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Ariane Oliveira1
Dos pelos, peles, ex(crescências) e entranhas a que não se permite chegar à luz
do sol, desde aí vem a vontade de criar e de ser e de dizer, derramar, dar amor, ser mar,
com um corpo potência inserido na linguagem, que é também um corpo silêncio,
potente porque fala do que não se pode dizer, delicadeza caótica de um trabalho
armadilha (Deleuze, Guattari, 2014). Passo em falso num turbilhão violento de ideias.
Corpo afundado no discurso, que busca a superfície no fazer e que volta a necessidade
de com palavra dizer. Palavra como terra. De tantas vezes ter perdido as referências,
tendo apenas as mãos e o sentir, desfaço o chão com a imagem, e o retomo com a
palavra.
Busco encontrar meu próprio tempo através das coisas. Bordo com o
conhecimento que carrego nos bolsos. Entendo o ato como expressão de uma trajetória.
Como os caminhos desenhados nas mãos nas intervenções em fotografia de Annette
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Graduanda em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Elabora sua pesquisa a
partir da poética do corpo e suas afetações. Participou de exposições coletivas em Porto Alegre.
Messager, ou como os pelos que não pedem permissão nas fotografias de Francesca
Woodman. Uma solidão revelada e compartida aos olhos dos outros, em uma carta de
Lygia Clark a Mondrian (Clark, 2014). Um enterrar-se para continuar vivendo, como
Ana Mendieta. Um deixar de seguir passos alheios e passar a viver no próprio corpo-
barco para assim poder então acessar o universo do outro, que é sempre um pouco de
nós mesmos. Somos feitos matéria-trama, o corpo é um caminho, mapa de cicatrizes.
Assim, entrego-me ao fazer num movimento de ser tanto de mim mesma para então
poder ser também outras e outros. Uma mulher com força e consciente da dificuldade de
buscar e consolidar um lugar nas artes visuais, a exemplo de Louise Borgeois, mas
também um bordado sem pretensão, baseado em Leonilson e Arthur Bispo do Rosário.
Um trabalho transitório e transitante, que pode habitar lugares diversos por sua
transmutabilidade informal e errante. Uma vontade de falar de complexidades e
profundezas através do simples e encontrar rastros de verdade no ruído, no resto, no que
excede sem pedir licença. Palavras, traços e trançados em processo. Memórias repetidas
à similitude labiríntica que atualiza (Foucault, 1988). Infiltração cujo significado só
pode ser encontro em sua oculta obscuridade. Nem controle, nem descontrole, um estar
fora da estrutura e poder ser num tempo-espaço suspenso. Uma borboleta mariposa, que
não se preocupa se feia ou bonita. Mãe, pai, homem, mulher, algo no entre de tudo isso,
um riso risco, rio alto, grito, um sem nome, nome de ninguém no entre de qualquer
lugar incerto e não sabido onde escrevo e me desdobro, enquanto revelo o que há dentro
de mim através do fazer que transforma a materialidade.
Referências
BOURGEOIS, Louise. Desconstrução do pai, reconstrução do pai. São Paulo: Cosac &
Naif Edições, 2000.
CLARK, Lygia. Carta a Mondrian. In: Escritos de artistas, anos 60/70. Rio de Janeiro:
Zahar, 2006.
DELEUZE, Gilles, GUATTARI, Félix. Kafka por uma literatura menor. Tradução de
Cintia Vieira da Silva. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.
FOUCAULT, Michel. Isto não é um cachimbo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.