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XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano


COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Redução da permeabilidade de amostras compactadas de solos


areno-argilosos com a percolação de água de produção de petróleo
devido à dispersão da argila.
Fernando Antonio Leite Vieira Lima
Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, fernando.vieira.lima@hotmail.com

Dr. Sandro Lemos Machado,


Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil, sandrolemosmachado@gmail.com

RESUMO: Ao contrário do que é esperado durante a percolação de um fluido por um meio poroso,
em alguns casos, após a completa saturação, a permeabilidade não se mantém constante. Em
diversas áreas do conhecimento é conhecido o fenômeno da redução da permeabilidade (k) devido à
obstrução por dispersão da argila. Este trabalho utilizou ensaios de coluna realizados em amostras
compactadas de grandes dimensões com diferentes solos e sob diferentes condições de
compactação, mensurando ao longo da percolação a permeabilidade e analisando quimicamente o
fluido percolado coletado, permitindo a verificação da ocorrência de obstrução do meio poroso por
dispersão da argila. Os resultados obtidos indicam a obstrução do meio poroso pode reduzir a
permeabilidade do solo ao fluido em mais de mil vezes e que este fenômeno está relacionado à
concentração de sódio no fluido de percolação e à quantidade de argilo-mineral no solo.

PALAVRAS-CHAVE: Redução de permeabilidade, dispersão de argila, fluido de produção de


petróleo.

1 INTRODUÇÃO Além das causas citadas por estes autores,


também é citada na literatura, principalmente na
Em alguns casos, mesmo após a completa Agronomia e na Engenharia de Petróleo, a
saturação do meio poroso, a sua permeabilidade obstrução por dispersão da argila (GRAY E
(k) ao fluido de interesse não apresenta REX, 1966; REED, 1972; CURTIN ET AL.,
estabilização, sendo que por conta de mudanças 1994, MOGADHASI ET AL., 2004)
nas suas propriedades pode ocorrer tanto a Segundo o “United States Departament of
diminuição quanto o aumento do valor de k. Agriculture” ou U.S.D.A. (1954), o movimento
Tais mudanças podem ser oriundas de da água de chuva ou de irrigação através dos
fenômenos físicos, químicos ou biológicos solos é capaz de causar deterioração estrutural e
(VANDEVIVERE E BAVEYE, 1992C). diminuir a sua permeabilidade. De acordo com
Shackelford e Jefferis (2000) realizaram ensaios Curtin et al. (1994), a irrigação com águas que
com mistura de cimento e bentonita e água e apresentam altas concentrações de sódio (Na)
citam as seguintes causas para a redução da em relação a cátions bivalentes (ou seja, águas
permeabilidade: a) obstrução por deposição de sódicas) pode causar deterioração da estrutura
carbonato de cálcio nos poros do material; b) do solo. Quando as soluções diluídas são
obstrução por deposição de qualquer matéria em introduzidas no solo, a argila pode expandir e
suspensão presente na água e c) obstrução por dispersar e pode ser movida para baixo do perfil
atividades de bactérias e formação de biofilme. na solução percolante. Isto pode preencher
parcialmente ou bloquear poros e canais no solo
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e reduzir ainda mais a permeabilidade. Segundo Mogadhasi et al. (2004), meios


(ROWELL EL AL., 1969) porosos com baixa permeabilidade são mais
Pupisky e Shainberg (1979) realizaram suscetíveis à diminuição de permeabilidade por
ensaios de coluna utilizando uma areia argilo- dano de formação que meios porosos com alta
siltosa da região da costa de Israel e concluíram permeabilidade inicial.
que o expansão da argila não é a causa direta e O presente trabalho apresenta o uso de
principal da diminuição da condutividade ensaios de coluna realizados em amostras
hidráulica em solos poucos sódicos. Por outro compactadas de grandes dimensões com
lado, a dispersão e o movimento das partículas diferentes solos e sob diferentes condições de
de argila que podem então bloquear os poros compactação para avaliar o comportamento
condutores são provavelmente os principais hidráulico durante a percolação do fluido de
mecanismos que controlam a condutividade produção de poços de petróleo. O programa
hidráulica do solo. experimental proposto consistiu em realizar
Na área da produção de petróleo, Mohan et al ensaios de coluna, mensurando ao longo do
(1998) afirmam que a maioria das formações de tempo o k e analisando quimicamente o efluente
arenito com suporte de óleo contém argilas, coletado. As análises químicas do efluente
expansivas ou não. No decurso da perfuração e forneceram parâmetros como concentração de
recuperação de óleo, estas argilas causam uma cátions (Mg, magnésio; Ca, cálcio; K, potássio;
redução na permeabilidade das formações de Na, sódio), potencial de hidrogênio (pH),
arenito consolidadas devido ao contato com condutividade elétrica (CE) que, quando
fluídos de perfuração. comparados com o resultados obtidos para o
Segundo Gray e Rex (1966) a explicação fluido de entrada, permitiram calcular o balanço
para a dispersão das argilas seria que uma certa de cátions e a variação do pH e CE ao longo da
proporção das lâminas de mica de camada mista percolação. Além destas análises, para auxiliar
e cristais de caulinita crescem nas superfícies de o entendimento dos fenômenos estudados,
outros minerais, como o quartzo. Esses cristais foram realizados ensaios de caracterização dos
de argila seriam mantidos somente por forças solos como: caracterização geotécnica,
fracas de van der Waals e pela atração Coulomb determinação da curva de retenção, ensaio FRX
de laços compartilhados por cátions bivalentes, (Fluorecência de Raios-X) e e DRX (Difração
como o cálcio. de Raios-X). Com os resultados obtidos através
A substituição de cátions bivalentes pelos da análise dos fluidos e dos solos contaminados
monovalentes da solução, os quais são foi possível verificar se a hipótese da causa da
fortemente hidrolisáveis, faz com que as redução de k por dispersão da argila estaria
superfícies de silicato tornem-se mutuamente ocorrendo e quais as variáveis importantes que
repulsivas por causa de sua forte carga negativa podem influenciar este fenômeno.
(FOSTER, 1955). Esta repulsão mútua
forneceria as pressões necessárias para dispersar
as partículas e mantê-las em suspensão em um
estado de solução.
Gawel (2006) afirma que a agregação do solo
é destruída pela introdução de grandes
quantidades de íons de sódio na água. As altas
concentrações de sódio causam desequilíbrio na
capacidade de troca de cátions e promovem um
estado de dispersão. Quando a agregação é
destruída pelo sódio, ocorre a dispersão das
partículas do solo.
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2 METODOLOGIA dos ensaios de Difratometria de Raios-X


(DRX). Os dados obtidos nos ensaios DRX
2.1. Caracterização do Solo estão apresentados na Tabela 3 para cada solo:

Os ensaios de caracterização geotécnica do solo Tabela 3. Resultados do Ensaio DRX


foram realizados com o objetivo de determinar a Solo
distribuição granulométrica, o peso específico Composto (%) Solo Solo
das partículas sólidas, ρs, limite de liquidez, Vermelho
Solo Várzea
Piçarra
WL, limite de plasticidade, WP, permitindo a
Quartzo 47,42 20,36 7,25
classificação dos solos conforme o SUCS
(Sistema Unificado De Classificação Dos Clorita 20,42 0 0
Solos) e a NBR 6502 (1995), conforme Caulinita 0 14,21 28,14
apresentado nas Tabelas 1 e 2. Dickita 0 0 22,70
Nacrita 0 0 12,41
Tabela 1. Distribuição Granuométrica
Microlina 10,95 13,20 0
Descrição Ensaio de Granulometria (%)
ρs (g/ cm³) Titanita 6,37 0 0
do Solo P AG AM AF S A
Calcita 9,39 0 0
Solo
9 12 27 26 10 16 2,71 Macfalita 1,26 0 0
Vermelho
Solo Amorfo 21,20 35,20 29,50
1 4 18 28 14 35 2,73
Várzea
Solo Como última etapa da caracterização foram
22 9 11 18 12 28 2,79
Piçarra realizados ensaios de compactação para
determinar a umidade ótima de compactação
Legenda: (wot) e a massa específica seca máxima de
P = Pedregulho; AG = Areia Grossa; AM = Areia compactação (ρdmáx), conforme está
Média; AF = Areia Fina; S = Silte; A = Argila apresentado na Tabela 4 e na Figura 1.

Tabela 4. Energias de Compactação, Umidade Ótima e


Tabela 2. Classificação dos Solos. Peso Específico Seco por Tipo de Solo
Classificação Umidade
Descrição do Solo Descrição Energia de ρdmax
Grav. Ótima
SUCS NBR 6502 (1995) do Solo Compactação (g/cm³)
(%)
Areia argilo-siltosa com Solo Proctor
Solo Vermelho SC 8,92 2,003
pouco pedregulho Vermelho Modificado
Areia argilo-siltosa com
Solo Várzea SC Solo Várzea Proctor Normal 15,58 1,664
vestígios de pedregulho
Areia argilo-siltosa com
Solo Piçarra SC Proctor Normal 15,60 1,780
pedregulho

Legenda: E=9
Solo Piçarra 15,19 1,840
kgf·cm/cm³
SC = Areia Argilosa
Proctor
14,95 1,880
Intermediário
Além dos ensaios de caracterização
geotécnica, foram realizados ensaios de
caracterização mineralógica do solo através dos
ensaios de Fluorescência de Raios-X (FRX) e
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Tabela 5. Concentração de Cátions no Fluido de


Contaminação
K Mg Ca Na
Ensaios
(mg/L) (mg/L) (mg/L) (mg/L)

Vermelho
8,79 51,0 2,4 279
CP1 e CP2

Várzea
(CP1, CP2, 14,8 44,5 14,8 277
CP4)

Piçarra CP1 11,5 10,7 9,2 940

Figura 1: Curvas de Compactação dos Solos


Piçarra CP4 19,1 3,2 430,0 440
2.2. Determinação das Curvas de Retenção

Neste trabalho foram utilizados dois métodos Piçarra CP5 11,5 10,7 9,2 940
experimentais para a determinação/imposição
da sucção nas amostras de solo: a câmara de
pressão e método do ponto de orvalho “WP4 Piçarra CP6 0,3 1,0 13,6 417
Dewpoint Potencial Meter”. As curvas de
retenção obtidas foram modeladas ajustando os
Piçarra CP7
valores experimentais às equações de Van 122,2 0,9 4,5 498
e CP8
Genutchen (1980) e ao modelo Duplo Van
Genutchen (CADUCCI ET AL., 2011).
2.4. Ensaios de Coluna
2.3. Caracterização dos Fluidos
Os Ensaios de Coluna foram realizados em um
Os fluidos utilizados neste trabalho foram aparato composto pelos seguintes componentes:
caracterizados quimicamente, no Laboratório de torre, reservatório, colunas de percolação e
Estudos do Petróleo (Lepetro) determinando-se sondas. Os corpos de prova das colunas de
os seguintes parâmetros: concentração de percolação foram compactados com 40 cm de
cátions (Na, Ca, K e Mg) Condutividade altura e 19,2 cm de diâmetro em cilindros de
Elétrica (CE) e potencial de hidrogênio (pH). PVC. A ilustração do aparato está apresentada
A condutividade elétrica dos fluidos foi na Figura 2:
determinada de acordo com o método 2510 A/B Durante todo o ensaio foi monitorada,
("American Public Health Association", APHA, periodicamente, a altura da coluna do
2012) e variou de 1.780,00 μS/cm a 14.180,00S/cm a 14.180,00 reservatório. Deste modo, foi possível obter
μS/cm a 14.180,00S/cm. tanto a vazão do fluido no reservatório quanto a
O potencial de hidrogênio (pH) dos fluidos carga hidráulica aplicada (no caso dos ensaios
foi determinado de acordo com o método 4500- com pressão, utilizou-se também um
H+B (APHA, 2012) e variou de 5,54 a 8,07. manômetro analógico conectado ao sistema).
Na tabela 5 são apresentadas as Na base da coluna foi colocado um frasco de
concentrações dos cátions dos fluidos de vidro com capacidade de aproximadamente 250
entrada em cada amostra utilizada no estudo. cm³ com uma vedação incipiente através de
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uma tampa de pvc. No momento da coleta, a 2.6. Caracterização do Solo após o Ensaio
amostra de fluido e o frasco de vidro foram
pesados, permitindo a mensuração do volume e Foram realizados ensaios de Fluorescência de
da vazão no intervalo de tempo, e, em seguida, Raio-X (FRX) com o intuito de comparar as
foi colocada um papel-alumínio na tampa e o características do meio poroso antes e depois do
frasco foi fechado com uma tampa rosqueada. O ensaio. Assim, foram extraídas três alíquotas do
papel-alumínio foi utilizado de forma a isolar o topo do corpo de prova.
fluido e a tampa. Após o acondicionamento das
amostras, estas foram mantidas a 5º C até o
momento da caracterização química. As 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS
análises foram realizadas com amostras de
aproximadamente 400 cm³. 3.1. Curvas de Retenção

Na tabela 6 são apresentados os parâmetros de


ajuste da curva de retenção para os solos
vermelho e várzea, nos ramos de secagem e
umedecimento e nas Figuras 3 e 4 estão
apresentadas graficamente as curvas.

Tabela 6. Parâmetros da Curva de Retenção pelo Modelo


de Van Genutchen (1980)
Solo Ramo Θsat α m n R²
Várzea Secagem 0,41 0,007 0,20 1,23 0,96
Vermelho Secagem 0,26 0,004 0,21 1,09 0,97
Várzea Umed. 0,38 0,010 0,21 1,26 0,95
Vermelho Umed. 0,25 0,012 0,18 1,22 0,99

Figura 2: Aparato Experimental utilizado para a


realização dos ensaios de coluna

2.5. Caracterização do Fluido Percolado

Com os fluidos percolados coletados foram


realizados os mesmos ensaios de caracterização
anteriormente executados com os fluidos de Figura 3: Curva de Retenção Solo Vermelho
entrada. Em função do pequeno volume obtido
no ensaio do solo vermelho, a determinação da
concentração de cátions ficou comprometida
para este solo.
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45
Modelagem
Umedecimento
40
Pontos
Experimentais
35 Umedecimento
Umidade Volumétrica (%)

Modelagem
30 Secagem
Pontos
25 Experimentais
Secagem
20

15

10

0
0,1 1 10 100 1000 10000 100000 1000000
Sucção (KPa)

Figura 4: Curva de Retenção – Solo Várzea Figura 5: Curvas de Retenção Solo Piçarra

Na modelagem das curvas de retenção do 3.2. Permeabilidade


solo piçarra nas diversas energias de
compactação, as equações de Van Genutchen A tabela 8 apresenta os valores de
(1980) não apresentaram um bom ajuste. Assim, permeabilidade inicial e final obtidos nos
foi adotada uma adaptação do o modelo de Van ensaios de coluna. As figuras 6 a 9 apresentam
Genutchen (1980) para solos com distribuição os resultados obtidos de forma gráfica. Observa-
bimodal de poros (CADUCCI ET AL., 2010). se que apenas para o caso do solo piçarra
Os parâmetros de ajuste obtidos são compactado na energia do Proctor Normal não
apresentados na tabela 7 e as curvas estão houve diminuição da permeabilidade.
representadas graficamente na Figura 5.
Tabela 8. Valores de k inicial e final e razão
Tabela 7. Parâmetros da Curva de Retenção pelo Modelo Corpo de k inicial k final k inicial
Modelo Duplo Van Genutchen Prova (cm/s) (cm/s) / k final
Parâm Proctor E=9 Proctor Vermelho
9,19E-07 2,32E-09 395,27
etro Nromal kgf.cm/cm³ Intermediário CP1
Vermelho
Sec. Umed. Sec. Umed. Sec. Umed. 1,30E-07 5,33E-09 24,27
CP2
Θsatsat 0,36 0,35 0,34 0,33 0,32 0,31 Várzea CP1 9,72E-06 5,46E-07 17,80
αest 0,04 0,11 0,04 0,09 0,025 0,06
Várzea CP2 6,52E-06 5,40E-07 12,08
mest 0,44 0,44 0,44 0,47 0,44 0,50
nest 1,80 1,80 1,80 1,90 1,80 2,00 Várzea CP3 1,21E-06 1,45E-07 8,35

Θsatpmp 0,25 0,23 0,26 0,24 0,26 ,024 Piçarra CP1 1,54E-04 1,71E-04 0,90
a 0,0001 0,00014 0,0001 0,00015 0,0001 0,00015
Piçarra CP8 1,46E-06 6,20E-09 236,06
m 2,00 2,25 2,00 2,18 2,00 2,10
n 0,50 0,56 0,50 0,54 0,50 0,52 Piçarra CP9 2,92E-06 1,66E-08 158,49

R² 0,98 0,95 0,98 0,98 0,98 0,95 Piçarra CP4 5,53E-06 4,90E-09 1130,11

Piçarra CP5 2,19E-07 6,53E-09 33,53

Piçarra CP6 7,41E-06 9,25E-09 806,94


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Figura 6: Variação de k ao longo do tempo – Solo Figura 9: Variação de k ao longo do tempo – Solo Piçarra
Vermelho (Energias Proctor Intermediário e 9 kgf.cm/cm³)

3.3. Verificação da Hipótese de Obstrução dos


Poros por Dispersão da Argila

De forma a melhor avaliar a hipótese de


obstrução dos poros por dispersão da argila,
foram determinadas as concentrações dos
cátions na fonte e no efluente ao longo do
tempo de ensaio (com exceção do solo
vermelho) assim como a composição atômica
do solo por FRX antes e após o ensaio.
Foram analisadas as curvas de redução de
permeabilidade dos ensaios bem como a
variação da concentração relativa (C/C0) dos
cátions nos fluidos coletados. É possível
Figura 7: Variação de k ao longo do tempo – Solo Várzea perceber dos dados experimentais que a redução
de k se concentrou no início da percolação do
contaminante. Também é perceptível que neste
trecho de maior redução, existe uma expulsão
(maior concentração nas amostras efluentes que
no fluido de entrada) dos cátions Mg, Ca e, em
alguns casos, K, o que é um forte indício da
ocorrência de dispersão da argila. Por outro
lado, o aumento de concentração do sódio (Na)
se desenvolve lentamente, o que sugere que este
cátion pode estar sendo absorvido em troca
catiônica. Nas figura 10 a 12, estão apresentadas
as curvas de concentração relativa dos cátions e
a curva de permeabilidade ao longo do volume
de poros percolados para os corpos de prova
CP2 Várzea, CP6 Piçarra e CP8 Piçarra.
Figura 8: Variação de k ao longo do tempo – Solo Piçarra
CP1 (Energia Proctor Normal)
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Comparando os dados apresentados nas


curvas de variação de k e C/C0 dos cátions, é
possível verificar que, para os os solos várzea e
piçarra (Proctor Intermediário e E = 9
kgf.cm/cm³), ainda os valores iniciais de k
sejam semelhantes, o comportamento ao longo
da percolação é distinto. Para o solo várzea
ocorre uma redução de permeabilidade mais
amena, variando de aproximadamente 8 a 18
vezes e valor máximo de C/C0 do cátion
expulso de aproximadamente 20. Por outro
lado, para o solo piçarra a redução é mais
acentuada, variando de aproximadamente 33 a
Figura 10: Variação de k ao longo do tempo e C/C0 dos 1130 vezes e valor máximo de C/C0 do cátion
cátions – Solo Várzea CP2 expulso variando de 30 a 120. Em uma análise
complementar, verifica-se que o fluido de
entrada dos corpos de prova do solo várzea
possui concentração de sódio inferior a dos
fluidos de entrada utilizados no corpos de prova
do solo piçarra. Além disto, baseado nos
resultados do ensaio DRX, é perceptível que a
concentração de argilominerais no solo piçarra
(Caulinita, 28,14%; Dickita, 22,70%; e Nacrita,
12,41%) é maior que no solo várzea (Caulinita,
14,21%), assim, este solo estaria mais propício
à obstrução dos poros por dispersão da argila.
Apresentando comportamento diferente dos
demais ensaios, o único corpo de prova que não
apresentou diminuição na permeabilidade
também não apresentou a expulsão dos cátions
Figura 11: Variação de k ao longo do tempo e C/C0 dos
cátions – Solo Piçarra CP6
Mg, Ca e K. Importante observar que este corpo
de prova apresentou valor de permeabilidade
inicial bastante superior aos demais. As curvas
de concentração relativa dos cátions e a curva
de permeabilidade em relação ao volume de
poros percolados para o CP1 do solo Piçarra
(energia Proctor Normal) está apresentada na
Figura 13.

Figura 12: Variação de k ao longo do tempo e C/C0 dos


cátions – Solo Piçarra CP8
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Tabela 9. Valores de concentração de Alumínio e Silício


antes e após ensaio
Concentração (%)
Solo Amostra
Al Si
Vermelho Original 7,39 33,17
Vermelho CP1 4,82 24,57
Vermelho CP2 5,76 29,55
Várzea Original 8,91 26,97
Várzea CP1 4,05 20,05
Várzea CP2 4,44 20,37
Várzea CP4 1,29 16,35
Figura 13: Variação de k ao longo do tempo e C/C0 dos
cátions – Solo Piçarra CP1 Piçarra Original 15,85 25,50
Piçarra CP1 11,71 23,78
Quanto ao pH e a condutividade elétrica não Piçarra CP4 9,46 22,46
foi possível detectar nenhuma correlação direta Piçarra CP5 13,05 23,35
com a redução de permeabilidade, como é
possível verificar na Figura 14 referente ao CP2 Piçarra CP6 12,06 22,55
do solo Várzea. Piçarra CP8 10,41 21,00
Piçarra CP9 7,68 18,09

Na Figura 15, está apresentada uma


fotografia dos frascos com o fluido percolado
coletado no ensaio do CP2 do solo várzea. É
possível perceber a presença de material fino no
fundo dos últimos frascos coletados, enquanto
nos primeiros frascos o fluido está menos
túrbido e não há finos visíveis.

Figura 14: Variação de k ao longo do tempo e CE e pH

Analisando o resultado dos ensaios FRX, foi


possível verificar que a quantidade de Alumínio
(Al) e Silício (Si) no topo do corpo de prova
reduziu após os ensaios, conforme dados
apresentados na Tabela 9. A redução destes
elementos se apresentou mais severa nos Figura 15: Fotografia de frascos com fluidos percolado
ensaios onde houve a redução de coletado
permeabilidade que no ensaio onde a
permeabilidade se manteve aproximadamente
constante.
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Associação Brasileira De Normas Técnicas (ABNT):


4 CONCLUSÕES NBR 6502 – Rochas e solos. Rio de Janeiro, ABNT
1995.
Carducci, C. E.; Oliveira, G. C.; Severiano, E. C.;
A partir das atividades realizadas neste trabalho Zeviani, W. M. Modelagem da curva de retenção de
foi obter as seguintes conclusões: água de Latossolos utilizando a equação duplo van
A redução da permeabilidade ao longo da Genuchten. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.
percolação da água de produção do petróleo por 35, n. 1, p. 77-86, 2011.
Curtin, D., Steppuhn, H. and Selles, F. 1994. Clay
corpos de prova de solos areno-argilosos dispersion in relation to sodicity, electrolyte
compactados se manifestou como um fenômeno concentration and mechanical effects. Soil Sci. Soc.
frequente (12 de 13 experimentos). Am. J. In Press.
Um fator importante para que o fenômeno da Foster, M. D. (1955) Relation between composition and
permeabilidade aconteça ao longo da percolação swelling in clays: Clays and Clay Minerals, Prec. 3rd
Conf., Natl. Acad. Sci.--Natl. Res. Council Pub. 395,
é que a permeabilidade inicial baixa. Caso o pp. 205-220.
contrário é provável que o fluxo seja priorizado Gawel, L. J. (2006) A Guide for Remediation of
pelos macroporos e que a obstrução não ocorra. Salt/Hydrocarbon Impacted Soil: North Dakota
As hipóteses de redução de permeabilidade Industrial Commission.; Oil and Gas Research
por dispersão da argila apresentaram fortes Council (N.D.)
Gray, D. H. and Rex, R. W. (1966) Formation damage in
indícios de ocorrência.
sandstones caused by clay dispersion and migration:
Provavelmente, a dispersão das argilas é Clays and Clay Minerals 14, 355-566.
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