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Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí

Estudantes: Amanda Luísa Batista, Ana Carolina Assis Benvenutti, Caio Mateus
Garlini, Gustavo Sborz, Helena Woiciechoski Weber, Iasmin Kersbaumer Pereira,
Juan Peres de Oliveira, Katrine Manoel, Mateus Henrique Silva, Rafaela Dela
Justina, Tainá Farias e Yasmin Rafaela Braun
Curso: Medicina - 2ª fase
Cenário: Conhecimentos Gerais II

O PODER DISCIPLINAR
UMA LEITURA EM VIGIAR E PUNIR
Em Vigiar e Punir, Foucault tematiza a Sociedade Disciplinar, que fundamenta-se no controle por
várias técnicas: primeiro o poder sob o corpo (meados do século XIX), e, após, o objeto de punição
passa a ser a perda de um bem ou de um direito. Desse modo, constituem-se formas de vigiar para
controlar e para disciplinar. Onde as relações sociais são constituídas por relações de poder.
O artigo conta com 3 capítulos:
1º - trata da concepção de poder disciplinar no pensamento de Foucault, a partir das práticas sociais e
jurídicas que constituem a história das prisões. 2º - aborda os principais aspectos do poder disciplinar: a
punição, a docilização dos corpos, o adestramento e o panoptismo. 3º realiza uma análise da disciplina
como forma do poder disciplinar, bem como suas características e a sua relevância para o bom
funcionamento da sociedade.
Na análise de Godinho (1995) existem 4 tipos de poder:
1. Econômico: a força de trabalho paga por salário;
2. Político: ordens de uns sobre outros;
3. Judiciário: julgamento e punição de infrações por alguns.
4. Epistemológico: extração de conhecimento dos indivíduos já submetidos aos outros poderes.
Já para Foucault o que existe são as práticas ou relações de poder/dominação que se estabelecem
na sociedade, sendo ele próprio do funcionamento da sociedade. E esse poder não se constitui
privilégio da classe dominante, mas expressa o conjunto das posições estratégicas utilizadas por esses,
podendo ser manifestado e, às vezes, até reconduzido pelos dominados. Sendo o poder também
positivo a nível do saber, pois se fosse somente negativo, seria muito frágil.
1-Foucault afirma em A Verdade e as Formas Jurídicas que o poder e o saber estão intimamente
conectados, ou seja, existe relação entre o poder político e o conhecimento. Entende-se assim que o
poder está em todos os lugares permeando as relações profissionais, em que esse poder exerce-se a
partir do conhecimento adquirido. Foucault também declara que o poder produz saberes, sendo assim
não há a constituição de poder sem ser fundido a um campo do saber. Analisando a estreita relação
entre saber e poder o autor descreve o surgimento dos saberes como um dispositivo estratégico de
poder.
Em História da Loucura investiga-se o saber médico, concluindo-se que o poder passou a ser
pensado a partir da exclusão e reclusão e a prática médica contribui para adestrar os corpos. Conforme
assinala Pereira : “[...] ao poder do médico em tomar decisões fundamentais sobre a vida do outro. É
através do corpo que o poder em estado de força age sobre as mentes. [...] corpo submetido a um
sistema de coerção moral onde o sujeitado revela um sentido ontológico nulo e vazio.”
Por fim, sabe-se que foram os psiquiatras e os pedagogos que observando o comportamento
dos loucos e das crianças criaram regulamentos para serem utilizados em instituições como hospitais e
escolas, e como consequência a forma de poder e dominação sobre esses corpos.
.Ainda sobre o viés analítico do poder em Vigiar e Punir, Michel Foucault analisa o poder em
certos contextos históricos, usando como base o sistema de punição vigente na Idade Média. Foucault
entende os métodos punitivos como técnicas de poder.
Billouet afirma que mesmo os piores assassinato respeitam a sua humanidade, no âmbito do
castigo. Foucault analisa a transformação dos métodos de punição como “uma tecnologia política de
corpo onde se poderia ler uma história comum das relações de poder e das relações de objeto”. Assim
ele entende que há algo em comum em seu surgimento, formação, local e meios.
Desse modo, Michel Foucault em sua história de violência nas prisões, encontra um padrão para
tal comportamento, não só nas instituições carcerárias, mas nas escolas, hospitais e na sociedade.
Indicando uma forma de domínio institucional, no qual o poder disciplinar é reproduzido por meio da
norma produzida.
Na obra, o autor aborda as relações do poder disciplinar, discorrendo sobre o exercício do
poder na Idade Moderna (séculos XVI e XVII), analisando em que momento é visto como microfísica e
produção de conhecimento. Assim, ao explorar a loucura, sexualidade ou instituições, Foucault sempre
busca a relação com o poder.
Para o autor, o poder deslocou-se, deixando de pertencer a uma figura central e espalhando-se
pela sociedade nas instituições. Dessa forma, no século XVII, o Hospital Geral passou a tratar a loucura
com leis autoritárias, sendo a internação uma forma de excluir os indivíduos, internando loucos, os
considerados vagabundos e os pobres. Sendo assim, a medicina apresenta-se como poder sobre o
doente e o médico como representação e veículo do poder.
Ressalta-se que nessa época, a Igreja aliou-se ao Estado na representação do poder. Dessa
maneira, a internação simbolizava também a salvação moral dos subjugados ao poder.
A punição e a vigilância são mecanismos de poder utilizados para docilizar e adestrar as
pessoas para que essas se adequem às normas estabelecidas nas instituições, já a vigilância é uma
tecnologia de poder que incide sobre os corpos dos indivíduos, controlando seus gestos, suas
atividades, sua aprendizagem, sua vida cotidiana.
Durante os séculos XVII e XVIII, o poder era, sobretudo, o direito de apreensão das coisas, do
confisco do tempo, dos corpos e da vida, o qual tinha o privilégio de se apoderar da vida para suprimi-la.
Com o passar do tempo este poder tornou-se disciplinar, por conta das transformações da sociedade
burguesa, exercendo-se na forma de micropoderes ou de uma micropolítica. Tal poder se exerce sobre
os corpos individuais por meio de exercícios especialmente direcionados para a ampliação de suas
forças. Assim, a disciplina passou a controlar os indivíduos estabelecendo relações de poder reguladas
pelas normas. A disciplina executou a distribuição dos indivíduos no espaço já que o corpo só terá
utilidade se for produtivo e submisso. Essa sujeição é obtida através de um saber e de um controle
(tecnologia política do corpo).
Desse modo, o tempo é quantificado, o espaço medido, o corpo do operário, do aluno, do
soldado, é disciplinado, medido em seus movimentos harmonizados dentro do movimento da
sociedade. A punição terá agora a função de corrigir os indivíduos para estabelecer relações de poder,
como forma de controle para atender aos interesses da burguesia que necessita de corpos úteis,
produtivos, disciplinados e para tanto esse tipo de poder (disciplinar) foi inserido na sociedade em
diferentes contextos, inicialmente em escolas, hospitais, quartéis e se disseminando a outras áreas.
O poder disciplinar diz respeito à atenção das disciplinas sobre a distribuição do indivíduo dentro
do espaço. Segundo Foucault, todos os procedimentos disciplinares exigem mais cautela com o passar
do tempo. Assim, as distribuições do indivíduo no espaço através do princípio de clausura e a fila são
determinadas pela disciplina. A clausura facilita o sistema de vigilância sobre os indivíduos e é aplicado
em espaços físicos para a devida observação dos envolvidos.
A “clausura” estabelece a organização do espaço físico. Em salas de aula, por exemplo, há
espaços destinados a cada tipo de atividade, fichas de matrículas, desempenho escolar… Detalhes que
localizam o indivíduo e sua trajetória no espaço estudado.
O princípio do quadriculamento permite controlar a presença ou ausência do indivíduo, assim
como vigiar seu comportamento. Nesse contexto, o quadriculamento permite o controle da rotina de
instituições e possíveis problemáticas que tendem a prejudicar o bom funcionamento do local.
A fila configura outra técnica disciplinar, onde os espaços são organizados de uma forma
homogênea, em uma ordem que além de localizar os indivíduos no espaço, os distribuem de maneira
que exista relações com outros.
Nesse cenário, o aprendizado e a classificação serviam para impor a função e desempenho de
cada um. A partir do século XVIII, inicia a organização das fileiras para demarcar o indivíduo no espaço
escolar. Assim, alunos são separados por idade, desempenho, comportamento e tendo uma hierarquia
imposta pelo conhecimento ou capacidade do aluno.
O espaço nas escolas é disposto a fim de determinar um local a cada um e auxiliar o professor
no funcionamento da aula. Assim, pode-se hierarquizar a vigilância e recompensa, onde há controle de
alunos e quantificação das atividades desenvolvidas em sala de aula.

O filósofo Michel Foucault, coloca o “horário” como um importante mecanismo de poder


disciplinar por meio, da constância, rigidez, dedicação e utilização do tempo útil sem quaisquer
desperdícios, resultando em uma valiosa utilização do tempo.
Os processos de regularização temporal foram iniciados por comunidades monásticas herdados
de práticas religiosas, pela necessidade de uma regularização da rotina, sendo principalmente
efetivadas em fábricas e ambientes escolares.
“No bom emprego do corpo, que permite um bom emprego do tempo, nada deve ficar ocioso ou
inútil: tudo deve ser chamado a formar o suporte do ato requerido”. Foucault (2005, p.130)
Portanto, a disciplina apropria-se do corpo com a finalidade de tirar o máximo, tornando-se
oportuno. Assim, o controle de espaço e tempo exercido pela disciplina é o responsável pelo
funcionamento do poder disciplinar.
As disciplinas possuem quatro processos para sua organização, conforme aponta Godinho
(1995), algo feito para otimização do tempo. Esses processos são: Divisão da duração em segmentos;
Organização da sequência de acordo com um esquema; Fixar um tempo para cada segmento;
Estabelecer séries. Essa forma de organização possibilita instituir uma nova forma de gerir o tempo e
assim, uma nova técnica de poder. Assim, seria possível controlar o comportamento do indivíduo. A
sanção normalizadora, para Foucault, seria outra forma de exercer o poder, por meio de sanções e
punições, sendo utilizadas como formas de punição. O castigo, portanto, seria uma medida para impedir
futuros desvios. O exame, para Foucault, seria uma forma de exercer tanto a vigilância quanto a sanção
normalizadora, possibilitando uma divisão entre os alunos bons e maus.
Descrita na obra Vigiar e Punir (Michel Foucault), a criação do panoptismo surge como sistema
de controle e vigia sobre escolas, conventos, encarcerados e operários de fábricas. Esse princípio não
tem como finalidade a busca por soberania, mas sim, relações de disciplina. O autor analisa que a
formação da sociedade disciplinar advém de indivíduos que sentem-se controlados pelo olhar de um
soberano o qual observa e vigia permanentemente o sujeito. Sendo assim, o panoptismo funciona como
um laboratório de poder, utiliza mecanismos de observação, regulação de tempo e localização no
comportamento dos homens, no intuito de torná-los dóceis e úteis à sociedade. Até o fim do século XVII
o poder sobre a sociedade apresentava duas formas complementares: a idealização de corpo como
máquina e o adestramento, que busca atingir sua total utilidade e docilidade, atingindo o ideal do
panoptismo. No século seguinte, o poder passou a prevalecer sobre o corpo-espécie, que passou a
permitir, permanentemente, o mecanismo de vigilância e controle.
Portanto, demonstra-se diante do exposto, a análise foucaultiana em relação às formas
históricas de poder e a consolidação do poder disciplinar nas relações sociais. É notório no decorrer dos
séculos a alteração nas dinâmicas de dominação. Percebe-se no contexto social vigente a carência da
teoria clássica da soberania - equivalente ao poder do soberano em fazer morrer e deixar viver - para a
tomada da vida como exercício de poder. Dessa forma, o poderio se exerce e se estende até seus
limites: a vida da população. Com a passagem do homem corpo para o homem espécie, o homem não
será mais o alvo do adestramento, mas sim a população em sua totalidade.

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