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Definição: ● microcíticas (VCM abaixo do normal para

Anemia: redução da concentração de Hb e/ou sexo e idade),


massa eritrocitária (hematócrito-H), abaixo de 2 ● macrocíticas (VCM acima)
desvios padrão da média da população normal, ● normocítica (VCM normal)
variando de acordo com idade, sexo, raça e
altitude. No Brasil, a prevalência é de 20,9% de
anemia nas cçs de 6 a 59 meses, princ. no Norte e
Nordeste.

Classificação e causas das anemias:


Origem multifatorial:
● defic. de ferro/micronutrientes
● perdas sanguíneas
● processos infecciosos/patológicos
concomitantes A anemia no período neonatal é decorrente de:
● uso de medicações que prejudiquem a ● hemorragia (história de sangramento no
absorção do ferro. neonato ou acidente obstétrico),
● hemólise (geralmente consequente a
Do ponto de vista fisiológico em: alterações de membrana eritrocitária,
● eritropoese inefetiva, incompatibilidade sanguínea materno‐fetal,
● diminuição na produção efetiva dos defeitos enzimáticos e hemoglobinopatias)
eritrócitos, e na ● hematopoese deficiente
● destruição aumentada de eritrócitos ● coagulação intravascular disseminada (CIVD)
(Tabela 2). ● trombocitopenias
● doença hemorrágica do RN

Diagnóstico clínico:
Anamnese e exame físico detalhados, visando a
identificar a etiologia. A presença das
manifestações clínicas está relacionada à
Classificação morfológica (volume corpuscular velocidade e à intensidade de instalação da
médio - VCM) anemia, à idade em que a anemia ocorre e à curva
de dissociação do oxigênio da hemoglobina.
Anemia leve: 4. Sinais e sintomas:.
● Geralmente assintomática. ○ Mudanças na coloração da urina e icterícia
● Algumas podem apresentar palidez das sugerem anemia hemolítica.
mucosas, fadiga, cansaço, anorexia e ○ Sangramento nas fezes, hematêmese,
irritabilidade. epistaxe importante ou perda menstrual
Anemia grave: excessiva sugerem anemia por perda
● A palidez de conjuntiva, língua, mãos e leito sanguínea e/ou deficiência de ferro.
ungueal é pouco sensível em predizer ○ Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor
anemia leve, sendo mais relacionada a pode estar associado com deficiência de
anemia grave (princ. quando hb<5 g/dL). ferro, deficiência de vitamina B12 e ácido
fólico e com anemia de Fanconi.
Dependendo da intensidade e da velocidade de ○ Sintomas infecciosos (febre ou tosse) e
instalação da anemia, pode ocorrer hipercinese aplasia secundária a hepatite sugerem
circulatória, com taquicardia, pulso amplo, etiologia infecciosa da anemia.
cardiomegalia e presença de sopro sistólico. 5. Dieta:
Aspectos da anamnese que se associam com ○ Dieta pobre em ferro, vitamina B12, ácido
causas específicas, auxiliando no diagnóstico: fólico e outros sugerem anemia carencial.
1. Sexo: ○ Introdução de leite de vaca antes do 1º ano
○ anemia hereditária ligadas ao cromossomo X: sugere anemia por deficiência de ferro.
■ deficiência de glicose‐6‐fosfato ○ História de pica, geofagia ou pagofagia sugere
desidrogenase (G6PD): A G6PD reduz a presença de deficiência de ferro.
NADP em NADPH. Ela é a única fonte de 6. História prévia de anemia e história familiar:
NADPH nos eritrócitos e, como o NADPH ○ Ep. prévios de anemia sugerem
é necessário para a produção de hereditariedade.
glutationa reduzida, sua deficiência torna ○ Exames prévios documentados normais
o eritrócito suscetível a estresse oxidante sugerem anemia de etiologia adquirida.
■ deficiência de piruvatoquinase: Os ○ Hiperbilirrubinemia no RN sugere etiologia
eritrócitos ficam rígidos devido à hemolítica.
diminuição da formação de ATP - que ○ Microcitose ao nascimento sugere perda
resultará em disfunção da membrana, intrauterina crônica ou sd talassêmica.
○ Familiares com histórico de icterícia, cálculos
pois seus fosfolipídeos não serão
de vesícula ou esplenomegalia sugerem
renovados (esse evento se traduz por
anemia hemolítica hereditária.
rigidez e destruição precoce no baço) 7. Medicamentos e exposição a agentes
2. Raça/etnia: tóxicos:
○ Hemoglobina S e C são mais comuns em ○ Anemia após medicamentos oxidantes ou fava
negros e populações hispânicas. sugere anemia por deficiência de G6PD.
○ Sd talassêmicas: comuns em indivíduos ○ Fenitoína pode induzir a anemia macrocítica.
oriundos do Mediterrâneo e sudeste asiático. ○ Cloranfenicol e imunossupressores podem
3. Idade: determinar anemia aplástica.
○ Nos RN, a anemia ocorre geralmente por ○ AINE e AAS podem favorecer perdas
perda sanguínea, isoimunização, anemia sanguíneas
hemolítica congênita ou infecção congênita. 8. Comorbidades associadas com anemia:
○ Anemia entre o 3º e o 6º mês sugere ○ Dç renal
hemoglobinopatia. ○ Neoplasias malignas
○ RN a termo, com peso adequado para IG, ○ Dçs inflamatórias/ autoimunes
<6 meses, é improvável anemia por
deficiência nutricional do ferro. Aspectos do Exame Físico que se associam
○ Prematuridade predispõe ao com causas específicas:
desenvolvimento precoce de deficiência de 1. Pele
ferro; ○ Hiperpigmentação: anemia de Fanconi;
○ Causas adquiridas de anemia são mais ○ Púrpura, petéquia: anemia hemolítica
prováveis nas cçs maiores, especialmente por autoimune com trombocitopenia, sd
deficiência de ferro.
hemolítico‐urêmica, aplasia de medula óssea ○ Ht: prop de volume da amostra ocupada por
e infiltração da medula óssea; eritrocitos
○ icterícia: anemia hemolítica e hepatite; • → diminuído: em diluição do sangue por
○ hemangioma cavernoso: anemia hemolítica aumento do volume sanguíneo (gravidez,
microangiopática; IR, IC, decúbito prolongado), uso de
○ úlceras em mmii: hemoglobinopatia S, anticoagulantes em excesso (leva a
hemoglobinopatia C e talassemia desidratação dos eritrócitos)
2. Face: ○ Hematimetria: contagem de eritrocitos
○ Fronte, malar e maxilar proeminentes: ○ VCM: volume corpuscular médio- tamanho do
anemias hemolíticas congênitas, talassemia médio do eritrocito
maior, deficiência grave de ferro. ○ CHCM: concentração de hemoglobina
3. Olhos corpuscular média
○ Micrognatia: anemia de Fanconi; ○ RDW: amplitude de variação no tamanho
○ Tortuosidade da conjuntiva e tortuosidade ou das hemácias (11,55 a 14,5%) (nl no traço
microaneurismas dos vasos retinianos: talassemico e talassemias, aumentado na
hemoglobinopatias S e C; def. de fe, dç da hemoglobina H).
○ Catarata: deficiência de G6PD, galactosemia ○ contagem de reticulócitos: nº de eritrócitos
com anemia hemolítica no período neonatal; imaturos no sangue periférico e seu valor nl
○ Hemorragia vítrea: hemoglobinopatia C; varia conforme a idade. Aumenta quando a
○ Hemorragia retiniana: anemia crônica e grave; produção medular de eritrócitos está elevada e
○ Edema palpebral: mononucleose infecciosa, diminui nas anemias hipoproliferativas.
enteropatia exsudativa com deficiência de
ferro, insuficiência renal; Avaliação morfológica do eritrograma
○ Cegueira: osteopetrose. ● Macrocitose (aumento de vol. dos eritrócitos):
4. Boca: pode ocorrer na insufic. hepática,
○ Glossite: deficiência de vitamina B12 e hipotireoidismo, def. de vit. B12 e de ác. fólico,
deficiência de ferro; mielodisplasia e aplasia de medula óssea.
○ Queilite angular: deficiência de ferro. ● Microcitose (diminuição de vol. dos eritrócitos):
5. Tórax: ocorre em dçs crônicas. Quando associada à
○ Ausência unilateral da musculatura peitoral: sd hipocromia, pode estar relacionada à anemia
de Poland. ferropriva, síndromes talassêmicas e anemia
6. Mão: sideroblástica.
○ Polegar trifalângico: aplasia de série vermelha; ● Anisocitose (macro e microcitose
○ Hipoplasia da eminência tenar: anemia de simultaneamente): não apresenta especificidade
Fanconi; diagnóstica.
○ Unhas em forma de colher: deficiência de ● Policromasia: presença de eritrócitos jovens
ferro; com DNA citoplasmático que se coram
○ Unhas distróficas: disceratose congênita. azulados. Presente nas anemias hemolíticas.
7. Baço: ● Poiquilocitose: variação do formato do eritrócito.
○ Esplenomegalia: anemia hemolítica congênita, ● Esferócitos (eritrócitos pequenos, esféricos e
leucemia, linfoma, infecção aguda e hipercromáticos): observados na esferocitose e
hipertensão portal. em anemias hemolíticas autoimunes.
8. SNC: ● Eliptócitos/ovalócitos (eritrócitos elípticos):
○ Irritabilidade, apatia: deficiência de ferro; presentes em eliptocitose, anemias carenciais,
○ Ataxia: deficiência de vitamina B12; talassemias.
○ AVC: anemia falciforme. ● Estomatócitos: geralmente sem significado
clínico. Podem ocorrer na estomatocitose, nas
Diagnóstico laboratorial: dçs hepáticas e no uso de asparaginase.
Hemograma (eritrograma quantitativo e ● Drepanócitos(eritrócitos em foice): presentes na
morfológico): avaliação do sangue periférico, dç falciforme.
contagem de reticulócitos são os exames mais ● Esquizócitos (fragmentos de eritrócitos de
úteis na avaliação. tamanhos diferentes e formas bizarras):
1. Eritrograma: presentes em pct com próteses valvulares
a) quantitativo:
/vasculares, SHU, queimaduras graves, CIVD e ○ avaliação das reservas de ferro: ferritina.
microangiopatias. Considerar que a ferritina é uma proteína de
● Acantócitos (eritrócitos pequenos com fase aguda e pode estar elevada em
projeções irregulares): ocorrem em processos infecciosos e inflamatórios;
abetalipoproteinemia, hepatopatias, pcts ○ Pesquisa de defeitos da Hb: eletroforese de
esplenectomizados, na defic. de tocoferol no RN Hb em pH alcalino e ácido para identificar
e na insuf. renal. hemoglobinopatias, com confirmação pelo
● Dacriócitos (eritrócitos em forma de lágrima, método de cromatografia líquida de alto
formados pelo retardo da saída da MO): desempenho;
presentes na anemia megaloblástica, em ○ Teste de Coombs direto e indireto para
talassemias e na esplenomegalia. identificar autoanticorpos antieritrocitários;
● Codócitos (eritrócitos em alvo, formados pelo ○ Avaliação dos defeitos enzimáticos: dosagem
excesso de membrana, onde a Hb se distribuir das enzimas eritrocitárias específicas
em um anel periférico com uma zona densa ○ Avaliação dos defeitos da membrana
central): presentes em talassemias, eritrocitária: fragilidade osmótica a temperatura
hemoglobinopatia C, defic. de ferro e dç ambiente e a 37°C;
hepática grave. ○ Dosagens de ác. fólico e vit. B12;
● Rouleaux (aglutinação das hemácias formando ○ Avaliação da hematopoese: mielograma e/ou
pilhas): ocorre no mieloma múltiplo, na gravidez, biópsia de medula óssea;
nos processos infecciosos, na anemia ○ Testes de função renal e hepática;
hemolítica autoimune e na ○ Pesquisa de sangue oculto nas fezes;
hipergamaglobulinemia. ○ Pesquisa de sangramentos em TGI e trato
● Inclusões no interior das hemácias são urinário;
decorrentes do aumento da eritropoese ou de ○ Pesquisa de disfunções hormonais: TSH, T4
defeitos da eritropoese, e da incapacidade do livre e hormônios sexuais;
baço de retirar da circulação as hemácias ○ Sorologias específicas: vírus de Epstein‐Barr
malformadas. Principais inclusões: e parvovírus B19;
○ Anel de Cabot: forma de anel constituída por ○ Pesquisa genética: na suspeita de aplasia
filamento fino de restos mitóticos de mitoses congênita de medula óssea, como a anemia
anômalas. Presente nas anemias de Fanconi;
megaloblásticas e mielodisplasias; ○ Pesquisa de infecções congênitas:
○ Corpúsculos de Howel‐Jolly: corpúsculo de principalmente na anemia em < 6 meses.
inclusão pequeno, basófilo, formado por restos
nucleares de mitoses anômalas. Presente em Tratamento:
pcts esplenectomizados com anemia O diagnóstico correto da etiologia da anemia é
hemolítica ou anemia megaloblástica. Indicam fundamental.
hipofunção esplênica ou asplenia; A indicação de transfusão de concentrado de
○ Pontilhado basófilo: agregados de ribossomos hemácias depende da etiologia da anemia, idade,
remanescentes, vistos como granulações condições clínicas e necessidade de suporte
variáveis em número e tamanho. Presente nas ventilatório/hemodinâmico.
talassemias, na intoxicação pelo chumbo e em
defeitos enzimáticos;
○ Corpúsculo de Heinz: precipitados de Hb
desnaturada, encontrados aderidos a
membrana das hemácias. Presente na
deficiência de G6PD, hemoglobinopatias e nas
anemias hemolíticas por medicamentos.
No hemograma, também avaliamos o leucograma
e a contagem/ morfologia plaquetárias.

Outros exames a ser considerados:


○ avaliação de ferro circulante: ferro sérico,
capacidade total de ligação do ferro, saturação
da transferrina;
Anemia ferropriva: ○ Ferro heme (+2): Carnes, ovos e
A anemia ferropriva é do tipo vísceras. Absorvido diretamente
● Hipocrômica (Hemoglobina Corpuscular no duodeno (alta
Média - HCM diminuída). Obs: Def de Vit A biodisponibilidade);
e B6, a anemia também é hipocrômica ○ Ferro não heme (+3): Origem
● Microcítica (VCM diminuído), vegetal, baixa biodisponibilidade.
● RDW (amplitude de variação da célula Precisa de Vitamina C (absorve só
eritrocitária) aumentado. 10% sem). Se ingerido com fitatos
● Reticulócitos pode estar normal ou (cereais e leguminosas), taninos
diminuído. (vinho), cálcio (leite, soja, ovo) e
● A dosagem sérica do ferro e da ferritina fosfatos (leite, soja e ovo);
estão diminuídos.
● Leucopenia e trombocitose (principal A anemia ferropriva tem, desde o período
causa de trombocitose em pediatria) pré-natal, efeito no crescimento e
● Cabe lembrar, que se a dosagem de desenvolvimento (incluindo cerebral)
ferritina sérica for realizada em vigência de importantes e deletérias de longo prazo
um processo inflamatório, os valores cognitivas, comportamentais, linguagem e
podem se apresentar até mesmo elevados. capacidades motoras, sendo que o possível
● A deficiência de ferro é a principal causa de impacto negativo permanece mesmo após o
anemia (>60% dos casos) tratamento, princ. em cçs pouco
● O ferro participa da síntese proteica e dos estimuladas/baixa renda.
sistemas respiratórios, oxidativos e Assim, a criança, principalmente os lactentes, e as
anti-infecciosos do organismo. gestantes, são os grupos de maior risco para a
● O ferro não heme sofre intensa influência de anemia, devido ao aumento das necessidades
fatores antinutricionais no seu processo corporais de ferro nesse período da vida. Cabe
absortivo. ressaltar que o recém-nascido de baixo peso e
● O ferro heme tem regulagem própria e o prematuro, devido aos baixos estoques de
independente de ação de mecanismos ferro ao nascimento, apresentam maior risco de
inibidores/facilitadores da dieta. desenvolver a anemia ferropriva, daí a
● A secreção gástrica de HCl (necessária para a importância da suplementação profilática de
solubilização dos sais de ferro e para a ferro para esse grupo.
manutenção do ferro na forma ferrosa Fe2+) é A carência de ferro na infância também predispõe
importante para a absorção do mineral. a cáries dentárias, menor discriminação de
● Atinge princ camadas de menor renda e princ. odores, alterações na imunidade, alterações de
<3anos e gestantes. paladar e apetite (com associação a pica),
● Fatores de proteção: por aumento do resposta alterada ao estresse metabólico e
aleitamento materno, uso de fórmulas desenvolvimento audiovisual.
enriquecidas, melhor acesso a fontes O déficit cognitivo é maior nas cçs com anemias
alimentares, programas de fortificação e ferropriva, mesmo com a suplementação precoce
enriquecimento de alimentos, campanhas por 30 dias o déficit não é revertido, sendo
educativas, além de modificações ambientais. necessário pelo menos 90 dias com plena adesão
para serem identificados os efeitos positivos
modestos na repleção das reservas de ferro.
METABOLISMO DE FERRO Durante a gestação, a anemia (princ. no 1º e 2º
trimestres) associa-se a prematuridade, baixo
● Distribuição do Fe no corpo: Proteínas e peso ao nascer e aumento da mortalidade
mioglobinas; perinatal e neonatal. No período pós-parto se
● Proteínas de depósito: Ferritina (fígado, associa à redução da qualidade de vida e aumento
baço, MO) de depressão, o que pode implicar diretamente no
● Proteínas de transporte: Transferrina cuidado com o RN e seu desenvolvimento,
● Origem do ferro: Sistema de reciclagem da desfavorecendo o aleitamento materno. A anemia
morte de hemáceas (maior parte) e o resto materna exerceu influência sobre os valores de
vem da dieta (Ferro heme- fersoza +2 e hemoglobina do lactente aos 6 meses, mesmo em
férrico- Fe+3);
aleitamento materno exclusivo. A suplementação as reservas de ferro, por apresentar forte
de ferro deve iniciar aos 4 meses de vida. correlação com o ferro armazenado nos tecidos.
○ A concentração de ferritina é influenciada por
Recomendação: pode ocorrer reversão parcial do dçs hepáticas e processos infecciosos e
déficit cognitivo ocasionado pela anemia quando o inflamatórios, devendo ser interpretada com
tratamento é precoce e prolongado (> 2 meses de cautela.
utilização adequada do ferro) (sugere-se mínimo ○ < 12μg/L (para crianças < 5 anos):
de 3 meses para a reposição das reservas). Cçs depleção das reservas
com defic. de ferro têm menores capacidades ○ < 15μg/L em cçs de 5-12 anos.
cognitiva que cçs sem deficiência, mesmo com o ● Segundo estágio (deficiência de ferro):
tratamento (apenas ajuda a melhorar cognição). redução do ferro sérico (<30mg/dl), aumento
essas cçs podem ter comportamentos da capacidade total de ligação da
inadequados, risco de violência, dificuldades transferrina (>250-390μg/dl) e a diminuição
sociais, mesmo após > 20 anos após o tratamento, da saturação da transferrina (<16%).
além de sequelas que são mais importantes ○ Outros exames podem ser necessários como
quanto menor o grau de estimulação e o nível a transferrina, zincoprotoporfirina eritrocitária e
social e econômico da população afetada. capacidade total de ligação do ferro.
Quanto mais precoce, intensa e prolongada a ○ O ferro sérico é relevante no diagnóstico
depleção de ferro, maior ocorrência de alterações quando < 30mg/dl.
no desenvolvimento, cognição, resultados ● Terceiro estágio/final (anemia ferropriva):
escolares e de comportamento, mesmo muitos hemograma- diminuição sanguínea da Hb e Ht
anos após o tratamento. e alterações hematimétricas.
○ Ponto de corte para diagnóstico de anemia:
Principais causas: ■ hb < 11g/dl para cçs de 6 - 60 meses
● Dieta inadequada (qualitativa e/ou ■ hb < 11,5g/dl para cçs 5-11 anos.
quantitativa) ■ ht < 33% para cçs de 6 - 60 meses
● Saneamento básico (incidência elevada ■ ht < 34% para cçs de 5 -11 anos.
de infecções GI e parasitoses)
● Econômicos Ainda para o diagnóstico de anemia ferropriva:
● Biológicos ● Medidas de avaliação de hemograma
associado ao PCR (para descartar infecção e
Diagnóstico clínico e laboratorial inflamação) e da ferritina, são propostos como
As manifestações clínicas são determinadas pelos exames iniciais em todas as cçs aos 12
estágios de depleção, defic. de ferro e própria meses de idade.
anemia: ● Contagem dos reticulócitos: indicador
● Apatia e irritabilidade precoce da anemia ferropriva e déficit de
● Palidez palmar e palidez de mucosas hemoglobinização já que se relaciona à
● Sopro cardíaco e taquicardia eritropoiese (o volume de hb presente nos
● Redução a tolerância aos exercícios reticulócitos representa o volume de ferro
● Astenia, dor em MMII disponível para a eritropoiese). A referência
● Unhas quebradiças e rugosas, forma de para cçs é de 0,5% a 2%, e do valor absoluto
colher (mais fidedigno) de 25000-85000/mm3.
● Estomatite angular ● Leucopenia e plaquetose: podem ser
● Perversão de apetite indicadores de anemia.
● Redução de atenção - disúrbios de conuta ● sinais de deficiência de ferro: redução da acidez
e percepção com prejuízo de aprendizagem gástrica, gastrite atrófica, sangramento da
mucosa intestinal, irritabilidade, distúrbios de
Exames laboratoriais específicos diagnosticam conduta e percepção, distúrbio psicomotor,
cada um destes períodos. inibição da capacidade bactericida dos
● Primeiro estágio (depleção de ferro): redução neutrófilos, diminuição de linfócitos T,
dos depósitos de ferro no fígado, baço e MO e diminuição da capacidade de trabalho e da
pode ser diagnosticada a partir da ferritina tolerância a exercícios, palidez da face, das
sérica, principal parâmetro utilizado para avaliar palmas das mãos e das mucosas conjuntival e
oral, respiração ofegante, astenia e algia em
mmii, unhas quebradiças e rugosas e estomatite ● É CONTRAINDICADO leite de vaca in
angular. natura, não processado, em pó ou fluido
em cçs <1ano (limitação de consumo de
Recomendação: a avaliação clínica não é 500ml/dia após os 12 meses).
suficiente para detecção precoce, uma vez que os → cç < 1 ano que recebe leite de vaca in
sinais clínicos se tornam visíveis apenas depois da natura ou fórmula inadequada se
condição instalada ou deficiência intensa, com enquadra em situação de risco
consequências graves e de longa duração. Assim, nutricional para anemia ferropriva e deve
o diagnóstico precoce é fundamental para a ser avaliada precocemente quanto à
aplicação de tratamentos eficazes. A história necessidade de suplementação. É
clínica, orientação pré-natal, orientação ao recomendada fórmula láctea genérica
aleitamento e introdução de alimentos CODEX com a utilização de sais de ferro
complementares e o exame clínico são partes adequados, de boa disponibilidade e menor
essenciais. custo.
Exames para Diagnóstico e profilaxia da ● contraindicação do consumo de leite e
anemia são: derivados e outros fatores antinutricionais
● hemograma completo (com parâmetros junto às refeições da cç com anemia.
hematimétricos), contagem de ● Acompanhamento nutricional adequado em
reticulócitos e ferritina. regimes restritos de carnes e alimentos fontes
● O uso da ferritina como marcador da fase de ferro hemínico (ex: vegetarianos) para
de depleção é essencial, porque a garantir o consumo adequado de ferro e ou
intervenção nesta fase, possibilita profilaxia suplementação profilática se necessário.
dos déficits cognitivos. ● Fortificação de alimentos: estratégia NutriSus
● A recomendação é a triagem de exames já (sachês com micronutrientes em pó para
em cçs com 12 meses. preparações da cç na rotina escolar),
fortificação da água potável com ferro,
Em casos de necessidade de diagnóstico fortificação das farinhas de trigo e milho com
diferencial ou naqueles não resolvidos com o fumarato ferroso e sulfato ferroso.
tratamento habitual, outras avaliações podem ser Programa Nacional de Suplementação de Ferro -
realizadas: dosagem do ferro sérico, transferrina, PNSF: para cçs de 6-24 meses, gestantes e
zincoprotoporfirina eritrocitária, capacidade total de lactantes até o 3º mês com suplementação
ligação do ferro, entre outros. No entanto, estes profilática com sulfato ferroso VO.
exames detectam a fase de deficiência de ferro e ○ Cçs entre 6-24 meses: sulfato ferroso na
não a fase de depleção. dosagem de 1mg/kg peso/dia.
O diagnóstico da anemia por valor de hb deve ser
feito pelas faixas de normalidade para cada idade Sociedade Brasileira de Pediatria: recomenda que
e não por valor absoluto. a suplementação com ferro deve ser iniciada
A cç deve ter ferritina > 30μg/dl (qnd < 15μg/dl aos 3 meses de idade e mantida pelo menos até
indica deficiência grave e valores intermediários os 2 anos de vida, independentemente do regime
devem ser avaliados após suplementação com de aleitamento.
ferro).
O teste do pezinho (triagem neonatal) deve
descartar causas genéticas de anemia (ex: dç
falciforme, defic. G6PD, hemoglobinopatias).

Ações de Prevenção da anemia ferropriva:


● Estímulo à alimentação adequada,
● Aumento do consumo de alimentos fontes de
ferro e de alimentos que aumentam a
biodisponibilidade e a absorção do ferro. ○ Cçs de 3-24 meses: 1mg de ferro
● Estímulo ao aleitamento materno exclusivo elementar/kg/dia, independentemente do
(até os 6 meses) e prolongado (até os 2 regime de aleitamento.
anos),
○ RN com peso <2500g: 2mg/kg/dia a partir do 15μg/dL2, (ressalvando a importância de que o
30º dia até os 12 meses. Após este, valor alcance os valores esperados entre 30 e
1mg/kg/dia por mais 12 meses. 300μg/dL).
○ Prematuros com peso <2500g: 2mg/kg/dia a → A dose de ferro depende do sal utilizado na
partir do 30º dia até os 12 meses. Após este, suplementação, e sua escolha deve ser pautada
1mg/kg/dia por mais 12 meses nos padrões de absorção, no grau de resposta em
○ Prematuros com peso entre 1000g e 1500g: relação ao tempo, e nos efeitos colaterais
3mg/kg/dia a partir do 30º dia até os 12 meses; (prioridade nos sais quelatos-bisglicinatos ou ferro
Após este, 1mg/kg/dia por mais 12 meses polimaltosado). O sulfato ferroso poderia ser a
○ Prematuros < 1000g: 4mg/kg/dia a partir do escolha dentre as opções na inexistência de
30º dia até os 12 meses. Após este 1mg/kg/dia sais férricos, monitorando-se a adesão ao
por mais 12 meses programa, pela quantidade de ocorrência de
○ Cçs >12 meses: 1mg/kg/dia por mais 12 efeitos colaterais, mesmo em doses baixas.
meses. → Tipos de sais de ferro para a suplementação:
○ Cçs entre 2-12 anos residentes em regiões sulfato ferroso, fumarato ferroso e gluconato
com prevalência de anemia ferropriva > 40%: ferroso (baixo custo e a rápida absorção -difusão
30mg/ dia. A suplementação profilática eleva a ativa e passiva, no duodeno). O sulfato ferroso é o
concentração de hb e estoques de ferro, composto de escolha.
reduzindo o risco de anemia. ○ A suplementação com sais de ferro exige
○ Gestantes não anêmicas: 40mg/dia de ferro cautela quanto ao excesso de dosagem, pois
elementar. a oxidação do ferro ferroso gera radicais
○ Gestantes com anemia: 60-120mg/dia, por livres, e a absorção excessiva eleva a
mínimo de 60 dias. saturação da transferrina e o ferro livre no
plasma, tóxico para o metabolismo.
Ações na atenção básica para a prevenção e ○ Por sofrer influência da dieta, a
controle da anemia: suplementação deve ser realizada em
● controle de dçs infecciosas e parasitárias jejum, 1h antes das refeições ou antes de
● ampliação da rede de saneamento básico e dormir.
higiene pessoal, acesso a água tratada), ○ Apesar da eficácia, a adesão é baixa
● ações voltadas para a saúde da mulher devido aos sintomas adversos, como
○ prevenção da gravidez na adolescência náuseas, vômitos, gosto metálico, pirose,
○ planejamento familiar, dispepsia, plenitude ou desconforto
○ estímulo ao acompanhamento nutricional abdominal, diarreia e obstipação. Assim, a
no pré-natal precoce dose ideal é a dose tolerada pelo
○ reforço da consulta pediátrica durante paciente.
pré-natal
○ estímulo aos testes de triagem neonatal → Sais férricos e aminoquelatos (ferro
para análise de outras causas da anemia polimaltosado, ferro aminoquelado, EDTA e ferro
○ acesso a cuidados perinatais e pós-natal carbonila): tem melhor perfil de adesão, por padrão
○ clampeamento adequado do cordão de absorção mais lento e controlado, por não
umbilical sofrerem alterações com a dieta (permite adm
○ prevenção de hemorragia pós-parto durante/após as refeições), e por provocarem
○ intervalo Intergestacional > 18 meses. menos efeitos adversos. Os sais férricos
apresentam eficácia semelhante aos ferrosos
TRATAMENTO quanto à correção da anemia ferropriva.
1. Orientação nutricional: consumo de alimentos ● Ferro quelato: apresenta alta
fonte, biodisponibilidade (a união do ferro ao
2. Reposição de ferro VO com dose aminoácido impede a formação de
terapêutica de 3 a 5 mg/kg/dia de ferro compostos insolúveis), não é prejudicado
elementar para cçs por mínimo de 8 por fatores inibidores da dieta e não é
semanas. exposto diretamente à mucosa intestinal
→ A suplementação deve ser continuada visando a (reduzindo os riscos de toxicidade local e
reposição dos estoques de ferro, o que varia entre de efeitos adversos), com as mesmas
2 a 6 meses ou até obtenção de ferritina sérica > vantagens dos sais férricos.
● Ferro carbonila: possui maior abundância
em teor de ferro elementar (98%), boa
disponibilidade e efetividade, e menos
efeitos adversos comparado aos sais
ferrosos, porém mais do que os outros sais
férricos. Pode ter sua absorção diminuída
por componentes da dieta, devendo ser
administrado em jejum.
→ Apresentam custo (não são distribuídos pelo
SUS).
3. Reposição parenteral de ferro:
recomendada em casos excepcionais
(hospitalização por anemia grave após
falha terapêutica do tto oral, necessidade
de reposição de ferro por perdas
sanguíneas, dçs inflamatórias intestinais,
quimioterapia ou diálise ou após cirurgias
gástricas com acometimento do intestino
delgado).
4. Monitorização: contagem de reticulócitos,
hemograma completo a cada 30-60 dias, e
dosagem de marcadores do estoque de
ferro-ferritina, com 30 e 90 dias; sendo que o
tratamento deve durar até a reposição dos
estoques de ferro, quase sempre por volta dos
6 meses de tratamento. A melhora:
a. Reticulócitos: 3 - 4 dias
b. Hemoglobina: 30 dias
c. Ferro sérico: 60-90 Pancitopenia é a diminuição no hemograma
d. Ferritina: 6 meses das 3 linhagens celulares – eritrócitos,
leucócitos e plaquetas – em decorrência de
COLOCAR ANEMIA CARENCIAL DE B12 AQUI
causas diversas (Tab 22.1), que podem ser
amplamente divididas em diminuição de
ANEMIA APLÁSICA:
produção da medula óssea ou aumento da
destruição periférica.
Anemia aplástica= pancitopenia resultante de
hipoplasia da medula óssea (Fig 22.1). Patogênese - O defeito subjacente em todos
os casos parece ser uma diminuição
substancial do nº de células-tronco
hematopoéticas pluripotentes e uma falha das
remanescentes, ou uma reação imunológica
contra elas, tornando-as incapazes de divisão
e diferenciação suficientes para povoar a
medula óssea.

-Anemia do tipo Fanconi:


-sd autossômica recessiva, associada a
É classificada em primária (congênita ou retardo de crescimento e defeitos congênitos
adquirida) e secundária (Tab 22.2). do esqueleto (microcefalia, ausência do
rádio/polegares), do trato renal (rim pélvico ou
em ferradura) (Fig 22.2) e pele
(hiper/hipopigmentação); às vezes, dificuldade Aspectos clínicos - pode surgir em qualquer
de aprendizado. idade, com picos dos 10-25 anos e após 60
anos. É mais frequente na Ásia (China). Pode
-Disceratose congênita: rara, ligada ao ser insidiosa ou aguda, com sintomas/sinais
sexo, com atrofia das unhas e pele, anemia de anemia, neutropenia ou trombocitopenia.
aplástica e alto risco de desenvolvimento de Equimoses fáceis, sangramento gengival,
câncer. Associada a mutações nos genes epistaxe e menorragia são as manifestações
DKC1 (discerina) ou TERC (transcriptase hemorrágicas mais frequentes e fazem parte
reversa da telomerase do molde de RNA), da apresentação (Fig 22.4), quase sempre
envolvidos na manutenção do comprimento do também com sintomas de anemia. Infecções
telômero. (princ. boca e garganta) são comuns, e
generalizadas colocam a vida em risco. Os
Anemia aplástica adquirida: mais comum. Na linfonodos, fígado e baço não estão
maioria, o tec. hematopoético é alvo de um aumentados. Uma história clínica cuidadosa e
processo autoimune, dominado pela um exame acurado para evidenciar, por
expressão oligoclonal de linfócitos T CD8+. 1/3 exemplo, deformidades ósseas, são
dos casos, são encontrados telômeros curtos indispensáveis em todas as idades para
nos leucócitos, especialmente em casos de excluir formas herdadas.
longa evolução (mutações no complexo de
reparação do telômero). As respostas
favoráveis à globulina antilinfocítica (ALG) e à
ciclosporina sugerem que dano autoimune a
células-tronco, funcional ou estruturalmente
alteradas, mediado por céls T, seja importante
na patogênese.

Anemia aplástica secundária: causada por


lesão direta à MO por radiação ou fármacos
citotóxicos. Os antimetabólitos (metotrexato) e
os inibidores mitóticos (daunorrubicina)
causam apenas aplasia temporária, mas os
alquilantes, princ. bussulfano, podem causar Achados laboratoriais - para o diagnóstico de
aplasia crônica, muito semelhante à doença anemia aplástica, no hemograma deve ter pelo
idiopática crônica. A anemia aplástica pode ser menos 2 :
um raro efeito colateral ao cloranfenicol ou
ouro (Tab 22.2). A dç pode aparecer meses ● Anemia (hb < 10 g/dL) normocrômica,
depois de hepatite viral (geralmente negativa normocítica ou macrocítica (VCM de
para todos os vírus de hepatite conhecidos). 95-110 fL). A contagem de reticulócitos
Como a incidência de toxicidade à MO por costuma ser extremamente baixa em
cloranfenicol é alta, esse é reservado para o relação ao grau de anemia.
tto de infecções que ponham a vida em risco e ● Neutropenia < 1,5 × 103/μL e
para as quais ele seja o ATB de escolha Trombocitopenia < 50 × 103/μL.
(ex:febre tifoide). Produtos químicos, como ● Casos graves mostram neutrófilos < 0,5
benzeno. Raramente, a anemia aplástica é o × 103/mL, plaquetas < 20 × 103/mL,
quadro de apresentação da leucemia aguda reticulócitos < 20 × 103/mL e
linfoblástica ou mieloide, particularmente na celularidade da medula óssea < 25%.
infância. Mielodisplasias também podem se Casos muito graves têm neutrófilos <
apresentar com medula hipoplástica. 0,2 × 103/mL.
● Não há células anormais no sangue Adquirida: remover agente causador,
periférico. tratamento da doença base, terapia
● ●A MO mostra hipoplasia, com perda imunossupressora, casos graves podem ser
de tec. hematopoético substituído por levados ao TMO.
gordura (> 75% dos espaços
medulares). A biópsia com trefina Fanconi: andrógenos, fator estimulador de
mostra pequenos aglomerados colônias granulocitárias, casos graves = TMO
celulares em um fundo hipocelular. As (curativo).
principais células presentes são
Disceratose congênita: suporte, transfusões,
linfócitos e plasmócitos; os
fator estimulador de colônias granulocitárias,
megacariócitos estão muito diminuídos
eritropoietina e TMO (curativo).
ou ausentes.
● Citogenética e análise molecular devem Síndrome de Shwachman-Diamond: fator
ser feitas para excluir formas genéticas estimulador de colônias granulocitárias ou
e mielodisplasia com medula TMO.
hipocelular.
SÍNDROMES FALCÊMICAS
Diagnóstico: AA deve ser diferenciada de
outras causas de pancitopenia (Tab 22.1). A As síndromes falcêmicas integram um grupo
avaliação da gravidade é importante para de distúrbios da hemoglobina em que há
decisões de tratamento e prognóstico. A herança do gene de β-globina S (sickle
hemoglobinúria paroxística noturna (PNH) [foicinha]). Esta anormalidade genética é
deve ser excluída por citometria em fluxo, causada pela substituição de ácido glutâmico
testando-se os eritrócitos para CD55 e CD59. por valina na posição 6 na cadeia β (Fig
Em idosos, a SMD hipoplástica pode mostrar 7.14).
aspectos semelhantes; anomalias celulares
qualitativas e alt. clonais citogenéticas ou
moleculares sugerem mielodisplasia. Alguns
pcts com diagnóstico de AA desenvolvem
PNH, SMD ou LMA nos anos subsequentes,
mesmo em pcts que responderam bem ao
tratamento imunossupressor. Leucemia de
linfócitos grandes e granulares também pode
estar associada com pancitopenia e medula
hipocelular.

Tto geral: Se identificada uma causa provavel A anemia de células falciformes


como fármaco, deve ser removida. O tto inicial (homozigose Hb SS) é a mais comum entre
é de suporte, com transfusões de sangue, doenças graves que fazem parte da síndrome,
concentrado de plaquetas e tto/prevenção de ao passo que as doenças duplamente
infecções. Os derivados de sangue devem ser heterozigóticas – hemoglobinopatia SC e Hb
depletados de leucócitos por filtração, para S/β-talassemia – também causam anemia com
diminuir o risco de aloimunização, e irradiados, afoiçamento dos eritrócitos.
para evitar enxerto de linfócitos vivos do
doador. O antifibrinolítico (ác. tranexâmico) A Hb S (Hb α2β2S) é insolúvel e forma cristais
reduz o sangramento quando exposta à baixa tensão de oxigênio
(Fig 7.15). A hemoglobina desoxigenada
polimeriza em fibras longas, formadas por sete
fios duplos enrolados com ligações cruzadas Dolorosas - mais frequentes e podem ser
(Fig 7.15). esporádicas e imprevisíveis, ou precipitadas
por infecção, acidose, desidratação e
desoxigenação (ex, altitude, cirurgia, parto,
estase circulatória, exposição ao frio, exercício
violento).

● Infartos muito dolorosos ocorrem nos


ossos (quadril, ombros e vértebras são
comumente afetados) (Fig 7.16).

Os eritrócitos sofrem deformação falciforme e


podem ocluir diferentes regiões da
microcirculação ou de grandes vasos,
causando infarto de vários órgãos.

ANEMIA DE CÉLULAS FALCIFORMES


(HOMOZIGOSE PARA Hb S)

Aspectos clínicos - os aspectos clínicos são de


anemia hemolítica grave pontuada por
crises. Os sintomas costumam ser mais leves
do que o esperado para a gravidade da
anemia, uma vez que a Hb S libera O2 aos
tecidos com maior facilidade do que a Hb -A sd mão-pé (dactilite dolorosa causada por
A, pois sua curva de dissociação é infartos dos pequenos ossos) frequentemente
desviada para a direita. A expressão clínica é a primeira apresentação da doença e pode
da Hb SS é muito variável, e alguns pacientes causar variação do tamanho dos dedos (Fig
têm vida quase normal, sem crises, ao passo 7.17).
que outros sofrem crises graves desde os
primeiros meses de vida, podendo morrer no
início da infância ou quando adultos jovens. As
crises podem ser vasoclusivas (dolorosas ou
viscerais), aplásticas ou hemolíticas. Pode
haver sério dano a vários órgãos.

Crises vasoclusivas (Dolorosas ou


viscerais):
Viscerais - causadas por deformação -Úlceras nas extremidades das pernas são
falciforme de eritrócitos e retenção de sangue comuns, causadas por estase vascular e
em órgãos, quase sempre com grave isquemia local (Figura 7.19).
exacerbação da anemia. A síndrome -O baço está aumentado nos lactentes e no
falcêmica torácica aguda é a causa mais início da infância, porém, posteriormente,
comum de morte em crianças e em adultos. O quase sempre diminui de tamanho devido a
paciente apresenta-se com dispneia, queda de infartos (autoesplenectomia).
PO2, dor torácica e infiltrados pulmonares à -Hipertensão pulmonar detectada por eco com
radiografia de tórax. Trata-se com analgesia, Doppler e aumento da velocidade de
oxigênio, exsanguineotransfusão e suporte regurgitação tricúspide são comuns e
ventilatório, se necessário. Crises de aumentam o risco de morte.
sequestro no fígado e na bacia e sequestro -Retinopatia proliferativa e priapismo são
esplênico podem ser graves e tornar outras complicações clínicas.
necessária a exsanguineotransfusão. O -Lesão crônica do fígado pode ocorrer por
sequestro esplênico é comumente observado microinfartos.
em lactentes e se manifesta com -Cálculos vesiculares de pigmento (bilirrubina)
esplenomegalia, queda de hemoglobina e dor são frequentes.
abdominal. O tratamento é feito com -Os rins são vulneráveis a infartos da medula
transfusão. As crises tendem a ser com necrose papilar. Insuficiência da
recidivantes e, frequentemente, há capacidade de concentrar a urina agrava a
necessidade de esplenectomia. Priapismo e tendência à desidratação e às crises, e pode
danos hepático e renal devido a pequenos desenvolver-se enurese noturna.
infartos repetidos também são -Infecções são frequentes, em parte pelo
complicações comuns. hipoesplenismo: pneumonia, infecção urinária
e septicemia por gram-negativos são as mais
Crises aplásticas - podem ocorrer como comuns. Osteomielite, que também pode
resultado de infecção por parvovírus ou por ocorrer, geralmente é causada por Salmonella
deficiência de folato, sendo caracterizadas por spp.
queda súbita da hemoglobina e da contagem
de reticulócitos, geralmente exigindo
transfusão (ver Figura 22.7).

Crises hemolíticas - são caracterizadas por


aumento do ritmo de hemólise com queda da
hemoglobina e aumento da reticulocitose e,
em geral, acompanham crises dolorosas.

Dano a outros órgãos:

-As crises vasoclusivas mais graves são a


cerebral (AVC ocorre em 7% dos pcts) e a da
medula espinal. Até 1/ 3 das crianças tiveram
um infarto cerebral silente antes dos 6 anos
(Figura 7.18). A US transcranial com Doppler
detecta fluxo sanguíneo cerebral anormal,
indicativo de estenose arterial, o que pode
estar associado a retardo cognitivo e é
preditivo de acidentes vasculares na infância.
Achados laboratoriais mantida pelo menos até a puberdade. A
vacinação contra hepatite B também é feita,
● A hemoglobina geralmente é de 6 a 9 visto que transfusões serão eventualmente
g/dL – baixa, em comparação com a necessárias.
sintomatologia leve da anemia. ● Crises – tratar com repouso, aquecimento,
● Eritrócitos falciformes (drepanócitos) hidratação VO e/ou IV com solução salina
e células-alvo ocorrem no sangue normal (3L em 24 h) e antibióticos, se
(Figura 7.20). Aspectos de atrofia houver infecção. Deve ser feita analgesia
adequada (paracetamol/AINE/opiáceos).
esplênica (p. ex., corpos de
Transfusão de sangue é feita somente se a
Howell-Jolly) também podem estar
anemia for grave e sintomática.
presentes.
Exsanguineotransfusão pode ser necessária,
● Os exames de triagem para deformação
principalmente quando houver dano
falciforme dos eritrócitos são positivos
neurológico, crise de sequestro visceral ou
quando o sangue é desoxigenado (p.
crises dolorosas repetidas. O objetivo é
ex., com ditionato e Na2 HPO4). reduzir a porcentagem de Hb S < 30% e, após
● HPLC ou eletroforese de hemoglobina AVC, essa porcentagem deverá ser mantida
(Figura 7.12): na Hb SS, a Hb A não é ao menos por 2 anos.
detectada. A quantidade de Hb F é ● Há necessidade de cuidados especiais na
variável, em geral de 5 a 15%; gravidez e durante anestesia. Discute-se se
quantidades maiores são associadas a os pacientes necessitam ou não de
uma doença mais leve. transfusões de glóbulos para diminuir os
níveis de Hb S durante a gravidez, antes do
parto e em cirurgias de pequeno porte.
● Teste do pezinho (screening neonatal) Transfusões repetidas durante a gravidez são
● Hemograma: anemia normocítica feitas em casos de história de problemas
normocrômica, leucocitose e plaquetose
obstétricos prévios ou de crises frequentes.
● Presença de drepanócitos (hemácias
Anestesia e técnicas de recuperação
falcizadas) no sangue periférico
cuidadosas devem ser empregadas para
● Estudo da Hb: HPLC (cromatografia líquida
evitar hipoxemia ou acidose.
de alta performance), eletroforese da Hb e
● Transfusões – são feitas repetidamente como
teste da solubilidade. Sendo necessário
realizar 2 testes diferentes.
profilaxia em pcts com crises frequentes ou
que sofreram lesões orgânicas importantes
(ex, cerebrais), ou com resultados anormais
ao Doppler transcranial. O objetivo é suprimir
a produção de Hb S por meses ou anos. A
sobrecarga de ferro, mais bem avaliada pelo
total de unidades de sangue transfundido e
pelo ferro hepático, pode tornar necessário o
Tratamento tratamento quelante; aloimunização contra os
eritrócitos doados é outro problema
● Profilaxia – evitar precipitantes de crises - constante.
desidratação, anoxia, infecções, estase da ● Hidroxicarbamida pode aumentar os níveis
circulação e resfriamento da pele; Ácido fólico de Hb F e melhorar a evolução clínica de
(5 mg 1X/semana); Boas condições gerais de crianças e adultos. É indicada para casos de
nutrição e higiene. doença grave ou moderada (ex, > 3 crises
● Vacinação contra pneumococo, Haemophilus dolorosas/ ano). Não pode ser utilizada
e meningococo, assim como penicilina regular durante a gravidez.
VO, diminuem a frequência de infecção com ● O transplante de células-tronco pode levar a
esses microrganismos. A penicilina VO deve estado “livre de doença” em 80% dos casos.
ser iniciada na ocasião do diagnóstico e A mortalidade é <10%. Há indicação de
transplante somente nos casos mais graves, desequilíbrio entre elas, eritropoiese ineficaz,
cuja qualidade ou expectativa de vida estejam hemólise intramedular e anemia de grau variável.
muito prejudicadas.
● Outros fármacos, como butiratos, para As talassemias beta são classificadas em
aumentar a síntese de Hb F ou a solubilidade talassemia beta homozigota (maior), talassemia
de Hb S estão sendo pesquisados. beta intermédia e talassemia beta heterozigota
(menor) que também é denominada de traço
beta-talassêmico. O traço beta-talassêmico é o
Traço de células falciformes - É uma
principal diagnóstico diferencial com a anemia
condição benigna, sem anemia e com
ferropriva e caracteriza-se também por anemia
aspecto normal dos eritrócitos na distensão hipocrômica e microcítica, porém a dosagem de
sanguínea. Hematúria é o sintoma mais ferro sérico é normal e na eletroforese de
comum, causada por pequenos infartos da hemoglobina os valores de HbA2 e HbF estão
papila renal. A Hb S varia de 25 a 45% da aumentados. É importante salientar que se houver
hemoglobina total (Figura 7.12). Deve-se deficiência de ferro concomitante, a eletroforese de
tomar cuidado com anestesia, gestação e Hb pode não demonstrar aumento de HbA2,
subida a grandes altitudes. dificultando nesse caso a interpretação,
devendo-se repetir a eletroforese de Hb após a
Combinação de hemoglobina S com outros correção da ferropenia.
defeitos genéticos da hemoglobina - As
O traço alfa talassêmico (talassemia alfa menor)
mais comuns são Hb S/β-talassemia e
também faz parte do diagnóstico diferencial da
hemoglobinopatia SC. Na Hb S/β-talassemia, anemia ferropriva, apresentando-se com discreto
o hemograma mostra VCM e a HCM mais grau de anemia hipocrômica e microcitose. O
baixos do que na hemoglobinopatia diagnóstico pode ser feito ao nascimento ao
homozigótica SS, mas o quadro clínico é evidenciar-se a presença de Hb de Bart’s no teste
similar, salvo pela persistência de do pezinho, e o diagnóstico definitivo, por meio de
esplenomegalia. Os pacientes com biologia molecular, com a pesquisa das deleções
hemoglobinopatia SC mostram uma particular dos genes alfa 3.2 e 4.7. Cabe ressaltar que a
tendência a tromboses e embolia pulmonar, eletroforese de Hb quando realizada
sobretudo na gestação. Em comparação com imediatamente após o nascimento não confirma o
diagnóstico da alfa talassemia.
a anemia de células falciformes SS, os
pacientes têm maior incidência de anomalias
da retina e esplenomegalia, mas têm anemia
mais leve e expectativa de vida
significativamente maior. O diagnóstico é feito
pela HPLC ou pela eletroforese de
hemoglobina, particularmente com exame dos
familiares.

NO PLANO DE ENSINO TAMBÉM TEM


LEUCEMIA AGUDA, MAS AINDA NÃO
COLOQUEI AQUI. VOU COLOCAR ALGUNS
SLIDES DE HEMATO AQUI

TALASSEMIA BEM RESUMIDA

Quanto às síndromes talassêmicas, são anemias


hemolíticas hereditárias, onde há alteração
genética no cromossomo 11 (beta-talassemia) e/
ou no 16 (alfa–talassemia). Este fato determina
diminuição da síntese das cadeias de globina beta
ou alfa respectivamente, cuja redução resulta em

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