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RENASCIMENTO NÓRDICO

I – DADOS CRONOLÓGICOS:
Entre os séculos XV até XVIII

II – CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL:

Durante muito tempo, na Idade Média, a região dos Países Baixos foi constituída por feudos independentes. No
século XVI, o imperador Carlos V da Espanha denominou “Países Baixos” a essa região, da qual faziam parte sete
províncias chamadas genericamente de “Holanda” mais as áreas hoje correspondentes à Bélgica e Luxemburgo.
Flandres ficava na região da atual Bélgica, na Europa. Nos século XV e XVI destacou-se, antes mesmo da
Inglaterra, pela produção manufatureira de tecidos, principalmente de lã. Rota de comércio em direção ao sul
do continente, mais precisamente a Itália, Flandres tinha um comércio muito desenvolvido e uma burguesia
comercial importante.

Após períodos de independência e de ocupação, no século XIX, deu-se a separação da Bélgica e de Luxemburgo.
Com isso, os Países Baixos passaram a ser constituídos somente pela Holanda.
O nome “países baixos” deve-se ao fato de seu território ser extremamente plano. Um quarto dele encontra-se
abaixo do nível do mar e está protegido por diques e barragens. Tais áreas conquistadas ao mar são chamadas
“pôlderes”.

III – CARACTERÍSTICAS:

O ideal Renascentista italiano que valorizava a cultura greco-romana começa a se expandir e atingir a Alemanha
e os Países Baixos. Artistas inspirados pela “nova ideia” e através de conhecimento das técnicas inovaram sua
arte através de práticas de ateliê.

TÉCNICAS TRADICIONAIS:

Conhecida pelos gregos:

1. ENCÁUSTICA

A técnica da Encáustica foi utilizada desde a Antiguidade. Os gregos usavam-na, por exemplo, para colorir suas
esculturas de mármore.
Trata-se de uma técnica difícil e era usada para quadros de pequeno formato. Essencialmente decorativa,
retratava objetos do cotidiano.
Consiste em diluir os pigmentos em cera quente e derretida de mel abelha. “Cáust” vêm de calor, “aquilo que
queima”. O suporte era a madeira e a porosidade que a fazia permanecer no local.
Para se conseguir a cor desejada, tem que aplicar várias camadas e atingir a temperatura exata.
Sobraram poucos exemplares romanos: nas múmias e retrato mortuário (máscaras do rosto); graças serem
protegidas cuidadosamente dentro do túmulo.
Ao contrário da Têmpera, cujo efeito é brilhante, a pintura em Encáustica é semifosca.

2. “A FRESCO”

O termo “afresco” designa uma difícil e antiga técnica de pintura sobre superfícies grandes (os murais) e
úmidas, daí seu nome. A preparação inicial da parede é muito importante: sobre sua superfície é aplicada uma
camada de cal que, por sua vez, é coberta com uma camada de gesso fina e bem lisa. Sobre essa última camada,
o pintor executa sua obra: primeiro o desenho com carvão; depois a aplicação das cores.
O desenho, primeiramente, era criado em uma superfície pequena; em seguida, desmembra o desenho em
partes, para posteriormente, ampliá-lo geralmente sobre a pele de um animal. Depois, perfura-se o contorno do
desenho, coloca o esboço na parede, passa tinta preta e com os buracos fazem o contorno.
Ele deve trabalhar com a argamassa ainda úmida, pois, com a evaporação da água, a cor adere ao gesso e o gás
carbônico do ar combina-se com a cal e a transforma em carbonato de cálcio, completando a adesão do
pigmento à parede.
O pintor precisava, portanto, realizar a obra com rapidez; pois o gesso seca rapidamente e com firmeza, e as
correções eram praticamente impossíveis.
O “afresco” se distingue das demais técnicas porque, uma vez seca a argamassa, a pintura se incorpora ao
reboco, tornando-se parte integrante dele. Nas outras técnicas, as figuras pintadas permanecem como uma
película aplicada sobre um fundo. Além disso, como a parede deve estar úmida para receber a tinta, a camada
de gesso é colocada aos poucos. Assim, se alguma área já pronta não receber pintura, ela precisa ser retirada e
aplicada posteriormente. Por esse motivo, observando um afresco de perto, podemos notar os vários pedaços
em que foi sucessivamente executado.
A dificuldade para se criar uma pintura em “afresco”, faz com que o trabalho seja coletivo, onde cada pessoa
desempenha a sua função.

3. TÊMPERA A OVO

Têmpera é o nome que recebe um dos modos que os artistas bizantinos utilizavam para preparar a tinta usada
em seus ícones (quadros que representam figuras sagradas). A Têmpera substituiu a Encáustica da Era Medieval.
Consiste em misturar os pigmentos a uma goma orgânica, para facilitar a fixação das cores à superfície do objeto
pintado.
A mais comum é a gema de ovo. Bate a clara do ovo até atingir o ponto de suspiro, mistura o pigmento e em
seguida, aplica sobre o suporte de madeira. O resultado é uma pintura brilhante e luminosa.
Técnica muito usada nos retábulos (painéis que ficavam acima do altar, que podem ser fechados uns sobre os
outros e abertos durante as celebrações religiosas). Conforme o número de painéis, o retábulo recebe um nome
especial. Possuindo dois painéis, ele se chama díptico, com três, ele é um tríptico; e com quatro ou mais, é um
políptico.
A cor vinha da natureza (pigmentos): da própria terra, dos minerais, das fuligens e dos animais.

TERRA: as cores chamadas terrosas eram o vermelho, o amarelo e o castanho. Pegava-se a terra, filtrava-a,
queimava-a e depois, moía muito bem, deixando-a com uma espessura finíssima. Em virtude disso, há
diversidades de tonalidades, dependendo do lugar de onde vinha.

MINERAIS: principalmente o tom de azul. A pedra que dava a tonalidade de azul, vinha do norte da África e pela
dificuldade de transporte e preço muito elevado era usada apenas nas roupas de personagens importantes:
exemplo, manto da Virgem Maria. Por vir do outro lado do mar, ficou conhecida como azul-marino.

FULIGEM: a cor preta era extraída da fuligem. Queimava-se uma panela com uma vela e depois, raspava-se a
fuligem.

ANIMAIS: o tom de azul, “o azul da Prússia”, era extraído através do sangue do porco. Colocava-se o sangue num
tacho para ferver até evaporar a água, sobrando somente o ferro. Raspava-se; em seguida, moía e misturava-se
com água ou com ovo e tinha-se o azul.

A partir do surgimento da Pintura a óleo (1360, pigmento com óleo de nozes ou de linho, a “linhação”), onde a
cor ficava mais transparente, translúcida e mais próxima de cera, possibilitando aplicar várias camadas e
propiciando tons mais brilhantes e efeitos de vidros, água, sombras e fumaça; além do ganho na expressividade;
os artistas abandonaram a técnica da Têmpera. Mas alguns contemporâneos continuam a usá-la, como foi o caso
do pintor brasileiro Alfredo Volpi.

IV – ARTISTAS REFERIDOS:

ALBRECHT DÜRER (1471-1528)

Dürer foi um dos primeiros artistas alemães a representar o corpo humano com uma beleza ideal, como
imaginaram os artistas clássicos gregos e romanos.
Dedicou-se a geometria e à perspectiva, valorizando a observação fiel da natureza, dominando a técnica do
desenho e da pintura.

O artista foi um grande gravador, produzindo gravuras usando como matriz a madeira ou o metal.

TÉCNICA DA XILOGRAVURA:

Na xilogravura o artista desenha uma figura sobre um bloco de madeira. Inicialmente, com um instrumento
chamado goiva, ele faz sulcos na madeira, seguindo o desenho. Esses sulcos deixam aprofundadas as partes da
figura que ele quer que fiquem brancas na impressão.
Os contornos e detalhes ficam salientes e como serão cobertos por tinta preta aparecerão como os traços negros
da figura. Depois de fazer os sulcos na madeira, o artista cobre as partes salientes com tinta preta, geralmente
nanquim – muito adequada para desenhistas e gravadores porque permite recobrir linhas muito finas. Aplicada a
tinta sobre a figura, o artista coloca o bloco de madeira sobre uma folha de papel, com o desenho voltado para
ela, e o pressiona, decalcando o desenho, isto é, transferindo-o para o papel. Como o gravador pode repetir
algumas vezes a impressão do que foi gravado na madeira, dizemos que, na xilogravura, a madeira é a matriz
desse tipo de gravura.
TÉCNICA DA LITOGRAVURA:

Tendo início por volta de 1430, a litogravura é uma técnica oposta ao relevo saliente da xilogravura. É um dos
vários métodos conhecidos como “intaglio” (a tinta a ser transferida fica abaixo da superfície), em que a
impressão é feita a partir de linhas ou cortes numa placa.
Na litogravura, as ranhuras são feitas numa placa de metal (geralmente cobre) com um instrumento de aço
chamado buril. Depois, esfrega-se a tinta nas ranhuras, limpa a superfície e a placa é colocada numa prensa, de
modo a transferir para o papel o desenho entalhado. As formas podem ser modeladas em linhas muito finas, de
modo a criar nuances. Essa técnica floresceu no começo do século XVI, com Dürer, cujo uso do buril era tão
sofisticado que, com a placa de cobre, ele obtinha efeitos de luz e volume muito aproximados aos conhecidos
pelos holandeses no quadro a óleo e pelos italianos nos afrescos.

Gravura de Durer - Casa de Estudo de São Jerônimo

“Combate de São Miguel com o dragão”


Essa xilogravura ilustra uma cena do livro do Apocalipse, do Novo Testamento, que teria sido escrito por João,
um dos apóstolos de Jesus Cristo.

Segundo alguns estudiosos, esse livro refere-se ao fim dos tempos. O trecho ilustrado diz respeito à luta entre
Miguel e os anjos do bem contra o dragão e os anjos do mal: seria, portanto, o conflito final entre o bem e o mal
(“O Juízo Final”).

A riqueza de detalhes das imagens e a grande quantidade de traços negros e áreas brancas mostra o trabalho na
madeira usada como matriz. O artista conseguiu expressar a intensidade da luta e a determinação das forças do
bem, a resistência e a agressividade das forças do mal.
Dürer criou, ainda, outro contraste interessante: enquanto no espaço celeste é travada uma batalha, no espaço
humano vê-se uma pequena e tranquila cidade, levantando várias hipóteses: será que há uma intensa luta entre
o bem e o mal, que não está sendo percebida pelos seres humanos? Ou, será que os anjos do bem protegem os
seres humanos combatendo o mal em seu lugar?

HANS HOLBEIN (1498-1543)

O artista ficou famoso como retratista de personalidades políticas, financeiras e intelectuais da Inglaterra e dos
Países Baixos.
Seus retratos são característicos pelo realismo e sensação de tranquilidade que as pessoas retratadas
transmitem, aliada a um dos ideais renascentistas de beleza, que é a dignidade do ser humano.

“Erasmo de Roterdã”
Uma das mais famosas pinturas de Hans Holbein. Ao retratar o grande filósofo Erasmo, compenetrado em sua
mesa de trabalho, com simplicidade e realismo, dando-nos a impressão de serenidade e não preocupação com
uma pose especial para a pintura.

HIERONYMUS BOSCH (1450-1516)

Autor de uma obra diferenciada, rica em símbolos da astrologia e da magia do final da Idade Média.
Combinando diferentes aspectos de elementos em suas telas (animais ou vegetais); criando estranhas formas,
sua obra torna-se complexa e inconfundível.

No final da Idade Média, muitas crenças religiosas surgiram na Europa e Bosch retratava em suas telas o conflito
do homem dessa época: o dualismo entre o sentimento do pecado ligado aos prazeres materiais; de outro, a
busca do perdão, ligado a vida espiritual.

“O jardim das delícias”

Representando os pecados capitais, o artista cria um tríptico.

No painel da esquerda, apresenta o Paraíso, onde o artista retrata a criação de Adão e Eva, tendo como cenário
uma paisagem diferente da descrita na Bíblia. O painel central é o próprio “Jardim das Delícias”, personagens
estranhas, animais, vegetais, aves, peixes e frutos, formam um conjunto indecifrável. No painel da direita, o
Inferno, onde encontramos formas humanas misturadas com outras formas em meio a tonalidades escuras.
JAN VAN EYCK (1390-1441)

Jan Van Eyck e seu irmão Hubert Van Eyck (1366-1426) inauguram a fase renascentista da pintura flamenga.

“Ao famoso holandês de Kempen, isto é, Jan van Eyck – nascido em Maaseik, à margem do Maas, coube a
descoberta que nem aos engenhosos gregos e romanos, nem a nenhum outro povo (por mais que tenham se
esforçado nessa direção) foi dada. (...) Jan van Eyck foi desde jovem um rapaz inteligente e sagaz. como
demonstrou uma inclinação natural para o desenho, seu irmão bem mais velho, Hubertus, tomou-o como
aprendiz. Este, por sua vez, era um pintor capaz, embora não se saiba de quem aprendeu o ofício.”

[...] A pintura chegou sem dúvida alguma à nossa terra vinda da Itália, quer dizer: pintura baseada em cola e
claras de ovos (...) Jan van Eyck “pesquisou a natureza de diversos tipos de tinta e fez experimentos em
domínios como alquimia e destilação. Desta forma teve êxito em substituir o verniz apropriado para tintas
baseadas em têmpora por uma mistura de vários óleos. Isto agradou ao público, pois deu ao trabalho um brilho
esplendoroso.”

O artista fez uma pintura sobre madeira que lhe custou muito trabalho e tempo. Depois de envernizada com a
sua fórmula recém descoberta, colocou-a para secar ao sol e a pintura se quebrou e rachou nas junções.
Decepcionado com o acidente, Jan dedica-se a criar uma fórmula de verniz que secasse dentro de casa, à
sombra e não mais ao sol.
“Após se aprofundar em estudos sobre as propriedades de diversos óleos e outros materiais, acabou por concluir
que uma mistura de óleos de linhaça e nozes secava com a maior rapidez”, além de descobrir que vários
pigmentos “dissolvidos nestes óleos se mesclavam com facilidade, secavam rapidamente e era bastante a prova
de água. Também descobriu que as tintas a óleo pareciam ter tons mais vivos e ganhavam um brilho próprio,
dispensando o verniz. Mas aquilo que mais o admirou e alegrou em sua descoberta foi que a tinta a óleo se
deixava trabalhar e esticar mais facilmente sobre a superfície, tornando desnecessária uma pincelada ao
retilínea.”

Essa sua nova descoberta trouxe-lhe fama e atraiu muitos pintores interessados nessa nova técnica, inclusive,
Antonello de Messina, da Sicília, que foi a Brugge, onde Jan residia e depois de aprender a pintar com tinta a
óleo, volta para a Itália a difundi-la.

É possível identificar as minúcias, os detalhes e o realismo em suas obras. Além de superar o espírito da
miniatura e abrirem o universo da pintura para o mundo exterior, e revelar os efeitos que as diferentes
distâncias e a própria atmosfera causam na percepção visual dos seres representados.

“O casal Arnolfini”
Esta pintura mostra os aposentos e as vestes de um rico comerciante e sua esposa, no século XV.

Podemos notar a riqueza de detalhes e do realismo com: os tamancos e chinelos deixados despreocupadamente
no chão; a presença do cachorro (fidelidade); as frutas deixadas no parapeito da janela e sobre um móvel do
quarto, dando-nos a impressão de ver de fato um aposento, e não um cenário idealizado pelo pintor.

Para sugerir a profundidade o artista utiliza-se da representação do piso do quarto, a distribuição dos elementos
da cena: o casal, os tamancos e o cachorro em primeiro plano; parte de uma janela, parte de um móvel, o lustre
no teto e parte da cama em um plano intermediário, um móvel com almofadas, um espelho e uma parede em
um plano de fundo.

Da janela vazada luminosidade, sugerindo vida nesse recinto.

O artista enriquece a sua obra apresentando riquíssimos detalhes: as pregas da roupa feminina; o arremate de
pele na roupa masculina; os desenhos na beirada do tapete; a madeira decorada da cabeceira da cama; os
trabalhos na decoração do lustre e do espelho; uma pequena parte de uma possível grade na janela; um
trabalho na parte superior da janela; o encardido das paredes; o brilho dos metais; a textura do piso etc.

O casal é visto de costas, a janela e um móvel junto dela, as frutas, o lustre e parte da cama, a porta do quarto
e uma pessoa perto dela. Observando atenciosamente o espelho, podemos notar em sua volta, cenas religiosas
na moldura (“Os passos da paixão de Cristo”).

Esta cena doméstica, sugerindo um casamento, é tão rica em detalhes que nos transmitem a ideia de que o
artista de fato presenciou e documentou a mesma.

“Retábulo do Cordeiro: Adoração do Cordeiro Místico”


O retábulo do “Cordeiro Místico” foi realizado entre 1426 e 1432 pelos irmãos Van Eyck, para a igreja de São Bavão, em
Gand, na Bélgica. No referido retábulo é possível observar a influência da arte da ilustração dos manuscritos, pois são
evidentes o espírito de minúcia e a preocupação com os detalhes das roupas das figuras, dos adornos das cabeças ou dos
elementos da natureza.

ROGIER VAN DER WEYDEN

“Crucificação”

- Dramaticidade da cena

- Virgem caindo

- Há expressividade no sofrimento, no corpo e com as sombras, causando dramaticidade da cena.

“Isabella de Portugal”
- Tecido brocado dando a impressão de veludo

- Retrato realista

PIETER BRUEGEL (1525-1569)

Pieter Bruegel, o Velho, viveu nas grandes cidades de Flandres, já sob a influência dos ideais renascentistas,
mas retratou a realidade das pequenas aldeias que ainda conservavam a cultura medieval.

Com a arte de Bruegel não mais deparamos com qualquer acomodação com idealismos de qualquer espécie. Não
se tiram mais as figuras simplesmente da vida: escolhem-se propositalmente nas classes baixas. Bruegel era
camponês e assim também eram José e Maria e todos os que os cercavam. O artista tinha em mente afirmar este
fato: e imaginou que, ao fazê-lo, engrandecia a ação.

“Jogos infantis”

Nessa obra podemos notar a composição com grande número de personagens, característica principal do artista; a
impressão de movimento e a ausência da felicidade das crianças. Elas brincam mecanicamente e suas expressões sombrias.
Essa sensação nos é transmitida pela ausência de sorriso em seus rostos.

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