociais do
brincadores, torna-se combustível para que patrão e do senhor – e figuras diversas que
a performance dure, muitas vezes, ao negociam seu trabalho, principalmente
longo de 8 horas. A brincadeira é formada Mateus, Bastião e Catirina – sobreposições
por fragmentos, episódios, momentos de de figuras histórico-sociais dos
dança e de diálogos, mas também de empregados, escravos e forros –, remetem
pausas: tempo de esperar o que vem a às relações de trabalho e de poder
seguir e também de abertura aos envolvendo grupos sociais antagônicos que
acontecimentos inusitados que a conviveram nos engenhos do século XIX
atravessam. Ainda é preciso ressaltar que na Zona da Mata. Como sustenta Brusantin
ela é permeada por um humor masculino (2011), tais relações de embate ou de
frequentemente deflagrado por temas concordância, de resistência ou submissão,
sexuais e por críticas sociais. Certamente é podem ter se perpetuado até hoje.
um objeto de estudos que escapa
Outro ponto de vista sobre a brincadeira
facilmente aos limites dos estereótipos
que reitera as ideias acima, é apresentado
construídos em torno do que se
por John Murphy (2008, p.133) ao se
convencionou a chamar de folclore ou
basear nas ideias do antropólogo James
cultura popular, sustentados por ideias
Scott. Este entende que a visão moral
puristas.
camponesa seria expressa em
performances de trabalhadores rurais como
Sentidos sociais e históricos da brincadeira
um conteúdo velado: “[...] um reino do
e sua materialização no corpo
discurso que se fecha para as classes
dominantes, onde os dominados
A origem do Cavalo Marinho, proferida por
expressam seu descontentamento.”
seus agentes e verificada por documentos
Portanto, um ato de resistência da cultura
históricos, mostra que os primeiros
camponesa, ao tratar de conteúdos de
brincadores de Cavalo Marinho foram
cunho político sob o disfarce do humor e da
negros escravos, livres e forros,
ironia. Ressalta-se que as relações sociais
trabalhadores dos engenhos de cana da
hierárquicas estruturadas e os conflitos
região da Zona da Mata Norte de
surgidos pelo acesso à terra foram e ainda
Pernambuco (BRUSANTIN, 2011). A
são uma questão que atravessa os
realidade da vida cotidiana do trabalhador
vínculos de trabalho na região. As

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negociações, disputas e cobranças dos contratos sociais, por meio de


incorporadas nos jogos da brincadeira, manobras astutas ou trapaças, de maneira
parecem dialogar com a aspereza e a sutil, tenaz, alegre ou belicosa. Assim, o
violência que permeiam ainda tais relações. corpo da brincadeira poderia ser visto como
a materialização de táticas, por meio da
Dessa forma, é possível aproximar os
desarticulação dos joelhos e pernas “[...]
sentidos sociais e históricos descritos
que parecem brincar enquanto dançam.”
acima de alguns aspectos apontados por
(OLIVEIRA, M., 2006, p. 46). Utilizando as
Mariana Oliveira (2006), Maria Acselrad
palavras dos brincadores, um corpo
(2002) e Érico Oliveira (2006) em seus
“maneiro”, que tem “manejo”, que sabe
estudos sobre o Cavalo Marinho5 no âmbito
manejar, ou parafraseando a autora, que
das Artes Cênicas e da Antropologia,
tem tática e joga para desfazer o jogo do
desde perspectivas estéticas expressas na
parceiro.
contemporaneidade. Dentre os aspectos,
destacam-se a linha tênue entre o ficcional A partir das interpretações dos
e o real, as sobreposições de tempos e pesquisadores é possível perceber como a
espaços, os estados de jogo, a materialidade desse corpo provoca
improvisação, o caráter fragmentado e sentidos ou dialoga com sentidos que se
móvel da brincadeira. Além disso, os articulam na cena e na vida dos
autores observam a multiplicidade de brincadores. É por esse viés que acredito
significados ao constatar momentos de ser possível pensar uma dramaturgia
simultaneidade, heterogeneidade e corporal da brincadeira6. Nessa tentativa,
ambiguidade. Tais características são penso que a maleabilidade desse corpo
expressas nos modos de apresentação das que brinca com os poderes estabelecidos,
figuras, ou de se botar figura (como se diz por meio de trapaça ou malícia, é também
no contexto) e também na maneira como um corpo que tem a precisão do corte que
se dão a ver as cenas. As figuras se passa rasteiras e dá “coices”, que quer que
constituem no trânsito entre vida e arte, o outro não saia ileso do jogo, um corpo do
pessoa e ser ficcional. As partes ou enfrentamento, assim como é preciso estar
passagens, apresentam uma profusão de em seu entorno. De forma ambivalente,
signos e contrastes permeados tanto pelo essa corporalidade na brincadeira pode
sublime quanto pela tensão e violência, suscitar leituras que fazem ver a
muitas vezes nos remetendo à herança negligência de tantos patrões ou políticos
histórica de nossa sociedade escravista. locais, mas ao mesmo tempo pode
reafirmar as relações hierárquicas que
Segundo Mariana Oliveira (2006), a
estruturam a sociedade local.
brincadeira apresenta táticas da sociedade
na qual está inserida, a partir de conceito A corporalidade em jogo parece ser um dos
de Certeau (1999), ao mostrar maneiras de principais meios pelos quais os sentidos da
subversão do jogo estabelecido nos termos brincadeira são constituídos. Pode ser

5 Os trabalhos dos dois primeiros autores foram


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desenvolvidos no campo das Artes Cênicas e a última Sobre relações entre corporalidade e dramaturgia em
autora no campo da Antropologia da Arte. contextos de culturas tradicionais ver Domenici (2009).

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Corporalidades e sentidos ambivalentes

notada nas disputas, embates e como fundamento de sua teoria, a autora


irreverência dos diálogos, repletos de puias ilumina facetas da dramaturgia a partir de
(jogos verbais cômicos), e durante as alguns de seus significados, entendo-a
empeleitadas (negociações corporais e como ato criminoso e ação ilícita,
verbais). Mantendo um distanciamento corrompendo assim, as regras e as leis da
sobre a interpretação moral da brincadeira, cena. Para a autora a invisibilidade da
pode-se observá-la em diferentes dramaturgia seria o instrumento de
dimensões. Sem esquecer que ela não é a renovação de cada criação, localizada nas
representação da realidade dos margens do visível, o centro do discurso
brincadores, apesar de haver um constante performativo.
diálogo com essa realidade, ela de forma
Como explica Pais (2004), a palavra teatro
alguma quer ser realista, nem um veículo
tem origens associadas à ideia de visão e
utilitário para qualquer ideologia ou
de lugar, pois teatro no grego é “lugar de
moralidade. Ao contrário, ela ultrapassa a
onde se vê”. Se o que é visto no teatro
realidade ao mesmo tempo em que a
corresponde à composição estética
“escancara”, cria outras realidades e outras
atrelada à espacialidade em sua condição
corporalidades, mas sempre numa relação
normativa, a dramaturgia e sua
auto-referente que estranhamente me
invisibilidade se dariam nas fronteiras, nas
mobiliza enquanto pesquisadora e artista. E
margens daquilo que é visível e central.
é assim que o jogo movimentado por
Dessa forma, a invisibilidade ocupa a
interesses e desejos dos figureiros e das
posição periférica, sendo consumada no
figuras, associados aos estados do corpo
plano temporal do espetáculo (em sua
dos brincadores, articula sentidos que
duração ela se faz e se consome) se
permeiam a brincadeira, na sua dimensão
contrapõe e subverte a visibilidade ligada à
corporal, dramatúrgica, estética e poética.
espacialidade e ao sentido tradicional de
teatro. Na efemeridade característica do
A brincadeira do Cavalo Marinho sob um
ato performativo se articulariam os
ponto de vista dramatúrgico
sentidos, se estreitariam as relações entre
estes, sendo sua condição de existência o
Ao buscar um entendimento sobre
seu próprio desaparecimento. Pais (2004),
dramaturgia, compartilho as ideias de Ana
a partir da teoria de Peggy Phelan (1997),
Pais (2004; 2010) sobre esse tema,
mais precisamente por meio de seu
considerando sobretudo o seu aspecto
conceito unmarked, afirma a condição
temporal a fim de pensar como isso ocorre
transgressiva e subversiva da invisibilidade,
no Cavalo Marinho. A autora, ao tratar a
do silêncio e do não reproduzível em
dramaturgia como um conjunto de relações
contraponto ao paradigma vigente no qual
invisíveis que são tramadas no interior do
a visibilidade “circunscreve e atesta a
processo de criação de uma obra, a
existência do real” (PAIS, 2004, p. 85).
compreende como práxis realizada por
Para Phelan (1997) o visível se associa à
ações de cumplicidade. Tendo esse termo
lei e à vigilância. A performance ao ser

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constituída pela sua desaparição, se cultura dominante, também pode ser


tornaria assim, um ato de resistência ao identificada como uma condição de
visível como única condição de existência invisibilidade. Segundo Santos (2010, p.
do real. Por esse motivo, a autora afirma 34), a linha abissal, invisível, que separa o
que a partir de Phelan (1997), o valor e a conhecimento do ocidente do resto, atribui
participação do invisível na construção da a esse resto o estatuto de “[...] crenças,
representação não pode ser ignorado. opiniões, magia, idolatria, entendimentos
intuitivos ou subjetivos, que, na melhor das
A dramaturgia consubstancia uma hipóteses, podem tornar-se objetos ou
transgressão, inconformista mas matéria-prima para a inquirição científica.”
complementar do visível. A lei deste
último é infringida na medida em que é A ciência, a filosofia e a teologia do lado
através da invisibilidade da visível, atestando o que é verdadeiro e o
dramaturgia que o espetáculo é que é falso, o que é legal e ilegal, e do
constituído. Das margens do visível, outro lado, invisível ou inexistente, o resto
das dobras implícitas, surgem relações
de sentido que se desenrolam, dos conhecimentos. Assim é preciso,
indeléveis, no tempo do espetáculo. considerar as relações dramatúrgicas,
(PAIS, 2004, p. 85) também, do jogo social que envolve o lugar
no qual se encontra a brincadeira em nossa
A dramaturgia, dessa maneira, transgride sociedade estratificada e suas diferenças
na medida em que “recria as formas do em relação às performances que estão
visível” (PAIS, 2004, p. 84). Assim, ela dentro dos cânones.
criaria mundos ao possibilitar diferentes
percepções e articulações de sentidos de A dramaturgia da brincadeira, desenvolvida
acordo com o olhar do espectador. Neste em seu processo de “gestação”, não
sentido, quando me questiono sobre as acontece nem numa duração, nem num
dramaturgias da brincadeira, me pergunto espaço comparável ao de um espetáculo
quais os mundos possíveis criados por ela. ou obra nos modos do teatro ocidental
convencional. Não se dá no tempo de uma
Entretanto, ressalto que o que se institui produção, nem entre as quatro paredes de
como visível e como invisível, não se dão uma sala de ensaios, mas em percursos de
apenas dentro de uma perspectiva da tempo e espaço que passam por gerações,
cena, mas podem ser abordados por um e deslocamentos que envolvem as vidas
viés epistemológico. O poder requerido à dos brincadores e seus trânsitos na região
invisibilidade, a partir de Phelan (1997), se da Zona da Mata Norte desde o período
relaciona de certa maneira com as colonial. Dá-se, portanto, por meio de
sociologias das ausências de Boaventura processos sociais e históricos, diretamente
Santos (2008), na medida em que este relacionados aos modos de produção e à
também reivindica o poder àqueles que economia da região, aos valores estéticos
estão em condição de invisibilidade. Desta e éticos da vida/brincadeira dos
maneira poderia dizer que a condição brincadores. Além disso, não seria apenas
performativa do Cavalo Marinho, não um único olhar que organizaria, escolheria
reproduzível e localizado às margens da e possibilitaria as relações de sentidos que

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perpassam os materiais que estruturam a penso que a dramaturgia da brincadeira


cena, mas diversos olhares e ao mesmo poderia ser definida desde a sua
tempo diversas circunstâncias. Também contratação até a volta à casa dos
não é possível acreditar apenas na ideia de brincadores. Pois sua preparação
que exista uma dramaturgia pré- determina sua duração, quem vai brincar –
estabelecida pela “tradição”, pois embora o mestre, depois de fechar o contrato, irá
os materiais a serem apresentados chamar os brincadores – e onde se brinca,
atualmente na brincadeira venham de podendo ser rua, praça, terreiro etc., por
processos de conservação, as relações de vezes definido apenas quando todos
sentido que esses materiais estabelecem tenham chegado juntos ao local. Assim,
entre si variam de acordo com muitos percebo como os nexos de sentido da
fatores circunstanciais da atualidade, brincadeira resultam de articulações de
incluindo o modo como cada brincador ideias, partes e figuras que envolvem
atua. decisões, imposições e circunstâncias que
vão muito além do que acontece na
Como propõe o pesquisador Érico Oliveira
brincadeira em si.
(2006) ao descrever a organização da
brincadeira em termos de uma estruturação Nas brincadeiras observadas, o indivíduo
flexível, há uma sequência geral repetida responsável por escolher o quê ou com o
com maior frequência, entretanto, em quê se brinca a cada noite pode ser o
grande parte da brincadeira as decisões mestre, exercendo assim, as funções do
sobre quais e em que momento as figuras dramaturgo – o que acontecia de forma
devem ser colocadas, e a duração de sua mais frequente quando havia mais ensaios
apresentação na roda, pode variar muito. –, mas quase nunca as escolhas se dão
Acselrad (2002), definindo-a enquanto apenas por uma vontade própria. As
estrutura aberta, suscetível a mudanças, escolhas ou a ordem das sequências de
mostra que ela se transforma por assimilar entrada e saída de figuras são realizadas
ou absorver informações novas, mas nem sem necessariamente haver uma escolha
por isso se desintegra possuindo prévia, elas podem acontecer no
linguagem própria. Segundo a autora, a desenrolar da brincadeira. Uma pessoa
brincadeira seria constituída por etapas que mais experiente (não necessariamente o
se sucedem sem obedecer a uma ordem Mestre, mas também o Mateus, por
rígida, o encadeamento dessas etapas, ou exemplo) pode ser responsável por essas
figuras, determinaria o ritmo da brincadeira. escolhas e assim orquestrar as entradas e
Com esse termo, ritmo, destaca a ideia de saídas das figuras. A vontade de um
que a brincadeira se constitui por partes ou figureiro de botar determinada figura pode
passagens – termo usado pelos definir também quais figuras aparecem
brincadores. O modo como se encontram naquele dia na roda. O grau de
divididas e, ao mesmo tempo, interligadas, conhecimento sobre cada figura, que varia
define como a cada noite a brincadeira com a experiência de cada brincador,
seria experimentada. A partir dessas ideias,

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também determina quais e como das escolhas, durante momentos nos quais
acontecem os episódios. parece que nada acontece – quando
discutem o que fazer ou como fazer, por
As escolhas dramatúrgicas, quando feitas
conta de algum figureiro atrasado, ou do
no momento da brincadeira, são realizadas
banco que, por não saber qual figura
sem uma aparente preocupação em manter
entraria, não soube tocar a toada certa, ou
a discrição sobre o que está sendo
mesmo por uma dispersão qualquer –, tudo
decidido. Sobretudo nas brincadeiras de
isso se torna parte da dramaturgia e da
Mestre Biu Alexandre e de Biu Roque, as
composição ao mesmo tempo. Uma
decisões e dúvidas são evidentes e sempre
dramaturgia que se resolve não por meio
me chamaram muito a atenção. As
de uma centralização de decisões em torno
interrupções para acordar sobre qual figura
da figura do mestre, como seria o habitual,
entrará, qual toada será tocada, qual loa
mas na dispersão e na simultaneidade de
será dita são constantes nesses
eventos, na exposição daquilo que
brinquedos e isso não parece perturbar
comumente seria esperado fazer parte de
nenhum brincador. O fato do acordo
uma dimensão invisível da cena enquanto
acontecer em cena demonstra uma outra
prática dramatúrgica. Ao expor essa
convenção cênica diferente do teatro
dimensão, ela mesma se torna material da
ocidental que aproxima o Cavalo Marinho
cena e com ela um possível campo de
da arte da performance, como também foi
invisibilidade e potência de criação de
apontado por Mariana Oliveira (2006). É
sentidos se abre.
perceptível que na brincadeira, apesar dela
se estruturar a partir de elementos que são A brincadeira do Cavalo Marinho, como o
identificados ao campo da representação espetáculo, se realizaria nesse ponto de
(associado aos recursos da ficção e da cruzamento entre um espaço visível e um
ilusão), o que se sobressai é da ordem do tempo invisível, compreendendo a sua
acontecimento, o jogo cênico se estabelece duração. Esta última, sendo extremante
evidenciando a realidade. variável, torna sua dramaturgia múltipla
desde o princípio. Mas, além disso, as
Observo isso ao verificar que a vida
temporalidades sobrepostas constituintes
cotidiana está sempre presente na
de um plano de contiguidade entre real e
brincadeira, sem que haja grande distância
ficcional – também presente no teatro
entre figura e figureiro, brincador e
contemporâneo (LEHMANN, 2007) – teria,
espectador, brincadeira e vida cotidiana.
a meu ver, uma relação direta com a
Pavis (2001, p. 07), em seu Dicionário de
invisibilidade de sua dramaturgia.
Teatro, explica o verbete acontecimento, se
Primeiramente, é preciso considerar as
referindo à experiência que se dá entre ator
temporalidades evocadas pelas figuras e
e público no momento da apresentação. No
experienciadas na brincadeira, no
caso da brincadeira estudada, talvez seja
cruzamento entre a dramaturgia do
possível afirmar que o acontecimento é
brincador e a dramaturgia da brincadeira.
criado pela relação brincador/brincador,
Esta pode ser pensada por cruzamentos
mais do que brincador/público. Mas o que é
espaço-temporais nos quais se sobrepõem
interessante destacar é que a exposição

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Corporalidades e sentidos ambivalentes

tempos históricos, tais como os da blasfemas.” (SANTOS, 2008, p. 208).


escravidão, do engenho, da usina e atuais. Assim, os materiais da brincadeira,
Estes últimos envolvem as transformações fragmentos do passado e do presente, de
sofridas, sobretudo pelo fato dos diferentes fontes e mídias (literatura de
brincadores jovens não estarem mais cordel, canções, repentes e outras
vinculados ao trabalho no campo, e pela brincadeiras), encontrados dispersos no
brincadeira vir se tornando também um tempo e no espaço se articulam por essa
produto cultural regido por leis de mercado outra lógica. Como foi dito na introdução, o
e do governo ao impor políticas que Cavalo Marinho se constitui justamente
determinam formatos de apresentação. pela mistura de diversos fragmentos de
Dessa maneira, sua dramaturgia envolveria outros brinquedos e festividades da região,
diversos sentidos de tempo, enquanto uma como os pastoris, o mamulengo, as festas
duração sempre mutável e enquanto para São Gonçalo, os reisados. Esse
temporalidades diversas, históricas e processo pode ser exemplificado pela
ficcionais. incorporação, por parte de alguns
brincadores, de algumas figuras de outro
Como dito anteriormente, a junção e
Cavalo Marinho. Assim, “roubar” uma
sobreposição de tais temporalidades e
figura de outra brincadeira faz parte dos
materiais diversos que constituem a
modos de inclusão e proliferação desses
brincadeira não é responsabilidade
materiais, que se articulam com o tipo de
individual, mas coletiva, com contribuições
aprendizagem, por imitação. Aguinaldo da
pessoais que se transformam e
Silva explica como aprendeu e como seu
permanecem ao longo de um processo
Cavalo Marinho passou a botar uma figura:
histórico. Entretanto, o que tais escolhas
revelam é uma maneira própria de propor O Nego Quitanga! Nego Quitanga, é
articulações de sentidos, ou seja, de uma figura besta e a gente viu isso
realizar dramaturgias. aonde? A gente viu no Cavalo Marim
de Seu Antonio Teles, mas ele botou
Nessa perspectiva, penso o Cavalo duas crianças pra fazer esse papel e
Marinho constituído por materiais eu fiquei olhando assim..., e Fábio
Soares tava nesse dia e falou:
heterogêneos apropriados e rearranjados
“Padrinho, bora botar Nego Quitanga?”
de maneira reveladora de uma lógica Eu falei: “Bora!”. Seu Antonio Teles
mestiça de pensamento, tal como proposto botou, só que num pegou
por Gruzinski (2006), ou mesmo por Santos conhecimento porque foi aqui em
Condado, e com duas crianças que
(2008) ao abordar as culturas da América
não faziam o que adulto faz. E
Latina caracterizadas por um ethos peguemos fazer esse papel e o povo
Barroco. Tais modos particulares de achou bonito, achou bom, aí hoje
pensamento mostram que “[...] o que se quando os outros Cavalos Marim
viram, todo mundo bota. Mas a
produz são novas constelações de sentido,
verdade precisa ser dita, começou de
que à luz dos fragmentos constitutivos são Seu Antonio Teles, que era uma figura
verdadeiramente irreconhecíveis e que existia e não se botava mais no

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Cavalo Marim. Seu Antonio Teles Lucindo afirma ter tido contato com esse
mandou os meninos botá, passou a livro através de uma “cientista”,
dica pros meninos, a gente viu, e a
gente encaixou na história. E quem supostamente uma praticante das Ciências
pegou a fama nessa figura foi a gente Ocultas e que daí viriam o poder e a
aqui, não foi nem Antonio Teles. E sensibilidade, adquiridos por ele para botar
quem era pra pegar a fama era eles, a figura do caboclo de Arubá, que é
mas eu não vou negar que a gente fez
o que a gente sabia porque a gente também uma entidade da Jurema7.
viu. (apud LARANJEIRA, 2013, p. 195)
Esse relato é particularmente interessante
para pensar a junção entre o sagrado e o
Os fragmentos viriam de diferentes lugares.
profano na brincadeira. A comicidade e a
Sebastião Pereira de Lima, conhecido
sexualidade se encontram no mesmo
como Seu Martelo e experiente Mateus da
espaço da festa, por vezes,
região, afirma que, além de criar loas
simultaneamente à religião, como na parte
(versos) próprias e aprender por
onde cantam para a Estrela do Oriente,
observação em brincadeiras de Cavalo
símbolo relacionado ao nascimento de
Marinho, também trouxe outras de um
Jesus. Entre um verso e outro cantado em
reisado da Paraíba e de um cordel recitado
homenagem aos Santos Reis (reis magos),
numa praça (OLIVEIRA, M., 2006). Borba
Mateus e Bastião fazem gestos que
Filho (2007) afirma que na formação do
remetem ao ato sexual. No momento de
Bumba meu boi fizeram parte o romanceiro
predominância católica, quando se espera
e a literatura de cordel. Murphy (2008)
uma seriedade própria dos ritos religiosos
relata que mestre Batista tinha folhetos de
dessa tradição, o escárnio e a zombaria
cordel de onde tirava versos para a figura
convivem com a religiosidade.
do Vaqueiro. E ainda sobre Batista, mestre
Inácio Lucindo diz que este havia A confluência de práticas religiosas e suas
aprendido as figuras dos Bodes em um visões de mundo fazem parte dos materiais
livro. O mesmo brincador faz menção a um que se articulam para formar dramaturgias
outro livro que pode ser entendido como singulares na brincadeira. O aspecto
uma referência também encontrada no religioso seria um desses elementos
Cavalo Marinho, o Livro de São Cipriano. invisíveis que permeiam e dão forma à
Muito popular no Brasil, seja no meio rural dramaturgia corporal do brincador e da
ou urbano, é um misto de narrativas e brincadeira. Elas articulam sentidos desde
lendas da vida deste santo-feiticeiro, com a preparação da brincadeira, ou muito
receitas, feitiços, histórias de tentação e de antes, desde a formação religiosa do
conversão, incluindo o pacto com o diabo e brincador que evidencia fortemente modos
ensinamentos para enfrentar situações
adversas (FERREIRA, 1992). É um livro
7 Prática religiosa bastante difundida em Pernambuco e
maldito, temido por lhe atribuírem grande na Paraíba. José Jorge de Carvalho (1998) explica que a
poder e, muitas vezes, interdito. Desse livro palavra jurema designa tanto o culto, quanto uma árvore
sagrada (Pithecolobium tortum) e, ainda, a infusão, de
não saiu nenhuma figura do Cavalo poder alucinógeno moderado, feita com a entrecasca e a
Marinho, mas um conhecimento para botá- raiz da árvore. Além disso, a Cidade do Juremá é uma
das moradas celestes onde moram as entidades
la de maneira específica. Mestre Inácio sobrenaturais, os Caboclos e Mestres.

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Dramaturgias do Cavalo Marinho:
Corporalidades e sentidos ambivalentes

de ser que têm por herança as culturas (2004, p. 85) –, da cultura que está do “lado
indígenas e africanas. Para tais culturas, o visível da linha abissal” – para usar o termo
corpo e a dança são meios de ligação entre de Santos (2010, p.33) –, e a
o mundo vivido e o mundo das divindades, figura/entidade, representante da religião
entre a doença e a cura, entre o profano e que foi objeto de perseguição policial e
o sagrado, ou ainda, entre o praticante e o cerceamento durante muito tempo.
espírito. Escutei em uma das viagens a
campo o termo, espritar, um verbo de ação Uma dramaturgia corporal que dialoga
para designar tais ligações num terreiro de com a dramaturgia da brincadeira
candomblé de Condado-PE. Quando ouvi a
palavra perguntei, utilizando uma maneira A tomada de fragmentos e a reorganização
adaptada de uma expressão já escutada destes num todo coerente não são restritas à
em terreiros de candomblé na Bahia, para brincadeira. A religiosidade presente nesse
me referir à incorporação do orixá. Eu ambiente também inclui, absorve e recria a
disse: “ah, pegar espírito?” E a esposa de realidade histórica e diversas outras práticas
Aguinaldo da Silva, Ivanice, explicou: “os religiosas que se misturam no que é chamado
esprito já estão neles, eles se espritam”. de Umbanda, Jurema e Catimbó. Por isso
Esta explicação sugere um tipo de mesmo não é apenas uma estética, mas uma
pensamento “materialista espiritual”, que sociabilidade singular que é experimentada
reafirma a centralidade do corpo nessas com o Cavalo Marinho ou em seu entorno.
práticas religiosas evidenciada por meio de Dessa maneira, é possível dizer que sua
uma corporalidade específica. temporalidade permite essa abertura, inclusão
e proliferação de materiais, e só assim
Assim, no Cavalo Marinho, a religiosidade
proporciona os encontros e cruzamentos entre
se exprime pela devoção católica, com
uma diversidade de fragmentos. O tempo da
seus louvores, pela prática ritual da Jurema
performance da brincadeira é um tempo no
manifestada no transe do brincador ao
qual pode ser estendido por muitos
botar o Caboclo, mas também se relaciona
acontecimentos, por uma proliferação de
ao imaginário pagão, já que a entidade foi
encontros, convergências, confluências entre
associada ao Livro de São Cipriano. Tais
figuras, loas, toadas, samba, bonecos, bichos,
práticas se combinam no mesmo espaço
práticas religiosas, humor e crítica social. Mas
da brincadeira, porém não tão próximas no
também esses encontros, que por inclusão
tempo de sua duração. É possível dizer
geram misturas, se dão ao longo da formação
que estejam mesmo propositalmente
da brincadeira e ao longo de um tempo
distantes, já que a homenagem aos Santos
histórico no qual tais temporalidades também
Reis acontece no início da noite e o
se consumam. Nos cruzamentos de tempo
Caboclo da Arubá aparece mais tarde. O
real e ficcional que se articulariam esses
momento dos cantos e loas que remetem
elementos e se estruturariam sentidos em uma
ao catolicismo considero como
lógica própria.
representantes da “lei e da vigilância” –
para citar Phelan (1997) a partir de Pais

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Carolina Dias Laranjeira

Ao considerar a dramaturgia corporal do violência das relações de trabalho e de gênero,


brincador, pensada à luz da dramaturgia do ao mesmo tempo, pela alegria e liberdade de
corpo de Greiner (2005), enquanto nexos de rir de si mesmo e do outro, de se pensar e se
sentidos gerados pela troca de informações criar em novos mundos. Mais do que pensar
entre corpo e ambiente, ainda mais um na inversão ou na afirmação de hierarquias, ou
aspecto se impõe nesta análise. A em outras palavras, na acomodação ou na
multiplicidade e diversidade vistas na maneira resistência, é preferível considerar a
como os materiais da brincadeira se articulam multiplicidade de sentidos que podem
criando sentidos múltiplos em uma estrutura abranger ideias, sensações e qualidades
dramatúrgica aberta e inclusiva, podem ser contrastantes. O que parece marcar essa
vistas também nas corporalidades dos multiplicidade de sentidos é a ambivalência
brincadores. Os trupés (padrões de movimento própria da corporalidade do brincador, do seu
percussivos) são firmes, fortes e diretos, mas ambiente e da sua história.
as articulações são soltas. O tombo (padrão de
movimento que direciona o peso do corpo para Recebido em: 10/05/2018
o chão) também tem sua pisada seca e Aceito em: 30/05/2018
sonora, mas se faz com uma leve ondulação
do tronco. O corpo mungangueiro8 é Referências Bibliográficas
mamulengueiro, é multifocado, seus braços
estão soltos, pendurados na cintura escapular ACSELRAD, Maria. “Viva Pareia!” A arte da
bem estruturada e apoiada no tronco fixo. brincadeira ou a beleza da safadeza: Uma
Assim, por vezes, os braços chicoteiam o ar, abordagem antropológica da estética do
enquanto a parte inferior do corpo imprime Cavalo Marinho. Dissertação (Mestrado em
força direcionada ao chão. Trata-se de Antropologia) - Instituto de Filosofia e Ciências
Sociais, Universidade Federal do Rio de
movimentações que combinam a contenção e Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.
o excesso na própria estrutura e organização
postural. Para se bater os trupés é preciso BARBA, Eugenio; SAVARASE, Nicolas. A
estabilizar a cintura pélvica, através da Arte Secreta do Ator: Dicionário de
contração do abdômen, inclinar o tronco para Antropologia Teatral. Campinas: Hucitec,
frente em ângulo que posiciona o corpo em 1995.
equilíbrio precário (BARBA; SAVARASE,
BORBA FILHO, Hermilo. Espetáculos
1995) e ao mesmo tempo, deve-se populares do nordeste. Recife: Massangana,
movimentar as pernas com bastante agilidade 2007.
para acompanhar o ritmo acelerado do baião.
BRUSANTIN, Beatriz de Miranda. Capitães e
A meu ver, a materialidade que se apresenta Mateus: relações sociais e culturas festivas e
no e pelo corpo brincador produz sentidos de luta dos trabalhadores dos engenhos da
ambivalentes. Apresentam-se pela sujeição e mata norte de Pernambuco (comarca de
Nazareth – 1870-1888). Tese (doutorado) -
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
8 Munganga é um termo encontrado na região que Universidade Estadual de Campinas,
designa traquejo, malícia, trejeito característicos que Campinas, 2011.
marcam a maneira pessoal de cada brincador se
movimentar.

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Dramaturgias do Cavalo Marinho:
Corporalidades e sentidos ambivalentes

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