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A QUESTÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ELABORAÇÃO DA


PROPOSTA DE ENSINO DA DISCIPLINA PARA O MUNICÍPIO DE PRESIDENTE
PRUDENTE-SP

RESUMO

Este trabalho versa sobre o processo de construção da proposta municipal para o ensino
de Geografia na cidade de Presidente Prudente (SP), coordenada pelo professor Dr.
Cláudio Benito de Oliveira Ferraz através do Grupo de Pesquisa Linguagens
Geográficas, vinculado ao Departamento de Educação da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente, em
parceria com a Secretaria Municipal de Educação da mesma cidade. A proposta foi
iniciada no ano de 2007 e teve continuação até o ano de 2009. Este texto possui como
objetivo principal descrever e analisar o processo de construção da referida Proposta.
Pretendeu também sugerir, com base nos estudos até aqui realizados, uma
sistematização de conteúdos a serem trabalhados em cada série do ensino fundamental,
no município de Presidente Prudente. O trabalho busca refletir sobre as dificuldades na
escolha dos conteúdos a serem ensinados nas aulas de Geografia, nas séries iniciais e
propor sempre uma reflexão dos professores para a valorização do cotidiano e da
diversidade para a aprendizagem significativa.

ABSTRACT
This work will discuss about the process of construction of the municipal proposal for
Teaching of Geography Presidente Prudente city, in São Paulo State, coordinated for the
Dr. Teacher Cláudio Benito de Oliveira Ferraz, through of the Research Geographic’s
Languages Group, and begun in the year of 2007 and has been continues until 2009,
maintaining a partner between Education Municipal Secretary and State University of
São Paulo State, UNESP, in same city. The main objective of this stage is to describe
the process of construction of a “Proposal of Geography Teaching for to school of
Presidente Prudente city. Intend too suggest, based in studies realized in the last years
for the responsible group, a systematization of the subjects for to work in each series of
do Fundamental Teaching, in Presidente Prudente city. This work wants too, think about
the difficulty in the subjects choice will to be learn in initial series and to propose a
reflection of the teachers to valorize the quotidian and the diversity for to the learning
meaningful.

INTRODUÇÃO

Este texto versa sobre a experiência de elaboração da proposta


municipal para o ensino de Geografia nas séries iniciais do ensino fundamental, iniciada
no ano de 2007, no município de Presidente Prudente, cidade localizada a oeste do
Estado de São Paulo. Este projeto de elaboração da proposta de ensino, ainda em
andamento, passou a ser pensado através de discussões feitas no grupo de pesquisas
Linguagens Geográficas, vinculado ao Departamento de Educação da Universidade
Estadual Paulista de Presidente Prudente. Estas discussões resultaram numa parceria
com a Secretaria Municipal de Educação de Presidente Prudente, para o
desenvolvimento do projeto juntamente com os profissionais da educação do município.
O desenvolvimento desta proposta contou com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão,
num primeiro momento, e da Pró-Reitoria de Graduação da UNESP, por meio do seu
programa de Núcleo de Ensino.
A elaboração da proposta para o ensino da Geografia nas séries
iniciais em Presidente Prudente apresentava-se como uma necessidade da rede
municipal há alguns anos, tendo em vista que a Lei de Diretrizes e Bases, prevê, desde
sua publicação, em 1996, que: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino.(...)” e ainda
que: “§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei.”
(BRASIL, 1996). Com este artigo, a referida lei tinha por intenção dotar de autonomia
os entes federativos para que elaborassem suas propostas de ensino de acordo com a
realidade local, tendo em vista que os Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados
logo após a LDBEN de 1996, versavam sobre o ensino a nível nacional, sem considerar
as especificidades do local.
Além do dispositivo legal, e da necessidade de abordar a questão
local, existe também latente a questão da polivalência dos professores atuantes nas
séries iniciais no município. Os professores, na grande maioria das vezes, com formação
especifica em Pedagogia, acabam por ser responsáveis por um rol de disciplinas do
núcleo comum, e acabam, segundo constatação de DEAK (2009), privilegiando os
estudos da Língua Materna e da Matemática, em detrimento de outras disciplinas,
dentre elas a Geografia.
Diante deste contexto, da busca de uma inserção efetiva e
qualitativa do ensino de Geografia nas séries inicias, a construção da Proposta
Municipal de Geografia no âmbito da Secretaria Municipal de Educação de Presidente
Prudente iniciou-se no ano de 2007, envolvendo Universidade e Escola por diferentes
etapas até que se chegasse à elaboração da proposta.

OBJETIVOS

A construção do discurso geográfico é imprescindível para que a


criança possa construir pensar o mundo em que vive e possa compreender-se inserida
neste mundo. Esta construção, deve ocorrer a partir da própria criança e de suas próprias
vivências, para que seja significativo aquilo que lhe vem acerca de uma ciência que
deve ampliar sua visão de mundo e produzir conhecimentos no ambiente escolar.
Dentro desta concepção a proposta está sendo elaborada com o intento de envolver os
professores na elaboração de seu texto, em articulação entre a Universidade e a Escola
para romper com o que nos traz Oliveira, 2005, quando afirma que:

“(...)os professores e os alunos são treinados a não pensar sobre o que


é ensinado e sim, a repetir pura e simplesmente o que é ensinado. O
que significa dizer que eles não participam do processo de produção
do conhecimento.” (p.28).

Além disso, este trabalho objetiva mais do que o cumprimento


do texto da Lei de Diretrizes e Bases de 1996, supracitado, visa também endereçar o
ensino de Geografia no município de Presidente Prudente, contextualizando-o dentro de
um espaço de uma cidade média, que tem suas especificidades nem sempre retratadas
nos livros didáticos que os professores mencionaram em questionário1 como principal
suporte para o ensino da Geografia.
O projeto busca dar alternativas ao trabalho do professor,
possibilitando o exercício da interdisciplinaridade, bem como uma oportunidade para

1
Esta constatação foi feita após a análise dos livros didáticos mais apontados pelos professores em
questionário aplicado no ano de 2007 em treze escolas da Rede Municipal de Presidente Prudente.
que se produza conhecimentos no ambiente escolar, para que se pense o ensino da
Geografia a partir da escola, para a qual se destina a proposta.

METODOLOGIA

Inicialmente foi preciso buscar uma metodologia que


possibilitasse aos componentes do grupo de pesquisa um maior conhecimento acerca da
realidade das escolas, para que fosse possível fazer inferências sobre o ensino da
disciplina no município. Optou-se então por aplicar um questionário, com questões que
versassem sobre a concepção de Geografia do professor, quais os materiais utilizados
como suporte e sobre a escolha de conteúdos a serem ministrados em cada série.
Da análise dos dados foi possível extrair que o maior suporte de
trabalho para o professor era o livro didático, apontado por 98% dos professores como o
guia principal para a escolha de conteúdos em cada série, onde uma única coleção era
adotada por toda a escola para que os conteúdos tivessem uma seqüência de uma série
para outra. Este fato reforçou ainda mais a necessidade da elaboração da proposta, tendo
em vista que os professores estavam buscando como alternativa para a escolha de
conteúdos, o livro didático, instrumento alheio à realidade dos alunos, elaborado num
contexto diverso à realidade que vivenciam, em que nem sempre o alunado vê
representado seu modo de vida
Feita esta constatação de que o grande material de suporte para
os professores da rede municipal era o livro didático houve então a necessidade de
analisar esses livros e qual a concepção de Geografia que traziam em suas páginas, pois
através do conhecimento desta Geografia poderíamos entender um pouco mais sobre a
concepção da ciência pelos professores.
Ao analisarmos os livros mais citados pelos professores2 foi
possível perceber que, apesar de serem visualmente atraentes, de apresentarem uma
preocupação em valorizar a questão escalar em cada série, estes livros, em todas as
2
As coleções de livros didáticos mais citados pelos professores nos questionários aplicados e
posteriormente analisadas foram:
CHIANCA. Rosaly B. & TEIXEIRA. Francisco M.P. Geografia. São Paulo. Ática,
2006
GUELLI, Neuza Sanchez &ORENSZTEJN. Miriam. Geografia. São Paulo: Moderna,
2001.
LIMA, Mirna. Coleção Porta Aberta. São Paulo: FTD, 2008.
PIASSI, et al. Caracol: Ensino Fundamental Geografia. São Paulo,: Scipione, 2004
séries analisadas ainda aparentam estar desvinculados da realidade dos alunos que
vivem numa cidade média, como Presidente Prudente. É possível que este fato seja em
razão de serem estes livros produzidos em grandes centros urbanos, ou até pela
concepção dos autores sobre os elementos geográficos.
Do trabalho de análise dos livros pudemos também perceber
que, o distanciamento do livro para com a realidade do aluno destaca ainda mais o papel
do professor como agente mediador, entre os conhecimentos da ciência geográfica
presente nos livros didáticos com a vivência dos alunos. Emerge então a questão do
como fazer, como privilegiar as experiências dos alunos na construção do discurso
geográfico que começa, ou deveria começar desde as séries iniciais do ensino
fundamental.
Durante a elaboração da proposta também foram discutidas
questões acerca da formação do professor que ministra aulas nas séries iniciais do
Ensino Fundamental, que na quase totalidade não possui formação em Geografia, o que
poderia dificultar o entendimento dos conceitos e categorias da ciência geográfica.
Para aproximar o professor de algumas discussões e conceitos
presentes no seio da ciência geográfica os estagiários que compunham o grupo de
pesquisa elaboraram um texto sobre as categorias geográficas e os conceitos-base da
Geografia, que, após revisto pelo professor coordenador do grupo de pesquisa
Linguagens Geográficas, tornou-se a base um curso de extensão ministrado aos
professores da rede municipal de Presidente Prudente.
Quando da conclusão do curso iniciou-se a fase de elaboração
da proposta propriamente dita, envolvendo os estagiários da disciplina de Prática de
Ensino do Curso de Licenciatura em Geografia da FCT/UNESP e os estagiários do
projeto vinculados ao Grupo de Pesquisa Linguagens Geográficas, responsável pela
elaboração da proposta.

RESULTADOS PRELIMINARES

Na elaboração da proposta optou-se por não fazê-la de forma a


especificar detalhadamente os conteúdos, mas tratando de diretrizes gerais, ano a ano,
para que os professores pudessem gozar de autonomia para trabalhar de acordo com as
peculiaridades de seu corpo discente. O grupo debruçou-se sobre a construção da
questão escalar, de como seria sua abordagem nas séries iniciais, sobre a questão da
aquisição de habilidades e competência fundamentais a serem desenvolvidas através do
contato com a disciplina de Geografia, além da promoção da interdisciplinaridade entre
as disciplinas que compõem o núcleo comum de disciplinas nas séries iniciais.
Eis a proposta de forma simplificada, coordenada pelo professor
Cláudio Benito de Oliveira Ferraz e que está sendo discutida por professores e
estagiários do grupo de pesquisa Linguagens Geográficas:

PRIMEIRO ANO

Conteúdo/ Atividades Habilidades/


Matriz Temática Competências
-Formas dos corpos -Observar, Descrever e desenhar as -Observar;
formas dos corpos (individual, do pai, Descrever; Ler;
mãe ou irmão; do amigo na sala); Escrever; Desenhar.
Começando por uma parte do corpo em (organizar,
tamanho natural (mão ou pé ou nariz) e solidarizar)
depois, em grupo, fazer a escala do corpo
inteiro de cada componente, com cores
diferentes, indicando numa legenda a
quem representa.
-Formas dos -Observar objetos que mais gosta na casa -Observar;
objetos (brinquedo ou móvel, etc.); na sala, em Descrever; Ler;
grupo, desenhar aos mesmos, Desenhar; (organizar,
estabelecendo uma ordem para ajudar solidarizar)
cada membro do grupo. Desenhar a
carteira na sala por diferentes ângulos.

SEGUNDO ANO

Conteúdo/ Atividades Habilidades/


Matriz Temática Competências
-Formas dos -Rememorar os desenhos e -Observar;
corpos e objetos representações dos corpos e objetos Descrever;
trabalhados no ano anterior e pedir para Comparar; Ler;
descreverem o que significam; Pedir Calcular; Desenhar;
para observarem o amigo e destacar as Escrever
mudanças; Medir a altura, peso e (Comunicar;
desenhar a forma do amigo. Organizar)
-Distribuição dos -Observar a sala de aula, destacar seus -Descrever;
corpos e objetos no principais objetos e elementos; Desenhar Observar; Interpretar;
lugar a sua carteira em relação a esses Localizar; Ler;
elementos, ver o que está atrás, na frente Escrever; Desenhar;
e dos lados; Medir a estas e reproduzir Sistematizar
em escala. (Comunicar;
-Descrever e desenhar a parte que mais Organizar)
gosta da casa e explicar porque gosta.
Destacar os elementos e formas desta
parte da casa. Destacar se essa parte está
na frente ou atrás em relação a rua ou ao
por/nascer do sol.
-Organizar a -Descrever e desenhar a casa e seus -Descrever;
distribuição das cômodos; Destacar os principais objetos Localizar; Observar;
partes do lugar e funções de cada cômodo. Enumerar a Mensurar;
estes. Pesquisar os membros da família Sistematizar;
(idade, local de origem, atividade, peso, Escrever; Desenhar;
tamanho do pé). Em grupo, comparar as Sistematizar
histórias e ver elementos comuns a elas. (Organizar;
Descrever e desenhar, em grupo, a Solidarizar).
escola e suas partes; Destacar os
principais objetos e funções de cada
parte. Enumerar a estas. Fazer pesquisa
sobre quantos alunos, professores e
funcionários a escola tem.

TERCEIRO ANO

Conteúdo/ Atividades Habilidades/


Matriz Temática Competências
-Mudanças que -Descrever e analisar, escrever e desenhar -Descrever;
aconteceram de um as mudanças ocorridas nos alunos, Analisar;
ano para outro pessoas e lugares próximos (sala, escola, Observar; Ler,
casa); Comparar com os registros feitos Comparar;
no ano anterior, destacando as mudanças Localizar;
das formas, de localização/distribuição e Sistematizar
de funções
-Forma, -Aplicar o padrão metro para fazer a Analisar;
organização, escala da sala e objetos. Definir as Deduzir;
representação e legendas e os critérios de elaboração da Observar;
escala da sala na representação. Mensurar,
escola -localizar, por atividade grupal, a sala na Localizar;
escola fazendo uso da planta da mesma e Orientar
de um referencial (norte), uma bússola ou (Organizar,
o sol. Cooperar,
Interagir)
-Localizar escola no -Comparar a representação da sala, a Deduzir;
bairro e forma do localização da mesma na escola, com a Localizar;
bairro. fotografia do Google da escola no Bairro e Descrever;
deste na cidade. O norte comum a todos. Analisar; Ler;
-Iniciar a descrição do bairro. Alunos Escrever;
devem observar e descrever, por texto e Observar;
desenhos, as características principais do Desenhar ;
bairro da escola (comércio, lazer, tipos Sistematizar
das moradias, das ruas, árvores, relevo, (Solidarizar,
movimento). Comparar fotos e imagens Organizar;
do Google do bairro com as de outro Comunicar)
bairro e pedir análise dos alunos.
-Entrevistar moradores ou comerciantes
mais antigos para saber como o bairro era
e quais os problemas atuais. Comparar
fotos desses períodos e destacar datas e
episódios importantes (construção da
igreja, da escola, asfalto etc.)

QUARTO ANO
Conteúdo/ Atividades Habilidades/
Matriz Temática Competências
Mudanças nas Observar, descrever e analisar as causas Observar;
formas, localização das mudanças ou não que ocorreram no Descrever;
e funções do bairro bairro da escola. Das formas e Analisar; Ler,
distribuição das construções e vias de Escrever;
circulação. Desenhar;
Comparar;
Deduzir.
A escola no bairro: Organizar por grupos a apresentação da Descrever;
seu espaço, nosso escola e do bairro para o grupo da mesma Localizar ;
lugar série de outra escola. Escolher as Sistematizar
fotografias e desenhos que retratam o (Organizar,
cotidiano das pessoas e atividades. Solidarizar,
Localizar no mapa da cidade e na Comunicar)
imagem do Google. Trocar cartas de
apresentação entre os grupos, assim
como fotos dos alunos e professores.
Apresentar a escola e o bairro para os
visitantes, com as principais
características.
Deslocar no espaço: Destacar no mapa da cidade e no Google Orientar;
orientar e localizar a localização das escolas e o trajeto que Localizar;
se fará para sair de um lugar e chegar ao Analisar;
outro. Destacar as formas do relevo e da Interpretar;
ocupação do território. Escolher certos Sistematizar
pontos para observar e tirar fotos (Pontos (Organizar;
elevados, fundos de vale, construções de Comunicar;
destaque). O relatório em grupo deve Solidarizar)
comparar as escolas e bairros, destacar as
semelhanças e diferenças, assim como os
principais aspectos do deslocamento.
Meu lugar no Introduzir a discussão da cidade a partir Analisar,
espaço da cidade das principais características dos Localizar;
familiares dos bairros das escolas. Interpretar;
Localizar as regiões de comércio, Observar.
moradia, indústria, banco, as vias
principais e os nomes de bairros
próximos. Analisar gráficos e tabelas de
população do município, vendo a
evolução da urbana e rural. Identificar os
tipos de trabalho e de produtos de cada
região. Mostrar no mapa e Google os
caminhos de entrada/saída da cidade e
para onde vão.

QUINTO ANO

Conteúdo/ Atividades Habilidades/


Matriz Temática Competências
Eu no lugar: as Resgatar os registros dos corpos desde a Observar;
escalas temporais e primeiro ano e pedir para compararem Analisar;
espaciais. com o atual. Essas mudanças são Localizar;
comparadas com as transformações Orientar
observadas na escola, bairro e cidade. Deduzir;
Através da observação dos corpos e Sistematizar;
objetos nos lugares que não estão Comparar;
isolados, fazer o exercício da escala da Interpretar
sala até o mundo, por mapas e pelo (Organizar,
Google. Saber se localizar depende de Comunicar,
onde se está, para onde quer ir e do Solidarizar)
contexto do lugar, como participar de um
jogo, precisa saber das regras, do objetivo,
quem participa e como agir. Trabalhar
com os motivos da escolha da casa em
que mora, da profissão dos pais, da
localização de uma indústria ou comércio
na cidade – estimular os alunos
deduzirem quais os motivos por meio de
dados como matéria-prima, vias de
acesso, mão-de-obra etc.
Eu na região: Comparar a divisão do território do corpo Analisar;
organizar o território em partes, da casa em cômodos, da cidade Localizar
conforme os em bairros, ver que o estado também se Deduzir;
objetivos e usos. divide em regiões e o país em estados, Comparar;
assim como os continentes em países etc. Interpretar
Que essa forma de divisão é a partir de (Organizar,
critérios e objetivos, como ocorrem com Comunicar)
as regras de um jogo e dos motivos de
escolha de uma casa e da escola Elaborar
mapas dessa regionalização. Ver outras
formas de regionalização a partir dos
exemplos da cidade ampliados para o
estado e para o país, como área de
comércio, a da cana de açúcar., de
produção de vinho, de vegetação, das
bacias hidrográficas. Os motivos de
escolha de instalação de determinada
indústria ou comércio foi fruto de uma
determinada regionalização e objetivo do
uso do território - A partir dos critérios
elaborar um mapa da região atendida
Eu no Mundo: As Ao resgatar o processo de ocupação da Analisar;
tecnologias no região do município, demonstrar que dois Sintetizar;
processo de elementos pesavam: as condições físicas Interpretar;
produção do espaço do território a ser percorrido e as Comparar;
tecnologias e técnicas empregadas. Deduzir;
Através de relatos de experiências, Localizar;
recortes de jornais antigos, mapas, além Orientar
de pinturas e fotografias, ir interpretando (Organizar,
as características físicas do estado e região Solidarizar,
e os meios de ocupação, comparando com Comunicar).
agora, vendo as dificuldades e processos.
Comparar a ferrovia na região, com a
tração animal e os rios do período
colonial, com a rodovia e novas
ferramentas usadas atualmente na
Amazônia. Mostrar imagens do processo
de devastação da mata atlântica, do
cerrado e da Amazônia, tendo como
exemplo a sua cidade.

A criança, desde o nascimento vai ampliando gradativamente


seu campo de visão e precisa de cada vez mais recursos para organizar seu pensamento.
O mundo vai revelando-se lentamente aos olhos da criança, que terá que buscar mais
ferramentas para localizar-se neste novos espaços que vão se mostrando para ela.
Neste ponto emerge a importância de um ensino da Geografia
voltado para satisfazer as necessidades de localização da criança e de compreensão do
eu no mundo. A própria Geografia, segundo o geógrafo Douglas Santos, (2007), nasce
da necessidade concreta de localização no mundo, como se vê no trecho abaixo:

(...) a Geografia não nasce como um


conhecimento resultante da reunião de um conjunto de sábios ou,
mesmo, de uma ou outra obra que qualquer um deles poderia ter
escrito. Trata-se, de fato, de certo tipo de comportamento associado
diretamente às nossas necessidades de sobrevivência. (p.1)

Assim, para que o aluno possa compreender conceitos


como lugar, paisagem, espaço, ela precisa vivenciar quais são as dimensões que estes
conceitos assumem em seu próprio cotidiano e relacionam-se com suas experiências,
para que possa, através do conhecimento advindos da geografia possa dar significados
às suas relações com o mundo.
A criança vai construindo suas hipóteses e sua visão de mundo a
partir de si mesmo, e depois ampliando seu campo de interferência, gradativamente, o
que demanda uma necessidade de ampliação escalar que parte do eu e vai em direção ao
outro, até atingir o nível do bairro, município, estado, região, país. A ampliação das
escalas na proposta foi feita de forma a respeitar a faixa etária dos alunos e sua
capacidade de abstração.
Nos primeiros e segundos anos, foram privilegiados os estudos
do eixo eu-casa-escola. Ao professor cabe, através dos conteúdos da geografia, buscar
desenvolver habilidades e competências ao observar, comparar, descrever, ler e
comunicar aquilo que foi trabalhado utilizando a linguagem geográfica.
Nos terceiros, quartos e quintos anos, segundo a proposta
elaborada, as escalas vão ganhando maior abrangência passando dos estudos do bairro
até a escala-mundo, já no quinto ano do ensino fundamental. As habilidades de
observar, descrever, ler comparar, vão se somando às de mensurar, interpretar,
sistematizar no decorrer dos anos e na medida em que os alunos tomam mais contato
com a disciplina.
No entanto esta forma de organização dos eixos não deve
significar ao professor uma limitação de escopo. À medida em que a criança traz
informações que não pertencem necessariamente ao nível escalar em que o professor
está trabalhando, é possível que seja feita uma abordagem interrelacionando diferentes
escalas.
Tendo então estas premissas como base, da possibilidade de
uma ampliação escalar gradativa, ao mesmo tempo em que um trabalho interescalar
também é possível, a proposta municipal de ensino de geografia para as séries iniciais
está permeada pela necessidade de trazer à tona o cotidiano dos alunos como um
alimentador da prática de sala de aula, independentemente do ano em que se esta
trabalhando, para que a ciência tenha vida, ganhe novos contornos produzidos pelos
alunos em sala de aula.
A Geografia, como um espaço de excelência para abordagem
dos problemas do cotidiano, muitas vezes desprivilegiou o cotidiano pela dificuldade de
aprender sua dinamicidade, porque muitas vezes a ciência é guiada pela busca de dados
a longo e médio prazo para que assim possa estar mais próxima à verdades irrefutáveis.
Este afastamento das questões do cotidiano reflete-se em sala de aula o que muitas
vezes acaba por deixar os alunos sem referenciais da disciplina, sem conseguir
relacionar a Geografia com aquilo que ele vivencia. Quanto ao papel dos
acontecimentos do cotidiano, para o ensino FERRAZ, 2007 expõe que:

O professor deve sentir e refletir sobre estas questões, fenômenos e


elementos que compõem a vida cotidiana, observando o potencial
subversivo dos mesmos, estabelecendo críticas, teorizando e dando
certa lógica e objetividade para a complexa fragmentação e
caoticidade destes, de forma que a análise científica deixe de ser a
grande verdade que se impõe ao real, mas que permita que esse real
seja lido em sua diversidade e em sua unidade no próprio processo de
construção e vivência. p . 1

Ainda uma outra abordagem presente na proposta está a


temática da interdisciplinaridade, importante e possível, neste nível de ensino.
Importante porque os alunos ainda não tem o vício predominante na ciência, que
consiste em separar as áreas do conhecimento de forma estanque, sendo este o momento
propício para buscar a integração das disciplinas de forma natural. E com relação a ser
amplamente possível, diz respeito ao fato de ser apenas um professor responsável por
todas as disciplinas, que pode pensar esta integração da Geografia com as demais, de
forma mais articulada tendo em vista que ele mesmo faz o seu planejamento, podendo
flexibilizá-lo e integrar diferentes disciplinas de forma mais autônoma.
Neste nível de ensino, nas séries iniciais, há uma grande
preocupação com a alfabetização, o que resulta muitas vezes num foco restrito ao ensino
da Língua Materna e da Matemática. O que a proposta vem trazer à tona quando
abordada a questão da interdisciplinaridade é a possibilidade de que o espaço também se
estuda através de textos, da literatura, enfim, utilizando conteúdos da língua portuguesa,
assim como da Matemática, de Ciências, de Educação Física, enfim. A presença de
tópicos de interdisciplinaridade no texto da proposta vem de forma a mostrar ao
professor como ela pode ser feita, sem abandonar a construção do discurso geográfico e
continuar desenvolvendo a escrita e o raciocínio lógico-matemático concomitantemente.
A proposta de ensino neste 1º semestre de 2010 está sendo
discutida em duas escolas participantes do projeto . Os professores estão desenvolvendo
a leitura da proposta e elaboração das atividades juntamente com os estagiários do
grupo de pesquisa Linguagens Geográficas, para que eles possam aplicá-las e, de acordo
com suas experiências modificarem e acrescentarem elementos que enriqueçam e torne
viável a efetivação da proposta em toda a rede municipal de ensino de Presidente
Prudente.
Criar situações de aprendizagem no cotidiano das salas de aula
requer muita habilidade e disposição dos professores para que consigam pensar em
formas de ensinar a ciência geográfica, com conteúdos relevantes, que sejam
instrumentos da ampliação de mundo dos seus alunos.
Consideramos a fase atual da proposta como um momento
paradoxal. A partir da conclusão da organização e sistematização dos conteúdos, inicia-
se também uma fase de reinício. Reinício com os professores e com os alunos nas
escolas, colocando em prática as discussões realizadas, em busca da construção de uma
Geografia que dê significados às relações do aluno com o mundo em que vive, a partir
de seu cotidiano e de suas experiências.

BIBLIOGRAFIA

BRASIL, MEC. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental.


Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia: vol.2. 1ª a 4ª série -
Brasília: MEC/SEF, 1997. v. 1, 8, 9 e 10.

DEAK. S. P. C. . Desafios Na Construção Do Currículo De Geografia Para O


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PresidentePrudente/SPBrasil EGAL, 2009, extraído de
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FERRAZ, C. B. O. . (2001)O ensino de Geografia para além da geometrização do


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LA TAILLE., Y. Prefácio. In, PIAGET, J. (2003) A construção do real na criança. 3.ed.


São Paulo: Editora Ática.

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