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VIGILÂNCIA EM SAÚDE executar ações que controlem e previnam agravos à saúde.

A partir da coleta e
processamento de dados referentes à saúde, é possível conhecer a situação
1 Conceitos básicos de Vigilância em Saúde epidemiológica por regiões, caracterizando as principais doenças que acometem
aquela população e suas causas; além de surtos epidemiológicos e as doenças
A vigilância em saúde objetiva observar e analisar constantemente a saúde da
sazonais.
população para articular ações e medidas de saúde destinadas a controlar fatores
de riscos e de danos à saúde. O planejamento das ações é realizado por região, Vigilância sanitária= Fundamental nas ações que visam eliminar, diminuir ou
garantindo assim que todos recebam assistência de maneira integral e de acordo prevenir qualquer risco à saúde. Outro papel fundamental é a intervenção nos
com as suas particularidades. Além disso, a abordagem é individual e coletiva, problemas sanitários relacionados ao meio ambiente, a produção e circulação de
garantindo a assistência de todos, buscando prevenir os problemas e os agrados de bens e prestação de recursos consumíveis ou duráveis de interesse da saúde. Ela é
saúde na população. a principal responsável pelo controle direto e indireto de todos os insumos
relacionados à saúde, não podendo ser utilizado nenhum - 5 - medicamento ou
1.1 Componentes da vigilância em saúde
equipamento para assistência à saúde sem aprovação previa da vigilância sanitária.
A extensão de vigilância em saúde compreende três eixos que são: as medidas de
Vigilância em saúde ambiental= Fundamental nas ações que visam eliminar,
vigilância, promoção, prevenção e controle de doenças e agravos à saúde. Para que
diminuir ou prevenir qualquer risco à saúde. Outro papel fundamental é a
todos esses eixos possam ser alcançados, a vigilância em saúde precisa articular o
intervenção nos problemas sanitários relacionados ao meio ambiente, a produção e
conhecimento e técnicas em relação às doenças e aos agravos à saúde da
circulação de bens e prestação de recursos consumíveis ou duráveis de interesse da
população, tendo em vista a localização geográfica da população, a influência
saúde. Ela é a principal responsável pelo controle direto e indireto de todos os
sazonal, além de aspectos naturais e sociais que possam influenciar na saúde do
insumos relacionados à saúde, não podendo ser utilizado nenhum medicamento ou
indivíduo. No cotidiano da assistência em saúde em todos os níveis, a vigilância em
equipamento para assistência à saúde sem aprovação previa da vigilância sanitária.
saúde deve estar presente. Assim, associado ao conhecimento e à prática
epidemiológica, analise situacional da saúde e dos seus determinantes em uma Vigilância da saúde do trabalhador= Foca-se na saúde do indivíduo de acordo com
população, associado aos determinantes sociais, é possível planejar, organizar e o seu tipo de atividade laboral. Sua atuação está centrada em um conjunto de
executar ações que permitam acesso a todos aos serviços de saúde. A partir dessa atividades para a promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde dos
organização, as demandas podem ser realizadas de maneira sistematizada, trabalhadores que são submetidos a fatores de riscos e/ou agravos advindos das
permitindo maior acesso à população e o atendimento em diversas áreas que condições de trabalho. As medidas em relação à saúde do trabalhador visam o
demandam cuidado, direcionando o cuidado e a prevenção à saúde (BRASIL, 2007). cuidado integral à saúde das pessoas por meio da promoção da saúde, estimulando
A vigilância em saúde é subdivida em quatro: a vigilância epidemiológica, vigilância a população a reduzir a vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus
sanitária, vigilância ambiental e a vigilância da saúde do trabalhador. A divisão determinantes e condicionantes, ou seja, aos modos de viver, as condições de
permite ações centralizadas em cada eixo, de acordo com a necessidade da trabalho, a habitação, ao ambiente, a educação, ao lazer, a cultura e ao acesso a
população, descentralizando as ações. Veja a seguir suas definições: bens e serviços essenciais.

Vigilância epidemiológica= Busca o conhecimento, a identificação ou prevenção de 1.2 Construção social da vigilância em saúde no Brasil
alguma alteração que determine ou condicione a saúde coletiva ou individual,
Os primeiros debates sobre a construção da vigilância em saúde no Brasil iniciaram-
visando identificar fatores e medidas que possibilitem a prevenção e o controle das
se nos anos 1990. Essa discussão foi realizada por vários seguimentos sanitários
doenças e seus agravos. Ela busca ofertar orientações técnicas para os governantes
que buscavam uma sistematização da sua prática na prevenção da prática de
e os profissionais de saúde, para que eles possam decidir em relação a como
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saúde, principalmente em relação as estratégias epidemiológicas, o planejamento e sanitária, a vigilância de saúde do trabalho e os programas especiais de controle de
a organização do serviço de saúde. Nesse momento, a principal preocupação era a doenças. Podemos ver isso no “Esquema hierárquico da Vigilância em saúde e suas
reorganização do processo de prestação de serviços, visando integrar as diferentes subdivisões” abaixo:
lógicas das demandas espontâneas e das especiais, propondo uma nova
organização com base na identificação prévia das principais necessidades à saúde.
E, a partir disso, elaborar estratégias visando abranger as necessidades à saúde em
cada um dos distritos sanitários, suplantando toda a demanda da população. A
ideia era que a nova estrutura passasse então a ser uma oferta de serviço
programado, com um espaço articulado que é baseado nos dados epidemiológicos.
A partir disso, as ações têm foco na programação e execução de medidas e ações
que proporcionam a identificação e a resolutividade dos problemas de saúde de
acordo com a delimitação geográfica e os dados epidemiológicos identificados. Isso
não exclui as particularidades, porém a demanda do serviço não fica focada de
maneira generalizada, pois no Brasil temos várias realidades, devido ao território
geográfico ser amplo e com grande variedade climática, ambiental e social
(TEIXEIRA, et al., 2008). Durante o III Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em
1995, o novo modelo de atenção à saúde foi discutido e a expressão do termo
vigilância em saúde foi apresentado. A concepção desse termo era entendida como
uma integração entre a vigilância epidemiológica e a sanitária associada a uma
proposta de ampliação do modelo assistencial. A partir dessa discussão, no IV
Congresso Brasileiro de Epidemiologia foram apresentadas três vertentes para a
vigilância em saúde: a análise da situação de saúde, a integração da proposta e
redefinição das práticas sanitárias. Na perspectiva da vigilância em saúde como
análise de situações de saúde foi proposto um monitoramento da saúde, porém,
sem ações voltadas para resolutividade dos problemas identificados. Essa ideia gera
a criação de centros de controle de doenças semelhantes ao modelo norte-
americano, identificado os problemas a fim de reduzir a transmissão comunitária Esquema em hierarquia mostrando a vigilância em saúde no topo, como integração
de doenças. Esse modelo visa atividades educacionais para aprimorar à saúde da das vigilâncias epidemiológica, sanitária, ambiental e saúde do trabalhador. Elas
população (TEIXEIRA et al., 2008). são divisões da vigilância em saúde. A retificação da vigilância em saúde como uma
proposta de redefinição das práticas sanitárias baseada na integralidade nas ações
Em relação à vigilância como integração institucional entre a vigilância de saúde visava a promoção, proteção, diagnóstico, tratamento e a reabilitação do
epidemiológica e a sanitária, seria uma reforma na forma organizacional sendo indivíduo. Ao abordar o sujeito de maneira integral no serviço de saúde, é
extintas as Secretarias Estudais de Saúde e passando ser chamadas de necessário avaliar a complexidade tecnológica e estrutura organizacional se é
superintendências ou divisão de vigilância em saúde. A mudança gerava uma fusão atenção primária, secundária e/ou terciária para que possa ser discutido sobre a
de responsabilidades a partir da agregação de vários órgãos na vigilância em saúde promoção da saúde e as estratégias necessárias quanto a vigilância sanitária, com
como a vigilância epidemiológica, os programas de controle de doenças, a vigilância foco na intersetorialidade das ações do sistema de saúde. Ao colocar a vigilância
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sanitária como referência para a construção da assistência integral, é importante destaque quanto aos cuidados da prevenção dos riscos e agravos à saúde, sendo
ressaltar que deve ser avaliada a necessidade e a demanda da população em eles os principais responsáveis para a busca e a manutenção dela (BRASIL, 2007).
relação às suas características demográficas, econômicas, sociais e epidemiológicas,
A vigilância em saúde faz parte de todos os níveis de atenção à saúde,
o que torna a - 8 - política pública um desafio devido à discrepância em relação à
apresentando especificidades entre as equipes de saúde na atenção de saúde, pois
saúde que encontramos em cada região do Brasil (TEIXEIRA et al., 2008). Diante
a necessidade de cada comunidade é distinta e exige o desenvolvimento de
dessa perspectiva, a vigilância em saúde interage em níveis de prevenção e
habilidades na programação, planejamento e organização dos serviços de saúde
organização da atenção à saúde, buscando o desenvolvimento amplo das ações
para todos os indivíduos de maneira integral.
sobre a formulação e implementação das políticas intersetoriais e das ações sociais,
em conjunto com a vigilância sanitária, ambiental e epidemiológica. Essa ação em 2 Prevenção das doenças
conjunto tem como objetivo reduzir os riscos e danos à saúde, a partir de ações de
controle por grupos prioritários e de medidas de cuidados desde a prevenção, O conceito de prevenção mudou ao longo do tempo: antes era algo restrito ao
tratamento e a reabilitação. A execução da vigilância em saúde, portanto, é senso de prevenir o desenvolvimento de uma patologia, sendo então utilizadas
complexa, pois articula na promoção (enfoque população), na proteção (risco à terapias que limitavam a progressão da doença. De modo geral, a prevenção é um
saúde) e assistência (clínica), sendo uma forma de agir e pensar na saúde de uma ato que impede ou reduz a mortalidade e a morbidade dos indivíduos. Atualmente,
maneira integral, porém, obscura diante da heterogeneidade brasileira. Isso gera a prevenção está acompanhada da identificação de fatores de risco que possam
um cenário desafiador para as políticas pública e para a prática, que precisam desencadear alguma patologia, sem necessariamente existir uma patologia já
adaptar e articular ações específicas de acordo com a situação populacional de um instalada. Ela passou a ser mais ampla, considerando os fatores de prevenção e
estado, município ou até mesmo bairro. Assim, a vigilância em saúde precisa estar cura distintos a partir da concepção atual da prevenção.
atenta: Ao sujeito que pode ser a equipe de saúde ou a população; Ao objetivo das 2.1 Níveis de prevenção das doenças
ações relacionadas ao que foi diagnosticado como danos, riscos, necessidade de
tratamento ou reabilitação; Ao meio de trabalho disponível, como as tecnologias Os níveis de prevenção podem ser estabelecidos em cinco níveis: primordial,
médico e sanitárias que podem ser utilizadas para o planejamento das ações de primária, secundária, terciária e quaternária. Veja a seguir suas definições, de
maneira resolutiva aos problemas identificados; Às formas de organização e as acordo com Brasil (2013): • Prevenção primordial: Tem como objetivo principal
ações necessárias para resolver-se o problema. evitar o surgimento de novas doenças a partir da elaboração e incentivo ao estilo
de vida mais saudável e que reduza esses riscos. Nesse nível a prevenção atual nos
A Vigilância da Saúde sugere a incorporação de novos sujeitos à prática de saúde, padrões de vida socioeconômica e/ou cultura, buscando reconhecer entre eles o
buscando a responsabilização do indivíduo frente a sua saúde, medida adotada na que pode promover riscos de desenvolvimento de doenças e fatores de proteção à
prevenção à saúde. Diante disso, é necessário que os profissionais de saúde vão saúde a ao bem-estar, estimulando os fatores protetivos e consequentemente
além das tecnológicas médicas e busquem a comunicação social como uma reduzindo a probabilidade de doenças a longo prazo. A fim de alcançar essa
articulação da mobilização, organização e atuação em busca da promoção e prevenção, surge a elaboração e a implementação de políticas e programas de
manutenção das condições de saúde. Assim, a vigilância em saúde transcende o promoção à saúde, como por exemplo, a legislação para criação de espaços livres
espaço físico dos serviços de saúde, as ações governamentais e não de fumo e tabaco e o plano nacional de saúde escolar. Essas medidas a longo prazo
governamentais, tomando uma proporção complexa. A prática social não é algo têm impacto na saúde pública de maneira notável, uma vez que o público alvo é
exclusivo dos profissionais de - 9 - saúde, apesar de eles serem o serviço um grande número de pessoas que são estimuladas a buscar um comportamento
especializado e os gestores do serviço de saúde, a população tem papel de saudável. • Prevenção primária: Busca evitar e/ou remover fatores causais e de
risco antes do desenvolvimento de uma doença. Esse tipo de prevenção pode
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recorrer a recursos de maneira individual ou em grupos que apresentam maior escolas e ambiente de trabalho a fim de eliminar atitudes negativas frente a
risco ou ainda para população geral. A partir da difusão de informações espera-se indivíduos soropositivos ou obesos por exemplo, realizar a reintegração do trabalho
uma redução na incidência de doenças que podem ter os fatores de risco na empresa após alguma lesão que o deixou incapacitado. • Prevenção
controlados, de uma maneira geral, espera redução no número de casos por quaternária: Identificação de pessoas em situações de risco de intervenções,
doenças previsíveis na população. A prevenção primária pode ser obtida através da diagnósticas e • • • • • - 12 - • Prevenção quaternária: Identificação de pessoas em
imunização contra doenças infectocontagiosas, uso de preservativos para situações de risco de intervenções, diagnósticas e /ou terapêuticas excessivas. Esse
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, mudança no estilo de vida para tipo de intervenção visa proteger o indivíduo de novas intervenções e busca
evitar o desenvolvimento de hipertensão, obesidade e diabetes. Apesar de parecer alternativas que são aceitas eticamente. A prevenção quaternária pode ser dividida
simples, a mudança de hábitos e a divulgação de informações é algo difícil, pois em três categorias que é a manutenção de baixo risco, a redução do risco e a
nem todos tem acesso as informações ou quando tem acesso consegue entende-la detecção precoce. A manutenção de baixo risco visa garantir que a pessoa que
de maneira clara, por isso é importante sempre estar difundindo as informações e apresenta baixo risco para complicações dos seus problemas de saúde
buscando maneira de reduzir os riscos de doenças futuras na prevenção primária. • permanecem nessa condição, evitando o agravamento da doença. Em relação a
Prevenção secundária: Visa detectar uma doença de maneira precoce, ainda na redução de risco, ela visa os riscos moderados e altos, relacionados a doença,
fase assintomática da doença. Quando as doenças são identificadas ainda no início buscando reduzir ou controlar a sua prevalência frente a doença. Já a detecção
as chances de reestabelecimento da saúde são maiores, além disso, existe também precoce busca estimulador o indivíduo frente a seu problema de saúde e os sinais
a possibilidade de redução das consequências devido ao estabelecimento da que podem surgir, de modo que as alterações sejam detectadas ainda precoces,
doença. Nesse tipo de prevenção é importante o conhecimento prévio da história podendo assim ter intervenção e eliminar a complicação, isso é comum alguns tipos
natural da doença, pois a partir disso é possível a detecção ainda no período pré- de tumores, que tem uma progressão lenta e podem surgir novos tumores, que
clínico e consequentemente a prevenção da evolução da doença para estágios mais quando detectados ainda no início podem ser tratados, com grandes chances de
graves da doença. Esse tipo de prevenção é comum nos casos de câncer em que cura. Quando abordamos sobre o diagnóstico precoce, devemos lembrar que são
existe um rastreio precoce dos tumores de colo de útero, mama e próstata, o que ações que tem como objetivo a identificação de uma doença a partir de sinais e
permite o diagnóstico ainda no estágio inicial e aumenta a probabilidade de cura e sintomas ainda que precoces, ou seja, visa a detecção no menor estágio do
menor tempo de tratamento. • Prevenção terciária: Tem como objetivo reduzir a desenvolvimento da doença possível. Enquanto que o rastreamento ele busca
evolução de uma doença já diagnosticada, reduzir as complicações que possa surgir pessoas ainda assintomáticas, mas também tem como foco o diagnóstico precoce.
como insuficiências, sequelas e incapacidades, promover adaptação nos casos que Quando é realizado o rastreamento, o impacto pode ser maior, pois são indivíduos
as consequências decorrentes da doença são inevitáveis e prevenir que ocorra que eram saudáveis, pelo menos se sentiam assim, por não terem nenhum
agudização da doença, nos casos dos casos crônicos por exemplo, estabelecendo sintoma. Por isso, é importante uma abordagem mais densa e cautelosa no
um controle para que ocorra uma estabilização do quadro clínico. Esse tipo de rastreamento, pois um dos riscos é o psicológico do indivíduo frente a nova doença
prevenção normalmente tem uma intervenção conjunta entre a prevenção e a (BRASIL, 2013). A prevenção é a melhorar forma de minimizar ou até mesmo
cura, porém nem sempre é possível dissociar as medidas de prevenção e cura, erradicar danos maiores à saúde. O profissional de saúde é o principal responsável,
sendo que ambas ocorrem simultaneamente na maioria dos casos. Além da cabendo a ele reforçar os sinais e sintomas, incentivar os hábitos saudáveis e
doença, é preciso um olhar mais amplo, pois nesses casos como o percurso da eliminar os fatores de riscos identificados na população. Quando existe uma rede
doença é longo o indivíduo sente medo e incapacidade frente a doença, sendo de informação bem consolidada, isso aumenta os fatores protetivos à saúde dos
necessário um suporte psicológico também. A interação familiar e social frente a indivíduos e facilita a prevenção primária. Mas esse trabalho da prevenção precisa
doença também é importante e tem um efeito positivo no controle da doença. As de ajuda do sujeito, pois o profissional de saúde pode informar e orientar, mas as
ações na prevenção terciária podem ser a realização de ações educativas em mudanças devem ser aplicadas pelo sujeito.
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2.2 Rastreamento O conceito de rastreamento é derivado da palavra de língua importância do exame, como é feito o exame e escute as dúvidas do paciente, pois
inglesa “screening”, que traduz a ideia de peneirar, podendo encontrar resultados muitas vezes o medo de realizar o rastreamento é devido ao desconhecido, a partir
falsos positivo ou falso negativo. O rastreamento e o diagnóstico de doença eram do momento que as dúvidas são sanadas, a adesão é maior. - 14 - A efetividade de
tratados como sinônimos. Mas existe uma distinção, nos casos que o sujeito um programa de rastreamento se deve ao maior número possível de indivíduos de
apresente algum sinal ou sintoma de uma doença ocorre o diagnóstico da doença, uma população que realizar o rastreamento. Por isso, é importante que o programa
mas sem que haja ocorrido um rastreamento. O rastreamento ocorre nos casos que de rastreamento tenha as seguintes características: 1 Acesso para todos que estão
ainda não houve nenhuma manifestação da doença, ocorrendo então o diagnóstico dentro dos critérios estabelecidos; 2 Agilidade no atendimento e no retorno do
quando realiza exames de rotina, ou seja, são realizados exames e testes em resultado; 3 Oferecimento de evidências da sua efetividade; 4 Garantia ao sujeito
indivíduos saudáveis. Os exames realizados durante o rastreamento podem vir com do direito de realizar ou não o exame; 5 Oferecimento de informação sobre o que
resultado positivo, isso não significa que é um diagnóstico da doença fechado, pois está sendo buscado, os riscos e os benefícios que ele tem a partir desse
esses exames normalmente selecionam indivíduos que apresentam maior rastreamento. Devemos lembrar que um programa de rastreamento só deve ser
probabilidade de apresentar a doença em investigação. Um exemplo é o exame de implantado quando a doença for de relevância para a saúde pública, que a história
mamografia utilizado no rastreamento do câncer de mama. A presença de um natural da doença já seja bem estabelecida e conhecida pelos profissionais de
nódulo não significa que é um tumor e isso é confirmado ou descartado a partir de saúde, o estágio pré-clínico ou assintomático esteja bem evidente, os benefícios
uma biópsia e da confirmação anatomopatológica. Nem todos os nódulos serão precisam ser maiores que os riscos e o custo do rastreamento menor que o do
tumores malignos, como ocorre nos casos dos tumores benignos, são identificados tratamento. Esse conjunto de fatores que estabelecem a criação do programa visa
também na mamografia, pois esse exame não faz a distinção. Quando falamos em garantir qualidade para a população e para serviço público de saúde.
rastreamento, devemos lembrar que ele pode ser algo oportuno ou estar
Os procedimentos de rastreamentos são as vezes questionáveis, pois a maioria
relacionado a um programa de rastreamento. O rastreamento oportuno ocorre
necessita de uma técnica correta para que o resultado seja confiável. Porém,
quando um indivíduo procura o serviço de saúde por uma queixa qualquer e o
pensando em saúde pública os benefícios e o custo-efetividade devem ser pontos
profissional de saúde aproveita para realizar o rastreamento de algum fator de
relevantes, pois a sobrecarga no serviço de saúde pode causar um caos e a
risco ou doença. Esse tipo de rastreamento não é de grande impacto em relação ao
qualidade na assistência pode não ser efetiva e curativa, devido a limitação de
impacto na morbidade e mortalidade (BRASIL, 2013). Em relação aos programas de
recursos científicos frente as doenças em estágio avançado.
rastreamentos, eles são organizados e sistematizados. As ações são voltadas para o
diagnóstico precoce de uma determinada patologia. O rastreamento visa um grupo 3 Medidas de controle das doenças
especifico exposto a algum fator de risco ou dentro de uma faixa etária especifica
que é mais comum o surgimento daquela doença. Assim todos os sujeitos que A medida de controle das doenças só é possível quando o mecanismo da doença é
atingem uma determinada idade por exemplo são habilitados e convidados a conhecido. Atualmente, as doenças podem ser transmissíveis ou não-
participar do programa de rastreamento, como por exemplo, o rastreamento para transmissíveis, o que afeta direto no meio de controle das doenças. O estilo de
o câncer de mama por mamografia. Atualmente é preconizado pelo programa de vida, o ambiente social, as condições de saneamento básico são alguns dos fatores
rastreamento do câncer de mama a realização da mamografia anual em mulher que podem influenciar diretamente no controle das doenças. É preciso conhecer o
com idade igual ou superior a 40 anos, sendo o exame realizado anualmente. que está sendo um fator positivo para o desenvolvimento das doenças para que
Portanto, todas as mulheres nessa faixa etária são convidadas a realizar o assim possa controla-la e se possível erradica-la.
rastreamento. Devemos lembrar que o rastreamento é opcional, pois o indivíduo 3.1 Medidas de controle de doenças não-transmissíveis
pode se negar a realizar um exame, visto que ele não acha que tem alguma
patologia. Nessa situação, é importante que os profissionais orientem sobre a
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No Brasil, houveram mudanças, nos últimos anos, em relação à sua estrutura As doenças transmissíveis são as que demandam maior preocupação
demográfica e ao seu perfil epidemiológico. Alguns fatores que foram epidemiológica, uma vez que um indivíduo contaminado pode infectar várias outras
determinantes nessas mudanças foram: Redução da taxa de fecundidade; Redução pessoas e a disseminação ocorrer rapidamente e sem controle, quando não é
da mortalidade precoce e por doenças infecciosas; Aumento da expectativa de vida realizada nenhuma medida de prevenção e controle. A notificação compulsória não
ao nascer. Portanto, a população brasileira tem envelhecido mais, é algo novo no sistema de saúde público e privado, uma vez que várias doenças
consequentemente aumentando o número de idosos e junto aumenta o número de precisam ser notificadas através do Sistema de Informação de Agravos de
morbi-mortalidade e das Doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) (BRASIL, Notificação, para o controle epidemiológico e o controle do número dos casos.
2007). A mudança no perfil populacional em países desenvolvidos ocorreu em um Quando abordamos a notificação compulsória, o termo compulsório é de
período médio de um século. Enquanto que nos países subdesenvolvidos, como o responsabilidade formal do profissional de saúde, podendo ser apenas uma
Brasil essa mudança ocorre em apenas 30 anos, o que levou à necessidade de uma suspeita ou um caso confirmado. A suspeita deve ser notificada também, pois
rápida adaptação e reorganização do sistema de saúde. Porém isso ainda é falho, algumas doenças são transmitidas rapidamente, infectando diversas pessoas se não
pois as mudanças ainda estão ocorrendo no Brasil e a cada ano novas medidas for previamente controlada. Quando as suspeitas se confirmam o caso continua na
precisam ser implementadas nos serviços de saúde, principalmente para o controle estatística, quando o caso não é confirmado o profissional notifica o resultado
das DCNT (BRASIL, 2007). Quando falamos da reorganização da assistência à saúde, negativo e o caso previamente identificado como suspeita é retirado da contagem
devemos lembrar que o objetivo é reduzir a mortalidade precoce, principalmente epidemiológica (BRASIL, 2007). A notificação ocorre de maneira sigilosa e somente
decorrentes de agravos à saúde decorrentes da DCNT. Dentre as principais DCNT quando ocorre risco para a comunidade é que medidas coletivas podem ser
temos: a diabetes, obesidade e a hipertensão. Normalmente essa tríade está tomadas, porém respeitando o direito de anonimato do cidadão. A notificação ela é
presente quando o sujeito tem um estilo de vida sedentário, hábitos alimentares periódica e o documento deve ser enviando mensalmente mesmo se não houver
não saudáveis com baixa ingestão de frutas e legumes ou com a base alimentar em notificação de nenhum caso de doença transmissível de notificação compulsória.
comidas rápidas e prontas. A mudança no estilo de vida proporcionou um cenário Quando não há necessidade de notificação o relatório é uma notificação negativa e
que aumenta a probabilidade de desenvolvimento dessas doenças, pois atualmente também é utilizado como um controle da eficácia das medidas preventivas. As
é fácil o acesso aos alimentos sem precisar deslocar até o restaurante ou ao doenças transmissíveis apresentam um grupo que estão em processo de declínio
supermercado. Além disso, comidas preparadas são mais rápidas e fáceis de serem no número de casos devido a eficácia do controle e da prevenção. Dentre essas
consumidas do que os alimentos frescos, pois esses demandam um tempo para doenças temos a varíola que está erradicada desde 1978, a poliomielite erradicada
preparar. O tempo hoje é algo que poucos tem, devido a carga de trabalho e a desde 1994 e o sarampo que também está eliminado. A raiva humana transmitida
rotina atarefada. Mas com isso, o preço a ser pago é o desenvolvimento das DCNT por animais domésticos, da rubéola congênita e do tétano neonatal são as
(BRASIL, 2007). A obesidade é uma porta para o desenvolvimento da hipertensão e próximas da lista de erradicadas no Brasil, proposto para a próxima década. A
a diabetes. A gordura abdominal aumenta as chances de distúrbios cardíacos e a difteria, a rubéola, a coqueluche e o tétano acidental são patologias que
sobrecarga no organismo, principalmente da glicose aumenta as chances de apresentam prevenção imunológica e com isso o número de casos será cada vez
desenvolvimento da diabetes. Apesar dessas doenças não serem transmissíveis aos maior. Algumas doenças estão relacionadas as condições sanitárias precárias e por
indivíduos que convivem - 17 - entre si, elas acarretam uma sobrecarga ao serviço isso são mais frequentes em algumas regiões do país como a doença de Chagas,
de saúde, pois são patologias que demandam cuidados e controle médico hanseníase e a febre tifoide, por exemplo (BRASIL, 2007).
frequente, para manter o estado saudável e prevenir os agravos que essas doenças
podem trazer para o indivíduo.

3.2 Medidas de controle de doenças transmissíveis

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