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MICOSES SUPERFICIAIS

CANDIDÍASES

Regina H. Pires
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
GÊNERO CANDIDA

 Compreende por volta de 200 espécies (20


associadas à processos infecciosos humanos);
Blastoconídios: globosos, ovóides, cilíndricos ou
alongados;
Reprodução por brotamento multipolar;
Algumas espécies apresentam micélio verdadeiro;
C. albicans e C. dubliniensis produzem
clamidósporos em condições estabelecidas;
Colônia branca ou creme (não produz pigmentos
caratenóides);
Consistência da colônia: cremosa e lisa (rugosa e
sulcada).
PATOGENIA

•Fatores de virulência: proteinases e fosfolipases,


adesinas (invasão do hospedeiro)
•Fatores inerentes ao hospedeiro: pH, alterações da
microbiota, imunossupressão, antibioticoterapia.

Características importantes na patogenia:


•Crescimento a 37°C;
•Formação de pseudo-hifas (obstáculo a fagocitose);
•Produção de enzimas: lipases e proteínases;
•Produção de metabólitos (manifestações alérgicas
tipo imediato e tardio)
CANDIDÍASE

 Candidíase ou Candidose é infecção micótica, primária ou


secundária, causada por membros do gênero Candida.
Manifestações clínicas podem ser: agudas, subagudas,
crônicas ou esporádicas.
Localização em diversos sítios anatômicos: boca, pele,
vagina, unhas, pulmões e trato gastrintestinal, podendo
tornar-se sistêmica causando septicemia, endocardite ou
meningite (pacientes imunodeprimidos).
Em indivíduos sadios, a candidíase, ocorre devido à
disfunções da barreira epitelial, prevalecendo em grupos
etários específicos tais como neonatos e senis.
FATORES PREDISPONENTES
CLASSIFICAÇÃO DOS
FATORES DESCRIÇÃO EXEMPLOS
PREDISPONENTES
1.Infecções, doenças
idiopáticas, congênitas ou Infecções microbianas, disfunções
FATORES NATURAIS outras doenças debilitantes endócrinas, disfunções linfocíticas,
2.Variações do estado anormalidades fagocitárias
fisiológico normal Gravidez, infância e senilidade.
•Excessos ou deficiências
nutricionais que podem alterar a Dietas ricas em carboidratos ou
FATORES composição da microbiota deficiências vitamínicas
ALIMENTARES endógena

1.Oclusão local ou maceração Usuários de dentaduras


FATORES MECÂNICOS 2.Trauma Nascimentos
1.Tratamentos com drogas que Antibióticos, corticoesteróides e
alteram a composição da outras drogas imunossupressoras
microbiota endógena ou alteram
as defesas do hospedeiro contra
FATORES MÉDICOS infecções.
IATROGÊNICOS
2.Procedimentos cirúrgicos ou
introdução de instrumentos Válvulas cardíacas, catéteres
mecânicos ou de próteses intravasculares
dentro de vasos ou tecidos.

Adaptado de ODDS, 1988


MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
1- CANDIDÍASE OROFARINGEAL:

1a. CANDIDÍASE PSEUDOMEMBRANOSA AGUDA ( “sapinho”) :

Surge em qualquer idade em


pacientes debilitados.
Placas recobrem isolada ou
difusamente a língua, o
palato mole a mucosa jugal.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
1- CANDIDÍASE OROFARINGEAL:

1b. QUIELITE ANGULAR OU PERLECHE (“boqueira”)

Ocorre
principalmente em
idosos como
resultado da
acentuação e
aprofundamento
da comissura
labial nos
pacientes
desdentados ou
com aparelhos
protéticos
inadequados.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
1- CANDIDÍASE OROFARINGEAL:

1c. CANDIDÍASE ASSOCIADA À ESTOMATITE DENTÁRIA

Ocorre devido ao uso de


próteses totais (superiores),
ocorrendo em 65% dos
pacientes geriátricos.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
1- CANDIDÍASE OROFARINGEAL:

1d. GLOSSITE MEDIANA RÔMBICA

Lesão simétrica do centro do


dorso da língua, caracterizada
por eritema e dano das papilas.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
2- CANDIDÍASE MUCOCUTÂNEA:

 Em 50% dos pacientes há correlação


com distúrbios endócrinos (diabéticos
freqüentemente desenvolvem infecções
localizadas em áreas expostas à irritações
ou sudação constantes: virilha, área
perianal, sob as mamas).

Intertigo: indivíduos que mantêm mãos


úmidas (indústria alimentícia).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
3- CANDIDÍASE VULVOVAGINAL E BALANITE

 A candidíase vaginal é
freqüentemente observada em
mulheres diabéticas, no 3°.
trimestre da gravidez ou em
pacientes que passaram por
terapia antibacteriana. A
balanite (inflamação da
glande) é freqüente no homem
diabético.
O que contribui para a infecção?

•gravidez - aumento dos níveis de estrogênio;


•anticoncepcionais - aumento dos níveis de
estrogênio;
•corticóides - provoca alteração no sistema
imunológico;
•antibióticos - desequilíbrio da microbiota;
•distúrbios - o diabetes, leucemias, linfomas,
AIDS.
•higiene pessoal - disseminação dos micro-
organismos do intestino para a vagina;
•roupa íntima de material sintético –
aumento de calor e umidade;
•agentes sensibilizantes de pele – Lesões:
sabonetes, desodorantes...
•relações sexuais - auto-infestação e
contaminação do parceiro sexual, que passa a
ser uma fonte de contágio;
•Outros: meias de nylon e calças apertadas;
prática de esportes coletivos.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
4- CANDIDÍASE UNGUEAL

 Produz espessamento e
endurecimento da unha
(onicomicose), com
comprometimento da pele
circundante inclusive
(paroníquia).
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
5- CANDIDEMIA

Candidemia têm sido


definida como a presença de
leveduras no sangue com ou
sem envolvimento visceral.
Sintomatologia
característica incluem: febre
persistente após uso de
antibióticos em pacientes
neutropênicos com
taquicardia e dispnéia.
 Hipotensão e lesões da pele
também podem ocorrer.
As infecções localizadas podem
disseminarem-se causando infecções
sistêmicas. Qualquer órgão ou sistema
pode ser infectado, sendo a infecção
mais comum a endocardite.
FATORES DE RISCO PARA CANDIDÍASE INVASIVA
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

1- EXAME DIRETO: KOH 10%


Encontro de cels. brotantes
(blastoconídios), únicos ou
múltiplos, ovais, pseudo-hifas
ou hifas verdadeiras.

1.1- EXAME DIRETO


CORADO: GRAM
Encontro de leveduras Gram
positivas ovais ou
arredondadas, pseudo-hifas
e/ou hifas verdadeiras.
INTERPRETAÇÃO

Microscopia direta positiva para sítios estéreis, deve


ser considerada significante.

 A demonstração de pseudo-hifas (caráter invasivo) em


exame direto de raspados cutâneos, lesões bucais,
esofageanas ou vaginais deve ser considerada
significante desde que acompanhadas por
manifestações clínicas. Pseudo-hifas não são
encontradas em esfregaços quando C. glabrata está
envolvida.

O isolamento em cultura e identificação subseqüente


deve seguir-se à microscopia.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

2- CULTURA:

Ágar Sabouraud acrescido


de antibióticos bacterianos
(cloranfenicol:30mg/100 mL)
 Aspecto macroscópico
após 3 dias a 25°C é de
colônias brancas a creme,
lisas e brilhantes, podendo,
algumas espécies ter
tonalidade creme, aspecto
ceroso, sulcadas, com ou
sem franjas micelianas.
2.1 CHROMagar Candida

É um meio cromógeno que permite a


identificação presuntiva das leveduras por
conter vários substratos enzimáticos que,
hidrolizados pelas hexoaminidases
correspondentes, permitem a identificação
da levedura de acordo com a pigmentação
exibida pela colônia em um tempo de 24 a
48 horas. O meio utilizado indica colônias
verde-claras para C. albicans, verde-
escuras para C. dubliniensis; azuis para C.
tropicalis e rosas para C. krusei.
Este meio também se mostra útil na
detecção de leveduras em material clínico
que contenha cultura mista de Candida,
cuja característica de crescimento em
ágar Sabouraud dextrose não permite esta
diferenciação.
INTERPRETAÇÃO

 Cultura positiva para o sangue ou outros fluidos


biológicos estéreis deve ser considerado significante,
especialmente em pacientes imunocomprometidos. O
isolamento de espécies de Candida de hemoculturas
nem sempre indica infecção disseminada, mas é
importante indicador de infecção.
Cultura positiva para espécimes não estéreis (escarro,
lavado brônquico, urina, fezes, drenos cirúrgicos) têm
pouco valor diagnóstico.
Triagem em Chromagar Candida para C. krusei
colabora na terapia anti-fúngica de rotina (C. krusei é
intrinsicamente resistente ao fluconazol).
3- FORMAÇÃO DE
TUBO
GERMINATIVO
(Reynolds-Braude)
em soro animal, 2
horas a 37°C.

4- FORMAÇÃO DE
CLAMIDOCONÍDIOS
Esporos arredondados de
parede dupla, isolados ou
agrupados na extremidade
de pseudo-hifas (meios
ricos em amido)

*Diagnóstico presuntivo de C. albicans/C. dubliniensis.


DIFERENCIAÇÃO DE C. albicans/C. dubliniensis

C. dubliniensis compartilha muitas características fenotípicas com C. albicans,


como capacidade de produzir tubo germinativo e clamidoconídios, capacidade
de crescimento a 30°C e 37°C em meio de cultura ágar Sabouraud e formação
de colônias em cor verde quando submetidas a crescimento em CHROMágar.

Diferenciação:
a) Exposição a temperaturas de 42ºC e a 45ºC, por 48 horas
Candida albicans apresenta bom crescimento
Candida dubliniensis não cresce ou cresce pobremente.

b) Auxanograma para fontes de Carbono: C. dubliniensis: sacarose (+), xilose(-)

c) Utilização de meios de cultura específicos


c.1) Agar caseína (leite desnatado) – Lazzari et al., 2007, SP
C. albicans: ausência de clamidoconídios
C. dubliniensis: abundantes clamidoconídeos
c.2) Agar suco de tomate (V8)- Alves et al., 2006, RS
C. albicans: colônias lisas e ausência de clamidoconídios
C. dubliniensis: colônias rugosas com bordos franjados e ausência de
clamidoconídios
MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO DE LEVEDURAS

5- AUXANOGRAMA: FONTES DE CARBONO E NITROGÊNIO


provas bioquímicas, assimilação de fontes de carbono e fontes de
nitrogênio .
Padrão ouro: API
Métodos de identificação de leveduras

6- ZIMOGRAMA (Fermentação de açúcares)

• Baixa tensão de oxigênio


• Fermentação (ALCOOL, CO2 e 2
ATPs)
• Utilização de fontes de Carbono
– a partir de açúcares
– produção de CO2
• Meio líquido ou semi-sólido
gelosado
IDENTIFICAÇÃO DE LEVEDURAS –
AUTOMAÇÃO OU SEMI-AUTOMAÇÃO
 Padrão ouro para identificação: API 20C AUX (bioMérieux)
MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO DE LEVEDURAS

Padrão ouro: API 20C AUX system (BioMérieux)


IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE Candida

ID 32 C STRIPS (BioMérieux)
• 29 testes
• leitura após 24/48 horas de
incubação a 30oC - visual ou
automatizada
• taxas de identificação variam de
94 a 98 %
• Ramani et al., 1998
– taxa de identificação de 92% para as
espécies comuns de leveduras
– 85 % para isolados raros
• apresenta uma base de dados
bastante ampliada
085
IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE Candida

Candifast (International Microbio)

• Identificação e teste de sensibilidade


• Gêneros: Candida, Trichosporon, Cryptococcus,
Rhodotorula e Saccharomyces
• Único inóculo e leitura colorimétrica
• Resultados em 24 a 72 horas (37oC)
• Identificação
– sensibilidade actidione® (cicloheximida)
– fermentação de 7 açúcares
– hidrólise da uréia
• Teste de Sensibilidade
– sete antifúngicos: 1 concentração

www.int-microbio.com
TESTES DE SENSIBILIDADE

Micrométodos (diluição em caldo – Métodos por difusão (discos –


CLSI, M27-A3, 2008) CLSI, M44-A, 2004 e E-test)
Para casa

Resolver os casos clínicos 1 e 2. Estes serão


discutidos na próxima aula.

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