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MEDIDA E INTEGRAÇÃO

Armando Machado

UNIVERSIDADE DE LISBOA
Faculdade de Ciências
Departamento de Matemática
2011
ii

Classificação A.M.S. (2010): 28-01, 28B05


ISBN: 978-972-8394-24-0
ÍNDICE

Introdução v
Capítulo I. Medidas em 5 -álgebras
§1. Somas e produtos no contexto positivo 1
§2. Medidas em 5 -álgebras 11
§3. Medidas em semianéis 20
§4. Prolongamento de medidas em semianéis 31
§5. Aplicações mensuráveis 50
Capítulo II. O integral
§1. Integração de funções positivas 67
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 101
§3. Propriedades elementares do integral indefinido 148
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 166
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 187
§6. Integrais paramétricos 216
Capítulo III. Espaços funcionais e aplicações
§1. Aplicações convexas e desigualdades 229
§2. Os espaços P: 240
§3. Decomposição de Lebesgue e teorema de Radon-Nikodym 268
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 277
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 310
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 334
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 363
§8. O integral indefinido revisitado 412
§9. Aplicações de variação limitada e medidas
de Lebesgue-Stieltjes vetoriais 425
Apêndice 1. Uma versão do teorema de Sard 457
Índice de Símbolos 467
Índice Remissivo 471
Bibliografia 475
INTRODUÇÃO

Este livro concretiza um desejo antigo, o de reformular e completar um texto


sobre medida e integração aparecido em 1976 na coleção Textos e Notas do
CMAF e que há muito deixou de estar disponível.
A medida e a correspondente integração são assuntos há muito estabilizados
pelo que o único objetivo que pode ter um texto como este é o de propor uma
exposição que concretize um conjunto coerente de opções de base, eventual-
mente distintas das que orientam muitos dos livros que se debruçam sobre este
assunto. Mais do que descrever sucintamente o conteúdo deste texto, um exame
do índice substituirá com vantagem a leitura de uma tal descrição, procuraremos
nesta introdução referir as principais opções de base que tomámos e, eventual-
mente, justificar a escolha de algumas delas. Antes de o fazer, não queremos, no
entanto, deixar de referir os textos cuja leitura mais influenciou este texto,
nomeadamente os livros de Halmos, Rudin e Lang ([6], [10] e [7] da
bibliografia); o primeiro influenciou especialmente a via utilizada para construir
as medidas de Lebesgue e de Lebesgue-Stieltjes nos borelianos de ‘, o segundo
o modo de desenvolver o integral das funções positivas e o estudo dos resultados
de derivação do integral indefinido e o terceiro a escolha dos espaços de Banach
e de Hilbert como contexto privilegiado para abordar o integral e a medida nos
casos não positivos.
Para a construção das medidas mais utilizadas nas aplicações, nomeadamente
as medidas de Lebesgue e de Lebesgue-Stieltjes nos borelianos de ‘, tal como,
posteriormente, para a definição das medidas produto e, através destas, da medi-
da de Lebesgue nos borelianos de ‘8 , a via que preferimos utilizar foi a que
resulta do teorema de Hahn sobre a possibilidade de prolongar de modo único à
5-álgebra gerada medidas definidas num semianel (para as primeiras, o semianel
dos intervalos semiabertos de ‘). A construção dessas medidas fica assim
totalmente independente do conhecimento prévio de qualquer teoria da inte-
gração de funções de variável real, como a do integral de Riemann. De facto, os
únicos integrais que serão considerados no nosso texto serão os integrais no
sentido de Lebesgue e abster-nos-emos, em particular, de examinar os resultados
que comparam os dois tipos de integral, resultados cuja utilidade não nos parece
evidente, uma vez que podem, nas aplicações mais frequentes, ser substituídos
pela constatação de que o integral no sentido de Lebesgue também pode ser
calculado, para funções suficientemente regulares, pela clássica fórmula de
Barrow.
É bem conhecido que, no contexto de um espaço de medida, podem-se
considerar tanto propriedades que são verificadas por todos os elementos do
espaço, podemos chamá-las universais, como propriedades que são verificadas
em quase todos os pontos, isto é, admitindo um conjunto de medida nula de
vi Introdução

possíveis pontos excecionais, chamemo-las quase universais. Muitos teoremas


são válidos tanto na versão em que as hipóteses e as conclusões são enunciadas
de forma universal como naquela em que ambas são consideradas nas suas
contrapartidas quase universais. Formalmente, nenhuma das versões implica
automaticamente a outra mas constata-se que é em geral trivial deduzir a versão
quase universal da versão universal, quando esta última é verdadeira. Por esse
motivo, e porque as versões universais tendem a ter enunciados mais concisos,
preferimos, sempre que possível, apresentar as versões universais e não
explicitar as versões quase universais que sejam consequências triviais daquelas.
O mesmo desejo de permitir a validade de certas versões universais levou-nos a
não partilhar a necessidade que muitos autores sentem de trabalhar apenas com
medidas completas e, consequentemente, de completar aquelas que o não são
(veja-se, por exemplo, o que sucede com o teorema de Fubini para subconjuntos
de ‘# , quando se completa a medida produto das medidas de Lebesgue em cada
factor). De qualquer modo, é bem conhecido que, nas aplicações aos espaços de
funções, em que são as classes de equivalência destas que interessam, é indife-
rente estar a trabalhar com uma medida ou com a sua completada.
Uma última opção de base que gostaríamos de referir foi a de, feita a
construção do integral das funções positivas, passar diretamente para o integral
de funções vetoriais, com valores num espaço de Banach, sem passar antes,
como se faz frequentemente, pelas funções reais ou complexas. Pensamos, com
efeito, que a construção do integral para funções vetoriais não é essencialmente
mais complicada que a construção do integral das funções reais, pela via da
consideração das respetivas partes positivas e negativas, e obtemos deste modo,
sem precisar de novas definições, o integral das funções complexas e o das
funções com valores num espaço de Banach. Opções análogas à que acabámos
de referir, levaram-nos também a estudar as medidas vetoriais, sem passar
previamente pelas medidas reais ou complexas, assim como as aplicações de
variação limitada e as absolutamente contínuas com valores num espaço de
Banach (ou, nalguns casos, de Hilbert), sem passar previamente por aquelas que
tomam valores reais ou complexos.
CAPÍTULO I
Medidas em 5 -álgebras

§1. Somas e produtos no contexto positivo.

Na Teoria da Medida associamos aos conjuntos a sua medida, que vai ser,
idealmente, um número real maior ou igual a !, mas que temos neces-
sidade de permitir que possa ser também _. Examinamos assim neste
parágrafo o modo de trabalharmos, algébrica e analiticamente, no conjun-
to constituído pelos números reais maiores ou iguais a ! e pelo elemento
extra _.

I.1.1 Lembremos que a reta acabada ‘ é o conjunto ‘  Ö_ß _×, sobre o


qual se considera uma relação de ordem total, estendendo a relação de ordem
total usual de ‘ e que tem _ como máximo e _ como mínimo.
Lembremos também que a topologia usual de ‘ é aquela cujas vizinhanças
de + − ‘ são os conjuntos que contêm algum intervalo Ó+  &ß +  &Ò, com
&  !, cujas vizinhanças de _ são os conjuntos que contêm algum
intervalo Ò_ß Q Ò, com Q − ‘, e cujas vizinhaças de _ são os conjuntos
que contêm algum intervalo ÓQ _Ó, com Q − ‘. Relembremos ainda que
esta topologia induz em ‘ a topologia usual de ‘ e que ‘ é um subconjunto
aberto de ‘.
I.1.2 Vamos notar ‘ o intervalo Ò!ß _Ò de ‘.1 Analogamente, notamos
‘ § ‘ o correspondente intervalo fechado em _,
‘ œ Ò!ß _Ó œ ‘  Ö_×.
Vamos prolongar a adição e a multiplicação, operações bem definidas em
‘ , a ‘ , pondo
B  Ð_Ñ œ Ð_Ñ  B œ _, se B − Ò!ß _Ò,
Ð_Ñ  Ð_Ñ œ _,
B ‚ Ð_Ñ œ Ð_Ñ ‚ B œ _, se B − Ó!ß _Ò,
Ð_Ñ ‚ Ð_Ñ œ _,
! ‚ Ð_Ñ œ Ð_Ñ ‚ ! œ !.

1Note-se que é frequente utilizar-se esta notação para o intervalo aberto Ó!ß _Ò, em vez
do intervalo fechado.
2 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

A razão por que não tentamos estender estas duas operações à totalidade de
‘ deve-se à dificuldade de definir a soma Ð_Ñ  Ð_Ñ sem abrir mão das
propriedades usuais das operações (comutatividade, associatividade e
distributividade). O problema não é o facto de termos um dos casos usuais de
indeterminação, porque o mesmo acontece com ! ‚ Ð_Ñ e, como veremos,
o facto de termos dado uma definição para esse produto não vai comprometer
as propriedades desejadas e revela-se ser a opção importante no que respeita
às aplicações à Teoria da Medida.2
I.1.3 (Propriedades das operações em ‘ ) As operações de adição e mutipli-
cação em ‘ têm ! e " como elementos neutros, respetivamente, são comu-
tativas e associativas e verificam a propriedade distributiva usual. Mais preci-
samente, dados Bß Cß D − ‘ , tem-se
!  B œ B  ! œ B, " ‚ B œ B ‚ " œ B,
B  C œ C  B, B ‚ C œ C ‚ B,
ÐB  CÑ  D œ B  ÐC  DÑ, ÐB ‚ CÑ ‚ D œ B ‚ ÐC ‚ DÑ,
B ‚ ÐC  DÑ œ B ‚ C  B ‚ D , ÐC  DÑ ‚ B œ C ‚ B  D ‚ B.

Valem também as propriedades de monotonia: Para Bß Bw ß Cß Cw − ‘ ,


ÐB   Bw • C   Cw Ñ Ê ÐB  C   Bw  Cw • B ‚ C   Bw ‚ Cw Ñ,

em particular, B  C   B e B  C   C , quaisquer que sejam Bß C − ‘ .


Dem: As afirmações relativas aos elementos neutros e à comutatividade das
operações decorrem imediatamente das definições e do facto de as proprie-
dades análogas para os números reais serem conhecidas. Também por esta
última razão, só temos que justificar as associatividades e a distributividade
no caso em que algum dos três elementos envolvidos seja _. A
associatividade da soma resulta de que, se algum dos três elementos
envolvidos for _ß ambos os membros da igualdade são _. A associativi-
dade do produto resulta de que, se algum dos três elementos envolvidos for
!, ambos os membros da igualdade são ! e de que, se nenhum deles for !
mas algum for _, ambos os membros da igualdade são _. Quanto à
distributividade, basta justificar a primeira igualdade enunciada, tendo em
conta a comutatividade da multiplicação. Reparamos então que: Se B œ !,
ambos os membros da igualdade são !; se C œ !, ambos os membros da
igualdade são iguais a B ‚ D , e, se D œ !, ambos os membros da igualdade
são iguais a B ‚ C ; se nenhum dos três elemento envolvidos é ! e algum
deles é _, ambos os membros da igualdade são _. As propriedades de
monotonia são também bem conhecidas no caso dos elementos de ‘ . No
caso geral, relativamente à soma, atendemos a que, se um dos quatro
elementos envolvidos é _, então B œ _ ou C œ _, e portanto
B  C œ _. No caso geral, relativamente ao produto, começamos por

2Intuitivamente, podemos dizer que estamos a dar ao ! mais força que ao _, no que
respeita à multiplicação.
§1. Somas e produtos no contexto positivo 3

reparar que, se um dos quatro elementos envolvidos é !, então Bw œ ! ou


Cw œ !, e portanto Bw ‚ Cw œ ! e, em seguida, supondo que nenhum dos
quatro elementos envolvidos é !, reparamos que, se um dos quatro elementos
envolvidos é _, então B œ _ ou C œ _, e portanto B ‚ C œ _. 
I.1.4 (Nota topológica) Consideremos as aplicações :,<À ‘ ‚ ‘ Ä ‘
definidas por
:ÐBß CÑ œ B  C, <ÐBß CÑ œ B ‚ C.

Dos resultados sobre a “álgebra dos limites de sucessões de números reais”


que se estudam em cursos de introdução à Análise Real, incluindo aqueles
que fazem intervir limites infinitos, deduz-se facilmente, tendo em conta a
definição da continuidade pelas vizinhanças e raciocinando por absurdo, que:
a) A aplicação : é contínua em todos os pontos de ‘ ‚ ‘ . Em particular,
podemos afirmar, sem qualquer restrição sobre a finitude dos termos das
sucessões e dos limites, que, se B8 Ä B e C8 Ä C , então B8  C8 Ä B  C .
b) A aplicação < é contínua em todos os pontos de ‘ ‚ ‘ , com excepção
dos pares Ð!ß _Ñ e Ð_ß !Ñ (as indeterminações…). Em particular,
podemos afirmar, sem qualquer restrição sobre a finitude dos termos das
sucessões e dos limites para além das referidas adiante, que, se B8 Ä B,
C8 Ä C e não se tem, nem B œ ! e C œ _, nem B œ _ e C œ !, então
B8 ‚ C8 Ä B ‚ C.
I.1.5 (Somatórios finitos) Como sucede sempre que estamos na presença de
uma operação num conjunto, que seja comutativa, associativa e com

ÐB3 Ñ3−M de elementos de ‘ , que se nota ! B3 . Estas somas podem ser


elemento neutro, faz sentido referirmo-nos à soma de uma família finita

3−M
definidas, por recursão no número de elementos do conjunto de índices M ,
pela exigência de se ter
" B3 œ !
3−g

e, para cada 3! − M ,
" B3 œ B3!  " B3 . 3
3−M 3−MÏÖ3! ×

Estes somatórios finitos gozam das propriedades “familiares”4 que enuncia-


mos em seguida, onde, em cada caso, é dada uma família finita ÐB3 Ñ3−M de
elementos de ‘ :

3Propomos, como exercício no fim do capítulo (cf. o exercício I.1.1), a verificação de que
esta definição é legítima (independência da escolha de 3! em M ), assim como a verificação
das propriedades “familiares” dos somatórios finitos explicitadas a seguir.
4No sentido que já foram, sem dúvida, utilizadas, porventura sem terem sido explici-
tamente enunciadas, no contexto dos números reais.
4 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

a) No caso em que M tem um único elemento 3! , tem-se ! B3 œ B3! e, no


caso em que M tem dois elementos, 3! e 3" , ! B3 œ B3!  B3" . No caso em que
3−M

B3 œ !, para todo o 3 − M , tem-se ! B3 œ !; mais geralmente, se B3 œ B, para


3−M

todo o 3 − M , e M tem 5 elementos, então ! B3 œ 5B.


3−M

3−M
b) (Mudança de índices) Seja M w outro conjunto de índices e :À M w Ä M uma
aplicação bijetiva. Tem-se então
" B3 œ " B:Ð4Ñ .
3−M 4−M w

c) (Associatividade dos somatórios) No caso em que M œ M"  M# , com


M"  M# œ g,
" B3 œ " B3  " B3 .
3−M 3−M" 3−M#

Em particular, tem lugar a primeira propriedade de monotonia: Se M w § M ,


então
" B3 Ÿ " B3
3−M w 3−M

d) (Associatividade mais geral dos somatórios) No caso em que o conjunto


finito de índices M é união finita de uma família de subconjuntos M! , ! − E,
disjuntos dois a dois,
" B3 œ " ˆ" B3 ‰.
3−M !−E 3−M!

e) (Linearidade) Para cada C − ‘ , tem-se


C ‚ ˆ" B3 ‰ œ " ÐC ‚ B3 Ñ, ˆ" B3 ‰ ‚ C œ " ÐB3 ‚ CÑ.
3−M 3−M 3−M 3−M

Além disso, se ÐC3 Ñ3−M é outra família de elementos de ‘ , tem-se


" ÐB3  C3 Ñ œ ˆ" B3 ‰  ˆ" C3 ‰. 5
3−M 3−M 3−M

f) (Segunda propriedade de monotonia) Se, para cada 3 − M , C3 Ÿ B3 , então


" C3 Ÿ " B3 .
3−M 3−M

5Esta última igualdade também pode resultar da associatividade referida em d) e as pri-


meiras também são conhecidas pelo nome de propriedades distributivas.
§1. Somas e produtos no contexto positivo 5

Nas aplicações à Teoria da Medida teremos necessidade de considerar


também somas de famílias de elementos de ‘ indexadas em conjuntos
não necessariamente finitos. Será cómodo não nos limitarmos ao contexto
das séries, em que o conjunto dos índices é usualmente , pelo que,
tirando partido da propriedade de monotonia das somas finitas, apresen-
tamos uma definição alternativa, que se revela equivalente no caso das
séries.

ÐB4 Ñ4−N uma família de elementos de ‘ . Define-se então a sua soma ! B4


I.1.6 (Somatórios arbitrários) Seja N um conjunto arbitrário de índices e seja

como sendo o supremo em ‘ do conjunto das somas parciais ! B4 , com M


4−N

4−M

Daqui decorre imediatamente que, se, para cada 4, B4 œ !, então ! B4 œ ! e


parte finita de N .

que, se existir 4 tal que B4 œ _, então ! B4 œ _. Daqui decorre


4−N

4−N

! B4 œ _.
também que, se, para cada 4, B4 œ B Á ! e o conjunto N é infinito, então

4−N
Repare-se que, no caso em que N é finito, esta soma coincide com a já
conhecida, tendo em conta a propriedade de monotonia referida na alínea c)
de I.1.5, que implica que o supremo é, neste caso, um máximo, igual à soma
no sentido finito.
I.1.7 (Mudança de índices) Sejam ÐB4 Ñ4−N uma família, finita ou infinita, de
elementos de ‘ , N w outro conjunto de índices e :À N w Ä N uma aplicação
bijetiva. Tem-se então
" B3 œ " B:Ð3Ñ .
4−N 3−N w

Dem: Basta atender a que, tendo em conta o referido na alínea b) de I.1.5, o


conjunto das somas parciais finitas cujo supremo define o primeiro membro
coincide com o conjunto das somas parciais finitas cujo supremo define o
segundo membro. 
I.1.8 (Comparação com as séries) Seja ÐB8 Ñ8− uma família de elementos de
‘ e consideremos, para cada 8 − , a soma finita W8 œ ! B: . Tem-se
8

então que a soma infinita ! B: , no sentido da definição em I.1.6, é o limite


:œ"

:−
em ‘ da sucessão de elementos W8 .
Em particular, no caso em que os B8 são finitos, a série ! B: é convergente
_

se, e só se, ! B:  _ e, quando isso acontecer,


:œ"

:−
6 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

" B: œ " B: .
_

:œ" :−

definição de ! B: que corresponde ao conjunto finito Ö"ß #ß á ß 8× § ,


Dem: Começamos por notar que, uma vez que W8 é a soma finita parcial da

tem-se W8 Ÿ ! B: . Notamos então que, para cada Q  ! B: , podemos


:−

considerar M §  finito tal que ! B:  Q e, sendo então 8! maior ou igual


:− :−

:−M

donde W8   ! B:  Q . No caso em que ! B: œ _, o que acabamos de


a todos os elementos de M , tem-se, para cada 8   8! , Ö"ß #ß á ß 8× ¨ M ,

ver mostra que a sucessão dos W8 tem limite _ e, no caso em que ! B: é


:−M :−M

:−M

8   8! , W8  ! B:  $ , tendo-se também W8 Ÿ ! B:  ! B:  $ , o que


finito, podemos concluir que, para cada $  !, existe 8! tal que, para cada

mostra que a sucessão dos W8 tem limite ! B: .


:−M :−M :−M

:−M

infinita, de elementos de ‘ . Para cada N w § N , vem então ! B4 Ÿ ! B4 .


I.1.9 (Primeira propriedade de monotonia) Seja ÐB4 Ñ4−N uma família, finita ou

4−N w 4−N

basta mostrarmos que, para cada M § N w finito, ! B4 Ÿ ! B4 e isso é uma


Dem: Tendo em conta a definição do primeiro membro como um supremo,

4−M 4−N
consequência de M ser também uma parte finita de N . 
I.1.10 (Segunda propriedade de monotonia) Seja ÐB4 Ñ4−N uma família, finita
ou infinita, de elementos de ‘ e seja, para cada 4 − N , C4 Ÿ B4 . Tem-se
então
" C4 Ÿ " B4 Þ
4−N 4−N

basta mostrarmos que, para cada M § N finito, ! C4 Ÿ ! B4 . Ora, isso


Dem: Tendo em conta a definição do primiro membro como um supremo,

4−M 4−N
resulta do que referimos na alínea f) de I.1.5, visto que podemos escrever
" C4 Ÿ " B4 Ÿ " B4 . 
4−M 4−M 4−N

I.1.11 (Propriedade associativa) Seja ÐB4 Ñ4−N uma família, finita ou infinita, de
elementos de ‘ . Suponhamos que o conjunto de índices N é união, finita ou
infinita, de subconjuntos N" , onde " − F , disjuntos dois a dois. Tem-se então
§1. Somas e produtos no contexto positivo 7

" B4 œ " ˆ" B4 ‰.


4−N " −F 4−N"

Dem: 1) Vamos começar por mostrar que ! B4 Ÿ ! ˆ! B4 ‰. Para isso, e


4−N " −F 4−N"

mostrar que, para cada M § N finito, se tem ! B4 Ÿ ! ˆ! B4 ‰. Fixemos


tendo em conta a definição do primeiro membro como um supremo, bastará

4−M " −F 4−N"


então M § N finito. Seja E a parte finita de F constituída pelos " tais que
M  N" Á g (no máximo um " para cada elemento de M ). Tem-se então que o
conjunto finito M é a união finita dos conjuntos M  N" , com " − E, que são
disjuntos dois a dois, pelo que, tendo em conta o referido nas alíneas d) e f)
de I.1.4, podemos escrever
" B4 œ " ˆ " B4 ‰ Ÿ " ˆ" B4 ‰ Ÿ " ˆ" B4 ‰,
4−M " −E 4−MN" " −E 4−N" " −F 4−N"

2) Vamos mostrar agora a desigualdade oposta ! B4   ! ˆ! B4 ‰, para o


como queríamos.

4−N " −F 4−N"

cada B4 é finito e cada ! B4 é finito. Para isso, e tendo em conta a definição


que podemos já supor que o primeiro membro é finito, em particular que

4−N"
do segundo membro como um supremo, bastará provar que, fixado E § F
finito, se tem
" B4   " ˆ" B4 ‰.
4−N " −E 4−N"

certo E finito com 5 elementos, ! B4  ! ˆ! B4 ‰. Sendo $  ! tal que


Suponhamos, por absurdo, que isso não acontecia, portanto que, para um

4−N " −E 4−N"

ˆ" B4 ‰  $  " ˆ" B4 ‰,


4−N " −E 4−N"

podemos, para cada " − E, considerar M" § N" finito tal que

" B4   ˆ" B4 ‰ 
$
4−M" 4−N"
5

e, sendo M o conjunto finito união dos M" , com " − E, obtemos, tendo em
conta a associatividade finita referida na alínea d) de I.1.5,
8 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

" ˆ" B4 ‰ Ÿ " ˆˆ" B4 ‰  ‰ œ ˆ" ˆ" B4 ‰‰  $ œ


$
5
œ ˆ" B4 ‰  $ Ÿ ˆ" B4 ‰  $  " ˆ" B4 ‰,
" −E 4−N" " −E 4−M" " −E 4−M "

4−M 4−N " −E 4−N"

o que é o absurdo procurado. 


I.1.12 (Propriedade de Fubini para somatórios) Sejam N e O dois conjuntos,
finitos ou infinitos, de índices e ÐB4ß5 ÑÐ4ß5Ñ−N ‚O uma família de elementos de
‘ . Tem-se então
" ˆ" B4ß5 ‰ œ " B4ß5 œ " ˆ" B4ß5 ‰.
4−N 5−O Ð4ß5Ñ−N ‚O 5−O 4−N

Em particular, sendo N um conjunto, finito ou infinito, de índices e ÐB4 Ñ4−N e


ÐC4 Ñ4−N duas famílias de elementos de ‘ , tem-se
" ÐB4  C4 Ñ œ ˆ" B4 ‰  ˆ" C4 ‰.
4−N 4−N 4−N

Dem: A primeira afirmação é uma consequência da propriedade associativa


em I.1.11 e da propriedade de mudança de índices em I.1.7. Com efeito, a
primeira igualdade resulta de considerarmos N ‚ O como a união disjunta
dos subconjuntos Ö4× ‚ O , com 4 − N , e a segunda de considerarmos N ‚ O
como a união disjunta dos subconjuntos N ‚ Ö5×, com 5 − O . Quanto à
segunda afirmação, ela é uma consequência da primeira, se considerarmos
O œ Ö"ß #× e definirmos D4ß" œ B4 e D4ß# œ C4 . 
I.1.13 (Distributividade) Sejam ÐB4 Ñ4−N uma família, finita ou infinita de ele-
mentos de ‘ e C − ‘ . Tem-se então
C ‚ ˆ" B4 ‰ œ " ÐC ‚ B4 Ñ, ˆ" B4 ‰ ‚ C œ " ÐB4 ‚ CÑ.
4−N 4−N 4−N 4−N

Dem: Justificamos apenas a primeira igualdade, uma vez que a segunda


resulta daquela, tendo em conta a comutatividade da multiplicação. Para cada
parte finita M de N , tem-se
" ÐC ‚ B4 Ñ œ C ‚ ˆ" B4 ‰ Ÿ C ‚ ˆ" B4 ‰,
4−M 4−M 4−N

pelo que, tendo em conta a definição da soma indexada em N como um


supremo, tem-se
" ÐC ‚ B4 Ñ Ÿ C ‚ ˆ" B4 ‰.
4−N 4−N

Resta-nos mostrar que se tem também


§1. Somas e produtos no contexto positivo 9

C ‚ ˆ" B4 ‰ Ÿ " ÐC ‚ B4 Ñ,
4−N 4−N

desigualdade que é verdadeira, por o primeiro membro ser igual a !, quer no


caso em que C œ ! quer naquele em que todos os B4 são iguais a ! e que é
também verdadeira, por o segundo membro ser _, no caso em que
C œ _ e nem todos os B4 são iguais a !. Resta-nos verificar esta
desigualdade no caso em que C é diferente de ! e de _. Ora, aplicando a
desigualdade já demonstrada com "C no lugar de C e C ‚ B4 no lugar de B4 ,
obtemos

" B4 œ " Ð ‚ C ‚ B4 Ñ Ÿ ‚ ˆ" ÐC ‚ B4 щ


" "
4−N 4−N
C C 4−N

e multiplicando ambos os membros desta desigualdade por C , obtemos


C ‚ ˆ" B4 ‰ Ÿ " ÐC ‚ B4 Ñ,
4−N 4−N

como queríamos. 
I.1.14 (Produto de dois somatórios) Sejam ÐB4 Ñ4−N e ÐC5 Ñ5−O duas famílias,
finitas ou infinitas, de elementos de ‘ . Tem-se então
ˆ" B4 ‰ ‚ ˆ" C5 ‰ œ " ÐB4 ‚ C5 Ñ.
4−N 5−O Ð4ß5Ñ−N ‚O

Dem: Tendo em conta I.1.12 e I.1.13, vem


ˆ" B4 ‰ ‚ ˆ" C5 ‰ œ " ˆB4 ‚ " C5 ‰ œ " ˆ" ÐB4 ‚ C5 щ œ

œ "
4−N 5−O 4−N 5−O 4−N 5−O

ÐB4 ‚ C5 Ñ. 
Ð4ß5Ñ−N ‚O

O resultado seguinte mostra que, apesar de o conjunto N dos índices de


um somatório de elementos de ‘ ser arbitrário, quando a soma for finita,
o subconjunto dos índices que “verdadeiramente interessam” é sempre
contável.

I.1.15 Seja ÐB4 Ñ4−N uma família de elementos de ‘ tal que ! B4  _. Existe
4−N
então um conjunto contável N! § N tal que B4 œ !, para cada 4 − N Ï N! .
Dem: Para cada 8 − , o conjunto N8 , dos 4 − N tais que B4   8" , é finito,
sem o que
10 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

" B4   " B4   "


"
œ _.
4−N 4−N8 4−N8
8

Podemos então considerar o conjunto contável N! união de todos os N8 e,


para cada 4 − N Ï N! , tem-se B4  8" , para todo o 8, portanto B4 œ !. 

Exercícios

Ex I.1.1 (Exercício com sabor algébrico) Verificar que a definição, por


recursão, das somas de famílias finitas de elementos de ‘ , sugerida em
I.1.5, é legítima, isto é, que o segundo membro da fórmula
" B3 œ B3!  " B3 ,
3−M 3−MÏÖ3! ×

no caso em que M tem 8  " elementos, não depende da escolha do elemento


3! − M , supondo que esse facto já é conhecido para o caso em que o conjunto
de índices tem um número de elementos menor ou igual a 8. Constatar, em
particular, onde é que a comutatividade e a associatividade jogam o seu papel
e qual a importância de ! ser elemento neutro.
Justificar também as afirmações feitas nas alíneas a) a f) de I.1.5.
Ex I.1.2 Seja !  B  ". Lembrando a fórmula para a soma dos termos de uma
série geométrica, calcular de duas maneiras distintas o somatório
" B:;
Ð:ß;Ñ−‚

para deduzir que

" Ð8  "ÑB8 œ ˆ ‰ .
B #
8−
"B

Ex I.1.3 Seja !  " um número real. Verificar que se tem

"
_
" #!
Ÿ ,
8œ"
8! #!  #

em particular que a série no primeiro membro é convergente.


Sugestão: Reparar que, para cada 5   $, a soma

W5 œ "
5
"
8œ"
8!
§1. Somas e produtos no contexto positivo 11

verifica

W5 Ÿ "  " "


5 5
" " " "
 Ÿ "  ! W5  ! W5 .
:œ"
Ð#:Ñ! :œ" Ð#:  "Ñ! # #

Ex I.1.4 Provar, por absurdo, que se tem ! "


œ _ (divergência da série
harmónica), mostrando que, se fosse !
8
8−
"
8 œ +  _, vinha
8−

+œ" " œ" "


" " " " + +
  .
8 par
8 8 ímpar 8 :− #: :− #:  " # #

Ex I.1.5 Para cada 5 − , seja


E5 œ Ö8 −  ± #5"  8 Ÿ #5 ×

(um conjunto com #5" elementos) e reparemos que os conjuntos E5 são


disjuntos dois a dois e de união  Ï Ö"×.
a) (De novo a divergência da série harmónica) Reparar que

" œ "  " Š" ‹   "  " Š" 5 ‹   "  " œ _.
" " " "
8−
8 5− 8−E
8 5− 8−E
# 5−
#
5 5

b) Adaptar o raciocínio feito em a) para deduzir de a) a divergência da série


de Bertrand:

"
"
œ _.
8 #
8 lnÐ8Ñ

§2. Medidas em 5 -álgebras.

Quando pensamos intuitivamente em medidas, pensamos em algo como a


noção de área no contexto de subconjuntos do plano e esperamos que
certas propriedades naturais sejam verificadas, como o facto de o conjunto
vazio ter área ! e o de a área da união de dois conjuntos disjuntos ser a
soma das áreas destes. Esta última propriedade arrasta facilmente, por
indução, que a área de uma união finita de conjuntos disjuntos dois a dois
é ainda a soma das áreas destes e isso leva-nos a pensar se esta última
propriedade não será válida, mais geralmente para uniões de famílias arbi-
trárias, finitas ou infinitas, de conjuntos disjuntos dois a dois. Tal não é
decerto o caso, como se reconhece facilmente se notarmos que qualquer
conjunto é união de conjuntos com um único elemento, os quais têm área
igual a !, e que uma soma de parcelas todas iguais a ! é igual a !. Pelo
12 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

contrário, a experiência mostra que faz sentido considerar a propriedade


referida desde que nos limitemos a considerar uniões finitas ou numerá-
veis de conjuntos, e esse facto vai ser de grande importância nas aplica-
ções. Aparece, no entanto, uma contrariedade. Para muitas medidas
importantes, um dos exemplos das quais é precisamente o da área,
constata-se a impossibilidade de considerar a medida de um subconjunto
arbitrário, de modo que se verifiquem as propriedades desejadas (cf. o
exercício I.2.1, no fim do capítulo, para o caso análogo do comprimento
no contexto de ‘). Uma solução de compromisso é supor que a medida
está apenas definida para uma certa classe de subconjuntos, que se espera
que seja suficientemente ampla e fechada para as operações usuais que
envolvem subconjuntos.

I.2.1 Seja \ um conjunto. Diz-se que uma classe ` de subconjuntos de \ é


uma 5-álgebra6 se se verificam as seguintes propriedades:
1) O conjunto vazio g pertence a `;
2) Se E − `, então o complementar \ Ï E também pertence a `;

E4 − `, então - E4 − `.7
3) Se N é um conjunto finito ou numerável de índices e se, para cada 4 − N ,

4−N

I.2.2 Daqui em diante encontraremos com frequência a condição de um certo


conjunto ser finito ou numerável, o que torna útil encontrar uma expressão
mais simples de enunciar essa condição. Diremos que um conjunto é contável
se for finito ou numerável. Falaremos também de famílias contáveis para nos
referirmos a famílias cujo conjunto de índices seja contável. Analogamente,
uma família finita é uma família cujo conjunto de índices seja finito e uma
família não vazia é uma família cujo conjunto de índices seja não vazio.8
I.2.3 (Outras propriedades das 5 -álgebras) Se ` é uma 5 -álgebra de partes
de \ , então verificam-se também as seguintes propriedades:
4) Se N é um conjunto contável, não vazio9, de índices e se, para cada 4 − N ,

6É natural interrogarmo-nos sobre a razão da utilização da letra grega 5 . Ela destina-se a


sublinhar que, na condição 3) adiante se consideram uniões finitas ou numeráveis, e não
apenas uniões finitas. Se apenas se exigisse a condição 3) para uniões finitas (e bastava
então referir apenas as uniões de dois conjuntos de `), obtinha-se o conceito de álgebra,
que não teremos ocasião de utilizar.
7No caso em que N œ g, a união é considerada como sendo o conjunto vazio pelo que
quem aceitar o conceito de união da família vazia poderia dispensar o enunciado da
propriedade 1).
8Esta última definição poderá considerada estranha por algumas pessoas que têm como
implícito que o conjunto dos índices de uma família nunca é o conjunto vazio, mas apre-
sentamo-la em atenção àqueles para quem estas últimas não devem ser afastadas a priori.
9Quando se trabalha no contexto dos subconjuntos de um conjunto fixado \ , é comum
considerar a intersecção da família vazia de partes de \ como sendo o próprio \ , pelo
que, nesse contexto, a exigência N Á g seria dispensável.
§2. Medidas em 5 -álgebras 13

E4 − `, então + E4 − `;
4−N
5) \ − `;
6) Se E − ` e F − `, então a diferença
E Ï F œ ÖB − \ ± B − E • B  F×
também pertence a `.
Dem: A conclusão de 4) resulta de que se pode escrever
, E4 œ \ Ï ˆ. Ð\ Ï E4 щ.
4−N 4−N

A conclusão de 5) resulta de se ter \ œ \ Ï g e a de 6) de se poder escrever


E Ï F œ E  Ð\ Ï FÑ. 
I.2.4 (Exemplos de 5 -álgebras) a) Se \ é um conjunto, a classe c Ð\Ñ, de
todos os subconjuntos de \ , é uma 5 -álgebra, que é máxima, no sentido de
conter qualquer 5 -álgebra de subconjuntos de \ .
b) Se \ é um conjunto, a classe Ögß \×, é uma 5 -álgebra, que é mínima, no
sentido de estar contida em qualquer 5 -álgebra de partes de \ .
I.2.5 (A 5 -álgebra restrição) Sejam \ um conjunto e ` uma 5 -álgebra de
partes de \ . Se ] § \ é um subconjunto pertencente a `, então a classe
`Î] dos conjuntos pertencentes a `, que estão contidos em ] , é uma
5 -álgebra de partes de ] , a que damos o nome de restrição da 5 -álgebra `
a ] e que é a que se considera implicitamente em ] quando outra não for
referida.
Dem: As propriedades 1) e 3) da definição em I.2.1 são triviais e a
propriedade 2) resulta da propriedade 6) em I.2.3, uma vez que estamos a
supor que ] − `. 

O resultado a seguir dá-nos outro método útil de explicitar 5-álgebras,


cujo único senão é não nos dar em geral nenhum método efetivo para
decidir em todos os casos se um dado conjunto pertence ou não a essa
5-álgebra.

I.2.6 Sejam \ um conjunto e V uma classe arbitrária de partes de \ . Existe


então uma 5 -álgebra ` contendo V, que é mínima, no sentido de estar
contida em qualquer 5 -álgebra que contenha V. A esta 5 -álgebra, que é
necessariamente única, dá-se o nome de 5-álgebra gerada pela classe V.
Dem: Seja ` a classe de todos os subconjuntos de \ que pertencem a
qualquer 5 -álgebra que contenha V, por outras palavras, ` é a intersecção
de todas as 5 -álgebras que contêm V (há pelo menos uma 5 -álgebra nessas
condições, nomeadamente a 5 -álgebra cÐ\Ñ). Constata-se imediatamente
que ` é uma 5 -álgebra que contém V e, por construção, a classe ` está
contida em qualquer 5 -álgebra que contém V. A unicidade de uma 5 -álgebra
14 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

nestas condições resulta de que, se ` e `w fossem duas 5 -álgebras com


esta propriedade, tinha que se ter ` § `w e `w § `. 

Um exemplo de 5 -álgebra gerada, que para nós será de grande impor-


tância, é o da 5-álgebra dos borelianos dum espaço topológico. Por exem-
plo, o comprimento em ‘, a área em ‘# e o volume em ‘$ vão ser medi-
das que, como veremos adiante, não estando definidas para subconjuntos
arbitrários, estão definidas nas 5-álgebras dos borelianos dos espaços em
questão.

I.2.7 Se \ é um espaço topológico, chamam-se borelianos de \ os subconjuntos


que pertencem à 5 -álgebra gerada pela classe dos conjuntos abertos de \ ,
5 -álgebra U\ a que se dá naturalmente o nome de 5 -álgebra dos borelianos
de \ .
I.2.8 (Exemplos de borelianos) a) Se \ é um espaço topológico, os abertos de
\ são borelianos, e os fechados também o são, uma vez que são
complementares de conjuntos abertos.
b) No caso em que o espaço topológico \ é separado, os conjuntos contáveis
são borelianos, uma vez que são uniões de famílias contáveis de conjuntos
com um único elemento, que são fechados; em consequência, também os
complementares de conjuntos contáveis são borelianos.
c) Em ‘, todos os intervalos são borelianos, uma vez que são conjuntos
abertos ou conjuntos fechados ou interseções de um aberto com um fechado;
por exemplo, Ó+ß ,Ó é a intersecção do conjunto aberto Ó+ß _Ò com o
conjunto fechado Ó_ß ,Ó.

Como complemento, que não justificamos, ao que referimos atrás, pode-


mos dizer que o difícil é definir explicitamente um subconjunto de ‘ (ou
de ‘8 ) que não seja boreliano, ou sequer um subconjunto que não
consigamos verificar que é boreliano. Esta observação é, de certo modo,
uma “boa notícia”, visto que, como já referimos, as medidas importantes
de ‘8 vão estar definidas nos borelianos e os conjuntos para os quais a
medida está definida vão ser os mais interessantes.

I.2.9 (Borelianos de um subespaço topológico) Sejam \ um espaço topológico


e U\ a 5 -álgebra dos borelianos de \ . Se ] § \ e ] − U\ , então a
5 -álgebra U] dos borelianos de ] , com a topologia induzida, coincide com a
5 -álgebra restrição U\ Î] .
Dem: Se Z é aberto em ] , então Z œ ]  Y , para um certo aberto Y de \ ,
em particular Z é um boreliano de \ , contido em ] , isto é, Z pertence à
5 -álgebra restrição U\ Î] . Uma vez que a 5 -álgebra U] , dos borelianos de ] ,
é a mais pequena 5 -álgebra de partes de ] que contém os abertos de ] ,
concluímos que U] § U\ Î] .
Consideremos agora
§2. Medidas em 5 -álgebras 15

` œ ÖE § \ ± E  ] − U] ×.

ˆ- E4 ‰  ] œ - ÐE4  ] Ñ, concluímos que ` é uma 5 -álgebra de partes


Tendo em conta as igualdades g  ] œ g, Ð\ Ï EÑ  ] œ ] Ï ÐE  ] Ñ e

4−N 4−N
de \ , a qual vai conter os abertos Y de \ , para os quais Y  ] é aberto em
] , em particular pertence a U] . Concluímos assim que U\ § `, e portanto,
se E − U\ Î] , vem E − U\ § ` donde E œ E  ] − U] , o que mostra
que U\ Î] § U] . 
I.2.10 (Medida numa 5 -álgebra) Sejam \ um conjunto e ` uma 5 -álgebra de
partes de \ . Chama-se medida na 5 -álgebra ` a uma aplicação
.À ` Ä ‘ verificando as seguintes propriedades:
1) .ÐgÑ œ !;
2) (Aditividade) Qualquer que seja a família contável ÐE4 Ñ4−N de conjuntos
disjuntos dois a dois, pertencentes a `,
.Ð. E4 Ñ œ " .ÐE4 Ñ.
4−N 4−N

Diz-se que a medida .À ` Ä ‘ é finita se verifica .Ð\Ñ  _ e que é


uma probabilidade se verifica .Ð\Ñ œ ".

O lema seguinte, cujo enunciado é quase maior que a demonstração, será


utilizado várias vezes ao longo deste texto.

I.2.11 (Lema) Sejam \ um conjunto e ÐE4 Ñ4−N uma família contável de partes

duas, com E4w § E4 e - E4w œ - E4 , onde cada E4w é da forma


de \ . Existe então uma família de partes de \ , ÐE4w Ñ4−N , disjuntas duas a

4−N 4−N

E4w œ E4 Ï E4ww œ E4  Ð\ Ï E4ww Ñ,

com E4ww união de um número finito dos E5 , 5 − N .


Em particular, no caso em que ` é uma 5 -álgebra de partes de \ com
E4 − `, para cada 4 − N , tem-se também E4w − `, para cada 4 − N .
Dem: O facto de N ser contável permite-nos, por composição com uma
bijeção de , ou de um conjunto do tipo Ö"ß #ß á ß R ×, sobre N , examinar
apenas os casos em que N œ  ou N œ Ö"ß #ß á ß R ×. Ora, nesses casos,
basta definirmos E"w œ E" e, para cada 4  ",

E4w œ E4 Ï ˆ. E5 ‰,
54
16 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

uma vez que cada B − - E4 vai pertencer a um único E4w , nomeadamente o


4−N
correspondente ao menor dos 4 tais que B − E4 . 
I.2.12 (Outras propriedades das medidas) Sejam \ um conjunto, ` uma
5 -álgebra de partes de \ e .À ` Ä ‘ uma medida. Tem-se então:
3) (Monotonia) Se Eß F − `, com E § F , então .ÐEÑ Ÿ .ÐFÑ e, no caso
em que .ÐFÑ  _
.ÐF Ï EÑ œ .ÐFÑ  .ÐEÑ;
Em particular, se . é uma medida finita, . toma valores em ‘ e, se . é uma
probabilidade, . toma valores em Ò!ß "Ó.
4) (Subaditividade) Qualquer que seja a família contável ÐE4 Ñ4−N de
conjuntos pertencentes a `, não necessariamente disjuntos dois a dois,
.Ð. E4 Ñ Ÿ " .ÐE4 Ñ.
4−N 4−N

5) Sendo ÐE8 Ñ8− uma sucessão crescente de subconjuntos pertencentes a `


(isto é, supondo que E8 § E8" , para cada 8 − ), tem-se
.Ð. E8 Ñ œ lim .ÐE8 Ñ.
8−

6) Se Eß F − `, então
.ÐE  FÑ  .ÐE  FÑ œ .ÐEÑ  .ÐFÑ.

7) Sendo ÐE8 Ñ8− uma sucessão decrescente de subconjuntos pertencentes a


` (isto é, supondo que E8 ¨ E8" , para cada 8 − ), e supondo que
.ÐE" Ñ  _, tem-se
.Ð, E8 Ñ œ lim .ÐE8 Ñ.
8−

Dem: As afirmações de 3) resultam de que se tem F œ E  ÐF Ï EÑ, com

atendemos ao lema I.2.11, para concluirmos que se tem - E4 œ - E4w , com


E  ÐF Ï EÑ œ g, portanto .ÐFÑ œ .ÐEÑ  .ÐF Ï EÑ. Para justificarmos 4),

4−N 4−N
E4w − `, E4w § E4 e os E4w disjuntos dois a dois, tendo-se então
.ÐE4w Ñ Ÿ .ÐE4 Ñ, portanto

.Ð. E4 Ñ œ .Ð. E4w Ñ œ " .ÐE4w Ñ Ÿ " .ÐE4 Ñ.


4−N 4−N 4−N 4−N

Examinemos agora a conclusão de 5). Consideremos os conjuntos F: − `,

F:" œ E:" Ï E: , reparando que - F: œ - E: e que - F: œ E8 .


onde : − , disjuntos dois a dois, definidos por F" œ E" e

:− :− :Ÿ8


§2. Medidas em 5 -álgebras 17

Tem-se assim, lembrando I.1.8,

.Ð. E: Ñ œ " .ÐF: Ñ œ lim " .ÐF: Ñ œ lim .ÐE8 Ñ.


8

:− :− :œ"

Quanto a 6), reparamos que E  F œ E  ÐF Ï EÑ, com E  ÐF Ï EÑ œ g, e


que F œ ÐF Ï EÑ  ÐE  FÑ, com ÐF Ï EÑ  ÐE  FÑ œ g, e deduzimos
daqui que
.ÐE  FÑ  .ÐE  FÑ œ .ÐEÑ  .ÐF Ï EÑ  .ÐE  FÑ œ
œ .ÐEÑ  .ÐFÑ.

sucessão crescente cuja união é E" Ï + E8 , pelo que, tendo em conta as


Quanto a 7), reparamos que os conjuntos E" Ï E8 − ` constituem uma

8−
conclusões de 3) e 5),
.ÐE" Ñ  .Ð, E8 Ñ œ .ÐE" Ï , E8 Ñ œ lim .ÐE" Ï E8 Ñ œ
8− 8−
œ lim Ð.ÐE" Ñ  .ÐE8 ÑÑ,

donde
.Ð, E8 Ñ œ .ÐE" Ñ  lim Ð.ÐE" Ñ  .ÐE8 ÑÑ œ lim .ÐE8 Ñ. 
8−

I.2.13 (Restrição de uma medida) Sejam \ um conjunto, ` uma 5-álgebra de


partes de \ e .À ` Ä ‘ uma medida. Se ] § \ , com ] − `, e se
considerarmos em ] a 5 -álgebra restrição `Î] , obtemos uma medida
.Î] À `Î] Ä ‘ , a que damos o nome de restrição de . a ] , definida por
.Î] ÐEÑ œ .ÐEÑ, para cada E − `Î] .
I.2.14 (Exemplo de medida) Sejam \ um conjunto arbitrário e Ð!B ÑB−\ uma
família de elementos de ‘ . Tem então lugar uma medida . definida na
5 -álgebra c Ð\Ñ de todos os subconjuntos de \ por

.ÐEÑ œ " !B .
B−E

Dizemos que esta é a medida associada à família Ð!B ÑB−\ .10


Dem: A propriedade 1) da definição de medida em I.2.10 resulta da
definição por recursão dos somatórios finitos e a propriedade 2) é uma
consequência imediata de I.1.11. 

10Estas medidas gozam de duas propriedades que se podem considerar atípicas: Em


primeiro lugar, estão definidas na 5 -álgebra de todos os subconjuntos; em segundo lugar,
a propriedade de aditividade é verificada para famílias arbitrárias de subconjuntos de \
disjuntos dois a dois, e não só para famílias contáveis.
18 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

I.2.15 (Casos particulares das medidas precedentes) a) Seja \ um conjunto


arbitrário e consideremos a família Ð!B ÑB−\ com !B œ ", para cada B − \ .
À medida / na 5 -álgebra cÐ\Ñ, de todos os subconjuntos de \, associada a
esta família, dá-se o nome de medida de contagem. A razão deste nome está
em que, como decorre do referido na alínea a) de I.1.5 e em I.1.6, para cada
E § \ finito, / ÐEÑ é o número de elementos de E e, para cada E § \ infi-
nito, /ÐEÑ œ _.
b) Sejam \ um conjunto arbitrário e B! − \ um elemento fixado.
Considerando a família Ð!B ÑB−\ com !B œ ", se B œ B! , e !B œ !, se
B Á B! , à medida .B! na 5 -álgebra c Ð\Ñ, de todos os subconjuntos de \ ,
associada a esta família dá-se o nome de medida de Dirac correspondente ao
ponto B! . Repare-se que, como se constata facilmente, para cada E § \
tem-se .B! ÐEÑ œ ", se B! − E, e .B! ÐEÑ œ !, se B!  E.
c) Se \ é um conjunto arbitrário e considerarmos a família Ð!B ÑB−\ com
!B œ !, para cada B, a correspondente medida . na 5 -álgebra c Ð\Ñ de todas
as partes de \ é a medida identicamente nula, com .ÐEÑ œ !, para cada E.
I.2.16 (Construção trivial de novas medidas) Sejam \ um conjunto, ` uma
5 -álgebra de partes de \ , .ß .w À ` Ä ‘ duas medidas e + − ‘ . Têm
então lugar novas medidas .  .w À ` Ä ‘ e +.À ` Ä ‘ , definidas,
naturalmente, por
Ð.  .w ÑÐEÑ œ .ÐEÑ  .w ÐEÑ, Ð+.ÑÐEÑ œ +.ÐEÑ.

Dem: Trata-se de consequências diretas das propriedades das somas não


necessariamente finitas em I.1.12 e I.1.13. 

Exercícios

Ex I.2.1 (Impossibilidade de definir o comprimento de um subconjunto arbi-


trário de ‘) Verificar que não existe nenhuma boa noção de comprimento,
definida para todos os subconjuntos de ‘, mais precisamente, que não existe
nenhuma medida ., definida na 5 -álgebra de todas as partes de ‘, que seja
invariante por translação (no sentido de se ter .ÐB  EÑ œ .ÐEÑ, para cada
B − ‘ e E § ‘) e tal que .ÐÓ!ß "ÓÑ œ ".
Sugestão: Considerar em ‘ uma relação de equivalência, definida por B µ C
se, e só se, B  C é um número racional. Escolhamos em Ó!ß "Ó um, e um só
elemento de cada classe de equivalência para esta relação e seja F § Ó!ß "Ó o
conjunto dos elementos escolhidos. Notando N o conjunto numerável dos
racionais do intervalo Ó"ß "Ò, mostrar que

Ó!ß "Ó § . D  F § Ó"ß #Ó,


D−N

com os conjuntos D  F disjuntos dois a dois, deduzindo daí que


§2. Medidas em 5 -álgebras 19

" Ÿ " .ÐD  FÑ Ÿ $,


D−N

o que é impossível por todos os .ÐD  FÑ serem iguais a .ÐFÑ, e portanto a


sua soma ter que ser ! ou _.
Ex I.2.2 Seja \ um conjunto infinito não numerável. Mostrar que a classe `
das partes de \ que são contáveis ou de complementar contável é uma
5 -álgebra e que se pode definir uma medida . nesta 5 -álgebra, pondo
.ÐEÑ œ !, se E é contável, e .ÐEÑ œ ", se \ Ï E é contável.
Ex I.2.3 Se \ é um conjunto, o que serão os borelianos de \ associados à
topologia discreta e os borelianos de \ associados à topologia caótica?
Ex I.2.4 Sejam \ um conjunto, ` uma 5 -álgebra de partes de \ e .À ` Ä ‘
uma medida. Lembrar que, como se verificou na alínea 7) de I.2.12, sendo
ÐE8 Ñ8− uma sucessão decrescente de subconjuntos pertencentes a ` e
admitindo que .ÐE" Ñ  _, tem-se

.Ð, E8 Ñ œ lim .ÐE8 Ñ.


8−

Dar um contraexemplo que mostre que, sem a hipótese de se ter


.ÐE" Ñ  _, a conclusão referida pode falhar. Sugestão: Pensar na medida
de contagem na 5 -álgebra de todas as partes de .
Ex I.2.5 Sejam \ um conjunto e ÐE8 Ñ8− uma sucessão de subconjuntos de \ .
Se E § \ , diz-se que a sucessão tem limite E, e escreve-se E8 Ä E, se se
verificam as duas condições seguintes:
1) Para cada B − E, existe 8! tal que, para todo o 8   8! , B − E8 ;
2) Para cada B Â E, existe 8! tal que, para todo o 8   8! , B Â E8 .
a) Verificar que uma sucessão de subconjuntos pode ter ou não limite mas
que este, quando existe, é necessariamente único.
b) Verificar que, se a sucessão de subconjuntos ÐE8 Ñ8− é crescente ou
decrescente, então ela tem limite e dizer, em cada um dos casos, o que é esse
limite.
c) Suponhamos que ` é uma 5 -álgebra de partes de \ e que ÐE8 Ñ8− é uma
sucessão de subconjuntos pertencentes a `. Verificar que, se a sucessão tem
limite E, então E − `.
Ex I.2.6 a) Sejam \ um conjunto, ` uma 5 -álgebra de partes de \ e
.ß .
sÀ ` Ä ‘ duas medidas, com . sÐ\Ñ  _, tais que, para cada
E − `, .ÐEÑ œ ! Ê . sÐEÑ œ !. Mostrar que, para cada $  !, existe &  !
tal que, para cada F − `, .ÐFÑ  & Ê . sÐFÑ  $ .
Sugestão: Supondo que a conclusão é falsa, considerar $  ! tal que, para
cada 8 − , existe F8 − ` com .ÐF8 Ñ  #"8 e . sÐF8 Ñ   $ . Considerar a
sucessão decrescente de conjuntos E7 − ` definida por
20 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

E7 œ . F8
_

8œ7

e o conjunto E œ + E7 e mostrar, tendo em conta a conclusão da alínea 7)


7−
de I.2.12, que .ÐEÑ œ ! e . sÐEÑ   $ .
b) Considerando na 5 -álgebra c ÐÑ, de todas as partes de , a medida de
contagem / e a medida finita . associada à família Ð 2"8 Ñ8− (cf. I.2.15 e
I.2.14), concluir que a hipótese, na alínea precedente, de a segunda medida
ser finita é essencial para a validade da respetiva conclusão.

§3. Medidas em semianéis.

O nosso objetivo principal para esta, e a próxima, secção é construir a


primeira medida de importância fundamental, a medida de Lebesgue nos
borelianos de ‘, que estende a noção de comprimento de um intervalo,
sendo possível obter, sem acréscimo significativo de trabalho, generaliza-
ções desta, as medidas de Lebesgue-Stieltjes. Por uma questão técnica,
ligada à facilidade de decompor conjuntos como uniões de intervalos
disjuntos, será cómodo começarmos por considerar de início apenas inter-
valos de um tipo muito particular, abertos à esquerda e fechados à direita.
Começamos, nesta secção, por examinar as propriedades de que goza a
classe dos intervalos desse tipo e a noção de comprimento e mostraremos
na próxima secção que, sempre que estamos em presença de uma situação
desse tipo, é possível construir uma medida na 5 -álgebra gerada.

I.3.1 Dado um conjunto não vazio X de números reais, vamos chamar X -inter-
valos semiabertos (ou, simplesmente, intervalos semiabertos, no caso em que
X œ ‘) aos subconjuntos de ‘ da forma
Ó+ß ,Ó œ ÖB − ‘ ± +  B Ÿ ,×,
onde +ß , − X . Repare-se que não fazemos nenhuma restrição sobre a relação
de ordem entre os reais + e , mas, se +   ,, tem-se Ó+ß ,Ó œ g.
Qualquer X -intervalo semiaberto pode assim ser escrito na forma Ó+ß ,Ó com
+ Ÿ , em X e uma tal representação é única, no caso dos intervalos semiaber-
tos não vazios, visto que então , tem que ser o máximo do intervalo e + o seu
ínfimo. É claro que o conjunto vazio admite infinitas representações daquele
tipo; essas representações são exatamente as do tipo Ó+ß +Ó, com + − X arbi-
trário.
I.3.2 (Propriedades dos intervalos semiabertos) Dado um conjunto não vazio
X § ‘, a classe f dos X -intervalos semiabertos de ‘, que tem o conjunto
vazio g como um dos seus elementos, verifica a seguinte propriedade:
§3. Medidas em semianéis 21

Se E − f e F − f , então E  F − f e existem G − f e H − f , com


G  H œ g, tais que E Ï F œ G  H.
Dem: Ponhamos
E œ Ó+" ß ," Ó, F œ Ó+# ß ,# Ó,

onde podemos já supor +# Ÿ ,# . Tem-se então


E  F œ ÖB − ‘ ± +"  B Ÿ ," • +#  B Ÿ ,# × œ Ó+ß ,Ó,
com + œ maxÖ+" ß +# × e , œ minÖ," ß ,# × e
E Ï F œ ÖB − ‘ ± +"  B Ÿ ," • ÐB Ÿ +# ” B  ,# Ñ× œ Ó+" ß ,w Ó  Ó+w ß ," Ó
onde ,w œ minÖ," ß +# × e +w œ maxÖ+" ß ,# ×, tendo-se então
,w Ÿ +# Ÿ ,# Ÿ +w ,
o que implica que Ó+" ß ,w Ó  Ó+w ß ," Ó œ g. 
I.3.3 Seja \ um conjunto. Diz-se que uma classe f de partes de \ é um
semianel se se verificam as propriedades:
1) g − f ;
2) Se E − f e F − f , então E  F − f ;
3) Se E − f e F − f , então existe uma família finita ÐG3 Ñ3−M de conjuntos
pertencentes a f , disjuntos dois a dois, tal que
E Ï F œ . G3 .
3−M

I.3.4 Uma 5 -álgebra ` de subconjntos de \ é, em particular, um semianel, uma


vez que, para a condição 3), podemos considerar uma família formada pelo
único conjunto E Ï F. O que vimos atrás mostra-nos que, se X § ‘ é não
vazio, a classe dos X -intervalos semiabertos de ‘ é um semianel, que,
evidentemente, não é uma 5 -álgebra.

família finita não vazia de conjuntos pertencentes a f , então + G3 − f .


I.3.5 Sejam \ um conjunto e f um semianel de partes de \ . Se ÐG3 Ñ3−M é uma

3−M
Dem: Trata-se de uma consequência da propriedade 2) da definição de
seminanel, por indução no número de elementos, maior ou igual a ", do
conjunto de índices. 
I.3.6 (O anel associado) Sejam \ um conjunto e f um semianel de partes de \ .
Notemos T a classe dos subconjuntos de \ que são união de alguma família
finita de conjuntos ÐG3 Ñ3−M disjuntos dois a dois e pertencentes a f . Tem-se
então que a classe T contém f e goza das seguintes propriedades:

então + E3 − T;
1) Se ÐE3 Ñ3−M é uma família finita não vazia de conjuntos pertencentes a T,

3−M
2) Se E − T e F − T, então E Ï F − T.
22 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

3) Se ÐE3 Ñ3−M é uma família finita de elementos de T , então - E3 − T .


3−M
Dizemos que a classe T é o anel associado ao semianel f .
Dem: O facto de T conter f resulta de que cada E − f pode ser olhado
como a união de uma família constituída por um único conjunto E.
Reparemos também que da definição da classe T resulta imediatamente que,

então - E3 − T, o que é menos do que o afirmado em 3), uma vez que aí


se ÐE3 Ñ3−M é uma família finita de elementos de T , disjuntos dois a dois,

3−M
não estamos a exigir que os conjuntos sejam disjuntos dois a dois.
A propriedade 1) resulta por indução no número de elementos, maior ou

F − T, então E  F − T. Ora, sendo E œ - G3 e F œ - H4 , onde ÐG3 Ñ3−M


igual a ", do conjunto de índices M , desde que se mostre que, se E − T e

3−M 4−N
e ÐH4 Ñ4−N são duas famílias finitas de conjuntos de f , em ambos os casos
disjuntos dois a dois, tem-se
EF œ. ÐG3  H4 Ñ,
Ð3ß4Ñ−M‚N

ondo os conjuntos G3  H4 pertencem a f e são disjuntos dois a dois.


Para provarmos 2), comecemos por examinar o caso particular em que E − f

E Ï F œ E, podemos escrever F œ - H4 , onde ÐH4 Ñ4−N é uma família finita


e F − T. Ora, afastando já o caso trivial em que F œ g, e portanto

4−N
não vazia de conjuntos de f disjuntos dois a dois e tem-se então
E Ï F œ , ÐE Ï H4 Ñ,
4−N

onde, pela propriedade 3) dos semianéis, cada E Ï H4 pertence a T, e

Suponhamos agora que E − T e F − T. Podemos então escrever E œ - G3 ,


portanto, tendo em conta a propriedade 1) já demonstrada, vem E Ï F − T.

3−M

portanto E Ï F œ - ÐG3 Ï FÑ, com os G3 Ï F disjuntos dois a dois e, como


onde ÐG3 Ñ3−M é uma família finita de conjuntos de f disjuntos dois a dois e

3−M
vimos no caso particular já estudado, cada G3 Ï F − T. Como referimos no
início, daqui decorre que E Ï F − T.
Uma vez que g − f § T , podemos provar 3) por indução no número de
elementos, maior ou igual a ", do conjunto de índices M . Para isso, basta
mostrarmos que, se E − T e F − T, então E  F − T. Ora, isso resulta
mais uma vez do que se disse no início, uma vez que se tem
E  F œ E  ÐF Ï EÑ,
onde os conjuntos E e F Ï E pertencem a T e são disjuntos. 
§3. Medidas em semianéis 23

No caso do seminanel f dos intervalos semiabertos de ‘, podemos asso-


ciar a cada intervalo Ó+ß ,Ó, com + Ÿ ,, o elemento ,  + − ‘ . Se quiser-
mos ter esperanças de que esta aplicação de f em ‘ possa ser prolon-
gada a uma medida numa 5 -álgebra contendo f (o que, como veremos,
vai efetivamente acontecer), o mínimo que se pode exigir é que, ao nível
de f já se tenha uma medida no sentido seguinte.

I.3.7 Sejam \ um conjunto e f um semianel de partes de \ . Diz-se que uma


aplicação .À f Ä ‘ é uma medida se se verificam as propriedades
seguintes:
1) .ÐgÑ œ !;

disjuntos dois a dois, pertencentes a f , tal que - E4 − f ,


2) (Aditividade) Qualquer que seja a família contável ÐE4 Ñ4−N de conjuntos

4−N

.Ð. E4 Ñ œ " .ÐE4 Ñ.


4−N 4−N

É claro que, no caso em que o semianel é uma 5 -álgebra, reencontramos a


definição de medida em I.2.10, a única diferença estando em que, naquele

camente, de se ter - E4 − f .
caso, não era necessário explicitar em 2) a hipótese, verificada automati-

4−N
Provamos em seguida algumas propriedades das medidas em semianéis,
que decorrem das que já conhecemos no caso em que o semianel é uma
5-álgebra, mas que necessitam aqui de argumentos mais completos.
Apenas nos debruçamos sobre propriedades que serão utilizadas no pro-
cesso de prolongamento das medidas à 5 -álgebra gerada, uma vez que,
obtido um tal prolongamento, as restantes propriedades decorrem do que
se conhece para as 5 -álgebras.

I.3.8 (Algumas propriedades das medidas num semianel) Sejam \ um


conjunto, f um semianel de partes de \ e .À f Ä ‘ uma medida. Tem-se
então:

F − f e se - E4 § F , então
3) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família de conjuntos em f disjuntos dois a dois, se

4−N

" .ÐE4 Ñ Ÿ .ÐFÑ.


4−N

4) (Monotonia) Se Eß F − f e E § F , então .ÐEÑ Ÿ .ÐFÑ.

sariamente disjuntos dois a dois) tal que E § - F4 , então


5) Se E − f e ÐF4 Ñ4−N é uma família contável de conjuntos de f (não neces-

4−N
24 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

.ÐEÑ Ÿ " .ÐF4 Ñ.


4−N

Dem: Atendendo a que uma soma arbitrária é o supremo de todas as somas


parciais finitas, para demonstrar 3) basta examinar o caso em que o conjunto

que F Ï ˆ- E4 ‰ pertence ao anel gerado T, isto é,


dos índices N é finito. Ora, nesse caso, deduzimos das alíneas 2) e 3) de I.3.6

4−N

F Ï ˆ. E4 ‰ œ . G5 ,
4−N 5−O

para uma certa família finita ÐG5 Ñ5−O de conjuntos de f disjuntos dois a
dois. Então F vai ser a união dos conjuntos E4 e G5 de f , todos disjuntos
dois a dois, pelo que, aplicando a propriedade associativa das somas finitas,
.ÐFÑ œ ˆ" .ÐE4 щ  ˆ" .ÐG5 щ,
4−N 5−O

e portanto ! .ÐE4 Ñ Ÿ .ÐFÑ.


4−N
A propriedade 4) é o caso particular de 3) em que consideramos para ÐE4 Ñ4−N

Passemos agora à demonstração de 5). Tem-se E œ -E4 , com E4 œ E  F4 ,


uma família com um único elemento E.

escrever também E œ -E4w , com E4w § E4 e os E4w disjuntos dois a dois, onde
em particular E4 § F4 e E4 − f . Tendo em conta o lema I.2.11, podemos

cada E4w , apesar de poder não pertencer a f , pertence, por I.3.6, à classe T
referida nesse resultado, isto é,
E4w œ . G4ß54 ,
54 −O4

para certas famílias finitas ÐG4ß54 Ñ54 −O4 de conjuntos de f disjuntos dois a
dois. Pela alínea 3), já demonstrada,
" .ÐG4ß54 Ñ Ÿ .ÐF4 Ñ.
54 −O4

De se ter

E œ . E4w œ . Š. G4ß54 ‹,
4−N 4−N 54 −O4

com os conjuntos G4ß54 , 4 − N e 54 − O4 , disjuntos dois a dois, concluímos


§3. Medidas em semianéis 25

finalmente, tendo em conta a propriedade associativa em I.1.11, que

.ÐEÑ œ " Š" .ÐG4ß54 Ñ‹ Ÿ " .ÐF4 Ñ. 


4−N 54 −O4 4−N

I.3.9 (Generalidades sobre funções crescentes) Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um


intervalo aberto não vazio, com cada extremidade finita ou infinita,11 e
1À Ó-ß .Ò Ä ‘ uma função crescente (no sentido lato). Relembremos que, para
cada + − N , a função 1 admite limites laterais esquerdo e direito finitos,
notados 1Ð+ Ñ e 1Ð+ Ñ, que são respetivamente iguais ao supremo dos 1ÐBÑ
com B  + e ao ínfimo dos 1ÐBÑ com B  +, e que se tem
1Ð+ Ñ Ÿ 1Ð+Ñ Ÿ 1Ð+ Ñ.
Analogamente, 1 admite limite à direita 1Ð-  Ñ, finito ou _, e limite à
esquerda 1Ð.  Ñ, finito ou _, iguais respectivamente ao ínfimo e ao
supremo dos 1ÐBÑ.
Uma propriedade importante, que teremos ocasião de utilizar, é que, se
1À Ó-ß .Ò Ä ‘ é uma função crescente então o conjunto dos pontos B − Ó-ß .Ò
onde 1 não é contínua, isto é, onde 1ÐB Ñ Á 1ÐB Ñ, é contável.
Dem: Para cada B onde 1 não é contínua, podemos considerar um número
racional <B que verifique 1ÐB Ñ  <B  1ÐB Ñ e então a função que a B
associa <B é uma função injectiva do conjuntos dos pontos de
descontinuidade para o conjunto numerável dos números racionais. 
I.3.10 (Lema — A importância de um conjunto de índices ser contável)

Ð$4 Ñ4−M de números $4  ! tal que ! $4 Ÿ $ .12


Sejam M um conjunto contável de índices e $  !. Existe então uma família

4−M
Dem: Por uma mudança do conjunto de índices, podemos já supor que
M œ  ou M œ Ö"ß #ß á ß R ×. Basta então definirmos $4 œ $ Î#4 , lembrando a
caracterização da soma dos termos de uma série geométrica. 
I.3.11 (A medida de Lebesgue-Stieltjes nos intervalos semiabertos) Sejam
N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com cada extremidade finita
ou infinita, e 1À N Ä ‘ uma função crescente (no sentido lato). Tem então
lugar uma medida -1 , no semianel f dos N -intervalos semiabertos, definida
por
-1 ÐÓ+ß ,ÓÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ,

sempre que + Ÿ , .13

11O conjunto X pode assim ser, além do próprio ‘, um intervalo de um dos tipos Ó+ß ,Ò,
com +  , em ‘, Ó+ß _Ò ou Ó_ß +Ò, com + − ‘.
12Reparar que, por I.1.15, se N não é contável é impossível existir uma tal família.
13Repare-se que, no caso em que a função crescente 1 é contínua à direita, podemos
escrever, mais simplesmente, -1 ÐÓ+ß ,ÓÑ œ 1Ð,Ñ  1Ð+Ñ. É frequente fazer-se esta exi-
26 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

Dizemos que esta é a medida de Lebesgue-Stieltjes associada à função 1. No


caso particular em que N œ ‘ e 1ÐBÑ œ B, a correspondente medida - , que
está definida por -ÐÓ+ß ,ÓÑ œ ,  +, se + Ÿ , , toma o nome de medida de
Lebesgue.
Dem: Para uma melhor sistematização, dividimos a prova em várias partes.
1) O facto de a aplicação -1 estar bem definida e verificar -1 ÐgÑ œ ! resulta
de que, como referido em I.3.1, qualquer intervalo semiaberto pode ser
escrito na forma Ó+ß ,Ó com + Ÿ , , sendo então vazio se, e só se, + œ , e, no
caso em que ele não é vazio, uma tal representação é única. Resta-nos provar
a propriedade de aditividade em I.3.7.
2) Vamos provar a seguinte propriedade de “superaditividade finita”: Se
E œ Ó+ß ,Ó contém a união de uma família finita de conjuntos E4 œ Ó+4 ß ,4 Ó,
onde 4 − M , disjuntos dois a dois, então
-1 ÐEÑ   " -1 ÐE4 Ñ.
4−M

Subdem: Sem alterar a união nem o segundo membro da igualdade a


estabelecer, podemos já retirar de M os índices para os quais E4 œ g.
Podemos também afastar o caso trivial em que o conjunto de índices assim
obtido é vazio, caso em que a união é g e e o segundo membro da
desigualdade é !. Fazemos então a demonstração por indução no número de
elementos do conjunto de índices M . Se M tem apenas um elemento 4, tem-se
E ¨ E4 , donde + Ÿ +4 e ,   ,4 e obtemos
-1 ÐEÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ   1Ð,4 Ñ  1Ð+4 Ñ œ -1 ÐE4 Ñ.

Suponhamos que a desigualdade se verifica quando M tem 8 elementos e


provemo-la quando M tem 8  " elementos. Seja 4! o índice 4 para o qual ,4 é
máximo e reparemos que ,4! Ÿ , , + Ÿ +4! e, para cada 4 Á 4! , ,4 Ÿ +4! , sem o
que ,4 pertencia a E4  E4! . Concluímos daqui que Ó+ß +4! Ó contém a união
dos E4 , com 4 Á 4! , donde, tendo em conta a hipótese de indução,
-1 ÐEÑ œ 1Ð,  Ñ  1Ð+ Ñ   1Ð,4! Ñ  1Ð+4! Ñ  1Ð+4! Ñ  1Ð+ Ñ œ
œ -1 ÐE4! Ñ  -1 ÐÓ+ß +4! ÓÑ   -1 ÐE4! Ñ  " -1 ÐE4 Ñ œ " -1 ÐE4 Ñ.
4Á4! 4−M

3) Vamos provar agora a seguinte propriedade de “subaditividade finita”: Se


E œ Ó+ß ,Ó está contido na união de uma família finita de conjuntos
E4 œ Ó+4 ß ,4 Ó, onde 4 − M , não necessariamente disjuntos dois a dois, então

gência suplementar sobre a função 1 o que não diminui a classe das medidas de
Lebesgue-Stieltjes (cf. o exercício I.3.4 adiante). Preferimos não fazer essa exigência para
não introduzir uma assimetria artificial esquerda-direita.
§3. Medidas em semianéis 27

-1 ÐEÑ Ÿ " -1 ÐE4 Ñ.


4−M

Subdem: Sem alterar a união nem o segundo membro da igualdade a


estabelecer, podemos já retirar de M os índices 4 para os quais E4 œ g.
Podemos também afastar o caso trivial em que E œ g, caso em que o
primeiro membro da desigualdade é !. Façamos a demonstração por indução
no número de elementos do conjunto de índices M . Se M tem apenas um
elemento 4, tem-se E § E4 , o que implica que , Ÿ ,4 e +4 Ÿ +, donde
-1 ÐEÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ Ÿ 1Ð,4 Ñ  1Ð+4 Ñ œ -1 ÐE4 Ñ.

Suponhamos que a desigualdade se verifica quando M tem 8 elementos e


provemo-la quando M tem 8  " elementos. Uma vez que , − E, existe 4! tal
que , − E4! œ Ó+4! ß ,4! Ó, em particular , Ÿ ,4! . Se fosse +4! Ÿ +, tinha-se
trivialmente
-1 ÐEÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ Ÿ 1Ð,4! Ñ  1Ð+4! Ñ œ -1 ÐE4! Ñ Ÿ " -1 ÐE4 Ñ.
4−M

Caso contrário, ou +4!   , e o intervalo Ó+ß ,Ó está também contido na união


dos E4 , com 4 Á 4! , donde, pela hipótese de indução,

-1 ÐEÑ Ÿ " -1 ÐE4 Ñ Ÿ " -1 ÐE4 Ñ,


4Á4! 4−M

ou +4!  , e podemos aplicar a hipótese de indução ao intervalo Ó+ß +4! Ó, que


está contido na união dos E4 , com 4 Á 4! , tendo-se ainda
-1 ÐEÑ œ 1Ð,  Ñ  1Ð+ Ñ Ÿ 1Ð,4! Ñ  1Ð+4! Ñ  1Ð+4! Ñ  1Ð+ Ñ œ
œ -1 ÐE4! Ñ  -1 ÐÓ+ß +4! ÓÑ Ÿ -1 ÐE4! Ñ  " -1 ÐE4 Ñ œ

œ " -1 ÐE4 Ñ.
4Á4!

4−M

4) Provemos, enfim, que, se E œ Ó+ß ,Ó é a união de uma família contável de


conjuntos E4 œ Ó+4 ß ,4 Ó, onde 4 − M disjuntos dois a dois, então tem-se

-1 ÐEÑ œ " -1 ÐE4 Ñ,


4−M

o que terminará a demonstração.


Subdem: Podemos já afastar o caso trivial em que E, e portanto cada

4 − M pelo que, tendo em conta o que vimos em 2), ! -1 ÐE4 Ñ Ÿ -1 ÐEÑ.


um dos E4 , é vazio. Para cada M § M finito, E contém a união dos E4 , com

4−M
Tendo em conta a definição da soma, para 4 − M , como supremo de todas as
28 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

somas finitas, concluímos assim que


" -1 ÐE4 Ñ Ÿ -1 ÐEÑ.
4−M

Para provar a igualdade vamos supor, por absurdo, que se tinha


" -1 ÐE4 Ñ  -1 ÐEÑ.
4−M

Sendo
$ œ -1 ÐEÑ  " -1 ÐE4 Ñ  !,
4−M

$4  ! tais que ! $4 Ÿ $# e fixar +w − N , onde a função 1 seja contínua, com


podemos aplicar o lema I.3.10 para considerar uma família Ð$4 Ñ4−M de reais

4−M
+  +w  , e 1Ð+w Ñ  1Ð+ Ñ  #$ , assim como, para cada 4 − M , ,4w − N onde a
função 1 seja contínua, com ,4  ,4w e 1Ð,4w Ñ  1Ð,4 Ñ  $4 . Como o compacto
Ò+w ß ,Ó de ‘, está contido em Ó+ß ,Ó œ - Ó+4 ß ,4 Ó, e portanto também na união
4−M
Ó+4 ß ,4w Ò,
garante a existência de uma parte finita M de M tal que Ò+w ß ,Ó § - Ó+4 ß ,4w Ò e
dos abertos 4 − M , a propriedade das coberturas dos compactos14

4−M
portanto, por maioria de razão, Ew œ Ó+w ß ,Ó está contido na união, com 4 − M ,
dos E4w œ Ó+4 ß ,4w Ó. Podemos assim aplicar o que vimos em 3) para deduzir que
$ $
-1 ÐEÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ  1Ð, Ñ  1Ð+w Ñ 
œ .1 ÐEw Ñ  Ÿ
# #
Ÿ ˆ" -1 ÐE4w щ  œ ˆ" 1Ð,4w Ñ  1Ð+4 щ  Ÿ
$ $
4−M
# 4−M
#

Ÿ ˆ" 1Ð,4 Ñ  1Ð+4 щ  ˆ" $4 ‰ 


$
Ÿ
#
Ÿ ˆ" -1 ÐE4 щ  $ œ -1 ÐEÑ,
4−M 4−M

4−M

o que é o absurdo procurado. 

A principal razão pela qual nos limitámos no resultado precedente a


considerar apenas intervalos abertos para domínio N da função crescente
1, a partir da qual a medida de Lebesgue-Stieltjes foi construída, está em
que não é especialmente interessante estar a construir explicitamente
medidas em semianéis que resultem trivialmente, por restrição, a partir de

14Também conhecida por teorema de Borel-Lebesgue, no contexto da Análise Real.


§3. Medidas em semianéis 29

medidas que se conhecem em semianéis que contenham aqueles. Ora, se


partíssemos, por exemplo, de uma função crescente 1À Ò+ß ,Ò Ä ‘,
podíamos considerar o prolongamento, com as mesmas propriedades,
1À Ó_ß ,Ò Ä ‘, que toma o valor constante 1Ð+Ñ em Ó_ß +Ò e que já
está definido num intervalo aberto e obter, a partir desse prolongamento
uma medida de Lebesgue-Stieltjes no semianel dos intervalos semiabertos
com extremidades em Ó_ß ,Ò, que contém o semianel dos intervalos
semiabertos com extremidades em Ò+ß ,Ò. A mesma razão nos levou a
enunciar as generalidades sobre funções crescentes em I.3.9 apenas no
caso em que o domínio é um intervalo aberto.
Pelo contrário, a importância de não nos limitarmos a funções definidas
na totalidade de ‘ resulta de que, por exemplo, a função crescente e
contínua B È tanÐBÑ, com domínio Ó 1# ß 1# Ò não pode ser prolongada a ‘
como função crescente.
O resultado a seguir, que identifica a 5 -álgebra gerada pelo semianel dos
intervalos semiabertos, vai ser-nos útil mais adiante.

I.3.12 Seja N um intervalo aberto não vazio de ‘ (por exemplo N œ ‘) e


consideremos o semianel f dos N -intervalos semiabertos. Tem-se então que
a 5 -álgebra de partes de N gerada por f é a 5 -álgebra UN dos borelianos de
N.
Dem: Notemos ` a 5 -álgebra de partes de N gerada por f .
Comecemos por notar que cada conjunto Ó+ß ,Ó pertencente a f é a intersec-
ção do aberto Ó+ß _Ò de ‘ com o fechado Ó_ß ,Ó de ‘, pelo que é um
boreliano de ‘ e, por estar contido no boreliano N de ‘, é também um
boreliano de N (cf. I.2.9). Tem-se assim f § UN pelo que, por ` ser a mais
pequena 5 -álgebra de partes de N que contém f , vem ` § UN .
Verifiquemos agora que, para cada Y aberto em N (e portanto também em
‘), existe uma família contável de N -intervalos semiabertos cuja união é Y ,
e portanto que Y − `. Para isso, consideramos a família contável de todos
os intervalos semiabertos Ó+ß ,Ó, com + e , racionais, que estão contidos em
Y . É claro que a sua união está contida em Y . Por outro lado, dado C − Y
arbitrário, podemos considerar &  ! tal que ÓC  &ß C  &Ò § Y e escolher
então racionais + e , tais que C  &  +  C  ,  C  &, o que implica que
C − Ó+ß ,Ó § Y , ou seja, que C pertence a um dos intervalos da família. Uma
vez que UN é a mais pequena 5 -álgebra de partes de N que contém cada
aberto Y de N e que, como verificámos, ` é uma 5 -álgebra nessas condi-
ções, concluímos que UN § `.
Tem-se assim ` œ UN , como queríamos. 
30 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

Exercícios

Ex I.3.1 Reparar que, se f é um semianel de partes de \ e \ § ] , então f é


também um semianel de partes de ] . Será que se pode fazer uma afirmação
análoga com a palavra “5 -álgebra” no lugar da de “semianel”?
Ex I.3.2 Seja f o semianel de partes de ‘ constituído pelos ™-intervalos
semiabertos (cf. a definição em I.3.1). Determinar explicitamente quais os
conjuntos que pertencem à 5 -álgebra de partes de ‘ gerada por f .
Sugestão: Essa 5 -álgebra vai estar em correspondência biunívoca natural
com a 5 -álgebra de todos os subconjuntos de ™.
Ex I.3.3 Verificar que as seguintes classes de subconjuntos de ‘ têm, como
5 -álgebra gerada a 5 -álgebra dos borelianos de ‘.
a) A classe dos intervalos Ó_ß +Ó, com + − ‘.
b) A classe dos intervalos Ó_ß +Ò, com + − ‘.
Ex I.3.4 Sejam Ó-Þ.Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio e 1À Ó-ß .Ò Ä ‘ uma
função crescente. Mostrar que se pode definir uma nova função crescente
s1À Ó-ß .Ò Ä ‘ por s1ÐBÑ œ 1ÐB Ñ e que esta função tem em cada B − Ó-ß .Ò os
mesmos limites laterais que 1 nesse ponto, em particular é contínua à direita
em cada ponto. Verificar ainda que as medidas de Lebesgue-Stieltjes -1 e -s1
coincidem. Sugestão: Utilizando I.3.9, reparar que cada B − Ó-ß .Ò é limite de
duas sucessões de pontos de Ó-ß .Ò onde 1 é contínua, uma constituída por
pontos menores que B e outra por pontos maiores que B.
Ex I.3.5 Seja f o semianel dos intervalos semiabertos de ‘, seja B! − ‘ fixado e
seja .À f Ä ‘ a restrição a f da medida de Dirac .B! correspondente ao
ponto B! (cf. I.2.15). Encontrar uma função crescente e contínua à direita
1À ‘ Ä ‘ tal que . seja a medida de Lebesgue-Stieltjes -1 .
Ex I.3.6 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com extremidades
finitas ou infinitas, e f o semianel dos N -intervalos semiabertos.
a) Seja 1À N Ä ‘ uma função e suponha que fica definida uma medida -1 no
semianel f por -1 ÐÓ+ß ,ÓÑ œ 1Ð,Ñ  1Ð+Ñ, sempre que + Ÿ , em N . Mostrar
que a função 1 é crescente e contínua à direita (comparar com I.3.11).
Sugestão: Dado + − N , escolher &  ! tal que +  & − N e considerar os
intervalos semiabertos
& &
Ó+  ß +  Ó,
8" 8
onde 8 − , reparando que eles são disjuntos dois a dois e determinando a
respetiva união.
b) Seja .À f Ä ‘ uma medida no semianel f (tomando, por hipótese,
§3. Medidas em semianéis 31

valores finitos nos conjuntos E − f ). Verificar que existe um função cres-


cente e contínua à direita 1À N Ä ‘ tal que . œ -1 , em particular . é neces-
sariamente uma das medidas de Lebesgue-Stieltjes.
Sugestão: Fixar B! − N e definir uma função 1À N Ä ‘ por

1ÐBÑ œ œ
.ÐÓB! ß BÓÑ, se B   B!
.
.ÐÓBß B! ÓÑ, se B  B!

Ex I.3.7 Em I.3.11, provou-se que a medida de Lebesgue-Stieltjes, no semianel


dos intervalos semiabertos de um intervalo aberto N , é efetivamente uma
medida. Mostrar que, neste caso, é válida uma propriedade mais forte, a
saber, que se ÐE4 Ñ4−M uma família, não necessariamente contável, de
intervalos semiabertos, disjuntos dois a dois, então
.Ð. E4 Ñ œ " .ÐE4 Ñ.
4−M 4−M

Sugestão: Mostrar que este aumento de generalidade é só aparente, no


sentido que, retirando a M os índices 4 tais que E4 œ g, o que não altera
nenhum dos dois membros da igualdade, o conjunto de índices M que resta é
necessariamente contável, por existir uma aplicação injetiva de M para .

§4. Prolongamento de medidas em semianéis.

I.4.1 Seja \ um conjunto. Chama-se medida exterior em \ a uma aplicação


.‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ que verifique as seguintes condições:
1) .‡ ÐgÑ œ !;
2) Se E § F , então .‡ ÐEÑ Ÿ .‡ ÐFÑ;
3) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família contável de subconjuntos de \ , então

.‡ ˆ. E4 ‰ Ÿ " .‡ ÐE4 Ñ.
4−N 4−N

É claro que uma medida que esteja definida na 5 -álgebra cÐ\Ñ de todos
os subconjuntos de \ é, em particular, uma medida exterior em \ (cf. as
propriedades 3) e 4) de I.2.12). No entanto, em geral, uma medida exterior
não será uma medida e, tal como acontecia com as medidas em semianéis,
as medidas exteriores apenas terão para nós um interesse provisório, como
auxiliares para a construção de medidas em 5 -álgebras.
O nosso próximo passo é mostrar como, partindo de uma medida num
semianel de partes de \ , conseguimos construir uma medida exterior
associada em \ .
32 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

I.4.2 Sejam \ um conjunto, f um semianel de partes de \ e .À f Ä ‘ uma


medida. Para cada conjunto E § \ , chamamos f-cobertura contável de E a

E § - E4 . Definindo então, para cada E § \ , .‡ ÐEÑ − ‘ como sendo o


uma família contável ÐE4 Ñ4−N de conjuntos pertencentes a f tal que

ínfimo das somas ! .ÐE4 Ñ, para as diferentes f -coberturas contáveis


4−N

4−N
ÐE4 Ñ4−N de E, se estas existirem, e como sendo _ se E não admite
nenhuma f -cobertura contável15, obtemos uma medida exterior
.‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ , que prolonga ., no sentido de se ter .‡ ÐEÑ œ .ÐEÑ, para
cada E − f .
Dizemos que .‡ é a medida exterior em \ associada à medida . no
semianel f .

cada f -cobertura contável ÐE4 Ñ4−N de E, tem-se .ÐEÑ Ÿ ! .ÐE4 Ñ e daqui


Dem: Suponhamos que E − f . Tendo em conta a alínea 5) de I.3.8, para

4−N
resulta, pela definição de ínfimo, que .ÐEÑ Ÿ .‡ ÐEÑ. Mas uma das
f-coberturas contáveis de E é a constituída pelo único conjunto E e daqui
resulta que .‡ ÐEÑ Ÿ .ÐEÑ, e portanto .‡ ÐEÑ œ .ÐEÑ. Em particular, por ser
g − f , tem-se .‡ ÐgÑ œ .ÐgÑ œ !. Sejam agora agora E e F subconjuntos de
\ com E § F . Uma vez que toda a f -cobertura contável de F é também
uma f -cobertura contável de E, concluímos que .‡ ÐEÑ Ÿ .‡ ÐFÑ.
Consideremos, enfim, ÐE4 Ñ4−N família contável de partes de \ , e mostremos
que
.‡ ˆ. E4 ‰ Ÿ " .‡ ÐE4 Ñ,
4−N 4−N

para o que podemos já supor que o segundo membro não é _, em

I.3.10, podemos considerar, para cada 4 − N , $4  ! de modo que ! $4 Ÿ $ .


particular, para cada 4 − N , .‡ ÐE4 Ñ  _. Seja $  ! arbitrário. Pelo lema

4−N
Para cada 4 − N , consideremos uma f -cobertura contável ÐF4ß#4 Ñ#4 −>4 de E4
tal que
" .ÐF4ß#4 Ñ Ÿ .‡ ÐE4 Ñ  $4 .
#4 −>4

uma f -cobertura contável de - E4 , de onde deduzimos, tendo em conta a


Tem-se então que a família de todos os F4ß#4 , com 4 − N e #4 − >4 , constitui

4−N
propriedade associativa dos somatórios, que

15Quem não tenha dificuldade em pensar no ínfimo do conjunto vazio, no contexto de


‘ , como sendo _, considerará esta última explicitação dispensável.
§4. Prolongamento de medidas em semianéis 33

.‡ ˆ. E4 ‰ Ÿ "Š" .ÐF4ß#4 Ñ‹ Ÿ "ˆ.‡ ÐE4 Ñ  $4 ‰ œ

œ ˆ" .‡ ÐE4 щ  ˆ" $4 ‰ Ÿ ˆ" .‡ ÐE4 щ  $ ,


4−N 4−N #4 −>4 4−N
(1)

4−N 4−N 4−N

em particular o primeiro membro também é menor que _. Tendo em conta


a arbitrariedade de $  !, deduzimos daqui que se tem, como queríamos,

.‡ ˆ. E4 ‰ Ÿ " .‡ ÐE4 Ñ,
4−N 4−N

visto que, se isso não acontecesse, podíamos escolher $  ! com

$  .‡ ˆ. E4 ‰  " .‡ ÐE4 Ñ,
4−N 4−N

o que, substituído em (1), conduzia ao absurdo .‡ ˆ- E4 ‰  .‡ ˆ- E4 ‰. 


4−N 4−N

I.4.3 Apesar de isso não ter sido necessário para a definição da medida exterior
associada no resultado precedente, são especialmente cómodos, e nalguns
casos essenciais, os semianéis f de partes dum conjunto \ para os quais o
próprio \ , e portanto qualquer parte de \ , admite uma f -cobertura contável.

uma família contável Ð\4 Ñ4−N de conjunto de f tal que \ œ -\4 .


Vamos assim dizer que um semianel f de partes de \ é 5 -total se existir

Uma das vantagens dos semianéis 5 -totais é que, na caracterização da


medida exterior de um conjunto, feita em I.4.2, não é preciso tratar separada-
mente o caso em que não existe f -cobertura contável.
Por exemplo, se N œ Ó-ß .Ò § ‘ é um intervalo aberto não vazio, com cada
extremidade finita ou infinita, o semianel de partes de N constituído pelos
intervalos semiabertos Ó+ß ,Ó, com +ß , − N (cf. I.3.2) é um semianel 5 -total,
já que a classe daqueles intervalos para os quais + e , são racionais constitui
uma classe contável cuja união é N (para cada B − N , podemos considerar
racionais + e , com -  +  B e B  ,  . e então B − Ó+ß ,Ó, um dos
intervalos da classe).
I.4.4 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio e 1À N Ä ‘ uma
função crescente (no sentido lato) e consideremos a correspondente medida
de Lebesgue-Stieltjes -1 no semianel dos N -intervalos semiaberto (cf.
I.3.11). À medida exterior -1‡ À c (N ) Ä ‘ associada à medida -1 dá-se o
nome de medida exterior de Lebesgue-Stieltjes associada a 1. No caso
particular em que N œ ‘ e 1ÐBÑ œ B, obtemos a medida exterior
-‡ À c Ð‘Ñ Ä ‘ associada à medida de Lebesgue, a que se dá naturalmente o
nome de medida exterior de Lebesgue.

O resultado a seguir mostra-nos como, a partir de uma medida exterior


definida no conjunto \ , não necessariamente a associada a uma medida
34 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

num semianel, se pode obter, por restrição, uma autêntica medida,


definida numa 5 -álgebra.

I.4.5 Sejam \ um conjunto e .‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ uma medida exterior em \ .


Dizemos que um conjunto E § \ é .‡ -mensurável se, qualquer que seja
F § \,
.‡ ÐFÑ œ .‡ ÐF  EÑ  .‡ ÐF Ï EÑ. 16
Tem-se então:
a) Sendo ` s a classe dos conjuntos .‡ -mensuráveis, `s é uma 5 -álgebra de
‡ s
partes de \ e a restrição de . a ` é uma medida.
b) Mais geralmente, quaisquer que sejam a família contável ÐE4 Ñ4−N de
conjuntos de ` s disjuntos dois a dois e F § \ ,

.‡ Ð. F  E4 Ñ œ " .‡ ÐF  E4 Ñ.
4−N 4−N

Dem: Para uma melhor sistematização, vamos dividir a demonstração em


várias partes, cada uma com a sua justificação:
1) Seja E um conjunto tal que, para cada F § \ ,
.‡ ÐF  EÑ  .‡ ÐF Ï EÑ Ÿ .‡ ÐFÑ.
Então E é .‡ -mensurável.
Subdem: Atender a que a desigualdade
.‡ ÐFÑ Ÿ .‡ ÐF  EÑ  .‡ ÐF Ï EÑ
é uma consequência de se ter F œ ÐF  EÑ  ÐF Ï EÑ e de .‡ ser uma
medida exterior.
2) Tem-se g − ` s e, se E − ` s, também \ Ï E − ` s.
Subdem: A primeira afirmação resulta de se ter F  g œ g e
F Ï g œ F , onde .‡ ÐgÑ œ !. A segunda resulta de que F  Ð\ Ï EÑ œ F Ï E
e F Ï Ð\ Ï EÑ œ F  E.
3) Se E − ` s e Ew − ` s, então E  Ew − `s.
Subdem: Para cada F § \ , podemos escrever
.‡ ÐF  ÐE  Ew ÑÑ  .‡ ÐF Ï ÐE  Ew ÑÑ œ
œ .‡ ÐF  E  Ew Ñ  .‡ ÐÐF Ï ÐE  Ew ÑÑ  EÑ  .‡ ÐÐF Ï ÐE  Ew ÑÑ Ï EÑ œ
œ .‡ ÐÐF  EÑ  Ew Ñ  .‡ ÐÐF  EÑ Ï Ew Ñ  .‡ ÐF Ï EÑ œ
œ .‡ ÐF  EÑ  .‡ ÐF Ï EÑ œ .‡ ÐFÑ.

4) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família finita não vazia de conjuntos .‡ -mensuráveis,

16Os conjuntos .‡ -mensuráveis são assim aqueles que dividem qualquer subconjunto F
de \ em dois subconjuntos onde .‡ é aditiva.
§4. Prolongamento de medidas em semianéis 35

então + E4 é também .‡ -mensurável.17


4−N
Subdem: Temos uma consequência direta de 3), por indução no

5) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família finita de conjuntos .‡ -mensuráveis, então - E4


número de elementos do conjunto finito N de índices.

4−N
é também .‡ -mensurável.
Subdem: Trata-se de uma consequência de 2) e 4), uma vez que g é
.‡ -mensurável e que se pode escrever
. E4 œ \ Ï ˆ, Ð\ Ï E4 щ.
4−N 4−N

6) Seja ÐE4 Ñ4−N uma família finita de conjuntos .‡ -mensuráveis disjuntos


dois a dois. Tem-se então, para cada F § \ ,
.‡ ˆ. F  E4 ‰ œ " .‡ ÐF  E4 Ñ.
4−N 4−N

Subdem: Fazemos a demonstração por indução no número de


elementos do conjunto finito N de índices. Se N œ g a igualdade reduz-se a
.‡ ÐgÑ œ ! e a igualdade é também trivial quando N tem um único elemento.
Supondo a afirmação válida quando o conjunto de índices tem 8 elementos,
vemos que, se N tem 8  " elementos e 4! − N é um elemento escolhido, sai

.‡ ˆ. F  E4 ‰ œ .‡ ˆˆ. F  E4 ‰  E4! ‰  .‡ ˆˆ. F  E4 ‰ Ï E4! ‰ œ

‡ˆ . F  E4 ‰ œ
4−N 4−N 4−N

œ . ÐF  E4! Ñ  .

œ .‡ ÐF  E4! Ñ  " .‡ ÐF  E4 Ñ œ " .‡ ÐF  E4 Ñ.


4−N ÏÖ4! ×

4−N ÏÖ4! × 4−N

.‡ -mensuráveis, disjuntos dois a dois. Tem-se então que - E4 é


7) Seja, mais geralmente, ÐE4 Ñ4−N uma família contável de conjuntos

4−N
.‡ -mensurável e, para cada F § \ ,
.‡ ˆ. F  E4 ‰ œ " .‡ ÐF  E4 Ñ.
4−N 4−N

Em particular, tomando F œ \ , temos a aditividade contável


.‡ ˆ. E4 ‰ œ " .‡ ÐE4 Ñ.
4−N 4−N

17Quem não tiver dificuldade em pensar na intersecção de uma família vazia de subcon-
juntos de \ como sendo o próprio \ , reconhecerá que não é necessária a restrição “não
vazia” na afirmação, uma vez que \ œ \ Ï g é mensurável, pelo que vimos em 2).
36 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

Subdem: Para cada M § N finito, tem-se - F  E4 § - F  E4 ,


4−M 4−N
donde, tendo em conta 6),
" .‡ ÐF  E4 Ñ œ .‡ ˆ.F  E4 ‰ Ÿ .‡ ˆ. F  E4 ‰.
4−M 4−M 4−N

Uma vez que ! .‡ ÐF  E4 Ñ é o supremo de todas as somas parciais finitas,

deduzimos do anterior que ! .‡ ÐF  E4 Ñ Ÿ .‡ ˆ- F  E4 ‰, portanto


4−N

4−N 4−N

" .‡ ÐF  E4 Ñ œ .‡ ˆ. F  E4 ‰,
4−N 4−N

já que a desigualdade oposta, .‡ ˆ- F  E4 ‰ Ÿ ! .‡ ÐF  E4 Ñ é uma conse-

quência de .‡ ser uma medida exterior. Para mostrarmos que - E4 é


4−N 4−N

4−N
.‡ -mensurável, basta, tendo em conta 1), mostrar que, para cada conjunto
F § \,
.‡ ÐF  ˆ. E4 ‰Ñ  .‡ ÐF Ï ˆ. E4 ‰Ñ Ÿ .‡ ÐFÑ,
4−N 4−N

M § N finito, o facto de, por 5), - E4 ser mensurável permite-nos escrever,


para o que basta examinar o caso em que .‡ ÐFÑ  _. Ora, para cada

tendo em conta 6) e a inclusão F Ï ˆ- E4 ‰ § F Ï ˆ- E4 ‰,


4−M

4−N 4−M

" .‡ ÐF  E4 Ñ  .‡ ÐF Ï ˆ. E4 ‰Ñ Ÿ

Ÿ . ÐF  ˆ.E4 ‰Ñ  . ÐF Ï ˆ.E4 ‰Ñ œ .‡ ÐFÑ,


4−M 4−N
‡ ‡

4−M 4−M

donde
" .‡ ÐF  E4 Ñ Ÿ .‡ ÐFÑ  .‡ ÐF Ï ˆ. E4 ‰Ñ,
4−M 4−N

o que, tendo em conta a definição das somas como supremo das somas par-
ciais finitas, implica que
" .‡ ÐF  E4 Ñ Ÿ .‡ ÐFÑ  .‡ ÐF Ï ˆ. E4 ‰Ñ,
4−N 4−N

F  ˆ- E4 ‰ é a união dos F  E4 , 4 − N ,
donde, lembrando que .‡ é uma medida exterior e reparando que

4−N
§4. Prolongamento de medidas em semianéis 37

.‡ ÐF  ˆ. E4 ‰Ñ  .‡ ÐF Ï ˆ. E4 ‰Ñ Ÿ

Ÿ " . ÐF  E4 Ñ  . ÐF Ï ˆ. E4 ‰Ñ Ÿ .‡ ÐFÑ,
4−N 4−N
‡ ‡

4−N 4−N

como queríamos.
8) A classe `s é uma 5 -álgebra de partes de \ e a restrição de .‡ a ` sé
uma medida.
Subdem: Já verificámos, em 2), que g − ` s e que \ Ï E − ` s, para
s s
cada E − `, em 3), que a intersecção de dois conjuntos em ` ainda está
em ` s, em 5), que a união de uma família finita de conjuntos em ` s ainda
pertence a `s e, em 7), que a união de uma família contável de conjuntos em
`s disjuntos dois a dois ainda pertence a ` s. Para verificarmos que ` s é

s, não necessariamente disjuntos dois a dois, a união - E4


uma 5 -álgebra, resta-nos mostrar que, se ÐE4 Ñ4−N é uma família contável de
conjuntos em `
4−N

- E4 œ - E4w , com os E4w disjuntos dois a dois e, pelo que referimos atrás,
ainda pertence a `s. Ora, isso resulta do lema I.2.11, que garante que se tem

4−N 4−N
E4w
−` s. O facto de a restrição a `s da medida exterior .‡ ser uma medida

resulta de que . ÐgÑ œ ! e da aditividade contável, provada em 7). 

O resultado precedente, apesar de profundo, corria o risco de ser de pouca


utilidade, uma vez que, apesar de garantir a obtenção de uma medida
numa 5 -álgebra de partes de \ , nada nos diz sobre a quantidade de
conjuntos que pertence a essa 5 -álgebra; na situação limite até podia
acontecer que apenas g e \ fossem .‡ -mensuráveis, o que era claramente
pouco interessante (cf. o exercício I.4.2 no fim do capítulo). O resultado
que apresentamos em seguida mostra que, no caso em que a medida
exterior é a associada a uma medida num semianel, pelo menos os
conjuntos do semianel são .‡ -mensuráveis.

I.4.6 Sejam \ um conjunto, f um semianel de partes de \ e .À f Ä ‘ uma


medida. Sendo .‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ a medida exterior associada (cf. I.4.2),
tem-se então que qualquer conjunto E − f é .‡ -mensurável, ou seja,
f§` s, onde `s é a 5 -álgebra dos conjuntos .‡ -mensuráveis.
Dem: Suponhamos que E − f .
Comecemos por supor que F − f . Sabemos então que F  E − f e que

que F Ï E œ - G3 e, uma vez que F é a união dos conjuntos de f , F  E e


existe uma família finita ÐG3 Ñ3−M de conjuntos de f disjuntos dois a dois tal

3−M
G3 , 3 − M , que são disjuntos dois a dois, obtemos
38 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

.‡ ÐFÑ œ .ÐFÑ œ .ÐF  EÑ  " .ÐG3 Ñ œ .‡ ÐF  EÑ  " .‡ ÐG3 Ñ


3−M 3−M

donde, por .‡ ser uma medida exterior e portanto .‡ ÐF Ï EÑ Ÿ ! .‡ ÐG3 Ñ,


3−M
‡ ‡ ‡
(1) . ÐF  EÑ  . ÐF Ï EÑ Ÿ . ÐFÑ.
Vamos agora mostrar que a desigualdade (1) continua a ser válida para um
conjunto F § \ arbitrário, para o que se pode já supor que .‡ ÐFÑ  _.
Seja então ÐF4 Ñ4−N uma f -cobertura contável arbitrária de F . Pelo que vimos
no início, tem-se, para cada 4,
.‡ ÐF4  EÑ  .‡ ÐF4 Ï EÑ Ÿ .‡ ÐF4 Ñ œ .ÐF4 Ñ

donde, por ser F  E § - ÐF4  EÑ e F Ï E § - ÐF4 Ï EÑ e por .‡ ser uma


4−N 4−N
medida exterior,
.‡ ÐF  EÑ  .‡ ÐF Ï EÑ Ÿ ˆ" .‡ ÐF4  Eщ  ˆ" .‡ ÐF4 Ï Eщ œ

œ " ˆ.‡ ÐF4  EÑ  .‡ ÐF4 Ï Eщ Ÿ " .ÐF4 Ñ,


4−N 4−N

4−N 4−N

o que, pela definição da medida exterior .‡ ÐFÑ como um ínfimo, implica que
se tem efetivamente
.‡ ÐF  EÑ  .‡ ÐF Ï EÑ Ÿ .‡ ÐFÑ.
Uma vez que, por se ter F œ ÐF  EÑ  ÐF Ï EÑ e por .‡ ser uma medida
exterior, tem-se também .‡ ÐFÑ Ÿ .‡ ÐF  EÑ  .‡ ÐF Ï EÑ, concluímos que
.‡ ÐFÑ œ .‡ ÐF  EÑ  .‡ ÐF Ï EÑ, ou seja, que E é efetivamente .‡ -mensu-
rável. 
I.4.7 (Teorema de extensão de Hahn) Sejam \ um conjunto, f um semianel de
partes de \ e .À f Ä ‘ uma medida. Sendo ` a 5 -álgebra gerada por f ,

ser o ínfimo das somas ! .ÐE4 Ñ, com ÐE4 Ñ4−N


fica definida uma medida .
sÀ ` Ä ‘ , cuja restrição a f é ., pela condição
de, para cada E − `, .s ÐEÑ
4−N
f-cobertura contável de E, se tais coberturas existirem, e, caso contrário,
.
sÐEÑ œ _.
Dizemos que a medida . s é o prolongamento de Hahn da medida ..
Dem: Tendo em conta I.4.2, pode-se definir uma medida exterior .‡ em \ ,
definindo, para cada E § \ , .‡ ÐEÑ pela caracterização de .sÐEÑ referida no
enunciado e tem-se, para cada E − f , .‡ ÐEÑ œ .ÐEÑ. Tendo em conta I.4.5
e I.4.6 a restrição de .‡ a uma certa 5 -álgebra ` s, que contém f , é uma
medida, e então por definição de 5 -álgebra gerada, tem-se f § ` § ` s, o

que implica trivialmente que a restrição .
s de . à 5 -álgebra ` é ainda uma
medida cuja restrição a f é .. 
§4. Prolongamento de medidas em semianéis 39

I.4.8 (Caracterização alternativa do prolongamento de Hahn) Sejam \ um


conjunto, f um semianel de partes de \ , .À f Ä ‘ uma medida e

sÐEÑ é também o ínfimo das somas ! .ÐE4 Ñ, com


.
sÀ ` Ä ‘ o respetivo prolongamento de Hahn à 5 -álgebra ` gerada por
f . Para cada E − `, .
4−N
ÐE4 Ñ4−N f -cobertura contável de E constituída por conjuntos disjuntos dois a
dois, se essas coberturas existirem, e, caso contrário, é _ (essas coberturas
existem sempre no caso em que o semianel f é 5 -total).
Dem: Uma vez que as f -coberturas aqui consideradas são algumas das
utilizadas para a definição de .
sÐEÑ, o resultado ficará provado se mostrarmos
que, para cada f -cobertura contável ÐF5 Ñ5−O de E, existe uma outra

dois, tal que ! .ÐE4 Ñ Ÿ ! .ÐF5 Ñ. Ora, tendo em conta I.2.11, existem
f-cobertura contável ÐE4 Ñ4−N de E, esta com os conjuntos disjuntos dois a

conjuntos disjuntos dois a dois F5w § F5 , com -F5w œ -F5 , onde cada F5w ,
4−N 5−O

apesar de poder não pertencer a f é, por I.3.6, união de uma família finita
ÐE5ß3 Ñ3−M5 de conjuntos de f disjuntos dois a dois e podemos então considerar
a família contável de conjuntos de f disjuntos dois a dois constituída pelos
E5ß3 , com 5 − O e 3 − M5 , para a qual se tem

E § . F5 œ . F5w œ . E5ß3
5 5 5ß3

e
" .ÐE5ß3 Ñ œ " .
sÐE5ß3 Ñ œ " .
sÐF5w Ñ Ÿ " .
sÐF5 Ñ œ " .ÐF5 Ñ,
5ß3 5ß3 5 5 5

como queríamos. 

A situação seria especialmente interessante se pudéssemos afirmar que o


prolongamento da medida .À f Ä ‘ à 5 -álgebra gerada `, referido no
teorema de extensão de Hahn, é o único prolongamento possível a essa
5-álgebra. Veremos a seguir que, com uma hipótese suplementar, verifi-
cada em muitos casos importantes, é esse efetivamente o caso.

I.4.9 Sejam \ um conjunto, f um semianel de partes de \ e .À f Ä ‘ uma

conjuntos de f com .Ð\4 Ñ  _, tal que - \4 œ \ . É claro que, quando


medida. Diz-se que . é 5-finita se existir uma família contável Ð\4 Ñ4−N , de

4−N
isso acontecer, o seminanel f é, em particular, 5 -total (cf. I.4.3).
Uma vez que uma 5 -álgebra é, em particular, um semianel, a noção de
medida 5 -finita faz naturalmente também sentido para medidas em 5 -álge-
bras.
I.4.10 Por exemplo, se N œ Ó-ß .Ò é um intervalo aberto não vazio de ‘, com
extremidades finitas ou infinitas, e 1À N Ä ‘ é uma função crescente (no
40 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

sentido lato), então a medida de Lebesgue-Stieltjes -1 , no semianel f dos


N -intervalos semiabertos (cf. I.3.11), é 5 -finita, uma vez que o semianel é
5-total (cf. I.4.3) e a medida é finita nos conjuntos do semianel.
Já vimos em I.3.12 que a 5 -álgebra gerada por f é a 5 -álgebra UN , dos
borelianos de N .
I.4.11 Outro exemplo simples, é aquele em que ` é uma 5-álgebra de partes de
\ e .À ` Ä ‘ é uma medida 5 -finita e consideramos a classe f dos
E − ` tais que .ÐEÑ  _. A classe f é um semianel tal que a restrição
de . a f é ainda 5 -finita e a 5 -álgebra gerada por f é `.
Dem: O facto de f ser um semianel resulta de que uma parte mensurável
dum conjunto de medida finita ainda tem medida finita, o facto de a restrição
de . a f ser 5 -finita é trivial e o facto de a 5 -álgebra gerada por f ser `

.Ð\4 Ñ  _ e \ œ -\4 , cada E − ` é a união contável dos conjuntos


resulta de que, sendo Ð\4 Ñ4−N uma família contável de conjuntos de ` com

E  \4 , que pertencem a f . 
I.4.12 (Teorema de extensão de Hahn precisado) Sejam \ um conjunto, f um
semianel de partes de \ e .À f Ä ‘ uma medida 5 -finita. Sendo ` a
5 -álgebra gerada por f , tem-se então que o prolongamento de Hahn
.
sÀ ` Ä ‘ , que é trivialmente ainda uma medida 5 -finita, é a única medida
na 5 -álgebra ` cuja restrição a f é ..
Tendo em conta este facto, é frequente utilizarmos o mesmo símbolo . para
designar a medida 5 -finita no semianel e o seu prolongamento de Hahn à
5-álgebra gerada.
Dem: Suponhamos que .w À ` Ä ‘ é uma medida cuja restrição a f seja ..
Comecemos por verificar que, para cada E − `, .w ÐEÑ Ÿ . sÐEÑ, para o que
podemos já supor que . sÐEÑ  _. Ora, se ÐE4 Ñ4−N é uma f -cobertura
contável de E arbitrária, vem
.w ÐEÑ Ÿ .w ˆ. E4 ‰ Ÿ " .w ÐE4 Ñ œ " .ÐE4 Ñ,
4−N 4−N 4−N

donde, tendo em conta a definição de .‡ ÐEÑ como um ínfimo,


.w ÐEÑ Ÿ .‡ ÐEÑ œ .
sÐEÑ.
Consideremos agora E − `, para o qual exista um conjunto F − f com
E § F e .ÐFÑ  _. Uma vez que se tem F œ E  ÐF Ï EÑ, com
E  ÐF Ï EÑ œ g, obtemos
.w ÐEÑ  .w ÐF Ï EÑ œ .w ÐFÑ œ .ÐFÑ œ .
sÐFÑ œ
œ.sÐEÑ  .sÐF Ï EÑ,
onde ambos os membros são finitos e, como já vimos,
.w ÐEÑ Ÿ .
sÐEÑ, .w ÐF Ï EÑ Ÿ .
sÐF Ï EÑ,
pelo que concluímos que se tem necessariamente .w ÐEÑ œ .
sÐEÑ.
§4. Prolongamento de medidas em semianéis 41

Seja agora E − ` arbitrário. O facto de termos partido de uma medida

de f com .Ð\4 Ñ  _, tal que \ œ - \4 . Tem-se assim E œ - E4 , com


5-finita, permite-nos considerar uma família contável Ð\4 Ñ4−N , de conjuntos

4−N 4−N

F4 § E4 § \4 , disjuntos dois a dois e com F4 − `, tais que E œ - F4 .


E4 œ E  \4 − ` e, tendo em conta o lema I.2.11, existem conjuntos

4−N
Uma vez que os F4 estão nas condições já estudadas anteriormente, e
verificam portanto .w ÐF4 Ñ œ .
sÐF4 Ñ, obtemos

.w ÐEÑ œ " .w ÐF4 Ñ œ " .


sÐF4 Ñ œ .
sÐEÑÞ
4−N 4−N

Ficou assim provado que .w œ .


s. 

Como aplicação dos resultados precedentes, obtemos as medidas de


Lebesgue-Stieltjes nos borelianos de um intervalo aberto e, em particular,
a medida de Lebesgue nos borelianos de ‘, que joga um papel especial-
mente importante no contexto da medida.

I.4.13 (Medida de Lebesgue-Stieltjes) Sejam N œ Ó-ß .Ò um intervalo aberto


não vazio de ‘, com extremidades finitas ou infinitas, e 1À N Ä ‘ uma
função crescente (no sentido lato). Existe então na 5 -álgebra UN , dos
borelianos de N , uma, e uma só medida -1 tal que, para cada N -intervalo
semiaberto Ó+ß ,Ó, com + Ÿ , em N , se tenha -1 ÐÓ+ß ,ÓÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ, isto
é, cuja restrição ao semianel f , dos N -intervalos semiabertos, seja a medida
de Lebesgue-Stieltjes definida em I.3.11.
Dizemos que -1 , que é uma medida 5 -finita, é a medida de Lebes-
gue-Stieltjes nos borelianos de N associada à função 1.18
Dem: Temos uma consequência de I.4.12, aplicado à medida de Lebes-
gue-Stieltjes no semianel f , uma vez que, como vimos em I.4.10, temos uma
medida 5 -finita e a 5 -álgebra gerada por f é a dos borelianos de N . 

Para trabalhar com a medida de Lebesgue-Stieltjes, será útil podermos


determinar facilmente a medida de outros tipos de intervalos contidos em
N œ Ó-ß .Ò, nomeadamente, daqueles cuja extremidade esquerda seja - , ou
cuja extremidade direita seja . , e daqueles que sejam fechados à esquerda,
ou sejam abertos à direita. Tendo em conta a aditividade das medidas, as
medidas dos dois últimos tipos referidos podem ser determinadas se
conhecemos as medidas dos conjuntos unitários Ö+×, com + − N . O
resultado que apresentamos em seguida dá-nos os instrumentos que nos
permitem efetuar facilmente as determinações referidas.

18Esta caracterização da medida de Lebesgue-Stieltjes encerra uma aparente assimetria


entre os papéis da “esquerda” e da “direita”. Ver o exercício I.5.6 adiante para constatar
que esta assimetria, que resultou do semianel utilizado à partida, é apenas aparente.
42 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

I.4.14 Sejam N œ Ó-ß .Ò um intervalo aberto não vazio de ‘, com extremidades


finitas ou infinitas, e 1À N Ä ‘ uma função crescente (no sentido lato) e
consideremos a correspondente medida de Lebesgue-Stieltjes -1 na 5 -álge-
bra dos borelianos de N . Tem-se então:
a) Para cada + − N ,
-1 ÐÖ+×Ñ œ 1Ð+ Ñ  1Ð+ Ñ.19

b) Para cada + − N ,
-1 ÐÓ+ß .ÒÑ œ 1Ð.  Ñ  1Ð+ Ñ,

se 1Ð.  Ñ for finito e -1 ÐÓ+ß .ÒÑ œ _, caso contrário.


c) Para cada , − N ,
-1 ÐÓ-ß ,ÓÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð-  Ñ,

se 1Ð-  Ñ for finito, e -1 ÐÓ-ß ,ÓÑ œ _, caso contrário.


d) Tem-se
-1 ÐÓ-ß .ÒÑ œ 1Ð.  Ñ  1Ð-  Ñ,

se ambos os limites laterais forem finitos, e -1 ÐÓ-ß .ÒÑ œ _, caso contrário.
Dem: a) Consideremos uma sucessão estritamente crescente de elementos
+8 − N onde 1 seja contínua (cf. I.3.9) com +8 Ä + e reparemos que se pode
considerar a sucessão decrescente de borelianos E8 œ Ó+8 ß +Ó cuja intersec-
ção é Ö+×. Tendo em conta a alínea 7) de I.2.12, vem, por ser -1 ÐE" Ñ  _,
-1 ÐÖ+×Ñ œ lim -1 ÐE8 Ñ œ lim Ð1Ð+ Ñ  1Ð+8 ÑÑ œ 1Ð+ Ñ  1Ð+ Ñ.

b) Consideremos uma sucessão crescente de elementos ,8 − N onde 1 seja


contínua, com + Ÿ ,8 e ,8 Ä . . Tem-se então que Ó+ß .Ò é a união da
sucessão crescente de borelianos Ó+ß ,8 Ó pelo que, tendo em conta a alínea 5)
de I.2.12, vem
-1 ÐÓ+ß .ÒÑ œ lim -1 ÐÓ+ß ,8 ÓÑ œ lim Ð1Ð,8 Ñ  1Ð+ ÑÑ,

que não é mais do que o valor referido no enunciado.


c) Consideremos uma sucessão decrescente de elementos +8 − N onde 1 seja
contínua, com +8 Ÿ , e +8 Ä - . Tem-se então que Ó-ß ,Ó é a união da
sucessão crescente de borelianos Ó+8 ß ,Ó pelo que, tendo em conta a alínea 5)
de I.2.12, vem
-1 ÐÓ-ß ,ÓÑ œ lim -1 ÐÓ+8 ß ,ÓÑ œ lim Ð1Ð, Ñ  1Ð+8 ÑÑ,

que não é mais do que o valor referido no enunciado.


d) Temos uma consequência de b) e de c) uma vez que, escolhido + − N ,
tem-se Ó-ß .Ò œ Ó-ß +Ó  Ó+ß .Ò, com Ó-ß +Ó  Ó+ß .Ò œ g. 

19A este valor também se dá o nome de salto de 1 no ponto +.


§4. Prolongamento de medidas em semianéis 43

I.4.15 (Medida de Lebesgue) Como caso particular das medidas de Lebes-


gue-Stieltjes, temos a medida de Lebesgue nos borelianos de ‘, que
notaremos -: Trata-se da medida de Lebesgue-Stieltjes associada à função
1ÐBÑ œ B, portanto a única medida nos borelianos de ‘ para a qual, para cada
+ Ÿ ,, -ÐÓ+ß ,ÓÑ œ ,  +, e vai corresponder à ideia intuitiva que temos de
comprimento.
I.4.16 (Outras propriedades da medida de Lebesgue) Como consequência das
propriedades da medida de Lebesgue-Stieltjes apontadas em I.4.14, podemos
dizer que, sendo -À U‘ Ä ‘ a medida de Lebesgue nos borelianos de ‘,
tem-se -ÐÖ+×Ñ œ !, para cada + − ‘ e, sempre que E é um intervalo de
extremidade esquerda + e extremidade direita ,   +, aberto ou fechado em
cada extremidade finita, -ÐEÑ œ ,  +, no caso em que + e , são finitos, e
-ÐEÑ œ _, no caso em que alguma das extremidades é infinita.

O resultado que examinamos a seguir, e que teremos ocasião de utilizar


mais adiante, ilustra outra aplicação dos teoremas de extensão de Hahn.

I.4.17 Sejam \ um conjunto e f um semianel de partes de \ e seja ` a


5 -álgebra gerada por f . Sejam .ß .w À ` Ä ‘ duas medidas, cujas
restrições a f sejam medidas 5 -finitas e tais que, para cada E − f ,
.ÐEÑ Ÿ .w ÐEÑ. Tem-se então, para cada E − `, .ÐEÑ Ÿ .w ÐEÑ.
Dem: Tendo em conta I.4.12, as medidas . e .w em ` são os
prolongamentos de Hahn das respetivas restrições ao semianel f . Dado
E − ` tem-se então, para cada f -cobertura contável ÐE4 Ñ4−N de E,

.ÐEÑ Ÿ " .ÐE4 Ñ Ÿ " .w ÐE4 Ñ,


4−N 4−N

donde deduzimos, tendo em conta a definição de .w ÐEÑ como um ínfimo, que


.ÐEÑ Ÿ .w ÐEÑ. 

Exercícios

Ex I.4.1 Seja .‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ uma medida exterior no conjunto \ . Mostrar que,


se E § \ verifica .‡ ÐEÑ œ !, então E é .‡ -mensurável.
Ex I.4.2 Seja \ um conjunto e consideremos uma aplicação .‡ À c Ð\Ñ Ä ‘
definida por .‡ ÐgÑ œ ! e .‡ ÐEÑ œ ", para cada E Á g. Verificar que .‡ é
uma medida exterior em \ e que os únicos conjuntos .‡ -mensuráveis são g e
\.
Ex I.4.3 (Não unicidade do prolongamento) Seja \ um conjunto infinito não
numerável e seja f a classe de todos os subconjuntos finitos de \ .
44 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

a) Verificar que f é um semianel de partes de \ e que se pode considerar


uma medida .À f Ä ‘ , definida por .ÐEÑ œ !, para cada E − f . Reparar
que o semianel f não é 5 -total.
b) Verificar que o anel associado a f (cf. I.3.6) é o próprio f .
c) Verificar como está definida a medida exterior .‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ associada
à medida . no semianel f e mostrar que a 5 -álgebra dos conjuntos .‡ -men-
suráveis é a 5 -álgebra cÐ\Ñ.
d) Verificar que a 5 -álgebra ` gerada por f é a 5 -álgebra referida no
exercício I.2.2 e determinar o prolongamento de Hahn . s de . a `.
e) Concluir que o prolongamento de Hahn não é a única medida na 5 -álgebra
` gerada por f cuja restrição a f é .Þ
Ex I.4.4 Sejam \ um conjunto, f um semianel de partes de \ e .À f Ä ‘ uma
medida. Sejam .‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ a medida exterior associada a ., ` a 5 -ál-
gebra gerada por f e . sÀ ` Ä ‘ o prolongamento de Hahn, que é uma
medida na 5 -álgebra `, restrição de .‡ .
a) Mostrar que, para cada F § \ , .‡ ÐFÑ é o mínimo dos . sÐEÑ, com
F § E − `. Sugestão: Para cada 8 − , considerar E8 − ` (união

E œ +E8 .
contável de conjuntos em f ) com F § E8 e . sÐE8 Ñ  .‡ ÐFÑ  8" e tomar

b) Lembrando que a 5 -álgebra ` é, em particular, um semianel, podemos


também considerar a medida exterior . s‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ associada a . s.

Mostrar que .s œ .‡ .
c) Seja ÐF4 Ñ4−N uma família contável de partes de \ tal que exista uma
família ÐE4 Ñ4−N de conjuntos de ` disjuntos dois a dois e com F4 § E4 .
Mostrar que se tem então
.‡ ˆ. F4 ‰ œ " .‡ ÐF4 Ñ.
4−N 4−N

Sugestão: Ter em conta a alínea b) de I.4.5, tomando F œ - F4 .


4−N

Ex I.4.5 Verificar que não existe nenhum boreliano E § ‘ que “divida ao meio
todos os intervalos”, no sentido de se ter, sempre que + Ÿ , ,
"
-ÐE  Ó+ß ,ÓÑ œ -ÐÓ+ß ,ÓÑ,
#
onde - é a medida de Lebesgue. Sugestão: Se existisse, considerar uma nova
medida . nos borelianos de ‘, definida por .ÐFÑ œ -ÐE  FÑ, e utilizar a
precisão do teorema de extensão de Hahn em I.4.12 para garantir que se teria
então .ÐFÑ œ "# -ÐFÑ, para todo o boreliano F , verificando o que acontece
para F œ E  Ó!ß "Ó.
Ex I.4.6 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com cada
extremidade finita ou infinita, e 1À N Ä ‘ uma função crescente e conside-
remos as correspondentes medidas de Lebesgue-Stieltjes -1 , no semianel fN
§4. Prolongamento de medidas em semianéis 45

dos N -intervalos semi-abertos e na 5 -álgebra gerada, que sabemos ser a 5 -ál-


gebra UN dos borelianos de N . Seja ainda -1‡ À c ÐN Ñ Ä ‘ a medida exterior
de Lebesgue-Stieltjes em N .
a) Verificar que, se Ó+ß ,Ó, com + Ÿ , , é um N -intervalo semiaberto, e se
$  !, então existe um aberto Y de N , com Ó+ß ,Ó § Y , tal que
-1 ÐY Ñ  -1 ÐÓ+ß ,ÓÑ  $ .

b) Deduzir de a) que, para cada conjunto E § N , -1‡ ÐEÑ é o ínfimo dos


-1 ÐY Ñ, com Y aberto de N contendo E, em particular, se E − UN , -1 ÐEÑ
coincide com o ínfimo referido. Sugestão: Para cada fN -cobertura contável
ÐE4 Ñ4−M de E, ter em conta o lema I.3.10 e aplicar a conclusão de a) a cada
E4 .
Ex I.4.7 Sejam N œ Ó-ß .Ò um intervalo aberto não vazio de ‘, com extremidades
finitas ou infinitas, 1ß 2À N Ä ‘ duas funções crescentes (no sentido lato) e
+   ! em ‘ . Reparar que são ainda crescentes as funções 1  2À N Ä ‘ e
+1À N Ä ‘ e que se tem
-12 œ -1  -2 , -+1 œ +-1

(cf. I.2.16).
Ex I.4.8 Sejam \ um conjunto, f um semianel de partes de \ e .À f Ä ‘ uma
medida. Sejam .‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ a medida exterior associada, ` s a 5 -álgebra
‡ s
dos conjuntos . -mensuráveis e ` § ` a 5 -álgebra gerada por f e lembre-
mos que a restrição de .‡ a ` s é uma medida e que a sua restrição a ` é,
por definição, o prolongamento de Hahn de ..
O objetivo deste exercício é encontrar argumentos no sentido de mostrar que,
pelo menos quando .À f Ä ‘ é 5 -finita, não se perde muito ao considerar o
prolongamento de Hahn definido apenas em ` e não na totalidade de ` s.
a) Concluir da alínea a) do exercício I.4.4 que, se E − ` s verifica
.‡ ÐEÑ  _, então existe F − ` com E § F e .‡ ÐF Ï EÑ œ !.
b) No caso em que a medida .À f Ä ‘ é 5 -finita, mostrar, mais
geralmente, que, para cada E − ` s, existe F − ` com E § F e
.‡ ÐF Ï EÑ œ !.

-
Sugestão: Construir uma família contável de conjuntos E4 − ` s, 4 − N , com

. ÐE4 Ñ  _ e E œ E4 e aplicar a cada E4 a conclusão de a).
4−N
c) Ainda no caso em que a medida .À f Ä ‘ é 5 -finita, mostrar que, para
cada E − ` s, existem Fß G − ` com G § E § F e .‡ ÐF Ï GÑ œ !.
Sugestão: Aplicar b) ao conjunto E, para construir F , e ao conjunto \ Ï E,
para construir G , a partir do seu complementar.
Ex I.4.9 (Semianel associado a uma partição) Sejam \ um conjunto e Ð\4 Ñ4−N
uma família finita de subconjuntos de \ , não vazios, disjuntos dois a dois e
de união \ (uma partição de \ por conjuntos não vazios).
46 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

a) Verificar que tem lugar um semianel f de partes de \ , constituído pelo


conjunto vazio g, pelos conjuntos \4 , 4 − N , e pelo conjunto \ (o semianel
associado à partição)20.
b) Verificar que se pode definir uma medida finita .À f Ä ‘ , pondo
.ÐgÑ œ !, .Ð\4 Ñ œ " e .Ð\Ñ igual ao número de elementos de N .
c) Verificar o que é a medida exterior .‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ associada a . e qual a
5 -álgebra dos conjuntos .‡ -mensuráveis, reparando que ela é, neste caso,
igual à 5 -álgebra gerada por f .
Ex I.4.10 (Conjuntos magros e conjuntos de medida nula)21 A resolução
deste exercício pressupõe o conhecimento do teorema de Baire, no contexto
dos números reais, que afirma que, se ÐG4 Ñ4−N é uma família contável de
subconjuntos fechados de ‘ com intÐG4 Ñ œ g, então

intˆ. G4 ‰ œ g.22
4−N

Neste contexto, chamam-se magros os subconjuntos de ‘ que estão contidos


nalguma união contável de conjuntos fechados de interior vazio.
Recordemos também que, notando - a medida de Lebesgue nos borelianos
de ‘ e -‡ À c Ð‘Ñ Ä ‘ a medida exterior de Lebesgue um conjunto F § ‘
verifica -‡ ÐFÑ œ ! se, e só se, existe um boreliano E § ‘ com F § E e
-ÐEÑ œ ! (cf. a alínea a) do exercício I.4.4).
As alíneas a) e b) a seguir mostram que, as noções de conjunto magro e de
conjunto de medida exterior ! gozam de propriedades paralelas que as levam
a “competir” pela função de traduzir a noção intuitiva de “pequenez” dum
conjunto. As alíneas c) e d) mostram que nenhuma destas noções implica a
outra.
a) Mostrar que os conjuntos unitários ÖB× são magros, que uma parte
arbitrária de um conjunto magro é magro e que uma união contável de
conjuntos magros é magro. Mostrar ainda que um conjunto magro tem
sempre interior vazio.
b) Verificar que os resultados enunciados em a) são ainda válidos se, em
cada ocorrência, substituirmos conjuntos magros por conjuntos de medida
exterior de Lebesgue igual a !.
c) Seja Ð<8 Ñ8− uma sucessão cujo conjunto dos termos seja o dos racionais
do intervalo Ò!ß "Ó. Para cada : − , seja

Y: œ . ‘<8  .
" "
8"
ß <8 
8−
Ð:  "Ñ# Ð:  "Ñ#8"

20Seconsiderarmos apenas g e os conjuntos \4 , também obtemos um semianel.


21Os exemplos neste exercício encontram-se no livro de Halmos, [6]Þ
22Embora, em geral, esta união não seja fechada; pensar por exemplo no conjunto  dos
números racionais como união contável de conjuntos unitários.
§4. Prolongamento de medidas em semianéis 47

"
Verificar que Y: é um aberto de ‘ com -ÐY: Ñ Ÿ :" e que Y: contém todos
os racionais do intervalo Ò!ß "Ó. Deduzir que G: œ Ò!ß "Ó Ï Y: é um subcon-
junto fechado de ‘ com interior vazio, em particular é um conjunto magro, e,
no entanto, -ÐG: Ñ  !.
d) Continuando com as notações de c), seja
E œ , Y: .
:−

Verificar que E é um boreliano de ‘ com .ÐEÑ œ ! e, no entanto, E não é


magro (em particular E não é contável). Sugestão: Reparar que Ò!ß "Ó, que
não é magro por ter interior não vazio, é a união de E com os conjuntos
magros G: , : − .
Ex I.4.11 (O conjunto de Cantor e a função singular de Cantor-Lebesgue)
a) (Generalidades sobre a escrita na base R  "Ñ23 Fixemos um natural
R   " e consideremos no conjunto Ö!ß "ß á ß R × de todas as sucessões
Ð:8 Ñ8 " a ordem total lexicográfica24 definida por Ð:8 Ñ8 "  Ð;8 Ñ8 " se, e só
se, existe 5 com :5  ;5 e, para cada 8  5 , :8 œ ;8 . Identifiquemos ainda
uma sucessão finita Ð:" ß á ß :5 Ñ com o elemento de Ö!ß "ß á ß R × que se
obtém por prolongamento com os restantes termos iguais a !.
Mostrar que tem lugar uma aplicação GR À Ö!ß "ß á ß R × Ä Ò!ß "Ó
sobrejetiva e crescente (no sentido lato) definida por

GR ÐÐ:8 Ñ8 " Ñ œ "


_
:8
.
8œ"
ÐR  "Ñ8

Verificar ainda a seguinte propriedade25: Se Ð:8 Ñ8 "  Ð;8 Ñ8 " , então tem-se
GR ÐÐ:8 Ñ8 " Ñ œ GR ÐÐ;8 Ñ8 " Ñ se, e só se, existe 5   " verificando as três
condições: i) Para cada 8  5 , :8 œ ;8 ; ii) :5  " œ ;5 ; iii) Para cada 8  5 ,
:R œ R e ;8 œ ! (por outras palavras, os elementos são, respetivamente, da
forma
Ð:" ß á ß :5" ß :5 ß R ß R ß …Ñ, Ð:" ß á ß :5" ß :5  "Ñ).

Sugestão: Para provar a sobrejetividade, dado B − Ò!ß "Ó construir


recursivamente os termos de uma sucessão Ð:8 Ñ8 " de modo que, para cada
5 , a sucessão finita Ð:" ß á ß :5 Ñ seja a maior sucessão de 5 termos (ordem
lexicográfica) cuja imagem por GR seja menor ou igual a B.
b) Utilizar a conclusão de a) para mostrar que a restrição da aplicação
G# À Ö!ß "ß #× Ä Ò!ß "Ó a Ö!ß #× é uma aplicação estritamente crescente, em
particular injetiva, Ö!ß #× Ä [0,1]. Esta restrição é assim um isomorfismo

23Para este exercício vão-nos interessar os casos R œ " e R œ #. O caso R œ *


corresponde à escrita habitual na base "!.
24É essencialmente o que conhecemos sob o nome de ordem alfabética.
25Que, de certo modo, controla, tanto quanto possível, a não injetividade da aplicação.
48 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

de ordem de Ö!ß #× sobre o subconjunto G œ G# ÐÖ!ß #× Ñ de Ò!ß "Ó, a que
damos o nome de conjunto de Cantor.26 Reparar que se tem, em particular,
! − G e " − G (imagens, naturalmente, do mínimo e do máximo de Ö!ß #× ).
c) Verificar que o conjunto de Cantor G não é contável, por ter a cardinali-
dade do conjunto c ÐÑ de todas as partes de .
d) Para cada 5   ! e cada sequência :" ß á ß :5 de 5 elementos de Ö!ß #×,
notemos N:5" ßáß:5 o intervalo aberto

N:5" ßáß:5 œ ‘G# Ð:" ß á ß :5 ß "Ñ ß G# Ð:" ß á ß :5 ß #Ñ

(em particular, para 5 œ !, temos um único N†! œ Ó "$ ß #$ Ò). Mostrar que as
extremidades deste intervalo são elementos do conjunto de Cantor e que
N:5" ßáß:5 não contém nenhum elemento do conjunto de Cantor.
Sugestâo: Lembrar que G# tem restrição estritamente crescente a Ö!ß #× e
reparar que
G# Ð:" ß á ß :5 ß "Ñ œ G# Ð:" ß á ß :5 ß !ß #ß #ß …Ñ.

e) Verificar que os intervalos N:5" ßáß:5 constituem uma família contável de


conjuntos disjuntos dois a dois e de união Ò!ß "Ó Ï G e que as respetivas
"
medidas de Lebesgue são -ÐN:5" ßáß:5 Ñ œ $5" e deduzir que o conjunto de
Cantor é compacto e verifica -ÐGÑ œ !.
Sugestão: 1) Mostrar que, dados intervalos abertos Ó+ß ,Ò e Ó-ß .Ò de
intersecção não vazia e com ,  . , tem que ser , − Ò-ß .Ò; 2) Se
B − Ò!ß "Ó Ï G , então B œ G# ÐÐ:8 Ñ8 " Ñ onde, para um certo 5   !, :5" œ " e
:8 Á " para todo o 8  5  " e então
B − ‘G# Ð:" ß á ß :5 ß "Ñ ß G# Ð:" ß á ß :5 ß #Ñ.

f) (cf. Rudin [10]) Sendo G § Ò!ß "Ó o conjunto de Cantor, mostrar que
G  G œ Ò!ß #Ó, onde G  G é, naturalmente, o conjunto das somas C  D ,
com Cß D − G . Mostrar ainda que, para cada B − G , "  B − G (simetria
relativamente ao ponto "# − Ò!ß "Ó) e deduzir que se tem G  G œ Ò"ß "Ó.
Sugestão: Para a primeira propriedade, dado B − Ò!ß #Ó, considerar Ð<8 Ñ8 "
em Ö!ß "ß #× tal que B# œ G# ÐÐ<8 Ñ8 " Ñ e escolher então Ð:8 Ñ8 " e Ð;8 Ñ8 "
em Ö!ß #× tais que, para cada 8, #<8 œ :8  ;8 .
g) Sendo G § Ò!ß "Ó o conjunto de Cantor, verificar que se pode definir uma
aplicação sobrejetiva e crescente, no sentido lato, 0! À G Ä Ò!ß "Ó pela
condição de, para cada B − G , com B œ G# ÐÐ:8 Ñ8 " Ñ e Ð:8 Ñ8 " − Ö!ß #× ,
vir 0! ÐBÑ œ G" ÐÐ :#8 Ñ8 " Ñ. Verificar que, para cada um dos intervalos abertos
N:5" ßáß:5 definidos em d), a função 0! toma um mesmo valor nas suas duas
extremidades e deduzir que a função 0! admite um único prolongamento

26Para sermos mais precisos, este é apenas o exemplo mais simples de uma família de
subconjuntos de ‘ a que se dá o nome de conjuntos de Cantor, mas não vamos ter
necessidade dessa generalidade.
§4. Prolongamento de medidas em semianéis 49

crescente 0 À Ò!ß "Ó Ä Ò!ß "Ó, prolongamento esse que vai ser constante em
cada intervalo N:5" ßáß:5 . Mostrar que este prolongamento 0 À Ò!ß "Ó Ä Ò!ß "Ó, a
função singular de Cantor-Lebesgue, é uma função contínua, crescente,
sobrejetiva e com derivada igual a ! em cada ponto de Ò!ß "Ó Ï G .
Sugestão: Lembrar que uma função crescente, definida num intervalo, cujo
contradomínio seja um intervalo é necessariamente contínua.
Ex I.4.12 (Aplicações topológicas do conjunto de Cantor) Para a resolução
deste exercício vamos supor conhecimentos mais profundos de Topologia,
nomeadamente o teorema de Tychonoff, sobre a compacidade de um produto
infinito de compactos.
a) Seja R   " um inteiro fixado e consideremos em Ö!ß á ß R × a topologia
discreta e em Ö!ß "ß á ß R × a topologia produto infinito de Tychonoff.
Mostrar que a aplicação GR À Ö!ß "ß á ß R × Ä Ò!ß "Ó, definida na alínea a)
do exercício I.4.11, é contínua. Sugestão: Dados Ð:8 Ñ8 " − Ö!ß "ß á ß R × e
"
$  !, fixar 5   " tal que ÐR "Ñ5  $ e mostrar que se tem

lGR ÐÐ;8 Ñ8 " Ñ  GR ÐÐ:8 Ñ8 " Ñl  $


sempre que ;8 œ :8 para todo o 8 Ÿ 5 .
b) Deduzir de a) que a restrição da aplicação contínua G# À {!ß "ß #× Ä Ò!ß "Ó
é um homeomorfismo de Ö!ß #× sobre o conjunto de Cantor G § Ò!ß "Ó.
c) Utilizar o homeomorfismo referido em b) para construir um homeomor-
fismo @ sÀ G Ä G ‚ G , do conjunto de Cantor G sobre o produto cartesiano
G ‚ G . Sugestão: Considerar a aplicação de Ö!ß #× para Ö!ß #× ‚ Ö!ß #×
que a cada sucessão Ð:8 Ñ8− associa o par de sucessões Ð:#8" Ñ8− e
Ð:#8 Ñ8− .
d) (Versão trivial do teorema de extensão de Tietze) Sejam N § ‘ um
intervalo não vazio, E § ‘ um conjunto fechado e 0! À E Ä N uma função
contínua. Mostrar que existe uma função contínua 0 À ‘ Ä N cuja restrição a
E seja 0! . Sugestão: Reparar que ‘ Ï E é uma união de intervalos abertos
disjuntos dois a dois, cujas extremidades finitas são pontos de E, e definir o
prolongamento nos correspondentes intervalos fechados de modo a este ser
constante, quando uma das extremidades for infinita, e ser linear (ou, melhor
dito, afim) caso contrário.27
e) Utilizar o homeomorfismo @ s, referido em c) e a aplicação contínua
sobrejetiva 0! À G Ä Ò!ß "Ó, referida na alínea g) do exercício I.4.11 (restrição
da função singular de Cantor-Lebesgue) para construir uma aplicação
contínua e sobrejetiva 2! À G Ä Ò!ß "Ó ‚ Ò!ß "Ó e deduzir da alínea precedente a

27Repare-se que, apenas com mudanças mínimas na demonstração, o resultado pode ser
adaptado ao caso em que se pede apenas que E seja fechado nalgum subconjunto aberto
Y de ‘, obtendo-se então um prolongamento contínuo de 0! a Y . Analogamente,
podíamos substituir o intervalo N § ‘ por um subconjunto convexo não vazio de um
espaço vetorial normado.
50 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

existência de uma aplicação contínua e sobrejetiva 2À Ò!ß "Ó Ä Ò!ß "Ó ‚ Ò!ß "Ó
(uma curva de Peano).

§5. Aplicações mensuráveis.

I.5.1 Chamamos espaço mensurável a um par Ð\ß `Ñ, onde \ é um conjunto e


` uma 5-álgebra de partes de \ . Quando um espaço mensurável se
encontra implícito, chamam-se simplesmente mensuráveis os conjuntos que
pertencem à 5 -álgebra.
Quando consideramos um espaço topológico como espaço mensurável, sem
explicitar qual a 5 -álgebra considerada, fica subentendido que se trata da
5 -álgebra U\ dos borelianos de \ (cf. I.2.7).
Dados dois espaços mensuráveis Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ, diz-se que 0 À \ Ä ] é
uma aplicação mensurável se, para cada F − a , 0 " ÐFÑ − `.28
I.5.2 (Propriedades elementares) a) Se Ð\ß `Ñ é um espaço mensurável, então
a aplicação identidade M\ À \ Ä \ é mensurável;
b) Se Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ são espaços mensuráveis e 0 À \ Ä ] é uma
aplicação de valor constante C! − ] , então 0 é mensurável;
c) Se Ð\ß `Ñ, Ð] ß a Ñ e Ð^ß c Ñ são espaços mensuráveis e 0 À \ Ä ] e
1À ] Ä ^ são aplicações mensuráveis, então 1 ‰ 0 À \ Ä ^ é uma aplicação
mensurável.
Dem: A alínea a) resulta de que, para cada E § \ , M\" ÐEÑ œ E. A alínea b)
resulta de que, se F § ] é mensurável ou não, então 0 " ÐFÑ œ \ ou
0 " ÐFÑ œ g, conforme C! pertença ou não a F . Quanto a c), se G − c , vem
1" ÐGÑ − a , donde
Ð1 ‰ 0 Ñ" ÐGÑ œ 0 " Ð1" ÐGÑÑ − `. 

I.5.3 (Subespaços mensuráveis) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e


\ w § \ um conjunto mensurável (isto é, \ w − `). Como referido em I.2.5,
podemos então considerar a 5 -álgebra restrição `Î\ w , de partes de \ w ,
constituída pelos E − ` tais que E § \ w , e dizemos então que Ð\ w ß `Î\ w Ñ
é um subespaço mensurável de Ð\ß `Ñ.29
Relembremos que, como se viu em I.2.9, no caso em que \ é um espaço

28Não é possível deixar de fazer um paralelo com as funções contínuas entre espaços
topológicos: Uma aplicação 0 À \ Ä ] é contínua se, e só se, para cada aberto Z de ] ,
0 " ÐZ Ñ é um aberto de \ .
29Mais uma vez, impõe-se naturalmente um paralelo com o que se passa num espaço
topológico \ : Se \ w § \ é um aberto (o que corresponde, para os espaços mensuráveis à
exigência de que \ w seja mensurável), então os abertos de \ w são exatamente os abertos
de \ que estão contidos em \ w .
§5. Aplicações mensuráveis 51

topológico e a 5 -álgebra de \ é a dos borelianos, então a 5 -álgebra do


subespaço mensurável é também a dos borelianos.
I.5.4 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e \ w § \ , com \ w − `. Tem-se
então que a inclusão +À Ð\ w ,`Î\ w Ñ Ä Ð\ß `Ñ, definida por +ÐBÑ œ B, é uma
aplicação mensurável. Em consequência, se Ð] ß a Ñ é um espaço mensurável
e 0 À \ Ä ] é uma aplicação mensurável, então 0Î\ w À \ w Ä ] é também uma
aplicação mensurável.
Dem: A primeira afirmação vem de que, se E − `, então +" ÐEÑ œ E  \ w
é um conjunto de ` contido em \ w , e portanto um conjunto de `Î\ w . A
segunda resulta da primeira e do facto de 0Î\ w À \ w Ä ] ser a composta de
0 À \ Ä ] com a inclusão +À \ w Ä \ . 
I.5.5 Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ espaços mensuráveis, ] w § ] , com ] w − a e
0 À \ Ä ] w uma aplicação. Tem-se então que 0 é mensurável de Ð\ß `Ñ
para Ð] ß a Ñ se, e só se, é mensurável de Ð\ß `Ñ para Ð] w ß aÎ] w Ñ.
Dem: Que a primeira condição implica a segunda resulta imediatamente do
facto de cada conjunto de aÎ] w pertencer, em particular, a a . Que a segunda
condição implica a primeira resulta de que 0 À \ Ä ] é a composta da
inclusão +À ] w Ä ] com a aplicação 0 À \ Ä ] w . 

contável de conjuntos \4 − ` tal que \ œ - \4 . Se 0 À \ Ä ] é uma


I.5.6 Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ espaços mensuráveis e Ð\4 Ñ4−N uma família

4−N
aplicação tal que, para cada 4 − N , 0Î\4 À \4 Ä ] seja uma aplicação
mensurável de Ð\4 ß `Î\4 Ñ para Ð] ß a Ñ, então 0 é mensurável de Ð\ß `Ñ
para Ð] ß a Ñ.30
Dem: Para cada F − a , tem-se
0 " ÐFÑ œ . Ð0Î\4 Ñ" ÐFÑ,
4−N

onde cada Ð0Î\4 Ñ" ÐFÑ pertence a `Î\4 , e portanto a `, o que implica que
0 " ÐFÑ − `. 
I.5.7 (Condição suficiente de mensurabilidade) Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ
espaços mensuráveis e W uma classe de partes de ] tal que a 5 -álgebra de
partes de ] gerada por W seja a . Tem-se então que uma aplicação
0 À \ Ä ] é mensurável se, e só se, para cada F − W, 0 " ÐFÑ − `.
Dem: Se 0 é mensurável, então, para cada F − a , 0 " ÐFÑ − `, e portanto

30Mais uma vez, impõe-se uma comparação com o que se passa no contexto dos espaços
topológicos: Para verificar que uma função é contínua, basta verificar que são contínuas
as suas restrições aos conjuntos de uma certa cobertura aberta. Aqui, em vez de
coberturas abertas arbitrárias, temos coberturas mensuráveis contáveis mas o que “se
perde” com a exigência de as coberturas serem contáveis “ganha-se” com o facto de, em
geral, os conjuntos mensuráveis serem muito mais “numerosos” que os abertos.
52 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

isso acontece, em particular, para cada F − W. Suponhamos, reciprocamente,


que, para cada F − W, 0 " ÐFÑ − `. Tendo em conta as identidades e
0 " ÐgÑ œ g,
0 " Ð] Ï FÑ œ \ Ï 0 " ÐFÑ,
0 " Ð. F4 Ñ œ . 0 " ÐF4 Ñ,
4−N 4−N

constatamos que a classe dos F § ] tais que 0 " ÐFÑ − ` é uma 5 -álgebra
de partes de ] que, por hipótese, contém a classe W. Uma vez que a é a
mais pequena 5 -álgebra de partes de ] que contém W, segue-se que a classe
referida contém a , o que significa precisamente que 0 é uma aplicação
mensurável. 
I.5.8 (Corolário) Sejam \ e ] espaços topológicos, sobre os quais
consideramos as 5 -álgebras dos borelianos. Se 0 À \ Ä ] é uma aplicação
contínua, então 0 é mensurável.
Dem: Lembrando que a 5 -álgebra dos borelianos é a gerada pela classe dos
abertos, temos uma consequência do resultado precedente, uma vez que, para
cada aberto Z de ] , o conjunto 0 " ÐZ Ñ é aberto em \ , e portanto um
boreliano de \ . 
I.5.9 Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ espaços mensuráveis. Diz-se que uma aplicação
0 À \ Ä ] é bimensurável se é bijetiva, mensurável e com 0 " À ] Ä \
também mensurável.
I.5.10 Tendo em conta I.5.8, se \ e ] são espaços topológicos, sobre os quais
consideramos as 5 -álgebras dos borelianos, e se 0 À \ Ä ] é um homeomor-
fismo, então 0 é uma aplicação bimensurável.
I.5.11 Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ dois espaços mensuráveis e .À ` Ä ‘ e
.w À a Ä ‘ duas medidas. Dizemos que uma aplicação mensurável
0 À \ Ä ] é compatível com as medidas se, para cada F − a ,
.Ð0 " ÐFÑÑ œ .w ÐFÑ.
No caso particular em que \ œ ] , ` œ a e . œ .w e temos portanto uma
aplicação mensurável 0 À \ Ä \ , dizemos que . é uma medida 0 -invariante
se 0 for compatível com as medidas.
I.5.12 (Propriedades elementares das medidas compatíveis) a) Se Ð\ß `Ñ é
um espaço mensurável, qualquer medida .À ` Ä ‘ é M\ -invariante.
b) Sejam Ð\ß `Ñ, Ð] ß a Ñ e Ð^ß c Ñ três espaços mensuráveis e .À ` Ä ‘ ,
.w À a Ä ‘ e .ww À c Ä ‘ três medidas. Se 0 À \ Ä ] e 1À ] Ä ^ são
compatíveis com as medidas, então 1 ‰ 0 À \ Ä ^ é também compatível com
as medidas.
c) Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ dois espaços mensuráveis e .À ` Ä ‘ e
.w À a Ä ‘ duas medidas. Se 0 À \ Ä ] é bimensurável e compatível com
§5. Aplicações mensuráveis 53

as medidas, então 0 " À ] Ä \ é também compatível com as medidas, ou


seja, para cada E − `,
.w Ð0 ÐEÑÑ œ .ÐEÑ.

Dem: A alínea a) é trivial, b) resulta de que, para cada G − c , vem


.ÐÐ1 ‰ 0 Ñ" ÐGÑÑ œ .Ð0 " Ð1" ÐGÑÑÑ œ .w Ð1" ÐGÑÑ œ .ww ÐGÑ
e c) resulta de que, para cada E − `, tem-se 0 ÐEÑ œ Ð0 " Ñ" ÐEÑ, em
particular 0 ÐEÑ − a , e 0 " Ð0 ÐEÑÑ œ E, donde
.w ÐÐ0 " Ñ" ÐEÑÑ œ .w Ð0 ÐEÑÑ œ .Ð0 " Ð0 ÐEÑÑÑ œ .ÐEÑ. 

I.5.13 (Imagem direta duma medida) Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ espaços mensu-


ráveis e 0 À \ Ä ] uma aplicação mensurável. Dada uma medida
.À ` Ä ‘ , existe então uma medida 0‡ .À a Ä ‘ , a que damos o nome
de medida imagem direta de . por meio de 0 , definida por
0‡ .ÐFÑ œ .Ð0 " ÐFÑÑ,

a qual é a única medida .w À a Ä ‘ para a qual 0 fica compatível com as


medidas.
Dem: Tem-se
0‡ .ÐgÑ œ .Ð0 " ÐgÑÑ œ .ÐgÑ œ !
e, se ÐF4 Ñ4−N é uma família contável de conjuntos em a , disjuntos dois a
dois, os conjuntos 0 " ÐF4 Ñ pertencem a ` e são disjuntos dois a dois pelo
que
0‡ .Ð. F4 Ñ œ .Ð0 " Ð. F4 ÑÑ œ .Ð. 0 " ÐF4 ÑÑ œ

œ " .Ð0 " ÐF4 ÑÑ œ " 0‡ .ÐF4 Ñ,


4−N 4−N 4−N

4−N 4−N

o que mostra que temos efetivamente uma medida 0‡ . na 5 -álgebra a . O


facto de, quando se considera esta medida em a , a aplicação mensurável 0
ficar compatível com as medidas e o facto de não haver mais nenhuma
medida em a com esta propriedade são consequências diretas da definição
de compatibilidade em I.5.11. 
I.5.14 (Invariância da medida de Lebesgue por translação e simetria) Sejam
U‘ a 5 -álgebra dos borelianos de ‘ e -À U‘ Ä ‘ a medida de Lebesgue
(cf. I.4.15). Têm então lugar aplicações bimensuráveis 5 À ‘ Ä ‘ e, para cada
B − ‘, 7B À ‘ Ä ‘ definidas por
5 ÐCÑ œ C, 7B ÐCÑ œ B  C,
(a simetria e as translações) e a medida de Lebesgue é 5 -invariante e, para
54 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

cada B − ‘, 7B -invariante.
Dem: O facto de estas aplicações serem bimensuráveis é uma consequência
de se tratar de homeomorfismos, cujos inversos são, respetivamente, 5 e 7B .
Notemos . e, para cada B − ‘, .B as medidas na 5 -álgebra U‘ imagens
diretas de - pelas aplicações mensuráveis 5 À ‘ Ä ‘ e 7B À ‘ Ä ‘. O que
temos que mostrar é que se tem . œ .B œ -. Ora, isso resulta da definição da
medida de Lebesgue em I.4.15 e das propriedades desta em I.4.16, visto que,
sempre que + Ÿ , em ‘,
.ÐÓ+ß ,ÓÑ œ -ÐÓ+ß ,ÓÑ œ -ÐÒ,ß +ÒÑ œ +  Ð,Ñ œ ,  +,
.B ÐÓ+ß ,ÓÑ œ -ÐB  Ó+ß ,ÓÑ œ -ÐÓ+  Bß ,  BÓÑ œ
œ Ð,  BÑ  Ð+  BÑ œ ,  +. 

I.5.15 (Imagem direta de uma 5 -álgebra) Sejam \ e ] dois conjuntos e


0 À \ Ä ] uma aplicação. Para cada classe V de partes de \ , notamos 0‡ V a
classe de partes de ] , constituída pelos conjuntos F § ] tais que
0 " ÐFÑ − V. Se ` é uma 5 -álgebra de partes de \ , tem-se então que 0‡ ` é
uma 5 -álgebra de partes de ] , a que se dá o nome de 5-álgebra imagem
direta de ` por meio de 0 , e, quando se consideram os espaços mensuráveis
Ð\ß `Ñ e Ð] ß 0‡ `Ñ, a aplicação 0 À \ Ä ] é mensurável.
Dem: O facto de 0‡ ` ser uma 5 -álgebra de partes de ] é uma consequência
das igualdades 0 " ÐgÑ œ g, 0 " Ð] Ï FÑ œ \ Ï 0 " ÐFÑ e

0 " Ð. F4 Ñ œ . 0 " ÐF4 Ñ.


4−N 4−N

O facto de 0 À \ Ä ] ficar uma aplicação mensurável é uma consequência


direta da definição. 

Um caso particular da situação anterior, especialmente interessante e que


será o utilizado mais frequentemente, é aquele em que 0 À \ Ä ] é uma
aplicação bijetiva. Relembremos que, nesse caso, para cada F § ] , a
imagem recíproca 0 " ÐFÑ de F , por meio de 0 , coincide com a sua ima-
gem direta por meio da aplicação inversa 0 " (e portanto a notação não
levanta problemas) e tem-se 0 Ð0 " ÐFÑÑ œ F . Relembremos também que
esta última afirmação, aplicada à bijeção inversa 0 " À ] Ä \ , mostra-nos
que, para cada E § \ , 0 " Ð0 ÐEÑÑ œ E.
Os três resultados seguintes são conclusões que se podem tirar neste caso
particular e que teremos ocasião de aplicar.

I.5.16 Sejam \ e ] dois conjuntos e 0 À \ Ä ] um aplicação bijetiva. Para


cada classe V de partes de \ , a classe 0‡ V de partes de ] também pode ser
caracterizada como sendo a classe dos conjuntos 0 ÐEÑ, com E − V, e, no
caso em que ` é uma 5 -álgebra de partes de \ , 0‡ ` e é a única 5 -álgebra
a de partes de ] para a qual a aplicação 0 À \ Ä ] é bimensurável.
Dem: Se E − V, o facto de se ter 0 " Ð0 ÐEÑÑ œ E mostra que 0 ÐEÑ − 0‡ V.
§5. Aplicações mensuráveis 55

Reciprocamente, se F − 0‡ V, tem-se F œ 0 ÐEÑ, com E œ 0 " ÐFÑ − V. Para


verificar que, quando ` é uma 5-álgebra de partes de \ e se considera em
] a 5 -álgebra 0‡ `, 0 é mesmo uma aplicação bimensurável, falta-nos
verificar que
0 " À Ð] ß 0‡ `Ñ Ä Ð\ß `Ñ
também é uma aplicação mensurável e isso resulta de que, se E − `, tem-se
Ð0 " Ñ" ÐEÑ œ 0 ÐEÑ − 0‡ `. Quanto à unicidade, se a é uma 5 -álgebra de
partes de ] tal que 0 À \ Ä ] fique bimensurável, então, para cada F − a ,
tem-se 0 " ÐFÑ − `, portanto F − 0‡ `, e, para cada F − 0‡ `, tem-se
F œ 0 ÐEÑ, para um certo E − `, donde,
F œ Ð0 " Ñ" ÐEÑ − a ,
o que mostra que a œ 0‡ `. 
w
I.5.17 (Corolário) Sejam \ um conjunto e ` e ` duas 5 -álgebras de partes
de \ tais que a aplicação identidade M\ À \ Ä \ seja bimensurável de
Ð\ß `Ñ para Ð\ß `w Ñ. Tem-se então ` œ `w .
Dem: Trata-se de uma consequência da afirmação de unicidade no resultado
precedente, uma vez que M\ também é bimensurável de Ð\ß `Ñ para
Ð\ß `Ñ. 
I.5.18 Sejam \ um conjunto, V uma classe de partes de \ e ` a 5 -álgebra de
partes de \ gerada por V (cf. I.2.6). Se ] é um conjunto e 0 À \ Ä ] é uma
aplicação bijetiva, então a 5 -álgebra de partes de ] gerada por 0‡ V é a
5 -álgebra imagem direta 0‡ `. Além disso, se f é um semianel de partes de
\ , 0‡ f é também um semianel de partes de ] .
Dem: Tendo em conta a caracterização de 0‡ V (e, em particular, de 0‡ `) no
resultado precedente, é claro que a classe 0‡ V de partes de ] está contida na
5 -álgebra 0‡ `. Seja agora a uma 5 -álgebra de partes de ] que contenha
0‡ V. Podemos então considerar a 5 -álgebra imagem direta 0‡" a , de partes
de \ , constituída pelos conjuntos 0 " ÐFÑ, com F − a , a qual contém, em
particular, para cada E − V, o conjunto 0 " Ð0 ÐEÑÑ œ E, ou seja, contém V.
Uma vez que ` é a 5 -álgebra gerada por V, concluímos que ` § 0‡" a .
Para cada E − ` tem-se assim E œ 0 " ÐFÑ, para algum F − a , donde
0 ÐEÑ œ F − a , o que mostra que 0‡ ` § a . Fica assim provado que 0‡ `
é efetivamente a 5 -álgebra gerada por 0‡ V.
Suponhamos agora que f é um semianel de partes de \ . Das igualdades
0 " ÐgÑ œ g e 0 " ÐF  F w Ñ œ 0 " ÐFÑ  0 " ÐF w Ñ decorre que g − 0‡ f , e
que, se Fß F w − 0‡ f , também F  F w − 0‡ f . Por outro lado, se Fß F w − 0‡ f ,
o facto de 0 " ÐFÑ e 0 " ÐF w Ñ pertencerem a f implica a existência de uma
família finita de conjuntos E3 − f , disjuntos dois a dois, tal que
0 " ÐF Ï F w Ñ œ 0 " ÐFÑ Ï 0 " ÐF w Ñ œ . E3
3−M
56 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

e daqui resulta, por 0 ser bijetiva, que


F Ï F w œ 0 Ð0 " ÐF Ï F w ÑÑ œ 0 ˆ. E3 ‰ œ . 0 ÐE3 Ñ,
3−M 3−M

com os conjuntos 0 ÐE3 Ñ pertencentes a 0‡ f e disjuntos dois a dois, o que


mostra que 0‡ f é efetivamente um semianel de partes de ] . 

Outra situação que será importante nas aplicações é aquela em que consi-
deramos o produto cartesiano de conjuntos munidos de 5 -álgebras.

I.5.19 Sejam \ e ] dois conjuntos e V e W duas classes de partes de \ e ] ,


respetivamente. Vamos notar V ‚ W a classe das partes de \ ‚ ] da forma
E ‚ F , com E − V e F − W.31 No caso em que V e W são semianéis de
partes de \ e ] , respetivamente, V ‚ W é um semianel de partes de \ ‚ ] .
Dem: Suponhamos que V e W são semianéis de partes de \ e ] ,
respetivamente. Tem-se g œ g ‚ g − V ‚ W. Suponhamos que Eß Ew − V e
Fß F w − W. Tem-se
ÐE ‚ FÑ  ÐEw ‚ F w Ñ œ ÐE  Ew Ñ ‚ ÐF  F w Ñ − V ‚ W.
Por outro lado, podemos considerar famílias finitas ÐE3 Ñ3−M de conjuntos de
V, disjuntos dois a dois, e ÐF4 Ñ4−N , disjuntos dois a dois, tais que

E Ï Ew œ . E3 , F Ï F w œ . F4
3−M 4−N

e tem-se então
ÐE ‚ FÑ Ï ÐEw ‚ F w Ñ œ ÐÐE Ï Ew Ñ ‚ FÑ  ÐÐE  Ew Ñ ‚ ÐF Ï F w ÑÑ
œ ˆ. ÐE3 ‚ Fщ  ˆ. ÐE  Ew Ñ ‚ F4 ‰,
3−M 4−N

com os conjuntos E3 ‚ F e os conjuntos ÐE  Ew Ñ ‚ F4 disjuntos dois a


dois, o que mostra que ÐE ‚ FÑ Ï ÐEw ‚ F w Ñ − V ‚ WÞ Ficou assim provado
que V ‚ W é também um semianel. 

Pelo contrário, se ` e a são 5 -álgebras de partes de \ e ] ,


respetivamente, não podemos afirmar que ` ‚ a seja uma 5 -álgebra de
partes de \ ‚ ] : Uma união de dois conjuntos de ` ‚ a não será em
geral nem sequer um produto cartesiano, e portanto não pertencerá a
` ‚ a.

31Trata-sede um abuso de notação, uma vez que V ‚ W também designa o conjunto dos
pares ÐEß FÑ com E − V e F − W. O significado que se dá à notação será claro no
contexto.
§5. Aplicações mensuráveis 57

I.5.20 Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ dois espaços mensuráveis. Define-se então a


5-álgebra produto ` Œ a como sendo a 5 -álgebra de partes de \ ‚ ]
gerada pela classe ` ‚ a de partes de \ ‚ ] , 5 -álgebra que é a que se
considera implicitamente em \ ‚ ] quando outra não é referida. Dizemos
que Ð\ ‚ ] ß ` Œ a Ñ é o espaço mensurável produto dos espaços
mensuráveis Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ.

O resultado seguinte mostra que o espaço mensurável produto goza das


propriedades que se esperam dum produto (comparar com o que se passa
com o produto de espaços topológicos, relativamente às aplicações
contínuas).

I.5.21 Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ dois espaços mensuráveis e consideremos o


espaço mensurável produto Ð\ ‚ ] ß ` Œ a Ñ. Tem-se então:
a) As projeções canónicas 1" À \ ‚ ] Ä \ e 1# À \ ‚ ] Ä ] , definidas por
1" ÐBß CÑ œ B, 1# ÐBß CÑ œ C,

são aplicações mensuráveis.


b) Sejam Ð^ß c Ñ um espaço mensurável, 0 À ^ Ä \ ‚ ] uma aplicação e
0" À ^ Ä \ e 0# À ^ Ä ] as respetivas componentes, definidas por
0 ÐDÑ œ Ð0" ÐDÑß 0# ÐDÑÑ.
Tem-se então que 0 é mensurável se, e só se, 0" e 0# são ambas mensuráveis.
Dem: a) Temos uma consequência de que, para cada E − `,
1"" ÐEÑ œ E ‚ ] − ` ‚ a § ` Œ a
e, para cada F − a ,
1#" ÐFÑ œ \ ‚ F − ` ‚ a § ` Œ a .
Se 0 é mensurável, a conclusão de a) e I.5.2 implicam que 0" e 0# são
mensuráveis, uma vez que 0" œ 1" ‰ 0 e 0# œ 1# ‰ 0 . Suponhamos, recipro-
camente, que 0" e 0# são aplicações mensuráveis. Para cada E − ` e
F − a , tem-se então 0"" ÐEÑ − c e 0#" ÐFÑ − c , e portanto também
0 " ÐE ‚ FÑ œ 0"" ÐEÑ  0#" ÐFÑ − c.
Tendo em conta I.5.7, concluímos que 0 é mensurável.
I.5.22 (Compatibilidade com as restrições de 5 -álgebras) Sejam Ð\ß `Ñ e
Ð] ß a Ñ dois espaços mensuráveis e consideremos o espaço mensurável
produto Ð\ ‚ ] ß ` Œ a Ñ. Sejam \ w − ` e ] w − a e consideremos as
5 -álgebras restrição `Î\ w e aÎ] w , de partes de \ w e ] w , respetivamente (cf.
I.2.5). Tem-se então que a 5 -álgebra produto `Î\ w Œ aÎ] w , de partes de
58 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

\ w ‚ ] w , coincide com a 5 -álgebra restrição ` Œ aÎ\ w ‚] w .32


Dem: Notemos c œ ` Œ aÎ\ w ‚] w e utilizemos I.5.17 para mostrar que as
5 -álgebras `Î\ w Œ aÎ] w e c coincidem. Em primeiro lugar, como as
projeções canónicas \ w ‚ ] w Ä \ w e \ w ‚ ] w Ä ] w são mensuráveis,
quando se considera como 5 -álgebras no domínio `Î\ w Œ aÎ] w e nos
espaços de chegada `Î\ w e aÎ] w (cf. a alínea a) de I.5.21), vemos que elas
são também mensuráveis como aplicações \ w ‚ ] w Ä \ e \ w ‚ ] w Ä ] ,
quando se considera ` e a como 5 -álgebras nos espaços de chegada (cf.
I.5.5), pelo que a inclusão \ w ‚ ] w Ä \ ‚ ] é mensurável, quando se
considera no espaço de chegada a 5 -álgebra ` Œ a (cf. a alínea b) de
I.5.21) e portanto, mais uma vez por I.5.5, a identidade de \ w ‚ ] w é
mensurável de `Î\ w Œ aÎ] w para c . Em segundo lugar, tendo em conta os
resultados já referidos, assim como I.5.4, vemos que, do facto de as
projeções canónicas \ ‚ ] Ä \ e \ ‚ ] Ä ] serem mensuráveis, quando
se considera como 5 -álgebras no domínio ` Œ a e nos espaços de chegada
` e a , podemos deduzir que as suas restrições \ w ‚ ] w Ä \ e
\ w ‚ ] w Ä ] são também mensuráveis, quando se considera no domínio a
5 -álgebra c e portanto as projeções canónicas \ w ‚ ] w Ä \ w e
\ w ‚ ] w Ä ] w são mensuráveis, quando se considera nos espaços de
chegada as 5 -álgebras `Î\ w e aÎ] w , o que implica que a identidade de
\ w ‚ ] w é mensurável de c para `Î\ w Œ aÎ] w . 

Um paralelo com a situação examinada em I.2.9, leva-nos a pergun-


tarmo-nos se, quando \ e ] são espaços topológicos, sobre os quais
consideramos a 5 -álgebras dos borelianos U\ e U] , a 5 -álgebra produto
U\ Œ U] será a 5 -álgebra dos borelianos do espaço topológico produto
\ ‚ ] . De facto, vamos verificar que isso se passa, desde que os espaços
topológicos envolvidos verifiquem uma propriedade suplementar, a de
terem base contável, propriedade que teremos ocasião de encontrar com
frequência daqui em diante. Começamos por apresentar um resultado
auxiliar, para o qual uma condição de contabilidade é também necessária.

I.5.23 Sejam \ e ] conjuntos, V uma classe de partes de \ e W uma classe de

juntos de V, e Ð]4 Ñ4−N , de conjuntos de W, tais que \ œ - \3 e ] œ - ]4 .33


partes de ] e suponhamos que existem famílias contáveis Ð\3 Ñ3−M , de con-

3−M 4−N
Sendo ` a 5 -álgebra de partes de \ gerada por V e a a 5 -álgebra de partes
de ] gerada por W, tem-se então que ` Œ a é a 5 -álgebra de partes de
\ ‚ ] gerada por V ‚ W.
Dem: Uma vez que, para cada E − V e F − W, tem-se E − ` e F − a ,
donde

32Felizmente…, senão ficávamos na dúvida sobre qual a 5 -álgebra a considerar implicita-


mente em \ w ‚ ] w .
33É o que acontece, por exemplo, se as classes V e W forem semianéis 5 -totais (cf. I.4.3).
§5. Aplicações mensuráveis 59

E ‚ F − ` ‚ a § ` Œ a,
concluímos que V ‚ W § ` Œ a . Resta-nos mostrar que, se c é uma 5 -ál-
gebra arbitrária de partes de \ ‚ ] tal que V ‚ W § c , então tem-se neces-
sariamente ` Œ a § c . Dividimos a prova desse facto em três partes:
1) Vamos mostrar que V ‚ a § c .
Subdem: Fixemos E − V. Notemos aE a classe dos conjuntos F § ]
tais que E ‚ F − c . O facto de se ter E ‚ g œ g − c mostra que g − aE .
Se F − aE , o facto de se ter, para cada 4 − N , E ‚ ]4 − V ‚ W § c , e
portanto
E ‚ ] œ . E ‚ ]4 − c,
4−N

implica que
E ‚ Ð] Ï FÑ œ ÐE ‚ ] Ñ Ï ÐE ‚ FÑ − c,
ou seja, ] Ï F − aE . Sendo agora ÐF5 Ñ5−O uma família contável de
conjuntos em aE , o facto de se ter, para cada 5 , E ‚ F5 − c implica que

E ‚ Š . F5 ‹ œ . ÐE ‚ F5 Ñ − c,
5−O 5−O

ou seja, - F5 − aE . Acabámos assim de verificar que aE é uma 5 -álgebra


5−O
de partes de ] que, por hipótese, contém a classe W, o que implica que que
se tem a § aE . Concluímos assim que, para cada F − a tem-se
E ‚ F − c , ou seja, V ‚ a § c .
2) Vamos mostrar que ` ‚ a § c .
Subdem: Fixemos F − a . Notemos `F a classe dos conjuntos
E § \ tais que E ‚ F − c . O facto de se ter g ‚ F œ g − c mostra que
g − `F . Se E − `F , o facto de se ter, para cada 3 − M ,
\3 ‚ F − V ‚ a § c, e portanto
\ ‚ F œ . \3 ‚ F − c,
3−M

implica que
Ð\ Ï EÑ ‚ F œ Ð\ ‚ FÑ Ï ÐE ‚ FÑ − c,
ou seja, \ Ï E − `F . Sendo agora ÐE5 Ñ5−O uma família contável de
conjuntos em `F , o facto de se ter, para cada 5 , E5 ‚ F − c implica que

Š . E5 ‹ ‚ F œ . ÐE5 ‚ FÑ − c,
5−O 5−O

ou seja, - E5 − `F . Acabámos assim de verificar que `F é uma


5−O
60 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

5 -álgebra de partes de \ que, pelo que vimos em 1), contém a classe V, o


que implica que se tem ` § `F . Concluímos assim que, para cada E − `
tem-se E ‚ F − c , ou seja, ` ‚ a § c .
3) O facto de se ter ` ‚ a § c e de ` Œ a ser a 5 -álgebra gerada por
` ‚ a implica que ` Œ a § c , que era o que nos faltava provar. 
I.5.24 Lembremos que, se \ é um espaço topológico, uma base de abertos de \
é uma classe h constituída por alguns dos conjuntos abertos de \ que tenha
a propriedade de qualquer conjunto aberto Y de \ ser união de alguma
família de abertos pertencentes a h , propriedade que é equivalente à
exigência de, para cada conjunto aberto Y de \ e cada B − Y , existir um
Z − h tal que B − Z § Y . É claro que um exemplo de base de abertos é a
classe de todos os abertos de \ .
Diz-se que um espaço topológico \ é de base contável se ele admitir uma
base de abertos h que seja um conjunto contável.
I.5.25 (Exemplos e propriedades elementares) a) Sejam \ um espaço
topológico e ] § \ um subconjunto, onde se considera a topologia indu-
zida. Se h é uma base de abertos de \ , então a classe h w dos conjuntos da
forma ]  Z , com Z − h , é uma base de abertos de ] . Em particular, se \
é de base contável, ] é também de base contável.
b) Sejam \ e ] espaços topológicos e 0 À \ Ä ] um homeomorfismo. Se h
é uma base de abertos de \ , então a classe 0‡ h dos abertos de ] da forma
0 ÐZ Ñ, com Z − h , é uma base de abertos de ] . Em particular, se \ é de
base contável, ] também é de base contável.
c) Sejam \ e ] espaços topológicos e consideremos em \ ‚ ] a topologia
produto. Se h uma base de abertos de \ e h w é uma base de abertos de ] ,
então a classe h ‚ h w dos abertos de \ ‚ ] da forma Z ‚ [ , com Z − h e
[ − h w , é uma base de abertos de \ ‚ ] .34 Em particular, se \ e ] são de
base contável, também \ ‚ ] é de base contável.
d) A reta real ‘, com a topologia usual, é de base contável, por admitir como
base de abertos a classe contável dos intervalos Ó+ß ,Ò com + e , racionais (se
Y é um aberto de ‘ e B − Y , existe &  ! com ÓB  &ß B  &Ò contido em Y
e pode então considerar-se números racionais +ß , tais que
B  &  +  B  ,  B  &,
para os quais se tem então B − Ó+ß ,Ò § Y ).
e) O espaço cartesiano ‘8 , com a sua topologia usual, é de base contável. A
justificação pode fazer-se por indução em 8, partindo de d) e do facto de
‘8" ser naturalmente homeomorfo a ‘8 ‚ ‘.
f) A reta acabada ‘, com a sua topologia usual, é também de base contável.

34Reparar que, mesmo que h e h w fossem as classes de todos os abertos, h ‚ h w não


seria, em geral, a classe de todos os abertos, uma vez que pode haver abertos de \ ‚ ]
que não são produtos cartesianos.
§5. Aplicações mensuráveis 61

Uma base contável de abertos de ‘ é a constituída pelos intervalos Ó+ß ,Ò,


Ò_ß ,Ò e Ó+ß _Ó, com + e , racionais.
I.5.26 (Importância das bases contáveis) Seja \ um espaço topológico
admitindo uma base contável de abertos h . Tem-se então que a 5 -álgebra
gerada por h é a 5 -álgebra dos borelianos U\ .
Dem: Uma vez que U\ contém todos os abertos de \ , contém também, em
particular, todos os conjuntos pertencentes a h . Suponhamos agora que ` é
uma 5 -álgebra de partes de \ que contém h . Uma vez que qualquer aberto
de \ é uma união de conjuntos pertencentes a h , portanto uma união de uma
família contável de conjuntos de `, segue-se que todos os abertos de \
pertencem a ` e portanto, por U\ ser a 5 -álgebra gerada por estes últimos,
U\ § `. Fica assim provado que U\ é efetivamente a 5 -álgebra gerada por
h. 
I.5.27 (Borelianos dum produto) Sejam \ e ] dois espaços topológicos de
base contável e U\ e U] as respetivas 5 -álgebras dos borelianos. Tem-se
então que a 5 -álgebra produto U\ Œ U] é a 5 -álgebra U\‚] dos borelianos
de \ ‚ ] .
Dem: Sejam h e h w bases contáveis de abertos de \ e ] , respetivamente e
lembremos que, como referido em I.5.25, h ‚ h w é uma base contável de
abertos de \ ‚ ] . Tendo em conta I.5.26, as 5 -álgebras geradas por h , h w e
h ‚ h w são, respetivamente, U\ , U] e U\‚] . Mas, tendo em conta I.5.23, e
uma vez que \ e ] , sendo abertos em si mesmos, são uniões contáveis de
conjuntos em h e h w , respetivamente, a 5 -álgebra gerada por h ‚ h w é a
5 -álgebra U\ Œ U] . Concluímos assim que U\‚] œ U\ Œ U] . 

Como aplicação do resultado precedente, estudamos agora a mensurabili-


dade da adição e da multiplicação, em dois contextos diferentes,
instrumento que será utilizado quando quisermos mostrar que a soma e o
produto de aplicações mensuráveis é mensurável.

I.5.28 Considerando em ‘ a 5 -álgebra U‘ dos borelianos e em ‘ ‚ ‘ a 5 -álge-


bra produto U‘ Œ U‘ , são mensuráveis as aplicações :,<À ‘ ‚ ‘ Ä ‘
definidas por
:ÐBß CÑ œ B  C, <ÐBß CÑ œ B ‚ C.

Dem: Uma vez que estas aplicações são contínuas, elas são mensuráveis,
quando se considera em ‘ ‚ ‘ a 5 -álgebra dos borelianos U‘‚‘ . Mas, por
I.5.27, esta 5 -álgebra coincide com a 5 -álgebra U‘ Œ U‘ . 
I.5.29 Considerando em ‘ a 5 -álgebra U‘ dos borelianos e em ‘ ‚ ‘ a
5 -álgebra produto U‘ Œ U‘ , as aplicações :,<À ‘ ‚ ‘ Ä ‘ definidas
por
62 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

:ÐBß CÑ œ B  C, <ÐBß CÑ œ B ‚ C,
são mensuráveis.
Dem: Comecemos por reparar que, uma vez que ‘ e ‘ induzem a mesma
topologia em ‘ œ Ò!ß _Ò (a topologia induzida pela da reta acabada ‘),
concluímos que as 5 -álgebras U‘ e U‘ têm a mesma restrição a ‘ ,
nomeadamente a 5 -álgebra U‘ dos borelianos de ‘ (cf. I.2.9). Tendo em
conta I.5.22, concluímos que as 5 -álgebras U‘ Œ U‘ e U‘ Œ U‘ têm
também a mesma restrição a ‘ ‚ ‘ , nomeadamente U‘ Œ U‘ , pelo que
concluímos do resultado precedente que : e < têm restrições mensuráveis ao
subconjunto mensurável ‘ ‚ ‘ do seu domínio. Apesar de a ideia ser
semelhante, separemos agora o exame dos dois casos:
1) O domínio ‘ ‚ ‘ é união de três subconjuntos mensuráveis, nomeada-
mente
‘ ‚ ‘ , Ö_× ‚ ‘ , ‘ ‚ Ö_×,
e a restrição de : a cada um deles é mensurável, no primeiro caso como já
foi referido e, nos outros dois, por termos aplicações de valor constante _.
Aplicando I.5.6, concluímos que : é mensurável.
2) O domínio ‘ ‚ ‘ é união de cinco subconjuntos mensuráveis, nomea-
damente
‘ ‚ ‘ , Ö!× ‚ ‘ , ‘ ‚ Ö!×,

Ö_× ‚ Б Ï Ö!×Ñ, Б Ï Ö!×Ñ ‚ Ö_×,

e a restrição de < a cada um deles é mensurável, no primeiro caso como


referimos no início, no segundo e no terceiro por termos aplicações de valor
constante ! e no quarto e quinto por termos aplicações de valor constante
_. Aplicando, como em 1), I.5.6, concluímos que < é mensurável. 

Exercícios

Ex I.5.1 Para cada número racional B, seja denÐBÑ o menor natural ;   " tal que
B œ :; , para algum : − ™. Considerando em ‘ a 5 -álgebra dos borelianos,
utilizar I.5.6 para mostrar que é mensurável a aplicação 0 À ‘ Ä ‘ definida
por

0 ÐBÑ œ œ
denÐBÑ, se B − ,
lnÐlBlÑ, se B Â .
§5. Aplicações mensuráveis 63

Ex I.5.2 Consideremos em ‘ a 5 -álgebra U dos borelianos e seja 0 À ‘ Ä ‘ uma


aplicação constante. Verificar o que é a 5 -álgebra imagem direta 0‡ U , sobre
‘, e concluir que, apesar de 0 ser mensurável, 0‡ U Á U .
Ex I.5.3 Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ dois espaços mensuráveis e 0 À \ Ä ] uma
aplicação mensurável. Suponhamos que existe uma secção mensurável de 0 ,
isto é, uma aplicação mensurável 1À ] Ä \ tal que, para cada C − ] ,
0 Ð1ÐCÑÑ œ C (em particular, 0 À \ Ä ] tem que ser sobrejetiva). Verificar
que se tem a œ 0‡ `.
Ex I.5.4 Consideremos em ‘# o semianel f associado à partição de ‘#
constituída pelos três conjuntos Ó_ß !Ò ‚ Ó_ß !Ò, Ó_ß !Ò ‚ Ò!ß _Ò e
Ò!ß _Ò ‚ ‘ (cf. o exercício I.4.9). Sendo 0 À ‘# Ä ‘ a primeira projeção,
definida por 0 ÐBß CÑ œ B, verificar o que é 0‡ f e concluir que não é um
semianel de partes de ‘ (comparar com a última conclusão de I.5.18, no caso
em que 0 é bijetiva).
Ex I.5.5 (Medida de Lebesgue e homotetias) Seja -À U‘ Ä ‘ a medida de
Lebesgue nos borelianos de ‘. Para cada + − ‘ Ï Ö!×, mostrar que tem lugar
uma bijeção bimensurável (+ À ‘ Ä ‘ definida por (+ ÐBÑ œ +B e que, para
cada E − U‘ , -Ð(+ ÐEÑÑ œ l+l-ÐEÑ.
Sugestão: Considerar a medida . nos borelianos de ‘ imagem direta da
medida l+l- (cf. I.2.16) pela aplicação (+ e verificar, separadamente nos
casos +  ! e +  !, que . œ -.
Ex I.5.6 (Aclarando uma aparente assimetria na definição das medidas de
Lebesgue-Stieltjes) Sejam N œ Ó-ß .Ò um intervalo aberto não vazio e
1À N Ä ‘ uma função crescente. Lembremos que a medida de Lebes-
gue-Stieltjes -1 nos borelianos de N está caracterizada como sendo a única
que verifica a condição -1 ÐÓ+ß ,ÓÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ, para cada + Ÿ , em N
(cf. I.4.13), condição que envolve uma certa assimetria entre “esquerda” e
“direita”. Lembrando a caracterização das medidas de Lebesgue-Stieltjes de
outros tipos de intervalo que decorre de I.4.14, mostrar que -1 é também a
única medida nos borelianos de N que verifica -1 ÐÒ+ß ,ÒÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ,
para cada + Ÿ , em N . Sugestão: Para a unicidade, pensar na função
crescente 2À Ó.ß -Ò Ä ‘ definida por 2ÐBÑ œ 1ÐBÑ e utilizar o
homeomorfismo B È B para transportar medidas nos borelianos de Ó-ß .Ò
para medidas nos borelianos de Ó.ß -Ò.
Ex I.5.7 (A medida exterior de Lebesgue) Seja -‡ À c Ð‘Ñ Ä ‘ a medida
exterior de Lebesgue, isto é, a associada à medida de Lebesgue no semianel
dos intervalos semiabertos (cf. I.4.4 ).
a) Ter em conta a caracterização alternativa de -‡ na alínea a) do exercício
I.4.4 e as propriedades da medida de Lebesgue referidas em I.5.14 e no
exercício I.5.5 para mostrar que, se F § ‘, B − ‘ e + − ‘ Ï Ö!×, então
-‡ ÐB  FÑ œ -‡ ÐFÑ, -‡ Ð+FÑ œ l+l-‡ ÐFÑ.
64 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

b) Deduzir de a) que, se E § ‘ é -‡ -mensurável, B − ‘ e + − ‘ Ï Ö!×,


então B  E e +E são também -‡ -mensuráveis.
c) Mostrar que o conjunto F § ‘, referido na sugestão do exercício I.2.1,
não é -‡ -mensurável, e portanto também não é um boreliano de ‘. Mostrar
que, para este conjunto, tem-se !  -‡ ÐFÑ Ÿ ".
d) Adaptar o raciocínio feito em c) para mostrar que, se \ § ‘ é um
boreliano com -Ð\Ñ  !, então existe ] § \ que não seja -‡ -mensurável.
Sugestão: Começar por mostrar que se pode já supor \ § ÒQ ß Q Ó, para
algum Q  !, uma vez que, em qualquer caso, \ é a união de uma sucessão
crescente de conjuntos nessas condições. Considerando a relação de
equivalência µ referida na sugestão do exercício I.2.1, escolhamos em \
um, e um só elemento de cada classe de equivalência para esta relação e seja
] § \ o conjunto dos elementos escolhidos. Sendo N o conjunto dos
racionais do intervalo Ò#Q ß #Q Ó, verificar que

\ § . D  ] § Ò$Q ß $Q Ó
D−N

com os conjuntos D  ] disjuntos dois a dois.


Ex I.5.8 a) Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ dois espaços mensuráveis e consideremos
em \ ‚ ] e em ] ‚ \ as 5 -álgebras produto ` Œ a e a Œ `,
respetivamente. Mostrar que a bijeção 0 À \ ‚ ] Ä ] ‚ \ , definida por
0 ÐBß CÑ œ ÐCß BÑ, é bimensurável.
b) Sejam Ð\ß `Ñ, Ð] ß a Ñ e Ð^ß c Ñ três espaços mensuráveis e consideremos
em Ð\ ‚ ] Ñ ‚ ^ e em \ ‚ Ð] ‚ ^Ñ as 5 -álgebras Ð` Œ a Ñ Œ c e
` Œ Ða Œ c Ñ, respetivamente. Mostrar que a bijeção
0 À Ð\ ‚ ] Ñ ‚ ^ Ä \ ‚ Ð] ‚ ^Ñ, 0 ÐÐBß CÑß DÑ œ ÐBß ÐCß DÑÑ,

é bimensurável.
Ex I.5.9 Consideremos em ‘ a 5 -álgebra dos borelianos U‘ e em ‘ ‚ ‘ a
5 -álgebra produto U‘ Œ U‘ . Verificar que são mensuráveis os
subconjuntos Y ß Z e ?‘ de ‘ ‚ ‘ , definidos por

Y œ ÖÐBß CÑ − ‘ ‚ ‘ ± B  C×,
Z œ ÖÐBß CÑ − ‘ ‚ ‘ ± B  C×,
?‘ œ ÖÐBß CÑ − ‘ ‚ ‘ ± B œ C×. 35

Sugestão: Atendendo a que B  C se, e só se, existe um racional + tal que


B  +  C, escrever Y como uma união numerável de produtos cartesianos
de abertos de ‘ .

35Uma tentação óbvia seria descrever ?‘ como o conjunto dos pares ÐBß CÑ tais que
B  C œ !, mas isso não é possível, uma vez que não existe subtração no contexto de ‘ .
§5. Aplicações mensuráveis 65

Ex I.5.10 Deduzir do exercício I.5.9 que, se Ð\ß `Ñ é um espaço mensurável e


se 0 ß 1À \ Ä ‘ são duas aplicações mensuráveis, então são mensuráveis os
conjuntos
E œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ×,
F œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ  1ÐBÑ×Þ

Ex I.5.11 a) Considerando em ‘ a 5 -álgebra U‘ dos borelianos e em ‘ ‚ ‘ a


5 -álgebra produto U‘ Œ U‘ , verificar que tem lugar uma aplicação
mensurável .À ‘ ‚ ‘ Ä ‘, definida por
.ÐBß CÑ œ lB  Cl

(a função distância). Sugestão: Adaptar o que foi feito na prova de I.5.28.


b) Considerando em ‘ a 5 -álgebra U‘ dos borelianos e em ‘ ‚ ‘ a
5 -álgebra produto U‘ Œ U‘ , verificar que tem lugar uma aplicação
mensurável .À ‘ ‚ ‘ Ä ‘ , definida por

.ÐBß CÑ œ œ
lB  Cl, se B − ‘ e C − ‘
_, se B œ _ ou C œ _ 36

(extensão da função distância). Sugestão: Adaptar o que foi feito na prova de


I.5.29.
Ex I.5.12 Sejam N § ‘ um intervalo aberto não vazio, sobre o qual conside-
ramos a 5 -álgebra UN dos borelianos, e 0 À N Ä ‘ uma aplicação monótona.
Mostrar que 0 é mensurável.
Sugestão: Utilizar I.5.7, lembrando que a 5 -álgebra dos borelianos de ‘ é
gerada pela classe dos intervalos semiabertos Ó+ß ,Ó, com + Ÿ , (cf. I.3.12) e
verificando que 0 " ÐÓ+ß ,ÓÑ é necessariamente um intervalo.
Ex I.5.13 (Aplicações mensuráveis para um subespaço topológico) Sejam
Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, ] um espaço topológico, onde se considera
a 5 -álgebra U] dos borelianos e ] s § ] um subespaço topológico, não
necessariamente boreliano, onde se considera também a 5 -álgebra dos
borelianos U]s . Verificar que uma aplicação 0 À \ Ä ]s é mensurável se, e só
se, 0 À \ Ä ] é mensurável.
Sugestão: Utilizar I.5.7. Reparar que não se pode aplicar I.5.5 e I.2.9, uma
vez que, em ambos os casos, seria necessário que ] s − U] .
Ex I.5.14 (Borelianos de um subespaço topológico) Sejam ] um espaço topo-
s § ] um subes-
lógico, onde se considera a 5 -álgebra dos borelianos U] e ]
paço topológico, não necessariamente boreliano, onde se considera também a
5 -álgebra dos borelianos U]s .

36Quem tenha uma preferência por definir .Ð_ß _Ñ œ !, pode fazê-lo sem alterar a
conclusão do exercício, mas a definição que apresentámos ser-nos-á conveniente adiante.
66 Cap. I. Medidas em 5 -álgebras

a) Mostrar que, se E § ] s , então E − Us se, e só se, existe Ew − U] tal que


]
Eœ] s  E . Reparar que esta conclusão implica diretamente que, no caso
w

em que ] s − U] , Us œ U] s . Sugestão: Para uma das implicações atender a


] Î]
que a inclusão ] s Ä ] é contínua, e portanto mensurável.
b) Sendo .À U] Ä ‘ uma medida e .‡ À c Ð] Ñ Ä ‘ a medida exterior
associada, verificar que a restrição de .‡ a U]s é uma medida, que coincide
com a medida .Î]s , no caso em que ] s − U] . Sugestão: Ter em conta a alínea
b) de I.4.5 e verificar que, se ÐE4 Ñ4−N é uma família contável de conjuntos de
U] tal que os ] s  E4 sejam disjuntos dois a dois, então existe uma família
w
contável ÐE4 Ñ4−N de conjuntos de U] disjuntos dois a dois e tais que
s  E4 œ ]
] s  E4w .

Ex I.5.15 (Um conjunto -‡ -mensurável não boreliano, cf. [5]) Consideremos


a função singular de Cantor Lebesgue 0 À Ò!ß "Ó Ä Ò!ß "Ó (cf. a alínea g) do
exercício I.4.11) e o conjunto de Cantor G § Ò!ß "Ó (cf. a alínea b) do exer-
cício I.4.11).
a) Verificar que tem lugar uma aplicação contínua, estritamente crescente e
sobrejetiva 1À Ò!ß "Ó Ä Ò!ß #Ó, definida por 1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ  B e concluir que 1 é
mesmo um homeomorfismo.
b) Considerando os intervalos abertos N:5" ßáß:5 definidos no exercício I.4.11,
cuja união é Ò!ß "Ó Ï G , verificar que 1ÐN:5" ßáß:5 Ñ é uma translação de N:5" ßáß:5 e
concluir que a medida de Lebesgue do compacto 1ÐGÑ é -Ð1ÐGÑÑ œ ".
c) Tendo em conta a alínea d) do exercício I.5.7, podemos considerar um
subconjunto ] § 1ÐGÑ que não seja -‡ -mensurável, e portanto também não
seja boreliano. Concluir que 1" Ð] Ñ § G não é boreliano mas, pelo exercício
I.4.1, é -‡ -mensurável.
CAPÍTULO II
O integral

§1. Integração de funções positivas.

Nesta secção vamos definir o integral para funções mensuráveis, cujo


domínio é um espaço mensurável Ð\ß `Ñ, munido de uma medida
.À ` Ä ‘ , e que tomam valores em ‘ . Para isso, vamos comple-
mentar o estudo das funções mensuráveis que fizémos em I.5 com
propriedades especiais que são válidas quando o espaço de chegada é ‘ ,
onde consideramos implicitamente a 5 -álgebras dos borelianos U‘ .
No caso do primeiro resultado, apresentamos simultaneamente uma
versão para funções mensuráveis com valores em ‘, também implicita-
mente com a 5 -álgebra dos borelianos, aliás com demonstração análoga,
porque teremos adiante necessidade de a utilizar.

II.1.1 Seja Ð\ß `Ñ um espaço mensurável. Tem-se então:


a) Se 0 ß 1À \ Ä ‘ são funções mensuráveis, então são também mensu-
ráveis as funções 0  1À \ Ä ‘ e 0 ‚ 1À \ Ä ‘ , definidas por
Ð0  1ÑÐBÑ œ 0 ÐBÑ  1ÐBÑ, Ð0 ‚ 1ÑÐBÑ œ 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ.

b) Se 0 ß 1À \ Ä ‘ são funções mensuráveis, então são também mensuráveis


as funções 0  1À \ Ä ‘ e 0 ‚ 1À \ Ä ‘, definidas por
Ð0  1ÑÐBÑ œ 0 ÐBÑ  1ÐBÑ, Ð0 ‚ 1ÑÐBÑ œ 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ.

Em consequência, é também mensurável a função 0  1À \ Ä ‘, definida


por
Ð0  1ÑÐBÑ œ 0 ÐBÑ  1ÐBÑ. 37

Dem: a) Tendo em conta I.5.21, podemos considerar uma aplicação mensu-


rável \ Ä ‘ ‚ ‘ , definida por B È Ð0 ÐBÑß 1ÐBÑÑ, onde se considera em
‘ ‚ ‘ a 5 -álgebra produto U‘ Œ U‘ . Basta então repararmos que 0  1
e 0 ‚ 1 são as compostas desta aplicação mensurável com as aplicações
mensuráveis :À ‘ ‚ ‘ Ä ‘ e <À ‘ ‚ ‘ Ä ‘ (adição e multiplica-
ção) referidas em I.5.29.

37Reparar que, no caso da alínea a), não fazia sentido considerar a função 0  1, uma vez
que não se pode definir a diferença de elementos arbitrários de ‘
68 Cap. II. O integral

b) Tendo em conta I.5.21, podemos considerar uma aplicação mensurável


\ Ä ‘ ‚ ‘, definida por B È Ð0 ÐBÑß 1ÐBÑÑ, onde se considera em ‘ ‚ ‘ a
5-álgebra produto U‘ Œ U‘ . Basta então repararmos que 0  1 e 0 ‚ 1 são
as compostas desta aplicação mensurável com as aplicações mensuráveis
:À ‘ ‚ ‘ Ä ‘ e <À ‘ ‚ ‘ Ä ‘ (adição e multiplicação) referidas em I.5.28.
Quanto à função 0  1 temos uma consequência do que já verificámos, uma
vez que se tem 0 ÐBÑ  1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ  Ð"Ñ ‚ 1ÐBÑ, onde a função constante
" é também mensurável. 
II.1.2 (Lema) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e 0 À \ Ä ‘ uma
aplicação. São então equivalentes as propriedades seguintes:
1) A aplicação 0 é mensurável;
2) Para cada + − ‘ , é mensurável o conjunto
E+ œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ   +×.

3) Para cada + − ‘ , é mensurável o conjunto


F+ œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ  +×.

Dem: O facto de 1) implicar 2) resulta de se ter E+ œ 0 " ÐÒ+ß _ÓÑ, onde


Ò+ß _Ó é fechado em ‘ , e portanto um boreliano. Suponhamos que se
verifica 2). Reparando que se tem 0 ÐBÑ  + se, e só se, existe 8 −  tal que
0 ÐBÑ   +  8" , concluímos que, para cada + − ‘ ,

F+ œ . E+ 8" ,
8−

e portanto F+ é mensurável, o que mostra que se verifica 3). Suponhamos,


enfim, que se verifica 3) e mostremos que 0 é mensurável. Comecemos por
reparar que, se +  ! em ‘, o conjunto F+ , definido do mesmo modo que
para +   !, é igual a \ , em particular mensurável. Uma vez que 0 ÐBÑ œ _
se, e só se, 0 ÐBÑ  8, para todo o 8 − , vemos que, sendo
\_ œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ œ _×, tem-se

\_ œ , F8 ,
8−

e portanto \_ é mensurável. O domínio \ é assim a união dos conjuntos


mensuráveis \_ e \ Ï \_ e a restrição de 0 a \_ é mensurável, por ser
constante. Tendo em conta I.5.6, para mostrar que 0 À \ Ä ‘ é mensurável
basta assim mostrar que 0Î\Ï\_ À \ Ï \_ Ä ‘ é mensurável, o que é
equivalente a 0Î\Ï\_ À \ Ï \_ Ä ‘ ser mensurável, quando se considera em
‘ a 5 -álgebra U‘ dos borelianos, uma vez que as restrições das 5 -álgebras
U‘ e U‘ a ‘ coincidem, já que ‘ e ‘ induzem a mesma topologia em
‘ (cf. I.2.9). Uma vez que a 5 -álgebra dos borelianos de ‘ é gerada pela
classe dos intervalos semiabertos Ó+ß ,Ó, com + Ÿ , (cf. I.3.12), para
verificarmos que 0Î\Ï\_ À \ Ï \_ Ä ‘ é mensurável basta verificarmos
§1. Integração de funções positivas 69

que, sempre que + Ÿ , em ‘, 0 " ÐÓ+ß ,ÓÑ é mensurável (cf. I.5.7) e isso vai
resultar de que
0 " ÐÓ+ß ,ÓÑ œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ  + • 0 ÐBÑ Ÿ ,× œ F+ Ï F, . 

II.1.3 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e 0 ß 1À \ Ä ‘ duas aplicações


mensuráveis. São então mensuráveis os conjuntos
E œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ×,
F œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ  1ÐBÑ×, 38
G œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ×.

Dem: Notemos  o conjunto numerável dos números racionais em ‘ .


Para cada + −  , o lema II.1.2 garante-nos que são mensuráveis os
conjuntos
F+ œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ  +×,
F+w œ ÖB − \ ± 1ÐBÑ  +×,

e como se tem 0 ÐBÑ  1ÐBÑ se, e só se, existe + −  com 0 ÐBÑ Ÿ +  1ÐBÑ,
podemos escrever
F œ . ÐF+w Ï F+ Ñ,
+−

o que mostra que F é mensurável. Trocando os papéis de 0 e 1, vemos que


também é mensurável o conjunto F w œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ  1ÐBÑ×, o facto de E
ser mensurável resulta de se ter E œ \ Ï ÐF  F w Ñ e o facto de G ser
mensurável resulta de se ter G œ E  F . 
II.1.4 (Supremos e ínfimos de funções mensuráveis) Sejam Ð\ß `Ñ um
espaço mensurável e Ð04 Ñ4−N uma família contável, não vazia, de aplicações
mensuráveis 04 À \ Ä ‘ . São então mensuráveis as funções 0 ß J À \ Ä ‘
definidas por
0 ÐBÑ œ inf 04 ÐBÑ, J ÐBÑ œ sup 04 ÐBÑ. 39
4−N 4−N

Dem: Para cada + − ‘ , tem-se 0 ÐBÑ   + se, e só se, para todo o 4 − N ß


04 ÐBÑ   +, e portanto

38Estas conclusões já foram encontradas por quem resolveu o exercício I.5.10. Tal como
referimos a propósito desse exercício, poderíamos ser tentados a transformar a condição
0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ em 0 ÐBÑ  1ÐBÑ œ !, mas iso não é possível, uma vez que não existe
subtração no contexto de ‘ .
39A restrição N Á g é desnecessária para quem aceitar pensar no ínfimo e no supremo de
uma família vazia, no contexto de ‘ , como sendo respetivamente _ e !. É claro que,
nesse caso a conclusão é trivial, por 0 e J serem aplicações constantes.
70 Cap. II. O integral

ÖB − \ ± 0 ÐBÑ   +× œ , ÖB − \ ± 04 ÐBÑ   +×
4−N

em que os conjuntos no segundo membro são mensuráveis, tendo em conta o


lema II.1.2. Concluímos assim que o conjunto do primeiro membro também é
mensurável o que, pelo mesmo lema, implica que 0 é mensurável.
Para cada + − ‘ , tem-se J ÐBÑ  + se, e só se, existe 4 − N tal que
04 ÐBÑ  +, e portanto

ÖB − \ ± J ÐBÑ  +× œ . ÖB − \ ± 04 ÐBÑ  +×
4−N

em que os conjuntos no segundo membro são mensuráveis, tendo em conta o


lema referido. Concluímos assim que o conjunto do primeiro membro
também é mensurável o que, ainda pelo mesmo lema, implica que 0 é
mensurável. 
II.1.5 (Limites de funções mensuráveis) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável
e Ð08 Ñ8− uma sucessão de aplicações mensuráveis 08 À \ Ä ‘ tal que, para
cada B − \ , 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ em ‘ . Tem-se então que a aplicação
0 À \ Ä ‘ , assim definida, é também mensurável.
Mais precisamente, sendo, para cada 8 − , 18 À \ Ä ‘ a aplicação defi-
nida por
18 ÐBÑ œ inf 07 ÐBÑ,
7 8

tem-se
0 ÐBÑ œ sup 18 ÐBÑ.
8−

Dem: Para cada 8 − , a aplicação 18 À \ Ä ‘ é mensurável tendo em


conta II.1.4. Vamos verificar que se tem 0 ÐBÑ œ sup 18 ÐBÑ o que, mais uma
8−
vez pelo mesmo resultado, implicará que 0 À \ Ä ‘ é mensurável.40
Dividimos essa verificação em duas partes:
1) Vamos começar por verificar que, para cada 8 − , 18 ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ, isto é,
que 0 ÐBÑ é um majorante do conjunto dos 18 ÐBÑ.
Ora, se isso não acontecesse, existia 8! tal que 0 ÐBÑ  18! ÐBÑ e portanto
existia 8" tal que, para todo o 7   8" , 07 ÐBÑ  18! ÐBÑ e isso era absurdo,
visto que, sendo 7 œ maxÖ8! ß 8" ×, 07 ÐBÑ é um dos elementos do conjunto
cujo ínfimo é 18! ÐBÑ.

40Em geral, independentemente de a sucessão dos 08 ÐBÑ convergir, podemos definir


18 ÐBÑ como acima e pôr 0 ÐBÑ œ sup 18 ÐBÑ e então 0 ÐBÑ é o que se chama o limite
8−
inferior da sucessão dos 08 ÐBÑ, notado lim inf 08 ÐBÑ. O que vamos fazer é mostrar, para
quem não o conheça, que quando existe o limite este coincide com o limite inferior.
§1. Integração de funções positivas 71

2) Vamos verificar que 0 ÐBÑ é o menor dos majorantes do conjunto dos


18 ÐBÑ, ou seja, que, se +  0 ÐBÑ, + não é majorante, isto é, existe 8! −  tal
que +  18! ÐBÑ.
Ora, escolhendo $  ! tal que +  $  0 ÐBÑ, existe 8! −  tal que, para cada
7   8! , +  $  07 ÐBÑ, o que implica, por 18! ÐBÑ ser o ínfimo desses
07 ÐBÑ, que +  +  $ Ÿ 18! ÐBÑ. 
II.1.6 Seja Ð\ß `Ñ um espaço mensurável. Vamos dizer que uma aplicação
0 À \ Ä ‘ é uma função simples se é mensurável e o conjunto 0 Ð\Ñ é
finito. Repare-se que, por definição, uma função simples não toma nunca o
valor _.
II.1.7 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e 0 À \ Ä ‘ uma função simples.
Existe então uma família finita Ð\4 Ñ4−N de partes mensuráveis de \ ,
disjuntas duas a duas e de união \ , tal que a restrição de 0 a cada \4 seja
constante. A uma tal família, damos o nome de partição adaptada à função
simples.
Dem: Basta tomar para N o conjunto finito 0 Ð\Ñ e, para cada 4 − N , tomar
\4 œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ œ 4×,

imagem recíproca por meio de 0 do conjunto fechado, em particular


boreliano, Ö4×. 

Repare-se que, apesar de termos construído, de modo bem determinado,


uma partição adaptada a uma função simples dada, há, em geral outras
partições adaptadas possíveis, por exemplo juntando conjuntos vazios à
partição ou substituindo um dos conjuntos por uma partição finita desse
conjunto por conjuntos mensuráveis. Como veremos em breve, essa inde-
terminação das partições associadas que se podem considerar é essencial
para trabalhar comodamente com as funções simples. Vamos agora
verificar como se pode definir o integral de uma função simples, quando é
dada uma medida na 5 -álgebra do domínio.

II.1.8 Vamos chamar espaço de medida a um triplo Ð\ß `ß .Ñ, onde \ é um


conjunto, ` uma 5 -álgebra de partes de \ e .À ` Ä ‘ uma medida. Em
particular, Ð\ß `Ñ é então um espaço mensurável.
II.1.9 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 À \ Ä ‘ uma função
simples. Sejam Ð\4 Ñ4−N e Ð\5w Ñ5−O duas partições adaptadas à função 0 e
sejam Ð+4 Ñ4−N e Ð,5 Ñ5−O famílias de elementos de ‘ tais que 0 ÐBÑ œ +4 ,
para cada B − \4 , e que 0 ÐBÑ œ ,5 , para cada B − \5w .41 Tem-se então

41Repare-se que os +4 estão bem determinados para os índices 4 tais que \4 Á g mas que,
se \4 œ g, qualquer +4 − ‘ verifica a condição referida. Análoga observação vale evi-
dentemente para os ,5 .
72 Cap. II. O integral

" +4 .Ð\4 Ñ œ " ,5 .Ð\5w Ñ.


4−N 5−O

Dem: Para cada 4 − N , \4 é a união da família finita de conjuntos


mensuráveis \4  \5w , 5 − O , que são disjuntos dois a dois, pelo que, tendo
em conta a distributividade e a propriedade de Fubini em I.1.12, obtemos
" +4 .Ð\4Ñ œ " +4 ˆ" .Ð\4  \5w щ œ " +4 .Ð\4  \5w Ñ.
4−N 4−N 5−O Ð4ß5Ñ−N ‚O

Por troca de papéis das duas partições, tem-se também


" ,5 .Ð\5w Ñ œ " ,5 .Ð\4  \5w Ñ.
5−O Ð4ß5Ñ−N ‚O

Para concluir a igualdade do enunciado, basta assim verificar que, para cada
par Ð4ß 5Ñ − N ‚ O
+4 .Ð\4  \5w Ñ œ ,5 .Ð\4  \5w Ñ

e isso é uma consequência de ambos os membros desta igualdade serem !, no


caso em que \4  \5w œ g e, caso contrário, ter que ser +4 œ ,5 (iguais a
0 ÐBÑ para um B em \4  \5w ). 
II.1.10 Tendo em conta o resultado precedente, se Ð\ß `ß .Ñ é um espaço de
medida e 0 À \ Ä ‘ é uma função simples, é legítimo definir o integral de
0 como sendo o elemento de ‘

( 0 . . œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " +4 .Ð\4 Ñ,


4−N

onde Ð\4 Ñ4−N é uma partição adaptada à função 0 e 0 ÐBÑ œ +4 , para cada
B − \4 .
Repare-se que, apesar de 0 ÐBÑ nunca ser _, o integral pode ser _, uma
vez que, para alguns 4, pode ser .(\4 ) œ _ e +4  !. Já no caso em que

' 0 . .  _.
.Ð\Ñ  _, tem-se evidentemente, para cada função simples 0 À \ Ä ‘ ,

II.1.11 Como exemplo trivial de função simples, temos a função identicamente


nula, !À \ Ä ‘ , a qual admite a família formada pelo único conjunto \
como partição adaptada. É claro que se tem

( ! . . œ !.

Outra consequência direta da definição é que, se .Ð\Ñ œ ! (ou, o que é


equivalente, se . œ !), então, para cada função simples 0 À \ Ä ‘ , tem-se
§1. Integração de funções positivas 73

' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !, visto que, sendo Ð\4 Ñ4−N uma partição adaptada a 0 ,
tem-se .Ð\4 Ñ œ !, para cada 4.
II.1.12 Seja Ð\ß `Ñ um espaço mensurável. Se Ð\4 Ñ4−N é uma família finita de
conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois e de união \ e se Ð+4 Ñ4−N é uma
família de elementos de ‘ , então podemos definir uma função simples
0 À \ Ä ‘ , tendo a família dos Ð\4 Ñ como partição adaptada, pela condição
de se ter 0 ÐBÑ œ +4 , para cada B − \4 (o facto de 0 ser mensurável resulta de
I.5.6, uma vez que a restrição a cada \4 é constante).
Como caso particular do anterior, se E − ` e considerarmos a família
formada pelos dois conjuntos E e \ Ï E, concluímos que tem lugar a função
simples ˆE À \ Ä ‘ , definida por

ˆE ÐBÑ œ œ
", se B − E,
!, se B Â E,

à qual se dá o nome de função indicatriz, ou função característica, do


conjunto E, e para a qual se tem, dada uma medida .À ` Ä ‘ ß

( ˆE . . œ .ÐEÑ

(também se usa a notação ;E com o mesmo significado que ˆE ). Repare-se, a


propósito, que, se Ð\4 Ñ4−N é uma família finita de conjuntos mensuráveis
disjuntos dois a dois e de união \ e se Ð+4 Ñ4−N é uma família de elementos de
‘ , então a correspondente função simples 0 À \ Ä ‘ , que toma o valor
constante +4 em \4 pode ser caracterizada por

0 ÐBÑ œ " +4 ˆ\4 ÐBÑ.


4−N

II.1.13 (Lema) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e 0 ß 1À \ Ä ‘ duas


funções simples. Existe então uma partição de \ adaptada simultaneamente a
0 e a 1.
Dem: Seja Ð\4 Ñ4−N uma família finita de conjuntos mensuráveis, disjuntos
dois a dois e de união \ , tais que 0 seja constante em cada \4 e seja
Ð\5w Ñ5−O uma família finita de conjuntos mensuráveis, disjuntos dois a dois e
de união \ , tais que 1 seja constante em cada \5w . Tem-se então que os
conjuntos mensuráveis \4  \5w , Ð4ß 5Ñ − N ‚ O , são disjuntos dois a dois e
de união \ , constituem uma família finita e em cada um deles tanto 0 como
1 é constante. 
II.1.14 (Monotonia e linearidade) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e
0 ß 1À \ Ä ‘ duas funções simples. tem-se então:
a) Se, para cada B − \ , 0 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ, então
74 Cap. II. O integral

( 0 . . Ÿ ( 1 . .;

b) A função 0  1À \ Ä ‘ também é simples e

( 0  1 . . œ ( 0 . .  ( 1 . .;

c) Para cada + − ‘ , a função +0 À \ Ä ‘ também é simples e

( +0 . . œ +( 0 . ..

Dem: Tendo em conta o lema anterior, podemos considerar uma família


finita Ð\4 Ñ4−N de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois e de união \
tal que, para cada B − \4 , 0 ÐBÑ œ +4 e 1ÐBÑ œ ,4 . Sob a hipóteses de a),
tem-se, para cada 4 − N , +4 .Ð\4 Ñ Ÿ ,4 .Ð\4 Ñ, visto que ambos os membros
são !, se \4 œ g, e, caso contrário, +4 Ÿ ,4 , e daqui deduzimos que

( 0 . . œ " +4 .Ð\4 Ñ Ÿ " ,4 .Ð\4 Ñ œ ( 1 . ..


4−N 4−N

Por outro lado, uma vez que 0  1 e +0 são funções que em cada \4 tomam
os valores constantes +4  ,4 e ++4 , respetivamente, vemos que estas funções
são simples e que

( 0  1 . . œ " Ð+4  ,4 Ñ.Ð\4 Ñ œ


4−N

œ " +4 .Ð\4 Ñ  " ,4 .Ð\4 Ñ œ ( 0 . .  ( 1 . .,


4−N 4−N

( +0 . . œ " Ð++4 Ñ.Ð\4 Ñ œ +" +4 .Ð\4 Ñ œ +( 0 . .. 


4−N 4−N

Vamos agora estender a definição do integral das funções simples para as


funções mensuráveis. De facto, para a definição que apresentamos em
seguida, e para o primeiro resultado que provaremos, poderíamos traba-
lhar igualmente com funções não necessariamente mensuráveis, mas não
ganharíamos muito com isso, uma vez que há propriedades fundamentais,
que encontraremos mais adiante, que só no quadro das funções mensurá-
veis se conseguem provar (é o que acontece, por exemplo, com a aditivi-
dade, que será provada em II.1.20).

II.1.15 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 À \ Ä ‘ uma aplicação


mensurável. Define-se então o integral de 0 como sendo o elemento de ‘
§1. Integração de funções positivas 75

que é supremo do conjunto dos integrais ' 2 . ., com 2À \ Ä ‘ função


simples, verificando 2ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ, para cada B − \ (uma dessas funções 2 é
a função identicamente nula, !). O integral de 0 será notado, como antes,

( 0 . . œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ,

ou ainda, quando se considerar importante explicitar qual o domínio da


função,

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.
\

Repare-se que, tendo em conta a propriedade de monotonia do integral na


alínea a) de II.1.14, no caso em que 0 é uma função simples, este integral
coincide com o definido em II.1.10, uma vez que o supremo referido é, nesse
caso, um máximo, atingido precisamente para 2 œ 0 .
No caso em que \ œ ‘, ` é a 5 -álgebra dos borelianos e . é a medida de
Lebesgue, é comum omitir a referência explícita a . e escrever

( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B,


em vez de ' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


II.1.16 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida. Tem-se então:
a) Para a função mensurável !À \ Ä ‘ , vem

( ! . .ÐBÑ œ !

e, no caso em que .Ð\Ñ œ ! (ou, o que é equivalente, . œ !), tem-se

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !,

para cada função mensurável 0 À \ Ä ‘ ;


b) Se 0 ß 1À \ Ä ‘ são duas funções mensuráveis tais que 0 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ,
para cada B − \ , então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ;

c) Se 0 À \ Ä ‘ é uma função mensurável e + − ‘ , então

( +0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ +( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.

Dem: A primeira conclusão de a) resulta de que ! é uma função simples de


integral igual a ! e de que o integral das funções mensuráveis estende o das
funções simples e a segunda resulta de que, como já referimos, no caso em
76 Cap. II. O integral

que .Ð\Ñ œ !, todas as funções simples têm integral igual a !. A conclusão


de b) decorre diretamente da definição dos integrais como supremos, uma
vez que, se 0 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ, para cada B − \ , então toda a função simples
2À \ Ä ‘ que verifica 2ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ, para cada B − \ , verifica também
2ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ, para cada B − \ . Reparando que, no caso em que + œ !, c) é
uma consequência de a), provemos então c), no caso em que + Á !. Seja
2À \ Ä ‘ uma função simples tal que 2ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ, para cada B − \ .
Tem-se então que +2À \ Ä ‘ é uma função simples tal que
+2ÐBÑ Ÿ +0 ÐBÑ, para cada B − \ , de onde deduzimos que

( 2ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( +2ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( +0 ÐBÑ . .ÐBÑ,


" "
+ +
o que implica, tendo em conta a definição de ' 0 .. como um supremo, que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( +0 ÐBÑ . .ÐBÑ,


"
+
e portanto

+( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( +0 ÐBÑ . .ÐBÑ.

Para justificar a desigualdade oposta, aplicamos o que acabamos de concluir


à função mensurável +0 e ao escalar +" e deduzimos que

( +0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ + ‚ ‚ ( +0 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ


"
+
Ÿ +( +0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ +( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.
"

+

Ficou a faltar-nos a aditividade do integral das funções mensuráveis, isto


é, o análogo para estas da conclusão da alínea b) de II.1.14. Apesar de
essa propriedade ser válida, só a conseguiremos provar mais tarde, depois
de obter resultados de aparência menos elementar (cf. II.1.20, adiante).
Apresentamos em seguida um lema, sobre a integração de funções simples
em subconjuntos mensuráveis do domínio, que será mais tarde genera-
lizado para as funções mensuráveis. Esse lema vai ser um instrumento
importante para a prova do primeiro resultado profundo sobre o integral, o
teorema da convergência monótona.

II.1.17 (Lema) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 2À \ Ä ‘ uma


função simples. Para cada E − `, podemos então considerar o espaço de
medida restrição ÐEß `ÎE ß .ÎE Ñ (cf. I.2.13) e são ainda simples as funções
2ÎE À E Ä ‘ e 2 ‚ ˆE À \ Ä ‘ . Fica então definida uma nova medida
.Ð2Ñ À ` Ä ‘ , com
§1. Integração de funções positivas 77

.Ð2Ñ ÐEÑ œ ( 2ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ ( 2ÐBшE ÐBÑ . .ÐBÑ.

Dem: Seja Ð\4 Ñ4−N uma família finita de conjuntos mensuráveis, disjuntos
dois a dois e de união \ e Ð+4 Ñ4−N uma família de elementos de ‘ , tais que,
para cada B − \4 , 2ÐBÑ œ +4 . Tem-se então que E é a união dos conjuntos
mensuráveis, disjuntos dois a dois, E  \4 , onde 2ÎE toma o valor constante
+4 e \ também é a união da família dos conjuntos mensuráveis disjuntos dois
a dois \ Ï E e E  \4 , onde 2 ‚ ˆE toma os valores constantes ! e +4 , o que
mostra que as funções 2ÎE À E Ä ‘ e 2 ‚ ˆE À \ Ä ‘ são simples e que

( 2ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ " +4 .ÐE  \4 Ñ œ

œ ! ‚ .Ð\ Ï EÑ  " +4 .ÐE  \4 Ñ œ


4−N

(1)
4−N

œ ( 2ÐBшE ÐBÑ . .ÐBÑ.

Em particular, podemos definir .Ð2Ñ ÐEÑ indiferentemente pelas duas igual-


dades no enunciado, assim como pelo segundo membro de (1). Tem-se
.Ð2Ñ ÐgÑ œ "+4 .Ðg  \4 Ñ œ !.
4−N

dois a dois e com E œ - E5 . Tem-se então que, para cada 4 − N , E  \4 é


Seja agora ÐE5 Ñ5−O uma família contável de conjuntos mensuráveis disjuntos

5−O
a união da família contável de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois
E5  \4 e portanto, tendo em conta a fórmula para .Ð2Ñ ÐEÑ obtida acima e a
propriedade de Fubini para as somas em I.1.12,
.Ð2Ñ ÐEÑ œ " +4 .ÐE  \4 Ñ œ " +4 ˆ".ÐE5  \4 щ œ

œ " ˆ"+4 .ÐE5  \4 щ œ " ˆ"+4 .ÐE5  \4 щ œ


4−N 4−N 5−O

œ ".Ð2Ñ ÐE5 Ñ,
4−N 5−O 5−O 4−N

5−O

o que mostra que .Ð2Ñ é efetivamente uma medida na 5 -álgebra `Þ 


II.1.18 (Teorema da convergência monótona) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de
medida e Ð08 Ñ8− uma sucessão de funções mensuráveis 08 À \ Ä ‘ , que é
crescente, isto é, com 08 ÐBÑ Ÿ 08" ÐBÑ, para cada B − \ . Podemos então
considerar uma função mensurável 0 À \ Ä ‘ , definida por 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ,
para cada B − \ , e tem-se
78 Cap. II. O integral

( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ Ä ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.

Dem: Para cada B − \ , o facto de a sucessão dos 08 ÐBÑ ser crescente implica
que ela converge em ‘ para o supremo dos seus termos, que é, por
definição 0 ÐBÑ. O facto de 0 À \ Ä ‘ ser mensurável é uma consequência
de II.1.5, ou, alternativamente, de II.1.4. Seja, para cada 8 − ,

j8 œ ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ − ‘

e reparemos que, tendo em conta a alínea b) de II.1.16, tem-se j8 Ÿ j8" ,


para cada 8, e portanto, sendo j o supremo do conjunto dos j8 , j8 Ä j em
‘ . O que temos que provar é que se tem

j œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ

e, nesse sentido, reparamos, desde já, que, uma vez que, para cada 8 − ,
08 ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ, para cada B − \ , vem

j8 œ ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ,

o que, por j ser o supremo dos j8 , implica que

j Ÿ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.

Resta-nos assim provar que se tem também

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ j

e, tendo em conta a definição do integral no primeiro membro como um


supremo, bastará, para isso, provar que, sendo 2À \ Ä ‘ uma função
simples arbitrária, tal que 2ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ, para cada B − \ , tem-se

( 2ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ j.

Suponhamos, por absurdo, que isso não acontecia, isto é, que

(1) j  ( 2ÐBÑ . .ÐBÑ.

Fixemos !  3  " tal que se tenha ainda

(2) j  3( 2ÐBÑ . .ÐBÑ


§1. Integração de funções positivas 79

tomar jÎ' 2. .  3  "). Para cada 8 − , notemos


(se o segundo membro de (1) é _, qualquer 3 serve; caso contrário, basta

\8 œ ÖB − \ ± 32ÐBÑ Ÿ 08 ÐBÑ×,
conjunto que é mensurável por II.1.3.42 O facto de a sucessão dos 08 ÐBÑ ser

tem-se - \8 œ \ , uma vez que, para cada B − \ , ou 2ÐBÑ œ !, e então


crescente, para cada B − \ , implica que, para cada 8 − , \8 § \8" e

8−
B − \8 para todo o 8 − , ou 2ÐBÑ  ! e então 32ÐBÑ  2ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ,
donde, por 0 ÐBÑ ser o supremo dos 08 ÐBÑ, 32ÐBÑ  08 ÐBÑ, para algum
8 − , para o qual se tem portanto B − \8 . Consideremos agora a medida
.Ð32Ñ associada à função simples 32À \ Ä ‘ (cf. II.1.17). O facto de, para
cada 8 −  e B − \ , se ter 32ÐBш\8 ÐBÑ Ÿ 08 ÐBÑ (se B  \8 , o primeiro
membro é ! e, se B − \8 , o primeiro membro é 32ÐBÑ) implica que

.Ð32Ñ Ð\8 Ñ œ ( 32ÐBш\8 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ œ j8 Ÿ j

e portanto, tendo em conta a propriedade das medidas na alínea 5) de I.2.12,

3( 2ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 32ÐBÑ . .ÐBÑ œ .Ð32Ñ Ð\Ñ œ lim .Ð32Ñ Ð\8 Ñ Ÿ j,

o que é o absurdo procurado, por contradizer (2). 

O resultado precedente, para além de muitas outras aplicações, permite


estender, em muitos casos, propriedades conhecidas para as funções
simples às funções mensuráveis uma vez que, como veremos em seguida,
toda a função mensurável é limite de uma sucessão crescente de funções
simples.

II.1.19 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e 0 À \ Ä ‘ uma função


mensurável. Existe então uma sucessão crescente Ð08 Ñ8− de funções simples
08 À \ Ä ‘ tal que, para cada B − \ , 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
1) Notemos
\_ œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ œ _×,
que é um subconjunto mensurável de \ , e, para cada 8ß : − ,
:" :
\8ß: œ ÖB − \ ± Ÿ 0 ÐBÑ  8 ×,
#8 #
que é também um subconjunto mensurável de \ , e reparemos que, para cada

42Este é o primeiro ponto onde intervém, de modo essencial, o facto de estarmos a consi-
derar funções mensuráveis.
80 Cap. II. O integral

8 − , os conjuntos \8ß: , : − , são disjuntos dois a dois e de união


\ Ï \_ .
2) Para cada 8 − , seja 18 À \ Ä ‘ a função definida por

18 ÐBÑ œ œ
:"
#8 , se B − \8ß: ,
_, se B − \_ ,.
função que é mensurável por ter restrição constante, em particular mensu-
rável, a cada um dos conjuntos mensuráveis \_ e \8ß: , : − , de união \
(cf. I.5.6).43
3) Vamos agora verificar que, para cada B − \ , a sucessão Ð18 ÐBÑÑ8− é
crescente e com 18 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ.
Subdem: Se B − \_ , isto é, se 0 ÐBÑ œ _, isso resulta de se ter
18 ÐBÑ œ _, para todo o B. Caso contrário, tem-se 0 ÐBÑ  _ e a
afirmação resulta de que, como veremos, para cada 8 − , 18 ÐBÑ Ÿ 18" ÐBÑ
e
"
(1) 0 ÐBÑ   18 ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ.
#8
Ora, sendo : −  tal que B − \8ß: , vem
:" :
(2) 8
Ÿ 0 ÐBÑ  8 ,
# #
isto é,
"
18 ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ  18 ÐBÑ  ,
#8
condições equivalentes a (1), e, por outro lado, escrevendo (2) na forma
#:  # #:
8"
Ÿ 0 ÐBÑ  8" ,
# #
vemos que, ou
#:  # #:  "
8"
Ÿ 0 ÐBÑ  8" ,
# #
ou
#:  " #:
8"
Ÿ 0 ÐBÑ  8" ,
# #
tendo-se, no primeiro caso, B − \8"ß#:" e portanto 18" ÐBÑ œ #:#
#8" e, no
#:"
segundo caso, B − \8"ß#: e portanto 18" ÐBÑ œ #8" , em ambos os casos,

43Asfunções 18 não serão, em geral, simples, uma vez que podem tomar o valor _ e
um número infinito de valores reais (embora discreto).
§1. Integração de funções positivas 81

:" #:  #
18 ÐBÑ œ œ 8" Ÿ 18" ÐBÑ.
#8 #
4) Seja, para cada 8 − , 08 À \ Ä ‘ a função mensurável definida por
08 ÐBÑ œ minÖ18 ÐBÑß 8×
(cf. II.1.4), função que é simples, por tomar apenas um número finito de
valores, nomeadamente os da forma #:8 , com : − ™ e ! Ÿ : Ÿ #8 ‚ 8 (na
figura a seguir, representamos, para os primeiros valores de 8, os valores
possíveis para 08 ÐBÑ).

Estas funções simples verificam, para cada B − \ , as condições do enuncia-


do, nomeadamente 08 ÐBÑ Ÿ 08" ÐBÑ e 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ.
Subdem: De se ter
08 ÐBÑ Ÿ 18 ÐBÑ Ÿ 18" ÐBÑ,
08 ÐBÑ Ÿ 8 Ÿ 8  ",

concluímos que
08 ÐBÑ Ÿ minÖ18" ÐBÑß 8  "× œ 08" ÐBÑ.
Se B − \_ , tem-se 0 ÐBÑ œ _ e 18 ÐBÑ œ _, pelo que 08 ÐBÑ œ 8, o que
implica que 08 ÐBÑ Ä _ œ 0 ÐBÑ. Se B  \_ , tem-se 0 ÐBÑ  _ e,
escolhendo 8! −  tal que 8!   0 ÐBÑ, tem-se, para cada 8   8! ,
18 ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ Ÿ 8, donde
08 ÐBÑ œ minÖ18 ÐBÑß 8× œ 18 ÐBÑ,
pelo que, por ser 18 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, tem-se também 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ. 
II.1.20 (Aditividade) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 ß 1À \ Ä ‘
duas aplicações mensuráveis. Tem-se então

( 0 ÐBÑ  1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ.

Dem: Tendo em conta II.1.19, podemos considerar duas sucessões crescentes


de funções simples 08 ß 18 À \ Ä ‘ tais que, para cada B − \ ,
08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ e 18 ÐBÑ Ä 1ÐBÑ. Ficamos então com uma sucessão crescente
de funções simples 08  18 À \ Ä ‘ , para a qual se tem, para cada B − \ ,
82 Cap. II. O integral

08 ÐBÑ  18 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ  1ÐBÑ. Tendo em conta o teorema da convergência


monótona (II.1.18) e a conclusão da alínea b) de II.1.14, concluímos então
que

( 08 ÐBÑ  18 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 18 ÐBÑ . .ÐBÑ

tem, por um lado, limite ' 0 ÐBÑ  1ÐBÑ . .ÐBÑ e, por outro lado, limite
' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ' 1ÐBÑ . .ÐBÑ, o que implica que

( 0 ÐBÑ  1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ. 

II.1.21 (Aditividade contável) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e Ð04 Ñ4−N

rável a função ! 04 À \ Ä ‘ , definida por ˆ! 04 ‰ÐBÑ œ ! 04 ÐBÑ, e tem-se


uma família contável de funções mensuráveis 04 À \ Ä ‘ . É então mensu-

4−N 4−N 4−N

( " 04 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ.


4−N 4−N

Dem: O caso em que o conjunto N é finito resulta de II.1.20, por indução no


número de elementos de N , tendo em conta o facto de o integral da função
identicamente ! ser igual a !. Para provarmos o caso numerável, basta, por

nesse caso, sabemos, por I.1.8, que se tem ˆ! 04 ‰ÐBÑ œ lim W8 ÐBÑ, onde
uma mudança do conjunto de índices, examinar o caso em que N œ . Ora,

W8 ÐBÑ œ ! 04 ÐBÑ, e portanto os W8 ÐBÑ constituem uma sucessão crescente.


4−
8

4œ"
Uma vez que, pelo caso finito, os W8 À \ Ä ‘ são funções mensuráveis,
com

( W8 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ,


8

4œ"

deduzimos do teorema da convergência monótona II.1.18, tendo mais uma


vez em conta I.1.8, que

( " 04 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim ( W8 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ œ
8

4− 4œ"

œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ. 


4−

II.1.22 (Medida definida por uma função mensurável). Sejam Ð\ß `ß .Ñ um


espaço de medida e 0 À \ Ä ‘ uma função mensurável. Para cada E − `,
podemos então considerar o espaço de medida restrição ÐEß `ÎE ß .ÎE Ñ (cf.
§1. Integração de funções positivas 83

I.2.13) e fica definida uma nova medida .Ð0 Ñ À ` Ä ‘ , com

.Ð0 Ñ ÐEÑ œ ( 0ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ ( 0 ÐBшE ÐBÑ . .ÐBÑ,

a que damos o nome de medida associada à função mensurável 0 .


Tem-se, além disso, .Ð0 Ñ ÐEÑ œ !, para cada E − ` tal que .ÐEÑ œ !.
Dem: Lembremos que a conclusão é já conhecida no caso em que 0 é uma
função simples (cf. o lema II.1.17). Supondo agora que 0 À \ Ä ‘ é uma
função mensurável, podemos considerar, por II.1.19, uma sucessão crescente
de funções simples 08 À \ Ä ‘ tal que 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, para cada B − \ .
Para cada E − `, temos então sucessões crescentes de funções simples
08 ‚ ˆE À \ Ä ‘ e 08 ÎE À E Ä ‘ , com 08 ÐBшE ÐBÑ Ä 0 ÐBшE ÐBÑ, para
cada B − \ e 08 ÎE ÐBÑ Ä 0ÎE ÐBÑ, para cada B − E, e portanto, tendo em
conta o caso já conhecido e o teorema da convergência monótona,

( 0ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ lim ( 08 ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ

œ lim ( 08 ÐBшE ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBшE ÐBÑ . .ÐBÑ.

Podemos agora definir uma aplicação .Ð0 Ñ À ` Ä ‘ por qualquer das duas

' ! . .ÐBÑ œ ! e que, se ÐE4 Ñ4−N é uma família contável de conjuntos


caracterizações no enunciado e, utilizando a segunda, vemos que .Ð0 Ñ ÐgÑ œ

mensuráveis disjuntos dois a dois, com E œ - E4 , o facto de se ter

ˆE ÐBÑ œ ! ˆE4 ÐBÑ, para cada B − \ , implica, por II.1.21, que


4−N

4−N

.Ð0 Ñ ÐEÑ œ ( 0 ÐBшE ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 0 ÐBшE4 ÐBÑ . .ÐBÑ œ

œ " .Ð0 Ñ ÐE4 Ñ,


4−N

4−N

o que mostra que temos efetivamente uma medida .Ð0 Ñ na 5 -álgebra `Þ O


facto de se ter .Ð0 Ñ ÐEÑ œ !, sempre que .ÐEÑ œ !, é uma consequência da
primeira caracterização de .Ð0 Ñ ÐEÑ, tendo em conta o referido na alínea a) de
II.1.16. 
II.1.23 (Nota) Em geral, sempre que Ð\ß `ß .Ñ é um espaço de medida e
E − `, usa-se a notação

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ
E

para significar ' 0ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ, sempre que 0 é uma função definida numa
parte de \ contendo E, cuja restrição a E seja mensurável. No caso em que
84 Cap. II. O integral

\ œ ‘ e . é a medida de Lebesgue nos borelianos de ‘, escreve-se também


simplesmente

( 0 ÐBÑ .B.
E

Com esta notação, a primeira caracterização de .Ð0 Ñ ÐEÑ em II.1.22 pode


também ser escrita na forma

.Ð0 Ñ ÐEÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


E

II.1.24 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, 0 À \ Ä ‘ uma


função mensurável e ] § \ um conjunto mensurável, com .Ð] Ñ œ !.
Tem-se então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \Ï]

Dem: Uma vez que se tem também .Ð0 Ñ Ð] Ñ œ !, vem

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ .Ð0 Ñ Ð\Ñ œ .Ð0 Ñ Ð\ Ï ] Ñ  .Ð0 Ñ Ð] Ñ œ


\

œ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ. 
\Ï]

O corolário anterior é um primeiro exemplo do papel especial que os


conjuntos de medida nula jogam no contexto do integral das funções
mensuráveis com valores em ‘ . Outros exemplos vão aparecer como
corolário do resultado que enunciamos a seguir e que, só aparentemente,
constitui uma trivialidade sem interesse.

II.1.25 (Complemento da alínea c) de II.1.16) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de


medida e 0 À \ Ä ‘ uma função mensurável. Tem-se então

( Ð_Ñ ‚ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ Ð_Ñ ‚ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.

Dem: Começamos por reparar que, para cada B − \ , a sucessão Ð80 ÐBÑÑ8−
de elementos de ‘ é crescente e tem limite Ð_Ñ ‚ 0 ÐBÑ.44 Podemos então

44Isto,apesar de a multiplicação, como aplicação ‘ ‚ ‘ Ä ‘ , não ser contínua em


todos os pontos. A validade desta conclusão, no caso em que 0 ÐBÑ œ !, é consequência
da convenção, que estamos a fazer desde o início, Ð_Ñ ‚ ! œ !.
§1. Integração de funções positivas 85

aplicar o teorema da convergência monótona, II.1.18, para obter

( Ð_Ñ ‚ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim ( 80 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim 8( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ

œ Ð_Ñ ‚ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ. 

II.1.26 (Corolário) Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida com .Ð\Ñ Á !.


Tem-se então

( _ . .ÐBÑ œ _. 45
\

Dem: Uma vez que a função constante " é simples e com

( " . .ÐBÑ œ .Ð\Ñ  !,


\

deduzimos que

( _ . .ÐBÑ œ ( Ð_Ñ ‚ " . .ÐBÑ œ Ð_Ñ ‚ .Ð\Ñ œ _. 


\ \

II.1.27 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida com .Ð\Ñ Á ! e


0 À \ Ä ‘ uma aplicação mensurável tal que 0 ÐBÑ  !, para cada B − \ .
Tem-se então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  !.
\

Dem: Uma vez que Ð_Ñ ‚ 0 ÐBÑ œ _, para cada B − \ , podemos ter em
conta o corolário precedente para deduzir que

Ð_Ñ ‚ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( Ð_Ñ ‚ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ

œ ( _ . .ÐBÑ œ _,
\

portanto ' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  !. 


II.1.28 Em geral, no contexto de um espaço de medida Ð\ß `ß .Ñ, diz-se que
uma propriedade relativa aos pontos B − \ é verdadeira quase sempre (ou
verdadeira em quase todos os pontos de \ )46 se existir ] − `, com

45É claro que, se .Ð\Ñ œ !, ointegral referido é ! (cf. a alínea a) de II.1.16).


46Em inglês e francês usa-se, respetivamente, “almost everywhere” e “presque partout”,
com as abreviaturas “a. e.” e “p. p.”Þ É frequente utilizar-se em português a expressão
“verdadeira em quase toda a parte”, abreviadamente “verdadeira q. t. p.” mas essa
expressão parece-nos ser demasiado longa.
86 Cap. II. O integral

.Ð] Ñ œ !, tal que a propriedade seja verdadeira para cada B − \ Ï ] .


É claro que, se uma propriedade é verdadeira para todo o B − \ , então ela é
também verdadeira quase sempre, visto que se pode considerar para ] o
conjunto vazio g. É também claro que, se uma propriedade é verdadeira
quase sempre e for falsa para todo o B num certo conjunto mensurável ] w ,
então .Ð] w Ñ œ ! (relativamente à caracterização na definição, tem que ser
] w § ] ). Em particular, se o conjunto ] w dos pontos em que a propriedade é
falsa for mensurável, a propriedade é verdadeira quase sempre se, e só se,
.Ð] w Ñ œ !.
Um facto importante, que será aplicado muitas vezes, é que, se duas
propriedades são verdadeiras quase sempre, então a sua conjunção é também
verdadeira quase sempre, uma vez que, sendo ] ß ] w − `, com .Ð] Ñ œ ! e
.Ð] w Ñ œ ! tais que a primeira propriedade seja verdadeira para cada
B − \ Ï ] e a segunda seja verdadeira para cada B − \ Ï ] w , então
]  ] w − ` verifica ainda .Ð]  ] w Ñ œ ! e as duas propriedades são
simultaneamente verdadeiras para cada B − \ Ï Ð]  ] w Ñ.
II.1.29 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 À \ Ä ‘ uma
função mensurável tal que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  _.

Tem-se então 0 ÐBÑ  _ quase sempre, isto é, existe ] − `, com


.Ð] Ñ œ !, tal que 0 ÐBÑ  _, para cada B − \ Ï ] .47
Dem: Sendo ] − ` o conjunto dos B − \ tais que 0 ÐBÑ œ _, tem-se

( Ð_Ñ . .ÐBÑ œ .Ð0 Ñ Ð] Ñ Ÿ .0 Ð\Ñ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  _,


] \

donde, pelo corolário II.1.26ß .Ð] Ñ œ !. 


II.1.30 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 À \ Ä ‘ uma
função mensurável. Tem-se então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !

se, e só se, 0 ÐBÑ œ ! quase sempre, isto é, se, e só se, existe ] − `, com
.Ð] Ñ œ !, tal que 0 ÐBÑ œ !, para cada B − \ Ï ] .
Dem: Suponhamos que existe ] − `, com .Ð] Ñ œ !, tal que 0 ÐBÑ œ !,
para cada B − \ Ï ] . Tendo em conta a alínea a) de II.1.16 e II.1.24, vem
então

47Pelo contrário, de se ter 0 ÐBÑ  _ quase sempre, não se pode deduzir que ' 0 . .
seja finito; basta pensar, por exemplo, numa função de valor constante " num espaço de
medida _.
§1. Integração de funções positivas 87

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !.


\ \Ï]

Suponhamos, reciprocamente, que ' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ! e seja ] − ` o


conjunto dos B − \ tais que 0 ÐBÑ  !. Tem-se então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ .0 Ð] Ñ Ÿ .Ð0 Ñ Ð\Ñ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !


] \

e portanto, tendo em conta o corolário II.1.27, tem que ser .Ð] Ñ œ !. 


II.1.31 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 ß 1À \ Ä ‘
duas aplicações mensuráveis tais que 0 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ quase sempre. Então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \

Em particular, se 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre, então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ. 48


\ \

Dem: Tendo em conta II.1.24, sendo ] − ` com .Ð] Ñ œ ! tal que, para
cada B − \ Ï ] , 0 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ, vem

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ


\ \Ï] \Ï]

œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ. 
\

O resultado que examinamos em seguida, identifica as somas de elemen-


tos de ‘ como integrais para a medida de contagem, e é utilizado com
frequência para aplicar às somas resultados estudados para os integrais.

II.1.32 (O integral para a medida de contagem) Sejam \ um conjunto e


consideremos a 5 -álgebra cÐ\Ñ de todas as partes de \ e a medida de
contagem / À c Ð\Ñ Ä ‘ (cf. I.2.15). Para cada função 0 À \ Ä ‘ , tem-se
então que 0 é mensurável e

( 0 ÐBÑ . / ÐBÑ œ " 0 ÐBÑ.


\ B−\

48Pelo contrário, do facto de duas funções mensuráveis terem o mesmo integral não se
pode inferir que elas tenham que ser iguais quase sempre. Ver, no entanto, o exercício
II.1.15, no fim do capítulo.
88 Cap. II. O integral

Em particular, lembrando I.1.15, se '\ 0 ÐBÑ . / ÐBÑ  _, então existe um


conjunto contável ] § \ tal que 0 ÐBÑ œ !, para cada B − \ Ï ] .
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
1) O facto de 0 ser mensurável é uma consequência direta do facto de a 5 -ál-
gebra considerada ser a de todas as partes de \ .
2) Vamos mostrar que a igualdade do enunciado é verdadeira, no caso em
que 0 À \ Ä ‘ é uma função simples.
Subdem: Seja Ð\3 Ñ3−M uma família finita de subconjuntos de \ ,
disjuntos dois a dois e de união \ tal que 0 ÐBÑ tome o valor constante +3
para B − \3 . Tem-se então, lembrando a propriedade associativa das somas,

( 0 ÐBÑ . / ÐBÑ œ " +3 / Ð\3 Ñ œ " +3 ˆ" "‰ œ " ˆ" +3 ‚ "‰ œ

œ " ˆ" 0 ÐBщ œ " 0 ÐBÑ.


\ 3−M 3−M B−\3 3−M B−\3

3−M B−\3 B−\

3) Vamos mostrar que

" 0 ÐBÑ Ÿ ( 0 ÐBÑ . / ÐBÑ.


B−\ \

Subdem: Comecemos por notar que, se existe B − \ tal que


0 ÐBÑ œ _, a desigualdade é verdadeira, por o segundo membro ser _
(cf. II.1.29, tendo em conta o facto de, para a medida de contagem, /ÐEÑ œ !
implicar que E œ g49). Suponhamos então que 0 ÐBÑ  _, para todo o
B − \.
Seja E § \ um subconjunto finito arbitrário. Tem-se então que a função
0 ‚ ˆE é uma função simples, com uma partição adaptada constituída pelos
conjuntos unitários ÖB×, com B − E, onde ela toma o valor 0 ÐBÑ, e pelo
conjunto \ Ï E, onde ela toma o valor !. Uma vez que 0 ÐBшE ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ,
para cada B − \ , vem então
" 0 ÐBÑ œ ! ‚ / Ð\ Ï EÑ  " 0 ÐBÑ/ ÐÖB×Ñ œ
B−E B−E

œ ( 0 ÐBшE ÐBÑ . / ÐBÑ Ÿ ( 0 ÐBÑ . / ÐBÑ.


\ \

Tendo em conta a definição de ! 0 ÐBÑ como supremo de todas as somas


B−\
parciais finitas, concluímos assim a desigualdade enunciada.
4) Vamos verificar, enfim, a desigualdade oposta

( 0 ÐBÑ . / ÐBÑ Ÿ " 0 ÐBÑ,


\ B−\

49Portanto, o que acontece quase sempre, acontece, de facto, sempre.


§1. Integração de funções positivas 89

o que terminará a demonstração.


Subdem: Seja 1À \ Ä ‘ uma função simples arbitrária, com
1ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ, para cada B − \ . Tendo em conta o que vimos em 2), tem-se
então

( 1ÐBÑ . / ÐBÑ œ " 1ÐBÑ Ÿ " 0 ÐBÑ,


\ B−\ B−\

o que, tendo em conta a definição do integral de uma função mensurável


como supremo de integrais de funções simples, implica a desigualdade enun-
ciada. 

Vamos estudar agora outro resultado importante, que envolve o integral


de um limite de funções mensuráveis, o teorema da convergência domi-
nada, começando por uma versão do chamado Lema de Fatou que, apesar
de menos geral que a habitual, não faz apelo à noção de limite inferior de
uma sucessão em ‘ e é suficiente para as aplicações que faremos.

II.1.33 (Lema de Fatou) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e Ð08 Ñ8− uma
sucessão de funções mensuráveis 08 À \ Ä ‘ tais que 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, para
cada B − \ .50 Tem-se então, para a função mensurável 0 À \ Ä ‘ assim
definida, que, qualquer que seja

j  ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ,

existe 8! −  tal que, para todo o 8   8! ß

j  ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ. 51

Dem: Para cada 8 − , seja 18 À \ Ä ‘ a função mensurável definida por


18 ÐBÑ œ inf 0: ÐBÑ
: 8

(cf. II.1.4) e lembremos que, como se referiu em II.1.5, 0 À \ Ä ‘ é


mensurável e 0 ÐBÑ œ sup 18 ÐBÑ. Uma vez que, para cada B − \ , a sucessão
8−
dos 18 ÐBÑ é evidentemente crescente, tem-se também 18 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ donde,

50Comparando com o teorema da convergência monótona, reparar que aqui não exigimos
que a sucessão seja crescente mas, em compensação, a conclusão é mais fraca.
51Na versão mais forte do Lema de Fatou, não se exige que a sucessão dos 0 ÐBÑ tenha
8
limite, e toma-se para 0 ÐBÑ o sublimite mínimo lim inf 08 ÐBÑ. A conclusão costuma então
ser enunciada na forma equivalente

( lim inf 08 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ lim inf ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ.


90 Cap. II. O integral

pelo teorema da convergência monótona,

( 18 ÐBÑ . .ÐBÑ Ä ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.

Sendo j  ' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ arbitrário, existe assim 8! tal que, para cada
8   8! , j  ' 18 ÐBÑ . .ÐBÑ e então o facto de se ter, para cada B,
18 ÐBÑ Ÿ 08 ÐBÑ, portanto ' 18 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ' 08 ÐBÑ . .ÐBÑ implica que se tem
também j  ' 08 ÐBÑ . .ÐBÑ. 
II.1.34 (Teorema da convergência dominada) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de
medida e Ð08 Ñ8− uma sucessão de funções mensuráveis 08 À \ Ä ‘ tais
que 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, para cada B − \ e que exista uma aplicação mensurável
1À \ Ä ‘ , com

( 1ÐBÑ . .ÐBÑ  _
\

e 08 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ, para cada 8 −  e B − \ .52 Tem-se então, para a função


mensurável 0 À \ Ä ‘ assim definida,

( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ Ä ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \

Dem: Comecemos por notar que, de se ter 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, com


08 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ, concluímos que se tem também 0 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ.
Vamos começar por demonstrar o resultado com a hipótese suplementar de
se ter 1ÐBÑ  _, para todo o B − \ . A função 1, e portanto também as
funções 08 e 0 tomam assim valores em ‘ . Tendo em conta a alínea b) de
II.1.1, podemos considerar as funções mensuráveis 1  08 À \ Ä ‘ e
1  0 À \ Ä ‘ , para as quais se tem 1ÐBÑ  08 ÐBÑ Ä 1ÐBÑ  0 ÐBÑ, para
cada B − \ . De se ter, para cada B − \ , 1ÐBÑ œ Ð1ÐBÑ  0 ÐBÑÑ  0 ÐBÑ e
1ÐBÑ œ Ð1ÐBÑ  08 ÐBÑÑ  08 ÐBÑ, deduzimos que

( 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 1ÐBÑ  0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ,


\ \ \

( 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 1ÐBÑ  08 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ,


(1)

\ \ \

em particular os integrais que aparecem nos segundos membros também são


finitos. Seja $  ! arbitrário. Aplicando o lema de Fatou, II.1.33, às suces-
sões de funções mensuráveis 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ e 1ÐBÑ  08 ÐBÑ Ä 1ÐBÑ  0 ÐBÑ,

52Pensamos na função 1 como estando a dominar as funções 08 . Repare-se que, com-


parando com o teorema da convergência monótona (II.1.18), cuja conclusão é análoga,
deixámos de pedir que a sucessão dos 08 seja crescente mas, para o compensar, tivémos
que exigir a condição de dominação, que, aliás, não é necessariamente verificada no caso
da convergência monótona.
§1. Integração de funções positivas 91

e escolhendo já a maior das duas ordens envolvidas, vemos que existe


8! −  tal que, para cada 8   8! ,

( 0 8 . .  ˆ( 0 . . ‰  $ ,

( 1  0 8 . .  ˆ( 1  0 . . ‰  $ ,

em que a segunda desigualdade, tendo em conta (1) pode ser escrita nas
formas equivalentes

ˆ( 1 . . ‰  ˆ ( 0 8 . . ‰  ˆ ( 1 . . ‰  ˆ ( 0 . . ‰  $ ,

ˆ( 0 8 . . ‰  ˆ ( 0 . . ‰  $ .

Concluímos assim que, para cada 8   8! ,

ˆ( 0 . . ‰  $  ˆ ( 0 8 . . ‰  ˆ ( 0 . . ‰  $ ,

o que mostra que se tem efetivamente ' 08 . . Ä ' 0 . ..


Abandonemos agora a hipótese suplementar de se ter 1ÐBÑ  _, para cada
B − \ . Reparemos que, pelo corolário II.1.29, existe ] − `, com
.Ð] Ñ œ !, tal que 1ÐBÑ  _, para cada B − \ Ï ] , pelo que, por ser ainda

( 1ÐCÑ . .ÐCÑ œ .Ð1Ñ Ð\ Ï ] Ñ Ÿ .Ð1Ñ Ð\Ñ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ  _,


\Ï] \

podemos aplicar o caso já estudado às restrições de 0 e dos 08 a \ Ï ] para


concluir, tendo em conta II.1.24, que

( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ Ä ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ,


\ \Ï] \Ï] \

que é a conclusão pretendida. 

Vamos agora examinar alguns resultados que estudam o comportamento


do integral quando se altera a medida considerada.

II.1.35 (O integral para a medida .Ð0 Ñ ) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de


medida e 0 À \ Ä ‘ uma função mensurável e consideremos a corres-
pondente medida .Ð0 Ñ À ` Ä ‘ , definida em II.1.22. Para cada aplicação
mensurável 1À \ Ä ‘ , tem-se então

( 1ÐBÑ . .Ð0 Ñ ÐBÑ œ ( 1ÐBÑ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


92 Cap. II. O integral

Dem: No caso em que 1 é a função indicatriz ˆE de um conjunto E − `, a


igualdade do enunciado reduz-se à definição de .Ð0 Ñ :

( ˆE ÐBÑ . .Ð0 Ñ ÐBÑ œ .Ð0 Ñ ÐEÑ œ ( ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ.

Suponhamos agora que 1À \ Ä ‘ é uma função simples e seja Ð\4 Ñ4−N


uma família finita de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois e de união

B − \ , 1ÐBÑ œ ! +4 ˆ\4 ÐBÑ, donde, tendo em conta II.1.21 e a alínea c) de


\ tal que, para cada B − \4 , 1ÐBÑ œ +4 − ‘ . Tem-se então, para cada

4−N
II.1.16,

( 1ÐBÑ . .Ð0 Ñ ÐBÑ œ " +4 ( ˆ\4 ÐBÑ . .Ð0 Ñ ÐBÑ œ


4−N

œ " +4 ( ˆ\4 ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ


4−N

œ ( " +4 ˆ\4 ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 1ÐBÑ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


4−N

Suponhamos enfim que 1À \ Ä ‘ é uma função mensurável arbitrária.


Podemos então considerar uma sucessão crescente de funções simples
18 À \ Ä ‘ tal que, para cada B − \ , 18 ÐBÑ Ä 1ÐBÑ, e portanto 1ÐBÑ é o
supremo dos 18 ÐBÑ. As funções mensuráveis 18 ÐBÑ0 ÐBÑ constituem uma
sucessão crescente de funções com 18 ÐBÑ0 ÐBÑ Ä 1ÐBÑ0 ÐBÑ, visto que, tanto
no caso em que 0 ÐBÑ œ ! como naquele em que 1ÐBÑ œ !, tem-se também
18 ÐBÑ0 ÐBÑ œ !, para todo o 8. Podemos então aplicar o teorema da conver-
gência monótona e o caso particular, já estudado, das funções simples, para
deduzir que

( 1ÐBÑ . .Ð0 Ñ ÐBÑ œ lim ( 18 ÐBÑ . .Ð0 Ñ ÐBÑ œ lim ( 18 ÐBÑ0 ÐBÑ..ÐBÑ œ

œ ( 1ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ. 

II.1.36 (Monotonia relativamente à medida) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço


mensurável e .ß .w À ` Ä ‘ duas medidas tais que, para cada E − `,
.ÐEÑ Ÿ .w ÐEÑ. Para cada aplicação mensurável 0 À \ Ä ‘ , tem-se então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( 0 ÐBÑ . . ÐBÑ.


w
\ \

Dem: Comecemos por examinar o caso em que 0 é uma função simples e


seja Ð\3 Ñ3−M uma família finita de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a
dois e de união \ tal que em cada \3 a função 0 tome o valor constante +3 .
Tem-se então
§1. Integração de funções positivas 93

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " +3 .Ð\3 Ñ Ÿ " +3 . Ð\3 Ñ œ ( 0 ÐBÑ . . ÐBÑ.


w w
\ 3−M 3−M \

No caso geral em que 0 À \ Ä ‘ é mensurável, podemos aplicar


diretamente a definição do integral como um supremo: Para cada função
simples 2À \ Ä ‘ tal que 2ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ, para todo o B − \ , tem-se

( 2ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( 2ÐBÑ . . ÐBÑ Ÿ ( 0 ÐBÑ . . ÐBÑ


w w
\ \ \

e daqui decorre a desigualdade do enunciado. 


II.1.37 (Soma de medidas e produto por uma constante) Sejam Ð\ß `Ñ um
espaço mensurável, .ß .w À ` Ä ‘ duas medidas e + − ‘ , e consideremos
as medidas .  .w À ` Ä ‘ e +.À ` Ä ‘ (cf. I.2.16). Para cada função
mensurável 0 À \ Ä ‘ , tem-se então

( 0 ÐBÑ .Ð.  . ÑÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . . ÐBÑ;


w w
\ \ \

( 0 ÐBÑ .Ð+.ÑÐBÑ œ +( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \

Dem: Comecemos por examinar o caso em que 0 é uma função simples e


seja Ð\3 Ñ3−M uma família finita de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a
dois e de união \ tal que em cada \3 a função 0 tome o valor constante +3 .
Tem-se então

( 0 ÐBÑ .Ð.  . ÑÐBÑ œ " +3 Ð.Ð\3 Ñ  . Ð\3 ÑÑ œ


w w

œ " +3 .Ð\3 Ñ  " +3 .w Ð\3 Ñ œ


\ 3−M

3−M 3−M

œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . .w ÐBÑ


\ \

e, do mesmo modo,

( 0 ÐBÑ .Ð+.ÑÐBÑ œ " +3 +.Ð\3 Ñ œ +" +3 .Ð\3 Ñ œ


\ 3−M 3−M

œ +( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.
\

Passemos agora ao caso geral em que 0 À \ Ä ‘ é uma função mensurável.


Consideramos então uma sucessão crescente de funções simples 08 À \ Ä ‘
com 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, e portanto com 0 ÐBÑ igual ao supremo dos 08 ÐBÑ, para
cada B − \ (cf. II.1.19) e aplicamos o teorema da convergência monótona
(II.1.18) para concluir que
94 Cap. II. O integral

( 0 ÐBÑ .Ð.  . ÑÐBÑ œ lim ( 08 ÐBÑ .Ð.  . ÑÐBÑ œ


w w
\ \

œ lim Š( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 08 ÐBÑ . .w ÐBÑ‹ œ


\ \

œ lim ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ  lim ( 08 ÐBÑ . .w ÐBÑ œ


\ \

œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . .w ÐBÑ


\ \

e, do mesmo modo, reparando que, para cada 8 − , ' 08 . . Ÿ ' 0 . ., donde


' 08 . . œ !, no caso em que ' 0 . . œ !,

( 0 ÐBÑ .Ð+.ÑÐBÑ œ lim ( 08 ÐBÑ .Ð+.ÑÐBÑ œ lim +( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ œ


\ \ \

œ + lim( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ œ +( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ


\ \

(no caso em que + œ ! ou ' 0 . . œ !, tem-se +' 08 . . œ !, para cada 8). 


II.1.38 (Teorema trivial da mudança de variáveis) Sejam Ð\ß `ß .Ñ e
Ð] ß a ß .w Ñ dois espaços de medida e :À \ Ä ] uma aplicação mensurável
compatível com as medidas, isto é, com .Ð:" ÐFÑÑ œ .w ÐFÑ, para cada
F − a (cf. I.5.11). Para cada aplicação mensurável 0 À ] Ä ‘ , tem-se
então, para a aplicação mensurável 0 ‰ :À \ Ä ‘ ,

( 0 ÐCÑ . . ÐCÑ œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ.


w
] \

Dem: Comecemos por examinar o caso em que a função 0 é simples. Seja


então Ð]3 Ñ3−M uma família finita de subconjuntos mensuráveis de ] , disjuntos
dois a dois e de união ] , tais que, para cada C − ]3 , 0 ÐCÑ tenha um valor
constante +3 − ‘ . Tem-se então que os conjuntos :" Ð]3 Ñ − ` são
disjuntos dois a dois e de união \ e a aplicação 0 ‰ : toma o valor constante
+3 em :" Ð]3 Ñ pelo que 0 ‰ : também é uma função simples e, por definição,

( 0 ÐCÑ . . ÐCÑ œ " +3 . Ð]3 Ñ œ " +3 .Ð: Ð]3 ÑÑ œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ.


w w "
] 3−M 3−M \

Passemos agora ao caso geral, em que 0 À ] Ä ‘ é mensurável. Podemos


então considerar uma sucessão crescente de funções simples 08 À ] Ä ‘ ,
com 08 ÐCÑ Ä 0 ÐCÑ, para cada C − ] , e, uma vez que os 08 ‰ :À \ Ä ‘
constituem também uma sucessão crescente de funções simples, com
08 Ð:ÐBÑÑ Ä 0 Ð:ÐBÑÑ, para cada B − \ , obtemos, pelo teorema da
§1. Integração de funções positivas 95

convergência monótona,

( 0 ÐCÑ . . ÐCÑ œ lim ( 08 ÐCÑ . . ÐCÑ œ lim ( 08 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ


w w
] ] \

œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ. 
\

Exercícios

Ex II.1.1 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e Ð08 Ñ8− uma sucessão de


aplicações mensuráveis 08 À \ Ä ‘ . Verificar que são mensuráveis os
seguintes subconjuntos de \ :
a) O conjunto dos B − \ tais que os termos da sucessão 08 ÐBÑ constituam
uma parte limitada de ‘ .
b) O conjunto dos B − \ tais que a sucessão dos 08 ÐBÑ seja crescente.
c) O conjunto dos B − \ tais que 08 ÐBÑ Ä _.
d) Dado + − ‘ , o conjunto dos B − \ tais que 08 ÐBÑ Ä +.
e) O conjunto dos B − \ tais que a sucessão dos 08 ÐBÑ convirja para algum
+ − ‘ . Sugestão: Caracterizar esses pontos B por uma condição do tipo
Cauchy que utiliza a aplicação . no exercício I.5.11.
Ex II.1.2 Apresentar uma demonstração alternativa de II.1.5, que não passe pela
consideração de supremos ou ínfimos de funções mensuráveis, embora utilize
as caracterizações no lema II.1.2. Nomeadamente, mostrar que, se Ð\ß `Ñ é
um espaço mensurável e Ð08 Ñ8− é uma sucessão de funções mensuráveis
08 À \ Ä ‘ tal que 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, para cada B − \ , então a função
0 À \ Ä ‘ assim definida é também mensurável. Sugestão: Dado + − ‘ ,
mostrar que se tem 0 ÐBÑ  + se, e só se, existe : −  tal que, para todo o
8   :, 08 ÐBÑ  +  :" .

Ex II.1.3 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e 0 ß 1À \ Ä ‘ duas aplicações


mensuráveis tais que, para cada B − \ , 0 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ. Mostrar que existe uma
função mensurável 2À \ Ä ‘ (não necessariamente única) tal que, para
cada B − \ , 1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ  2ÐBÑ. Mostrar ainda que, se assim o desejarmos,
podemos construir 2 de modo que, para cada B − \ , 2ÐBÑ œ ! se, e só se,
0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ.
Ex II.1.4 Sejam \ um conjunto e B! − \ um elemento fixado e consideremos
na 5 -álgebra c Ð\Ñ de todas as partes de \ a medida de Dirac .B! (cf.
I.2.15). Para cada função 0 À \ Ä ‘ , automaticamente mensurável,
96 Cap. II. O integral

caracterizar o integral

( 0 ÐBÑ . .B! ÐBÑ.


\

Ex II.1.5 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e .À ` Ä ‘ uma medida.


Lembrar que, como se verificou na alínea 6) de I.2.12, dados conjuntos Eß F
em `, tem-se
.ÐE  FÑ  .ÐE  FÑ œ .ÐEÑ  .ÐFÑ.

a) Obter uma nova justificação da fórmula referida, lembrando que a medida


de um conjunto concide com o integral da respetiva função indicatriz,
reparando na caracterização trivial da função indicatriz de uma intersecção de
dois conjuntos e deduzindo desta, pelas leis de de Morgan, uma caracteri-
zação da função característica da união de dois conjuntos.
b) Utilizar a mesma ideia que em a) para mostrar que, dados três conjuntos
E" ß E# ß E$ em `, tem-se
.ÐE"  E#  E$ Ñ  .ÐE#  E$ Ñ  .ÐE"  E$ Ñ  .ÐE"  E# Ñ œ
œ .ÐE" Ñ  .ÐE# Ñ  .ÐE$ Ñ  .ÐE"  E#  E$ Ñ.

c) Enunciar e justificar uma fórmula no mesmo espírito que a de b), para a


medida .ÐE"  E#  E$  E% Ñ da união de quatro conjuntos de ` e
explicitar, mais geralmente, uma fórmula para a união de 5 conjuntos
mensuráveis.53
Ex II.1.6 Seja \ um conjunto e notemos / a medida de contagem, definida na
5 -álgebra c Ð\Ñ de todas as partes de \ (cf. I.2.15). Seja !À \ Ä ‘ uma
aplicação arbitrária e notemos . a medida, definida na 5 -álgebra cÐ\Ñ,
associada à família Ð!ÐBÑÑB−\ (cf. I.2.14). Utilizar II.1.32 para mostrar que a
medida . coincide com a medida /Ð!Ñ , associada à medida / e à função
mensurável !À \ Ä ‘ (cf. II.1.22). Concluir daqui que, para cada aplicação
0 À \ Ä ‘ ,

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " !ÐBÑ0 ÐBÑ


\ B−\

e reparar que a conclusão do exercício II.1.4 é uma consequência direta desta


conclusão.
Ex II.1.7 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida. Sejam Ð\4 Ñ4−N uma família
contável de conjuntos de `, disjuntos dois a dois e de união \ e Ð+4 Ñ4−N
uma família de elementos de ‘ . Sendo 0 À \ Ä ‘ a aplicação definida por
0 ÐBÑ œ +4 , se B − \4 , verificar que 0 é mensurável e que

53Estas fórmulas, pelo menos no caso em que . é a medida de contagem, são atribuídas
ao matemático português Daniel da Silva (1814 – 1878).
§1. Integração de funções positivas 97

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " +4 .Ð\4 Ñ


\ 4−N

(reparar que esta conclusão é uma generalização da definição do integral das


funções simples).
Ex II.1.8 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida. Seja ÐE8 Ñ8− uma sucessão de
partes mensuráveis de \ . Seja E § \ um subconjunto.
a) Verificar que E8 Ä E (cf. o exercício I.2.5) se, e só se, para cada B − \ ,
ˆE8 ÐBÑ Ä ˆE ÐBÑ, e reobter, a partir daqui, a conclusão da alínea c) do
exercicio I.2.5.
b) Supondo que E8 Ä E e que existe um conjunto F − `, com
.ÐFÑ  _ e E8 § F , para cada 8 − , mostrar que .ÐE8 Ñ Ä .ÐEÑ.
Ex II.1.9 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida finita, isto é, com .Ð\Ñ  _.
Se 0 À \ Ä ‘ é uma função mensurável majorada, mostrar que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  _.


\

Ex II.1.10 a) Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida com . 5 -finita (cf. I.4.9) e


seja 0 À \ Ä ‘ uma aplicação mensurável. Mostrar que a correspondente
medida .Ð0 Ñ À ` Ä ‘ (cf. II.1.22) também é 5 -finita.
Sugestão: Sendo Ð\8 Ñ8− uma família de conjuntos mensuráveis de união
\ , com .Ð\8 Ñ  _, considerar, para cada : − , os conjuntos
\8ß: œ ÖB − \8 ± 0 ÐBÑ Ÿ :×.

uma função mensurável 0 À \ Ä ‘ Ï Ö!× com ' 0 . .  _.


b) Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida com . 5 -finita. Mostrar que existe

Sugestão: Verificar que \ é união de uma sucessão de conjuntos


mensuráveis disjuntos dois a dois Ð\8 Ñ8− , com .Ð\8 Ñ  _ e tomar para
0 uma função com um valor constante conveniente em cada \8 .

mensurável 0 À \ Ä ‘ Ï Ö!× com ' 0 . .  _. Mostrar que . é 5 -finita.


c) Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida tal que exista uma aplicação

Sugestão: Para cada 8 − , considerar o conjunto \8 dos pontos B − \ tais


que 0 ÐBÑ   8" .
Ex II.1.11 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 ß 1À \ Ä ‘ duas funções
mensuráveis tais que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  _, ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ  _.


\ \

Sendo 2À \ Ä ‘ a função definida por 2ÐBÑ œ maxÖ0 ÐBÑß 1ÐBÑ×, mostrar


98 Cap. II. O integral

que 2 é mensurável e com

( 2ÐBÑ . .ÐBÑ  _.


\

Ex II.1.12 Considerando nos borelianos de ‘ a medida de Lebesgue, mostrar


que, para cada função mensurável 0 À ‘ Ä ‘ , tem-se

( 0 ÐBÑ .B œ lim ( 0 ÐBÑ .B.


‘ Ò8ß8Ó

Ex II.1.13 Seja Ð+5 Ñ5− uma família de elementos de ‘ . Mostrar que

lim " /5Î8 +5 œ " +5 .


_ _

8Ä_
5œ" 5œ"

Ex II.1.14 Considerando nos borelianos de ‘ a medida de Lebesgue, mostrar


que, se 0 À ‘ Ä ‘ é uma função contínua tal que

( 0 ÐBÑ .B œ !,

então tem-se 0 ÐBÑ œ !, para todo o B − ‘.


Ex II.1.15 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 ß 1À \ Ä ‘ duas
aplicações mensuráveis tais que, para cada B − \ , 0 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ e que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ  _.


\ \

Mostrar que se tem 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre. Mostrar ainda que a hipótese
de o integral ser diferente de _ é essencial para a conclusão.
Sugestão: Utilizar a conclusão do exercício II.1.3.

numerável de conjuntos mensuráveis tais ! .ÐE4 Ñ  _. Seja E § \ o


Ex II.1.16 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e ÐE4 Ñ4−N uma família

4−N
conjunto dos B − \ tais que B − E4 , para um número infinito de valores de
4. Mostrar que E é um conjunto mensurável e que .ÐEÑ œ !.
Sugestão: Considerar a função 0 À \ Ä ‘ definida por
0 ÐBÑ œ " ˆE4 ÐBÑ.
4−N
§1. Integração de funções positivas 99

Ex II.1.17 Considerando nos borelianos de ‘ a medida de Lebesgue, mostrar que

lim (
#8#  cosÐ8Ñ8
.B œ #.
Ò!ß"Ó 8#  B&

Ex II.1.18 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida com .Ð\Ñ  _ e


0 À \ Ä Ò!ß "Ó uma função mensurável. Mostrar que, sendo E o conjunto dos
pontos B − \ tais que 0 ÐBÑ œ ", tem-se

lim ( 0 ÐBÑ8 . .ÐBÑ œ .ÐEÑ.


\

Ex II.1.19 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 À \ Ä ‘ uma função


mensurável tal que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  _.


\

Mostrar que, para cada $  !, existe &  ! tal que, sempre que E − `
verifica .ÐEÑ  &, tem-se

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  $.
E

Duas sugestões alternativas: 1) Aplicar a conclusão do exercício I.2.6 às


medidas . e .Ð0 Ñ . 2) Sendo \8 œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ  8×, mostrar que

lim ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !,


\8 \_

onde \_ é um conjunto mensurável conveniente, e usar esse facto para fixar


8 tal que

(
$
0 ÐBÑ . .ÐBÑ  .
\8 #

Ex II.1.20 (Sucessões duplas) Se ] é um conjunto, uma sucessão dupla de


elementos de ] é uma família ÐC7ß8 ÑÐ7ß8Ñ−‚ de elementos de ] , em que o
conjunto de índices é o produto cartesiano  ‚ . Se ] é um espaço
topológico, diz-se que a sucessão dupla ÐC7ß8 ÑÐ7ß8Ñ−‚ converge para um
elemento C − ] , ou que tem limite C, e escreve-se C7ß8 Ä C , se, qualquer
que seja a vizinhança Z de C , existe 8! −  tal que, sempre que 7   8! e
8   8! , C7ß8 − Z .
a) Mostrar que, se C7ß8 Ä C num espaço topológico ] , então a sucessão,
indexada em , de elementos C8ß8 também converge para C (embora a
recíproca não seja válida) e deduzir, em particular, que num espaço
topológico separado uma sucessão dupla não admite mais que um limite.
100 Cap. II. O integral

b) Reparar que uma sucessão ÐC8 Ñ8− , de elementos dum espaço métrico ] ,
é de Cauchy se, e só se, a sucessão dupla de números reais, que a
Ð7ß 8Ñ −  ‚  associa .ÐB7 ß B8 Ñ tem limite !.
c) (Teorema da convergência dominada para sucessões duplas) Sejam
Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e Ð07ß8 ÑÐ7ß8Ñ−‚ uma sucessão dupla de
funções mensuráveis 07ß8 À \ Ä ‘ tal que, para cada B − \ a sucessão
dupla de elementos 07ß8 ÐBÑ − ‘ tenha limite 0 ÐBÑ − ‘ . Verificar que a

mensurável 1À \ Ä ‘ com ' 1 . .  _ e 07ß8 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ, para cada


função 0 À \ Ä ‘ assim definida é mensurável e que, se existir uma função

Ð7ß 8Ñ −  ‚  e B − \ , então

( 07ß8 ÐBÑ . .ÐBÑ Ä ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \

Sugestão: Para verificar que 0 À \ Ä ‘ é mensurável ter em conta a


conclusão de a). Para provar a convergência da sucessão dupla dos integrais,

vizinhança Z de ' 0 . . em ‘ tal que, para cada 8 − , existia !Ð8Ñ   8 e


reciocinar por absurdo, notando que, se esta não convergisse, existia uma

" Ð8Ñ   8 com ' 0!Ð8Ñß" Ð8Ñ . . Â Z , chegando então ao absurdo por aplicação
do teorema da convergência dominada à sucessão de funções
18 œ 0!Ð8Ñß" Ð8Ñ À \ Ä ‘ .

Ex II.1.21 (Para quem conheça as sucessões generalizadas) Neste exercício


consideraremos sucessões generalizadas, ou seja, famílias indexadas num
conjunto dirigido de índices, isto é, num conjunto de índices munido de uma
relação ¤ , com as propriedades habituais que permitem trabalhar conve-
nientemente com a noção de limite (ver, por exemplo, [9]).
a) Seja N um conjunto arbitrário de índices e seja c0 ÐN Ñ o conjunto de todas
as partes finitas M § N . Verificar que c0 ÐN Ñ fica um conjunto dirigido, para a

a sua soma ! B4 (cf. 1.1.6) é o limite da sucessão generalizada ÐWM ÑM−c0 ÐN Ñ ,


relação M ¤ M w Í M ¨ M w e que, se ÐB4 Ñ4−N é uma família de elementos de ‘ ,

com WM œ ! B4 .
4−N

4−M
b) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e Ð04 Ñ4−N uma sucessão
generalizada de funções mensuráveis 04 À \ Ä ‘ tal que, para cada B − \ ,
a sucessão generalizada dos elementos 04 ÐBÑ − ‘ tenha limite 0 ÐBÑ em ‘ .
Verificar que, apesar de 0 ÐBÑ admitir uma caracterização, em termos de
ínfimos e supremos, análoga à referida em II.1.5, isso não nos permite
concluir que a função 0 À \ Ä ‘ tenha que ser mensurável.
c) Suponhamos que o espaço mensurável Ð\ß `Ñ é tal que os conjuntos
unitários ÖB×, com B − \ , são mensuráveis. Mostrar que qualquer função
0 À \ Ä ‘ , mensurável ou não, é limite, ponto a ponto, de uma sucessão
generalizada de funções mensuráveis \ Ä ‘ . Sugestão: Considerar, para
§1. Integração de funções positivas 101

conjunto de índices, o conjunto c0 Ð\Ñ das partes finitas de \ e definir, para


cada M − c0 Ð\Ñ, uma função 0M , que se verificará ser mensurável, por
0M ÐBÑ œ 0 ÐBшM ÐBÑ.
d) Verificar que a noção de limite de uma sucessão dupla ÐC7ß8 ÑÐ7ß8Ñ−‚ de
elementos de um espaço topológico ] , referida no exercício II.1.20, é
equivalente à noção de limite de uma sucessão generalizada, correspondente
a uma relação ¤ naturalmente definida em  ‚ .
e) Lembrar a noção de aplicação admissível entre conjuntos dirigidos, que é
utilizada na definição da noção de subsucessão generalizada. Diremos que
um conjunto dirigido N é de tipo numerável se existir uma aplicação admis-
sível !À  Ä N , onde em  se considera, naturalmente, a ordem usual.
Verificar que  ‚ , com a relação ¤ considerada em d), é um conjunto
dirigido de tipo numerável e que, se N é um conjunto contável de índices, o
conjunto c0 ÐN Ñ, referido em a), é de tipo numerável.
Sugestão: No primeiro caso, tomar !Ð8Ñ œ Ð8ß 8Ñ e, no segundo, afastado já
o caso trivial em que N œ g, considerar uma aplicação sobrejetiva :À  Ä N
e definir !Ð8Ñ œ Ö:Ð"Ñß :Ð#Ñß á ß :Ð8Ñ×.
f) Adaptar a demonstração do teorema da convergência dominada para suces-
sões duplas na alínea c) do exercício II.1.20, para provar a seguinte versão do
teorema da convergência dominada para sucessões generalizadas:
Sejam N um conjunto dirigido de tipo numerável, Ð\ß `ß .Ñ um espaço de
medida e Ð04 Ñ4−N uma sucessão generalizada de funções mensuráveis
04 À \ Ä ‘ tais que, para cada B − \ , 04 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ. Tem-se então que

com '\ 1ÐBÑ . .ÐBÑ  _, tal que 04 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ, para cada 4 − N e B − \ ,
0 À \ Ä ‘ é mensurável e, supondo que existe 1À \ Ä ‘ mensurável,

vem

( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ Ä ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \

§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach.

Na secção precedente vimos como definir o integral de uma função


mensurável com valores em ‘ . Do ponto de vista intuitivo, pelo menos
no caso dos espaços de medida mais interessantes, uma função ser mensu-
rável pode ser interpretado como ela não ser “demasiado estranha” e, na
prática, todas as funções que nos aparecem explicitamente descritas
acabam por ser mensuráveis. A contrapartida que temos que pagar pelo
facto de qualquer função com valores em ‘ , que não seja “demasiado
estranha”, ter integral é que esse integral pode ser _, o que não é um
preço demasiado alto desde que nos situemos num contexto de números
positivos (no sentido lato).
102 Cap. II. O integral

Na secção que agora iniciamos, vamos abandonar as hipóteses de positi-


vidade mas, em compensação, teremos que ser muito mais cuidadosos em
afastar a hipótese de algumas expressões poderem tomar um valor
infinito. Analisando o que é necessário para integrar uma função, consta-
tamos que precisamos multiplicar valores da função por medidas de
conjuntos, somar valores assim obtidos e tomar limites de sucessões de
valores assim obtidos. Estas observações levam-nos a pôr a hipótese de o
contexto natural para a integração ser o das funções com valores num
espaço vetorial normado, espaço que será conveniente ser completo (isto
é, um espaço de Banach) para termos um método importante para garantir
a convergência de certas sucessões. Vamos verificar que é esse efetiva-
mente o caso.
Tal como já encontrámos na secção I.5, também no contexto dos espaços
vetoriais normados vão ser importantes os subconjuntos que, munidos da
topologia induzida são espaços de base contável (cf. I.5.24). Vamos, por
isso, iniciar a secção com algumas observações sobre espaços de base
contável, no contexto dos espaços métricos, em particular no dos subcon-
juntos de espaços vetoriais normados que complementam o referido em
I.5.25, I.5.26 e I.5.27.

II.2.1 Um espaço topológico \ diz-se separável se existe uma parte contável


E § \ que seja densa, isto é, cuja aderência seja \ .
Se \ é um espaço métrico, então \ é de base contável se, e só se, é
separável.
Dem: 1) Seja h uma base contável de abertos de \ . Para cada Y − h , tal
que Y Á g, seja BY − Y um elemento escolhido e seja E o conjunto contável
dos elementos escolhidos BY . Verifiquemos que E é uma parte densa de \ .
Ora se B − \ e Z é uma vizinhança arbitrária de B, tem-se B − intÐZ Ñ, que é
um aberto pelo que, por h ser uma base de abertos, existe Y − h tal que
B − Y § intÐZ Ñ e então BY − Z  E, portanto Z  E Á g.
2) Seja E § \ um subconjunto contável denso E. Seja h o conjunto
contável de abertos F< Ð+Ñ, com + − E e <  ! racional e verifiquemos que h
é uma base de abertos, ou seja, que, sendo Y um aberto de \ e B − Y , existe
um conjunto de h que contém B e está contido em Y . Ora, podemos
considerar &  ! tal que F& ÐBÑ § Y , considerar um racional < com
!  <  &Î# e, por B ser aderente a E, um elemento + − E  F< ÐBÑ. Por ser
.Ð+ß BÑ  < tem-se também B − F< Ð+Ñ, que é um dos conjuntos em h , e, pela
desigualdade triangular, tem-se
F< Ð+Ñ § F#< ÐBÑ § F& ÐBÑ § Y . 

II.2.2 (Subconjuntos separáveis dum espaço métrico) Seja \ um espaço


métrico. Tem-se então:
a) Se ] § \ é contável, então ] é separável.
b) Se ] § \ é separável e ] w § ] , então ] w é também separável.
c) Se ] § \ é separável, então a aderência adÐ] Ñ, de ] em \ , é também
separável.
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 103

- ]4 é também separável.
d) Se Ð]4 Ñ4−N é uma família contável de subconjuntos separáveis de \ , então

4−N
e) Se ] § \ é compacto, então ] é separável.
Dem: a) Temos uma consequência de ] ser uma parte densa em ] .
b) A conclusão resulta de II.2.1 e da alínea a) de I.5.25.
c) Se F § ] é um conjunto contável denso em ] , F é também denso em
adÐ] Ñ, uma vez que adÐFÑ, sendo um fechado de \ que contém ] , contém
também adÐ] Ñ.

Então - F4 é uma parte contável densa de - ]4 .


d) Seja, para cada 4 − N , F4 § ]4 é um conjunto contável denso em ]4 .

4−N 4−N
e) Para cada 8 − , a propriedade das coberturas dos conjuntos compactos
garante a existência de uma parte finita F8 § ] tal que a união das bolas
abertas F"Î8 ÐBÑ, com B − F8 , contenha ] . Tem-se então que a união F dos
F8 , com 8 − , é um subconjunto contável de ] que é denso em ] , uma vez
que, para cada C − ] e $  !, podemos escolher 8 tal que 8"  $ e
B − F8 § F tal que C − F"Î8 ÐBÑ, e então B − ]  F$ ÐCÑ. 
II.2.3 (Imagem por uma aplicação contínua) Sejam \ um espaço topológico
s um espaço métrico e 0 À \ Ä \
de base contável, \ s uma aplicação contínua.
s
Tem-se então que 0 Ð\Ñ § \ é separável.
Dem: Seja h uma base contável de abertos de \ e escolhamos, para cada
Y − h, com Y Á g, um elemento BY − Y . Vemos verificar que o
subconjunto contável F § 0 Ð\Ñ, cujos elementos são os 0 ÐBY Ñ, é denso em
0 Ð\Ñ. Ora, se C − 0 Ð\Ñ e $  !, vem C œ 0 ÐBÑ, para um certo B − \
donde, pela continuidade de 0 em B, existe um aberto Y w de \ , com B − Y w
tal que 0 ÐY w Ñ § F$ ÐCÑ e, sendo Y − h tal que B − Y § Y w tem-se
0 ÐBY Ñ − F  F$ ÐCÑ. 
II.2.4 (Aplicações topologicamente mensuráveis) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço
mensurável, I um espaço de Banach54 e 0 À \ Ä I uma aplicação. Vamos
dizer que 0 é topologicamente mensurável se 0 é mensurável, quando se
considera em I a 5 -álgebra UI dos borelianos, e 0 Ð\Ñ é separável.

Analogamente ao que referimos no início desta secção, relativamente às


funções com valores em ‘ , as funções topologicamente mensuráveis
com valores num espaço de Banach vão ser intuitivamente encaradas
como aquelas que não são “demasiado estranhas” para efeitos de
integração. Repare-se que, no caso das funções com valores em ‘ , não
fazia sentido estar a pedir que a imagem tivesse base contável, uma vez

54Com frequência trabalharemos com espaços de Banach, mesmo em situações em que se


poderia trabalhar com espaços vetoriais normados, não necessariamente completos. Os
espaços completos são essenciais em muitas situações e, ao trabalharmos sistematica-
mente com estes, dispensamos a necessidade de nos lembrarmos dos pontos em que eles
são essenciais.
104 Cap. II. O integral

que ela era uma parte de ‘ , o qual já tem base contável.


Tal como acontecia com as funções com valores em ‘ , vamos ver em
seguida que muitas das construções habituais de novas funções a partir de
outras que sejam topologicamente mensuráveis, conduzem a funções
topologicamente mensuráveis o que, de certo modo, explica o facto de
estas serem “muito numerosas”,

II.2.5 (Nota) Entre os espaços de Banach que é mais frequente encontrarmos no


contexto da integração estão ‘ e ‚, em ambos os casos com o valor absoluto
como norma implícita, e, mais geralmente, os espaços vetoriais I de
dimensão finita, com qualquer das normas equivalentes que estes espaços
possuem. Em todos estes casos particulares, o próprio espaço I já é de base
contável, e portanto separável, como constatamos se lembrarmos o referido
nas alíneas b) e e) de I.5.25 e tivermos em conta que um espaço vetorial real
de dimensão 8 é isomorfo, e portanto também homeomorfo, a ‘8 e que um
espaço vetorial complexo de dimensão 8 é também um espaço vetorial real
de dimensão #8. Nestes casos particulares, uma aplicação topologicamente
mensurável é assim simplesmente uma aplicação mensurável, sem mais
nenhuma condição suplementar.
Observe-se também que, mesmo no caso dos espaços de Banach de dimensão
infinita, muitos dos que são encontrados com frequência são, de facto,
espaços separáveis, pelo que a eles se aplica também a observação que
fizemos atrás (ver, por exemplo, III.4.7 adiante).
II.2.6 (Composta com uma aplicação contínua) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço
mensurável, I um espaço de Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação
topologicamente mensurável. Sejam J um espaço de Banach, F § I um
boreliano, com 0 Ð\Ñ § F e 1À F Ä J uma aplicação contínua. Tem-se
então que 1 ‰ 0 À \ Ä J é também topologicamente mensurável.
Dem: O facto de 0 À \ Ä I ser mensurável implica que 0 À \ Ä F é
também mensurável, quando se considera em F a 5 -álgebra UF dos
borelianos (cf. I.5.5 e I.2.9). Uma vez que 1À F Ä J é mensurável, por ser
contínua (cf. I.5.8), concluímos que 1 ‰ 0 À \ Ä J é mensurável. O facto de
1 ‰ 0 Ð\Ñ œ 1Ð0 Ð\ÑÑ § J ser separável resulta de 0 Ð\Ñ § I ser de base
contável, tendo em conta II.2.3. 
II.2.7 (Composta com uma aplicação mensurável) Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ
dois espaços mensuráveis e :À \ Ä ] uma aplicação mensurável. Sejam I
um espaço de Banach e 0 À ] Ä I uma aplicação topologicamente
mensurável. Tem-se então que 0 ‰ :À \ Ä I é também topologicamente
mensurável.
Dem: A aplicação 0 ‰ : é mensurável, enquanto composta de duas
mensuráveis e o facto de 0 ‰ :Ð\Ñ ser separável é uma consequência de se
ter 0 ‰ :Ð\Ñ § 0 Ð] Ñ, onde 0 Ð] Ñ é separável. 
II.2.8 (Aplicação com valores num produto) Sejam I e J espaços de Banach,
e consideremos no espaço vetorial I ‚ J a norma
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 105

mÐDß AÑm œ maxÖmDmß mAm×,


que sabemos definir a topologia produto e tornar I ‚ J um espaço de
Banach. Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e 0 À \ Ä I e 1À \ Ä J
duas aplicações topologicamente mensuráveis. É então também topologica-
mente mensurável a aplicação 2À \ Ä I ‚ J , definida por
2ÐBÑ œ Ð0 ÐBÑß 1ÐBÑÑ. 55

Dem: Uma vez que 0 Ð\Ñ § I e 1Ð\Ñ § J são separáveis, o mesmo vai
acontecer às respetivas aderências ^ œ adÐ0 Ð\ÑÑ e [ œ adÐ1Ð\ÑÑ, que são
fechados, em particular borelianos de I e J , respetivamente. Uma vez que
0 À \ Ä ^ e 1À \ Ä [ também são mensuráveis, quando em ^ e [ se
consideram as 5 -álgebras dos borelianos U^ e U[ , respetivamente, tendo em
conta I.5.21, vem então mensurável a aplicação 2À \ Ä ^ ‚ [ , quando se
considera no espaço de chegada a 5 -álgebra produto U^ Œ U[ que, por
I.5.27, coincide com a 5 -álgebra dos borelianos de ^ ‚ [ , o que implica
que 2À \ Ä I ‚ J é mensurável, quando se considera em I ‚ J a
5-álgebra dos borelianos. O facto de 2Ð\Ñ ser separável é uma consequência
de se ter 2Ð\Ñ § 0 Ð\Ñ ‚ 1Ð\Ñ, que é de base contável, e portanto separável
tendo em conta a alínea c) de I.5.25. 
II.2.9 (Somas e produtos de aplicações topologicamente mensuráveis) Seja
Ð\ß `Ñ um espaço mensurável. Tem-se então:
a) Se I é um espaço de Banach e 0 ß 1À \ Ä I são duas aplicações
topologicamente mensuráveis, então 0  1À \ Ä I é também topologica-
mente mensurável.
b) Sejam J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação
bilinear contínua, que encaramos como uma “multiplicação”, notando, para
cada A − J e D − K,
A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L .
Se 0 À \ Ä J e 1À \ Ä K são duas aplicações topologicamente mensuráveis,
então é topologicamente mensurável a aplicação 0 ‚ 1À \ Ä L , definida por
Ð0 ‚ 1ÑÐBÑ œ 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ œ 0Ð0 ÐBÑß 1ÐBÑÑ.

c) Em particular, se I é um espaço de Banach sobre o corpo Š, igual a ‘ ou


‚, e se 0 À \ Ä I e :À \ Ä Š são aplicações topologicamente
mensuráveis56, então é também topologicamente mensurável a aplicação
:0 À \ Ä I.

55Este resultado é uma das razões pelas quais temos que trabalhar com aplicações topo-
logicamente mensuráveis. Se 0 e 1 fossem apenas aplicações mensuráveis, não consegui-
ríamos mostrar que 2 é mensurável, sem as hipóteses de I e J serem de separáveis.
56No caso de :, topologicamente mensurável é o mesmo que mensurável, uma vez que
Š, igual a ‘ ou ‘# , é separável.
106 Cap. II. O integral

Dem: As alíneas a) e b) têm uma justificação totalmente análoga: Tendo em


conta II.2.8, consideramos a aplicação topologicamente mensurável
\ Ä I ‚ I (respetivamente, \ Ä J ‚ K ), B È Ð0 ÐBÑß 1ÐBÑÑ e reparamos
que 0  1 (respetivamente, 0 ‚ 1) é a composta daquela aplicação com a
soma (respetivamente a aplicação 0), que é uma aplicação contínua
I ‚ I Ä I (respetivamente J ‚ K Ä L ). A alínea c) é o caso particular
de b) em que tomamos para 0 a multiplicação pelos escalares, uma aplicação
bilinear contínua Š ‚ I Ä I . 
II.2.10 Sejam \ um espaço topológico de base contável, sobre o qual conside-
ramos a 5 -álgebra dos borelianos U\ , e I um espaço de Banach. Se
0 À \ Ä I é uma aplicação contínua, então 0 é topologicamente mensurável.
Dem: Tendo em conta I.5.8, 0 é mensurável e o facto de 0 Ð\Ñ ser separável
é uma consequência de II.2.3. 

conjuntos de ` tal que \ œ - \4 . Sejam I um espaço de Banach e


II.2.11 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e Ð\4 Ñ4−N uma família contável de

4−N
0 À \ Ä I uma aplicação tal que, para cada 4 − N , 0Î\4 À \4 Ä I seja topo-
logicamente mensurável. Tem-se então que 0 À \ Ä I é topologicamente
mensurável.
Dem: A aplicação é mensurável, tendo em conta I.5.6, e o facto de 0 Ð\Ñ ser
separável é uma consequência de se tratar da união dos 0 Ð\4 Ñ, que são
separáveis (cf. a alínea d) de II.2.2). 
II.2.12 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, ] um espaço métrico e Ð08 Ñ8−
uma sucessão de aplicações mensuráveis tal que, para cada B − \ ,
08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ. Tem-se então que a aplicação 0 À \ Ä ] , assim definida, é
mensurável.
Dem: Tendo em conta I.5.7, tudo o que temos que verificar é que, para cada
aberto Z de ] , 0 " ÐZ Ñ − `, podendo já afastar-se o caso trivial em que
Z œ ] , e portanto 0 " ÐZ Ñ œ \ . Lembrando que, no contexto dos espaços
métricos, a distância a um conjunto fechado não vazio é uma função contínua
que se anula exatamente nesse conjunto fechado, podemos, para cada 7 − ,
considerar o aberto Z7 § Z , definido por
"
Z7 œ ÖC − ] ± .ÐCß ] Ï Z Ñ  ×.
7
Vamos mostrar em seguida que se tem
0 " ÐZ Ñ œ . , 08" ÐZ7 Ñ,
Ð7ß5Ñ−‚ 8 5

o que, uma vez que cada 08" ÐZ7 Ñ − `, provará que 0 " ÐZ Ñ − `, e
terminará a demonstração.
Suponhamos que B − 0 " ÐZ Ñ. Vem 0 ÐBÑ − Z , ou seja, .Ð0 ÐBÑß ] Ï Z Ñ  !,
pelo que existe 7 −  tal que .Ð0 ÐBÑß ] Ï Z Ñ  7" e, por ser
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 107

.Ð08 ÐBÑß ] Ï Z Ñ Ä .Ð0 ÐBÑß ] Ï Z Ñ,

existe 5 −  tal que, para todo o 8   5 , .Ð08 ÐBÑß ] Ï Z Ñ  7" , por outras
palavras, 08 ÐBÑ − Z7 e B − 08" ÐZ7 Ñ. Ficou assim provado que

B− . , 08" ÐZ7 Ñ.
Ð7ß5Ñ−‚ 8 5

Suponhamos, reciprocamente, que B pertence ao conjunto referido e seja


7ß 5 fixados tais que, para cada 8   5 , B − 08" ÐZ7 Ñ, ou seja,
"
.Ð08 ÐBÑß ] Ï Z Ñ  .
7
Mais uma vez por ser
.Ð08 ÐBÑß ] Ï Z Ñ Ä .Ð0 ÐBÑß ] Ï Z Ñ,
"
concluímos que .Ð0 ÐBÑß ] Ï Z Ñ   7  !, donde 0 ÐBÑ − Z , ou seja,
B − 0 " ÐZ Ñ. 
II.2.13 (Limites de topologicamente mensuráveis) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço
mensurável, I um espaço de Banach e Ð08 Ñ8− uma sucessão de aplicações
topologicamente mensuráveis 08 À \ Ä I tal que, para cada B − \ ,
08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ. Tem-se então que a aplicação 0 À \ Ä I , assim definida, é
topologicamente mensurável.
Dem: Já sabemos que 0 À \ Ä I é mensurável, tendo em conta II.2.12. Uma

c) de II.2.2, que - 08 Ð\Ñ e a sua aderência são também separáveis. Uma vez
vez que cada 08 Ð\Ñ é separável, deduzimos sucessivamente, das alíneas d) e

que cada 0 ÐBÑ é limite da sucessão dos 08 ÐBÑ, que pertencem a - 08 Ð\Ñ,
8−

8−
concluímos que
0 Ð\Ñ § adˆ. 08 Ð\щ
8−

e portanto, pela alínea b) do resultado citado, 0 Ð\Ñ é separável. 


II.2.14 Notemos que, se I é um espaço de Banach, o facto de a função
I Ä ‘ § ‘, D È mDm, ser contínua, em particular mensurável, implica
que, se Ð\ß `Ñ é um espaço mensurável e se 0 À \ Ä I é mensurável (em
particular, se é topologicamente mensurável), então é mensurável a aplicação
\ Ä ‘ § ‘, B È m0 ÐBÑm.

Esta propriedade será usada amiúde sem referência explícita.


II.2.15 (Aplicações integráveis) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I
um espaço de Banach. Vamos dizer que uma aplicação 0 À \ Ä I é
108 Cap. II. O integral

integrável se ela é topologicamente mensurável e

( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  _.

Com o objetivo de definir o integral das funções integráveis, vamos, por


analogia com o que se fez no contexto das funções com valores em ‘ ,
começar por examinar uma classe particular de aplicações integráveis, as
aplicações em escada, que vão jogar o papel que então jogavam as
funções simples. Repare-se que, ao contrário do que sucedia com as
funções simples em II.1.6, a definição de aplicação em escada já faz
intervir a medida que se considera no domínio.

II.2.16 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e I um espaço de Banach. Por


analogia com II.1.6, vamos dizer que uma aplicação 0 À \ Ä I é uma
aplicação simples se ela é mensurável e o contradomínio 0 Ð\Ñ é finito. Mais
particularmente, e essas serão as aplicações com um papel mais importante
nesta secção, dada uma medida .À ` Ä ‘ , vamos dizer que uma aplicação
0 À \ Ä I é uma aplicação em escada se ela é simples e integrável.
Repare-se que, no caso particular em que .Ð\Ñ  _, toda a aplicação
simples 0 À \ Ä I é uma aplicação em escada, uma vez que a função
B È m0 ÐBÑm é então simples, e portanto de integral finito.
II.2.17 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, I um espaço de Banach e
0 À \ Ä I uma aplicação simples. Existe então uma família finita Ð\4 Ñ4−N de
partes mensuráveis de \ , disjuntas duas a duas e de união \ , tais que a
restrição de 0 a cada \4 seja constante.
A uma tal família damos então o nome de partição adaptada à aplicação
simples 0 (comparar com II.1.7) e, no caso em que é dada uma medida
.À ` Ä ‘ , usamos a notação N! para designar o conjunto dos índices
4 − N tal que .Ð\4 Ñ  _. É claro que, no caso em que .Ð\Ñ  _,
tem-se simplesmente N! œ N .
No caso em que é dada uma medida .À ` Ä ‘ e 0 À \ Ä I é mesmo uma
aplicação em escada, tem-se 0 ÐBÑ œ !, para cada 4 − N Ï N! e B − \4 .
Dem: Para obter uma partição adaptada, basta tomar para N o conjunto finito
0 Ð\Ñ e, para cada 4 − N , tomar
\4 œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ œ 4×,

imagem recíproca por meio de 0 do conjunto fechado, em particular


boreliano Ö4× § I . Supondo agora que a aplicação é em escada, dada uma
partição adaptada Ð\4 Ñ4−N , tem-se, para cada 4! − N , com 0 ÐBÑ œ A4! , para
B − \4! ,57

57A está bem determinado se \4! Á g.


4!
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 109

_  ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ " ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  


\ 4−N \4

 ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ .Ð\4! Ñ mA4! m,


\4!

pelo que, se 4! − N Ï N! , isto é, se .Ð\4! Ñ œ _, tem-se mA4! m œ ! e


A4! œ !. 
II.2.18 Repare-se que, tal como em II.1.12, se 0 À \ Ä I é uma aplicação
simples e se Ð\4 Ñ4−N é uma partição adaptada tal que 0 ÐBÑ œ A4 , para cada
B − \4 , então, sendo ˆ\4 À \ Ä ‘ a função indicatriz de \4 , tem-se, para
cada B − \ ,
0 ÐBÑ œ " ˆ\4 ÐBÑ A4
4−N

e, no caso em que é dada uma medida .À ` Ä ‘ e 0 é mesmo uma


aplicação em escada, também
0 ÐBÑ œ " ˆ\4 ÐBÑ A4 .
4−N!

II.2.19 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de Banach e


0 À \ Ä I uma aplicação em escada. Sejam Ð\4 Ñ4−N e Ð\5w Ñ5−O duas
partições adaptadas à aplicação 0 e sejam ÐA4 Ñ4−N e ÐD5 Ñ5−O famílias de
vetores de I tais que 0 ÐBÑ œ A4 , para cada B − \4 , e que 0 ÐBÑ œ D5 , para
cada B − \5w .58 Tem-se então
" .Ð\4 Ñ A4 œ " .Ð\5w Ñ D5 .
4−N! 5−O!

Dem: Comecemos por observar que, sempre que \4  \5w Á g, tem-se


A4 œ D5 , uma vez que ambos os vetores são iguais a 0 ÐBÑ, para B em
\4  \5w . Para cada 4 − N! , \4 é a união da família finita dos conjuntos
mensuráveis \4  \5w , 5 − O , que são disjuntos dois a dois, e obtemos
" .Ð\4 Ñ A4 œ " ˆ" .Ð\4  \5w щ A4 œ " .Ð\4  \5w Ñ A4 .
4−N! 4−N! 5−O Ð4ß5Ñ−N! ‚O

Para cada 4 − N! e 5 − O Ï O! , tem-se .Ð\4  \5w Ñ A4 œ !, uma vez que, se


\4  \5w œ g, tem-se .Ð\4  \5w Ñ œ ! e, caso contrário, A4 œ D5 œ !.
Deduzimos assim das igualdades anteriores que se tem também

58Repare-seque os D4 estão bem determinados para os índices 4 tais que \4 Á g mas que,
se \4 œ g, qualquer D4 − I verifica a condição referida. Análoga observação vale evi-
dentemente para os A5 .
110 Cap. II. O integral

" .Ð\4 Ñ A4 œ " .Ð\4  \5w Ñ A4 .


4−N! Ð4ß5Ñ−N! ‚O!

Por troca dos papéis das duas partições, tem-se também


" .Ð\5w Ñ D5 œ " .Ð\4  \5w Ñ D5 .
5−O! Ð4ß5Ñ−N! ‚O!

Para concluir a igualdade do enunciado, basta assim verificar que, para cada
par Ð4ß 5Ñ − N! ‚ O!
.Ð\4  \5w Ñ A4 œ .Ð\4  \5w Ñ D5

e isso é uma consequência de ambos os membros desta igualdade serem !, no


caso em que \4  \5w œ g e, caso contrário, de ser A4 œ D5 . 
II.2.20 Tendo em conta o resultado precedente, sendo Ð\ß `ß .Ñ um espaço de
medida, I um espaço de Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação em escada, é
legítimo definir o integral de 0 como sendo o vetor de I

( 0 . . œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " .Ð\4 Ñ A4 ,


4−N!

onde Ð\4 Ñ4−N é uma partição adaptada à função 0 , 0 ÐBÑ œ A4 , para cada
B − \4 e N! é o conjunto dos 4 − N tais que .Ð\4 Ñ  _.
Observe-se desde já que, no caso em que consideramos para I o espaço ‘,

função simples (cf. II.1.6) e com ' 0 . .  _ e que, nesse caso, o integral
uma função 0 À \ Ä ‘ § ‘ é uma aplicação em escada se, e só se, é uma

de 0 como aplicação em escada coincide com o seu integral como função


simples, uma vez que, para cada 4 − N Ï N! , tem-se A4 œ !.
II.2.21 Como exemplo trivial de aplicação em escada, temos a aplicação identi-
camente nula, !À \ Ä I , a qual admite a família formada pelo único
conjunto \ como partição adaptada. É claro que se tem

( ! . . œ !.

Outra consequência direta da definição é que, se .Ð\Ñ œ ! (ou, o que é

tem-se ' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !, visto que, sendo Ð\4 Ñ4−N uma partição adaptada a
equivalente, se . œ !), então, para cada aplicação em escada 0 À \ Ä I ,

0 , tem-se .Ð\4 Ñ œ !, para cada 4.


II.2.22 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e I um espaço de Banach. Se
Ð\4 Ñ4−N é uma família finita de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois e
de união \ e se ÐA4 Ñ4−N é uma família de elementos de I , então podemos
definir uma aplicação simples 0 À \ Ä I , tendo a família dos \4 como
partição adaptada, pela condição de se ter 0 ÐBÑ œ A4 , para cada B − \4 . No
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 111

caso em que é dada uma medida .À ` Ä ‘ e A4 œ ! sempre que


.Ð\4 Ñ œ _, esta aplicação é mesmo uma aplicação em escada.
Dem: O facto de 0 ser topologicamente mensurável resulta de I.5.6, já que a
restrição a cada \4 é constante, e do facto de 0 Ð\Ñ ser finito, em particular
separável. Reparamos enfim que, com a hipótese suplementar, a função
\ Ä ‘ , B È m0 ÐBÑm é uma função simples, que toma o valor mA4 m em \4 ,
donde

( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ " mA4 m .Ð\4 Ñ œ " mA4 m .Ð\4 Ñ  _. 


4−N 4−N!

II.2.23 (Lema) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, I um espaço de Banach


e 0 ß 1À \ Ä I duas aplicações simples. Existe então uma partição Ð\4 Ñ4−N
adaptada simultaneamente a 0 e a 1.
Dem: Seja Ð\4 Ñ4−N uma família finita de conjuntos mensuráveis, disjuntos
dois a dois e de união \ , tais que 0 seja constante em cada \4 e seja
Ð\5w Ñ5−O uma família finita de conjuntos mensuráveis, disjuntos dois a dois e
de união \ , tais que 1 seja constante em cada \5w . Tem-se então que os
conjuntos mensuráveis \4  \5w , Ð4ß 5Ñ − N ‚ O , são disjuntos dois a dois e
de união \ , constituem uma família finita e em cada um deles tanto 0 como
1 é constante. 
II.2.24 (Aditividade) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de
Banach e 0 ß 1À \ Ä I duas aplicações em escada. Tem-se então que
0  1À \ Ä I é também uma aplicação em escada e

( 0 ÐBÑ  1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ.

Dem: Tendo em conta o lema anterior, podemos considerar uma família


finita Ð\4 Ñ4−N de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois e de união \
tal que, para cada B − \4 , 0 ÐBÑ œ A4 e 1ÐBÑ œ D4 e sabemos que então
tem-se A4 œ D4 œ !, sempre que .Ð\4 Ñ œ _. Como
0 ÐBÑ  1ÐBÑ œ A4  D4 , sempre que B − \4 , onde A4  D4 œ !, sempre que
.Ð\4 Ñ œ _, segue-se que 0  1 é uma aplicação em escada e que

( 0 ÐBÑ  1ÐBÑ . .ÐBÑ œ " .Ð\4 Ñ ÐD4  A4 Ñ œ

œ " .Ð\4 Ñ D4  " .Ð\4 Ñ A4 œ


4−N!

4−N! 4−N!

œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ. 

II.2.25 (Composição com uma aplicação linear) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço


de medida, I e J espaços de Banach e !À I Ä J uma aplicação linear. Se
112 Cap. II. O integral

0 À \ Ä I é uma aplicação em escada, então ! ‰ 0 À \ Ä J é também uma


aplicação em escada e

( !Ð0 ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ !Š( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ‹. 59

Dem: Seja Ð\4 Ñ4−N uma família finita de conjuntos mensuráveis disjuntos
dois a dois e de união \ tais que em cada \4 a aplicação 0 tome o valor
constante A4 e que A4 œ !, sempre que .Ð\4 Ñ œ _. Uma vez que ! ‰ 0
toma o valor constante !ÐA4 Ñ em \4 e que !ÐA4 Ñ œ !, sempre que
.Ð\4 Ñ œ _, concluímos que ! ‰ 0 é também uma aplicação em escada e

( !Ð0 ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ " .Ð\4 Ñ !ÐA4 Ñ œ !Š" .Ð\4 Ñ A4 ‹ œ


4−N! 4−N!

œ !Š( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ‹.

II.2.26 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I um espaço de


Banach sobre Š, igual a ‘ ou ‚. Tem-se então:
a) Se 0 À \ Ä I é uma aplicação em escada e + − Š, então é também em
escada a aplicação +0 À \ Ä I , B È +0 ÐBÑ, e

( +0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ +( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ;

b) Se 0 À \ Ä Š é uma aplicação em escada e A − I , então é também em


escada a aplicação 0 AÀ \ Ä I , B È 0 ÐBÑ A, e

( 0 ÐBÑ A . .ÐBÑ œ Š( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ‹ A.

Dem: Basta considerar, para a), a aplicação linear I Ä I , D È +D , e, para


b), a aplicação linear Š Ä I , , È , A. 
II.2.27 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de Banach e
0 À \ Ä I uma aplicação em escada. É então também em escada, em
particular simples, a função \ Ä ‘ § ‘, B È m0 ÐBÑm e

½( 0 ÐBÑ . .ÐBѽ Ÿ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ.

59Considerando duas normas arbitrárias, equivalentes ou não, sobre um mesmo espaço


vetorial I , este resultado, aplicado a MI À I Ä I , com uma norma no domínio e a outra
no espaço de chegada, mostra que o facto de uma função ser em escada e o valor do seu
integral não dependem da norma que se considera. De facto, foi só por comodidade e por
ser nesse contexto que o integral de funções mais gerais vai ser definido adiante, que
considerámos que o espaço de chegada é de Banach, para podermos falar de funções
integráveis.
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 113

Dem: Seja Ð\4 Ñ4−N uma família finita de conjuntos mensuráveis disjuntos
dois a dois e de união \ tais que em cada \4 a aplicação 0 tome o valor
constante A4 e que A4 œ !, sempre que .Ð\4 Ñ œ _. Uma vez que m0 ÐBÑm
toma o valor constante mA4 m em \4 e que mA4 m œ !, sempre que
.Ð\4 Ñ œ _, concluímos que B È m0 ÐBÑm é também uma aplicação em
escada e

½( 0 ÐBÑ . .ÐBѽ œ ½" .Ð\4 Ñ A4 ½ Ÿ " m.Ð\4 ÑA4 m œ


4−N! 4−N!

œ " .Ð\4 Ñ mA4 m œ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ. 


4−N!

No estudo do integral das funções mensuráveis com valores em ‘ , um


instrumento fundamental foi a possibilidade de obter qualquer função
mensurável como limite de uma sucessão crescente de funções simples
(cf. II.1.19), instrumento que foi usado em conjunção com o teorema da
convergência monótona. Uma vez que, no contexto das funções com
valores vetoriais, não faz sentido falar de sucessões crescentes, vamos
arranjar um substituto daquele instrumento, vocacionado para a utilização
do teorema da convergência dominada.

II.2.28 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I um espaço de Banach.

existir :À \ Ä ‘ , mensurável e com ' :ÐBÑ . .ÐBÑ  _, tal que, para
Dizemos que uma sucessão Ð08 Ñ8− de aplicações 08 À \ Ä I é dominada se

cada 8 −  e B − \ , m08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ.


II.2.29 (Aproximação dominada por aplicações em escada) Sejam Ð\ß `Ñ
um espaço mensurável, I um espaço de Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação
topologicamente mensurável. Existe então uma sucessão Ð08 Ñ8− de
aplicações simples 08 À \ Ä I tal que:
a) Para cada B − \ , 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ;
b) Para cada 8 −  e B − \ , m08 ÐBÑm Ÿ #m0 ÐBÑm;
c) Para cada 8 − , 08 Ð\Ñ § 0 Ð\Ñ  Ö!×.
Em particular, no caso em que temos uma medida .À ` Ä ‘ e 0 À \ Ä I
é integrável, a sucessão Ð08 Ñ8− é uma sucessão dominada de aplicações em
escada.
Dem: Uma vez que 0 Ð\Ñ é separável, e portanto o mesmo acontece a
0 Ð\Ñ  Ö!×, podemos considerar uma parte densa contável de 0 Ð\Ñ  Ö!×,
que supomos já conter o vetor !, assim como uma sucessão ÐA8 Ñ8− de
vetores, com A" œ !, cujo conjunto dos termos seja essa parte densa de
0 Ð\Ñ  Ö!×.
Fixado 8 − , considere-se, para cada " Ÿ 5 Ÿ 8, o conjunto
114 Cap. II. O integral

E8ß5 œ ÖB − \ ± a m0 ÐBÑ  A5 m Ÿ m0 ÐBÑ  A4 m×,


"Ÿ4Ÿ8

conjunto que é mensurável por ser a intersecção, para " Ÿ 4 Ÿ 8, das ima-
gens recíprocas de Ò!ß _Ò pelas funções mensuráveis \ Ä ‘,
B È m0 ÐBÑ  A4 m  m0 ÐBÑ  A5 m.

Para cada 8 − , a união dos E8ß5 , com " Ÿ 5 Ÿ 8, é igual a \ , uma vez
que, para cada B − \ , dos vetores A" ß á ß A8 , há pelo menos um a distância
mínima de 0 ÐBÑ. Além disso, se B − E8ß5 , tem-se
m0 ÐBÑ  A5 m Ÿ m0 ÐBÑ  A" m œ m0 ÐBÑm,
donde
mA5 m œ mÐA5  0 ÐBÑÑ  0 ÐBÑm Ÿ mA5  0 ÐBÑm  m0 ÐBÑm Ÿ #m0 ÐBÑm.
Apesar de, para cada 8 − , os conjuntos E8ß5 não serem necessariamente
disjuntos dois a dois, por poder existir na sequência A" ß á ß A8 mais que um
vetor a distância mínima de 0 ÐBÑ, podemos deduzir do lema I.2.11 a
existência de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois F8ß5 § E8ß5 , para
" Ÿ 5 Ÿ 8, ainda com união igual a \ .
Defina-se agora, para cada 8 − , uma aplicação 08 À \ Ä I pela condição
de se ter 08 ÐBÑ œ A5 , para cada B − F8ß5 , aplicação que verifica, como
mostrámos atrás, m08 ÐBÑm Ÿ #m0 ÐBÑm, e para a qual
08 Ð\Ñ § ÖA" ß á ß A8 × § 0 Ð\Ñ  Ö!×,
As aplicações 08 são topologicamente mensuráveis, por terem restrições
constantes, em particular topologicamente mensuráveis, aos conjuntos F8ß5
de união \ , e, no caso em que 0 é integrável, são mesmo aplicações em
escada, por terem imagem finita e verificarem

( m08 ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ ( #m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ #( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  _.

As desigualdades m08 ÐBÑm Ÿ #m0 ÐBÑm, considerando :ÐBÑ œ #m0 ÐBÑm,


mostram também que, no caso em que 0 é integrável, a sucessão das
aplicações 08 é dominada.
Resta-nos mostrar que, para cada B − \ , 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ. Ora, fixado B − \
e $  ! arbitrário, podemos considerar 8! −  tal que m0 ÐBÑ  A8! m  $ e
então, para cada 8   8! , sendo " Ÿ 5 Ÿ 8 tal que B − F8ß5 § E8ß5 , vem
m0 ÐBÑ  08 ÐBÑm œ m0 ÐBÑ  A5 m Ÿ m0 ÐBÑ  A8! m  $,

o que prova a convergência pretendida. 


II.2.30 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de Banach e
0 À \ Ä I uma aplicação integrável. Tem-se então:
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 115

a) Se Ð08 Ñ8− é uma sucessão dominada de aplicações em escada 08 À \ Ä I

A8 œ ' 08 ÐBÑ . .ÐBÑ − I converge para um certo A − I .


tal que, para cada B − \ , 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, então a sucessão dos integrais

b) Se Ð08 Ñ8− e Ð0 s 8 Ñ8− são duas sucessões dominadas de aplicações em


escada, 08 À \ Ä I e s0 8 À \ Ä I , tais que, para cada B − \ , 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ
e s0 8 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, então

lim( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim( s0 8 ÐBÑ . .ÐBÑ.

Dem: a) Para mostrar que a sucessão dos A8 converge em I , basta mostrar


que se trata de uma sucessão de Cauchy. Suponhamos, por absurdo, que isso
não acontecia, portanto que existia $  ! tal que, qualquer que seja : − ,
existam naturais !Ð:Ñ   : e " Ð:Ñ   : com mA!Ð:Ñ  A" Ð:Ñ m   $ .
Tendo em conta II.2.24, II.2.26 e II.2.27, podemos escrever, para : − ,

$ Ÿ mA!Ð:Ñ  A" Ð:Ñ m œ ½( 0!Ð:Ñ ÐBÑ  0" Ð:Ñ ÐBÑ . .ÐBѽ Ÿ

Ÿ ( m0!Ð:Ñ ÐBÑ  0" Ð:Ñ ÐBÑm . .ÐBÑ


(1)

e, sendo :À \ Ä ‘ uma função mensurável, com ' :ÐBÑ . .ÐBÑ  _, tal
que, para cada 8 − , m08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, tem-se
m0!Ð:Ñ ÐBÑ  0" Ð:Ñ ÐBÑm Ÿ m0!Ð:Ñ ÐBÑm  m0" Ð:Ñ ÐBÑm Ÿ #:ÐBÑ,

onde ' #:ÐBÑ . .ÐBÑ œ #' :ÐBÑ . .ÐBÑ  _Þ Para cada B − \ , dado &  !
arbitrário, podemos escolher :! −  tal que, para cada 8   :! , se tenha
m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm  #& , pelo que, em particular, para cada :   :! ,
m0!Ð:Ñ ÐBÑ  0" Ð:Ñ ÐBÑm Ÿ m0!Ð:Ñ ÐBÑ  0 ÐBÑm  m0 ÐBÑ  0" Ð:Ñ ÐBÑm  &,

o que mostra que a sucessão dos reais m0!Ð:Ñ ÐBÑ  0" Ð:Ñ ÐBÑm tem limite !.

para deduzir que a sucessão dos integrais ' m0!Ð:Ñ ÐBÑ  0" Ð:Ñ ÐBÑm . .ÐBÑ tem
Podemos assim aplicar o teorema da convergência dominada (cf. II.1.34)

limite ' ! . .ÐBÑ œ !, o que contradiz a desigualdade (1).


b) Sejam

A œ lim( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ, s œ lim( s0 8 ÐBÑ . .ÐBÑ,


A

sÀ \ Ä ‘ duas funções mensuráveis, com ' :ÐBÑ . .ÐBÑ  _ e


limites que existem pelo que vimos em a).

':
Sejam :ß :
sÐBÑ . .ÐBÑ  _, tais que, m08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ e m0 s 8 ÐBÑm Ÿ :
sÐBÑ. Pela
continuidade da soma, do produto e da norma, nos espaços vetoriais
normados, tem-se, para cada B − \ ,
116 Cap. II. O integral

m08 ÐBÑ  s0 8 ÐBÑm Ä m0 ÐBÑ  0 ÐBÑm œ !,


onde

m08 ÐBÑ  s0 8 ÐBÑm Ÿ m08 ÐBÑm  m0


s 8 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ  :
sÐBÑ,
com

( :ÐBÑ  :
sÐBÑ . .ÐBÑ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ  ( :
sÐBÑ . .ÐBÑ  _,

pelo que, tendo em conta o teorema da convergência dominada (cf. II.1.34),

( m08 ÐBÑ  s0 8 ÐBÑm . .ÐBÑ Ä ( ! . .ÐBÑ œ !

e portanto, por ser

½( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( s0 8 ÐBÑ . .ÐBѽ œ ½( 08 ÐBÑ  s0 8 ÐBÑ . .ÐBѽ Ÿ

Ÿ ( m08 ÐBÑ  s0 8 ÐBÑm . .ÐBÑ,

vem

s œ lim ½( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( s0 8 ÐBÑ . .ÐBѽ œ !,


mA  Am

o que mostra que se tem efetivamente A œ A


s. 
II.2.31 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de Banach e
0 À \ Ä I uma aplicação integrável. Tendo em conta II.2.29 e II.2.30, é
legítimo definir o integral de 0 como sendo o vetor de I , para o qual
usaremos qualquer das notações

( 0 . . œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ,


\

que é limite dos integrais ' 08 ÐBÑ . .ÐBÑ, com Ð08 Ñ8− sucessão dominada
arbitrária de aplicações em escada 08 À \ Ä I tal que, para cada B − \ ,
08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ. Tal como em II.1.15, no caso em que \ œ ‘ e . é a medida
de Lebesgue nos borelianos de ‘, usa-se também as notações alternativas

( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B.


Observe-se que, no caso em que 0 À \ Ä I é uma aplicação em escada, esta


definição dá o mesmo resultado que a dada em II.2.20, uma vez que uma das
escolhas possíveis para sucessão dominada dos 08 , é a sucessão com todos os
termos iguais a 0 .
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 117

integrável, isto é, uma função mensurável com ' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  _Þ Tem-se
II.2.32 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 À \ Ä ‘ § ‘ uma função

então que o integral de 0 como função mensurável positiva (cf. II.1.15)


coincide com o integral de 0 como função integrável com valores no espaço
de Banach ‘ (cf. II.2.31).60
Dem: Tendo em conta II.1.19, sabemos que existe uma sucessão crescente
Ð08 Ñ8− de funções simples 08 À \ Ä ‘ § ‘, com 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, para cada
B − \ , tendo-se então 08 ÐBÑ Ÿ 0 ÐBÑ, para cada B − \ , o que mostra que

também que ' 08 . . Ÿ ' 0 . .  _, o que mostra que as funções simples
temos uma sucessão dominada de funções. A desigualdade anterior mostra

são mesmo funções em escada e como, para estas, já sabemos que os inte-
grais nos dois contextos coincidem (cf. II.2.20), deduzimos do teorema da

integrável, igual, por definição ao limite dos integrais ' 08 . ., coincide com
convergência monótona (cf. II.1.18) que o integral de 0 , como função

o integral de 0 , como função mensurável positiva. 


II.2.33 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I um espaço de Banach.

a) A função identicamente nula !À \ Ä I é integrável e com ' ! . .ÐBÑ œ !.


Tem-se então:

b) No caso em que .Ð\Ñ œ ! (ou, o que é equivalente, . œ !), cada apli-


cação topologicamente mensurável 0 À \ Ä I é integrável e com

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !.
\

Dem: A conclusão de a) resulta de a aplicação identicamente nula ser uma


aplicação em escada, com o integral referido. Nas hipóteses de b), se

' m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ !  _, portanto que 0 é integrável e o facto de se ter


0 À \ Ä I é topologicamente mensurável, resulta da alínea a) de II.1.16 que

' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ! resulta diretamente da definição visto que, como referido
em II.2.21, isso já acontece no caso em que 0 é uma aplicação em escada.
II.2.34 (Aditividade) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de
Banach e 0 ß s0 À \ Ä I duas aplicações integráveis. Tem-se então que
0  s0 À \ Ä I é também uma aplicação integrável e

( 0 ÐBÑ  s0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( s0 ÐBÑ . .ÐBÑ.

Daqui decorre, naturalmente, por indução, que, se Ð04 Ñ4−M é uma família finita

! 04 À \ Ä I e
de aplicações integráveis 04 À \ Ä I , é também integrável a aplicação

4−N

60O que permite que utilizemos sem risco, como estamos a fazer, a mesmo notação nos
dois casos.
118 Cap. II. O integral

( " 04 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ.


4−N 4−N

Dem: Sejam Ð08 Ñ8− e Ð0 s 8 Ñ8− sucessões dominadas de aplicações em

sÀ \ Ä ‘ aplicações mensuráveis, com ' : . .  _ e ' :


escada tais que, para cada B − \ , 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ e s0 8 ÐBÑ Ä s0 ÐBÑ. Sendo
:ß : s . .  _,
s
tais que m08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ e m0 8 ÐBÑm Ÿ :
sÐBÑ, tem-se que
m08 ÐBÑ  s0 8 ÐBÑm Ÿ m08 ÐBÑm  m0
s 8 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ  :
sÐBÑ,
onde ' Ð:  : sÑ . . œ ' : . .  ' :
s . .  _, o que mostra que a sucessão
de aplicações 08  s0 8 À \ Ä I é também dominada. Tendo em conta II.2.24,
estas aplicações são em escada e tem-se, por definição

( 0 ÐBÑ  s0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim( 08 ÐBÑ  s0 8 ÐBÑ . .ÐBÑ œ

œ lim( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ  lim( s0 8 ÐBÑ . .ÐBÑ œ

œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( s0 ÐBÑ . .ÐBÑ. 

Recordemos que, se I e J são espaços vetoriais normados e !À I Ä J é


uma aplicação linear, então ! é contínua se, e só se, existe uma constante
Q   ! tal que, para cada A − I , m!ÐAÑm Ÿ Q mAm. Recordemos
também que esta caracterização fornece, em particular uma condição
simples para verificar se duas normas sobre um mesmo espaço vetorial I
são equivalentes (isto é, definem a mesma topologia), uma vez que isso
acontece se, e só se, a aplicação linear identidade MI À I Ä I é contínua
de cada uma das normas para a outra.

II.2.35 (Composição com uma aplicação linear) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço


de medida, I e J espaços de Banach e !À I Ä J uma aplicação linear
contínua. Se 0 À \ Ä I é uma aplicação integrável, então ! ‰ 0 À \ Ä J é
também uma aplicação integrável e

( !Ð0 ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ !Š( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ‹.

Em particular, se considerarmos num espaço de Banach outra norma


equivalente61, uma aplicação 0 À \ Ä I é integrável relativamente à primeira
norma se, e só se, for integrável relativamente à segunda norma e então o

61Que o torna portanto também um espaço de Banach distinto, uma vez que a sucessões
convergentes para um dado vetor e as sucessões de Cauchy são as mesmas para duas
normas equivalentes.
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 119

integral é o mesmo dos dois pontos de vista (a aplicação identidade


MI À I Ä I é linear contínua de cada uma das normas para a outra).
Dem: Seja Q   ! tal que, para cada A − I , m!ÐAÑm Ÿ Q mAm. Uma vez
que ! ‰ 0 é a composta da aplicação contínua ! com a aplicação
topologicamente mensurável 0 , ! ‰ 0 é também topologicamente mensurável
e tem-se

( m!Ð0 ÐBÑÑm . .ÐBÑ Ÿ ( Q m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ Q ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  _,

o que mostra que ! ‰ 0 é também uma aplicação integrável. Seja agora


Ð08 Ñ8− uma sucessão dominada de aplicações em escada 08 À \ Ä I tal que

com ' : . .  _ tal que,, para cada B − \ , m08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, vem
08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ para cada B − \ . Sendo :À \ Ä ‘ uma função mensurável

m!Ð08 ÐBÑÑm Ÿ Q m0 ÐBÑm Ÿ Q :ÐBÑ, com ' Q : . . œ Q ' :. .  _, o


que mostra que a sucessão dos ! ‰ 08 À \ Ä J é também dominada. Tendo
em conta II.2.25, os ! ‰ 08 são aplicações em escada, com !Ð08 ÐBÑÑ Ä
!Ð0 ÐBÑÑ, e portanto

( !Ð0 ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ lim( !Ð08 ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ lim !Š( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ‹ œ

œ !Šlim( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ‹ œ !Š( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ‹. 

II.2.36 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I um espaço de


Banach sobre Š, igual a ‘ ou ‚. Tem-se então:
a) Se 0 À \ Ä I é uma aplicação integrável e + − Š, então é também inte-
grável a aplicação +0 À \ Ä I , B È +0 ÐBÑ, e

( +0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ +( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ;

b) Se 0 À \ Ä Š é uma aplicação integrável e A − I , então é também inte-


grável a aplicação 0 AÀ \ Ä I , B È 0 ÐBÑ A, e

( 0 ÐBÑ A . .ÐBÑ œ Š( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ‹ A.

Dem: Basta considerar, para a), a aplicação linear contínua I Ä I , D È +D ,


e, para b), a aplicação linear contínua Š Ä I , , È , A. 
II.2.37 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de
Banach e J § I um subespaço vetorial fechado que é, em particular,
também um espaço de Banach. Se 0 À \ Ä J é uma aplicação, então 0 é
integrável quando se considera J como espaço de chegada, se, e só se, é

' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ é o mesmo nos dois contextos, em particular este integral
integrável quando se considera I como espaço de chegada e então o integral
\
pertence a J .
120 Cap. II. O integral

Dem: O facto de J ser fechado, em particular um boreliano de I ,


permite-nos deduzir, tendo em conta I.5.5 e I.2.9, que 0 é mensurável de \
para J se, e só se, é mensurável de \ para I . O facto de 0 Ð\Ñ ser separável
é uma propriedade da topologia induzida de 0 Ð\Ñ e não depende assim de se

' m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  _ também não depende de qual o espaço de chegada


considerar J ou I como espaço de chegada. A propriedade de se ter
\
considerado. O facto de o valor do integral ser o mesmo nos dois contextos
resulta de aplicar II.2.35, considerando para ! a aplicação linear contínua
inclusão de J em I . 
II.2.38 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de Banach e
0 À \ Ä I uma aplicação integrável. É então também integrável, a função
\ Ä ‘ § ‘, B È m0 ÐBÑm e

½( 0 ÐBÑ . .ÐBѽ Ÿ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ.

Dem: O facto de 0 ser integrável implica, por definição que a função


mensurável \ Ä ‘ , B È m0 ÐBÑm tem integral finito, ou seja, é integrável.
Seja Ð08 Ñ8− uma sucessão dominada de aplicações em escada 08 À \ Ä I

' : . .  _, tal que m08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ. Tendo em conta II.2.27, tem-se,
tal que 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, para cada B − \ . Seja :À \ Ä ‘ mensurável, com

para cada 8 − ,

(1) ½( 08 ÐBÑ . .ÐBѽ Ÿ ( m08 ÐBÑm . .ÐBÑ.

Uma vez que, por definição, tem-se ' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim ' 08 ÐBÑ . .ÐBÑ, e
portanto também ½' 0 ÐBÑ . .ÐBѽ œ lim ½' 08 ÐBÑ . .ÐBѽ e que, pelo teore-

cada B − \ , ' m08 ÐBÑm . .ÐBÑ Ä ' m0 ÐBÑm . .ÐBÑ, concluímos de (1) que
ma da convergência dominada em II.1.34, por ser m08 ÐBÑm Ä m0 ÐBÑm, para

½( 0 ÐBÑ . .ÐBѽ Ÿ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ. 

II.2.39 (Teorema da convergência dominada) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de


medida, I um espaço de Banach e Ð08 Ñ8− uma sucessão dominada de
aplicações integráveis 08 À \ Ä I tal que, para cada B − \ , a sucessão dos
08 ÐBÑ tenha um limite 0 ÐBÑ em I . Tem-se então que a aplicação 0 À \ Ä I
assim definida é integrável e

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ.

Dem: Seja :À \ Ä ‘ uma função mensurável, com ' : . .  _ tal que,


para cada B − \ e 8 − , m08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, donde também m0 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ,
por ser m08 ÐBÑm Ä m0 ÐBÑm. Tendo em conta II.2.13, 0 À \ Ä I é topologica-
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 121

mente mensurável, e portanto integrável, uma vez que

( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ  _.

Considerando as aplicações mensuráveis \ Ä ‘ , B È m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm, o


facto de se ter, para cada B − \ , m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm Ä ! e
m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm Ÿ m08 ÐBÑm  m0 ÐBÑm Ÿ #:ÐBÑ,
com ' #:ÐBÑ . .ÐBÑ œ #' :ÐBÑ . .ÐBÑ  _, implica, pelo teorema da
convergência dominada em II.1.34,

( m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm . .ÐBÑ Ä ( ! . .ÐBÑ œ !

e portanto, por ser

½( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . .ÐBѽ œ ½( 08 ÐBÑ  0 ÐBÑ . .ÐBѽ

Ÿ ( m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm . .ÐBÑ,

também

½( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . .ÐBѽ Ä !,

o que prova a convergência no enunciado. 


II.2.40 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de Banach e
0 À \ Ä I uma aplicação integrável. Para cada E § \ , com E − `,
podemos considerar o espaço de medida restrição ÐEß `ÎE ß .ÎE Ñ e vêm inte-
gráveis as aplicações 0ÎE À E Ä I e ˆE 0 À \ Ä I . Podemos então definir
uma aplicação .Ð0 Ñ À ` Ä I por

.Ð0 Ñ ÐEÑ œ ( 0ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ ( ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


E \

Esta aplicação verifica .Ð0 Ñ ÐEÑ œ !, para cada E − ` com .ÐEÑ œ !, em


particular .Ð0 Ñ ÐgÑ œ !, e, qualquer que seja a família finita ÐE4 Ñ4−M de
conjuntos de ` disjuntos dois a dois,
.Ð0 Ñ ˆ.E4 ‰ œ " .Ð0 Ñ ÐE4 Ñ. 62
4−M 4−M

62Comparar com II.1.22. Repare-se que não enunciamos aqui uma propriedade de
aditividade numerável, uma vez que não sabemos o que é a soma de uma família infinita
de vetores do espaço de Banach I . Fa-lo-emos, no entanto, adiante em II.2.50.
122 Cap. II. O integral

Dem: Comecemos por verificar que, se 0 À \ Ä I é uma aplicação em


escada, então 0ÎE À E Ä I e ˆE 0 À \ Ä I são aplicações em escada e

(1) ( 0ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ ( ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


E \

Seja então Ð\5 Ñ5−O uma família finita de conjuntos de ` disjuntos dois a
dois e de união \ tal que em cada \5 a aplicação 0 tome um valor constante
A5 − I e lembremos que, sendo O! o conjunto dos 5 − O tais que
.Ð\5 Ñ  _, tem-se A5 œ !, para cada 5  O! (cf. II.2.17). Tem-se então
que 0ÎE À E Ä I toma os valores constantes A5 nos conjuntos mensuráveis
E  \5 , que são disjuntos dois a dois e de união E, e que só podem verificar
.ÐE  \5 Ñ œ _ se for .Ð\5 Ñ œ _, pelo que deduzimos de II.2.22 que
0ÎE À E Ä I é uma aplicação em escada, e, sendo O!w ¨ O! o conjunto dos
5 − O tais que .ÐE  \5 Ñ  _, vem, por definição,

(2) ( 0ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ " .ÐE  \5 Ñ A5 .


E 5−O!w

Analogamente, ˆE 0 À \ Ä I toma os valores constantes A5 em E  \5 e o


valor constante ! em \ Ï E pelo que, uma vez que temos mais uma vez
conjuntos disjuntos dois a dois e de união \ , concluímos que esta é uma
aplicação em escada e que, por definição,

(3) ( ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " .ÐE  \5 Ñ A5


\ 5−O!w

(no caso em que .Ð\ Ï EÑ  _ faltou, no segundo membro, a parcela


.Ð\ Ï EÑ † ! œ !, que não altera este). Comparando as igualdades (2) e (3),
obtemos assim (1).
Passemos agora à prova de (1) no caso geral em que 0 À \ Ä I é uma
aplicação integrável. Consideremos uma sucessão dominada Ð08 Ñ8− de apli-

:À \ Ä ‘ uma aplicação mensurável, com '\ :ÐBÑ . .ÐBÑ  _, tal que,
cações em escada 08 À \ Ä I tal que, para cada B − \ , 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ. Seja

para cada B − \ e 8 − , m08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ. Uma vez que

( :ÎE ÐBÑ . .E ÐBÑ œ .Ð:Ñ ÐEÑ Ÿ .Ð:Ñ Ð\Ñ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ  _


E \

e que mˆE ÐBÑ08 ÐBÑm Ÿ m08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, temos sucessôes dominadas de
aplicações em escada Ð08 ÎE Ñ8− e ЈE 0 Ñ8− , com 08 ÎE ÐBÑ Ä 0ÎE ÐBÑ, para
cada B − E, e ˆE ÐBÑ08 ÐBÑ Ä ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ, para cada B − \ , donde, pelo
teorema da convergência dominada (II.2.39), 0ÎE À E Ä I e ˆE 0 À \ Ä I são
aplicações integráveis e
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 123

( 08 ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ Ä ( 0ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ,


E E

( ˆE ÐBÑ08 ÐBÑ . .ÐBÑ Ä ( ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \

Uma vez que, pelo que se verificou no início, para cada 8 − ,

( 08 ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ ( ˆE ÐBÑ08 ÐBÑ . .ÐBÑ,


E \

podemos concluir que se tem efetivamente (1), para cada função integrável
0 À \ Ä I e cada E − `, o que nos permite definir .Ð0 Ñ ÐEÑ − I por
qualquer das duas expressões no enunciado.
O facto de se ter .Ð0 Ñ ÐEÑ œ !, sempre que .ÐEÑ œ !, é uma consequência da
primeira caracterização, tendo em conta II.2.33. O facto de, sempre que

ter-se .Ð0 Ñ ˆ- E4 ‰ œ ! .Ð0 Ñ ÐE3 Ñ é uma consequência da segunda caracteri-


ÐE4 Ñ4−M é uma família finita de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois,

zação, tendo em conta II.2.34, uma vez que, sendo E œ - E4 , tem-se, para
4−M 4−M

4−M
cada B − \ ,
ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ œ " ˆE4 ÐBÑ0 ÐBÑ. 
4−M

II.2.41 (Nota) Analogamente ao que se disse em II.1.23 , para as funções positi-


vas, se Ð\ß `ß .Ñ é um espaço de medida, I um espaço de Banach, E − `
e 0 é uma aplicação com valores em I , definida num subconjunto de \
contendo E e cuja restrição a E seja uma aplicação integrável, usa-se a
notação

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ
E

para significar 'E 0ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ. No caso em que \ œ ‘ e . é a medida de
Lebesgue - nos borelianos de ‘, escreve-se também simplesmente

( 0 ÐBÑ .B.
E

Com esta notação, a primeira caracterização de .Ð0 Ñ ÐEÑ em II.2.40 pode


também ser escrita na forma

.Ð0 Ñ ÐEÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


E
124 Cap. II. O integral

II.2.42 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de


Banach, 0 À \ Ä I uma aplicação integrável e ] § \ um conjunto
mensurável com .Ð] Ñ œ !. Tem-se então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \Ï]

Dem: Tendo em conta II.2.40, podemos escrever

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ .Ð0 Ñ Ð\Ñ œ .Ð0 Ñ Ð\ Ï ] Ñ  .Ð0 Ñ Ð] Ñ œ


\

œ .Ð0 Ñ Ð\ Ï ] Ñ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ. 


\Ï]

II.2.43 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de


Banach, 0 ß s0 À \ Ä I duas aplicações integráveis tais que 0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ
quase sempre (cf. II.1.28). Tem-se então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( s0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \

Dem: Sendo ] − ` com .Ð] Ñ œ ! tal que, para cada B − \ Ï ] ,


0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ, vem

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( s0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ


\ \Ï] \Ï]

œ ( s0 ÐBÑ . .ÐBÑ. 
\

A propriedade de monotonia do integral, enunciada para funções positivas


na alínea b) de II.1.16, não faz em geral sentido para funções com valores
num espaço de Banach, mas já o faz no caso em que esse espaço de
Banach é ‘, caso em que, como vamos ver, é verdadeira e tem uma justi-
ficação muito simples.

II.2.44 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e 0 ß 1À \ Ä ‘ duas aplicações


integráveis tais que, para cada B − \ , 0 ÐBÑ Ÿ 1ÐBÑ. Tem-se então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ


\ \

e, no caso em que '\ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ '\ 1ÐBÑ . .ÐBÑ, tem-se necessariamente
0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre.
Dem: Pode-se escrever 1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ  Ð1ÐBÑ  0 ÐBÑÑ, com 1ÐBÑ  0 ÐBÑ   !

e com ! Ÿ ' 1ÐBÑ  0 ÐBÑ . .ÐBÑ. Tem-se


e 1  0 À \ Ä ‘ integrável, o que implica que 1  0 À \ Ä ‘ é mensurável
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 125

( 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 1ÐBÑ  0 ÐBÑ . .ÐBÑ,

o que implica que '\ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ '\ 1ÐBÑ . .ÐBÑ e que, se for

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ,


\ \

tem-se ' 1ÐBÑ  0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !, portanto, por II.1.30, 1ÐBÑ  0 ÐBÑ œ !
quase sempre, ou seja, 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre. 

uma função mensurável com '\ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !, então 0 ÐBÑ œ ! quase
No contexto das funções positivas, viu-se em II.1.30 que, se 0 À \ Ä ‘ é

sempre. É claro que, nesta forma, o resultado deixa de ser válido para
aplicações integráveis com valores num espaço de Banach (considerar,
por exemplo uma função em escada que tome valores simétricos em dois
conjuntos com igual medida e se anule no restante do domínio). O melhor
que conseguimos nesta direção vai ser um corolário do resultado que
apresentamos em seguida.

II.2.45 (Do integral para a aplicação) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida


e f § ` um semianel tal que a 5 -álgebra gerada por f seja ` e que a
restrição de . a f seja 5 -finita (cf. I.4.9).63 Sejam I um espaço de Banach,
G § I um subconjunto fechado e 0 À \ Ä I uma aplicação topologica-
mente mensurável tal que, sempre que E − f , se tenha .ÐEÑ  _,
0ÎE À E Ä I integrável e, se .ÐEÑ  !,

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − G .
"
.ÐEÑ E
Tem-se então 0 ÐBÑ − G quase sempre, isto é, existe ] − ` com .Ð] Ñ œ !
tal que 0 ÐBÑ − G , para cada B − \ Ï ] .
Dem: Vamos dividir a demonstração em duas partes:
1) Sejam A − I e <  ! tais que F< ÐAÑ § I Ï G , onde F< ÐAÑ é a bola
aberta de I com centro A e raio <. Vamos mostrar que se tem quase sempre
0 ÐBÑ Â F< ÐAÑ.
Subdem: Seja 1À \ Ä ‘ a aplicação mensurável definida por 1ÐBÑ œ
m0 ÐBÑ  Am e reparemos que, para cada E − f , tem-se

63Como exemplos típicos de situações deste tipo, temos aquele em . é uma medida
5 -finita numa 5 -álgebra ` e tomamos para f a classe dos E − ` com .ÐEÑ  _ (cf.
I.4.11) e aquele em que ` é a 5 -álgebra dos borelianos de um intervalo aberto X de ‘, .
é a medida de Lebesgue-Stieltjes associada a uma certa função 1 e f é a classe dos
X-intervalos semiabertos (cf. I.4.10). Repare-se que nestes exemplos os conjuntos dos
semianel têm todos medida finita.
126 Cap. II. O integral

.Ð1Ñ ÐEÑ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( m0 ÐBÑm  mAm . .ÐBÑ œ


E E

œ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  .ÐEÑmAm  _,


E

o que implica, em particular, que a restrição a f da medida .Ð1Ñ À ` Ä ‘ é

" '
também 5 -finita. Seja E − f arbitrário. Se .ÐEÑ  !, o facto de se ter
.ÐEÑ E 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − G implica que

½Š ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ‹  A½   <


"
.ÐEÑ E
donde

.Ð1Ñ ÐEÑ œ ( m0 ÐBÑ  Am . .ÐBÑ   ½( 0 ÐBÑ  A . .ÐBѽ œ


E E

œ ½( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  .ÐEÑA½ œ


E

œ .ÐEѽŠ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ‹  A½   <.ÐEÑ,


"
.ÐEÑ E
e portanto .Ð1Ñ ÐEÑ   <.ÐEÑ, desigualdade que é também válida, trivialmente,
no caso em que .ÐEÑ œ !. Uma vez que a medida <.À ` Ä ‘ tem também
restrição 5 -finita ao semianel f , podemos deduzir de I.4.17 que a desigual-
dade .Ð1Ñ ÐEÑ   <.ÐEÑ é válida, mais geralmente, para todo o E − `.
Seja agora E − `,
E œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ − F< ÐAÑ× œ ÖB − \ ± 1ÐBÑ  <×

\ œ - \4 e .Ð\4 Ñ  _. Uma vez que, para cada 4 − N , o conjunto


e seja Ð\4 Ñ4−N uma família contável de conjuntos de f § ` tal que

4−N
\4  E − ` verifica .Ð\4  EÑ  _, deduzimos de II.2.44 que

.Ð1Ñ Ð\4  EÑ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( < . .ÐBÑ œ <.Ð\4  EÑ


\4 E \4 E

pelo que, por ser também, como vimos atrás, .Ð1Ñ Ð\4  EÑ   <.Ð\4  EÑ,
temos mesmo .Ð1Ñ Ð\4  EÑ œ <.Ð\4  EÑ, donde, mais uma vez pelo

.Ð\4  EÑ œ !. Uma vez que E œ - Ð\4  EÑ, concluímos que


mesmo resultado, tem que ser 1ÐBÑ œ < quase sempre em \4  E, isto é,

4−N

.ÐEÑ Ÿ " .Ð\4  EÑ œ !,


4−N

o que mostra que se tem efetivamente m0 ÐBÑ  Am   < quase sempre em \ .


§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 127

2) Vamos agora utilizar a conclusão de 1) para justificar a propriedade do


enunciado. Afastando já o caso trivial em que 0 Ð\Ñ § G , seja ^ uma parte
contável densa de 0 Ð\Ñ Ï G e seja ÐF8 Ñ8− uma sucessão cujo conjunto de
termos seja o conjunto contável das bolas abertas de centro num ponto de ^
e raio racional estritamente positivo, que estão contidas em I Ï G . Para cada
B − \ tal que 0 ÐBÑ Â G , podemos considerar <w  ! tal que
F<w Ð0 ÐBÑÑ § I Ï G , um racional <  ! com <  <w Î# e um ponto
D − F< Ð0 ÐBÑÑ  ^ , tendo-se então 0 ÐBÑ − F< ÐDÑ e F< ÐDÑ § F#< Ð0 ÐBÑÑ §

0 Ð\Ñ Ï G § - F8 . O que verificámos em 1) garante-nos que, para cada


I Ï G , o que mostra que F< ÐDÑ é um dos conjuntos F8 . Provámos assim que

8−

.Ð]8 Ñ œ ! tal que 0 ÐBÑ Â F8 , para cada B − \ Ï ]8 . Sendo ] œ - ]8 ,


8 − , tem-se 0 ÐBÑ Â F8 quase sempre, isto é, existe ]8 − ` com

.Ð] Ñ Ÿ ! .Ð]8 Ñ œ !
8−
tem-se ] − `, e, para cada B − \ Ï],
0 ÐBÑ Â - F8 , portanto 0 ÐBÑ − G . Ficou assim provado que se tem
8−

8−
efetivamente 0 ÐBÑ − G quase sempre. 
II.2.46 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e f § ` um
semianel tal que a 5 -álgebra gerada por f seja ` e que a restrição de . a f
seja 5 -finita. Sejam I um espaço de Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação
topologicamente mensurável tal que, sempre que E − f , se tenha
.ÐEÑ  _, 0ÎE À E Ä I integrável e

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ !.
E

Tem-se então 0 ÐBÑ œ ! quase sempre.


Dem: Trata-se do caso particular do resultado precedente em que se
considera para G o conjunto fechado Ö!× § I . 

Com o objetivo de generalizarmos a aditividade finita do integral, referida


em II.2.40, vamos agora definir as somas de famílias, eventualmente
infinitas, de vetores dum espaço de Banach, estudando especialmente o
caso em que o conjunto de índices é contável.

II.2.47 (Famílias somáveis)64 Sejam I um espaço de Banach e ÐA4 Ñ4−N uma


família, finita ou infinita, de vetores de I . Diz-se que aquela família é
somável se existir um vetor A − I com a seguinte propriedade: Qualquer
que seja $  !, existe uma parte finita M! § N tal que, para cada parte finita
M § N com M! § M ,

64Para um estudo mais aprofundado das famílias somáveis num espaço de Banach, ver,
por exemplo [9].
128 Cap. II. O integral

½A  " A4 ½  $.
4−M

Tem-se então:
a) Se a família é somável, não existe mais que um vetor A com a propriedade
referida, pelo que é legítimo definir a soma de uma família somável, notada
" A4
4−N

como sendo o único vetor A nessas condições.

como soma a soma ! A4 , no sentido algébrico (se isto não acontecesse, a


b) No caso em que N é finito, qualquer família ÐA4 Ñ4−N é somável e tem

4−N
notação seria ambígua).

a família é somável se, e só se, no sentido de I.1.6, ! +4  _ e, nesse caso


c) No caso em que I œ ‘ e Ð+4 Ñ4−N é uma família de elementos de ‘ , então

a soma da família é igual à soma ! +4 no sentido referido (por outras


4−N

4−N
palavras, mais uma vez, a notação não é ambígua).
d) (Mudança de índices) Sejam ÐA4 Ñ4−N uma família de vetores de I , N w
outro conjunto de índices e :À N w Ä N uma aplicação bijetiva. Tem-se então
que a família ÐA4 Ñ4−N é somável se, e só se, a família ÐA:Ð3Ñ Ñ3−N w é somável e,
quando isso acontecer,
" A3 œ " A:Ð3Ñ .
4−N 3−N w

e) (Séries e famílias somáveis) Sejam I um espaço de Banach e ÐA8 Ñ8−


uma família somável de vetores de I indexada em . Sendo, para cada
8 − ,

W8 œ " A:
8

:œ"

(a soma parcial no contexto das séries), tem-se então que W8 Ä ! A8 .65


8−
Dem: a) Suponhamos que A e Aw eram vetores distintos com a mesma

65Por outras palavras, se a família é somável então a série é convergente e a soma da


família coincide com a soma da série. Note-se que não afirmamos a recíproca: Por
exemplo, no contexto de ‘, é bem conhecido que a série harmónica alternada, correspon-
dente à família que a 8 associa Ð"Ñ8 8" , é convergente (as correspondentes somas parciais
W8 convergem) e, no entanto, esta família não é somável, uma vez que se podem
considerar somas finitas com valores tão grandes quanto se queira, cujo conjunto de
índices contenha um conjunto finito dado.
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 129

propriedade e seja $ œ "# mA  Aw m. Podíamos escolher partes finitas M! e M!w


de N tais que, para cada parte finita M ¨ M! , e cada parte finita M w ¨ M!w ,

½A  " A 4 ½  $ , ½ A w  " A4 ½  $ .
4−M 4−M w

Tomando então a parte finita M œ M!  M!w , tinha-se então

#$ œ mA  Aw m œ ½ŠA  " A4 ‹  ŠAw  " A4 ‹½ Ÿ


4−M 4−M

Ÿ ½ A  " A 4 ½  ½ A w  " A4 ½  $  $ œ # $ ,
4−M 4−M

o que era absurdo.66

c) Suponhamos que ! +4 œ +  _. Dado $  !, a definição de + como


b) Basta reparar que, para cada $  !, podemos tomar para M! o próprio N .

um supremo garante a existência de uma parte finita M! § N tal que ! +4 


4−N

4−M!
+  $ e o facto de se ter +4   ! implica então que, para cada parte finita
M ¨ M! , tem-se
+  $  "+4 Ÿ "+4 Ÿ +,
4−M! 4−M

donde l+  ! +4 l  $ . Ficou assim provado que a família Ð+4 Ñ4−N é somável


4−M
e de soma +. Suponhamos, reciprocamente, que a família é somável e com

parte finita M ¨ M! , +  "  ! +4  +  ". Tem-se então, para uma parte


soma +. Podemos então considerar uma parte finita M! § N tal que, para cada

4−M
finita arbitrária M , por M!  M ser uma parte finita contendo M! ,
"+4 Ÿ " +4  +  ",
4−M 4−M! M

e portanto, tomando o supremo, ! +4 Ÿ +  "  _.


4−N
d) O resultado é claro no caso em que N é finito (cf. a discussão feita na
secção I.1 no contexto de ‘ ) e, no caso geral, resulta de termos uma bijeção
natural das partes finitas de N para as partes finitas de N w , M È :" ÐMÑ.
e) Temos uma consequência direta do facto de, para cada parte finita M § ,

66Quem conhecer as sucessões generalizadas terá já reconhecido que o facto de uma


família ser somável é equivalente a uma certa sucessão generalizada ser convergente e
que o que acabámos de fazer foi demonstrar, neste caso particular, a propriedade geral de
unicidade dos limites para as sucessões generalizadas.
130 Cap. II. O integral

existir 8! tal que M § Ö"ß á ß 8! × e de se ter então, para cada 8   8! , tam-


bém M § Ö"ß á ß 8×. 
II.2.48 (Famílias somáveis e o integral para a medida de contagem) Sejam I
um espaço de Banach, N um conjunto de índices e ÐA4 Ñ4−N uma família de
vetores de I (ou seja, o que é o mesmo, uma aplicação N Ä I ). Seja / a
medida de contagem na 5 -álgebra cÐN Ñ de todas as partes de N . Tem-se
então que a família é uma aplicação integrável N Ä I se, e só se
" mA4 m  _,
4−N

e, quando isso acontecer, a família é somável e com soma

" A4 œ ( A4 . / Ð4Ñ,
4−N N

tendo-se, em particular,

½" A4 ½ Ÿ " mA4 m.


4−N 4−N

Às famílias ÐA4 Ñ4−N com ! mA4 m  _ dá-se o nome da famílias absoluta-


4−N
mente somáveis.67
Dem: Reparemos que, no caso em que N é finito, a aplicação ÐA4 Ñ4−N é em
escada, em particular integrável, por ter o valor constante A4 em cada
conjunto Ö4× de medida ", pelo que obtemos

" A4 œ " / ÐÖ4×ÑA4 œ ( A4 . / Ð4Ñ.


4−N 4−N N

Passemos ao caso geral em que N é arbitrário. Qualquer família ÐA4 Ñ4−N de


vetores de I é evidentemente mensurável como aplicação. Tendo em conta
II.1.32, concluímos assim que a família é uma aplicação integrável se, e só
se,

" mA4 m œ ( mA4 m . .Ð4Ñ  _,


4−N N

já que esta condição implica, em particular, que mA4 m œ ! para cada 4 fora de
uma certa parte contável de N , pelo que o conjunto dos A4 é contável e
portanto a família é mesmo uma aplicação topologicamente mensurável.

67Comparar com II.1.32. Note-se que não afirmamos que uma família somável tenha que
ser absolutamente somável (embora se possa provar que isso acontece no caso em que
I œ ‘ ou, mais geralmente, em que I tenha dimensão finita, ver, por exemplo, os
exercícios da secção 2.5 de [9]).
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 131

Suponhamos então que esta condição se verifica. Seja $  ! arbitrário. Seja


M! § N finito tal que
" mA4 m  " mA4 m  $,
4−M! 4−N

portanto
" mA4 m  $.
4−N ÏM!

Para cada parte finita M § N , com M ¨ M! , tem-se então N Ï M § N Ï M! ,


donde também
" mA4 m  $
4−N ÏM

e daqui deduzimos, tendo em conta II.2.40, que

½( A4 . / Ð4Ñ  " A4 ½ œ ½( A4 . / Ð4Ñ  ( A4 . / Ð4ѽ œ


N 4−M N M

œ ½( A4 . / Ð4ѽ Ÿ ( mA4 m . / Ð4Ñ œ

œ " mA4 m  $,
N ÏM N ÏM

4−N ÏM

o que mostra que a família é, de facto, somável, e com 'N A4 . / Ð4Ñ como
soma. A desigualdade ½! A4 ½ Ÿ ! mA4 m resulta de II.2.38. 
4−N 4−N

II.2.49 (O integral de uma soma contável) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de


medida, I um espaço de Banach e Ð04 Ñ4−N uma família contável de

1À \ Ä ‘ , com ' 1 . .  _ e, para cada B − \ ,


aplicações integráveis 04 À \ Ä I tal que exista uma aplicação mensurável

" m04 ÐBÑm Ÿ 1ÐBÑ


4−N

somável). Sendo então 0 À \ Ä I a aplicação definida por 0 ÐBÑ œ ! 04 ÐBÑ,


(em particular, a família Ð04 ÐBÑÑ4−N de vetores de I é absolutamente

4−N
tem-se que 0 é integrável e

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ,


\ 4−N \

em que a soma do segundo membro é a de uma família absolutamente


somável de vetores de I .
132 Cap. II. O integral

Dem: Comecemos por notar que, no caso em que o conjunto dos índices N é
finito, o resultado é uma consequência de II.2.34. Resta-nos mostrar o
resultado no caso em que N é numerável, caso em que, por uma mudança do
conjunto de índices, podemos supor que N œ Þ Nesse caso, sabemos que se
tem 0 ÐBÑ œ lim =8 ÐBÑ onde =8 ÐBÑ œ ! 04 ÐBÑ, e portanto os =8 À \ Ä I são
8

4œ"
aplicações integráveis e com integrais

( =8 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ.


8

\ 4œ" \

Uma vez que, para cada 8 − ,

m=8 ÐBÑm Ÿ " m04 ÐBÑm Ÿ " m04 ÐBÑm Ÿ 1ÐBÑ,


8

4œ" 4−N

podemos aplicar o teorema da convergência dominada em II.2.39 para


concluir que 0 À \ Ä I é integrável e que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim ( =8 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ.


8
(1)
\ \ 4œ" \

Por outro lado,

" ½( 04 ÐBÑ . .ÐBѽ Ÿ " ( m04 ÐBÑm . .ÐBÑ œ


4−N \ 4−N \

œ ( " m04 ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ


\ 4−N

Ÿ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ  _
\

o que mostra que a família dos integrais '\ 04 ÐBÑ . .ÐBÑ é absolutamente
somável, e portanto

lim " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ,


8

4œ" \ 4−N \

o que, tendo em conta (1), implica a conclusão pretendida. 


II.2.50 (Corolário) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de
Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação integrável. Notemos, para cada E − `,

.Ð0 Ñ ÐEÑ œ ( 0ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ ( ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ


E \

(cf. II.2.40). Qualquer que seja a família contável ÐE3 Ñ3−M de conjuntos de `
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 133

disjuntos dois a dois, tem-se então


.Ð0 Ñ ˆ. E3 ‰ œ " .Ð0 Ñ ÐE3 Ñ,
3−M 3−M

onde a soma do segundo membro é a de uma família absolutamente somável

Dem: Pondo E œ - E3 , temos uma consequência direta do resultado prece-


de vetores de I .

3−M
dente, considerando para 1À \ Ä ‘ a função definida por 1ÐBÑ œ m0 ÐBÑm e
para 03 À \ Ä I a aplicação definida por 03 ÐBÑ œ ˆE3 ÐBÑ0 ÐBÑ, reparando que,
para cada B − \ Ï E, 03 ÐBÑ œ !, para todo o 4, e, para cada B − E3! ,

soma dos 03 ÐBÑ e, por outro lado, !m03 ÐBÑm Ÿ m0 ÐBÑm.


03! ÐBÑ œ 0 ÐBÑ e 03 ÐBÑ œ !, para cada 3 Á 3! , em qualquer caso ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ é a

3−M

II.2.51 (Associatividade contável nas famílias absolutamente somáveis)


Sejam I um espaço de Banach e ÐA4 Ñ4−N uma família absolutamente
somável de vetores de I . Seja ÐN3 Ñ3−M uma família contável de partes de N ,
disjuntas duas a duas e de união N . Tem-se então

" A4 œ " Š" A4 ‹,


4−N 3−M 4−N3

onde cada um dos somatórios aparecendo no segundo membro é o de uma


família absolutamente somável de vetores de I .
Dem: Considerando na 5 -álgebra de todas as partes de N a medida de
contagem / , temos uma consequência do corolário II.2.50 uma vez que, por
II.2.48,

" A4 œ ( A4 . / Ð4Ñ, " A4 œ ( A4 . / Ð4Ñ.


4−N N 4−N3 N3

II.2.52 (Nota sobre produtos de espaços de Banach) Recordemos que, se


I" ß I# ß á ß IR são espaços de Banach, então o produto cartesiano
I" ‚ I# ‚ â ‚ IR é também um espaço de Banach, com qualquer das
normas que define a topologia produto, uma das quais é a definida por
mÐA" ß A# ß á ß AR Ñm œ maxÖmA" mß mA# mß á ß mAR m×.
Recordemos também que, neste contexto, temos, para cada " Ÿ 4 Ÿ R , apli-
cações lineares contínuas
14 À I" ‚ I# ‚ â ‚ IR Ä I4 ,
+4 À I4 Ä I" ‚ I# ‚ â ‚ IR ,

(as projeções canónicas e as injeções canónicas) definidas, respetivamente,


por
134 Cap. II. O integral

14 ÐA" ß A# ß á ß AR Ñ œ A4 ,
+4 ÐA4 Ñ œ Ð!ß á ß !ß A4 ß !ß á ß !Ñ.

Um dos casos particulares da situação referida é aquele em que I4 œ ‘, para


todo o 4, caso em que o produto cartesiano é o espaço ‘R e a norma consi-
derada em ‘R é a chamada “norma do máximo”, notada frequentemente
mm_ .
II.2.53 (Integração com valores num produto) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de
medida, I" ß I# ß á ß IR espaços de Banach e, para cada " Ÿ 4 Ÿ R ,
04 À \ Ä I4 uma aplicação. Seja 0 À \ Ä I" ‚ I# ‚ â ‚ IR a aplicação
definida por
0 ÐBÑ œ Ð0" ÐBÑß 0# ÐBÑß á ß 0R ÐBÑÑ.
Tem-se então que 0 é uma aplicação integrável se, e só se, para cada
" Ÿ 4 Ÿ R , 04 é integrável e, quando isso acontecer,

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ Š( 0" ÐBÑ . .ÐBÑß ( 0# ÐBÑ . .ÐBÑß á ß ( 0R ÐBÑ . .ÐBÑ‹.


\ \ \ \

Dem: Temos uma consequência da nota precedente, de II.2.35 e de II.2.34,


uma vez que se tem 04 ÐBÑ œ 14 Ð0 ÐBÑÑ e

0 ÐBÑ œ " +4 Ð04 ÐBÑÑ.


R

4œ"

Tal como fizémos na secção II.1, vamos agora examinar alguns resultados
que estudam o comportamento do integral quando se altera a medida con-
siderada.

II.2.54 (O integral para a medida .Ð:Ñ ) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de


medida e :À \ Ä ‘ uma função mensurável e consideremos a corres-
pondente medida .Ð:Ñ À ` Ä ‘ , definida em II.1.22.68 Sejam I um espaço
de Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação topologicamente mensurável. É então
também topologicamente mensurável a aplicação :0 À \ Ä I , definida por
B È :ÐBÑ0 ÐBÑ, a aplicação 0 é integrável relativamente à medida .: se, e só
se, :0 é integrável relativamente à medida . e, quando isso acontecer,

( 0 ÐBÑ . .Ð:Ñ ÐBÑ œ ( :ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ.

68Repare-se que, ao contrário do que acontecia em II.1.35, não permitimos aqui que :ÐBÑ
possa tomar o valor _, visto que não fez sentido multiplicar um vetor de I por _.
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 135

Dem: O facto de :0 À \ Ä I ser topologicamente mensurável é uma


consequência da alínea c) de II.2.9. O facto de 0 ser integrável relativamente
a .Ð:Ñ se, e só se :0 é integrável relativamente a . é uma consequência de
II.1.35, uma vez que podemos escrever

( m0 ÐBÑm . .Ð:Ñ ÐBÑ œ ( :ÐBÑm0 ÐBÑm. .ÐBÑ œ ( m:ÐBÑ0 ÐBÑm . .ÐBÑ.

Examinemos agora o caso particular em que 0 À \ Ä I é uma função em


escada, relativamente a .Ð:Ñ . Tendo em conta II.2.17, existe então uma
família finita Ð\4 Ñ4−N de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois e de
união \ tal que em cada \4 a aplicação 0 tome o valor constante A4 ,
tendo-se A4 œ !, sempre que .Ð:Ñ Ð\4 Ñ œ _. Tal como referido em II.2.18,
sendo N! o conjunto dos índices 4 tais que .Ð:Ñ Ð\4 Ñ  _, tem-se, para
cada B − \ ,
0 ÐBÑ œ " ˆ\4 ÐBÑ A4 œ " ˆ\4 ÐBÑ A4
4−N 4−N!

e daqui decorre, tendo em conta II.2.34 e a alínea b) de II.2.36, que

( :ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( ":ÐBш\4 ÐBÑ A4 . .ÐBÑ œ


4−N!

œ "Š( :ÐBш\4 ÐBÑ . .ÐBÑ‹A4 œ


4−N!

œ ".Ð:Ñ Ð\4 ÑA4 œ ( 0 ÐBÑ . .Ð:Ñ ÐBÑ.


4−N!

Passemos enfim ao caso geral em que 0 À \ Ä I é integrável relativamente a


.Ð:Ñ . Seja Ð08 Ñ8− uma sucessão dominada de funções em escada relativa-

mensurável e com ' <ÐBÑ . .Ð:Ñ ÐBÑ  _ e m08 ÐBÑm Ÿ <ÐBÑ, tem-se, tendo
mente a .Ð:Ñ tal que, para cada B − \ , 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ. Sendo <À \ Ä ‘

em conta II.1.35,

( :ÐBÑ<ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( <ÐBÑ . .Ð:Ñ ÐBÑ  _,

:ÐBÑ08 ÐBÑ Ä :ÐBÑ0 ÐBÑ e m:ÐBÑ08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ<ÐBÑ. Uma vez que, como
vimos no início, os :08 são aplicações integráveis relativamente a . e com

( :ÐBÑ08 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 08 ÐBÑ . .Ð:Ñ ÐBÑ

podemos aplicar o teorema da convergência dominada em II.2.39 para


136 Cap. II. O integral

deduzir que

( :ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim( :ÐBÑ08 ÐBÑ . .ÐBÑ œ lim( 08 ÐBÑ . .Ð:Ñ ÐBÑ œ

œ ( 0 ÐBÑ . .Ð:Ñ ÐBÑ. 

II.2.55 (Soma de medidas e produto por uma constante) Sejam Ð\ß `Ñ um


espaço mensurável, .ß .w À ` Ä ‘ duas medidas e + − ‘ , e consideremos
as medidas .  .w À ` Ä ‘ e +.À ` Ä ‘ (cf. I.2.16). Sejam I um
espaço de Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação integrável relativamente a
ambas as medidas . e .w . Tem-se então que 0 é integrável relativamente a
ambas as medidas .  .w e +. e

( 0 ÐBÑ .Ð.  . ÑÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . . ÐBÑ,


w w
\ \ \

( 0 ÐBÑ .Ð+.ÑÐBÑ œ +( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \

Dem: O facto de 0 ser integrável relativamente a .  .w e a +. resulta de


que, tendo em conta II.1.37

( m0 ÐBÑm .Ð.  . ÑÐBÑ œ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  ( m 0 ÐBÑm . . ÐBÑ  _,


w w
\ \ \

( m0 ÐBÑm .Ð+.ÑÐBÑ œ +( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  _.


\ \

Examinemos agora o caso em que 0 é uma aplicação em escada


relativamente a .  .w e seja Ð\4 Ñ4−N uma família finita de conjuntos
mensuráveis disjuntos dois a dois e de união \ tal que em cada \4 a aplica-
ção 0 tome o valor constante A4 . Sendo N! o conjunto dos índices 4 tais que
.Ð\4 Ñ  .w Ð\4 Ñ  _, tem-se A4 œ !, para cada 4 − N Ï N! e, por
definição,

( 0 ÐBÑ .Ð.  . ÑÐBÑ œ " Ð.Ð\4 Ñ  . Ð\4 ÑÑA4 œ


w w
\

œ " .Ð\4 ÑA4  " .w Ð\4 ÑA4 .


4−N!
(1)

4−N! 4−N!

Uma vez que se tem A4 œ ! sempre que .Ð\4 Ñ œ _, ou .w Ð\4 Ñ œ _,
ou +.Ð\4 Ñ œ _, concluímos que 0 também é uma aplicação em escada
relativamente às medidas ., .w e +. e vemos que se tem
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 137

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " .Ð\4 ÑA4 ,


\ 4−N!

( 0 ÐBÑ . . ÐBÑ œ " . Ð\4 ÑA4 ,


w w
(2)
\ 4−N!

( 0 ÐBÑ .Ð+.ÑÐBÑ œ " +.Ð\4 ÑA4 œ +" .Ð\4 ÑA4 ,


\ 4−N! 4−N!

onde, em cada caso, poderão ter ficado a faltar parcelas nos segundos
membros, correspondentes a alguns dos índices 4 em N Ï N! , mas todas iguais
a ! por ser A4 œ !. Comparando as igualdades destacadas em (1) e (2)
obtemos assim, neste caso particular, as igualdades no enunciado.
Passemos agora ao caso geral em que 0 é integrável relativamente a . e a .w ,
e portanto também relativamente a .  .w e a +.. Relativamente a .  .w ,
podemos considerar uma sucessão dominada Ð08 Ñ8− de funções em escada

função mensurável :À \ Ä ‘ , com ' :ÐBÑ .Ð.  .w ÑÐBÑ  _, tal que
08 À \ Ä I tais que 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, para cada B − \ , existindo assim uma

m08 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, para cada B − \ e 8 − . Uma vez que, por II.1.37, tem-se

( :ÐBÑ .Ð.  . ÑÐBÑ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ  ( :ÐBÑ . . ÐBÑ,


w w
\ \ \

( :ÐBÑ .Ð+.ÑÐBÑ œ +( :ÐBÑ . .ÐBÑ,


\ \

e portanto também '\ :ÐBÑ . .ÐBÑ  _, '\ :ÐBÑ . .w ÐBÑ  _ e


' :ÐBÑ.Ð+.ÑÐBÑ  _, podemos aplicar o teorema da convergência
\
dominada e o caso já estudado das aplicações em escada para concluir que

( 0 ÐBÑ .Ð.  . ÑÐBÑ œ lim ( 08 ÐBÑ .Ð.  . ÑÐBÑ œ


w w
\ \

œ limŠ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 08 ÐBÑ . .w ÐBÑ‹ œ


\ \

œ limŠ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ‹  limŠ( 08 ÐBÑ . .w ÐBÑ‹ œ


\ \

œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . . ÐBÑ w


\ \

e, do mesmo modo,

( 0 ÐBÑ .Ð+.ÑÐBÑ œ lim( 08 ÐBÑ .Ð+.ÑÐBÑ œ limŠ+( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ‹ œ


\ \ \

œ + limŠ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ‹ œ +( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ. 


\ \
138 Cap. II. O integral

II.2.56 (Teorema trivial da mudança de variáveis) Sejam Ð\ß `ß .Ñ e


Ð] ß a ß .w Ñ dois espaços de medida e :À \ Ä ] uma aplicação mensurável
compatível com as medidas, isto é, com .Ð:" ÐFÑÑ œ .w ÐFÑ, para cada
F − a (cf. I.5.11). Para cada espaço de Banach I e cada aplicação
integrável 0 À ] Ä I , tem-se que 0 ‰ :À \ Ä I é integrável e

( 0 ÐCÑ . . ÐCÑ œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ.


w
] \

Dem: É conhecido que, sendo 0 À ] Ä I topologicamente mensurável, o


mesmo acontece a 0 ‰ :À \ Ä I . O facto de 0 ‰ : ser integrável resulta de
que, por II.1.38,

( m0 Ð:ÐBÑÑm . .ÐBÑ œ ( m0 ÐCÑm . . ÐCÑ.


w
\ ]

Comecemos por examinar o caso em que 0 é uma aplicação em escada. Seja


então Ð]4 Ñ4−N uma família finita de subconjuntos mensuráveis de ] ,
disjuntos dois a dois e de união ] , tais que, para cada C − ]4 , 0 ÐCÑ tenha um
valor constante A4 − I . Sabemos que, sendo então N! o conjunto dos 4 − N
tais que .w Ð]4 Ñ  _, tem-se A4 œ !, para cada 4 − N Ï N! . Uma vez que os
conjuntos :" Ð]4 Ñ − ` são disjuntos dois a dois e de união \ e a aplicação
0 ‰ : toma o valor constante A4 em :" Ð]4 Ñ, onde .Ð:" Ð]4 ÑÑ œ .w Ð]4 Ñ,
vemos que 0 ‰ : também é uma aplicação em escada e, por definição,

( 0 ÐCÑ . . ÐCÑ œ " . Ð]4 ÑA4 œ " .Ð: Ð]3 ÑÑA4 œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ.
w w "
] 4−N! 4−N! \

Passemos agora ao caso geral, em que 0 À ] Ä I é uma aplicação integrável.


Podemos então considerar uma sucessão dominada Ð08 Ñ8− de aplicações em

função mensurável <À ] Ä ‘ , com '] <ÐCÑ . .w ÐCÑ  _, tal que, para
escada 08 À ] Ä I , com 08 ÐCÑ Ä 0 ÐCÑ, para cada C − ] , e portanto uma

cada 8 −  e C − ] , m08 ÐCÑm Ÿ <ÐCÑ. Vem então, tendo em conta II.1.38,

( <Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ ( <ÐCÑ . . ÐCÑ  _


w
\ ]

pelo que os 08 ‰ :À \ Ä ‘ constituem também uma sucessão dominada de


aplicações em escada, com 08 Ð:ÐBÑÑ Ä 0 Ð:ÐBÑÑ, para cada B − \ , e obte-
mos, pelo teorema da convergência dominada,

( 0 ÐCÑ . . ÐCÑ œ lim ( 08 ÐCÑ . . ÐCÑ œ lim ( 08 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ


w w
] ] \

œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ. 
\
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 139

Exercícios

Ex II.2.1 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e 0 À \ Ä ‚ uma aplicação


mensurável tal que 0 ÐBÑ Á !, para todo o B − \ . Verificar que também é
"
mensurável a aplicação \ Ä ‚, B È 0 ÐBÑ .

Ex II.2.2 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, I um espaço de Banach e


0 À \ Ä I uma aplicação topologicamente mensurável. Verificar que
também é topologicamente mensurável a aplicação 1À \ Ä I definida por

1ÐBÑ œ œ
0 ÐBÑ, se m0 ÐBÑm é racional
!, se m0 ÐBÑm é irracionalÞ

Ex II.2.3 Provar a seguinte recíproca de II.2.8: Sejam Ð\ß `Ñ um espaço


mensurável e I e J espaços de Banach e consideremos em I ‚ J a “norma
do máximo”, definida no resultado referido. Se 2À \ Ä I ‚ J é uma
aplicação topologicamente mensurável onde, 2ÐBÑ œ Ð0 ÐBÑß 1ÐBÑÑ, para cada
B − \ , então as aplicações 0 À \ Ä I e 1À \ Ä J também são topologica-
mente mensuráveis.
Ex II.2.4 Sejam I um espaço vetorial normado, real ou complexo, e E § I um
subconjunto separável. Sendo J § I o subespaço vetorial gerado por E,
verificar que J também é separável. Sugestão: Sendo F § E um conjunto
contável denso em E, considerar o conjunto das combinações lineares finitas
de elementos de F (de F  3F , no caso complexo) com coeficientes
racionais.
Ex II.2.5 Sejam I um espaço vetorial normado, real ou complexo, ÐC8 Ñ8− uma
sucessão de vetores de I e J o subespaço vetorial de I gerado pelo
conjunto dos C8 . Mostrar que J é um boreliano de I . Sugestão: Mostrar que
J é a união de uma família numerável de compactos. Para isso, considerar,
para cada R − , a bola fechada de centro ! e raio R do subespaço vetorial
de dimensão finita gerado pelos C8 com " Ÿ 8 Ÿ R .
Ex II.2.6 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, I um espaço de Banach e
0 ß 1À \ Ä I duas aplicações topologicamente mensuráveis. Verificar que é
mensurável o conjunto
E œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ×.

Sugestão: Ao contrário do que sucedia no contexto de ‘ , é possível


considerar aqui a função topologicamente mensurável 0  1À \ Ä I .
Ex II.2.7 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, I um espaço de Banach,
Ð08 Ñ8− uma sucessão de funções topologicamente mensuráveis 08 À \ Ä I
140 Cap. II. O integral

e 0 À \ Ä I uma aplicação topologicamente mensurável. Mostrar que são


mensuráveis:
a) O conjunto dos pontos B − \ tais que a sucessão dos 08 ÐBÑ − I seja
limitada.
b) O conjunto dos pontos B − \ tais que 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ.
c) O conjunto dos pontos B − \ tais que a sucessão dos 08 ÐBÑ admita 0 ÐBÑ
como sublimite.
d) O conjunto dos pontos B − \ tais que a sucessão dos 08 ÐBÑ seja conver-
gente.
Ex II.2.8 (Teorema de Egoroff) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida finita,
isto é, com .Ð\Ñ  _, I um espaço de Banach e, para cada 8 − ,
08 À \ Ä I uma aplicação topologicamente mensurável. Suponhamos que,
para cada B − \ , a sucessão dos 08 ÐBÑ tem limite 0 ÐBÑ − I . Mostrar que,
para cada &  !, existe um conjunto E − ` com .ÐEÑ  & tal que em
\ Ï E a convergência 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ seja uniforme.
Sugestão: Para cada 5 −  e : − , considerar o conjunto mensurável
"
F5ß: œ ÖB − \ ± a m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm  ×.
8 : 5
Verificar que, para cada 5 − , a sucessão dos conjuntos F5ß: é crescente e
de união \ e utilizar esse facto para escolher :5 tal que
&
.Ð\ Ï F5ß:5 Ñ  5 .
#
Tomar então
E œ . \ Ï F5ß:5 .
5−

Ex II.2.9 (Versão modificada da aproximação dominada) Seja Ð\ß `ß .Ñ um


espaço de medida finita, isto é, com .Ð\Ñ  _. Sejam I um espaço de
Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação integrável. Mostrar que existe então uma
sucessão dominada Ð08 Ñ8− de aplicações em escada 08 À \ Ä I tal que
08 Ð\Ñ § 0 Ð\Ñ e 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, para cada B − \ .69 Reparar que, no caso
em que .Ð\Ñ œ _ e !  0 Ð\Ñ, uma tal aproximação é impossível, por
não existirem aplicações em escada tomando valores em 0 Ð\Ñ.
Sugestão: Afastado o caso trivial em que \ œ g, fixar B! − \ e aplicar
II.2.29 à função integrável s0 ÐBÑ œ 0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñ, cujo contradomínio con-
tém !, somando depois 0 ÐB! Ñ às aplicações em escada que aproximam s0 .

69Relativamente ao que foi provado em II.2.29, abrimos mão da majoração m08 ÐBÑm Ÿ
#m0 ÐBÑm, mas obtivémos a condição mais forte de se ter 08 Ð\Ñ § 0 Ð\Ñ, e não apenas
08 Ð\Ñ § 0 Ð\Ñ  {0}, que, nalguns casos, é importante.
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 141

Ex II.2.10 (Uma variante de II.2.29 com aproximação uniforme) Sejam


Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de Banach e 0 À \ Ä I uma
aplicação topologicamente mensurável. Suponhamos que I tem dimensão
finita e 0 Ð\Ñ é limitado70. Mostrar que existe uma sucessão de aplicações
topologicamente mensuráveis 08 À \ Ä I verificando as condições a), b) e c)
de II.2.29 mas também a condição mais forte que a) que consiste em afirmar
que 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ uniformemente.
Sugestão: Repetir a demonstração de II.2.29, com a única alteração que
consiste em escolher mais cuidadosamente a sucessão dos A8 . Mais
precisamente, depois de tomar A" œ !, considerar a seguir um número finito
de pontos de 0 Ð\Ñ  Ö!× tais que a união das bolas de centro nesses pontos e
raio " contenha 0 Ð\Ñ, e fazer o mesmo sucessivamente, com o raio "
subsituído por "# , "$ , "% , etc…
Ex II.2.11 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida finita, isto é, com
.Ð\Ñ  _, e sejam I um espaço de Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação
topologicamente mensurável e limitada (isto é, com o contradomínio 0 Ð\Ñ
contido nalguma bola de centro ! de I ). Mostrar que a aplicação 0 é
integrável.
Ex II.2.12 (Construção alternativa do integral das funções reais) Seja
Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida.

mensurável e com ' l0 ÐBÑl . .ÐBÑ  _, então existem funções mensurá-
a) Mostrar que, se 0 À \ Ä ‘ é uma função integrável, isto é, uma função

veis, 1ß 2À \ Ä ‘ , com ' 1ÐBÑ . .ÐBÑ  _ e ' 2ÐBÑ . .ÐBÑ  _, tais
que, para cada B − \ , 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ  2ÐBÑ.
Sugestão: Tomar para 1 e 2 as funções 0 e 0 definidas, respetivamente,
por
l0 ÐBÑl  0 ÐBÑ l0 ÐBÑl  0 ÐBÑ 71
0 ÐBÑ œ , 0 ÐBÑ œ .
# #
s \ Ä ‘ são outras duas funções mensuráveis, com
b) Mostrar que, se s1ß 2À
s , para cada
integrais finitos, tais que se tenha também 0 ÐBÑ œ s1ÐBÑ  2ÐBÑ
B − \, então

( 1ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 2ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( s1ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 2ÐBÑ


s ..ÐBÑ,
\ \ \ \

o que permite definir, sem ambiguidade e de forma independente do que


fizémos na secção II.2, o integral de 0 por

70Mais geralmente, quem conheça a noção de subconjunto precompacto de um espaço


métrico (cf., por exemplo, [9]), poderá apenas supor que 0 Ð\Ñ seja precompacto, sem que
I tenha que ter dimensão finita.
71Há, no entanto, vantagem em admitir que 1 e 2 possam ser outras funções.
142 Cap. II. O integral

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 2ÐBÑ . .ÐBÑ,


\ \ \

para qualquer par 1ß 2 nas condições referidas em a).


c) Verificar que, se 0 À \ Ä ‘ fosse integrável, o integral definido em b)
coincide com o já conhecido, no contexto das funções positivas.
d) Verificar que, se 0 À \ Ä ‘ é uma função integrável, então o integral
definido em b) coincide com o que definimos no decurso da secção II.2,
encarado ‘ como espaço de Banach.
e) Verificar, mais uma vez sem supor conhecido o que fizémos na secção
II.2, que, se 0 ß s0 À \ Ä ‘ são funções integráveis e + − ‘, então

( 0 ÐBÑ  s0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( s0 ÐBÑ . .ÐBÑ,


\ \ \

( +0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ +( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ,


\ \

¹( 0 ÐBÑ . .ÐBѹ Ÿ ( l0 ÐBÑl . .ÐBÑ.


\ \

Ex II.2.13 (Conjuntos convexos) Seja I é um espaço vetorial. Se Aß D − I , o


segmento afim de A para D é o conjunto ÒÒAß DÓÓ dos vetores da forma
=A  >D, com =ß > − ‘ e =  > œ ",72 ou, por outras palavras, o conjunto
dos vetores da forma Ð"  >ÑA  >D œ A  >ÐD  AÑ, com > − Ò!ß "Ó,
conjunto que, se A Á D , fica em correspondência biunívoca com Ò!ß "Ó por
> È Ð"  >ÑA  >D œ A  >ÐD  AÑ.
Um conjunto G § I diz-se convexo se, quaisquer que sejam Aß D − G ,
tem-se ÒÒAß DÓÓ § G .
a) Verificar que se tem ÒÒAß DÓÓ œ ÒÒDß AÓÓ, A − ÒÒAß DÓÓ, D − ÒÒAß DÓÓ e
ÒÒAß AÓÓ œ ÖA×. Verificar ainda que C  ÒÒAß DÓÓ œ ÒÒC  Aß C  DÓÓ.
b) Reparar que g é um conjunto convexo e verificar que a intersecção de uma
família arbitrária de subconjuntos convexos de I é ainda um subconjunto
convexo, que, se G § I é convexo e C − I , então a translação
C  G œ 7C ÐGÑ é também um subconjunto convexo e que, se J § I é um
subespaço vetorial, então J é um conjunto convexo.
c) Verificar que, no espaço vetorial ‘, tem-se ÒÒ+ß ,ÓÓ œ Ò+ß ,Ó ou
ÒÒ+ß ,ÓÓ œ Ò,ß +Ó, conforme + Ÿ , ou , Ÿ +, e, consequentemente, que um
subconjunto de ‘ é convexo se, e só se, é um intervalo.
d) Verificar que, se I e J são espaços vetoriais e -À I Ä J é uma aplicação
linear, então -ÐÒÒAß DÓÓÑ œ ÒÒ-ÐAÑß -ÐDÑÓÓ e, consequentemente, que, para cada
G § I convexo, -ÐGÑ § J é convexo e, para cada H § J convexo,

72Oselementos da forma =A  >D , com =ß > − ‘ e =  > œ ", podem ser encarados como
médias pesadas de A e D associadas aos pesos = e >.
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 143

-" ÐHÑ § I é convexo.


e) Seja I um espaço vetorial normado. Mostrar que, para cada A − I e
<  !, as bolas aberta e fechada de centro em A e raio <, F< ÐAÑ e F < ÐAÑ, são
conjuntos convexos. Mostrar que, se G § I é um conjunto convexo, então a
aderência adÐGÑ é um conjunto convexo.
f) Sejam I um espaço vetorial normado e G § I um conjunto convexo.
Mostrar que o interior intÐGÑ é também um conjunto convexo e, mais do que
isso, que, se A − intÐGÑ e D − adÐGÑ, então ÒÒAß DÓÓ Ï ÖD× § intÐGÑ. Deduzir,
em particular, que, se G § I é um conjunto convexo com intÐGÑ Á g, então
qualquer D aderente a G é também aderente a intÐGÑ.
Sugestão: Fixado C œ Ð"  >ÑA  >D , para um certo ! Ÿ >  ", tem-se
C  >D
Aœ ,
Ð"  >Ñ
pelo que existe &  ! tal que, para cada Cw − F& ÐCÑ e D w − F& ÐDÑ
Cw  >D w
− G;
Ð"  >Ñ
fixando D w − F& ÐDÑ  G , concluir que F& ÐCÑ § G .
g) Sejam I um espaço vetorial, G § I um conjunto convexo, A" ß á ß A8
elementos de G e >" ß á ß >8 − ‘ com >"  â  >8 œ ". Mostrar, por
indução em 8, que
>" A"  â  >8 A8 − G . 73
h) (Integral e conjuntos convexos) Sejam I um espaço de Banach e G § I
um conjunto convexo. Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida com
.Ð\Ñ œ " (um espaço de probabilidade) e 0 À \ Ä G § I uma aplicação
integrável. Mostrar que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − adÐGÑ. 74


\

Sugestão: Reparar que no caso em que 0 é uma aplicação em escada, temos


uma consequência da conclusão de g). Para o caso geral, utilizar a conclusão
do exercício II.2.9.
i) (Reformulação de h))75 Sejam I um espaço de Banach e G § I um
conjunto convexo. Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, E § \ um
conjunto mensurável, com !  .ÐEÑ  _, e 0 À E Ä G § I uma

73Como no caso 8 œ #, >" A"  â  >8 A8 pode ser encarado como uma média pesada

74Mais uma vez, o integral ' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − G pode ser encarado como uma média
dos vetores A" ß á ß A8 , associada aos pesos >" ß á ß >8 .
\
pesada dos valores de 0 , com a “distribuição de pesos” definida pela medida de
probabilidade .Þ
75A conclusão de g) também podia ter sido reformulada no mesmo sentido.
144 Cap. II. O integral

aplicação integrável. Mostrar que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − adÐGÑ.


"
.ÐEÑ E

Sugestão: Aplicar a conclusão de h) ao espaço de probabilidade que se


"
obtém considerando na 5 -álgebra `ÎE de partes de E a medida .ÐEÑ .ÎE .
k) (Complemento à conclusão de h)) Sob as hipóteses de h), mostrar que,
notando frÐGÑ a fronteira de G , se

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − frÐGÑ,


\

então 0 ÐBÑ − frÐGÑ quase sempre, em particular, se 0 Ð\Ñ § intÐGÑ, então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − intÐGÑ.


\

Sugestão: Aplicando II.2.45, se não fosse 0 ÐBÑ − frÐGÑ quase sempre,


existia E − ` com .ÐEÑ  ! tal que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − intÐGÑ


"
.ÐEÑ E

que '\ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ fica no segmento afim de extremidades


e tinha então que ser .ÐEÑ  ". Aplicar então a conclusão de f), reparando

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − intÐGÑ,


"
.ÐEÑ E

(
"
0 ÐBÑ . .ÐBÑ − adÐGÑ.
.Ð\ Ï EÑ \ÏE

Ex II.2.14 (Cones convexos) Seja I um espaço vetorial. Dizemos que um


conjunto G § I é um cone se ! − G e, para cada A − G e > − ‘ , >A − G .
a) Mostrar que, se G § I é um cone, então G é convexo se, e só se,
quaisquer que sejam Aß D − G , A  D − G . Em particular, qualquer subes-
paço vetorial J § I é um cone convexo.
b) Sejam I um espaço vetorial normado e G § I um cone convexo.
Mostrar que a aderência adÐGÑ é também um cone convexo e que, se
A − intÐGÑ e D − adÐGÑ, então A  D − intÐGÑ. Sugestão: Lembrar a
conclusão da alínea f) do exercício II.2.13.
c) Verificar que, se I é um espaço vetorial normado, G § I é um cone e
! − intÐGÑ, então G œ I .
d) Sejam I um espaço de Banach, G § I um cone convexo, Ð\ß `ß .Ñ um
espaço de medida e 0 À \ Ä G § I uma aplicação integrável. Mostrar que
se tem
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 145

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − adÐGÑ.


\

e) Sob as hipóteses de d) e supondo, para simplificar,76 que a medida . é


5-finita, mostrar que, se

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − frÐGÑ,


\

então 0 ÐBÑ − frÐGÑ quase sempre, em particular, se 0 Ð\Ñ § intÐGÑ, então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − intÐGÑ.


\

Sugestão: Se não fosse 0 ÐBÑ − frÐGÑ quase sempre deduzíamos de II.2.45 a


existência de E − `, com !  .ÐEÑ  _ tal que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − intÐGÑ,


"
.ÐEÑ E
e portanto também 'E 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − intÐGÑ. Aplicar então a conclusão de b),
reparando que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ E \ÏE

f) Verificar que a condição de a medida . ser 5 -finita pode ser dispensada,


sem afetar a validade da conclusão em e).
Sugestão: Por c), ! − frÐGÑ. Sendo ] œ ÖB − \ ± 0 ÐBÑ Á !×, a alínea c) do
exercício II.1.10 garante que a restrição de . a ] já é 5 -finita e reparar que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ ]

Ex II.2.15 (O centro de gravidade) Sejam I um espaço de Banach, \ § I um


subconjunto boreliano limitado e .À U\ Ä ‘ uma medida nos borelianos de
\ tal que !  .Ð\Ñ  _.
a) Mostrar que fica bem definido B\ − I , a que chamamos o centro de
gravidade de \ (relativamente à medida .) por

( B . .ÐBÑ.
"
B\ œ
.Ð\Ñ \

b) Seja G § I um conjunto convexo tal que \ § G . Mostrar que


B\ − adÐGÑ e que, no caso em que .Ð\  intÐGÑÑ  !, tem-se mesmo
B\ − intÐGÑ.

76Ver a alínea f) a seguir.


146 Cap. II. O integral

c) Suponhamos que \ œ \"  \# , com \" e \# borelianos disjuntos


verificando .Ð\" Ñ  ! e .Ð\# Ñ  !. Sendo B\" e B\# os centros de
gravidade de \" e \# , respetivamente, mostrar que B\ pertence ao segmento
afim de extremidades B\" e B\# .
Ex II.2.16 (O teorema da convergência dominada para sucessões generali-
zadas) Seja N um conjunto dirigido de tipo numerável (cf. a alínea e) do
exercício II.1.21). Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de
Banach e Ð04 Ñ4−N uma sucessão generalizada de aplicações integráveis
04 À \ Ä I . Suponhamos que, para cada B − \ , a sucessão generalizada

mensurável :À \ Ä ‘ com ' : . .  _ e m04 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, para cada


Ð04 ÐBÑÑ4−N de vetores de I tem limite 0 ÐBÑ − I e que existe uma função

B − \ e 4 − N . Verificar que a aplicação 0 À \ Ä I , assim definida, é inte-


grável e que

( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ Ä ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ.


\ \

Sugestão: Reduzir este resultado à versão do teorema da convergência


dominada para as sucessões indexadas em  (cf. II.2.39) por um processo
análogo ao utilizado para resolver a alínea f) do exercício II.1.21.
Ex II.2.17 (Versão melhorada de II.2.49 para quem conhece as sucessões
generalizadas) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de
Banach e Ð04 Ñ4−N uma família contável de aplicações integráveis 04 À \ Ä I .
Suponhamos que, para cada B − \, a família Ð04 ÐBÑÑ4−N de vetores de I é

mensurável :À \ Ä ‘ com ' : . .  _ tal que, para cada parte finita


somável77 e de soma 0 ÐBÑ − I . Suponhamos ainda que existe uma função

M § N , ¼! 04 ÐBѼ Ÿ :ÐBÑ. Mostrar que a aplicação 0 À \ Ä I assim


4−M
definida é integrável e que

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ.78


\ 4−N \

Sugestão: Temos uma aplicação direta do teorema da convergência


dominada para sucessões generalizadas, examinado no exercício II.2.16, se
repararmos que a soma de uma família somável de vetores de I é um caso
particular de limite de uma sucessão generalizada, cujo conjunto dirigido de
índices é de tipo numerável (cf. a alínea e) do exercício II.1.21).
Ex II.2.18 (Aplicações lineares fechadas e integração) Sejam I e J espaços
de Banach, I! § I um subespaço vetorial (não necessariamente fechado) e
-À I! Ä J uma aplicação linear (não necessariamente contínua). Diz-se que

77Não necessariamente absolutamente somável.


78Soma de uma família somável, mas não necessariamente absolutamente somável de
vetores de I .
§2. Integração de funções com valores num espaço de Banach 147

- é uma aplicação linear fechada se o gráfico de -,


K- œ ÖÐAß DÑ − I ‚ J ± A − I! e D œ -ÐAÑ× for um subespaço vetorial
fechado em I ‚ J .79
a) (Exemplo) Seja I œ J œ VÐÒ!ß "Óà ‘Ñ o espaço de Banach das aplicações
contínuas 0 À Ò!ß "Ó Ä ‘, com a norma definida por m0 m_ œ max l0 Ð>Ñl e seja
>−Ò!ß"Ó
I! § I o subespaço vetorial I! œ V" ÐÒ!ß "Óà ‘Ñ, cujos elementos são as
aplicações de classe G " , 0 À Ò!ß "Ó Ä ‘, isto é, as aplicações deriváveis em
cada > − Ò!ß "Ó e com 0 w À Ò!ß "Ó Ä ‘ contínua. Verificar que tem lugar uma
aplicação linear
-À V" ÐÒ!ß "Óà ‘Ñ Ä VÐÒ!ß "Óà ‘Ñ, -Ð0 Ñ œ 0 w ,
a qual não é uma aplicação linear contínua, mas é uma aplicação linear
fechada.
b) Sejam I e J espaços de Banach, I! § I um subespaço vetorial e
-À I! Ä J uma aplicação linear fechada. Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de

- ‰ 0 À \ Ä J também seja integrável. Mostrar que '\ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − I! e


medida e 0 À \ Ä I uma aplicação integrável, tal que 0 Ð\Ñ § I! e que

que

( -Ð0 ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ -Š( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ‹.


\ \

Ex II.2.19 (Variante de II.2.49) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um


espaço de Banach e Ð04 Ñ4−N uma família contável de aplicações integráveis
04 À \ Ä I tal que

" ( m04 ÐBÑm . .ÐBÑ  _.


4−N \

Mostrar que existe ] − `, com .Ð\ Ï ] Ñ œ !, tal que, para cada B − ] , a


família Ð04 ÐBÑÑ4−N de vetores de I seja absolutamente somável, e portanto
somável. Mostrar ainda que, sendo 0 À ] Ä I a aplicação definida por
0 ÐBÑ œ " 04 ÐBÑ,
4−N

0 é integrável e

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ, 80


] 4−N \

em que a soma do segundo membro é a de uma família absolutamente

79Reparar que, em qualquer caso, K é um subespaço vetorial de I ‚ J .


-
80Para o primeiro membro, lembrar a notação referida em II.2.41.
148 Cap. II. O integral

somável de vetores de I .

:ÐBÑ œ ! m04 ÐBÑm, ter em conta II.1.21 e II.1.29, definindo ] como o


Sugestão: Considerar a aplicação mensurável :À \ Ä ‘ definida por

4−N
conjunto dos B tais que :ÐBÑ  _ e aplicando II.2.49 às restrições a ] das
aplicações 04 .

§3. Propriedades elementares do integral indefinido.

Nesta secção vamos estudar algumas propriedades elementares do integral


indefinido, em que a palavra “elementar” significa que não pretendemos ir
muito além do que é estudado no contexto do integral de Riemann num
primeiro curso de Análise Real. Apesar de, no contexto do integral de
Lebesgue, que temos estado a estudar, existirem propriedades mais pro-
fundas (ver III.8.6 adiante), que aliás estiveram na origem da seu apareci-
mento, pensamos não ser prioritário que nos debrucemos sobre elas neste
momento, para podermos mais rapidamente chegar a outros resultados
importantes. O estudo das propriedades elementares do integral indefinido
vai servir-nos, em particular, para continuar a desenvolver a teoria do
integral de modo totalmente independente da dos integrais encontrados
anteriormente, mostrando que os métodos utilizados para calcular aqueles
são também válidos no presente contexto. A medida que utilizaremos
nesta secção será usualmente a medida de Lebesgue - nos borelianos de
‘ e relembramos que nos integrais relativos a esta medida é utilizada
frequentemente a notação .B no lugar de . -ÐBÑ.

II.3.1 Seja N § ‘ um intervalo de extremidades finitas ou infinitas e aberto ou


fechado em cada uma das extremidades. Sejam I um espaço de Banach e
0 À N Ä I uma aplicação. Diz-se que 0 é localmente integrável se 0 é
topologicamente mensurável e a restrição de 0 a cada intervalo fechado e
limitado M § N é integrável.
É claro que uma aplicação integrável 0 À N Ä I é também localmente
integrável e que, no caso em que o intervalo N é fechado e limitado, uma
aplicação 0 À N Ä I é localmente integrável se, e só se, é integrável.
Repare-se que, uma vez que qualquer intervalo fechado e limitado é com-
pacto e que qualquer compacto não vazio O § N está contido num intervalo
fechado e limitado contido em N (nomeadamente, aquele cujas extremidades
são o seu máximo e o seu mínimo), concluímos que 0 À N Ä I é localmente
integrável se, e só se, é topologicamente mensurável e com restrição inte-
grável a cada compacto O § N .81

81Esta observação permite fazer a ponte com a definição mais geral de aplicação local-
mente integrável que será apresentada adiante em III.4.15.
§3. Propriedades elementares do integral indefinido 149

II.3.2 Sejam N § ‘ um intervalo, I um espaço de Banach e 0 À N Ä I uma


aplicação contínua. Tem-se então que 0 é localmente integrável.
Dem: A aplicação 0 , sendo contínua, é mensurável e é mesmo
topologicamente mensurável, tendo em conta II.2.3, uma vez que N , sendo
um subconjunto de ‘, é de base contável. Seja agora M œ Ò+ß ,Ó § N um
intervalo fechado e limitado, que supomos já não vazio. A função contínua
real B È m0 ÐBÑm atinge um máximo - no compacto M pelo que

( m0 ÐBÑm .B Ÿ ( - .B œ -Ð,  +Ñ  _,


M M

o que mostra que a restrição a M da aplicação 0 é integrável. 


II.3.3 Sejam N § ‘ um intervalo, I um espaço de Banach e 0 À N Ä I uma

' , 0 ÐBÑ.B o integral '


aplicação localmente integrável. Dados +ß , − N com + Ÿ , , nota-se
+ Ò+ß,Ó 0 ÐBÑ .B. Uma vez que .ÐÖ+×Ñ œ .ÐÖ,×Ñ œ !,
podemos escrever as caracterizações alternativas seguintes:

( 0 ÐBÑ.B œ ( 0 ÐBÑ .B œ (
,
0 ÐBÑ .B œ
+ Ò+ß,Ó Ó+ß,Ó

œ( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B.


Ò+ß,Ò Ó+ß,Ò

Como habitualmente, a notação anterior pode ser estendida ao caso em que


+  ,, pondo então, por definição,

( 0 ÐBÑ.B œ ( 0 ÐBÑ.B.
, +

+ ,

II.3.4 Sejam N § ‘ um intervalo, I um espaço de Banach e 0 À N Ä I uma


aplicação localmente integrável. Quaisquer que sejam +ß ,ß - − N , tem-se
então:

(
+
0 ÐBÑ .B œ !,
+

( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B,


+ ,

, +

( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B  ( 0 ÐBÑ .B.


- , -

+ + ,

Dem: A primeira igualdade resulta de se ter -ÐÖ+×Ñ œ !. No caso em que


+ œ ,, a segunda igualdade resulta da primeira e, nos casos em que +  , e
em que +  ,, a segunda igualdade resulta da definição. Quanto à terceira
igualdade, temos que examinar separadamente as diferentes posições
relativas que os três pontos +ß ,ß - podem ter. Se + Ÿ , Ÿ - , o intervalo Ó+ß -Ó
é a união dos intervalos Ó+ß ,Ó e Ó,ß -Ó, que são disjuntos, pelo que
150 Cap. II. O integral

( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B  (


-
0 ÐBÑ .B œ
+ Ó+ß-Ó Ó+ß,Ó Ó,ß-Ó

œ ( 0 ÐBÑ .B  ( 0 ÐBÑ .B.


, -

+ ,

O caso em que - Ÿ , Ÿ + reduz-se ao que acabámos de estudar, já que

( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B œ Š( 0 ÐBÑ .B  ( 0 ÐBÑ .B‹ œ


- + , +

+ - - ,

œ ( 0 ÐBÑ .B  ( 0 ÐBÑ .B.


, -

+ ,

A fórmula está assim estabelecida nos casos em que , está entre + e - (no
sentido lato) e passamos a estabelecê-la nos casos em que + está entre , e - e
em que - está entre + e , . Ora, tendo em conta o caso já estudado, temos, no
primeiro caso,

( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B  ( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B  ( 0 ÐBÑ .B,


- + - , -

, , + + +

e, no segundo caso,

( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B  ( 0 ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ .B  ( 0 ÐBÑ .B,


, - , - -

+ + - + ,

o que, em ambos os casos, implica a igualdade pretendida. 


II.3.5 (O integral indefinido) Sejam N § ‘ um intervalo, I um espaço de
Banach e 0 À N Ä I uma aplicação localmente integrável. Fixado >! − N ,
chamamos integral indefinido de 0 associado a >! à aplicação s0 À N Ä I
definida por

s0 Ð>Ñ œ ( 0 ÐBÑ .B.


>

>!

Tem-se então que o integral indefinido s0 À N Ä I é uma aplicação contínua.


Dem: Seja Ð>8 Ñ8− uma sucessão de elementos de N tal que >8 Ä > − N .
Temos que mostrar que s0 Ð>8 Ñ Ä s0 Ð>Ñ. O conjunto constituído pelos termos
da sucessão dos >8 e pelo seu limite > é compacto e, consequentemente,
admite um mínimo + − N e um máximo , − N .82 Para cada 8 − , notemos

82Trata-se de uma propriedade geral das sucessões convergentes em ‘ e, mais geral-


mente, em qualquer espaço topológico. Alternativamente, quem não conhecer este resul-
tado poderá tomar para + e , o ínfimo e o supremo do conjunto dos >8 em ‘ e verificar,
em seguida, que + Ÿ > Ÿ , e que se + (respetivamente ,) não for um dos termos da
sucessão então tem que ser + œ > (respetivamente , œ >).
§3. Propriedades elementares do integral indefinido 151

M8 o intervalo Ò>ß >8 Ó ou o intervalo Ò>8 ß >Ó, conforme > Ÿ >8 ou >8 Ÿ >, e repa-
remos que

s Ð>8 Ñ  s0 Ð>Ñm œ ½( 0 ÐBÑ .B½ œ ½( 0 ÐBÑ .B½ Ÿ


>8
m0
> M8
(1)
Ÿ ( m0 ÐBÑm.B œ ( ˆM8 ÐBÑm0 ÐBÑm .B.
M8 Ò+ß,Ó

Mas, tem-se ˆM8 ÐBÑm0 ÐBÑm Ÿ m0 ÐBÑm, com 'Ò+ß,Ó m0 ÐBÑm .B  _,
ˆM8 Ð>Ñm0 Ð>Ñm œ m0 Ð>Ñm, para todo o 8 e, para cada B Á >, por ser >8 Ä >, vem
ˆM8 ÐBÑm0 ÐBÑm œ !, a partir de certa ordem. Podemos então aplicar o teorema
da convergência dominada para garantir que

( ˆM8 ÐBÑm0 ÐBÑm .B Ä ( ˆÖ>× ÐBÑm0 ÐBÑm .B œ ( m0 ÐBÑm .B œ !,


Ò+ß,Ó Ò+ß,Ó Ö>×

s Ð>8 Ñ  s0 Ð>Ñm Ä 0, isto é,


o que, tendo em conta (1), implica que se tem m0
s0 Ð>8 Ñ Ä s0 Ð>Ñ. 

O próximo passo é estudar em que condições se pode garantir a derivabili-


dade do integral indefinido. Uma vez que o leitor poderá não ter encon-
trado ainda o conceito de derivada para funções com valores vetoriais,
começamos por fazer algumas observações que mostram como se podem
estender facilmente a este contexto os factos básicos já conhecidos no
contexto das funções com valores em ‘.

II.3.6 Sejam I um espaço de Banach, N § ‘ um conjunto, >! − N , ponto de


acumulação de N (ou seja, >! aderente a N Ï Ö>! ×) e 0 À N Ä I uma
aplicação. Diz-se que 0 é derivável em >! , se existir o limite
0 Ð>Ñ  0 Ð>! Ñ
lim −I
>Ä>! >  >!
>Á>!

e a esse limite, que se nota 0 w Ð>! Ñ, dá-se o nome de derivada de 0 no ponto


>! .
a) Tal como no caso real, se 0 À N Ä I é uma aplicação constante de valor A,
então para cada ponto de acumulação >! − N , a aplicação 0 é derivável em >!
e com 0 w Ð>! Ñ œ !.
b) Se 0 é derivável em >! , então 0 é contínua em >! .
Dem: Sendo Ð>8 Ñ8− uma sucessão qualquer de elementos de N Ï Ö>! × com
>8 Ä >! , tem-se
0 Ð>8 Ñ  0 Ð>! Ñ
0 Ð>8 Ñ  0 Ð>! Ñ œ Ð>8  >! Ñ Ä ! † 0 w Ð>! Ñ œ !. 
>8  >!
c) Se 0 ß 1À N Ä I são deriváveis em >! e + é um escalar, então as aplicações
152 Cap. II. O integral

0  1À N Ä I e +0 À N Ä I são deriváveis em >! e


Ð0  1Ñw Ð>! Ñ œ 0 w Ð>! Ñ  1w Ð>! Ñ, Ð+0 Ñw Ð>! Ñ œ +0 w Ð>! Ñ.

Dem: Sendo Ð>8 Ñ8− uma sucessão qualquer de elementos de N Ï Ö>! × com
>8 Ä >! , tem-se
Ð0  1ÑÐ>8 Ñ  Ð0  1ÑÐ>! Ñ 0 Ð>8 Ñ  0 Ð>! Ñ 1Ð>8 Ñ  1Ð>! Ñ
œ  Ä 0 w Ð>! Ñ  1w Ð>! Ñ,
>8  >! >8  >! >8  >!
Ð+0 ÑÐ>8 Ñ  Ð+0 ÑÐ>! Ñ 0 Ð>8 Ñ  0 Ð>! Ñ
œ+ Ä +0 w Ð>! Ñ. 
>8  >! >8  >!
d) Se 0 À N Ä I é derivável em >! , J é outro espaço de Banach e -À I Ä J
é uma aplicação linear contínua, então - ‰ 0 À N Ä J é derivável em >! e
Ð- ‰ 0 Ñw Ð>! Ñ œ -Ð0 w Ð>! ÑÑ.

Dem: Sendo Ð>8 Ñ8− uma sucessão qualquer de elementos de N Ï Ö>! × com
>8 Ä >! , tem-se

œ -ˆ ‰ Ä -Ð0 w Ð>! ÑÑ.


Ð- ‰ 0 ÑÐ>8 Ñ  Ð- ‰ 0 ÑÐ>! Ñ 0 Ð>8 Ñ  0 Ð>! Ñ
>8  >! >8  >!
e) Sejam J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação
bilinear contínua, que encaramos como uma “multiplicação”, notando, para
cada A − J e D − K,
A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L .
Se 0 À N Ä J e 1À N Ä K são duas aplicações deriváveis em >! , então a
aplicação 0 ‚ 1À N Ä L , 0 ‚ 1Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ ‚ 1Ð>Ñ, é também derivável em >!
e com
Ð0 ‚ 1Ñw Ð>! Ñ œ 0 w Ð>! Ñ ‚ 1Ð>! Ñ  0 Ð>! Ñ ‚ 1w Ð>! Ñ.

Dem: Sendo Ð>8 Ñ8− uma sucessão qualquer de elementos de N Ï Ö>! × com
>8 Ä >! , tem-se
Ð0 ‚ 1ÑÐ>8 Ñ  Ð0 ‚ 1ÑÐ>! Ñ 0 Ð>8 Ñ  0 Ð>! Ñ
œ ‚ 1Ð>8 Ñ 
>8  >! >8  >!
1Ð>8 Ñ  1Ð>! Ñ
 0 Ð>! Ñ ‚ Ä 0 w Ð>! Ñ ‚ 1Ð>! Ñ  0 Ð>! Ñ ‚ 1w Ð>! Ñ. 
>8  >!

Ao contrário das propriedades anteriores, cujas demonstrações são clara-


mente análogas às que se faziam no contexto das funções com valores em
‘, o teorema da média, que enunciamos em seguida, que naquele contexto
costuma aparecer como aplicação do teorema do valor intermédio de
Lagrange, necessita aqui de uma demonstração diferente (aliás, já para
funções com valores em ‘# isso acontece).
§3. Propriedades elementares do integral indefinido 153

II.3.7 (Teorema da média) Sejam + Ÿ , em ‘, I um espaço de Banach, Q   !


e 0 À Ò+ß ,Ó Ä I uma aplicação contínua, derivável em todos os pontos de
Ó+ß ,Ò e tal que, para cada > − Ó+ß ,Ò, m0 w Ð>Ñm Ÿ Q . Tem-se então
m0 Ð,Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ Q Ð,  +Ñ.

Dem:83 Uma vez que o caso + œ , é trivial vamos supor já que +  , . Tendo
em conta a continuidade de 0 , para mostrar a desigualdade do enunciado
basta mostrar que, para cada +  +w  , se tem
m0 Ð,Ñ  0 Ð+w Ñm Ÿ Q Ð,  +w Ñ.
Fixemos um tal +w e seja $  ! arbitrário. Consideremos o conjunto G dos
> − Ò+w ß ,Ó tais que
m0 Ð>Ñ  0 Ð+w Ñm Ÿ ÐQ  $ ÑÐ>  +w Ñ.
Trata-se de um subconjunto fechado de Ò+w ß ,Ó, que é não vazio, por conter +w ,
pelo que podemos considerar o máximo - do conjunto G , que verifica
portanto a desigualdade
m0 Ð-Ñ  0 Ð+w Ñm Ÿ ÐQ  $ ÑÐ-  +w Ñ.
Se se tivesse -  , , então o facto de se ter

lim ½ ½ œ m0 w Ð-Ñm Ÿ Q  Q  $
0 Ð>Ñ  0 Ð-Ñ
>Ä- >-
implicava a possibilidade de escolher >, com -  >  , tal que

½ ½  Q  $,
0 Ð>Ñ  0 Ð-Ñ
>-
de onde deduzíamos que
m0 Ð>Ñ  0 Ð+w Ñm Ÿ m0 Ð>Ñ  0 Ð-Ñm  m0 Ð-Ñ  0 Ð+w Ñm Ÿ
Ÿ ÐQ  $ ÑÐ>  -Ñ  ÐQ  $ ÑÐ-  +w Ñ œ ÐQ  $ ÑÐ>  +w Ñ,
ou seja, > − G , o que contrariava a hipótese de - ser o máximo de G . Tem-se
assim - œ , , ou seja, m0 Ð,Ñ  0 Ð+w Ñm Ÿ ÐQ  $ ÑÐ,  +w Ñ. Por fim, uma vez
que $  ! é arbitrário, a desigualdade anterior implica que se tem mesmo
m0 Ð,Ñ  0 Ð+w Ñm Ÿ Q l,  +w l, como queríamos. 
II.3.8 (Corolário) Sejam + Ÿ , em ‘, I um espaço de Banach e 0 À Ò+ß ,Ó Ä I
uma aplicação contínua tal que, para cada > − Ó+ß ,Ò, 0 seja derivável em > e
0 w Ð>Ñ œ !. Tem-se então que 0 é uma aplicação constante.

83A demonstração que vamos fazer é a simplificação de uma, devida a J. Dieudonné, para
um resultado mais forte em que se permite a existência de um conjunto contável de
pontos do intervalo onde não se exige a derivabilidade de 0 (cf. [3]). Ver o exercício
II.3.2, no fim do capítulo, para uma versão desse resultado mais forte.
154 Cap. II. O integral

Dem: Sendo B Ÿ C em Ò+ß ,Ó, o facto de se ter 0 ÐBÑ œ 0 ÐCÑ resulta de aplicar
o teorema da média, com Q œ !, à restrição de 0 ao intervalo ÒBß CÓ, de
forma a concluir que m0 ÐCÑ  0 ÐBÑm Ÿ !. 
II.3.9 (Derivada do integral indefinido)84 Sejam N § ‘ um intervalo de inte-
rior não vazio, I um espaço de Banach e 0 À N Ä I uma aplicação local-
mente integrável. Sejam >! − N e s0 À N Ä I o correspondente integral indefi-
nido, definido por

s0 Ð>Ñ œ ( 0 ÐBÑ .B.


>

>!

w
Se 0 é contínua em >" − N , então s0 é derivável em >" e com s0 Ð>" Ñ œ 0 Ð>" Ñ.
Dem: Seja $  ! arbitrário. Seja &  ! tal que, para cada > − N com
>"  &  >  >"  &, se tenha m0 Ð>Ñ  0 Ð>" Ñm  $ . Para cada > − N Ï Ö>" ×
nessas condições, tem-se então, notando M § Ó>"  &ß >"  &Ò o intervalo
fechado de extremidades >" e >,
s Ð>Ñ  s0 Ð>" Ñ  Ð>  >" Ñ0 Ð>" Ñm œ
m0

œ ½( 0 ÐBÑ .B  ( 0 ÐBÑ .B  Ð>  >" Ñ0 Ð>" ѽ œ


> >"

>! >!

œ ½( 0 ÐBÑ .B  ( 0 Ð>" Ñ .B½ œ ½( 0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñ .B½ Ÿ


> >

>" >" M

Ÿ ( m0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñm .B Ÿ ( $ .B œ $ l>  >" l,


M M

donde

½  0 Ð>" ѽ Ÿ $,
s0 Ð>Ñ  s0 Ð>" Ñ
>  >"
s0 Ð>Ñ0
s Ð>" Ñ
o que mostra que se tem de facto >>" Ä 0 Ð>" Ñ, quando > Ä >" . 

O resultado precedente permite-nos deduzir que os métodos que utilizá-


vamos com mais frequência para calcular o valor dos integrais de funções
reais a partir do conhecimento de uma primitiva continuam a valer no
contexto que estamos a estudar, em particular que, nesses casos, o integral
que estamos a estudar coincide com o integral que já encontráramos
anteriormente. Mais precisamente:

II.3.10 (Das primitivas para os integrais — a fórmula de Barrow) Sejam


Ò+ß ,Ó § ‘ um intervalo fechado e limitado, I um espaço de Banach e
0 À Ò+ß ,Ó Ä I uma aplicação integrável e contínua nos pontos de Ó+ß ,Ò.

84Ver III.8.6 adiante para um resultado mais profundo no mesmo contexto.


§3. Propriedades elementares do integral indefinido 155

Suponhamos que existe uma aplicação contínua 0̃ À Ò+ß ,Ó Ä I tal que, para
w
cada > − Ó+ß ,Ò, 0˜ seja derivável em > e com 0˜ Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ. Tem-se então

( 0 ÐBÑ .B œ 0˜ Ð,Ñ  0˜ Ð+Ñ.


,

Dem: Podemos já afastar o caso trivial em que + œ , . Seja s0 À Ò+ß ,Ó Ä I o


integral indefinido, definido por

s0 Ð>Ñ œ ( 0 ÐBÑ .B,


>

que é uma aplicação contínua, com s0 Ð+Ñ œ ! e derivável em cada > − Ó+ß ,Ò e
w
com s0 Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ. Concluímos daqui, tendo em conta o corolário II.2.8, que
a função contínua 1 œ 0˜  s0 À Ò+ß ,Ó Ä I , que é derivável em cada > − Ó+ß ,Ò e
w w
com 1w Ð>Ñ œ 0˜ Ð>Ñ  s0 Ð>Ñ œ ! tem que ser constante, em particular

0˜ Ð,Ñ  ( 0 ÐBÑ .B œ 0˜ Ð,Ñ  s0 Ð,Ñ œ 0˜ Ð+Ñ  s0 Ð+Ñ œ 0˜ Ð+Ñ,


,

ou seja,

( 0 ÐBÑ .B œ 0˜ Ð,Ñ  0˜ Ð+Ñ.


,

+

II.3.11 (Aplicação à medida de Lebesgue-Stieltjes) Sejam N § ‘ um intervalo


aberto não vazio e :À N Ä ‘ uma função crescente (no sentido lato),
derivável em todos os pontos e com derivada contínua :w À N Ä ‘ , e
consideremos a correspondente medida de Lebesgue-Stieltjes nos borelianos
de N , -: À UN Ä ‘ (cf. I.4.13). Tem-se então, para cada E − UN ,

-: ÐEÑ œ ( :w ÐBÑ .B,


E

por outras palavras, a medida -: coincide com a medida -Ð:w Ñ , definida, a


partir da restrição a N da medida de Lebesgue, pela função mensurável
:w À N Ä ‘ (cf. II.1.22).
Dem: Uma vez que -: é, por definição, a única medida nos borelianos de N
que verifica -: ÐÓ+ß ,ÓÑ œ :Ð,Ñ  :Ð+Ñ, sempre que + Ÿ , em N , tudo o que
temos que verificar é que, para a medida -Ð:w Ñ , tem-se também -Ð:w Ñ ÐÓ+ß ,ÓÑ œ
:Ð,Ñ  :Ð+Ñ. Ora, isso é uma consequência de que, tendo em conta II.3.10,

-Ð:w Ñ ÐÓ+ß ,ÓÑ œ ( :w ÐBÑ .B œ ( :w ÐBÑ .B œ :Ð,Ñ  :Ð+Ñ.


,

Ó+ß,Ó +
156 Cap. II. O integral

O resultado II.3.10 dá-nos um processo para calcular o integral quando o


domínio é um intervalo fechado e limitado. Para calcularmos integrais
quando o intervalo de definição é aberto nalguma das extremidades, em
particular quando alguma destas é infinita, usa-se com frequência os dois
resultados seguintes, que têm relações naturais com os “integrais impró-
prios” decerto já encontrados anteriormente.

II.3.12 (O integral das funções mensuráveis positivas do ponto de vista dos


integrais impróprios).
a) Sejam + − ‘, ,  +, pertencente a ‘ ou igual a _, e 0 À Ò+ß ,Ò Ä ‘
uma função mensurável. Tem-se então

( 0 ÐBÑ .B œ lim (
C
0 ÐBÑ .B.
Ò+ß,Ò CÄ, +
C−Ó+ß,Ò

b) Sejam + − ‘, -  +, pertencente a ‘ ou igual a _, e 0 À Ó-ß +Ó Ä I uma


função mensurável. Tem-se então

( 0 ÐBÑ .B œ lim (
+
0 ÐBÑ .B.
Ó-ß+Ó CÄ- C
C−Ó-ß+Ò

Dem: a) A existência de limite resulta de termos uma função crescente de C .


Escolhendo uma sucessão crescente de elementos C8 − Ó+ß ,Ò, com C8 Ä , ,
podemos então utilizar o teorema da convergência monótona para mostrar
que, uma vez que, para cada B − Ò+ß ,Ò, os ˆÒ+ßC8 Ò ÐBÑ0 ÐBÑ constituem uma
sucessão crescente igual a 0 ÐBÑ a partir de certa ordem,

lim ( 0 ÐBÑ .B œ lim ( 0 ÐBÑ .B œ lim (


C C8
ˆÒ+ßC8 Ò ÐBÑ0 ÐBÑ .B œ
CÄ, + + Ò+ß,Ò
C−Ó+ß,Ò

œ( 0 ÐBÑ .B.
Ò+ß,Ò

b) Pode-se dar uma demonstração análoga à de a) ou, alternativamente,


reduzir a conclusão de b) à de a), tendo em conta a invariância da medida de
Lebesgue por simetria em I.5.14 e o teorema trivial de mudança de variáveis
em II.1.38:

( 0 ÐBÑ .B œ ( (
A
0 ÐDÑ .D œ lim 0 ÐDÑ .D œ
Ó-ß+Ó Ò+ß-Ò AÄ- +
A−Ó+ß-Ò

( 0 ÐBÑ .B œ lim (
+ +
œ lim 0 ÐBÑ .B. 
AÄ- A CÄ- C
A−Ó+ß-Ò C−Ó-ß+Ò
§3. Propriedades elementares do integral indefinido 157

II.3.13 (O integral das aplicações integráveis do ponto de vista dos integrais


impróprios) Seja I um espaço de Banach.
a) Sejam + − ‘, ,  +, pertencente a ‘ ou igual a _, e 0 À Ò+ß ,Ò Ä I uma
aplicação integrável. Tem-se então

( 0 ÐBÑ .B œ lim (
C
0 ÐBÑ .B.
Ò+ß,Ò CÄ, +
C−Ó+ß,Ò

b) Sejam + − ‘, -  +, pertencente a ‘ ou igual a _, e 0 À Ó-ß +Ó Ä I uma


aplicação integrável. Tem-se então

( 0 ÐBÑ .B œ lim (
+
0 ÐBÑ .B.
Ó-ß+Ó CÄ- C
C−Ó-ß+Ò

Dem: a) Temos que mostrar que, qualquer que seja a sucessão de elementos
C8 − Ò+ß ,Ò, com C8 Ä ,, tem-se

( 0 ÐBÑ .B œ lim (
C8
0 ÐBÑ .B.
Ò+ß,Ò +

ora, isso é uma consequência do teorema da convergência dominada, uma


vez que se tem

( 0 ÐBÑ .B œ (
C8
ˆÒ+ßC8 Ò ÐBÑ 0 ÐBÑ .B
+ Ò+ß,Ò

onde, para cada B, mˆÒ+ßC8 Ò ÐBÑ 0 ÐBÑm Ÿ m0 ÐBÑm e ˆÒ+ßC8 Ò ÐBÑ 0 ÐBÑ œ 0 ÐBÑ a
partir de certa ordem, e a função B È m0 ÐBÑm tem, por hipótese, integral
finito.
b) Pode-se dar uma demonstração análoga à de a) ou, alternativamente,
reduzir a conclusão de b) à de a), do mesmo modo que no resultado
precedente, tendo em conta a invariância da medida de Lebesgue por simetria
em I.5.14 e o teorema trivial de mudança de variáveis em II.2.56. 

Examinamos em seguida uma aplicação de II.3.10 à integração por


mudança de variáveis, apresentando duas versões do resultado, a primeira
com hipóteses mais fortes e demonstração mais simples, mas que será
suficiente para a maioria das aplicações, e a segunda mais geral mas com
uma demonstração que, não sendo difícil, utiliza alguns instrumentos téc-
nicos mais rebuscados. Aconselhamos o leitor a utilizar a primeira versão
e só se debruçar sobre a segunda se disso vier a necessitar.

II.3.14 (Integração por mudança de variáveis em ‘, versão mais simples)


Sejam N § ‘ um intervalo aberto não vazio e :À N Ä ‘ uma função
estritamente monótona, derivável em todos os pontos e com derivada
contínua :w À N Ä ‘. Tem-se então:
158 Cap. II. O integral

a) Sendo N w œ :ÐN Ñ, tem-se que N w é um intervalo aberto de ‘ e a aplicação


:À N Ä N w é mensurável e compatível com as medidas (cf. I.5.11), quando se
considera em N w a restrição da medida de Lebesgue - e em N a medida
. œ -Ðl:w lÑ , definida, a partir da restrição da medida de Lebesgue, pela função
mensurável N Ä ‘ , B È l:w ÐBÑl (cf. II.1.22).
b) Seja 0 À N w Ä ‘ uma função mensurável. É então também mensurável a
função N Ä ‘ , B È 0 Ð:ÐBÑÑl:w ÐBÑl, e

( 0 ÐCÑ .C œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ l: ÐBÑl .B.


w
Nw N

c) Sejam I um espaço de Banach e 0 À N w Ä I uma aplicação integrável. É


então também integrável a aplicação N Ä I , B È l:w ÐBÑl0 Ð:ÐBÑÑ, e

( 0 ÐCÑ .C œ ( l: ÐBÑl 0 Ð:ÐBÑÑ .B.


w
Nw N

Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes.


1) Uma vez que : é contínua em todos os pontos, por ser derivável,
concluímos que : é mensurável e que N w œ :ÐN Ñ é um intervalo e este
intervalo é necessariamente aberto, uma vez que o facto de : ser estritamente
monótona implica que ele não pode ter máximo nem mínimo.
Ponhamos N œ Ó+ß ,Ò e N w œ Ó+w ß ,w Ò, onde, em ambos os casos, as extremi-
dades podem ser finitas ou infinitas.
2) Vamos provar a) no caso particular em que : é estritamente crescente,
portanto com :w ÐBÑ   !, para cada B − N .
Subdem: O que se pretende mostrar é que coincidem nos borelianos de
N w a restrição da medida de Lebesgue - e a medida imagem direta :‡ . (cf.
I.5.13) e, tendo em conta I.4.10 e a versão precisada do teorema de extensão
de Hahn em I.4.12, bastará, para isso, provar que, quaisquer que sejam
- w Ÿ . w em Ó+w ß ,w Ò, tem-se
-ÐÓ- w ß . w ÓÑ œ :‡ .ÐÓ- w ß . w ÓÑ.
Ora isso resulta de que, sendo - Ÿ . em Ó+ß ,Ò os pontos definidos por
- w œ :Ð-Ñ e . w œ :Ð.Ñ, tem-se, tendo em conta II.3.10,

:‡ .ÐÓ- w ß . w ÓÑ œ .Ð:" ÐÓ- w ß . w ÓÑÑ œ .ÐÓ-ß .ÓÑ œ ( :w ÐBÑ .B œ


Ó-ß.Ó

œ(
.
:w ÐBÑ .B œ :Ð.Ñ  :Ð-Ñ œ . w  - w œ -ÐÓ- w ß . w ÓÑÞ
-

3) Para terminar a prova de a), resta-nos examinar o caso em que : é


estritamente decrescente, e portanto :w ÐBÑ Ÿ !, para cada B − N . Ora, nesse
caso, podemos aplicar o que já demonstrámos à aplicação estritamente
crescente <À N Ä ‘ definida por <ÐCÑ œ :ÐCÑ, para a qual se tem
<ÐN Ñ œ N w , e, lembrando a invariância da medida de Lebesgue por simetria
§3. Propriedades elementares do integral indefinido 159

em I.5.14 e o teorema trivial de mudança de variáveis em II.1.38, obtemos,


para cada boreliano F § N w ,

-ÐFÑ œ ( <w ÐCÑ .C œ ( :w ÐCÑ .C


<" ÐFÑ :" ÐFÑ

œ( :w ÐBÑ .B œ ( l:w ÐBÑl .B,


:" ÐFÑ :" ÐFÑ

o que prova a) também neste caso.


4) Passemos à prova de b). Ora, tendo em conta a conclusão de a), o teorema
trivial de mudança de variáveis em II.1.38 e II.1.35, tem-se

( 0 ÐCÑ .C œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ l: ÐBÑl .B.


w
Nw N N

5) Passemos à prova de c). Ora, tendo em conta a conclusão de a), o teorema


trivial de mudança de variáveis em II.2.56 e II.2.54, tem-se

( 0 ÐCÑ .C œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ l: ÐBÑl .B.


w

Nw N N

II.3.15 (Integração por mudança de variáveis em ‘, versão mais geral)


Sejam N § ‘ um intervalo de interior não vazio e :À N Ä ‘ uma função
monótona (no sentido lato), derivável em todos os pontos e com derivada
contínua :w À N Ä ‘. Tem-se então:
a) Sendo N w œ :ÐN Ñ, tem-se que N w é um intervalo de ‘ e a aplicação
:À N Ä N w é mensurável e compatível com as medidas (cf. I.5.11), quando se
considera em N w a restrição da medida de Lebesgue - e em N a medida
. œ -Ðl:w lÑ , definida, a partir da restrição da medida de Lebesgue, pela função
mensurável N Ä ‘ , B È l:w ÐBÑl (cf. II.1.22).
b) Seja 0 À N w Ä ‘ uma função mensurável. É então também mensurável a
função N Ä ‘ , B È 0 Ð:ÐBÑÑl:w ÐBÑl, e

( 0 ÐCÑ .C œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ l: ÐBÑl .B.


w
Nw N

c) Sejam I um espaço de Banach e 0 À N w Ä I uma aplicação integrável. É


então também integrável a aplicação N Ä I , B È l:w ÐBÑl0 Ð:ÐBÑÑ, e

( 0 ÐCÑ .C œ ( l: ÐBÑl 0 Ð:ÐBÑÑ .B.


w
Nw N

Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes.


1) Uma vez que : é contínua em todos os pontos, por ser derivável,
concluímos que : é mensurável e que N w œ :ÐN Ñ é um intervalo.
2) Vamos provar a) no caso particular em que : é crescente, portanto com
:w ÐBÑ   !, para cada B − N , e em que N w œ Ó+w ß , w Ò (extremidades finitas ou
160 Cap. II. O integral

infinitas), caso em que, por este intervalo não ser vazio, tem-se +w  ,w .
Subdem: Uma vez que : é crescente e N w œ :ÐN Ñ não tem mínimo
nem máximo, concluímos que N não tem mínimo nem máximo, portanto
N œ Ó+ß ,Ò, com +  , (extremidades finitas ou infinitas). O que se pretende
mostrar é que coincidem nos borelianos de N w a restrição da medida de
Lebesgue - e a medida imagem direta :‡ . (cf. I.5.13) e, tendo em conta
I.4.10 e a versão precisada do teorema de extensão de Hahn em I.4.12,
bastará, para isso, provar que, quaisquer que sejam - w Ÿ . w em Ó+w ß ,w Ò, tem-se
(1) -ÐÓ- w ß . w ÓÑ œ :‡ .ÐÓ- w ß . w ÓÑ.
Ora, comecemos por reparar que, para cada Cw − Ó+w ß ,w Ò, o facto de : ser
crescente e contínua implica que :" ÐÖCw ×Ñ é um intervalo não vazio fechado
em Ó+ß ,Ò, cuja extremidade direita não pode ser , (senão : não tomava
valores maiores que Cw ), portanto necessariamente com máximo em Ó+ß ,Ò.85
Podemos assim tomar - − Ó+ß ,Ò igual ao máximo do conjunto :" ÐÖ- w ×Ñ e
. − Ó+ß ,Ò igual ao máximo do conjunto :" ÐÖ. w ×Ñ e constatamos, mais uma
vez por : ser crescente, que para cada B − Ó+ß ,Ó
B Ÿ - Í :ÐBÑ Ÿ - w , B Ÿ . Í :ÐBÑ Ÿ . w ,
portanto :" ÐÓ- w ß . w ÓÑ œ Ó-ß .Ó. Podemos agora escrever, tendo em conta
II.3.10,

:‡ .ÐÓ- w ß . w ÓÑ œ .Ð:" ÐÓ- w ß . w ÓÑÑ œ ( :w ÐBÑ .B œ (


.
:w ÐBÑ .B œ
Ó-ß.Ó -
œ :Ð.Ñ  :Ð-Ñ œ . w  - œ -ÐÓ- w ß . w ÓÑ,
w

o que prova (1).


3) Vamos agora provar a) ainda com a hipótese de : ser crescente, portanto
com :w ÐBÑ   ! para cada B − N , mas deixando de exigir que os intervalos N
e N w sejam abertos.
Subdem: O que temos que provar é que, para cada boreliano F § N w ,
tem-se

(2) -ÐFÑ œ .Ð:" ÐFÑÑ œ ( :w ÐBÑ .B.


:" ÐFÑ

No caso trivial em que N w tem um único elemento, vem -ÐFÑ œ ! e, por :


ser constante, :w ÐBÑ œ !, para cada B − N , pelo que a igualdade (2) é verda-
deira. Suponhamos então que N w tem mais que um elemento e sejam +w  ,w
as extremidades esquerda e direita de N w , finitas ou infinitas que, quando
finitas, podem pertencer ou não a N w . Tendo em conta o facto de : ser cres-
cente, vemos que o intervalo N é união de três intervalos disjuntos,

85Analogamente, esse conjunto também tem mínimo em Ó+ß ,Ò, mas não utilizaremos esse
facto.
§3. Propriedades elementares do integral indefinido 161

N œ ÖB − N ± :ÐBÑ œ +w ×,
N0 œ ÖB − N ± :ÐBÑ − Ó+w ß ,w Ò×,
N œ ÖB − N ± :ÐBÑ œ ,w ×,
onde o primeiro e o último podem eventualmente ser vazios, e
:(N! Ñ œ Ó+w ß ,w Ò. Tem-se .ÐN Ñ œ .ÐN Ñ œ ! visto que cada um destes
intervalos ou é de interior vazio, e nesse caso tem medida de Lebesgue !, ou
tem interior não vazio, e nesse caso :w ÐBÑ œ !, para cada B no intervalo.
Aplicando o que vimos em 2) à restrição :ÎN! À N! Ä Ó+w ß ,w Ò, obtemos

-ÐFÑ œ -ÐF  Ó+w ß ,w ÒÑ œ .Ð:ÎN


"
!
ÐFÑÑ œ .Ð:" ÐFÑ  N! Ñ œ
œ .Ð:" ÐFÑ  N! Ñ  .Ð:" ÐFÑ  N Ñ  .Ð:" ÐFÑ  N Ñ œ
œ .Ð:" ÐFÑÑ,

o que prova (2).


4) Para terminar a prova de a), resta-nos examinar o caso em que : é
decrescente, e portanto :w ÐBÑ Ÿ !, para cada B − N . Ora, nesse caso,
podemos aplicar o que já demonstrámos à aplicação crescente <À N Ä ‘
definida por <ÐCÑ œ :ÐCÑ, para a qual se tem <ÐN Ñ œ N w , e, lembrando a
invariância da medida de Lebesgue por simetria em I.5.14 e o teorema trivial
de mudança de variáveis em II.1.38, obtemos, para cada boreliano F § N w ,

-ÐFÑ œ ( <w ÐCÑ .C œ ( :w ÐCÑ .C


<" ÐFÑ :" ÐFÑ

œ( :w ÐBÑ .B œ ( l:w ÐBÑl .B,


:" ÐFÑ :" ÐFÑ

o que prova a) também neste caso.


5) Passemos à prova de b). Ora, tendo em conta a conclusão de a), o teorema
trivial de mudança de variáveis em II.1.38 e II.1.35, tem-se

( 0 ÐCÑ .C œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ l: ÐBÑl .B.


w
Nw N N

6) Passemos à prova de c). Ora, tendo em conta a conclusão de a), o teorema


trivial de mudança de variáveis em II.2.56 e II.2.54, tem-se

( 0 ÐCÑ .C œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ l: ÐBÑl .B.


w

Nw N N
162 Cap. II. O integral

Exercícios

Ex II.3.1 Sejam N § ‘ um intervalo e 0 À N Ä ‘ uma função monótona. Mostrar


que 0 é localmente integrável. Sugestão: O facto de 0 ser mensurável já foi
examinado na alínea a) do exercício I.5.12. Reparar que, se M œ Ò+ß ,Ó é um
intervalo fechado e limitado não vazio contido em N , a restrição de 0 a M
admite um máximo e um mínimo, cada um deles igual a 0 Ð+Ñ ou 0 Ð,Ñ e
deduzir daí que l0 ÐBÑl é majorado em M .
Ex II.3.2 (Generalização do teorema da média, cf. [3]) Sejam + Ÿ , em ‘, I
um espaço de Banach, Q   ! e 0 À Ò+ß ,Ó Ä I uma aplicação contínua. Supo-
nhamos que existe um conjunto contável \ § Ò+ß ,Ó tal que, para cada
> − Ò+ß ,Ó Ï \ , 0 seja derivável em > e com m0 w Ð>Ñm Ÿ Q . Mostrar que se tem
então m0 Ð,Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ Q Ð,  +Ñ.
Sugestão: Fixar $  ! arbitrário. Considerar uma aplicação injetiva
:À \ Ä  e o conjunto G dos pontos > − Ò+ß ,Ó tais que

m0 Ð>Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ ÐQ  $ ÑÐ>  +Ñ  "


$
.
B−\
#:ÐBÑ
B>

Notando que + − G , considerar o supremo - de G e mostrar, primeiro, que


- − G e, depois, que tem que ser - œ , . Deduzir que
m0 Ð,Ñ  0 Ð+Ñm Ÿ ÐQ  $ ÑÐ,  +Ñ  $
e considerar o limite quando $ Ä !.
Ex II.3.3 (Variante da condição de derivabilidade) Sejam N § ‘ um conjun-
to, + um ponto de acumulação de N , I um espaço de Banach e 0 À N Ä I
uma aplicação derivável em +, com derivada 0 w Ð+Ñ. Mostrar que se tem então
0 Ð>Ñ  0 Ð=Ñ
lim œ 0 w Ð+Ñ.
Ð=ß>ÑÄÐ+ß+Ñ >=
=+>

0 Ð>Ñ0 Ð=Ñ
Sugestão: Verificar que, para cada =  +  >, >= pertence ao segmento
de I de extremidades 0 Ð+Ñ0
+=
Ð=Ñ
e 0 Ð>Ñ0
>+
Ð+Ñ
.
Ex II.3.4 Sejam N § ‘ um intervalo, I um espaço de Banach e 0 À N Ä I uma
aplicação integrável (e não só localmente integrável). Dado >! − N , mostrar
que o integral indefinido s0 À N Ä I , definido por

s0 Ð>Ñ œ ( 0 ÐBÑ .B,


>

>!
§3. Propriedades elementares do integral indefinido 163

é uma aplicação uniformemente contínua (e não só contínua). Sugestão: Ter


em conta a conclusão do exercício II.1.19.
Ex II.3.5 Sejam N § ‘ um intervalo aberto, I um espaço de Banach e
0 À N Ä I uma aplicação contínua. Sendo 1À N ‚ N Ä I a aplicação
definida por

1Ð=ß >Ñ œ ( 0 ÐBÑ .B,


>

mostrar que 1 é uma aplicação contínua, determinar as derivadas parciais


`1 `1 `1 `1
`= Ð=ß >Ñ e `> Ð=ß >Ñ e mostrar que `= ß `> À N ‚ N Ä I são aplicações
contínuas.
Ex II.3.6 Sendo +  ! e ! − ‘, verificar que:

a) ( B! .B  _ Í !  ";
Ó!ß+Ó

b) ( B! .B  _ Í !  ".
Ò+ß_Ò

Ex II.3.7 a) Sejam +  ! e :À Ò+ß _Ò Ä ‘ uma função contínua tal que, para
um certo !  ",
lim B! :ÐBÑ œ !.
BÄ_

Mostrar que

( :ÐBÑ .B  _.
Ò+ß_Ò

b) Sejam I um espaço de Banach e 0 À ‘ Ä I uma aplicação contínua tal


que, para um certo !  ",
lim lBl! m0 ÐBÑm œ lim lBl! m0 ÐBÑm œ !.
BÄ_ BÄ_

Mostrar que 0 é uma aplicação integrável.


Ex II.3.8 Verificar que é finito o integral

(
È
"
.B.
Ó!ß_ÒÏÖ"×
$
lB%  B# l

Sugestão: Ter em conta as conclusões do exercício II.3.6.


Ex II.3.9 (Integração por partes) Sejam J ß Kß L três espaços de Banach e
0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear contínua, que encaramos como uma
“multiplicação”, notando, para cada A − J e D − K ,
164 Cap. II. O integral

A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L .
Sejam +  , em ‘ e 0 À Ò+ß ,Ó Ä J e 1À Ò+ß ,Ó Ä K duas aplicações deriváveis
em todos os pontos e com derivadas contínuas. Mostrar que

( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ .B œ 0 Ð,Ñ ‚ 1Ð,Ñ  0 Ð+Ñ ‚ 1Ð+Ñ  ( 0 ÐBÑ ‚ 1 ÐBÑ .B.


, ,
w w
+ +

Ex II.3.10 (Produto de contínua por localmente integrável) Sejam J ß Kß L


três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear contínua,
que encaramos como uma “multiplicação”, notando, para cada A − J e
D − K,
A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L .
Seja N § ‘ um intervalo de extremidades finitas ou infinitas e aberto ou
fechado em cada uma das extremidades e sejam 0 À N Ä J uma aplicação
contínua (respetivamente, localmente integrável) e 1À N Ä K uma aplicação
localmente integrável (respetivamente, contínua). Mostrar que a aplicação
0 ‚ 1À N Ä L , definida por B È 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ, é também localmente
integrável.
Ex II.3.11 (A função gama em Ó!ß _Ò) a) Verificar que, para cada B  ! em
‘, é integrável a função Ó!ß _Ò Ä ‘ , > È >B" /> , pelo que faz sentido
definir uma função >À Ó!ß _Ò Ä ‘ (a função gama) por

>ÐBÑ œ ( >B" /> .>.


Ó!ß_Ò

Sugestão: Para a integrabilidade em Ó!ß "Ó, atender à conclusão da alínea a)


do exercício II.3.6 e, para a integrabilidade em Ò"ß _Ò, mostrar que
lim >B" />Î# œ !.
>Ä_

b) Efetuar uma integração por partes em cada intervalo Ò 8" ß 8Óe passar ao
limite, para deduzir que, para cada B  ! em ‘,
>ÐB  "Ñ œ B>ÐBÑ.

c) Verificar que >Ð"Ñ œ " e deduzir, por indução em 8, que, para cada
8 − ,
>Ð8Ñ œ Ð8  "Ñx.

Ex II.3.12 (Um integral impróprio duma função não integrável) Seja


0 À ‘ Ä ‘ a função contínua definida por 0 Ð!Ñ œ " e 0 ÐBÑ œ sinBÐBÑ , se
B  !.
a) Mostrar que a função 0 não é integrável.
§3. Propriedades elementares do integral indefinido 165

Sugestão: Reparar que se tem m0 ÐBÑm   1ÐBÑ, onde 1À Ò!ß _Ò Ä ‘ é a


"
função que toma o valor constante #Ð8"Ñ1 em cada intervalo

81  ‘,
1 &1
ß 81 
' '
onde 8   ! é inteiro e é nula fora da união destes intervalos. Verificar que a
função 1 tem integral _, calculando o seu integral como soma de uma
série.
b) Mostrar que existe e é finito o limite dos integrais

lim (
C
0 ÐBÑ .B. 86
CÄ_ !

Sugestão: Para cada C  ", utilizar uma integração por partes para concluir
que

(  cosÐ"Ñ  (
C C
cosÐCÑ cosÐBÑ
0 ÐBÑ .B œ  .B
" C " B#
e mostrar que o integral no segundo membro tem limite finito quando
C Ä _, mostrando que a função B È cosÐBÑ
B# é integrável em Ò"ß _Ò e
utilizando II.3.13.
Ex II.3.13 (Generalização trivial de II.3.15) Sejam N § ‘ um intervalo de
interior não vazio e :À N Ä ‘ uma função monótona (no sentido lato),
derivável em todos os pontos e com derivada contínua :w À N Ä ‘ e
consideremos o correspondente intervalo N w œ :ÐN Ñ. Mostrar que:
a) Se 0 À N w Ä ‘ é uma função mensurável e F § N w é um boreliano, então

( 0 ÐCÑ .C œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ l:w ÐBÑl .B.


F :" ÐFÑ

Sugestão: Reduzir os integrais em subconjuntos a integrais na totalidade dos


intervalos, utilizando as funções indicatrizes dos subconjuntos.
b) Se I é um espaço de Banach, 0 À N w Ä I é uma aplicação topologica-
mente mensurável e F § N w é um boreliano tal que 0ÎF seja integrável, então

( 0 ÐCÑ .C œ ( 0 Ð:ÐBÑÑ l:w ÐBÑl .B,


F :" ÐFÑ

onde, em particular, estamos a afirmar que a função no segundo membro é


integrável.

86Ver o exercício II.4.9 adiante para o cálculo do valor deste integral.


166 Cap. II. O integral

§4. Produto de medidas e teorema de Fubini.

II.4.1 Sejam Ð\ß `ß .Ñ e Ð] ß a ß .w Ñ dois espaços de medida. Fica então bem


definida uma medida . ‚ .w no semianel ` ‚ a de partes de \ ‚ ] (cf.
I.5.19) pela condição de se ter, para cada G − ` ‚ a , com G œ E ‚ F ,
E − ` e F − a,
. ‚ .w ÐGÑ œ .ÐEÑ ‚ .w ÐFÑ.

Dem: O facto de . ‚ .w estar bem definida vem de que, se g œ E ‚ F , com


E − ` e F − a , então E œ g ou F œ g, em ambos os casos
.ÐEÑ ‚ .w ÐFÑ œ ! e de que, se G Á g, com G œ E ‚ F œ Ew ‚ F w , então
E œ Ew e F œ F w (imagens de G pelas projeções canónicas de \ ‚ ] para
\ e para ] , respetivamente).87 Esta mesma observação mostra que se tem
. ‚ .w ÐgÑ œ !.
Resta-nos mostrar que, dada uma família contável ÐG4 Ñ4−N de conjuntos de
` ‚ a disjuntos dois a dois, cuja união seja um conjunto G − ` ‚ a ,
então
. ‚ .w ÐGÑ œ " . ‚ .w ÐG4 Ñ,
4−N

para o que podemos já supor G4 Á g, para cada 4 (retirando de N os índices 4


para os quais isso não acontece) e afastar seguidamente o caso trivial em que
G œ g, e portanto N œ g.
Seja então G œ E ‚ F , com E − ` e F − a e, para cada 4 − N , G4 œ
E4 ‚ F4 , com E4 − ` e F4 − a e reparemos que as suposições feitas
implicam que, para cada 4 − N , E4 § E e F4 § F . Consideremos as funções
mensuráveis, 0 À \ Ä ‘ e, para cada 4 − N , 04 À \ Ä ‘ definidas por
0 ÐBÑ œ .w ÐFÑ ‚ ˆE ÐBÑ, 04 ÐBÑ œ .w ÐF4 Ñ ‚ ˆE4 ÐBÑ,

e reparemos que, tendo em conta II.1.12, a alínea c) de II.1.16 e II.1.25,

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ . ÐFÑ ( ˆE ÐBÑ . .ÐBÑ œ .ÐEÑ. ÐFÑ œ . ‚ . ÐGÑ,


w w w
\ \

( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ œ . ÐF4 Ñ ( ˆE4 ÐBÑ . .ÐBÑ œ .ÐE4 Ñ. ÐF4 Ñ œ . ‚ . ÐG4 Ñ.


w w w
\ \

Mas, para cada B − \ , tem-se

87A razão desta observação está em que se pode ter, por exemplo, g ‚ F œ g œ g ‚ F w ,
com F Á F w , pelo que poderia haver a priori ambiguidade na definição de . ‚ .w ÐgÑ.
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 167

0 ÐBÑ œ " 04 ÐBÑ,


4−N

visto que, se B  E, tem-se 0 ÐBÑ œ ! e 04 ÐBÑ œ ! para cada 4 − N e, se


B − E, notando NB œ Ö4 − N ± B − E4 ×, F é a união dos F4 , com 4 − NB , que
são disjuntos dois a dois, e portanto
0 ÐBÑ œ .w ÐFÑ œ " .w ÐF4 Ñ œ " 04 ÐBÑ œ " 04 ÐBÑ.
4−NB 4−NB 4−N

Tendo em conta II.1.21, obtemos assim

. ‚ .w ÐGÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " . ‚ .w ÐG4 Ñ,


\ 4−N \ 4−N

como queríamos. 

A partir de agora será cómodo, e várias vezes essencial, supor que os


espaços de medida envolvidos são 5 -finitos (cf. I.4.9), pelo que faremos
sempre essa hipótese.

II.4.2 Sejam Ð\ß `ß .Ñ e Ð] ß a ß .w Ñ dois espaços de medida 5 -finitos. Tem-se


então que a medida . ‚ .w no semianel de partes de \ ‚ ] é também
5 -finita e, portanto, existe uma única medida . Œ .w À ` Œ a Ä ‘ , na
5 -álgebra ` Œ a gerada por ` ‚ a (cf. I.5.20) cuja restrição a ` ‚ a é
. ‚ .w . Dizemos que . Œ .w , que é também 5 -finita, é a medida produto das
medidas . e .w e é ela a que se considera implicitamente num produto,
quando outra não for referida.

a , respetivamente, tais que .Ð\4 Ñ  _, .w Ð]5 Ñ  _, \ œ -\4 e


Dem: Sejam Ð\4 Ñ4−N e Ð]5 Ñ5−O famílias contáveis de subconjuntos em ` e

] œ -]5 . Tem-se então que \ ‚ ] é a união da família contável de


conjuntos em ` ‚ a , Ð\4 ‚ ]5 ÑÐ4ß5Ñ−N ‚O que verificam
. ‚ .w Ð\4 ‚ ]5 Ñ œ .Ð\4 Ñ.w Ð]5 Ñ  _,

o que mostra que a medida . ‚ .w no semianel ` ‚ a é efetivamente


5 -finita. A existência e unicidade de uma medida na 5 -álgebra ` Œ a cuja
restrição a ` ‚ a é . ‚ .w é agora uma consequência do teorema de
extensão de Hahn em I.4.12 e o facto de esse prolongamento ser uma medida
5 -finita é uma consequência trivial de a sua restrição ao semianel ` ‚ a já
ser uma medida 5 -finita. 
II.4.3 (Compatibilidade com as restrições) Sejam Ð\ß `ß .Ñ e Ð] ß a ß .w Ñ dois
espaços de medida 5 -finitos e consideremos a medida produto . Œ .w na
5 -álgebra ` Œ a . Sejam \ w − ` e ] w − a . Tem-se então que as medidas
restrição .Î\ w e .wÎ] w , nas 5 -álgebras `Î\ w e aÎ] w , de partes de \ w e de ] w ,
168 Cap. II. O integral

respetivamente, são ainda 5 -finitas e a medida produto .Î\ w Œ .wÎ] w na


5-álgebra
`Î\ w Œ aÎ] w œ Ð` Œ a ÑÎ\ w ‚] w

de partes de \ w ‚ ] w (cf. I.5.22) coincide com a medida Ð. Œ .w ÑÎ\ w ‚] w ,


restrição da medida . Œ .w .88

-\4 œ \ e .Ð\4 Ñ  _, vemos que \ w é a união da família contável dos


Dem: Sendo Ð\4 Ñ4−N uma família contável de conjuntos em ` com

conjuntos \ w  \4 em `Î\ w , que verificam


.Î\ w Ð\ w  \4 Ñ œ .Ð\ w  \4 Ñ Ÿ .Ð\4 Ñ  _,

o que mostra que a medida .Î\ w é também 5 -finita. O mesmo argumento


mostra que a medida .wÎ] w é também 5 -finita. A igualdade das duas medidas
resulta agora de .Î\ w Œ .wÎ] w ser, por definição, a única medida que nos
conjuntos da forma E ‚ F , com E − `Î\ w e F − aÎ] w , toma o valor
.ÐEÑ.w ÐFÑ e de a medida Ð. Œ .w ÑÎ\ w ‚] w verificar essa propriedade. 
II.4.4 (Comutatividade) Sejam Ð\ß `ß .Ñ e Ð] ß a ß .w Ñ dois espaços de medida
5 -finitos. Tem-se então que a bijeção 5 À ] ‚ \ Ä \ ‚ ] , definida por
5ÐCß BÑ œ ÐBß CÑ é bimensurável e compatível com as medidas, quando se
considera no domínio a medida .w Œ . na 5 -álgebra a Œ ` e no espaço de
chegada a medida . Œ .w na 5 -álgebra ` Œ a . 89
Dem: O facto de 5 ser mensurável é uma consequência direta de I.5.21 e o
facto de ser mesmo bimensurável vem de que 5 " é a aplicação do mesmo
tipo, com os papéis de \ e ] trocados. Verificar que 5 é compatível com as
medidas é o mesmo que verificar que a medida imagem direta 5‡ Ð.w Œ .Ñ (cf.
I.5.13) coincide com a medida . Œ .w , na 5 -álgebra ` Œ a , e isso resulta
da definição, uma vez que, para cada E − ` e F − a , tem-se
5‡ Ð.w Œ .ÑÐE ‚ FÑ œ .w Œ .Ð5 " ÐE ‚ FÑÑ œ
œ .w Œ .ÐF ‚ EÑ œ .ÐEÑ.w ÐFÑ. 

Queremos examinar em seguida o resultado que permite calcular, em


muitos casos de forma mais efetiva, a medida de um subconjunto mensu-
rável dum produto cartesiano e que é uma primeira versão do teorema de
Fubini. Para isso precisamos de examinar primeiro um lema, cujo enun-
ciado não tem nada a ver com o produto de medidas.

88Felizmente…, senão ficávamos na dúvida sobre qual a medida a considerar implicita-


mente em \ w ‚ ] w .
89Como era de desconfiar, trata-se de uma trivialidade, que apenas enunciamos porque
será cómodo utilizá-la.
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 169

II.4.5 (Lema) Sejam ^ um conjunto, f um semianel de partes de ^ , tal que


^ − f e c a 5 -álgebra de partes de ^ gerada por f . Seja Y uma classe de
partes de ^ , com f § Y e que verifique as condições:
1) Sempre que Eß F − Y e F § E, tem-se E Ï F − Y ;

dois a dois, tem-se - E5 − Y .


2) Sempre que ÐE5 Ñ5−O é uma família contável de conjuntos em Y disjuntos

5−O
Tem-se então c § Y .
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
1) Vamos dizer, em geral, que uma classe Y de partes de ^ é razoável90 se
verificar as condições 1) e 2) no enunciado. Uma vez que a classe cÐ^Ñ, de
todas as partes de ^ , é razoável e que a intersecção de uma família arbitrária
de classes razoáveis é trivialmente uma classe razoável, podemos chamar Y!
à intersecção de todas as classes razoáveis que contêm f , que vai ser uma
classe razoável contendo f e contida em qualquer classe razoável que
contenha f (podemos dizer que Y! é a classe razoável gerada por f ). O
lema ficará provado se verificarmos que c § Y! , para o que bastará provar
que Y! é uma 5 -álgebra,91 e é isso que vamos fazer em seguida.
2) Para cada conjunto G § ^ , seja
YG œ ÖE § ^ ± E  G − Y! ×.
Tem-se então que YG é uma classe razoável.
Subdem: Sendo Eß F − YG , com F § E, tem-se F  G § E  G ,
donde
ÐE Ï FÑ  G œ ÐE  GÑ Ï ÐF  GÑ − Y! ,
o que mostra que E Ï F − YG . Sendo ÐE5 Ñ5−O uma família contável de
conjuntos de YG disjuntos dois a dois, os conjuntos E5  G são também
disjuntos dois a dois, donde

Š . E5 ‹  G œ . ÐE5  GÑ − Y! ,
5−O 5−O

o que mostra que - E5 − YG .


5−O
3) Vamos verificar que, sempre que Eß F − Y! , tem-se E  F − Y! .

90Trata-se de um nome nitidamente pouco interessante. A única desculpa para o utilizar-


mos é que esta noção será utilizada apenas no decurso desta demonstração, podendo ser
esquecida uma vez esta terminada. Esta noção joga um papel análogo ao das “classes
monótonas”, que são utilizadas em vários textos para demonstrar um lema análogo a este
e que tem o mesmo objetivo. A demonstração que apresentamos é, aliás, inspirada na do
lema análogo que se encontra no livro de Halmos [6].
91Apesar de qualquer 5 -álgebra ser evidentemente uma classe razoável, não estamos, de
modo nenhum, a afirmar que toda a classe razoável seja uma 5 -álgebra. O que vamos
provar é que a classe razoável gerada por um semianel, que verifique a propriedade
especial no enunciado, é uma 5 -álgebra.
170 Cap. II. O integral

Subdem: Comecemos por supor que G − f . O facto de f ser semianel


implica que, para cada E − f , tem-se E  G − f § Y! , portanto E − YG .
Provámos assim que f § YG donde, por YG ser uma classe razoável, tem-se
também Y! § YG . A conclusão a que acabámos de chegar diz-nos que, para
cada G − f e E − Y! , tem-se E − YG , condição que é equivalente, por
definição, a G − YE . Dito de outro modo, fixado E − Y! , tem-se f § YE ,
donde, como antes, por YE ser uma classe razoável, tem-se também
Y! § YE . Concluímos assim que, se E − Y! e F − Y! , tem-se F − YE , ou
seja E  F − Y! .
4) Vamos verificar agora que Y! é uma 5 -álgebra, o que, como referimos em
1), terminará a demonstração.
Subdem: Vamos dividir esta verificação em alíneas sucessivas:
a) Tem-se g − f § Y! . Do mesmo modo, ^ − f § Y! , portanto, para cada
F − Y! , ^ Ï F − Y! .
b) Se Eß F − Y! (sem ser necessariamente F § E), então E Ï F − Y! .
Com efeito, tem-se E Ï F œ E  Ð^ Ï FÑ pelo que basta ter em conta o que

c) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família finita de conjuntos em Y! , então -E4 − Y! .


vimos em 3).

Com efeito, raciocinando por indução no número de elementos de N , basta


mostrar que, se Eß F − Y! , tem-se E  F − Y! e isso resulta de se ter

d) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família contável de conjuntos em Y! , então -E4 − Y! .


E  F œ E  ÐF Ï EÑ, onde F Ï E − Y! , por b), e E  ÐF Ï EÑ œ g.

Com efeito, tendo em conta o lema I.2.11, podemos escrever -E4 œ -E4w ,
onde os conjuntos E4w são disjuntos dois a dois e, tendo em conta b) e c),
pertencem a Y! . 
II.4.6 (Teorema de Fubini para conjuntos) Sejam Ð\ß `ß .Ñ e Ð] ß a ß .w Ñ dois
espaços de medida 5 -finitos e consideremos a medida produto . Œ .w na
5 -álgebra ` Œ a . Seja G − ` Œ a . Tem-se então:
a) Para cada B − \ , o conjunto
GB߆ œ ÖC − ] ± ÐBß CÑ − G×

pertence a a . Além disso, é mensurável a função \ Ä ‘ , definida por


B È .w ÐGB߆ Ñ e tem-se

. Œ .w ÐGÑ œ ( .w ÐGB߆ Ñ . .ÐBÑ.


\

b) Para cada C − ] , o conjunto


G†ßC œ ÖB − \ ± ÐBß CÑ − G×

pertence a `. Além disso, é mensurável a função ] Ä ‘ , definida por


C È .ÐG†ßC Ñ e tem-se
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 171

. Œ .w ÐGÑ œ ( .ÐG†ßC Ñ . .w ÐCÑ.


]

Dem: Basta-nos provar apenas a), uma vez que b) resulta de aplicar a) ao
s − a Œ `,
conjunto G
s œ ÖÐCß BÑ − ] ‚ \ ± ÐBß CÑ − G×,
G

para o qual se tem .w Œ .ÐGÑs œ . Œ .w ÐGÑ (cf. II.4.4). Vamos dividir a


prova de a) em duas partes:
1) Vamos provar a) com a hipótese suplementar de se ter .Ð\Ñ  _ e
.w Ð] Ñ  _, portanto também
. Œ .w Ð\ ‚ ] Ñ œ .Ð\Ñ.w Ð] Ñ  _.

Subdem: Seja Y a classe dos conjuntos G § \ ‚ ] , para os quais as


conclusões de a) são verdadeiras.
Suponhamos que G − ` ‚ a , portanto que G œ E ‚ F , com E − ` e
F − a . Para cada B − E, tem-se GB߆ œ F e, para cada B  E, tem-se
GB߆ œ g, em qualquer caso GB߆ − a , e a função B È .w ÐGB߆ Ñ vai ser uma
função simples, em particular mensurável, que em E toma o valor constante
.w ÐFÑ e em \ Ï E o valor constante !, e vemos então que

. Œ .w ÐGÑ œ .ÐEÑ.w ÐFÑ œ ( .w ÐGB߆ Ñ . .ÐBÑ,


\

o que mostra que se tem G − Y .


Suponhamos agora que Gß G w − Y , com G w § G . Para cada B − \ , tem-se
GBw § GB e ÐG Ï G w ÑB œ GB Ï GBw − a , com
.w ÐÐG Ï G w ÑB Ñ œ .w ÐGB Ñ  .w ÐGBw Ñ,
o que mostra que é mensurável a função B È .w ÐGB߆ Ñ  .w ÐGBw Ñ (diferença
de duas funções integráveis com valores em ‘), e tem-se então
. Œ .w ÐG Ï G w Ñ œ . Œ .w ÐGÑ  . Œ .w ÐG w Ñ œ
œ ( .w ÐGB߆ Ñ . .ÐBÑ  ( .w ÐGB߆
w
Ñ . .ÐBÑ œ
\ \

œ ( . ÐGB߆ Ñ  .
w w
ÐGBw Ñ . .ÐBÑ œ
\

œ ( .w ÐÐG Ï G w ÑB߆ Ñ . .ÐBÑ,


\

Suponhamos, enfim, que G œ -G4 , onde ÐG4 Ñ4−N é uma família contável de
portanto G Ï G w − Y .

conjuntos G4 − Y , disjuntos dois a dois. Para cada B − \ , GB߆ é a união da


família contável de conjuntos G4 B߆ − a , que são disjuntos dois a dois, pelo
172 Cap. II. O integral

que GB߆ − a e .w ÐGB߆ Ñ œ ! .w ÐG4 B߆ Ñ, o que implica que é mensurável a


4−N
função B È .w ÐGB߆ Ñ, e tem-se então, lembrando II.1.21,

. Œ .w ÐGÑ œ " . Œ .w ÐG4 Ñ œ " ( .w ÐG4 B߆ Ñ . .ÐBÑ œ


4−N 4−N \

œ ( " .w ÐG4 B߆ Ñ . .ÐBÑ œ ( .w ÐGB߆ Ñ . .ÐBÑ,


\ 4−N \

portanto G − Y .
Verificámos assim que a classe Y contém o semianel ` ‚ a (que inclui
\ ‚ ] ) e verifica as hipóteses 1) e 2) do lema II.4.5 pelo que, por esse lema,
Y contém a 5 -álgebra gerada ` Œ a , que é exatamente o que pretendemos.
2) Passemos agora à demonstração de a) no caso geral. O facto de a medida
. ser 5 -finita permite-nos, por uma mudança de conjunto de índices,

.Ð\8 Ñ  _, tal que \ œ -\8 . De facto, podemos já supor que os \8


considerar uma sucessão Ð\8 Ñ8− , de conjuntos \8 − ` com

cada \8 pelo conjunto \8w œ - \: , que verifica ainda


constituem uma sucessão crescente de conjuntos, se necessário substituindo

"Ÿ:Ÿ8

.Ð\8w Ñ Ÿ " .Ð\: Ñ  _.


"Ÿ:Ÿ8

]8 − a , com .w Ð]8 Ñ  _ e ] œ -]8 . Tem-se então que G é a união da


Analogamente, podemos considerar uma sucessão crescente de conjuntos

sucessão crescente de conjuntos G8 œ G  Ð\8 ‚ ]8 Ñ − ` Œ a , o que


implica que
. Œ .w ÐGÑ œ lim . Œ .w ÐG8 Ñ.
Por outro lado, aplicando o caso particular estudado em 1), ao conjunto G8 ,
relativamente a \8 ‚ ]8 com a medida induzida, vemos que, para cada
B − \8 , G8 B߆ − a , que é mensurável a função \8 Ä ‘ , B È .w ÐG8 B߆ Ñ, e
que

. Œ .w ÐG8 Ñ œ ( .w ÐG8 B߆ Ñ . .ÐBÑ,


\8

e portanto, uma vez que, para cada B − \ Ï \8 , G8B߆ œ g, em particular


.w ÐG8 B߆ Ñ œ !, também podemos dizer que é mensurável a função \ Ä ‘ ,
B È .w ÐG8B߆ Ñ e que

. Œ .w ÐG8 Ñ œ ( .w ÐG8 B߆ Ñ . .ÐBÑ.


\

Por outro lado, para cada B − \ , GB߆ é a união da sucessão crescente dos
conjuntos G8 B߆ pelo que GB߆ é mensurável e com .w ÐGB߆ Ñ œ lim .w ÐG8 B߆ Ñ e
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 173

daqui concluímos, pelo teorema da convergência monótona (cf. II.1.18) que a


aplicação \ Ä ‘ , B È .w ÐGB߆ Ñ, é mensurável e que

( . ÐGB߆ Ñ . .ÐBÑ œ lim ( . ÐG8 B߆ Ñ . .ÐBÑ œ lim . Œ . ÐG8 Ñ œ . Œ . ÐGÑ,


w w w w
\ \

como queríamos. 

Como exemplo de aplicação do resultado precedente, determinamos a


medida da bola de centro Ð!ß !Ñ e raio " de ‘# , valor esse que será
importante para nós mais adiante.

II.4.7 (A área do círculo) Seja - a medida de Lebesgue na 5 -álgebra U‘ dos


borelianos de ‘. Seja F § ‘# o círculo fechado de centro Ð!ß !Ñ e raio ",
F œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± B#  C# Ÿ "×.
Tem-se então que F − U‘# œ U‘ Œ U‘ e - Œ -ÐFÑ œ 1.
Dem: O facto de F ser um boreliano de ‘# resulta de se tratar de um

é vazio, se B Â Ò"ß "Ó, e é o intervalo ÒÈ"  B# ß È"  B# Ó, se B − Ò"ß "Ó.


conjunto fechado. Para cada B − ‘, o conjunto FB߆ œ ÖC − ‘ ± ÐBß CÑ − F×

Deduzimos assim de II.4.6 que

- Œ -ÐFÑ œ ( #È"  B# .B œ ( #È"  B# .B.


Ò"ß"Ó Ó"ß"Ò

Podemos agora aplicar o resultado sobre integração por mudança de


variáveis em II.3.14, com a aplicação estritamente crescente de classe G " e
sobrejetiva :À Ó 1# ß 1# Ò Ä Ó"ß "Ò, :Ð>Ñ œ senÐ>Ñ, para obter

- Œ -ÐFÑ œ ( #È"  sen# Ð>Ñ cosÐ>Ñ .> œ


Ó 1# ß 1# Ò

œ( # cos# Ð>Ñ .> œ (


1Î# 1Î#
cosÐ#>Ñ  " .> œ 1. 
1Î# 1Î#

II.4.8 (Nota) A determinação que acabamos de fazer fará pouco sentido para
quem 1 seja, por definição, a área do círculo referido; é, em particular, o que
acontece quando nos colocamos no contexto da definição geométrica das
funções trigonométricas. Essa determinação já faz, no entanto, todo o sentido
quando nos colocamos num contexto em que definimos as funções trigono-
métricas de forma não geométrica, por exemplo por
174 Cap. II. O integral

senÐBÑ œ " Ð"Ñ8"


_
B#8"
,
8œ"
Ð#8  "Ñx

cosÐBÑ œ 1  " Ð"Ñ8


_
B#8
,
8œ"
Ð#8Ñx

e definimos 1 como o menor zero estritamente positivo da função senÐBÑ,


caso em que o que fazemos neste exercício é mostrar a relação entre esta
definição de 1 e a definição geométrica.
II.4.9 (Teorema de Fubini para funções positivas92) Sejam Ð\ß `ß .Ñ e
Ð] ß a ß .w Ñ dois espaços de medida 5 -finitos e consideremos a medida
produto . Œ .w na 5 -álgebra ` Œ a . Seja 0 À \ ‚ ] Ä ‘ uma função
mensurável. Tem-se então:
a) Para cada B − \ , é mensurável a função 0B߆ À ] Ä ‘ , definida por

B È '] 0 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ e tem-se


0B߆ ÐCÑ œ 0 ÐBß CÑ. Além disso, é mensurável a função \ Ä ‘ definida por

( 0 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ œ ( Š( 0 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ‹ . .ÐBÑ.


\‚] \ ]

b) Para cada C − ] , é mensurável a função 0†ßC À \ Ä ‘ , definida por

C È '\ 0 ÐBß CÑ . .ÐBÑ e tem-se


0†ßC ÐBÑ œ 0 ÐBß CÑ. Além disso, é mensurável a função ] Ä ‘ definida por

( 0 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ œ ( Š( 0 ÐBß CÑ . .ÐBÑ‹ . .w ÐCÑ.


\‚] ] \

Dem: Basta-nos provar apenas a), uma vez que b) resulta de aplicar a) à
aplicação mensurável s0 À ] ‚ \ Ä ‘ definida por s0 ÐCß BÑ œ 0 ÐBß CÑ, para
a qual se tem

( s0 ÐCß BÑ . .w Œ .ÐCß BÑ œ ( 0 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ


\‚] \‚]

(cf. II.4.4 e o teorema trivial de mudança de variáveis em II.1Þ38). Vamos


dividir a prova de a) em duas partes:
1) Vamos demonstrar o resultado no caso em que 0 À \ ‚ ] Ä ‘ é uma
função simples. Seja Ð^4 Ñ4−N uma família finita de conjuntos de ` Œ a
disjuntos dois a dois e de união \ ‚ ] tal que em cada ^4 a função 0 tome
um valor constante +4 − ‘ . Com as notações de II.4.6, vemos que, para
cada B − \ , o conjunto ] é a união da família finita de conjuntos ^4 B߆ − a
disjuntos dois a dois e a função 0B߆ toma o valor constante +4 em ^4 B߆ , o que
mostra que 0B߆ é uma função simples, em particular mensurável, e com

92Também conhecido por teorema de Tonelli.


§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 175

( 0 ÐBß CÑ . . ÐCÑ œ " +4 . Ð^4 B߆ Ñ.


w w
] 4−N

Tendo em conta II.4.6, vemos que a função \ Ä ‘ , B È '] 0 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ


é mensurável e com

( Š( 0 ÐBß CÑ . . ÐCÑ‹ . .ÐBÑ œ " +4 ( . Ð^4 B߆ Ñ . .ÐBÑ œ


w w
\ ] \

œ " +4 . Œ .w Ð^4 Ñ œ
4−N

4−N

œ( 0 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ.


\‚]

2) Passemos a examinar o caso geral em que 0 À \ ‚ ] Ä ‘ é uma função


mensurável. Podemos então considerar uma sucessão crescente de funções
simples 08 À \ ‚ ] Ä ‘ tal que 08 ÐBß CÑ Ä 0 ÐBß CÑ, para cada ÐBß CÑ −
\ ‚ ] . Para cada B − \ , temos, pelo que vimos em 1), funções mensuráveis
08 B߆ À ] Ä ‘ , as quais vão constituir uma sucessão crescente e com
08 B߆ ÐCÑ œ 08 ÐBß CÑ Ä 0 ÐBß CÑ œ 0B߆ ÐCÑ,

o que, tendo em conta o teorema da convergência monótona, implica que 0B߆


é mensurável e com

( 0 ÐBß CÑ . . ÐCÑ œ lim( 08 ÐBß CÑ . . ÐCÑ.


w w
] ]

B È '] 08 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ


Uma vez que, mais uma vez pelo que vimos em 1), as funções \ Ä ‘ ,
são mensuráveis e que, por ser
08 ÐBß CÑ Ÿ 08" ÐBß CÑ, vem

( 08 ÐBß CÑ . . ÐCÑ Ÿ ( 08" ÐBß CÑ . . ÐCÑ,


w w
] ]

gência monótona para garantir que a função B È '] 0 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ é


podemos aplicar o que vimos em 1) e mais duas vezes o teorema da conver-

mensurável de \ em ‘ e que

( Š( 0 ÐBß CÑ . . ÐCÑ‹ . .ÐBÑ œ lim ( Š( 08 ÐBß CÑ . . ÐCÑ‹ . .ÐBÑ œ


w w
\ ] \ ]

œ lim ( 08 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ œ


\‚]

œ( 0 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ. 


\‚]
176 Cap. II. O integral

II.4.10 (Teorema de Fubini para funções vetoriais) Sejam Ð\ß `ß .Ñ e


Ð] ß a ß .w Ñ dois espaços de medida 5 -finitos e consideremos a medida
produto . Œ .w na 5 -álgebra ` Œ a . Sejam I um espaço de Banach e
0 À \ ‚ ] Ä I uma aplicação topologicamente mensurável. Tem-se então:
a) Para cada B − \ , é topologicamente mensurável a aplicação 0B߆ À ] Ä I ,
definida por 0B߆ ÐCÑ œ 0 ÐBß CÑ e, sendo \_ o conjunto dos B − \ tais que
esta aplicação não é integrável, tem-se \_ − ` e é topologicamente mensu-
rável a aplicação \ Ï \_ Ä I definida por

B È ( 0 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ.
]

Além disso, no caso em que 0 À \ ‚ ] Ä I é integrável, tem-se


.Ð\_ Ñ œ !, a referida aplicação \ Ï \_ Ä I é integrável e

( 0 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ œ ( Š( 0 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ‹ . .ÐBÑ.


\‚] \Ï\_ ]

b) Para cada C − ] , é topologicamente mensurável a aplicação 0†ßC À \ Ä I ,


definida por 0†C ÐBÑ œ 0 ÐBß CÑ e, sendo ]_ o conjunto dos C − ] tais que esta
aplicação não é integrável, tem-se ]_ − a e é topologicamente mensurável
a aplicação ] Ï ]_ Ä I definida por

C È ( 0 ÐBß CÑ . .ÐBÑ.
\

Além disso, no caso em que 0 À \ ‚ ] Ä I é mesmo integrável, tem-se


.w Ð]_ Ñ œ !, a referida aplicação ] Ï ]_ Ä I é mesmo integrável e

( 0 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ œ ( Š( 0 ÐBß CÑ . .ÐBÑ‹ . .w ÐCÑ.


\‚] ] Ï]_ \

Dem: Basta-nos provar apenas a), uma vez que b) resulta de aplicar a) à
aplicação topologicamente mensurável s0 À ] ‚ \ Ä I definida por
s0 ÐCß BÑ œ 0 ÐBß CÑ, que, no caso em que 0 À \ ‚ ] Ä I é integrável, é
integrável e com

( s0 ÐCß BÑ . .w Œ .ÐCß BÑ œ ( 0 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ


\‚] \‚]

(cf. II.4.4 e o teorema trivial de mudança de variáveis em II.2Þ56).


O facto de, para cada B − \ , ser topologicamente mensurável a aplicação
0B߆ À ] Ä I resulta de que ela é a composta da aplicação topologicamente
mensurável 0 À \ ‚ ] Ä I com a aplicação ] Ä \ ‚ ] , C È ÐBß CÑ, que é
mensurável por o serem as suas duas componentes (cf. II.2.7). Reparando
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 177

agora que, para cada B − \ , tem-se B − \_ se, e só se,

( m0 ÐBß CÑm . . ÐCÑ œ _


w
]

e que, tendo em conta a versão do teorema de Fubini em II.4.9 relativa à


aplicação mensurável \ ‚ ] Ä ‘ , ÐBß CÑ È m0 ÐBß CÑm, é mensurável a
aplicação \ Ä ‘ , que a B associa o integral referido, concluímos que se
tem efetivamente \_ − `. Além disso, no caso em que 0 À \ ‚ ] Ä I é
integrável, a mesma versão do teorema de Fubini garante que

( Š( m0 ÐBß CÑm . . ÐCÑ‹ . .ÐBÑ œ (


w
m0 ÐBß CÑm . . Œ .w ÐBß CÑ  _,
\ ] \‚]

para cada B − \ Ï \ w , '] m0 ÐBß CÑm . .w ÐCÑ  _, o que implica que
pelo que, tendo em conta II.1.29, existe \ w − ` com .Ð\ w Ñ œ ! tal que,

\_ § \ w , portanto também .Ð\_ Ñ œ !.


Vamos dividir o resto da prova de a) em duas partes:
1) Vamos examinar o caso particular em que a aplicação topologicamente
mensurável 0 À \ ‚ ] Ä I é simples. Podemos considerar uma família finita
Ð^4 Ñ4−N de conjuntos de ` Œ a disjuntos dois a dois e uma família ÐA4 Ñ4−N
de vetores de I Ï Ö!× tais que, para cada ÐBß CÑ − \ ‚ ] ,

0 ÐBß CÑ œ " ˆ^4 ÐBß CÑ A4 ,


4−N

(cf. II.2.17 e II.2.18, dispensando os índices 4 com A4 œ !). Tem-se então,


para cada ÐBß CÑ − \ ‚ ] ,
"
ˆ^4 ÐBß CÑ Ÿ m0 ÐBß CÑm
mA4 m

e portanto, se B − \ Ï \_ ,

( ˆ^4 ÐBß CÑ . . ÐCÑ Ÿ ( m0 ÐBß CÑm . . ÐCÑ  _.


w " w
] mA4 m ]

Tendo em conta a versão do teorema de Fubini em II.4.9 é mensurável a


aplicação \ Ï \_ Ä ‘ § ‘

B È ( ˆ^4 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ


]

e, uma vez que, tendo em conta as propriedades de linearidade do integral em


II.2.34 e II.2.36, para cada B − \ Ï \_

( 0 ÐBß CÑ . . ÐCÑ œ " Š( ˆ^4 ÐBß CÑ . . ÐCÑ‹ A4 ,


w w
] 4−N ]
178 Cap. II. O integral

concluímos de II.2.9 que é efetivamente topologicamente mensurável a


aplicação \ Ï \_ Ä I ,

B È ( 0 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ.
]

Suponhamos agora que a aplicação simples 0 À \ ‚ ] Ä I é mesmo


integrável, portanto é uma aplicação em escada. Vem então

( (
"
ˆ^4 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ Ÿ m0 ÐBß CÑm . . Œ .w ÐBß CÑ  _
\‚] mA4 m \‚]

e, tendo em conta a versão do teorema de Fubini em II.4.9 e II.2.42,

( ˆ^4 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ œ ( Š( ˆ^4 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ‹ . .ÐBÑ œ


\‚] \ ]

œ( Š( ˆ^4 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ‹ . .ÐBÑß


\Ï\_ ]

sendo assim integrável a função \ Ï \_ Ä ‘ § ‘,

B È ( ˆ^4 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ.


]

Aplicando mais uma vez as propriedades do integral em II.2.34 e II.2.36,


podemos concluir que

( 0 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ œ " Š( ˆ^4 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ‹ A4 œ


\‚] 4−N \‚]

œ " Š( Š( ˆ^4 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ‹ . .ÐBÑ‹ A4 œ


4−N \Ï\_ ]

œ( "Š( ˆ^4 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ‹A4 . .ÐBÑ œ


\Ï\_ 4−N ]

œ( Š( " ˆ^4 ÐBß CÑ A4 . .w ÐCÑ‹ . .ÐBÑ œ


\Ï\_ ] 4−N

œ( Š( 0 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ‹ . .ÐBÑ.


\Ï\_ ]

2) Passemos a tratar o caso geral em que 0 À \ ‚ ] Ä I é uma aplicação


topologicamente mensurável arbitrária. Tendo em conta II.2.29, podemos
considerar uma sucessão de aplicações topologicamente mensuráveis
08 À \ ‚ ] Ä I , tais que cada 08 Ð\ ‚ ] Ñ seja finito e que, para cada
ÐBß CÑ − \ ‚ ] , 08 ÐBß CÑ Ä 0 ÐBß CÑ e m08 ÐBß CÑm Ÿ #m0 ÐBß CÑm. Para cada
B − \ Ï \_ , tem-se
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 179

( m08 ÐBß CÑm . . ÐCÑ Ÿ ( # m0 ÐBß CÑm . . ÐCÑ œ


w w
] ]

œ #( m0 ÐBß CÑm . .w ÐCÑ  _


]

em particular, pelo teorema da convergência dominada,

( 08 ÐBß CÑ . . ÐCÑ Ä ( 0 ÐBß CÑ . . ÐCÑ


w w
] ]

e, para cada 8, sendo \8_ o conjunto dos B − \ tais que

( m08 ÐBß CÑm . . ÐCÑ œ _,


w
]

mensuráveis as aplicações \ Ï \_ Ä I , B È '] 08 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ e podemos


tem-se \8 _ § \_ . Pelo que vimos em 1), são assim topologicamente

concluir de II.2.13 que é também topologicamente mensurável a aplicação


\ Ï \_ Ä I ,

B È ( 0 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ.
]

Suponhamos agora que a aplicação 0 À \ ‚ ] Ä I é mesmo integrável. De


se ter

( m08 ÐBß CÑm . . Œ .w ÐBß CÑ Ÿ ( # m0 ÐBß CÑm . . Œ .w ÐBß CÑ œ


\‚] \‚]

œ #( m0 ÐBß CÑm . . Œ .w ÐBß CÑ  _


\‚]

concluímos que as aplicações 08 À \ ‚ ] Ä I também são integráveis.


Tendo em conta o que vimos no caso particular estudado em 1) e o facto de
se ter, para cada B − \ Ï \_ ,

½( 08 ÐBß CÑ . .w ÐCѽ Ÿ ( m08 ÐBß CÑm . .w ÐCÑ Ÿ ( #m0 ÐBß CÑm . .w ÐCÑ,
] ] ]

onde

( Š( #m0 ÐBß CÑm . .w ÐCÑ‹ ..ÐBÑ œ ( Š( #m0 ÐBß CÑm ..w ÐCÑ‹ ..ÐBÑ œ
\Ï\_ ] \ ]

œ( #m0 ÐBß CÑm . . Œ .w ÐBß CÑ  _,


\‚]

podemos aplicar o teorema da convergência dominada para garantir que é


180 Cap. II. O integral

integrável a aplicação \ Ï \_ Ä I , B È '] 0 ÐBß CÑ . .w ÐCÑ, e que

( Š( 0 ÐBß CÑ ..w ÐCÑ‹ ..ÐBÑ œ lim ( Š( 08 ÐBß CÑ ..w ÐCÑ‹ ..ÐBÑ œ


\Ï\_ ] \Ï\_ ]

œ lim ( 08 ÐBß CÑ .. Œ .w ÐBß CÑ œ


\‚]

œ( 0 ÐBß CÑ .. Œ .w ÐBß CÑ. 


\‚]

II.4.11 (Notação alternativa) Sejam Ð\ß `ß .Ñ e Ð] ß a ß .w Ñ dois espaços de


medida 5 -finitos e consideremos a medida produto . Œ .w na 5 -álgebra
` Œ a . Tanto no caso em que 0 À \ ‚ ] Ä ‘ é uma função mensurável
como naquele em que I é um espaço de Banach e 0 À \ ‚ ] Ä I é uma
aplicação integrável, o integral

( 0 ÐBß CÑ . . Œ .w ÐBß CÑ
\‚]

é muitas vezes notado alternativamente

( 0 ÐBß CÑ . .ÐBÑ . .w ÐCÑ,


\‚]

fazendo-se ainda a simplificação usual, no caso de alguma das medidas, por


exemplo a primeira, ser a medida de Lebesgue nos borelianos de ‘, de
escrever .B em vez de . .ÐBÑ.

Exercícios

Ex II.4.1 Sejam Ð\ß `Ñ e Ð] ß a Ñ espaços mensuráveis e consideremos o espaço


mensurável produto Ð\ ‚ ] ß ` Œ a Ñ. Verificar que, se G § \ ‚ ]
pertence a ` Œ a , então, para cada B − \ , o conjunto
GB߆ œ ÖC − ] ± ÐBß CÑ − G×

pertence a a e, para cada C − ] , o conjunto


G†ßC œ ÖB − \ ± ÐBß CÑ − G×

pertence a `, por outras palavras, esta parte das conclusões das alíneas a) e
b) de II.4.6 não depende da consideração das medidas . e .w e, muito menos,
do facto de estas serem 5 -finitas. Sugestão: Reparar que estes conjuntos são
imagens recíprocas de G por aplicações mensuráveis convenientes.
Ex II.4.2 (Cf. Halmos [6]) Reparar que, se Ð\ß `ß .Ñ e Ð] ß a ß .w Ñ são espaços
de medida, não necessariamente 5 -finitos, faz sentido generalizar a definição
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 181

em II.4.2, definindo no espaço mensurável Ð\ ‚ ] ß ` Œ a Ñ a medida


produto, notada ainda . Π.w , como sendo o prolongamento de Hahn (cf.
I.4.7) da medida . ‚ .w no semianel ` ‚ a referida em II.4.1.93
Consideremos o exemplo em que \ œ ] œ Ò!ß "Ó, . é a restrição da medida
de Lebesgue - nos borelianos de ‘, definida na 5 -álgebra dos borelianos de
Ò!ß "Ó e / é a medida de contagem na 5 -álgebra a de todas as partes de Ò!ß "Ó,
reparando que a medida - é finita, mas a medida / não é sequer 5 -finita.
a) Seja G œ ?Ò!ß"Ó § Ò!ß "Ó ‚ Ò!ß "Ó o conjunto diagonal,
G œ ÖÐBß CÑ − Ò!ß "Ó ‚ Ò!ß "Ó ± B œ C×.

Verificar que G − ` Œ a e que - Œ / ÐGÑ œ _. Sugestão: Por um lado,


mostrar que todo o boreliano pertence a ` Πa . Por outro lado, mostrar
que, dada uma cobertura contável arbitrária de G por conjuntos
E4 ‚ F4 − ` ‚ a , onde 4 − N , então Ò!ß "Ó está contido na união dos
E4  F4 e portanto existe pelo menos um índice 4 tal que -‡ ÐE4  F4 Ñ  !,
onde -‡ é a medida exterior de Lebesgue (cf. I.4.4).
b) Verificar que as conclusões das alíneas a) e b) de II.4.6 falham neste caso,
uma vez que, com as notações desse resultado

( / ÐGB߆ Ñ . -ÐBÑ œ ",


Ò!ß"Ó

( -ÐG†ßC Ñ . / ÐCÑ œ !.
Ò!ß"Ó

Ex II.4.3 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida 5 -finito e notemos - a medida


de Lebesgue na 5 -álgebra U‘ dos borelianos de ‘. Seja 0 À \ Ä ‘ uma
função e notemos
E œ ÖÐBß >Ñ − \ ‚ ‘ ± ! Ÿ >  0 ÐBÑ×.
Mostrar que a função 0 é mensurável se, e só se, E − ` Œ U‘ e que,
quando isso acontecer,

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ . Œ -ÐEÑ.


\

Ex II.4.4 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida 5 -finito e notemos - a medida


de Lebesgue na 5 -álgebra U‘ dos borelianos de ‘. Sejam 0 ß 1À \ Ä ‘ duas
funções mensuráveis e notemos
F œ ÖÐBß >Ñ − \ ‚ ‘ ± 0 ÐBÑ Ÿ > Ÿ 1ÐBÑ ” 1ÐBÑ Ÿ > Ÿ 0 ÐBÑ×.

93Adiferença é que não podemos garantir que esta seja a única extensão de . ‚ .w a
` Πa.
182 Cap. II. O integral

Mostar que F − ` Œ U‘ e que

. Œ -ÐFÑ œ ( l0 ÐBÑ  1ÐBÑl . .ÐBÑ.


\

Ex II.4.5 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida 5 -finito e notemos - a medida


de Lebesgue na 5 -álgebra U‘ dos borelianos de ‘. Seja 0 À \ Ä ‘ uma
função mensurável. Mostrar que, para quase todo o > − ‘,
.ÐÖB − \ ± 0 ÐBÑ œ >×Ñ œ !,
isto é, que existe F − U‘ com -ÐFÑ œ ! tal que
.ÐÖB − \ ± 0 ÐBÑ œ >×Ñ œ !

para cada > Â F . Sugestão: Calcular de duas maneiras diferentes a medida


. Œ -ÐÖÐBß >Ñ − \ ‚ ‘ ± > œ 0 ÐBÑ×Ñ.

Ex II.4.6 Consideremos a medida de Lebesgue - na 5 -álgebra U‘ dos borelianos


de ‘. Sendo
E œ ÖÐBß CÑ − ‘# ± ! Ÿ B Ÿ # • ! Ÿ C Ÿ B# ×,
mostrar que E − U‘ Œ U‘ e determinar

( BC .B .C.
$
E

Ex II.4.7 Se I é um espaço vetorial e se Bß C − I são linearmente indepen-


dentes, chamamos paralelogramo de lados B e C ao conjunto T das combi-
nações lineares =B  >C , com =ß > − Ò!ß "Ó.
Seja - a medida de Lebesgue na 5 -álgebra U‘ dos borelianos de ‘ e
consideremos em ‘# a 5 -álgebra U‘ Œ U‘ e a medida - Œ - , lembrando que,
por I.5.27, U‘ Œ U‘ é a 5 -álgebra dos borelianos de ‘# . Dados +ß ,ß - − ‘,
com + Á ! e - Á !, notar que Ð+ß !Ñ e Ð,ß -Ñ são linearmente independentes e
mostrar que o paralelogramo T § ‘# , cujos lados são aqueles vetores, é um
boreliano com - Œ -ÐT Ñ œ l+-l.
Ex II.4.8 (Visão alternativa sobre as famílias absolutamente somáveis) Neste
exercício vamos ignorar o que foi feito nos resultados II.2.47 a II.2.51, isto é
nos resultados em que intervém a noção de família somável de vetores dum
espaço de Banach. O objetivo é reobter alguns desses resultados de forma
independente, depois de transformar um deles em definição.
a) Nesta alínea e nas próximas, I é um espaço de Banach, N é um conjunto
de índices, que, para simplificar, suporemos contável, e notamos / a medida
de contagem na 5 -álgebra de todas as partes de N . Se ÐA4 Ñ4−N é uma família
de vetores de I , mostrar que a família constitui uma aplicação mensurável e
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 183

que esta aplicação é integrável se, e só se, ! mA4 m  _ (isto é, a família é


4−N
absolutamente somável). Nesse caso pomos, por definição,94

" A4 œ ( A4 . / Ð4Ñ.
4−N

b) No caso em que N é finito, verificar que toda a família ÐA4 Ñ4−N de vetores
de I é absolutamente somável e que a soma definida em a) coincide com a
soma finita habitual de vetores de I .
c) No caso em que N œ , verificar que, para uma família absolutamente
somável, ÐA: Ñ:− , a soma da família coincide com a soma da série, no
sentido análogo ao habitual:

" A: œ lim " A: .


8

8Ä_
:− :œ"

Sugestão: Aplicar o teorema da convergência dominada.


d) Sejam N e N w conjuntos contáveis e :À N w Ä N uma aplicação bijetiva.
Mostrar que uma família ÐA4 Ñ4−N é absolutamente somável se, e só se, a
família ÐA:Ð4w Ñ Ñ4w −N w é absolutamente somável e que, nesse caso,

" A4 œ " A:Ð4w Ñ .


4−N 4w −N w

Sugestão: Temos uma aplicação do teorema trivial de mudança de variáveis.


e) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida que, para simplificar, vamos supor
5-finito95 e Ð04 Ñ4−N uma família contável de aplicações integráveis

' < . .  _ e, para cada B − \ ,


04 À \ Ä I tal que exista uma aplicação mensurável <À \ Ä ‘ , com

" m04 ÐBÑm Ÿ <ÐBÑ


4−N

somável). Sendo então 0 À \ Ä I a aplicação definida por 0 ÐBÑ œ ! 04 ÐBÑ,


(em particular, a família Ð04 ÐBÑÑ4−N de vetores de I é absolutamente

4−N
mostrar que 0 é integrável e

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 04 ÐBÑ . .ÐBÑ,


\ 4−N \

em que a soma do segundo membro é a de uma família absolutamente


somável de vetores de I .96

94Comparar com II.2.48.


95A alínea c) do exercício II.1.10 dá-nos uma pista para dispensarmos esta hipótese.
96Comparar com II.2.49.
184 Cap. II. O integral

Sugestão: Aplicar o teorema de Fubini, considerando a medida / Œ . na


5 -álgebra c ÐN Ñ Œ ` de partes de N ‚ \ e a aplicação J Ð4ß BÑ œ 04 ÐBÑ.
f) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida que, para simplificar, vamos supor

uma família contável de conjuntos de ` disjuntos dois a dois e se E œ -E4 ,


5-finito e 0 À \ Ä I uma aplicação integrável. Mostrar que, se ÐE4 Ñ4−N é

então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ,


E 4−N E4

em que a soma do segundo membro é a de uma família absolutamente


somável de vetores de I .97
Sugestão: Reparar que, para cada B − \ , tem-se
ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ œ " ˆE4 ÐBÑ0 ÐBÑ.
4−N

g) (Associatividade) Suponhamos que ÐA4 Ñ4−N é uma família contável abso-


lutamente somável de vetores de I e que o conjunto de índices N é uma
união contável de subconjuntos N3 , 3 − M , disjuntos dois a dois. Verificar que
" A4 œ " ˆ" A4 ‰,
4−N 3−M 4−N3

onde cada soma do segundo membro é a de uma família absolutamente


somável de vetores de I . Sugestão: Temos um caso particular da alínea f).
Ex II.4.9 (Cf. Rudin [10]) a) Efetuar duas integrações por partes (cf. o exercício
II.3.9)98 para mostrar que, para cada > − ‘ e 8 − ,

(
#1 8
"
sinÐBÑ /B> .B œ Ð"  /#18> Ñ.
! "  >#
b) Mostrar que, para cada B  ! em ‘, tem-se

(
"
/B> .> œ .
Ò!ß_Ò B

Sugestão: Lembrar a conclusão de II.3.12.


c) Utilizar o teorema de Fubini para funções integráveis e as conclusões de a)
e b) para deduzir que, para cada 8 − ,

( .B œ (
sinÐBÑ "  /#18>
.>.
Ó!ß#18Ó B Ò!ß_Ò "  >#

97Comparar com II.2.50.


98Alternativamente, reparar que sinÐBÑ é o coeficiente da parte imaginária de /3B e utilizar
esse facto para obter diretamente uma primitiva.
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 185

Sugestão: Para verificar que a função definida em Ó!ß #18Ó ‚ Ò!ß _Ò, que
vai ser utilizada, é integrável, utilizar o teorema de Fubini para funções
positivas, reparando que lsinBÐBÑl é limitado em Ó!ß #18Ó.
d) Deduzir de c) e do teorema da convergência monótona que se tem

lim (
sinÐBÑ 1
.B œ ,
8Ä_ Ó!ß#18Ó B #

apesar de a função sinÐBÑ


B não ser integrável em Ó!ß _Ò (cf. a alínea a) do
exercício II.3.12 — ao limite anterior dá-se o nome de integral de Dirichlet).
Ex II.4.10 (Um tipo de integração por partes) Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um
intervalo aberto não vazio e :À N Ä ‘ uma aplicação crescente (no sentido
lato) e notemos -: a correspondente medida de Lebesgue-Stieltjes nos bore-
lianos de N (cf. I.4.13). Sejam +  , em N , I um espaço de Banach e
0 À Ò+ß ,Ó Ä I uma aplicação derivável em todos os pontos e com
0 w À Ò+ß ,Ó Ä I contínua.
a) Mostrar que 0 À Ó+ß ,Ó Ä I é integrável, relativamente à restrição da
medida -: , que :0 w À Ò+ß ,Ó Ä I é integrável, relativamente à restrição da
medida de Lebesgue - e que se tem

( 0 ÐBÑ . -: ÐBÑ œ :Ð, Ñ0 Ð,Ñ  :Ð+ Ñ0 Ð+Ñ  ( :ÐBÑ0 w ÐBÑ .B.


,

Ó+ß,Ó +

Sugestão: Sendo G § Ó+ß ,Ó ‚ Ó+ß ,Ó o conjunto dos pares ÐBß CÑ com B  C,


usar o teorema de Fubini para calcular de duas maneiras distintas o integral

( 0 ÐCÑ . -: ÐBÑ .C,


w
G

e lembrar que :ÐB Ñ œ :ÐBÑ salvo para um conjunto contável de valores de
B.
b) Deduzir do resultado obtido em a) caracterizações com o mesmo espírito
dos integrais

( 0 ÐBÑ . -: ÐBÑ, ( 0 ÐBÑ . -: ÐBÑ, ( 0 ÐBÑ . -: ÐBÑ.


Ò+ß,Ó Ó+ß,Ò Ò+ß,Ò

Sugestão: Lembrar a caracterização das medidas dos conjuntos unitários em


I.4.14.
c) Verificar que, no caso em que a aplicação : é derivável em todos os
pontos e com derivada contínua, a conclusão de a) implica a fórmula de
integração por partes, obtida, num contexto mais geral, no exercício II.3.9.
Ex II.4.11 (Outro tipo de integração por partes) Sejam N § ‘ um intervalo
aberto não vazio e :ß <À N Ä ‘ duas funções crescentes (no sentido lato) e
notemos -: e -< as correspondentes medidas de Lebesgue-Stieltjes nos
borelianos de N . Sejam +  , em N tais que no intervalo Ó+ß ,Ó as funções : e
186 Cap. II. O integral

< não tenham nenhum ponto de descontinuidade comum.


Mostrar que as restrições de : e < a Ó+ß ,Ó são integráveis, relativamente às
medidas -< e -: , respetivamente, e que se tem

( <ÐBÑ . -: ÐBÑ œ :Ð, Ñ<Ð, Ñ  :Ð+ Ñ<Ð+ Ñ  ( :ÐBÑ . -< ÐBÑ.


Ó+Þ,Ó Ó+ß,Ó

Sugestão: Sendo G § Ó+ß ,Ó ‚ Ó+ß ,Ó o conjunto dos pares ÐBß CÑ tais que
B  C, utilizar o teorema de Fubini para calcular de duas maneiras distintas a
medida
-: Œ -< ÐGÑ œ -: Œ -< ÐG  ?Ñ,

reparando que a inexistência de descontinuidades comuns implica que


<ÐB Ñ œ <ÐBÑ œ <ÐB Ñ,
-: -quase sempre, e que
:ÐB Ñ œ :ÐBÑ œ :ÐB Ñ,
-< -quase sempre.
Ex II.4.12 Consideremos uma medida . nos borelianos de ‘ que seja finita nos
borelianos limitados. Mostrar que, para cada <   !, é mensurável a função
0 À ‘ Ä ‘ definida por 0 ÐBÑ œ .ÐÒB  <ß B  <ÓÑ. Sugestão: Reparar que .
é 5 -finita e aplicar o teorema de Fubini a um subconjunto conveniente de
‘ ‚ ‘Þ
Ex II.4.13 (O produto de dois integrais indefinidos como integral indefinido)
Sejam J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação
bilinear contínua, que encaramos como uma “multiplicação”, notando, para
cada A − J e D − K,
A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L .
Sejam +  , em ‘ e 0 À Ò+ß ,Ó Ä J e 1À Ò+ß ,Ó Ä K aplicações integráveis e
consideremos os correspondentes integrais indefinidos s0 À Ò+ß ,Ó Ä J e
s1À Ò+ß ,Ó Ä K, que sabemos serem aplicações contínuas, definidos por

s0 ÐBÑ œ ( s1ÐBÑ œ (
B B
0 Ð>Ñ .>, 1Ð>Ñ .>.
+ +

Mostrar que a aplicação s0 ‚ s1À Ò+ß ,Ó Ä L é também um integral indefinido,


mais precisamente, que, para cada > − Ò+ß ,Ó,

s0 Ð>Ñ ‚ s1Ð>Ñ œ ( 0 ÐBÑ ‚ s1ÐBÑ  s0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ .B.


>

Sugestão: Fixado >, reparar que Ò+ß >Ó ‚ Ò+ß >Ó é a união disjunta dos subcon-
§4. Produto de medidas e teorema de Fubini 187

juntos E> e F> , constituídos respetivamente pelos ÐBß CÑ com B  C e por


aqueles com B Ÿ C e utilizar o teorema de Fubini para mostrar que

( 0 ÐBÑ ‚ s1ÐBÑ .B œ ( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐCÑ .B .C


>

+ E>

e que

( s0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ .B œ ( s0 ÐCÑ ‚ 1ÐCÑ .C œ ( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐCÑ .B .C.


> >

+ + F>

§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores.

II.5.1 (Intervalos semiabertos em ‘8 Ñ Dado um natural 8   ", chamamos


intervalo semiaberto de ‘8 a todo o conjunto E § ‘8 da forma
(1) E œ Ó+" ß ," Ó ‚ Ó+# ß ,# Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 Ó,
onde, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, +4 Ÿ ,4 são números reais.
É claro que, no caso em que 8 œ ", os intervalos semiabertos de ‘ são
exatamente os ‘-intervalos semiabertos definidos em I.3.1.
Tal como referido, no caso 8 œ ", em I.3.1, no caso em que um intervalo
semiaberto E é não vazio, os elementos +4 e ,4 na representação (1) ficam
univocamente determinados por E e verificam +4  ,4 , já que Ó+4 ß ,4 Ó é
necessariamente a imagem direta de E pela projeção canónica 14 À ‘8 Ä ‘,
14 ÐB" ß á ß B8 Ñ œ B4 , mas o conjunto vazio g é um intervalo semiaberto que
admite infinitas representações do tipo Ð"Ñ nomeadamente todas aquelas em
que, para algum 4, +4 œ ,4 .
II.5.2 (Os intervalos semiabertos como semianel) Para cada 8   ", a classe f8
dos intervalos semiabertos de ‘8 é um semianel cuja 5 -álgebra gerada é a
5 -álgebra U‘8 dos borelianos de ‘8 .
Dem: O caso em que 8 œ " é já conhecido (cf. I.3.2 e I.3.12). Suponhamos o
resultado válido para um certo 8   ". Uma vez que ‘8 é a união da família
contável de conjuntos Ó:ß :Ó8 , com : − , deduzimos de I.5.19 e de I.5.23
que a classe f8 ‚ f dos produtos E ‚ Ó+8" ß ,8" Ó, com E − f8 e
+8" Ÿ ,8" , é um semianel de partes de ‘8 ‚ ‘, cuja 5 -álgebra gerada é
U‘8 Œ U‘ , ou seja, tendo em conta I.5.27, é a 5 -álgebra U‘8 ‚‘ dos
borelianos de ‘8 ‚ ‘. Considerando o homeomorfismo :À ‘8 ‚ ‘ Ä ‘8" ,
definido por
:ÐÐB" ß á ß B8 Ñß B8" Ñ œ ÐB" ß á ß B8 ß B8" Ñ,
deduzimos de I.5.18 e I.5.16 que f8" coincide com :‡ Ðf8 ‚ f Ñ e é um
semianel de partes de ‘8" cuja 5 -álgebra gerada é :‡ ÐU‘8 Œ U‘ Ñ ou seja,
188 Cap. II. O integral

tendo em conta I.5.10, é a 5 -álgebra U‘8" dos borelianos de ‘8" . O


resultado fica assim demonstrado por indução. 
II.5.3 (A medida de Lebesgue nos borelianos de ‘8 Ñ Para cada 8   ", existe
uma, e uma só, medida -8 na 5 -álgebra U‘8 dos borelianos de ‘8 tal que,
para cada
E œ Ó+" ß ," Ó ‚ Ó+# ß ,# Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 Ó − f8
(onde +4 Ÿ ,4 ), se tenha
-8 ÐEÑ œ Ð,"  +" Ñ ‚ Ð,#  +# Ñ ‚ â ‚ Ð,8  +8 Ñ.
Esta medida, a que damos o nome de medida de Lebesgue nos borelianos de
‘8 , é 5 -finita e coincide, no caso em que 8 œ ", com a medida de Lebesgue
- nos borelianos de ‘, definida em I.4.15 e, no caso em que 8 œ #, com a
medida produto - Π-.
Dem: Demonstramos o resultado por indução em 8. O caso 8 œ " é já
conhecido, uma vez que a medida de Lebesgue - nos borelianos de ‘ é a
única que verifica a condição -ÐÓ+ß ,ÓÑ œ ,  +, sempre que + Ÿ ,.
Suponhamos o resultado verdadeiro para um certo 8   "Þ Podemos então
considerar a medida produto -8 Œ - na 5 -álgebra U‘8 Œ U‘ œ U‘8 ‚‘ (cf.
I.5.27) e tomar para -8" a medida imagem direta :‡ Ð-8 Œ -Ñ, na 5 -álgebra
dos borelianos de ‘8" (cf. I.5.13), onde :À ‘8 ‚ ‘ Ä ‘8" é o homeomor-
fismo definido por
:ÐÐB" ß á ß B8 Ñß B8" Ñ œ ÐB" ß á ß B8 ß B8" Ñ,
medida para a qual se tem, para cada
E œ Ó+" ß ," Ó ‚ Ó+# ß ,# Ó ‚ â ‚ Ó+8" ß ,8" Ó − f8"
(onde +4 Ÿ ,4 ),
-8" ÐEÑ œ Ð-8 Œ -ÑÐ:" ÐEÑÑ œ
œ Ð-8 Œ -ÑÐÐÓ+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 ÓÑ ‚ Ó+8" ß ,8" ÓÑ œ
œ -8 ÐÓ+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 ÓÑ ‚ -ÐÓ+8" ß ,8" ÓÑ œ
œ Ð,"  +" Ñ ‚ â ‚ Ð,8  +8 Ñ ‚ Ð,8"  +8" Ñ.
Esta medida é 5 -finita, e tem mesmo restrição 5 -finita ao semianel f8" ,
uma vez que ‘8" é a união da família contável dos conjuntos
Ó:ß :Ó8" − f8" , com -8" ÐÓ:ß :Ó8" Ñ œ Ð#:Ñ8"  _. A unicidade da
medida -8" nas condições do enunciado é uma consequência do teorema de
Hahn em I.4.12. Uma vez que, para a medida produto - Œ -, também se tem
- Œ -ÐÓ+" ß ," Ó ‚ Ó+# ß ,# ÓÑ œ -ÐÓ+" ß ," ÓÑ ‚ -ÐÓ+# ß ,# ÓÑ œ
œ Ð,"  +" Ñ ‚ Ð,#  +# Ñ,

concluímos que -# œ - Œ -. 
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 189

II.5.4 A medida de Lebesgue nos borelianos de ‘8 tem as seguintes proprie-


dades:
a) Se E § ‘8 é um boreliano limitado99, então -8 ÐEÑ  _Þ
b) Se E § ‘8 é um boreliano com intÐEÑ Á g, então -8 ÐEÑ  !.
Dem: Nas hipóteses de a), podemos considerar V  ! tal que E § ÓVß VÓ8
pelo que temos
-8 ÐEÑ Ÿ -8 ÐÓVß VÓ8 Ñ œ Ð#VÑ8  _.
Na hipótese de b), sendo + œ Ð+" ß á ß +8 Ñ − intÐEÑ, podemos considerar
&  ! tal que
Ó+"  &ß +"  &Ó ‚ â ‚ Ó+8  &ß +8  &Ó § E
e então
!  Ð#&Ñ8 œ -8 ÐÓ+"  &ß +"  &Ó ‚ â ‚ Ó+8  &ß +8  &ÓÑ Ÿ -8 ÐEÑ. 

Para trabalharmos com a medida de Lebesgue nos borelianos de ‘8 é


muitas vezes cómodo utilizar o teorema de Fubini, e para isso é impor-
tante considerar bijeções com produtos de dois espaços mensuráveis que
sejam compatíveis com as medidas. Dois exemplos dessas bijeções, que
poderiam ser multiplicados, mas são de utilização especialmente fre-
quente, são enunciados a seguir.

II.5.5 (Alguns homeomorfismos compatíveis com as medidas)


a) Para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, temos um homeomorfismo <4 À ‘8" ‚ ‘ Ä ‘
definido por
<4 ÐÐB" ß á ß B8" Ñß BÑ œ ÐB" ß á ß B4" ß Bß B4 ß á ß B8 Ñ,

o qual é compatível com as medidas, quando no domínio se considera a


medida -8" Œ - e no espaço de chegada a medida -8 (em ambos os casos
nas 5 -álgebras dos borelianos).
b) Para cada " Ÿ 7  8, temos um homeomorfismo )7 À ‘7 ‚ ‘87 Ä ‘8
definido por
)7 ÐÐB" ß á ß B7 Ñß ÐC" ß á ß C8 ÑÑ œ ÐB" ß á ß B7 ß C" ß á ß C8 Ñ,
o qual é compatível com as medidas, quando no domínio se considera a
medida -7 Œ -87 e no espaço de chegada a medida -8 (em ambos os casos
nas 5 -álgebras dos borelianos).
Dem: a) Temos que mostrar que a medida imagem direta <4 ‡ Ð-8" Œ -Ñ
coincide com a medida -8 e isso resulta da caracterização desta em II.5.3,

99Lembrar que em ‘8 todas as normas são equivalentes, e é relativamente a qualquer uma


dessas normas que a noção de conjunto limitado é considerada, tal como já temos estado a
fazer relativamenbte às noções topológicas no contexto de ‘8 .
190 Cap. II. O integral

uma vez que se tem


<4 ‡ Ð-8" Œ -ÑÐÓ+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 ÓÑ œ
œ -8" Œ -ÐÐÓ+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+4" ß ,4" Ó ‚ Ó+4" ß ,4" Ó ‚ Ó+8 ß ,8 ÓÑ ‚ Ó+4 ß ,4 ÓÑ œ
œ -8" ÐÓ+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+4" ß ,4" Ó ‚ Ó+4" ß ,4" Ó ‚ Ó+8 ß ,8 ÓÑ ‚ -ÐÓ+4 ß ,4 ÓÑ œ
œ Ð,"  +" Ñ ‚ â ‚ Ð,8  +8 Ñ.

b) Temos que mostrar que a medida imagem direta )7 ‡ Ð-7 Œ -87 Ñ


coincide com a medida -8 e isso resulta da caracterização desta em II.5.3,
uma vez que se tem
)7 ‡ Ð-7 Œ -87 ÑÐÓ+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 ÓÑ œ
œ -7 Œ -87 ÐÐÓ+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+7 ß ,7 ÓÑ ‚ ÐÓ+7" ß ,7" Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 ÓÑÑ œ
œ -7 ÐÓ+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+7 ß ,7 ÓÑ ‚ -87 ÐÓ+7" ß ,7" Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 ÓÑ œ
œ Ð,"  +" Ñ ‚ â ‚ Ð,8  +8 Ñ. 

II.5.6 (Corolário) Se, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, E4 § ‘ é um boreliano, então o


conjunto E" ‚ â ‚ E8 § ‘8 é um boreliano e
-8 ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ œ -ÐE" Ñ ‚ â ‚ -ÐE8 Ñ.
Em particular, tem-se, tal como já sabíamos no caso em que 8 œ ",
-8 Б8 Ñ œ _ e, para cada B œ ÐB" ß á ß B8 Ñ − ‘8 ,
-8 ÐÖB×Ñ œ -8 ÐÖB" × ‚ â ‚ ÖB8 ×Ñ œ !.

Dem: Fazemos a demonstração por indução em 8, o caso 8 œ " sendo


trivial. Supondo o resultado verdadeiro para um certo 8 e tomando, para cada
" Ÿ 4 Ÿ 8  ", um boreliano E4 § ‘ a hipótese de indução garante que
E" ‚ â ‚ E8 é um boreliano de ‘8 com
-8 ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ œ -ÐE" Ñ ‚ â ‚ -ÐE8 Ñ
pelo que ÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ ‚ E8" é um boreliano de ‘8 ‚ ‘ com
-8 Œ -ÐÐE" ‚ â ‚ E8 Ñ ‚ E8" Ñ œ -ÐE" Ñ ‚ â ‚ -ÐE8 Ñ ‚ -ÐE8" Ñ
e deduzimos então da alínea a) do resultado precedente, com 4 œ 8  ", que
E" ‚ â ‚ E8 ‚ E8" é um boreliano de ‘8" com
-8" ÐE" ‚ â ‚ E8 ‚ E8" Ñ œ -ÐE" Ñ ‚ â ‚ -ÐE8 Ñ ‚ -ÐE8" Ñ,
o que termina a prova por indução. 
II.5.7 (Invariância por translação) A medida de Lebesgue -8 na 5 -álgebra U‘8
dos borelianos de ‘8 é invariante por translação, isto é, para cada
B œ ÐB" ß á ß B8 Ñ − ‘8 , tem lugar uma aplicação bimensurável 7B À ‘8 Ä ‘8 ,
7B ÐCÑ œ B  C, que é compatível com a medida de Lebesgue -8 (ou seja, -8
é 7B -invariante, para cada B).
Dem: O facto de 7B ser bimensurável resulta de se tratar de um
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 191

homeomorfismo, com inverso 7B . O que temos que mostrar é que a medida
imagem direta 7B ‡ -8 coincide com a medida -8 e isso vai resultar da
afirmação de unicidade na definição de -8 , uma vez que, sendo
E œ Ó+" ß ," Ó ‚ Ó+# ß ,# Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 Ó − f8
(onde +4 Ÿ ,4 ), vem
7B ‡ -8 ÐEÑ œ -8 ÐB  EÑ œ
œ -8 ÐÓ+"  B" ß ,"  B" Ó ‚ â ‚ Ó+8  B8 ß ,8  B8 ÓÑ œ
œ ÐÐ,"  B" Ñ  Ð+"  B" ÑÑ ‚ â ‚ ÐÐ,8  B8 Ñ  +8  B8 ÑÑ œ
œ Ð,"  +" Ñ ‚ â ‚ Ð,8  +8 Ñ œ -8 ÐEÑ. 

II.5.8 (Outra caracterização da medida de Lebesgue) A medida de Lebesgue


-8 , na 5 -álgebra U‘8 dos borelianos de ‘8 , é a única medida . nessa 5 -ál-
gebra que é invariante por translação e verifica .ÐÓ!ß "Ó8 Ñ œ ".
Dem: Já verificámos que a medida de Lebesgue -8 é invariante por
translação e, por definição, ela verifica -8 ÐÓ!ß "Ó8 Ñ œ "8 œ ". Suponhamos
agora que .À U‘8 Ä ‘ é uma medida arbitrária invariante por translação e
tal que .ÐÓ!ß "Ó8 Ñ œ ". Vamos mostrar que se tem . œ -8 , dividindo essa
prova em várias partes:
1) Comecemos por mostrar que, se ;" ß á ß ;8 − , então
" " " " " "
.ÐÓ!ß Ó ‚ Ó!ß Ó ‚ â ‚ Ó!ß ÓÑ œ ‚ ‚â‚ .
;" ;# ;8 ;" ;# ;8
Subdem: O conjunto Ó!ß "Ó8 , onde a medida . toma o valor ", é a união
disjunta dos ;" ‚ ;# ‚ â ‚ ;8 subconjuntos do tipo
:" :"  " :# :#  " :8 :8  "
Ó ß Ó‚Ó ß Ó‚â‚Ó ß Ó,
;" ;" ;# ;# ;8 ;8
com os inteiros :" ß :# ß á ß :8 a verificar ! Ÿ :4 Ÿ ;4  ", subconjuntos esses
que são todos translações do conjunto Ó!ß ;"" Ó ‚ Ó!ß ;"# Ó ‚ â ‚ Ó!ß ;"8 Ó, e
portanto são medidos por . com o mesmo valor.
2) Vejamos agora que, mais geralmente, se <" ß á ß <8 são racionais estrita-
mente positivos, então
.ÐÓ!ß <" Ó ‚ Ó!ß <# Ó ‚ â ‚ Ó!ß <8 ÓÑ œ <" ‚ <# ‚ â ‚ <8 .
:
Subdem: Escrevendo <4 œ ;44 , com ;4 −  e :4   ! em ™, basta notar
que Ó!ß <" Ó ‚ Ó!ß <# Ó ‚ â ‚ Ó!ß <8 Ó é a união disjunta dos :" ‚ :# ‚ â ‚ :8
conjuntos
5 " 5"  " 5# 5#  " 58 58  "
Ó ß Ó‚Ó ß Ó‚â‚Ó ß Ó,
;" ;" ;# ;# ;8 ;8
com os inteiros 5" ß 5# ß á ß 58 a verificar ! Ÿ 54 Ÿ :4  ", conjuntos esses
192 Cap. II. O integral

que são todos translações do conjunto Ó!ß ;"" Ó ‚ Ó!ß ;"# Ó ‚ â ‚ Ó!ß ;"8 Ó, e
portanto são medidos por . com o mesmo valor ;"" ‚ ;"# ‚ â ‚ ;"8 .
3) Vejamos agora que, mais geralmente, se <" ß á ß <8 são reais estritamente
positivos, então
.ÐÓ!ß <" Ó ‚ Ó!ß <# Ó ‚ â ‚ Ó!ß <8 ÓÑ œ <" ‚ <# ‚ â ‚ <8 .

Subdem: Para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, consideremos uma sucessão de


números racionais estritamente positivos Ð=4ß: Ñ:− decrescente e a convergir
para <4 . Sendo, para cada : − ,
E: œ Ó!ß ="ß: Ó ‚ Ó!ß =#ß: Ó ‚ â ‚ Ó!ß =8ß: Ó,

tem-se E: ¨ E:" e, pelo que vimos no caso estudado em 2),


.ÐE: Ñ œ ="ß: ‚ =#ß: ‚ â=8ß: Ä <" ‚ <# ‚ â ‚ <: ,

em particular .ÐE" Ñ  _. Uma vez que


, E: œ Ó!ß <" Ó ‚ Ó!ß <# Ó ‚ â ‚ Ó!ß <8 Ó,
:

a igualdade pretendida é uma consequência da alínea 7) de I.2.12.


4) Para cada
E œ Ó+" ß ," Ó ‚ Ó+# ß ,# Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 Ó − f8
(onde +4 Ÿ ,4 ), tem-se
.ÐEÑ œ Ð,"  +" Ñ ‚ Ð,#  +# Ñ ‚ â ‚ Ð,8  +8 Ñ,
e, consequentemente, tendo em conta a definição de -8 em II.5.3, . œ -8 .
Subdem: Se existir 4 tal que +4 œ ,4 , a igualdade resulta de se ter
E œ g. Caso contrário, temos uma consequência do que foi visto em 3), uma
vez que se tem
E œ Ð+" ß á ß +8 Ñ  Ó!ß ,"  +" Ó ‚ â ‚ Ó!ß ,8  +8 Ó. 

II.5.9 (Corolário) Seja . uma medida definida nos borelianos de ‘8 , invariante


por translação e tal que .ÐEÑ  _, para cada boreliano limitado E.
Tem-se então . œ - -8 , para um certo ! Ÿ -  _, nomeadamente
- œ .ÐÓ!ß "Ó8 Ñ.
Dem: Seja - œ .ÐÓ!ß "Ó8 Ñ. Se - œ !, o facto de ‘8 ser a união da família
numerável de conjuntos da forma
Ó:" ß :"  "Ó ‚ Ó:# ß :#  "Ó ‚ âÓ:8 ß :8  "Ó,
com os :4 números inteiros, conjuntos esses que são todos translações de
Ó!ß "Ó8 , implica que .Б8 Ñ œ !, e portanto que a medida . é identicamente !.
Se -  !, podemos considerar a medida "- ., que é invariante por translação e
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 193

"
toma o valor " em Ó!ß "Ó8 , tendo-se assim, por I.5.8, -. œ -8 , portanto
. œ - -8 . 
II.5.10 (O coeficiente de dilatação de um isomorfismo) Seja 0À ‘8 Ä ‘8 um
isomorfismo. Existe então um único real -0 − Ó!ß _Ò tal que, para cada
boreliano E § ‘8 , -8 Ð0ÐEÑÑ œ -0 -8 ÐEÑ. Dizemos que -0 é o coeficiente de
dilatação do isomorfismo 0Þ
Dem: Que não pode existir mais que um número real -0 nas condições
anteriores é uma consequência de que, escolhendo um boreliano E com
!  -8 ÐEÑ  _ (por exemplo uma bola de raio maior que !, que é
limitada e de interior não vazio), não pode deixar de ser -0 œ -8-Ð80ÐEÑ
ÐEÑÑ
.
8
Considere-se agora a medida . nos borelianos de ‘ definida por
.ÐEÑ œ -8 Ð0ÐEÑÑ (a medida imagem direta de -8 pela aplicação mensurável
0" À ‘8 Ä ‘8 Ñ, medida para a qual se tem, para cada B − ‘8 ,
.ÐB  EÑ œ -8 Ð0ÐB  EÑÑ œ -8 Ð0ÐBÑ  0ÐEÑÑ œ -8 Ð0ÐEÑÑ œ .ÐEÑ,
ou seja, é invariante por translação. Por outro lado, uma vez que a aplicação
linear 0À ‘8 Ä ‘8 é contínua (como qualquer aplicação linear ‘8 Ä ‘8 Ñ,
sabemos que existe Q   ! tal que m0ÐCÑm Ÿ Q mCm, para cada C − ‘8 , e
daqui resulta que, se E § ‘8 é um boreliano limitado, o boreliano 0ÐEÑ
também é limitado, e portanto .ÐEÑ œ -8 Ð0ÐEÑÑ  _. Deduzimos agora
de II.5.9 que existe -0 − Ò!ß _Ò tal que . œ -0 -8 , isto é, tal que, para cada
boreliano E de ‘8 , -8 Ð0ÐEÑÑ œ -0 -8 ÐEÑ, tendo-se mesmo -0  !, uma vez
que
_ œ -8 Б8 Ñ œ -8 Ð0Б8 ÑÑ œ -0 -8 Б8 Ñ. 

II.5.11 (Corolário) Seja J § ‘8 um subespaço vetorial de dimensão 7  8.


Tem-se então que J é um boreliano com -8 ÐJ Ñ œ !.
Dem: O caso em que 7 œ !, e portanto J œ Ö!× já foi referido em II.5.6.
Supondo agora que 7  !, seja D" ß á ß D7 uma base de J e completemo-la
de modo a obter uma base D" ß á ß D7 ß D7" ß á ß D8 de ‘8 . Seja 0À ‘8 Ä ‘8 o
isomorfismo definido por 0Ð/4 Ñ œ D4 , que é, em particular, um homeomor-
fismo. Tem-se então J œ 0Б7 ‚ Ö!×87 Ñ, onde Ö!×87 § ‘87 é um
boreliano com
-87 ÐÖ!×87 Ñ œ -ÐÖ!×Ñ87 œ !87 œ !
pelo que J é um boreliano e, tendo em conta a alínea b) de II.5.5,
-8 ÐJ Ñ œ -0 -7 Б7 Ñ ‚ -87 ÐÖ!×87 Ñ œ -0 ‚ Ð_Ñ ‚ 0 œ !,

como queríamos. 
8 8
II.5.12 (Mudança de variáveis linear num integral) Seja 0À ‘ Ä ‘ um
isomorfismo, com coeficiente de dilatação -0 . Tem-se então:
a) Para cada função mensurável 1À ‘8 Ä ‘ ,
194 Cap. II. O integral

( 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ -0 ( 1Ð0ÐBÑÑ . -8 ÐBÑ.


‘8 ‘8

b) Se I é um espaço de Banach, para cada aplicação integrável 1À ‘8 Ä I ,

( 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ -0 ( 1Ð0ÐBÑÑ . -8 ÐBÑ.


‘8 ‘8

Dem: O facto de se ter -8 Ð0ÐEÑÑ œ -0 -8 ÐEÑ, para cada boreliano pode ser
encarado como afirmando que o isomorfismo 0 é compatível com as
medidas, quando se considera no espaço de chegada a medida de Lebesgue
-8 e no domínio a medida . œ -0 -8 . Tendo em conta o teorema trivial de
mudança de variáveis (II.1.38, nas hipóteses de a), e II.2.56, nas hipóteses de
b)), tem-se

( 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ( 1Ð0ÐBÑÑ . .ÐBÑ


‘8 ‘8

onde, por II.1.35, nas hipóteses de a), e por II.2.54, nas hipóteses de b)),

( 1Ð0ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ -0 ( 1Ð0 ÐBÑÑ . -8 ÐBÑ. 


‘8 Y

II.5.13 (Propriedades dos coeficientes de dilatação) Os coeficientes de


dilatação -0 dos isomorfismos 0À ‘8 Ä ‘8 verificam as seguintes proprie-
dades:
a) Se 0À ‘8 Ä ‘8 é um isomorfismo ortogonal, então -0 œ ". Em particular,
o isomorfismo identidade M‘8 À ‘8 Ä ‘8 e o seu simétrico M‘8 À ‘8 Ä ‘8
têm coeficiente de dilatação igual a ".
b) Se 0ß (À ‘8 Ä ‘8 são isomorfismos, então o isomorfismo ( ‰ 0À ‘8 Ä ‘8
tem coeficiente de dilatação -(‰0 œ -( ‚ -0 .
c) Se 0À ‘8 Ä ‘8 é um isomorfismo, então o isomorfismo inverso
0" À ‘8 Ä ‘8 tem coeficiente de dilatação -0" œ -"0 .
Dem: Consideremos em ‘8 a norma associada ao produto interno usual. Seja
F œ ÖB − ‘8 ± mBm  "×, que é um conjunto aberto, limitado e não vazio e
para o qual se tem portanto !  -8 ÐFÑ  _. Sendo 0À ‘8 Ä ‘8 um
isomorfismo ortogonal, tem-se m0ÐBÑm œ mBm, para cada B − ‘8 , pelo que
0ÐFÑ œ F. Resulta daqui que
-8 ÐFÑ œ -8 Ð0ÐFÑÑ œ -0 -8 ÐFÑ,

portanto -0 œ ", o que prova a). A propriedade em b) resulta de se ter, para


cada boreliano E § ‘8 ,
-8 Ð( ‰ 0ÐEÑÑ œ -8 Ð(Ð0ÐEÑÑÑ œ -( -8 Ð0ÐEÑÑ œ -( -0 -8 ÐEÑ.
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 195

Por fim, c) resulta de que


" œ -M‘8 œ -0‰0" œ -0 ‚ -0" . 

II.5.14 (Revisão sobre determinantes) Lembremos que, se 0À ‘8 Ä ‘8 é uma


aplicação linear, define-se o seu determinante detÐ0Ñ como sendo o
determinante da matriz de 0 na base canónica de ‘8 Þ100 Esta noção tem as
seguintes propriedades, que resultam de propriedades correspondentes dos
determinantes de matrizes:
a) detÐM‘8 Ñ œ ";
b) Se 0ß (À ‘8 Ä ‘8 são aplicações lineares, então
detÐ( ‰ 0Ñ œ detÐ(Ñ ‚ detÐ0Ñ
(a matriz da composta é o produto das matrizes);
c) 0À ‘8 Ä ‘8 é um isomorfismo se, e só se, detÐ0Ñ Á ! e, nesse caso,
detÐ0" Ñ œ det"Ð0Ñ ;
d) Se 0À I Ä I é um isomorfismo ortogonal, isto é, se, quaisquer que sejam
Bß C − ‘8 ,
Ø0ÐBÑß 0ÐCÑÙ œ ØBß CÙ,
então detÐ0Ñ œ „" (a matriz E de 0 verifica EX ‚ E œ M , e portanto tem-se
detÐEÑ# œ ").
II.5.15 (Lema de Álgebra Linear) Sejam I e J espaços euclidianos e
0À I Ä J uma aplicação linear. Existe então uma base ortonormada
A" ß á ß A8 de I tal que os vetores 0ÐA" Ñß á ß 0ÐA8 Ñ sejam ortogonais dois a
dois.
Dem: Sendo 0‡ À J Ä I a aplicação linear adjunta de 0,101 obtemos uma
aplicação linear autoadjunta 0‡ ‰ 0À I Ä I , existindo portanto uma base
ortonormada A" ß á ß A8 de I constituída por vetores próprios de 0‡ ‰ 0, isto
é, com 0‡ ‰ 0ÐA4 Ñ œ +4 A4 para certos números reais +4 . Podemos então
escrever
Ø0ÐA4 Ñß 0ÐA5 ÑÙ œ Ø0‡ Ð0ÐA4 ÑÑß A5 Ù œ Ø+4 A4 ß A5 Ù œ +4 ØA4 ß A5 Ù,

e portanto Ø0ÐA4 Ñß 0ÐA5 ÑÙ œ ! sempre que 4 Á 5 . 


8 8
II.5.16 (Determinação do coeficiente de dilatação) Seja 0À ‘ Ä ‘ um
isomorfismo. Tem-se então -0 œ ldetÐ0Ñl. Em particular, se > − ‘ Ï Ö!× e
0ÐBÑ œ >B, para cada B − ‘8 , tem-se -0 œ l>l8 .

100Mais geralmente, se I é um espaço vetorial de dimensão finita e 0À I Ä I é uma


aplicação linear, pode definir-se o determinante de 0 como sendo o determinante da
matriz de 0 numa base arbitrária de I , determinante esse que se prova não depender da
base escolhida.
101No caso em que estamos especialmente interessados, aquele em que I œ J œ ‘8 , 0‡
é simplesmente a aplicação linear cuja matriz é a transposta da matriz de 0 .
196 Cap. II. O integral

Dem: Consideremos, pelo lema II.5.15, uma base ortonormada A" ß á ß A8 de


‘8 tal que os vetores 0ÐA" Ñß á ß 0ÐA8 Ñ sejam ortogonais dois a dois. Sendo,
para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, -4 œ m0ÐA4 Ñm  !, podemos considerar então a base
ortonormada D" ß á ß D8 de ‘8 , definida por D4 œ -"4 0ÐA4 Ñ.
Consideremos os isomorfismos ortogonais !ß " À ‘8 Ä ‘8 definidos pelas
condições !Ð/4 Ñ œ A4 e " ÐD4 Ñ œ /4 , respetivamente, onde /" ß á ß /8 é a base
canónica de ‘8 . Vem que
" ‰ 0 ‰ !Ð/4 Ñ œ " Ð0ÐA4 ÑÑ œ " Ð-4 A4 Ñ œ -4 /4 ,

o que implica, por um lado, que a matriz de " ‰ 0 ‰ ! é a matriz diagonal

Ô -" â !×
Ö! â !Ù
!
Ö Ù
-#

Õ! â -8 Ø
ã ã ä ã
!

e portanto detÐ" ‰ 0 ‰ !Ñ œ -" ‚ â ‚ -8 e, por outro lado, que


" ‰ 0 ‰ !ÐÓ!ß "Ó8 Ñ œ Ó!ß -" Ó ‚ â ‚ Ó!ß -8 Ó,
portanto, por ser -8 ÐÓ!ß "Ó8 Ñ œ " e -8 ÐÓ!ß -" Ó ‚ â ‚ Ó!ß -8 ÓÑ œ -" ‚ â ‚ -8 ,
-" ‰0‰! œ -" ‚ â ‚ -8 . Podemos enfim escrever, lembrando a alínea a) de
II.5.13 e a alínea b) de II.5.14,
-0 œ -" ‚ -0 ‚ -! œ -" ‰0‰! œ -" ‚ â ‚ -8 œ detÐ" ‰ 0 ‰ !Ñ œ
œ detÐ" Ñ ‚ detÐ0Ñ ‚ detÐ!Ñ œ „detÐ0Ñ œ ldetÐ0Ñl.

No caso em que 0ÐBÑ œ >B, para cada B − ‘8 , a matriz de 0 é uma matriz


diagonal com todos os elementos da diagonal iguais a >, e portanto vem
-0 œ ldetÐ0Ñl œ l>l8 . 
II.5.17 A partir de agora, nesta secção e salvo aviso em contrário, a norma que
consideraremos implicitamente em ‘8 é a associada ao seu produto interno
usual. Dados B! − ‘8 e um real <  !, notaremos F < ÐB! Ñ a bola fechada de
centro B! e raio <,
F < ÐB! Ñ œ ÖB − ‘8 ± mB  B! m Ÿ <×,

e "8 a medida -8 ÐF " Ð!ÑÑ. Tem-se então !  "8  _ e, para cada B! − ‘8


e<!
-8 ÐF < ÐB! ÑÑ œ -8 ÐB!  < F " Ð!ÑÑ œ "8 <8 .

Dem: O facto de se ter !  "8  _ resulta de F " Ð!Ñ ser um conjunto


limitado e de interior não vazio. O facto de o isomorfismoß 0À ‘8 Ä ‘8 ,
0ÐBÑ œ <B, ter coeficiente de dilatação igual a <8 , implica, lembrando a
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 197

invariância de -8 por translação, que


-8 ÐF < ÐB! ÑÑ œ -8 ÐB!  F < Ð!ÑÑ œ -8 Ð0ÐF " Ð!ÑÑÑ œ <8 "8 . 

II.5.18 Repare-se que, tendo em conta a determinação, no caso em que 8 œ #,


de -# ÐF " Ð!ÑÑ, feita em II.4.7 e o facto de, no caso em que 8 œ ", ter-se
F " Ð!Ñ œ Ò"ß "Ó, podemos afirmar que
"" œ #, "# œ 1 .
Veremos adiante como determinar os restantes valores de "8 .
II.5.19 (As medidas esféricas) Para cada 8   !, vamos notar W8 § ‘8" a
esfera unitária,
W8 œ ÖB − ‘8" ± mBm œ "×,
que é um subconjunto fechado de ‘8" , em particular um boreliano.
Considerando a bola fechada F " Ð!Ñ § ‘8" , tem lugar uma aplicação
contínua, em particular mensurável 3À F " Ð!Ñ Ï Ö!× Ä W8 ,
B
3ÐBÑ œ ,
mBm
e definimos na 5 -álgebra UW8 dos borelianos de W8 uma medida .W8 , pondo,
para cada boreliano E § W8 ,
.W8 ÐEÑ œ Ð8  "Ñ-8" Ð3" ÐEÑÑ.

A medida .W8 À UW8 Ä ‘ , a que damos o nome de medida de Lebesgue de


W8 , ou medida esférica, é assim o produto de 8  " pela medida imagem
direta por 3 da restrição a F " Ð!Ñ Ï Ö!× da medida de Lebesgue de ‘8" .102
Repare-se que, uma vez que -8" ÐÖ!×Ñ œ !, tem-se, para a medida da esfera
total,
.W8 ÐW8 Ñ œ Ð8  "Ñ-8" ÐF " Ð!Ñ Ï Ö!×Ñ œ Ð8  "Ñ"8" ,

em particular, lembrando os valores determinados em II.5.18,


.W! ÐW! Ñ œ .W! ÐÖ"ß "×Ñ œ #, .W" ÐW" Ñ œ #1.

II.5.20 (Medida esférica dum conjunto unitário) No caso em que 8 œ !, e


portanto W! œ Ö"ß "×, tem-se .W! ÐÖ"×Ñ œ .W! ÐÖ"×Ñ œ ". No caso em que
8   ", tem-se .W8 ÐÖB×Ñ œ !, para cada B − W8 .
Dem: As conclusões no caso 8 œ ! resultam de se ter
-Ð3" ÐÖ"×ÑÑ œ -ÐÒ"ß !ÒÑ œ ", -Ð3" ÐÖ"×ÑÑ œ -ÐÓ!ß "ÓÑ œ ".

102A razão do fator multiplicativo 8  " será em breve mais clara.


198 Cap. II. O integral

O caso em que 8   " é uma consequência de II.5.11, uma vez que 3" ÐÖB×Ñ
está contido no subespaço vetorial ‘B de dimensão "  8  ". 

Uma das razões da importância das medidas esféricas, que, no caso


8 œ ", se inserem na ideia intuitiva de comprimento de uma curva e, no
caso 8 œ #, na de área de uma superfície, é que, se, por um lado, elas são
definidas a partir da medida de Lebesgue de ‘8 ß esta última, como vamos
ver, também pode ser recuperada a partir daquelas.

II.5.21 (Coordenadas polares generalizadas) Para cada 8   !, tem lugar um


homeomorfismo
FÀ Ó!ß _Ò ‚ W8 Ä ‘8" Ï Ö!×, FÐ>ß BÑ œ >B,
o qual é compatível com as medidas, quando se considera no espaço de
chegada a restrição da medida de Lebesgue -8" , nos borelianos de ‘8" , e
no domínio a medida (- Œ .W8 ÑÐ:Ñ , na 5 -álgebra
UÓ!ß_Ò‚W8 œ UÓ!ß_Ò Œ UW8 ,

definida pela função contínua :À Ó!ß _Ò ‚ W8 Ä ‘ , :Ð>ß BÑ œ >8 , a partir


da medida produto da restrição da medida de Lebesgue - nos borelianos de
‘ pela medida esférica .W8 nos borelianos de W8 . Por outras palavras, para
cada boreliano F § Ó!ß _Ò ‚ W8 ,

-8 ÐFÐFÑÑ œ ( >8 . (- Œ .W8 ÑÐ>ß BÑ œ ( >8 .> . .W8 ÐBÑ.


F F

Costuma-se dizer que > − Ó!ß _Ò e B − W8 são as coordenadas polares


generalizadas do ponto >B − ‘8" Ï Ö!×.103
Dem: O facto de F, que é uma aplicação contínua, ser um homeomorfismo é
uma consequência de admitir um inverso bilateral contínuo
C
‘8" Ï Ö!× Ä Ó!ß _Ò ‚ W8 , C È ÐmCmß Ñ.
mCm
Em particular, F é uma aplicação bimensurável, pelo que, para ver que F é
compatível com as medidas, basta ver que nos borelianos de Ó!ß _Ò ‚ W8

103As coordenadas polares usuais de um ponto B − ‘# Ï Ö!× são >  ! e ! − ‘ tais que
B œ Ð>cosÐ!Ñß >senÐ!ÑÑ, em que ! fica só determinado a menos de um múltiplo inteiro de
21. Quando se pretende ter uma aplicação bijetiva, restringe-se ! a um intervalo
conveniente, por exemplo Ò!ß #1Ò e se se pretender ter mesmo um homeomorfismo,
diminui-se ainda mais o domínio de !, por exemplo para Ó!ß #1Ò, retirando-se neste caso a
‘# os pontos da forma Ð>ß !Ñ, com >   !, que constituem um conjunto de medida nula. A
vantagem das coordenadas polares generalizadas, que substituem !, por um elemento da
esfera, está em que são dispensados estes artifícios e a generalização para ‘8 é mais
simples.
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 199

coincidem a medida (- Œ .W8 ÑÐ:Ñ e a medida imagem direta de -8" por F" .
Comecemos por considerar + Ÿ , em Ó!ß _Ò e E − UW8 . Reparemos que
F " Ð!Ñ Ï Ö!× œ FÐÓ!ß "Ó ‚ W8 Ñ e portanto, nas notações de II.5.19,
3" ÐEÑ œ FÐÓ!ß "Ó ‚ EÑ œ Ó!ß "Ó † E
donde
.W8 ÐEÑ œ Ð8  "Ñ-8" ÐÓ!ß "Ó † EÑ.

Vemos agora que


F"
‡ -8" ÐÓ+ß ,Ó ‚ EÑ œ -8" ÐFÐÓ+ß ,Ó ‚ EÑÑ œ
œ -8" ÐFÐÐÓ!ß ,Ó ‚ EÑ Ï ÐÓ!ß +Ó ‚ EÑÑÑ œ
œ -8" Ð, † Ó!ß "Ó † EÑ  -8" Ð+ † Ó!ß "Ó † EÑ œ
œ Ð,8"  +8" Ñ-8" ÐÓ!ß "Ó † EÑ œ
,8"  +8"
œ .W8 ÐEÑ
8"
e, por outro lado, pelo teorema de Fubini para funções positivas,

Ð- Œ .W8 ÑÐ:Ñ ÐÓ+ß ,Ó ‚ EÑ œ ( >8 .> . .W8 ÐBÑ œ


Ó+ß,Ó‚E

œ ( Š( >8 .>‹ . .W8 ÐBÑ œ


E Ó+ß,Ó

œ(
, 8"  +8"
. .W8 ÐBÑ œ
E 8"
,8"  +8"
œ .W8 ÐEÑ,
8"
o que mostra que
F"
‡ -8" ÐÓ+ß ,Ó ‚ EÑ œ Ð- Œ .W8 ÑÐ:Ñ ÐÓ+ß ,Ó ‚ EÑ  _.

Uma vez que estes produtos cartesianos Ó+ß ,Ó ‚ E constituem um semianel


de partes de Ó!ß _Ò ‚ W8 cuja 5 -álgebra gerada é
UÓ!ß_Ò‚W8 œ UÓ!ß_Ò Œ UW8

(cf. I.5.19 e I.5.23) o teorema de Hahn de unicidade do prolongamento em


I.4.12 garante que, efetivamente, as medidas F" ‡ -8" e Ð- Œ .W8 ÑÐ:Ñ
coincidem. 

Como primeira aplicação das coordenadas polares generalizadas, exami-


namos agora uma fórmula que permite calcular recursivamente os valores
das constantes "8 œ -8 ÐF " Ð!ÑÑ.
200 Cap. II. O integral

II.5.22 As constantes "8 , definidas em II.5.17, verificam a seguinte relação de


recorrência:
#1"8
"8# œ .
8#
Em particular, além dos valores referidos em II.5.18, tem-se, por exemplo
%1 1# )1 # 1$
"$ œ , "% œ , "& œ , "' œ
$ # "& '
e, para as correspondentes medidas das esferas, podemos continuar a série de
valores referidos em II.5.19 com
)1 #
.W# ÐW# Ñ œ %1, .W$ ÐW$ Ñ œ #1# , .W% ÐW% Ñ œ , .W& ÐW& Ñ œ 1$ .
$
Dem: Considerando o homeomorfismo ‘8 ‚ ‘# Ä ‘8# , compatível com
as medidas, referido na alínea b) de II.5.5 e aplicando o teorema trivial de
mudança de variáveis e o teorema de Fubini, vemos que
"8# œ -8 Œ -# ÐÖÐBß CÑ − ‘8 ‚ ‘# ± mBm#  mCm# Ÿ "×Ñ œ
œ( -# ÐÖC − ‘# ± mCm# Ÿ "  mBm# ×Ñ . -8 ÐBÑ œ
F " Ð!Ñ

œ( -# ÐÈ"  mBm# ÖC − ‘# ± mCm# Ÿ "×Ñ . -8 ÐBÑ œ


F " Ð!Ñ

œ( Ð"  mBm# Ñ 1 . -8 ÐBÑ.


F " Ð!Ñ

Podemos agora calcular este último integral com o auxílio das coordenadas
polares generalizadas, isto é, considerando o homeomorfismo
FÀ Ó!ß _Ò ‚ W8" Ä ‘8 Ï Ö!×, FÐ>ß BÑ œ >B,
(cf. II.5.21) e obtemos, tendo em conta mais uma vez o teorema de Fubini,

"8# œ ( >8" ˆ"  m>Bm# ‰ 1 .> . .W8" ÐBÑ œ


Ó!ß"Ó‚W8"

œ( >8" ˆ"  ># ‰ 1 .> . .W8" ÐBÑ œ


Ó!ß"Ó‚W8"

œ 1 .W8" ÐW8" Ñ(
"
>8"  >8" .> œ
!
" " #1"8
œ 18"8 Ð  Ñœ . 
8 8# 8#

Vamos agora examinar como se comporta a medida de um conjunto


quando este é transformado por um difeomorfismo de classe G " entre
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 201

abertos de ‘8 . Supomos, naturalmente, que o leitor está familiarizado


com os resultados fundamentais do Cálculo Diferencial no contexto de
‘8 .

II.5.23 Lembremos que, se Y § ‘8 é um aberto e 0 À Y Ä ‘8 é uma aplicação


de classe G " , então, para cada B − Y , temos uma aplicação linear derivada
H0B À ‘8 Ä ‘8 que é aquela cuja matriz na base canónica de ‘8 é a matriz
jacobiana, isto é, aquela cujo elemento da linha 3 e coluna 4 é a derivada
`03
parcial `B 4
ÐBÑ, da coordenada 3, 03 À Y Ä ‘, relativamente à variável 4.
Lembremos também que, no caso em que 0 é um difeomorfismo de classe G "
dum aberto Y § ‘8 sobre um aberto Z § ‘8 , isto é, uma bijecção que é de
classe G " assim como a sua inversa, então, para cada B − Y , a aplicação
linear derivada H0B À ‘8 Ä ‘8 é um isomorfismo, tendo HÐ0 " Ñ0 ÐBÑ como
isomorfismo inverso.
`03
Neste último caso, e uma vez que, por definição, as funções `B 4
À Y Ä ‘ são
contínuas, podemos concluir que tem lugar uma aplicação contínua
Y Ä Ó!ß _Ò, B È -H0B ,

já que o coeficiente de dilatação -H0B é o valor absoluto do determinante da


matriz jacobiana e este último é uma soma de produtos de entradas dessa
matriz, cada um multiplicado por „".

O próximo resultado é um lema que encerra o essencial da demonstração


do resultado mais geral que examinaremos em seguida.

II.5.24 (Lema) Sejam Y e Z abertos de ‘8 , 0 À Y Ä Z um difeomorfismo de


classe G " e + œ Ð+" ß á ß +8 Ñ − ‘8 um ponto tal que o compacto
O œ Ò+" ß +"  "Ó ‚ â ‚ Ò+8 ß +8  "Ó
esteja contido em Y . Sendo
E œ Ó+" ß +"  "Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß +8  "Ó § O ,
tem-se então que E e 0 ÐEÑ são borelianos e

-8 Ð0 ÐEÑÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ  _.


E

Dem: Vamos dividir a prova em várias partes, cada uma tendo eventual-
mente a sua própria demonstração.
a) O conjunto E é um boreliano, por ser um produto cartesiano de borelianos
de ‘, e o facto de 0 ser, em particular, um homeomorfismo, e portanto
bimensurável, implica que 0 ÐEÑ é também um boreliano. Observe-se
também que -8 ÐEÑ œ " e que, sendo Q o máximo no compacto O da
202 Cap. II. O integral

função contínua B È -H0B , tem-se

( -H0B . -8 ÐBÑ Ÿ Q -8 ÐEÑ œ Q  _.


E

b) Ao contrário do que tem estado implícito ao longo desta secção, a norma


de ‘8 que consideraremos nesta demonstração não será a norma euclidiana
mas sim a norma do máximo, definida, para B œ ÐB" ß á ß B8 Ñ, por
mBm œ max lB4 l.
"Ÿ4Ÿ8

Lembrando que as bolas aberta e fechada de centro , e raio <  !, para esta
norma, são respetivamente
F< Ð,Ñ œ Ó,"  <ß ,"  <Ò ‚ â ‚ Ó,8  <ß ,8  <Ò,
F < Ð,Ñ œ Ò,"  <ß ,"  <Ó ‚ â ‚ Ò,8  <ß ,8  <Ó,

notaremos
F<w Ð,Ñ œ Ó,"  <ß ,"  <Ó ‚ â ‚ Ó,8  <ß ,8  <Ó,

um boreliano que verifica F< Ð,Ñ § F<w Ð,Ñ § F < Ð,Ñ e


-8 ÐF<w Ð,ÑÑ œ Ð#<Ñ8 œ -8 ÐF< Ð,ÑÑ œ -8 ÐF < Ð,ÑÑ.

Por exemplo, o conjunto E no enunciado é da forma F<w Ð,Ñ, com < œ "# e
, œ Ð+"  "# ß á ß +8  "# Ñ.
c) Recordemos que, se 0À ‘8 Ä ‘8 é uma aplicação linear, a norma de
operador de 0, notada m0m é, por definição, o menor dos números 5   ! tais
que, para cada ? − ‘8 , m0Ð?Ñm Ÿ 5m?m, tendo-se assim, em particular, a
desigualdade m0Ð?Ñm Ÿ m0mm?m, para cada ? − ‘8 .
d) Nesta alínea, e ao longo das alíneas e) e f), vamos considerar fixado um
número $  ! arbitrário.
Notaremos 7  ! o mínimo sobre o compacto O da função contínua
B È -H0B .
Fixemos V   " maior ou igual ao máximo sobre o compacto O da função
contínua B È mÐH0B Ñ" m.
Tendo em conta a continuidade uniforme sobre o compacto O das funções
contínuas B È H0B e B È -H0B , escolhemos &  ! tal que, sempre que
, − O e B − O verificam mB  ,m Ÿ &, tem-se
(1) mH0B  H0, m Ÿ $ , |cH0B  -H0, l Ÿ 7$ .

Reparemos que, pelo teorema da média do Cálculo Diferencial, decorre da


primeira desigualdade que, sempre que , − O e B − O verificam
mB  ,m Ÿ &, tem-se
(2) m0 ÐBÑ  0 Ð,Ñ  H0, ÐB  ,Ñm Ÿ $ mB  ,m.
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 203

e) Vamos mostrar que, quaisquer que sejam , − O e !  < Ÿ & tais que
F<w Ð,Ñ § O , tem-se

(3) -8 Ð0 ÐF<w Ð,ÑÑÑ Ÿ Ð"  V $ Ñ8" ( -H0B . -8 ÐBÑ.


F<w Ð,Ñ

Subdem: Para cada B − F<w Ð,Ñ, deduzimos de (2), tendo em conta o


facto de se ter mÐH0, Ñ" m Ÿ V , que
mÐH0, Ñ" Ð0 ÐBÑ  0 Ð,ÑÑ  ÐB  ,Ñm œ
œ mÐH0, Ñ" Ð0 ÐBÑ  0 Ð,Ñ  H0, ÐB  ,ÑÑm Ÿ
Ÿ Vm0 ÐBÑ  0 Ð,Ñ  H0, ÐB  ,Ñm Ÿ V $ mB  ,m,

portanto
mÐH0, Ñ" Ð0 ÐBÑ  0 Ð,ÑÑm œ
œ mÐH0, Ñ" Ð0 ÐBÑ  0 Ð,ÑÑ  ÐB  ,Ñ  ÐB  ,Ñm Ÿ
Ÿ V $ mB  ,m  mB  ,m œ Ð"  V $ Ñ<,
isto é,
ÐH0, Ñ" Ð0 ÐBÑ  0 Ð,ÑÑ − F Ð"V$ Ñ< Ð!Ñ,

ou ainda
0 ÐBÑ − 0 Ð,Ñ  H0, ÐF Ð"V$ Ñ< Ð!ÑÑ.

Verificámos assim que


0 ÐF<w Ð,ÑÑ § 0 Ð,Ñ  H0, ÐF Ð"V$ Ñ< Ð!ÑÑ

e portanto, tendo em conta a definição dos coeficientes de dilatação e a


invariância por translação da medida de Lebesgue,
(4) -8 Ð0 ÐF<w Ð,ÑÑÑ Ÿ -H0, -8 ÐF Ð"V$ Ñ< Ð!ÑÑ œ -H0, Ð#<Ñ8 Ð"  V $ Ñ8 .

Por outro lado, lembrando a segunda desigualdade em Ð"Ñ e a definição de


7, vemos que, para cada B − F<w Ð,Ñ,
-H0, œ -H0B  Ð-H0,  -H0B Ñ Ÿ -H0B  7$ Ÿ -H0B Ð"  $ Ñ Ÿ -H0B Ð"  V $ Ñ

e portanto

(5) -H0, Ð#<Ñ8 œ ( -H0, . -8 ÐBÑ Ÿ Ð"  V $ Ñ( -H0B . -8 ÐBÑ.


F<w Ð,Ñ F<w Ð,Ñ

Combinando as desigualdades em (4) e (5) obtemos agora a desigualdade (3)


pretendida.
f) Vamos agora deduzir de e) que se tem, para o próprio E, a desigualdade
análoga a (3),
204 Cap. II. O integral

(6) -8 Ð0 ÐEÑÑ Ÿ Ð"  V $ Ñ8" ( -H0B . -8 ÐBÑ.


E

Subdem: Suponhamos que mostrámos a existência de uma família

tais que E4 œ F<w 4 Ð,4 Ñ, com !  <4 Ÿ &, tal que E œ -E4 . Uma vez que o
finita ÐE4 Ñ4−N de borelianos disjuntos dois a dois nas condições de e), isto é,

boreliano 0 ÐEÑ será então a união dos borelianos 0 ÐE4 Ñ que são disjuntos
dois a dois, poderemos então concluir que

-8 Ð0 ÐEÑÑ œ " -8 Ð0 ÐE4 ÑÑ Ÿ " Ð"  V $ Ñ8" ( -H0B . -8 ÐBÑ œ


4−N 4−N E4

œ Ð"  V $ Ñ8" ( -H0B . -8 ÐBÑ,


E

que é a desigualdade pretendida. Resta-nos mostrar a existência de uma


família ÐE4 Ñ4−N nas condições que referimos. Para isso, fixamos : −  tal
"
que #: Ÿ & e reparamos que o conjunto

E œ Ó+" ß +"  "Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß +8  "Ó


é então a união dos :8 conjuntos
#5"  " #58  "
E5" ß5# ßáß58 œ F w" ÐÐ+"  ß á ß +8  ÑÑ œ
#: #: #:
5"  " 5" 58  " 58
œ Ó+"  ß +"  Ó ‚ â ‚ Ó+8  ß +"  Ó,
: : : :
com Ð5" ß á ß 58 Ñ − Ö"ß á ß :×8 , que são disjuntos dois a dois.
g) Na desigualdade estabelecida em f), $  ! é arbitrário. Podemos então
tomar, em particular, $ œ 5" , com 5 −  e, passando ao limite em 5 as
desigualdades assim obtidas, obtemos, por ser lim Ð"  5< Ñ8" œ ",
5

-8 Ð0 ÐEÑÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ,


E

que é a desigualdade pretendida. 


II.5.25 (Lema — metade do teorema de mudança de variáveis) Sejam Y e Z
abertos de ‘8 , 0 À Y Ä Z um difeomorfismo de classe G " . Para cada
boreliano E § Y , 0 ÐEÑ é boreliano e

-8 Ð0 ÐEÑÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ.


E

Dem: Vamos dividir a demonstração em duas partes:


a) Começamos por notar que a desigualdade é trivialmente verdadeira, com
ambos os membros iguais a !, no caso em que E œ g e vamos mostrar que se
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 205

tem

-8 Ð0 ÐEÑÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ  _


E

no caso em que o boreliano E é da forma


E œ Ó+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 Ó,
com +4  ,4 , para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, e Ò+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ò+8 ß ,8 Ó § Y (isto é, com
a aderência de E contida em Y ).
Subdem: Seja, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, <4 œ ,4  +4  ! e notemos
0À ‘8 Ä ‘8 o isomorfismo definido por
0ÐB" ß B# ß á ß B8 Ñ œ Ð<" B" ß <# B# ß á ß <8 B8 Ñ.
s œ 0" ÐY Ñ § ‘8 e reparemos que se tem
Consideremos o aberto Y
s
E œ 0ÐEÑ, com
s œ Ó+"w ß ,"w Ó ‚ â ‚ Ó+8w ß ,8w Ó,
E
+4 ,4
onde +4w œ <4 e ,4w œ <4 œ +4w  ", assim como

s.
Ò+"w ß ,"w Ó ‚ â ‚ Ò+8w ß ,8w ] œ 0" ÐÒ+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ò+8 ß ,8 ÓÑ § Y

Podemos considerar o difeomorfismo s0 œ 0 ‰ 0ÎYs À Y


s Ä Z , de classe G " e
deduzir do lema II.5.24 que se tem

(1) -8 Ð0 ÐEÑÑ œ -8 Ð0 s Ÿ ( - s . -8 ÐBÑ  _.


s ÐEÑÑ
H0 B
s
E

s B œ H00ÐBÑ ‰ 0,
Mas, do teorema de derivação da função composta, vem H0
donde
-H0s B œ -H00ÐBÑ ‚ -0

e portanto, aplicando a alínea a) de II.5.12 aos prolongamentos a ‘8 que são


nulos fora dos conjuntos mensuráveis envolvidos,

( -H0s B . -8 ÐBÑ œ -0 ( -H00ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ ( -H0C . -8 ÐCÑ,


s
E s
E E

o que, combinado com as desigualdades (1), dá as desigualdades pretendidas.


b) Vamos agora provar a desigualdade do enunciado para um boreliano
E § Y arbitrário.
Subdem: Consideremos duas medidas . e .w nos borelianos de Y ,
definidas respetivamente por
206 Cap. II. O integral

.ÐEÑ œ -8 Ð0 ÐEÑÑ, .w ÐEÑ œ ( -H0B . -8 ÐBÑ,


E

a primeira a imagem direta de -8 por meio de 0 " (cf. I.5.13) e a segunda a


definida a partir de -8 pela função mensurável positiva B È -H0B (cf.
II.1.22). Reparemos que o nosso objetivo é provar que se tem .ÐEÑ Ÿ .w ÐEÑ
para cada boreliano E § Y . Tendo em conta II.5.2, constatamos
imediatamente que a classe f formada pelos intervalos semiabertos
E œ Ó+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 Ó,
com +4 Ÿ ,4 , cuja aderência está contida em Y , é um semianel de partes de Y
e o que mostrámos em a) foi que se tem .ÐEÑ Ÿ .w ÐEÑ  _, para cada E
no semianel f . Tendo em conta I.4.17, o nosso objetivo ficará atingido se
mostrarmos que as restrições de . e de .w a f são 5 -finitas e que a 5 -álgebra
de partes de Y gerada por f é a dos borelianos, bastando, para esta segunda
afirmação, mostrar que ela contém todos os abertos Y w § Y . O resultado
ficará assim provado se verificarmos que qualquer aberto Y w § Y é união de
uma família contável de conjuntos de f . Ora, sendo f a parte contável de f
constituída pelos conjuntos de f da forma Ó+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 Ó, com os +4
e os ,4 racionais, qualquer aberto Y w § Y é a união de todos os conjuntos de
f que estão contidos nele, uma vez que, para cada B œ ÐB" ß á ß B8 Ñ − Y w ,
podemos considerar &  ! tal que
ÓB"  &ß B"  &Ò ‚ â ‚ ÓB8  &ß B8  &Ò § Y w
e então, fixando, para cada 4, +4 ß ,4 −  com
B4  &  +4  B  ,4  B4  &,

o conjunto Ó+" ß ," Ó ‚ â ‚ Ó+8 ß ,8 Ó pertence a f , contém o ponto B e está


contido em Y w . 

Podemos agora demonstrar finalmente o resultado fundamental sobre a


medida da imagem de um boreliano por um difeomorfismo de classe G " .

II.5.26 (Teorema de mudança de variáveis para conjuntos) Sejam Y § ‘8 e


Z § ‘8 dois abertos e 0 À Y Ä Z um difeomorfismo de classe G " . Para cada
boreliano E § Y tem-se então que 0 ÐEÑ § Z é um boreliano e

-8 Ð0 ÐEÑÑ œ ( -H0B . -8 ÐBÑ.


E

Dem: Tendo em conta o lema II.5.25, já sabemos que, para cada boreliano
E § Y , 0 ÐEÑ é boreliano e
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 207

(1) -8 Ð0 ÐEÑÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ,


E

pelo que o que nos falta provar é a desigualdade oposta.


Aplicando o lema II.5.25, ao difeomorfismo 0 " À Z Ä Y de classe G " ,
sabemos que, para cada boreliano F § Z , tem-se

-8 Ð0 " ÐFÑÑ Ÿ ( -H0C" . -8 ÐCÑ,


F

por outras palavras, considerando as medidas . e .w nos borelianos de Z


definidas por

.ÐFÑ œ -8 Ð0 " ÐFÑÑ, .w ÐFÑ œ ( -H0C" . -8 ÐCÑ,


F

(a primeira é a imagem direta da medida de Lebesgue -8 , nos borelianos de


Y , pelo homeomorfismo 0 e a segunda é a definida a partir da medida de
Lebesgue -8 , nos borelianos de Z , pela função contínua positiva que a C
associa -H0C" ), tem-se .ÐFÑ Ÿ .w ÐFÑ, para cada boreliano F § Z . De
II.1.36 concluímos que, para cada função mensurável 1À Z Ä ‘ , tem-se

( 1ÐCÑ . .ÐCÑ Ÿ ( 1ÐCÑ . . ÐCÑ,


w
Z Z

isto é, tendo em conta o teorema trivial de integração por mudança de


variáveis e a caracterização do integral para a medida definida por uma
função mensurável positiva (cf. II.1.38),

( 1Ð0 ÐBÑÑ . - 8 ÐBÑ Ÿ ( 1ÐCÑ -H0C" . -8 ÐCÑ.


Y Z

Dado o boreliano E § Y , podemos tomar na desigualdade precedente para 1


a aplicação mensurável que é ! para C Â 0 ÐEÑ e em C − 0 ÐEÑ toma o valor
-H00 "ÐCÑ . Reparando que 1Ð0 ÐBÑÑ œ ! para B  E, que 1Ð0 ÐBÑÑ œ -H0B para
B − E e que, pelo teorema de derivação da aplicação composta, para cada
C − 0 ÐEÑ,
1ÐCÑ -H0C" œ -H00 "ÐCÑ ‚ -H0C" œ -H00 "ÐCÑ ‰H0C" œ -HÐ0 ‰0 " ÑC œ -M œ ",

a desigualdade anterior diz-nos que

( -H0B . -8 ÐBÑ Ÿ ( " . -8 ÐCÑ œ -8 Ð0 ÐEÑÑ,


E 0 ÐEÑ

desigualdade que, juntamente com a desigualdade (1), implica a igualdade do


enunciado. 
208 Cap. II. O integral

II.5.27 (Integração por mudança de variáveis em ‘8 )104 Sejam Y § ‘8 e


Z § ‘8 dois abertos e 0 À Y Ä Z um difeomorfismo de classe G " . Tem-se
então:
a) Para cada função mensurável 1À Z Ä ‘ ,

( 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ( 1Ð0 ÐBÑÑ-H0B . -8 ÐBÑ.


Z Y

b) Se I é um espaço de Banach, para cada aplicação integrável 1À Z Ä I ,

( 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ( 1Ð0 ÐBÑÑ-H0B . -8 ÐBÑ.


Z Y

Dem: Tendo em conta o resultado precedente, podemos considerar uma nova


medida . definida nos borelianos de Y por qualquer das duas caracterizações
equivalentes:

.ÐEÑ œ -8 Ð0 ÐEÑÑ, .ÐEÑ œ ( -H0B . -8 ÐBÑ.


E

Basta agora repararmos que, pelo teorema trivial de mudança de variáveis


(II.1.38, nas hipóteses de a), e II.2.56, nas hipóteses de b)), tem-se

( 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ( 1Ð0 ÐBÑÑ . .ÐBÑ


Z Y

e que, pela caracterização do integral para a medida definida por uma função
mensurável positiva (II.1.35, nas hipóteses de a), e II.2.54, nas hipóteses de
b)), tem-se

( 1Ð0 ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ ( 1Ð0 ÐBÑÑ-H0B . -8 ÐBÑ. 


Y Y

Exercícios

Ex II.5.1 (Medida de paralelogramos multidimensionais105) Se I é um


espaço vetorial e B" ß B# ß á ß B8 são vetores linearmente independentes de I ,
chamamos paralelogramo multidimensional gerado por aqueles vetores ao
conjunto T das combinações lineares >" B"  ># B#  â  >8 B8 , com
>4 − Ò!ß "Ó (comparar com o exercício II.4.7). No caso em que I œ ‘8 ,
mostrar que T é um boreliano e que a medida de Lebesgue -8 ÐT Ñ é igual ao

104Comparar com II.3.14.


105Generalização do exercício II.4.7.
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 209

valor absoluto do determinante da matriz em que cada coluna 4 é constituída


pelas coordenadas do vetor B4 .
Ex II.5.2 (Propriedade de invariância das medidas esféricas) Seja 8   ! um
inteiro e consideremos a esfera unitária W8 § ‘8" , assim como a
correspondente medida esférica .W8 nos borelianos de W8 (cf. I.5.19).
Mostrar que, para cada isomorfismo ortogonal 0À ‘8" Ä ‘8" , tem-se
0ÐW8 Ñ œ W8 e a restrição 0ÎW8 À W8 Ä W8 é compatível com as medidas (por
outras palavras, .W8 é 0ÎW8 -invariante). Sugestão: Lembrar a alínea a) de
II.5.13.
Ex II.5.3 (Propriedades de invariância da medida esférica em W" § ‘# )
Consideremos a medida esférica .W" nos borelianos de W" § ‘# œ ‚ e
reparemos que W" tem uma estrutura de grupo multiplicativo em que a
operação é a multiplicação de complexos, o elemento neutro é " e o inverso
de D − W" é D " œ D . Reparar que têm lugar homeomorfismos, em particular
aplicações bimensuráveis ,À W Ä W e, para cada D! − W , 7D! À W Ä W ,
definidos por
,ÐDÑ œ D œ D " , 7D! ÐDÑ œ D! ‚ D .

a) Mostrar que a medida .W" é ,-invariante e, para cada D! − W , 7D! -inva-


riante (comparar com I.5.14). Sugestão: Reparar que temos dois casos
particulares da situação examinada no exercício II.5.2.
b) (Propriedade de unicidade) Mostrar que, se .w é uma medida nos
borelianos de W" que seja 7D! -invariante, para cada D! − W" , e que verifique
.w ÐW" Ñ œ #1, então .w œ .W" .
Sugestão: Dado um boreliano E § W" , considerar o boreliano E s § W" ‚ W"
definido por
s œ ÖÐDß AÑ − W" ‚ W" ± D ‚ A − E×
E
e utilizar o teorema de Fubini para calcular de duas maneiras distintas
s .
.W" Œ .w ÐEÑ
Ex II.5.4 a) Para cada 8   ", seja G8 § ‘8 o conjunto
G8 œ ÖÐB" ß á ß B8 Ñ ± B4   !, B"  â  B8 Ÿ "×.

Verificar que, para cada > − Ò!ß "Ó,


ÖÐB" ß á ß B8" Ñ − ‘8" ± ÐB" ß á ß B8" ß >Ñ − G8 × œ Ð"  >ÑG8"
e deduzir, por indução, que
"
-8 ÐG8 Ñ œ .
8x
210 Cap. II. O integral

s 8 § G8" § ‘8" o 8-simplex padrão, definido


b) Para cada 8   !, seja W
por
s 8 œ ÖÐB" ß á ß B8" Ñ ± B4   !, B"  â  B8" œ "×.
W
s8
Tendo presente a analogia com a situação tratada em II.5.19, verificar que W
é um subconjunto fechado de ‘8" , em particular um boreliano, e que se
pode definir uma medida .Ws 8 nos borelianos de Ws 8 (a que se poderia dar o
nome de medida simplicial), considerando uma aplicação contínua
s 8,
3 G8" Ï Ö!× Ä W

"
3 " ß á ß B8" Ñ œ
sÐB ÐB" ß á ß B8" Ñ,
B"  â  B8"
s 8,
e definindo, para cada boreliano E § W
3" ÐEÑÑ.
.Ws 8 ÐEÑ œ Ð8  "Ñ -8" Ðs

Verificar ainda que, para a medida do simplex total, tem-se

s 8 Ñ œ " . 106
.Ws 8 ÐW
8x
c) Reparar que Ws ! œ Ö"× e . s ÐÖ"×Ñ œ " e mostrar que, se 8   ", tem-se
W!
s 8 (comparar com II.5.20).
. s ÐÖB×Ñ œ !, para cada B − W
W8
d) (Coordenadas simpliciais generalizadas) Adaptando trivialmente a
demonstração de II.5.21, mostrar que, para cada 8   !, tem lugar um
homeomorfismo

F s 8 Ä ‘8"
sÀ Ó!ß _Ò ‚ W  Ï Ö!×, FÐ>ß BÑ œ >B,

106Em particular, por exemplo no caso 8 œ ", esta medida não é o que esperaríamos ser o
“comprimento” do conjunto em questão.
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 211

o qual é compatível com as medidas, quando se considera no espaço de


chegada a restrição da medida de Lebesgue -8" , nos borelianos de ‘8" , e
no domínio a medida (- Œ .Ws 8 ÑÐ:Ñ , na 5 -álgebra
UÓ!ß_Ò‚Ws 8 œ UÓ!ß_Ò Œ UWs 8 ,

definida, a partir da medida produto da restrição a Ó!ß _Ò da medida de


Lebesgue - nos borelianos de ‘ pela medida simplicial .Ws 8 nos borelianos
s 8 , pela função contínua :À Ó!ß _Ò ‚ W
de W s 8 Ä ‘ , :Ð>ß BÑ œ >8 .
Poder-se-ia dizer que > − Ó!ß _Ò e B − W s 8 são as coordenadas simpliciais
generalizadas do ponto >B − ‘8"  Ï Ö!× .
Ex II.5.5 Deduzir de II.5.18 e das fórmulas de recorrência em II.5.22 as
seguintes fórmulas explícitas para as constantes "8 œ -8 ÐF " Ð!ÑÑ, válidas
separadamente para 8 ímpar e para 8 par:
##:" Ð:  "Ñx1:" 1:
"#:" œ , "#: œ .
Ð#:  "Ñx :x

Ex II.5.6 Sejam 8   " e <  ! fixados. Para cada real !, seja 0! À ‘8 Ä ‘ a


função definida por

0! ÐBÑ œ  mBm
"
! , se B Á !
,
!, se B œ !

onde a norma considerada é a euclidiana.107 Sendo F < Ð!Ñ § ‘8 a bola


fechada de centro ! e raio <, utilizar coordenadas polares generalizadas para
mostrar que:

( 0! ÐBÑ . -8 ÐBÑ  _ Í !  8,
F < Ð!Ñ

( 0! ÐBÑ . -8 ÐBÑ  _ Í !  8.
‘8 ÏF < Ð!Ñ

Ex II.5.7 a) Demonstrar a fórmula

( / .B œ È1,
#
B

# # # #
tendo em conta a identidade /B C œ /B ‚ /C e calculando o integral
desta função em ‘# de dois modos distintos, utilizando, por um lado, o

107O valor da função no ponto ! é evidentemente irrelevante para efeitos do cálculo dos
integrais e só é exibido para fixar ideias. Com este valor, a função fica contínua em ! se, e
só se, !  !.
212 Cap. II. O integral

teorema de Fubini e, por outro lado, coordenadas polares generalizadas.108


b) Utilizar uma ideia análoga para mostrar que, para cada inteiro 8   !, se
tem

( ÐÈ1Ñ8" ,
# "
B8 /B .B œ
Ò!ß_Ò Ð8  "Ñ"8"

c) Fazendo a mudança de variáveis B œ ÈC no integral referido em b),


onde "8" œ -8" ÐF " Ð!ÑÑ.

mostrar que, para cada inteiro 8   !,

ÐÈ1Ñ8" ,
" 8" "
>Рќ
# # Ð8  "Ñ"8"
em particular,

>Ð Ñ œ È1.
"
#

Ex II.5.8 (Coordenadas polares em ‘# Ñ a) Verificar que tem lugar um difeo-


morfismo de classe G _
<À Ó!ß _Ò ‚ Ó!ß #1Ò Ä ‘# Ï Ð‘ ‚ Ö!×Ñ œ ‚ Ï ‘ ,
<Ð>ß !Ñ œ Ð> cosÐ!Ñß > senÐ!ÑÑ œ > /3! ,

e que, para cada Ð>ß !Ñ − Ó!ß _Ò ‚ Ó!ß #1Ò, o coeficiente de dilatação da
aplicação linear derivada H<Ð>ß!Ñ À ‘8 Ä ‘8 é
-H<Ð>ß!Ñ œ >.

Sugestão: As propriedades das funções trigonométricas implicam que é


bijetiva a aplicação Ó!ß #1Ò Ä W" Ï ÖÐ"ß !Ñ×, ! È ÐcosÐ!Ñß senÐ!ÑÑ. Deduzir
daqui, tendo em conta o que é conhecido sobre as coordenadas polares
generalizadas, que a aplicação < de classe G _ é bijetiva. Para mostrar que
<" também é de classe G _ , poderá utilizar o teorema da função inversa.
b) Utilizar a conclusão de a) e a definição da medida esférica .W" , nos
borelianos de W" , em II.5.19, para mostrar que tem lugar um homeomorfismo
:À Ó!ß #1Ò Ä W" Ï ÖÐ"ß !Ñ×, :Ð!Ñ œ ÐcosÐ!Ñß senÐ!ÑÑ,
e que este homeomorfismo é compatível com as medidas, quando se
considera no domínio a restrição da medida de Lebesgue - de ‘ e no espaço
de chegada a restrição da medida esférica de W" .
Ex II.5.9 (Caracterizações geométrica e algébrica do ângulo de vetores de
‘# ). Sejam Aß D − ‘# œ ‚ dois vetores linearmente independentes (no

108Repare-se que a dificuldade do cálculo do integral nesta alínea reside na impossibili-


#
dade de determinar explicitamente uma primitiva da função /B .
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 213

sentido real, evidentemente). Chamamos setor angular definido por aqueles


vetores ao conjunto fechado XAßD § ‘# das combinações lineares =A  >D ,
com =   ! e >   ! (reparar que a aplicação de ‘# para ‘# , que a cada vetor
associa as suas componentes na base Aß D , é um isomorfismo, e portanto uma
aplicação contínua). Definimos o ângulo daqueles vetores )AßD − ‘ por
)AßD œ .W" ÐXAßD  W" Ñ. 109

a) (Invariância pelos isomorfismos ortogonais) Verificar que, se


0À ‘# Ä ‘# é um isomorfismo ortogonal, então
X0ÐAÑß0ÐDÑ œ 0ÐXAßD Ñ, )0ÐAÑß0ÐDÑ œ )AßD .

b) (O ângulo só depende das semirretas) Mostrar que, se +  ! e ,  !,


então X+Aß,D œ XAßD , e portanto também )+Aß,D œ )AßD .
c) (O ângulo num caso particular) Suponhamos que A œ Ð"ß !Ñ e que, para
um certo ) − Ó!ß 1Ò, D œ ÐcosÐ)Ñß senÐ)ÑÑ. Mostrar que )DßA œ ).
Sugestão: Ter em conta a alínea b) do exercício II.5.8 e mostrar que
XAßD  W" é o conjunto dos vetores ÐcosÐ>Ñß senÐ>ÑÑ, com > − Ò!ß )Ó, uma vez
que
senÐ)  >Ñ senÐ>Ñ
ÐcosÐ>Ñß senÐ>ÑÑ œ Ð"ß !Ñ  ÐcosÐ)Ñß senÐ)Ñ.
senÐ)Ñ senÐ)Ñ
Alternativamente, sem passar pelo exercício referido, utilizar o teorema de
Fubini para calcular diretamente a medida de Lebesgue da intersecção de
XAßD com a bola de centro ! e raio ".
d) (O caso dos vetores de norma ") Mostrar que, se lAl œ lDl œ ", então
)DßA − Ó!ß 1Ò e cosÐ)DßA Ñ œ ØDß AÙ (produto interno usual de ‘# ).
Sugestão: Reduzir o resultado ao caso estudado em c), aplicando a) ao
isomorfismo ortogonal ‚ Ä ‚, ? È A" ‚ ?, seguido, se necessário, pelo
isomorfismo ortogonal ‚ Ä ‚, ? È ?.
e) (O caso geral) utilizar a conclusão de b) para verificar que, se Aß D , linear-
mente independentes, são arbitrários, então )DßA − Ó!ß 1Ò e
ØDß AÙ 110
cosÐ)DßA Ñ œ .
mDmmAm

Ex II.5.10 (Propriedades de regularidade da medida de Lebesgue) Seja


E § ‘8 um boreliano. Mostrar que:

109Trata-se da definição geométrica do ângulo, que se costuma apresentar em estudos


elementares, quando se introduz o radiano como unidade de medida.
110Esta é a caracterização algébrica habitual do ângulo de dois vetores. O que fizémos
neste exercício foi mostrar que as caracterizações geométrica e algébrica conduzem ao
mesmo resultado, no caso dos vetores linearmente independentes.
214 Cap. II. O integral

a) -8 ÐEÑ é o ínfimo dos -8 ÐY Ñ, com Y aberto de ‘8 com E § Y ;


b) -8 ÐEÑ é o supremo dos -8 ÐOÑ, com O compacto de ‘8 e O § E. 111
Ex II.5.11 Seja E § ‘8 um boreliano.
a) Mostrar que existe uma família contável ÐO4 Ñ4−N de compactos O4 § E
tal que
-8 ÐE Ï . O4 Ñ œ !.
4−N

Sugestão: Para cada : − , aplicar a alínea b) do exercício II.5.10 ao


boreliano E  Ò:ß :Ó8 , de medida finita, para garantir a existência de
compactos O:ß; , ; − , com O:ß; § E  Ò:ß :Ó8 e
"
-8 ÐÐE  Ò:ß :Ó8 Ñ Ï O:ß; Ñ  .
;
b) Verificar que se pode deduzir facilmente de a) a existência de uma suces-
são crescente de compactos ÐOs 7 Ñ7− tal que O
s7 § E e

-8 ÐE Ï . O
s 7 Ñ œ !.
7−

Sugestão: Lembrar que uma união finita de compactos é um compacto.


Ex II.5.12 Sejam Y § ‘8 um aberto e 0 À Y Ä ‘8 uma aplicação de classe G "
tal que, para cada B − Y , a derivada H0B À ‘8 Ä ‘8 seja um isomorfismo.
Mostrar que, para cada boreliano E § Y , 0 ÐEÑ é um boreliano de ‘8 .
Sugestão: Utilizando o teorema da função inversa, mostrar que Y é a união
de uma família contável de abertos Y4 , 4 − N , tais que a restrição de 0 a cada
Y4 seja um difeomorfismo de classe G " de Y4 sobre um aberto Z4 de ‘8 .
Ex II.5.13 Neste exercício usaremos a identificação natural de ‘$ com ‘# ‚ ‘ e,
para a esfera W# § ‘$ , utilizaremos uma linguagem geográfica:
O polo Norte e polo Sul são os pontos TR œ Ð!ß !ß "Ñ e TW œ Ð!ß !ß "Ñ de
W # , o equador é o conjunto W" ‚ Ö!× § W# e, para cada B œ ÐB" ß B# Ñ − W" , o
semimeridiano aberto determinado por B é o conjunto dos elementos de W#
da forma
cosÐ)ÑÐBß !Ñ  sinÐ)ÑTR œ ÐcosÐ)ÑB" ß cosÐ)ÑB# ß sinÐ)ÑÑ,
com ) − Ó 1# ß 1# Ò, dizendo-se então que ) é a latitude de um tal elemento.
a) Verificar que os diferentes semimeridianos abertos são disjuntos dois a
dois e de união W# Ï ÖTR ß TW ×, o que nos permite considerar uma aplicação
bijetiva

111Estas propriedades serão reencontradas adiante, num contexto mais geral, em III.4.6. À
primeira é costume dar o nome de regularidade exterior e à segunda o de regularidade
interior.
§5. Medida de Lebesgue em dimensões superiores 215

1 1
:À W" ‚ Ó ß Ò Ä W# Ï ÖTR ß TW ×, :ÐBß )Ñ œ cosÐ)ÑÐBß !Ñ  sinÐ)ÑTR Þ
# #
Diremos que B − W" é a longitude generalizada de :ÐBß )Ñ e, como já
referimos, ) é a sua latitude. Mostrar que a aplicação : é um
homeomorfismo, em particular : e :" são aplicações mensuráveis.
b) Sejam E § W" um boreliano e  1#  )!  1# fixados e consideremos as
correspondentes calotes aberta e fechada FEß)! ß F Eß)! § W# , constituídas
pelos pontos de W# Ï ÖTR ß TW × cuja latitude é, respetivamente maior e maior
ou igual a )! e a longitude generalizada pertence a E, definidas portanto por
FEß)! œ ÖcosÐ)ÑÐBß !Ñ  sinÐ)ÑTR ×)! )1Î# ß B−E
F Eß)! œ ÖcosÐ)ÑÐBß !Ñ  sinÐ)ÑTR ×)! Ÿ)1Î# ß B−E
1 1
(cf. a figura a seguir, em que )! œ ' e E é um arco de amplitude "# Ñ.

Mostrar que se tem


.W# ÐFEß)! Ñ œ .W# ÐF Eß)! Ñ œ .W" ÐEÑ Ð"  sinÐ)! ÑÑ.

Sugestão: Começar por examinar o caso em que )!   !. Nesse caso, e


notando simplesmente F o conjunto cuja medida esférica se pretende
s , onde F
calcular, reparar que, por definição, .W# ÐFÑ œ $.$ ÐFÑ s é um certo
subconjunto da bola unitária de centro ! de ‘$ e calcular a medida de F s
notando que, pelo teorema de Fubini, ela é igual ao integral num subconjunto
de ‘# (ver o lado direito da figura referida) de uma certa função, e
calculando o integral através da utilização de coordenadas polares
generalizadas. Reparar enfim que o caso em que )!  ! se pode reduzir ao já
estudado, tendo em conta o facto (cuja justificação simples encontrará) de
um subconjunto de W# e a sua imagem pela simetria relativa ao plano do
equador terem a mesma medida esférica.
216 Cap. II. O integral

c) Consideremos agora outro homeomorfismo, intimamente relacionado com


o homeomorfismo : referido em a),

<ÐBß >Ñ œ :ÐBß arcsinÐ>ÑÑ œ È"  ># ÐBß !Ñ  > TR .


<À W" ‚ Ó"ß "Ò Ä W# Ï ÖTR ß TW ×,

Mostrar que < é compatível com as medidas, quando se considera no


domínio a medida produto .W" Œ ." e no espaço de chegada a medida
esférica .W# . Interpretar geometricamente este homeomorfismo, em termos de
projeção da esfera sobre um cilindro, e descobrir qual a relevância dele para
a possibilidade de construir um mapa plano da esfera (com os polos
retirados) que não altere as áreas (embora, naturalmente, altere os compri-
mentos)
Sugestão: Começar por mostrar, com o auxílio do que se concluiu em b),
que, para cada boreliano E § W" e cada +  , em Ó"ß "Ò, tem-se
.W# Ð<ÐE ‚ Ó+ß ,ÓÑÑ œ .W" ÐEÑ ‚ Ð,  +Ñ

e mostrar por que razão a conclusão pretendida decorre deste facto. Ter
também em conta a alínea b) do exercício II.5.8.

§6. Integrais paramétricos.

II.6.1 (Continuidade do integral paramétrico) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de


medida, ] um espaço métrico, I um espaço de Banach, 0 À \ ‚ ] Ä I uma
aplicação e C! − ] tais que:
1) Para cada B − \ , a aplicação 0B߆ À ] Ä I , 0B߆ ÐCÑ œ 0 ÐBß CÑ, é contínua
no ponto C! .
2) Para cada C − ] , a aplicação 0†ßC À \ Ä I , 0†ßC ÐBÑ œ 0 ÐBß CÑ é topologica-

3) Existe uma função mensurável :À \ Ä ‘ , com '\ : . .  _, tal que,


mente mensurável.

para cada ÐBß CÑ − \ ‚ ] , m0 ÐBß CÑm Ÿ :ÐBÑ.


Tem-se então que, para cada C − ] , a aplicação 0†ßC À \ Ä I é mesmo
integrável e a aplicação 2À ] Ä I , definida por

2ÐCÑ œ ( 0 ÐBß CÑ . .ÐBÑ


\

(o integral paramétrico) é contínua no ponto C! .


Dem: O facto de, para cada C − ] , a aplicação topologicamente mensurável
0†ßC À \ Ä I ser integrável resulta de que se tem

( m0 ÐBß CÑm . .ÐBÑ Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ  _Þ


\ \
§6. Integrais paramétricos 217

Tendo em conta o facto de ] ser um espaço métrico, e não meramente um


espaço topológico, vemos que, para mostrar que a aplicação 2À ] Ä I é
contínua em C! , basta mostrarmos que, qualquer que seja a sucessão ÐC8 Ñ8−
de elementos de ] com C8 Ä C! , tem-se 2ÐC8 Ñ Ä 2ÐC! Ñ. Ora, isso é uma
consequência direta do teorema da convergência dominada em II.2.39, uma
vez que, pela hipótese 1) no enunciado, tem-se 0 ÐBß C8 Ñ Ä 0 ÐBß C! Ñ, para
cada B − \ . 
II.6.2 (Derivabilidade do integral paramétrico) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço
de medida, N § ‘ um intervalo de interior não vazio, I um espaço de
Banach e 0 À \ ‚ N Ä I uma aplicação tal que:
1) Para cada B − \ , a aplicação 0B߆ À N Ä I , 0B߆ Ð>Ñ œ 0 ÐBß >Ñ, é derivável
em todos os > − N , com derivada que notamos

w `0
0B߆ Ð>Ñ œ ÐBß >Ñ − I .
`>

3) Existe uma função mensurável :À \ Ä ‘ , com '\ : . .  _, tal que,


2) Para cada > − N , a aplicação 0†ß> À \ Ä I , 0†ß> ÐBÑ œ 0 ÐBß >Ñ é integrável.

para cada ÐBß >Ñ − \ ‚ N ,


`0
m ÐBß >Ñm Ÿ :ÐBÑ.
`>
Definindo então uma aplicação 2À N Ä I ,

2Ð>Ñ œ ( 0 ÐBß >Ñ . .ÐBÑ,


\

tem-se que 2 é derivável em cada > − N e

2w Ð>Ñ œ (
`0
ÐBß >Ñ . .ÐBÑ,
\ `>
onde, em particular, estamos a afirmar que é integrável a aplicação no
integral precedente.
Dem: Seja >! − N arbitrário. Escolhamos uma sucessão arbitrária de
elementos >8 − N Ï Ö>! × com >8 Ä >! . Para cada B − \ , tem-se então
`0 0 ÐBß >8 Ñ  0 ÐBß >! Ñ
ÐBß >! Ñ œ lim .
`> >8  >!
Por outro lado, para cada 8 − , resulta da hipótese 3) do enunciado, pelo
teorema da média em II.3.7, aplicado ao intervalo fechado de extremidades >!
e >8 , que
m0 ÐBß >8 Ñ  0 ÐBß >! Ñm Ÿ :ÐBÑ l>8  >! l,
donde
218 Cap. II. O integral

0 ÐBß >8 Ñ  0 ÐBß >! Ñ


m m Ÿ :ÐBÑ,
>8  >!
pelo que, pelo teorema da convergência dominada em II.2.39, concluímos
que é integrável a aplicação \ Ä I , B È `0
`> ÐBß >! Ñ e que

( ÐBß >! Ñ . .ÐBÑ œ lim (


`0 0 ÐBß >8 Ñ  0 ÐBß >! Ñ
. .ÐBÑ œ
\ `> \ >8  >!
2Ð>8 Ñ  2Ð>! Ñ
œ lim .
>8  >!
Tendo em conta a arbitrariedade da sucessão >8 , vemos que existe

œ(
2Ð>Ñ  2Ð>! Ñ `0
lim ÐBß >! Ñ . .ÐBÑ,
>Ä>! >  >! \ `>

que é precisamente o resultado pretendido. 


II.6.3 (Corolário) Suponhamos que no resultado precedente a hipótese 1) é
substituída pela hipótese mais forte:
1w ) Para cada B − \ , a aplicação 0B߆ À N Ä I , 0B߆ Ð>Ñ œ 0 ÐBß >Ñ, é derivável
em todos os pontos > − N e com 0BÞ† À N Ä I contínua.
Tem-se então que a correspondente aplicação 2À N Ä I ,

2Ð>Ñ œ ( 0 ÐBß >Ñ . .ÐBÑ,


\

é derivável em todos os pontos de N e com a derivada 2w À N Ä I contínua.


Dem: Pelo resultado precedente, 2 é derivável em cada > − N e com

2w Ð>Ñ œ (
`0
ÐBß >Ñ . .ÐBÑ
\ `>
e a continuidade da aplicação 2w À N Ä I é então uma consequência direta de
II.6.1. 

Nos dois resultados precedentes examinámos o comportamento de um


integral paramétrico quanto à derivabilidade relativamente a um parâ-
metro real. Nas aplicações é frequentemente útil dispor de um resultado
análogo em que a derivabilidade se faz relativamente a um parâmetro
complexo, no sentido que se encontra no estudo das funções de variável
complexa. Tal como fizémos em II.3.6, para a derivabilidade no sentido
real, começamos por examinar rapidamente que se podem generalizar os
resultados básicos sobre a derivabilidade de aplicações complexas de
variável complexa de modo a permitir que as aplicações tomem valores
num espaçode Banach complexo, e não necessariamente em ‚.
§6. Integrais paramétricos 219

II.6.4 Sejam I um espaço de Banach complexo, Y § ‚ um conjunto aberto,


D! − Y e 0 À Y Ä I uma aplicação. Diz-se que 0 é derivável em D! , no
sentido complexo, se existir o limite
0 ÐDÑ  0 ÐD! Ñ
lim −I
DÄD! D  D!
DÁD!

e a esse limite, que se nota 0 w ÐD! Ñ, dá-se o nome de derivada de 0 em D! .


a) Tal como no caso das funções complexas, se 0 À Y Ä I é uma aplicação
constante de valor A, então para cada D! − Y , a aplicação 0 é derivável em
D! e com 0 w ÐD! Ñ œ !.
b) Se 0 é derivável em D! , então 0 é contínua em D! .
Dem: Sendo ÐD8 Ñ8− uma sucessão qualquer de elementos de Y Ï ÖD! × com
D8 Ä D! , tem-se
0 ÐD8 Ñ  0 ÐD! Ñ
0 ÐD8 Ñ  0 ÐD! Ñ œ ÐD8  D! Ñ Ä ! † 0 w ÐD! Ñ œ !. 
D8  D!
c) Se 0 ß 1À Y Ä I são deriváveis em D! e + − ‚, então as aplicações
0  1À Y Ä I e +0 À Y Ä I são deriváveis em D! e
Ð0  1Ñw ÐD! Ñ œ 0 w ÐD! Ñ  1w ÐD! Ñ, Ð+0 Ñw ÐD! Ñ œ +0 w ÐD! Ñ.

Dem: Sendo ÐD8 Ñ8− uma sucessão qualquer de elementos de Y Ï ÖD! × com
D8 Ä D! , tem-se
Ð0  1ÑÐD8 Ñ  Ð0  1ÑÐD! Ñ 0 ÐD8 Ñ  0 ÐD! Ñ 1ÐD8 Ñ  1ÐD! Ñ
œ  Ä 0 w ÐD! Ñ  1w ÐD! Ñ,
D8  D! D8  D! D8  D!
Ð+0 ÑÐD8 Ñ  Ð+0 ÑÐD! Ñ 0 ÐD8 Ñ  0 ÐD! Ñ
œ+ Ä +0 w ÐD! Ñ. 
D8  D! D8  D!

d) Se 0 À Y Ä I é derivável em D! , J é outro espaço de Banach complexo e


!À I Ä J é uma aplicação linear contínua, então ! ‰ 0 À Y Ä J é derivável
em D! e
Ð! ‰ 0 Ñw ÐD! Ñ œ !Ð0 w ÐD! ÑÑ.

Dem: Sendo ÐD8 Ñ8− uma sucessão qualquer de elementos de Y Ï ÖD! × com
D8 Ä D! , tem-se

œ !ˆ ‰ Ä !Ð0 w ÐD! ÑÑ.


Ð! ‰ 0 ÑÐD8 Ñ  Ð! ‰ 0 ÑÐD! Ñ 0 ÐD8 Ñ  0 ÐD! Ñ

D8  D! D8  D!
e) (Lema de redução à variável real) Sejam 0 À Y Ä I uma aplicação,
Dß A − ‚ e N § ‘ um intervalo de interior não vazio tais que, para cada
> − N , D  >A − Y . Se >! − N é tal que 0 seja derivável, no sentido
complexo, em D  >! A, então é derivável, no sentido real, em >! a aplicação
:À N Ä I,
220 Cap. II. O integral

:Ð>Ñ œ 0 ÐD  >AÑ,
e com
:w Ð>! Ñ œ A ‚ 0 w ÐD  >! AÑ.

Dem: O caso em que A œ ! é trivial, uma vez que : fica constante.


Suponhamos então A Á !. Seja Ð>8 Ñ8− uma sucessão arbitrária de pontos de
N Ï Ö>! × com >8 Ä >! . Tem-se então que os D  >8 A constituem uma
sucessão de pontos de Y diferentes de D  >! A e convergente para este
elemento pelo que
:Ð>8 Ñ  :Ð>! Ñ 0 ÐD  >8 AÑ  0 ÐD  >! AÑ
œA‚ Ä A ‚ 0 w ÐD  >! AÑ,
>8  >! ÐD  >8 AÑ  ÐD  >! AÑ
o que mostra que :w Ð>! Ñ œ A ‚ 0 w ÐD  >! AÑ. 
f) (Teorema da média no contexto complexo) Sejam Q   !, 0 À Y Ä I
uma aplicação e D! ß A! − Y tais que, para > − Ò!ß "Ó, D!  >ÐA!  D! Ñ − Y , 0
seja derivável, no sentido complexo, neste ponto e
m0 w ÐD!  >ÐA!  D! ÑÑm Ÿ Q . 112
Tem-se então
m0 ÐA! Ñ  0 ÐD! Ñm Ÿ Q lA!  D! l.

Dem: Tendo em conta o lema na alínea e), podemos considerar uma aplica-
ção :À Ò!ß "Ó Ä I ,
:Ð>Ñ œ 0 ÐD!  >ÐA!  D! ÑÑ,
a qual é derivável, no sentido real, em cada > − Ò!ß "Ó e com
m:w Ð>Ñm œ mÐA!  D! Ñ0 w ÐD!  >ÐA!  D! ÑÑm Ÿ Q lA!  D! l,
donde, pelo teorema da média em II.3.7,
m0 ÐA! Ñ  0 ÐD! Ñm œ m:Ð"Ñ  :Ð!Ñm Ÿ
Ÿ Q lA!  D! lÐ"  !Ñ œ Q lA!  D! l. 

II.6.5 (Derivabilidade, no sentido complexo, do integral paramétrico) Sejam


Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, Y § ‚ um aberto, I um espaço de Banach
complexo113 e 0 À \ ‚ Y Ä I uma aplicação tal que:
1) Para cada B − \ , a aplicação 0B߆ À Y Ä I , 0B߆ ÐDÑ œ 0 ÐBß DÑ, é derivável,
no sentido complexo, em todos os D − Y , com derivada que notamos

112Temos assm uma condição sobre a derivabilidade e o valor da derivada nos pontos do
segmento que une D! a A! .
113Por exemplo, I œ ‚…
§6. Integrais paramétricos 221

w `0
0B߆ ÐDÑ œ ÐBß DÑ − I .
`D

3) Existe uma função mensurável :À \ Ä ‘ , com '\ : . .  _, tal que,


2) Para cada D − Y , a aplicação 0†ßD À \ Ä I , 0†ßD ÐBÑ œ 0 ÐBß DÑ é integrável.

para cada ÐBß DÑ − \ ‚ Y ,


`0
m ÐBß DÑm Ÿ :ÐBÑ.
`D
Definindo então uma aplicação 2À Y Ä I ,

2ÐDÑ œ ( 0 ÐBß DÑ . .ÐBÑ,


\

tem-se que 2 é derivável, no sentido complexo, em cada D − Y e

2w ÐDÑ œ (
`0
ÐBß DÑ . .ÐBÑ,
\ `D
onde, em particular, estamos a afirmar que é integrável a aplicação no
integral precedente.
Dem: Seja D! − Y arbitrário. Para estudar a derivabilidade de 2 em D! , basta
estudar a derivabilidade da sua restrição a uma bola aberta F< ÐD! Ñ que esteja
contida em Y . Escolhamos uma sucessão arbitrária de elementos
D8 − F< ÐD! Ñ Ï ÖD! × com D8 Ä D! . Para cada B − \ , tem-se então
`0 0 ÐBß D8 Ñ  0 ÐBß D! Ñ
ÐBß D! Ñ œ lim .
`D D8  D!
Por outro lado, para cada 8 − , resulta da hipótese 3) do enunciado, pelo
teorema da média na alínea f) de II.6.4, que
m0 ÐBß D8 Ñ  0 ÐBß D! Ñm Ÿ :ÐBÑ lD8  D! l,
donde
0 ÐBß D8 Ñ  0 ÐBß D! Ñ
m m Ÿ :ÐBÑ,
D8  D!
pelo que, pelo teorema da convergência dominada em II.2.39, concluímos
que é integrável a aplicação \ Ä I , B È `0
`D ÐBß D! Ñ e que

( ÐBß D! Ñ . .ÐBÑ œ lim (


`0 0 ÐBß D8 Ñ  0 ÐBß D! Ñ
. .ÐBÑ œ
\ `D \ D8  D!
2ÐD8 Ñ  2ÐD! Ñ
œ lim .
D8  D!
Tendo em conta a arbitrariedade da sucessão D8 , vemos que existe
222 Cap. II. O integral

œ(
2ÐDÑ  2ÐD! Ñ `0
lim ÐBß D! Ñ . .ÐBÑ,
DÄD! D  D! \ `D

que é precisamente o resultado pretendido. 

Há ainda outra situação, só aparentemente mais geral do que a estudada


em II.6.2, em que há lugar a considerar integrais paramétricos. É aquela
em que o espaço de parâmetros é um aberto de ‘7 e procuramos as
derivadas parciais do integral paramétrico, em relação a cada uma das 7
variáveis. A razão por que a situação só aparentemente é mais geral reside
no facto de uma derivada parcial ser, por definição, a derivada de uma
função de uma variável real, que se obtém fixando os valores das restantes
7  " variáveis a qual, como a derivabilidade é uma questão local, pode,
por restrição, ser sempre considerada definida num intervalo aberto.

II.6.6 (Derivadas parciais do integral paramétrico) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um


espaço de medida, Y § ‘7 um aberto, I um espaço de Banach e
0 À \ ‚ Y Ä I uma aplicação tal que:
1) Para cada B − \ , a aplicação 0B߆ À Y Ä I , 0B߆ ÐDÑ œ 0 ÐBß DÑ, admite
derivadas parciais relativamente a cada uma das 7 variáveis, em todos os
D − Y , derivadas que, para " Ÿ 3 Ÿ 7, notamos
`0
ÐBß DÑ − I .
`D3
2) Para cada D − Y , a aplicação 0†ßD À \ Ä I , 0†ßD ÐBÑ œ 0 ÐBß DÑ é integrável.

' :3 . .  _, tal que, para cada ÐBß DÑ − \ ‚ Y ,


3) Para cada " Ÿ 3 Ÿ 7, existe uma função mensurável :3 À \ Ä ‘ , com
\

`0
m ÐBß DÑm Ÿ :3 ÐBÑ.
`D3
Definindo então uma aplicação 2À Y Ä I ,

2ÐDÑ œ ( 0 ÐBß DÑ . .ÐBÑ,


\

tem-se que 2 admite derivadas parciais relativamente a cada uma das 7


variáveis, em cada D − Y e

ÐDÑ œ (
`2 `0
ÐBß DÑ . .ÐBÑ,
`D3 \ `D3

onde, em particular, estamos a afirmar que é integrável a aplicação no


integral precedente.114

114Como a demonstração adiante mostra, bastaria pedir a existência de derivada parcial


relativamente a uma das variáveis 3, com a hipótese em 3) também exigida apenas para
§6. Integrais paramétricos 223

Além disso, se, para cada " Ÿ 3 Ÿ 7 e cada B − \ , a aplicação Y Ä I ,


`0 `2
D È `D 3
ÐBß DÑ for contínua, então também cada aplicação `D 3
ÀY Ä I é
contínua.115

' `0
Dem: Dado D! − Y arbitrário, para mostrar que existe a derivada parcial
`2
`D3 ÐD! Ñ e é igual a \ `D3 ÐBß D! Ñ . .ÐBÑ, basta ter em conta II.6.2, para a
aplicação
ÐBß D3 Ñ È 0 ÐBß ÐD! " ß á ß D3 ß á ß D! 7 ÑÑ
que, por restrição, se pode considerar definida no produto cartesiano de \
por um intervalo aberto de ‘ contendo D! 3 . No caso em que, para cada
`0
" Ÿ 3 Ÿ 7 e cada B − \ , a aplicação Y Ä I , D È `D 3
ÐBß DÑ é contínua, o
`2
facto de as aplicações `D3 À Y Ä I serem contínuas é uma consequência
direta de II.6.1. 

Exercícios

Ex II.6.1 (A exponencial complexa) Lembrar que, para cada D − ‚, a expo-


nencial expÐDÑ − ‚ pode ser definida como a soma da série

expÐDÑ œ "
" :
D
: !
:x

(onde se faz a convenção !! œ "), série essa que é também a soma de uma
família absolutamente somável de números complexos (cf. o exercício
II.4.8).
a) Mostrar que se tem
expÐ!Ñ œ ", expÐDÑ œ expÐDÑ,
e, para B − ‘,
expÐBÑ œ /B , expÐ3BÑ œ cosÐBÑ  3 senÐBÑ,

b) Utilizar a fórmula do binómio de Newton e a conclusão da alínea g) do


exercício II.4.8 para mostrar que
expÐD  AÑ œ expÐDÑ ‚ expÐAÑ,
e deduzir, em particular, que expÐDÑ ‚ expÐDÑ œ ", e portanto expÐDÑ Á !.

essa variável, para concluir que a aplicação 2 tem derivada parcial relativamente a essa
variável, caracterizada pelo integral acima.
115Por outras palavras, se, para cada B − \ , 0 À Y Ä I é de classe G " , então 2 é de
B߆
classe G " .
224 Cap. II. O integral

c) Deduzir do teorema da derivação do integral paramétrico em II.6.5 que a


aplicação expÀ ‚ Ä ‚ é derivável, no sentido complexo, em cada D − ‚ e
com expw ÐDÑ œ expÐDÑ. Sugestão: Reparar que basta mostrar a derivabilidade
da restrição de exp a cada bola de ‚ de centro ! e raio V  !.
Ex II.6.2 (Ainda a função gama) Lembrar que, como se examinou no exercício
II.3.11, a função gama >À Ó!ß _Ò Ä ‘ está definida por

>ÐBÑ œ ( >B" /> .>.


Ó!ß_Ò

a) Mostrar que >À Ó!ß _Ò Ä ‘ é uma função contínua.


Sugestão: Basta mostrar que a restrição de > a cada intervalo Ó$ ß VÒ, com
!  $  V  _, é contínua.
b) Mostrar que > é derivável em cada B − Ó!ß _Ò, e com >w À Ó!ß _Ò Ä ‘
contínua e que

>w ÐBÑ œ ( lnÐ>Ñ >B" /> .>.


Ó!ß_Ò

Sugestão: A mesma que para a alínea precedente, sendo além disso de ter em
conta que, para cada &  !,
lim lnÐ>Ñ >& œ !.
>Ä!

c) Mostrar que, sendo H § ‚ o aberto constituído pelos D − ‚ com


dÐDÑ  !, a função >À Ó!ß _Ò Ä ‘ é a restrição de uma função >À H Ä ‚,
definida também por

>ÐDÑ œ ( >D" /> .>,


Ó!ß_Ò

onde, por definição, para cada >  ! em ‘, >D œ expÐlnÐ>ÑDÑ. Verificar que
esta função é contínua, derivável em cada ponto D − H e com derivada
contínua e que se tem

>w ÐDÑ œ ( lnÐ>Ñ >D" /> .>.


Ó!ß_Ò

Verificar ainda que, tal como na alínea b) do exercício II.3.11, tem-se, para
cada D − H, >ÐD  "Ñ œ D >ÐDÑ.
Ex II.6.3 Na teoria do integral pelos métodos de Riemann, costumam-se
demonstrar os dois resultados seguintes:
1) Sejam I um espaço de Banach, M e O dois intervalos fechados e limitados

contínua 2À O Ä I , definida por 2ÐCÑ œ 'M 0 ÐBß CÑ .B.


e 0 À M ‚ O Ä I uma aplicação contínua. Tem então lugar uma aplicação

2) Sejam I um espaço de Banach, M e O dois intervalos fechados e


§6. Integrais paramétricos 225

limitados, o segundo dos quais de interior não vazio, e 0 À M ‚ O Ä I uma


aplicação, admitindo em cada ÐBß CÑ uma derivada parcial `0 `C ÐBß CÑ, e para a
qual a aplicação `0
2À O Ä I , definida por 2ÐCÑ œ 'M 0 ÐBß CÑ .B, é derivável em cada ponto e
`C À M ‚ O Ä I seja contínua. Tem-se então que a aplicação

com

2w ÐCÑ œ (
`0
ÐBß CÑ .B.
M `C
Verificar que estes dois resultados podem ser demonstrados a partir dos
teoremas sobre o integral paramétrico em II.6.1 e II.6.2.
Ex II.6.4 Seja 2À Ò!ß _Ò Ä ‘ a função definida por

2ÐBÑ œ ( B /B> .>.


Ò!ß_Ò

Verificar que 2Ð!Ñ œ ! e 2ÐBÑ œ ", para cada B Á !. Por que razão não se
aplica aqui o teorema de continuidade do integral paramétrico II.6.1?
Ex II.6.5 (Transformada de Fourier) Sejam I um espaço de Banach complexo
e 0 À ‘ Ä I uma aplicação integrável.
a) Mostrar que se pode definir uma nova aplicação s0 À ‘ Ä I , chamada
transformada de Fourier de 0 , por

s0 ÐCÑ œ ( expÐ#13BCÑ 0 ÐBÑ .B


e que esta aplicação é contínua e limitada.


b) (Linearidade) Sejam 0" ß 0# À ‘ Ä I duas aplicações integráveis, com
transformadas de Fourier s0 " ß s0 # À ‘ Ä I , e + − ‚. Mostrar que as trans-
formadas de Fourier de 0"  0# e de +0" são respetivamente s0 "  s0 # e +0
s ".
c) (Homogeneidade e simetria) Sejam 0 À ‘ Ä I uma aplicação integrável,
com transformada de Fourier s0 À ‘ Ä I e + − ‘ Ï Ö!×. Sendo 0+ À ‘ Ä I a
aplicação definida por 0+ ÐBÑ œ 0 Ð+BÑ, mostrar que 0+ é integrável e que a
transformada de Fourier s0 + À ‘ Ä I de 0+ está definida por

s0 + ÐCÑ œ l " l s0 Ð " CÑ.


+ +
Em particular, a aplicação integrável 1À ‘ Ä I definida por 1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ
tem transformada de Fourier s1 definida por s1ÐCÑ œ s0 ÐCÑ.
Ex II.6.6 (Exemplos de transformadas de Fourier) a) Seja 0 À ‘ Ä ‘ § ‚ a
função definida por

0 ÐBÑ œ œ
/B , se B   !,
0, se B  !.
226 Cap. II. O integral

Mostrar que 0 é integrável e que a sua transformada de Fourier s0 À ‘ Ä ‚


está definida por

s0 ÐCÑ œ "
"  #13C
b) Seja 1À ‘ Ä ‘ § ‚ a função definida por
1ÐBÑ œ /lBl .
Reparar que se tem quase sempre 1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ  0 ÐBÑ e deduzir que 1 é
integrável e que a sua transformada de Fourier s1À ‘ Ä ‚ está definida por
#
s1ÐCÑ œ .
"  %1 # C #

Ex II.6.7 (Exemplos de transformadas de Fourier) a) Seja 0 À ‘ Ä ‘ § ‚ a


função indicatriz do intervalo Ò!ß "Ó. Mostrar que 0 é integrável e que a sua
transformada de Fourier s0 À ‘ Ä ‚ está definida por


senÐ#1CÑ cosÐ#1CÑ"
s0 ÐCÑ œ #1 C  #1 C 3, se C Á !
.
", se C œ !

b) Seja 1À ‘ Ä ‘ § ‚ a função indicatriz do intervalo Ò"ß "Ó. Reparar que


se tem quase sempre 1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ  0 ÐBÑ e deduzir que 1 é integrável e
que a sua transformada de Fourier s1À ‘ Ä ‚ está definida por

s1ÐCÑ œ 
senÐ#1CÑ
1C , se C Á !
.
#, se C œ !

Ex II.6.8 (Derivação da transformada de Fourier) Sejam I um espaço de


Banach e 0 À ‘ Ä I uma função integrável tal que a função 1À ‘ Ä I ,
1ÐBÑ œ B0 ÐBÑ, também seja integrável. Mostrar que a transformada de
Fourier s0 À ‘ Ä I é derivável em cada C − ‘ e com
s0 w ÐCÑ œ #131ÐCÑ
s ,
onde s1À ‘ Ä I é a transformada de Fourier de 1.
Ex II.6.9 (Transformada de Fourier duma derivada) Sejam I um espaço de
Banach e 0 À ‘ Ä I uma aplicação integrável, derivável em todos os pontos,
e tal que 0 w À ‘ Ä I seja contínua e integrável e que lim m0 ÐBÑm œ !.116
BÄ_

116Em rigor esta condição só é colocada aqui para simplificar o exercício, uma vez que se
pode verificar ser implicada pelas restantes: O facto de m0 w ÐBÑm ter integral finito em ‘
implica que, para + e , “próximos” de _, m0 Ð,Ñ  0 Ð+Ñm é “pequeno”, o que implica
uma condição do tipo Cauchy, que arrasta a existência de limite para 0 ÐBÑ, quando
§6. Integrais paramétricos 227

Sendo s0 e s1 as transformadas de Fourier de 0 e de 0 w , respetivamente,


mostrar que

s1ÐCÑ œ #13C s0 ÐCÑ.


Sugestão: Reparar que o integral em ‘ é o limite dos integrais em Ò8ß 8Ó e,
para o cálculo destes, utilizar uma integração por partes.
Ex II.6.10 (Transformada de Fourier aplicada duas vezes) Sejam I um
espaço de Banach e 0 À ‘ Ä I uma aplicação contínua, limitada e integrável,
cuja transformada de Fourier s0 À ‘ Ä I seja também integrável. Sendo
s
s0 À ‘ Ä I a transformada de Fourier de s0 À ‘ Ä I , tem-se então, para cada
D−‘
s
s0 ÐDÑ œ 0 ÐDÑ.

Apresentamos em seguida uma demonstração deste resultado na forma de


uma sequência de igualdades, pedindo-se que seja justificada cada uma das
igualdades assinaladas (convém ter presente o exemplo na alínea b) do
exercício II.6.6).

s0 ÐDÑ œ ( expÐ#13DCÑ s0 ÐCÑ .C œ


s

œ lim ( /lClÎ8 expÐ#13DCÑ s0 ÐCÑ .C œ


A 8Ä_ ‘
œ lim ( /lClÎ8 expÐ#13DCÑ Š( expÐ#13BCÑ 0 ÐBÑ .B‹ .C œ
8Ä_ ‘ ‘

œ lim ( Š( expÐ#13ÐB  DÑCÑ /lClÎ8 .C‹ 0 ÐBÑ .B œ


B 8Ä_ ‘ ‘
œ lim ( Š( 8 expÐ#13ÐB  DÑ8AÑ /lAl .A‹ 0 ÐBÑ .B œ
C 8Ä_ ‘ ‘
œ lim (
#8
# # #
0 ÐBÑ .B œ
D 8Ä_ ‘ "  %1 8 ÐB  DÑ

œ lim (
# C
0 Ð  DÑ .C œ
E 8Ä_ ‘ "  %1# C# 8
œ(
#
0 ÐDÑ .C œ 0 ÐDÑ.
F ‘ "  %1 # C #

B Ä _, e esse limite tem que ser !, sem o que 0 não seria integrável; O exame do
limite quando B Ä _ é análogo.
CAPÍTULO III
Espaços funcionais e aplicações

§1. Aplicações convexas e desigualdades.

III.1.1 (Conjuntos convexos) Seja I é um espaço vetorial. Se Aß D − I , o


segmento afim de A para D é o conjunto ÒÒAß DÓÓ dos vetores da forma
=A  >D, com =ß > − ‘ e =  > œ ", ou, por outras palavras, o conjunto dos
vetores da forma Ð"  >ÑA  >D œ A  >ÐD  AÑ, com > − Ò!ß "Ó, conjunto
que contém A e D e que, se A Á D , fica em correspondência biunívoca com
Ò!ß "Ó por
> È Ð"  >ÑA  >D œ A  >ÐD  AÑ.
Um conjunto G § I diz-se convexo se, quaisquer que sejam Aß D − G ,
tem-se ÒÒAß DÓÓ § G .
Repare-se que ÒÒAß AÓÓ œ ÖA× e ÒÒAß DÓÓ œ ÒÒDß AÓÓ.
Repare-se que, se C − I , tem-se trivialmente
C  ÒÒAß DÓÓ œ ÒÒC  Aß C  DÓÓ
e, consequentemente, se G § I é um conjunto convexo, também C  G é
um conjunto convexo.
III.1.2 No caso particular do espaço vetorial ‘, tem-se ÒÒ+ß ,ÓÓ œ Ò+ß ,Ó ou
ÒÒ+ß ,ÓÓ œ Ò,ß +Ó, conforme + Ÿ , ou , Ÿ +, e, consequentemente, um
subconjunto de ‘ é convexo se, e só se, é um intervalo.
III.1.3 Sejam I um espaço vetorial normado, C! − I e <  !. Tem-se então que
as bolas aberta e fechada F< ÐC! Ñ e F < ÐC! Ñ são conjuntos convexos.
Dem: Uma vez que se tem F< ÐC! Ñ œ C!  F< Ð!Ñ e F < ÐC! Ñ œ C!  F < Ð!Ñ,
basta examinarmos o caso em que C! œ !. Ora, se Aß D − F < Ð!Ñ e se =ß >   !
com =  > œ ", vemos que
m=A  >Dm Ÿ m=Am  m>Dm œ =mAm  >mDm Ÿ =<  >< œ <,

o que mostra que =A  >D − F < Ð!Ñ. O caso da bola aberta é análogo, ou
reduz-se ao da bola fechada se repararmos que, se Aß D − F< Ð!Ñ, então existe
!  <w  < tal que Aß D − F <w Ð!Ñ e tem-se F <w Ð!Ñ § F< Ð!Ñ. 
III.1.4 Sejam I um espaço vetorial, G § I um conjunto convexo, A" ß á ß A8
elementos de G e >" ß á ß >8 − ‘ com >"  â  >8 œ ". Tem-se então
230 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

>" A"  â  >8 A8 − G .


Dem: Fazemos a demonstração por indução em 8. O caso 8 œ " é trivial.
Suponhamos o resultado verdadeiro para um certo 8 e sejam A" ß á ß A8"
em G e >" ß á ß >8" em ‘ com >"  â  >8" œ ". Se >8" œ ", e conse-
quentemente >" œ â œ >8 œ !, tem-se
>" A"  â  >8" A8" œ A8" − G .
Caso contrário, tem-se >"  â  >8 Á ! e podemos aplicar a hipótese de
indução aos elementos A" ß á ß A8 − G e aos elementos de ‘
>4
,
>"  â  >8
" Ÿ 4 Ÿ 8, cuja soma é 1, para deduzir que, notando
>1 >8
Aœ A"  â  A8 ,
>"  â  >8 >"  â  >8
tem-se A − G e, aplicando a definição aos elementos A e A8" de G e aos
elementos >"  â  >8 e >8" de ‘ , com soma ", concluímos finalmente
que
>" A"  â  >8" A8" œ Ð>"  â  >8 ÑA  >8" A8" − G . 

III.1.5 (Integral e conjuntos convexos) Sejam I um espaço de Banach e


G § I um conjunto convexo fechado. Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de
medida com !  .Ð\Ñ  _ e 0 À \ Ä I uma aplicação integrável tal que
0 Ð\Ñ § G. Tem-se então

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − G .
"
.Ð\Ñ \

Dem: Vamos demonstrar o resultado em situações sucessivamente mais


gerais.
1) Suponhamos que 0 À \ Ä I é uma aplicação em escada. Podemos então
considerar uma família finita Ð\4 Ñ4−N de conjuntos de `, disjuntos dois a

A4 − G . Uma vez que ! .Ð\4 Ñ œ .Ð\Ñ, e portanto


dois e de união \ tal que em cada \4 a aplicação 0 tenha o valor constante

4−N

"
.Ð\4 Ñ
œ ",
4−N
.Ð\Ñ

deduzimos de II.1.4 que


§1. Aplicações convexas e desigualdades 231

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ " .Ð\4 ÑA4 œ "


" " .Ð\4 Ñ
A4 − G .
.Ð\Ñ \ .Ð\Ñ 4−N 4−N
.Ð\Ñ

2) Vamos admitir que 0 pode ser uma aplicação integrável, mas fazemos a
hipótese de se ter ! − G . Nesse caso, podemos deduzir de II.2.29 a existência
de uma sucessão dominada de aplicações em escada 08 À \ Ä G § I com
" '
08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ, para cada B − \ . O que vimos em 1) garante que, para cada
8, .Ð\Ñ \ 08 . . − G e portanto

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ8Ä_ ( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ − G .


" "
lim
.Ð\Ñ \ .Ð\Ñ \

3) Passamos enfim ao caso em que 0 é integrável mas não se tem necessa-


riamente ! − G . Para isso, escolhemos C! − G e consideramos a aplicação
integrável s0 À \ Ä I definida por s0 ÐBÑ œ 0 ÐBÑ  C! (reparar que a constante
C! é integrável por ser .Ð\Ñ  _Ñ, que toma valores no convexo fechado
C!  G , que contém !. O caso particular estudado em 2) garante então que

( s0 ÐBÑ . .ÐBÑ − C!  G ,


"
.Ð\Ñ \
e portanto

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( s0 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( C! . .ÐBÑ œ


" " "
.Ð\Ñ \ .Ð\Ñ \ .Ð\Ñ \

( s0 ÐBÑ . .ÐBÑ  C! − G .
"
œ 
.Ð\Ñ \

III.1.6 Sejam I um espaço vetorial, G § I um conjunto convexo e 0 À G Ä ‘


uma aplicação. Diz-se que 0 é uma aplicação convexa se, quaisquer que
sejam Aß D − G e =ß >   !, com =  > œ ", tem-se
0 Ð=A  >DÑ Ÿ =0 ÐAÑ  >0 ÐDÑ.117
É claro que esta desigualdade é trivial (reduzindo-se a uma igualdade), no
caso em que A œ D e naquele em que = œ ! ou > œ !.
III.1.7 Sejam I um espaço vetorial e G § I um conjunto convexo. Uma
aplicação 0 À G Ä ‘ é convexa se, e só se, o seu epigráfico
I:30 œ ÖÐAß +Ñ − G ‚ ‘ ± +   0 ÐAÑ×

é um conjunto convexo.

117O que é trivialmente equivalente a exigir que, dados Aß D − G e > − Ò!ß "Ó, tem-se
0 ÐÐ"  >ÑD  >AÑ Ÿ Ð"  >Ñ0 ÐDÑ  >0 ÐAÑ. Repare-se que, no caso em que I œ ‘, e
portanto G é um intervalo, esta noção corresponde a exigir que 0 tem o gráfico com a
concavidade voltada para cima, tal como se estuda num curso básico de Análise Real.
232 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Dem: Suponhamos que a aplicação 0 é convexa. Se ÐAß +Ñ e ÐDß ,Ñ estão em


I:30 e =ß >   ! verificam =  > œ ", vemos que
=+  >,   =0 ÐAÑ  >0 ÐDÑ   0 Ð=A  >DÑ,
o que mostra que
=ÐAß +Ñ  >ÐDß ,Ñ œ Ð=A  >Dß =+  >,Ñ
pertence a I:30 . Ficou assim provado que I:30 é um conjunto convexo.
Suponhamos, reciprocamente, que I:30 é um conjunto convexo. Dados
Aß D − G e =ß >   !, com =  > œ ", tem-se que ÐAß 0 ÐAÑÑ e ÐDß 0 ÐDÑÑ
pertencem a I:30 pelo que
Ð=A  >Dß =0 ÐAÑ  >0 ÐDÑÑ œ =ÐAß 0 ÐAÑÑ  >ÐDß 0 ÐDÑÑ − I:30 ,

o que mostra que 0 Ð=A  >DÑ Ÿ =0 ÐAÑ  >0 ÐDÑ, ou seja, que 0 é uma
aplicação convexa. 
III.1.8 (Corolário) Sejam I um espaço vetorial, G § I um conjunto convexo e
0 À G Ä ‘ uma aplicação convexa. Dados A" ß á ß A8 − G e >" ß á ß >8   !
tais que >"  â  >8 œ ", tem-se então
0 Ð>" A"  â  >8 A8 Ñ Ÿ >" 0 ÐA" Ñ  â  >8 0 ÐA8 Ñ.

Dem: Uma vez que, para cada " Ÿ 4 Ÿ 8, ÐA4 ß 0 ÐA4 ÑÑ − I:30 , que é um
conjunto convexo, concluímos que

Š" >4 A4 ß " >4 0 ÐA4 Ñ‹ œ " >4 ÐA4 ß 0 ÐA4 ÑÑ − I:30 ,
8 8 8

4œ" 4œ" 4œ"

o que não é mais do que a conclusão do enunciado. 


III.1.9 (Exemplos) a) Se I é um espaço vetorial normado, então a aplicação
0 À I Ä ‘, definida por 0 ÐBÑ œ mBm, é uma função convexa.
b) Seja N § ‘ um intervalo com mais que um elemento e seja 0 À N Ä ‘
uma aplicação contínua, derivável em todos os pontos interiores de N e tal
que 0 w À intÐN Ñ Ä ‘ seja uma aplicação crescente (é o que acontece, por
exemplo, se 0 tiver derivada de segunda ordem maior ou igual a ! em todos
os pontos interiores). Tem-se então que 0 é uma aplicação convexa.
Dem: Para a alínea a), atendemos a que, se =ß >   ! verificam =  > œ " e
Aß D − I, vem
m=A  >Dm Ÿ m=Am  m>Dm œ =mAm  >mDm.
Provemos então a conclusão de b), ou seja, que dados +ß , − N e =ß >   !,
com =  > œ ", tem-se
0 Ð=+  >,Ñ Ÿ =0 Ð+Ñ  >0 Ð,Ñ,
para o que se pode afastar os casos triviais em que + œ , ou em que se tem
§1. Aplicações convexas e desigualdades 233

= œ ! e > œ " ou = œ " e > œ !, casos em que temos mesmo uma igualdade.
Por eventual troca dos papéis das variáveis podemos também já supor que
+  ,. Tem-se então +  =+  >,  , e o teorema de Lagrange garante a
existência de +  -  =+  >,  .  , tais que
0 Ð=+  >,Ñ  0 Ð+Ñ 0 Ð=+  >,Ñ  0 Ð+Ñ
œ œ 0 w Ð-Ñ
>Ð,  +Ñ Ð=+  >,Ñ  +
0 Ð,Ñ  0 Ð=+  >,Ñ 0 Ð,Ñ  0 Ð=+  >,Ñ
œ œ 0 w Ð.Ñ
=Ð,  +Ñ ,  Ð=+  >,Ñ
e portanto, por a aplicação 0 w ser crescente,
0 Ð=+  >,Ñ  0 Ð+Ñ 0 Ð,Ñ  0 Ð=+  >,Ñ
Ÿ ,
>Ð,  +Ñ =Ð,  +Ñ
ou ainda
= Ð0 Ð=+  >,Ñ  0 Ð+ÑÑ Ÿ >Ð0 Ð,Ñ  0 Ð=+  >,ÑÑ,
o que também pode ser escrito na forma
0 Ð=+  >,Ñ œ =0 Ð=+  >,Ñ  >0 Ð=+  >,Ñ Ÿ =0 Ð+Ñ  >0 Ð,Ñ. 

III.1.10 (Propriedades das funções convexas) Sejam I um espaço vetorial e


G § I um conjunto convexo. Tem-se então:
a) Se 0 À G Ä ‘ é uma aplicação constante, então 0 é convexa.
b) Se 0 ß 1À G Ä ‘ são aplicações convexas, então 0  1À G Ä ‘ também é
uma aplicação convexa.
c) Se 0 À G Ä ‘ é uma aplicação convexa, e -   !, então - 0 À G Ä ‘ é uma
aplicação convexa.
d) Se 0 À G Ä ‘ é uma aplicação convexa, N ¨ 0 ÐGÑ é um intervalo e
1À N Ä ‘ é uma função convexa e crescente, então 1 ‰ 0 À G Ä ‘ é uma
aplicação convexa.
Dem: As conclusões de a), b) e c) são consequências diretas da definição.
Quanto a d), dados Aß D − G e =ß >   ! com =  > œ ", vem
0 Ð=A  >DÑ Ÿ =0 ÐAÑ  >0 ÐDÑ
e portanto
1Ð0 Ð=A  >DÑÑ Ÿ 1Ð=0 ÐAÑ  >0 ÐDÑÑ Ÿ = 1Ð0 ÐAÑÑ  > 1Ð0 ÐDÑÑ. 

III.1.11 (Desigualdade de Jensen) Sejam I um espaço de Banach, G § I um


conjunto convexo fechado e 1À G Ä ‘ uma aplicação convexa e contínua.
Sejam \ um espaço de medida, com !  .Ð\Ñ  _, e 0 À \ Ä I uma

" '
aplicação integrável tal que 0 Ð\Ñ § G e que 1 ‰ 0 À \ Ä ‘ seja integrável.
Tem-se então .Ð\Ñ \ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ − G e
234 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑÑ Ÿ ( 1Ð0 ÐBÑÑ . .ÐBÑ.


" "

.Ð\Ñ \ .Ð\Ñ \

Dem: Podemos considerar a aplicação integrável 2À \ Ä I ‚ ‘ definida


por 2ÐBÑ œ Ð0 ÐBÑß 1Ð0 ÐBÑÑÑ, que toma valores no subconjunto convexo
fechado I:31 § I ‚ ‘ (cf. III.1.7). Tendo em conta III.1.5, tem-se assim

Š ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑß ( 1Ð0 ÐBÑÑ . .ÐBÑ‹ œ


" "
.Ð\Ñ \ .Ð\Ñ \

( 2ÐBÑ . .ÐBÑ − I:31 ,


"
œ
.Ð\Ñ \
o que implica a conclusão do enunciado. 
III.1.12 (Desigualdade de Jensen para funções positivas) Seja \ um espaço
de medida, com !  .Ð\Ñ  _. Seja 1À ‘ Ä ‘ uma função convexa,
contínua, crescente e tal que lim 1ÐBÑ œ _ e estendamos 1 como
BÄ_
aplicação ‘ Ä ‘ , pondo 1Ð_Ñ œ _Þ Se :À \ Ä ‘ é uma função
mensurável, então

1Š ( :ÐBÑ . .ÐBÑ‹ Ÿ ( 1Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ.


" "
.Ð\Ñ \ .Ð\Ñ \

Dem: Comecemos por supor que :À \ Ä ‘ é uma função simples,


portanto que existe uma família finita de conjuntos mensuráveis Ð\4 Ñ4−N ,

+4 − ‘ em cada \4 . Tem-se então ! .Ð\4 Ñ œ .Ð\Ñ, portanto


disjuntos dois a dois e de união \ , tal que : tenha um valor constante

"
.Ð\4 Ñ
œ"
4−N
.Ð\Ñ

e, reparando que 1 ‰ : é uma função simples que toma o valor constante


1Ð+4 Ñ em \4 , deduzimos de III.1.8 que

1Š ( :ÐBÑ . .ÐBÑ‹ œ 1Š" +4 ‹ Ÿ "


" .Ð\4 Ñ .Ð\4 Ñ
1Ð+4 Ñ œ
.Ð\Ñ \ 4−N
. Ð\Ñ 4−N
.Ð\Ñ

( 1Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ.
"
œ
.Ð\Ñ \

Passemos agora ao caso em que :À \ Ä ‘ é uma função mensurável.


Podemos então considerar uma sucessão crescente de funções simples
:8 À \ Ä ‘ , com :8 ÐBÑ Ä :ÐBÑ para cada B − \ e, tendo em conta o facto
de 1 ser crescente, contínua e com limite _ quando a variável tende para
_, concluímos que a sucessão das funções simples 1 ‰ :8 À \ Ä ‘ é
crecente e com 1Ð:8 ÐBÑÑ Ä 1Ð:ÐBÑÑ, para cada B − \ , pelo que, de se ter,
para cada 8 − ,
§1. Aplicações convexas e desigualdades 235

1Š ( :8 ÐBÑ . .ÐBÑ‹ Ÿ ( 1Ð:8 ÐBÑÑ . .ÐBÑ


" "
.Ð\Ñ \ .Ð\Ñ \
concluímos, por passagem ao limite, tendo em conta o teorema da
convergência monótona, que

1Š ( :ÐBÑ . .ÐBÑ‹ Ÿ ( 1Ð:ÐBÑÑ . .ÐBÑ.


" "

.Ð\Ñ \ .Ð\Ñ \

III.1.13 (Médias aritmética e geométrica) Sejam C" ß á ß C8 números reais, com


C4  !, e >" ß á ß >8 números reais, com >4   ! e >"  â  >8 œ ". Tem-se
então
C">" ‚ â ‚ C8>8 Ÿ >" C"  â  >8 C8 .

Dem: Ponhamos B4 œ lnÐC4 Ñ, portanto C4 œ /B4 Þ Tendo em conta a alínea b)


de III.1.9, é convexa a aplicação 0 À ‘ Ä ‘ definida por 0 ÐBÑ œ /B e daqui
deduz-se, por III.1.8, que
!>4 B4
C">" ‚ â ‚ C8>8 œ />" B" ‚ â ‚ />8 B8 œ / Ÿ
Ÿ " >4 /B4 œ >" C"  â  >8 C8 . 

III.1.14 (Nota) Ao primeiro membro da desigualdade no resultado precedente


costuma-se dar o nome de média geométrica pesada dos números C" ß á ß C8
e ao segundo membro o de média aritmética pesada desses números (com o
sistema de pesos >" ß á ß >8 ). A desigualdade afirma portanto que a média
geométrica pesada é sempre menor ou igual à correspondente média
aritmética pesada. Um caso particular é aquele em que todos os pesos >4 são
iguais a "Î8, caso em que temos as médias geométrica e aritmética usuais e a
desigualdade pode ser escrita na forma

È
C"  â  C8
8
C" ‚ â ‚ C8 Ÿ .
8

III.1.15 (Expoentes conjugados) Se :  " é um número real, define-se o


expoente conjugado de : como sendo o número real ;  " para o qual se tem
" "
:  ; œ ". É claro que o expoente conjugado de ; é então : . Por abuso de
linguagem, com justificação evidente, também se diz que _ é o expoente
conjugado de " e que " é o expoente conjugado de _. Repare-se que o
expoente conjugado de # é o próprio #.
No que se segue vamos também extender as convenções usuais sobre as
operações em ‘ , pondo, para cada <  !, Ð_Ñ< œ _, por outras
palavras, prolongamos por continuidade a aplicação ‘ Ä ‘ , B È B< .
236 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

III.1.16 Dados um espaço de medida Ð\ß `ß .Ñ e uma função mensurável


:À \ Ä ‘ , notaremos, para cada real <  !,

m:m< œ Š( :ÐBÑ< . .ÐBÑ‹ − ‘ .


"
<

Repare-se que, apesar de a notação sugerir que se está a definir uma norma,
tal não é certamente o caso, uma vez que o conjunto das funções :À \ Ä ‘
não é um espaço vetorial e que o valor m:m< pode ser _. No entanto, se
:   ", a definição de m:m< vai intervir na caracterização de uma norma que
será estudada na próxima secção (cf. III.2.5).
III.1.17 (Desigualdade de Hölder) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida,
:  " e ;  " dois expoentes conjugados e :ß <À \ Ä ‘ duas funções
mensuráveis. Tem-se então

( :ÐBÑ<ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ m:m: ‚ m<m; .


\

Dem: Sejam +ß , − ‘ ,

+ œ m:m: œ Š( :ÐBÑ: . .ÐBÑ‹ , , œ m<m; œ Š( <ÐBÑ; . .ÐBÑ‹ .


" "
: ;

\ \

Se for + œ !, tem-se :ÐBÑ: œ ! quase sempre, o que implica que :ÐBÑ œ !


quase sempre, e portanto também :ÐBÑ<ÐBÑ œ ! quase sempre, pelo que a
desigualdade do enunciado é verificada por ambos os membros serem nulos.
Do mesmo modo se vê que a desigualdade do enunciado é verificada se for
, œ !.
Podemos assim já supor, a partir de agora que + Á ! e , Á !.
Podemos supor agora também que + Á _ e , Á _, sem o que a
desigualdade era trivialmente verificada por o segundo membro ser _.
Tem-se então, para as funções mensuráveis : s À \ Ä ‘ definidas por
sß <
:ÐBÑ s <ÐBÑ
:
sÐBÑ œ + , <ÐBÑ œ , ,

( : :(
"
sÐBÑ: . .ÐBÑ œ :ÐBÑ: . .ÐBÑ œ ",
\ + \

( <ÐBÑ . .ÐBÑ œ ; ( <ÐBÑ . .ÐBÑ œ ",


s ; " ;
\ , \
( : s ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( :ÐBÑ<ÐBÑ . .ÐBÑ,
sÐBÑ<
\ +, \
em particular, o resultado ficará provado se verificarmos que

( : s ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ".


sÐBÑ<
\

Ora, para cada B − \ , tem-se


§1. Aplicações convexas e desigualdades 237

s ÐBÑ œ ˆ:
sÐBÑ: ‰ : ˆ<
s ÐBÑ; ‰ ; Ÿ " : "s ;
" "
:
sÐBÑ< sÐBÑ:  < ÐBÑ ,
: ;
visto que esta desigualdade é trivial no caso em que um dos valores :
sÐBÑ e
s ÐBÑ é ! ou _ e, no caso em que ambos são finitos e não nulos, temos um
<
caso particular da desigualdade em III.1.13. Deduzimos daqui que

( : ( :
sÐBÑ: . .ÐBÑ  ( <
s ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ" " s ÐBÑ; . .ÐBÑ œ
sÐBÑ<
\ : \ ; \
" "
œ  œ ",
: ;
o que termina a demonstração. 
III.1.18 (Desigualdade de Minkowsky) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medi-
da, :   " um real e :ß <À \ Ä ‘ duas aplicações mensuráveis. Tem-se
então
m:  < m: Ÿ m: m:  m< m: .

Dem: Se : œ " o resultado é trivial, verificando-se mesmo a igualdade.


Podemos assim supor que :  " e considerar o expoente conjugado ;  " de
:. Podemos supor que o primeiro membro da desigualdade é não nulo e que
cada uma das parcelas do segundo membro é finita, sem o que a desigualdade
era trivialmente válida. Reparemos agora que, para cada B − \ ,
Ð:ÐBÑ  <ÐBÑÑ: Ÿ #: Ð:ÐBÑ:  <ÐBÑ: Ñ,
visto que, se :ÐBÑ Ÿ <ÐBÑ então :ÐBÑ  <ÐBÑ Ÿ #<ÐBÑ e se <ÐBÑ Ÿ :ÐBÑ
então :ÐBÑ  <ÐBÑ Ÿ #:ÐBÑ. Concluímos daqui que

( Ð:ÐBÑ  <ÐBÑÑ ..ÐBÑ Ÿ # Š( :ÐBÑ ..ÐBÑ  ( <ÐBÑ ..ÐBÑ‹  _.


: : : :
\ \ \

Uma vez que


"
Ð:  "Ñ; œ :Ð"  Ñ; œ :,
:
vem, pela desigualdade de Hölder,
238 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

( Ð:  <Ñ . . œ ( : Ð:  <Ñ . .  ( < Ð:  <Ñ . . Ÿ


: :" :"
\ \ \

Ÿ m:m: Š( Ð:  <Ñ . .‹ 
"
Ð:"Ñ; ;

Ÿ  m<m: Š( Ð:  <ÑÐ:"Ñ; . .‹ œ
"
;

œ Ðm:m:  m<m: ÑŠ( Ð:  <Ñ: . .‹


"
;

e, dividindo ambos os membros desta desigualdade por Š'\ Ð:  <Ñ: . .‹ ,


"
;

obtemos

Š( Ð:  <Ñ: . .‹
" ";
Ÿ m: m:  m< m:
\
"
o que, por ser "  ; œ :" , é precisamente a desigualdade do enunciado. 

Exercícios

Ex III.1.1 Sejam I um espaço vetorial, G § I um conjunto convexo e


0 À G Ä ‘ uma aplicação. Diz-se que 0 é estritamente convexa se, quaisquer
que sejam A Á D em G e =ß >  ! tais que =  > œ ", se tem
0 Ð=A  >DÑ  =0 ÐAÑ  >0 ÐDÑ.

a) Mostrar que, se 0 À G Ä ‘ é estritamente convexa, então também é


convexa.
b) Suponhamos que 0 À G Ä ‘ é uma aplicação estritamente convexa. Sejam
A" ß á ß A8 − G e >" ß á ß >8  ! tais que >"  â  >8 œ ". Mostrar que, se
for
0 Ð>" A"  â  >8 A8 Ñ œ >" 0 ÐA" Ñ  â  >8 0 ÐA8 Ñ,
então A" œ A# œ â œ A8 .
c) Mostrar que, se I é um espaço vetorial com produto interno, então,
considerando em I a norma associada, a aplicação 0 À I Ä ‘ definida por
0 ÐBÑ œ mBm# é estritamente convexa.
d) Mostrar que, notando m † m_ a norma do máximo em ‘# , a aplicação
0 À ‘# Ä ‘ definida por 0 ÐBÑ œ mBm#_ não é estritamente convexa.
e) Seja N § ‘ um intervalo e seja 0 À N Ä ‘ uma aplicação contínua,
derivável em todos os pontos interiores de N e tal que 0 w À intÐN Ñ Ä ‘ seja
uma aplicação estritamente crescente (é o que acontece, por exemplo, se 0
§1. Aplicações convexas e desigualdades 239

tiver derivada de segunda ordem maior que ! em todos os pontos interiores).


Mostrar que 0 é uma aplicação estritamente convexa.
Ex III.1.2 Sejam Y § ‘8 um aberto convexo e 0 À Y Ä ‘ uma aplicação de
classe G # (isto é, com derivadas parciais contínuas até à segunda ordem) e tal
que, para cada B − Y a matriz hessiana, cujo elemento da linha 3 e coluna 4 é
#
a derivada de segunda ordem `B`3 `B 0
4
ÐBÑ, seja definida positiva. Mostrar que a
aplicação 0 é estritamente convexa. Sugestão: Dados Aß D − Y , utilizar a
alínea e) do exercício III.1.1 para verificar que é estritamente convexa a
função :À Ò!ß "Ó Ä ‘, definida por
:Ð>Ñ œ 0 ÐÐ"  >ÑA  >DÑ.

Ex III.1.3 Sejam Bß C   ! e :   ". Mostrar que


ÐB  CÑ: Ÿ #:" ÐB:  C: Ñ.

Sugestão: Mostrar que a aplicação 0 À Ò!ß _Ò Ä ‘ definida por 0 ÐBÑ œ B: ,


é convexa.
Ex III.1.4 a) Sejam C" ß á ß C8  ! e >" ß á ß >8  !, com >"  â  ># œ ".
Mostrar que, se for
C">" ‚ â ‚ C8>8 œ >" C"  â  >8 C8 ,

então C" œ C# œ â œ C8 .
b) Sejam Bß C   ! e :  " tais que
ÐB  CÑ: œ #:" ÐB:  C: Ñ.
Mostrar que se tem então B œ C .
Ex III.1.5 Sejam C" ß á ß C8 números reais, com C4  !, e >" ß á ß >8 números
reais, com >4   ! e >"  â  >8 œ " (um sistema de pesos). Chama-se média
harmónica pesada dos C4 ao inverso da média aritmética pesada dos inversos
dos C4 , isto é, ao número
"
.
>" C""  â  >8 C"8

Mostrar que a média harmónica pesada dos C4 é menor ou igual à respetiva


média aritmética pesada, isto é,
"
Ÿ >" C"  â  >8 C8 .
>" C""  â  >8 C"8

Sugestão: Considerar a função 0 ÐBÑ œ lnÐ B" Ñ ou, alternativamente, reparar


que a propriedade pretendida é equivalente à de uma certa média geométrica
ser menor ou igual à correspondente média aritmética.
240 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Ex III.1.6 Sob as hipóteses de III.1.17 (desigualdade de Hölder), mostrar que, se


for

( :ÐBÑ<ÐBÑ . .ÐBÑ œ Š( :ÐBÑ . .ÐBÑ‹ Š( <ÐBÑ . .ÐBÑ‹ ,


" "
: :
; ;

\ \ \

com ambos os membros finitos e não nulos, então existe - − Ó!ß _Ò tal que
<ÐBÑ; œ - :ÐBÑ: , quase sempre. Sugestão: Reexaminar a demonstração do
resultado citado, provando que se tem : s ÐBÑ quase sempre, tendo em
sÐBÑ œ <
conta a alínea a) do exercício III.1.4.
Ex III.1.7 Analogamente ao exercício III.1.6, verificar que, sob as hipóteses de
III.1.18 (desigualdade de Minkowsky), se for :  " e
m:  < m: œ m: m:  m< m: ,

com ambas as parcelas do segundo membro finitas e não nulas, então existe
- − Ó!ß _Ò tal que <ÐBÑ œ - :ÐBÑ, quase sempre.

§2. Os espaços P: .

III.2.1 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I um espaço de Banach, real


ou complexo. Vamos notar MensÐ\ß IÑ o conjunto de todas as aplicações
topologicamente mensuráveis 0 À \ Ä I (cf. II.2.4), conjunto que, tendo em
conta II.2.9, é um subespaço vetorial, real ou complexo, do espaço vetorial
de todas as aplicações 0 À \ Ä I .
Podemos então considerar um subespaço vetorial Mens! Ð\ß IÑ de
MensÐ\ß IÑ, cujos elementos sâo as aplicações topologicamente mensu-
ráveis 0 À \ Ä I tais que 0 ÐBÑ œ ! quase sempre, isto é, tais que exista
E − ` com .ÐEÑ œ ! tal que 0 ÐBÑ œ ! para cada B − \ Ï E, assim como o
espaço vetorial quociente
MensÐ\ß IÑ
Q /8=Ð\ß IÑ œ ,
Mens! Ð\ß IÑ
cujos elementos são as classes de equivalência de aplicações topologica-
mente mensuráveis 0 À \ Ä I para a relação de equivalência µ definida
por
0 µ 1 Í 1  0 − Mens! Ð\ß IÑ Í 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre.
Com frequência usaremos a notação Ò0 Ó para a classe de equivalência do
elemento 0 − MensÐ\ß IÑ para a relação referida mas, quando não há risco
de confusão, é comum notar simplesmente 0 essa classe de equivalência.
Dem: O que temos que justificar é que Mens! Ð\ß IÑ é efetivamente um
subespaço vetorial de MensÐ\ß IÑ. Ora, é evidente que a aplicação !, identi-
§2. Os espaços P: 241

camente nula, pertence a Mens! Ð\ß IÑ e, se 0" ß 0# − Mens! Ð\ß IÑ e + é um


escalar (real ou complexo), então existem E" ß E# − ` com .ÐE" Ñ œ !,
.ÐE# Ñ œ ! e 04 ÐBÑ œ ! para cada B − \ Ï E4 , tendo-se então
+0" − Mens! Ð\ß IÑ e 0"  0# − Mens! Ð\ß IÑ, uma vez que +0" ÐBÑ œ !
para cada B − \ Ï E" e 0" ÐBÑ  0# ÐBÑ œ ! para cada B − \ Ï ÐE"  E# Ñ,
onde .ÐE"  E# Ñ œ !. 118 
III.2.2 Repare-se que, no caso trivial em que .Ð\Ñ œ !, tem-se Mens! Ð\ß IÑ œ
MensÐ\ß IÑ, e portanto
MensÐ\ß IÑ
Q /8=Ð\ß IÑ œ
Mens! Ð\ß IÑ
é constituído por uma única classe, nomeadamente a classe Ò!Ó.
III.2.3 (Restrições) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de
Banach, real ou complexo e ] § \ , com ] − `, que consideramos
naturalmente como subespaço mensurável. Uma vez que, como se constata
trivialmente, se Ò0 Ó œ Ò1Ó em Q /8=Ð\ß IÑ, então Ò0Î] Ó œ Ò1Î] Ó em
Q /8=Ð] ß IÑ, podemos definir uma aplicação linear
Q /8=Ð\ß IÑ Ä Q /8=Ð] ß IÑ, Ò0 Ó È Ò0 ÓÎ] œ Ò0Î] Ó ,

dizendo-se ainda que Ò0 ÓÎ] é a restrição de Ò0 Ó a ] .

Repare-se que, em geral, dada uma classe Ò0 Ó − Q /8=Ð\ß IÑ, não


dispomos de nenhuma maneira natural de definir o que é o valor de Ò0 Ó
num elemento B − \ , uma vez que, dados dois representantes da classe,
os respetivos valores em B podem ser diferentes. Examinamos a seguir,
apenas a título de exemplo, uma situação em que existe um modo natural
de definir o valor de uma classe num ponto. Essa situação é susceptível de
ser enquadrada sob um ponto de vista muito mais geral (cf. o exercício
III.4.2 adiante).

III.2.4 (Valor num ponto duma classe contínua) Seja Y § ‘8 um aberto, para
o qual consideramos a restrição da medida de Lebesgue -8 aos respetivos
borelianos. Sejam I um espaço de Banach e 0 ß s0 À Y Ä I duas aplicações
contínuas tais que Ò0 Ó œ Ò0 s Ó em Q /8=ÐY ß IÑ. Tem-se então, para cada
B − Y , 0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ.
Faz assim sentido dizer que uma classe Ò0 Ó − Q /8=ÐY ß IÑ é contínua se
existir uma aplicação contínua s0 À Y Ä I tal que Ò0 Ó œ Ò0 s Ó e, para uma tal
classe, definir o seu valor Ò0 ÓÐBÑ no ponto B pela igualdade Ò0 ÓÐBÑ œ s0 ÐBÑ.

118O que está aqui em jogo é o facto geral de, no contexto de um espaço de medida,
sempre que temos duas propriedades verdadeiras quase sempre, a respetiva conjunção ser
ainda verdadeira quase sempre, facto esse já referido em I.2.28 e cuja justificação é
decalcada pela que acabamos de fazer.
242 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Dem: Suponhamos, por absurdo, que 0 ß s0 À Y Ä I eram duas aplicações


s Ó em Q /8=ÐY ß IÑ e que 0 ÐB! Ñ Á s0 ÐB! Ñ.
contínuas, tais que Ò0 Ó œ Ò0
Podíamos então considerar um aberto Z de ‘8 , com B! − Z § Y , tal que
0 ÐBÑ Á 1ÐBÑ, para cada B − Z , e, sendo ] § Y um boreliano com
-8 Ð] Ñ œ ! tal que 0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ, para cada B − Y Ï ] , tinha-se assim
Z § ] , o que era absurdo por ser -8 ÐZ Ñ  ! (cf. a alínea b) de II.5.4). 
III.2.5 (O espaço P: ) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de
Banach e : um real com " Ÿ :. Podemos então definir uma aplicação

Ò0 Ó È mÒ0 Óm: œ Š( m0 ÐBÑm: . .ÐBÑ‹


"
:
Q /8=Ð\ß IÑ Ä ‘ ,
\

e ficamos com um subespaço vetorial P: Ð\ß IÑ de Q /8=Ð\ß IÑ,


constituído pelos Ò0 Ó tais que mÒ0 Óm:  _ e com uma norma m † m: neste
espaço vetorial, definida por Ò0 Ó È mÒ0 Óm: , norma essa que é a que se
considera implicitamente.119 Em particular, P" Ð\ß IÑ é o conjunto das
classes de equivalência de aplicações integráveis 0 À \ Ä I .
Dem: O facto de a aplicação Ò0 Ó È mÒ0 Óm: estar bem definida resulta de que,
se 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre, então m0 ÐBÑm: œ m1ÐBÑm: quase sempre, e
portanto, por II.1.31,

( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ ( m1ÐBÑm . .ÐBÑ.


: :
\ \

É imediato que, para a aplicação identicamente nula !À \ Ä I , tem-se


mÒ!Óm: œ !, em particular Ò!Ó − P: Ð\ß IÑ. Se Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ e + é um
escalar, em ‘ ou ‚, então

Š( m+ 0 ÐBÑm: . .ÐBÑ‹ œ Š( l+l: m0 ÐBÑm: . .ÐBÑ‹ œ


" "
: :

\ \

œ l+lŠ( m0 ÐBÑm: . .ÐBÑ‹ ,


"
:

\
:
o que mostra que Ò+0 Ó − P Ð\ß IÑ e mÒ+0 Óm: œ l+lmÒ0 Óm: . Dados
Ò0 Óß Ò1Ó − P: Ð\ß IÑ, tem-se, pela desigualdade de Minkowsky (cf. III.1.18),

Š( m0 ÐBÑ  1ÐBÑm: . .ÐBÑ‹ Ÿ Š( Ðm0 ÐBÑm  m1ÐBÑmÑ: . .ÐBÑ‹ Ÿ


" "
: :

\ \

Ÿ Š( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ‹  Š( m1ÐBÑm: . .ÐBÑ‹ ,


" "
: : :

\ \
:
em particular Ò0  1Ó − P Ð\ß IÑ e mÒ0 Ó  Ò1Óm: Ÿ mÒ0 Óm:  mÒ1Óm: .
Suponhamos enfim que Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ é tal que mÒ0 Óm: œ !, tem-se assim

119Comparando com a definição em III.1.16, tem-se mÒ0 Óm: œ m:m: , onde :À \ Ä ‘


está definida por :ÐBÑ œ m0 ÐBÑm.
§2. Os espaços P: 243

( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ !,
:
\
:
com m0 ÐBÑm − ‘ , para cada B − \ , pelo que, tendo em conta II.1.30,
m0 ÐBÑm: œ ! quase sempre, donde 0 ÐBÑ œ ! quase sempre, ou seja, Ò0 Ó œ !,
o que mostra que temos efetivamente uma norma. 
III.2.6 (Nota) Um caso particular muito frequente nas aplicações é aquele em
que o espaço de Banach I é ‘ ou ‚, com a norma mAm œ lAl. Nesse caso, a
fórmula de definição da norma toma o aspeto

mÒ0 Óm: œ Š( l0 ÐBÑl: . .ÐBÑ‹ .


"
:

Em particular, no caso em que I œ ‘, tem-se, para cada função mensurável


:À \ Ä ‘ , mÒ:Óm:. œ m:m: , onde o segundo membro é o definido em
III.1.16.
III.2.7 Um facto trivial, mas que vale a pena referir é o de que, nas condições de
III.2.5, se ] § \ com ] − `, então a aplicação linear de restrição
Q /8=Ð\ß IÑ Ä Q /8=Ð] ß IÑ, Ò0 Ó È Ò0 ÓÎ] œ Ò0Î] Ó,

aplica P: Ð\ß IÑ em P: Ð] ß IÑ e verifica mÒ0 ÓÎ] m: Ÿ mÒ0 Óm: , em particular


trata-se de uma aplicação linear contínua.
III.2.8 (Lema de completude) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um
espaço de Banach e :   " um número real. Seja Ð18 Ñ8− uma sucessão de
elementos de MensÐ\ß IÑ com Ò18 Ó − P: Ð\ß IÑ e

" mÒ18 Óm:  _


_

8œ"

(por outras palavras, os Ò18 Ó definem uma série absolutamente convergente).


Existe então 1 − MensÐ\ß IÑ com Ò1Ó − P: Ð\ß IÑ, tal que (como famílias
absolutamente somáveis de vetores de I )

1ÐBÑ œ " 18 ÐBÑ


_

8œ"

quase sempre e que

Ò1Ó œ " Ò18 Ó


_

8œ"

(no sentido que Ò1Ó é o limite em P: Ð\ß IÑ da sucessão das somas parciais).
Dem: Sejam 58 À \ Ä ‘ § ‘ as aplicações mensuráveis definidas por
244 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

58 ÐBÑ œ " m14 ÐBÑm,


8

4œ"

para as quais se tem Ò58 Ó − P: Ð\ß ‘Ñ e

mÒ58 Óm: Ÿ " mÒ14 Óm: Ÿ " mÒ14 Óm: ,


8 _

4œ" 4œ"

isto é,

( 58 ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ Š" mÒ14 Óm: ‹ ,


_ :
:
\ 4œ"

e seja 5À \ Ä ‘ a aplicação mensurável definida por

5 ÐBÑ œ lim 58 ÐBÑ œ " m14 ÐBÑm.


_

8Ä_
4œ"

Uma vez que, para cada B − \ , os 58 ÐBÑ: constituem uma sucessão


crescente com limite 5ÐBÑ: , deduzimos do teorema da convergência
monótona que

lim ( 58 ÐBÑ: . .ÐBÑ Ÿ Š" mÒ14 Óm: ‹  _.


( 5 ÐBÑ . .ÐBÑ œ 8Ä_
_ :
:
\ \ 4œ"

Podemos assim concluir de II.1.29 que se tem 5ÐBÑ  _ quase sempre,


isto é, que existe ] − ` com .Ð] Ñ œ ! tal que, para cada B − \ Ï ] ,
5ÐBÑ  _. Para cada B − \ Ï ] , a família Ð14 ÐBÑÑ4− de vetores de I é
assim absolutamente somável, em particular somável (cf. II.2.47 e II.2.48), o
que nos permite definir uma aplicação 1À \ Ä I por
Ú
! 14 ÐBÑ,
_

1ÐBÑ œ Û 4œ"
se B − \ Ï ]
Ü !, se B − ]

(onde a família dos 14 ÐBÑ é absolutamente somável). Lembrando a caracteri-


zação da soma de uma série como limite da sucessão das somas parciais,
vemos que, para cada B − \ Ï ] , tem-se 1ÐBÑ œ lim =8 ÐBÑ, onde as
8Ä_
aplicações topologicamente mensuráveis =8 À \ Ä I , com Ò=8 Ó − P: Ð\ß IÑ,
estão definidas por

=8 ÐBÑ œ " 14 ÐBÑ


8

4œ"

em particular 1 é topologicamente mensurável.


§2. Os espaços P: 245

Seja agora $  ! arbitrário. Fixemos 8! −  tal que

" mÒ14 Óm: œ " mÒ14 Óm:  " mÒ14 Óm: Ÿ $


_ _ 8!

4œ8! " 4œ" 4œ"

Seja 8   8! arbitrário. Tem-se, para cada 5  8,

mÒ=5 Ó  Ò=8 Óm: œ m" Ò14 Óm: Ÿ " mÒ14 Óm: Ÿ


84Ÿ5 84Ÿ5

Ÿ " mÒ14 Óm: Ÿ $


_

4œ8! "

donde,

( m=5 ÐBÑ  =8 ÐBÑm: œ ( m=5 ÐBÑ  =8 ÐBÑm: Ÿ $ : .


\Ï] \

Uma vez que, para cada B − \ Ï ] ,


lim m=5 ÐBÑ  =8 ÐBÑm: œ m1ÐBÑ  =8 ÐBÑm: ,
5Ä_

o lema de Fatou em II.1.33 implica que

( m1ÐBÑ  =8 ÐBÑm . .ÐBÑ œ (


:
m1ÐBÑ  =8 ÐBÑm: . .ÐBÑ Ÿ $ : .
\ \Ï]

Ficou assim provado que, para cada 8   8! , Ò1  =8 Ó − P: Ð\ß IÑ, portanto


também Ò1Ó œ Ò1  =8 Ó  Ò=8 Ó − P: Ð\ß IÑ, e
mÒ1Ó  Ò=8 Óm: Ÿ $

o que nos permite concluir que Ò=8 Ó œ ! Ò14 Ó tem limite Ò1Ó no espaço
8

4œ"
vetorial normado P: Ð\ß IÑ. 
III.2.9 (Teorema de completude) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I
um espaço de Banach e :   " um número real. Tem-se então:
a) O espaço vetorial normado P: Ð\ß IÑ é completo (portanto um espaço de
Banach).
b) Sejam 0 − MensÐ\ß IÑ e Ð08 Ñ8− uma sucessão de aplicações de
MensÐ\ß IÑ tais que Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ, Ò08 Ó − P: Ð\ß IÑ e Ò08 Ó Ä Ò0 Ó em
P: Ð\ß IÑ. Existe então uma subsucessão de aplicações 25 œ 0!Ð5Ñ tal que
25 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ quase sempre.120
Dem: Seja Ð08 Ñ8− uma sucessão de aplicações de MensÐ\ß IÑ, com

120Pelo contrário, não se pode concluir, em geral, que se tenha 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ quase
sempre; ver um contraexemplo na alínea c) do exercício III.2.3.
246 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Ò08 Ó − P: Ð\ß IÑ, tal que a sucessão dos Ò08 Ó seja uma sucessão de Cauchy
em P: Ð\ß IÑ. Podemos construir recursivamente uma aplicação estritamente
crecente !À  Ä  tal que, sempre que 7ß 8   !Ð5Ñ, mÒ07 Ó  Ò08 Óm:  #"5 .
Consideremos então a subsucessão de aplicações 25 œ 0!Ð5Ñ . Tem-se, em
particular, mÒ25" Ó  Ò25 Óm:  #"5 pelo que

" mÒ25" Ó  Ò25 Óm:  "


_ _
"
œ "  _.
5œ" 5œ"
#5

Podemos agora aplicar o lema III.2.8 às aplicações 15 œ 25"  25 para


garantir a existência de uma aplicação topologicamente mensurável
1À \ Ä I tal que Ò1Ó − P: Ð\ß IÑ, que Ò1Ó seja o limite em P: Ð\ß IÑ da
sucessão das classes

Ò=5 Ó œ " Ò14 Ó œ Ò25" Ó  Ò2" Ó


5

4œ"

e que 1ÐBÑ seja quase sempre o limite dos

=5 ÐBÑ œ " 14 ÐBÑ œ 25" ÐBÑ  2" ÐBÑ.


5

4œ"

Daqui deduzimos que, sendo s0 À \ Ä I a aplicação topologicamente mensu-


rável definida por s0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ  2" ÐBÑ, tem-se Ò0s Ó − P: Ð\ß IÑ, quase
sempre 25" ÐBÑ Ä s0 ÐBÑ e Ò25" Ó Ä Ò0
s Ó em P Ð\ß IÑ. O facto de uma
:

sucessão de Cauchy com sublimite ser necessariamente convergente para


esse sublimite implica que se tem também Ò08 Ó Ä Ò0s Ó em P: Ð\ß IÑ, o que
:
mostra que o espaço vetorial normado P Ð\ß IÑ é completo.
Quanto à conclusão de b), o facto de termos uma sucessão convergente de
elementos Ò08 Ó − P: Ð\ß IÑ implica que eles constituem uma sucessão de
Cauchy donde, pelo que vimos atrás, existe uma subsucessão de aplicações
25 œ 0!Ð5Ñ e Ò0s Ó − P: Ð\ß IÑ, com Ò25" Ó Ä Ò0
s Ó em P: Ð\ß IÑ e quase
sempre 25" ÐBÑ Ä s0 ÐBÑ. Uma vez que uma subsucessão de uma sucessão
convergente converge para o mesmo limite, tem-se também Ò25" Ó Ä Ò0 Ó em
P: Ð\ß IÑ, e portanto, pela unicidade do limite, Ò0 Ó œ Ò0 s Ó, isto é,
s
0 ÐBÑ œ 0 ÐBÑ quase sempre. Tem-se assim também 25" ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ quase
sempre. 
III.2.10 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I um espaço de Banach. No
caso em que : œ ", P" Ð\ß IÑ é simplesmente o conjunto das classes de
equivalência Ò0 Ó com 0 À \ Ä I aplicação integrável e tem lugar uma
aplicação linear contínua
§2. Os espaços P: 247

intÀ P" Ð\ß IÑ Ä I , intÐÒ0 ÓÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ,


\

que verifica mintÐÒ0 Óm Ÿ mÒ0 Óm" .

0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre, então '\ 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ '\ 1ÐBÑ . .ÐBÑ e a
Dem: O facto de esta aplicação estar bem definida vem de que, se

linearidade é uma consequênca das propriedades de linearidade do integral.


Quanto à continuidade, ela é uma consequência de se ter

mintÐÒ0 Óm œ ½( 0 ÐBÑ . .ÐBѽ Ÿ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ mÒ0 Óm" . 


\ \

III.2.11 (Nota) Uma questão que se põe naturalmente é a de saber que relação
existe entre os espaços P: Ð\ß IÑ e P; Ð\ß IÑ, com : Á ; em Ò"ß _Ò, em
particular se um deles terá que estar contido no outro. É fácil reconhecer que,
em geral, isso não é necessariamente verdade. Por exemplo, se \ œ Ó!ß _Ò,
com a medida de Lebesgue nos respetivos borelianos, e se 0 ß 1À \ Ä ‘ são
as funções definidas por

ÈB , È
" "
0 ÐBÑ œ  1ÐBÑ œ 
se B Ÿ " % B, se B Ÿ "
" "
,
B# , se B  " B, se B  "

então, integrando separadamente em Ó!ß "Ó e em Ó"ß _Ò e tendo em conta as


conclusões do exercício II.3.6, constata-se, por um lado, que Ò0 Ó − P" Ð\ß ‘Ñ
e Ò0 Ó Â P# Ð\ß ‘Ñ e, por outro, que Ò1Ó Â P" Ð\ß ‘Ñ e Ò1Ó − P# Ð\ß ‘Ñ.

Há, no entanto, um caso em que podemos garantir que um dos espaços


está contido no outro e exibir uma desigualdade envolvendo as respetivas
normas. Por comodidade, enunciamos também um resultado mais com-
pleto, no caso das funções positivas.

III.2.12 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, com !  .Ð\Ñ  _ e


" Ÿ : Ÿ ;. Tem-se então:
a) Se :À \ Ä ‘ é uma função mensurável,
" "
m:m: Ÿ .Ð\Ñ :  ; m:m;

b) Se I um espaço de Banach, P; Ð\ß IÑ § P: Ð\ß IÑ e, para cada


Ò0 Ó − P; Ð\ß IÑ,
" "
mÒ0 Óm: Ÿ .Ð\Ñ :  ; mÒ0 Óm; .

Dem: Podemos já afastar o caso trivial em que : œ ; e basta provarmos a


afirmação em a) visto que a conclusão de b) resulta então de aplicar a) à
função :ÐBÑ œ m0 ÐBÑm.
248 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Tem-se então :;  " pelo que podemos considerar "  " definido pela
condição :;  "" œ ", isto é, o expoente conjugado de :; . Pela desigualdade de
Hölder relativa a estes expoentes conjugados (cf. III.1.17), podemos agora
escrever

( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( :ÐBÑ ‚ " . .ÐBÑ Ÿ


: :
\ \

Ÿ Š( Ð:ÐBÑ: Ñ : . .ÐBÑ‹ ‚ Š( "" . .ÐBÑ‹ œ


: "
; ; "

\ \

œ Š( :ÐBÑ . .ÐBÑ‹ ‚ .Ð\Ñ œ


:
; "
; "

œ ˆm:m; ‚ .Ð\Ñ ": ‰ ,


\
: "

e portanto
"
m:m: Ÿ .Ð\Ñ ": m:m; ,

bastando agora reparar que "


": œ "
: Ð"  :; Ñ œ "
:  ;" . 

No caso em que não se tem necessariamente .Ð\Ñ  _, há ainda uma


resultado com uma natureza semelhante.

III.2.13 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e " Ÿ : Ÿ < Ÿ ; . Tem-se então:


a) Se :À \ Ä ‘ é uma função mensurável,
m:m< Ÿ maxÖm:m: ß m:m; ×.

b) Se I um espaço de Banach
P: Ð\ß IÑ  P; Ð\ß IÑ § P< Ð\ß IÑ
e, para cada Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ  P; Ð\ß IÑß
mÒ0 Óm< Ÿ maxÖmÒ0 Óm: ß mÒ0 Óm; ×.

Dem: Como anteriormente, podemos já afastar os casos triviais em que


: œ < ou < œ ; e basta provar a afirmação em a), uma vez que a conclusão de
b) resulta então de aplicar a) à função :ÐBÑ œ m0 ÐBÑm.
Sejam !ß "  !, com !  " œ ", os definidos por
;< <:
!œ , "œ ,
;: ;:
para os quais se tem
:;  :<  ;<  :<
!:  " ; œ œ <.
;:
§2. Os espaços P: 249

" "
Pela desigualdade de Hölder, relativa ao expoentes conjugados ! e ",
podemos agora escrever

( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( :ÐBÑ ‚ :ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ


< !: ";
\ \

Ÿ Š( :ÐBÑ: . .ÐBÑ‹ ‚ Š( :ÐBÑ; . .ÐBÑ‹ ,


! "

\ \

!: ";
e portanto, tendo em conta o facto de se ter <  < œ ",
!: ";
m : m < Ÿ m: m : ‚ m: m; Ÿ
< <

!: ";
Ÿ maxÖm:m: ß m:m; ×Ð <  < Ñ œ
œ maxÖm:m: ß m:m; ×. 

III.2.14 (Os espaços j: ) Sejam I um espaço de Banach e N um conjunto, para o


qual consideramos a medida de contagem / na 5 -álgebra de todas as partes
de N .
a) Uma vez que qualquer aplicação 0 À N Ä I é mensurável, o espaço
MensÐN ß IÑ vai ser simplesmente o conjunto das aplicações 0 À N Ä I tais
que a imagem 0 ÐN Ñ § I é separável (condição que é verificada, por
exemplo, se 0 ÐN Ñ for um conjunto contável).
b) Uma vez que o conjunto vazio g é o único subconjunto de N com medida
!, vemos que, para 0 ß s0 − MensÐN ß IÑ, tem-se Ò0 Ó œ Ò0s Ó em Q /8=ÐN ß IÑ se,
s
e só se, 0 œ 0 , por outras palavras, a aplicação natural
MensÐN ß IÑ Ä Q /8=ÐN ß IÑ, 0 È Ò0 Ó,

é um isomorfismo entre estes espaços vetoriais, que é encarado intuitiva-


mente como identificando estes espaços.
c) Para cada real " Ÿ :  _, notamos
j: ÐN ß IÑ § MensÐN ß IÑ
o subespaço vetorial cuja imagem pelo isomorfismo referido em b) é o
subespaço vetorial P: ÐN ß IÑ § Q /8=ÐN ß IÑ. Tendo em conta a caracteri-
zação do integral das funções positivas para a medida de contagem em
II.1.32 e a observação feita nesse resultado de que, sempre que um tal
integral é finito, a função é nula fora de uma parte contável do domínio,
concluímos que j: ÐN ß IÑ vai ser simplesmente o conjunto das aplicações
0 À N Ä I tais
" m0 Ð4Ñm:  _
4−N

e que tem lugar uma norma neste espaço vetorial, definida, por transporte por
meio do isomorfismo, por
250 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

m0 m: œ mÒ0 Óm: œ ˆ" m0 Ð4Ñm: ‰


"Î:
.
4−N

As propriedades deste espaço vetorial normado, em particular o facto de se


tratar de um espaço de Banach quando I é um espaço de Banach,
deduzem-se trivialmente, por isomorfismo, a partir das propriedades corres-
pondentes dos espaços P: Ð\ß IÑ.
d) Note-se que é mais comum representar os elementos de j: ÐN ß IÑ como
famílias ÐA4 Ñ4−N , em vez de aplicações, o que conduz a escrevermos

mÐA4 Ñ4−N m: œ ˆ" mA4 m: ‰


"Î:
,
4−N

e que no caso em que N œ , e portanto as famílias são sucessões, é costume


escrever simplesmente j: ÐIÑ, em vez de j: Ðß IÑ.

Na prática revela-se útil estender a definição dos espaços P: Ð\ß IÑ de


modo a permitir que : possa também tomar o valor _. Apesar dessa
definição ter uma caráter totalmente diferente da que é dada para o caso
em que " Ÿ :  _, ela vai permitir reconhecer semelhanças formais
em certos resultados, quando se interpreta de modo natural o papel de
_ no contexto das diferentes operações.

III.2.15 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e :À \ Ä ‘ uma aplicação


mensurável. Vamos dizer que + − ‘ é um majorante essencial de : se se
tem :ÐBÑ Ÿ + quase sempre. Tem-se então que o conjunto dos majorantes
essenciais de : admite um mínimo, a que daremos o nome de supremo
essencial de : e que notaremos supessÐ:Ñ, supess :ÐBÑ ou m:m_ , o qual é,
B−\
portanto, um elemento de ‘ .
Dem: A aplicação : admite, pelo menos, um majorante essencial, nomeada-
mente _. Seja + o ínfimo do conjunto dos majorantes essenciais. O
resultado ficará provado se verificarmos que + ainda é um majorante
essencial, para o que podemos já afastar o caso trivial em que + œ _. Ora,
para cada 8 − , vai existir um majorante essencial +8 tal que +8 Ÿ +  8" , e
portanto um conjunto mensurável ]8 § \ , com .Ð]8 Ñ œ !, tal que, para
cada B Â \ Ï ]8 ,
"
:ÐBÑ Ÿ +8 Ÿ +  .
8
Sendo ] œ - ]8 , tem-se ainda ] − ` e .Ð] Ñ œ ! e, para cada B − \ Ï ] ,
vem :ÐBÑ Ÿ +  8" , para todo o 8, portanto :ÐBÑ Ÿ +. Ficou assim provado
que + é ainda um majorante essencial, o que termina a demonstração. 
§2. Os espaços P: 251

Repare-se que, afastando o caso trivial em que \ œ g, se :À \ Ä ‘ é


uma aplicação mensurável, então todo o majorante + de : é naturalmente
também uma majorante essencial de :, o que implica que
supess :ÐBÑ Ÿ sup :ÐBÑ.
B−\ B−\

É fácil exibir exemplos em que a desigualdade anterior é estrita, uma vez


que modificando o valor de uma função num conjunto de medida nula não
altera os seus majorantes essenciais, nem portanto o supremo essencial,
mas pode alterar o seu supremo. Apresentamos em seguida duas situa-
ções, a primeira das quais susceptível de ser generalizada, em que
podemos garantir que o supremo essencial coincide com o supremo.

III.2.16 (Supremo essencial de uma aplicação contínua) Seja Y § ‘8 um


aberto, para o qual consideramos a restrição da medida de Lebesgue -8 aos
respetivos borelianos. Se :À Y Ä ‘ é uma função contínua, então os
majorantes essenciais de : coincidem com os majorantes de :, e portanto
supess :ÐBÑ œ sup :ÐBÑ.
B−Y B−Y

Dem: É claro que, se + é um majorante de :, então + é também um


majorante essencial de :. Suponhamos, por absurdo, que existia um
majorante essencial + de : que não fosse majorante, o que implicava, em
particular, que +  _. Existia então um conjunto mensurável ] com
-8 Ð] Ñ œ ! tal que, para cada B − Y Ï ] , :ÐBÑ Ÿ + e um ponto B! − Y tal
que :ÐB! Ñ  +. Pela continuidade de : em B! , podíamos então considerar
um aberto Z de ‘8 , com B! − Z § Y tal que, para cada B − Z , :ÐBÑ  +,
tendo-se então Z § ] , o que era absurdo, por ser -8 ÐZ Ñ  !, tendo em
conta a alínea b) de II.5.4. 
III.2.17 (Supremo essencial no caso da medida de contagem) Seja N um
conjunto, para o qual consideramos a medida de contagem / , na 5 -álgebra de
todos os subconjuntos de N . Uma vez que o conjunto vazio g é o único sub-
conjunto de N com medida !, vemos que, para cada aplicação :À N Ä ‘ ß
os majorantes essenciais + − ‘ de : coincidem com os seus majorantes, e
portanto
supess :Ð4Ñ œ sup :Ð4Ñ.
4−N 4−N

Os dois resultados seguintes constituem os análogos das desigualdades de


Hölder e Minkowsky (cf. III.1.17 e III.1.18), tendo, no entanto, demons-
trações muito mais simples. Lembrar que ; œ " pode ser olhado formal-
mente como o expoente conjugado de : œ _.
252 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

III.2.18 (Caso limite da desigualdade de Hölder) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço


de medida e :ß <À \ Ä ‘ duas funções mensuráveis. Tem-se então

( :ÐBÑ<ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ m:m_ ‚ m<m" .


\

Dem: Seja ] − ` com .Ð] Ñ œ ! tal que :ÐBÑ Ÿ m:m_ para cada
B − \ Ï ] . Para cada B − \ Ï ] tem-se então também
:ÐBÑ<ÐBÑ Ÿ m:m_ <ÐBÑ,
donde

( :ÐBÑ<ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( :ÐBÑ<ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( m:m_ <ÐBÑ . .ÐBÑ œ


\ \Ï] \Ï]

œ ( m:m_ <ÐBÑ . .ÐBÑ œ m:m_ ( <ÐBÑ . .ÐBÑ œ


\ \
œ m: m_ m< m" . 

III.2.19 (Caso limite da desigualdade de Minkowsky) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um


espaço de medida e :ß <À \ Ä ‘ duas funções mensuráveis. Tem-se então
m :  < m _ Ÿ m: m _  m< m_ .

Dem: Uma vez que se tem :ÐBÑ Ÿ m:m_ quase sempre e <ÐBÑ Ÿ m<m_
quase sempre, concluímos que se tem quase sempre simutaneamente as duas
desigualdades, portanto quase sempre
:ÐBÑ  <ÐBÑ Ÿ m:m_  m<m_ ,
o que significa que m:m_  m<m_ é um majorante essencial de :  <. O
facto de m:  <m_ ser o menor dos majorantes essenciais implica assim que
m :  < m _ Ÿ m : m _  m< m_ . 
III.2.20 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I um espaço de Banach.
Podemos então definir uma aplicação
Q /8=Ð\ß IÑ Ä ‘ , Ò0 Ó È mÒ0 Óm_ œ supess m0 ÐBÑm
B−\

e ficamos com um subespaço vetorial P_ Ð\ß IÑ de Q /8=Ð\ß IÑ,


constituído pelos Ò0 Ó tais que mÒ0 Óm_  _ e com uma norma m † m_ neste
espaço vetorial, definida por Ò0 Ó È mÒ0 Óm_ , norma essa que é a que se
considera implicitamente.121
Dem: O facto de a aplicação Ò0 Ó È mÒ0 Óm_ estar bem definida em
Q /8=Ð\ß IÑ resulta de que, se Ò0 Ó œ Ò1Ó, ou seja, se 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase

121Comparando com a definição em III.2.15, tem-se mÒ0 Óm œ m:m , onde :À \ Ä ‘


_ _ 
está definida por :ÐBÑ œ m0 ÐBÑm.
§2. Os espaços P: 253

sempre, então todos os majorantes essenciais de B È m0 ÐBÑm são majorantes


essenciais de B È m1ÐBÑm, e vice-versa, pelo que os respetivos supremos
essenciais coincidem. Dados Ò0 Óß Ò1Ó − P_ Ð\ß IÑ, tem-se m0 ÐBÑm Ÿ mÒ0 Óm_
quase sempre e m1ÐBÑm Ÿ mÒ1Óm_ quase sempre, portanto, quase sempre,
m0 ÐBÑ  1ÐBÑm Ÿ m0 ÐBÑm  m1ÐBÑm Ÿ mÒ0 Óm_  mÒ1Óm_ ,
por outras palavras, Ò0 Ó  Ò1Ó − P_ Ð\ß IÑ e mÒ0 Óm_  mÒ1Óm_ é um
majorante essencial de B È m0 ÐBÑ  1ÐBÑm, ou seja,
mÒ0 Ó  Ò1Óm_ Ÿ mÒ0 Óm_  mÒ1Óm_ .
Para além disso, se + é um escalar, tem-se quase sempre
m+ 0 ÐBÑm œ l+lm0 ÐBÑm Ÿ l+lmÒ0 Óm_ ß
portanto + Ò0 Ó − P_ Ð\ß IÑ e m+Ò0 Óm_ Ÿ l+lmÒ0 Óm_ , e daqui se deduz que é
mesmo m+Ò0 Óm_ œ l+lmÒ0 Óm_ , visto que a desigualdade oposta é trivial, se
+ œ !, e, caso contrário resulta de que podemos escrever, pela desigualdade
parcial já provada,
" "
l+lmÒ0 Óm_ œ l+lm ‚ +Ò0 Óm_ Ÿ l+ll lm+Ò0 Óm_ œ m+Ò0 Óm_ .
+ +
Por fim, se fosse mÒ0 Óm_ œ !, ! era um majorante essencial de m0 ÐBÑm,
portanto 0 ÐBÑ œ ! quase sempre, isto é, Ò0 Ó œ !. 
III.2.21 Tal como em III.2.7, um facto trivial que vale a pena referir é o de que,
nas condições de III.2.20, se ] § \ com ] − `, então a aplicação linear
de restrição
Q /8=Ð\ß IÑ Ä Q /8=Ð] ß IÑ, Ò0 Ó È Ò0 ÓÎ] œ Ò0Î] Ó,

aplica P_ Ð\ß IÑ em P_ Ð] ß IÑ e verifica mÒ0 ÓÎ] m_ Ÿ mÒ0 Óm_ , em particular


trata-se de uma aplicação linear contínua.
III.2.22 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I um espaço de Banach.
Tem-se então que o espaço vetorial normado P_ Ð\ß IÑ é um espaço de
Banach e, dados 0 − MensÐ\ß IÑ e uma sucessão Ð08 Ñ8− de elementos de
MensÐ\ß IÑ tais que Ò0 Ó − P_ Ð\ß IÑ, Ò08 Ó − P_ Ð\ß IÑ e Ò08 Ó Ä Ò0 Ó em
P_ Ð\ß IÑ, então 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ quase sempre.122
Dem: Uma vez que uma sucessão convergente é sempre uma sucessão de
Cauchy, o resultado ficará provado se mostrarmos que, para cada sucessão de
Cauchy de elementos Ò08 Ó − P_ Ð\ß IÑ, existe 0 − MensÐ\ß IÑ tal que
Ò0 Ó − P_ Ð\ß IÑ, 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ quase sempre e Ò08 Ó Ä Ò0 Ó em P_ Ð\ß IÑ.
Consideremos então uma tal sucessão de Cauchy. Quaisquer que sejam os
índices 7 e 8, o facto de se ter

122Nesteaspeto P_ Ð\ß IÑ comporta-se um pouco melhor que os espaços P: Ð\ß IÑ, com
" Ÿ : Ÿ _ (cf. III.2.9), uma vez que não é necessário considerar subsucessões.
254 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

m08 ÐBÑ  07 ÐBÑm Ÿ mÒ08 Ó  Ò07 Óm_


quase sempre implica a existência de um conjunto mensurável ]7ß8 , com
.Ð]7ß8 Ñ œ !, tal que m08 ÐBÑ  07 ÐBÑm Ÿ mÒ08 Ó  Ò07 Óm_ , para cada
B − \ Ï ]7ß8 . Seja ] a união de todos os conjuntos ]7ß8 , que é um conjunto
mensurável com .Ð] Ñ œ !. Para cada B − \ Ï ] , a sucessão dos 08 ÐBÑ é
uma sucessão de Cauchy de elementos de I , visto que, dado $  !, existe 8!
tal que, sempre que 7ß 8   8! , mÒ08 Ó  Ò07 Óm_  $ e então tem-se também
m08 ÐBÑ  07 ÐBÑm Ÿ mÒ08 Ó  Ò07 Óm_  $.
Podemos assim concluir que, para cada B − \ Ï ] , a sucessão dos 08 ÐBÑ
converge em I e isso permite-nos definir uma aplicação topologicamente
mensurável 0 À \ Ä I por

0 ÐBÑ œ œ
lim 08 ÐBÑ, se B Â ]
!, se B − ]

tendo-se, em particular, por construção, 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ quase sempre. Para


além disso, dado $  ! e escolhendo 8! como anteriormente, vemos que,
para cada B − \ Ï ] e 7   8! , passando ao limite em 8 a desigualdade
m08 ÐBÑ  07 ÐBÑm  $ , tem-se m0 ÐBÑ  07 ÐBÑm Ÿ $ , portanto $ é um
majorante essencial da aplicação que a B associa m0 ÐBÑ  07 ÐBÑm, o que
implica que Ò0 Ó  Ò07 Ó − P_ Ð\ß IÑ, portanto também
Ò0 Ó œ ÐÒ0 Ó  Ò07 ÓÑ  Ò07 Ó − P_ Ð\ß IÑ,
e que mÒ0 Ó  Ò07 Óm_ Ÿ $ . Ficou assim provado que Ò07 Ó Ä Ò0 Ó em
P_ Ð\ß IÑ. 

Os resultados III.2.12 e III.2.13 também admitem extensões aos casos


limites em que intervém a norma m † m_ .

III.2.23 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, com !  .Ð\Ñ  _ e " Ÿ :.


Tem-se então:
a) Se :À \ Ä ‘ é uma função mensurável, então
"
m:m: Ÿ .Ð\Ñ : m:m_ .

b) Se I um espaço de Banach tem-se P_ Ð\ß IÑ § P: Ð\ß IÑ e, para cada


Ò0 Ó − P_ Ð\ß IÑ,
"
mÒ0 Óm: Ÿ .Ð\Ñ : mÒ0 Óm_

(comparar com as desigualdades que se obtêm a partir daquelas em III.2.12,


substituindo formalmente ; por _).
Dem: Basta justificarmos a desigualdade em a), uma vez que b) resulta então
§2. Os espaços P: 255

de aplicar a) à função mensurável :ÐBÑ œ m0 ÐBÑm. Uma vez que se tem


quase sempre :ÐBÑ Ÿ m:m_ , portanto também quase sempre :ÐBÑ: Ÿ m:m_
:
,
concluímos que

( :ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( m:m_ . .ÐBÑ œ m:m_ .Ð\Ñ,


: : :
\ \
"
o que implica que m:m: Ÿ .Ð\Ñ m:m_ .
: 
III.2.24 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e " Ÿ : Ÿ <. Tem-se então:
a) Se :À \ Ä ‘ é uma função mensurável, então
m:m< Ÿ maxÖm:m: ß m:m_ ×.

b) Se I é um espaço de Banach
P: Ð\ß IÑ  P_ Ð\ß IÑ § P< Ð\ß IÑ
e, para cada Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ  P_ Ð\ß IÑß
mÒ0 Óm< Ÿ maxÖmÒ0 Óm: ß mÒ0 Óm_ ×

(comparar com as desigualdades que se obtêm a partir daquelas em III.2.13,


substituindo formalmente ; por _).
Dem: Podemos afastar o caso trivial em que : œ < e basta justificarmos a
desigualdade em a), uma vez que b) resulta então de aplicar a) à função
mensurável :ÐBÑ œ m0 ÐBÑm. O facto de se ter :ÐBÑ Ÿ m:m_ quase sempre
implica que se tem também
:ÐBÑ< œ :ÐBÑ: :ÐBÑ<: Ÿ :ÐBÑ: m:m<:
_

quase sempre, donde

( :ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( :ÐBÑ m:m_ . .ÐBÑ œ


< : <:
\ \
œ m:m<:
_ m: m: Ÿ
:

Ÿ maxÖm:m: ß m:m_ ×<: ‚ maxÖm:m: ß m:m_ ×: œ


œ maxÖmÒ0 Óm: ß mÒ0 Óm_ ×<

e portanto

m:m< œ Š( :ÐBÑ< . .ÐBÑ‹ Ÿ maxÖm:m: ß m:m_ ×.


"
<

\

III.2.25 (O espaço j_ ) Sejam I um espaço de Banach e N um conjunto, para o


qual consideramos a medida de contagem / na 5 -álgebra de todas as partes
de N . No seguimento do que dissémos em III.2.14, notamos
j_ ÐN ß IÑ § MensÐN ß IÑ
256 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

o subespaço vetorial cuja imagem pelo isomorfismo natural é o subespaço


vetorial P_ ÐN ß IÑ § Q /8=ÐN ß IÑ, espaço vetorial onde temos uma norma,
definida por transporte, por
m0 m_ œ mÒ0 Óm_ œ supess m0 Ð4Ñm Ÿ sup m0 Ð4Ñm,
4−N 4−N

e as propriedades deste espaço vetorial normado, em particular o facto de se


tratar de um espaço de Banach quando I é um espaço de Banach,
deduzem-se trivialmente, por isomorfismo, das correspondentes propriedades
de P_ ÐN ß IÑ.
Observe-se que, em geral, e ao contrário do que acontecia com os espaços
j: ÐN ß IÑ com " Ÿ :  _, não podemos afirmar que j_ ÐN ß IÑ seja
constituído por todas as aplicações 0 À N Ä I tais que sup m0 Ð4Ñm  _,
4−N
mas apenas por aquelas que, além disso, são tais que 0 ÐN Ñ § I seja
separável. Esta condição suplementar não precisa, no entanto, de ser explici-
tamente exigida, por ser verificada automaticamente, em dois casos particu-
lares, frequentes na pática: Aquele em que N é contável, e aquele em que o
espaço de Banach I é, ele próprio, separável.

O resultado que examinamos em seguida é um teorema de densidade em


P: Ð\ß IÑ que não é válido no caso limite : œ _.

III.2.26 (Teorema de densidade) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I


um espaço de Banach. Vamos notar W>Ð\ß IÑ § Q /8=Ð\ß IÑ o conjunto
das classes de equivalência Ò0 Ó com 0 À \ Ä I aplicação em escada
(cf. II.2.16)123, conjunto que constitui trivialmente um subespaço vetorial.
Para cada real : com " Ÿ :  _, tem-se então que W>Ð\ß IÑ é um subes-
paço vetorial denso do espaço de Banach P: Ð\ß IÑ.124
Dem: Se 0 À \ Ä I é uma aplicação em escada, podemos considerar uma
família finita Ð\4 Ñ4−N de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois e de
união \ tal que em cada \4 a aplicação 0 tome o valor constante A4 − I e
sabemos que, sendo N! o conjunto dos índices 4 tais que .Ð\4 Ñ  _,
tem-se então A4 œ !, para cada 4 − N Ï N! . Sendo " Ÿ :  _, tem-se
então que a função \ Ä ‘ , B È m0 ÐBÑm: é simples, tomando o valor
constante mA4 m: em cada \4 , pelo que

( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ " .Ð\4 Ñ mA4 m œ " .Ð\4 Ñ mA4 m  _.


: : :
\ 4−N 4−N!

123A designação inglesa para as aplicações em escada é “step maps”.


124Apesar de W>Ð\ß IÑ também estar trivialmente contido em P_ Ð\ß IÑ, não podemos
afirmar, em geral, que seja denso neste espaço. Ver, a propósito o exercício III.2.6, mais
adiante.
§2. Os espaços P: 257

Provámos assim que W>Ð\ß IÑ § P: Ð\ß IÑ.


Seja agora Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ. Tendo em conta II.2.29, podemos considerar
uma sucessão de aplicações simples 08 À \ Ä I tais que, para cada B − \ ,
m08 ÐBÑm Ÿ #m0 ÐBÑm e 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ. Para cada 8 − , 08 é uma aplicação
em escada, e portanto Ò08 Ó − W>Ð\ß IÑ, uma vez que, sendo Ð\4 Ñ4−N uma
partição adaptada a 08 (cf. II.2.17), com 08 a tomar o valor constante A4 em
\4 , do facto de se ter

" .Ð\4 Ñ mA4 m: œ ( m08 ÐBÑm: . .ÐBÑ Ÿ #: ( m0 ÐBÑm: . .ÐBÑ  _


4−N \ \

podemos concluir que A4 œ ! para cada 4 − N Ï N! . Em particular, tem-se


Ò08 Ó − P: Ð\ß IÑ e de se ter, para cada B − \ , m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm: Ä !, com
m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm: Ÿ Ðm08 ÐBÑm  m0 ÐBÑmÑ: Ÿ $: m0 ÐBÑm: ,
e

( $ m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ $ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  _,


: : : :
\ \

deduzimos, pelo teorema da convergência dominada, que

mÒ08 Ó  Ò0 Óm: œ Š( m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm: . .ÐBÑ‹ Ä !,


"
:

portanto que Ò08 Ó Ä Ò0 Ó em P: Ð\ß IÑ. 

No caso em que, no contexto do resultado precedente, a 5 -álgebra ` é a


gerada por um seminanel f de partes de \ onde . toma valores finitos e é
5-finita, é por vezes útil considerar um conjunto mais pequeno de aplica-
ções em escada, que é ainda um subespaço vetorial, tal que o correspon-
dente conjunto das classes de equivalência é ainda denso em P: Ð\ß IÑ.

III.2.27 Sejam \ um conjunto, f um semianel de partes de \ e I um espaço de


Banach. Vamos dizer que uma aplicação 0 À \ Ä I é f-simples se existir
uma família finita ÐF4 Ñ4−N de conjuntos de f disjuntos dois a dois tal que
para cada B − F4 , 0 ÐBÑ tenha um valor constante A4 e que 0 ÐBÑ œ !, para
cada B não pertencente à união F dos F4 .
Um contexto frequente em que se aplica a definição precedente é aquele em
que Ð\ß `ß .Ñ é um espaço de medida, e o seminanel f está contido em `
e é tal que .ÐFÑ  _ para cada F − f . Tendo em conta II.2.22, com a
família formada pelos F4 e por \ Ï F , vemos que, nesse contexto, uma
aplicação f -simples é, em particular, uma aplicação em escada.
III.2.28 (Propriedades algébricas das aplicações f -simples) Sejam \ um
conjunto, f um semianel de partes de \ e I um espaço de Banach. Então
258 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

a) Se 0 À \ Ä I e 1À \ Ä I são duas aplicações f -simples, então existe


uma família finita ÐF4 Ñ4−N de conjuntos de f disjuntos dois a dois tal que
para cada B − F4 , 0 ÐBÑ e 1ÐBÑ tenham valores constantes A4 e D4 e que
0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ œ !, para cada B não pertencente à união F dos F4 .
b) A classe das aplicações f -simples 0 À \ Ä I é um subespaço vetorial do
espaço de todas as aplicações \ Ä I .
Dem: a) Consideremos duas famílias finitas de conjuntos de f , em cada uma
disjuntos dois a dois, ÐE4 Ñ4−N e ÐF5 Ñ5−O tais que 0 ÐBÑ œ A4 para cada
B − E4 , e 1ÐBÑ œ D5 para cada B − F5 e que, notando E e F as uniões dos
E4 e dos F5 , respectivamente, 0 ÐBÑ œ ! para cada B  E e 1ÐBÑ œ ! para
cada B Â F . Tendo em conta I.3.6, para cada 4 − N , E4 Ï F é a união de uma
família finita de conjuntos disjuntos dois a dois G4ß3 − f e para cada 5 − O ,
F5 Ï E é a união de uma família finita de conjuntos disjuntos dois a dois
H5ß3 − f . Podemos então considerar a família finita de conjuntos de f
disjuntos dois a dois constituída pelos E4  F5 , onde 0 ÐBÑ e 1ÐBÑ tomam os
valores constantes A4 e D5 , pelos G4ß3 , onde 0 ÐBÑ e 1ÐBÑ tomam os valores
constantes A4 e !, e pelos H5ß3 , onde 0 ÐBÑ e 1ÐBÑ tomam os valores constan-
tes ! e D5 e constatamos que 0 ÐBÑ e 1ÐBÑ tomam os valores constantes ! fora
da união finita de todos estes conjuntos de f , o que mostra que esta família
finita verifica as condições pedidas.
b) A aplicação identicamente ! é em f -escada, como se constata se
considerarmos a família vazia de conjuntos de f ou, alternativamente, uma
família formada por um único conjunto g. É imediato que, se 0 À \ Ä I é
uma aplicação em f -escada, o mesmo acontece a +0 , para cada escalar +. Por
fim, se 0 ß 1À \ Ä I são duas aplicações em f -escada, então, considerando
uma família finita ÐF4 Ñ4−N de conjuntos de f nas condições de a), vemos que
0 ÐBÑ  1ÐBÑ œ A4  D4 para B − F4 e que 0 ÐBÑ  1ÐBÑ œ !, para cada B não
pertencente à união F dos F4 . 
III.2.29 (Lema de densidade) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, f § `
um semianel 5 -total (cf. I.4.3) com .ÐFÑ  _ para cada F − f , e I um
espaço de Banach. Suponhamos ainda que ` é a 5 -álgebra gerada por f .
Para cada E − `, com .ÐEÑ  _, e cada $  ! existe então uma família

F œ -F4 ,
finita ÐF4 Ñ4−M de conjuntos de f disjuntos dois a dois tais que, sendo

( lˆE ÐBÑ  ˆF ÐBÑl . .ÐBÑ  $.


\

Dem: Tendo em conta o facto de . ser o prolongamento de Hahn da sua


restrição a f (cf. I.4.12) e a caracterização desse prolongamento em I.4.8,

disjuntos dois a dois tal que E § - F4 e


podemos considerar uma família contável ÐF4 Ñ4−N de conjuntos de f
§2. Os espaços P: 259

" .ÐF4 Ñ  .ÐEÑ  .


$
(1)
4−N
#

Seja M § N finito tal que

" .ÐF4 Ñ  Š" .ÐF4 Ñ‹  ,


$
4−M 4−N
#

isto é,

" .ÐF4 Ñ 
$
(2) .
4−N ÏM
#

Seja F a união dos F4 , com 4 − M .


Tendo em conta as fórmulas (1) e (2), vem

.ÐF Ï EÑ Ÿ .Š. F4 Ï E‹ œ ".ÐF4 Ñ  .ÐEÑ 


$
,
4−N 4−N
#

.ÐE Ï FÑ Ÿ .Š. F4 Ï F ‹ œ .Š. F4 ‹ 


$
4−N 4−N ÏM
#

e, reparando que, para cada B − \ ,


lˆE ÐBÑ  ˆF ÐBÑl œ ˆEÏF ÐBÑ  ˆFÏE ÐBÑ

(examinar o que sucede em cada um dos quatro casos que resultam de B


poder pertencer ou não a E e pertencer ou não a F ), deduzimos que

( lˆE ÐBÑ  ˆF ÐBÑl . .ÐBÑ œ ( ˆEÏF ÐBÑ  ˆFÏE ÐBÑ . .ÐBÑ œ


\ \
œ .ÐE Ï FÑ  .ÐF Ï EÑ  $. 

III.2.30 (Segundo teorema de densidade) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de


medida, f § ` um semianel 5 -total com .ÐFÑ  _ para cada F − f , e
I um espaço de Banach. Suponhamos ainda que ` é a 5 -álgebra gerada por
f. Para cada real : com " Ÿ :  _, tem-se então que o conjunto
Wf Ð\ß IÑ § W>Ð\ß IÑ, das classes de equivalência Ò0 Ó de aplicações
f-simples 0 À \ Ä I , é um subespaço vetorial denso do espaço de Banach
P: Ð\ß IÑ.
Dem: Tendo em conta o teorema de densidade III.2.26, basta mostrarmos
que toda a classe de equivalência Ò0 Ó − W>Ð\ß IÑ é aderente em P: Ð\ß IÑ a
Wf Ð\ß IÑ e, uma vez que a aderência de um subespaço vetorial é ainda um
subespaço vetorial e que, como foi referido em II.2.18, toda a aplicação em
escada 0 À \ Ä I é uma soma finita de aplicações da forma B È ˆE ÐBÑ A,
com A Á !, E − ` e .ÐEÑ  _, bastará ainda mostrarmos que a classe
260 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

de equivalência de uma aplicação desta forma é aderente a Wf Ð\ß IÑ.


Consideremos então $  ! arbitrário. Tendo em conta o lema III.2.29,
podemos considerar uma família finita ÐF4 Ñ4−M de conjuntos de f disjuntos
dois a dois tal que, sendo F a sua união,

( lˆE ÐBÑ  ˆF ÐBÑl . .ÐBÑ 


$:
.
\ mAm:
Reparamos agora que a aplicação \ Ä I , B È ˆF ÐBÑA, é uma aplicação em
f-escada, por tomar o valor constante A em cada F4 − W e ser nula fora da
sua união F e que se tem

( mˆE ÐBÑA  ˆF ÐBÑAm . .ÐBÑ œ ( lˆE ÐBÑ  ˆF ÐBÑlmAm . .ÐBÑ  $ ,


: : :
\ \

o que implica que

mÒˆE A  ˆF Am: œ Š( lˆE ÐBÑ  ˆF ÐBÑl: . .ÐBÑ‹


"Î:
 $,
\

como queríamos. 

No remanescente desta secção e na próxima vamos utilizar de modo


essencial a definição e propriedades básicas dos espaços de Hilbert, isto é,
dos espaços vetoriais, reais ou complexos, munidos de produto interno e
que são completos para a norma associada a esse produto interno. O leitor
que não se sinta à vontade com estes poderá consultar qualquer texto
básico de Análise Funcional, por exemplo [9].

notamos ØAß DÙ o produto interno de dois vetores de I e mAm œ ÈØAß AÙ a


III.2.31 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e I um espaço de Hilbert, onde

norma associada. Tem-se então que a correspondente norma m † m# do espaço


de Banach P# Ð\ß IÑ é a associada a um produto interno deste espaço,
nomeadamente o definido por

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ,


\

para Ò0 Óß Ò1Ó − P Ð\ß IÑ. Em particular P# Ð\ß IÑ com este produto interno,
#

que é o que se considera implicitamente, é um espaço de Hilbert.


Dem: Notemos Š, igual a ‘ ou ‚, o corpo dos escalares de I . Se
0 ß 1 − MensÐ\ß IÑ, são tais que Ò0 Óß Ò1Ó − P# Ð\ß IÑ, vem topologicamente
mensurável, por II.2.9, a aplicação \ Ä Š, que a B associa Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ, e,
pela desigualdade de Cauchy-Schwarz,
lØ0 ÐBÑß 1ÐBÑÙl Ÿ m0 ÐBÑmm1ÐBÑm Ÿ m0 ÐBÑm#  m1ÐBÑm#
(para a segunda desigualdade, reparar que m0 ÐBÑmm1ÐBÑm é menor ou igual a
§2. Os espaços P: 261

uma das duas parcelas do segundo membro, nomeadamente a correspondente


ao maior dos dois numeros m0 ÐBÑm e m1ÐBÑm), pelo que

( l Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙl . .ÐBÑ Ÿ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  ( m1ÐBÑm . .ÐBÑ  _,


# #
\ \ \

e portanto a aplicação topologicamente mensurável acima referida é mesmo


integrável. Verificamos agora facilmente que fica bem definida uma apli-
cação
P# Ð\ß IÑ ‚ P# Ð\ß IÑ Ä Š,
ÐÒ0 Óß Ò1ÓÑ È ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ ..ÐBÑ,
\

(isto é, que o integral não se altera quando se substitui 0 e 1 por aplicações


topologicamente mensuráveis iguais quase sempre a estas) e que esta
aplicação é linear na primeira variável e antilinear na segunda e verifica a
condição ØÒ1Óß Ò0 ÓÙ œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ.125 Reparamos agora que

mÒ0 Óm# œ Š( m0 ÐBÑm# . .ÐBÑ‹ œ Ë( Ø0 ÐBÑß 0 ÐBÑÙ . .ÐBÑ œ


"
#

œ ÈØÒ0 Óß Ò0 ÓÙ,
\ \

pelo que, uma vez que já sabemos que a aplicação Ò0 Ó È mÒ0 Óm# é uma
norma, concluímos que temos um produto interno, cuja norma associada é a
norma m † m# . O facto de termos um espaço de Hilbert resulta de que já
sabemos que P# Ð\ß IÑ, com a norma m † m# , é completo. 
III.2.32 Como casos particulares muito frequentes na prática, temos aqueles em
que o espaço de Banach I é ‘ ou ‚, com os produtos internos definidos
respetivamente por Ø+ß ,Ù œ +, e por Ø+ß ,Ù œ + ,, casos em que obtemos
respetivamente as seguintes fórmulas para os produtos internos de P# ÐIß ‘Ñ
e P# ÐIß ‚Ñ,

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( 0 ÐBÑ 1ÐBÑ ..ÐBÑ,


\

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( 0 ÐBÑ 1ÐBÑ ..ÐBÑ.


\

III.2.33 No mesmo espírito que em III.2.14, no caso em que I é um espaço de


Hilbert e N é um conjunto, a norma m † m# em j# ÐN ß IÑ provém de um
produto interno, nomeadamente o definido por

125No caso em que o corpo dos escalares é ‘, consideramos “antilinear” como sinónimo
de “linear”, tal como interpretamos, mais geralmente, o conjugado + de um real + como
sendo o próprio +.
262 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Ø0 ß 1Ù œ " Ø0 Ð4Ñß 1Ð4ÑÙ,


4−N

e portanto j# ÐN ß IÑ é também um espaço de Hilbert.

Tendo em vista aplicações adiante, examinamos agora o modo trivial


como uma multiplicação contínua envolvendo três espaços de Banach
induz uma multiplicação contínua envolvendo espaços do tipo P: corres-
pondentes. Começamos, para isso, por uma aplicação simples da desigual-
dade de Hölder, envolvendo funções positivas.

III.2.34 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e :ß <À \ Ä ‘ aplicações


mensuráveis e consideremos a correspondente aplicação mensurável
: ‚ <À \ Ä ‘ . Tem-se então
a) Se :  ", ;  " e <   " são números reais tais que :"  "; œ "< , tem-se

m : ‚ < m < Ÿ m: m: ‚ m< m; .

b) Tem-se
m : ‚ < m _ Ÿ m: m _ ‚ m< m_ .

c) Se :   " é um número real, então


m : ‚ < m : Ÿ m: m _ ‚ m< m: .
" "
Dem: a) Tem-se :Î<  ;Î< œ ", em particular :Î<  " e ;Î<  " pelo que,
aplicando a desigualdade de Hölder (cf. III.1.17) às funções mensuráveis
B È :ÐBÑ< e B È <ÐBÑ< , obtemos

( Ð:ÐBÑ<ÐBÑÑ . .ÐBÑ Ÿ
<
\

Ÿ Š( Ð:ÐBÑ< Ñ:Î< . .ÐBÑ‹ Š( Ð<ÐBÑ< Ñ;Î< . .ÐBÑ‹


<Î: <Î;

\ \

e portanto

m: ‚ <m< œ Š( Ð:ÐBÑ<ÐBÑÑ< . .ÐBÑ‹


"Î<
Ÿ
\

Ÿ Š( :ÐBÑ: . .ÐBÑ‹ Š( <ÐBÑ; . .ÐBÑ‹


"Î: "Î;
œ m:m: ‚ m<m; .
\ \

b) Uma vez que :ÐBÑ Ÿ m:m_ quase sempre e <ÐBÑ Ÿ m<m_ quase sempre,
tem-se :ÐBÑ ‚ <ÐBÑ Ÿ m:m_ ‚ m<m_ quase sempre, donde a desigualdade.
c) O mais simples é talvez adapatar a demonstração de III.2.18, que não é
mais do que o caso particular : œ " do enunciado. Ora, sendo ] − ` com
.Ð] Ñ œ ! tal que :ÐBÑ Ÿ m:m_ para cada B − \ Ï ] , tem-se. para cada
§2. Os espaços P: 263

B − \Ï],
:ÐBÑ: <ÐBÑ: Ÿ m:m_
:
<ÐBÑ: ,
donde

( Ð:ÐBÑ<ÐBÑÑ . .ÐBÑ œ (
:
Ð:ÐBÑ<ÐBÑÑ: . .ÐBÑ Ÿ
\ \Ï]

Ÿ( m:m:_ <ÐBÑ: . .ÐBÑ œ


\Ï]

œ m:m:_ ( <ÐBÑ: . .ÐBÑ


\

e portanto

m: ‚ <m: œ Š( Ð:ÐBÑ<ÐBÑÑ: . .ÐBÑ‹


"Î:
Ÿ m: m_ m< m: . 
\

III.2.35 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida. Sejam J ß Kß L três espaços de


Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear contínua, que encaramos
como uma “multiplicação”, notando, para cada A − J e D − K ,
A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L
(comparar com II.2.9). Seja Q   ! tal que, para cada C − J e D − K se
tenha m0ÐCß DÑm Ÿ Q mCmmDm. 126 Tem-se então:
a) Dadas aplicações topologicamente mensuráveis 0 À \ Ä J e 1À \ Ä K , é
também topologicamente mensurável a aplicação 0 ‚ 1À \ Ä L definida
por 0 ‚ 1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ e fica então bem definida uma aplicação
bilinear
Q /8=Ð\ß J Ñ ‚ Q /8=Ð\ß KÑ Ä Q /8=Ð\ß LÑ
ÐÒ0 Óß Ò1ÓÑ È Ò0 Ó ‚ Ò1Ó œ Ò0 ‚ 1Ó.

b) Se :  ", ;  " e <   " são números reais tais que :"  "; œ "< , obtém-se,
por restrição da aplicação bilinear em a), uma aplicação bilinear contínua
P: Ð\ß J Ñ ‚ P; Ð\ß KÑ Ä P< Ð\ß LÑ,
que verifica
mÒ0 Ó ‚ Ò1Óm< Ÿ Q mÒ0 Óm: mÒ1Óm; .

c) Por restrição da aplicação bilinear em a), obtém-se uma aplicação bilinear


contínua

126A existência de um tal Q é um resultado bem conhecido de topologia (cf., por


exemplo [9]).
264 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

P_ Ð\ß J Ñ ‚ P_ Ð\ß KÑ Ä P_ Ð\ß LÑ,


que verifica
mÒ0 Ó ‚ Ò1Óm_ Ÿ Q mÒ0 Óm_ mÒ1Óm_ .

d) Se :   " é um número real, obtém-se, por restrição da aplicação bilinear


em a), duas aplicações bilineares contínuas
P_ Ð\ß J Ñ ‚ P: Ð\ß KÑ Ä P: Ð\ß LÑ,
P: Ð\ß J Ñ ‚ P_ Ð\ß KÑ Ä P: Ð\ß LÑ,

que verificam respetivamente


mÒ0 Ó ‚ Ò1Óm: Ÿ Q mÒ0 Óm_ mÒ1Óm: ß
mÒ0 Ó ‚ Ò1Óm: Ÿ Q mÒ0 Óm: mÒ1Óm_

Dem: a) O facto de 0 ‚ 1À \ Ä L ser topologicamente mensurável já foi


estabelecido em II.2.9 e o facto de termos uma aplicação bem definida,
ÐÒ0 Óß Ò1ÓÑ È Ò0 ‚ 1Ó resulta de que, se 0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ quase sempre e
1ÐBÑ œ s1ÐBÑ quase sempre, então 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ œ s0 ÐBÑ ‚ s1ÐBÑ quase sempre.
A bilinearidade da aplicação referida é de verificação trivial.
b) Temos uma consequência da alínea a) de III.2.34, uma vez que, pondo
:ÐBÑ œ m0 ÐBÑm e <ÐBÑ œ m1ÐBÑm, vem

mÒ0 Ó ‚ Ò1Óm< œ Š( m0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑm< ‹ Ÿ Š( Q < Ð:ÐBÑ<ÐBÑÑ< ‹


"Î< "Î<
œ
\ \
œ Q m: ‚ <m< Ÿ Q m:m: m<m; œ Q mÒ0 Óm: mÒ1Óm; Þ

c) Temos uma consequência da alínea b) de III.2.34, uma vez que, pondo


:ÐBÑ œ m0 ÐBÑm e <ÐBÑ œ m1ÐBÑm, vem, para cada B − \
m0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑm Ÿ Q :ÐBÑ<ÐBÑ
e portanto, quase sempre
m0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑm Ÿ Q m: ‚ <m_ Ÿ Q m:m_ m<m_ œ Q mÒ0 Óm_ mÒ1Óm_ .

d) Examinamos apenas a primeira restrição referida, uma vez que a segunda


tem uma justificação análoga ou, alternativamente, resulta de aplicar a
primeira, considerando a aplicação bilinear K ‚ J Ä L , ÐDß AÑ È 0ÐAß DÑ.
Temos, neste caso, uma consequência da alínea c) de III.2.34, uma vez que,
pondo :ÐBÑ œ m0 ÐBÑm e <ÐBÑ œ m1ÐBÑm, vem

mÒ0 Ó ‚ Ò1Óm: œ Š( m0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑm: ‹ Ÿ Š( Q : Ð:ÐBÑ<ÐBÑÑ: ‹


"Î: "Î:
œ
\ \
œ Q m: ‚ <m: Ÿ Q m:m_ m<m: œ Q mÒ0 Óm_ mÒ1Óm: Þ 
§2. Os espaços P: 265

Exercícios

Ex III.2.1 Mostrar que, apesar de em III.2.5 termos apenas definido P: Ð\ß IÑ,
como espaço vetorial normado, no caso em que :   ", é possível definir,
mais geralmente, mas apenas como subespaços vetoriais de Q /8=Ð\ß IÑ, os

classes de equivalência Ò0 Ó tais que '\ m0 ÐBÑm: . .ÐBÑ  _.


espaços P: Ð\ß IÑ, com :  !, pelo condição de os seus elementos serem as

Sugestão: Utilizar e justificar a desigualdade Ð+  ,Ñ: Ÿ #: Ð+:  ,: Ñ, para


+   ! e ,   !.
Ex III.2.2 Sejam N um conjunto e I um espaço de Banach.
a) Mostrar que se " Ÿ :  _, então j: ÐN ß IÑ § j_ ÐN ß IÑ e, para cada
0 − j: ÐN ß IÑ, m0 m_ Ÿ m0 m: (reparar que temos uma inclusão no sentido
contrário ao da obtida, para os espaços P: Ð\ß IÑ e P_ Ð\ß IÑ, no caso em
que .Ð\Ñ  _, em III.2.23).
b) Deduzir de a) que, se " Ÿ : Ÿ ; , tem-se j: ÐN ß IÑ § j; ÐN ß IÑ e, para cada
0 − j: Ð\ß IÑ, m0 m; Ÿ m0 m: (reparar que temos uma inclusão no sentido
contrário ao da obtida, para os espaços P: Ð\ß IÑ e P; Ð\ß IÑ, no caso em
que .Ð\Ñ  _, em III.2.12). Sugestão: Ter em conta III.2.24.
c) No caso caso em que N é um conjunto finito com R elementos, mostrar
que os espaços j: ÐN ß IÑ, com " Ÿ : Ÿ _, coincidem todos com o conjunto
de todas as aplicações 0 À N Ä I e que as diferentes normas m † m: são todas
equivalentes. Para cada par destas normas encontrar constantes que permitam
majorar cada uma delas por um múltiplo da outra.
Ex III.2.3 a) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de Banach e
" Ÿ : Ÿ _. Sejam 08 À \ Ä I topologicamente mensuráveis, tais que
Ò08 Ó − P: Ð\ß IÑ e que exista 0 À \ Ä I topologicamente mensurável com
08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ quase sempre. Mostrar que, se a sucessão dos elementos Ò08 Ó
for convergente em P: Ð\ß IÑ, então Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ e Ò0 Ó é o limite em
P: Ð\ß IÑ daquela sucessão. Sugestão: Ter em conta a alínea b) III.2.9, no
caso em que :  _, e III.2.22, no caso em que : œ _.
b) Considerando a medida de Lebesgue nos borelianos de ‘, dar um exemplo
de uma sucessão de elementos de P: Ð‘ß ‘Ñ, com uma sucessão de
representantes convergindo em todos os pontos para o representante de um
elemento de P: Ð‘ß ‘Ñ e que não convirja neste espaço normado.
Sugestão: O limite pode ser ! e para funções pode-se tomar funções
indicatrizes de conjuntos convenientes.
c) Considerar no conjunto dos pares Ð8ß 3Ñ − ™ ‚ ™, tais que 8 −  e
! Ÿ 3  8, a ordem lexicográfica usual e reparar que, como se verifica
facilmente, existe uma única bijeção estritamente crescente 0 de  sobre
aquele conjunto de pares. Para cada um daqueles pares Ð8ß 3Ñ, seja
266 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

0Ð8ß3Ñ À ‘ Ä ‘ a função indicatriz do intervalo Ò 83 ß 3"


8 Ó. Para cada 5 − , seja
05 À ‘ Ä ‘ a função 00Ð5Ñ . Mostrar que, para cada " Ÿ :  _, a sucessão
dos Ò05 Ó converge para Ò!Ó em P: Ð‘ß ‘Ñ e que, apesar disso, não é verdade
que 05 ÐBÑ convirja para ! quase sempre.
Ex III.2.4 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida, I um espaço de Banach e
" Ÿ :ß ; Ÿ _. Sejam 08 À \ Ä I topologicamente mensuráveis, tais que
Ò08 Ó − P: Ð\ß IÑ  P; Ð\ß IÑ e que existam Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ e Ò0 sÓ −
; s Ó, em P Ð\ß IÑ e em P Ð\ß IÑ,
P Ð\ß IÑ com Ò08 Ó Ä Ò0 Ó e Ò08 Ó Ä Ò0 : ;

respectivamente. Mostrar que Ò0 Ó œ Ò0s Ó, em particular Ò0 Ó pertence a


: ;
P Ð\ß IÑ  P Ð\ß IÑ. Sugestão: Ter em conta a alínea b) III.2.9 e III.2.22.
Ex III.2.5 (m:m_ como um limite) Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida e seja
:À \ Ä ‘ uma aplicação mensurável.
a) Se m:m_ œ !, reparar que se tem trivialmente m:m: œ !, para todo o
!  :  _.
b) Se m:m_ œ _, mostrar que
lim m:m: œ _.
:Ä_

Sugestão: Fixado V  !, considerar o conjunto ] dos pontos B − \ tais que


:ÐBÑ  V  ", reparar que .Ð] Ñ  !, mostrar que
m:m:   ÐV  "Ñ.Ð] Ñ"Î:

e concluir que, para : suficientemente grande, m:m:  V .


c) Se !  m:m_  _ e .Ð\Ñ  _, mostrar que, como em a) e b),
lim m:m: œ m:m_ .
:Ä_

Sugestão: Mostrar, por um lado, que, para cada :,


m:m: Ÿ m:m_ .Ð\Ñ"Î: ,

onde .Ð\Ñ"Î: Ä ", e, por outro lado, fixado $  !, considerar o conjunto ]


dos pontos B − \ tais que :ÐBÑ  m:m_  $ Î#, reparar que .Ð] Ñ  !,
mostrar que
m:m:   Ðm:m_  $ Î#Ñ.Ð] Ñ"Î:

e concluir que, para : suficientemente grande, m:m:  m:m_  $ .


c') Suponhamos, como em c), que !  m:m_  _ mas, em vez da
hipótese .Ð\Ñ  _, suponhamos a existência de !  <  _ tal que
m:m<  _. Mostrar que, ainda neste caso,
lim m:m: œ m:m_ .
:Ä_

Sugestão: Considerar uma nova medida .w , já com .w Ð\Ñ  _, definida


§2. Os espaços P: 267

por

.w ÐEÑ œ ( :ÐBÑ< . .ÐBÑ,


E

assinalar com uma linha as normas relativas a esta medida, mostrar que
m:mw_ œ m:m_ (utilizar a última observação em II.1.28) e reparar que, para
cada :  <,
:<
m:m: œ Ðm:mw:< Ñ : .

Ex III.2.6 a) Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida com .Ð\Ñ œ _ e seja


I Á Ö!× um espaço de Banach. Mostrar que W>Ð\ß IÑ não é denso em
P_ Ð\ß IÑ (comparar com III.2.26). Sugestão: Considerar uma aplicação
0 À \ Ä I de valor constante A Á !.
b) Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida com .Ð\Ñ  _ e seja I um
espaço de Banach de dimensão finita. Mostrar que W>Ð\ß IÑ é denso em
P_ Ð\ß IÑ. Sugestão: Ter em conta o exercício II.2.10.
Ex III.2.7 (Lema de Riemann-Lebesgue) Sejam I um espaço de Banach,
+ − ‘ fixado e 0 À ‘ Ä I uma aplicação integrável.
a) Mostrar que se pode definir uma aplicação :À ‘ Ä I por

:Ð>Ñ œ ( 0 Ð=Ñ sinÐ>=  +Ñ .=


e que se tem lim :Ð>Ñ œ !.


>Ä_
Sugestão: Começar por estabelecer o resultado, calculando efetivamente o
integral, no caso em que 0 é o produto por um vector de I da função
indicatriz de um intervalo Ó,ß -Ó, com ,  - em ‘, e deduzir daí que o
resultado é ainda válido no caso em que 0 é uma aplicação simples de
intervalo, isto é, uma aplicação f -simples, onde f é o semianel dos
intervalos daquele tipo. Utilizar então o teorema de densidade em III.2.30
para concluir o resultado para uma aplicação integrável 0 arbitrária.
b) Deduzir de a) que se tem também lim <Ð>Ñ œ !, onde
>Ä_

<Ð>Ñ œ ( 0 Ð=Ñ cosÐ>=  +Ñ .=.


Sugestão: Reparar que cosÐ>=  +Ñ œ sinÐ>=  +  1Ñ.


c) Deduzir de a) e b) que, no caso em que I é um espaço de Banach
complexo, a transformada de Fourier s0 À ‘ Ä I de 0 , definida no exercício
II.6.5, verifica a condição lim s0 ÐCÑ œ !, conclusão que complementa a da
CÄ_
alínea a) do referido exercício.
268 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

§3. Decomposição de Lebesgue e teorema de Radon-Nikodym.

III.3.1 Dado um espaço de medida Ð\ß `ß .Ñ, diz-se que uma nova medida
.
sÀ ` Ä ‘ é .-absolutamente contínua se se tem . sÐEÑ œ ! para cada
E − ` tal que .ÐEÑ œ !.127
III.3.2 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida. Relembremos que, como vimos
em II.1.22, a cada função mensurável :À \ Ä ‘ fica associada uma nova
medida .Ð:Ñ definida na mesma 5 -álgebra ` por

.Ð:Ñ ÐEÑ œ ( :ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ ( :ÐBшE ÐBÑ . .ÐBÑ,


E \

a qual é .-absolutamente contínua.


III.3.3 Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida 5 -finito. Tem-se então:
a) Se :À \ Ä ‘ é uma função mensurável, então a correspondente medida
.Ð:Ñ À ` Ä ‘ é também 5 -finita.
b) Sejam :ß <À \ Ä ‘ duas funções mensuráveis. Tem-se então
.Ð:Ñ ÐEÑ Ÿ .Ð<Ñ ÐEÑ, para todo o E − ` se, e só se, :ÐBÑ Ÿ <ÐBÑ quase
sempre.
c) Em particular, tem-se .Ð:Ñ œ .Ð<Ñ se, e só se, :ÐBÑ œ <ÐBÑ quase sempre,
isto é, Ò:Ó œ Ò<Ó em Q /8=Ð\ß ‘Ñ.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
1) Vamos mostrar que, se :À \ Ä ‘ é uma função mensurável, então a
medida .Ð:Ñ À ` Ä ‘ é 5 -finita.

.Ð\4 Ñ  _ e \ œ -\4 . Para cada 4 − N e 8 − , seja \4ß8 − `,


Subdem: Seja Ð\4 Ñ4−N uma família contável de conjuntos de ` com

\4ß8 œ ÖB − \4 ± :ÐBÑ Ÿ 8×.

Tem-se então que \ é a união da família contável dos conjuntos \4ß8 , 4 − N


e 8 − , para os quais se tem

.Ð:Ñ Ð\4ß8 Ñ œ ( :ÐBÑ ..ÐBÑ Ÿ ( 8 ..ÐBÑ œ 8.Ð\4ß8 Ñ Ÿ 8.Ð\4 Ñ  _


\4ß8 \4ß8

o que mostra que .Ð:Ñ é efetivamente 5 -finita.


2) Suponhamos que :ß <À \ Ä ‘ são aplicações mensuráveis tais que
:ÐBÑ Ÿ <ÐBÑ quase sempre. Mostremos que, para cada E − `, tem-se
.Ð:Ñ ÐEÑ Ÿ .Ð<Ñ ÐEÑ.

127Para uma explicação para este nome, ver a conclusão do exercício I.2.6, válida com a
restrição de a medida .
s ser finita.
§3. Decomposição de Lebesgue e teorema de Radon-Nikodym 269

Subdem: Para cada E − `, tem-se


:ÐBшE ÐBÑ Ÿ <ÐBшE ÐBÑ
quase sempre, donde

.Ð:Ñ ÐEÑ œ ( :ÐBшE ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( <ÐBшE ÐBÑ . .ÐBÑ œ .Ð<Ñ ÐEÑ.
\ \

3) Suponhamos, reciprocamente, que, para cada E − `, .Ð:Ñ ÐEÑ Ÿ .Ð<Ñ ÐEÑ.


Vamos mostrar que :ÐBÑ Ÿ <ÐBÑ quase sempre.
Subdem: Uma vez que já verificámos que .Ð:Ñ é 5 -finita, consideremos

-E5 œ \ . Para cada 5 − O , seja F5 − `,


uma família contável ÐE5 Ñ5−O de conjuntos E5 − ` com .Ð:Ñ ÐE5 Ñ  _ e

F5 œ ÖB − E5 ± <ÐBÑ  :ÐBÑ× œ ÖB − E5 ± :ÐBÑ  <ÐBÑ  !×.


Tem-se então

( <ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ .Ð:Ñ ÐF5 Ñ Ÿ .Ð<Ñ ÐE5 Ñ  _,


F5 F5

o que mostra que as restrições a F5 das funções : e < são integráveis, como
funções F5 Ä ‘. Mas, por hipótese,

( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ .Ð:Ñ ÐF5 Ñ Ÿ .Ð<Ñ ÐF5 Ñ œ ( <ÐBÑ . .ÐBÑ


F5 F5

e portanto tem-se mesmo

( <ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ.


F5 F5

Uma vez que <ÐBÑ  :ÐBÑ, para cada B − F5 , deduzimos de II.2.44 que se

Podemos agora considerar F œ - F5 , tendo-se F − `, .ÐFÑ œ ! e, para


tem <ÐBÑ œ :ÐBÑ quase sempre em F5 , o que implica que se tem .ÐF5 Ñ œ !.

5−O
cada B − \ Ï F , tem-se B − E5 Ï F5 , para algum 5 , donde :ÐBÑ Ÿ <ÐBÑ.
Ficou assim provado que :ÐBÑ Ÿ <ÐBÑ quase sempre.
4) O que vimos em 2) e 3) prova a conclusão de b). Para provarmos c) basta
agora termos em conta b) e o facto de se ter .Ð:Ñ œ .Ð<Ñ se, e só se, para cada
E − `, .Ð:Ñ ÐEÑ Ÿ .Ð<Ñ ÐEÑ e .Ð<Ñ ÐEÑ Ÿ .Ð:Ñ ÐEÑ e de se ter :ÐBÑ œ <ÐBÑ
quase sempre se, e só se, :ÐBÑ Ÿ <ÐBÑ quase sempre e <ÐBÑ Ÿ :ÐBÑ quase
sempre. 

O lema que apresentamos em seguida, e que se baseia numa ideia


utilizada numa demonstração no livro de Rudin [10], mostra que para
cada medida 5 -finita pode-se encontrar uma função mensurável estrita-
mente positiva cuja medida associada seja finita. Ele pode ser útil em
270 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

situações em que se pretende generalizar às medidas 5 -finitas resultados


conhecidos para as medidas finitas (cf., por exemplo as demonstrações
dos resultados III.3.9 e III.7.26 adiante).

III.3.4 (Lema de Rudin) Seja Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida 5 -finita. Existe


então uma medida finita .w À ` Ä ‘ e uma função mensurável
3À \ Ä Ó!ß _Ò tais que .w œ .Ð3Ñ , tendo-se então, para cada E − `,
.w ÐEÑ œ ! se, e só se .ÐEÑ œ !.
Dem: Podemos já afastar o caso trivial em que a medida . é mesmo finita,
caso em que tomamos simplesmente .w œ . e para 3 a função de valor
constante ". Seja Ð\4 Ñ4−N uma família contável de conjuntos de ` com
.Ð\4 Ñ  _ e com união igual a \ , podendo já supor-se, pelo lema I.2.11,
que estes conjuntos são disjuntos dois a dois. Uma vez que .Ð\Ñ Á !, e
portanto os .Ð\4 Ñ não podem ser todos nulos, podemos também supor que se
tem .Ð\4 Ñ  ! para cada 4, se necessário substituindo um dos \4 de medida
não nula pela sua união com todos aqueles que têm medida nula e deixando

números $4  ! tal que ! $4 Ÿ " (cf. o lema I.3.10) e definamos uma


então de considerar estes últimos. Consideremos uma família Ð$4 Ñ4−N de

4−N
$4
aplicação mensurável 3À \ Ä Ó!ß _Ò pela condição de se ter 3ÐBÑ œ .Ð\4 Ñ ,
para cada B − \4 . Considerando a medida .w œ .Ð3Ñ À ` Ä ‘ , tem-se
.w ÐEÑ œ !, sempre que E − ` verifica .ÐEÑ œ ! e vem

.w Ð\Ñ œ ( 3ÐBÑ . .ÐBÑ œ " ( . .ÐBÑ œ " $4 Ÿ ",


$4
\ 4−N \4 .Ð\4 Ñ 4−N

o que mostra que .w é uma medida finita. Por fim, se .w ÐEÑ œ !, vem

! œ ( 3ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( ˆE ÐBÑ3ÐBÑ . .ÐBÑ,


E \

o que implica que ˆE ÐBÑ3ÐBÑ œ ! quase sempre, donde, por ser 3ÐBÑ  !,
.ÐEÑ œ !. 
III.3.5 Seja Ð\ß `Ñ um espaço mensurável. Diz-se que duas medidas . e . s,
definidas em `, são mutuamente singulares, ou que . s é .-singular, se
existir F − ` com .ÐFÑ œ ! tal que . sÐ\ Ï FÑ œ !. Repare-se que,
considerando \ Ï F no lugar de F , constatamos que . s e . são então também
mutuamente singulares, e portanto . é . s-singular.
Se Ð\ß `ß .Ñ é um espaço de medida e . sÀ ` Ä ‘ é uma segunda medida,
chama-se decomposição de Lebesgue de . s (relativamente a .) a um par
ordenado de medidas Ð. s+ ß .
s= Ñ, definidas em `, tal que . s+ seja .-absolu-
tamente contínua, .
s= seja .-singular e . sœ. s+  .
s= .
III.3.6 Repare-se que a medida identicamente nula .s œ ! é simultaneamente
.-absolutamente contínua e .-singular (tomar F œ gÑ. Reciprocamente, se
§3. Decomposição de Lebesgue e teorema de Radon-Nikodym 271

uma medida . s é simultaneamente .-absolutamente contínua e .-singular,


então .
s œ !.
Dem: Sendo F − ` com .ÐFÑ œ ! e . sÐ\ Ï FÑ œ !, tem-se .sÐFÑ œ !, e
portanto
.
sÐ\Ñ œ .
sÐFÑ  .
sÐ\ Ï FÑ œ !. 

III.3.7 (Unicidade da decomposição de Lebesgue) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um


espaço de medida e Ð.s+ ß .
s= Ñ uma decomposição de Lebesgue de uma medida
.
sÀ ` Ä ‘ . Sendo F − ` tal que .ÐFÑ œ ! e . s= Ð\ Ï FÑ œ !, tem-se
então, para cada E − `,
.
s+ ÐEÑ œ .
sÐE Ï FÑ, .
s= ÐEÑ œ .
sÐE  FÑ.
Em consequência, se Ð. s+ ß . s+w ß .
s = Ñ e Ð. s=w Ñ são duas decomposições de
Lebesgue duma mesma medida . sÀ ` Ä ‘ , então . sw+ e .
s+ œ . s= œ .sw= .
Dem: O facto de . s+ ser .-absolutamente contínua implica que . s+ ÐFÑ œ !.
Para cada E − `, E é a união dos conjuntos disjuntos E  F e E Ï F que
pertencem a ` e estão respetivamente contidos em F e em \ Ï F , em
particular verificam . s+ ÐE  FÑ œ ! e . s= ÐE Ï FÑ œ !, e portanto, por ser
.
sœ. s+  .s= , vem
.
s+ ÐEÑ œ .
s+ ÐE  FÑ  .
s+ ÐE Ï FÑ œ .
s+ ÐE Ï FÑ  .
s= ÐE Ï FÑ œ .
sÐE Ï FÑ,
.
s= ÐEÑ œ .
s= ÐE  FÑ  .
s= ÐE Ï FÑ œ .
s= ÐE  FÑ  .
s+ ÐE  FÑ œ .
sÐE  FÑ.
No caso em que Ð. s+ ß . s+w ß .
s = Ñ e Ð. s=w Ñ são duas decomposições de Lebesgue
duma mesma medida . sÀ ` Ä ‘ , podemos considerar Fß F w − ` com
w
.ÐFÑ œ !, .ÐF Ñ œ !, . s= Ð\ Ï FÑ œ ! e . s=w Ð\ Ï F w Ñ œ ! e então, sendo
ww w
F œ F  F , tem-se ainda .ÐF Ñ œ !, . ww
s= Ð\ Ï F ww Ñ œ ! e .s=w Ð\ Ï F ww Ñ œ !
pelo que, pelo que vimos atrás, para cada E − `
.
s+ ÐEÑ œ . sw+ ÐEÑ,
sÐE Ï F ww Ñ œ .
.
s= ÐEÑ œ . ww
sÐE  F Ñ œ . s=w ÐEÑ. 

Seguindo o caminho atribuído a von Neumann em [10], vamos agora


provar, no contexto das medidas 5 -finitas, ao mesmo tempo a existência
de uma decomposição de Lebesgue e o teorema de Radon-Nikodym, que
garante que as medidas .-absolutamente contínuas são apenas as da forma
.Ð:Ñ , com :À \ Ä ‘ mensurável. Começamos por examinar o caso em
que as medidas envolvidas são mesmo finitas.

III.3.8 (Lema — O caso particular das medidas finitas) Seja Ð\ß `ß .Ñ um


espaço de medida com .Ð\Ñ  _. Seja . sÀ ` Ä ‘ uma medida tal que
.
sÐ\Ñ  _. Tem-se então:
a) (Lebesgue) Existe uma decomposição de Lebesgue Ð. s+ ß .
s= Ñ de .
s,
relativamente a ., necessariamente única, por III.3.7.
272 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

b) (Radon-Nikodym) No caso em que . s é .-absolutamente contínua, existe


uma aplicação mensurável :À \ Ä ‘ tal que . s œ .Ð:Ñ .
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
1) Notemos .À ` Ä ‘ a medida . œ . s  .. Tem-se .Ð\Ñ  _ e, para
cada E − `, . sÐEÑ Ÿ .ÐEÑ e, se .sÐEÑ œ .ÐEÑ, então .ÐEÑ œ !.
Subdem: O facto de se ter .Ð\Ñ  _ resulta de ser .Ð\Ñ  _ e
sÐ\Ñ  _. Para cada E − `, a igualdade .ÐEÑ œ .
. sÐEÑ  .ÐEÑ implica
que .
sÐEÑ Ÿ .ÐEÑ e que, se . sÐEÑ œ .ÐEÑ, então .ÐEÑ œ !.
2) Vamos mostrar a existência de uma função mensurável <À \ Ä ‘ , com
Ò<Ó − P#. Ð\ß ‘Ñ § P". Ð\ß ‘Ñ (cf. II.2.12, onde o índice . indica qual a
medida que se considera) tal que, para cada Ò2Ó − P#. Ð\ß ‘Ñ § P". Ð\ß ‘Ñ,

( 2ÐBÑ . .
sÐBÑ œ ( <ÐBÑ 2ÐBÑ . .ÐBÑ,
\ \

em particular, para cada E − `,

sÐEÑ œ ( <ÐBÑ . .ÐBÑ.


.
E

Subdem: Tendo em conta III.2.31, consideremos o espaço de Hilbert


real P#. Ð\ß ‘Ñ, das classes de equivalência Ò2Ó, com 2À \ Ä ‘ mensurável e
' l2ÐBÑl# . .ÐBÑ  _, com o produto interno definido por
\

s œ ( 2ÐBÑ 2ÐBÑ
ØÒ2Óß Ò2ÓÙ s . .ÐBÑ.
\

Para cada Ò2Ó − P#. Ð\ß ‘Ñ, podemos escrever, tendo em conta a desigualdade
de Cauchy-Schwarz128,

( l2ÐBÑl . .
sÐBÑ Ÿ ( l2ÐBÑl . .ÐBÑ œ ( l2ÐBÑl ‚ " . .ÐBÑ Ÿ
\ \ \
"
Ÿ mÒ2Óm# mÒ"Óm# œ .Ð\Ñ # mÒ2Óm# ,
em particular 2 é integrável relativamente à medida .
se

l( 2ÐBÑ . .
sÐBÑl Ÿ ( l2ÐBÑl . .
"
sÐBÑ Ÿ .Ð\Ñ # mÒ2Óm# .
\ \

Fica assim bem definida uma aplicação linear contínua 0À P#. Ð\ß ‘Ñ Ä ‘ por

0ÐÒ2ÓÑ œ ( 2ÐBÑ . .
sÐBÑ.
\

Pelo teorema da representação de Riesz, sobre funcionais lineares contínuos

128Ou, o que é o mesmo, a desigualdade de Hölder para os expoentes conjugados : œ # e


; œ #.
§3. Decomposição de Lebesgue e teorema de Radon-Nikodym 273

num espaço de Hilbert, vai existir Ò1Ó − P#. Ð\ß ‘Ñ § P". Ð\ß ‘Ñ tal que, para
cada Ò2Ó − P#. Ð\ß ‘Ñß 0ÐÒ2ÓÑ œ ØÒ1Óß Ò2ÓÙ, isto é

( 2ÐBÑ . .
sÐBÑ œ ( 1ÐBÑ 2ÐBÑ . .ÐBÑ.
\ \

Para cada E − `, podemos tomar na igualdade anterior


Ò2Ó œ ÒˆE Ó − P._ Ð\ß ‘Ñ § P#. Ð\ß ‘Ñ

e obtemos

sÐEÑ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ.


.
E

Apesar de a função mensurável 1À \ Ä ‘ poder tomar valores menores que


!, notando Ew − ` o conjunto dos B − \ tais que 1ÐBÑ  !, vemos que

sÐEw Ñ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( ! . .ÐBÑ œ !,


!Ÿ.
Ew Ew

donde 'Ew 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ 'Ew ! . .ÐBÑ o que, por II.2.44, implica que 1ÐBÑ œ !
.-quase sempre em Ew , isto é, .ÐEw Ñ œ !. Podemos assim definir uma nova
função mensurável < À \ Ä ‘ por

<ÐBÑ œ œ
!, se B − Ew
1ÐBÑ, se B Â Ew

para a qual se tem <ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre, pelo que < verifica as
propriedades enunciadas.
3) Consideremos uma função mensurável <À \ Ä ‘ verificando as condi-
ções enunciadas em 2) e notemos F œ ÖB − \ ± <ÐBÑ   "×. Tem-se então
F − ` e .ÐFÑ œ !.
Dem: Uma vez que " Ÿ <ÐBÑ, para cada B − F , podemos escrever

.ÐFÑ œ ( " . .ÐBÑ Ÿ ( <ÐBÑ . .ÐBÑ œ .


sÐFÑ
F F

e portanto, por ser .ÐFÑ œ . sÐFÑ  .ÐFÑ, com .ÐFÑ  _, vem
.ÐFÑ œ !.
4) Podemos definir medidas .
s+ ß .
s= À ` Ä ‘ por
.
s+ ÐEÑ œ .
sÐE Ï FÑ, .
s= ÐEÑ œ .
sÐE  FÑ,
tendo-se que . sœ. s+  .
s= e .
s= é .-singular.
Subdem: A verificação de que . s+ e .
s= são efetivamente medidas pode
ser feita facilmente de modo direto, mas podemos também reparar que não
temos mais que as medidas imagem direta das restrições de . s aos conjuntos
mensuráveis \ Ï F e F pelas inclusões destes conjuntos em \ (cf. I.5.13).
274 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Para cada E − `, E é a união dos conjuntos mensuráveis disjuntos E Ï F e


E  F, pelo que
.
sÐEÑ œ .
sÐE Ï FÑ  .
sÐE  FÑ œ .
s+ ÐEÑ  .
s= ÐEÑ.
O facto de .
s= ser .-singular, resulta de se ter .ÐFÑ œ ! e
.
s= Ð\ Ï FÑ œ .
sÐgÑ œ !.
5) Seja :À \ Ä ‘ a função mensurável definida por

:ÐBÑ œ  "<ÐBÑ
<ÐBÑ
, se B Â F
.
!, se B − F

Vamos mostrar que se tem . s+ œ .Ð:Ñ , o que mostrará, em particular, que .


sÐ+Ñ
é .-absolutamente contínua e terminará a prova de a).
Subdem: Tendo em conta o facto de se ter . œ . s  ., a conclusão de
2) diz-nos que, para cada Ò2Ó − P#. Ð\ß ‘Ñ,

( 2ÐBÑ . .
sÐBÑ œ ( <ÐBÑ 2ÐBÑ . .
sÐBÑ  ( <ÐBÑ 2ÐBÑ . .ÐBÑ,
\ \ \

portanto

( Ð"  <ÐBÑÑ 2ÐBÑ . .


sÐBÑ œ ( <ÐBÑ 2ÐBÑ . .ÐBÑ.
\ \

Fixado E − ` podemos, para cada 8 − , tomar na igualdade anterior para


2À \ Ä ‘ a função mensurável definida por

2ÐBÑ œ 
"<ÐBÑ8
"<ÐBÑ , se B − E Ï F
,
!, se B Â E Ï F

para a qual se tem Ò2Ó − P#. Ð\ß ‘Ñ, uma vez que para cada B − E Ï F
"  <ÐBÑ8
2ÐBÑ œ œ "  <ÐBÑ  â  <ÐBÑ8" Ÿ 8.
"  <ÐBÑ
Obtemos então

( sÐBÑ œ (
"  <ÐBÑ8 . . :ÐBÑÐ"  <ÐBÑ8 Ñ . .ÐBÑ
EÏF EÏF

e portanto, uma vez que, par cada B − E Ï F , os "  <ÐBÑ8 constituem uma
sucessão crescente convergente para ", o teorema da convergência monótona
e o facto de ser .Ð:Ñ ÐE  FÑ Ÿ .Ð:Ñ ÐFÑ œ ! implica que
§3. Decomposição de Lebesgue e teorema de Radon-Nikodym 275

. sÐE Ï FÑ œ (
s+ ÐEÑ œ . sÐBÑ œ (
" .. :ÐBÑ . .ÐBÑ œ
EÏF EÏF
œ .Ð:Ñ ÐE Ï FÑ œ .Ð:Ñ ÐE Ï FÑ  .Ð:Ñ ÐE  FÑ œ .Ð:Ñ ÐEÑ.

6) Para justificar b), basta atender à igualdade .


s+ œ .Ð:Ñ , reparando que, se
.
s é . -absolutamente contínua então a decomposição de Lebesgue de . séa
definida por . œ .
s+ s s= e . œ ! . 
III.3.9 (O caso geral das medidas 5 -finitas) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço de
mensurável e .ß .sÀ ` Ä ‘ duas medidas 5 -finitas. Tem-se então:
a) (Lebesgue) Existe uma decomposição de Lebesgue Ð. s+ ß .
s= Ñ de .
s, relativa-
mente a ., necessariamente única, por III.3.7.
b) (Radon-Nikodym) No caso em que . s é .-absolutamente contínua, existe
uma aplicação mensurável :À \ Ä ‘ tal que . s œ .Ð:Ñ .
Dem: Tendo em conta o lema de Rudin em III.3.4, podemos considerar duas
s w À ` Ä ‘ e 3 ß s
medidas finitas .w ß . 3À \ Ä Ó!ß _Ò aplicações mensurá-
w
veis tais que . œ .Ð3Ñ e . sw œ . sÐs3Ñ , tendo-se então, para cada E − `,
.w ÐEÑ œ ! se, e só se, .ÐEÑ œ ! e . sw ÐEÑ œ ! se, e só se, . sÐEÑ œ !.
a) Aplicando a alínea a) de III.3.8, deduzimos a existência de uma medida
.w -absolutamente contínua . sw+ À ` Ä ‘ e de uma medida .w -singular
w
.
s= À ` Ä ‘ tais que, para cada E − `, . sw ÐEÑ œ . s+w ÐEÑ  .sw= ÐEÑ.
Consideremos as medidas . s+ ß .
s= À ` Ä ‘ definidas por

s+ ÐEÑ œ ( s= ÐEÑ œ (
" "
. sw+ ÐBÑ,
.. . s=w ÐBÑ.
..
E 3
s ÐBÑ E 3
s ÐBÑ
Se E − ` verifica .ÐEÑ œ !, tem-se também .w ÐEÑ œ !, donde . sw+ ÐEÑ œ !,
o que implica, por definição, que . s+ ÐEÑ œ 0. Provámos assim que a medida
.
s+ é . -absolutamente contínua. Seja agora F − `, com .w ÐFÑ œ !, tal que
w
.
s= Ð\ Ï FÑ œ ! . Tem-se então . ÐFÑ œ !e

s= Ð\ Ï FÑ œ (
"
. s=w ÐBÑ œ !,
..
\ÏF 3
sÐBÑ

o que mostra que .


s= é .-singular. Uma vez que para cada E − `

s= ÐEÑ œ ( s+w ÐBÑ  (


" "
.
s+ ÐEÑ  . .. sw= ÐBÑ œ
..
E 3
s ÐBÑ E 3
s ÐBÑ
œ( sw= ÑÐBÑ œ (
" "
.Ð.sw+  . sw ÐBÑ œ
..
3ÐBÑ
E s 3ÐBÑ
E s

œ(
"
3ÐBÑ . .
s sÐBÑ œ . sÐEÑ,
E 3
sÐBÑ
concluímos que Ð. s+ ß .
s= Ñ é efetivamente uma decomposição de Lebesgue de
.
s relativamente a ..
b) Suponhamos agora que . s é .-absolutamente contínua. Tem-se então que
276 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

sw é .w -absolutamente contínua, visto que, se E − ` verifica .w ÐEÑ œ !,


.
então .ÐEÑ œ !, donde . sÐEÑ œ !, e portanto . sw ÐEÑ œ !. Aplicando a alínea
b) de III.3.8, deduzimos a existência de uma aplicação mensurável
:w À \ Ä ‘ tal que .sw œ .Ðw :w Ñ . Considerando então a aplicação mensurável
:À \ Ä ‘ definida por
3ÐBÑ:w ÐBÑ
:ÐBÑ œ ,
3
sÐBÑ
vemos que, para cada E − `,

.Ð:Ñ ÐEÑ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 3ÐBÑ . .ÐBÑ œ (


:w ÐBÑ :w ÐBÑ w
. . ÐBÑ œ
E E s 3ÐBÑ 3ÐBÑ
E s

œ( sw ÐBÑ œ (
" "
.. 3ÐBÑ . .
s sÐBÑ œ .
sÐEÑ,
E 3
s ÐBÑ E 3
s ÐBÑ
o que mostra que se tem efetivamente .
s œ .Ð:Ñ . 

Exercícios

Ex III.3.1 Seja - a medida de Lebesgue nos borelianos de ‘. Seja E § ‘ um


boreliano não contável, mas com -ÐEÑ œ ! (para um exemplo, ver a alínea
d) do exercício I.4.10 ou considerar o conjunto de Cantor G no exercício
I.4.11). Seja Ð!B ÑB−‘ a família de elementos de ‘ definida por

!B œ œ
", se B − E
!, se B Â E

e seja .
s a restrição aos borelianos de ‘ da medida associada a esta família
pelo método descrito em I.2.14, isto é, a definida por

sÐFÑ œ " !B .
.
B−F

Verificar que a medida .


s é --singular, mas não é 5 -finita.
Ex III.3.2 Seja - a medida de Lebesgue nos borelianos de ‘. Seja 0 À ‘ Ä ‘ a
função crescente e contínua à direita definida por
0 ÐBÑ œ B$  8,
para cada B − Ò8ß 8  "Ò (8 − ™Ñ e seja .0 a medida de Lebesgue-Stieltjes
nos borelianos de ‘ associada a 0 . Determinar a decomposição de Lebesgue
de .0 como soma de uma medida --singular com uma medida --absoluta-
mente contínua, assim como uma função mensurável :À ‘ Ä ‘ tal que a
§3. Decomposição de Lebesgue e teorema de Radon-Nikodym 277

parcela .-absolutamente contínua seja igual a -Ð:Ñ .


Sugestão: Lembrar II.3.11.
Ex III.3.3 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e ." ß .# e . s três medidas
definidas em ` tais que ." e .
s sejam mutuamente singulares e .# e .
s sejam
mutuamente singulares. Mostrar que ."  .# e .
s são mutuamente singulares.

§4. Medidas de Radon em localmente compactos.

A medida de Lebesgue nos borelianos de ‘8 , que encontrámos atrás na


secção 5 do capítulo II, tem algumas propriedades topológicas impor-
tantes que não tivémos ainda a ocasião de examinar. Constata-se que essas
propriedades são válidas em contextos mais gerais, em que, no lugar ‘8 ,
podemos considerar um espaço topológico localmente compacto, sepa-
rado e de base contável e, no lugar da medida de Lebesgue, podemos
considerar uma classe importante de medidas, as medidas de Radon. É
nesse contexto mais geral que nos colocamos nesta secção.
O leitor que quiser evitar o grau de generalidade em que nos colocamos
poderá considerar que o espaço topológico é um aberto de ‘8 ou, mais
geralmente, de um espaço vetorial de dimensão finita, situação que cons-
titui um dos exemplos mais importantes de aplicação. Ficará, no entanto,
impedido de aplicar o que vai ser estudado a situações igualmente
importantes, como o caso das curvas e superfícies e, mais geralmente, das
subvariedades de dimensão 7 de um espaço vetorial de dimensão 8.

III.4.1 Seja \ um espaço topológico localmente compacto, separado e de base


contável e seja U\ a 5 -álgebra dos borelianos de \ . Vamos chamar medida
de Radon sobre \ a uma medida .À U\ Ä ‘ tal que .ÐOÑ  _, para
cada compacto O § \ .129
III.4.2 (Caracterização alternativa das medidas de Radon) Seja \ um espaço
topológico localmente compacto, separado e de base contável e seja U\ a
5-álgebra dos borelianos de \ . Uma medida .À U\ Ä ‘ é uma medida de
Radon se, e só se, para cada B − \ , existe uma vizinhança Z de B com
.ÐZ Ñ  _ (condição que se costuma exprimir dizendo que . é uma
medida localmente finita).
Dem: Toda a medida de Radon é localmente finita, uma vez que, para cada
B − \ , podemos considerar uma vizinhança compacta Z de B, a qual vai
portanto verificar a condição .ÐZ Ñ  _. Suponhamos, reciprocamente,

129Alguns autores, como Halmos [6], usam em vez de “medida de Radon” a designação
“medida de Borel”. Note-se também que a definição de medida de Radon poderia ter sido
dada sem a exigência do espaço ter base contável, mas essa exigência vai importante para
a maioria dos resultados que vamos estabelecer.
278 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

que a medida . é localmente finita e consideremos um compacto O § \


arbitrário. Para cada B − O , existe assim uma vizinhança ZB de B com
.ÐZB Ñ  _. Uma vez que a família dos interiores intÐZB Ñ constitui uma
cobertura aberta de O , a propriedade das coberturas dos compactos implica a

intÐZB Ñ com B − N , em particular O § - ZB , o que implica que


existência de uma parte finita N de O tal que O esteja contido na união dos

B−N

.ÐOÑ Ÿ " .ÐZB Ñ  _.


B−N

Ficou assim provado que . é uma medida de Radon. 


III.4.3 (Exemplos) a) A medida de Lebesgue - nos borelianos de ‘ ou, mais
geralmente, a medida de Lebesgue -8 nos borelianos de ‘8 , é uma medida
de Radon (cf. a alínea a) de II.5.4, uma vez que os compactos são limitados).
Do mesmo modo as medidas de Lebesgue-Stieltjes -1 , nos borelianos de um
intervalo aberto não vazio N , (cf. I.4.11) são medidas de Radon, uma vez que
qualquer compacto contido em N está contido num intervalo semiaberto com
extremidades em N .
b) Se \ é um conjunto contável, sobre o qual consideramos a topologia dis-
creta, \ é um espaço topológico localmente compacto, separado e de base
contável, a 5 -álgebra dos borelianos é constituída por todos os subconjuntos
de \ e a medida de contagem / é uma medida de Radon sobre \ (uma vez
que os compactos são finitos).
III.4.4 Em geral, se .À U\ Ä ‘ é uma medida de Radon sobre o espaço
topológico localmente compacto, separado e de base contável \ e se ] § \
é um subconjunto aberto ou um subconjunto fechado de \ , então ] , com a
topologia induzida, é também um espaço topológico localmente compacto,
separado e de base contável e a restrição de . à 5 -álgebra U] œ U\ Î] dos
borelianos de ] é uma medida de Radon sobre ] .

Examinamos em seguida um resultado sobre a regularidade das medidas


de Radon nos espaços topológicos localmente compactos, separados e de
base contável. Começamos por examinar um lema onde estabelecemos
duas propriedades dos espaços topológicos localmente compactos e sepa-
rados que teremos ocasião de aplicar adiante.

III.4.5 (Lema topológico) Sejam \ um espaço topológico localmente compacto


e separado e Y um aberto de \ . Tem-se então:
a) Se O § Y é um compacto, então existe um aberto Y w e um compacto O w
tais que
O § Y w § Ow § Y .
b) Se \ é de base contável, então existe uma sucessão crescente de compac-
tos O8 § Y (O8 § O8" , para cada 8 − ), tal que Y seja a união dos
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 279

interiores dos O8 , em particular, Y œ - O8 .


Dem: a) Para cada B − O , seja GB uma vizinhança compacta de B tal que
GB § Y e seja YB o interior de GB . Os conjuntos YB são portanto abertos de
\ cuja união contém O pelo que a compacidade de O garante a existência
de uma parte finita N de O tal que O esteja contido na união finita dos YB ,
com B − N . Chamando Y w a essa união, Y w vai ser um aberto de \ contendo
O , que está contido num compacto O w de \ contido em Y , a saber, a união
finita dos GB , com B − N .
b) Seja ÐY8 Ñ8− uma base contável de abertos de \ . Seja N §  o conjunto
dos 8 −  tais que exista um compacto O8w com Y8 § O8w § Y e, para cada
8 − N , escolhamos um compacto O8w nas condições anteriores. Para cada
8 − , consideremos o compacto contido em Y ,
O8 œ . O7
w

7−N
7Ÿ8

(união finita de compactos, eventualmente vazia). Por construção, os O8


constituem uma sucessão crescente de compactos contidos em Y e a união
dos interiores dos O8 é Y , uma vez que, para cada B − Y , podemos
considerar uma vizinhança compacta G de B contida em Y , e portanto um
índice 8 −  tal que B − Y8 § intÐGÑ, o que implica que 8 − N , e portanto
B − Y8 § O8w § O8 ,
em particular B é interior a O8 . 
III.4.6 (Regularidade das medidas de Radon) Sejam \ um espaço topológico
localmente compacto, separado e de base contável, U\ a 5 -álgebra dos
borelianos de \ e .À \ Ä ‘ uma medida de Radon. Tem-se então:
a) A medida . é 5 -finita;
b) (Regularidade exterior) Para cada boreliano E − U\ , .ÐEÑ é o ínfimo
dos .ÐY Ñ, com Y aberto de \ com E § Y ;
c) (Regularidade interior) Para cada boreliano E − U\ , .ÐEÑ é o supremo
dos .ÐOÑ, com O compacto de \ com O § E.
d) (Variante de b) e c)) Para cada boreliano E − U\ e cada $  !, existe um
aberto Y ¨ E e um fechado G § E tais que .ÐY Ï EÑ  $ e .ÐE Ï GÑ  $ .
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes, cada uma com a sua
demonstração:
1) Tendo em conta a alínea b) do lema III.4.5, \ é união de uma família de
compactos ÐO8 Ñ8− que, por definição, verificam .ÐO8 Ñ  _, o que
mostra que a medida . é 5 -finita, e temos a conclusão de a).
2) Vamos mostrar que, para cada aberto Y § \ , .ÐY Ñ é o supremo dos
.ÐOÑ, com O compacto de \ tal que O § Y .130

130Ou seja, a propriedade c) é verificada no caso em que o boreliano E é um conjunto


aberto.
280 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Subdem: Uma vez que, para cada compacto O § Y , .ÐOÑ Ÿ .ÐY Ñ,


tudo o que temos que mostrar é que, para cada +  .ÐY Ñ, existe um
compacto O § Y tal que .ÐOÑ  +. Ora, tendo em conta o lema III.4.5,
podemos considerar uma sucessão crescente ÐO8 Ñ8− de conjuntos
compactos de união Y . Resulta então da alínea 5) de I.2.12 que lim
.ÐO8 Ñ œ .ÐY Ñ, pelo que existe 8 tal que .ÐO8 Ñ  +, como queríamos.
3) Podemos definir uma medida exterior .‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ (cf. I.4.1) pondo,
para cada conjunto E § \ , .‡ ÐEÑ igual ao ínfimo dos .ÐY Ñ, com E § Y
aberto de \ . Para cada aberto Z de \ , tem-se .‡ ÐZ Ñ œ .ÐZ Ñ.131
Subdem: Se Z é um aberto de \ , tem-se, para cada aberto Z § Y ß
.ÐZ Ñ Ÿ .ÐY Ñ, pelo que .‡ ÐZ Ñ œ .ÐZ Ñ, uma vez que o ínfimo vai ser um
mínimo. Em particular .‡ ÐgÑ œ !. Se E § F , o facto de se ter
.‡ ÐEÑ Ÿ .‡ ÐFÑ resulta de todo o aberto que contenha F também conter E.
Resta-nos mostrar que se ÐE4 Ñ4−N é uma família contável de subconjuntos de
\, então
.‡ ˆ. E4 ‰ Ÿ " .‡ ÐE4 Ñ,
4−N 4−N

para o que podemos já supor que o segundo membro é finito, e portanto

lema I.3.10, podemos considerar, para cada 4 − N , $4  ! com ! $4 Ÿ $ .


também .‡ ÐE4 Ñ  _, para cada 4. Seja $  ! arbitrário. Tendo em conta o

então que -Y4 é um aberto de \ com -E4 § -Y4 , pelo que


Para cada 4, seja Y4 um aberto, com E4 § Y4 e .ÐY4 Ñ  .‡ ÐE4 Ñ  $4 . Tem-se

.‡ ˆ. E4 ‰ Ÿ .ˆ. Y4 ‰ Ÿ " .ÐY4 Ñ Ÿ " Ð.‡ ÐE4 Ñ  $4 Ñ Ÿ " .‡ ÐE4 Ñ  $


4−N 4−N 4−N 4−N 4−N

o que, tendo em conta a arbitrariedade de $ , implica que se tem efetivamente


.‡ ˆ. E4 ‰ Ÿ " .‡ ÐE4 Ñ.
4−N 4−N

4) A restrição de .‡ à 5 -álgebra U\ dos borelianos de \ é uma medida.


Subdem: Tendo em conta a alínea a) de I.4.5, tudo o que temos que
mostrar é que a 5 -álgebra dos conjuntos .‡ -mensuráveis contém a dos
borelianos, para o que bastará mostrar que, se Y é um aberto arbitrário de \ ,
Y é .‡ -mensurável, ou seja, que se Y § \ é aberto e E § \ é um conjunto
arbitrário, então
(1) .‡ ÐE  Y Ñ  .‡ ÐE Ï Y Ñ Ÿ .‡ ÐEÑ,
já que a desigualdade oposta resulta de E ser a união de E  Y com E Ï Y .
Tendo em conta a definição de .‡ ÐEÑ como um ínfimo, para provarmos (1)
basta mostrarmos que, para cada aberto Z ¨ E, se tem

131Para provarmos b), o que temos assim que mostrar é que .‡ ÐEÑ œ .ÐEÑ, para cada
boreliano E.
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 281

(2) .‡ ÐE  Y Ñ  .‡ ÐE Ï Y Ñ Ÿ .‡ ÐZ Ñ,
e, atendendo a que se tem então .‡ ÐZ Ñ œ .ÐZ Ñ, .‡ ÐE  Y Ñ Ÿ .‡ ÐZ  Y Ñ
œ .ÐZ  Y Ñ e .‡ ÐE Ï Y Ñ Ÿ .‡ ÐZ Ï Y Ñ, para provarmos (2) será suficiente
mostrarmos que, quaisquer que sejam os abertos Y e Z de \ ,
(3) .ÐZ  Y Ñ  .‡ ÐZ Ï Y Ñ Ÿ .ÐZ Ñ.
A igualdade (3) é trivial se .ÐZ Ñ œ _, pelo que podemos já supor que
.ÐZ Ñ  _, e portanto também .ÐZ  Y Ñ  _ e .‡ ÐZ Ï Y Ñ  _, por
Z  Y e Z Ï Y estarem contidos no aberto Z , caso em que (3) se pode
escrever na forma equivalente
(4) .ÐZ  Y Ñ Ÿ .ÐZ Ñ  .‡ ÐZ Ï Y Ñ.
Tendo em conta a conclusão da parte 2), para mostrarmos (4), basta
mostrarmos que, para cada compacto O § Z  Y ,
(5) .ÐOÑ Ÿ .ÐZ Ñ  .‡ ÐZ Ï Y Ñ.
Seja $  ! arbitrário. Aplicando, mais uma vez, a conclusão de (2), agora ao
aberto Z Ï O , que contém Z Ï Y , concluímos a existência de um compacto
O w § Z Ï O tal que
.ÐO w Ñ  .ÐZ Ï OÑ  $   .‡ ÐZ Ï Y Ñ  $
e, uma vez que O  O w œ g e O  O w § Z , obtemos
.ÐZ Ñ   .ÐO  O w Ñ œ .ÐOÑ  .ÐO w Ñ  .ÐOÑ  .‡ ÐZ Ï Y Ñ  $
donde, pela arbitrariedade de $ ,
.ÐZ Ñ   .ÐOÑ  .‡ ÐZ Ï Y Ñ
e temos a desigualdade (5), como queríamos.
5) Para cada boreliano E de \ , tem-se .ÐEÑ Ÿ .‡ ÐEÑ.
Subdem: Para cada aberto Y de \ , com E § Y , tem-se .ÐEÑ Ÿ .ÐY Ñ
pelo que, tendo em conta a definição de .‡ ÐEÑ como um ínfimo, tem-se
efetivamente .ÐEÑ Ÿ .‡ ÐEÑ.
6) Seja E § \ um boreliano tal que E § O , para algum compacto O § \ .
Tem-se então .ÐEÑ œ .‡ ÐEÑ.
Subdem: Suponhamos, por absurdo, que isso não acontecia ou seja,
tendo em conta a conclusão de 5), que .ÐEÑ  .‡ ÐEÑ. Tendo em conta a
alínea a) do lema III.4.5, podíamos considerar um aberto Y de \ com
.ÐY Ñ  _ (por Y estar contido num compacto de \ que, por hipótese,
tem medida finita) e obtínhamos então, por se ter também
.ÐY Ï EÑ Ÿ .‡ ÐY Ï EÑ, o absurdo
.ÐY Ñ œ .ÐEÑ  .ÐY Ï EÑ  .‡ ÐEÑ  .‡ ÐY Ï EÑ œ .‡ ÐY Ñ œ .ÐY Ñ.
282 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

7) Mais geralmente, para qualquer boreliano E § \ , .ÐEÑ œ .‡ ÐEÑ, por


outras palavras, tendo em conta a definição de .‡ , a medida . verifica a
propriedade na alínea b) do enunciado.
Subdem: Tendo em conta a alínea b) do lema III.4.5, consideremos uma
sucessão crescente ÐO8 Ñ8− de compactos com união \ . Tem-se então que
E é a união da sucessão crescente dos borelianos E  O8 , que verificam as
hipóteses de 6) e para os quais se tem assim .ÐE  O8 Ñ œ .‡ ÐE  O8 Ñ, pelo
que, tendo em conta a alínea 5) de I.2.12,
.ÐEÑ œ lim .ÐE  O8 Ñ œ lim .‡ ÐE  O8 Ñ œ .‡ ÐEÑ.
8 8

8) Para cada E − U\ e $  !, existe um aberto Y de \ , com E § Y e


.ÐY Ï EÑ  $ (a primeira parte da conclusão de d)).
Subdem: No caso em que .ÐEÑ  _, temos uma consequência da
conclusão de b), já demonstrada, visto que, sendo Y um aberto de \ com
E § Y , tal que .ÐY Ñ  .ÐEÑ  $ , vem .ÐY Ï EÑ œ .ÐY Ñ  .ÐEÑ  $ . No
caso geral, consideramos uma sucessão crescente ÐO8 Ñ8− de compactos de
união \ e aplicamos o caso particular a cada boreliano E  O8 que já tem
medida finita, para construir abertos Y8 com E  O8 § Y8 e
$
.ÐY8 Ï ÐE  O8 ÑÑ  .
#8
Podemos então considerar o aberto Y œ -Y8 , que contém E, e tem-se
Y Ï E § -ÐY8 Ï ÐE  O8 ÑÑ, donde

.ÐY Ï EÑ Ÿ " .ÐY8 Ï ÐE  O8 ÑÑ  "


_ _
$
œ $.
8œ" 8œ"
#8

9) Para cada E − U\ e $  !, existe um fechado G de \ , com G § E e


.ÐE Ï GÑ  $ (a segunda parte da conclusão de d)).
Subdem: Aplicando a conclusão de 8) ao boreliano \ Ï E, concluímos a
existência de um aberto Z ¨ \ Ï E tal que .ÐZ Ï Ð\ Ï EÑÑ  $ . Podemos
então considerar o fechado G œ \ Ï Z § E para o qual se tem
E Ï G œ Z Ï Ð\ Ï EÑ,
portanto .ÐE Ï GÑ  $ .
10) Para cada E − U\ , .ÐEÑ é o supremo dos .ÐOÑ com O compacto tal
que O § E, portanto temos a propriedade enunciada em c).
Subdem: Para cada compacto O § E, tem-se .ÐOÑ Ÿ .ÐEÑ. Seja agora
+  .ÐEÑ arbitrário. Escolhamos $  ! tal que +  $ Ÿ .ÐEÑ, tomando, por
exemplo, $ œ .ÐEÑ  +, se .ÐEÑ  _, e $ œ ", se .ÐEÑ œ _. Tendo
em conta a conclusão obtida em 9), podemos considerar um fechado G § E
tal que .ÐE Ï GÑ  $ , tendo-se então +  .ÐGÑ visto que, se .ÐGÑ Ÿ +,
vinha
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 283

.ÐEÑ œ .ÐGÑ  .ÐE Ï GÑ  +  $ Ÿ .ÐEÑ,


o que era absurdo. Reparamos agora que, escolhendo uma sucessão crescente
ÐO8 Ñ8− de compactos de união \ , G é a união da sucessão crescente de
compactos G  O8 , pelo que .ÐGÑ œ lim .ÐG  O8 Ñ, o que implica que
8
existe 8 tal que o compacto G  O8 § E verifica +  .ÐG  O8 Ñ. Ficou
assim provado que .ÐEÑ é o supremo referido. 

Como primeira aplicação do resultado precedente, vamos provar a separa-


bilidade de certos espaços funcionais.

III.4.7 (Separabilidade dos espaços P: Ð\ß IÑ) Sejam \ um espaço topoló-


gico localmente compacto separado e de base contável, .À U\ Ä ‘ uma
medida de Radon e I um espaço de Banach separável. Para cada
" Ÿ :  _, o espaço de Banach P: Ð\ß IÑ é então separável.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes, cada uma com a sua
demonstração:
1) Tendo em conta a alínea c) de I.2.2 e o teorema de densidade em III.2.26,
o resultado ficará provado se verificarmos que é separável, relativamente à
norma mm: , o subespaço vetorial W>Ð\ß IÑ cujos elementos são as classes de
equivalência Ò0 Ó, com 0 À \ Ä I aplicação em escada.
2) Existe uma base contável h de abertos de \ tal que .ÐY Ñ  _, para
cada Y − h .
Subdem: Seja h w uma base contável de abertos de \ e notemos h o
conjunto dos Y − h w tais que .ÐY Ñ  _. A afirmação feita ficará provada
se verificarmos que h é ainda uma base de abertos. Sejam então Z um aberto
arbitrário e B − Z . Seja G uma vizinhança compacta de B tal que G § Z .
Considerando então o aberto intÐGÑ que contém B, existe Y − h w tal que
B − Y § intÐGÑ, em particular, B − Y § Z , e tem-se mesmo Y − h , uma
vez que .ÐY Ñ Ÿ .ÐGÑ  _. Ficou assim provado que h é efetivamente
uma base de abertos de \ .
3) Seja h0 38 a classe contável de abertos de \ constituída por todas as uniões
finitas de abertos em h (incluindo o conjunto vazio g, como união da família
vazia de abertos132). Tem-se então .ÐZ Ñ  _, para cada Z − h0 38 , e, para
cada boreliano E § \ , com .ÐEÑ  _, e cada $  !, existe Z − h0 38 tal
que as funções indicatrizes de Z e E verificam
mˆZ  ˆE m:  $

(reparar que temos a norma do espaço P: Ð\ß ‘Ñ e não do espaço P: Ð\ß IÑ).
Subdem: Se Z − h0 38 , existe uma família finita ÐY4 Ñ4−N de abertos em

132Quem não gostar deste preciosismo lógico, acrescentará g à base de abertos h referida
em 2).
284 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

h tal que Z œ -Y4 e então .ÐZ Ñ Ÿ !.ÐY4 Ñ  _. Sejam agora E − U\ ,


com .ÐEÑ  _, e $  !. Tendo em conta as alíneas b) e c) de III.4.6,
podemos considerar um aberto Y ¨ E e um compacto O § E tais que
$: $:
.ÐY Ñ  .ÐEÑ  , .ÐOÑ  .ÐEÑ  ,
# #
portanto
.ÐY Ï OÑ œ .ÐY Ñ  .ÐOÑ  $ : .
Reparamos agora que existe Z − h0 38 tal que O § Z § Y , visto que, para
cada B − O , se pode escolher ZB − h com B − ZB § Y e tomar então para
Z , pela propriedade das coberturas dos compactos, uma união de um número
finito dos ZB que ainda contenha O . Reparando agora que, para cada B − \ ,
lˆZ ÐBÑ  ˆE ÐBÑl − Ö!ß "× e lˆZ ÐBÑ  ˆE ÐBÑl œ !, tanto para B − O como
para B Â Y , isto é, para cada B Â Y Ï O , podemos escrever

mˆZ  ˆE m: œ Š( lˆZ ÐBÑ  ˆE ÐBÑl: . .ÐBÑ‹ Ÿ Š( " . .ÐBÑ‹


"Î: "Î:
œ
\ Y ÏO

œ .ÐY Ï OÑ"Î:  $ ,
como queríamos.
4) Seja I! uma parte contável densa de I . Notemos W § W>Ð\ß IÑ o
conjunto contável das classes Ò1Ó com 1À \ Ä I aplicação em escada da
forma B È ˆZ ÐBÑA, com Z − h0 38 e A − I! . Vamos mostrar que, para cada
$  ! e cada aplicação em escada 0 À \ Ä I da forma 0 ÐBÑ œ ˆE ÐBÑD , com
E − U\ , .ÐEÑ  _, e D − I , existe Ò1Ó − W tal que m0  1m:  $ .
Subdem: Podemos já afastar os casos triviais em que D œ ! ou
.ÐEÑ œ !, casos em que se teria Ò0 Ó œ ! e se podia tomar 1 œ !,
correspondente a Z œ g − h0 38 e A − I! arbitrário. Escolhamos A − I! tal
que
$
mD  Am  minÖmDmß ×,
#.ÐEÑ"Î:
em particular A Á !, e, tendo em conta a conclusão de 3), escolhamos
Z − h0 38 tal que
$
mˆZ  ˆE m: 
#mAm
e consideremos o correspondente Ò1Ó − W, com 1ÐBÑ œ ˆZ ÐBÑA. Notando 2 a
aplicação em escada definda por 2ÐBÑ œ ˆE ÐBÑA, obtemos
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 285

m0  2m: œ Š( mD  Am: . .ÐBÑ‹


"Î: $
œ mD  Am.ÐEÑ"Î:  ,
E #
m2  1m: œ Š( lˆZ ÐBÑ  ˆE ÐBÑl: mAm: . .ÐBÑ‹
"Î:
œ
\
$
œ mˆZ  ˆE m: mAm  ,
#
portanto
m0  1m: Ÿ m0  2m:  m2  1m:  $,

como queríamos.
5) Notemos W0 38 § W>Ð\ß IÑ o conjunto contável das somas finitas de
elementos de W. Vamos mostrar que W0 38 é denso em W>Ð\ß IÑ, para a
norma mm: , o que, como referimos em 1), terminará a demonstração do nosso
resultado.
Subdem: Sejam então Ò0 Ó − W>Ð\ß IÑ e $  ! arbitrários. Do que
referimos em II.2.18, concluímos a existência de um número finito de
elementos Ò0" Óß á ß Ò05 Ó − W>Ð\ß IÑ, cada um dos quais da forma particular
estudada em 4), tais que Ò0 Ó œ Ò0" Ó  â  Ò05 Ó, pelo que, para cada
" Ÿ 4 Ÿ 5 , podemos considerar Ò14 Ó − W com m04  14 m:  5$ . Tem-se então
que Ò1Ó œ Ò1" Ó  â  Ò15 Ó − W0 38 e

m0  1m: œ ½" Ð04  14 ѽ Ÿ " m04  14 m:  $,


5 5

:
4œ" 4œ"

o que prova a densidade pretendida. 

Introduzimos em seguida, no contexto dos espaços topológicos localmente


compactos e separados, um novo subespaço vetorial de MensÐ\ß IÑ
importante nas aplicações.

III.4.8 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto e separado e I um


espaço de Banach. Dizemos que uma aplicação 0 À \ Ä I é de suporte
compacto se existe um compacto O § \ tal que 0 ÐBÑ œ !, para cada
B Â O .133 Notamos V- Ð\ß IÑ o conjunto das aplicações 0 À \ Ä I que são
contínuas e de suporte compacto. Tem-se então que V- Ð\ß IÑ é um
subespaço vetorial do espaço de todas as aplicações de \ em I .
Dem: Talvez a única observação menos trivial seja a de que, se 0 À \ Ä I é

133O suporte de uma aplicação 0 À \ Ä I é a aderência em \ do conjunto dos pontos B


tais que 0 ÐBÑ Á !. Se lembrarmos que todo o compacto é fechado e que uma parte
fechada dum compacto é compacta, concluímos que a condição referida equivale efeti-
vamente ao suporte de 0 ser compacto.
286 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

nula fora do compacto O § \ e se 1À \ Ä I é nula fora do compacto


O w § \ , então 0  1À \ Ä I é nula fora do compacto O  O w . 
III.4.9 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto, separado e de base
contável, .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon sobre \ e I um espaço de
Banach. Tem-se então
V- Ð\ß IÑ § MensÐ\ß IÑ
e, se 0 − V- Ð\ß IÑ, tem-se Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ para cada " Ÿ : Ÿ _.
Dem: Suponhamos que 0 − V- Ð\ß IÑ. Tem-se então que 0 é contínua, e
portanto mensurável (cf. I.5.8) e, existe O § \ compacto tal que 0 ÐBÑ œ !
para cada B − \ Ï O . Em particular 0 Ð\Ñ é compacto (igual a 0 ÐOÑ ou a
0 ÐOÑ  Ö!×), portanto separável (cf. a alínea e) de II.2.2), o que mostra que
0 − MensÐ\ß IÑ. Por outro lado, afastando já o caso trivial em que 0 œ !,
tem-se O Á g e podemos considerar o máximo + da função contínua
B È m0 ÐBÑm para B − O . O facto de se ter m0 ÐBÑm Ÿ +, para cada B − \
implica que Ò0 Ó − P_ Ð\ß IÑ e, para cada " Ÿ :  _, o facto de se ter
.ÐOÑ  _ implica que

( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ .ÐOÑ +  _,


: : :
\ O

portanto Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ. 

O nosso próximo objetivo é verificar que, sob hipóteses convenientes, o


conjunto das classes de equivalência de funções em V- Ð\ß IÑ é denso em
cado um dos espaços de Banach P: Ð\ß IÑ com " Ÿ :  _. Preci-
samos, para isso, de estabelecer previamente um resultado topológico que
garante a existência de uma classe suficientemente ampla de funções
contínuas de suporte compacto, resultado que será aplicado também em
outras ocasiões. Começamos por introduzir uma notação cómoda utilizada
em Rudin [10]Þ

III.4.10 Dados um espaço topológico \ , localmente compacto e separado, um


aberto Y § \ e uma aplicação contínua :À \ Ä ‘, escrevemos : ¡ Y se
:Ð\Ñ § Ò!ß "Ó e existir um compacto O § Y tal que :ÐBÑ œ !, para cada
B Â O.
Repare-se que, quando : ¡ Y , tem-se, em particular, : − V- Ð\ß ‘Ñ e
:ÐBÑ Ÿ ˆY ÐBÑ, para cada B − \ .
III.4.11 (Versão do lema de Urysohn) Sejam \ um espaço topológico
localmente compacto e separado, O § \ um compacto e Y um aberto de \
tal que O § Y . Existe então uma aplicação contínua :À \ Ä Ò!ß "Ó tal que
: ¡ Y e :ÐBÑ œ ", para cada B − O .
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes, cada uma com a sua
justificação. Na primeira parte fazemos um demonstração especialmente
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 287

simples, mas válida apenas no caso particular em que o espaço \ é


metrizável, de modo que o leitor para quem esse grau de generalidade seja
suficiente possa dispensar a parte mais delicada da prova.
1) Vamos apresentar uma prova do resultado que é válida apenas no caso em
que a topologia de \ pode ser definida por uma métrica . .134
Subdem: Tendo em conta a alínea a) do lema III.4.5, consideremos um
aberto Y w e um compacto O w tais que O § Y w § O w § Y . No caso em que
O œ g, a aplicação : identicamente nula verifica as condições pedidas; no
caso em que Y w œ \ , tem_se O w œ Y œ \ pelo que a aplicação :
identicamente igual a " verifica as condições pedidas; no caso em que O Á g
e Y w Á \ , lembramos que a função distância a um conjunto fechado não
vazio é contínua e anula-se exatamente nos pontos desse conjunto fechado e
definimos
.ÐBß \ Ï Y w Ñ
:ÐBÑ œ ,
.ÐBß \ Ï Y w Ñ  .ÐBß OÑ
reparando que :À \ Ä Ò!ß "Ó é uma aplicação contínua verificando as condi-
ções pedidas.
2) A partir de agora vamos deixar de supor que \ é metrizável e vamos
subentender que as letras < e = designam sempre racionais do intervalo Ò!ß "Ó.
3) Vamos verificar que é possível escolher, para cada =, um aberto Y= e um
compacto O= , de modo que
(3.1) O § Y= § O= § Y
e que
(3.2) <  = Ê O= § Y< .
e portanto também
(3.3) <  = Ê Y= § Y< .
Subdem: Uma vez que o conjunto dos racionais do intervalo Ò!ß "Ó é
numerável podemos fixar uma bijeção 0 de  sobre esse conjunto que
verifique 0Ð"Ñ œ ! e 0Ð#Ñ œ ". Definimos então recursivamente os abertos
Y0Ð8Ñ e os compactos O0Ð8Ñ , 8 − , do modo seguinte:
Começamos por considerar, pela alínea a) do lema III.4.5, um aberto
Y! œ Y0Ð"Ñ e um compacto O! œ O0Ð!Ñ de modo que se tenha
O § Y! § O! § Y . Mais uma vez pelo resultado citado, consideramos, em
seguida, um aberto Y" œ Y0Ð#Ñ e um compacto O" œ O0Ð#Ñ de modo que se
tenha O § Y" § O" § Y! e reparamos que as condições (3.1) e (3.2) são
verificadas quando < e = estão em Ö!ß "×.
Supomos, agora, construídos os abertos Y0Ð:Ñ , com " Ÿ : Ÿ 8, de modo que

134Estaparte pode ser dispensada, do ponto de vista estritamente lógico, por quem quiser
examinar a demonstração do caso geral.
288 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

se verifique (3.1) e (3.2), sempre que < e = estão em Ö0Ð"Ñß á ß 0Ð8Ñ×.


Chamamos < ao maior elemento deste conjunto que seja menor que 0Ð8  "Ñ
e = ao menor elemento do conjunto que seja maior que 0Ð8  "Ñ (em
particular <  0Ð8  "Ñ  =). Tendo em conta mais uma vez o resultado
citado, escolhemos o aberto Y0Ð8"Ñ e o compacto O0Ð8"Ñ de modo que
O= § Y0Ð8"Ñ § O0Ð8" Ñ § Y< e constatamos que (3.1) e (3.2) continuam a
ser verificados para < e = em Ö0Ð"Ñß á ß 0Ð8  "Ñ×. Fica assim terminada a
definição recursiva anunciada.
4) Definimos agora a aplicação :À \ Ä Ò!ß "Ó por

:ÐBÑ œ œ
!, se B Â Y!
.
supÖ= ± B − Y= ×, se B − Y!

Vamos mostrar que, para cada <, tem-se


(4.1) B Â Y< Ê :ÐBÑ Ÿ <,

(4.2) B − O< Ê :ÐBÑ   <.

Subdem: Suponhamos que B Â Y< . Para cada =  <, deduzimos de (3.3)


que B Â Y= . Por outras palavras, para cada = tal que B − Y= tem-se = Ÿ < o
que, trivialmente se B Â Y! , e, pela definição de :ÐBÑ como um supremo se
B − Y! , implica que :ÐBÑ Ÿ <.
Suponhamos agora que :ÐBÑ  <. Podemos então escolher = tal que
:ÐBÑ  =  < e daqui resulta que B Â Y= (se fosse B − Y= § Y! , a definição
de :ÐBÑ como um supremo implicava que :ÐBÑ   =) e portanto, tendo em
conta (3.2), B Â O< . Provámos assim que, se B − O< , então :ÐBÑ   <.
5) Vamos mostrar que a aplicação :À \ Ä Ò!ß "Ó definida em 4) verifica as
condições do enunciado.
Subdem: Se B − O , então, por (3.1), B − Y= , para todo o =, pelo que
:ÐBÑ œ ". Por outro lado, O! é um compacto contido em Y e, para cada
B  O! , tem-se B  Y! , portanto :ÐBÑ œ !. Resta-nos assim provar a
continuidade de : em cada ponto B! − \ , verificação essa que será dividida
em três casos:
Suponhamos que :ÐB! Ñ œ ! e seja $  ! arbitrário. Sendo < tal que
!  <  $, resulta de (4.2) que \ Ï O< é um aberto de \ contendo B! e, para
cada B − \ Ï O< , tem-se, por (3.1) e (4.1), B Â Y< donde :ÐBÑ Ÿ <  $ , o
que prova a continuidade de : no ponto B! .
Suponhamos que :ÐB! Ñ œ " e seja $  ! arbitrário. Sendo < tal que
"  $  <  ", resulta de (4.1) que Y< é um aberto de \ contendo B! e, para
cada B − Y< , tem-se, por (3.1) e (4.2), B − O< donde :ÐBÑ   <  "  $ , o
que prova a continuidade de : no ponto B! .
Suponhamos que !  :ÐB! Ñ  " e seja $  ! arbitrário. Sendo < e = tais que
:ÐB! Ñ  $  <  :ÐB! Ñ  =  :ÐB! Ñ  $,
resulta de (4.1) e (4.2) que Y<  Ð\ Ï O= Ñ é um aberto de \ contendo B! e
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 289

para cada B − Y<  Ð\ Ï O= Ñ tem-se, por (3.1), (4.1) e (4.2), B − O< e


B Â Y= donde
:ÐB! Ñ  $  < Ÿ :ÐBÑ Ÿ =  :ÐB! Ñ  $,
o que prova a continuidade de : em B! . 

Apesar de só necessitarmos disso posteriormente, vamos aproveitar para


examinar uma versão do teorema da partição da unidade que tem aplica-
ções importantes no quadro da medida.

III.4.12 (Partição da unidade de um compacto) Sejam \ um espaço topoló-

família finita de abertos de \ tal que O § - Y4 . Existem então aplicações


gico localmente compacto e separado, O § \ um compacto e ÐY4 Ñ4−N uma

contínuas :4 À \ Ä Ò!ß "Ó, onde 4 − N , tais que:


a) Para cada 4 − N , :4 ¡ Y4 . 135
b) Para cada B − \ , ! :4 ÐBÑ Ÿ ".

c) Para cada B − O , ! :4 ÐBÑ œ ".


4−N

4−N
Costuma-se dizer que as funções :4 constituem uma partição da unidade do
compacto O subordinada à cobertura aberta finita constituída pelos Y4 .
Dem: Vamos dividir a demonstração em duas partes:

tais que O § - O4 .
1) Vamos provar a existência de conjuntos compactos O4 § Y4 , onde 4 − N ,

Subdem: Consideremos, para cada B − O , um índice 4B − N tal que


B − Y4B e uma vizinhança compacta GB de B, tal que GB § Y4B . Pela
propriedade das coberturas dos compactos, escolhamos então uma parte
finita O! de O tal que se tenha ainda
O § . intÐGB Ñ.
B−O!

Sendo, para cada 4 − N ,


O4 œ . GB ,
B−O!
4B œ4

cada O4 é um compacto (união finita de compactos), está contido em Y4 e O


está contido na união dos O4 .
2) Pelo lema de Urysohn em III.4.11, podemos considerar, para cada 4 − N ,
uma aplicação contínua : s4 À \ Ä Ò!ß "Ó, tal que :
s4 ¡ Y4 e :
s4 ÐBÑ œ ", para
cada B − O4 e definir uma aplicação contínua : sÀ \ Ä ‘ por

135cf. a notação em III.4.10.


290 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

sÐBÑ œ " :
: s4 ÐBÑ,
4−N

vindo então que, para cada B − O , existe 4 tal que B − O4 , e portanto


:
sÐBÑ   : s4 ÐBÑ œ ". Consideremos o aberto Z de \ , contendo O , constituído
pelos B − \ tais que : sÐBÑ  !. Mais uma vez pelo lema de Urysohn, vai
existir uma aplicação contínua <À \ Ä Ò!ß "Ó tal que < ¡ Z e <ÐBÑ œ ", para
cada B − O . Para cada B − \ , : sÐBÑ  Ð"  <ÐBÑÑ  !, visto que, para
B−Z, : sÐBÑ  ! e, para B  Z , <ÐBÑ œ !. Podemos assim definir
aplicações contínuas :4 À \ Ä Ò!ß "Ó por
:
s4 ÐBÑ
:4 ÐBÑ œ ,
:
sÐBÑ  Ð"  <ÐBÑÑ
tendo-se :4 ¡ Y4 , por ser :
s4 ¡ Y4 . Vem, para cada B − \ ,

" :4 ÐBÑ œ
:
sÐBÑ
Ÿ"
4−N
:
sÐBÑ  Ð"  <ÐBÑÑ

e, para cada B − O , "  <ÐBÑ œ !, e portanto

" :4 ÐBÑ œ
:
sÐBÑ
œ ". 
4−N
:
sÐBÑ  Ð"  <ÐBÑÑ

III.4.13 (Lema de densidade) Sejam \ um espaço topológico localmente


compacto separado e de base contável e .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon.
Se E § \ é um boreliano com .ÐEÑ  _ e " Ÿ :  _, então
ÒˆE Ó − P: Ð\ß ‘Ñ e, para cada $  !, existe : − V- Ð\ß ‘Ñ com :Ð\Ñ § Ò!ß "Ó
e mÒˆE Ó  Ò:Óm:  $ .
Dem: Tendo em conta as alíneas b) e c) de III.4.6, podemos considerar um
aberto Y ¨ E e um compacto O § E tais que
$: $:
.ÐY Ñ  .ÐEÑ  , .ÐOÑ  .ÐEÑ  ,
# #
portanto
.ÐY Ï OÑ œ .ÐY Ñ  .ÐOÑ  $ : .
Tendo em conta o lema de Urysohn III.4.11, podemos considerar uma função
contínua :À \ Ä Ò!ß "Ó nula fora de um certo compacto O w § Y e tal que
:ÐBÑ œ ", para cada B − O . Tem-se, em particular, : − V- Ð\ß ‘Ñ e, uma vez
que :ÐBÑ œ ˆE ÐBÑ, tanto para B − O como para B  Y , e que, para cada
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 291

B − \ , lˆE ÐBÑ  :ÐBÑl Ÿ ", concluímos que

mÒˆE Ó  Ò:Óm: œ Š( mˆE ÐBÑ  :ÐBÑm: . .ÐBÑ‹


"Î:
Ÿ
\

Ÿ Š( " . .ÐBÑ‹
"Î:
œ .ÐY Ï OÑ"Î:  $ . 
Y ÏO

III.4.14 (Densidade das aplicações contínuas de suporte compacto) Sejam \


um espaço topológico localmente compacto separado e de base contável,
.À U\ Ä ‘ uma medida de Radon e I um espaço de Banach. Para cada
" Ÿ :  _, o conjunto G- Ð\ß IÑ § Q /8=Ð\ß IÑ, das classes de
equivalência Ò0 Ó com 0 − V- Ð\ß IÑ, é um subespaço vetorial denso de
P: Ð\ß IÑ.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
1) O facto de G- Ð\ß IÑ ser um subespaço vetorial de Q /8=Ð\ß IÑ contido
em cada P: Ð\ß IÑ, com " Ÿ :  _, é uma consequência de III.4.8 e
III.4.9.
2) Sejam E um boreliano de \ com .ÐEÑ  _ e D − I e consideremos a
correspondente função em escada 1À \ Ä I definida por 1ÐBÑ œ ˆE ÐBÑD .
Vamos mostrar que, para cada $  !, existe 0 − V- Ð\ß IÑ tal que
mÒ1Ó  Ò0 Óm:  $.

Subdem: Podemos já afastar o caso trivial em que D œ !, caso em que


se toma para 0 a aplicação identicamente !. Podemos então aplicar o lema
$
III.4.13 para garantir a existência de : − V- Ð\ß ‘Ñ tal que mˆE  :m:  mDm
e, sendo então 0 − V- Ð\ß IÑ a aplicação definida por 0 ÐBÑ œ :ÐBÑD ,
obtemos trivialmente
mÒ1Ó  Ò0 Óm: œ mˆE  :m: mDm  $.

3) Vamos agora verificar que, para cada Ò1Ó − W>Ð\ß IÑ (cf. III.2.26) e cada
$  !, existe Ò0 Ó − G- Ð\ß IÑ tal que
mÒ1Ó  Ò0 Óm:  $.

Subdem: Do que referimos em II.2.18, concluímos a existência de um


número finito de aplicações em escada 1" ß á ß 15 À \ Ä I , cada uma das
quais da forma particular estudada em 2), tais que 1 œ 1"  â  15 , pelo
que, para cada " Ÿ 4 Ÿ 5 , podemos considerar Ò04 Ó − G- Ð\ß IÑ com
mÒ14 Ó  Ò04 Óm:  5$ . Tem-se então que Ò0 Ó œ Ò0" Ó  â  Ò05 Ó − G- Ð\ß IÑ e

mÒ1Ó  Ò0 Óm: œ ½" ÐÒ14 Ó  Ò04 Óѽ Ÿ " mÒ14 Ó  Ò04 Óm:  $.
5 5

:
4œ" 4œ"

4) Consideremos, por fim Ò2Ó − P: Ð\ß IÑ e $  ! arbitrários. O teorema de


densidade em III.2.26 garante a existência de Ò1Ó − W>Ð\ß IÑ tal que
292 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

mÒ2Ó  Ò1Óm:  $# e o que vimos em 3) implica então a existência de


Ò0 Ó − G- Ð\ß IÑ tal que mÒ1Ó  Ò0 Óm:  $# . Tem-se assim
mÒ2Ó  Ò0 Óm: Ÿ mÒ2Ó  Ò1Óm:  mÒ1Ó  Ò0 Óm:  $,

o que mostra que G- Ð\ß IÑ é efetivamente denso em P: Ð\ß IÑ. 

Uma das razões da importância das aplicações contínuas de suporte


compacto é a forma como interagem com as aplicações localmente inte-
gráveis, que definimos a seguir.

III.4.15 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto separado e de base


contável, .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon e I um espaço de Banach.
Diz-se que uma aplicação 0 À \ Ä I é localmente integrável se for topolo-
gicamente mensurável e com 0ÎO À O Ä I integrável, para cada compacto
O § \.
Repare-se que esta definição generaliza a apresentada em II.3.1, no caso
particular em que \ é um intervalo de ‘.
III.4.16 a) Repare-se que, se 0 À \ Ä I é topologicamente mensurável e se
considerarmos a aplicação mensurável :À \ Ä ‘ definida por
:ÐBÑ œ m0 ÐBÑm e a medida .Ð:Ñ associada (cf. II.1.22), dizer que 0 é
localmente integrável é o mesmo que dizer que a medida .Ð:Ñ é também uma
medida de Radon; em particular, tendo em conta III.4.2, 0 é localmente
integrável se, e só se, para cada B − \ , existe uma vizinhança Z de B tal que
0ÎZ À Z Ä I seja integrável.
b) A caracterização em a) implica a seguinte propriedade local das aplicações
localmente integráveis: Se ÐY4 Ñ4−N é uma família de abertos de \ de união \
e se 0 À \ Ä I é uma aplicação topologicamente mensurável136 tal que, para
cada 4 − N , 0ÎY4 À Y4 Ä I seja localmente integrável, então 0 é localmente
integrável.
III.4.17 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto separado e de base
contável, .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon e I um espaço de Banach. O
conjunto das aplicações localmente integráveis 0 À \ Ä I é então
trivialmente um subespaço vetorial de MensÐ\ß IÑ e é claro que, se
0 ß s0 À \ Ä I são tais que Ò0 Ó œ Ò0
s Ó em Q /8=Ð\ß IÑ, então 0 é localmente
s
integrável se, e só se, 0 é localmente integrável.
Nas condições anteriores, notamos P"69- Ð\ß IÑ o subespaço vetorial de

136A hipótese de 0 ser topologicamente mensurável poderia ser dispensada, por decorrer
da de cada restrição a Y4 ser topologicamente mensurável (cf. a alínea a) do exercício
III.4.7 adiante).
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 293

Q /8=Ð\ß IÑ cujos elementos são as classes de equivalência Ò0 Ó, com


0 À \ Ä I localmente integrável.137
III.4.18 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto separado e de base
contável, .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon e I um espaço de Banach. Se
0 À \ Ä I é uma aplicação contínua, então 0 é localmente integrável.
Dem: O facto de 0 ser topologicamente mensurável resulta de I.5.8 e II.2.3.
Seja O § \ um compacto, que podemos já supor não vazio. Sendo + o
máximo em O da função contínua B È m0 ÐBÑm, vemos que

( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ ( + . .ÐBÑ œ +.ÐOÑ  _. 


O O

Apesar de não dispormos, em geral, de uma norma natural no espaço


P"69- Ð\ß IÑ, podemos definir uma noção de convergência neste espaço
que é útil nas aplicações.

III.4.19 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto separado e de base


contável, .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon e I um espaço de Banach.
Dados uma sucessão de elementos Ò08 Ó − P"69- Ð\ß IÑ, onde 8 − , e um
elemento Ò0 Ó − P"69- Ð\ß IÑ, dizemos que a sucessão converge para Ò0 Ó em
P"69- Ð\ß IÑ, e escrevemos
Ò08 Ó Ä Ò0 Ó em P"69- Ð\ß IÑ,
se, para cada compacto O § \ , a sucessão das restrições Ò08 ÎO Ó convergir
para a restrição Ò0ÎO Ó em P" ÐOß IÑ.
Esta noção de convergência verifica a seguinte condição de unicidade: Se a
sucessão Ò08 Ó converge para Ò0 Ó e para Ò1Ó em P"69- Ð\ß IÑ, então Ò0 Ó œ Ò1Ó,
isto é, 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre.
Dem: Tendo em conta a alínea b) de III.4.5, podemos considerar uma família
de compactos O: § \ , onde : − , de união \ . Para cada : − , o facto de
a sucessão Ò08 ÎO: Ó convergir tanto para Ò0ÎO: Ó como para Ò1ÎO: Ó em
P" ÐO: ß IÑ implica que Ò0ÎO: Ó œ Ò1ÎO: Ó, pelo que existe E: − ` com

então que E œ -E: é um conjunto de ` com .ÐEÑ œ ! tal que, para cada
E: § O: e .ÐE: Ñ œ ! tal que 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ, para cada B − O: Ï E: . Tem-se

B − \ Ï E, 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ, o que mostra que se tem efetivamente Ò0 Ó œ Ò1Ó. 


III.4.20 (Compatibilidade da convergência com as operações vetoriais) Nas
condições anteriores, suponhamos que Ò08 Ó Ä Ò0 Ó e Ò18 Ó Ä Ò1Ó em
P"69- Ð\ß IÑ e que + é um escalar de I . Tem-se então que

137Repare-se que, ao contário do que acontecia com os subespaços vetoriais P: Ð\ß IÑ de


Q /8=Ð\ß IÑ, com " Ÿ : Ÿ _, não consideramos nenhuma norma natural em
P"69- Ð\ß IÑ.
294 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Ò08 Ó  Ò18 Ó Ä Ò0 Ó  Ò1Ó e +Ò08 Ó Ä +Ò0 Ó em P"69- Ð\ß IÑ.


Dem: Temos consequências imediatas da definição, tendo em conta, para
cada compacto O § \ , as propriedades correspondentes da convergência de
sucessões no espaço de Banach P" ÐOß IÑ. 
III.4.21 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto separado e de base
contável, .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon e I um espaço de Banach. Se
0 À \ Ä I é uma aplicação topologicamente mensurável tal que
Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ, para algum :, com " Ÿ : Ÿ _, então 0 é localmente
integrável. Vemos assim que cada P: Ð\ß IÑ, com " Ÿ : Ÿ _, é um
subespaço vetorial de P"69- Ð\ß IÑ.
Além disso, se Ò08 Ó, onde 8 − , é uma sucessão de elementos de P: Ð\ß IÑ
que convirja para Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ neste espaço de Banach, então tem-se
também Ò08 Ó Ä Ò0 Ó em P"69- Ð\ß IÑ.
Dem: Tendo em conta III.2.12 ou III.2.23, conforme :  _ ou : œ _,
vemos que, para cada compacto O § \ , P: ÐOß IÑ § P" ÐOß IÑ e existe
uma constante -   ! tal que, para cada Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ,
mÒ0ÎO Óm" Ÿ -mÒ0ÎO Óm: Ÿ -mÒ0 Óm:

(tem-se .ÐOÑ  _ e o caso em que .ÐOÑ œ ! é trivial), o que implica que


temos uma aplicação linear contínua
P: Ð\ß IÑ Ä P" ÐOß IÑ, Ò0 Ó È Ò0ÎO Ó. 

A interação que referimos entre aplicações contínuas de suporte compacto


e aplicações localmente integráveis manifesta-se sempre que temos uma
“multiplicação” conveniente entre os vetores dos espaços vetoriais de
chegada, isto é, quando estamos no contexto referido na alínea b) de
II.2.9, mais precisamente, naquele em que temos três espaços de Banach
J ß Kß L e uma aplicação bilinear contínua 0À J ‚ K Ä L , que enca-
ramos como uma “multiplicação”, notando, para cada A − J e D − K,
A ‚ D œ 0ÐAß DÑ. Nessa situação, como se verifica em cursos de topologia
ou de análise funcional (cf., por exemplo, [9]), a continuidade da aplica-
ção bilinear 0 é equivalente à existência de uma constante Q   ! tal que,
sempre que A − J e D − K , mA ‚ Dm Ÿ Q mAmmDm.
Nâo nos devemos deixar atemorizar pela generalidade desta situação:
Entre os exemplos mais frequentes de aplicação, estão aquele em que os
três espaços vetoriais são iguais ao corpo Š dos escalares, ‘ ou ‚, com o
valor absoluto como norma, e a multiplicação como aplicação bilinear, e
aquele em que K œ L é um espaço de Banach, J é o corpo dos escalares
e a aplicação bilinear é a multiplicação dos escalares pelos vetores.

III.4.22 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto separado e de base


contável e .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon.
Sejam J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação
bilinear contínua, que encaramos como uma “multiplicação”, notando, para
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 295

cada A − J e D − K , A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L . Tem-se então:


a) Seja 0 À \ Ä J uma aplicação contínua. Se 1À \ Ä K é localmente
integrável, então a aplicação topologicamente mensurável 0 ‚ 1À \ Ä L é
localmente integrável. Além disso, se Ò18 Ó Ä Ò1Ó em P"69- Ð\ß KÑ, então
Ò0 Ó ‚ Ò18 Ó Ä Ò0 Ó ‚ Ò1Ó em P"69- Ð\ß LÑ.
b) Fica definida uma aplicação bilinear
V- Ð\ß J Ñ ‚ P"69- Ð\ß KÑ Ä L ,
Ð0 ß Ò1ÓÑ È Ø0 ß Ò1ÓÙ œ ( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ ..ÐBÑ
\

e, se Ò18 Ó Ä Ò1Ó emP"69- Ð\ß KÑ e 0 − V- Ð\ß J Ñ, então Ø0 ß Ò18 ÓÙ Ä Ø0 ß Ò1ÓÙ em


L.
Dem: a) Seja O § \ um compacto, que podemos já supor não vazio.
Tem-se então que a função contínua B È m0 ÐBÑm atinge um máximo em O ,
e portanto Ò0ÎO Ó − P_ ÐOß J Ñ. Uma vez que Ò1ÎO Ó − P" ÐOß KÑ, deduzimos
de III.2.35 que Ò0ÎO ‚ 1ÎO Ó − P" ÐOß LÑ. Do mesmo modo, no caso em que
Ò18 Ó Ä Ò1Ó em P"69- Ð\ß KÑ, vem Ò18 ÎO Ó Ä Ò1ÎO Ó em P" ÐOß KÑ e portanto,
pela continuidade da aplicação bilinear em III.2.35, ÒÐ0 ‚ 18 ÑÎO Ó œ
Ò0ÎO Ó ‚ Ò18 ÎO Ó converge em P" ÐOß LÑ para Ò0ÎO Ó ‚ Ò1ÎO Ó œ ÒÐ0 ‚ 1ÑÎO Ó
b) Suponhamos que 0 − V- Ð\ß J Ñ e que 1À \ Ä K é localmente integrável.
Consideremos um compacto O § \ tal que 0 ÐBÑ œ !, para cada B − \ Ï O
e reparemos que se tem também 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ œ !, para cada B − \ Ï O .
Tendo em conta o que vimos em a), tem-se então

( m0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑm . .ÐBÑ œ ( m0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑm . .ÐBÑ  _,


\ O

o que mostra que fica bem definido o elemento

Ø0 ß Ò1ÓÙ œ ( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ . .ÐBÑ − L .


\

O facto de o valor Ø0 ß Ò1ÓÙ não depender do representante da classe de


equivalência Ò1Ó resulta de que, se 1ÐBÑ œ s1ÐBÑ quase sempre, então também
0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ œ 0 ÐBÑ ‚ s1ÐBÑ quase sempre, e portanto as duas funções têm o
mesmo integral. O facto de a aplicação V- Ð\ß J Ñ ‚ P"69- Ð\ß KÑ Ä L ser
bilinear resulta agora das propriedades de linearidade do integral em II.2.34 e
na alínea a) de II.2.36. Suponhamos agora que Ò18 Ó Ä Ò1Ó em P"69- Ð\ß KÑ.
Uma vez que, como na prova de a), Ò0ÎO Ó − P_ ÐOß J Ñ e Ò18 ÎO Ó Ä Ò1ÎO Ó em
P" ÐOß KÑ, deduzimos da continuidade da aplicação bilinear em III.2.35 que
ÒÐ0 ‚ 18 ÑÎO Ó œ Ò0ÎO Ó ‚ Ò18 ÎO Ó converge em P" ÐOß LÑ para Ò0ÎO Ó ‚ Ò1ÎO Ó œ
ÒÐ0 ‚ 1ÑÎO Ó e portanto, da continuidade da aplicação linear P" ÐOß LÑ Ä L
em III.2.10, deduzimos que
296 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

( 0 ÐBÑ ‚ 18 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ ‚ 18 ÐBÑ . .ÐBÑ


\ O

converge em L para

( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ . .ÐBÑ. 


O \

O corolário do próximo resultado mostra que, no caso em que I é um


espaço de Banach e a aplicação bilinear que consideramos é a multipli-
cação pelos reais, um elemento de P"69- Ð\ß IÑ fica determinado pelo seu
produto pelos diferentes elementos de V- Ð\ß ‘Ñ.138

III.4.23 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto separado e de base


contável, .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon e I um espaço de Banach e
consideremos a correspondente aplicação bilinear
V- Ð\ß ‘Ñ ‚ P"69- Ð\ß IÑ Ä I ,
Ð:ß Ò1ÓÑ È Ø:ß Ò1ÓÙ œ ( :ÐBÑ 1ÐBÑ . .ÐBÑ.
\

Se Ò1Ó − P"69- Ð\ß IÑé tal que Ø:ß Ò1ÓÙ œ !, para todo o : − V- Ð\ß ‘Ñ, então
Ò1Ó œ !, isto é, 1ÐBÑ œ ! quase sempre.
Dem: Comecemos por reparar que se pode considerar um semianel f § U\ ,
constituído pelos borelianos E § \ que estão contidos nalgum compacto de
\ , borelianos que verificam .ÐEÑ  _, e que, tendo em conta a alínea b)
do lema III.4.5, \ é a união de uma sucessão de compactos O8 , 8 − , o
que implica que a restrição de . a este semianel é 5 -finita. Este último facto
também implica que qualquer boreliano E é a união dos borelianos O8  E
que estão em f , pelo que a 5 -álgebra gerada por f é U\ . Tendo em conta
II.2.46, e uma vez que, para cada E − f , 1ÎE À E Ä I é integrável, para

cada E − f , se tem 'E 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ !.


provarmos que se tem 1ÐBÑ œ ! quase sempre, basta provarmos que, para

Fixemos então um tal E − f e seja $  ! arbitrário. O facto de 1 ser local-


mente integrável implica que podemos considerar uma nova medida de
Radon .w em U\ definida por

.w ÐFÑ œ ( m1ÐBÑm . .ÐBÑ,


F
w
para a qual se tem . ÐEÑ  _, e, aplicando o lema de densidade III.4.13,
com : œ ", a .w , concluímos a existência de : − V- Ð\ß ‘Ñ tal que

138Mesmo que o corpo dos escalares de I seja ‚, podemos multiplicar números reais por
vetores de I .
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 297

( lˆE ÐBÑ  :ÐBÑlm1ÐBÑm . .ÐBÑ œ ( lˆE ÐBÑ  :ÐBÑl . . ÐBÑ  $


w
\ \

e portanto, por ser '\ :ÐBÑ 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ !,

½( 1ÐBÑ . .ÐBѽ œ ½( ЈE ÐBÑ  :ÐBÑÑ 1ÐBÑ . .ÐBѽ Ÿ


E \

Ÿ ( lˆE ÐBÑ  :ÐBÑlm1ÐBÑm . .ÐBÑ  $ ,


\

o que, tendo em conta a arbitrariedade de $  !, implica que se tem


efetivamente

( 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ !. 
E

III.4.24 (Corolário) Sejam \ um espaço topológico localmente compacto


separado e de base contável, .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon e I um
espaço de Banach e consideremos a correspondente aplicação bilinear
V- Ð\ß ‘Ñ ‚ P"69- Ð\ß IÑ Ä I ,
Ð:ß Ò1ÓÑ È Ø:ß Ò1ÓÙ œ ( :ÐBÑ 1ÐBÑ . .ÐBÑ.
\

Se Ò1Óß Ò2Ó − P"69- Ð\ß IÑ são tais que Ø:ß Ò1ÓÙ œ Ø:ß Ò2ÓÙ, para todo o
: − V- Ð\ß ‘Ñ, então Ò1Ó œ Ò2Ó, isto é, 1ÐBÑ œ 2ÐBÑ quase sempre.
Dem: Basta atender a que, para todo o : − V- Ð\ß ‘Ñ, vem
Ø:ß Ò1Ó  Ò2ÓÙ œ Ø:ß Ò1ÓÙ  Ø:ß Ò2ÓÙ œ !,
portanto Ò1Ó  Ò2Ó œ !. 

Vamos agora examinar um resultado, o teorema de Riesz, que relaciona as


medidas de Radon num espaço topológico localmente compacto separado
e de base contável \ , com certos funcionais lineares FÀ V- Ð\ß ‘Ñ Ä ‘,
funcionais esses que são tomados por alguns autores como ponto de
partida para o estudo da medida nestes espaços topológicos.

III.4.25 Seja \ um espaço topológico localmente compacto separado e de base


contável. Notemos V- Ð\ß ‘ Ñ o subconjunto de V- Ð\ß ‘Ñ constituído pelos
: tais que :Ð\Ñ § ‘ . Vamos dizer que uma aplicação linear
FÀ V- Ð\ß ‘Ñ Ä ‘
é um funcional linear positivo se FÐ:Ñ   !, para cada : − V- Ð\ß ‘ Ñ.
Se FÀ V- Ð\ß ‘Ñ Ä ‘ é um funcional linear positivo e se :ß < − V- Ð\ß ‘Ñ
verificam :ÐBÑ Ÿ <ÐBÑ, para cada B − \ , então FÐ:Ñ Ÿ FÐ<Ñ.
298 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Dem: Podemos considerar o elemento <  : − V- Ð\ß ‘Ñ, para o qual se tem
<ÐBÑ  :ÐBÑ   !, para cada B − \ , pelo que, por definição,
! Ÿ FÐ<  :Ñ œ FÐ<Ñ  FÐ:Ñ. 

III.4.26 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto separado e de base


contável e .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon. Fica então definido um fun-
cional linear positivo associado

F. À V- Ð\ß ‘Ñ Ä ‘, F. Ð:Ñ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ


\

(cf. III.4.14, com : œ ").


III.4.27 (Teorema de Riesz) Sejam \ um espaço topológico localmente com-
pacto separado e de base contável e FÀ V- Ð\ß ‘Ñ Ä ‘ um funcional linear
positivo. Existe então uma, e uma só, medida de Radon .À U\ Ä ‘ que
tenha F como funcional linear positivo associado, isto é, tal que F œ F. .
Mais precisamente, para cada aberto Y de \ , .ÐY Ñ é o supremo dos
números reais da forma F(:), com : ¡ Y (cf. a notação em III.4.10) e, para
cada boreliano E de \ , .ÐEÑ é o ínfimo dos .ÐY Ñ, com Y aberto e E § Y .
Dem: Para uma melhor sistematização, vamos dividir a prova em várias
alíneas, cada uma com a sua justificação.
a) Vamos mostrar que, se . é uma medida de Radon tal que F œ F. , então a
medida . está necessariamente caracterizada do modo referido no enunciado,
o que provará, em particular, a afirmação de unicidade.
Subdem: Seja Y um aberto de \ . Para cada : ¡ Y , tem-se
:ÐBÑ Ÿ ˆY ÐBÑ, donde

FÐ:Ñ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( ˆY ÐBÑ . .ÐBÑ œ .ÐY Ñ.


\ \

Por outro lado, para cada +  .ÐY Ñ, resulta da alínea c) de III.4.6 a


existência de um compacto O § Y tal que +  .ÐOÑ e considerando então,
pelo lema de Urysohn em III.4.11, : ¡ Y tal que :ÐBÑ œ " para B − O ,
vemos que ˆO ÐBÑ Ÿ :ÐBÑ, donde

+  .ÐOÑ œ ( ˆO ÐBÑ . .ÐBÑ Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ FÐ:Ñ,


\ \

o que mostra que .ÐY Ñ é efetivamente o supremo dos FÐ:Ñ com : ¡ Y . O


facto de .ÐEÑ ser o ínfimo dos .ÐY Ñ, com Y aberto e E § Y , é uma
propriedade geral das medidas de Radon (cf. a alínea b) de III.4.6).
b) Para cada aberto Y de \ , seja .‡ ÐY Ñ − ‘ o supremo dos F(:) com
: ¡ Y . Tem-se então que .‡ verifica as propriedades: b1) .‡ ÐgÑ œ !; b2) Se
Y § Y w , então .‡ ÐY Ñ Ÿ .‡ ÐY w Ñ; b3) Se ÐY4 Ñ4−N é uma família de abertos de
\, então
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 299

.‡ Ð. Y4 Ñ Ÿ " .‡ ÐY4 Ñ. 139


4−N 4−N

Subdem: A propriedade b1) resulta de que, se : ¡ Y , então : œ ! e a


propriedade b2) é consequência de que, se Y § Y w , para cada : ¡ Y tem-se

remos : ¡ -Y4 arbitrário. Seja O § -Y4 um compacto tal que :ÐBÑ œ !


também : ¡ Y w . Seja agora ÐY4 Ñ4−N uma família de abertos de \ e conside-

para cada B − \ Ï O e seja M § N uma parte finita tal que O § - Y4 . Pelo


4−M
teorema da partição da unidade em III.4.12, podemos considerar, para cada

que ! :4 ÐBÑ œ " para cada B − O . Tem-se então, para cada B − \ ,


4 − M , :4 À \ Ä Ò!ß "Ó contínua de suporte compacto com :4 ¡ Y4 de modo

4−M

:ÐBÑ œ " :4 ÐBÑ :ÐBÑ,


4−M

visto que, se B Â O , ambos os membros são nulos. Uma vez que se tem
:4 : ¡ Y4 , obtemos

FÐ:Ñ œ " FÐ:4 :Ñ Ÿ " .‡ ÐY4 Ñ Ÿ " .‡ ÐY4 Ñ


4−M 4−M 4−N

donde, passando ao supremo em :, concluímos a desigualdade


.‡ Ð. Y4 Ñ Ÿ " .‡ ÐY4 Ñ.
4−N 4−N

c) Para cada conjunto E § \ , seja .‡ ÐEÑ o ínfimo dos .‡ ÐY w Ñ com Y w


aberto de \ e E § Y w . Tem-se então que .‡ é uma medida exterior em \ e,
para cada aberto Y de \ , .‡ ÐY Ñ œ .‡ ÐY Ñ.
Subdem: O facto de, para cada aberto Y de \ , se ter .‡ ÐY Ñ œ .‡ ÐY Ñ é
uma consequência da propriedade b2), que garante que o ínfimo que define
.‡ ÐY Ñ é mesmo um mínimo, atingido para Y w œ Y . Concluímos, em
particular que .‡ ÐgÑ œ !. O facto de se ter .‡ ÐEÑ Ÿ .‡ ÐEw Ñ, sempre que
E § Ew resulta de que então qualquer aberto que contém Ew também contém
E. Resta-nos mostrar que, se ÐE4 Ñ4−N é uma família contável de subconjuntos
de \ , tem-se

(1) .‡ Ð. E4 Ñ Ÿ " .‡ ÐE4 Ñ,


4−N 4−N

para o que se pode já supor que o segundo membro é finito, em particular,

139Trata-sedas propriedades análogas às que definem as medidas exteriores, com o bónus


de não se exigir que N seja contável, mas as medidas exteriores estão definidas em todos
os subconjuntos, e não só nos abertos.
300 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

família Ð$4 Ñ4−N com $4  ! e !$4 Ÿ $ (cf. I.3.10) e seja, para cada 4 − N , Y4
para cada 4 − N , .‡ ÐE4 Ñ  _. Seja $  ! arbitrário. Consideremos uma

um aberto tal que E4 § Y4 e .‡ ÐY4 Ñ Ÿ .‡ ÐE4 Ñ  $4 . Tem-se então que -Y4 é


um aberto contendo -E4 , pelo que, tendo em conta b3),

.‡ Ð. E4 Ñ Ÿ .‡ Ð. Y4 Ñ Ÿ " .‡ ÐY4 Ñ Ÿ " Ð.‡ ÐE4 Ñ  $4 Ñ Ÿ ˆ" .‡ ÐE4 щ  $ ,


4−N 4−N 4−N 4−N 4−N

o que, tendo em conta a arbitrariedade de $  !, implica a desigualdade (1).


d) A restrição . da medida exterior .‡ à 5 -álgebra U\ dos borelianos de \ é
uma medida.
Subdem: Tendo em conta I.4.5, sabemos que a restrição de .‡ à
5 -álgebra dos conjuntos .‡ -mensuráveis é uma medida, pelo que a conclusão
desta alínea ficará justificada se mostrarmos que todo o boreliano de \ é
.‡ -mensurável, para o que bastará mostrar que, se Y § \ é aberto, então Y
é .‡ -mensurável, isto é, para cada E § \ ,
(2) .‡ ÐEÑ œ .‡ ÐE  Y Ñ  .‡ ÐE Ï Y Ñ.
Sejam então Y § \ um aberto e E § \ arbitrário. Para provar (2) bastará
provar a desigualdade
(3) .‡ ÐEÑ   .‡ ÐE  Y Ñ  .‡ ÐE Ï Y Ñ,
uma vez que a desigualdade oposta resulta de .‡ ser uma medida exterior e
de se ter E œ ÐE  Y Ñ  ÐE Ï Y Ñ. Tendo em conta a definição de .‡ ÐEÑ
como um ínfimo, para mostrarmos (3) bastará mostrarmos que, para cada
aberto Z ¨ E, tem-se
(4) .‡ ÐZ Ñ   .‡ ÐE  Y Ñ  .‡ ÐE Ï Y Ñ,
e, uma vez que .‡ ÐZ  Y Ñ   .‡ ÐE  Y Ñ e .‡ ÐZ Ï Y Ñ   .‡ ÐE Ï Y Ñ, para
provarmos (4) bastará mostrar que
(5) .‡ ÐZ Ñ   .‡ ÐZ  Y Ñ  .‡ ÐZ Ï Y Ñ.
Para provar (5) podemos já supor que .‡ ÐZ Ñ  _ e portanto, por termos
conjuntos contidos em Z , também .‡ ÐZ  Y Ñ  _ e .‡ ÐZ Ï Y Ñ  _,
caso em que escrevemos (5) na forma equivalente
(6) .‡ ÐZ  Y Ñ Ÿ .‡ ÐZ Ñ  .‡ ÐZ Ï Y Ñ.
Tendo em conta a definição de .‡ ÐZ  Y Ñ como um supremo, para provar
(6) basta mostrar que, para cada : ¡ Z  Y tem-se
(7) FÐ:Ñ Ÿ .‡ ÐZ Ñ  .‡ ÐZ Ï Y Ñ.
Seja O § Z  Y um compacto tal que :ÐBÑ œ ! para cada B  O . Uma vez
que Z Ï O é aberto e .‡ ÐZ Ï Y Ñ Ÿ .‡ ÐZ Ï OÑ œ .‡ ÐZ Ï OÑ, para provar
(7) basta provar que
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 301

FÐ:Ñ Ÿ .‡ ÐZ Ñ  .‡ ÐZ Ï OÑ
ou seja, escrito de outra forma,
(8) .‡ ÐZ Ï OÑ Ÿ .‡ ÐZ Ñ  FÐ:Ñ.
Mais uma vez, tendo em conta a definição de .‡ ÐZ Ï OÑ como um supremo,
para provar (8) basta provar que, para cada < ¡ Z Ï O tem-se
FÐ<Ñ Ÿ .‡ ÐZ Ñ  FÐ:Ñ,
ou, o que é equivalente,
(9) FÐ:  <Ñ Ÿ .‡ ÐZ Ñ.
Mas, sendo O w § Z Ï O um compacto tal que <ÐBÑ œ ! para cada B  O w ,
tem-se que O  O w é um compacto contido em Z tal que :ÐBÑ  <ÐBÑ œ !
para cada B Â O  O w e o facto de, para cada B − \ com :ÐBÑ Á !, ser
B − O , e portanto B  O w , donde <ÐBÑ œ !, implica que, para cada B − \ ,
:ÐBÑ  <ÐBÑ Ÿ ", e portanto :  < ¡ Z . A desigualdade (9), que nos
faltava provar, é assim uma consequência da definição de .‡ ÐZ Ñ como um
supremo.
e) Sejam E § \ boreliano, +   ! e : − V- Ð\ß ‘ Ñ tal que :ÐBÑ   +, para
cada B − E. Tem-se então FÐ:Ñ   +.ÐEÑ.
Subdem: Podemos já afastar o caso trivial em que + œ !. Consideremos
-  " arbitrário. Consideremos o aberto Y de \ ,
-
Y œ ÖB − \ ± :ÐBÑ  "×,
+
que contém E. Sendo < ¡ Y arbitrário, tem-se <ÐBÑ Ÿ +- :ÐBÑ, para cada
B − \ , uma vez que, se B − Y , <ÐBÑ Ÿ "  +- :ÐBÑ e, se B  Y , <ÐBÑ œ !, e
concluímos agora da propriedade de monotonia referida em III.4.25 que se
tem
- -
FÐ<Ñ Ÿ FÐ :Ñ œ FÐ:Ñ.
+ +
A definição de .ÐY Ñ œ .‡ ÐY Ñ como um supremo implica agora que se tem
.ÐY Ñ Ÿ +- FÐ:Ñ, e portanto, por ser .ÐEÑ Ÿ .ÐY Ñ, também
-
.ÐEÑ Ÿ FÐ:Ñ.
+
Tendo em conta a arbitrariedade de - , podemos considerar, para cada 8 − ,
- œ "  8" , e, passando ao limite a sucessão de desigualdades obtida, vemos
que .ÐEÑ Ÿ +" FÐ:Ñ, ou seja, FÐ:Ñ   +.ÐEÑ.
f) Em particular, deduzimos de e) que . é uma medida de Radon.
Subdem: Se O § \ é um compacto, o lema de Urysohn em III.4.11
garante a existência de : ¡ \ tal que :ÐBÑ œ " para cada B − O , o que
302 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

implica que .ÐOÑ Ÿ FÐ:Ñ  _.


g) Sejam O § \ compacto, ,   ! e : − V- Ð\ß ‘Ñ tal que :Ð\Ñ § Ò!ß ,Ó e
:ÐBÑ œ !, para cada B  O . Tem-se então FÐ:Ñ Ÿ ,.ÐOÑ.
Subdem: Podemos já afastar o caso trivial em que , œ !, e portanto
: œ !. Se Y é um aberto arbitrário com O § Y , vemos que ", : ¡ Y e
portanto, pela definição de .‡ ÐY Ñ como um supremo,
" "
FÐ:Ñ œ FÐ :Ñ Ÿ .‡ ÐY Ñ.
, ,
A definição de .ÐOÑ œ .‡ ÐOÑ como um ínfimo implica agora que se tem
"
, FÐ:Ñ Ÿ .ÐOÑ.
h) Sejam, mais geralmente, E § \ boreliano, ,   ! e : − V- Ð\ß ‘Ñ tal que
:Ð\Ñ § Ò!ß ,Ó e :ÐBÑ œ !, para cada B  E. Tem-se então FÐ:Ñ Ÿ ,.ÐEÑ.
Subdem: Podemos já afastar o caso trivial em que , œ !, e portanto
: œ !. Seja O § \ um compacto tal que :ÐBÑ œ !, para cada B  O . Seja
Y um aberto arbitrário de \ tal que E § Y . Seja &  ! arbitrário. Sendo
s œ ÖB − \ ± :ÐBÑ  ,&×, que é um aberto de \ com \ œ Y  Y
Y s, o
teorema da partição da unidade em III.4.12 garante a existência de funções
contínuas de suporte compacto <ß <s À \ Ä Ò!ß "Ó tais que < ¡ Y , <
s¡Ys , tais
que <ÐBÑ  <s ÐBÑ œ ", para cada B − O . Para cada B − \ tem-se então
" " " s ÐBÑ
:ÐBÑ œ :ÐBÑ<ÐBÑ  :ÐBÑ<
, , ,
(ambos os membros são ! se B Â O ), onde ", :< ¡ Y (< ¡ Y e ", :ÐBÑ Ÿ ")
e a aplicação de suporte compacto \ Ä Ò!ß _Ò, B È ", :ÐBÑ< s ÐBÑ anula-se
fora de O e fora de Y " s ÐBÑ Ÿ & para
s e, por esta última razão, verifica :ÐBÑ<
,
cada B − \ . Tendo em conta a definição de .‡ ÐY Ñ como um supremo,
vemos que FÐ ", :<Ñ Ÿ .‡ ÐY Ñ e, tendo em conta a conclusão de g), vemos
s Ñ Ÿ &.ÐOÑ, pelo que podemos garantir que
que FÐ ", :<
" " " s
FÐ :Ñ œ FÐ :<Ñ  FÐ :< Ñ Ÿ .‡ ÐY Ñ  &.ÐOÑ.
, , ,
Tendo em conta a arbitrariedade de &  !, podemos considerar, para cada
8 − , & œ 8" e, passando ao limite a sucessão de desigualdades obtida,
vemos que FÐ ", :Ñ Ÿ .‡ ÐY Ñ. Tendo em conta a definição de .ÐEÑ œ .‡ ÐEÑ
como um ínfimo, deduzimos agora que ", FÐ:Ñ œ FÐ ", :Ñ Ÿ .ÐEÑ, que é
equivalente à desigualdade enunciada.
i) Seja : − V- Ð\ß ‘ Ñ. Tem-se então

FÐ:Ñ Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ.


\

Subdem: Afastemos já o caso trivial em que : œ !, e portanto ambos os


membros da desigualdade são !. Seja O § \ um compacto tal que
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 303

:ÐBÑ œ !, para cada B  O e seja Q  ! maior que o máximo para B − O


de :ÐBÑ. Tem-se assim :Ð\Ñ § Ò!ß Q Ò. Seja 8 −  arbitrário.
Vamos definir funções contínuas :" ß :# ß á ß :8 À \ Ä Ò!ß Q
8 Ó por
Ú
Ý !, se :ÐBÑ Ÿ Q Ð5"Ñ
,
:5 ÐBÑ œ Û :ÐBÑ 
8

ÝQ
Q Ð5"Ñ Q Ð5"Ñ Q5
Ÿ :ÐBÑ Ÿ
Ü 8,
8 , se 8 8 ,
Q5
se 8 Ÿ :ÐBÑ,

cada uma das quais é contínua, por ter restrição contínua a três fechados cuja
união é \ (os correspondentes a cada um dos casos da definição respetiva) e
tem suporte compacto, uma vez que, para cada B  O , :ÐBÑ œ !, e portanto
também :5 ÐBÑ œ !. Reparemos que, para cada B − \ , tem-se
:ÐBÑ œ :" ÐBÑ  :# ÐBÑ  â  :8 ÐBÑ,
uma vez que existe " Ÿ 5 Ÿ 8, não necessariamente único, tal que
Q Ð5"Ñ
8 Ÿ :ÐBÑ Ÿ Q85 e que, para um tal 5 , tem-se :4 ÐBÑ œ !, para cada
4  5 , :5 ÐBÑ œ :ÐBÑ  Q Ð5"Ñ
8 e :4 ÐBÑ œ Q 8 , para cada " Ÿ 4 Ÿ 8  ".
Consideremos os borelianos \" ß \# ß á ß \8 , disjuntos dois a dois e de união
O, definidos por
Q Ð5  "Ñ Q5
\5 œ ÖB − O ± Ÿ :ÐBÑ  ×
8 8
e reparemos que, aplicando a conclusão de h) a :5 , que verifica :5 ÐBÑ œ !
para cada B Â \5  \5"  â  \8 , concluímos que
Q Q
FÐ:5 Ñ Ÿ .Ð\5  â  \8 Ñ œ Ð.Ð\5 Ñ  â  .Ð\8 ÑÑ,
8 8
e portanto que
FÐ:Ñ œ FÐ:" Ñ  FÐ:# Ñ  â  FÐ:8 Ñ Ÿ
ˆ.Ð\" Ñ  #.Ð\# Ñ  â  8.Ð\8 щ.
(10) Q
Ÿ
8
Q Ð5"Ñ
Por outro lado, uma vez que, para cada B − \5 , :ÐBÑ   8 , podemos
escrever

( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ " (


8
:ÐBÑ . .ÐBÑ  
\ O 5œ" \5

  "(
8
Q Ð5  "Ñ
. .ÐBÑ œ
5œ" \5 8

ˆ.Ð\# Ñ  #.Ð\$ Ñ  â  Ð8  "Ñ.Ð\8 щ


Q
œ
8
o que, comparado com (10), implica que
304 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

ˆ.Ð\" Ñ  .Ð\# Ñ  â  .Ð\8 щ Ÿ


Q Q
F Ð: Ñ  .ÐOÑ œ FÐ:Ñ 
8 8
ˆ.Ð\# Ñ  #.Ð\$ Ñ  â  Ð8  "Ñ.Ð\8 щ Ÿ
Q
Ÿ
8
Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ.
\

Tendo em conta a arbitrariedade de 8, podemos passar ao limite a sucessão


de desigualdades precedente para concluir a desigualdade pretendida.
j) Seja, mais geralmente, : − V- Ð\ß ‘Ñ, não necessariamente tal que
:Ð\Ñ § Ò!ß _Ò. Tem-se então ainda

FÐ:Ñ Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ.


\

Subdem: Basta examinar o caso em que não se tem :Ð\Ñ § Ò!ß _Ò e,
sendo O § \ um compacto tal que :ÐBÑ œ ! para cada B  O , seja Q  !
tal que Q seja o mínimo de :ÐBÑ para B − O . Seja &  ! arbitrário.
Uma vez que .ÐOÑ  _, a caracterização desta medida como um ínfimo
permite fixar um aberto Y de \ , com O § Y e .ÐY Ñ  .ÐOÑ  &. Tendo
em conta o lema de Urysohn em III.4.11, consideremos uma função contínua
<À \ Ä Ò!ß "Ó tal que < ¡ Y e <ÐBÑ œ ", para cada B − O . O que vimos na
alínea e) implica que .ÐOÑ Ÿ FÐ<Ñ. Por outro lado, uma vez que a aplicação
contínua de suporte compacto :  Q < já tem a propriedade de se ter
:ÐBÑ  Q <ÐBÑ   !, para cada B − \ , deduzimos do que se viu em i) que
FÐ:Ñ  Q .ÐOÑ Ÿ FÐ:Ñ  Q FÐ<Ñ œ FÐ:  Q <Ñ Ÿ
Ÿ ( :ÐBÑ  Q <ÐBÑ . .ÐBÑ œ
\

œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ  Q ( <ÐBÑ. .ÐBÑ Ÿ


\ \

Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ  Q .ÐY Ñ


\

e portanto

FÐ:Ñ Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ  Q Ð.ÐY Ñ  .ÐOÑÑ Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ  Q &.


\ \

Mais uma vez, tendo em conta a arbitrariedade de &, podemos substituir & por
"
8 e tomar o limite de ambos os membros para deduzir a desigualdade preten-
dida.
k) Sendo : − V- Ð\ß ‘Ñ arbitrário, podemos aplicar o que vimos em j) à
função : − V- Ð\ß ‘Ñ para deduzir que
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 305

FÐ:Ñ œ FÐ:Ñ Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ,


\ \

portanto

FÐ:Ñ   ( :ÐBÑ . .ÐBÑ,


\

o que, em conjunto com a desigualdade em j), implica a igualdade

FÐ:Ñ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ F. Ð:Ñ. 


\

III.4.28 (Visão alternativa sobre os funcionais lineares positivos) Sejam \


um espaço topológico localmente compacto separado e de base contável e
FÀ V- Ð\ß ‘ Ñ Ä ‘ uma aplicação verificando as propriedades
FÐ:  <Ñ œ FÐ:Ñ  FÐ<Ñ, FÐ+:Ñ œ +FÐ:Ñ,

quaisquer que sejam :ß < − V- Ð\ß ‘ Ñ e + − ‘ .140 Existe então uma, e


uma só, aplicação linear FÀ V- Ð\ß ‘Ñ Ä ‘ que prolonga F, e este prolonga-
mento vai ser trivialmente um funcional linear positivo.
Dem: Comecemos por reparar que de se ter
FÐ!Ñ œ FÐ!  !Ñ œ FÐ!Ñ  FÐ!Ñ,
deduzimos que FÐ!Ñ œ !. Reparemos agora que, para cada : − V- Ð\ß ‘Ñ,
existem : e : em V- Ð\ß ‘ Ñ tais que :ÐBÑ œ : ÐBÑ  : ÐBÑ, para cada
B − \, por exemplo os definidos por
l:ÐBÑl  :ÐBÑ l:ÐBÑl  :ÐBÑ
: ÐBÑ œ , : ÐBÑ œ ,
# #
que se anulam em cada B tal que :ÐBÑ œ !. Este facto já implica a unicidade
de um prolongamento linear F de F, visto que, para um tal : com uma
decomposição como atrás, não pode deixar de ser FÐ:Ñ œ FÐ: Ñ  FÐ: Ñ.
Reparemos agora que fica bem definida uma aplicação FÀ V- Ð\ß ‘Ñ Ä ‘
pela condição de se ter FÐ:Ñ œ FÐ: Ñ  FÐ: Ñ, qualquer que seja o par de
elementos : ß : de V- Ð\ß ‘ Ñ com : œ :  : visto que, dado outro
par :
s ß :
s também com : œ : s  :s , vinha :  :
s œ : s  : , donde
FÐ: Ñ  FÐ:
s Ñ œ FÐ:  :
s Ñ œ FÐ:
s  : Ñ œ FÐ:
s Ñ  FÐ: Ñ,

e portanto FÐ: Ñ  FÐ: Ñ œ FÐ:


s Ñ  FÐ:
s Ñ. O facto de a aplicação F

140Por outras palavras F é “tão linear quanto possível”, tendo em conta o facto de o seu
domínio não ser um espaço vetorial.
306 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

assim definida ser um prolongamento de F resulta de que da igualdade


FÐ!Ñ œ ! e do facto de cada : − V- Ð\ß ‘ Ñ se poder escrver na forma
:  !, onde : e 0 pertencem a V- Ð\ß ‘ Ñ. Resta-nos mostrar que o
prolongamento F é linear. Ora, dados :ß < − V- Ð\ß ‘Ñ, com as decomposi-
ções : œ :  : e < œ <  < como diferenças de elementos de
V- Ð\ß ‘ Ñ, tem-se :  < œ Ð:  < Ñ  Ð:  < Ñ, onde tanto :  <
como :  < pertencem a V- Ð\ß ‘ Ñ, o que implica que
FÐ:  <Ñ œ FÐ:  < Ñ  FÐ:  < Ñ œ
œ FÐ: Ñ  FÐ< Ñ  FÐ: Ñ  FÐ< Ñ œ
œ FÐ:Ñ  FÐ<Ñ

e, analogamente, para +   !, +: œ +:  +: , com +: e +: em


V- Ð\ß ‘ Ñ, donde
FÐ+:Ñ œ FÐ+: Ñ  FÐ+: Ñ œ +FÐ: Ñ  +FÐ: Ñ œ
œ +ÐFÐ: Ñ  FÐ: ÑÑ œ +FÐ:Ñ

e, para + Ÿ !, +: œ Ð+: Ñ  (+: ), com +: e +: em V- Ð\ß ‘ Ñ,


donde
FÐ+:Ñ œ FÐ+: Ñ  FÐ+: Ñ œ +FÐ: Ñ  (+)FÐ: Ñ œ
œ +ÐFÐ: Ñ  FÐ: ÑÑ œ +FÐ:Ñ. 

Exercícios

Ex III.4.1 (O suporte de uma medida de Radon) Sejam \ um espaço


topológico localmente compacto, separado e com base contável e
.À U\ Ä ‘ uma medida de Radon. Define-se o suporte W da medida .
como sendo o conjunto dos pontos B − \ tais que .ÐY Ñ  !, para todo o
aberto Y de \ com B − Y . Diz-se que a medida de Radon . é estritamente
positiva se o seu suporte W é igual a \ .
a) Verificar que uma medida de Radon . é estritamente positiva se, e só se
.ÐY Ñ  !, para cada aberto não vazio Y . Deduzir, em particular, que, se . é
uma medida de Radon estritamente positiva nos borelianos de \ , então a sua
restrição a um aberto Z § \ é ainda estritamente positiva.
b) Mostrar que o suporte W de . é um conjunto fechado tal que
.Ð\ Ï WÑ œ !. Sugestão: Sendo V uma base contável de abertos de \ ,
verificar que \ Ï W é a união de todos os Y − V tais que .ÐY Ñ œ !.
c) Verificar que o complementar \ Ï W do suporte de . é “o maior aberto de
medida nula” de \ , no sentido que, para além de se ter .Ð\ Ï WÑ œ !,
tem-se \ Ï W ¨ Y , para cada aberto Y com .ÐY Ñ œ !.
d) Verificar que a medida de Lebesgue -8 nos borelianos de ‘8 é
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 307

estritamente positiva, isto é, que o seu suporte é a totalidade de ‘8 Þ


e) Se :À \ Ä ‘ é uma função, o suporte de : é a aderência em \ do
conjunto E dos pontos B − \ tais que :ÐBÑ  !. 141 Verificar que, se . é
uma medida de Radon nos borelianos de \ , com suporte W e se :À \ Ä ‘
é uma função contínua, com suporte E, então o suporte da medida de Radon
.Ð:Ñ associada (cf. III.4.16) é igual a W  E (em particular, se a medida . é
estritamente positiva, o suporte de .Ð:Ñ coincide com o suporte de :).
Sugestão: Mostrar os seguintes três factos: 1) Se B! Â W , então B! não
pertence ao suporte de .Ð:Ñ ; 2) Se B! Â E, então B! não pertence ao suporte
de .Ð:Ñ ; 3) Se B! não pertence ao suporte de .Ð:Ñ e B! − E, então B! − W .
Ex III.4.2 (Valor de uma classe num ponto) Sejam \ um espaço topológico
localmente compacto, separado e com base contável e .À U\ Ä ‘ uma
medida de Radon estritamente positiva (cf. o exercício III.4.1). Sejam I um
espaço de Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação topologicamente mensurável.
Vamos dizer que a classe Ò0 Ó − Q /8=Ð\ß IÑ admite um vetor A! − I como
valor no ponto B! − \ se, para cada $  !, existe um aberto Z de \ , com
B! − Z , tal que m0ÎZ ÐBÑ  A! m  $ quase sempre, por outras palavras, para
um certo boreliano E § Z , com .ÐEÑ œ !, m0 ÐBÑ  A! m  $ para cada
B − Z Ï E.
a) Mostrar que a classe Ò0 Ó não pode admitir num ponto B! − \ mais que um
valor, o que torna legítimo notar Ò0 ÓÐB! Ñ œ A! o valor, quando exista, da
classe Ò0 Ó no ponto B! .142
b) Reparar que, se 0 é contínua no ponto B! , então a classe Ò0 Ó admite 0 ÐB! Ñ
como valor no ponto B! , por outras palavras, Ò0 ÓÐB! Ñ œ 0 ÐB! Ñ. Concluir, em
particular, que a definição que apresentámos generaliza a que foi dada em
III.2.4.
c) Suponhamos que a classe Ò0 Ó admite um valor em cada ponto B − \ e seja
s0 À \ Ä I a aplicação definida por s0 ÐBÑ œ Ò0 ÓÐBÑ. Mostrar que a aplicação
s0 À \ Ä I é contínua e que Ò0 Ó œ Ò0s Ó em Q /8=Ð\ß IÑ.143
Sugestão: 1) Partir de uma base contável V de abertos de \ e mostrar que se
pode considerar, para cada 5 − , uma base de abertos V5 , constituída pelos
abertos Y − V tais que exista A − I com m0ÎY ÐBÑ  Am  5" quase sempre.
2) Concluir que, para cada 5 −  e Y − V5 , existe um boreliano E5ßY § Y ,
com .ÐE5ßY Ñ œ !, tal que m0 ÐBÑ  0 ÐCÑm  5# , sempre que Bß C − Y Ï E5ßY .
Considerar o boreliano E § \ , com .ÐEÑ œ !, definido por

141Comparando com a definição de suporte de uma aplicação 0 À \ Ä I , com valores no


espaço de Banach I , referida na nota 133 na página 285, constatamos que esse suporte
não é mais do que o suporte da função :ÐBÑ œ m0 ÐBÑm, com valores em ‘ .
142É para a validade desta conclusão que temos que a admitir que a medida de Radon seja
estritamente positiva.
143Comparar com a noção de classe contínua dada em III.2.4, no caso em que \ é um
aberto de ‘8 , com a medida de Lebesgue nos respetivos borelianos.
308 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

E œ . Š . E5ßY ‹.
5− Y −V5

3) Mostrar que, se Y − V5 e B − Y , então existe Bw − Y Ï E tal que


m0 ÐBw Ñ  s0 ÐBÑm  5" .
4) Deduzir de 3) que, se Y − V5 e Bß C − Y , então m0 s ÐCÑ  s0 ÐBÑm  % e
5
concluir daqui que s0 À \ Ä I é contínua.
5) Deduzir de 3) que, se B − \ Ï E, então 0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ, começando por
mostrar que, para 5 −  arbitrário, m0 ÐBÑ  s0 ÐBÑm  5$ .
Ex III.4.3 (Teorema de Lusin) Sejam \ um espaço topológico localmente
compacto, separado e com base contável e .À U\ Ä ‘ uma medida de
Radon. Sejam I um espaço de Banach e 0 À \ Ä I uma aplicação topologi-
camente mensurável.
a) Mostrar que, para cada $  !, existe um subconjunto fechado G § \ tal
que .Ð\ Ï GÑ  $ e que 0ÎG À G Ä I seja contínua.
Sugestão:144 Seja ÐZ8 Ñ8− uma sucessão de abertos de 0 Ð\Ñ cujo conjunto
dos termos seja uma base de abertos deste subespaço topológico de I . Para
cada 8 − , notando E8 œ 0 " ÐZ8 Ñ − U\ e E8w œ \ Ï E8 , utilizar o
resultado de regularidade na alínea d) de III.4.6 para considerar fechados G8
e G8w de \ , com
$ $
G8 § E8 , G8w § \ Ï E8 , .ÐE8 Ï G8 Ñ  , .ÐE8w Ï G8w Ñ 
#8" #8"
e mostrar que o conjunto fechado de \ ,
G œ , ÐG8  G8w Ñ
8−

verifica as condições pedidas. Para verificar a continuidade da restrição de 0


a G , reparar que, se B! − G e 8 é tal que 0 ÐB! Ñ − Z8 , então B! − \ Ï G8w e 0
aplica G  Ð\ Ï G8w Ñ em Z8 .
b) Utilizar a conclusão de a) para mostrar que, no caso em que .Ð\Ñ  _,
para cada $  ! existe um compacto O § \ com .Ð\ Ï OÑ  $ e
0ÎO À O Ä I contínua. Sugestão: Ter em conta a alínea c) de III.4.6.
Ex III.4.4 Verificar que G- Б8 ß ‘Ñ não é denso em P_ Б8 ß ‘Ñ (comparar com
III.4.14). Sugestão: Considerar a função identicamente igual a ".
Ex III.4.5 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto, separado e com
base contável, .À U\ Ä ‘ uma medida de Radon e :À \ Ä Ò!ß _Ò uma

' :ÐBÑ . .ÐBÑ é o supremo dos integrais ' :ÐBÑ . .ÐBÑ, com O compacto
função localmente integrável. Mostrar que, se E − U\ , então o integral
E O

144A prova seguindo as linhas desta sugestão é devida a Loeb e Talvila, [8]Þ
§4. Medidas de Radon em localmente compactos 309

contido em E, e o ínfimo dos integrais 'Y :ÐBÑ . .ÐBÑ, com Y aberto


contendo E. Sugestão: Lembrar que a medida .Ð:Ñ é uma medida de Radon.
Ex III.4.6 (Topologia de P"69- Ð\ß IÑ) Sejam \ um espaço topológico local-
mente compacto separado e de base contável, .À U\ Ä ‘ uma medida de
Radon e I um espaço de Banach. Dados Ò0 Ó − P"69- Ð\ß IÑ, um compacto
O § \ e $  !, notemos
UOß$ ÐÒ0 ÓÑ œ ÖÒ1Ó − P"69- Ð\ß IÑ ± mÒ1ÎO Ó  Ò0ÎO Óm"  $ ×.

a) Mostrar que existe uma topologia em P"69- Ð\ß IÑ definida pela condição
um conjunto i § P"69- Ð\ß IÑ ser uma vizinhança de Ò0 Ó − P69- "
Ð\ß IÑ se, e
só se, existe um compacto O § \ e $  ! tais que UOß$ ÐÒ0 ÓÑ § i Þ
b) Mostrar que uma sucessão de elementos Ò08 Ó − P"69- Ð\ß IÑ converge para
um elemento Ò0 Ó − P"69- Ð\ß IÑ em P69- "
Ð\ß IÑ (cf. III.4.19) se, e só se,
converge para esta topologia.
c) Verificar que, para a topologia de P"69- Ð\ß IÑ definida em a), cada
Ò0 Ó − P"69- Ð\ß IÑ admite um sistema fundamental de vizinhanças numerável.
Mais precisamente, considerando uma sucessão crescente de compactos
O8 § \ nas condições da alínea b) de III.4.5 (para Y œ \ ), verificar que se
obtém um tal sistema fundamental de vizinhanças tomando a classe dos
conjuntos UO8 ß 8" ÐÒ0 ÓÑ, com 8 − . Sugestão: Utilizar a propriedade das
coberturas dos compactos para mostrar que qualquer compacto O § \ está
contido num dos compactos O8 .
d) Verificar que a topologia que consideramos em P"69- Ð\ß IÑ é separada (de
Hausdorff).
e) Verificar que G- Ð\ß IÑ é denso em P"69- Ð\ß IÑ, para a topologia que
consideramos neste espaço (comparar com III.4.14).
Sugestão: Dados 0 em P"69- Ð\ß IÑ, um compacto O § \ e $  !, aplicar a
conclusão da alínea a) de III.4.5 para considerar um aberto Y w e um
compacto O w com O § Y w § O w , reparar que 0ÎY w − P" ÐY w ß IÑ e aplicar o
resultado de densidade III.4.14, reparando que uma aplicação em V- ÐY w ß IÑ é
restrição de uma em V- Ð\ß IÑ.
f) Sejam J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação
bilinear contínua, que encaramos como uma “multiplicação”, notando, para
cada A − J e D − K, A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L . Seja 0 À \ Ä J uma aplicação
contínua. Verificar que é contínua a aplicação
P"69- Ð\ß KÑ Ä P69-
"
Ð\ß LÑ, Ò1Ó È Ò0 Ó ‚ Ò1Ó

(cf. a alínea a) de III.4.22), quando se considera no domínio e no espaço de


chegada a topologia definida em a).
Ex III.4.7 (Resultados de colagem em Q /8=Ð\ß IÑ) Sejam \ um espaço
topológico localmente compacto separado e de base contável, .À U\ Ä ‘
uma medida de Radon e I um espaço de Banach.
310 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

a) Seja 0 À \ Ä I uma aplicação tal que exista uma família de abertos


ÐY4 Ñ4−N de união \ com cada 0ÎY4 À Y4 Ä I topologicamente mensurável
(ou, equivalentemente, tal que, para cada B − \ , exista um aberto YB de \
com B − YB e 0ÎYB À YB Ä I topologicamente mensurável). Mostrar que
0 À \ Ä I é topologicamente mensurável. Sugestão: Utilizar a existência de
uma base contável de abertos de \ para garantir a existência de uma
cobertura aberta ÐZ5 Ñ5−O de \ , com o conjunto O de índices contável, tal
que cada Z5 esteja contido nalgum Y4 .
b) Sejam ÐY4 Ñ4−N uma família de abertos de \ de união \ e para cada 4 − N
Ò04 Ó − Q /8=ÐY4 ß IÑ. Suponhamos que, quaisquer que sejam os índices
4ß 4w − N , as classes Ò04 Ó e Ò04w Ó têm a mesma restrição a Y4  Y4w (como
elemento de Q /8=ÐY4  Y4w ß IÑ). Mostrar que existe uma, e uma só, classe
Ò0 Ó − Q /8=Ð\ß IÑ tal que, para cada 4 − N , Ò04 Ó œ Ò0 ÓÎY4 .
Sugestão: Começar por provar o resultado de unicidade. Seguir a mesma
ideia que a utilizada para a alínea a) para reduzir o problema ao caso em que
N é contável. O lema I.2.11 poderá ajudar a definir explicitamente a aplica-
ção 0 .

§5. Translações e produto de convolução em ‘8 .

Nesta secção, a medida que vai ser considerada é a medida de Lebesgue


-8 na 5 -álgebra U‘8 dos borelianos de ‘8 , onde naturalmente, o caso
particular em que 8 œ " também é considerado. Como referido em III.4.3,
-8 é uma medida de Radon, à qual podemos, em particular, aplicar o que
estudámos na secção III.4.

III.5.1 Lembremos que, como referido em II.5.7, para cada B − ‘8 notamos


7B À ‘8 Ä ‘8 a translação associada a B, isto é, aplicação bimensurável
definida por 7B ÐCÑ œ B  C, cuja inversa é 7B , e que a medida de Lebesgue
-8 é invariante por translação, isto é, que se tem -8 Ð7B ÐEÑÑ œ -8 ÐEÑ, para
cada E − U‘8 e cada B − ‘8 . Nesta secção estará implícito que a medida que
consideramos é a medida de Lebesgue -8 nos borelianos de ‘8 .
Dados I espaço de Banach, 0 À ‘8 Ä I aplicação topologicamente mensu-
rável e B − ‘8 , notamos 7B Ð0 ÑÀ ‘8 Ä I a aplicação topologicamente
mensurável definida por 7B Ð0 Ñ œ 0 ‰ 7B (cf. II.2.7), portanto por
7B Ð0 ÑÐCÑ œ 0 ÐC  BÑ.
Repare-se que, como se constata imediatamente, fica assim definida uma
aplicação linear
7B À MensБ8 ß IÑ Ä MensБ8 ß IÑ,
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 311

tendo-se
7! Ð0 Ñ œ 0 , 7B Ð7Bw Ð0 ÑÑ œ 7BBw Ð0 Ñ,

e portanto também 7B Ð7B Ð0 ÑÑ œ 0 .


III.5.2 Nas condições anteriores, se E § ‘8 é um boreliano e B − ‘8 , tem-se,
para a função indicatriz ˆE À ‘8 Ä ‘,
7B ЈE Ñ œ ˆ7B ÐEÑ . 145

Dem: Basta atender a que

7B ЈE ÑÐCÑ œ ˆE Ð7B ÐCÑÑ œ œ


", se C  B − E
,
!, se C  B Â E

onde a condição C  B − E é equivalente a C − 7B ÐEÑ. 


III.5.3 Sejam I um espaço de Banach, B − ‘8 e 0 ß 1À ‘8 Ä I duas aplicações
mensuráveis tais que Ò0 Ó œ Ò1Ó em Q /8=Б8 ß IÑ, isto é, tais que
0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre. Vem então Ò7B Ð0 ÑÓ œ Ò7B Ð1ÑÓ em Q /8=Б8 ß IÑ.
A aplicação linear 7B À MensБ8 ß IÑ Ä MensБ8 ß IÑ dá assim origem a uma
aplicação linear 7B À Q /8=Б8 ß IÑ Ä Q /8=Б8 ß IÑ definida por
7B ÐÒ0 ÓÑ œ Ò7B Ð0 ÑÓ.

Dem: Basta atender a que, sendo E § ‘8 um boreliano com -8 ÐEÑ œ ! tal


que 0 ÐCÑ œ 1ÐCÑ, para cada C  E, tem-se
7B Ð0 ÑÐCÑ œ 0 ÐC  BÑ œ 1ÐC  BÑ œ 7B Ð1ÑÐCÑ,
sempre que C  B Â E, isto é, sempre que C Â 7B ÐEÑ, onde 7B ÐEÑ é um
boreliano com -8 Ð7B ÐEÑÑ œ -8 ÐEÑ œ !. 
III.5.4 Nas condições anteriores, para cada " Ÿ : Ÿ _, a aplicação linear
7B À Q /8=Б8 ß IÑ Ä Q /8=Б8 ß IÑ
aplica P: Б8 ß IÑ em P: Б8 ß IÑ e tem-se m7B ÐÒ0 ÓÑm: œ mÒ0 Óm: .
Dem: Comecemos por supor que :  _ e seja Ò0 Ó − P: Б8 ß IÑ. Tendo em
conta o teorema trivial de mudança de variáveis (cf. II.1.38) e a invariância
por translação da medida de Lebesgue, obtemos então

( m7B Ð0 ÑÐCÑm: . -8 ÐCÑ œ ( m0 Ð7B ÐCÑÑm: . -8 ÐCÑ œ


‘8 ‘8

œ( m0 ÐDÑm: . -8 ÐDÑ  _,


‘8

145Este
resultado explica a razão, porventura considerada estranha, de termos utilizado a
composição com 7B na definição de 7B Ð0 Ñ.
312 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

o que mostra que 7B ÐÒ0 ÓÑ − P: Б8 ß IÑ e que m7B ÐÒ0 ÓÑm: œ mÒ0 Óm: .
Suponhamos agora que Ò0 Ó − P_ Б8 ß IÑ. Podemos assim considerar um
boreliano E § ‘8 com -8 ÐEÑ œ ! tal que m0 ÐCÑm Ÿ mÒ0 Óm_ , para cada
C Â E e tem-se então
m7B Ð0 ÑÐCÑm œ m0 ÐC  BÑm Ÿ mÒ0 Óm_ ,
sempre que C  B Â E, isto é, sempre que C Â 7B ÐEÑ, onde 7B ÐEÑ é um
boreliano de ‘8 com -8 Ð7B ÐEÑÑ œ -8 ÐEÑ œ !, o que implica que 7B ÐÒ0 ÓÑ
está em P_ Б8 ß IÑ e que m7B ÐÒ0 ÓÑm_ Ÿ mÒ0 Óm_ . Para mostrar que se tem
mesmo m7B ÐÒ0 ÓÑm_ œ mÒ0 Óm_ basta agora reparar que se pode escrever
mÒ0 Óm_ œ m7B Ð7B ÐÒ0 ÓÑÑm_ Ÿ m7B ÐÒ0 ÓÑm_ . 

III.5.5 (Teorema de continuidade) Sejam I um espaço de Banach,


" Ÿ :  _ e Ò0 Ó − P: Б8 ß IÑ. Tem então lugar uma aplicação
uniformemente contínua de ‘8 para P: Б8 ß IÑ, que a cada B − ‘8 associa
7B ÐÒ0 ÓÑ.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
1) Vamos fazer a hipótese suplementar de se ter 0 − V- Б8 ß IÑ (cf. III.4.8) e
mostrar que a aplicação referida é contínua em ! − ‘8 .
Subdem: A hipótese feita implica que 0 À ‘8 Ä I é contínua e que,
para um certo V  !, vem 0 ÐCÑ œ !, sempre que mCm  V . Seja
Q œ -8 ÐF V" Ð!ÑÑ a medida da bola fechada de centro ! e raio V  ". Seja
$  ! arbitrário. A continuidade uniforme de 0 no compacto F V# Ð!Ñ
permite-nos escolher !  &  " tal que, sempre que Cß D − F V# Ð!Ñ
verificam mD  Cm  &,
m0 ÐDÑ  0 ÐCÑm  $ Q "Î: .
Seja agora B − ‘8 tal que mBm  &. Se mCm  V  ", tem-se 0 ÐCÑ œ ! e
7B Ð0 ÑÐCÑ œ 0 ÐC  BÑ œ ! (se mC  Bm Ÿ V , vinha mCm Ÿ mC  Bm  mBm Ÿ
V  "). Se mCm Ÿ V  ", vem mC  Bm Ÿ mCm  mBm Ÿ V  #, e portanto
m0 ÐC  BÑ  0 ÐCÑm  $ Q "Î: . Concluímos assim que

( m7B Ð0 ÑÐCÑ  7! Ð0 ÑÐCÑm: .-8 ÐCÑ œ ( m0 ÐC  BÑ  0 ÐCÑm: .-8 ÐCÑ Ÿ


‘8 FV" Ð!Ñ

Ÿ( $ : ÎQ . -8 ÐCÑ œ $ : ,
FV" Ð!Ñ

portanto m7B ÐÒ0 ÓÑ  7! ÐÒ0 ÓÑm: Ÿ $ , o que prova a continuidade pretendida.


2) Vamos mostrar agora que a aplicação referida no enunciado é contínua em
!, sem fazer nenhuma hipótese suplementar sobre 0 .
Subdem: Seja $  ! arbitrário. Tendo em conta o teorema de
densidade em III.4.14, podemos considerar 1 − V- Ð\ß IÑ tal que
mÒ0 Ó  Ò1Óm:  $$ e, pelo caso particular estudado em 1), existe &  ! tal que,
sempre que B − ‘8 verifica mBm  &, m7B ÐÒ1ÓÑ  7! ÐÒ1ÓÑm: Ÿ $$ . Para cada
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 313

B − ‘8 com mBm  &, tem-se então


m7B ÐÒ0 ÓÑ  7! ÐÒ0 ÓÑm: Ÿ
Ÿ m7B ÐÒ0 ÓÑ  7B ÐÒ1ÓÑm:  m7B ÐÒ1ÓÑ  7! ÐÒ1ÓÑm:  m7! ÐÒ1ÓÑ  7! ÐÒ0 ÓÑm: œ
œ m7B ÐÒ0 Ó  Ò1ÓÑm:  m7B ÐÒ1ÓÑ  7! ÐÒ1ÓÑm:  mÒ1Ó  Ò0 Óm: 
$ $ $
   œ $,
$ $ $
o que prova a continuidade pretendida.
3) Provemos enfim a continuidade uniforme da aplicação referida.
Subdem: Dado $  !, o que vimos em 2) garante-nos a existência de
&  ! tal que, sempre que mBm  &,
m7B ÐÒ0 ÓÑ  Ò0 Óm: œ m7B ÐÒ0 ÓÑ  7! ÐÒ0 ÓÑm:  $ ,

e então, sempre que mC  Dm  &, vem


m7C ÐÒ0 ÓÑ  7D ÐÒ0 ÓÑm: œ m7D Ð7CD ÐÒ0 ÓÑÑ  7D ÐÒ0 ÓÑm: œ
œ m7D Ð7CD ÐÒ0 ÓÑ  Ò0 ÓÑÑm: œ m7CD ÐÒ0 ÓÑ  Ò0 ÓÑm:  $ ,

o que prova a continuidade uniforme pretendida. 

Vamos agora estudar o produto de convolução de funções definidas em


‘8 , começando por examinar o caso especial das funções com valores em
‘ Þ

III.5.6 Sejam :ß <À ‘8 Ä ‘ duas aplicações mensuráveis. Tem então lugar


uma aplicação mensurável :‡<À ‘8 Ä ‘ , a que damos o nome de produto
de convolução de : e <, definida por

:‡<ÐBÑ œ ( :ÐB  CÑ<ÐCÑ . -8 ÐCÑ.


‘8

Tem-se, além disso,

( :‡<ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ Š( :ÐBÑ . -8 ÐBÑ‹ ‚ Š( <ÐBÑ . -8 ÐBÑ‹,


‘8 ‘8 ‘8

ou seja, nas notações de III.1.16,


m : ‡< m " œ m: m" ‚ m< m" .

Dem: Considerando a aplicação mensurável ‘8 ‚ ‘8 Ä ‘ , que a ÐBß CÑ


associa :ÐB  CÑ<ÐCÑ, resulta do teorema de Fubini em II.4.9, em primeiro
lugar que :‡< está bem definido, isto é, que, para cada B − ‘8 , é
mensurável a aplicação ‘8 Ä ‘ , C È :ÐB  CÑ<ÐCÑ, e, em segundo lugar,
que a aplicação :‡<À ‘8 Ä ‘ é mensurável. O mesmo resultado, em
conjunto com o teorema trivial de mudança de variáveis e a invariância por
314 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

translação da medida de Lebesgue, garante que

( :‡<ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ ( :ÐB  CÑ<ÐCÑ . -8 Œ -8 ÐBß CÑ œ


‘8 ‘8 ‚‘8

œ( Š( :ÐB  CÑ<ÐCÑ . -8 ÐBÑ‹ . -8 ÐCÑ œ


‘8 ‘8

œ( Š( :ÐB  CÑ . -8 ÐBÑ‹ <ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ


‘8 ‘8

œ( Š( :ÐDÑ . -8 ÐDÑ‹ <ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ


‘8 ‘8

œ Š( :ÐDÑ . -8 ÐDÑ‹ ‚ Š( <ÐCÑ . -8 ÐCÑ‹


‘8 ‘8

o que termina a demonstração. 


III.5.7 (Comutatividade) Sejam :ß <À ‘ Ä ‘ duas aplicações mensuráveis.
8

Tem-se então :‡< œ <‡:À ‘8 Ä ‘ Þ


Dem: Tendo em conta o teorema trivial de mudança de variáveis e a inva-
riância por translação e por simetria da medida de Lebesgue (cf. II.5.7 e
II.5.13), vem

:‡<ÐBÑ œ ( :ÐB  CÑ<ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ


‘8

œ( :ÐB  7B ÐDÑÑ<Ð7B ÐDÑÑ . -8 ÐDÑ œ


‘8

œ( :ÐDÑ<ÐBDÑ . -8 ÐDÑ œ <‡:ÐBÑ. 


‘8

III.5.8 (Monotonia) Sejam :" ß :# ß <" ß <# À ‘8 Ä ‘ aplicações mensuráveis


tais que, para cada B − ‘8 , :" ÐBÑ Ÿ :# ÐBÑ e <" ÐBÑ Ÿ <# ÐBÑ. Tem-se então,
para cada B − ‘8 ,
:" ‡<" ÐBÑ Ÿ :# ‡<# ÐBÑ.

Dem: Trata-se de uma consequência direta da propriedade de monotonia do


integral das funções positivas na alínea b) de II.1.16. 
III.5.9 (“Bilinearidade”) Sejam :" ß :# ß <" ß <# À ‘8 Ä ‘ aplicações mensu-
ráveis e + − ‘ . Tem-se então
Ð:"  :# ч<" œ :" ‡<"  :# ‡<" , Ð+:" ч<" œ +Ð:" ‡<" Ñ,
:" ‡Ð<"  <# Ñ œ :" ‡<"  :" ‡<# , :" ‡Ð+<" Ñ œ +Ð:" ‡<" Ñ.

Dem: Trata-se de uma consequência das propriedades do integral das


funções mensuráveis positivas em II.1.20, na alínea c) de II.1.16 e em
II.1.25. 
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 315

III.5.10 (Convolução e conjuntos de medida nula) Sejam :ß : sß <ß <s À ‘8 Ä ‘


aplicações mensuráveis tais que :ÐBÑ œ :sÐBÑ quase sempre e <ÐBÑ œ < s ÐBÑ
quase sempre. Tem-se então, para cada B − ‘8 ,146 :‡<ÐBÑ œ : s ‡<s ÐBÑ.
Dem: Para cada B − ‘8 fixado, tem-se <ÐCÑ œ < s ÐCÑ quase sempre, portanto
s
também :ÐB  CÑ<ÐCÑ œ :ÐB  CÑ<ÐCÑ quase sempre, o que implica que

:‡<ÐBÑ œ ( :ÐB  CÑ<ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ


‘8

œ ( :ÐB  CÑ<
s ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ :‡<
s ÐBÑ.
‘8

A igualdade :‡<s ÐBÑ œ : s ÐBÑ, da qual decorre a conclusão, prova-se de


s ‡<
maneira análoga (tendo em conta a invariância por translação e por simetria
da medida de Lebesgue) ou, ainda mais facilmente, aplicando o que
acabamos de ver e a propriedade comutativa da convolução. 
III.5.11 (Aplicação da desigualdade de Hölder) Sejam :ß <À ‘8 Ä ‘ duas
aplicações mensuráveis. Tem-se então:
a) Para cada B − ‘8 ,
:‡<ÐBÑ Ÿ m:m_ m<m" ,
em particular, m:‡<m_ Ÿ m:m_ m<m" .
b) Sejam :  " e ;  " dois expoentes conjugados (cf. III.1.15). Para cada
B − ‘8 , tem-se então
:‡<ÐBÑ Ÿ m:m: m<m; ,

em particular, m:‡<m_ Ÿ m:m: m<m; . 147


Dem: a) Seja E § ‘8 um boreliano com -8 ÐEÑ œ ! tal que, para cada
B − ‘8 Ï E, :ÐBÑ Ÿ m:m_ . Sendo B − ‘8 arbitrário, podemos considerar o
boreliano EB œ B  E de ‘8 que, tendo em conta a invariância por
translação e simetria da medida de Lebesgue, verifica ainda -8 ÐEB Ñ œ ! e
tem-se então, para cada C − ‘8 Ï EB , :ÐB  CÑ Ÿ m:m_ , pelo que podemos
escrever

:‡<ÐBÑ œ ( :ÐB  CÑ <ÐCÑ . - 8 ÐCÑ Ÿ ( m:m_ <ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ


‘8 ÏEB ‘8 ÏEB

œ m: m_ ( <ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ m:m_ m<m" .


‘8 ÏEB

b) Sendo B − ‘8 arbitrário, podemos considerar a função mensurável

146Não só quase sempre…


147Reparar que a) não é mais do que o caso limite de b) em que : œ _ e ; œ " e que não
é necessário enunciar explicitamente o caso limite : œ " e ; œ _, tendo em conta a
comutatividade do produto de convolução.
316 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

:B À ‘8 Ä ‘ definida por :B ÐCÑ œ :ÐB  CÑ, para a qual se tem, tendo em


conta a invariância por translação e simetria da medida de Lebesgue,

( :B ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ( :ÐB  CÑ: . -8 ÐCÑ œ (


:
:ÐDÑ: .-8 ÐDÑ,
‘8 ‘8 ‘8

isto é, m:B m: œ m:m: . Podemos assim escrever, tendo em conta a desigual-


dade de Hölder em III.1.17,

:‡<ÐBÑ œ ( :ÐB  CÑ<ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ( :B ÐCÑ<ÐCÑ . -8 ÐCÑ Ÿ


‘8 ‘8
Ÿ m:B m: m<m; œ m:m: m<m; . 

III.5.12 (Desigualdade de Young) Sejam :ß <À ‘8 Ä ‘ duas aplicações


mensuráveis e :   ", ;   " e <   " números reais tais que :"  "; œ "  "< .
Tem-se então
m:‡<m< Ÿ m:m: m<m; . 148

Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:


a) Vamos provar a desigualdade do eunciado com a hipótese suplementar de
se ter m:m: œ m<m; œ ". Consideremos as medidas . e .w nos borelianos de
‘8 definidas respetivamente por

.ÐEÑ œ ( :ÐBÑ: . -8 ÐBÑ, .w ÐEÑ œ ( <ÐBÑ; . -8 ÐBÑ,


E E

medidas que, por hipótese, verificam .Б8 Ñ œ " e .w Б8 Ñ œ ".


Reparemos agora que, para cada real =   ", a função 1= À ‘ Ä ‘ definida
por 1= Ð>Ñ œ >= é crescente, com limite _ para > Ä _ e derivável em
cada ponto e com derivada 1w= Ð>Ñ œ =>=" , portanto também crescente, em
particular 1= é uma função convexa.
Aplicando a desigualdade de Jensen para a função 1: (cf. III.1.12)ß notando
E! o boreliano de ‘8 constituído pelos pontos B tais que <ÐBÑ œ !, para o
qual .w ÐE! Ñ œ !, e reparando que
" " :;
:  ;  :; œ :;Ð   "Ñ œ ,
; : <
vemos que, para cada B − ‘8 ,

148Reparar que o resultado precedente é o caso limite deste em que < œ _. Reparar
também que um dos casos particulares deste resultado é aquele em que : œ ; œ < œ " e
que, nesse caso, vimos em III.5.6 que temos mesmo uma igualdade. Reparar também na
diferença relativamente à situação tratada em III.2.34, em que, em vez do produto de
convolução, temos a multiplicação usual.
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 317

:‡<ÐBÑ: œ Š( :ÐB  CÑ<ÐCÑ . -8 ÐCÑ‹ œ


:

‘8

œ Š( :ÐB  CÑ<ÐCÑ"; <ÐCÑ; . -8 ÐCÑ‹ œ


:

‘8 ÏE!

œ Š( :ÐB  CÑ<ÐCÑ"; . .w ÐCÑ‹ Ÿ


:

‘8 ÏE!

Ÿ( :ÐB  CÑ: <ÐCÑ::; . .w ÐCÑ œ


‘8 ÏE!

œ( :ÐB  CÑ: <ÐCÑ:;:; . -8 ÐCÑ œ


‘8 ÏE!

œ( :ÐB  CÑ: <ÐCÑ:;Î< . -8 ÐCÑ.


‘8

Tendo em conta a comutatividade do produto de convolução, a desigualdade


anterior também pode ser escrita na forma

:‡<ÐBÑ: Ÿ ( <ÐB  CÑ:;Î< :ÐCÑ: . -8 ÐCÑ œ ( <ÐB  CÑ:;Î< . .ÐCÑ.


‘8 ‘8
" " "
Reparemos agora que de :  ; œ" < deduzimos que
" " " "
œ Ð"  Ñ   
: ; < <
portanto : Ÿ < e :<   ". Podemos então aplicar de novo a desigualdade de
Jensen, agora para a função 1= com = œ :< , para concluir que

:‡<ÐBÑ< œ ˆ:‡<ÐBÑ: ‰ Ÿ Š( <ÐB  CÑ:;Î< . .ÐCÑ‹ Ÿ


= =

‘8

Ÿ( ˆ<ÐB  CÑ :;Î< ‰=
. .ÐCÑ œ ( <ÐB  CÑ; . .ÐCÑ œ
‘8 ‘8

œ( <ÐB  CÑ; :ÐCÑ: . -8 ÐCÑ.


‘8

Resulta daqui, por integração, tendo em conta o teorema de Fubini e a


invariância por translação da medida de Lebesgue, que
318 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

m:‡<m<< œ ( :‡<ÐBÑ< . -8 ÐBÑ Ÿ


‘8

Ÿ( Š( <ÐB  CÑ; :ÐCÑ: . -8 ÐCÑ‹ . -8 ÐBÑ œ


‘8 ‘8

œ( Š( <ÐB  CÑ; :ÐCÑ: . -8 ÐBÑ‹ . -8 ÐCÑ œ


‘8 ‘8

œ( Š( <ÐDÑ; . -8 ÐDÑ‹ :ÐCÑ: . -8 ÐCÑ œ


‘8 ‘8

œ Š( <ÐDÑ; . -8 ÐDÑ‹ ‚ Š( :ÐCÑ: . -8 ÐCÑ‹ œ ",


‘8 ‘8

e portanto também
m : ‡< m < Ÿ " œ m: m: m< m; ,

que é a desigualdade que pretendíamos estabelecer.


b) Vamos agora mostrar que a desigualdade do enunciado é trivialmente
verdadeira nos casos em que m:m: œ ! ou m<m; œ !. Ora, se for m<m; œ !,
vem também

! œ m<m;; œ ( <ÐCÑ; . -8 ÐCÑ,


‘8

donde <ÐCÑ; œ ! quase sempre, portanto também, para cada B − ‘8 ,


:ÐB  CÑ<ÐCÑ œ ! quase sempre e

:‡<ÐBÑ œ ( :ÐB  CÑ<ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ !,


‘8

e, no caso em que m:m: œ !, o que acabamos de verificar e a propriedade


comutativa em III.5.7 garantem-nos que também
:‡<ÐBÑ œ <‡:ÐBÑ œ !,
para cada B − ‘8 . Verificámos assim que, sempre que m:m: œ ! ou
m<m; œ !, tem-se :‡< œ !, e portanto, trivialmente,
m : ‡< m < œ ! œ m: m: m< m; .

c) Notemos agora que a desigualdade do enunciado é ainda trivialmente


verdadeira no caso em que, dos dois valores m:m: e m<m; , um deles é _ e
o outro é diferente de !, uma vez que o segundo membro da desigualdade é
então _.
d) Resta-nos provar a desigualdade do enunciado no caso em que se tem
simultaneamente !  m:m:  _ e !  m<m;  _. Ora, notando
+ œ m:m: e , œ m<m; , podemos considerar as funções : s À ‘8 Ä ‘
sß <
definidas por
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 319

" s ÐBÑ œ " <ÐBÑ,


:
sÐBÑ œ :ÐBÑ, <
+ ,
para as quais se tem trivialmente m: s m; œ " e
s m: œ m<

s ÐBÑ œ "
:
s‡< :‡<ÐBÑ
+,
pelo que, tendo em conta o que se viu no caso particular estudado em a),
m:‡<m< œ +,m: s m< Ÿ +, œ m:m: m<m; ,
s ‡<
como queríamos. 

Vamos agora estudar o produto de convolução no contexto mais geral das


aplicações com valores vetoriais, para o que supomos estar na posse de
uma “multiplicação” conveniente entre os vetores dos espaços vetoriais de
chegada, no contexto referido na alínea b) de II.2.9, mais precisamente,
naquele em que temos três espaços de Banach J ß Kß L e uma aplicação
bilinear contínua 0À J ‚ K Ä L , que encaramos como uma “multiplica-
ção”, notando, para cada A − J e D − K, A ‚ D œ 0ÐAß DÑ. Nessa situa-
ção, como se verifica em cursos de topologia ou de análise funcional (cf.,
por exemplo, [9]), a continuidade da aplicação bilinear 0 é equivalente à
existência de uma constante Q   ! tal que, sempre que A − J e D − K ,
mA ‚ Dm Ÿ Q mAmmDm.
Nâo nos devemos deixar atemorizar pela generalidade desta situação:
Entre os exemplos mais frequentes de aplicação, estão aquele em que os
três espaços vetoriais são iguais ao corpo Š dos escalares, ‘ ou ‚, com o
valor absoluto como norma, e a multiplicação como aplicação bilinear, e
aquele em que K œ L é um espaço de Banach, J é o corpo dos escalares
e a aplicação bilinear é a multiplicação dos escalares pelos vetores.

III.5.13 Sejam J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação


bilinear contínua, que encaramos como uma “multiplicação”, notando, para
cada A − J e D − K, A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L e consideremos Q   ! tal que
se tenha m0ÐAß DÑm Ÿ Q mAmmDm, para cada ÐAß DÑ − J ‚ K. Sejam
0 À ‘8 Ä J e 1À ‘8 Ä K duas aplicações topologicamente mensuráveis, por
outras palavras 0 − MensБ8 ß J Ñ e 1 − MensБ8 ß KÑ.
Considerando as aplicações mensuráveis :ß <À ‘8 Ä ‘ definidas por
:ÐBÑ œ m0 ÐBÑm e <ÐBÑ œ m1ÐBÑm e o seu produto de convolução

: ‡< À ‘8 Ä ‘ , :‡<ÐBÑ œ ( :ÐB  CÑ<ÐCÑ . -8 ÐC Ñ,


‘8

definimos o domínio de convolução W0 ß1 § ‘8 como sendo o conjunto dos


B − ‘8 tais que :‡<ÐBÑ  _, conjunto esse que é um boreliano de ‘8 .
Dizemos que 0 e 1 são fortemente convolucionáveis se W0 ß1 œ ‘8 e podemos
então definir uma aplicação topologicamente mensurável
320 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

0 ‡1À ‘8 Ä L , 0 ‡1ÐBÑ œ ( 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ,


‘8

a que se dá o nome de produto de convolução de 0 e 1. Mais geralmente,


dizemos que 0 e 1 são fracamente convolucionáveis se -8 Б8 Ï W0 ß1 Ñ œ ! e
podemos então definir uma aplicação topologicamente mensurável
' 8 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ,
0 ‡1ÐBÑ œ œ
se B − W0 ß1
0 ‡1À ‘8 Ä L , ‘
!, se B Â W0 ß1 ,

a que se dá o nome de produto de convolução de 0 e 1.149


Dem: O facto de W0 ß1 ser um boreliano de ‘8 é uma consequência de a
aplicação :‡<À ‘8 Ä ‘ ser mensurável (cf. III.5.6).
Tendo em conta II.2.7 e II.2.9, podemos considerar uma aplicação
topologicamente mensurável ‘8 ‚ ‘8 Ä L , ÐBß CÑ È 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ. O
facto de, para cada B − ‘8 , C È 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ ser uma aplicação
topologicamente mensurável resulta de aplicar o teorema de Fubini em
II.4.10 àquela aplicação e o facto de se ter

( m0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑm . -8 ÐCÑ Ÿ Q ( m0 ÐB  Cmm1ÐCÑm . -8 ÐCÑ œ


‘8 ‘8
œ Q :‡<ÐBÑ

implica que, para cada B − W0 ß1 , aquela aplicação é mesmo integrável. Mais


uma vez pelo teorema de Fubini, vemos que, no caso em que 0 e 1 são fraca-
mente convolucionáveis, a restrição de 0 ‡1À ‘8 Ä L a W0 ß1 é topologica-
mente mensurável, e portanto esta aplicação é topologicamente mensurável,
uma vez que tem restrição constante, e portanto também topologicamente
mensurável, a ‘8 Ï W0 ß1 . 
III.5.14 (Comutatividade) Sejam J ß Kß L três espaços de Banach e
0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear contínua, que encaramos como uma
“multiplicação”, notando, para cada A − J e D − K , A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L .
Consideremos também a aplicação bilinear contínua 0w À K ‚ J Ä L ,
definida por 0w ÐDß AÑ œ 0ÐAß DÑ, notando ‚ w e ‡w a multiplicação e a
convolução associadas a 0w .150 Dadas aplicações topologicamente mensu-
ráveis 0 À ‘8 Ä J e 1À ‘8 Ä K, tem-se então:
a) Coincidem os domínios de convolução W0 ß1 e W1ß0 , em particular 0 e 1 são

149A definição de 0 ‡1 nos pontos de ‘8 Ï W0 ß1 destina-se apenas garantir que ficamos


com uma aplicação de domínio ‘8 , não tendo qualquer significado essencial. É por esse
motivo que só apresentamos a definição do produto de convolução no caso em que
-8 Б8 Ï W0 ß1 Ñ œ !.
150Nos casos em que não há perigo de confusão sobre o significado da notação, é costume
escrever simplesmente ‚ e ‡, em vez de ‚ w e ‡w . Esses casos incluem aquele em que
J Á K (ou estamos a raciociar em geral, admitindo essa possibilidade) e aquele em que
J œ K e a aplicação 0À J ‚ J Ä L é comutativa, ou seja, 0w œ 0.
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 321

fortemente convolucionáveis (respetivamente, fracamente convolucionáveis)


se, e só se, 1 e 0 são fortemente convolucionáveis (respetivamente, fraca-
mente convolucionáveis).
b) Se 0 e 1 são fracamente convolucionáveis, tem-se
0 ‡1 œ 1‡w 0 À ‘8 Ä L .
Dem: O facto de se ter W0 ß1 œ W1ß0 é uma consequência da propriedade
comutativa da convolução de função positivas em III.5.7. No caso em que 0
e 1 são fracamente convolucionáveis, o teorema trivial de mudança de
variáveis e e a invariância por translação e por simetria da medida de
Lebesgue (cf. II.5.7 e II.5.13), garante que, para cada B − W0 ß1 œ W1ß0 ,

0 ‡1ÐBÑ œ ( 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ


‘8

œ( 0 ÐB  7B ÐDÑÑ ‚ 1Ð7B ÐDÑÑ . -8 ÐDÑ œ


‘8

œ( 0 ÐDÑ ‚ 1ÐBDÑ . -8 ÐDÑ


‘8

œ( 1ÐBDÑ ‚ w 0 ÐDÑ . -8 ÐDÑ œ 1‡w 0 ÐBÑ,


‘8

igualdade que é trivialmente verificada também para B  W0 ß1 œ W1ß0 . 


III.5.15 (Convolução e conjuntos de medida nula) Sejam J ß Kß L três espaços
de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear contínua.
Sejam 0 ß s0 À ‘8 Ä J e 1ß s1À ‘8 Ä K aplicações topologicamente mensurá-
veis tais que 0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ quase sempre e 1ÐBÑ œ s1ÐBÑ quase sempre.
Tem-se então:
a) Coincidem os domínios de convolução W0 ß1 e Ws0 ß1s , em particular, se 0 e 1
são fortemente convolucionáveis (respetivamente, fracamente convolucioná-
veis), também s0 e s1 são fortemente convolucionáveis (respetivamente, fraca-
mente convolucionáveis).
b) Se 0 e 1 são fracamente convolucionáveis, então, para cada B − ‘8 ,151
0 ‡1ÐBÑ œ s0 ‡1ÐBÑ
s .
Dem: O facto de se ter W0 ß1 œ Ws0 ß1s é uma consequência direta de III.5.10.
Suponhamos que 0 e 1 são fracamente convolucionáveis e seja B − W0 ß1
fixado. Tem-se 1ÐCÑ œ s1ÐCÑ quase sempre, portanto também
0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ œ 0 ÐB  CÑ ‚ s1ÐCÑ
quase sempre, o que implica que

151Não só quase sempre…


322 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

0 ‡1ÐBÑ œ ( 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ


‘8

œ ( 0 ÐB  CÑ ‚ s1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ 0 ‡1ÐBÑ


s .
‘8

Esta igualdade é trivialmente também verificada para B Â W0 ß1 .


Para concluir a demonstração, bastará verificarmos que se tem também
W0 ß1s œ Ws0 ß1s e que, no caso em que 0 e 1 são fracamente convolucionáveis,
s œ s0 ‡1
0 ‡1 s. Essa verificação poderia ser feita de modo análogo ao anterior
(embora com um argumento suplementar, envolvendo a invariância por
simetria e translação da medida de Lebesgue), mas é mais fácil utilizar a
conclusão parcial já estabelecida e a propriedade comutativa em III.5.14 para
garantir que
W0 ß1s œ Ws1ß0 œ Ws1ß0s œ Ws0 ß1s

e que, no caso em que 0 e 1 são fracamente convolucionáveis,

0 ‡1ÐBÑ
s s ÐBÑ œ s0 ‡1ÐBÑ
œ s1‡0 ÐBÑ œ s1‡0 s . 

III.5.16 Nas condições do resultado precedente, e como consequência deste,


podemos definir, dadas as classes de equivalência Ò0 Ó − Q /8=Б8 ß J Ñ e
Ò1Ó − Q /8=Б8 ß KÑ, o seu domínio de convolução WÒ0 ÓßÒ1Ó § ‘8 , WÒ0 ÓßÒ1Ó œ
W0 ß1 , e dizer que as classes são fortemente convolucionáveis se WÒ0 ÓßÒ1Ó œ ‘8
e que elas são fracamente convolucionáveis se -8 Б8 Ï WÒ0 ÓßÒ1Ó Ñ œ !. Do
mesmo modo, no caso em que as classes são fracamente convolucionáveis,
podemos definir o seu produto de convolução Ò0 Ó‡Ò1ÓÀ ‘8 Ä L , pondo
Ò0 Ó‡Ò1Ó œ 0 ‡1, produto esse que é assim um elemento de MensБ8 ß LÑ e não
apenas uma classe de equivalência.152
III.5.17 (Bilinearidade “no contexto forte”) Sejam J ß Kß L três espaços de
Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear contínua. Tem-se então:
a) Sejam + um escalar, 1À ‘8 Ä K uma aplicação topologicamente mensurá-
vel e, para cada 4 − Ö"ß #×, 04 À ‘8 Ä J uma aplicação topologicamente men-
surável tais que 04 e 1 sejam fortemente convolucionáveis. Tem-se então que
tanto 0"  0# e 1 como +0" e 1 são fortemente convolucionáveis e, para cada
B − ‘8 ,
Ð0"  0# ч1ÐBÑ œ 0" ‡1ÐBÑ  0# ‡1ÐBÑ,
Ð+0" ч1ÐBÑ œ +Ð0" ‡1ÑÐBÑ.

b) Sejam + um escalar, 0 À ‘8 Ä J uma aplicação topologicamente mensurá-

152É claro que não há qualquer inconveniente em utilizar a notação Ò0 Ó‡Ò1Ó para designar
também o elemento de Q /8=Б8 ß LÑ associado, desde que seja claro qual o contexto em
que nos colocamos.
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 323

vel e, para cada 4 − Ö"ß #×, 14 À ‘8 Ä K uma aplicação topologicamente men-


surável tais que 0 e 14 sejam fortemente convolucionáveis. Tem-se então que
tanto 0 e 1"  1# como 0" e +1" são fortemente convolucionáveis e, para
cada B − ‘8 ,
0 ‡Ð1"  1# ÑÐBÑ œ 0 ‡1" ÐBÑ  0 ‡1# ÐBÑ,
0 ‡Ð+1" ÑÐBÑ œ +Ð0 ‡1" ÑÐBÑ.

Dem: O facto de termos aplicações fortemente mensuráveis resulta das


propriedades da convolução das funções positivas em III.5.8 e III.5.9, tendo
em conta as desigualdades
m0" ÐBÑ  0# ÐBÑm Ÿ m0" ÐBÑm  m0# ÐBÑmß
m1" ÐBÑ  1# ÐBÑm Ÿ m1" ÐBÑm  m1# ÐBÑm.
As igualdades no enunciado são então uma consequência direta das proprie-
dades do integral de funções vetoriais em II.2.34 e na alínea a) de II.2.36. 
III.5.18 (Bilinearidade “no contexto fraco”) Sejam J ß Kß L três espaços de
Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear contínua. Tem-se então:
a) Sejam + um escalar, 1À ‘8 Ä K uma aplicação topologicamente mensurá-
vel e, para cada 4 − Ö"ß #×, 04 À ‘8 Ä J uma aplicação topologicamente men-
surável tais que 04 e 1 sejam fracamente convolucionáveis. Tem-se então que
tanto 0"  0# e 1 como +0" e 1 são fracamente convolucionáveis e, quase
sempre,
Ð0"  0# ч1ÐBÑ œ 0" ‡1ÐBÑ  0# ‡1ÐBÑ,
Ð+0" ч1ÐBÑ œ +Ð0" ‡1ÑÐBÑ.

b) Sejam + um escalar, 0 À ‘8 Ä J uma aplicação topologicamente mensurá-


vel e, para cada 4 − Ö"ß #×, 14 À ‘8 Ä K uma aplicação topologicamente men-
surável tais que 0 e 14 sejam fracamente convolucionáveis. Tem-se então que
tanto 0 e 1"  1# como 0" e +1" são fracamente convolucionáveis e, quase
sempre,
0 ‡Ð1"  1# ÑÐBÑ œ 0 ‡1" ÐBÑ  0 ‡1# ÐBÑ,
0 ‡Ð+1" ÑÐBÑ œ +Ð0 ‡1" ÑÐBÑ.

Dem: Tendo em conta as propriedades da convolução das funções positivas


em III.5.8 e III.5.9 e a desigualdade
m0" ÐBÑ  0# ÐBÑm Ÿ m0" ÐBÑm  m0# ÐBÑmß
concluímos que W0" ß1  W0# ß1 § W0" 0# ß1 e que W0" ß1 § W+0" ß1 .
Como consequência das propriedades do integral de funções vetoriais em
II.2.34 e na alínea a) de II.2.36, concluímos agora que as duas igualdades em
a) são válidas respetivamente para cada B − W0" ß1  W0# ß1 e para cada
B − W0" ß1 , onde, por ser -8 Б8 Ï W04 ß1 Ñ œ !, vem também
324 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

-8 Б8 Ï ÐW0" ß1  W0# ß1 ÑÑ œ -8 ÐБ8 Ï W0" ß1 Ñ  Б8 Ï W0# ß1 ÑÑ œ !. 153

A justificação de b) é análoga, ou, alternativamente, temos uma consequência


de a), tendo em conta a comutatividade do produto de convolução. 
III.5.19 (Condições suficientes para a convolucionabilidade forte) Sejam
J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear
contínua e consideremos uma constante Q  ! tal que
m0ÐAß Aw Ñm Ÿ Q mAmmAw m.
Sejam 0 À ‘8 Ä J e 1À ‘8 Ä K aplicações topologicamente mensuráveis.
Tem-se então que, em qualquer das seguintes três condições, 0 e 1 são forte-
mente convolucionáveis e 0 ‡1À ‘8 Ä L é limitada e uniformemente contí-
nua:
H1 ) Se Ò0 Ó − P" Б8 ß J Ñ e Ò1Ó − P_ Б8 ß KÑ. Neste caso, tem-se
mÒ0 ‡1Óm_ Ÿ Q mÒ0 Óm" mÒ1Óm_ .

H2 ) Se Ò0 Ó − P_ Б8 ß J Ñ e Ò1Ó − P" Б8 ß KÑ. Neste caso, tem-se


mÒ0 ‡1Óm_ Ÿ Q mÒ0 Óm_ mÒ1Óm" .

H3 ) Se Ò0 Ó − P: Б8 ß J Ñ e Ò1Ó − P; Б8 ß KÑ, onde :  " e ;  " são expoen-


tes conjugados, isto é, :"  "; œ ". Neste caso, tem-se

mÒ0 ‡1Óm_ Ÿ Q mÒ0 Óm: mÒ1Óm; .

Dem: Coloquemo-nos sob as hipóteses em H1 ). Podemos então escrever,


para cada B − ‘8 , tendo em conta a alínea a) de III.5.11 e a comutatividade
do produto de convolução de funções positivas,

( m0 ÐB  CÑmm1ÐCÑm . -8 ÐCÑ Ÿ mÒ0 Óm" mÒ1Óm_  _,


‘8

o que mostra que as aplicações são de facto fortemente convolucionáveis, e


concluímos também que

153De facto, verifica-se facilmente que a segunda igualdade é válida, mais geralmente,
para cada B − ‘8 , por ambos os membros serem identicamente nulos, no caso em que
+ œ !, e quando + Á !, por ambos os membros serem nulos para cada B  W0" ß1 œ W+0" ß1 .
O facto de não se passar o mesmo com a primeira igualdade é o “castigo” que sofremos
pela arbitrariedade da definição que demos do produto de convolução nos pontos fora do
domínio de convolução e resulta de que podem existir pontos em W0" 0# ß1 que não estão
nem em W0" ß1 nem em W0# ß1 .
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 325

m0 ‡1ÐBÑm œ ½( 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCѽ Ÿ


‘8

Ÿ( m0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑm . -8 ÐCÑ Ÿ
‘8

Ÿ ( Q m0 ÐB  CÑmm1ÐCÑm . -8 ÐCÑ Ÿ Q mÒ0 Óm" mÒ1Óm_ ,


‘8

e portanto a aplicação 0 ‡1À ‘8 Ä L é limitada e com


mÒ0 ‡1Óm_ Ÿ Q mÒ0 Óm" mÒ1Óm_ .
Por outro lado, dado $  !, e afastando já os casos em que Ò1Ó œ ! e em que
Q œ ! (casos em que o produto de convolução é identicamente !), podemos
aplicar III.5.5 para garantir a existência de &  ! tal que, sempre que
mAm  &,
$
m7A ÐÒ0 ÓÑ  Ò0 Óm" œ m7A ÐÒ0 ÓÑ  7! ÐÒ0 ÓÑm" 
Q mÒ1Óm_
e então sempre que mB  Cm  &, podemos aplicar o que já verificámos, com
a função 7CB Ð0 Ñ  0 no lugar de 0 , para concluir que

m0 ‡1ÐBÑ  0 ‡1ÐCÑm œ ½( Ð0 ÐB  DÑ  0 ÐC  DÑÑ ‚ 1ÐCÑ .-8 ÐCѽ Ÿ


‘8

Ÿ ½( Ð7CB Ð0 ÑÐC  DÑ  0 ÐC  DÑÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCѽ Ÿ


‘8
Ÿ Q m7CB ÐÒ0 ÓÑ  Ò0 Óm" mÒ1Óm_  $ ,

o que prova a continuidade uniforme da aplicação 0 ‡1À ‘8 Ä L .


Para obtermos a mesma conclusão sob as hipóteses H2 Ñ basta termos em
conta o que já verificámos e a propriedade de comutatividade em III.5.14.
Para obtermos ainda a mesma conclusão sob as hipóteses H3 ), basta
repetirmos o que fizémos no caso das hipóteses H1 ), aplicando a alínea b) de
III.5.11 em vez da respetiva alínea a) (sem necessitar de referir a comutativi-
dade) e utilizando a norma mm: no lugar da norma mm" e a norma mm; no lugar
da norma mm_ . 
III.5.20 (Condição suficiente para a convolucionabilidade fraca) Sejam
J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear
contínua e consideremos uma constante Q  ! tal que
m0ÐAß Aw Ñm Ÿ Q mAmmAw m.
Sejam 0 À ‘8 Ä J e 1À ‘8 Ä K aplicações topologicamente mensuráveis tais
que Ò0 Ó − P: Б8 ß J Ñ e Ò1Ó − P; Б8 ß KÑ, onde :   " e ;   " verificam
" "
:  ;  ". Tem-se então que 0 e 1 são fracamente convolucionáveis e,
sendo <   " o definido por :"  "; œ "  "< , tem-se Ò0 ‡1Ó − P< Б8 ß LÑ e
326 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

mÒ0 ‡1Óm< Ÿ Q mÒ0 Óm: mÒ1Óm; .

Dem: Sendo :,<À ‘8 Ä ‘ as aplicações mensuráveis definidas por


:ÐBÑ œ m0 ÐBÑm e <ÐBÑ œ m1ÐBÑm, tem-se m:m: œ mÒ0 Óm:  _ e m<m; œ
m1m;  _ pelo que, tendo em conta a desigualdade de Young III.5.12,

( :‡<ÐBÑ< . -8 ÐBÑ œ m:‡<m<< Ÿ m:m<: m<m<;  _,


‘8

o que, tendo em conta II.1.29, implica a existência de um boreliano ] § ‘8 ,


com -8 Ð] Ñ œ ! tal que, para cada B − ‘8 Ï ] , :‡<ÐBÑ  _, por outras
palavras, ‘8 Ï ] § W0 ß1 . Temos assim ‘8 Ï W0 ß1 § ] , portanto
8
-8 Б Ï W0 ß1 Ñ œ !, o que mostra que 0 e 1 são fracamente convolucionáveis.
Podemos agora escrever, para cada B − W0 ß1 ,

m0 ‡1ÐBÑm œ ½( 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCѽ Ÿ


‘8

Ÿ Q ( m0 ÐB  CÑmm1ÐCÑm . -8 ÐCÑ œ Q :‡<ÐBÑ,


‘8

igualdade trivialmente também válida para B − ‘8 Ï W0 ß1 , donde

Š( m0 ‡1ÐBÑm< . -8 ÐBÑ‹ Ÿ ŠQ < ( :‡<ÐBÑ< . -8 ÐBÑ‹


"Î< "Î<
œ
‘8 ‘8
œ Q m:‡<m< Ÿ Q m:m: m<m; œ Q mÒ0 Óm: mÒ1Óm; ,

como queremos. 
III.5.21 (Outras condições suficientes para a convolucionabilidade forte I)
Sejam J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação
bilinear contínua.
Sejam 0 À ‘8 Ä J uma aplicação contínua e de suporte compacto (cf. III.4.8)
e 1À ‘8 Ä K uma aplicação localmente integrável (cf. III.4.15). Tem-se
então que 0 e 1 são fortemente convolucionáveis e a aplicação 0 ‡1À ‘8 Ä L
é contínua.
Dem: Lembrando que a continuidade é uma propriedade local, basta provar-
mos que, para cada B! − ‘8 e <  !, a bola aberta F< ÐB! Ñ está contida no
domínio de convolução W0 ß1 e a restrição de 0 ‡1 a esta bola aberta é
contínua. Fixemos então B! − ‘8 e <  !. Seja O § ‘8 um compacto, que
podemos já supor não vazio, tal que 0 ÐBÑ œ !, para cada B  O e seja V o
máximo em O da função contínua B È m0 ÐBÑmÞ Notando F < ÐB! Ñ a bola
fechada de centro ! e raio <, consideremos o compacto O w œ F < ÐB! Ñ  O ,
imagem do compacto F < ÐB! Ñ ‚ O de ‘8 ‚ ‘8 pela aplicação contínua
ÐAß DÑ È A  D . Consideremos uma constante Q   ! tal que
m0ÐAß Aw Ñm Ÿ Q mAmmAw m.
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 327

Considerando B − F< ÐB! Ñ, tem-se 0 ÐB  CÑ œ ! sempre que B  C  O , isto


é, sempre que C Â B  O , em particular, sempre que C Â O w , e daqui resulta
que, para cada C − ‘8 ,
m0 ÐB  CÑmm1ÐCÑm Ÿ V ˆO w ÐCÑ m1ÐCÑm,
donde

( m0 ÐB  CÑmm1ÐCÑm . -8 ÐCÑ Ÿ V ( m1ÐCÑm . -8 ÐCÑ  _,


‘8 Ow

portanto B − W0 ß1 , e, por outro lado,


m0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑm Ÿ Q m0 ÐB  CÑmm1ÐCÑm Ÿ Q V ˆO w ÐCÑ m1ÐCÑm,
onde

( Q V ˆO w ÐCÑ m1ÐCÑm œ Q V ( m1ÐCÑm . -8 ÐCÑ  _,


‘8 Ow

pelo que podemos aplicar o teorema de continuidade do integral paramétrico


(cf. II.6.1) à aplicação ‘8 ‚ F< ÐB! Ñ Ä L , ÐCß BÑ È 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ para
concluir que é contínua a aplicação F< ÐB! Ñ Ä L ,

BÈ( 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ 0 ‡1ÐBÑ. 


‘8

III.5.22 (Caso do suporte compacto) Suponhamos que, para além das hipóteses
do resultado precedente, a aplicação localmente integrável 1À ‘8 Ä K é
também de suporte compacto154. Tem-se então que a aplicação contínua
0 ‡1À ‘8 Ä L é de suporte compacto.
Mais precisamente, se Oß P § ‘8 são dois compactos tais que 0 ÐBÑ œ ! para
cada B  O e 1ÐBÑ œ ! para cada B  P, então O  P § ‘8 é um compacto
tal que 0 ‡1ÐBÑ œ ! para cada B  O  P.
Dem: O facto de O  P ser compacto resulta de se tratar da imagem do
compacto O ‚ P § ‘8 ‚ ‘8 pela aplicação contínua ÐBß CÑ È B  C . A
conclusão resulta agora de que, se B Â O  P, então, para todo o C − ‘8 ,
0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ œ !, e portanto

0 ‡1ÐBÑ œ ( 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ !. 


‘8

III.5.23 (Outras condições suficientes para a convolucionabilidade forte II)


Sejam J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação
bilinear contínua.
Sejam 0 À ‘8 Ä J uma aplicação integrável e de suporte compacto (cf.

154Em particular, é mesmo integrável.


328 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

III.4.8) e 1À ‘8 Ä K uma aplicação contínua. Tem-se então que 0 e 1 são


fortemente convolucionáveis e a aplicação 0 ‡1À ‘8 Ä L é contínua.
Dem: Lembrando que a continuidade é uma propriedade local, basta provar-
mos que, para cada B! − ‘8 e <  !, a bola aberta F< ÐB! Ñ está contida no
domínio de convolução W0 ß1 e a restrição de 0 ‡1 a esta bola aberta é
contínua. Vamos, para isso, utilizar a propriedade comutativa do produto de
convolução em III.5.14, que implica que B − W0 ß1 se, e só se,

( m0 ÐCÑmm1ÐB  CÑm . -8 ÐCÑ


‘8

e que, para um tal B,

0 ‡1ÐBÑ œ ( 0 ÐCÑ ‚ 1ÐB  CÑ . -8 ÐCÑ.


‘8

Fixemos então B! − ‘8 e <  !. Seja O § ‘8 um compacto, que podemos já


supor não vazio, tal que 0 ÐBÑ œ !, para cada B  O e, notando F < ÐB! Ñ a
bola fechada de centro ! e raio <, consideremos o compacto
O w œ F < ÐB! Ñ  O e seja V o máximo em O w da função contínua
B È m1ÐBÑmÞ Consideremos uma constante Q   ! tal que
m0ÐAß Aw Ñm Ÿ Q mAmmAw m.
Considerando B − F< ÐB! Ñ, tem-se m1ÐB  CÑm Ÿ V sempre que C − O e
daqui resulta que, para cada C − ‘8 ,
m0 ÐCÑmm1ÐB  CÑm Ÿ Vm0 ÐCÑm,
donde

( m0 ÐB  CÑmm1ÐCÑm . -8 ÐCÑ Ÿ V ( m0 ÐCÑm . -8 ÐCÑ  _,


‘8 Ow

portanto B − W0 ß1 , e, por outro lado,


m0 ÐCÑ ‚ 1ÐB  CÑm Ÿ Q m0 ÐCÑmm1ÐB  CÑm Ÿ Q V m0 ÐCÑm,
onde

( Q V m0 ÐCÑm œ Q V ( m0 ÐCÑm . -8 ÐCÑ  _,


‘8 ‘8

pelo que podemos aplicar o teorema de continuidade do integral paramétrico


(cf. II.6.1) à aplicação ‘8 ‚ F< ÐB! Ñ Ä L , ÐCß BÑ È 0 ÐCÑ ‚ 1ÐB  CÑ para
concluir que é contínua a aplicação F< ÐB! Ñ Ä L ,

BÈ( 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ 0 ‡1ÐBÑ. 


‘8
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 329

Repare-se que, ao contrário do que acontecia em III.5.19, nos dois resul-


tados precedentes apenas garantimos que a aplicação 0 ‡1À ‘8 Ä L é con-
tínua, não sendo assim necessariamente limitada nem uniformemente con-
tínua.
Note-se, no entanto, que, se, nestes resultados, fizermos hipóteses mais
fortes, já poderemos aplicar III.5.19 para concluir que 0 ‡1 é limitada e
uniformente contínua:
No caso de III.5.21 bastará nomeadamente pedir que em vez de 1 ser
simplesmente localmente integrável, se tenha Ò1Ó − P: Б8 ß KÑ para algum
: com " Ÿ : Ÿ _ (cf. III.4.21), uma vez que, sendo " Ÿ ; Ÿ _ o
exponente conjugado de : (portanto com :"  "; œ "), tem-se necessaria-
mente Ò0 Ó − P; Б8 ß J Ñ (cf. III.4.9).
No caso de III.5.23, bastará simplesmente exigir que 1 seja limitada,
portanto com Ò1Ó − P_ Б8 ß KÑ, visto que, por hipótese, Ò0 Ó − P" Б8 ß J Ñ.
Vamos agora examinar dois casos em que existe uma permutabilidade
entre o produto de convolução e a derivação. Recordemos que uma apli-
cação, definida num aberto de ‘8 e com valores num espaço vetorial
normado, se diz de classe G : , onde :   ! é um inteiro, se for contínua e
com derivadas parciais contínuas até à ordem : e que ela se diz de classe
G _ se for de classe G : para todo o :.

III.5.24 (Casos de derivabilidade do produto de convolução I) Sejam J ß Kß L


três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear contínua.
Seja 0 À ‘8 Ä J uma aplicação contínua e de suporte compacto, tal que, para
`0
um certo " Ÿ 3 Ÿ 8, exista, para cada B − ‘8 , a derivada parcial `B 3
ÐBÑ e a
`0 8
aplicação `B3 À ‘ Ä J seja contínua. Seja 1À ‘8 Ä K uma aplicação local-
`0
mente integrável. Tem-se então que tanto 0 e 1 como `B 3
e 1 são fortemente
convolucionáveis, a aplicação 0 ‡1À ‘8 Ä L é contínua e admite, para cada
B − ‘8 uma derivada parcial
` `0
Ð0 ‡1ÑÐBÑ œ Ð ‡1ÑÐBÑ,
`B3 `B3
e a aplicação
` `0
Ð0 ‡1Ñ œ ‡1À ‘8 Ä L ,
`B3 `B3
é contínua.
Dem: Seja O § ‘8 um compacto, que podemos já supor não vazio, tal que
0 ÐBÑ œ !, para cada B  O e, reparando que se tem então também
`0
`B3 ÐBÑ œ ! para cada B  O , seja V o máximo em O da função contínua
`0
B È m `B 3
ÐBÑmÞ
Tendo em conta III.5.21, vemos que 0 e 1 são fortemente convolucionáveis,
`0
e com 0 ‡1À ‘8 Ä L é contínua, e que `B 3
e 1 são fortemente convolucio-
`0 8
náveis, e com `B3 ‡1À ‘ Ä L contínua. Resta-nos mostrar que, para cada
330 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

B! œ ÐB! " ß á ß B! 8 Ñ, 0 ‡1 tem derivada parcial em relação à variável 3 em B!


dada por
` `0
Ð0 ‡1ÑÐB! Ñ œ ‡1ÐB! Ñ
`B3 `B3
e, para isso, basta mostrarmos que isso acontece com a restrição de 0 ‡1 a
uma certa bola aberta F< ÐB! Ñ, onde, para fixar ideias, consideramos em ‘8 a
norma do máximo mm_ . Notando F < ÐB! Ñ a bola fechada de centro ! e raio <,
consideremos o compacto O w œ F < ÐB! Ñ  O , imagem do compacto
F < ÐB! Ñ ‚ O de ‘8 ‚ ‘8 pela aplicação contínua ÐAß DÑ È A  D .
Consideremos uma constante Q   ! tal que
m0ÐAß Aw Ñm Ÿ Q mAmmAw m.
`0
Considerando B − F< ÐB! Ñ, tem-se `B 3
ÐB  CÑ œ ! sempre que B  C  O ,
isto é, sempre que C Â B  O , em particular, sempre que C Â O w , e daqui
resulta que, para cada C − ‘8 ,
`0 `0
m ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑm Ÿ Q m ÐB  CÑmm1ÐCÑm Ÿ Q V ˆO w ÐCÑ m1ÐCÑm,
`B3 `B3
onde

( Q V ˆO w ÐCÑ m1ÐCÑm œ Q V ( m1ÐCÑm . -8 ÐCÑ  _,


‘8 Ow

pelo que, aplicando o teorema de derivação do integral paramétrico II.6.2 à


aplicação ‘8 ‚ ÓB! 3  <ß B! 3  <Ò,
ÐCß B3 Ñ È 0 ÐÐB! " ß ß á ß B3 ß á ß B8 3 Ñ  CÑ ‚ 1ÐCÑ,
concluímos que a restrição da função 0 ‡1À ‘8 Ä L a F< ÐB! Ñ,

0 ‡1ÐBÑ œ ( 0 ÐB  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ


‘8

tem efetivamente derivada em ordem à variável 3 no ponto B! igual a

(
`0 `0
ÐB!  CÑ ‚ 1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ‡1ÐB! Ñ. 
‘8 `B3 `B3

III.5.25 (Corolário) Nas condições anteriores, se a aplicação 0 À ‘8 Ä J é de


classe G : , onde " Ÿ : Ÿ _, e a aplicação 1À ‘8 Ä K é localmente
integrável, então a aplicação 0 ‡1À ‘8 Ä L é também de classe G : .
Dem: O caso em que : œ " resulta diretamente do resultado precedente e o
caso em que : é finito decorre então imediatamente por indução, se nos
lembrarmos que uma aplicação é de classe G :" se, e só se, tem derivadas
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 331

parciais em relação a cada uma das variáveis e estas são de classe G : . O caso
: œ _ é uma consequência do caso em que : é finito. 
III.5.26 (Casos de derivabilidade do produto de convolução II) Sejam
J ß Kß L três espaços de Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear
contínua.
Seja 0 À ‘8 Ä J uma aplicação integrável e de suporte compacto. Seja
1À ‘8 Ä K uma aplicação contínua tal que, para um certo " Ÿ 3 Ÿ 8, exista,
`1 `1
para cada B − ‘8 , a derivada parcial `B 3
ÐBÑ e a aplicação `B 3
À ‘8 Ä J seja
`1
contínua. Tem-se então que tanto 0 e 1 como 0 e `B 3
são fortemente
8
convolucionáveis, a aplicação 0 ‡1À ‘ Ä L é contínua e admite, para cada
B − ‘8 , uma derivada parcial
` `1
Ð0 ‡1ÑÐBÑ œ Ð0 ‡ ÑÐBÑ,
`B3 `B3
e a aplicação
` `1 8
Ð0 ‡1Ñ œ 0 ‡ À ‘ Ä L,
`B3 `B3
é contínua.
Dem: Tendo em conta III.5.23, sabemos que 0 e 1 são fortemente convolu-
`1
cionáveis, e com 0 ‡1À ‘8 Ä L contínua, e que 0 e `B 3
são fortemente
`1
convolucionáveis, e com 0 ‡ `B 3
À ‘8 Ä L contínua. Resta-nos mostrar que,
para cada " Ÿ 3 Ÿ 8 e cada B! œ ÐB! " ß á ß B! 8 Ñ, 0 ‡1 tem derivada parcial
em relação à variável 3 em B! dada por
` `1
Ð0 ‡1ÑÐB! Ñ œ 0 ‡ ÐB! Ñ
`B3 `B3
e, para isso, basta mostrarmos que isso acontece com a restrição de 0 ‡1 a
uma certa bola aberta F< ÐB! Ñ, onde, para fixar ideias, consideramos em ‘8 a
norma do máximo mm_ . Vamos, para isso, utilizar a propriedade comutativa
do produto de convolução em III.5.14, que implica que, para cada B − ‘8 ,

0 ‡1ÐBÑ œ ( 0 ÐCÑ ‚ 1ÐB  CÑ . -8 ÐCÑ,


‘8

ÐBÑ œ ( 0 ÐCÑ ‚
`1 `1
0‡ ÐB  CÑ . -8 ÐCÑ.
`B3 ‘8 `B 3

Fixemos então B! − ‘8 e <  !. Seja O § ‘8 um compacto, que podemos já


supor não vazio, tal que 0 ÐBÑ œ !, para cada B  O e, notando F < ÐB! Ñ a
bola fechada de centro ! e raio <, consideremos o compacto
O w œ F < ÐB! Ñ  O e seja V o máximo em O w da função contínua
`1
B È m `B 3
ÐBÑmÞ Consideremos uma constante Q   ! tal que
332 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

m0ÐAß Aw Ñm Ÿ Q mAmmAw m.
`1
Considerando B − F< ÐB! Ñ, tem-se m `B 3
ÐB  CÑm Ÿ V sempre que C − O e
daqui resulta que, para cada C − ‘8 ,
`1 `1
m0 ÐCÑ ‚ ÐB  CÑm Ÿ Q m0 ÐCÑmm ÐB  CÑm Ÿ Q Vm0 ÐCÑm,
`B3 `B3
onde

( Q Vm0 ÐCÑm œ Q V ( m0 ÐCÑm . -8 ÐCÑ  _,


‘8 ‘8

pelo que, aplicando o teorema de derivação do integral paramétrico II.6.2 à


aplicação ‘8 ‚ ÓB! 3  <ß B! 3  <Ò,
ÐCß B3 Ñ È 0 ÐCÑ ‚ 1ÐÐB! " ß ß á ß B3 ß á ß B8 3 Ñ  CÑ,
concluímos que a restrição da função 0 ‡1À ‘8 Ä L a F< ÐB! Ñ,

0 ‡1ÐBÑ œ ( 0 ÐCÑ ‚ 1ÐB  CÑ . -8 ÐCÑ


‘8

tem efetivamente derivada em ordem à variável 3 no ponto B! igual a

(
`1 `0
0 ÐCÑ ‚ ÐB!  CÑ . -8 ÐCÑ œ ‡1ÐB! Ñ. 
‘8 `B3 `B3

III.5.27 (Corolário) Nas condições anteriores, se a aplicação 0 À ‘8 Ä J é


integrável e de suporte compacto e a aplicação 1À ‘8 Ä K de classe G : ,
onde " Ÿ : Ÿ _, então a aplicação 0 ‡1À ‘8 Ä L é também de classe G : .
Dem: O caso em que : œ " resulta diretamente do resultado precedente e o
caso em que : é finito decorre então imediatamente por indução, se nos
lembrarmos que uma aplicação é de classe G :" se, e só se, tem derivadas
parciais em relação a cada uma das variáveis e estas são de classe G : . O caso
: œ _ é uma consequência do caso em que : é finito. 

Exercícios

Ex III.5.1 (Associatividade do produto de convolução no contexto positivo)


Consideremos aplicações mensuráveis :ß <ß 3À ‘8 Ä ‘ .
a) Utilizar o teorema de Fubini para funções positivas para mostrar que
Ð:‡<ч3 œ Ð:‡3ч<À ‘8 Ä ‘ .
§5. Translações e produto de convolução em ‘8 333

b) Deduzir de a) e da propriedade comutativa em III.5.7 que se tem


Ð:‡<ч3 œ :‡Ð<‡3ÑÀ ‘8 Ä ‘ .

Ex III.5.2 (Exemplo de associatividade do produto de convolução no


contexto vetorial) Seja I um espaço de Banach sobre Š, igual a ‘ ou ‚.
Sejam 0 ß 1À ‘8 Ä Š e 2À ‘8 Ä I aplicações topologicamente mensuráveis e
consideremos as aplicações mensuráveis :ß <ß 3À ‘8 Ä ‘ definidas por
:ÐBÑ œ l0 ÐBÑl, <ÐBÑ œ l1ÐBÑl, 3ÐBÑ œ m2ÐBÑm.

a) Suponhamos que Ð:‡<ч3ÐBÑ  _, para cada B − ‘8 , e que, tanto 0 e


1 como 0 e 2, são fracamente convolucionáveis. Mostrar que, tanto 0 ‡1 e 2
como 0 ‡2 e 1 são fortemente convolucionáveis e que, para cada B − ‘8 ,
Ð0 ‡1ч2ÐBÑ œ Ð0 ‡2ч2ÐBÑ.

b) Suponhamos que Ð:‡<ч3ÐBÑ  _, para cada B − ‘8 , e que, tanto 0 e


1 como 1 e 2, são fracamente convolucionáveis. Mostrar que, tanto 0 ‡1 e 2
como 0 e 1‡2 são fortemente convolucionáveis e que, para cada B − ‘8 ,
Ð0 ‡1ч2ÐBÑ œ 0 ‡Ð1‡2ÑÐBÑ.

Sugestão: Reparar que se tem um consequência da conclusão de a), tendo em


conta as propriedades comutativas do produto de convolução em III.5.7 e
III.5.14.
aw ) Suponhamos que Ð:‡<ч3ÐBÑ  _, quase sempre, e que, tanto 0 e 1
como 0 e 2, são fracamente convolucionáveis. Mostrar que, tanto 0 ‡1 e 2
como 0 ‡2 e 1 são fracamente convolucionáveis e que se tem quase sempre
Ð0 ‡1ч2ÐBÑ œ Ð0 ‡2ч2ÐBÑ.

bw ) Suponhamos que Ð:‡<ч3ÐBÑ  _, quase sempre, e que, tanto 0 e 1


como 1 e 2, são fracamente convolucionáveis. Mostrar que, tanto 0 ‡1 e 2
como 0 e 1‡2 são fracamente convolucionáveis e que se tem quase sempre
Ð0 ‡1ч2ÐBÑ œ 0 ‡Ð1‡2ÑÐBÑ.

Ex III.5.3 (Caso concreto de aplicabilidade do exercício III.5.2) Seja I um


espaço de Banach sobre Š, igual a ‘ ou ‚. Sejam 0 ß 1À ‘8 Ä Š e
2À ‘8 Ä I aplicações topologicamente mensuráveis com Ò0 Ó − P: Б8 ß ŠÑ,
Ò1Ó − P; Б8 ß ŠÑ e Ò2Ó − P= Б8 ß IÑ, onde " Ÿ :ß ;ß = Ÿ _. Mostrar que:
1) Se :"  ";  "= œ #, então, tanto 0 e 1 como 1 e 2 , são fracamente convo-
lucionáveis, tanto 0 ‡1 e 2 como 0 e 1‡2 são fortemente convolucionáveis,
para cada B − ‘8 ,
Ð0 ‡1ч2ÐBÑ œ 0 ‡Ð1‡2ÑÐBÑ
e Ð0 ‡1ч2 œ 0 ‡Ð1‡2ÑÀ ‘8 Ä I é limitada e uniformemente contínua.
334 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

" " "


2) Se :  ;  =  # e 1 Ÿ >  _ é o definido por
" " " "
  œ# ,
: ; = >
então, tanto 0 e 1 como 1 e 2, são fracamente convolucionáveis, tanto 0 ‡1 e
2 como 0 e 1‡2 são fracamente convolucionáveis, tem-se quase sempre
Ð0 ‡1ч2ÐBÑ œ 0 ‡Ð1‡2ÑÐBÑ
e ÒÐ0 ‡1ч2Ó œ Ò0 ‡Ð1‡2ÑÓ − P> Б8 ß IÑ.
Ex III.5.4 a) Sejam E § ‘8 e F § ‘8 dois borelianos e consideremos as respe-
tivas indicatrizes ˆE ß ˆF À ‘8 Ä ‘ . Mostrar que o produto de convolução
ˆE ‡ˆF À ‘8 Ä ‘ está definido por
ˆE ‡ˆF ÐBÑ œ -8 ÐÐB  EÑ  FÑ.

b) Sejam E § ‘8 e F § ‘8 dois borelianos com -8 ÐEÑ  ! e -8 ÐFÑ  !.


Mostrar que o conjunto E  F , das somas de um vetor de E com um vetor
de F , tem interior não vazio.
Sugestão: Começar por reparar que se pode supor -8 ÐEÑ  _ e
-8 ÐFÑ  _, se necessário substituindo E e F por E  Ò5ß 5Ó8 e
F  Ò5ß 5Ó8 , para 5 −  suficientemente grande. Utilizar III.5.19 e III.5.6
para verificar que o produto de convolução ˆE ‡ˆF À ‘8 Ä ‘ é uma função
contínua com integral não nulo e deduzir que qualquer B! − ‘8 tal que
ˆE ‡ˆF ÐB! Ñ Á ! é um ponto interior a E  F .
c) Seja E § ‘8 um boreliano com -8 ÐEÑ  !. Mostrar que se pode garantir,
mais precisamente, que ! é um ponto interior ao conjunto E  E, das
diferenças entre elementos de E.
Sugestão: Proceder como na alínea precedente, mas notando agora que
ˆE ‡ˆE Ð!Ñ œ -8 ÐEÑ  !.

§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas.

Nesta secção vamos começar por utilizar as propriedades do produto de


convolução estabelecidas anteriormente para obter, no contexto dos
abertos de ‘8 , resultados que já encontrámos na secção III.4, no contexto
dos espaços localmente compactos, como o lema da Urysohn, o teorema
da partição da unidade ou o teorema de densidade em III.4.14, mas com as
aplicações contínuas substituídas por funções de classe G _ .
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 335

III.6.1 (Lema) Tem lugar uma aplicação de classe G _ , :À ‘ Ä Ò!ß "Ò, definida
por

:Ð>Ñ œ œ
! , se > Ÿ !
.
/"Î> , se >  !

Dem: Seja, mais geralmente, para cada inteiro :   !, :: À ‘ Ä ‘ a aplicação


definida por

:: Ð>Ñ œ œ
! , se > Ÿ !
" "Î> ,
>: / , se >  !

aplicação que é contínua uma vez que se verifica, por indução em :, utili-
zando a regra de Cauchy para levantar indeterminações, que
=:
lim =: /= œ lim œ !.
=Ä_ =Ä_ /=

A aplicação : do enunciado não é mais do que a aplicação :! . Para cada


> Á !, a aplicação :: é derivável em > e com
::w Ð>Ñ œ : ::" Ð>Ñ  ::# Ð>Ñ

e, tendo em conta a continuidade de :: e do segundo membro da igualdade


anterior, concluímos que a igualdade anterior é ainda válida para > œ !. É
agora imediato concluir, por indução em 5 , que todas as funções :: são de
classe G 5 , para todo o 5 , e portanto de classe G _ . 
III.6.2 (A função sino) Seja 8   " fixado. Sendo :À ‘ Ä Ò!ß "Ò a função do
lema precedente e considerando em ‘8 a sua norma euclidiana, podemos
considerar

+œ( :Ð"  mBm# Ñ . -8 ÐBÑ,


‘8

que verifica !  +  _, e definimos a função sino


"
FÀ ‘8 Ä Ò!ß _Ò, FÐBÑ œ :Ð"  mBm# Ñ.
+
Esta função é de classe G _ e de suporte compacto e verifica
336 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

( FÐBÑ . -8 ÐBÑ œ ",


‘8

tendo-se, mais precisamente, FÐBÑ  ! se, e só se, B − F" Ð!Ñ.

Mais geralmente, por transformação homotética da função sino F, definimos,


para cada 5 − , uma função de classe G _ e de suporte compacto
F5 À ‘8 Ä Ò!ß _Ò, F5 ÐBÑ œ 5 8 FÐ5BÑ,

a qual verifica ainda

( F5 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ ",


‘8

tendo-se F5 ÐBÑ  ! se, e só se, B − F"Î5 Ð!Ñ.

Dem: O facto de a aplicação B È :Ð"  mBm# Ñ ser de classe G _ resulta de


que, para B œ ÐB" ß á ß B8 Ñ em ‘8 , tem-se mBm# œ B#"  â  B#8 . Por outro
lado, :Ð"  mBm# Ñ  ! se, e só se, "  mBm#  ! isto é, se, e só se, mBm  ",
o que implica que a aplicação B È :Ð"  mBm# Ñ tem suporte compacto e não
é igual a ! quase sempre, e portanto é efetivamente !  +  _.
Concluímos daqui que a aplicação F está bem definida, é de classe G _ e de
suporte compacto e verifica
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 337

( ( :Ð"  mBm Ñ . -8 ÐBÑ œ ",


" #
FÐBÑ . -8 ÐBÑ œ
‘8 + ‘8
tendo-se também FÐBÑ  ! se, e só se, B − F" Ð!Ñ. É agora imediato que,
para cada 5 − , F5 é de classe G _ , tendo-se F5 ÐBÑ œ ! se, e só se
5B − F" Ð!Ñ, isto é, B − F"Î5 Ð!Ñ, em particular F5 é de suporte compacto.
Quanto ao integral, considerando o isomorfismo 0À ‘8 Ä ‘8 , 0ÐCÑ œ 5" C ,
cujo coeficiente de dilatação é -0 œ 5"8 (cf. II.5.16), podemos reparar que 0 é
compatível com as medidas quando se considera no domínio a medida 5"8 -8 e
no espaço de chegada a medida -8 pelo que, tendo em conta II.1.37 e o
teorema trivial de mudança de variáveis II.1.38, vemos que

( F5 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ (
" "
F5 Ð CÑ .Ð 8 -8 ÑÐCÑ œ
‘8 ‘8 5 5
( 5 FÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ".
" 8
œ 
5 8 ‘8

Como primeira aplicação do produto de convolução e das aplicações F5


que acabamos de referir, podemos estabelecer, no contexto de ‘8 , uma
versão G _ do lema de Urysohn em III.4.11.

III.6.3 (Versão G _ do lema de Urysohn) Sejam O § ‘8 um compacto e


Y § ‘8 um aberto, com O § Y . Existe então uma aplicação de classe G _
:À ‘8 Ä Ò!ß "Ó tal que : ¡ Y 155 e :ÐBÑ œ ", para cada B − O .
Dem: Podemos afastar o caso trivial em que O œ g, caso em que se toma
para : a aplicação !. Seja $  ! tal que, para cada B − O , F$ ÐBÑ § Y (a
possibilidade de escolher um tal $ é trivial se Y œ ‘8 e, caso contrário, basta
tomar para $ o mínimo para B − O da função contínua que a B associa a dis-
tância .ÐBß ‘8 Ï Y Ñ). Escolhamos 5 −  tal que 5"  $# e consideremos os
compactos
O w œ O  F 5" Ð!Ñ œ . F 5" ÐBÑ,

O ww œ O  F 5# Ð!Ñ œ . F 5# ÐBÑ § Y ,
B−O

B−O

imagem dos compactos O ‚ F 5" Ð!Ñ e O ‚ F 5# Ð!Ñ de ‘8 ‚ ‘8 pela aplicação


contínua Ð?ß @Ñ È ?  @, reparando que, pela desigualdade triangular, para
cada D − O w , F 5" ÐDÑ § O ww . Uma vez que -8 ÐO w Ñ  _, e portanto a função
indicatriz ˆO w À ‘8 Ä Ö!ß "× § ‘ é integrável, em particular localmente
integrável, podemos aplicar o corolário III.5.25 para garantir a existência de

155Cf. a notação em III.4.10.


338 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

uma aplicação de classe G _


: œ F 5 ‡ ˆO w À ‘ 8 Ä ‘ ,
onde F5 é a função referida em III.6.2. Tendo em conta a comutatividade do
produto de convolução, : também está definida por

:ÐBÑ œ ( F5 ÐCÑ ˆO w ÐB  CÑ . -8 ÐCÑ œ ( F5 ÐCÑ . -8 ÐCÑ.


‘8 BO w

Resulta daqui que, para cada B − ‘8 ,

! Ÿ :ÐBÑ Ÿ ( F5 ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ",


‘8

que, para cada B − O , tem-se


F5 ÐCÑ Á ! Ê C − F 5" Ð!Ñ Ê B  C − O w Ê C − B  O w ,

e portanto

:ÐBÑ œ ( F5 ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ( F5 ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ "


BO w ‘8

e que, para cada B Â O ww , tem-se


C − B  O w Ê b w C œ B  D Ê b w B œ D  C Ê C  F 5" Ð!Ñ Ê F5 ÐCÑ œ !,
D−O D−O

e portanto

:ÐBÑ œ ( F5 ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ !,


BO w

o que mostra que : verifica as propriedades no enunciado. 

O resultado precedente permite-nos adaptar trivialmente a demonstração


do teorema da partição da unidade em III.4.12 para obter, no contexto de
‘8 , uma versão G _ desse resultado

compacto e ÐY4 Ñ4−N uma família finita de abertos de ‘8 tal que O § - Y4 .


III.6.4 (Partição G _ da unidade de um compacto) Sejam O § ‘8 um

Existem então aplicações :4 À ‘8 Ä Ò!ß "Ó de classe G _ , onde 4 − N , tais que:


a) Para cada 4 − N , :4 ¡ Y4 . 156
b) Para cada B − ‘8 , ! :4 ÐBÑ Ÿ ".

c) Para cada B − O , ! :4 ÐBÑ œ ".


4−N

4−N

156Cf. a notação em III.4.10.


§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 339

Costuma-se dizer que as funções :4 constituem uma partição da unidade de


classe G _ do compacto O subordinada à cobertura aberta finita constituída
pelos Y4 .
Dem: Vamos dividir a demonstração em duas partes:

tais que O § - O4 .
1) Vamos provar a existência de conjuntos compactos O4 § Y4 , onde 4 − N ,

Subdem: Consideremos, para cada B − O , um índice 4B − N tal que


B − Y4B e uma vizinhança compacta GB de B, tal que GB § Y4B . Pela
propriedade das coberturas dos compactos, escolhamos então uma parte
finita O! de O tal que se tenha ainda
O § . intÐGB Ñ.
B−O!

Sendo, para cada 4 − N ,


O4 œ . GB ,
B−O!
4B œ4

cada O4 é um compacto (união finita de compactos), está contido em Y4 e O


está contido na união dos O4 .
2) Pela versão do lema de Urysohn em III.6.3, podemos considerar, para cada
4 − N , uma aplicação : s4 À ‘8 Ä Ò!ß "Ó de classe G _ , tal que :
s4 ¡ Y4 e
:
s4 ÐBÑ œ ", para cada B − O4 e definir uma aplicação : sÀ \ Ä ‘ de classe
G _ por

sÐBÑ œ " :
: s4 ÐBÑ,
4−N

vindo então que, para cada B − O , existe 4 tal que B − O4 , e portanto


:
sÐBÑ   : s4 ÐBÑ œ ". Consideremos o aberto Z de ‘8 , contendo O ,
constituído pelos B − ‘8 tais que :sÐBÑ  !. Mais uma vez pelo resultado
referido, vai existir uma aplicação <À ‘8 Ä Ò!ß "Ó de classe G _ tal que
< ¡ Z e <ÐBÑ œ ", para cada B − O . Para cada B − ‘8 , tem-se
:
sÐBÑ  Ð"  <ÐBÑÑ  !, visto que, para B − Z , :sÐBÑ  ! e, para B Â Z ,
<ÐBÑ œ !. Podemos assim definir aplicações :4 À \ Ä Ò!ß "Ó de classe G _
por
:
s4 ÐBÑ
:4 ÐBÑ œ ,
:
sÐBÑ  Ð"  <ÐBÑÑ
s4 ¡ Y4 . Vem, para cada B − ‘8 ,
tendo-se :4 ¡ Y4 , por ser :

" :4 ÐBÑ œ
:
sÐBÑ
Ÿ"
4−N
:
sÐBÑ  Ð"  <ÐBÑÑ
340 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

e, para cada B − O , "  <ÐBÑ œ !, e portanto

" :4 ÐBÑ œ
:
sÐBÑ
œ ". 
4−N
:
sÐBÑ  Ð"  <ÐBÑÑ

Veremos adiante nesta secção que as funções F5 À ‘8 Ä Ò!ß _Ò,


definidas em III.6.2, jogam o papel de funções suavizadoras (em inglês
mollifiers) por permitirem, com o auxílio do produto de convolução, obter
aproximações de classe G _ de aplicações com menos regularidade. O
próximo resultado é um primeiro exemplo desse facto.

III.6.5 (Aproximação G _ das funções contínuas) Sejam I um espaço de


Banach e 0 À ‘8 Ä I uma aplicação contínua. Em particular 0 é localmente
integrável (cf. III.4.18) pelo que, tendo em conta III.5.25, podemos
considerar aplicações F5 ‡0 À ‘8 Ä I de classe G _ , tendo-se então, para
cada B − ‘8 , F5 ‡0 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ e esta convergência é uniforme sobre cada
compacto O § ‘8 .
Dem: Consideremos um compacto O § ‘8 e $  !. Tendo em conta a
formulação forte da continuidade uniforme de 0 no compacto O , podemos
considerar &  ! tal que se tenha m0 ÐDÑ  0 ÐBÑm  $ , sempre B − O , D − ‘8
e mB  Dm  &. Sendo 5! tal que 5"!  &, vamos verificar que, para cada
5   5! e B − O tem-se mF5 ‡0 ÐBÑ  0 ÐBÑm Ÿ $ , o que demonstrará o
resultado. Fixemos então 5   5! e B − O . Lembrando a comutatividade do
produto de convolução em III.5.14, tem-se então

mF5 ‡0 ÐBÑ  0 ÐBÑm œ ½( F5 ÐCÑ0 ÐB  CÑ.-8 ÐCÑ  Š( F5 ÐCÑ.-8 ÐCÑ‹0 ÐBѽ œ


‘8 ‘8

œ ½( F5 ÐCÑ Ð0 ÐB  CÑ  0 ÐBÑÑ . -8 ÐCѽ Ÿ


‘8

Ÿ( F5 ÐCÑ m0 ÐB  CÑ  0 ÐBÑm . -8 ÐCÑ Ÿ


F"Î5 Ð!Ñ

Ÿ( F5 ÐCÑ $ . -8 ÐCÑ œ $ . 
F"Î5 Ð!Ñ

III.6.6 Sejam Y § ‘8 um aberto, sobre cujos borelianos consideramos a medida


restrição da medida de Lebesgue -8 , e I um espaço de Banach. Notamos
V-_ ÐY ß IÑ § V- ÐY ß IÑ § MensÐÐY ß IÑ
o conjunto das aplicações 0 À Y Ä I de classe G _ e de suporte compacto e
G-_ ÐY ß IÑ § G- ÐY ß IÑ § Q /8=ÐY ß IÑ
o conjunto das respetivas classes de equivalência (cf. as definições de
V- ÐY ß IÑ e G- ÐY ß IÑ em III.4.8 e III.4.14), conjuntos esses que são trivial-
mente subespaços vetoriais.
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 341

Repare-se que, tendo em conta III.4.9, tem-se


G-_ ÐY ß IÑ § P: ÐY ß IÑ,
para cada " Ÿ : Ÿ _.
Repare-se também que, se 0 − V-_ ÐY ß IÑ então, para cada " Ÿ 3 Ÿ 8, a
`0
derivada parcial `B 3
também pertence a V-_ ÐY ß IÑ; mais precisamente, se
O § Y é um compacto com 0 ÐBÑ œ ! para cada B − Y Ï O , então tem-se
`0
também `B 3
ÐBÑ œ ! para cada B − Y Ï O .

III.6.7 (Versão mais forte de III.4.23) Sejam Y § ‘8 um aberto e I um


espaço de Banach e consideremos a aplicação bilinear
V- ÐY ß ‘Ñ ‚ P"69- ÐY ß IÑ Ä I ,
Ð:ß Ò1ÓÑ È Ø:ß Ò1ÓÙ œ ( :ÐBÑ 1ÐBÑ . -8 ÐBÑ.
Y

Se Ò1Ó − P"69- ÐY ß IÑé tal que Ø:ß Ò1ÓÙ œ !, para todo o : − V-_ ÐY ß ‘Ñ, então
Ò1Ó œ !, isto é, 1ÐBÑ œ ! quase sempre.
Dem: Tendo em conta III.4.23, bastará provar que se tem, mais geralmente,
Ø:ß Ò1ÓÙ œ !, para todo o : − V- ÐY ß ‘Ñ. Fixemos então um tal : − V- ÐY ß ‘Ñ,
que podemos já supor diferente da função !.
Seja O § Y um compacto tal que :ÐBÑ œ !, para cada B − Y Ï O . Podemos
então considerar &  ! tal que o compacto O w œ O  F & Ð!Ñ ¨ O esteja
ainda contido em Y (a existência de um tal & é trivial se Y œ ‘8 e, caso
contrário, basta tomar & menor que o mínimo estritamente positivo para
B − O da distância de B ao conjunto fechado ‘8 Ï Y , que é função contínua
de B). Seja : sÀ ‘8 Ä I o prolongamento de : que toma o valor ! fora de Y ,
função ainda com suporte compacto e cuja continuidade decorre da continui-
dade das suas restrições aos abertos Y e ‘8 Ï O de união ‘8 , esta última por
ser identicamente !.
Seja $  ! arbitrário. Aplicando III.6.5, concluímos a existência de 5! − 
tal que, para cada 5   5! , a aplicação de classe G _ e de suporte compacto
F5 ‡:sÀ ‘8 Ä ‘ verifica, para cada B − O w ,
lF5 ‡:
sÐBÑ  :
sÐBÑl  $

e, tendo em conta III.5.22, F5 ‡: sÐBÑ œ ! para cada B  O  F "Î5 Ð!Ñ.


Fixando 5   5! tal que 5" Ÿ &, tem-se assim, em particular, F5 ‡:sÐBÑ œ !
para cada B Â O w e podemos considerar a restrição < de F5 ‡: s a Y , que
pertence a V-_ ÐY ß IÑ e verifica l:ÐBÑ  <ÐBÑl  $ , para cada B − O w , e
<ÐBÑ œ :ÐBÑ œ !, para cada B − Y Ï O w . Uma vez que, por hipótese,
Ø<ß Ò1ÓÙ œ !, concluímos daqui que
342 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

mØ:ß Ò1ÓÙm œ mØ:ß Ò1ÓÙ  Ø< ß Ò1ÓÙm œ ½( Ð:ÐBÑ  < ÐBÑÑ1ÐBÑ .-8 ÐBѽ Ÿ
Y

Ÿ( l:ÐBÑ  <ÐBÑlm1ÐBÑm . -8 ÐBÑ Ÿ $ ( m1ÐBÑm . -8 ÐBÑ


Ow Ow

(lembrar que, por hipótese, 1 tem restrição integrável ao compacto O w ) e


daqui deduzimos, tendo em conta a arbitrariedade de $ , que mØ:ß Ò1ÓÙm œ !,
como queríamos. 
III.6.8 (Corolário) Sejam Y § ‘8 um aberto e I um espaço de Banach e
consideremos a correspondente aplicação bilinear
V- ÐY ß ‘Ñ ‚ P"69- ÐY ß IÑ Ä I ,
Ð:ß Ò1ÓÑ È Ø:ß Ò1ÓÙ œ ( :ÐBÑ 1ÐBÑ . -8 ÐBÑ.
Y

Se Ò1Óß Ò2Ó − P"69- ÐY ß IÑsão tais que Ø:ß Ò1ÓÙ œ Ø:ß Ò2ÓÙ, para todo o
: − V-_ ÐY ß ‘Ñ, então Ò1Ó œ Ò2Ó, isto é, 1ÐBÑ œ 2ÐBÑ quase sempre.
Dem: Basta atender a que, para todo o : − V-_ ÐY ß ‘Ñ, vem
Ø:ß Ò1Ó  Ò2ÓÙ œ Ø:ß Ò1ÓÙ  Ø:ß Ò2ÓÙ œ !,
portanto Ò1Ó  Ò2Ó œ !. 

Estamos agora em condições de abordar a definição das derivadas fracas,


que constituem, de certo modo, uma generalização das derivadas parciais
usuais, que também faz sentido nalgumas situações em que estas não
existem.

III.6.9 Sejam I um espaço de Banach, Y § ‘8 um aberto e Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ


(cf. III.4.17). Diz-se que um elemento Ò1Ó − P"69- ÐY ß IÑ é uma derivada fraca
de Ò0 Ó relativamente à variável 3 se, para cada função de classe G _ de supor-
te compacto : − V-_ ÐY ß ‘Ñ, tem-se
`:
Ø:ß Ò1ÓÙ œ Ø ß Ò0 ÓÙ
`B3
(cf. III.6.7), por outras palavras,

( :ÐBÑ 1ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ (


`:
ÐBÑ 0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ.
Y Y `B3
No caso particular em que 8 œ ", é redundante explicitar qual a variável
envolvida na derivação, pelo que dizemos simplesmente que 1 é uma
derivada fraca de 0 .
III.6.10 (Unicidade das derivadas fracas) Sejam I um espaço de Banach,
Y § ‘8 um aberto e Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ admitindo como derivadas fracas
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 343

relativamente à variável 3 tanto Ò1Ó − P"69- ÐY ß IÑ como Ò2Ó − P69-


"
ÐY ß IÑ.
Tem-se então Ò1Ó œ Ò2Ó, isto é, 1ÐBÑ œ 2ÐBÑ quase sempre.
Tendo em conta a unicidade, faz sentido notar, para cada Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ
que admita derivada fraca relativamente à variável 3, H3 Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ
essa derivada fraca.157 Como antes, no caso em que 8 œ ", usamos
simplesmente a notação HÒ0 Ó, em vez de H" Ò0 Ó.
Dem: Para cada : − V-_ ÐY ß ‘Ñ, vem
`:
Ø:ß Ò1ÓÙ œ Ø ß Ò0 ÓÙ œ Ø:ß Ò2ÓÙ,
`B3
pelo que a conclusão resulta diretamente de III.6.8. 

Vamos agora examinar um resultado que faz a ponte entre as derivadas


fracas e as derivadas usuais, resultado que será cómodo preceder de um
lema. Em cada caso, separamos o caso em que o domínio tem dimensão "
daquele em que a dimensão é 8   #, uma vez que, no segundo caso,
podemos, sem dificuldade, admitir a existência de uma singularidade.

III.6.11 (Lema) Seja I um espaço de Banach.


a) Sejam Y § ‘ um aberto e 0 À Y Ä I uma função contínua de suporte
compacto tal que, para cada > − Y , exista a derivada 0 w Ð>Ñ − I e que a apli-
cação 0 w À Y Ä I seja contínua. Tem-se então que esta última aplicação é
também de suporte compacto e verifica

( 0 Ð>Ñ .> œ !.
w
Y

b) Sejam 8   #, Y § ‘8 um aberto e B! − Y uma possível singularidade.158


Sejam " Ÿ 3 Ÿ 8 e 0 ß 03 À Y Ä I duas aplicações integráveis, de suporte
compacto, cujas restrições a Y Ï ÖB! × sejam contínuas e tais que, para cada
`0
B − Y Ï ÖB! ×, exista a derivada parcial `B 3
ÐBÑ œ 03 ÐBÑ. Tem-se então

( 03 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ !.
Y

Dem: a) Seja O § Y um compacto tal que 0 Ð>Ñ œ ! para cada > − Y Ï O .


Podemos considerar a extensão s0 À ‘ Ä I que vale ! nos pontos não
pertencentes a Y , aplicação essa que é contínua e com derivada contínua, por
isso acontecer às suas restrições aos abertos Y e ‘ Ï O de união ‘, esta
última por ser identicamente !. Seja V  ! tal que O § ÓVß VÒ. Tendo em
conta a fórmula de Barrow (cf. II.3.10), obtemos

157Podemos assim substituir o artigo indefinido em “uma derivada fraca” pelo


correspondente artigo definido.
158Repare-se que, no caso em que 8 œ ", não admitimos a existência de singularidade.
344 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

( 0 Ð>Ñ .> œ ( s0 Ð>Ñ .> œ (


w
w s0 w Ð>Ñ .> œ s0 ÐVÑ  s0 ÐVÑ œ !.
Y ‘ ÒVßVÓ

b) Seja O § Y um compacto tal que 0 ÐBÑ œ ! para cada B − Y Ï O ,


podendo já supor-se B! − O , se necessário substituindo O por O  ÖB! ×.
Podemos considerar as extensões s0 ß s0 3 À ‘8 Ä I que valem ! nos pontos não
pertencentes a Y , aplicações essas que são integráveis, com restrições
s
`0
contínuas a ‘8 Ï ÖB! × e com `B 3
ÐBÑ œ s0 3 ÐBÑ, para cada B − ‘8 Ï ÖB! ×, por
isso acontecer às suas restrições aos abertos Y Ï ÖB! × e ‘8 Ï O de união
‘8 Ï ÖB! ×, estas últimas identicamente !. Em particular tem-se ainda
s0 3 ÐBÑ œ !, para cada B − ‘8 Ï O . Notando

s! œ ÐB! " ß á ß B! 3" ß B! 3" ß á ß B! 8 Ñ − ‘8" ,


B

a fórmula de Barrow implica que, para cada


ÐB" ß á ß B3" ß B3" ß á ß B8 Ñ − ‘8" Ï ÖB
s ! ×,
tem-se

( s0 3 ÐB" ß á ß B8 Ñ .B3 œ (
`0s
ÐB" ß á ß B8 Ñ .B3 œ
‘ ÒVßVÓ `B3

œ s0 ÐB" ß á ß B3" ß Vß B3" ß á ß B8 Ñ  s0 ÐB" ß á ß B3" ß Vß B3" ß á ß B8 Ñ œ


œ !.
Reparando que -8" ÐÖB s! ×Ñ œ !,159 podemos agora aplicar o teorema de
Fubini (II.4.10), depois de fazer uma mudança trivial de variável (cf. a alínea
a) de II.5.5) para deduzir que

( 03 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ ( s0 3 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ


Y ‘8

œ( s0 3 ÐBÑ .Ð-8" Œ -ÑÐÐB" ß á ß B3" ß B3" ß á ß B8 Ñß B3 Ñ œ


Б8" ÏÖB
s! ×Ñ‚‘

œ( Š( ÐB" ß á ß B8 Ñ .B3 ‹. -8" ÐB" ß á ß B3" ß B3" ß á ß B8 Ñ œ


s
`0
‘8" ÏÖB
s! × ‘ `B3

œ( ! . -8" ÐB" ß á ß B3" ß B3" ß á ß B8 Ñ œ !. 


‘8" ÏÖB
s! ×

III.6.12 (Comparação com as derivadas usuais) Seja I um espaço de Banach.


a) Sejam Y § ‘ um aberto e 0 À Y Ä I uma função contínua tal que, para
cada > − Y , exista a derivada 0 w Ð>Ñ − I e que a aplicação 0 w À Y Ä I seja
contínua. Tem-se então que Ò0 w Ó − P69- "
ÐY ß IÑ é uma derivada fraca de

159É para isso que necessitamos da hipótese 8   #.


§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 345

Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ, por outras palavras, HÒ0 Ó œ Ò0 w Ó.


b) Sejam 8   #, Y § ‘8 um aberto e B! − Y uma possível singularidade.160
Sejam " Ÿ 3 Ÿ 8 e 0 ß 03 À Y Ä I duas aplicações localmente integráveis
cujas restrições a Y Ï ÖB! × sejam contínuas e tais que, para cada
`0
B − Y Ï ÖB! ×, exista a derivada parcial `B 3
ÐBÑ œ 03 ÐBÑ. Tem-se então que
Ò03 Ó − P"69- ÐY ß IÑ é uma derivada fraca de Ò0 Ó − P69- "
ÐY ß IÑ relativamente à
variável 3, por outras palavras, H3 Ò0 Ó œ Ò03 Ó.
c) Combinando as conclusões de a) e b), a última no caso em que não existe
singularidade, podemos resumir:
Sejam 8   ", Y § ‘8 um aberto e 0 À Y Ä I uma aplicação contínua tal
que, para um certo " Ÿ 3 Ÿ 8, admita em cada B − Y , uma derivada parcial
`0 `0
`B3 ÐBÑ e que a aplicação `B3 À Y Ä I seja contínua. Tem-se então que
`0
Ò `B 3
Ó − P"69- ÐY ß IÑ é uma derivada fraca de Ò0 Ó − P69-
"
ÐY ß IÑ relativamente à
`0
variável 3, por outras palavras H3 Ò0 Ó œ Ò `B 3
Ó.
Dem: a) O facto de termos elementos de P"69- ÐY ß IÑ resulta de toda a
aplicação contínua ser localmente integrável (cf. III.4.18). Seja agora
: − V-_ ÐY ß ‘Ñ arbitrário. Sendo O § Y um compacto tal que :Ð>Ñ œ !, para
cada > − Y Ï O , tem-se também :w Ð>Ñ œ !, para cada > − Y Ï O , e podemos
considerar a aplicação contínua de suporte compacto 0̃ À Y Ä I definida por
0˜ Ð>Ñ œ :Ð>Ñ0 Ð>Ñ,
que é derivável em cada ponto e com
w
0˜ Ð>Ñ œ :w Ð>Ñ0 Ð>Ñ  :Ð>Ñ0 w Ð>Ñ,
w w
em particular com 0˜ À Y Ä I contínua e 0˜ Ð>Ñ œ !, para cada > − Y Ï O .
Tendo em conta a alínea a) do lema III.6.11, vem

! œ ( 0˜ Ð>Ñ .> œ ( :w Ð>Ñ0 Ð>Ñ .>  ( :Ð>Ñ0 w Ð>Ñ .>,


w

Y Y Y

o que implica que se tem efetivamente

( :Ð>Ñ 0 Ð>Ñ .> œ ( : Ð>Ñ 0 Ð>Ñ .>.


w w
Y Y

b) Seja : − V-_ ÐY ß ‘Ñ arbitrário. Sendo O § Y um compacto tal que


`:
:ÐBÑ œ !, para cada B − Y Ï O , tem-se também `B 3
ÐBÑ œ !, para cada
B − Y Ï O, e, tendo em conta a alínea b) de III.4.22, podemos considerar as
aplicações integráveis, de suporte compacto, 0˜ À Y Ä I e 0˜ 3 À Y Ä I
definidas por

160Repare-se que, no caso em que 8 œ ", não admitimos a existência de singularidade.


Ver a alínea b) do exercício III.6.1 para um contraexemplo.
346 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

`:
0˜ ÐBÑ œ :ÐBÑ0 ÐBÑ, 0˜ 3 ÐBÑ œ ÐBÑ0 ÐBÑ  :ÐBÑ03 ÐBÑ.
`B3
Estas aplicações têm restrições contínuas a Y Ï ÖB! × e, para cada
`0˜
B − Y Ï ÖB! ×, tem-se `B 3
ÐBÑ œ 0˜ 3 ÐBÑ. Tendo em conta a alínea b) do lema
III.6.11, vem assim

! œ ( 0˜ 3 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ ( ÐBÑ0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ  ( :ÐBÑ03 ÐBÑ .-8 ÐBÑ,


`:
Y Y `B3 Y

o que implica que se tem efetivamente

( :ÐBÑ03 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ (


`:
ÐBÑ0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ.
Y Y `B3
c) No caso em que 8 œ ", temos uma mera reformulação de a) e no caso em
que 8   #, começamos por afastar o caso trivial em que Y œ g e fixando
arbitrariamente B! − Y , reparamos que, uma vez que as aplicações contínuas
são localmente integráveis, temos uma consequência direta de b). 
III.6.13 (Compatibilidade com as restrições) Sejam I um espaço de Banach,
Y § ‘8 um aberto e Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ admitindo Ò1Ó − P69- "
ÐY ß IÑ como
derivada fraca relativamente à variável 3. Para cada aberto Z § Y tem-se
então que Ò0ÎZ Ó − P"69- ÐY ß IÑ admite Ò1ÎZ Ó − P69-
"
ÐY ß IÑ como derivada
fraca relativamente à variável 3, ou seja,
H3 ÐÒ0 ÓÎZ Ñ œ ÐH3 Ò0 ÓÑÎZ .

Dem: O facto de 0ÎZ e 1ÎZ serem ainda localmente integráveis é trivial.


Reparamos agora que, se : − V-_ ÐZ ß ‘Ñ, é nula fora dum compacto O § Z ,
podemos considerar o prolongamento : sÀ Y Ä ‘ de : que é nulo em Z Ï Y e
que, por ser, mais geralmente, nulo em Z Ï O , pertence a V-_ ÐY ß ‘Ñ,
tendo-se então

( :ÐBÑ ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ ( :


`0ÎZ `0
sÐBÑ ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ
Z `B 3 Y `B 3

œ ( ÐBÑ 0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ (


`:s `:
ÐBÑ 0ÎZ ÐBÑ . -8 ÐBÑ. 
Y `B3 Z `B3

III.6.14 (A derivada fraca tem caráter local) Sejam I um espaço de Banach,


Y § ‘8 um aberto, Ò0 Óß Ò1Ó − P"69- ÐY ß IÑ e " Ÿ 3 Ÿ 8. Suponhamos que
existe uma família ÐY4 Ñ4−N de abertos de ‘8 , de união Y , tal que, para cada
4 − N , Ò0ÎY4 Ó − P"69- ÐY4 ß IÑ admita Ò1ÎY4 Ó − P69-
"
ÐY4 ß IÑ como derivada fraca
relativamente à variável 3. Tem-se então que Ò0 Ó admite Ò1Ó como derivada
fraca relativamente à variável 3.
Dem: Seja : − V-_ ÐY ß ‘Ñ. Seja O § Y um compacto tal que :ÐBÑ œ ! para
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 347

compactos, seja M § N finito tal que O § - Y4 . Tendo em conta a versão do


cada B − Y Ï O e, tendo em conta a propriedade das coberturas dos

4−M
teorema da partição da unidade em III.6.4, consideremos funções
<4 À ‘8 Ä ‘ de classe G _ , onde 4 − M , tais que cada, para cada 4 − M , exista

tenha, para cada B − O , ! <4 ÐBÑ œ ". Podemos considerar, para cada 4 − M ,
um compacto O4 § Y4 com <4 ÐBÑ œ ! para cada B − ‘8 Ï O4 e que se

4−M
uma função :4 À Y Ä ‘ de classe G _ definida por :4 ÐBÑ œ <4 ÐBÑ:ÐBÑ, para
qual se tem, não só :4 − V-_ ÐY ß ‘Ñ, mas também :4 ÎY4 − V-_ ÐY4 ß ‘Ñ, por ser

x − Y Ï O4 , `B34 ÐBÑ œ !. Uma vez que, para cada B − Y , :ÐBÑ œ ! :4 ÐBÑ,


:4 ÐBÑ œ ! para cada B − Y Ï O4 . É claro que se tem também, para cada
`:

4−M
já que, para cada cada B Â O , ambos os membros são !, deduzimos que se
tem também, para cada B − Y ,

ÐBÑ œ "
`: ` :4
ÐBÑ,
`B3 4−M
`B3

e portanto

( :ÐBÑ 1ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ " ( :4 ÐBÑ 1ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ


Y 4−M Y

œ " ( :4 ÎY4 ÐBÑ 1ÎY4 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ


4−M Y4

œ " (
` :4 ÎY4
ÐBÑ 0ÎY4 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ
4−M Y4 `B3

œ " (
` :4
ÐBÑ 0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ
4−M Y `B3

œ (
`:
ÐBÑ 0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ,
Y `B3
o que prova o resultado. 
III.6.15 (Enunciado alternativo do caráter local) Sejam I um espaço de
Banach, Y § ‘8 um aberto, Ò0 Óß Ò1Ó − P"69- ÐY ß IÑ e " Ÿ 3 Ÿ 8. Suponhamos
que, para cada B! − Y , existe um aberto Z de ‘8 , com B! − Z § Y , tal que
Ò0ÎZ Ó − P"69- ÐY4 ß IÑ admita Ò1ÎZ Ó − P69-
"
ÐY4 ß IÑ como derivada fraca relati-
vamente à variável 3. Tem-se então que Ò0 Ó admite Ò1Ó como derivada fraca
relativamente à variável 3.
Dem: Sendo, para cada B − Y , ZB um aberto com B − ZB § Y nas condições
do enunciado, a família ÐZB ÑB−Y verifica as hipóteses em III.6.14. 
348 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

III.6.16 (Linearidade da derivação fraca) Sejam I um espaço de Banach,


Y § ‘8 um aberto e " Ÿ 3 Ÿ 8. Tem-se então:
a) Se Ò0" Óß Ò0# Ó − P"69- ÐY ß IÑ admitem respetivamente Ò1" Óß Ò1# Ó − P69-
"
ÐY ß IÑ
como derivadas fracas relativamente à variável 3, e se + é um escalar de I ,
então Ò0"  0# Ó e Ò+0" Ó admitem respetivamente Ò1"  1# Ó e Ò+1" Ó como deri-
vadas fracas relativamente à mesma variável. Por outras palavras,
H3 ÐÒ0" Ó  Ò0# ÓÑ œ H3 Ò0" Ó  H3 Ò0# Ó, H3 Ð+Ò0" ÓÑ œ +H3 Ò0" Ó.

b) Se J é outro espaço de Banach, 0À I Ä J é uma aplicação linear contínua


e Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ admite Ò1Ó − P69-
"
ÐY ß IÑ como derivada fraca relativa-
mente à variável 3, então Ò0 ‰ 0 Ó − P"69- ÐY ß J Ñ admite Ò0 ‰ 1Ó como derivada
fraca relativamente à mesma variável.
Dem: O facto de Ò0"  0# Ó e Ò+0" Ó admitir Ò1"  1# Ó como derivada fraca
relativamente à variável 3 resulta de que, para cada : − V-_ ÐY ß ‘Ñ, vem

( :ÐBÑ Ð1" ÐBÑ  1# ÐBÑÑ . -8 ÐBÑ œ


Y

œ ( :ÐBÑ 1" ÐBÑ . -8 ÐBÑ  ( :ÐBÑ 1" ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ


Y Y

œ ( ÐBÑ 0" ÐBÑ . -8 ÐBÑ  (


`: `:
ÐBÑ 0# ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ
Y `B3 Y `B3

œ (
`:
ÐBÑ Ð0" ÐBÑ  0# ÐBÑÑ . -8 ÐBÑ.
Y `B 3

A afirmação em a) relativa ao produto pelo escalar + pode-se demonstrar


analogamente, ou resulta de utilizar b) com a aplicação linear 0À I Ä I ,
0ÐAÑ œ +A. Quanto a b), podemos escrever, para cada : − V-_ ÐY ß ‘Ñ,

( :ÐBÑ 0Ð1ÐBÑÑ . -8 ÐBÑ œ ( 0Ð:ÐBÑ1ÐBÑÑ . -8 ÐBÑ œ


Y Y

œ 0Š( :ÐBÑ 1ÐBÑ . -8 ÐBÑ‹ œ 0Š( ÐBÑ 0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ‹ œ


`:
Y Y `B3

œ ( 0 Ð ÐBÑ0 ÐBÑÑ . -8 ÐBÑ œ (


`: `:
ÐBÑ 0Ð0 ÐBÑÑ . -8 ÐBÑ,
Y `B 3 Y `B 3

o que implica a conclusão. 

Até agora, o único resultado que encontrámos e que nos permite identi-
ficar derivadas fracas foi aquele em que a função é contínua, admite deri-
vada parcial, no sentido usual, em todos os pontos (com uma eventual
singularidade no caso em que 8   #) e esta derivada parcial é contínua
(cf. III.6.12). Examinamos agora duas situações em que podemos garantir
a existência de derivadas fracas sem que as hipóteses referidas sejam
verificadas.
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 349

III.6.17 (Derivadas fracas e integral indefinido) Sejam N § ‘ um intervalo


aberto, I um espaço de Banach, 0 À N Ä I uma aplicação localmente inte-
grável e >! − N um elemento fixado e consideremos o correspondente
integral indefinido

s0 Ð>Ñ œ ( 0 Ð=Ñ .=
>
s0 À N Ä I ,
>!

(cf. II.3.5). Tem-se então que s0 é uma aplicação contínua, em particular


s Ó, isto é, HÒ0
localmente integrável, e Ò0 Ó é a derivada fraca de Ò0 s Ó œ Ò0 Ó.
Dem: Seja : − V-_ ÐN ß ‘Ñ arbitrário e consideremos + Ÿ , em N tal que, para
cada > − N Ï Ò+ß ,Ó, :Ð>Ñ œ !, e portanto também :w Ð>Ñ œ ! e reparemos que,
por continuidade, tem-se ainda :Ð+Ñ œ :Ð,Ñ œ !. Reparemos que, pelas
propriedades usuais do integral indefinido (cf. II.3.4), tem-se, para cada
> − N,

s0 Ð>Ñ œ -  ( 0 Ð=Ñ .=,


>

com - œ '+ 0 Ð=Ñ .=, e que


>!

( - : Ð>Ñ .> œ -Ð:Ð,Ñ  :Ð+ÑÑ œ !.


,
w
+

Podemos agora escrever, tendo em conta o teorema de Fubini em II.4.10,

( : Ð>Ñ0
s Ð>Ñ .> œ ( :w Ð>Ñ Š( 0 Ð=Ñ .=‹ .> œ
>
w
N Ò+ß,Ó +

œ( : Ð>Ñ Š(
w
ˆÒ+ß>Ó Ð=Ñ 0 Ð=Ñ .=‹ .> œ
Ò+ß,Ó Ò+ß,Ó

œ( :w Ð>Ñ ˆÒ=ß,Ó Ð>Ñ 0 Ð=Ñ . -# Ð=ß >Ñ œ


Ò+ß,Ó‚Ò+ß,Ó

œ( Š( ˆÒ=ß,Ó Ð>Ñ :w Ð>Ñ .>‹ 0 Ð=Ñ .= œ


Ò+ß,Ó Ò+ß,Ó

œ( Ð:Ð,Ñ  :Ð=ÑÑ 0 Ð=Ñ .= œ ( :Ð=Ñ 0 Ð=Ñ .=,


Ò+ß,Ó N

o que mostra que s0 é efetivamente a derivada fraca de 0 . 


III.6.18 (Limites e derivadas fracas) Sejam I um espaço de Banach, Y § ‘8
um aberto e " Ÿ 3 Ÿ 8. Seja Ò05 Ó, onde 5 − , uma sucessão de elementos de
P"69- ÐY ß IÑ convergente em P69-
" "
ÐY ß IÑ para Ò0 Ó − P69- ÐY ß IÑ. Suponhamos
que cada Ò05 Ó admite uma derivada fraca H3 Ò05 Ó − P"69- ÐY ß IÑ e que a
sucessão destas derivadas fracas converge em P"69- ÐY ß IÑ para um certo
Ò1Ó − P"69- ÐY ß IÑ. Tem-se então que Ò1Ó œ H3 Ò0 Ó, isto é, Ò0 Ó admite Ò1Ó como
350 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

derivada fraca relativamente à variável 3.161


Dem: Seja : − V-_ ÐY ß ‘Ñ arbitrário. Tendo em conta III.4.22, tem-se
`: `:
Ø:ß H3 Ò05 ÓÙ Ä Ø:ß Ò1ÓÙ, Ø ß Ò05 ÓÙ Ä Ø ß Ò0 ÓÙ,
`B3 `B3
`:
pelo que, uma vez que Ø:ß H3 Ò05 ÓÙ œ Ø `B 3
ß Ò05 ÓÙ, concluímos que
`:
Ø:ß Ò1ÓÙ œ Ø ß Ò0 ÓÙ. 
`B3

Há ainda outras propriedades das derivadas usuais que, admitem versões


no contexto das derivadas fracas, mas com justificações que não são
facilmente obtidas de modo direto. Pensamos, por exemplo, em proprie-
dades envolvendo a derivada fraca de um produto ou sobre o que se
poderá dizer sobre uma função com derivadas fracas identicamente !,
relativamente a cada uma das variáveis. Essas propriedades serão estabe-
lecidas adiante com o auxílio de teoremas de aproximação por aplicações
de classe G _ , que utilizam a convolução com as funções suavizadoras
F5 À ‘8 Ä Ò!ß _Ò, definidas em III.6.2, e que, por esse motivo,
envolvem, à partida, apenas funções cujo domínio é a totalidade de ‘8 .
Antes de examinar esses resultados de aproximação, estabelecemos por
isso dois lemas que permitirão obter resultados sobre aplicações definidas
em abertos de ‘8 a partir de resultados que pressupõem a totalidade de
‘8 como domínio.

III.6.19 (Lema sobre a derivada fraca de um produto) Sejam I um espaço de


Banach, Y § ‘8 um aberto e " Ÿ 3 Ÿ 8. Seja Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ admitindo
Ò1Ó œ H3 Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ como derivada fraca relativamente à variável 3. Se
< − V-_ ÐY ß ‘Ñ, podemos considerar o produto
Ò<ÓÒ0 Ó œ Ò<0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ,
o qual vai admitir uma derivada fraca relativamente a variável 3, dada por
`<
H3 ÐÒ<ÓÒ0 ÓÑ œ Ò ÓÒ0 Ó  Ò<ÓH3 Ò0 Ó.
`B3
Dem: Notemos que o facto de se ter Ò<ÓÒ0 Ó œ Ò<0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ resulta da
alínea a) de III.4.22, resultado que implica também que
`<
Ò ÓÒ0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ, "
Ò<ÓH3 Ò0 Ó − P69- ÐY ß IÑ
`B3
e portanto a sua soma também pertence a P"69- ÐY ß IÑÞ Seja agora

161Este resultado, apesar de ser de justificação elementar, está no centro da importância


que as derivadas fracas têm nas aplicações à Análise Funcional.
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 351

: − V-_ ÐY ß ‘Ñ arbitrário. Uma vez que se tem também :< − V-_ ÐY ß ‘Ñ, vem

( :ÐBÑ<ÐBÑ1ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ Ø:<ß Ò1ÓÙ œ Ø


`Ð:<Ñ
ß Ò0 ÓÙ œ
Y `B3
œ ( ÐBÑ<ÐBÑ0 ÐBÑ. -8 ÐBÑ  ( :ÐBÑ
`: `<
ÐBÑ0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ
Y `B 3 Y `B 3

e portanto
`<
Ø: ß Ò 0 Ó  Ò<1ÓÙ œ
`B3
œ ( :ÐBÑ ÐBÑ0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ  ( :ÐBÑ<ÐBÑ1ÐBÑ .-8 ÐBÑ œ
`<
Y `B 3 Y

œ (
`: `:
ÐBÑ<ÐBÑ0 ÐBÑ. -8 ÐBÑ œ Ø ß Ò<0 ÓÙ. 
Y `B3 `B3

III.6.20 (Lema de extensão do domínio) Sejam I um espaço de Banach,


Y § ‘8 um aberto e Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ. Seja Z § Y um aberto tal que exista
um compacto O com Z § O § Y . Existe então Ò0 s Ó − P" Б8 ß IÑ
verificando as seguintes propriedades:
s Ó têm a mesma restrição a Z .
1) As classes Ò0 Ó e Ò0
2) Para cada " Ÿ 3 Ÿ 8 tal que Ò0 Ó tenha derivada fraca H3 Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ
relativamente à variável 3, Ò0 s Ó tem derivada fraca H3 Ò0 s Ó − P" Б8 ß IÑ
relativamente à mesma variável.
3) Existe um compacto O w § Y tal que Ò0 s Ó tem restrição nula a ‘8 Ï O w .
Dem: Tendo em conta a versão G _ do lema de Urysohn em III.6.3, podemos
considerar uma aplicação <À ‘8 Ä Ò!ß "Ó de classe G _ e um compacto
O w § Y tais que <ÐBÑ œ ", para cada B − O , e <ÐBÑ œ !, para cada B  O w .
`<
Reparemos que, para cada B Â O w , tem-se também `B 3
ÐBÑ œ !. Seja
s0 À ‘8 Ä I a aplicação topologicamente mensurável definida por

s0 ÐBÑ œ œ <ÐBÑ0 ÐBÑ, se B − Y


!, se B Â Y

e reparemos que s0 é integrável, por ter restrição localmente integrável ao


aberto Y (cf. a alínea a) de III.4.22) e portanto restrição integrável ao
compacto O w § Y , e ter restrição ! a ‘8 Ï O w . Uma vez que, para cada
B − Z , vem <ÐBÑ œ ", e portanto s0 ÐBÑ œ 0 ÐBÑ, vemos que Ò0 Ó e Ò0 s Ó têm a
mesma restrição a Z . Suponhamos agora que " Ÿ 3 Ÿ 8 é tal que Ò0 Ó tenha
derivada fraca H3 Ò0 Ó œ Ò03 Ó − P"69- ÐY ß IÑ relativamente à variável 3. Seja
s0 3 À ‘8 Ä I a aplicação topologicamente mensurável definida por

 !,
`<
s0 3 ÐBÑ œ `B3 ÐBÑ0 ÐBÑ  <ÐBÑ03 ÐBÑ, se B − Y
se B Â Y
352 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

e reparemos que, pela mesma razão que s0 , a aplicação s0 3 é integrável. Tendo


em conta o lema III.6.19, Ò0 s 3 ÓÎY − P" ÐY ß IÑ é uma derivada fraca relativa-
mente à variável 3 de Ò0 s ÓÎY e, por exemplo por III.6.12, Ò0 s 3 ÓΑ8 ÏO w œ Ò!Ó é
também a derivada fraca de Ò0 s ÓΑ8 ÏO w œ Ò!Ó relativamente à mesma variável.
Uma vez que ‘ é a união dos abertos Y e ‘8 Ï O w , deduzimos finalmente
8

s Ó tem derivada fraca H3 Ò0


de III.6.14 que Ò0 s Ó œ Ò0
s 3 Ó relativamente à variável  3.

Passemos agora aos resultados de aproximação que referimos atrás.

III.6.21 (Lema — aproximação G _ das funções contínuas de suporte


compacto) Sejam I um espaço de Banach e 1À ‘8 Ä I uma aplicação
contínua e de suporte compacto. Tem-se então que as funções F5 ‡1À ‘8 Ä I
são de classe G _ e de suporte compacto e, para cada " Ÿ :  _,
ÒF5 ‡1Ó Ä Ò1Ó
em P: Б8 ß IÑ.
Dem: Como verificámos em III.4.9, o facto de se ter 1 − V- Б8 ß IÑ implica
que Ò1Ó − P: Б8 ß IÑ. Uma vez que 1 é, em particular, localmente integrável
(aliás, mesmo integrável), já sabemos, por III.5.25 e III.5.22, que, para cada
5 − , F5 ‡1À ‘8 Ä I é de classe G _ e de suporte compacto, e portanto
também se tem ÒF5 ‡1Ó − P: Б8 ß IÑ. De facto, este útimo resultado diz-nos,
mais precisamente, que, sendo O § ‘8 um compacto tal que 1ÐBÑ œ !, para
cada B  O , então tem-se F5 ‡1ÐBÑ œ !, para cada B não pertencente ao
compacto O  F "Î5 Ð!Ñ.
Provemos agora a convergência em P: Б8 ß IÑ referida no enunciado, para o
que aplicaremos III.6.5 ao compacto O w œ O  F " Ð!Ñ.
Tem-se F5 ‡1ÐBÑ œ ! œ 1ÐBÑ, para cada B  O w , e portanto

mÒF5 ‡1Ó  Ò1Óm: œ Š( mF5 ‡1ÐBÑ  1ÐBÑm: . -8 ÐCÑ‹


"Î:
œ
‘8

œ Š( mF5 ‡1ÐBÑ  1ÐBÑm: . -8 ÐCÑ‹


"Î:

Ow

pelo que afastando já o caso trivial em que -8 ÐO w Ñ œ !, e portanto


mÒF5 ‡1Ó  Ò1Óm: œ !, vemos que, dado $  !, podemos escolher 5! −  tal
que, para cada 5   5! e B − O w
$
mF5 ‡1ÐBÑ  1ÐBÑm  ,
-8 ÐO w Ñ"Î:
tando-se assim, para cada 5   5! ,
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 353

mÒF5 ‡1Ó  Ò1Óm: Ÿ Š( . -8 ÐCÑ‹ œ $ ,


$: "Î:

- ÐO wÑ
O 8
w

o que prova a convergência em P: Б8 ß IÑ. 


III.6.22 (Aproximação G _ em P: Б8 ß IÑ e em P"69- Б8 ß IÑ) Sejam I um
espaço de Banach e Ò0 Ó − P"69- Б8 ß IÑÞ Tem-se então, para as correspon-
dentes aplicações F5 ‡0 À ‘8 Ä I de classe G _ (cf. III.5.25), que a sucessão
dos ÒF5 ‡0 Ó − P"69- Б8 ß IÑ converge para Ò0 Ó em P69-
"
Б8 ß IÑ.
: 8
Além disso, no caso em que Ò0 Ó − P Б ß IÑ, com " Ÿ :  _, tem-se
ÒF5 ‡0 Ó − P: Б8 ß IÑ, mÒF5 ‡0 Óm: Ÿ mÒ0 Óm: e ÒF5 ‡0 Ó Ä Ò0 Ó em P: Б8 ß IÑ.
Dem: Comecemos por supor que Ò0 Ó − P: Б8 ß IÑ, com " Ÿ :  _ e
lembremos que, por III.4.21, tem-se, em particular, Ò0 Ó − P"69- Б8 ß IÑ.
Reparando que ÒF5 Ó − P" Б8 ß ‘Ñ e mF5 m" œ ", resulta de III.5.20 que se tem
efetivamente ÒF5 ‡0 Ó − P: Б8 ß IÑ e
mÒF5 ‡0 Óm: Ÿ mF5 m" mÒ0 Óm: œ mÒ0 Óm: .

Seja agora $  ! arbitrário. Tendo em conta o teorema de densidade III.4.14,


podemos considerar uma aplicação contínua e de suporte compacto
1À ‘8 Ä I tal que mÒ0 Ó  Ò1Óm:  $$ e, aplicando o lema III.6.21 a 1,
concluímos a existência de 5! −  tal que, para cada 5   5! ,
mÒF5 ‡1Ó  Ò1Óm:  $$ . Como, mais uma vez por III.5.20,
$
mÒF5 ‡0 Ó  ÒF5 ‡1Óm: œ mÒF5 Ó‡Ò0  1Óm: Ÿ mÒF5 Óm" mÒ0  1Óm:  ,
$
concluímos finalmente que, para cada 5   5! ,
mÒF5 ‡0 Ó  Ò0 Óm: Ÿ mÒF5 ‡0 Ó  ÒF5 ‡1Óm:  mÒF5 ‡1Ó  Ò1Óm: 
$ $ $
 mÒ1Ó  Ò0 Óm:    œ $ ,
$ $ $
o que prova que ÒF5 ‡0 Ó Ä Ò0 Ó em P: Б8 ß IÑ.
Suponhamos agora que se tem apenas Ò0 Ó − P"69- Б8 ß IÑ. Seja O § ‘8 um
compacto arbitrário. Considerando o compacto O w œ O  F " Ð!Ñ de ‘8 , o
facto de se ter Ò0ÎO w Ó − P" ÐO w ß IÑ implica que, sendo s0 œ ˆO w 0 , tem-se
s Ó − P" Б8 ß IÑ e portanto, pelo que vimos no início, ÒF5 ‡0
Ò0 s Ó Ä Ò0 s Ó em
" 8 s s "
P Б ß IÑ e portanto também ÒF5 ‡0 ÓÎO Ä Ò0 ÓÎO em P ÐOß IÑ. Mas, para
cada B − O , tem-se s0 ÐBÑ œ 0 ÐBÑ e, uma vez que F5 ÐB  CÑ œ ! para cada
C Â O w,

s ÐBÑ œ ( F5 ÐB  CÑ0
F5 ‡0 s ÐCÑ. -8 ÐCÑ œ ( F5 ÐB  CÑ0
s ÐCÑ. -8 ÐCÑ œ
‘8 Ow

œ ( F5 ÐB  CÑ0 ÐCÑ. -8 ÐCÑ œ ( F5 ÐB  CÑ0 ÐCÑ. -8 ÐCÑ œ F5 ‡0 ÐBÑ,


Ow ‘8
354 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

pelo que podemos concluir que ÒF5 ‡0 ÓÎO Ä Ò0 ÓÎO em P" ÐOß IÑ. Ficou
assim provado que ÒF5 ‡0 Ó Ä Ò0 Ó em P"69- Б8 ß IÑ. 
III.6.23 (Suavização de uma derivada fraca) Sejam I um espaço de Banach e
Ò0 Ó − P169- Б8 ß IÑ admitindo uma derivada fraca H3 Ò0 Ó − P169- Б8 ß IÑ
relativamente à variável 3. Tem-se então que as aproximações
F5 ‡0 À ‘8 Ä I e F5 ‡1À ‘8 Ä I , de classe G _ , verificam, para cada
B − ‘8 ,
`ÐF5 ‡0 Ñ
ÐBÑ œ F5 ‡H3 Ò0 ÓÐBÑ.
`B3
Dem: Seja B − ‘8 fixado. Podemos então considerar a função G _ de ‘8
para ‘ que a C associa F5 ÐB  CÑ, que é de suporte compacto, por ser nula
fora da bola F "Î5 ÐBÑ, e cuja derivada em ordem à variável 3 em cada ponto C
é igual a  ``BF35 ÐB  CÑ. Sendo H3 Ò0 Ó œ Ò1Ó e tendo em conta a definição da
derivada fraca e III.5.24, tem-se assim

F5 ‡H3 Ò0 ÓÐBÑ œ F5 ‡1ÐBÑ œ ( F5 ÐB  CÑ1ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ


‘8

œ(
` F5 ` F5
ÐB  CÑ0 ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ ‡0 ÐBÑ œ
‘8 `B 3 `B3
`ÐF5 ‡0 Ñ
œ ÐBÑ. 
`B3

III.6.24 (Corolário — suavização num aberto) Sejam I um espaço de Banach,


Y § ‘8 um aberto e Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ. Seja Z § Y um aberto tal que exista
um compacto O com Z § O § Y . Existe então uma sucessão de funções
05 À Y Ä I de classe G _ tal que:
a) Ò05 ÎZ Ó Ä Ò0 ÓÎZ em P" ÐZ ß IÑ;
b) Para cada " Ÿ 3 Ÿ 8 tal que exista a derivada fraca H3 Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ,
tem-se Ò `0 "
`B3 ÎZ Ó Ä H3 Ò0 ÓÎZ em P ÐZ ß IÑ.
5

Dem: Tendo em conta o lema de extensão do domínio III.6.20, podemos


considerar Ò0s Ó − P" Б8 ß IÑ com Ò0s ÓÎZ œ Ò0 ÓÎZ tal que, para cada " Ÿ 3 Ÿ 8
nas condições referidas em b), exista a derivada fraca H3 Ò0 s Ó − P" Б8 ß IÑ.
Tendo em conta III.6.22, temos aplicações F5 ‡0 s À ‘ Ä I , de classe G _ ,
8

para as quais as classes ÒF5 ‡0 s Ó − P Б ß IÑ convergem para Ò0


" 8 s Ó neste
espaço. Definindo então as aplicações 05 À Y Ä I de classe G _ como sendo
as restrições das aplicações F5 ‡0 s À ‘8 Ä I , vem que Ò05 ÎZ Ó converge para
s ÓÎZ œ Ò0 ÓÎZ em P ÐZ ß IÑ. Além disso, para cada " Ÿ 3 Ÿ 8 nas condições
Ò0 "

de b), resulta de III.6.23 que, para cada B − Z ,


§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 355

`05 s
` F5 ‡0
ÐBÑ œ s ÓÐBÑ,
ÐBÑ œ F5 ‡H3 Ò0
`B3 `B3

onde, mais uma vez por III.6.22, ÒF5 ‡H3 Ò0 s ÓÓ Ä H3 Ò0s Ó em P" Б8 ß IÑ e
`05 s ÓÎZ œ H3 Ò0 ÓÎZ em P" ÐZ ß IÑ.
portanto, por restrição Ò `B3 ÎZ Ó Ä H3 Ò0 

Vamos agora aplicar o corolário precedente, para estabelecer um resultado


sobre a derivada fraca de um produto.

III.6.25 (Regra de derivação dum produto) Sejam J ß Kß L três espaços de


Banach e 0À J ‚ K Ä L uma aplicação bilinear contínua, que encaramos
como uma “multiplicação”, notando, para cada A − J e D − K,
A ‚ D œ 0ÐAß DÑ − L .
Sejam Y § ‘8 um aberto, " Ÿ 3 Ÿ 8, 0 À Y Ä J uma aplicação contínua,
admitindo derivada parcial em relação à variável 3 em cada ponto e com
`0 "
`B3 À Y Ä J contínua, e Ò1Ó − P69- ÐY ß KÑ, admitindo uma derivada fraca
H3 Ò1Ó − P"69- ÐY ß KÑ relativamente à variável 3. Tem-se então que
Ò0 ] ‚ [1Ó − P"69- ÐY ß LÑ admite derivada fraca relativamente à variável 3 dada
por
`0
H3 ÐÒ0 Ó ‚ Ò1ÓÑ œ Ò Ó ‚ Ò1Ó  Ò0 Ó ‚ H3 Ò1Ó − P"69- ÐY ß LÑ.
`B3
Dem: Comecemos por reparar que o facto de se ter Ò0 ] ‚ [1Ó − P"69- ÐY ß LÑ e
`0
Ò Ó ‚ Ò1Ó  Ò0 Ó ‚ H3 Ò1Ó − P"69- ÐY ß LÑ
`B3
é uma consequência da alínea a) de III.4.22.
Tendo em conta o resultado de localização em III.6.15, para provarmos o
resultado bastará provar que, para cada B! − Y , existe um aberto Z § Y ,
com B! − Z tal que a restrição a Z de Ò0 Ó ‚ Ò1Ó admita como derivada fraca
`0
relativamente à variável 3 a restrição a Z de Ò `B 3
Ó ‚ Ò1Ó  Ò0 Ó ‚ H3 Ò1Ó.
Seja então B! − Y arbitrário, e consideremos <  ! tal que o compacto
O œ F < ÐB! Ñ esteja contido em Y . Seja Z o aberto F< ÐB! Ñ, que verifica
B! − Z § O .
Tendo em conta III.6.24, podemos considerar uma sucessão de funções
15 À Y Ä I de classe G _ com
`15
Ò15 ÎZ Ó Ä Ò1ÓÎZ e Ò Ó Ä H3 Ò1ÓÎZ
`B3 ÎZ

em P" ÐZ ß IÑ. Lembrando a alínea e) de II.3.6, sabemos que a aplicação


contínua 0 ‚ 15 À Y Ä L admite em cada B − Y uma derivada parcial
356 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

`Ð0 ‚ 15 Ñ `0 `15
ÐBÑ œ ÐBÑ ‚ 15 ÐBÑ  0 ÐBÑ ‚ ÐBÑ
`B3 `B3 `B3
`Ð0 ‚15 Ñ
pelo que concluímos, em particular, que `B3 À Y Ä L é contínua e
portanto, por III.6.12, Ò `Ð0`B‚13 5 Ñ Ó œ H3 Ò0 ‚ 15 Ó. Tendo em conta III.4.22 e
III.4.20, vemos que, em P"69- ÐZ ß LÑ,
Ò0 ‚ 15 ÓÎZ œ Ò0 ÓÎZ ‚ Ò15 ÓÎZ Ä Ò0 ÓÎZ ‚ Ò1ÓÎZ ,
`Ð0 ‚ 15 Ñ `0
Ò ÓÎZ Ä Ò ÓÎZ ‚ Ò1ÓÎZ  Ò0 ÓÎZ ‚ H3 Ò1ÓÎZ ,
`B3 `B3
e daqui deduzimos finalmente, tendo em conta III.6.18, que
`0
H3 ÐÒ0 ÓÎZ ‚ Ò1ÓÎZ Ñ œ Ò ÓÎZ ‚ Ò1ÓÎZ  Ò0 ÓÎZ ‚ H3 Ò1ÓÎZ ,
`B3
como queríamos. 

Vamos agora examinar um segundo resultado previsto, mas não evidente,


nomeadamente sobre o que se poderá esperar de uma classe Ò0 Ó, com
0 À Y Ä I , com derivadas fracas iguais a ! em relação a todas as variá-
veis. É claro que, se o domínio não for um aberto conexo, não devemos
esperar que 0 tenha que ser constante, uma vez que isso já não acontece
no contexto das derivadas usuais. Mas também não podemos esperar que
0 tenha que ser constante, no caso em que Y é conexo, uma vez que
podemos alterar os valores de 0 num conjunto de medida nula sem alterar
a classe de equivalência Ò0 Ó. O que poderemos esperar é que, no caso em
que o donínio é um aberto conexo, a função 0 seja quase sempre igual a
uma certa constante. Veremos adiante que isso efetivamente acontece mas
convirá começar por examinar a noção de classe localmente constante,
noção que é mais manejável por não necessitar que o domínio seja
conexo.

III.6.26 Sejam Y § ‘8 um aberto, I um espaço de Banach e


Ò0 Ó − Q /8=ÐY ß IÑ.
1) Dizemos que a classe Ò0 Ó é constante, com valor A! − I , se se tem
0 ÐBÑ œ A! quase sempre. Observe-se que, se Y Á g, o facto de se ter
-8 ÐY Ñ  ! implica que uma classe constante não pode ter mais que um
valor.
Repare-se que, uma vez que as aplicações constantes são contínuas, podemos
concluir que, se Ò0 Ó − Q /8=ÐY ß IÑ é uma classe constante, então tem-se
Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ.
2) Dado B! − Y , diz-se que a classe Ò0 Ó é localmente constante em B! , com
valor A! − I , se existe um aberto Z com B! − Z § Y tal que a classe
Ò0 ÓÎZ œ Ò0ÎZ Ó seja constante, com valor A! . Como em 1), uma classe Ò0 Ó
localmente constante em B! não pode ter mais que um valor (se Ò0ÎZ Ó é
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 357

constante com valor A! e Ò0ÎZ w Ó é constante com valor A" , então Ò0ÎZ Z w Ó é
constante com ambos os valores A! e A" ).
3) Diz-se que a classe Ò0 Ó é localmente constante se é localmente constante
em cada ponto de Y (com um valor que poderá variar de ponto para ponto).
Note-se que, lembrando a alínea b) de III.4.16 e o referido em 1), se
Ò0 Ó − Q /8=ÐY ß IÑ é uma classe localmente constante, então tem-se
Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ.
III.6.27 (Classes localmente constantes e classes constantes) Sejam Y § ‘8
um aberto, I um espaço de Banach e Ò0 Ó − Q /8=ÐY ß IÑ. Tem-se então:
a) Se Ò0 Ó é uma classe constante, com valor A! , então Ò0 Ó é uma classe
localmente constante, com o mesmo valor A! em todos os pontos.
b) Se Ò0 Ó é uma classe localmente constante, com o mesmo valor A! em
todos os pontos, então Ò0 Ó é uma classe constante, com valor A! .
Dem: A afirmação de a) é trivial. Suponhamos então que Ò0 Ó é localmente
constante, com o mesmo valor A! em todos os pontos. Consideremos uma
família contável ÐZ4 Ñ4−N cujo conjunto dos termos seja uma base de abertos
de ‘8 e notemos N w o conjunto dos índices 4 tais que Z4 § Y e Ò0ÎZ4 Ó seja
constante de valor A! . Para cada 4 − N w , podemos considerar um boreliano

que E œ - E4 é um boreliano contido em Y ß com -8 ÐEÑ œ ! e vamos


E4 § Z4 , com -8 ÐE4 Ñ œ ! e 0 ÐBÑ œ A! para cada B − Z4 Ï E4 . Tem-se então

4−N w
verificar que 0 ÐBÑ œ A! , para cada B − Y Ï E, o que mostrará que Ò0 Ó é
efetivamente uma classe constante com valor A! . Ora, se B − Y Ï E,
podemos considerar um aberto Z com B − Z § Y tal que Ò0ÎZ Ó seja
constante de valor A! e escolher 4 − N tal que B − Z4 § Z , tendo-se então
também Ò0ÎZ4 Ó constante de valor A! , isto é, 4 − N w , e por ser B Â E4 , tem-se
efetivamente 0 ÐBÑ œ A! . 
III.6.28 (Classes localmente constantes de domínio conexo) Sejam Y § ‘8
um aberto conexo, I um espaço de Banach e Ò0 Ó − Q /8=ÐY ß IÑ uma classe
localmente constante. Tem-se então que Ò0 Ó é mesmo uma classe constante.
Dem: Vamos afastar já o caso trivial em que Y œ g. Seja B! − Y fixado e
seja A! − I tal que Ò0 Ó seja localmente constante em B! , com valor A! . Seja
Y w o conjunto dos B − Y tais que Ò0 Ó seja localmente constante em B com
valor A! . Se B" − Y w , podemos considerar um aberto Z com B" − Z § Y tal
que Ò0ÎZ Ó seja constante com valor A! e então vem Z § Y w . Provámos assim
que Y w é aberto. Analogamente, se B" − Y Ï Y w , podemos considerar um
aberto Z com B" − Z § Y tal que Ò0ÎZ Ó seja constante com valor A" Á A! e
então vem Z § Y Ï Y w . Provámos assim que Y Ï Y w também é aberto. Uma
vez que Y é conexo e que B! − Y w , concluímos que Y Ï Y w œ g, isto é, que
Y w œ Y . Provámos assim que Ò0 Ó é localmente constante com o mesmo valor
A! em todos os pontos donde deduzimos, por III.6.27, que Ò0 Ó é uma classe
constante com valor A! . 
358 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

III.6.29 (Lema — limites de classes localmente constantes) Sejam Y § ‘8 um


aberto, I um espaço de Banach e, para cada 5 − , Ò05 Ó − P"69- ÐY ß IÑ uma
classe localmente constante. Supondo que Ò05 Ó Ä Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ em
P"69- ÐY ß IÑ, tem-se então que Ò0 Ó é uma classe localmente constanteÞ Além
disso, para cada B! − Y , tem-se A5 Ä A, onde A5 e A são os valores dos
Ò05 Ó e de Ò0 Ó como aplicações localmente constantes em B! .
Dem: Seja B! − Y arbitrário. Sejam A5 os valores das classes Ò05 Ó como
classes localmente constantes em B! . Seja <  ! tal que a bola fechada
O œ F < ÐB! Ñ, que é um compacto, esteja contida em Y . Uma vez que o
aberto Z œ F< ÐB! Ñ é conexo, resulta de III.6.28 que se tem 05 ÎZ ÐBÑ œ A5
quase sempre. Por hipótese, Ò05 ÎO Ó Ä Ò0ÎO Ó em P" ÐOß IÑ, e portanto
também Ò05 ÎZ Ó Ä Ò0ÎZ Ó em P" ÐZ ß IÑ (cf. III.2.7), e, sendo
+ œ -8 ÐZ Ñ − Ó!ß _Ò,
deduzimos de III.2.10 que

+A5 œ ( 05 ÐBÑ . -8 ÐBÑ Ä ( 0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ,


Z Z

portanto A5 Ä A em I , com

( 0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ − I .
"

+ Z
Mas, de se ter

( mA  05 ÐBÑm . -8 ÐBÑ œ ( mA  A5 m . -8 ÐBÑ œ +mA  A5 m Ä !,


Z Z

concluímos que Ò05 ÎZ Ó converge em P" ÐZ ß IÑ para a classe da aplicação


constante de valor A pelo que a unicidade do limite num espaço vetorial
normado implica que 0ÎZ ÐBÑ œ A quase sempre, em particular que Ò0 Ó é
localmente constante com valor A em B! . Tendo em conta a arbitrariedade de
B! , provámos, em particular, que Ò0 Ó é localmente constante. 
III.6.30 (Lema — derivadas nulas quando o domínio é ‘8 ) Sejam I um
espaço de Banach e Ò0 Ó − P"69- Б8 ß IÑ admitindo, para cada " Ÿ 3 Ÿ 8, uma
derivada fraca H3 Ò0 Ó − P"69- Б8 ß IÑ. Seja Y § ‘8 um aberto tal que, para
cada " Ÿ 3 Ÿ 8, H3 Ò0ÎY Ó œ !. Tem-se então que Ò0ÎY Ó é localmente
constante.
Dem: Seja, para cada " Ÿ 3 Ÿ 8, H3 Ò0 Ó œ Ò13 Ó, onde se tem, por III.6.13,
Ò13 ÎY Ó œ !. Seja B! − Y arbitrário. Seja <  ! tal que F #< ÐB! Ñ § Y e seja 5!
tal que 5"!  <. Para cada B − F< ÐB! Ñ e 5   5! , resulta de III.6.23 que a
aplicação F5 ‡0 , de classe G _ , verifica
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 359

ÐBÑ œ F5 ‡13 ÐBÑ œ ( F5 ÐB  CÑ13 ÐCÑ . -8 ÐCÑ


`ÐF5 ‡0 Ñ
`B3 ‘8

e portanto, uma vez que, para cada C tal que F5 ÐB  CÑ Á !, tem-se


mB  Cm  5"  <, donde C − F#< ÐB! Ñ § Y , vem

ÐBÑ œ ( F5 ÐB  CÑ13 ÐCÑ . -8 ÐCÑ œ !.


`ÐF5 ‡0 Ñ
`B3 Y

O facto de o aberto F< ÐB! Ñ ser conexo implica assim que a restrição a F< ÐB! Ñ
da aplicação F5 ‡0 tem um valor constante A5 . Mas, por III.6.22, a sucessão
das classes ÒF5 ‡0 Ó converge em P"69- Б8 ß IÑ para Ò0 Ó, e portanto a sucessão
das classes ÒF5 ‡0ÎF< ÐB! Ñ Ó converge em P"69- ÐF< ÐB! Ñß IÑ para Ò0ÎF< ÐB! Ñ Ó. Tendo
em conta o lema III.6.29 e III.6.28, concluímos que Ò0ÎF< ÐB! Ñ Ó é uma classe
localmente constante, e portanto constante. Acabámos asim de provar que a
classe Ò0ÎY Ó é localmente constante. 
III.6.31 (Teorema das derivadas nulas) Sejam I um espaço de Banach,
Y § ‘8 um aberto e Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ admitindo, para cada " Ÿ 3 Ÿ 8, uma
derivada fraca H3 Ò0 Ó œ ! − P"69- ÐY ß IÑ. Tem-se então que Ò0 Ó é uma classe
localmente constante.
Dem: Seja B! − Y arbitrário. Seja <  ! tal que o compacto F < ÐB! Ñ esteja
contido em Y . Tendo em conta o lema de extensão III.6.20, podemos
considerar uma classe Ò0 s Ó − P" Б8 ß IÑ admitindo, para cada " Ÿ 3 Ÿ 8,
69-
uma derivada fraca H3 Ò0 s Ó − P" Б8 ß IÑ e tal que Ò0ÎF ÐB Ñ Ó œ Ò0s ÎF ÐB Ñ Ó. Em
69- < ! < !

particular tem-se, para cada " Ÿ 3 Ÿ 8, H3 Ò0 s ÎF ÐB Ñ Ó œ H3 Ò0ÎF ÐB Ñ Ó œ !, pelo


< ! < !

que, pelo lema III.6.30, Ò0ÎF< ÐB! Ñ Ó œ Ò0 s ÎF ÐB Ñ Ó é uma classe localmente


< !

constante. O facto de F< ÐB! Ñ ser um aberto conexo implica então, por
III.6.28, que Ò0ÎF< ÐB! Ñ Ó é mesmo uma classe constante, o que, tendo em conta
a arbitrariedade de B! , implica que Ò0 Ó é uma classe localmente constante. 

Já sem relação com as derivadas fracas, aproveitamos ainda as


propriedades do produto de convolução com as funções suavizadoras
F5 À ‘8 Ä Ò!ß _Ò para examinar, no contexto dos abertos Y § ‘8 , um
melhoramento do teorema de densidade em III.4.14.

III.6.32 (Lema) Sejam Y § ‘8 um aberto, I um espaço de Banach e


" Ÿ :  _. Se 1 − V- ÐY ß IÑ, então existe um compacto O w § Y , com
1ÐBÑ œ ! para cada B − Y Ï O w , verificando a seguinte propriedade: Para
cada $  !, existe 2 − V-_ ÐY ß IÑ tal que 2ÐBÑ œ ! para cada B − Y Ï O w e
mÒ1Ó  Ò2Óm:  $.

Dem: Seja O § Y um compacto tal que 1ÐBÑ œ !, para cada B − Y Ï O .


360 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Podemos então considerar &  ! tal que o compacto O w œ O  F & Ð!Ñ ¨ O


esteja ainda contido em Y (a existência de um tal & é trivial se O œ g ou
Y œ ‘8 e, caso contrário, basta tomar & menor que o mínimo estritamente
positivo para B − O da distância de B ao conjunto fechado ‘8 Ï Y , que é
função contínua de B). É claro que se tem ainda 1ÐBÑ œ ! para cada
B − Y Ï O w . Seja s1À ‘8 Ä I o prolongamento de 1 que toma o valor ! fora
de Y , aplicação ainda com suporte compacto e cuja continuidade decorre da
continuidade das suas restrições aos abertos Y e ‘8 Ï O de união ‘8 , esta
última por ser identicamente !. Seja $  !. Aplicando III.6.21 e III.5.22,
concluímos a existência de 5! −  tal que, para cada 5   5! , a aplicação de
classe G _ e de suporte compacto F5 ‡1À
s ‘8 Ä I verifica
mÒF5 ‡1Ó
s Ä Ò1Ó
s m:  $

e F5 ‡1ÐBÑ
s œ ! para cada B  O  F "Î5 Ð!Ñ. Fixando 5   5! tal que 5" Ÿ &,
tem-se assim, em particular F5 ‡1ÐBÑs œ ! para cada B  O w e podemos
s a Y , que pertence a V-_ ÐY ß IÑ e verifica
considerar a restrição 2 de F5 ‡1
mÒ1Ó  Ò2Óm: œ mÒ1Ó
s  F5 ‡1Ó
s m:  $. 

III.6.33 (Densidade de G-_ ÐY ß IÑ em P: ÐY ß IÑ) Sejam Y § ‘8 um aberto,


I um espaço de Banach e " Ÿ :  _. Tem-se então que G-_ ÐY ß IÑ é um
subespaço vetorial denso de P: ÐY ß IÑ.
Dem: Seja Ò0 Ó − P: ÐY ß IÑ e $  !. Tendo em conta III.4.14, podemos
considerar uma aplicação contínua de suporte compacto 1À Y Ä I tal que
mÒ0 Ó  Ò1Óm:  $# . Tendo em conta o lema III.6.32, existe Ò2Ó − G-_ ÐY ß IÑ tal
que mÒ1Ó  Ò2Óm:  $# e obtemos então
$ $
mÒ0 Ó  Ò2Óm: Ÿ mÒ0 Ó  Ò1Óm:  mÒ1Ó  Ò2Óm:   œ $,
# #
o que prova a densidade pretendida. 

Exercícios

Ex III.6.1 Sejam 0 ß 1À ‘ Ä ‘ as funções definidas por

0 ÐBÑ œ œ 1ÐBÑ œ œ
B, se B   ! ", se B   !
, .
!, se B  ! !, se B  !

a) Verificar que 0 e 1 são localmente integráveis e utilizar III.6.17 para


mostrar que, apesar de 0 não admitir derivada no ponto !, Ò0 Ó admite Ò1Ó
como derivada fraca.
b) Verificar que, apesar de se ter 1w ÐBÑ œ ! para todo o B Á !, a classe Ò!Ó
não é uma derivada fraca de Ò1Ó.
§6. Aplicações do produto de convolução e derivadas fracas 361

Ex III.6.2 Sejam Y § ‘ um aberto, I um espaço de Banach e 1À Y Ä I uma


aplicação localmente integrável tal que Ò1Ó admita uma derivada fraca
Ò0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ. Mostrar que Ò1Ó é uma classe contínua, isto é (cf. III.2.4)
que existe s1À Y Ä I contínua com Ò1Ó s œ Ò1Ó.
Sugestão: Lembrando que todo o aberto de ‘ é a união de uma família
contável de intervalos abertos disjuntos dois a dois (as suas componentes
conexas), reduzir a conclusão ao caso em que Y é um intervalo aberto N .
nesse caso, ter em conta III.6.17, reparando que, por III.6.31 e III.6.28 duas
classes com a mesma derivada fraca diferem de uma classe constante.
Ex III.6.3 Sejam 8   # e !  8  " um número real. Seja 0! À ‘8 Ä ‘ a função
definida por

0! ÐBÑ œ  mBm
"
! , se B Á !
,
!, se B œ !

onde a norma considerada é a euclidiana (cf. o exercício II.5.6). Verificar que


0! é localmente integrável e que Ò0! Ó admite derivada fraca relativamente a
cada uma das variáveis e reparar que, no caso em que !  !, Ò0! Ó não é uma
classe contínua (cf. III.2.4). Sugestão: Utilizar a alínea b) de III.6.12.
Ex III.6.4 (Exemplo de um espaço de Sobolev) Sejam 8   ", Y § ‘8 um

está definida a partir de um produto interno por mAm œ ÈØAß AÙ (por


aberto e I um espaço de Hilbert, isto é, um espaço de Banach cuja norma

exemplo ‘ ou ‚). Recordemos que, como referido em III.2.31, o espaço de


Banach P# ÐY ß IÑ é então um espaço de Hilbert, com o produto interno
definido por

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙP# œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . -8 ÐBÑ.


Y
" "ß#
É usual notar L ÐY ß IÑ (ou [ ÐY ß IÑ) o subconjunto de Q /8=ÐY ß IÑ
constituído pelas classes Ò0 Ó que pertencem a P# ÐY ß IÑ (em particular são
localmente integráveis) e têm derivadas fracas em relação a cada uma das
variáveis, com H3 Ò0 Ó − P# ÐY ß IÑ.
Os espaços L " ÐY ß IÑ fazem parte de uma família mais larga de espaços
muito importantes em Análise Funcional, conhecidos como espaços de
Sobolev e que podem envolver derivadas fracas de ordem superior a " e
espaços P: em vez dos espaços P" .
a) Verificar que L " ÐY ß IÑ é um subespaço vetorial de Q /8=ÐY ß IÑ e que se
pode definir um produto interno neste espaço vetorial por

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙL " œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙP#  " ØH3 Ò0 Óß H3 Ò1ÓÙP# .


8

3œ"

b) Verificar que L " ÐY ß IÑ é um espaço de Hilbert, isto é, que é completo


para a norma associada ao produto interno referido em a). Sugestão: Ter em
362 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

conta III.6.18, assim como o facto de a convergência em P# ÐY ß IÑ implicar a


convergência em P"69- ÐY ß IÑ (cf. III.4.21).
Ex III.6.5 (Mudança de variáveis e derivadas fracas) Sejam Z § ‘8 e
Y § ‘8 dois abertos e 0 À Z Ä Y um difeomorfismo de classe G " (cf.
II.5.23). Seja I um espaço de Banach. Na resolução das questões seguintes
convirá ter presente os teoremas de mudança de variáveis II.5.26 e II.5.27,
aplicados ao difeomorfismo inverso 0 " À Y Ä Z .
a) Mostrar que, se 1À Y Ä I é uma aplicação localmente integrável, então a
composta 1 ‰ 0 À Z Ä I é também localmente integrável e que, se Ò1Ó œ Ò1Ó s
em P"69- ÐY ß IÑ, então Ò1 ‰ 0 Ó œ Ò1 "
s ‰ 0 Ó em P69- ÐZ ß IÑ, o que mostra que fica
bem definida uma aplicação, trivialmente linear,
P"69- ÐY ß IÑ Ä P69-
"
ÐZ ß IÑ, Ò1Ó È Ò1Ó ‰ 0 œ Ò1 ‰ 0 Ó.

b) Mostrar que, se Ò18 Ó Ä Ò1Ó em P"69- ÐY ß IÑ, então Ò18 Ó ‰ 0 Ä Ò1Ó ‰ 0 em


P"69- ÐZ ß IÑ (cf. III.4.19). Sugestão: Lembrar III.4.22.
c) Suponhamos que Ò1Ó − P"69- ÐY ß IÑ admite derivadas fracas relativamente a
todas as variáveis.Mostrar que Ò1Ó ‰ 0 admite derivadas fracas relativamente a
todas as variáveis e que, sendo
0 ÐBÑ œ Ð0" ÐBÑß á ß 08 ÐBÑÑ,
tem-se

H3 ÐÒ1Ó ‰ 0 Ñ œ " Ò
8
`04
Ó ‚ ÐH4 Ò1Ó ‰ 0 Ñ.
4œ"
`B3

Sugestão: No caso em que 1À Y Ä I é uma aplicação de classe G " , reparar


que temos uma consequência imediata do teorema de derivação da função
composta. Em geral, reparar que o segundo membro está em P"69- ÐZ ß IÑ e
que, tendo em conta o resultado de localização em III.6.15, bastará provar
que, para cada aberto Z s contido num subconjunto compacto de Z a restrição
de Ò1Ó ‰ 0 a Zs admite a restrição a Z s do segundo membro como derivada
fraca relativamente à variável 3. Para isso, considerar Ys œ 0 ÐZ
s Ñ e aplicar o
" s
corolário III.6.24 para aproximar em P ÐY ß IÑ a restrição de Ò1Ó por uma
sucessão de restrições de classes de aplicações 18 À Y Ä I de classe G _ de
forma compatível com cada uma das suas derivadas fracas, aplicando no fim
o resultado III.6.18, sobre a derivada fraca de um limite.
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 363

§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade.

III.7.1 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e I um espaço de Banach.


Dizemos que uma aplicação =À ` Ä I é uma medida vetorial ou, se
quisermos ser mais precisos, uma I-medida se se verificam as seguintes
propriedades (comparar com I.2.10):
1) =ÐgÑ œ !; 162
2) (Aditividade) Qualquer que seja a família contável ÐE4 Ñ4−N de conjuntos
disjuntos dois a dois, pertencentes a `,
=Ð. E4 Ñ œ " =ÐE4 Ñ,
4−N 4−N

com a família dos vetores =ÐE4 Ñ absolutamente somável (cf. II.2.47 e


II.2.48)163.
Nos casos particulares em que I œ ‘ e I œ ‚, em ambos os casos com o
valor absoluto como norma, usamos alternativamente os nomes de medida
real e medida complexa, respetivamente.
Num contexto em que se trabalhe com medidas vetoriais, é costume utilizar a
designação “medida positiva” para as medidas definidas em I.2.10. Note-se
que as medidas positivas não são necessariamente medidas reais uma vez
que, ao contrário destas últimas, podem tomar o valor _.
III.7.2 Se =À ` Ä I é uma medida vetorial, então, sempre que F § E são
conjuntos mensuráveis, tem-se
=ÐE Ï FÑ œ =ÐEÑ  =ÐFÑ.

Dem: Basta tender a que se tem E œ F  ÐE Ï FÑ, com F  ÐE Ï FÑ œ g,


donde, pela propriedade de aditividade, =ÐEÑ œ =ÐFÑ  =ÐE Ï FÑ. 
III.7.3 Se =À ` Ä I é uma medida vetorial, então:
a) Sendo ÐE8 Ñ8− uma sucessão crescente de subconjuntos pertencentes a `
(isto é, supondo que E8 § E8" , para cada 8 − ), tem-se

162De facto esta hipótese é desnecessária, por resultar da aditividade em 2), se repararmos
que se tem g œ g  g.
163A condição de termos a soma de uma família absolutamente somável é mais forte do
que a condição usual de termos apenas uma família somável e veremos adiante que ela
implica que as medidas vetoriais que utilizamos são apenas aquelas que têm variação total
finita. De qualquer modo, são apenas estas últimas as que nos interessarão e, ao exigir
esta condição mais forte, limitamos o conhecimento que seria necessário possuir sobre
famílias somáves mais gerais.
364 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

=Ð. E8 Ñ œ lim =ÐE8 Ñ.


8−

b) Sendo ÐE8 Ñ8− uma sucessão decrescente de subconjuntos pertencentes a


` (isto é, supondo que E8 ¨ E8" , para cada 8 − ), tem-se
=Ð, E8 Ñ œ lim =ÐE8 Ñ.
8−

Dem: Temos uma demonstração análoga à do resultado correspondente para


medidas positivas (cf. 5) e 7) de I.2.12): Nas hipóteses de a), consideramos

F" œ E" e F:" œ E:" Ï E: e reparamos que - F: œ - E: e que


os conjuntos F: − `, onde : − , disjuntos dois a dois, definidos por

- F: œ E8 . Tem-se assim, lembrando a alínea e) de II.2.47,


:− :−

:Ÿ8

=Ð. E: Ñ œ " =ÐF: Ñ œ lim " =ÐF: Ñ œ lim =ÐE8 Ñ.


8

:− :− :œ"

crescente de união \ Ï Ð+E8 Ñ, pelo que, aplicando a),


Nas hipóteses de b), reparamos que os \ Ï E8 constituem uma sucessão

=Ð, E8 Ñ œ =Ð\Ñ  =Ð\ Ï Ð,E8 ÑÑ œ =Ð\Ñ  lim =Ð\ Ï E8 Ñ œ


8−
œ lim Ð=Ð\Ñ  =Ð\ Ï E8 ÑÑ œ lim =ÐE8 Ñ. 164 

III.7.4 (A medida de variação total) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, I


um espaço de Banach e =À ` Ä I uma medida vetorial. Pode-se então
definir uma medida positiva associada l=lÀ ` Ä ‘ , também chamada

ser o supremo das somas ! m=ÐF3 Ñm com ÐF3 Ñ3−M família finita de conjuntos
medida de variação total de =, pela condição de, para cada E − `, l=lÐEÑ

3−M
de ` disjuntos dois a dois e com F3 § E. Além disso:
a) Para cada Eß F − `, com F § E, tem-se m=ÐFÑm Ÿ l=lÐEÑ, em particu-
lar m=ÐEÑm Ÿ l=lÐEÑ;
b) Se E − `, tem-se l=lÐEÑ œ ! se, e só se, =ÐFÑ œ !, para todo o F − `
com F § E.
c) Se + − \ é tal que Ö+× − `, então l=lÐÖ+×Ñ œ m=ÐÖ+×Ñm
Dem: Comecemos por reparar que, para cada E − ` existem sempre
famílias finitas ÐF3 Ñ3−M de conjuntos de ` disjuntos dois a dois contidos em
E, como as famílias com um único conjunto igual a F , onde F − ` e
F § E (por exemplo F œ EÑ, o que mostra que faz sentido considerar o

164Reparar que, ao contrário do que sucedia no resultado referido, não há aqui lugar a
exigir que uma certa medida seja finita, uma vez que as medidas vetoriais são sempre
finitas.
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 365

supremo referido e que se tem m=ÐFÑm Ÿ l=lÐEÑ, para cada F nas condições
referidas. Se for =ÐFÑ œ !, para todo o F § E, todas as somas cujo supremo
define l=lÐEÑ são iguais a !, o que mostra que l=lÐEÑ œ !. Reciprocamente,
se l=lÐEÑ œ !, então, para cada F − ` com F § E, tem-se
m=ÐFÑm Ÿ l=lÐEÑ œ !,
portanto =ÐFÑ œ !. Em particular, já podemos concluir que l=lÐgÑ œ !. No
caso em que Ö+× − `, tem-se mesmo l=lÐÖ+×Ñ œ m=ÐÖ+×Ñm, uma vez que já
sabemos que m=ÐÖ+×Ñm Ÿ l=lÐÖ+×Ñ e a desigualdade oposta resulta de que,
para cada família finita ÐF3 Ñ3−M de conjuntos de ` disjuntos dois a dois e

os restantes são vazios, em qualquer caso !m=ÐF3 Ñm Ÿ m=ÐÖ+×Ñm. Observe-


contidos em Ö+×, ou estes conjuntos são todos vazios ou há um igual a Ö+× e

mos também que, dados Eß Ew − ` com E § Ew , tem-se l=lÐEÑ Ÿ l=lÐEw Ñ,


uma vez que, para cada família finita ÐF3 Ñ3−M de conjuntos de ` disjuntos
dois a dois e contidos em E, estes conjuntos estão também contidos em Ew .

a dois e E œ - E4 e provemos que l=lÐEÑ œ ! l=lÐE4 Ñ, o que terminará a


Sejam agora ÐE4 Ñ4−N uma família contável de conjuntos de ` disjuntos dois

4−N 4−N
demonstração. Dividimos essa prova em duas partes, em cada uma das quais
justificamos uma desigualdade.
1) Mostremos que se tem
" l=lÐE4 Ñl Ÿ l=lÐEÑ.
4−N

cada parte finita M § N , ! l=lÐE4 Ñ Ÿ l=lÐEÑ e podemos já supor que l=lÐEÑ


Subdem: Para provarmos esta desigualdade basta mostrarmos que, para

4−M
é finito, o que implica que se tem também l=lÐE4 Ñ  _ para cada 4 − M .
Fixemos então um tal conjunto finito M § N , que podemos já supor não
vazio, seja 8 o número de elementos de M e seja $  ! arbitrário. Para cada
4 − M , podemos considerar uma família finita ÐF4ß5 Ñ5−O4 de conjuntos de `
disjuntos dois a dois e contidos em E4 tal que

" m=ÐF4ß5 Ñm  l=lÐE4 Ñ 


$
.
5−O4
8

A família finita de todos estes conjuntos F4ß5 , com 4 − M e 5 − O4 , é então


constituída por conjuntos disjuntos dois a dois e contidos em E e vemos que

Š" l=lÐE4 Ñ‹  $ œ " Ðl=lÐE4 Ñ  Ñ  " Š" m=ÐF4ß5 Ñm‹ Ÿ


$
4−M 4−M
8 4−M 5−O 4

Ÿ l=lÐEÑ.
Tendo em conta a arbitrariedade de $ , concluímos que
366 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

" l=lÐE4 Ñ Ÿ l=lÐEÑ,


4−M

como queríamos.
2) Provemos agora a desigualdade oposta
l=lÐEÑ Ÿ " l=lÐE4 Ñl.
4−N

Subdem: Tendo em conta a definição de l=lÐEÑ como um supremo,


basta mostrarmos que, para cada família finita ÐF3 Ñ3−M de conjuntos de `
disjuntos dois a dois e contidos em E,
" m=ÐF3 Ñm Ÿ " l=lÐE4 Ñ.
3−M 4−N

Ora, dada uma tal família, vemos que, para cada 3 − M , F3 œ - ÐF3  E4 Ñ,
4−N
com estes conjuntos disjuntos dois a dois, e que, para cada 4 − N , os
conjuntos F3  E4 , com 3 − M , são disjuntos dois a dois e contidos em E4
pelo que podemos escrever

" m=ÐF3 Ñm œ " ½" =ÐF3  E4 ѽ Ÿ " Š" m=ÐF3  E4 Ñm‹ œ


3−M 3−M 4−N 3−M 4−N

œ " Š" m=ÐF3  E4 Ñm‹ Ÿ " l=lÐE4 Ñ,


4−N 3−M 4−N

como queríamos. 
III.7.5 (A medida de variação total é finita) Sejam I um espaço de Banach,
Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e =À ` Ä I uma I -medida. Tem-se então
que a medida de variação total l=lÀ ` Ä ‘ verifica l=lÐ\Ñ  _.
Dem: Vamos dividir a demonstração é várias partes, cada uma eventual-
mente com a sua própria demonstração.
1) Comecemos por reparar que, tendo em conta a condição 2) na definição

disjuntos dois, tem-se ! m=ÐE4 Ñm  _.


em III.7.1, qualquer que seja a família contável ÐE4 Ñ4−N de conjuntos de `

4−N
2) Apenas para efeito desta demonstração, vamos dizer que um conjunto
E − ` é =-limitado se existir O   ! tal que, para cada F − ` com
F § E, m=ÐFÑm Ÿ O .165
3) Se Eß Ew − ` são dois conjuntos =-limitados, então E  Ew é também
=-limitado.
Subdem: Sejam Oß O w   ! tais que m=ÐFÑm Ÿ O , para cada F § E, e

165É claro que, depois de demonstrado este resultado, podemos concluir que todo o
conjunto é =-limitado, bastando tomar l=lÐ\Ñ como constante O .
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 367

m=ÐFÑm Ÿ O w , para cada F § Ew , para cada F § E  Ew tem-se então


F œ ÐF  EÑ  ÐF Ï EÑ, com ÐF  EÑ  ÐF Ï EÑ œ g, pelo que
m=ÐFÑm œ m=ÐF  EÑ  =ÐF Ï EÑm Ÿ m=ÐF  EÑm  m=ÐF Ï EÑm Ÿ O  O w .

4) Se E − ` não é =-limitado, então existe F − ` tal que F § E,


m=ÐFÑm   " e E Ï F não é =-limitado.
Subdem: Seja Ew § E, com Ew − ` e m=ÐEw Ñm   m=ÐEÑm  ".
Considerando então Eww œ E Ï Ew , tem-se
m=ÐEww Ñm œ m=ÐEÑ  =ÐEw Ñm œ m=ÐEw Ñ  =ÐEÑm   m=ÐEw Ñ  =ÐEÑm   ".
Uma vez que E œ Ew  Eww , deduzimos de 3) que pelo menos um dos dois
conjuntos Ew e Eww não é =-limitado, bastando agora tomar F œ Ew , se Eww
não é =-limitado, e F œ Eww se Eww é =-limitado.
5) (Fim da primeira parte) O espaço todo \ é =-limitado.
Subdem: Suponhamos, por absurdo, que \ não era =-limitado. Vamos
construir recursivamente uma sucessão Ð\8 Ñ8− de conjuntos de `

\ Ï Ð\"  â  \8 Ñ não é =-limitado. Ter-se-á então ! m=Ð\8 Ñm œ _, o


disjuntos dois a dois tais que, para cada 8 − , m=Ð\8 Ñm   " e

8−
que é absurdo, tendo em conta 1). Para fazer a construção recursiva referida,
começamos por utilizar 4), com E œ \ , para considerar \" − ` tal que
m=Ð\" Ñm   " e que \ Ï \" não seja =-limitado e, supondo já construídos
\" ß á ß \8 nas condições referidas, utilizamos de novo 4), com
E œ \ Ï Ð\"  â  \8 Ñ, para considerar \8" § \ Ï Ð\"  â  \8 Ñ, tal
que \8" − `, m=Ð\8" Ñm   " e
Ð\ Ï Ð\"  â  \8 ÑÑ Ï \8" œ \ Ï Ð\"  â  \8" Ñ
não =-limitado.
6) Vamos mostrar que, se E − ` verifica l=lÐEÑ œ _, então existe uma

E, tal que ! m=ÐF3 Ñm   " e l=lÐE Ï -F3 Ñ œ _.166


família finita ÐF3 Ñ3−M de conjuntos de `, disjuntos dois a dois e contidos em

Subdem: Tendo em conta a conclusão de 5), podemos considerar


O   " tal que, para cada E − `, m=ÐEÑm Ÿ O . O facto de se ter
l=lÐEÑ œ _ permite-nos considerar uma família finita ÐF3 Ñ"Ÿ3Ÿ8 de

!m=ÐF3 Ñm   $O , podendo já supor-se, se necessário juntando o conjunto


conjuntos de `, disjuntos dois a dois e contidos em E, tal que

E Ï -F3 , que se tem mesmo -F3 œ E. Seja 8! Ÿ 8 o menor natural tal que

" m=ÐF3 Ñm   O .
8!

3œ"

O facto de se ter m=ÐF8! Ñm Ÿ O implica que

166Comparar com 4).


368 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

" m=ÐF3 Ñm Ÿ #O
8!

3œ"

e portanto 8!  8 e

" m=ÐF3 Ñm   O .
8

3œ8! "

Reparando que se tem E œ Ew  Eww , com

E w œ . F3 , Eww œ . F3 ,
8! 8

3œ" 3œ8!

o facto de l=l ser uma medida com l=lÐEÑ œ _ implica que se tem
l=lÐEw Ñ œ _ ou l=lÐEww Ñ œ _ pelo que, para obter as condições reque-
ridas, basta tomar M œ Ö"ß á ß 8! × se l=lÐEww Ñ œ _ e M œ Ö8!  "ß á ß 8×
se l=lÐEww Ñ  _.
7) Vamos mostrar que l=lÐ\Ñ  _, o que terminará a demonstração.
Subdem: Suponhamos, por absurdo, que l=lÐ\Ñ œ _. Vamos cons-
truir recursivamente, para cada 8 − , uma família finita ÐF8ß3 Ñ3−M8 de
conjuntos de ` disjuntos dois a dois de modo que, notando \8 a união dos
F8ß3 com 3 − M8 , se tenha, para cada 8, F8"ß3 § \ Ï Ð\"  â  \8 Ñ
" m=ÐF8ß3 Ñm   ", |=|Ð\ Ï Ð\"  â  \8 ÑÑ œ _.
3−M8

Para o fazermos, basta aplicar 6), com E œ \ , para construir a família


ÐF"ß3 Ñ3−M" , e, supondo construídos os F5ß3 , 3 − M5 , para " Ÿ 5 Ÿ 8, basta
aplicar 6), com E œ \ Ï Ð\"  â  \8 Ñ para construir os F8"ß3 , com
3 − M8" . Feita esta construção recursiva, podemos agora considerar a família
contável de todos os conjuntos mensuráveis F8ß3 , com 8 −  e, para cada 8,
3 − M8 , conjuntos esses que são disjuntos dois a dois, e tem-se
" " m=ÐF8ß3 Ñm   " " œ _,
8− 3−M8 8−

o que é absurdo, tendo em conta 1). 


III.7.6 (Exemplos) a) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e I um espaço de
Banach. Tem-se então que a aplicação constante !À ` Ä I é uma
I -medida, para a qual vem l!lÐEÑ œ !, para cada E − `.
b) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e .À ` Ä ‘ uma medida
positiva finita. Tem-se então que . é uma ‘-medida e l.l œ ..
Dem: A conclusão de a) é trivial e, quanto a b), é evidente que uma medida
positiva finita é uma ‘-medida. Resta-os mostrar que, no contexto de b),
tem-se l.lÐEÑ œ .ÐEÑ, para cada E − `. Ora, como já vimos em III.7.4,
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 369

tem-se .ÐEÑ œ l.ÐEÑl Ÿ l.lÐEÑ e a desigualdade oposta resulta da definição


de l.lÐEÑ como um supremo, uma vez que, para cada família finita ÐF3 Ñ3−M
de conjuntos de ` disjuntos dois a dois e contidos em E, vem
" l.ÐF3 Ñl œ " .ÐF3 Ñ œ .Ð. F3 Ñ Ÿ .ÐEÑ. 
3−M 3−M 3−M

III.7.7 Sejam I um espaço de Banach, Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e


=ß =w À ` Ä I duas I -medidas. Tem-se então que =  =w À ` Ä I é
também uma I -medida e, para cada E − `,
l=  =w lÐEÑ Ÿ l=lÐEÑ  l=w lÐEÑ.

Dem: Tem-se Ð=  =w ÑÐgÑ œ =ÐgÑ  =w ÐgÑ œ !. Se ÐE4 Ñ4−N é uma família


contável de conjuntos de ` disjuntos dois a dois, tem-se

=Š. E4 ‹ œ " =ÐE4 Ñ, =w Š. E4 ‹ œ " =w ÐE4 Ñ,


4−N 4−N 4−N 4−N

em ambos os casos com famílias absolutamente somáveis no segundo


membro, pelo que, tendo em conta a caracterização das somas das famílias
absolutamente somáveis como integrais para medida de contagem (cf.
II.2.48), concluímos da aditividade do integral que

Ð=  =w ÑŠ. E4 ‹ œ =Š. E4 ‹  =w Š. E4 ‹ œ " Ð=ÐE4 Ñ  =w ÐE4 ÑÑ,


4−N 4−N 4−N 4−N

com a família do segundo membro absolutamente somável, e portanto =  =w


é efetivamente uma I -medida. Seja agora E − ` e consideremos uma
família finita arbitrária ÐF3 Ñ3−M de conjuntos de ` disjuntos dois a dois e
contidos em E. Tem-se então
" mÐ=  =w ÑÐF3 Ñm Ÿ " Ðm=ÐF3 Ñm  m=w ÐF3 ÑmÑ œ

œ " m=ÐF3 Ñm  " m=w ÐF3 Ñm Ÿ


3−M 3−M

3−M 3−M
Ÿ l=lÐEÑ  l=w lÐEÑ,
donde, tendo em conta a arbitrariedade da família,
l=  =w lÐEÑ Ÿ l=lÐEÑ  l=w lÐEÑ. 

III.7.8 Sejam I e J espaços de Banach, !À I Ä J uma aplicação linear


contínua e Q   ! tal que m!ÐAÑm Ÿ Q mAm, para cada A − I .167 Sejam
Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e =À ` Ä I uma I -medida. Tem então

167Lembrar que a existência de um tal Q   ! é equivalente à continuidade da aplicação


linear !.
370 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

lugar uma J -medida !‡ =À ` Ä J definida por !‡ =ÐEÑ œ !Ð=ÐEÑÑ, cuja


medida de variação total associada verifica l!‡ =lÐEÑ Ÿ Q l=lÐEÑ, para cada
E − `.
Dem: Tem-se
!‡ =ÐgÑ œ !Ð=ÐgÑÑ œ !Ð!Ñ œ !.
Se ÐE4 Ñ4−N é uma família contável de conjuntos de ` disjuntos dois a dois,
tem-se

=Š. E4 ‹ œ " =ÐE4 Ñ,


4−N 4−N

com a família do segundo membro absolutamente somável, pelo que, tendo


em conta a caracterização das somas das famílias absolutamente somáveis
como integrais para medida de contagem (cf. II.2.48), concluímos de II.2.35
que

!‡ =Š. E4 ‹ œ !Š" =ÐE4 Ñ‹ œ " !Ð=ÐE4 ÑÑ œ " !‡ =ÐE4 Ñ,


4−N 4−N 4−N 4−N

com a família do segundo membro absolutamente somável, e portanto !‡ = é


efetivamente uma J -medida. Seja agora E − ` e consideremos uma família
finita arbitrária ÐF3 Ñ3−M de conjuntos de ` disjuntos dois a dois e contidos
em E. Tem-se então
" mÐ!‡ =ÐF3 Ñm œ " mÐ!Ð=ÐF3 ÑÑm Ÿ " Q m=ÐF3 Ñm œ

œ Q " m=ÐF3 Ñm Ÿ Q l=lÐEÑ,


3−M 3−M 3−M

3−M

donde, tendo em conta a arbitrariedade da família,


l!‡ =lÐEÑ Ÿ Q l=lÐEÑ. 

III.7.9 (Corolário) Sejam I um espaço de Banach sobre o corpo Š, igual a ‘ ou


‚, Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e =À ` Ä I uma I -medida. Para cada
escalar + − Š, tem-se então que +=À ` Ä I é também uma I -medida e,
para cada E − `, l+=lÐEÑ œ l+ll=lÐEÑ.
Dem: O facto de += ser uma I -medida e a desigualdade l+=lÐEÑ Ÿ
l+ll=lÐEÑ resultam da propriedade precedente, relativa à aplicação linear
contínua !+ À I Ä I definida por !+ ÐBÑ œ +B, para a qual se tem
m!+ ÐBÑm œ l+lmBm e !+‡ = œ +=. No caso em que + œ !, esta desigualdade
implica trivialmente a igualdade pretendida e, no caso em que + Á !, a
desigualdade oposta resulta de se ter
" "
l+ll=lÐEÑ œ l+ll +=lÐEÑ Ÿ l+ll ll+=lÐEÑ œ l+ll=lÐEÑ. 
+ +
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 371

III.7.10 (No caso particular I œ ‚) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e


=À ` Ä ‚ uma medida complexa. Podemos então considerar uma nova
medida complexa =À ` Ä ‚, dita conjugada de ., definida por
=ÐEÑ œ =ÐEÑ,
para a qual se tem l=l œ l=l.
Dem: Trata-se do caso particular de III.7.8, em que tomamos para !À ‚ Ä ‚
a aplicação linear real definida por !Ð+Ñ œ + (reparar que = œ =). 

Na secção I.4 estudámos resultados de existência e de unicidade do


prolongamento de uma medida positiva definida num semianel à 5 -álge-
bra gerada, resultados que foram utilizados, em particular, na construção
da medida de Lebesgue e, mais geralmente, das medidas de Lebes-
gue-Stieltjes. Apesar de não nos debruçarmos aqui sobre a existência de
prolongamentos no contexto das medidas vetoriais, estabelecemos em
seguida um resultado simples de unicidade nesse contexto, que nos será
útil adiante.

III.7.11 (Unicidade do prolongamento como medida vetorial) Sejam Ð\ß `Ñ


um espaço mensurável, I um espaço de Banach e f § ` um semianel
5 -total de partes de \ (cf. I.4.3), cuja 5 -álgebra gerada seja `. Tem-se
então:
a) Seja =À ` Ä I uma medida vetorial tal que =ÐFÑ œ !, para cada F − f .
Tem-se então = œ !.
b) Sejam =ß =w À ` Ä I duas medidas vetoriais tais que =ÐFÑ œ =w ÐFÑ, para
cada F − f . Tem-se então = œ =w .
Dem: a) Seja =À ` Ä I uma medida vetorial tal que =ÐFÑ œ !, para cada
F − f . Sejam E − ` e $  ! arbitrários. Tendo em conta I.4.12, a medida
positiva finita l=lÀ ` Ä ‘ é o prolongamento de Hahn da sua restrição a f
e portanto, pela caracterização desse prolongamento em I.4.8, existe uma

E § F œ -F4 , tal que ! l=lÐF4 Ñ  l=lÐEÑ  $ . Deduzimos daqui que


família contável ÐF4 Ñ4−N de conjuntos de f disjuntos dois a dois e com

l=lÐF Ï EÑ œ l=lÐFÑ  l=lÐEÑ œ " l=lÐF4 Ñ  l=lÐEÑ  $ .


4−N

Uma vez que


=ÐFÑ œ " =ÐF4 Ñ œ !,
4−N

vemos agora que


m=ÐEÑm œ m=ÐFÑ  =ÐEÑm œ m=ÐF Ï EÑm Ÿ l=lÐF Ï EÑ  $,
o que, tendo em conta a arbitrariedade de $ , implica que m=ÐEÑm œ !, ou
seja, =ÐEÑ œ !.
372 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

b) Se =ß =w À ` Ä I são duas medidas vetoriais tais que =ÐFÑ œ =w ÐFÑ, para


cada F − f , então =  =w é uma medida vetorial que toma o valor ! em cada
F − f e portanto, tendo em conta a), =  =w œ !, donde = œ =w . 
III.7.12 (Medida definida por uma função integrável) Sejam Ð\ß `Ñ um
espaço mensurável e .À ` Ä ‘ uma medida positiva. Se I é um espaço
de Banach e 0 À \ Ä I é uma aplicação integrável, então tem lugar uma
medida vetorial associada .Ð0 Ñ À ` Ä I , definida por

.Ð0 Ñ ÐEÑ œ ( 0ÎE ÐBÑ . .ÎE ÐBÑ œ ( ˆE ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ


E \

(cf. II.2.40), cuja medida de variação total l.Ð0 Ñ l é a medida positiva .Ð:Ñ ,
associada à função mensurável :À \ Ä ‘ , :ÐBÑ œ m0 ÐBÑm.
Dem: O facto de .Ð0 Ñ ser uma I -medida resulta de II.2.40 e II.2.50.
Resta-nos mostrar que, dado E − `, tem-se

l.Ð0 Ñ lÐEÑ œ .Ð:Ñ ÐEÑ œ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ,


E

dividindo a prova deste facto em duas partes.


1) Vamos verificar que

l.Ð0 Ñ lÐEÑ Ÿ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ.


E

Subdem: Seja ÐF3 Ñ3−M uma família finita de conjuntos de ` disjuntos


dois a dois e contidos em E. Tem-se então

" m.Ð0 Ñ ÐF3 Ñm œ " ½( 0 ÐBÑ . .ÐBѽ Ÿ " ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ


3−M 3−M F3 3−M F3

œ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ,


-F3 E

pelo que, tendo em conta a definição de l.Ð0 Ñ lÐEÑ como um supremo,


concluímos a desigualdade pretendida.
2) Vamos verificar que

l.Ð0 Ñ lÐEÑ   ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ.


E

Subdem: Para provar a desigualdade enunciada basta provar que, dado


$  ! arbitrário, tem-se

(1) l.Ð0 Ñ lÐEÑ   ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  $.


E

Fixemos então $  !. Tendo em conta II.2.29, podemos considerar uma


sucessão de aplicações em escada 08 À \ Ä I tais que, para cada B − \ ,
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 373

08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ e m08 ÐBÑm Ÿ #m0 ÐBÑm. Uma vez que m08 ÐBÑm Ä m0 ÐBÑm, o
teorema da convergência dominada para funções positivas mostra que

( m08 ÐBÑm . .ÐBÑ Ä ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ


E E

e portanto, para provar (1), bastará mostrar a existência de 8! tal que, para
cada 8   8! ,

(2) l.Ð0 Ñ lÐEÑ   ( m08 ÐBÑm . .ÐBÑ  $.


E

Uma vez que, para cada B − \ , m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm Ä !, com


m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm Ÿ m08 ÐBÑm  m0 ÐBÑm Ÿ $m0 ÐBÑm,
deduzimos, mais uma vez do teorema da convergência dominada, que

( m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm . .ÐBÑ Ä !,


\

o que nos permite fixar 8! tal que, para cada 8   8! ,

( m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ $.


\

Consideremos então 8   8! arbitrário e provemos a desigualdade (2), o que


terminará a demonstração. Lembrando II.2.17, consideremos uma família
finita Ð\3 Ñ3−M de conjuntos de ` disjuntos dois a dois e com .Ð\3 Ñ  _

08 ÐBÑ œ ! para cada B  -\3 . O conjunto E contém então os conjuntos


tal que 08 ÐBÑ tenha um valor constante A3 − I para cada B − \3 e que

mensuráveis E  \3 , disjuntos dois a dois, pelo que

l.Ð0 Ñ lÐEÑ   " m.Ð0 Ñ ÐE  \3 Ñm œ " ½( 0 ÐBÑ . .ÐBѽ œ


3−M 3−M E\3

œ " ½( 08 ÐBÑ . .ÐBÑ  ( 08 ÐBÑ  0 ÐBÑ . .ÐBѽ  


3−M E\3 E\3

  " Š½( 08 ÐBÑ . .ÐBѽ  ½( 08 ÐBÑ  0 ÐBÑ . .ÐBѽ‹  


3−M E\3 E\3

  " Š.ÐE  \3 ÑmA3 m  ( m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm . .ÐBÑ‹ œ


3−M E\3

œ ( m08 ÐBÑm . .ÐBÑ  ( m08 ÐBÑ  0 ÐBÑm . .ÐBÑ  


E -ÐE\3 Ñ

  ( m08 ÐBÑm . .ÐBÑ  $ ,


E

o que prova (2). 


374 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

III.7.13 (Complemento de unicidade) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e


.À ` Ä ‘ uma medida positiva 5 -finita. Se I é um espaço de Banach e
0 ß 1À \ Ä I são aplicações integráveis então .Ð0 Ñ œ .Ð1Ñ À ` Ä I , se, e só
se, 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre.
Dem: Se 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase sempre, então, para cada E − `, tendo em
conta II.2.43,

.Ð0 Ñ ÐEÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ .Ð1Ñ ÐEÑ.


E E

Reciprocamente, se, para cada E − `, .Ð0 Ñ ÐEÑ œ .Ð1Ñ ÐEÑ, então, para cada
E − `,

( 0 ÐBÑ  1ÐBÑ . .ÐBÑ œ .Ð0 Ñ ÐEÑ  .Ð1Ñ ÐEÑ œ !


E

donde, aplicando II.2.46 ao semianel constituído pel9s E − ` com


.ÐEÑ  _, 0 ÐBÑ  1ÐBÑ œ ! quase sempre, isto é, 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ quase
sempre. 
III.7.14 (No caso particular I œ ‚) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável e
.À ` Ä ‘ uma medida positiva. Se 0 À \ Ä ‚ é uma aplicação integrável
e se notarmos 0 À \ Ä ‚ a aplicação definida por 0 ÐBÑ œ 0 ÐBÑ, tem-se que 0
é também integrável e a medida .0 é a conjugada da medida .0 .
Dem: Para cada E − `, a igualdade

( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ


\ \

é simplesmente um caso particular de II.2.35, onde a aplicação linear


envolvida é a aplicação linear real !À ‚ Ä ‚ definida por !Ð+Ñ œ +. 

Vamos agora verificar como se podem estender sem dificuldade às medi-


das vetoriais os resultados sobre a decomposição de Lebesgue de uma
medida, estudados na secção III.3.

III.7.15 (Decomposição de Lebesgue para medidas vetoriais) Sejam Ð\ß `Ñ


um espaço mensurável, I um espaço de Banach, .À ` Ä ‘ uma medida
positiva e =À ` Ä I uma medida vetorial. Generalizando III.3.1 e III.3.5,
diz-se que = é .-absolutamente contínua se, para cada E − ` com
.ÐEÑ œ !, =ÐEÑ œ ! e que = é .-singular se existir F − ` com .ÐFÑ œ !
tal que =ÐEÑ œ !, para cada E − ` com E § \ Ï F .168 Como em III.3.5,
chama-se decomposição de Lebesgue de = a um par ordenado Ð=+ ß == Ñ de

168Reparar que, no caso em que = é uma medida positiva, a condição =Ð\ Ï FÑ œ !


implica trivialmente que =ÐEÑ œ !, para cada E − ` com E § \ Ï F .
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 375

I-medidas, com =+ .-absolutamente contínua, == .-singular e, para cada


E − `, =ÐEÑ œ =+ ÐEÑ  == ÐEÑ.
III.7.16 Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, I um espaço de Banach,
.À ` Ä ‘ uma medida positiva e =À ` Ä I uma medida vetorial. Sendo
l=lÀ ` Ä ‘ a medida de variação total de =, tem-se então:
a) A medida = é .-absolutamente contínua se, e só se, a medida de variação
total l=l é .-absolutamente contínua.
b) A medida = é .-singular se, e só se, a medida de variação total l=l é
.-singular.
Dem: a) Suponhamos que = é .-absolutamente contínua. Se E − ` verifca
.ÐEÑ œ !, então, para cada F − ` com F § E, tem-se .ÐFÑ œ !, donde
=ÐFÑ œ ! o que, como referido em III.7.4, implica que l=lÐEÑ œ !.
Concluímos assim que l=l é .-absolutamente contínua. Reciprocamente, se
l=l é .-absolutamente contínua, então, para cada E − ` com .ÐEÑ œ !,
tem-se m=ÐEÑm Ÿ l=lÐEÑ œ !, donde =ÐEÑ œ !, o que mosta que = é
.-absolutamente contínua.
b) Se = é .-singular, então existe E − ` com .ÐEÑ œ ! tal que, para cada
F − ` com F § \ Ï E, =ÐFÑ œ ! o que, como referido em III.7.4, implica
que l=lÐ\ Ï EÑ œ !, portanto l=l é .-singular. Reciprocamente, se l=l é
.-singular, então existe E − ` com .ÐEÑ œ ! tal que l=lÐ\ Ï EÑ œ ! e
então, para cada F − ` com F § \ Ï E, tem-se l=lÐFÑ œ !, donde
também =ÐFÑ œ !, o que mostra que = é .-singular. 
III.7.17 (Unicidade da decomposição de Lebesgue)169 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um
espaço de medida, I um espaço de Banach e Ð=+ ß == Ñ uma decomposição de
Lebesgue de uma medida vetorial =À ` Ä I . Sendo F − ` tal que
.ÐFÑ œ ! e == ÐEÑ œ !, para cada E − ` com E § \ Ï F , tem-se então,
para cada E − `,
=+ ÐEÑ œ =ÐE Ï FÑ, == ÐEÑ œ =ÐE  FÑ.

Em consequência, se Ð=+ ß == Ñ e Ð=w+ ß =w= Ñ são duas decomposições de Lebes-


gue duma mesma medida =À ` Ä I , então =+ œ =w+ e == œ =w= .
Dem: O facto de =+ ser .-absolutamente contínua implica que, para cada
E − ` com E § F , vem .ÐEÑ œ !, donde =+ ÐEÑ œ !. Para cada E − `,
E é a união dos conjuntos disjuntos E  F e E Ï F que pertencem a ` e
estão respectivamente contidos em F e em \ Ï F , em particular verificam
=+ ÐE  FÑ œ ! e == ÐE Ï FÑ œ !, e portanto, por ser = œ =+  == , vem
=+ ÐEÑ œ =+ ÐE  FÑ  =+ ÐE Ï FÑ œ =+ ÐE Ï FÑ  == ÐE Ï FÑ œ =ÐE Ï FÑ,
== ÐEÑ œ == ÐE  FÑ  == ÐE Ï FÑ œ == ÐE  FÑ  =+ ÐE  FÑ œ =ÐE  FÑ.
No caso em que Ð=+ ß == Ñ e Ð=w+ ß =w= Ñ são duas decomposições de Lebesgue
duma mesma medida =À ` Ä I , podemos considerar Fß F w − ` com

169Comparar com III.3.7.


376 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

.ÐFÑ œ !, .ÐF w Ñ œ !, tais que == ÐEÑ œ !, para cada E − ` com


E § \ Ï F , e =w= ÐEÑ œ !, para cada E − ` com E § \ Ï F w , e então,
sendo F ww œ F  F w , tem-se ainda .ÐF ww Ñ œ ! e, para cada E − ` com
E § \ Ï F ww , == ÐEÑ œ ! e ==w ÐEÑ œ ! pelo que, pelo que vimos atrás, para
cada E − `,
=+ ÐEÑ œ =ÐE Ï F ww Ñ œ =+w ÐEÑ,
== ÐEÑ œ =ÐE  F ww Ñ œ ==w ÐEÑ. 

III.7.18 (Existência da decomposição de Lebesgue) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um


espaço de medida 5 -finita, I um espaço de Banach e =À ` Ä I uma
medida vetorial. Consideremos uma decomposição de Lebesgue da medida
finita l=lÀ ` Ä ‘ , definida pela medida positiva .-absolutamente contínua
l=l+ À ` Ä ‘ e pela medida positiva .-singular l=l= À ` Ä ‘ e seja
F − `, com .ÐFÑ œ ! e l=l= Ð\ Ï FÑ œ !. Podem então definir-se medidas
vetoriais =+ ß == À ` Ä I por
=+ ÐEÑ œ =ÐE Ï FÑ, == ÐEÑ œ =ÐE  FÑ,

para as quais se tem l=+ l œ l=l+ À ` Ä ‘ e l== l œ l=l= À ` Ä ‘ , e estas


medidas definem uma decomposição de Lebesgue de =.
Dem: Vamos dividir a prova em várias partes:
a) Comecemos por mostrar que as aplicações =+ ß == À ` Ä I , definidas no
enunciado, são medidas vetoriais que verificam
|=+ lÐEÑ Ÿ l=l+ ÐEÑ, |== lÐEÑ Ÿ l=l= ÐEÑ.

Subdem: Tem-se trivialmente =+ ÐgÑ œ == ÐgÑ œ ! e, se E é união de uma


família contável ÐE4 Ñ4−N de conjuntos de ` disjuntos dois a dois, os
conjuntos E Ï F e E  F são respetivamente as uniões das famílias dos
E4 Ï F e dos E4  F , em cada caso constituídas por conjuntos de ` disjun-
tos dois a dois, pelo que

=+ ÐEÑ œ =Š. ÐE4 Ï FÑ‹ œ " =ÐE4 Ï FÑ œ " =+ ÐE4 Ñ,


4−N 4−N 4−N

== ÐEÑ œ =Š. ÐE4  FÑ‹ œ " =ÐE4  FÑ œ " == ÐE4 Ñ,


4−N 4−N 4−N

em ambos os casos com as família absolutamente somáveis, o que mostra que


=+ e == são efetivamente medidas vetoriais. Por outro lado, dado E − `,
consideremos uma família finita arbitrária ÐF3 Ñ3−M de conjuntos de `
contidos em E e disjuntos dois a dois. Reparando que os F3 Ï F são
disjuntos dois a dois e contidos em E Ï F e que os F3  F são disjuntos dois
a dois e contidos em E  F e tendo em conta a caracterização de l=l+ e l=l=
em III.3.7, assim como a caracterização das medidas de variação total, vemos
que
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 377

"m=+ ÐF3 Ñm œ "m=ÐF3 Ï FÑm Ÿ l=lÐE Ï FÑ œ l=l+ ÐEÑ,

"m== ÐF3 Ñm œ "m=ÐF3  FÑm Ÿ l=lÐE  FÑ œ l=l= ÐEÑ,


3−M 3−M

3−M 3−M

e portanto
|=+ lÐEÑ Ÿ l=l+ ÐEÑ, |== lÐEÑ Ÿ l=l= ÐEÑ.

b) Para cada E − `, E é a união dos conjuntos E Ï F e E  F , que são


disjuntos, pelo que
=ÐEÑ œ =ÐE Ï FÑ  =ÐE  FÑ œ =+ ÐEÑ  == ÐEÑ.

c) Vamos verificar que =+ é uma medida .-absolutamente contínua e que ==


é uma medida .-singular, e portanto que elas constituem uma decomposição
de Lebesgue da medida vetorial =.
Subdem: Se E − ` verifica .ÐEÑ œ !, vem
! œ l=l+ ÐEÑ œ l=lÐE Ï FÑ,
portanto também
=+ ÐEÑ œ =ÐE Ï FÑ œ !,
o que mostra que =+ é .-absolutamente contínua. Por outro lado, se E − `
verifica E § \ Ï F , então
== ÐEÑ œ =ÐE  FÑ œ =ÐgÑ œ !,
o que mostra que == é .-singular.
d) Vamos mostrar finalmente que, para cada E − `, as desigualdades obti-
das em a) são mesmo igualdades:
|=+ lÐEÑ œ l=l+ ÐEÑ, |== lÐEÑ œ l=l= ÐEÑ,

o que terminará a demonstração.


Subdem: Suponhamos, por absurdo, que pelo menos uma das desigualdades
estabelecidas em a) era estrita. Seja ÐF3 Ñ3−M uma família finita arbitrária de
conjuntos de ` contidos em E e disjuntos dois a dois. Uma vez que, para
cada 3 − M , F3 é a união disjunta dos conjuntos F3 Ï F e F3  F e reparando
que os conjuntos F3 Ï F são disjuntos dois a dois e contidos em E Ï F e que
os conjuntos F3  F são disjuntos dois a dois e contidos em E  F , vemos
que
378 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

" m=ÐF3 Ñm œ " m=ÐF3 Ï FÑ  =ÐF3  FÑm Ÿ

Ÿ " m=ÐF3 Ï FÑm  " m=ÐF3  FÑm œ


3−M 3−M

œ " m=+ ÐF3 Ñm  " m== ÐF3 Ñm Ÿ l=+ lÐEÑ  l== lÐEÑ
3−M 3−M

3−M 3−M

e portanto, considerando o supremo das somas no primeiro membro,


l=lÐEÑ Ÿ l=+ lÐEÑ  l== lÐEÑ  l=l+ ÐEÑ  l=l= ÐEÑ œ l=lÐEÑ,
o que era absurdo. 

Vamos agora exigir mais sobre o espaço de Banach I onde a medida


vetorial toma valores, nomeadamente que se trata de um espaço de
Hilbert, e verificar que, nesse caso, qualquer medida vetorial =À ` Ä I
é da forma .Ð0 Ñ para uma medida positiva .À ` Ä ‘ e uma aplicação
.-integrável 0 À \ Ä I convenientes (de facto, podemos tomar . œ l=l).
Daqui deduziremos facilmente uma versão do teorema de Radon-Ni-
kodym para medidas vetoriais.

III.7.19 (Decomposição polar duma medida vetorial) Sejam Ð\ß `Ñ um


espaço mensurável, I um espaço de Hilbert sobre Š, igual a ‘ ou ‚, e
=À ` Ä I uma medida vetorial e consideremos a correspondente medida
positiva . œ l=lÀ ` Ä ‘ . Existe então uma aplicação .-integrável
0 À \ Ä I tal que = œ .Ð0 Ñ e m0 ÐBÑm œ " quase sempre.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias alíneas:
1) Uma vez que a medida . é finita, relativamente a esta medida as
aplicações em escada são as mesmas que as aplicações simples (cf. II.2.16).
Considemos o espaço vetorial fÐ\ß IÑ das aplicações simples 1À \ Ä I .
Vamos provar a existência de uma aplicação linear F! À f Ð\ß IÑ Ä Š tal
que, para cada aplicação em escada 1À \ Ä I e cada família finita Ð\4 Ñ4−N
de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois e de união \ tal que 1ÐBÑ
tome o valor constante A4 para B − \4 ,

F! Ð1Ñ œ " ØA4 ß =Ð\4 ÑÙ. 170


4−N

Subdem: Para mostrar que a aplicação F! está bem definida, o que


temos que verificar é que, dada outra família finita Ð\5w Ñ5−O de conjuntos
mensuráveis disjuntos dois a dois e de união \ tal que 1ÐBÑ tome o valor
constante Aw5 para B − \5w , tem-se

170A existência de uma tal “partição adaptada” foi estabelecida em II.2.17.


§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 379

" ØA4 ß =Ð\4 ÑÙ œ " ØAw5 ß =Ð\5w ÑÙ


4−N 5−O

e isso resulta de que


" ØA4 ß =Ð\4ÑÙ œ " ˆ" ØA4 ß =Ð\4  \5w ÑÙ‰ œ " ØA4 ß =Ð\4  \5w ÑÙ
4−N 4−N 5−O Ð4ß5Ñ−N ‚O

e, por troca dos papéis das duas partições, também


" ØAw5 ß =Ð\5w ÑÙ œ " ØAw5 ß =Ð\4  \5w ÑÙ
5−O Ð4ß5Ñ−N ‚O

onde, para cada par Ð4ß 5Ñ − N ‚ O


ØA4 ß =Ð\4  \5w ÑÙ œ ØAw5 ß =Ð\4  \5w ÑÙ

uma vez que ambos os membros desta igualdade são !, no caso em que
\4  \5w œ g, e, caso contrário, A4 œ Aw5 , já que ambos os vetores são iguais
a 0 ÐBÑ, para B em \4  \5w .171 A linearidade da aplicação F! é uma
consequência direta da definição, desde que nos lembremos que, dadas duas
aplicações simples, existe uma partição simultaneamente adaptada a ambas
(cf. II.2.23).
2) Consideremos o espaço vectorial W>Ð\ß IÑ das classes de equivalência de
aplicações em escada 1À \ Ä I que, como referido em III.2.26 e III.2.31, é
um subespaço vetorial denso do espaço de Hilbert P# Ð\ß IÑ (onde a medida
positiva considerada é a medida .). Tem então lugar uma aplicação linear
contínua FÀ W>Ð\ß IÑ Ä Š, definida por FÐÒ1ÓÑ œ F! Ð1Ñ, para a qual se tem
lFÐÒ1ÓÑl Ÿ .Ð\Ñ"Î# mÒ1Óm# .

Subdem: Consideremos uma família finita Ð\4 Ñ4−N de conjuntos


mensuráveis disjuntos dois a dois e de união \ tal que 1ÐBÑ tome o valor
constante A4 para B − \4 . Podemos então escrever, tendo em conta duas
vezes a desigualdade de Cauchy-Schwarz, e notando :ÐBÑ œ m1ÐBÑm,
lF! Ð1Ñl Ÿ " lØA4 ß =Ð\4 ÑÙl Ÿ " mA4 mm=Ð\4 Ñm Ÿ " mA4 m.Ð\4 Ñ œ
4−N 4−N 4−N

œ ( m1ÐBÑm . .ÐBÑ œ lØÒ"Óß Ò:ÓÙl Ÿ mÒ"Óm# mÒ:Óm# œ .Ð\Ñ"Î# mÒ1Óm# .


\

Concluímos daqui, em particular, que se Ò1Ó œ Ò1Ó


s em W>Ð\ß IÑ, então
s œ lF! Ð1  s1Ñl Ÿ .Ð\Ñ"Î# mÒ1Ó  Ò1Óm
lF! Ð1Ñ  F! Ð1Ñl s # œ !,

171Comparar com II.2.19, reparando que agora a situação é mais simples por não ser
necessário lidar com o problema levantado por conjuntos de medida infinita.
380 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

portanto F! Ð1Ñ œ F! Ð1Ñ


s , o que mostra que fica bem definida uma aplicação
linear FÀ W>Ð\ß IÑ Ä Š por FÐÒ1ÓÑ œ F! Ð1Ñ, a qual vai verificar a desigual-
dade enunciada.
3) Vamos mostrar a existência de Ò0 Ó − P# Ð\ß IÑ tal que, para todo o
Ò1Ó − W>Ð\ß IÑ,

FÐÒ1ÓÑ œ ØÒ1Óß Ò0 ÓÙ œ ( Ø1ÐBÑß 0 ÐBÑÙ ..ÐBÑ.


\

Subdem: O teorema de Topologia sobre a extensão de aplicações


lineares contínuas definidas em subespaços vetoriais densos garante a exis-
tência de uma única aplicação linear contínua FÀ P# Ð\ß IÑ Ä Š que prolon-
gue a aplicação linear contínua FÀ W>Ð\ß IÑ Ä Š definida em 2). Pelo
teorema da representação de Riesz, sobre funcionais lineares contínuos num
espaço de Hilbert, vai existir assim Ò0 Ó − P# Ð\ß IÑ tal que, para todo o
Ò1Ó − P# Ð\ß IÑ, FÐÒ1ÓÑ œ ØÒ1Óß Ò0 ÓÙ, em particular, para cada Ò1Ó − W>Ð\ß IÑ,
FÐÒ1ÓÑ œ ØÒ1Óß Ò0 ÓÙ.
4) Tendo em conta III.2.12, vemos que, em particular, a aplicação 0 À \ Ä I
é integrável e vamos mostrar que ela verifica as condições referidas no
enunciado. Seja E − ` e consideremos A − I arbitrário. Tomando em 3),
para 1, a função simples 1ÐBÑ œ ˆE ÐBÑA, obtemos, considerando a aplicação
linear, no sentido real, I Ä Š, D È ØAß DÙ,

ØAß =ÐEÑÙ œ FÐÒ1ÓÑ œ ( ؈E ÐBÑAß 0 ÐBÑÙ . .ÐBÑ œ

œ ( ØAß 0 ÐBÑÙ . .ÐBÑ œ ¢Aß ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ£,


E E

o que, tendo em conta a arbitrariedade de A, implica que

=ÐEÑ œ ( 0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ .Ð0 Ñ ÐEÑ,


E

portanto = œ .Ð0 Ñ . Reparamos agora que, tendo em conta III.7.12, tem-se,


para cada E − `,

( " . .ÐBÑ œ .ÐEÑ œ l=lÐEÑ œ l.Ð0 Ñ lÐEÑ œ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ


E E

e daqui deduzimos, tendo em conta a alínea c) de III.3.3, que m0 ÐBÑm œ "


quase sempre. 
III.7.20 (Corolário) Sob as hipóteses anteriores, se afastarmos o caso trivial em
que I œ Ö!×, pode-se mesmo garantir a existência de uma aplicação .-inte-
grável 0 À \ Ä I tal que = œ .Ð0 Ñ e m0 ÐBÑm œ ", para todo o B − \ .
Dem: Sendo s0 À \ Ä I uma aplicação .-integrável tal que = œ .Ð0s Ñ e
s ÐBÑm œ " quase sempre, basta escolher A! − I Ï {0} e definir 0 À \ Ä I
m0
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 381

por

0 ÐBÑ œ 
s0 ÐBÑ, s ÐBÑm œ "
se m0
A! s ÐBÑm Á " . 
mA! m , se m0

III.7.21 (Teorema de Radon-Nikodym para medidas vetoriais) Sejam


Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, I um espaço de Hilbert, .À ` Ä ‘ uma
medida positiva 5 -finita e =À ` Ä I uma medida vetorial .-absolutamente
contínua. Existe então uma função .-integrável 1À \ Ä I tal que = œ .Ð1Ñ .
Dem: Tendo em conta III.7.19, sabemos que, sendo . s œ l=l a medida
positiva associada a =, existe uma função . s-integrável 0 À \ Ä I tal que
=œ. sÐ0 Ñ . Reparemos agora que, sempre que E − ` verifica .ÐEÑ œ !,
tem-se, parea cada F § E em `, .ÐFÑ œ !, portanto, por hipótese,
=ÐFÑ œ !, e daqui concluímos que se tem também . sÐEÑ œ l=lÐEÑ œ !.
Podemos assim aplicar o teorema de Radon-Nikodym em III.3.9 para garantir
a existência de uma aplicação mensurável :À \ Ä ‘ tal que . s œ .Ð:Ñ .
Tem-se então que a aplicação topologicamente mensurável 1À \ Ä I
definida por 1ÐBÑ œ :ÐBÑ0 ÐBÑ verifica

( m1ÐBÑm . .ÐBÑ œ ( :ÐBÑm0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ ( m0 ÐBÑm . .


sÐBÑ  _,
\ \ \

sendo assim .-integrável, e vem, para cada E − `,

=ÐEÑ œ ( 0 ÐBÑ . .
sÐBÑ œ ( :ÐBÑ0 ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ,
E E E

o que mostra que se tem efetivamente = œ .Ð1Ñ . 

Vamos agora utilizar o estudo que fizemos das medidas vetoriais, em


especial daquelas com valores num espaço de Hilbert I sobre o corpo Š,
igual a ‘ ou ‚, para estudar resultados de dualidade envolvendo os
espaços P: Ð\ß IÑ, onde Ð\ß `ß .Ñ é um espaço de medida que, para
simplificar certos enunciados, suporemos sempre 5 -finito. Como motiva-
ção, recordamos que, como se viu em III.2.31, P# Ð\ß IÑ é um espaço de
Hilbert, com o produto interno definido por

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ,


\

em particular, por uma propriedade geral dos espaços de Hilbert, que já


tivémos a ocasião de utilizar172, para cada Ò1Ó − P# Ð\ß IÑ tem lugar uma
aplicação linear contínua 0Ò1Ó À P# Ð\ß IÑ Ä Š, defnida por
0Ò1Ó ÐÒ0 Ó œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ,

172Ver qualquer texto introdutório de Análise Funcional, por exemplo, [9].


382 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

e podemos mesmo afirmar (teorema da representação de Riesz) que toda a


aplicação linear contínua P# Ð\ß IÑ Ä Š é da forma 0Ò1Ó , para um único
Ò1Ó − P# Ð\ß IÑ.
Começamos por referir um artifício técnico trivial que permite ultrapassar
comodamente o embaraço de aplicar resultados que envolvem uma
aplicação bilinear à situação em que trabalhamos com o produto interno
de um espaço de Hilbert complexo que, como é bem conhecido, é antili-
near na segunda variável.

III.7.22 (Nota técnica trivial) a) Se I é um espaço vetorial complexo, podemos


considerar sobre o mesmo conjunto uma nova estrutura de espaço vetorial
complexo, em que a soma está definida do mesmo modo que na estrutura
inicial mas o produto de um escalar complexo + por um vetor A é, por
definição, o produto do conjugado + por A, relativamente à estrutura origi-
nal. Notamos I este novo espaço vetorial complexo e dizemos que ele é o
espaço vetorial complexo conjugado de I . É claro que o espaço vetorial
conjugado de I é o espaço I . No caso em que I é um espaço vetorial real, é
por vezes cómodo usar a notação I como sinónima de I (o conjugado de
um número real é ele mesmo…).
b) Uma norma sobre o espaço vetorial complexo I é também uma norma
sobre o espaço conjugado I . Em particular, se I é um espaço de Banach, o
mesmo acontece com I . Uma aplicação integrável, definida num espaço de
medida positiva e com valores num espaço de Banach I , é também integrá-
vel, e com o mesmo integral, como aplicação com valores em I Ða
multiplicação por escalares que não sejam reais não joga nenhum papel na
definição do integral).
c) Se Ð\ß `Ñ é um espaço mensurável, I é um espaço de Banach e
=À ` Ä I é uma I -medida, então = é também uma I -medida (como antes,
a multiplicação pelos escalares não joga nenhum papel na definição das
medidas vetoriais).
d) Lembremos que, se I e J são espaços vetoriais complexos, uma
aplicação antilinear !À I Ä J é uma aplicação linear, no sentido real, que
verifica !Ð+AÑ œ +!ÐAÑ, para cada + − ‚ e A − I . Uma aplicação
antilinear !À I Ä J é assim a mesma coisa que uma aplicação linear
!À I Ä J e que uma aplicação linear !À I Ä J . Em particular, se I é um
espaço de Hilbert complexo, o produto interno, apesar de não ser, em geral,
bilinear, como aplicação I ‚ I Ä ‚, já é bilinear, como aplicação
I ‚ I Ä ‚.
III.7.23 Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida 5 -finito173, I um espaço de
Hilbert sobre o corpo Š, igual a ‘ ou ‚, e " Ÿ : Ÿ _ e " Ÿ ; Ÿ _ dois

173De facto, como se constata pela demonstração, a hipótese de a medida ser 5 -finita é
aqui totalmente desnecessária. Só a impomos para podermos retomar as mesmas hipóteses
em III.7.24, resultado em que ela intervém na demonstração de um dos casos limites.
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 383

expoentes conjugados174. Podemos então definir, para cada Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ


e Ò1Ó − P; Ð\ß IÑ, um produto ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ − Š por

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ,


\

e ficamos com uma aplicação bilinear contínua


P: Ð\ß IÑ ‚ P; Ð\ß IÑ Ä Š, ÐÒ0 Óß Ò1ÓÑ È ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ

(cf. a noção de espaço vetorial conjugado em III.7.22), para a qual se tem


lØÒ0 Óß Ò1ÓÙl Ÿ mÒ0 Óm: ‚ mÒ1Óm; .

Dem: Se Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ e Ò1Ó − P; Ð\ß IÑ, o facto de o produto interno de


I ser uma aplicação bilinear contínua I ‚ I Ä Š implica que é topolo-
gicamente mensurável a função \ Ä Š, B È Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ e a desigualdade
de Cauchy-Schwarz
lØ0 ÐBÑß 1ÐBÑÙl Ÿ m0 ÐBÑmm1ÐBÑm
implica, pela desigualdade de Hölder (cf. III.1.17 e III.2.18) que aquela
função é integrável, e com

¹( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBѹ Ÿ ( m0 ÐBÑmm1ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ mÒ0 Óm: ‚ mÒ1Óm; .


\ \

É agora fácil constatar que ficamos com uma aplicação bem definida

P: Ð\ß IÑ ‚ P; Ð\ß IÑ Ä Š, ÐÒ0 Óß Ò1ÓÑ È ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ ..ÐBÑ


\

(isto é, que o integral não se altera quando se substitui 0 e 1 por aplicações


topologicamente mensuráveis iguais quase sempre a estas) e que esta
aplicação é bilinear e verifica a desigualdade no enunciado, em particular é
contínua. 

Recordemos que, se J e K são espaços de Banach e -À J Ä K é uma


aplicação linear contínua, a sua norma m-m é o menor dos números
Q   ! tais que, para cada @ − J , m-Ð@Ñm Ÿ Q m@m e pode ser também
caracterizada, no caso em que J Á Ö!×, como o supremo dos quocientes
m-Ð@ÑmÎm@m, com @ Á ! em J .

III.7.24 Nas condições de III.7.23, para cada Ò1Ó − P; Ð\ß IÑ, tem lugar uma
aplicação linear contínua 0Ò1Ó À P: Ð\ß IÑ Ä Š, definida por

174Por " "


outras palavras, ou "  :  _ e "  ;  _ verificam :  ; œ ", ou : œ " e
; œ _, ou : œ _ e ; œ ".
384 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

0Ò1Ó ÐÒ0 ÓÑ œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ ..ÐBÑ,


\

cuja norma é m0Ò1Ó m œ mÒ1Óm; . Fica assim definida uma aplicação linear contí-
nua injetiva de P; Ð\ß IÑ para o dual PÐP: Ð\ß IÑà ŠÑ, que a Ò1Ó associa 0Ò1Ó .
Dem: A linearidade de 0Ò1Ó À P: Ð\ß IÑ Ä Š é simplesmente a linearidade na
primeira variável da aplicação ÐÒ0 Óß Ò1ÓÑ È ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ e a continuidade desta
aplicação linear é uma consequência de se ter
l0Ò1Ó ÐÒ0 ÓÑl œ lØÒ0 Óß Ò1ÓÙl Ÿ mÒ0 Óm: ‚ mÒ1Óm; ,

desigualdade que implica também que m0Ò1Ó m Ÿ mÒ1Óm; . A linearidade na


segunda variável da aplicação referida implica agora que é linear contínua,
de P; Ð\ß IÑ para PÐP: Ð\ß IÑà ŠÑ, a aplicação Ò1Ó È 0Ò1Ó , aplicação que
poderemos concluir que é injetiva se provarmos que m0Ò1Ó m œ mÒ1Óm; .
Resta-nos assim provar esta última igualdade, para o que podemos já afastar
o caso trivial em que mÒ1Óm; œ !, por outras palavras, podemos já supor que
não se tem 1ÐBÑ œ ! quase sempre. Tratamos separadamente os casos em que
;  _ e em que ; œ _.
A) Suponhamos que ;  _. Uma vez que m0Ò1Ó m Ÿ mÒ1Óm; , para provarmos
a igualdade m0Ò1Ó m œ mÒ1Óm; basta-nos encontrar Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ tal que se
tenha
(1) l0Ò1Ó ÐÒ0 ÓÑl œ lØÒ0 Óß Ò1ÓÙl œ mÒ0 Óm: ‚ mÒ1Óm; .

Consideremos a aplicação topologicamente mensurável 0 À \ Ä I definida


por

0 ÐBÑ œ œ
m1ÐBÑm;# 1ÐBÑ, se 1ÐBÑ Á !
.
0ß se 1ÐBÑ œ !

No caso em que ; œ ", e portanto : œ _, tem-se m0 ÐBÑm œ ", se 1ÐBÑ Á ! e


m0 ÐBÑm œ !, caso contrário, pelo que Ò0 Ó − P_ Ð\ß IÑ e mÒ0 Óm_ œ ". No
caso em que ;  ", e portanto :  _, tem-se
"
(2) Ð;  "Ñ: œ :;  : œ :;Ð"  Ñ œ ;
;
e portanto, para cada B − \ ,
m0 ÐBÑm: œ m1ÐBÑmÐ;"Ñ: œ m1ÐBÑm; ,
donde, mais uma vez tendo em conta (2), Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ e
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 385

mÒ0 Óm: œ Š( m0 ÐBÑm: . .ÐBÑ‹


"Î:
œ
\

œ Š( m1ÐBÑm; . .ÐBÑ‹
(3) "Î:
.
œ ÐmÒ1Óm; Ñ;Î: œ ÐmÒ1Óm; Ñ;"
\

Por outro lado, para cada B − \ , Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ œ m1ÐBÑm; donde

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( m1ÐBÑm; . .ÐBÑ œ mÒ1Óm;;


\

pelo que, no caso em que ; œ ", temos


ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ mÒ1Óm" œ mÒ0 Óm_ ‚ mÒ1Óm" ,
o que implica (1), e, no caso em que ;  ", temos
ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ÐmÒ1Óm; Ñ;" ‚ mÒ1Óm; œ mÒ0 Óm: ‚ mÒ1Óm; ,

o que, mais uma vez, implica (1).


B) Supomos agora que Ò1Ó − P_ Ð\ß IÑ. Uma vez que m0Ò1Ó m Ÿ mÒ1Óm_ , para
provarmos a igualdade m0Ò1Ó m œ mÒ1Óm_ basta-nos mostrar que, fixado arbitra-
riamente !  +  mÒ1Óm_ , podemos encontrar Ò0 Ó − P" Ð\ß IÑ tal que se
tenha
(4) l0Ò1Ó ÐÒ0 ÓÑl œ lØÒ0 Óß Ò1ÓÙl  mÒ0 Óm" ‚ +.

Ora, o facto de não se ter m1ÐBÑm Ÿ + quase sempre permite-nos considerar


E − `, com .ÐEÑ  ! tal que m1ÐBÑm  + para cada B − E, podendo já
supor-se que .ÐEÑ  _, se necessário considerando uma família contável
Ð\4 Ñ4−N de conjuntos de ` com união \ e .Ð\4 Ñ  _ 175 e substituindo
E por E  \4 , para um índice 4 conveniente. Seja então 0 À \ Ä I a
aplicação topologicamente mensurável definida por

0 ÐBÑ œ  m1ÐBÑm
1ÐBÑ
, se B − E
.
!, se B Â E

Tem-se

( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ ( " . .ÐBÑ œ .ÐEÑ,


\ E
"
donde Ò0 Ó − P Ð\ß IÑ e mÒ0 Óm" œ .ÐEÑ, e, tendo em conta II.2.44,

175É para o podermos fazer que precisamos da hipótese de . ser 5 -finita.


386 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ ..ÐBÑ œ ( m1ÐBÑm ..ÐBÑ 


\ E

 ( + . .ÐBÑ œ +.ÐEÑ œ mÒ0 Óm" ‚ +,


E

o que implica (4)Þ 

Vamos agora estabelecer o teorema de dualidade que afirma que, no caso


em que " Ÿ :  _, e portanto "  ; Ÿ _, a aplicação linear injetiva
referida no resultado precedente é mesmo um isomorfismo. Começamos
com um lema que corresponde ao caso particular em que \ tem medida
finita.

III.7.25 (Lema de dualidade) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida com


.Ð\Ñ  _, I um espaço de Hilbert sobre o corpo Š, igual a ‘ ou ‚, e
" Ÿ :  _. Seja "  ; Ÿ _ o expoente conjugado de :. Se
FÀ P: Ð\ß IÑ Ä Š
é uma aplicação linear contínua, então existe Ò1Ó − P; Ð\ß IÑ tal que F œ 0Ò1Ó ,
isto é, tal que, para cada Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ,

FÐÒ0 ÓÑ œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ ..ÐBÑ.


\

Dem: Vamos dividir a demonstração em várias alíneas, cada uma com a sua
própria demonstração:
1) Vamos verificar que, para cada E − `, existe um, e um só, =ÐEÑ − I tal
que, para cada A − I ,
ØAß =ÐEÑÙ œ FÐÒˆE AÓÑ,

tendo-se então m=ÐEÑm Ÿ mFm.ÐEÑ"Î: .


Subdem: Comecemos por reparar que, por ser .Ð\Ñ  _, e portanto
também .ÐEÑ  _, podemos escrever

( mˆE ÐBÑAm . .ÐBÑ œ ( mAm . .ÐBÑ œ .ÐEÑmAm  _,


: : :
\ E

o que mostra que se tem ÒˆE AÓ − P: Ð\ß IÑ e mÒˆE AÓm: Ÿ .ÐEÑ"Î: mAm,
donde
lFÐÒˆE AÓÑl Ÿ mFmmÒˆE AÓm: Ÿ mFm.ÐEÑ"Î: mAm.

Concluímos daqui que, fixado E − `, tem lugar uma aplicação linear


contínua de I para Š, que a A associa FÐÒˆE AÓÑ, e que esta aplicação linear
contínua tem uma norma menor ou igual a mFm.ÐEÑ"Î: pelo que, pelo
teorema da representação de Riesz, sobre funcionais lineares contínuos num
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 387

espaço de Hilbert, existe um único =ÐEÑ − I tal que, para cada A − I ,


FÐÒˆE AÓÑ œ ØAß =ÐEÑÙ,

elemento esse que verifica m=ÐEÑm Ÿ mFm.ÐEÑ"Î: .


2) Vamos precorrer meio caminho no sentido de mostrar que a aplicação
=À ` Ä I é uma medida vetorial, mais precisamente, vamos mostrar que

disjuntos dois a dois, então, sendo E œ - E4 , tem-se =ÐEÑ œ ! =ÐE4 Ñ.


=ÐgÑ œ ! e que, se ÐE4 Ñ4−N é uma família finita de de conjuntos de `

Subdem: Uma vez que, para cada B − \ , ˆE ÐBÑ œ ! ˆE4 ÐBÑ, vem,
4−N 4−N

4−N
para cada A − I ,
ØAß =ÐEÑÙ œ FÐÒˆE AÓÑ œ " FÐÒˆE4 AÓÑ œ " ØAß =ÐE4 ÑÙ œ ØAß " =ÐE4 ÑÙ
4−N 4−N 4−N

=ÐEÑ œ ! =ÐE4 Ñ. A igualdade =ÐgÑ œ ! pode ser demonstrada de forma


o que, tendo em conta a arbitrariedade de A, implica que se tem efetivamente

4−N
análoga mas também resulta de se ter g œ g  g, donde =ÐgÑ œ =ÐgÑ  =ÐgÑ.

dois, então, sendo E œ - E4 , tem-se


3) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família finita de de conjuntos de ` disjuntos dois a

4−N

" m=ÐE4 Ñm Ÿ mFm.ÐEÑ"Î: .


4−N

Subdem: Para cada 4 − N , ponhamos A4 œ ! se =ÐE4 Ñ œ ! e


=ÐE4 Ñ
A4 œ m=ÐE4 Ñm caso contrário, reparando que, em qualquer dos casos mA4 m Ÿ "
e
ØA4 ß =ÐE4 ÑÙ œ m=ÐE4 Ñm.

Podemos então escrever, uma vez que a função simples ! ˆE4 A4 toma o
4−N
valor A4 em E4 e o valor ! em \ Ï E,

½’" ˆE4 A4 “½ œ Š( ¼" ˆE4 ÐBÑA4 ¼ . .ÐBÑ‹


: "Î:
œ
: \
4−N 4−N

œ Š" ( mA4 m: . .ÐBÑ‹ Ÿ Š" ( " . .ÐBÑ‹


"Î: "Î:
œ
4−N E4 4−N E4

œ Š" .ÐE4 Ñ‹
"Î:
œ .ÐEÑ"Î:
4−N

e portanto
388 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

" m=ÐE4 Ñm œ " ØA4 ß =ÐE4 ÑÙ œ " FÐÒˆE4 A4 ÓÑ œ FŠ’" ˆE4 A4 “‹ Ÿ


4−N 4−N 4−N 4−N

Ÿ mFm½’" ˆE4 A4 “½ Ÿ mFm.ÐEÑ "Î:


.
:
4−N

de ` disjuntos dois a dois e seja E œ - E4 . Vamos verificar que a família


4) Seja agora, mais geralmente, ÐE4 Ñ4−N uma família contável de conjuntos

dos =ÐE4 Ñ − I é absolutamente somável, com ! m=ÐE4 Ñm Ÿ mFm.ÐEÑ"Î: , e


4−N

que =ÐEÑ œ ! =ÐE4 Ñ. Em particular, ficará provado que =À ` Ä I é uma


4−N

4−N
medida vetorial.
Subdem: Para cada parte finita M § N , podemos aplicar a conclusão de
3) à família dos E4 , com 4 − N , cuja união está contida em E, para deduzir
que

"m=ÐE4 Ñm Ÿ mFm.Š. E4 ‹
"Î:
Ÿ mFm.ÐEÑ"Î:
4−M 4−M

implica que se tem efetivamente ! m=ÐE4 Ñm Ÿ mFm.ÐEÑ"Î: . Em particular, a


pelo que a definição da soma infinita como supremo das somas finitas

4−N
família dos =ÐE4 Ñ, com 4 − N , é absolutamente somável, e portanto somável.

em conta o facto de se ter .ÐEÑ œ ! .ÐE4 Ñ  _, podemos considerar um


Seja agora $  ! arbitrário. Consideremos &  ! tal que mFm&"Î:  $ Tendo

4−N
parte finita M! § N tal que, para cada parte finita M § N , com M ¨ M! , se tenha

.ŠE Ï .E4 Ñ‹ œ .ÐEÑ  " .ÐE4 Ñ  &.


4−M 4−M

dois a dois e de união E constituída pelos E4 , com 4 − M , e por E Ï - E4 ,


Por outro lado, aplicando 2), à família finita de conjuntos de ` disjuntos

4−M
vemos que

=ÐEÑ œ =ŠE Ï .E4 Ñ‹  " =ÐE4 Ñ,


4−M 4−M

donde, lembrando a conclusão de 1),

½=ÐEÑ  " =ÐE4 ѽ œ ½=ŠE Ï .E4 Ñ‹½ Ÿ


4−M 4−M

Ÿ mFm.ŠE Ï .E4 Ñ‹
"Î:
Ÿ mFm&"Î:  $ ,
4−M
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 389

o que mostra que se tem efetivamente =ÐEÑ œ ! =ÐE4 Ñ.


4−N
5) Vamos verificar a existência de uma aplicação integrável 1À \ Ä I tal
que = œ .Ð1Ñ isto é, para cada E − `,

=ÐEÑ œ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ.


E

Subdem: Temos uma consequência do teorema de Radon-Nikodyn


para medidas vetoriais (cf. III.7.21), desde que mostremos que se tem
=ÐEÑ œ !, para cada E − ` com .ÐEÑ œ !. Ora, isso resulta de se ter
então, para cada A − I , ˆE ÐBÑA œ ! quase sempre, donde ÒˆE AÓ œ !, e
portanto
ØAß =ÐEÑÙ œ FÐÒˆE AÓÑ œ ! œ ØAß !Ù.

6) Tem-se Ò1Ó − P" Ð\ß IÑ e vamos mostrar que, qualquer que seja a
aplicação simples 0 À \ Ä I , tem-se Ò0 Ó − P_ Ð\ß IÑ § P: Ð\ß IÑ e

FÐÒ0 ÓÑ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ.


\

Subdem: O facto de se ter Ò1Ó − P" Ð\ß IÑ é simplesmente uma


tradução de 1À \ Ä I ser integrável. É evidente que, se 0 À \ Ä I é uma
aplicação simples, então Ò0 Ó − P_ Ð\ß IÑ e a inclusão
_ :
P Ð\ß IÑ § P Ð\ß IÑ resulta de se ter .Ð\Ñ  _ (cf. III.2.23). Seja
agora Ð\4 Ñ4−N uma família finita de conjuntos de ` disjuntos dois a dois e

para cada B − \ , 0 ÐBÑ œ ! ˆ\4 ÐBÑA4 , pelo que obtemos


de união \ tal que 0 ÐBÑ tenha o valor constante A4 para B − \4 . Tem-se,

4−N

FÐÒ0 ÓÑ œ " FЈ\4 A4 Ñ œ " ØA4 ß =Ð\4 ÑÙ œ " ¢A4 ß ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ£ œ
4−N 4−N 4−N \4

œ " ( ØA4 ß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ œ ( ¢" ˆ\4 ÐBÑA4 ß 1ÐBÑ£ . .ÐBÑ œ


4−N \4 \ 4−N

œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ.


\

7) Sendo "  ; Ÿ _ o expoente conjugado de :, suponhamos que ] − `


é tal que Ò1Î] Ó − P; Ð] ß IÑ. Vamos mostrar que, para cada aplicação
topologicamente mensurável 0 À ] Ä I tal que Ò0 Ó − P: Ð] ß IÑ, notando
0 À \ Ä I a aplicação topologicamente mensurável que prolonga 0 e é nula
em \ Ï ] , que pertence trivialmente a P: Ð\ß IÑ, tem-se

FÐÒ0 ÓÑ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ.


]

Subdem: Tendo em conta III.2.26, podemos considerar uma sucessão


390 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

de aplicações em escada 08 À ] Ä I tal que Ò08 Ó Ä Ò0 Ó em P: Ð] ß IÑ e então,


notando 0 8 À \ Ä I as aplicações em escada que prolongam os 08 e são
nulas em \ Ï ] , tem-se mÒ0 Ó  Ò08 Óm œ mÒ0 Ó  Ò0 8 Óm, e portanto também
Ò0 8 Ó Ä Ò0 Ó em P: Ð\ß IÑ. Tendo em conta a continuidade da aplicação linear
FÀ P: Ð\ß IÑ Ä Š e da aplicação bilinear P: Ð] ß IÑ ‚ P; Ð] ß IÑ Ä Š
referida em III.7.23 e a conclusão de 6), vemos agora que

FÐÒ0 ÓÑ œ lim FÐÒ0 8 ÓÑ œ lim ( Ø0 8 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ œ


8Ä_ 8Ä_ \

œ lim ( Ø08 ÐBÑß 1Î] ÐBÑÙ . .ÐBÑ œ lim ØÒ08 Óß Ò1Î] ÓÙ œ


8Ä_ ] 8Ä_

œ ØÒ0 Óß Ò1Î] ÓÙ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ.


]

8) Vamos agora mostrar que, de facto, tem-se mesmo Ò1Ó − P; Ð\ß IÑ e que,
para cada Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ, FÐÒ0 ÓÑ œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ, o que terminará a demons-
tração.
Subdem: Para cada 8 − , seja \8 − `,
\8 œ ÖB − \ ± m1ÐBÑm Ÿ 8×
e reparemos que os \8 constituem uma sucessão crescente de união \ . Para
cada 8, tem-se, por definição Ò1Î\8 Ó − P_ Ð\8 ß IÑ e portanto, por III.2.23,
também Ò1Î\8 Ó − P; Ð\8 ß IÑ. Podemos assim aplicar a conclusão de 7) para
deduzir que, para cada aplicação topologicamente mensurável 0 À \8 Ä I tal
que Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ, notando 0 a aplicação topologicamente mensurável que
prolonga 0 e é nula em \ Ï \8 , tem-se

ØÒ0 Óß Ò1Î\8 ÓÙ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ œ FÐÒ0 ÓÑ Ÿ mFmmÒ0 Óm: œ mFmmÒ0 Óm:
\8

e portanto, tendo em conta III.7.24, concluímos que mÒ1Î\8 Óm; Ÿ mFm.


Vamos verificar por fim que se pode deduzir daqui Ò1Ó − P; Ð\ß IÑ, o que,
aplicando a conclusão de 7) com ] œ \ , implicará, em particular, que se
tem efetivamente FÐÒ0 ÓÑ œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ, para cada Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ. Dividimos
essa verificação em dois casos:
No caso em que ; œ _, existe, para cada 8, um conjunto E8 − `, com
E8 § \8 e .ÐE8 Ñ œ !, tal que m1ÐBÑm Ÿ mFm para cada B − \8 Ï E8 e
então a união E dos E8 é um conjuto de ` com .ÐE8 Ñ œ ! tal que
m1ÐBÑm Ÿ mFm para cada B − \ Ï E, o que mostra que se tem efetivamente
Ò1Ó − P_ Ð\ß IÑ.
Supondo agora que ;  _, a desigualdade mÒ1Î\8 Óm; Ÿ mFm é traduzida
por

( ˆ\8 ÐBÑ m1ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ mFm


; ;
\
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 391

pelo que, uma vez que as funções que a B associam ˆ\8 ÐBÑ m1ÐBÑm; consti-
tuem uma sucessão crescente convergente, para cada B, para m1ÐBÑm; ,
deduzimos do teorema da convergência monótona que

( m1ÐBÑm . .ÐBÑ œ8Ä_


lim ( ˆ\8 ÐBÑ m1ÐBÑm; . .ÐBÑ Ÿ mFm;  _,
;
\ \

o que mostra que se tem efetivamente Ò1Ó − P; Ð\ß IÑ. 


III.7.26 (Teorema de dualidade) Sejam Ð\ß `ß .Ñ um espaço de medida
5 -finito, I um espaço de Hilbert sobre o corpo Š, igual a ‘ ou ‚, e
" Ÿ :  _. Seja "  ; Ÿ _ o expoente conjugado de :. Se
FÀ P: Ð\ß IÑ Ä Š
é uma aplicação linear contínua, então existe Ò1Ó − P; Ð\ß IÑ tal que F œ 0Ò1Ó ,
isto é, tal que, para cada Ò0 Ó − P: Ð\ß IÑ,

FÐÒ0 ÓÑ œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ ..ÐBÑ. 176


\

Dem: Vamos utilizar o lema de Rudin em III.3.4 para deduzir este resultado
do caso já estudado no lema precedente. Esse lema garante-nos a existência
de uma medida finita .w À ` Ä ‘ , definida por .w œ .Ð3Ñ , para uma certa
aplicação mensurável 3À \ Ä Ó!ß _Ò, para a qual se tem, para cada
E − `, .w ÐEÑ œ ! se, e só se .ÐEÑ œ !.
Em particular coincidem as relações de equivalência no espaço das aplica-
ções topologicamente mensuráveis \ Ä I associadas a . e a .w , o que dá ao
espaço vetorial Q /8=Ð\ß IÑ das classes de equivalência um significado que
não depende de qual dessas duas medidas se considera, tal como sucede ao
seu subespaço vetorial P_ Ð\ß IÑ. Isso já não sucede com os subespaços
P< Ð\ß IÑ, com " Ÿ <  _, pelo que reservaremos aquela notação para os
associados à medida . e usaremos a notação alterada Pw < Ð\ß IÑ quando
considerarmos a medida .w , usando a notação m † m<w para a respetiva norma.
Feitas estas observações, vemos que se pode considerar um isomorfismo
>À Q /8=Ð\ß IÑ Ä Q /8=Ð\ß IÑ, >ÐÒ0 ÓÑ œ Ò0 Ó,

onde 0 ÐBÑ œ 3ÐBÑ"Î: 0 ÐBÑ, e portanto 0 ÐBÑ œ 3ÐBÑ"Î: 0 ÐBÑ. A igualdade

( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ ( m0 ÐBÑm 3ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( m0 ÐBÑm . . ÐBÑ


: : : w
\ \ \
w:
mostra que o isomorfismo > aplica P Ð\ß IÑ sobre P: Ð\ß IÑ e que se tem
m>ÐÒ0 ÓÑm: œ mÒ0 Ómw: , em particular o isomorfismo é contínuo. Temos assim,
por composição, uma aplicação linear contínua F ‰ >À Pw : Ð\ß IÑ Ä Š e o

176Podemos dizer que Ò1Ó “representa” o funcional linear contínuo F. A aplicação linear
injetiva referida em III.7.24 é assim, neste caso, um isomorfismo.
392 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

;
s − Pw Ð\ß IÑ tal que, para cada
lema precedente garante a existência de Ò1Ó
:
Ò0 Ó − Pw Ð\ß IÑ,

FÐÒ0 ÓÑ œ F ‰ >ÐÒ0 ÓÑ œ ( Ø0 ÐBÑß s1ÐBÑÙ . .w ÐBÑ œ


\

œ ( Ø0 ÐBÑß s1ÐBÑÙ 3ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( Ø0 ÐBÑß s1ÐBÑÙ 3ÐBÑ" : . .ÐBÑ.


"

\ \

No caso em que : œ ", e portanto ; œ _, a igualdade anterior diz-nos que

FÐÒ0 ÓÑ œ ( Ø0 ÐBÑß s1ÐBÑÙ . .ÐBÑ,


\
w_ _
onde Ò1Ó
s − P Ð\ß IÑ œ P Ð\ß IÑ, que é a conclusão pretendida, desde
que se tome 1 œ s1. No caso em que :  ", tem-se "  :" œ "; e a igualdade
referida diz-nos que

FÐÒ0 ÓÑ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ,


\

desde que se defina 1ÐBÑ œ 3ÐBÑ"Î; s1ÐBÑ, o que é mais uma vez a conclusão
pretendida, por ser

( m1ÐBÑm . .ÐBÑ œ ( m1ÐBÑm 3ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( m1ÐBÑm


; ; :
s s . .w ÐBÑ  _,
\ \ \
;
e portanto Ò1Ó − P Ð\ß IÑ. 
III.7.27 (Uma variante trivial no caso I œ ‚) 1) No caso particular em que o
espaço de Hilbert I , sobre o corpo Š, é o próprio Š, naturalmente com o
produto interno habitual Ø+ß ,Ù œ + ‚ ,, no contexto de um espaço de medida
5 -finito Ð\ß `ß .Ñ, para cada par de expoentes conjugados " Ÿ : Ÿ _ e
" Ÿ ; Ÿ _, a aplicação bilinear

P: Ð\ß ŠÑ ‚ P; Ð\ß ŠÑ Ä Š, ÐÒ0 Óß Ò1ÓÑ È ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ,


definida em III.7.23, está definida, mais explicitamente por

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ ..ÐBÑ.


\

É claro que, se Š œ ‘ e portanto a conjugação é a identidade, temos uma


aplicação bilinear
P: Ð\ß ‘Ñ ‚ P; Ð\ß ‘Ñ Ä ‘, ÐÒ0 Óß Ò1ÓÑ È ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ,

definida explicitamente por

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ ( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ ..ÐBÑ.


\
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 393

2) Já no caso em que I œ Š œ ‚, podemos considerar uma aplicação


bilinear contínua distinta da anteriormente referida, embora trivialmente
redutível a esta,
P: Ð\ß ‚Ñ ‚ P; Ð\ß ‚Ñ Ä ‚, ÐÒ0 Óß Ò1ÓÑ È ØÒ0 Óß Ò1ÓÙw ,
definida por

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙw œ ( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ.


\

Em contextos em que não se considera importante examinar a situação geral


dos espaços de Hilbert, é esta a única aplicação bilinear que é costume
considerar, escrevendo-se, consequentemente, ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ em vez de ØÒ0 Óß Ò1ÓÙw .
3) Como consequência trivial do que verificámos em III.7.24 e III.7.26
vemos que, para cada Ò1Ó − P; Ð\ß ‚Ñ, tem lugar uma aplicação linear
contínua
w
0Ò1Ó À P: Ð\ß ‚Ñ Ä ‚, 0Ò1Ó
w
ÐÒ0 ÓÑ œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙw ,
w w
portanto 0Ò1Ó œ 0Ò1Ó , para a qual se tem ainda m0Ò1Ó m œ mÒ1Óm; , e ficamos com
uma aplicação linear contínua injetiva
P; Ð\ß ‚Ñ Ä PÐP: Ð\ß ‚Ñß ‚Ñ, w
Ò1Ó È 0Ò1Ó ,

a qual é mesmo um isomorfismo no caso em que " Ÿ :  _ (ou, o que é


equivalente, "  ; Ÿ _).

Como segunda aplicação da decomposição polar de uma medida, referida


em III.7.19, vamos agora definir, de modo simples, o integral de uma
aplicação relativamente a uma medida vetorial. Como preço que temos
que pagar por essa simplificação, apenas examinaremos o caso das
medidas vetoriais com valores num espaço de Hilbert, o que será
suficiente para o que pretendemos. Uma via alternativa, que inclui o caso
das medidas com valores num espaço de Banach, mas que implica um
caminho ligeiramente mais longo, será proposta adiante, como exercício
para o leitor interessado (cf. o exercício III.7.5).

III.7.28 Sejam I e K espaços de Banach, J um espaço de Hilbert e


0À I ‚ J Ä K uma aplicação bilinear contínua, para a qual, para A − I e
D − J , usamos a notação A ‚ D como alternativa a 0ÐAß DÑ. Sejam Ð\ß `Ñ
um espaço mensurável, =À ` Ä J uma J -medida e . œ l=lÀ ` Ä ‘ a
medida de variação total de =. Dizemos que uma aplicação 0 À \ Ä I é
integrável, relativamente a =, se, e só se, ela é integrável relativamente a
. œ l=l e, para uma tal aplicação, pode-se definir o seu integral, relativa-
mente a =, que notaremos
394 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

( 0 ‚ .= ou ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ

pela condição de se ter

( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ . .ÐBÑ − K,

onde 1À \ Ä I é uma aplicação .-integrável com m1ÐBÑm œ " quase sempre,


tal que = œ .Ð1Ñ (cf. III.7.19).
Dem: Seja Q   ! tal que m0ÐAß DÑm Ÿ Q mAmmDm, para cada A − I e
D − J . Sendo 1À \ Ä I uma aplicação .-integrável com m1ÐBÑm œ " quase
sempre, tal que = œ .Ð1Ñ , vemos que a aplicação topologicamente mensurável
\ Ä K, B È 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ verifica quase sempre
m0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑm Ÿ Q m0 ÐBÑmm1ÐBÑm Ÿ Q m0 ÐBÑm,
o que implica que

( m0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ ( Q m0 ÐBÑm . .ÐBÑ œ Q ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ  _,

' 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ ficar bem definido pela igualdade no enunciado resulta de
e portanto temos mesmo uma aplicação integrável. O facto de o integral

que, se também fosse = œ .Ð1Ñ s , para outra aplicação .-integrável s


1À \ Ä I ,
tinha-se, por III.7.13, 1ÐBÑ œ s1ÐBÑ quase sempre, donde

( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ ‚ s1ÐBÑ . .ÐBÑ.

III.7.29 Usamos o sinal ‚ na notação do integral para sublinhar que este tem
implícito uma aplicação bilinear à qual associámos o mesmo sinal. Um caso
particular importante em que essa aplicação bilinear é especialmente natural
é aquele em que K œ I é um espaço de Banach sobre Š, J œ Š e a
aplicação bilinear contínua I ‚ Š Ä I é a multiplicação pelos escalares.
Nesse caso usaremos também a notação mais habitual

( 0 ÐBÑ . =ÐBÑ

como alternativa a ' 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ. Repare-se que não há risco de confusão,

Š-medida, uma vez que o integral ' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ, quando se olha para .
no caso em que olhamos uma medida positiva finita .À ` Ä ‘ § Š como

como medida vetorial, coincide com o integral para a medida positiva


(Reparar que se tem . œ .Ð"Ñ ).
III.7.30 (Propriedades triviais do integral) No contexto de III.7.28, tem-se:
a) Se 0 ß s0 À \ Ä I são integráveis e + é um escalar, então 0  s0 e +0 são
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 395

integráveis e

( Ð0 ÐBÑ  s0 ÐBÑÑ ‚ . =ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ  ( s0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ,

( Ð+0 ÐBÑÑ ‚ . =ÐBÑ œ +( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ.

b) Se Q   ! é tal que m0ÐAß DÑm Ÿ Q mAmmDm e 0 À \ Ä I é integrável,


então

½( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBѽ Ÿ Q ( m0 ÐBÑm .l=lÐBÑ.

c) Se 0 ß s0 À \ Ä I são aplicações integráveis com 0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ quase


sempre (relativamente à medida positiva l=l)177, então

( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ œ ( s0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ.

d) Suponhamos que 0 À \ Ä I é uma aplicação simples e seja Ð\4 Ñ4−N uma


família finita de conjuntos mensuráveis disjuntos dois a dois e de união \ tal
que 0 ÐBÑ tenha o valor constante A4 para B − \4 . Tem-se então

( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ œ " A4 ‚ =Ð\4 Ñ.


4−N

Dem: Sendo . œ l=l, seja 1À \ Ä J uma aplicação topologicamente mensu-


rável, com m1ÐBÑm œ " quase sempre, tal que = œ .Ð1Ñ . Tem-se então:
a) Trata-se de uma consequência imediata da definição, tendo em conta as
propriedades de linearidade do integral no contexto das medidas positivas.
b) Vem

½( 0 ÐBÑ ‚ .=ÐBѽ œ ½( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ ..ÐBѽ Ÿ ( m0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑm..ÐBÑ Ÿ

Ÿ ( Q m0 ÐBÑmm1ÐBÑm..ÐBÑ œ Q ( m0 ÐBÑm..ÐBÑ.

c) Trata-se de uma consequência de que, por ser 0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ quase sempre,
tem-se também 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ œ s0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ quase sempre.

177Repare-se que os conjuntos mensuráveis E com =ÐEÑ œ ! não jogam um papel


análogo àquele que é jogado no contexto das medidas positivas, em particular não permi-
tem definir uma noção conveniente da verificação quase sempre de uma propriedade, uma
vez que eles podem conter conjuntos de medida diferente de !. A expressão “quase
sempre” é sempre utilizada relativamente a uma medida positiva apropriada.
396 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

d) Uma vez que, para cada B − \ , 0 ÐBÑ œ ! ˆ\4 ÐBÑ A4 , obtemos


4−N

( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ œ " ( ˆ\4 ÐBÑ A4 ‚ . =ÐBÑ œ


4−N

œ " ( ˆ\4 ÐBÑ A4 ‚ 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ


4−N

œ " A4 ‚ ( 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ


\4

œ " A4 ‚ .Ð1Ñ Ð\4 Ñ œ " A4 ‚ =Ð\4 Ñ.


4−N


4−N 4−N

O próximo resultado tem uma natureza semelhante mas uma demons-


tração não tão direta.

III.7.31 (Linearidade relativamente à medida) Sejam I e K espaços de


Banach, J um espaço de Hilbert e 0À I ‚ J Ä K uma aplicação bilinear
contínua, para a qual, para A − I e D − J , usamos a notação A ‚ D como
alternativa a 0ÐAß DÑ. Sejam Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, =ß =w À ` Ä J
duas J -medidas e + um escalar. Se 0 À \ Ä I é integrável relativamente a =
e a =w , então 0 é também integrável relativamente a =  =w e a += e tem-se

a) ( 0 ÐBÑ ‚ .Ð=  =w ÑÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ .=w ÐBÑ,

b) ( 0 ÐBÑ ‚ .Ð+=ÑÐBÑ œ + ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ.

Além disso, qualquer aplicação topologicamente mensurável 0 À \ Ä I é


integrável relativamente à medida vetorial !À ` Ä J e

c) ( 0 ÐBÑ .!ÐBÑ œ !.

Dem: Suponhamos primeiro que 0 À \ Ä I é uma aplicação simples e seja


Ð\4 Ñ4−N uma família finita de conjuntos de ` disjuntos dois a dois e de
união \ tal que 0 ÐBÑ tenha o valor constante A4 − I para cada B − \4 .
Tem-se então
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 397

( 0 ÐBÑ ‚ .Ð=  = ÑÐBÑ œ " A4 ‚ Ð=  = ÑÐ\4 Ñ œ


w w

œ " A4 ‚ =Ð\4 Ñ  " A4 ‚ =w Ð\4 Ñ œ


4−N

4−N 4−N

œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . =w ÐBÑ

e, analogamente,

( 0 ÐBÑ ‚ .Ð+=ÑÐBÑ œ " A4 ‚ Ð+=ÑÐ\4 Ñ œ + " A4 ‚ =Ð\4 Ñ œ


4−N 4−N

œ + ( 0 ÐBÑ . =ÐBÑ.

Suponhamos agora que a aplicação topologicamente mensurável 0 À \ Ä I é


integrável realtivamente a cada uma das medidas vetoriais = e =w , portanto
também integrável relativamente às medidas positivas l=l e l=w l. Lembrando
a monotonia do integral das funções positivas relativamente à medida em
II.1.36 e o facto de se ter l=  =w lÐEÑ Ÿ l=lÐEÑ  l=w lÐEÑ, para cada
E − `, vemos que

( m0 ÐBÑm .l=  = lÐBÑ Ÿ ( m0 ÐBÑm .Ðl=l  l= lÑÐBÑ œ


w w
\ \

œ ( m0 ÐBÑm .l=lÐBÑ  ( m0 ÐBÑm .l=w lÐBÑ  _


\ \

e, analogamente

( m0 ÐBÑm .l+=lÐBÑ œ ( m0 ÐBÑm .Ðl+ll=lÑÐBÑ œ l+l( m0 ÐBÑm .Ðl=lÑÐBÑ  _,


\ \ \

o que implica, em particular, que a aplicação 0 é também integrável


relativamente a =  =w e a +=. Consideremos agora, lembrando II.2.29, um
sucessão de aplicações simples 08 À \ Ä I tal que, para cada B − \ ,
08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ e m08 ÐBÑm Ÿ #m0 ÐBÑm, concluímos que esta sucessão é
dominada para qualquer das medidas l=l, l=w l, l=  =w l e l+=l pelo que
podemos escrever
398 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

( 0 ÐBÑ ‚ .Ð=  = Ñ œ lim ( 08 ÐBÑ ‚ .Ð=  = ÑÐBÑ œ


w w

œ lim Š( 08 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ  ( 08 ÐBÑ ‚ . =w ÐBÑ‹ œ

œ lim Š( 08 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ‹  lim Š( 08 ÐBÑ ‚ . =w ÐBÑ‹ œ

œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ  ( 0 ÐBÑ . =w ÐBÑ

e, analogamente,

( 0 ÐBÑ ‚ .Ð+=ÑÐBÑ œ lim ( 08 ÐBÑ ‚ .Ð+=ÑÐBÑ œ

œ + lim ( 08 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ œ

œ + ( 0 ÐBÑ . =ÐBÑ,

o que prova a) e b). Quanto a c), também se podia dar uma prova simples do
mesmo tipo, mas é mais fácil notar que se trata de uma consequência de b),
com + œ !, uma vez que o facto de qualquer aplicação topologicamente
mensurável ser integrável para a medida vetorial ! é uma consequência de se
ter l!l œ ! e de o integral de qualquer função mensurável positiva para a
medida positiva ! ser igual a !, em particular finito. 

Vamos agora utilizar um dos resultados de dualidade para examinar um


análogo do teorema da Riesz em III.4.27, no contexto das medidas veto-
riais definidas nos borelianos de um espaço topológico localmente com-
pacto, separado e de base contável. Como já fizémos anteriormente,
consideramos apenas o caso em que o espaço vetorial envolvido é um
espaço de Hilbert.

III.7.32 Sejam \ um espaço topológico localmente compacto e separado e I um


espaço de Banach. Lembremos que o conjunto V- Ð\ß IÑ de todas as
aplicações contínuas de suporte compacto 0 À \ Ä I é um subespaço
vetorial do espaço de todas as aplicações de \ para I (cf. III.4.8). De facto,
lembrando que uma função contínua num compacto é sempre limitada,
V- Ð\ß IÑ é mesmo um subespaço vetorial do espaço de todas as aplicações
limitadas e, como tal, admite uma norma induzida pela norma natural deste,
norma essa que será notada m † m_ e que, afastado o caso trivial em que
\ œ g, está definida por
m0 m_ œ sup m0 ÐBÑm œ max m0 ÐBÑm
B−\ B−\

(lembrar que uma função contínua real atinge um máximo sobre cada com-
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 399

pacto não vazio). Naturalmente, se \ œ g tem-se necessariamente 0 œ ! e


define-se m0 m_ œ !.
É conveniente estarmos atentos a uma possível confusão com a notação para
a norma que referimos: No caso em que está definida uma medida de Radon
. nos borelianos de \ , cada 0 − V- Ð\ß IÑ tem uma classe de equivalência
Ò0 Ó − Q /8=Ð\ß IÑ que pertence a P_ Ð\ß IÑ (cf. III.4.9) mas não devemos
esperar que se tenha necessariamente m0 m_ œ mÒ0 Óm_ , uma vez que o
segundo membro, ao contrário do primeiro, faz intervir a medida ., através
da consideração de propriedades que se verificam quase sempre. O exercício
III.7.6 adiante esclarece melhor esta questão, examinando, em particular,
uma situação em que podemos garantir a igualdade.
III.7.33 (Lema geométrico elementar) Seja I um espaço vetorial sobre Š,
igual a ‘ ou ‚, munido de um produto interno, sobre o qual consideramos a
norma associada. Sejam Aß D − I com mAm Ÿ " e mDm   ". Tem-se então

mA  Dm   ½A  ½.
D
mDm

D
Dem: Sendo sD œ mDm , tem-se mDm
s œ " e D œ mDm sD , pelo que a desigualdade
do enunciado ficará estabelecida se verificarmos que é crescente em Ò"ß _Ó
a função
s # œ ØA  >Dß
:Ð>Ñ œ mA  >Dm s œ mAm#  >#  #>dÐØAß sDÙÑ
s A  >DÙ
(reparar que :Ð"Ñ œ mA  sDm# e :ÐmDmÑ œ mA  Dm# ). Ora isso resulta de
que : é derivável em cada > e com
:w Ð>Ñ œ #>  #dÐØAß sDÙÑ   !,
uma vez que, pela desigualdade de Cauchy-Schwarz,
dÐØAß sDÙÑ Ÿ lØAß sDÙl Ÿ mAmmDm
s Ÿ ". 

III.7.34 (O funcional associado a uma medida vetorial) Sejam \ um espaço


topológico localmente compacto, separado e de base contável, I um espaço
de Hilbert sobre Š, igual a ‘ ou ‚, e =À U\ Ä I uma medida vetorial nos
borelianos de \ . Podemos então considerar a medida positiva associada
l=lÀ U\ Ä ‘ , que é uma medida de Radon em \ , e tem lugar um funcional
400 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

linear associado a =,

F= À V- Ð\ß IÑ Ä Š, F= Ð0 Ñ œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ,

onde a aplicação bilinear contínua I ‚ I Ä Š envolvida é, naturalmente, o


produto interno.178 Além disso:
a) A aplicação linear F= À V- Ð\ß IÑ Ä Š é contínua com norma
mF= m œ l=lÐ\Ñ.
b) O funcional linear positivo Fl=l associado à medida positiva l=l (cf.
III.4.26) verifica a condição de, para cada : − V- Ð\ß ‘ Ñ (cf. III.4.25),
Fl=l Ð:Ñ ser o supremo dos números reais lF= Ð0 Ñl, com 0 − V- Ð\ß IÑ
verificando m0 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, para cada B − \ .
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes, afastando desde já o
caso trivial em que I œ Ö!×, caso em que se tem = œ !, e portanto também
l=l œ !:
1) O facto de l=l ser uma medida de Radon, isto é de os compactos de \
terem medida finita, resulta de que, como acontece com qualquer medida
vetorial, tem-se mesmo l=lÐ\Ñ  _.
2) Vamos verificar que tem lugar uma aplicação linear F= À V- Ð\ß IÑ Ä Š
definida pela fórmula no enunciado e que esta aplicação é contínua e com
norma mF= m Ÿ l=lÐ\Ñ.
Subdem: O facto de cada 0 − V- Ð\ß IÑ ser integrável relativamente à
medida = resulta de que, por III.4.9, 0 é integrável relativamente à medida de
Radon l=l. O facto de a aplicação F= À V- Ð\ß IÑ Ä Š ser linear resulta das
propriedades de linearidade do integral na alínea a) de III.7.30. Tendo em
conta a alínea b) do mesmo resultado, com Q œ ", tem-se

lF= Ð0 Ñl Ÿ ( m0 ÐBÑm .l=lÐBÑ Ÿ ( m0 m_ .l=lÐBÑ œ l=lÐ\Ñ m0 m_ ,


\ \

o que mostra que a aplicação linear F= À V- Ð\ß IÑ Ä Š é contínua e com


norma mF= m Ÿ l=lÐ\Ñ.
3) Tendo em conta III.7.20, sendo . œ l=l, podemos considerar uma apli-
cação .-integrável 2À \ Ä I com m2ÐBÑm œ ", para cada B − \ , tal que
= œ .Ð2Ñ e então, para cada aplicação integrável 0 À \ Ä I , relativamente a

( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ œ ( Ø0 ÐBÑß 2ÐBÑÙ .l=lÐBÑ.

4) Vamos provar a existência, para cada $  !, de uma aplicação


1 − V- Ð\ß IÑ tal que m1ÐBÑm Ÿ ", para cada B − \ , e

178Repare-se
que, no caso em que I œ ‘, com a multiplicação como produto interno, e =
é uma medida positiva finita, esta aplicação linear F= não é mais do que a definida em
III.4.26.
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 401

( m2ÐBÑ  1ÐBÑm . .ÐBÑ  $.

Subdem: O teorema de densidade em III.4.14, com : œ ", garante a


existência de s1 − V- Ð\ß IÑ tal que

( m2ÐBÑ  s1ÐBÑm . .ÐBÑ  $.

Podemos então definir 1 − V- Ð\ß IÑ por

1ÐBÑ œ 
s1ÐBÑ, se m1ÐBÑm
s Ÿ"
s1ÐBÑ
m1ÐBÑm
s
, se m1ÐBÑm
s  "

(tem restrições contínuas a dois subconjuntos fechados de \ de união \ e é


nula sempre que s1 for nula), que verifica m1ÐBÑm Ÿ ", para cada B − \ , e,
tendo em conta o lema geométrico III.7.33, vem, para cada B − \ ,
m2ÐBÑ  1ÐBÑm Ÿ m2ÐBÑ  s1ÐBÑm,
portanto também

( m2ÐBÑ  1ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ ( m2ÐBÑ  s1ÐBÑm ..ÐBÑ  $.

5) Vamos agora verificar, em complemento ao que se viu em 2), que se tem


mesmo mF= m œ l=lÐ\Ñ, o que terminará a verificação da conclusão de a).
Subdem: Podemos já afastar o caso trivial em que l=lÐ\Ñ œ !. Seja

1 − V- Ð\ß IÑ com m1m_ Ÿ " e ' m1ÐBÑ  2ÐBÑm . .ÐBÑ  $ . Vemos agora
!  $  l=lÐ\Ñ arbitrário. Tendo em conta o que se viu em 4), existe

que

l=lÐ\Ñ œ ( Ø2ÐBÑß 2ÐBÑÙ . .ÐBÑ œ

œ ( Ø2ÐBÑ  1ÐBÑß 2ÐBÑÙ . .ÐBÑ  ( Ø1ÐBÑß 2ÐBÑÙ . .ÐBÑ œ

œ ( Ø2ÐBÑ  1ÐBÑß 2ÐBÑÙ . .ÐBÑ  F= Ð1Ñ

e portanto, por ser

¹( Ø2ÐBÑ  1ÐBÑß 2ÐBÑÙ . .ÐBѹ Ÿ ( lØ2ÐBÑ  1ÐBÑß 2ÐBÑÙl ..ÐBÑ Ÿ

Ÿ ( m2ÐBÑ  1ÐBÑm . .ÐBÑ  $,

vemos que
402 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

l=lÐ\Ñ œ ll=lÐ\Ñl  $  lF= Ð1Ñl,


em particular lF= Ð1Ñl  !, e portanto 1 Á !, donde finalmente
lF= Ð1Ñl
  lF= Ð1Ñl  l=lÐ\Ñ  $ .
m1m_

6) Vamos justificar finalmente a conclusão de b).


Subdem: Seja : − V- Ð\ß ‘ Ñ. Para cada 0 − V- Ð\ß IÑ verificando
m0 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ para cada B − \ tem-se

lF= Ð0 Ñl œ ¹( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBѹ Ÿ ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ Ÿ

Ÿ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ Fl=l Ð:Ñ.

Resta-nos mostrar que, para cada $  !, existe 0 − V- Ð\ß IÑ verificando


m0 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, para cada B − \ , tal que
lF= Ð0 Ñl  Fl=l Ð:Ñ  $ ,

para o que podemos afastar o caso trivial em que : œ ! e considerar


Q œ m:m_  !. Mais uma vez pelo que vimos em 4), podemos considerar
1 − V- Ð\ß IÑ, com m1ÐBÑm Ÿ ", para cada B − \ , e

( m2ÐBÑ  1ÐBÑm. .ÐBÑ 


$
.
Q
Podemos então definir 0 − V- Ð\ß IÑ por 0 ÐBÑ œ :ÐBÑ1ÐBÑ, que verifica
m0 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, para cada B − \ , e de se ter

Fl=l Ð:Ñ œ ( :ÐBÑ..ÐBÑ œ ( Ø:ÐBÑ2ÐBÑß 2ÐBÑÙ..ÐBÑ œ

œ ( Ø:ÐBÑÐ2ÐBÑ  1ÐBÑÑß 2ÐBÑÙ..ÐBÑ  ( Ø0 ÐBÑß 2ÐBÑÙ..ÐBÑ œ

œ ( Ø:ÐBÑÐ2ÐBÑ  1ÐBÑÑß 2ÐBÑÙ..ÐBÑ  F= Ð0 Ñ,

onde

¹( Ø:ÐBÑÐ2ÐBÑ  1ÐBÑÑß 2ÐBÑÙ..ÐBѹ Ÿ ( lØ:ÐBÑÐ2ÐBÑ  1ÐBÑÑß 2ÐBÑÙl..ÐBÑ Ÿ

Ÿ ( :ÐBÑm2ÐBÑ  1ÐBÑm..ÐBÑ Ÿ

Ÿ Q ( m2ÐBÑ  1ÐBÑm..ÐBÑ  $

vemos que
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 403

Fl=l Ð:Ñ œ lFl=l Ð:Ñl  $  lF= Ð0 Ñl

ou seja lF= Ð0 Ñl  Fl=l Ð:Ñ  $ , como queríamos. 


III.7.35 (Linearidade na medida vetorial) Nas condições anteriores, fica defi-
nida uma aplicação antilinear do espaço das I -medidas =À U\ Ä I para o
espaço das aplicações lineares contínuas V- Ð\ß IÑ Ä Š, que a = associa F= .
Mais precisamente, dadas medidas vetoriais =ß =w À U\ Ä I e um escalar
+ − Š, tem-se
F==w œ F=  F=w , F+ = œ + F= .

Dem: Trata-se de uma consequência direta da linearidade do integral,


relativamente à medida, referida em III.7.31, tendo em atenção o facto de a
aplicação bilinear envolvida, o produto interno, sê-lo enquanto aplicação
I ‚ I Ä Š, e não enquanto aplicação I ‚ I Ä I . 
III.7.36 (Versão do teorema de Riesz para medidas vetoriais) Sejam \ um
espaço topológico localmente compacto, separado e de base contável, I um
espaço de Hilbert sobre Š, igual a ‘ ou ‚, e FÀ V- Ð\ß IÑ Ä Š uma
aplicação linear contínua. Existe então uma, e uma só, medida vetorial
=À U\ Ä I nos borelianos de \ tal que F œ F= , isto é, tal que, para cada
0 − V- Ð\ß IÑ,

FÐ0 Ñ œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ.

Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes.


1) Vamos começar por provar a unicidade, isto é, que se =ß =w À U\ Ä I são
medidas vetoriais tais que F= œ F=w , então tem-se = œ =w .
Subdem: Tendo em conta a linearidade em III.7.35, que implica que
F=  F=w œ F==w , bastará mostrar que se tem = œ !, sempre que F= œ !.
Ora isso resulta da alínea a) de III.7.34 visto que se tem então
l=lÐ\Ñ œ mF= m œ !,
e portanto, para cada boreliano E, m=ÐEÑm Ÿ l=lÐEÑ œ ! e =ÐEÑ œ !.
2) Podemos definir, para cada : − V- Ð\ß ‘ Ñ, um elemento AÐ:Ñ − ‘ ,
como sendo o supremo dos lFÐ0 Ñl, com 0 − V- Ð\ß IÑ verificando
m0 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, para cada B − \ . Tem-se, além disso,
AÐ:Ñ Ÿ mFmm:m_ ,
em particular AÐ!Ñ œ !.
Subdem: Começamos por notar que existe pelo menos um elemento
0 − V- Ð\ß IÑ verificando m0 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, para cada B − \ , nomeadamente
0 œ !. Além disso, para cada 0 nestas condições tem-se m0 m_ Ÿ m:m_ ,
portanto
404 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

lFÐ0 Ñl Ÿ mFmm0 m_ Ÿ mFmm:m_


o que garante que o supremo AÐ:Ñ é finito e verifica e desigualdade enun-
ciada.
3) Se : − V- Ð\ß ‘ Ñ e + − ‘ , então
AÐ+:Ñ œ +AÐ:Ñ.

Subdem: Podemos já supor +  !, uma vez que o caso + œ ! é


simplesmente a igualdade AÐ!Ñ œ !. Reparemos agora que, para cada
0 − V- Ð\ß IÑ que verifica m0 ÐBÑm Ÿ +:ÐBÑ, para cada B − \ , tem-se
também m +" 0 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ, para cada B − \ , donde
" "
lFÐ0 Ñl œ lFÐ 0 ÑÑ Ÿ AÐ:Ñ,
+ +
ou seja, lFÐ0 Ñl Ÿ +AÐ:Ñ, o que implica, tendo em conta a definição de
AÐ+:Ñ como um supremo, que AÐ+:Ñ Ÿ +AÐ:Ñ. Para a desigualdade oposta,
reparamos que, utilizando a conclusão a que já chegámos, com +" no lugar de
+ e +: no lugar de :, pode-se escrever
" "
+AÐ:Ñ œ +AÐ +:Ñ Ÿ + AÐ+:Ñ œ AÐ+:Ñ.
+ +
4) Sendo :ß < − V- Ð\ß ‘ Ñ, tem-se
AÐ:Ñ  AÐ<Ñ Ÿ AÐ:  <Ñ.

Subdem: Seja $  ! arbitrário. Podemos considerar 0 ß 1 − V- Ð\ß IÑ,


com m0 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ e m1ÐBÑm Ÿ <ÐBÑ, para cada B − \ , tais que
$ $
lFÐ0 Ñl  AÐ:Ñ  , lFÐ1Ñl  AÐ<Ñ  .
# #
Consideremos +ß , − Š, com l+l œ l,l œ " tais que
lFÐ0 Ñl œ +FÐ0 Ñ, lFÐ1Ñl œ ,FÐ1Ñ

(se FÐ0 Ñ œ !, tomar + œ " e, caso contrário, tomar + œ lF Ð0 Ñl


FÐ0 Ñ e analoga-
mente para , ). Podemos então considerar 2 œ +0  ,1 − V- Ð\ß IÑ, para o
qual se tem, para cada B − \ ,
m2ÐBÑm Ÿ m+0 ÐBÑm  m,1ÐBÑm œ m0 ÐBÑm  m1ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ  < ÐBÑ
e vem
FÐ2Ñ œ +FÐ0 Ñ  ,FÐ1Ñ œ lFÐ0 Ñl  lFÐ1Ñl
e portanto
AÐ:  <Ñ   lFÐ2Ñl œ FÐ2Ñ  AÐ:Ñ  AÐ<Ñ  $
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 405

o que implica a desigualdade enunciada, tendo em conta a arbitrariedade de


$.
5) Vamos agora verificar que, para :ß < − V- Ð\ß ‘ Ñ, tem-se mesmo
AÐ:Ñ  AÐ<Ñ œ AÐ:  <Ñ,
faltando-nos portanto apenas provar que
AÐ:  <Ñ Ÿ AÐ:Ñ  AÐ<Ñ.

Subdem: Seja 2 − V- Ð\ß IÑ arbitrário, verificando a desigualdade


m2ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ  <ÐBÑ, para cada B − \ . Consideremos as aplicações
0 ß 1À \ Ä I definidas por

0 ÐBÑ œ  :ÐBÑ<ÐBÑ
:ÐBÑ
2ÐBÑ, se :ÐBÑ  <ÐBÑ  !
!, se :ÐBÑ  <ÐBÑ œ !
,
1ÐBÑ œ 
<ÐBÑ
:ÐBÑ<ÐBÑ 2ÐBÑ, se :ÐBÑ  <ÐBÑ  !
!, se :ÐBÑ  <ÐBÑ œ !

que verificam 0 ÐBÑ  1ÐBÑ œ 2ÐBÑ, para cada B − \ . Apesar de isso não ser
eventualmente claro à primeira vista, a aplicação 0 , e portanto também a
aplicação 1 œ 2  0 , é contínua. Com efeito, sendo Z o aberto de \
constituído pelos pontos com :ÐBÑ  <ÐBÑ  !, a função tem restrição
contínua a Z , e portanto é contínua nos pontos de Z , e a continuidade num
ponto B! − \ Ï Z resulta da continuidade de 2 nesse ponto e de se ter
0 ÐB! Ñ œ 2ÐB! Ñ œ ! e portanto, para cada B − \ ,
m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm œ m0 ÐBÑm Ÿ m2ÐBÑm œ m2ÐBÑ  2ÐB! Ñm.
O facto de se ter 0 ÐBÑ œ 1ÐBÑ œ !, sempre que 2ÐBÑ œ ! implica que se tem
também 0 ß 1 − V- Ð\ß IÑ e, por ser m2ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ  <ÐBÑ, tem-se, para
cada B − \ , m0 ÐBÑm Ÿ :ÐBÑ e m1ÐBÑm Ÿ <ÐBÑ. Vemos agora que
mFÐ2Ñm œ mFÐ0 Ñ  FÐ1Ñm Ÿ mFÐ0 Ñm  mFÐ1Ñm Ÿ AÐ:Ñ  AÐ< Ñ,
donde, tendo em conta a arbitrariedade de 2, AÐ:  <Ñ Ÿ AÐ:Ñ  AÐ<Ñ.
6) Existe uma medida de Radon .À U\ Ä ‘ , com .Ð\Ñ Ÿ mFm, tal que,
para cada : − V- Ð\ß ‘ Ñ,

AÐ:Ñ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ.

Subdem: Tendo em conta III.4.28, a aplicação AÀ V- Ð\ß ‘ Ñ Ä ‘


definida em 2) admite um único prolongamento a uma aplicação linear
AÀ V- Ð\ß ‘Ñ Ä ‘, o qual vai ser um funcional linear positivo, e, por aplica-
ção do teorema de Riesz em III.4.27, podemos considerar uma única medida
de Radon .À U\ Ä ‘ tal que A œ F. para a qual, em particular, .Ð\Ñ é o
supremo dos números reais da forma AÐ:Ñ œ AÐ:Ñ com : ¡ \ (cf. a
406 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

notação em III.4.10). Uma vez que, para cada : nessas condições, tem-se
m:m_ Ÿ ", e portanto, pelo que se viu em 2), A(:) Ÿ mFm, concluímos que
.Ð\Ñ Ÿ mFm, em particular a medida de Radon . é finita. Para cada
: − V- Ð\ß ‘ Ñ tem-se então

AÐ:Ñ œ AÐ:Ñ œ F. Ð:Ñ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ.

7) Vamos concluir finalmente a existência de uma medida vetorial


=À U\ Ä I tal que, para cada 0 − V- Ð\ß IÑ,

FÐ0 Ñ œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ.

Subdem: Para cada 0 − V- Ð\ß IÑ, tem-se, considerando


: − V- Ð\ß ‘ Ñ, :ÐBÑ œ m0 ÐBÑm,

lFÐ0 Ñl Ÿ AÐ:Ñ œ ( :ÐBÑ . .ÐBÑ œ mÒ0 Óm" ,

onde a classe de equivalência de 0 e a norma m † m" são, naturalmente, as


relativas à medida positiva . (que é a única que temos presente). Em
particular, se 0 ÐBÑ œ ! .-quase sempre, então FÐ0 Ñ œ !, e portanto, se
0 ÐBÑ œ s0 ÐBÑ .-quase sempre, então FÐ0 Ñ œ FÐ0 s Ñ, o que permite definir
uma aplicação linear contínua do espaço vetorial G- Ð\ß IÑ, das classes de
equivalência de elementos de V- ÐGß IÑ, com a norma m † m" , para Š, que a
Ò0 Ó associa FÐ0 Ñ. Uma vez que, por III.4.14, G- Ð\ß IÑ é um subespaço
vetorial denso de P" Ð\ß IÑ, o teorema de Topolgia sobre a extensão das
aplicações lineares contínuas garante a existência de uma única aplicação
linear contínua FÀ P" Ð\ß IÑ Ä Š tal que, para cada 0 − V- Ð\ß IÑ,
FÐÒ0 ÓÑ œ FÐ0 Ñ. Aplicando agora o resultado de dualidade em III.7.26,
concluímos a existência de Ò1Ó − P_ Ð\ß IÑ tal que, para cada
Ò0 Ó − P" Ð\ß IÑ,

FÐÒ0 ÓÑ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ.

Tendo em conta III.2.23, tem-se também Ò1Ó − P" Ð\ß IÑ e portanto podemos
considerar a medida vetorial = œ .Ð1Ñ À U\ Ä I , para a qual

FÐ0 Ñ œ FÐÒ0 ÓÑ œ ( Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ ..ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ ‚ .=ÐBÑ. 

III.7.37 (Uma variante trivial no caso I œ ‚, no mesmo espírito que em


III.7.27) 1) No caso particular em que o espaço de Hilbert I , sobre o corpo
Š, é o próprio Š, naturalmente com o produto interno habitual
Ø+ß ,Ù œ + ‚ ,, no contexto de um espaço topológico localmente compacto,
separado e de base contável \ , para cada medida =À U\ Ä Š, o funcional
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 407

linear associado F= À V- Ð\ß ŠÑ Ä Š, definido em III.7.34, está definido por

F= Ð0 Ñ œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ,

onde a aplicação bilinear envolvida é o produto interno, isto é, a aplicação


Š ‚ Š Ä Š definida por Ð+ß ,Ñ È + ‚ ,. Em particular, no caso em que
Š œ ‘ (e portanto a conjugação é a identidade) o produto interno é
simplesmente a multiplicação ‘ ‚ ‘ Ä ‘ e, de acordo com a convenção em
III.7.29, podemos escrever simplesmente

F= Ð0 Ñ œ ( 0 ÐBÑ . =ÐBÑ.

2) Já no caso em que I œ Š œ ‚, podemos considerar um funcional linear


Fw= À V- Ð\ß ‚Ñ Ä ‚, distinto de F= definido por

Fw= Ð0 Ñ œ ( 0 ÐBÑ . =ÐBÑ,

portanto com a multiplicação ‚ ‚ ‚ Ä ‚ como aplicação bilinear envol-


vida, em vez do produto interno.
Em contextos em que não se considera importante examinar a situação geral
das medidas vetoriais e se examinam portanto apenas as medidas reais e
complexas, é este o funcional linear que é costume considerar, usando-se,
consequentemente, a notação F= no lugar de Fw= .
3) As propriedades dos funcionais lineares Fw= , no espírito de III.7.34, assim
como o análogo do teroema de Riesz em III.7.36, resultam trivialmente das
propriedades estabelecidas nesse resultado, para os funcionais F= , desde que
reparemos que se tem Fw= œ F= , onde = é a medida conjugada de =, definida
em III.7.10.
Esta igualdade resulta simplesmente de que, sendo . œ l=l œ l=l e sendo
1À \ Ä ‚ uma aplicação .-integrável com l1ÐBÑl œ ", para cada B − \ , e
= œ .Ð1Ñ , tem-se, por III.7.14, = œ .Ð1Ñ , e portanto

Fw= Ð0 Ñ œ ( 0 ÐBÑ . =ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ


\

œ ( 0 ÐBÑ 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ œ F= Ð0 Ñ.


\

Também como consequência da mesma igualdade Fw= œ F= , vemos que,


diferentemente da situação referida em III.7.35, a aplicação do espaço das
medidas vetoriais complexas para o espaço das aplicações lineares contínuas
V- Ð\ß ‚Ñ Ä ‚, que a = associa F=w , é agora linear, em vez de antilinear.
408 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Exercícios

Ex III.7.1 (Propriedade minimizante da medida de variação total) Sejam


Ð\ß `Ñ um espaço mensurável, I um espaço de Banach e =À ` Ä I uma
I -medida. Mostrar que, se .À ` Ä ‘ é uma medida positiva tal que, para
cada E − `, m=ÐEÑm Ÿ .ÐEÑ, então, para cada E − `, l=lÐEÑ Ÿ .ÐEÑ.
Ex III.7.2 (O espaço de Banach das I -medidas) Sejam Ð\ß `Ñ um espaço
mensurável e I um espaço de Banach. Reparar que, tendo em conta III.7.7,
III.7.9 e a alínea a) de III.7.6, o conjunto MedÐ\ß IÑ das I -medidas é um
espaço vetorial.
a) Verificar que MedÐ\ß IÑ é um espaço vetorial normado desde que se
defina m=m œ l=lÐ\Ñ.
b) Verificar que o espaço vetorial normado MedÐ\ß IÑ é um espaço de
Banach.
Sugestão generosa: Consideremos uma sucessão de Cauchy de medidas
vetoriais =8 À ` Ä I .
1) Mostrar que, para cada E − `,
m=7 ÐEÑ  =8 ÐEÑm Ÿ l=7  =8 lÐEÑ Ÿ m=7  =8 m
e deduzir que a sucessão de vetores =8 ÐEÑ de I é de Cauchy, o que permite
definir =ÐEÑ − I como o limite desta sucessão de vetores.
2) Seja ÐE4 Ñ4−N uma família contável de conjuntos de ` disjuntos dois
a dois e notemos E a união dos E4 . Seja $  ! arbitrário e fixemos 8! tal
que, para 7ß 8   8! , m=7  =8 m Ÿ $ . Mostrar que, para cada parte finita M
de N ,
" m=7 ÐE4 Ñ  =8 ÐE4 Ñm Ÿ l=7  =8 lÐEÑ Ÿ m=7  =8 m
4−M

e deduzir, por passagem ao limite, que, se 8   8! ,


(1) " m=ÐE4 Ñ  =8 ÐE4 Ñm Ÿ $
4−M

e portanto
" m=ÐE4 Ñm Ÿ $  " m=8 ÐE4 Ñm Ÿ $  l=8 lÐEÑ,
4−M 4−M

o que permite concluir que a família dos =ÐE4 Ñ é absolutamente somável.


Mostrar que, para cada parte finita M de N , tem-se, lembrando (1),
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 409

m=ÐEÑ  " =ÐE4 Ñm Ÿ m=8! ÐEÑ  " =8! ÐE4 Ñm 

 m=ÐEÑ  =8! ÐEÑm  " m=ÐE4 Ñ  =8! ÐE4 Ñm Ÿ


4−M 4−M

Ÿ m=8! ÐEÑ  " =8! ÐE4 Ñm  #$


4−M

4−M

e concluir que, sempre que M contém uma certa parte finita M! de N ,


m=ÐEÑ  " =ÐE4 Ñm Ÿ $$ ,
4−M

o que implica que =ÐEÑ œ ! =ÐE4 Ñ, que é a única propriedade não trivial
4−N
que é preciso estabelecer para concluir que = é uma medida vetorial.
3) Reparar que a fórmula (1), estabelecida em 2), implica que, para cada
8   8! ,
m=  =8 m œ l=  =8 lÐ\Ñ Ÿ $ ,
concluindo assim que a sucessão das I -medidas =8 converge para a
I -medida = em MedÐ\ß IÑ.
Ex III.7.3 (Decomposição de Jordan de uma medida real) Sejam Ð\ß `Ñ um
espaço mensurável e =À ` Ä ‘ uma medida real.
a) Mostrar que existem medidas positivas finitas únicas = ß = À ` Ä ‘
tais que, para cada E − `,
=ÐEÑ œ = ÐEÑ  = ÐEÑ, l=lÐEÑ œ = ÐEÑ  = ÐEÑ

(diz-se que = e = definem a decomposição de Jordan de =).


b) Mostrar que as medidas positivas = e = são mutuamente singulares (cf.
III.3.5). Sugestão: Considerar uma função 0 À \ Ä Ö"ß "× § ‘ nas
condições do corolário III.7.20 e considerar o conjunto F dos B − \ tais que
0 ÐBÑ œ ".
c) Utilizar a conclusão do exercício III.7.1 para mostrar que, dadas medidas
positivas finitas .ß .
sÀ ` Ä ‘ tais que =ÐEÑ œ .ÐEÑ  . sÐEÑ, para cada
E − `, então, para cada E − `, = ÐEÑ Ÿ .ÐEÑ e = ÐEÑ Ÿ . sÐEÑ e
deduzir que, se . e . s são mutuamente singulares, então . œ = e . s œ = .
Sugestão: Sendo F − ` com .ÐFÑ œ ! e . sÐ\ Ï FÑ œ !, considerar uma
medida positiva finita 3À ` Ä ‘ definida por
3ÐEÑ œ .ÐEÑ  = ÐEÑ œ .
sÐEÑ  = ÐEÑ
e deduzir que 3 œ ! por ser 3ÐEÑ œ ! tanto para E § F como para
E § \ Ï F.
Ex III.7.4 (Contraexemplo para quem conheça o teorema de Hahn-Banach
— cf. Lang [7]) Consideremos a medida de Lebesgue nos borelianos do
410 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

intervalo Ò!ß "Ó. Seja


GÐÒ!ß "Óß ‘Ñ œ G- ÐÒ!ß "Óß ‘Ñ § P_ ÐÒ!ß "Óß ‘Ñ
o espaço vetorial das classes de equivalência de funções contínuas
0 À Ò!ß "Ó Ä ‘.
a) Verificar que, para cada função contínua 0 À Ò!ß "Ó Ä ‘, tem-se
mÒ0 Óm_ œ max l0 ÐBÑl
B−Ò!ß"Ó

(por outras palavras, o supremo essencial coincide, neste caso, com o


supremo e é mesmo um máximo).
b) Verificar que se pode definir uma aplicação linear contínua
FÀ GÐÒ!ß "Óß ‘Ñ Ä ‘, FÐÒ0 ÓÑ œ 0 Ð"Ñ,

onde 0 À Ò!ß "Ó Ä ‘ é contínua e consideramos em GÐÒ!ß "Óß ‘Ñ a norma


m † m_ . Utilizando o teorema de Hahn-Banach, concluir a existência de uma
aplicação linear contínua
FÀ P_ ÐÒ!ß "Óß ‘Ñ Ä ‘
que prolongue FÞ
c) Mostrar que, no entanto, não existe Ò1Ó − P" ÐÒ!ß "Óß ‘Ñ que “represente” F,
isto é, tal que

FÐÒ0 ÓÑ œ (
"
0 ÐBÑ1ÐBÑ .B,
!

para cada Ò0 Ó − P_ ÐÒ!ß "Óß ‘Ñ. Sugestão: Se existisse um tal Ò1Ó, viria, em
particular, para cada 8   ",

(
"
B8 1ÐBÑ .B œ ",
!

quando o teorema da convergência dominada implica que aqueles integrais


constituem ums sucessão convergente para !.
Ex III.7.5 (Construção alternativa mais geral do integral para uma medida
vetorial) Sejam I , J e K espaços de Banach e 0À I ‚ J Ä K uma
aplicação bilinear contínua, para a qual, para A − I e D − J , usamos a
notação A ‚ D como alternativa a 0ÐAß DÑ. Sejam Ð\ß `Ñ um espaço
mensurável, =À ` Ä J uma J -medida e . œ l=lÀ ` Ä ‘ a medida de
variação total de =.
a) Verificar que é possível definir o integral de uma função simples
0 À \ Ä I, relativamente à medida vetorial =, por
§7. Medidas vetoriais e resultados de dualidade 411

( 0 ‚ . = œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ œ " A4 ‚ =Ð\4 Ñ − K,


4−N

onde Ð\4 Ñ4−N é uma família finita arbitrária de conjuntos mensuráveis,


disjuntos dois a dois e de união \ tal que 0 ÐBÑ tenha o valor constante
A4 − I para cada B − \4 . Sugestão: Examinar o que foi feito na secção II.2,
para definir o integral de uma aplicação em escada para uma medida positiva,
reparando que a situação é agora mais simples por não haver conjuntos de
medida infinita,
b) Enunciar e justificar as propriedades de linearidade do integral das
aplicações simples e mostrar que, sendo Q   ! tal que
m0ÐAß DÑm Ÿ Q mAmmDm, para cada A − I e D − J , tem-se, para cada
aplicação simples 0 À \ Ä I ,

½( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBѽ Ÿ Q ( m0 ÐBÑm . .ÐBÑ.

c) Dizemos que uma aplicação 0 À \ Ä I é integrável, relativamente à


medida vetorial =, se ela for integrável relativamente à medida positiva
. œ l=l. Mostrar que para uma tal aplicação, pode-se definir o seu integral

( 0 ‚ . = œ ( 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ − K

como sendo o limite dos integrais ' 08 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ, onde Ð08 Ñ8− é uma
sucessão dominada de aplicações simples 08 À \ Ä I (cf. II.2.28, com a
medida positiva . œ l=l) tal que, para cada B − \ , 08 ÐBÑ Ä 0 ÐBÑ. Verificar
ainda que as aplicações simples são integráveis e o seu integral, como
definido nesta alínea, coincide com o seu integral definido em a).
Sugestão: Examinar o que foi feito para definir o integral das aplicações
integráveis, para uma medida positiva, em II.2.30.
d) Enunciar e justificar as propriedades de linearidade do integral das aplica-
ções integráveis, relativamente à função integranda.
e) Enunciar e justificar as propriedades de linearidade do integral das aplica-
ções integráveis, relativamente à medida vetorial considerada.
f) Suponhamos agora que partimos de uma medida positiva .À ` Ä ‘ , que
consideramos uma aplicação .-integrável 1À \ Ä J e que consideramos a
correspondente medida vetorial .Ð1Ñ ` Ä J . Mostrar que, se 0 À \ Ä I é
uma aplicação integrável relativamente à medida vetorial .Ð1Ñ então a
aplicação 0 ‚ 1À \ Ä K é integrável relativamente à medida positiva . e

( 0 ÐBÑ ‚ . .Ð1Ñ ÐBÑ œ ( 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ . .ÐBÑ.

Concluir, em particular, que, no caso em que J é um espaço de Hilbert, o


integral definido neste exercício coincide com o definido em III.7.28.
412 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Ex III.7.6 Sejam I um espaço de Banach, \ um espaço topológico localmente


compacto, separado e com base contável e .À U\ Ä ‘ uma medida de
Radon. Seja 0 − V- Ð\ß IÑ, com a correspondente classe de equivalência
Ò0 Ó − P_ Ð\ß IÑ.
a) Reparar que se tem sempre
mÒ0 Óm_ Ÿ m0 m_
e dar um exemplo de uma situação em que esta desigualdade seja estrita.
b) Mostrar que, no caso em que . é uma medida de Radon estritamente
positiva, por exemplo a medida de Lebesgue nos borelianos de um aberto de
‘ 8 (cf. o exercício III.4.1), tem-se mesmo
mÒ0 Óm_ œ m0 m_ .

§8. O integral indefinido revisitado.

Nesta secção vamos examinar um resultado clássico sobre a derivabili-


dade do integral indefinido que complementa os que foram estudados na
secção II.3. Seguimos essencialmente a via utilizada no livro de Rudin
[10], que passa por resultados que implicam o referido e que podem ser
enunciados no contexto mais geral de ‘8 , embora com as simplificações
que foram possíveis pelo facto de não irmos tão longe como nesse livro.
Nesta secção, e salvo aviso em contrário, a norma que consideraremos em
‘8 será a norma euclidiana, associada ao produto interno usual e conti-
nuaremos a notar -8 a medida de Lebesgue nos borelianos de ‘8 .

III.8.1 (Lema)179 Consideremos uma família de bolas abertas F<4 ÐB4 Ñ de ‘8 ,


onde 4 − N , e seja [ a sua união. Para cada real +  -8 Ð[ Ñ existe então
uma parte finita M § N tal que os F<3 ÐB3 Ñ, com 3 − M , sejam disjuntos dois a
dois e com

" -8 ÐF<3 ÐB3 ÑÑ  8 .


+
3−M
$

Dem: Vamos dividir a demonstração em duas partes:


a) Comecemos por mostrar que, para cada parte finita N! § N , existe uma
parte finita M § N! tal que os F<3 ÐB3 Ñ, com 3 − M , sejam disjuntos dois a dois
e que, para cada 4 − N! Ï M , exista 3 − M com F<4 ÐB4 Ñ § F$<3 ÐB3 Ñ.
Subdem: Os casos em que N! é vazio ou tem um único elemento são

179Este lema é atribuído a Wiener em Rudin [10].


§8. O integral indefinido revisitado 413

triviais, uma vez que podemos tomar M œ N! . Provemos a nossa afirmação


por indução no número de elementos de N! , para o que supomos a afirmação
verdadeira quando N! tem 5 elementos e examinamos o que acontece quando
N! tem 5  " elementos. Consideremos então 4! − N! tal que <4! Ÿ <4 para
cada 4 − N! e apliquemos a hipótese de indução ao conjunto N!w œ N! Ï Ö4! ×.
Existe assim uma parte finita M w § N!w tal que os F<3 ÐB3 Ñ, com 3 − M w , sejam
disjuntos dois a dois e que, para cada 4 − N!w Ï M w , exista 3 − M w com
F<4 ÐB4 Ñ § F$<3 ÐB3 Ñ. No caso em F<4! ÐB4! Ñ  F<3 ÐB3 Ñ œ g, para cada 3 − M w ,
obtemos trivialmente o resultado pretendido com M œ M w  Ö4! ×. No caso em
que existe 3 − M w tal que F<4! ÐB4! Ñ  F<3 ÐB3 Ñ Á g, obtemos o resultado
pretendido com M œ M w , uma vez que, sendo C um elemento daquela inter-
secção, vem, para cada B − F<4! ÐB4! Ñ,
.ÐB3 ß BÑ Ÿ .ÐB3 ß CÑ  .ÐCß B4! Ñ  .ÐB4! ß BÑ Ÿ <3  #<4! Ÿ $<3 ,

o que mostra que F<4! ÐB4! Ñ § F$<3 ÐB3 Ñ.


b) Passamos agora à demonstração do resultado. Tendo em conta a regula-
ridade interior da medida de Lebesgue (cf. a alínea c) de III.4.6), conside-
remos um compacto O § [ tal que +  -8 ÐOÑ. Podemos então considerar
uma parte finita N! § N tal que O esteja contido na união dos F<4 ÐB4 Ñ com
4 − N! e, aplicando o que se viu em a), uma parte finita M § N! tal que os
F<3 ÐB3 Ñ, com 3 − M , sejam disjuntos dois a dois e que, para cada 4 − N! Ï M ,
exista 3 − M com F<4 ÐB4 Ñ § F$<3 ÐB3 Ñ. Uma vez que, tendo em conta o
comportamento da medida de Lebesgue com as translações e as homotetias,
tem-se
-8 ÐF$<3 ÐB3 ÑÑ œ -8 ÐF$<3 Ð!ÑÑ œ $8 -8 ÐF<3 Ð!ÑÑ œ $8 -8 ÐF<3 ÐB3 ÑÑ,

e que
O § . F<4 ÐB4 Ñ § . F$<3 ÐB3 Ñ,
4−N! 3−M

vemos agora que


+  -8 ÐOÑ Ÿ " -8 ÐF$<3 ÐB3 ÑÑ œ $8 " -8 ÐF<3 ÐB3 ÑÑ. 
3−M 3−M

III.8.2 Sejam Y § ‘8 um aberto, . uma medida positiva de Radon nos bore-


lianos de Y (cf. III.4.1) e B! − Y . Sendo <!  ! com F<! ÐB! Ñ § Y para cada
!  <  <! , a bola aberta F< ÐB! Ñ está contida na correspondente bola
fechada, que é um compacto contido em Y , e portanto tem-se
.ÐF< ÐB! ÑÑ  _, o que nos permite considerar o quociente
.ÐF< ÐB! ÑÑ
− ‘ ,
-8 ÐF< ÐB! ÑÑ
414 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

que pode ser encarado intuitivamente como uma densidade média da medida
. na bola F< ÐB! Ñ. Vamos dizer que a medida de Radon . tem densidade nula
no ponto B! se se tiver
.ÐF< ÐB! ÑÑ
lim œ !.
<Ä! -8 ÐF< ÐB! ÑÑ
Uma observação simples, que nos será por vezes útil, é que, no caso em que
. tem densidade nula em B! , considerando as bolas fechadas F < ÐB! Ñ tem-se
também
.ÐF < ÐB! ÑÑ
lim œ !.
<Ä! -8 ÐF< ÐB! ÑÑ

Dem: Basta atender a que, por ser F < ÐB! Ñ § F#< ÐB! Ñ e
-8 ÐF#< ÐB! ÑÑ œ -8 Ð# F< ÐB! ÑÑ œ #8 -8 ÐF< ÐB! ÑÑ,
tem-se
.ÐF < ÐB! ÑÑ .ÐF#< ÐB! ÑÑ .ÐF#< ÐB! ÑÑ
Ÿ œ #8 ,
-8 ÐF< ÐB! ÑÑ -8 ÐF< ÐB! ÑÑ -8 ÐF#< ÐB! ÑÑ
onde o segundo membro tem limite ! quando < tende para !. 
III.8.3 (Teorema da densidade nula) Sejam Y § ‘8 um aberto, . uma medida
positiva de Radon nos borelianos de Y e E § Y um boreliano com
.ÐEÑ œ !. Tem-se então que o conjunto Ew , dos pontos B − E tais que . tem
densidade nula em B, é um boreliano tal que -8 ÐE Ï Ew Ñ œ ! (podemos assim
dizer que quase todos os pontos de E são pontos onde . tem densidade
nula).
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:
a) Será cómodo considerarmos uma medida . nos borelianos de ‘8 , definida
por .ÐEÑ œ .ÐE  Y Ñ, medida cuja restrição aos borelianos de Y é a medida
. e que pode ser encarada como a imagem directa da medida . pela inclusão
de Y em ‘8 (cf. I.5.13).180
b) Para cada <  !, é mensurável a função E Ä ‘ , B È .ÐF< ÐBÑÑ.
Subdem: Trata-se de uma consequência direta do teorema de Fubini
para conjuntos (cf. a alínea a) de II.4.6), considerando o produto E ‚ ‘8 , em
que no primeiro fator se considera a medida induzida pela medida de
Lebesgue nos borelianos de ‘8 e no segundo a medida ., e considerando o
subconjunto aberto, em particular boreliano, G de E ‚ ‘8 constituído pelos
pares ÐBß CÑ com B − E, C − ‘8 e mB  Cm  <.
c) Para cada $  !, vamos notar E$ o conjunto dos B − E tais que existe
<"  ! tal que para cada !  <  <"

180Observe-se, no entanto, que, ao contrário de ., a medida . não é necessariamente uma


medida de Radon.
§8. O integral indefinido revisitado 415

.ÐF< ÐBÑÑ
Ÿ $.
-8 ÐF< ÐBÑÑ
Tem-se então que E$ é um boreliano.
Subdem: Comecemos por notar que, fixado <"  !, a condição de se
.ÐF< ÐBÑÑ
ter -8 ÐF< ÐBÑÑ Ÿ $ para todo o real < com !  <  <" é equivalente à de isso
acontecer para todo o racional < com !  <  <" . Com efeito, se a condição
se verificar para todo o racional < entre ! e <" , dado um irracional < entre ! e
<" , podemos considerar uma sucessão crescente de racionais =:  ! com
=: Ä < e então o facto de F< ÐBÑ ser a união da sucessão crescente de bolas
F=: ÐBÑ implica que .ÐF=: ÐBÑÑ Ä .ÐF< ÐBÑÑ e -8 ÐF=: ÐBÑÑ Ä -8 ÐF< ÐBÑÑ e
.ÐF=: ÐBÑÑ
portanto, por se ter, para cada :, -8 ÐF=: ÐBÑÑ Ÿ $ , concluímos, por passagem ao
.ÐF< ÐBÑÑ
limite, que se tem efetivamente -8 ÐF< ÐBÑÑ Ÿ $ .
Uma vez que, pela invariância por translação da medida de Lebesgue, tem-se
-8 ÐF< ÐBÑÑ œ -8 ÐF< Ð!ÑÑ, concluímos de b) que, para cada <  !, é boreliano
o conjunto E$ ß< dos B − E tais que -.8ÐF < ÐBÑÑ
ÐF< ÐBÑÑ Ÿ $ . Concluímos daqui que, para
cada <"  !, o conjunto E s$ ß<" dos B − E tais que, para todo o !  <  <" ,
.ÐF< ÐBÑÑ
Ÿ $ é também boreliano, uma vez que, como notado atrás, é a inter-
-8 ÐF< ÐBÑÑ
secção contável dos E$ß< com < racional entre ! e <" . Reparando finalmente
que E$ vai ser a união contável dos E s$ß<" com <" racional maior que !,
podemos concluir que E$ é efetivamente um boreliano.
d) Vamos agora mostrar que, para cada $  !, tem-se -8 ÐE Ï E$ Ñ œ !.
Subdem: Seja &  ! arbitrário. Tendo em conta a regularidade exterior
da medida . (cf. a alínea b) de III.4.6), seja Z um aberto de ‘8 , com
E § Z § Y , tal que .ÐZ Ñ  &. Para cada B − E Ï E$ , depois de considerar
uma bola aberta de centro B contida em Z , podemos, pela caracterização dos
pontos de E$ , considerar <B  ! menor que o respetivo raio de modo que se
tenha
.ÐF<B ÐBÑÑ
F<B ÐBÑ § Z ,  $.
-8 ÐF<B ÐBÑÑ

Sendo +  -8 ÐE Ï E$ Ñ arbitrário, vem também

+  -8 Š . F<B ÐBÑ‹
B−EÏE$

pelo que, pelo lema III.8.1, podemos considerar uma parte finita M de E Ï E$
tal que as bolas abertas F<B ÐBÑ com B − M sejam disjuntas duas a duas e com

" -8 ÐF<B ÐBÑÑ 


+
B−M
$8

o que implica que


416 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

+  $8 " -8 ÐF<B ÐBÑÑ Ÿ " .ÐF<B ÐBÑÑ œ


$8
B−M
$ B−M

.Š. F<B ÐBÑ‹ Ÿ


$8 $8 $8 &
œ .ÐZ Ñ  .
$ B−M
$ $

Tendo em conta a arbitrariedade de +, concluímos agora que


$8 &
-8 ÐE Ï E$ Ñ Ÿ
$
e portanto, pela arbitrariedade de &, -8 ÐE Ï E$ Ñ œ !.
e) Reparemos agora que B − E é um ponto de densidade nula se, e só se,

ter B − E"Î5 , para todo o 5 − . Concluímos assim que Ew œ + E"Î5 , o que


para todo o $  !, B − E$ o que é trivialmente equivalente à condição de se

5−
implica que Ew é um boreliano e que

-8 ÐE Ï Ew Ñ œ -8 Š. E Ï E"Î5 ‹ Ÿ " -8 ÐE Ï E"Î5 Ñ œ !. 


5− 5−

III.8.4 (Resultado fundamental para a derivabilidade) Sejam Y § ‘8 um


aberto, I um espaço de Banach e 0 À Y Ä I uma aplicação localmente
integrável (cf. III.4.15).
Dado B! − Y , existe <!  ! com F<! ÐB! Ñ § Y e então, para cada !  <  <! ,
a bola aberta F< ÐB! Ñ está contida na correspondente bola fechada, que é um
compacto contido em Y , e portanto, por ser também localmente integrável a
aplicação B È 0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñ tem-se

( m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm . -8 ÐBÑ  _,


F< ÐB! Ñ

o que nos permite considerar o quociente

(
"
m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm . -8 ÐBÑ,
-8 ÐF< ÐB! ÑÑ F< ÐB! Ñ

que pode ser encarado intuitivamente como uma média na bola aberta da
função B È m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm.
Existe então um boreliano ] § Y , com -8 Ð] Ñ œ ! tal que, para cada
B! − Y Ï ] ,

(
"
lim m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm . -8 ÐBÑ œ !.
<Ä! -8 ÐF< ÐB! ÑÑ F< ÐB! Ñ

Dem: Uma vez que 0 Ð\Ñ § I é separável, podemos considerar uma parte
contável densa V de 0 Ð\Ñ. Para cada A − V e cada racional +  !, notemos
§8. O integral indefinido revisitado 417

GAß+ œ ÖB − Y ± m0 ÐBÑ  Am   +×,


YAß+ œ Y Ï GAß+ œ ÖB − Y ± m0 ÐBÑ  Am  +×,

que são borelianos de Y e seja .Aß+ a medida positiva nos borelianos de Y


definida por

.Aß+ Ð\Ñ œ ( m0 ÐBÑ  Am . -8 ÐBÑ œ ( m0 ÐBÑ  Am ˆGAß+ ÐBÑ . -8 ÐBÑ,


\GAß+ \

medida que é uma medida de Radon, uma vez que é localmente integrável a
aplicação B È 0 ÐBÑ  A e que se tem portanto, quando \ é compacto,

.Aß+ Ð\Ñ Ÿ ( m0 ÐBÑ  Am . -8 ÐBÑ  _.


\

Para cada A − V e cada racional +  !, tem-se .Aß+ ÐYAß+ Ñ œ ! pelo que


podemos aplicar o teorema da densidade nula (cf. III.8.3) para deduzir a
existência de um boreliano EAß+ § YAß+ tal que -8 ÐYAß+ Ï EAß+ Ñ œ ! e que,
para cada B − EAß+ , a medida .Aß+ tenha densidade nula em B. Uma vez que
a classe dos pares ÐAß +Ñ, com A − V e +  ! racional é contável, podemos
considerar o boreliano ] § Y , com -8 Ð] Ñ œ !, definido por

] œ . YAß+ Ï EAß+ ,
A−V
+!,+−

boreliano que vamos mostrar que verifica a condição no enunciado.


Consideremos então B! − Y Ï ] . Seja $  ! arbitrário. Fixemos um racional
+ tal que !  +  $$ e seja A − V tal que m0 ÐB! Ñ  Am  +. Tem-se então
B! − YAß+ e portanto, por ser B! Â ] , B! − EAß+ . O facto de a medida .Aß+
ter densidade nula em B! implica a existência de <"  ! tal que, para cada
!  <  <" ,
.Aß+ ÐF< ÐB! ÑÑ $
 ,
-8 ÐF< ÐB! ÑÑ $
e portanto

( m0 ÐBÑ  Am . -8 ÐBÑ œ
F< ÐB! Ñ

œ( m0 ÐBÑ  Am . -8 ÐBÑ  ( m0 ÐBÑ  Am . -8 ÐBÑ Ÿ


F< ÐB! ÑGAß+ F< ÐB! ÑYAß+Ñ

Ÿ .Aß+ ÐF< ÐB! ÑÑ  ( + . -8 ÐBÑ 


F< ÐB! ÑYAß+Ñ
$ #$
 -8 ÐF< ÐB! ÑÑ  + -8 ÐF< ÐB! ÑÑ  -8 ÐF< ÐB! ÑÑ,
$ $
418 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

donde também

( m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm . -8 ÐBÑ Ÿ


F< ÐB! Ñ

Ÿ( m0 ÐBÑ  Am  mA  0 ÐB! Ñm . -8 ÐBÑ


F< ÐB! Ñ
#$
 -8 ÐF< ÐB! ÑÑ  + -8 ÐF< ÐB! ÑÑ  $ -8 ÐF< ÐB! ÑÑ,
$
por outras palavras,

(
"
m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm . -8 ÐBÑ  $ .
-8 ÐF< ÐB! ÑÑ F< ÐB! Ñ

Ficou assim provado que se tem

(
"
lim m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm . -8 ÐBÑ œ !. 
<Ä! -8 ÐF< ÐB! ÑÑ F< ÐB! Ñ

III.8.5 (Corolário) Nas hipóteses do resultado precedente, existe um boreliano


] § Y , com -8 Ð] Ñ œ !, tal que, para cada B! − Y Ï ] ,

(
"
lim 0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ 0 ÐB! Ñ.
<Ä! -8 ÐF< ÐB! ÑÑ F ÐB Ñ
< !

Dem: Trata-se de uma consequência da conclusão do resultado precedente,


com o mesmo conjunto ] , bastando reparar que se tem

½ ( 0 ÐBÑ .-8 ÐBÑ  0 ÐB! ѽ œ


"
-8 ÐF< ÐB! ÑÑ F< ÐB! Ñ

œ½ ( ( 0 ÐB! Ñ .-8 ÐBѽ œ


" "
0 ÐBÑ .-8 ÐBÑ 
-8 ÐF< ÐB! ÑÑ F< ÐB! Ñ -8 ÐF< ÐB! ÑÑ F< ÐB! Ñ

œ½ ( 0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñ . -8 ÐBѽ Ÿ


"
-8 ÐF< ÐB! ÑÑ F< ÐB! Ñ

(
"
Ÿ m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm .-8 ÐBÑ. 
-8 ÐF< ÐB! ÑÑ F< ÐB! Ñ

III.8.6 (Aplicação à derivação do integral indefinido) Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘


um intervalo aberto não vazio, com extremidades finitas ou infinitas, I um
espaço de Banach e 0 À N Ä I uma aplicação localmente integrável (cf.
II.3.1 ou III.4.15)181. Seja >! − N e consideremos o correspondente integral

181Voltamos aqui à opção de considerar apenas intervalos abertos como domínios, para
simplificar os enunciados, tendo presente o facto já referido anteriormente de uma função
definida num intervalo fechado numa ou em ambas as extremidades poder ser natural-
mente prolongada a um intervalo aberto que o contém.
§8. O integral indefinido revisitado 419

indefinido s0 À N Ä I , definido por

s0 Ð>Ñ œ ( 0 ÐBÑ .B
>

>!

w
(cf. II.3.5). Tem-se então s0 Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ quase sempre.
Dem: Tendo em conta III.8.4, concluímos a existência de um boreliano
] § N , com -Ð] Ñ œ !, tal que, para cada >" em N Ï ] ,

(
"
lim m0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñm .B œ !.
<Ä! #< Ó>" <ß>" <Ò

Seja >" − N Ï ] . Uma vez que, para cada <  ! com Ò>"  <ß >"  <Ó § N ,
tem-se

( m0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñm .B Ÿ # ‚ Š ( m0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñm .B‹,


" "
< Ò>" ß>" <Ò #< Ó>" <ß>" <Ò

( m0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñm .B Ÿ # ‚ Š ( m0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñm .B‹,


" "
< Ó>" <ß>" Ó #< Ó>" <ß>" <Ò

e portanto também

(
"
lim m0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñm .B œ !,
<Ä! < Ò>" ß>" <Ò

lim (
"
m0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñm .B œ !,
<Ä! < Ó>" <ß>" Ó

deduzimos de se ter

 0 Ð>" Ñm œ ½ ( 0 ÐBÑ .B  0 Ð>" ѽ œ


s0 Ð>"  <Ñ  s0 Ð>" Ñ "
m
< < Ò>" ß>" <Ò

œ½ ( 0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñ .B½ Ÿ (


" "
m0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñm .B
< Ò>" ß>" <Ò < Ò>" ß>" <Ò

e, do mesmo modo,

 0 Ð>" Ñm œ ½ ( 0 ÐBÑ .B  0 Ð>" ѽ œ


s0 Ð>" Ñ  s0 Ð>"  <Ñ "
m
< < Ó>" <ß>" Ó

œ½ ( 0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñ .B½ Ÿ (


" "
m0 ÐBÑ  0 Ð>" Ñm .B
< Ó>" <ß>" Ó < Ó>" <ß>" Ó

que os limites à direita e à esquerda, quando > Ä >" , de


s0 Ð>Ñ  s0 Ð>" Ñ
>  >"
420 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

são ambos iguais a 0 Ð>" Ñ, o que mostra que s0 tem derivada em >" igual a
0 Ð>" Ñ. 

No caso em que a função 0 À N Ä I é integrável, e não só localmente


integrável, existe um enunciado que é trivialmente equivalente ao anterior
e é por vezes de utilização mais natural.

III.8.7 (Versão alternativa da derivada do integral indefinido) Sejam


N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um espaço de Banach e
0 À N Ä I uma aplicação integrável. Podemos então definir uma variante do
integral indefinido 0̃ À N Ä I , por

0˜ Ð>Ñ œ -Ð0 Ñ ÐÓ-ß >ÓÑ œ ( 0 ÐBÑ .B,


Ó-ß>Ó

que, fixado >! − N , se relaciona com o referido em III.8.6 pela condição de


se ter, para cada > − N ,

0˜ Ð>Ñ œ 0˜ Ð>! Ñ  ( 0 ÐBÑ .B.


>

>!

w
Em consequência, tem-se também 0̃ Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ quase sempre.
Dem: Tudo o que temos que justificar é a fórmula que relaciona a aplicação
0̃ com o integral indefinido referido em III.8.6, visto que a conclusão será
então uma consequência do resultado referido, tendo em conta o facto de as
constantes terem derivada ! e de a derivada de uma soma ser a soma das
derivadas. Ora, se >   >! , tem-se a união disjunta Ó-ß >Ó œ Ó-ß >! Ó  Ó>! ß >Ó,
donde

0˜ Ð>Ñ œ -Ð0 Ñ ÐÓ-ß >ÓÑ œ -Ð0 Ñ ÐÓ-ß >! ÓÑ  -Ð0 Ñ ÐÓ>! ß >ÓÑ œ 0˜ Ð>! Ñ  ( 0 ÐBÑ .B
>

>!

e, se >  >! , tem-se a união disjunta Ó-ß >! Ó œ Ó-ß >Ó  Ó>ß >! Ó, donde

0˜ Ð>! Ñ œ -Ð0 Ñ ÐÓ-ß >! ÓÑ œ -Ð0 Ñ ÐÓ-ß >ÓÑ  -Ð0 Ñ ÐÓ>ß >! ÓÑ œ 0˜ Ð>Ñ  ( 0 ÐBÑ .B
>

>!

o que implica, mais uma vez, que

0˜ Ð>Ñ œ 0˜ Ð>! Ñ  ( 0 ÐBÑ .B.


>

>!

Podemos perguntarmo-nos o que se poderá dizer sobre a derivabilidade de


uma aplicação definida de modo análoga à aplicação 0̃ , mas com a medi-
da --absolutamente contínua -Ð0 Ñ substituída por uma medida --singular.
§8. O integral indefinido revisitado 421

Os resultados estudados nesta secção também nos permitem responder


simplesmente a esta questão.

III.8.8 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um espaço de


Banach e =À U Ä I uma medida vetorial nos borelianos de N que seja --sin-
gular (cf. III.7.15). Sendo 2À N Ä I a aplicação definida por
2Ð>Ñ œ =ÐÓ-ß >ÓÑ,
tem-se então 2w Ð>Ñ œ ! quase sempre (relativamente à medida de Lebesgue
-).
Dem: Tendo em conta III.7.16, a medida positiva l=lÀ U Ä ‘ também é
--singular pelo que podemos considerar um boreliano ] w § N tal que
-Ð] w Ñ œ ! e l=lÐN Ï ] w Ñ œ !. Tendo em conta o teorema da densidade nula
(cf. III.8.3), existe um boreliano ] ww § N Ï ] w com -Ð] ww Ñ œ ! tal que, para
cada >" − ÐN Ï ] w Ñ Ï ] ww , a medida positiva l=l tenha densidade nula em >" .
Sendo ] œ ] w  ] ww , tem-se -Ð] Ñ œ !. Seja >" − N Ï ] œ ÐN Ï ] w Ñ Ï ] ww .
Tendo em conta a observação em III.8.2, tem-se
l=lÐÒ>"  <ß >"  <ÓÑ l=lÐF < Ð>" ÑÑ
lim œ lim œ!
<Ä! #< <Ä! -ÐF< Ð>" ÑÑ

e, reparando que, para >  >" , tem-se Ó-ß >Ó œ Ó-ß >" Ó  Ó>" ß >Ó, com estes
conjuntos disjuntos, e que, para >  >" , tem-se Ó-ß >" Ó œ Ó-ß >Ó  Ó>ß >" Ó, com
estes conjuntos disjuntos, vemos que

½ ½œ
2Ð>"  <Ñ  2Ð>" Ñ m=ÐÓ-ß >"  <ÓÑ  =ÐÓ-ß >" ÓÑm m=ÐÓ>" ß >"  <ÓÑm
œ Ÿ
< < <
l=lÐÓ>" ß >"  <ÓÑ l=lÐÒ>"  <ß >"  <ÓÑ
Ÿ Ÿ#
< #<
e, do mesmo modo,

½ ½œ
2Ð>" Ñ  2Ð>"  <Ñ m=ÐÓ-ß >" ÓÑ  =ÐÓ-ß >"  <ÓÑm m=ÐÓ>"  <ß >" ÓÑm
œ Ÿ
< < <
l=lÐÓ>"  <ß >" ÓÑ l=lÐÒ>"  <ß >"  <ÓÑ
Ÿ Ÿ#
< #<
pelo que, uma vez que em ambos os casos a expressão à direita tende para !
quando < Ä !, concluímos que os limites à direita e à esquerda, quando
> Ä >" , de
2Ð>Ñ  2Ð>" Ñ
>  >"
são ambos iguais a !, ou seja, 2w Ð>" Ñ œ !. 
422 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Exercícios

Ex III.8.1 Sejam Y § ‘8 um aberto, I um espaço de Banach e 0 À Y Ä I uma


aplicação localmente integrável. Define-se o conjunto de Lebesgue de 0
como sendo o conjunto P0 § Y dos pontos B! − Y tais que

(
"
lim m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm . -8 ÐBÑ œ !.
<Ä! -8 ÐF< ÐB! ÑÑ F ÐB Ñ
< !

Verificar que P0 é um boreliano (e, portanto, tendo em conta III.8.4,


-8 ÐY Ï P0 Ñ œ !).
Sugestão: Seguir ideias semelhantes às utilizadas na demonstração de III.8.3,
começando por considerar o prolongamento 0 de 0 a ‘8 que é nulo fora de
Y .182 Como na alínea c) dessa demonstração, mostrar que, para cada C − Y ,
tem-se C − P0 se, e só se, para cada racional $  !, existe um racional
<"  ! tal que, para cada racional <, com !  <  <" ,

(
"
m0 ÐBÑ  0 ÐCÑm . -8 ÐBÑ Ÿ $ Þ
-8 ÐF< ÐCÑÑ F< ÐCÑ

Tal como na alínea b) da demonstração referida, utilizar o teorema de Fubini,


agora na versão II.4.9, para mostrar que, para cada <  !, é mensurável a
função Y Ä ‘ ,

CÈ( m0 ÐBÑ  0 ÐCÑm . -8 ÐBÑ.


F< ÐCÑ

Ex III.8.2 Vamos dizer que uma sucessão de borelianos \: de ‘8 concentra-se


substancialmente no ponto B! − ‘8 se existir uma constante -  ! e uma
sucessão de reais estritamente positivos <: Ä ! tal que \: § F<: ÐB! Ñ e
-8 Ð\: Ñ
  - . 183
-8 ÐF<: ÐB! ÑÑ

a) Lembrando que todas as normas de ‘8 são equivalentes, mostrar que,


dada outra norma de ‘8 , sendo <: Ä ! com <:  ! e notando F<w : ÐB! Ñ as
bolas para essa nova norma, a sucessão dos F<w : ÐB! Ñ concentra-se
substancialmente no ponto B! .
b) Sendo B! − ‘ e <: Ä ! com <:  !, mostrar que as sucessões de inter-
valos ÓB! ß B!  <Ò e ÓB!  <ß B! Ò concentram-se substancialmente no ponto B! .

182Prolongamento esse que não é necessariamente localmente integrável.


183Rudin, em [10], utiliza a expressão “shrinks nicely”.
§8. O integral indefinido revisitado 423

"
c) Mostrar que a sucessão de intervalos Ó :" ß :" Ò não se concentra substancial-
mente no ponto ! (apesar de, num sentido óbvio, concentrar-se no ponto !).
d) (Alternativa ao resultado fundamental para a derivabilidade) Sejam
Y § ‘8 um aberto, I um espaço de Banach e 0 À Y Ä I uma aplicação
localmente integrável. Mostrar que existe um boreliano ] § Y , com
-8 Ð] Ñ œ !, tal que, qualquer que seja B! − Y Ï ] e a sucessão de borelianos
\: § Y que se concentre substancialmente em B! ,

( m0 ÐBÑ  0 ÐB! Ñm . -8 ÐBÑ œ !,


"
lim
: -8 Ð\: Ñ \:

onde a sucessão está definida para todo o : suficientemente grande. Deduzir


daqui, como em III.8.5, que para cada B! − Y Ï ] , tem-se então também

( 0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ œ 0 ÐB! Ñ.


"
lim
: -8 Ð\: Ñ \:

Ex III.8.3 (Pontos de densidade de um boreliano) Seja E § ‘8 um boreliano.


Diz-se que um ponto B! − ‘8 é um ponto de densidade de E se
-8 ÐE  F< ÐB! ÑÑ
lim œ ".
<Ä! -8 ÐF< ÐB! ÑÑ

a) Verificar que se B! é um ponto interior dum boreliano E, então B! é um


ponto de densidade de E.
b) Utilizar as propriedades de invariância da medida de Lebesgue para
mostrar que, se B! é um ponto de densidade de E, então B! é um ponto de
densidade de E e, para cada A − ‘8 , A  B! é um ponto de densidade de
A  E.
c) Verificar que B! − ‘8 é um ponto de densidade de E se, e só se,
-8 ÐF< ÐB! Ñ Ï EÑ
lim œ !.
<Ä! -8 ÐF< ÐB! ÑÑ

d) Deduzir de c) que, se B! − ‘8 é um ponto de densidade de cada um de


dois borelianos E e Ew , então B! é também um ponto de densidade de E  Ew
e que, se B! é um ponto de densidade dum boreliano E e F ¨ E é outro
boreliano, então B! é também um ponto de densidade de F .
e) Deduzir de c) que, se 0À ‘8 Ä ‘8 é um isomorfismo e se B! é um ponto de
densidade de um boreliano E, então 0ÐB! Ñ é um ponto de densidade de 0ÐEÑ.
Sugestão: Sendo + œ m0" m  ! e -0 o coeficiente de dilatação de 0, tem-se
-8 ÐF< Ð0ÐB! ÑÑ Ï 0ÐEÑÑ Ÿ -8 Ð0ÐF+< ÐB! ÑÑ Ï 0ÐEÑÑ Ÿ -0 -8 ÐF+< ÐB! Ñ Ï EÑ.

f) Verificar que, se E § ‘8 é um boreliano, então existe um boreliano


] § ‘8 , com -8 Ð] Ñ œ !, tal que cada B! − E Ï ] é um ponto de densidade
de E e cada B! − Б8 Ï EÑ Ï ] é um ponto de densidade de ‘8 Ï E (em
424 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

particular, quase todos os pontos de E são pontos de densidade de E).


Sugestão: Aplicar o resultado fundamental III.8.4 à função indicatriz
ˆE À ‘ 8 Ä ‘ .
g) Tendo em conta f), mostrar que, se E é um boreliano, então existe um
ponto de densidade de E se, e só se, -8 ÐEÑ  !.
Ex III.8.4 Sejam E § ‘8 e Ew § ‘8 dois borelianos e notemos, como é habitual,
E  Ew œ ÖB  C×B−EßC−Ew , E  Ew œ ÖB  C×B−EßC−Ew .

a) (Um lema) Mostrar que, se ! é um ponto de densidade tanto de E como


de Ew , então ! é um ponto interior de E  Ew .
Sugestão: Começar por fixar <  ! tal que
-8 ÐF< Ð!Ñ  EÑ # -8 ÐF< Ð!Ñ  Ew Ñ #
 ,  ,
-8 ÐF< Ð!ÑÑ $ -8 ÐF< Ð!ÑÑ $
e deduzir que se pode fixar <w  < tal que
" "
-8 ÐF< Ð!Ñ  EÑ  -8 ÐF<w Ð!ÑÑ, -8 ÐF< Ð!Ñ  Ew Ñ  -8 ÐF<w Ð!ÑÑ.
# #
Mostrar então que, se D − ‘8 verifica mDm  <w  <, então D − E  Ew , uma
vez que F< Ð!Ñ  E e D  ÐF< Ð!Ñ  Ew Ñ são subconjuntos de F<w Ð!Ñ com
medidas grandes de mais para poderem ser disjuntos.
b) Deduzir de a) e das propriedades na alínea b) do exercício III.8.3 que, se
B! é um ponto de densidade de E e C! é um ponto de densidade de Ew , então
B!  C! e B!  C! são pontos de densidade de E  Ew e de E  Ew , respetiva-
mente.184
c) Utilizar b) para obter justificações alternativas para as conclusões das
alíneas b) e c) do exercício III.5.4.

184Enunciado que inclui a conclusão de a) como caso particular.


§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 425

§9. Aplicações de variação limitada e medidas de


Lebesgue-Stieltjes vetoriais.

Nas secções I.3 e I.4 estudámos a medida de Lebesgue-Stieltjes associada


a uma função crescente 1À N Ä ‘, definida num intervalo aberto não
vazio N œ Ó-ß .Ò, com extremidades finitas ou infinitas. O nosso objectivo
nesta secção é tentar definir analogamente uma medida de Lebes-
gue-Stieltjes vetorial, associada a uma aplicação 1À N Ä I , onde I é um
espaço de Banach. O facto de limitarmos a nossa atenção aos intervalos
abertos, como domínios da aplicação 1, tem uma justificação análoga à
desenvolvida, a propósito das medidas de Lebesgue-Stieltjes ordinárias,
nas observações que sucedem a I.3.11, tendo assim a ver com o pouco
interesse em definir explicitamente medidas que sejam restrição de outras
já definidas em intervalos abertos. Quanto às condições a impor à aplica-
ção 1, espera-se que exista uma que substitua a de 1 ser uma função
crescente que no contexto dos espaços vetoriais não faz qualquer sentido.
Essa hipótese será a de que 1 seja de variação limitada, noção que vamos
estudar em seguida.

III.9.1 Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com cada extremidade
finita ou infinita, I um espaço de Banach e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação.

as somas finitas !m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm, onde, para cada 3, +3  ,3 pertencem a


Definimos a variação total de 1 como sendo o supremo Z Ð1Ñ − ‘ de todas

3−M
Ó-ß .Ò e os intervalos abertos Ó+3 ß ,3 Ò são disjuntos dois a dois.
Consideramos também uma função
X1 À Ó-ß .Ò Ä ‘ ,

a que chamaremos função variação total associada a 1, definindo, para cada

!m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm anteriormente referidas para as quais +3 ß ,3 − Ó-ß BÓ.


B − Ó-ß .Ò, X1 ÐBÑ como sendo o supremo de todas as somas finitas

3−M

as somas finitas !m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm anteriormente referidas para as quais


Dados B  C em Ó-ß .Ò, notaremos ainda X1 ÐBß CÑ − ‘ o supremo de todas

3−M
+3 ß ,3 − ÒBß CÓ.
Dizemos que 1 é uma aplicação de variação limitada se Z Ð1Ñ  _.185

185Tal como já referimos a propósito de outras situações, não haveria dificuldade em


considerar como possíveis domínios das aplicações de variação limitada também
intervalos não necessariamente abertos. Preferimos não o fazer para manter os enunciados
menos pesados e porque o estudo do que se passa com um intervalo que é fechado numa
das sua extremidades, ou em ambas, pode ser reduzido trivialmente ao caso dos intervalos
426 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

III.9.2 (Nota) Tendo em conta aplicações futuras à construção das medidas de


Lebesgue-Stieltjes, em que se utilizam intervalos semiabertos Ó+ß ,Ó, é útil
observar desde já que, sempre que temos intervalos Ó+3 ß ,3 Ò, com +3  ,3 ,
disjuntos dois a dois, os correspondentes intervalos semiabertos Ó+3 ß ,3 Ó são
ainda disjuntos dois a dois.186
Dem: Se ,3 pertencesse a Ó+4 ß ,4 Ó, com 4 Á 3, então, sendo &  ! menor que
,3  +3 e ,3  +4 , ,3  % pertencia simultaneamente a Ó+3 ß ,3 Ò e a Ó+4 ß ,4 Ò. 
III.9.3 (Trivialidades) Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um
espaço de Banach e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação. Registamos as seguintes
propriedades que são todas consequências do facto de o supremo de um
conjunto não vazio contido em ‘ ser maior ou igual ao supremo de
qualquer dos seus subconjuntos não vazios:
a) Se - Ÿ - w  . w Ÿ . , tem-se
Z Ð1ÎÓ-w ß.w Ò Ñ Ÿ Z Ð1Ñ,

em particular, se 1 é de variação limitada, o mesmo acontece a 1ÎÓ-w ß.w Ò .


b) Para cada + − Ó-ß .Ò, tem-se
Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ Ÿ X1 Ð+Ñ Ÿ Z Ð1Ñ,

em particular podemos escrever X1 À Ó-ß .Ò Ä Ò!ß Z Ð1ÑÓ.


c) Se B  C em Ó-ß .Ò, tem-se
m1ÐCÑ  1ÐBÑm Ÿ X1 ÐBß CÑ Ÿ X1 ÐCÑ,
X1 ÐBÑ Ÿ Z Ð1ÎÓ-ßCÒ Ñ Ÿ X1 ÐCÑ,

em particular a função X1 À Ó-ß .Ò Ä Ò!ß Z Ð1ÑÓ é crescente (no sentido lato).


III.9.4 (Exemplos) Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um
espaço de Banach e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação.
a) Se 1 é constante, então 1 é de variação limitada e Z Ð1Ñ œ !.
b) Se I œ ‘ e 1 é uma função crescente e limitada, então 1 é de variação
limitada e, notando 1Ð-  Ñ e 1Ð.  Ñ os limites laterais nas extremidades,
Z Ð1Ñ œ 1Ð.  Ñ  1Ð-  Ñ.

c) Suponhamos que 1 é derivável em cada B − Ó-ß .Ò, e que a derivada


1w À Ó-ß .Ò Ä I é contínua e integrável. Então 1 é de variação limitada e

abertos, considerando um prolongamento ao intervalo em que as extremidades em


questão são infinitas que é constante na aderência cada um dos intervalos acrescentados.
Por exemplo, o estudo duma aplicação 1 de domínio Ó-ß .Ó, com . − ‘ e - finito ou
infinito, fica reduzido ao estudo do seu prolongamento a Ó-ß _Ò que toma o valor 1Ð.Ñ
para cada B  . .
186Já os intervalos fechados Ò+ ß , Ó não teriam que o ser.
3 3
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 427

Z Ð1Ñ Ÿ ( m1w ÐBÑm .B. 187


Ó-ß.Ò

Dem: a) Temos uma consequência do facto de para cada família de interva-


los abertos Ó+3 ß ,3 Ò nas condições da definição ser m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm œ ! para
cada 3.
b) Vamos começar por mostrar que, para cada família finita não vazia
ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M , de intervalos abertos disjuntos dois a dois, com +3  ,3 em Ó-ß .Ò,
tem-se
" Ð1Ð,3 Ñ  1Ð+3 ÑÑ Ÿ 1Ð,Ñ  1Ð-  Ñ,
3−M

onde , é o maior dos ,3 . Mostramos isso por indução no número de


elementos de M , o caso em que M tem " elemento sendo uma consequência de
ser ,3 œ , e 1Ð+3 Ñ   1Ð-  Ñ. Suponhamos o resultado válido quando M tem :
elementos e vejamos o que se pode dizer quando M tem :  " elementos.
Lembrando que, como referido na nota III.9.2, os intervalos Ó+3 ß ,3 Ó são ainda
disjuntos dois a dois, seja 3! o índice para o qual ,3 é máximo e reparemos
que, para cada 3 Á 3! , tem que ser ,3 Ÿ +3! . Sendo ,w Ÿ +3! o maior dos ,3
com 3 Á 3! , obtemos, aplicando a hipótese de indução,
" Ð1Ð,3 Ñ  1Ð+3 ÑÑ œ 1Ð,Ñ  1Ð+3! Ñ  " Ð1Ð,3 Ñ  1Ð+3 ÑÑ Ÿ
3−M 3Á3!
Ÿ 1Ð,Ñ  1Ð+3! Ñ  1Ð, Ñ  1Ð-  Ñ Ÿ 1Ð,Ñ  1Ð-  Ñ,
w

o que termina a prova por indução. Uma vez que para cada família nas
condições referidas tem-se
" |1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñ| œ " Ð1Ð,3 Ñ  1Ð+3 ÑÑ Ÿ 1Ð,Ñ  1Ð-  Ñ Ÿ 1Ð. Ñ  1Ð- Ñ,
3−M 3−M

obtemos, por passagem ao supremo,


Z Ð1Ñ Ÿ 1Ð.  Ñ  1Ð-  Ñ,
em particular Z Ð1Ñ  _. Seja agora $  ! arbitrário. Podemos então
considerar +  , em Ó-ß .Ò tais que
$ $
1Ð+Ñ  1Ð-  Ñ  , 1Ð,Ñ  1Ð.  Ñ  ,
# #
e tem-se então

187De facto, pode-se provar que esta desigualdade é mesmo uma igualdade, mas é mais
fácil verificar isso depois de estudarmos as medidas de Lebesgue-Stieltjes vetoriais.
Propomos esse resultado como exercício no fim da secção (cf. o exercício III.9.6).
428 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Z Ð1Ñ   l1Ð,Ñ  1Ð+Ñl œ 1Ð,Ñ  1Ð+Ñ  1Ð. Ñ  1Ð-  Ñ  $,


donde, tendo em conta a arbitrariedade de $ ,
Z Ð1Ñ   1Ð.  Ñ  1Ð-  Ñ,
o que garante a igualdade dos dois membros.
c) Consideremos uma família finita ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M , de intervalos abertos
disjuntos dois a dois, com +3  ,3 em Ó-ß .Ò. Tem-se então

m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm œ ½( 1w ÐBÑ .B½ Ÿ ( m1w ÐBÑm .B,


Ó+3 ß,3 Ò Ó+3 ß,3 Ò

donde

" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ " ( m1w ÐBÑm .B œ ( m1w ÐBÑm .B


3−M 3−M Ó+3 ß,3 Ò -Ó+3 ß,3 Ò

Ÿ( m1w ÐBÑm .B,


Ó-ß.Ò

pelo que, considerando o supremo das somas finitas no segundo membro,


obtemos a desigualdade pretendida. 
III.9.5 (Linearidade) Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio e I um
espaço de Banach. Se 1ß 2À Ó-ß .Ò Ä I são aplicações de variação limitada e +
é um escalar de I , então 1  2 e +1 são também de variação limitada e
Z Ð1  2Ñ Ÿ Z Ð1Ñ  Z Ð2Ñ, Z Ð+1Ñ œ l+lZ Ð1Ñ.

Dem: Consideremos uma família finita ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M , de intervalos abertos


disjuntos dois a dois, com +3  ,3 em Ó-ß .Ò. Tem-se então
mÐ1  2ÑÐ,3 Ñ  Ð1  2ÑÐ+3 Ñm œ mÐ1Ð,3 Ñ  1Ð+3 ÑÑ  Ð2Ð,3 Ñ  2Ð+3 ÑÑm Ÿ
Ÿ m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  m2Ð,3 Ñ  2Ð+3 Ñm
donde
" mÐ1  2ÑÐ,3 Ñ  Ð1  2ÑÐ+3 Ñm Ÿ

Ÿ "m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  "m2Ð,3 Ñ  2Ð+3 Ñm Ÿ Z Ð1Ñ  Z Ð2Ñ,


3−M

3−M 3−M

e portanto, considerando o supremo das somas no primeiro membro,


Z Ð1  2Ñ Ÿ Z Ð1Ñ  Z Ð2Ñ.
Analogamente,
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 429

" m+1Ð,3 Ñ  +1Ð+3 Ñm œ l+l " m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ l+l Z Ð1Ñ,


3−M 3−M

donde Z Ð+1Ñ Ÿ l+l Z Ð1Ñ. No caso em que + œ ! temos automaticamente a


igualdade e, se + Á !, temos também a igualdade, uma vez que a
desigualdade oposta deduz-se da anterior, reparando que
" "
l+l Z Ð1Ñ œ l+l Z Ð + 1Ñ Ÿ l+l l l Z Ð+1Ñ œ Z Ð+1Ñ. 
+ +

III.9.6 (Exemplo) Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio e


1À Ó-ß .Ò Ä ‘ uma função decrescente e limitada. Tem-se então que 1 é de
variação limitada e
Z Ð1Ñ œ 1Ð-  Ñ  1Ð.  Ñ.

Dem: Trata-se de uma consequência de aplicar o que foi visto na alínea b) do


exemplo III.9.4 à aplicação crescente e limitada 1À Ó-ß .Ò Ä ‘, para a qual
se tem Z Ð1Ñ œ Z Ð1Ñ. 

Os próximos resultados estabelecem algumas relações entre as quantida-


des X1 ÐBÑ, X1 ÐBß CÑ e Z Ð1Ñ introduzidas em III.9.1, que complementam as
desigualdades triviais referidas em III.9.3.

III.9.7 Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um espaço de Banach


e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação. Tem-se, para cada B  C em Ó-ß .Ò,
X1 ÐCÑ œ X1 ÐBÑ  X1 ÐBß CÑ.

Além disso, Z Ð1Ñ é tanto o supremo dos X1 ÐBß CÑ, com B  C em Ó-ß .Ò, como
o supremo dos X1 ÐCÑ, com C − Ó-ß .Ò, e portanto também188
Z Ð1Ñ œ lim X1 ÐCÑ.
CÄ.

Dem: Seja B  C em Ó-ß .Ò. Seja ÐÓ+4 ß ,4 ÒÑ4−N uma família finita arbitrária de
intervalos abertos disjuntos dois a dois, com +4  ,4 em Ó-ß CÓ. Seja N w o
conjunto dos 4 − N tais que ,4 Ÿ B e N ww o conjunto daqueles para os quais
+4   B. Se B não pertence a nenhum Ó+4 ß ,4 Ò, N é a união disjunta de N w e N ww ,
donde
" m1Ð,4 Ñ  1Ð+4 Ñm œ " m1Ð,4 Ñ  1Ð+4 Ñm  " m1Ð,4 Ñ  1Ð+4 Ñm Ÿ
4−N 4−N w 4−N ww
Ÿ X1 ÐBÑ  X1 ÐBß CÑ.

188Como acontece com o limite à esquerda de qualquer função crescente.


430 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Se existe 4! tal que B − Ó+4! ß ,4! Ò, N é a união disjunta de N w , N ww e Ö4! × e


portanto também
" m=1 ÐE4 Ñm œ " m1Ð,4 Ñ  1Ð+4 Ñm 

 " m1Ð,4 Ñ  1Ð+4 Ñm  m1Ð,4! Ñ  1Ð+4! Ñm Ÿ


4−N 4−N w

4−N ww

Ÿ Š" m1Ð,4 Ñ  1Ð+4 Ñm  m1ÐBÑ  1Ð+4! Ñm‹ 


4−N w

 Š" m1Ð,4 Ñ  1Ð+4 Ñm  m1Ð,4! Ñ  1ÐBÑm‹ Ÿ


4−N ww
Ÿ X1 ÐBÑ  X1 ÐBß CÑ.

Tendo em conta a arbitrariedade da família dos Ó+4 ß ,4 Ò, concluímos que


(1) X1 ÐCÑ Ÿ X1 ÐBÑ  X1 ÐBß CÑ,

o que implica já a igualdade desejada no caso em que X1 ÐCÑ œ _. Supo-


nhamos agora que X1 ÐCÑ  _, o que implica que se tem também
X1 ÐBÑ  _ e X1 ÐBß CÑ  _. Seja $  ! arbirário. Consideremos uma
família finita ÐÓ+5w ß ,5w ÒÑ5−O de intervalos abertos disjuntos dois a dois com
+5w  ,5w em Ó-ß BÓ e uma família finita ÐÓ+3ww ß ,3ww ÒÑ3−M de intervalos abertos
disjuntos dois a dois com +3ww  ,3ww em ÒBß CÓ tais que

" m1Ð,5w Ñ  1Ð+5w Ñm  X1 ÐBÑ  , " m1Ð,3ww Ñ  1Ð+3ww Ñm  X1 ÐBß CÑ  .


$ $
5−O
# 3−M
#

Considerando então a família formada pelos intervalos Ó+5w ß ,5w Ò e pelos


intervalos Ó+3ww ß ,3ww Ò, todos disjuntos dois a dois e com extremidades em Ó+ß CÓ,
concluímos que
X1 ÐCÑ   " m1Ð,5w Ñ  1Ð+5w Ñm  " m1Ð,3ww Ñ  1Ð+3ww Ñm  X1 ÐBÑ  X1 ÐBß CÑ  $,
5−O 3−M

portanto, tendo em conta a arbitrariedade de $ ,


X1 ÐCÑ   X1 ÐBÑ  X1 ÐBß CÑ,

o que, combinado com (1), garante que X1 ÐCÑ œ X1 ÐBÑ  X1 ÐBß CÑ.
Já sabemos que
X1 ÐBß CÑ Ÿ X1 ÐCÑ Ÿ Z Ð1Ñ,

para cada B  C em Ó-ß .Ò. Seja agora 5  Z Ð1Ñ arbitrário. Por definição,
existe uma família finita de intervalos abertos disjuntos dois a dois
ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M , com +3  ,3 em Ó-ß .Ò, tal que
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 431

" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  5


3−M

e, sendo B − Ó-ß .Ò o menor dos +3 e C − Ó-ß .Ò o maior dos ,3 , tem-se que


todas a extremidades estão em ÒBß CÓ, o que implica que

X1 ÐCÑ   X1 ÐBß CÑ   " m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  5 .


3−M

Ficou assim provado que Z Ð1Ñ é efetivamente o supremo dos X1 ÐBß CÑ e o


supremo dos X1 ÐCÑ. 
III.9.8 Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um espaço de Banach,
1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação e + − Ó-ß .Ò tal que 1 tenha limite à esquerda no
ponto +, que notaremos 1Ð+ Ñ. Tem-se então
X1 Ð+Ñ œ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm.

Dem: Vamos começar por verificar que se tem


(1) X1 Ð+Ñ Ÿ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm,

para o que podemos já supor que o segundo membro é finito. Seja


ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M uma família finita de intervalos abertos disjuntos dois a dois, com
+3  ,3 em Ó-ß +Ó. Se nenhum dos ,3 é igual a +, tem-se
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ Ÿ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm.
3−M

Se + œ ,3! , escolhamos uma sucessão de elementos B8 − Ó+3! ß ,3! Ò com


B8 Ä +. Reparando que, para cada 8 os intervalos Ó+3 ß ,3 Ò, com 3 Á 3! , e
Ó+3! ß B8 Ò são disjuntos dois a dois e têm as extremidades contidas em Ó-ß +Ò,
podemos escrever
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm œ " m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  m1Ð+Ñ  1Ð+3! Ñm Ÿ

Ÿ " m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  m1ÐB8 Ñ  1Ð+3! Ñm 


3−M 3Á3!

3Á3!
 m1Ð+Ñ  1ÐB8 Ñm Ÿ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  m1Ð+Ñ  1ÐB8 Ñm

e portanto, por ser m1Ð+Ñ  1ÐB8 Ñm Ä m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm, mais uma vez,
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm.
3−M

Tendo em conta a arbitrariedade da família dos Ó+3 ß ,3 Ò, podemos assim


concluir a desigualdade (1).
Vamos agora provar a desigualdade oposta, para o que podemos já supor que
X1 Ð+Ñ  _. Seja ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M uma família finita de intervalos abertos
432 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

disjuntos dois a dois e com extremidades em Ó-ß +Ò. Consideremos uma


sucessão B8 Ä +, com cada B8 menor que + e maior que o máximo dos ,3 .
Uma vez que, para cada 8, a família constituída pelos Ó+3 ß ,3 Ò e por ÓB8 ß +Ò é
formada por intervalos abertos disjuntos dois a dois e com extremidades em
Ó-ß +Ó, podemos escrever
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  m1Ð+Ñ  1ÐB8 Ñm Ÿ X1 Ð+Ñ,
3−M

donde, uma vez que m1Ð+Ñ  1ÐB8 Ñm Ä m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm,


" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm Ÿ X1 Ð+Ñ,

" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ X1 Ð+Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm,


3−M

3−M

o que, tendo em conta a arbitrariedade da família dos Ó+3 ß ,3 Ò, implica que


Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ Ÿ X1 Ð+Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm,

e portanto, como queríamos,


X1 Ð+Ñ   Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm. 

III.9.9 Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um espaço de Banach,


1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação, e B  C em Ó-ß .Ò tais que 1 tenha limite à
direita no ponto B, que notaremos 1ÐB Ñ. Tem-se então
X1 ÐBß CÑ œ X1ÎÓBß.Ò ÐCÑ  m1ÐB Ñ  1ÐBÑm

e portanto, no caso em que 1 também tem limite à esquerda no ponto C,


X1 ÐBß CÑ œ Z Ð1ÎÓBßCÒ Ñ  m1ÐCÑ  1ÐC Ñm  m1ÐB Ñ  1ÐBÑm.

Dem: Vamos começar por verificar que se tem


(1) X1 ÐBß CÑ Ÿ X1ÎÓBß.Ò ÐCÑ  m1ÐB Ñ  1ÐBÑm,

para o que podemos já supor que o segundo membro é finito. Seja


ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M uma família finita de intervalos abertos disjuntos dois a dois com
+3  ,3 em ÒBß CÓ Se nenhum dos +3 é igual a B, tem-se
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ X1ÎÓBß.Ò ÐCÑ Ÿ X1ÎÓBß.Ò ÐCÑ  m1ÐB Ñ  1ÐBÑm.
3−M

Se B œ +3! , escolhamos uma sucessão de elementos B8 − Ó+3! ß ,3! Ò com


B8 Ä B. Reparando que, para cada 8 os intervalos Ó+3 ß ,3 Ò, com 3 Á 3! , e
ÓB8 ß ,3! Ò são disjuntos dois a dois e têm as extremidades em ÓBß CÓ, podemos
escrever
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 433

" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm œ " m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  m1Ð,3! Ñ  1ÐBÑm Ÿ

Ÿ " m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  m1Ð,3! Ñ  1ÐB8 Ñm 


3−M 3Á3!

3Á3!
 m1ÐB8 Ñ  1ÐBÑm Ÿ X1ÎÓBß.Ò ÐCÑ  m1ÐB8 Ñ  1ÐBÑm

e portanto, por ser m1ÐB8 Ñ  1ÐBÑm Ä m1ÐB Ñ  1ÐBÑm, mais uma vez,
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ X1ÎÓBß.Ò ÐCÑ  m1ÐB Ñ  1ÐBÑm.
3−M

Tendo em conta a arbitrariedade da família dos Ó+3 ß ,3 Ò, podemos assim


concluir a desigualdade (1).
Vamos agora provar a desigualdade oposta, para o que podemos já supor que
X1 ÐBß CÑ  _. Seja ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M uma família finita de intervalos abertos
disjuntos dois a dois com +3  ,3 em ÓBß CÓ. Consideremos uma sucessão
B8 Ä B, com cada B8 maior que B e menor que o mínimo dos +3 . Uma vez
que, para cada 8, a família constituída pelos Ó+3 ß ,3 Ò e por ÓBß B8 Ò é formada
por intervalos abertos disjuntos dois a dois e com extremidades em ÒBß CÓ,
podemos escrever
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  m1ÐB8 Ñ  1ÐBÑm Ÿ X1 ÐBß CÑ,
3−M

donde, uma vez que m1ÐB8 Ñ  1ÐBÑm Ä m1ÐB Ñ  1ÐBÑm,


" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  m1ÐB Ñ  1ÐBÑm Ÿ X1 ÐBß CÑ,

" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ X1 ÐBß CÑ  m1ÐB Ñ  1ÐBÑm,


3−M

3−M

o que, tendo em conta a arbitrariedade da família dos Ó+3 ß ,3 Ò, implica que


X1ÎÓBß.Ò ÐCÑ Ÿ X1 ÐBß CÑ  m1ÐB Ñ  1ÐBÑm,

e portanto, como queríamos,


X1 ÐBß CÑ   X1ÎÓBß.Ò ÐCÑ  m1ÐB Ñ  1ÐBÑm.

A segunda igualdade no enunciado resulta da primeira, por III.9.8. 


III.9.10 (O caso da aplicação de variação limitada) Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um inter-
valo aberto não vazio, I um espaço de Banach e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação
de variação limitada. Tem-se então:
a) A função crescente, no sentido lato, X1 À Ó-ß .Ò Ä Ò!ß Z Ð1ÑÓ § ‘ , que já
sabemos verificar lim X1 ÐBÑ œ Z Ð1Ñ, verifica também lim X1 ÐBÑ œ !.
BÄ. BÄ-
b) Para cada + − Ò-ß .Ò, a aplicação 1 admite limite lateral à direita em +, que
notaremos 1Ð+ Ñ e, para cada + − Ó-ß .Ó, 1 admite limite lateral à esquerda em
434 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

+, que notaremos 1Ð+ Ñ.


c) Para cada + − Ó-ß .Ò, tem-se
X1 Ð+ Ñ œ lim X1 ÐBÑ œ X1 Ð+Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm,
BÄ+

em particular, X1 é contínua à esquerda no ponto + se, e só se, 1 é contínua à


esquerda no ponto +.
d) Para cada + − Ó-ß .Ò, tem-se
X1 Ð+ Ñ œ lim X1 ÐBÑ œ X1 Ð+Ñ  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm,
BÄ+

em particular, X1 é contínua à direita no ponto + se, e só se, 1 é contínua à


direita no ponto +.
e) O conjunto dos pontos de Ó-ß .Ò onde 1 não é contínua é contável.
Dem: a) Seja $  ! arbitrário. Consideremos uma família finita ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M
de intervalos abertos disjuntos dois a dois e com +3  ,3 em Ó-ß .Ò, tal que
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  Z Ð1Ñ  $.
3−M

Sendo + − Ó-ß .Ò o menor dos +3 e , − Ó-ß .Ò o maior dos ,3 , podemos escrever

Z Ð1Ñ  $  " m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ X1 Ð+ß ,Ñ œ X1 Ð,Ñ  X1 Ð+Ñ


3−M

e portanto, para cada B  +,


X1 ÐBÑ Ÿ X1 Ð+Ñ  X1 Ð,Ñ  Z Ð1Ñ  $ Ÿ $.

b) Tendo em conta a caracterização da existência de limites pela condição de


Cauchy189, para provar a existência de limite lateral à direita num ponto
+ − Ò-ß .Ò, basta mostrarmos que, para cada $  !, existe !  &  .  + tal
que, quaisquer que sejam Bß C − Ó+ß +  &Ò, m1ÐCÑ  1ÐBÑm  $ . Suponhamos,
por absurdo, que isso não acontecia, por outras palavras, que se podia fixar
$  ! tal que, para cada !  &  .  +, existiam B  C em Ó+ß +  &Ò com
m1ÐCÑ  1ÐBÑm   $. Podíamos então definir recursivamente, para cada
8 − , B8  C8 em Ó+ß .Ò com m1ÐC8 Ñ  1ÐB8 Ñm   $ e C8"  B8 , tendo-se
então que os ÓB8 ß C8 Ò constituiam uma família infinita de intervalos abertos
disjuntos dois a dois e com m1ÐC8 Ñ  1ÐB8 Ñm   $ e isso contrariava o facto de
1 ser de variação limitada, uma vez que as somas finitas

" m1ÐC8 Ñ  1ÐB8 Ñm   : $,


:

8œ"

todas menores ou iguais a Z Ð1Ñ, podiam tomar valores arbitrariamente

189Reparar que, para a validade dessa caracterização, utilizamos a hipótese de o espaço


vetorial normado I ser completo.
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 435

grandes. A prova da existência de limite à esquerda num ponto + − Ó-ß .Ó é


análoga, mostrando-se, por absurdo, que se este não existisse, podia-se
construir recursivamente, para um certo $  ! e cada 8 − , B8  C8 em
Ó-ß +Ò com C8  B8" e m1ÐC8 Ñ  1ÐB8 Ñm   $ .
c) Tem-se, por III.9.8 e III.9.7,
X1 Ð+Ñ œ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm œ lim X1 ÐBÑ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm.
BÄ+

d) Tem-se, para cada B  +, por III.9.7 e III.9.9,


X1 ÐBÑ œ X1 Ð+Ñ  X1 Ð+ß BÑ œ X1 Ð+Ñ  X1ÎÓ+ß.Ò ÐBÑ  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm,

bastando agora reparar que, uma vez que 1ÎÓ+ß.Ò também é de variação
limitada, o que vimos em a) garante que lim X1ÎÓ+ß.Ò ÐBÑ œ !.
BÄ+
e) Temos uma consequência de I.3.9 uma vez que, tendo em conta as
conclusões de c) e d), o conjunto dos pontos onde 1 não é contínua coincide
com o conjunto dos pontos onde a função crescente X1 À Ó-ß .Ò Ä ‘ não é
contínua. 
III.9.11 (Aditividade da variação total) Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto
não vazio, I um espaço de Banach, + − Ó-ß .Ò e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação.
Tem-se então que 1 é de variação limitada se, e só se, admitir limites laterais
à esquerda e à direita no ponto + e as restrições de 1 a Ó-ß +Ò e a Ó+ß .Ò forem
de variação limitada. Quando isso acontecer,
Z Ð1Ñ œ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  Z Ð1ÎÓ+ß.Ò Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm,

em particular, no caso em que 1 é contínua no ponto +,


Z Ð1Ñ œ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  Z Ð1ÎÓ+ß.Ò Ñ.

Dem: Se 1 é de variação limitada, resulta da alínea a) de III.9.3 que as duas


restrições são de variação limitada e da alínea b) de III.9.10 que existem os
dois limites laterais. Suponhamos, reciprocamente, que as duas restrições são
de variação limitada e que existem os dois limites laterais. Tendo em conta
III.9.7, III.9.8 e III.9.9, vemos que, para cada +  B  . ,
X1 ÐBÑ œ X1 Ð+Ñ  X1 Ð+ß BÑ œ
œ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm  X1ÎÓ+ß.Ò ÐBÑ  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm,

o que implica, por passagem ao limite quando B Ä . , por ser, pelo que
vimos em III.9.7,
Z Ð1Ñ œ lim X1 ÐBÑ, Z Ð1ÎÓ+ß.Ò Ñ œ lim X1ÎÓ+ß.Ò ÐBÑ,
BÄ. BÄ.

a igualdade
436 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Z Ð1Ñ œ Z Ð1ÎÓ-ß+Ò Ñ  Z Ð1ÎÓ+ß.Ò Ñ  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm,

em particular Z Ð1Ñ  _. 

Estamos agora em condições de definir as medidas de Lebesgue-Stieltjes


vetoriais associadas a aplicações 1 de variação limitada. Começamos por
estabelecer dois resultados de natureza puramente algébrica.

III.9.12 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com cada


extremidade finita ou infinita, I um espaço de Banach e 1À N Ä I uma
aplicação de variação limitada. Pode então definir-se, para cada intervalo
semiaberto Ó+ß ,Ó, com + Ÿ , em N , um vetor
=1 ÐÓ+ß ,ÓÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ − I 190

e tem-se =1 ÐgÑ œ ! e, sempre que ÐF3 Ñ3−M é uma família finita de intervalos
daquele tipo disjuntos dois a dois e cuja união F ainda seja um intervalo do
mesmo tipo,
=1 ÐFÑ œ " =1 ÐF3 Ñ.
3−M

Dem: O facto =1 ÐÓ+ß ,ÓÑ estar bem definido e de se ter =1 ÐgÑ œ ! resulta de
qualquer intervalo semiaberto não vazio ter uma única representação na
forma Ó+ß ,Ó e de o conjunto vazio g admitir várias representações desse tipo,
mas todas da forma Ó+ß ,Ó com + œ ,, e portanto 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ œ !. Para
provarmos a aditividade, podemos começar por retirar de M os índices 3 para
os quais F3 œ g. Fazemos então a prova por indução no número de
elementos de M . O resultado é trivial se M tem ! ou " elemento. Suponhamos
que o resultado é válido quando M tem : elementos e provemo-lo no caso em
que M tem :  " elementos. Sendo F3 œ ÓB3 ß C3 Ó e F œ ÓBß CÓ, consideremos o
índice 3! tal que C − F3! . Tem-se então C œ C3! e concluímos que o intervalo
ÓBß B3! Ó é a união disjunta dos : intervalos F3 , com 3 Á 3! . Aplicando a
hipótese de indução, vemos agora que
=1 ÐFÑ œ 1ÐC Ñ  1ÐB Ñ œ 1ÐC3! Ñ  1ÐB3! Ñ  1ÐB3! Ñ  1ÐB Ñ œ
œ =1 ÐF3! Ñ  =1 Š. F3 ‹ œ =1 ÐF3! Ñ  " =1 ÐF3 Ñ œ

œ " =1 ÐF3 Ñ.
3Á3! 3Á3!


3−M

190É claro que, no caso em que 1 é contínua à direita, podemos escrever simplesmente
=1 ÐÓBß CÓÑ œ 1ÐCÑ  1ÐBÑ.
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 437

III.9.13 (Lema algébrico) Sejam N œ Ó-ß .Ò um intervalo aberto não vazio, I


um espaço de Banach e 1À N Ä I uma aplicação de variação limitada. Seja f
o semianel dos intervalos semiabertos ÓBß CÓ, com B Ÿ C em N e notemos
ff ÐN ß ‘Ñ o espaço vetorial das aplicações f -simples :À N Ä ‘ (cf.
III.2.28)191. Fica então bem definida uma aplicação linear
G1 À ff ÐN ß ‘Ñ Ä I , G1 Ð:Ñ œ " A3 =1 ÐF3 Ñ,
3−M

onde ÐF3 Ñ3−M é uma família finita de conjuntos de f disjuntos dois a dois tais
que :ÐBÑ tenha o valor constante A3 para B − F3 e que :ÐBÑ œ ! para cada B
não pertencente à união dos F3 .
Dem: Vamos dividir a demonstração em duas partes:
1) Vamos verificar que G1 está bem definida, isto é, que, se ÐF3 Ñ3−M e
ÐG5 Ñ5−O são duas famílias de conjuntos de f , em cada uma delas disjuntos
dois a dois, tais que :ÐBÑ œ A3 , para cada B − F3 , :ÐBÑ œ !, para cada B não
pertencente à união dos F3 , :ÐBÑ œ D5 , para cada B − G5 , e :ÐBÑ œ !, para
cada B não pertencente à união dos G5 , então
" A3 =1 ÐF3 Ñ œ " D5 =1 ÐG5 Ñ.
3−M 5−O

Subdem: Vamos começar por mostrar que, para cada 3 − M ,


(1) A3 =1 ÐF3 Ñ œ A3 " =1 ÐF3  G5 Ñ.
5−O

Para isso reparamos que, se A3 œ !, a igualdade (1) é verdadeira, com ambos


os membros iguais a !, e que, se A3 Á !, F3 é a união disjunta da família
finita dos F3  G5 (se existisse B − F3 não pertencente a nenhum dos G5 ,
vinha A3 œ :ÐBÑ œ !), e portanto

A3 =1 ÐF3 Ñ œ A3 " =1 ÐF3  G5 Ñ,


5−O

o que, mais uma vez, implica a igualdade (1). Por simetria dos papéis das
duas famílias, tem-se também, para cada 5 − O ,
(2) D5 =1 ÐG5 Ñ œ D5 " =1 ÐF3  G5 Ñ.
3−M

Reparemos também que, para cada 3 − M e 5 − O , tem-se


(3) A3 =1 ÐF3  G5 Ñ œ D5 =1 ÐF3  G5 Ñ,

já que ambos os membros são !, no caso em que F3  G5 œ g e, quando isso

191Reparar que as duas ocorrências do caráter f na notação ff ÐX ß ‘Ñ têm explicações


diferentes: A primeira refere-se à inicial manuscrita da palavra “simples” e a segunda
refere-se à designação que estamos a dar ao semianel dos intervalos semiabertos.
438 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

não acontecer, existe B − F3  G5 e então A3 œ :ÐBÑ œ D5 . Tendo em conta


(1), (2) e (3), obtemos finalmente

" A3 =1 ÐF3 Ñ œ " Š" A3 =1 ÐF3  G5 Ñ‹ œ

œ " Š" D5 =1 ÐF3  G5 Ñ‹ œ " D5 =1 ÐG5 Ñ.


3−M 3−M 5−O

5−O 3−M 5−O

2) Vamos mostrar que a aplicação G1 À ff ÐN ß ‘Ñ Ä I é linear.


Subdem: Sejam :,<À N Ä ‘ duas funções f -simples e + − ‘. Tendo
em conta III.2.28, podemos considerar uma família finita ÐF3 Ñ3−M de
conjuntos de f disjuntos dois a dois tal que, para cada B − F3 , :ÐBÑ e <ÐBÑ
tenham valores constantes A3 e D3 e que :ÐBÑ œ <ÐBÑ œ !, para cada B não
pertecente à união dos F3 . Tem-se então que, para cada B − F3 , :ÐBÑ  <ÐBÑ
e +:ÐBÑ têm valores constantes A3  D3 e +A3 e :ÐBÑ  <ÐBÑ œ +:ÐBÑ œ !,
e portanto
G1 Ð:  <Ñ œ " ÐA3  D3 Ñ =1 ÐF3 Ñ œ

œ " A3 =1 ÐF3 Ñ  " D3 =1 ÐF3 Ñ œ G1 Ð:Ñ  G1 Ð<Ñ


3−M

3−M 3−M

e
G1 Ð+:Ñ œ " +A3 =1 ÐF3 Ñ œ + " A3 =1 ÐF3 Ñ œ + GÐ:Ñ,
3−M 3−M

pelo que temos efetivamente uma aplicação linear. 


III.9.14 (Medidas vetoriais de Lebesgue-Stieltjes) Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um
intervalo aberto não vazio, com extremidades finitas ou infinitas, I um
espaço de Banach e 1À N Ä I uma aplicação de variação limitada. Sendo U a
5-álgebra dos borelianos de N existe então uma, e uma só, medida vetorial
=1 À U Ä I tal que, para cada + Ÿ , em N ,
=1 ÐÓ+ß ,ÓÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ,

medida, a que damos o nome de medida de Lebesgue-Stieltjes associada a 1.


Além disso, sendo .À U Ä ‘ a medida positiva de Lebesgue-Stieltjes
associada à função crescente X1 À N Ä ‘ , esta medida é finita e a medida de
variação total l=1 lÀ U Ä ‘ verifica l=1 lÐEÑ Ÿ .ÐEÑ, para cada E − U em
particular, l=1 lÐN Ñ Ÿ Z Ð1Ñ.
Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes.
1) A unicidade de uma medida =1 nos borelianos de N nas condições do
enunciado é uma consequência de III.7.11, uma vez que a classe f dos
intervalos Ó+ß ,Ó, com + Ÿ , em N , é um semianel 5 -total cuja 5 -álgebra
gerada é U (cf. I.4.10).
2) Seja . a medida positiva de Lebesgue-Stieltjes associada à função cres-
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 439

cente e contínua à direita X1 À N Ä ‘ e notemos que, tendo em conta a alí-


nea d) de I.4.14 e o que vimos na alínea a) de III.9.10, tem-se .ÐN Ñ œ Z Ð1Ñ,
em particular .ÐN Ñ  _. A relação de equivalência de igualdade quase
sempre que vamos considerar será a relativa à medida ., e o mesmo acontece
à norma m † m" no espaço P" ÐN ß ‘Ñ.
3) Para cada aplicação f -simples :À N Ä ‘, tem-se Ò:Ó − P" ÐN ß ‘Ñ e, nas
notações de III.9.13,
mG1 Ð:Ñm Ÿ mÒ:Óm" ,

e portanto, se :ß <À N Ä ‘ são aplicações f -simples tais que :ÐBÑ œ <ÐBÑ


quase sempre, então G1 Ð:Ñ œ G1 Ð<Ñ.
Subdem: O facto de se ter Ò:Ó − P" ÐN ß ‘Ñ já foi referido em III.2.30,
resultado que teremos ocasião de voltar a aplicar adiante. Consideremos uma
família finita de conjuntos F3 œ Ó+3 ß ,3 Ó de f , disjuntos dois a dois e tais que
:ÐBÑ œ A3 , para cada B − F3 , e :ÐBÑ œ !, para cada B não pertencente à
união dos F3 . Podemos então escrever, lembrando III.9.3 e III.9.7, e
reparando que a desigualdade, para B  C em N ,
m1ÐCÑ  1ÐBÑm Ÿ X1 ÐBß CÑ œ X1 ÐCÑ  X1 ÐBÑ

implica, por passagem ao limite à direita,


m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ X1 Ð,3 Ñ  X1 Ð+3 Ñ,

mG1 Ð:Ñm œ ½" A3 =1 ÐF3 ѽ Ÿ " lA3 l m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ

Ÿ " lA3 l ÐX1 Ð,3 Ñ  X1 Ð+3 ÑÑ œ " lA3 l .ÐF3 Ñ œ


3−M 3−M

3−M 3−M

œ ( l:ÐBÑl . .ÐBÑ œ mÒ:Óm" .


N

Quando :ÐBÑ œ <ÐBÑ quase sempre, tem-se Ò<  :Ó œ !, donde


mG1 Ð<Ñ  G1 Ð:Ñm œ mG1 Ð<  :Ñm Ÿ mÒ<  :Óm" œ !,

o que mostra que G1 Ð:Ñ œ G1 Ð<Ñ.


4) Consideremos o espaço vetorial Wf ÐN ß ‘Ñ das classes de equivalência de
funções f -simples :À N Ä ‘ que, como se viu em III.2.30, é um subespaço
vetorial denso de P" ÐN ß ‘Ñ. Podemos definir uma aplicação linear
s1 À Wf ÐN ß ‘Ñ Ä I ,
G s1 ÐÒ:ÓÑ œ G1 Ð:Ñ,
G

que é contínua, por verificar a desigualdade


s1 ÐÒ:ÓÑm Ÿ mÒ:Óm" ,
mG

para cada Ò:Ó − Wf ÐN ß ‘Ñ.


440 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

5) Aplicando o teorema de Topologia, sobre a extensão de aplicações


lineares contínuas definidas em subespaços vetoriais densos e com valores
num espaço de Banach, podemos garantir a existência de uma única apli-
cação linear contínua G1 À P" ÐN ß ‘Ñ Ä I que prolonga Gs1 , a qual verifica
"
ainda, para cada Ò:Ó − P ÐN ß ‘Ñ,
mG1 ÐÒ:ÓÑm Ÿ mÒ:Óm" .

6) Reparemos que, para cada boreliano E § N , a função indicatriz


ˆE À N Ä ‘ é uma aplicação em escada, em particular ÒˆE Ó − P" ÐN ß ‘Ñ e que,
no caso em que E œ Ó+ß ,Ó − f , tem-se
G1 ÐÒˆE ÓÑ œ G1 ЈE Ñ œ =1 ÐEÑ.

Podemos assim definir uma aplicação =1 À U Ä I , que nos conjuntos de f


toma o valor referido em III.9.12, pondo
=1 ÐEÑ œ G1 ÐÒˆE ÓÑ.

7) Vamos mostrar que a aplicação =1 À U Ä I definida em 6) que, como já


referimos, verifica a igualdade =1 ÐÓ+ß ,ÓÑ œ 1Ð, Ñ  1Ð+ Ñ, para + Ÿ , em N ,
é uma medida vetorial para a qual l=1 lÐEÑ Ÿ .ÐEÑ, para cada E − U .
Subdem: Para mostrar que =1 À U Ä I é uma medida vetorial, o que

disjuntos dois a dois e se E œ -E4 , então =1 ÐEÑ œ ! =1 ÐE4 Ñ, com a família


nos falta verificar é que, se ÐE4 Ñ4−M é uma família contável de conjuntos de U

no segundo membro absolutamente somável. Comecemos, para isso, por

P" ÐN ß ‘Ñ, tem-se ÒˆE Ó œ ! ÒˆE4 Ó, com a família no segundo membro absolu-
mostrar um resultado auxiliar, nomeadamente que no espaço de Banach

tamente somável. Ora, tem-se, por um lado,


" mÒˆE4 Óm" œ " .ÐE4 Ñ œ .ÐEÑ Ÿ .ÐN Ñ  _,
4−M 4−M

e, por outro lado, dado $  !, o facto de se ter !.ÐE4 Ñ œ .ÐEÑ  _


permite considerar uma parte finita M § M tal que, para cada parte finita
M w § M com M w ¨ M , se tenha

.ŠE Ï . E4 ‹ œ .ÐEÑ  " .ÐE4 Ñ  $ ,


4−M w 4−M w

tendo-se então, para cada M w nessas condições

½ÒˆE Ó  " ÒˆE4 Ó½ œ mÒˆEÏ- E4 Óm" œ .ŠE Ï . E4 ‹  $ ,


" 4−M w
4−M w 4−M w

o que mostra que ÒˆE Ó é efetivamente a soma da família dos ÒˆE4 Ó no espaço
de Banach P" ÐN ß ‘Ñ. Estabelecido este resultado auxiliar, basta-nos recordar
a caracterização das somas de famílias contáveis absolutamente somáveis
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 441

como integrais (para a medida de contagem, cf. II.2.48) para deduzir de


II.2.35 que =1 ÐEÑ œ G1 ÐÒˆE ÓÑ é efetivamente a soma da família absoluta-
mente somável dos G1 ÐÒˆE4 ÓÑ œ =1 ÐE4 Ñ. Reparamos, por fim que, tendo em
conta o que foi visto em 5), para cada E − U tem-se
m=1 ÐEÑm œ mG1 ÐÒˆE ÓÑm Ÿ mÒˆE Óm" œ .ÐEÑ

e portanto, para cada família finita de conjuntos F3 de U , onde 3 − M , disjun-


tos dois a dois e contidos em E,
" m=1 ÐF3 Ñm Ÿ " .ÐF3 Ñ œ .Ð. F3 Ñ Ÿ .ÐEÑ,
3−M 3−M 3−M

o que implica que l=1 lÐEÑ Ÿ .ÐEÑ. 


III.9.15 (A medida de Lebesgue-Stieltjes de outros intervalos) Sejam
N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um espaço de Banach e
1À N Ä I uma aplicação de variação limitada e consideremos a correspon-
dente medida de Lebesgue-Stieltjes vetorial =1 À U Ä I . Tem-se então:
a) Para cada + − Ó-ß .Ò,
=1 ÐÖ+×Ñ œ 1Ð+ Ñ  1Ð+ Ñ,

e portanto
l=1 lÐÖ+×Ñ œ m1Ð+ Ñ  1Ð+ Ñm.

b) Para cada + − Ó-ß .Ò,


=1 ÐÓ-ß +ÓÑ œ 1Ð+ Ñ  1Ð-  Ñ,

onde 1Ð-  Ñ é o limite à direita de 1 no ponto - (cf. a alínea b) de III.9.10).


c) Sendo 1Ð-  Ñ e 1Ð.  Ñ os limites laterais de 1 nas extremidades - e . de N ,
=1 ÐN Ñ œ 1Ð.  Ñ  1Ð-  Ñ. 192

Dem: a) O facto de o conjunto dos pontos de continuidade de 1 ser contável


(cf. a alínea e) de III.9.10), permite-nos considerar uma sucessão crescente
B8 Ä +, com -  B8  + e com 1 contínua em cada B8 Þ Reparando que Ö+×
é a intersecção da sucessão decrescente de conjuntos ÓB8 ß +Ó deduzimos de
III.7.3 que
=1 ÐÖ+×Ñ œ lim =1 ÐÓB8 ß +ÓÑ œ lim Ð1Ð+ Ñ  1ÐB8 ÑÑ œ 1Ð+ Ñ  1Ð+ Ñ.

A segunda igualdade resulta da primeira tendo em conta a alínea c) de III.7.4.


b) Considerando uma sucessão decrescente B8 Ä - , com -  B8  + e 1

192Apesar de a lista dos intervalos cuja medida explicitámos não esgotar todos os inter-
valos que se podem considerar, é fácil determinar as medidas dos restantes, utilizando as
propriedades de aditividade da medida e a medida dos conjuntos singulares.
442 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

contínua em cada B8 e reparando que Ó-ß +Ó é a união da sucessão crescente


de conjuntos ÓB8 ß +Ó, deduzimos de III.7.3 que
=1 ÐÓ-ß +ÓÑ œ lim =1 ÐÓB8 ß +ÓÑ œ lim Ð1Ð+ Ñ  1ÐB8 ÑÑ œ 1Ð+ Ñ  1Ð-  Ñ.

c) Considerando uma sucessão crescente B8 Ä . , com -  B8  . e 1


contínua em cada B8 e, reparando que N œ Ó-ß .Ò é a união da sucessão
crescente de conjuntos Ó-ß B8 Ó deduzimos de III.7.3 que
=1 ÐN Ñ œ lim =1 ÐÓ-ß B8 ÓÑ œ lim Ð1ÐB8 Ñ  1Ð-  ÑÑ œ 1Ð.  Ñ  1Ð-  Ñ. 

Referimos em III.9.14 que, quando 1À Ó-ß .Ò Ä I é uma aplicação de


variação limitada, a respetiva medida vetorial de Lebesgue Stieltjes
=1 À U Ä I e a medida positiva de Lebesgue-Stieltjes .À U Ä ‘ asso-
ciada à função crescente X1 À Ó-ß .Ò Ä ‘ verificam a desigualdade
l=1 lÐEÑ Ÿ .ÐEÑ, para cada boreliano E de Ó-ß .Ò. A situação seria mais
interessante se pudéssemos garantir mesmo a igualdade l=1 lÐEÑ œ .ÐEÑ,
mas constatamos que, sem alguma hipótese suplementar, isso não acon-
tece necessariamente, uma vez que, para cada + − N , decorre da alínea a)
de III.9.15 e das alíneas c) e d) de III.9.10 que
l=1 lÐÖ+×Ñ œ m1Ð+ Ñ  1Ð+ Ñm,
.ÐÖ+×Ñ œ X1 Ð+ Ñ  X1 Ð+ Ñ œ m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm.

O resultado que estabelecemos a seguir, mostra que quando a igualdade


l=1 lÐEÑ œ .ÐEÑ é verificada sempre que E é um conjunto unitário, ela é
também verificada para um boreliano arbitrário E.

III.9.16 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com extremidades


finitas ou infinitas, I um espaço de Banach e 1À N Ä I uma aplicação de
variação limitada. Vamos dizer que 1 tem descontinuidades bem comporta-
das se, para cada + − Ó-ß .Ò,
m1Ð+ Ñ  1Ð+ Ñm œ m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm  m1Ð+Ñ  1Ð+ Ñm.
Observe-se que esta igualdade é automaticamente verificada nos pontos + em
que 1 é contínua ou, mais geralmente, naqueles em que 1 é contínua à direita
ou contínua à esquerda. Mais geralmente ainda, ela é também verificada nos
pontos + tais que 1Ð+Ñ pertence ao segmento afim de extremidades 1Ð+ Ñ e
1Ð+ Ñ (cf. III.1.1).
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 443

III.9.17 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com extremidades


finitas ou infinitas, I um espaço de Banach e 1À N Ä I uma aplicação de
variação limitada com descontinuidades bem comportadas. Sendo =1 a
medida vetorial de Lebesgue-Stieltjes nos borelianos de N associada a 1 e . a
medida positiva de Lebesgue-Stieltjes associada à função crescente
X1 À N Ä ‘ , tem-se então, para cada boreliano E de N ,
l=1 lÐEÑ œ .ÐEÑ,

em particular, l=1 lÐN Ñ œ Z Ð1Ñ e, para cada + − Ó-ß .Ò,


l=1 lÐ-ß +ÓÑ œ X1 Ð+ Ñ œ X1 Ð+Ñ  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm.

Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:


1) Vamos mostrar que, sempre que + Ÿ , em Ó-ß .Ò,
m1Ð,Ñ  1Ð+Ñm Ÿ l=1 lÐÓ+ß ,ÓÑ  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm.

Subdem: Vem
m1Ð,Ñ  1Ð+Ñm Ÿ m1Ð,Ñ  1Ð, Ñm  m1Ð, Ñ  1Ð+ Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm œ
œ m1Ð, Ñ  1Ð, Ñm  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð, Ñ  1Ð+ Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm œ
œ m=1 ÐÖ,×Ñm  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m=1 ÐÓ+ß ,ÒÑm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm Ÿ
Ÿ l=1 lÐÓ+ß ,ÓÑ  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm.

2) Vamos mostrar, mais geralmente, que, sempre que + Ÿ +w Ÿ ,w Ÿ , em


Ó-ß .Ò,
m1Ð,w Ñ  1Ð+w Ñm Ÿ l=1 lÐÓ+ß ,ÓÑ  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm.

Subdem: Tendo em conta o que vimos em 1), vem


m1Ð, w Ñ  1Ð+w Ñm Ÿ m1Ð,Ñ  1Ð,w Ñm  m1Ð,w Ñ  1Ð+w Ñm  m1Ð+w Ñ  1Ð+Ñm Ÿ

Ÿ l=1 lÐÓ,w ß ,ÓÑ  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð,w Ñ  1Ð,w Ñm 
 
 l=1 lÐÓ+w ß ,w ÓÑ  m1Ð,w Ñ  1Ð,w Ñm  m1Ð+w Ñ  1Ð+w Ñm 
w
 l=1 lÐÓ+ß +w ÓÑ  m1Ð+ Ñ  1Ð+w Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm œ
œ l=1 lÐÓ+ß ,ÓÑ  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm.

3) Vamos agora mostrar que, se +  , em Ó-ß .Ò e se ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M é uma


família finita de intervalos abertos disjuntos dois a dois, com +3  ,3 em
Ò+ß ,Ó, então
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ l=1 lÐÓ+ß ,ÓÑ  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm.
3−M

Subdem: Vamos demonstrar o resultado por indução no número de


elementos de M , reparando desde já que a desigualdade é trivial quando M tem
! elementos e que ela resulta do que vimos em 2) quando M tem " elemento.
Suponhamos a desigualdade verdadeira quando M tem 8 elementos e prove-
444 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

mo-la quando M tem 8  " elementos. Lembrando que, como referido em


III.9.2, os intervalos Ó+3 ß ,3 Ó também são disjuntos dois a dois, podemos
considerar 3! − M para o qual ,3! seja máximo e, reparando que ,3 Ÿ +3! , para
cada 3 Á 3! , obtemos, aplicando 2) e a hipótese de indução,
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm œ m1Ð,3! Ñ  1Ð+3! Ñm  " m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ
3−M 3Á3!
 
Ÿ l=1 lÐÓ+3! ß ,ÓÑ  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð+3! Ñ  1Ð+3! Ñm 

 l=1 lÐÓ+ß +3! ÓÑ  m1Ð+3! Ñ  1Ð+3! Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm œ
œ l=1 lÐÓ+ß ,ÓÑ  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm.

4) Se +  , em Ó-ß .Ò, a definição de X1 Ð+ß ,Ñ, como um supremo, em III.9.1


implica agora que se tem
X1 Ð+ß ,Ñ Ÿ l=1 lÐÓ+ß ,ÓÑ  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñmß

ou seja, tendo em conta III.9.7,


X1 Ð,Ñ  X1 Ð+Ñ Ÿ l=1 lÐÓ+ß ,ÓÑ  m1Ð, Ñ  1Ð,Ñm  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm,

desigualdade que é trivialmente também verdadeira no caso em que + œ ,.


5) Lembrando a caracterização dos limites laterais de X1 À Ó-ß .Ò Ä ‘ na
alínea d) de III.9.10, concluímos agora que, para cada + Ÿ , em Ó-ß .Ò,
.ÐÓ+ß ,ÓÑ œ X1 Ð, Ñ  X1 Ð+ Ñ œ
œ X1 Ð,Ñ  m1Ð,  Ñ  1Ð,Ñm  X1 Ð+Ñ  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm Ÿ
Ÿ l=1 lÐÓ+ß ,ÓÑ.

Uma vez que a classe dos intervalos Ó+ß ,Ó nas condições anteriores constitui
um semianel 5 -total de partes de N , onde as medidas . e l=1 l são finitas (cf.
I.4.3) e que a 5-álgebra gerada por este semianel é a dos borelianos, podemos
aplicar I.4.17 para concluir que se tem, mais geralmente, para cada boreliano
E de N , .ÐEÑ Ÿ l=1 lÐEÑ, e portanto também .ÐEÑ Ÿ l=1 lÐEÑ, uma vez que a
desigualdade oposta é uma das conclusões de III.9.14.
6) As igualdades l=1 lÐN Ñ œ Z Ð1Ñ e, para cada + − Ó-ß .Ò,
l=1 lÐ-ß +ÓÑ œ X1 Ð+ Ñ œ X1 Ð+Ñ  m1Ð+ Ñ  1Ð+Ñm,

resultam das alíneas c) e d) de I.4.14 e do que vimos nas alíneas a) e d) de


III.9.10. 

Vamos agora mostrar que, quando o espaço de chegada é um espaço de


Hilbert, as aplicações de variação limitada são deriváveis em quase todos
os pontos, resultado que vai ser consequência dos dois últimos que exami-
námos na secção precedente e de um lema que estabelecemos a seguir.
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 445

III.9.18 (Lema)193 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um


espaço de Banach e 2À N Ä I uma aplicação. Suponhamos que existe uma
parte contável M § N tal que 2ÐBÑ œ !, para cada B − N Ï M , e que
" m2ÐBÑm  _.
B−M

Tem-se então que, para quase todo o B − N (relativamente à medida de


Lebesgue -), 2 é derivável em B e com 2w ÐBÑ œ !.
Dem: Vamos dividir a prova em duas partes:
1) Para cada natural 5 , notemos E5 o conjunto dos B − N Ï M tais que existe
um número infinito de elementos C − M com

½ ½ .
2ÐCÑ "
CB 5
Vamos verificar que se tem -ÐE5 Ñ œ !.
Subdem: Se B − N Ï M , tem-se B − E5 se, e só se, existe uma infinitade
de elementos C − M tais que lC  Bl  5m2ÐCÑm isto é, se, e só se, B pertence
a uma infinidade de intervalos
N5ßC œ ‘C  5m2ÐCÑmß C  5m2ÐCÑm,

ou ainda se, e só se, :5 ÐBÑ œ _, onde :5 À ‘ Ä ‘ é a função mensurável


definida por
:5 ÐBÑ œ " ˆN5ßC ÐBÑ.
C−M

Ora, tendo em conta II.1.21, tem-se

( :5 ÐBÑ .B œ " ( ˆN5ßC ÐBÑ .B œ " -ÐN5ßC Ñ œ #5 " m2ÐCÑm  _,


‘ C−M ‘ C−M C−M

pelo que, tendo em conta II.1.29, :5 ÐBÑ  _ quase sempre, isto é, existe
um boreliano F5 com -ÐF5 Ñ œ ! tal que, para cada B − ‘ Ï F5 ,
:5 ÐBÑ  _. O facto de se ter E5 § F5 implica que se tem efetivamente
-ÐE5 Ñ œ !.
2) Seja ] § N ,
] œ M  . E5 ,
5−

que verifica -Ð] Ñ œ !, por ser união contável de conjuntos de medida ! (os
conjuntos E5 e os conjuntos ÖC×, com C − M ). Vamos verificar que, se
B! − N Ï ] , tem-se 2w ÐB! Ñ œ !, o que terminará a demonstração.
Subdem: Seja $  ! arbitrário. Seja 5 −  tal que 5"  $ . Uma vez que

193cf. Rudin [10].


446 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

B!  M , tem-se 2ÐB! Ñ œ ! e, uma vez que B!  E5 , só existe um número


finito de elementos C − M tais que ½ CB
2ÐCÑ
!
½  5" , o que nos permite considerar
&  ! tal que, para cada C − ÓB!  &ß B!  &Ò  N ,

½ ½œ½ ½Ÿ $
2ÐCÑ  2ÐB! Ñ 2ÐCÑ "
C  B! C  B! 5
(reparar que o primeiro membro é ! se C Â M ). Ficou assim provado que
2w ÐB! Ñ œ !. 
III.9.19 (Derivabilidade das aplicações de variação limitada) Sejam
N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um espaço de Hilbert e
1À N Ä I uma aplicação de variação limitada. Tem-se então:
a) Existe uma aplicação topologicamente mensurável 0 À N Ä I tal que se
tenha 1w Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ quase sempre (relativamente à medida de Lebesgue -), em
particular 1 é derivável em quase todos os pontos de N .
b) Qualquer aplicação topologicamente mensurável 0 À N Ä I nas condições
de a) é uma aplicação integrável (relativamente à medida de Lebesgue - ).194
Dem: Consideremos a medida de Lebesgue-Stieltjes vetorial =1 À U Ä I nos
borelianos de N (cf. III.9.14). Tendo em conta III.7.18, consideremos uma
decomposição de Lebesgue de =1 , relativa à medida de Lebesgue -,
constituída por uma medida --absolutamente contínua =À U Ä I e uma
medida --singular =w À U Ä I tais que =1 œ =  =w . Tendo em conta o
teorema de Radon-Nikodym para medidas vetoriais (cf. III.7.21), conside-
remos uma aplicação integrável 0 À N Ä I tal que = œ -Ð0 Ñ , isto é, que

=ÐEÑ œ ( 0 ÐBÑ .B,


E

para cada boreliano E de N .195 Tendo em conta III.9.15, para cada > − N ,
tem-se
1Ð> Ñ  1Ð-  Ñ œ =1 ÐÓ-ß >ÓÑ œ -Ð0 Ñ ÐÓ-ß >ÓÑ  =w ÐÓ-ß >ÓÑ,

portanto
1Ð>Ñ œ 1Ð-  Ñ  Ð1Ð>Ñ  1Ð> ÑÑ  -Ð0 Ñ ÐÓ-ß >ÓÑ  =w ÐÓ-ß >ÓÑ œ
(1)
œ 1Ð-  Ñ  2" Ð>Ñ  2# Ð>Ñ  2$ Ð>Ñ,

onde

194Quem resolver o exercício III.9.10 adiante, constatará que há uma escolha natural para
0 , nomeadamente a aplicação que toma o valor 1w Ð>Ñ nos pontos em que 1 é derivável e,
por exemplo, o valor ! nos restantes pontos.
195É para podermos aplicar esse resultado que exigimos que I seja um espaço de Hilbert,
e não meramente um espaço de Banach.
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 447

2" Ð>Ñ œ 1Ð>Ñ  1Ð> Ñ, 2# Ð>Ñ œ -Ð0 Ñ ÐÓ-ß >ÓÑ, 2$ Ð>Ñ œ =w ÐÓ-ß >ÓÑ.

Tendo em conta III.9.10, o conjunto M dos pontos > − N onde 1 não é contí-
nua é contável, tendo-se 2" Ð>Ñ œ ! para cada > − N Ï M . Além disso, notando
. a medida positiva finita de Lebesgue-Stieltjes associada à função variação
total, crescente e contínua à direita, X1 À N Ä Ò!ß Z Ð1ÑÓ § ‘ , deduzimos de
I.4.14 e III.9.10 que
" m2" Ð>Ñm Ÿ " m1Ð> Ñ  1Ð>Ñm  m1Ð>Ñ  1Ð> Ñm œ

œ " Z1 Ð> Ñ  Z1 Ð> Ñ œ " .ÐÖ>×Ñ œ .ÐMÑ  _.


>−M >−M

>−M >−M

Podemos assim aplicar o lema III.9.18 para concluir que se tem 2"w Ð>Ñ œ !
quase sempre. Por outro lado, resulta de III.8.7 e III.8.8 que 2#w Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ
quase sempre e que 2$w Ð>Ñ œ ! quase sempre. Deduzimos assim de (1) que,
para quase todo o > − Ó-ß .Ò, 1 é derivável em >, e com 1w Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ. Ficou
assim provada a afirmação em a) e a de b) resulta de que, se s0 À N Ä I é
outra aplicação topologicamente mensurável com 1w Ð>Ñ œ s0 Ð>Ñ quase sempre,
então 0 Ð>Ñ œ s0 Ð>Ñ quase sempre e portanto, por 0 ser integrável, s0 é também
integrável. 
III.9.20 (Corolário — Teorema de Lebesgue sobre a derivabilidade das fun-
ções crescentes) Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com
extremidades finitas ou infinitas, e 1À N Ä ‘ uma função crescente (no
sentido lato). Tem-se então que 1 é derivável em quase todos os pontos de N
(relativamente à medida de Lebesgue -).
Dem: Se a função crescente 1 fosse limitada, ela seria uma aplicação de
variação limitada (cf. a alínea b) de III.9.4) pelo que a conclusão era uma
aplicação directa do resultado precedente. No caso geral, podemos considerar
duas sucessões de elementos -8  .8 em Ó-ß .Ò, com -8 Ä - e .8 Ä . . Uma
vez que a restrição de 1 a cada Ó-8 ß .8 Ò já é limitada, por admitir 1Ð-8 Ñ e 1Ð.8 Ñ
como minorante e majorante respectivamente, podemos concluir a existência,
para cada 8 de um boreliano ]8 § Ó-8 ß .8 Ò com -Ð]8 Ñ œ ! tal que 1 seja
derivável em cada ponto de Ó-8 ß .8 Ò Ï ]8 e, sendo ] a união dos ]8 , que
verifica ainda -Ð] Ñ œ !, o facto de Ó-ß .Ò ser a união dos Ó-8 ß .8 Ò implica que
1 é derivável em cada ponto de Ó-ß .Ò Ï ] . 

Vamos agora examinar em que condições é que a medida de Lebes-


gue-Stieltjes =1 À U Ä I , associada a uma aplicação de variação limitada
1À Ó-ß .Ò Ä I, é uma medida --absolutamente contínua, onde - é a
medida de Lebesgue na 5 -álgebra U dos borelianos de Ó-ß .Ò. Começamos
com um lema que é já conhecido por quem tenha resolvido o exercício
I.2.6 e é porventura facilmente antecipado por quem tenha feito o exer-
cício II.1.19, de certo modo mais elementar que aquele, e cuja resolução
retomamos na parte essencial da demonstração do lema.
448 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

III.9.21 (Lema) Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto, com extremidades


finitas ou infinitas, - a medida de Lebesgue na 5 -álgebra U dos borelianos de
N e .À U Ä ‘ uma medida positiva finita. Tem-se então que . é --absolu-
tamente contínua (cf. III.3.1) se, e só se, qualquer que seja $  !, existe
&  ! tal que, para cada boreliano E de N que verifique -ÐEÑ  &, tem-se
.ÐEÑ  $ .
Dem: 1) Suponhamos que, para cada $  !, existe &  ! tal que .ÐEÑ  $ ,
sempre que -ÐEÑ  &. Se E é um boreliano com -ÐEÑ œ !, podemos então
concluir que .ÐEÑ  $ , para todo o $  !, portanto .ÐEÑ œ !. Concluímos
assim que a medida . é --absolutamente contínua.
2) Suponhamos, reciprocamente, que . é --absolutamente contínua. Tendo
em conta o teorema de Radon-Nikodym (cf. III.3.9), podemos considerar
uma aplicação mensurável :À Ó-ß .Ò Ä ‘ tal que . œ -Ð:Ñ , isto é, tal que,
para cada boreliano E de Ó-ß .Ò,

.ÐEÑ œ ( :ÐBÑ .B œ ( :ÐBÑ ˆE ÐBÑ .B.


E Ó-ß.Ò

Seja $  ! arbitrário. Consideremos a sucessão crescente de borelianos


E8 œ ÖB − N ± :ÐBÑ Ÿ 8×,
cuja união é o intervalo N œ Ó-ß .Ò. Tem-se assim .ÐE8 Ñ Ä .ÐN Ñ  _
pelo que podemos fixar 8 tal que .ÐE8 Ñ  .ÐN Ñ  $# , isto é, .ÐN Ï E8 Ñ  $# .
$
Seja & œ #8 e consideremos um boreliano arbitrário E com -ÐEÑ  &.
Tem-se então que E é a união disjunta dos borelianos E  E8 e E Ï E8 e,
por ser E Ï E8 § N Ï E8 e :ÐBÑ Ÿ 8, para cada B − E  E8 , podemos
escrever

.ÐEÑ œ .ÐE  E8 Ñ  .ÐE Ï E8 Ñ Ÿ ( 8 .B  .ÐN Ï E8 Ñ 


EE8
$ $
 8-ÐE  E8 Ñ  Ÿ 8&  œ $ . 
# #

III.9.22 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com cada


extremidade finita ou infinita, I um espaço de Banach e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma
aplicação. Diz-se que 1 é absolutamente contínua se, para cada $  !, existe

ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M disjuntos dois a dois, com +3  ,3 em Ò-ß .Ò e !Ð,3  +3 Ñ  &,


&  ! tal que, qualquer que seja a família finita de intervalos abertos

vem
" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  $.
3−M

Repare-se que uma aplicação absolutamente contínua é, em particular,


contínua, e mesmo uniformemente contínua, como se constata considerando
famílias constituídas por um único intervalo.
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 449

III.9.23 (Comparação das duas noções de continuidade absoluta) Sejam


N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com cada extremidade finita
ou infinita e -À U Ä ‘ a medida de Lebesgue nos borelianos de N . Sejam
I um espaço de Banach e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação de variação limitada
com descontinuidades bem comportadas (cf. III.9.16) e consideremos a
correspondente medida de Lebesgue-Stieltjes vetorial =1 À U Ä I . Tem-se
então que 1 é uma aplicação absolutamente contínua se, e só se, =1 é uma
medida vetorial --absolutamente contínua.
Dem: 1) Suponhamos que a medida vetorial =1 é --absolutamente contínua.
Em particular, para cada + − Ó-ß .Ò o facto de ser -ÐÖ+×Ñ œ ! implica que
1Ð+ Ñ  1Ð+ Ñ œ =1 ÐÖ+×Ñ œ !,

e portanto, por as descontinuidades de 1 serem bem comportadas, 1 é


contínua em +. Seja $  ! arbitrário. Tendo em conta III.7.16, a medida
positiva l=1 l é também --absolutamente contínua e portanto, pelo lema
III.9.21, podemos considerar &  ! tal que, para cada boreliano E de N com

ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M disjuntos dois a dois, com +3  ,3 em Ò-ß .Ò e !Ð,3  +3 Ñ  &,


-ÐEÑ  &, tem-se l=1 lÐEÑ  $ . Dada uma família finita de intervalos abertos

tem-se então que o boreliano E œ -Ó+3 ß ,3 Ò verifica

-ÐEÑ œ " Ð,3  +3 Ñ  &,


3−M

o que implica que


" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm œ " m=1 ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑm Ÿ l=1 lÐEÑ  $.
3−M 3−M

Provámos assim que a aplicação 1 é absolutamente contínua.


2) Suponhamos agora que a aplicação 1 é absolutamente contínua, em
particular contínua.
Seja E § N um boreliano tal que -ÐEÑ œ ! e seja $  ! arbitrário.

disjuntos dois a dois, com +3  ,3 em Ò-ß .Ò e !Ð,3  +3 Ñ  &, venha


Seja &  ! tal que, para cada família finita de intervalos abertos ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−O

" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm 


$
(1) .
3−O
#

disjuntos dois a dois, com +3  ,3 em Ò-ß .Ò e !Ð,3  +3 Ñ  &, tem-se


Reparemos que, para cada família contável de intervalos abertos ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M

" m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm Ÿ


$
,
3−M
#

uma vez que, para cada parte finita O § M , a correspondente soma com
3 − O é menor que $# .
Tendo em conta I.4.8, o facto de ser -ÐEÑ œ ! permite-nos considerar uma
450 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

com +3  ,3 em Ò-ß .Ò, E § -Ó+3 ß ,3 Ó e !Ð,3  +3 Ñ  &. Lembrando o lema


família contável de intervalos semiabertos ÐÓ+3 ß ,3 ÓÑ3−M disjuntos dois a dois,

I.3.10, consideremos uma família Ð$3 Ñ3−M de números $3  ! tal que ! $3  #$


e escolhamos, para cada 3 − M , uma família finita de intervalos abertos
disjuntos dois a dois Ó+3ß5 ß ,3ß5 Ò, onde 5 − O3 , com +3ß5  ,3ß5 em Ò+3 ß ,3 Ó tal
que
" m1Ð,3ß5 Ñ  1Ð+3ß5 Ñm   X1 Ð+3 ß ,3 Ñ  $3 œ X1 Ð,3 Ñ  X1 Ð+3 Ñ  $3 ,
5−O3

ou seja, tendo em conta III.9.17 e as alíneas c) e d) de III.9.10,


" m1Ð,3ß5 Ñ  1Ð+3ß5 Ñm   l=1 lÐÓ+3 ß ,3 ÓÑ  $3
5−O3

Consideremos a família contável dos intervalos abertos Ó+3ß5 ß ,3ß5 Ò, com 3 − M


e 5 − O3 , que são também disjuntos dois a dois e que verificam

" Ð,3ß5  +3ß5 Ñ œ " " -ÐÓ+3ß5 ß ,3ß5 ÒÑ œ " -Š. Ó+3ß5 ß ,3ß5 Ò‹ Ÿ

Ÿ " -ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ œ " Ð,3  +3 Ñ  &


3ß5 3−M 5−O3 3−M 5−O3

3−M 3−M

e portanto, lembrando a desigualdade (1),

|=1 lÐEÑ Ÿ " l=1 lÐÓ+3 ß ,3 ÓÑ Ÿ " Š$3  " m1Ð,3ß5 Ñ  1Ð+3ß5 Ñm‹ 
3−M 3−M 5−O3

  " m1Ð,3ß5 Ñ  1Ð+3ß5 Ñm Ÿ  œ $ ,


$ $ $
# 3ß5
# #

o que, tendo em conta a arbitrariedade de $  !, implica que l=1 lÐEÑ œ !.


Ficou assim provado que a medida positiva l=1 l é --absolutamente contínua,
e portanto, por III.7.16, que a medida vetorial =1 é também --absolutamente
contínua. 
III.9.24 (Derivabilidade das aplicações absolutamente contínuas) Sejam
N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, com cada extremidade finita
ou infinita, I um espaço de Hilbert e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação de
variação limitada196 e absolutamente contínua. Tem-se então:

196A hipótese de 1 ser de variação limitada pode ser dispensada desde que se enfraqueça
algumas das conclusões, nomeadamente: a aplicação 0 poderá ser só localmente integrá-
vel, em vez de integrável, o valor 1Ð-  Ñ deverá ser substituído por 1Ð>! Ñ, para um >!
escolhido em Ó-ß .Ò, e o integral em Ó-ß BÓ deverá ser substituído pelo integral de >! a B (no
sentido referido em II.3.5). O passo essencial para obter esta conclusão mais geral consis-
te em aplicar o presente resultado às restrições de 1 a intervalos Ó+ß ,Ò com +  , em
Ó-ß .Ò, reparando que, como se verá no exercício III.9.9 adiante, essas restrições são neces-
sáriamente de variação limitada. Aliás, e pela mesma razão, a hipótese de 1 ser absoluta-
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 451

a) Existe uma aplicação topologicamente mensurável 0 À Ó-ß .Ò Ä I tal que


1w Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ quase sempre (relativamente à medida de Lebesgue -).
b) Qualquer que seja a aplicação topologicamente mensurável 0 À Ó-ß .Ò Ä I
nas condições de a),197 tem-se que 0 é integrável e, para cada B − Ó-ß .Ò,

1ÐBÑ œ 1Ð-  Ñ  ( 0 Ð>Ñ .>.


Ó-ßBÓ

Dem: Comecemos por notar que a conclusão de a) foi já demonstrada em


III.9.19. Vamos, no entanto, reobtê-la, em conjunto com a parte essencial da
conclusão de b). Seja =1 a medida vetorial de Lebesgue-Stieltjes, nos bore-
lianos de N , associada a 1, medida que, tendo em conta III.9.23, é
--absolutamente contínua. Tendo em conta o teorema de Radon-Nikodym
para medidas vetoriais (cf. III.7.21), consideremos uma aplicação integrável
0 À N Ä I tal que = œ -Ð0 Ñ , isto é, que

=ÐEÑ œ ( 0 ÐBÑ .B,


E

para cada boreliano E de N . Tendo em conta III.9.15, para cada B − N ,


tem-se
1ÐBÑ  1Ð-  Ñ œ 1ÐB Ñ  1Ð-  Ñ œ =1 ÐÓ-ß BÓÑ œ -Ð0 Ñ ÐÓ-ß BÓÑ,

e portanto

1ÐBÑ œ 1Ð-  Ñ  -Ð0 Ñ ÐÓ-ß BÓÑ œ 1Ð-  Ñ  ( 0 Ð>Ñ .>.


Ó-ßBÓ

Quanto a b), basta repararmos que, se s0 À Ó-ß .Ò Ä I é outra aplicação


topologicamente mensurável tal que 1w Ð>Ñ œ s0 Ð>Ñ quase sempre, então tem-se
s0 Ð>Ñ œ 0 Ð>Ñ, e portanto s0 também é integrável e, para cada B − N

1ÐBÑ œ 1Ð-  Ñ  ( 0 Ð>Ñ .> œ 1Ð-  Ñ  ( s0 Ð>Ñ .>. 


Ó-ßBÓ Ó-ßBÓ

mente contínua pode ser enfraquecida, bastando pedir que 1 tenha restrição absolutamente
contínua a cada um dos intervalos Ó+ß ,Ò referidos (costuma-se então dizer-se que 1 é
localmente absolutamente contínua).
197Quem resolver o exercício III.9.10 adiante, constatará que há uma escolha natural para
0 , nomeadamente a aplicação que toma o valor 1w Ð>Ñ nos pontos em que 1 é derivável e,
por exemplo, o valor ! nos restantes pontos.
452 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

EXERCÍCIOS

Ex III.9.1 Mostrar que, se 1À Ó-ß .Ò Ä I é uma aplicação de variação limitada,


então 1 é uma aplicação limitada.
Ex III.9.2 Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio e 1À Ó-ß .Ò Ä ‘ uma
aplicação.
a) Verificar que, se 1 é de variação limitada, então a aplicação 2À Ó-ß .Ò Ä ‘,
definida por 2ÐBÑ œ X1 ÐBÑ  1ÐBÑ, é uma aplicação crescente.
Sugestão: Para B  C deduzir de III.9.3 e III.9.7 a desigualdade
1ÐCÑ  1ÐBÑ Ÿ X1 ÐCÑ  X1 ÐBÑ.

b) (Teorema de Jordan) Deduzir de a) que a aplicação 1À Ó-ß .Ò Ä ‘ é de


variação limitada se, e só se, 1 é diferença de duas funções crescentes e
limitadas Ó-ß .Ò Ä ‘.
Ex III.9.3 a) Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I e J espaços de
Banach e 0À I Ä J uma aplicação linear contínua, com norma m0m.198
Mostrar que, se 1À Ó-ß .Ò Ä I é uma aplicação de variação limitada, então
0 ‰ 1À Ó-ß .Ò Ä J é também de variação limitada e com Z Ð0 ‰ 1Ñ Ÿ m0mZ Ð1Ñ.
b) Deduzir de a) que, considerando em ‘8 uma qualquer das suas normas
equivalentes, se 1À Ó-ß .Ò Ä ‘8 é uma aplicação, com
1ÐBÑ œ Ð1" ÐBÑß á ß 18 ÐBÑÑ,
então 1 é de variação limitada se, e só se, cada componente 14 À Ó-ß .Ò Ä ‘ é
de variação limitada. Concluir, em particular, que uma aplicação
1À Ó-ß .Ò Ä ‚ é de variação limitada se, e só se, as suas partes real e imagi-
nária são ambas aplicações de variação limitada Ó-ß .Ò Ä ‘.
Ex III.9.4 Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um espaço de
Banach e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação. Mostrar que, se existir uma medida
vetorial =1 nos borelianos de Ó-ß .Ò tal que, para cada B Ÿ C em Ó-ß .Ò,
=1 ÐÓBß CÓÑ œ 1ÐCÑ  1ÐBÑ,

então a aplicação 1 é de variação limitada e contínua à direita.


Sugestão: Para verificar que 1 é de variação limitada lembrar a nota III.9.2 e
o facto de a medida de variação total duma medida vetorial ser finita. Para
mostrar que 1 é contínua à direita em C , escolher B  C e uma sucessão

198Recordar que a norma de 0 é a menor das constantes Q   ! tais que m0Ð?Ñm Ÿ Q m?m,
para todo o ? − I .
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 453

decrescente de elementos C8  C com C8 Ä C e relacionar ÓBß CÓ com os


intervalos ÓBß C8 Ó.
Ex III.9.5 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio e 1À Ó-ß .Ò Ä ‘
uma aplicação crescente e limitada. Mostrar que, para cada + − Ó-ß .Ò, tem-se
X1 Ð+Ñ œ 1Ð+Ñ  1Ð-  Ñ e deduzir que as medidas de Lebesgue Stieltjes nos
borelianos de N associadas a 1 e a X1 coincidem. Sugestão: Lembrar o
exemplo na alínea b) de III.9.4 e ter em conta III.9.8.
Ex III.9.6 (Comparar com a alínea c) de III.9.4) Sejam Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo
aberto não vazio, I um espaço de Banach e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação
derivável em cada > − Ó-ß .Ò e com 1w À Ó-ß .Ò Ä I contínua.
a) Mostrar que se 1w À Ó-ß .Ò Ä I , além de contínua, é integrável, então 1, que
já sabemos ser de variação limitada, verifica mesmo

Z Ð1Ñ œ ( m1w ÐBÑm .B.


Ó-ß.Ò

Sugestão: Começar por reparar que, para cada +  , em Ó-ß .Ò, a medida de
Lebesgue-Stieltjes vetorial =1 verifica

=1 ÐÓ+ß ,ÓÑ œ ( 1w ÐBÑ .B


Ó+ß,Ó

e coincide portanto com a medida -Ð1w Ñ , definida a partir da medida de


Lebesgue pela função integrável 1w (cf. III.7.12). Utilizar esse resultado para
concluir que a medida de variação total l=1 l coincide com a medida positiva
definida a partir da medida de Lebesgue pela função :ÐBÑ œ m1w ÐBÑm e
lembrar que, por III.9.17, Z Ð1Ñ œ l=1 lÐÓ-ß .ÒÑ.
b) Deduzir de a) que, se 1w À Ó-ß .Ò Ä I é contínua, mas não integrável, então
a aplicação 1 não é de variação limitada. Sugestão: Reparar que, para cada
+  , em Ó-ß .Ò, a restrição de 1w a Ó+ß ,Ò já é integrável.
Ex III.9.7 Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘ um intervalo aberto não vazio, I um espaço de
Banach e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação contínua. Suponhamos que existe
Q   ! e uma parte contável \ § N tal que, para cada B − N Ï \ , 1 seja
derivável em B e com m1w ÐBÑm Ÿ Q .
a) Tendo presente a conclusão do exercício II.3.2, mostrar que a aplicação 1
é absolutamente contínua.
b) Tendo presente a mesma conclusão, mostrar que, se o intervalo N é
limitado, então 1 é de variação limitada e com Z Ð1Ñ Ÿ Q Ð.  -Ñ.
c) Verificar que as conclusões de a) e b) não seriam válidas se, em vez de
exigirmos que o conjunto excecional \ seja contável, exigíssemos apenas
que ele verificasse -Ð\Ñ œ !. Sugestão: Pensar na restrição ao intervalo
Ó!ß "Ò da função singular de Cantor-Lebesgue 0 À Ò!ß "Ó Ä Ò!ß "Ó § ‘, estudada
no exercício I.4.11 e ter em conta III.9.24.
454 Cap. III. Espaços funcionais e aplicações

Ex III.9.8 Como referimos em III.9.16, se uma aplicação de variação limitada


1À Ó-ß .Ò Ä I é tal que, para cada + − Ó-ß .Ò, 1Ð+Ñ pertence ao segmento afim
de extremidades 1Ð+ Ñ e 1Ð+ Ñ, então 1 tem singularidades bem
comportadas. Mostrar que, no caso em que o espaço de Banach I é um
espaço de Hilbert, a recíproca é também verdadeira: Se uma aplicação de
variação limitada 1À Ó-ß .Ò Ä I tem singularidades bem comportadas, então,
para cada + − Ó-ß .Ò, 1Ð+Ñ pertence ao segmento afim de extremidades 1Ð+ Ñ
e 1Ð+ Ñ.
Ex III.9.9 a) Mostrar que, se N œ Ó-ß .Ò § ‘ é um intervalo aberto limitado e não
vazio, I é um espaço de Banach e 1À N Ä I é absolutamente contínua, então
1 é de variação limitada. Sugestão: Considerar &  ! tal que qualquer que

com +3  ,3 em Ò-ß .Ò e !Ð,3  +3 Ñ  & vem ! m1Ð,3 Ñ  1Ð+3 Ñm  " e


seja a família finita de intervalos abertos ÐÓ+3 ß ,3 ÒÑ3−M disjuntos dois a dois

verificar que quaisquer que sejam +  , em Ó-ß .Ò com ,  +  & a restrição


de 1 a Ó+ß ,Ò é de variação limitada e com Z Ð1Ó+ß,Ò Ñ Ÿ ". Aplicar então III.9.11
para mostrar que, sendo 8 −  tal que .- 8  &, 1 é de variação limitada e
com Z Ð1Ñ Ÿ 8.
b) Sendo 1À ‘ Ä ‘ a aplicação definida por 1ÐBÑ œ B, verificar que 1 é
absolutamente contínua, mas não é de variação limitada.
c) Sendo 1À Ó!ß "Ò Ä ‘ a aplicação definida por 1ÐBÑ œ BsinÐ B" Ñ, verificar que
1 não é de variação limitada, e portanto também não é absolutamente contí-
nua, mas que 1 é uniformemente contínua (reparar que 1 é a restrição de uma
aplicação contínua definida em Ò!ß "Ó).
Ex III.9.10 (Mensurabilidade da aplicação derivada) Sejam N œ Ó-ß .Ò § ‘
um intervalo aberto não vazio, com cada extremidade finita ou infinita, I um
espaço de Banach e 1À Ó-ß .Ò Ä I uma aplicação que seja contínua ou, mais
geralmente, que seja contínua em todos os pontos de N não pertencentes a
uma certa parte contável ] (é o que acontece, por exemplo, se 1 for de
variação limitada, como referido na alínea e) de III.9.10).
a) Verificar que 1 é uma aplicação topologicamente mensurável.
Sugestão: Lembrar II.2.11 e considerar as restrições de 1 a N Ï ] e a cada
conjunto unitário Ö+× com + − ] .
b) Sendo \ § N o conjunto dos pontos B tais que 1 seja derivável em B,
mostrar que \ é um boreliano e que é mensurável a aplicação \ Ä I ,
B È 1w ÐBÑ.
Sugestão: Começar por reparar que basta considerar o caso em que N œ ‘,
se necessário substituindo 1 pelo seu prolongamento que toma o valor ! em
cada ponto de ‘ Ï N . Lembrando a condição de Cauchy para a existência de
limite de uma aplicação num ponto, reparar que B − \ se, e só se, para cada
racional $  !, existe um racional &  ! tal que, sempre que C e Cw pertencem
a ÓB  &ß B  &ÒÏÖB×,
§9. Aplicações de variação limitada e medidas de Lebesgue-Stieltjes 455

½ ½Ÿ$
1ÐCÑ  1ÐBÑ 1ÐCw Ñ  1ÐBÑ

CB Cw  B
e que esta última condição é equivalente à de se ter, sempre que C e Cw perten-
cem a ÓB  &ß B  &Ò,
mÐC w  BÑÐ1ÐCÑ  1ÐBÑÑ  ÐC  BÑÐ1ÐCw Ñ  1ÐBÑÑm Ÿ $ lC  BllCw  Bl
e utilizar um argumento de passagem ao limite para mostrar que ela também
é equivalente à de esta última desigualdade ser verificada para Cß Cw na inter-
secção de ÓB  &ß B  &Ò com o conjunto contável   ] , mostrando, para
isso, que todo o elemento C em ÓB  &ß B  &Ò é limite de uma sucessão de
elementos C8 do conjunto ÓB  &ß B  &Ò que pertencem a   ] , podendo
escolher-se a sucessão constante no caso em que C −   ] . Para cada par
de racionais $  ! e &  !, e cada par de elementos Cß Cw em   ] , mostrar
que é boreliano o conjunto \$ ß&ßCßCw dos pontos B − ‘, tais que lC  Bl   &,
ou lCw  Bl   &, ou
mÐC w  BÑÐ1ÐCÑ  1ÐBÑÑ  ÐC  BÑÐ1ÐCw Ñ  1ÐBÑÑm Ÿ $ lC  BllCw  Bl,
e relacionar \ com este conjunto. Reparar, enfim, que, para cada B − \ ,
tem-se
"
1w ÐBÑ œ lim 8 Ð1ÐB  Ñ  1ÐBÑÑ.
8
Apêndice 1
Uma versão do teorema de Sard

Na secção II.5 estudámos o modo como se pode calcular a medida de


Lebesgue da imagem de um subconjunto de um aberto Y de ‘8 por meio
de um difeomorfismo de classe G " , 0 de Y sobre um aberto Z § ‘8 .
Neste apêndice vamos examinar o que se pode dizer sob hipóteses mais
fracas, nomeadamente quando temos simplesmente uma aplicação
0 À Y Ä ‘8 de classe G " , que pode não ser injetiva e que, mesmo que o
seja, pode não ser um difeomorfismo. Uma vez que, para cada B − Y , a
aplicação linear derivada H0B À ‘8 Ä ‘8 já não é necessariamente um
isomorfismo, uma primeira coisa de que necessitaremos é generalizar a
noção de coeficiente de dilatação de modo a incluir o caso das aplicações
lineares que não são isomorfismos.

Ap1.1 (Extensão trivial dos coeficientes de dilatação) Podemos estender


trivialmente a definição dos coeficientes de dilatação em II.5.10 definindo,
para cada aplicação linear 0À ‘8 Ä ‘8 que não seja isomorfismo, -0 œ !.
A propriedade definidora dos coeficientes de dilatação continua a valer, mas
com um cuidado suplementar:
Se E § ‘8 é um boreliano e se 0ÐEÑ também é boreliano,199 então
-8 Ð0ÐEÑÑ œ ! œ -0 -8 ÐEÑ.

uma vez que 0ÐEÑ § 0Б8 Ñ e, tendo em conta II.5.11 e o facto de 0Б8 Ñ ser
um subespaço vetorial de dimensão menor que 8, tem-se -8 Ð0Б8 ÑÑ œ !.
Repare-se que a propriedade na alínea b) de II.5.13, continua a ser verificada
neste quadro estendido, nomeadamente se 0ß (À ‘8 Ä ‘8 são aplicações
lineares, então a aplicação linear ( ‰ 0À ‘8 Ä ‘8 tem coeficiente de dilatação
-(‰0 œ -( ‚ -0 (( ‰ 0 é isomorfismo se, e só se, 0 e ( são ambos isomor-
fismos). Do mesmo modo, continua a ser válida para qualquer aplicação
linear a caracterização
-0 œ ldetÐ0Ñl.

Uma dificuldade que decorre de não estarmos a exigir que 0 À Y Ä ‘8


seja um difeomorfismo de classe G " está em que nada nos garante que, se
E § Y é um boreliano, 0 ÐEÑ tenha que ser um boreliano, pelo que não
fará sentido falar da medida de 0 ÐEÑ. Começamos assim por examinar

199Infelizmente, nada nos garante que a imagem direta de um boreliano por uma aplica-
ção contínua, mesmo quando esta é uma aplicação linear, tenha que ser um boreliano.
458 Ap. 1. Uma versão do teorema de Sard

uma situação muito simples em que é possível garantir que uma tal
imagem é um boreliano e mostramos em seguida que um número
significativo de borelianos de ‘8 está nessa situação.

Ap1.2 Vamos dizer que um subconjunto E § ‘8 é 5 -compacto200 se for união


de uma família contável ÐO4 Ñ4−N de subconjuntos compactos O4 de ‘8 .
Ap1.3 Sejam E § ‘8 um conjunto 5 -compacto e 0 À E Ä ‘: uma aplicação
contínua. Tem-se então que o conjunto 0 ÐEÑ § ‘: é também 5 -compacto,
em particular é boreliano.
Dem: Sendo ÐO4 Ñ4−N uma família contável de compactos de união E, o
conjunto 0 ÐEÑ é a união da família contável dos compactos 0 ÐO4 Ñ, que são,
em particular, fechados em ‘: , e portanto borelianos, pelo que 0 ÐEÑ é
5-compacto e boreliano. 
Ap1.4 (Exemplos de conjuntos 5 -compactos)
a) Qualquer aberto Y § ‘8 é 5 -compacto.
b) Qualquer fechado E § ‘8 é 5 -compacto.
c) Se E e F são subconjuntos 5 -compactos de ‘8 , então E  F é também
5-compacto. Em consequência, uma intersecção finita de subconjuntos
5 -compactos de ‘8 é um subconjunto 5 -compacto.

então a união - E4 é também um conjunto 5 -compacto.


d) Se ÐE4 Ñ4−N é uma família contável de subconjuntos 5 -compactos de ‘8 ,

4−N
Dem: a) O próprio ‘8 é 5 -compacto, por ser a união, por exemplo, das bolas
fechadas de centro ! e raio 8 (8 − ), que são conjuntos fechados e limita-
dos, e portanto compactos. Se Y é um aberto de ‘8 diferente de ‘8 ,
podemos considerar, para cada 8 − , o conjunto
"
O8 œ ÖB − ‘8 ± mBm Ÿ 8 • .ÐBß ‘8 Ï Y Ñ   ×
8
que é fechado e limitado (lembrar que a norma e a função distância ao
subconjunto fechado não vazio ‘8 Ï Y são funções contínuas) e portanto
compacto. Reparando que B − Y se, e só se, .ÐBß ‘8 Ï Y Ñ  !, vemos que
os conjuntos O8 estão contidos em Y e têm união Y , já que, para cada
B − Y , tem-se, para 8 suficientemente grande, mBm Ÿ 8 e .ÐBß ‘8 Ï Y Ñ   8" .
b) Seja ÐO4 Ñ4−N uma família contável de compactos de união ‘8 . Se E § ‘8
é fechado, então E á a união, dos conjuntos O4  E, que são fechados nos
compactos O4 , e portanto compactos.
c) Sejam ÐO4 Ñ4−N e ÐO3w Ñ3−M duas famílias contáveis de compactos com
uniões iguais a E e F , respetivamente. Tem-se então que E  F é a união da
família contável de conjuntos O4  O3w , com Ð4ß 3Ñ − N ‚ M , onde cada

200Estadefinição pode ser dada, mais geralmente, no caso em que substituímos ‘8 por
um espaço topológico \ .
Ap. 1. Uma versão do teorema de Sard 459

O4  O3w é compacto, por ser fechado em O4 .

com 3 − M4 , com união E4 . Tem-se então que - E4 é a união da família


d) Para cada 4, podemos considerar uma família contável de compactos O4ß3 ,

4−N
contável de conjuntos O4ß3 , onde o conjunto de índices considerado é o dos
pares Ð4ß 3Ñ com 4 − N e 3 − M4 (união contável de conjuntos contáveis). 

No sentido de aligeirarmos a demonstração do resultado que temos em


vista, começamos por estabelecer um lema, que inclui a parte essencial da
respetiva demonstração.

Ap1.5 Repare-se que, se Y § ‘8 é um aberto e 0 À Y Ä ‘8 é uma aplicação de


classe G " , então, para cada B − Y , a matriz da aplicação linear
H0B À ‘8 Ä ‘8 é a matriz jacobiana, cujo elemento da linha 3 e coluna 4 é a
`03
derivada parcial `B 4
ÐBÑ da coordenada 3, 03 À Y Ä ‘, relativamente à variável
`03
4. Uma vez que, por definição, as funções `B 4
À Y Ä ‘ são contínuas,
podemos assim concluir que tem lugar uma aplicação contínua
Y Ä Ò!ß _Ò, B È -H0B ,

já que o coeficiente de dilatação -H0B é o valor absoluto do determinante da


matriz jacobiana e este último é uma soma de produtos de entradas dessa
matriz, cada um multiplicado por „".
Ap1.6 (Lema) Sejam Y § ‘8 um aberto, 0 À Y Ä ‘8 uma aplicação de classe
G " e Z § Y um aberto, cuja aderência Z seja compacta e contida em Y .
Tem-se então

-8 Ð0 ÐZ ÑÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ.
Z

Dem: Para uma melhor sistematização, vamos dividir a demonstração em


várias alíneas:
1) Podemos já afastar o caso trivial em que Z œ g. No caso em que Y Á ‘8 ,
escolhamos &!  ! menor que a distância estritamente positiva do compacto
Z ao fechado ‘8 Ï Y (mínimo sobre Z da função contínua estritamente
positiva, que a B associa .ÐBß ‘8 Ï Y Ñ). No caso em que Y œ ‘8 , seja
&!  ! arbitrário.
2) Notemos Q   ! o máximo de mH0B m para B no subconjunto compacto
Z  F &! Ð!Ñ de Y . Em particular para cada B − Z a bola fechada F &! ÐBÑ œ
B  F &! Ð!Ñ está contida em Z  F &! Ð!Ñ e portanto, pelo teorema da média,
tem-se, para cada Bw − F &! ÐBÑ, m0 ÐBw Ñ  0 ÐBÑm Ÿ Q mBw  Bm.
3) Para cada !  & Ÿ &! notemos Z& o subconjunto aberto de Z
Z& œ ÖB − ‘8 ± .ÐBß ‘8 Ï Z Ñ  &×
460 Ap. 1. Uma versão do teorema de Sard

e E& § Z ‚ ‘8 § ‘#8 o conjunto


E& œ ÖÐBß CÑ − Z ‚ ‘8 ± C − 0 ÐF & ÐBÑÑ×.
Tem-se então que os conjuntos E& são fechados em Z ‚ ‘8 , em particular
borelianos, e
-#8 ÐE& Ñ   "8 &8 -8 Ð0 ÐZ& ÑÑ.

Subdem: S/ja ÐBß CÑ − Z ‚ ‘8 aderente a E& . Podemos considerar uma


sucessão de elementos ÐB4 ß C4 Ñ − E& , com B4 Ä B e C4 Ä C. Para cada 4,
tem-se C4 œ 0 ÐBw4 Ñ, para um certo B4w − F & ÐB4 Ñ e, considerando a sucessão de
elementos Bw4  B4 do compacto F & Ð!Ñ, concluímos que, substituindo se
necessário todas as sucessões por subsucessões convenientes, podemos já
supor que se tem Bw4  B4 Ä Bw , para um certo Bw − F & Ð!Ñ. Deduzimos então
que Bw4 œ ÐB4w  B4 Ñ  B4 Ä Bw  B − F & ÐBÑ e vemos que
C œ lim C4 œ lim 0 ÐBw4 Ñ œ 0 ÐBw  BÑ,

donde C − 0 ÐF & ÐBÑÑ, ou seja, ÐBß CÑ − E& . Provámos assim que E& é fechado
em Z ‚ ‘8 , em particular boreliano.
Reparemos agora que para cada C − 0 ÐZ& Ñ existe Bw − Z& tal que C œ 0 ÐBw Ñ,
tendo-se então F & ÐBw Ñ § Z e para cada B − F & ÐBw Ñ tem-se Bw − F & ÐBÑ,
donde ÐBß CÑ − E& , portanto F & ÐBw Ñ § ÖB − ‘8 ± ÐBß CÑ − E& ×, o que implica
que
"8 &8 œ -8 ÐF & ÐBw ÑÑ Ÿ -8 ÐÖB − ‘8 ± ÐBß CÑ − E& ×Ñ.
Podemos agora aplicar o teorema de Fubini, tendo em conta o homeomor-
fismo ‘8 ‚ ‘8 Ä ‘#8 na alínea b) de II.5.5, para concluir que

-#8 ÐE& Ñ œ ( -8 ÐÖB − ‘8 ± ÐBß CÑ − E& ×Ñ . -8 ÐCÑ  


‘8

 ( -8 ÐÖB − ‘8 ± ÐBß CÑ − E& ×Ñ . -8 ÐCÑ  


0 ÐZ& Ñ

 ( "8 &8 . -8 ÐCÑ œ "8 &8 -8 Ð0 ÐZ& ÑÑ,


0 ÐZ& Ñ

o que prova a desigualdade que queríamos estabelecer nesta alínea.


4) Para cada !  & Ÿ &! , notemos G& § Z ‚ ‘8 § ‘#8 o conjunto

ˆ0 ÐF & ÐBÑÑ  0 ÐBщ×.


"
G& œ ÖÐBß CÑ − Z ‚ ‘8 ± C −
&
Tem-se então que G& é fechado em Z ‚ ‘8 , em particular boreliano,
G& § Z ‚ F Q Ð!Ñ e
-#8 ÐG& Ñ   "8 -8 Ð0 ÐZ& ÑÑ.
Ap. 1. Uma versão do teorema de Sard 461

Subdem: O facto de se ter


G& œ ÖÐBß CÑ − Z ‚ ‘8 ± ÐBß 0 ÐBÑ  & CÑ − E& ×,
e de termos uma aplicação contínua de Z ‚ ‘8 para Z ‚ ‘8 que a ÐBß CÑ
associa ÐBß 0 ÐBÑ  & CÑ implica que G& é fechado em Z ‚ ‘8 . O que vimos
em 2) implica que para cada ÐBß CÑ − G& tem-se C œ "& Ð0 ÐBw Ñ  0 ÐBÑ para um
certo Bw − F & ÐBÑ donde
" Q w
mCm œ m0 ÐBw Ñ  0 ÐBÑm Ÿ mB  Bm Ÿ Q .
& &
Quanto à medida, podemos utilizar o teorema de Fubini para mostrar que

-#8 ÐG& Ñ œ ( -8 ÐÖC − ‘8 ± ÐBß CÑ − G& ×Ñ . -8 ÐBÑ œ


Z

œ ( -8 Ð Ð0 ÐF & ÐBÑÑ  0 ÐBÑÑÑ . -8 ÐBÑ œ


"
Z &
œ ( 8 -8 Ð0 ÐF & ÐBÑÑÑ . -8 ÐBÑ œ
"
Z &

œ 8 ( -8 ÐÖC − ‘8 ± ÐBß CÑ − E& ×Ñ . -8 ÐBÑ œ


"
& Z
"
œ 8 -#8 ÐE& Ñ   "8 -8 Ð0 ÐZ& ÑÑ.
&
5) Para cada inteiro 5   ", seja H5 § Z ‚ ‘8 o conjunto

H5 œ . G&! Î4 .
4 5

Tem-se então que os conjuntos H5 são borelianos de ‘#8 , para os quais


"8 -8 Ð0 ÐZ ÑÑ Ÿ -#8 ÐH5 Ñ  _.

Subdem: Comecemos por reparar que da definição em 3) decorre que


Z&! Î4 § Z&! ÎÐ4"Ñ

e que os abertos Z&! Î4 têm união igual a Z (qualquer ponto de Z tem


distância estritamente positiva ao fechado ‘8 Ï Z e portanto essa distância é
maior que &! Î4, para todo o 4 suficientemente grande). Decorre daqui que os
borelianos 0 ÐZ&! Î4 Ñ constituem uma sucessão crescente de conjuntos de união
0 ÐZ Ñ, e portanto -8 Ð0 ÐZ ÑÑ œ lim -8 Ð0 ÐZ&! Î4 ÑÑ. Para cada 5   ", tem-se
H5 ¨ G&! Î4 para todo o 4   5 donde, pelo que se viu em 4),
-#8 ÐH5 Ñ   -#8 ÐG&! Î4 Ñ   "8 -8 Ð0 ÐZ&! Î4 ÑÑ

de donde se deduz, tomando o limite em 4, que -#8 ÐH5 Ñ   "8 -8 Ð0 ÐZ ÑÑ.


Pelo que vimos em 4), tem-se H5 § Z ‚ F Q Ð!Ñ portanto, uma vez que os
462 Ap. 1. Uma versão do teorema de Sard

conjuntos limitados têm medida de Lebesgue finita,


-#8 ÐH5 Ñ Ÿ -8 ÐZ Ñ ‚ -8 ÐF Q Ð!ÑÑ  _.

6) Os borelianos H5 de ‘#8 verificam H5 ¨ H5" e, sendo H § Z ‚ ‘8 a


intersecção dos conjuntos H5 , tem-se para cada ÐBß CÑ − H
C − H0B ÐF " Ð!ÑÑ.

Subdem: O facto de termos uma sucessão decrescente de conjuntos


resulta imediatamente da definição dos conjuntos H5 . Suponhamos que
ÐBß CÑ − H. Seja $  ! arbitrário. Por definição da diferenciabilidade, existe
<  ! tal que, sempre que mBw  Bm  <, se tenha Bw − Y e
m0 ÐBw Ñ  0 ÐBÑ  H0B ÐBw  BÑm Ÿ $ mBw  Bm.
Escolhendo 5 tal que &! Î5  <, o facto de se ter ÐBß CÑ − H5 implica que
existe 4   5 tal que ÐBß CÑ − G&! Î4 , isto é, existe Bw − F &! Î4 ÐBÑ tal que
4
Cœ Ð0 ÐBw Ñ  0 ÐBÑÑ.
&!
Resulta daqui que &4! ÐBw  BÑ − F " Ð!Ñ e
4 w 4
mC  H0B Ð ÐB  BÑÑm œ m0 ÐBw Ñ  0 ÐBÑ  H0B ÐBw  BÑm Ÿ
&! &!
4
Ÿ$ mBw  Bm Ÿ $ ,
&!
pelo que a distância de C ao compacto H0B ÐF " Ð!ÑÑ é menor ou igual a $ .
Tendo em conta a arbitrariedade de $ , segue-se que a distância referida é
igual a !, e portanto C − H0B ÐF " Ð!ÑÑ, como queríamos.
7) Tem-se

"8 -8 Ð0 ÐZ ÑÑ Ÿ -#8 ÐHÑ Ÿ "8 ( -H0B . -8 ÐBÑ


Z

e portanto, como queríamos, -8 Ð0 ÐZ ÑÑ Ÿ 'Z -H0 ÐBÑ . -8 ÐBÑ.


Subdem: Lembrando 5), os H5 constituem uma sucessão descrescente de
borelianos de ‘#8 de medida finita e maior ou igual a "8 -8 Ð0 ÐZ ÑÑ, pelo que,
para a respetiva intersecção H, tem-se
-#8 ÐHÑ œ lim -#8 ÐH5 Ñ   "8 -8 Ð0 ÐZ ÑÑ.
Ap. 1. Uma versão do teorema de Sard 463

Tendo em conta a conclusão de 6) e o teorema de Fubini, obtemos

-#8 ÐHÑ œ ( -8 ÐÖC − ‘8 ± ÐBß CÑ − H×Ñ . -8 ÐBÑ Ÿ


Z

Ÿ ( -8 ÐH0B ÐF " Ð!ÑÑÑ . -8 ÐBÑ œ


Z

œ ( -H0B "8 . -8 ÐBÑ œ "8 ( -H0B . -8 ÐBÑ. 


Z Z

Ap1.7 (J. T. Schwartz) Sejam Y § ‘8 um aberto e 0 À Y Ä ‘8 uma aplicação


de classe G " . Para cada boreliano E § Y , existe um boreliano F § ‘8 , com
0 ÐEÑ § F, tal que

-8 ÐFÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ,


E

em particular, no caso em que 0 ÐEÑ é um boreliano de ‘8 ,

-8 Ð0 ÐEÑÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ.


E

Dem: Vamos dividir a demonstração em várias partes:


1) Podemos afastar já o caso particular trivial em que E œ g, caso em que
podemos tomar F œ g.
2) Vamos começar por demonstrar o resultado no caso particular em que se
tem E § Z , para um certo aberto Z de ‘8 com Z compacto contido em Y ,
em particular -8 ÐEÑ Ÿ -8 ÐZ Ñ  _.
Subdem: Seja Q o máximo no compacto Z da função contínua que a B
associa -H0B (cf. Ap1.5). Uma vez que ‘8 é um espaço topológico
localmente compacto, separado e de base contável e que a medida de
Lebesgue -8 é uma medida de Radon, podemos aplicar a propriedade de
regularidade na alínea b) de III.4.6, para considerar, para : − , um aberto
[: de ‘8 com E § [: e -8 Ð[: Ñ Ÿ -8 ÐEÑ  :" , podendo já supor-se que
[: § Z , se necessário substituindo [: pela sua intersecção com Z . Uma
vez que [: é fechado e contido em Z , segue-se que [ : é um subconjunto
compacto de Y pelo que podemos utilizar o lema Ap1.6 para deduzir que,
para o boreliano 0 Ð[: Ñ, que contém 0 ÐEÑ, tem-se, por ser
"
-8 Ð[: Ï EÑ œ -8 Ð[: Ñ  -8 ÐEÑ Ÿ ,
:
464 Ap. 1. Uma versão do teorema de Sard

-8 Ð0 Ð[: ÑÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ œ


[:

œ ( -H0B . -8 ÐBÑ  ( -H0B . -8 ÐBÑ Ÿ


E [: ÏE

Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ 
Q
.
E :
8
Sendo F § ‘ o boreliano intersecção dos 0 Ð[: Ñ, : − , tem-se 0 ÐEÑ § F
e, para cada :, F § 0 Ð[: Ñ, portanto

-8 ÐFÑ Ÿ -8 Ð0 Ð[: ÑÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ 


Q
,
E :

-8 ÐFÑ Ÿ 'E -H0B . -8 ÐBÑ.


o que, tendo em conta a arbitrariedade de :, implica que se tem efetivamente

3) Passemos enfim à demonstração do resultado no caso em que E Á g é um


subconjunto boreliano arbitrário de Y .
Subdem: Consideremos os borelianos E:ß; § E, onde :ß ; − ,
definidos por
" "
E:ß; œ ÖB − E ± :  " Ÿ mBm  : •   .ÐBß ‘8 Ï Y Ñ  ×,
;" ;
onde, para evitar termos que tratar separadamente casos particulares, estamos
a fazer as convenções "! œ _ œ .ÐBß gÑ (casos ; œ " e Y œ ‘8 )201. Como
se constata imediatamente, os conjuntos E:ß; são disjuntos dois a dois e de
união E. Uma vez que E:ß; está contido no aberto
"
Z:ß; œ ÖB − ‘8 ± mBm  : • .ÐBß ‘8 Ï Y Ñ  ×,
;
cuja aderência é compacta e contida em Y , por Z:ß; estar contido no
subconjunto compacto de Y ,
"
O:ß; œ ÖB − ‘8 ± mBm Ÿ : • .ÐBß ‘8 Ï Y Ñ   ×,
;
podemos aplicar o caso particular estudado em 2) para garantir a existência
de borelianos F:ß; § ‘8 com 0 ÐE:ß; Ñ § F:ß; e

-8 ÐF:ß; Ñ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ.


E:ß;

201Repare-se que, no caso em que Y œ ‘8 , tem-se E:ß; œ g para :   # e E:ß" é o


conjunto dos B tais que :  " Ÿ B  :.
Ap. 1. Uma versão do teorema de Sard 465

Tem-se então que F œ - F:ß; é um boreliano de ‘8 contendo - 0 ÐE:ß; Ñ œ


:ß; :ß;
0 ÐEÑ e

-8 ÐFÑ Ÿ " -8 ÐF:ß; Ñ Ÿ " ( -H0B . -8 ÐBÑ œ ( -H0B . -8 ÐBÑ,


:ß; :ß; E:ß; E

que é a desigualdade procurada. 

O resultado precedente permite deduzir como corolários alguns resultados


importantes.

Ap1.8 (Versão do teorema de Sard) Sejam Y § ‘8 um aberto e 0 À Y Ä ‘8


uma aplicação de classe G " . Sendo
E œ ÖB − Y ± H0B não é isomorfismo},
tem-se que 0 ÐEÑ é um boreliano com -8 Ð0 ÐEÑÑ œ !.202
Dem: Uma vez que E é o conjunto dos B − Y onde a função contínua -H0B
toma o valor !, concluímos que E é fechado em Y , portanto a intersecção do
aberto Y com um subconjunto fechado de ‘8 , de onde deduzimos que E é
5 -compacto (cf. Ap1.4). Segue-se que o conjunto 0 ÐEÑ é também 5 -com-
pacto, em particular boreliano (cf. Ap1.3) e daqui deduzimos, tendo em conta
Ap1.7, que

-8 Ð0 ÐEÑÑ Ÿ ( -H0B . -8 ÐBÑ œ ( ! . -8 ÐBÑ œ !. 


E E

Ap1.9 (Imagem de conjuntos de medida nula) Sejam Y § ‘8 um aberto e


0 À Y Ä ‘8 uma aplicação de classe G " . Se E § Y verifica -8 ÐEÑ œ !,
então existe um boreliano F § ‘8 com 0 ÐEÑ § F e -8 ÐFÑ œ ! em
particular, no caso em que 0 ÐEÑ é boreliano, -8 Ð0 ÐEÑÑ œ !.
Dem: Temos uma consequência direta de Ap1.7, uma vez que o facto de se
ter -8 ÐEÑ œ ! implica que

( -H0B . -8 ÐBÑ œ !. 
E

Ap1.10 (Corolário) Sejam 7  8, Y § ‘7 um aberto e 0 À Y Ä ‘8 uma


aplicação de classe G " . Tem-se então que 0 ÐY Ñ é um boreliano com

202Aos elementos de E dá-se o nome de pontos críticos de 0 e aos de 0 ÐEÑ o de valores


críticos de 0 .
466 Ap. 1. Uma versão do teorema de Sard

-8 Ð0 ÐY ÑÑ œ !.203
Dem: Uma vez que Y é 5 -compacto, concluímos que 0 ÐY Ñ é 5 -compacto,
em particular boreliano. Considerando então o aberto Y ‚ ‘87 de ‘8 e a
aplicação s0 À Y ‚ ‘87 Ä ‘8 de classe G " definida por s0 ÐBß CÑ œ 0 ÐBÑ,
basta agora reparar que 0 ÐY Ñ œ s0 ÐY ‚ Ö!×Ñ, onde
-8 ÐY ‚ Ö!×Ñ œ -7 ÐY Ñ ‚ -87 ÐÖ!×Ñ œ -7 ÐY Ñ ‚ ! œ !. 

203Esta conclusão não seria possível se tivéssemos exigido apenas que 0 fosse contínua,
como se constata se considerarmos a curva de Peano 2À Ò!ß "Ó Ä Ò!ß "Ó ‚ Ò!ß "Ó, referida na
alínea e) do exercício I.4.12.
Índice de Símbolos

‘ œ ‘  Ö_ß _× 1

! B3
‘ œ Ò!ß _Ò , ‘ œ Ò!ß _Ó 1
3, 5
3−M
cÐ\Ñ 13
`Î] 13
U\ 14
.Î] À `Î] Ä ‘ 17
.  .w À ` Ä ‘ 18
+ .À ` Ä ‘ 18
Ó+ß ,Ó œ ÖB − ‘ ± +  B Ÿ ,× 20
1Ð+ Ñ, 1Ð+ Ñ 25, 433
-1 À f Ä ‘ 25, 41
.‡ À c Ð\Ñ Ä ‘ 31
-1‡ À c (N ) Ä ‘ , -‡ À c (‘) Ä ‘ 33
-À U‘ Ä ‘ 43
GR À Ö!ß "ß á ß R × Ä Ò!ß "Ó 47
G œ G# ÐÖ!ß #× Ñ § Ò!ß "Ó 48
0‡ . 53
5À ‘ Ä ‘ 53
7B À ‘ Ä ‘ 53
0‡ V, 0‡ ` 54
V‚W 56
`Œa 57
1" À \ ‚ ] Ä \ , 1# À \ ‚ ] Ä ] 57

' 0 . . œ ' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ


?‘ œ ÖÐBß CÑ − ‘ ‚ ‘ ± B œ C× 64
72, 74, 110,116

' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ, ' 0 ÐBÑ .B


ˆE À \ Ä ‘  ;E À \ Ä ‘ 73
\ ‘ 74, 116

' 0 ÐBÑ . .ÐBÑ, ' 0 ÐBÑ .B


.Ð2Ñ À ` Ä ‘ 76, 82
E E 83, 123
c0 ÐN Ñ 100

! A4
.Ð0 Ñ À ` Ä I 121
127
4−N
mÐA" ß A# ß á ß AR Ñm œ maxÖmA" mß mA# mß á ß mAR m× 133
14 À I" ‚ I# ‚ â ‚ IR Ä I4 133
+4 À I4 Ä I" ‚ I# ‚ â ‚ IR 133
468 Índice de Símbolos

ÒÒBß CÓÓ 142

' , 0 ÐBÑ .B
K- § I ‚ J 147

s0 Ð>Ñ œ ' > 0 ÐBÑ .B


+ 149
>! 150

>ÐBÑ œ 'Ó!ß_Ò >B" /> .>


0 w Ð>! Ñ 151
164

' ' 0 ÐBß CÑ .. Œ .w ÐBß CÑ


. Œ . w À ` Œ a Ä ‘ 167
w
\‚] 0 ÐBß CÑ . .ÐBÑ . . ÐCÑ œ 180
f8 187
-8 À U‘8 Ä ‘ 188
-0 − Ó!ß _Ò 193
detÐ0Ñ 195
F < ÐB! Ñ œ ÖB − ‘8 ± mB  B! m Ÿ <× 196
"8 œ -8 ÐF " Ð!ÑÑ 196
W8 § ‘8" 197
.W8 À UW8 Ä ‘ 197
FÀ Ó!ß _Ò ‚ W8 Ä ‘8" Ï Ö!×, FÐ>ß BÑ œ >B 198
H0B À ‘8 Ä ‘8 201
s 8 § G8" § ‘8"
W 210
.Ws 8 À UWs 8 Ä ‘ 210
XAßD § ‘# , )AßD − ‘ 213
expÐDÑ 223
s0 À ‘ Ä ‚ 225
I:30 œ ÖÐAß +Ñ − G ‚ ‘ ± +   0 ÐAÑ× 231
m:m< œ Š'\ :ÐBÑ< . .ÐBÑ‹ − ‘
"
<
236
MensÐ\ß IÑ, Mens! Ð\ß IÑ, Q /8=Ð\ß IÑ 240
Q /8=Ð\ß IÑ Ä Q /8=Ð] ß IÑ, Ò0 Ó È Ò0 ÓÎ] 241
Ò0 ÓÐBÑ 241, 307
mÒ0 Óm: œ Š'\ m0 ÐBÑm: . .ÐBÑ‹ , P: Ð\ß IÑ
"
:
242
supessÐ:Ñ, supess :ÐBÑ, m:m_ − ‘ 250
B−\
j ÐN ß IÑ § MensÐN ß IÑ, j ÐIÑ œ j Ðß IÑ
: : :
249
mÒ0 Óm_ œ supess m0 ÐBÑm, P_ Ð\ß IÑ 252
B−\
j_ ÐN ß IÑ § MensÐN ß IÑ 255
W>Ð\ß IÑ § Q /8=Ð\ß IÑ 256

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ '\ Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ


Wf Ð\ß IÑ § W>Ð\ß IÑ 259
260, 382
Ò0 Ó ‚ Ò1Ó œ Ò0 ‚ 1Ó − Q /8=Ð\ß LÑ 263
.
sœ. s+  .s= 270
V- Ð\ß IÑ 285, 398
0 ¡Y 286
Índice de Símbolos 469

G- Ð\ß IÑ § Q /8=Ð\ß IÑ 291


P"69- Ð\ß IÑ § Q /8=Ð\ß IÑ 292

Ø0 ß Ò1ÓÙ œ '\ 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ . .ÐBÑ


Ò08 Ó Ä Ò0 Ó em P"69- Ð\ß IÑ 293
294
V- Ð\ß ‘ Ñ 297

F. Ð:Ñ œ '\ :ÐBÑ . .ÐBÑ


FÀ V- Ð\ß ‘Ñ Ä ‘ 297
298
7B Ð0 ÑÐCÑ œ 0 ÐC  BÑ 310
: ‡< À ‘8 Ä ‘ 313
W0 ß1 § ‘8 319
0 ‡1À ‘8 Ä L 319
WÒ0 ÓßÒ1Ó § ‘8 322
Ò0 Ó‡Ò1ÓÀ ‘8 Ä L 322
F5 À ‘8 Ä Ò!ß _Ò, F5 ÐBÑ œ 5 8 FÐ5BÑ 336
V-_ ÐY ß IÑ § V- ÐY ß IÑ § MensÐÐY ß IÑ 340
G-_ ÐY ß IÑ § G- ÐY ß IÑ § Q /8=ÐY ß IÑ 340
H3 Ò0 Ó, HÒ0 Ó − P"69- ÐY ß IÑ 342
" "ß#
L ÐY ß IÑ, [ ÐY ß IÑ 361
P"69- ÐY ß IÑ Ä P69- "
ÐZ ß IÑ, Ò1Ó È Ò1Ó ‰ 0 œ Ò1 ‰ 0 Ó 362
l.lÀ ` Ä ‘ 364
0‡ .À ` Ä J , .À ` Ä I 370

.Ð0 Ñ À ` Ä I , .Ð0 Ñ ÐEÑ œ 'E 0 ÐBÑ . .ÐBÑ


=À ` Ä ‚ 371
372
=ÐEÑ œ =+ ÐEÑ  == ÐEÑ 374

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ œ '\ Ø0 ÐBÑß 1ÐBÑÙ . .ÐBÑ


I 382

ØÒ0 Óß Ò1ÓÙw œ '\ 0 ÐBÑ ‚ 1ÐBÑ . .ÐBÑ œ ØÒ0 Óß Ò1ÓÙ


382

' 0 ‚ . = œ ' 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ


393

' 0 ÐBÑ . =ÐBÑ


393, 410
394
m0 m_ œ sup m0 ÐBÑm œ max m0 ÐBÑm 398
F= À V- Ð\ß IÑ Ä Š, F= Ð0 Ñ œ ' 0 ÐBÑ ‚ . =ÐBÑ
B−\ B−\
399
MedÐ\ß IÑ 408
= ß = À ` Ä ‘  409
P0 422
=1 ÐÓBß CÓÑ œ 1ÐCÑ  1ÐBÑ − I 436
ff ÐN ß ‘Ñ 437
Z Ð1Ñ, X1 ÐBÑ, X1 ÐBß CÑ 425
=1 À U Ä I 438
Índice Remissivo

absolutamente contínua (aplicação) 448 conjunto de Lebesgue 422


.-absolutamente contínua conjunto contável 12
(medida) 268, 374 conjunto convexo 142, 229
5-álgebra 12 conjunto dirigido 100
5-álgebra gerada 13 conjunto dirigido de tipo numerável 101
5-álgebra produto 57 conjunto magro 46
5-álgebra restrição 13 conjunto mensurável 240
anel associado a semianel 22 contável 12
ângulo de vetores de ‘# 213 coordenadas polares generalizadas 198
aplicação absolutamente contínua 448 coordenadas simpliciais generalizadas 210
aplicação bimensurável 52 curva de Peano 50
aplicação de classe G : 329 decomposição de Lebesgue 270, 374
aplicação compatível com as medidas 52 densidade nula 414
aplicação convexa 231 derivada fraca 342
aplicação derivável 151, 219 derivada num ponto 151, 219
aplicação em escada 108 descontinuidades bem comportadas 442
aplicação estritamente convexa 238 desigualdade de Hölder 236
aplicação integrável 108, 393 desigualdade de Jensen 233, 234
aplicação linear fechada 147 desigualdade de Minkowsky 237
aplicação localmente integrável 148, 292 determinante de aplicação linear 195
aplicação mensurável 50 difeomorfismo de classe G " 201
aplicação simples 108 domínio de convolução 319, 322
aplicação f -simples 257 epigráfico 231
aplicação simples de intervalo 267 esfera unitária 197
aplicação de suporte compacto 285 espaço de Banach 102
aplicação topologicamente mensurável 103 espaço de Hilbert 260ß 361
aplicação de variação limitada 425 espaço de medida 71
base de abertos 60 espaço mensurável 50
base contável (espaço topológico) 60 espaço mensurável produto 57
boreliano 14 espaço de Sobolev 361
Cantor (conjunto de) 48 espaço vetorial complexo conjugado 382
Cantor-Lebesgue (função singular) 49 expoente conjugado 235
centro de gravidade 145 exponencial 223
classe G : (aplicação) 329 família absolutamente somável 130, 183
classe constante 356 família contável 12
classe contínua 241 família finita 12
classe localmente constante 356 família não vazia 12
classe localmente constante num ponto 356 família somável de vetores 127
classe restrição 241 fortemente convolucionáveis 319, 322
f-cobertura contável 32 fracamente convolucionáveis 319, 322
coeficiente de dilatação 193 função característica 73
5-compacto (conjunto) 458 função gama 164
componentes de aplicação 57 função indicatriz 73
concentrar-se substancialmente 422 função simples 71
cone 144 função singular de Cantor-Lebesgue 49
conjunto de Cantor 48 função sino 335
conjunto 5 -compacto 458 função variação total 425
472 Índice Remissivo

funcional linear associado medida invariante por translação 190


a medida vetorial 399 medida de Lebesgue 25, 43, 188, 197
funcional linear positivo 297 medida de Lebesgue-Stieltjes 25, 41, 438
funções suavizadoras 340 medida localmente finita 277
função de suporte compacto 285 medida positiva 363
gráfico de aplicação linear 147 medida positiva associada 364
Hölder (desigualdade) 236 medida produto 167
imagem direta de 5 -álgebra 54 medida de Radon 277
imagem direta de medida 53 medida real 363
injeção canónica 133 medida restrição 17
integral de aplicação em escada 110 medida num semianel 23
integral de aplicação integrável 116 medida simplicial 210
integral de Dirichlet 185 medida .-singular 270, 374
integral de função mensurável 74 medida de variação total 364
integral de função simples 72 medida vetorial 363
integral indefinido 150 .‡ -mensurável 34
integral com medida vetorial 393 Minkowsky (desigualdade) 237
integral paramétrico 216 mollifiers 340
intervalo semiaberto 20, 187 mutuamente singulares 270
N -intervalo semiaberto 20 norma do máximo 133
Jensen (desigualdade de) 233, 234 ordem lexicográfica 47
Jordan (decomposição de) 409 paralelogramo 182, 208
Lebesgue (teorema de derivação) 447 partição 45
lema de Fatou 89 partição adpatada a aplicação
lema de Riemann-Lebesgue 267 em escada 108
lema de Urysohn 286, 337 partição adaptada a função simples 71
lexicográfica (ordem) 47 partição da unidade 289, 338
limite de sucessão dupla 99 Peano (curva) 50
localmente finita (medida) 277 ponto de densidade de um boreliano 423
majorante essencial 250 probabilidade 15
matriz hessiana 239 produto de convolução 313, 319, 322
matriz jacobiana 201 projeção canónica 57, 133
média aritmética 235 prolongamento de Hahn 38
média geométrica 235 quase sempre 85
medida 15 restrição de classe 241
I-medida 363 reta acabada 1
medida .-absolutamente contínua 268, 374 Riemann-Lebesgue (Lema) 267
medida associada a família de secção mensurável 63
elementos de ‘ 17 setor angular 213
medida associada a função mensurável 82 segmento afim 142
medida complexa 363 semianel 21
medida conjugada 371 semianel associado a partição 45
medida de contagem 18 semianel 5 -total 33
medida de Dirac 18 separável (espaço topológico) 102
medida esférica 197 simetria 53
medida estritamente positiva 306 8-simplex padrão 210
medida exterior 31 .-singular (medida) 270, 374
medida exterior associada a medida 32 soma de família de vetores 127
medida exterior de Lebesgue 33 subespaço mensurável 50
medida exterior de Lebesgue-Stieltjes 33 sucessão convergente em P"69- 293
medida finita 15 sucessão crescente de funções 77
medida 5 -finita 39 sucessão dominada 113
medida imagem direta 53 sucessão dupla 99
medida 0 -invariante 52 sucessão generalizada 100
Índice Remissivo 473

suporte de função 307 teorema da média 153


suporte de medida de Radon 306 teorema da partição da unidade 289, 338
supremo essencial 250 teorema de Radon-Nikodym 271, 275, 381
teorema de Baire 46 Teorema de Riesz 298, 403
teorema da convergência tipo numerável (conjunto dirigido) 101
dominada 90, 100, 120, 101, 146 topologia usual de ‘ 1
teorema da convergência monótona 77 transformada de Fourier 225
teorema de derivação de Lebesgue 447 translação 53
teorema de Egoroff 140 Urysohn (lema) 286, 337
teorema de Fubini 170, 174, 176 valor de classe num ponto 241, 307
teorema de integração por mudança variação limitada (aplicação de) 425
de variáveis 157, 208 variação total 425
teorema de Lusin 308
Bibliografia
[1] ADAMS, Robert, A., Sobolev Spaces, Academic Press, London, 1975.
[2] COSTA PEREIRA, Nuno, Teoremas Clássicos de Integração — Um
Curso Avançado, Textos de Matemática 21, Departamento de Matemática
da FCUL, 2011.
[3] DIEUDONNÉ, Jean, Éléments d'Analyse, Vol 1, Gauthiers Villars, Paris,
1968.
[4] DUNFORD, N. e SCHWARTZ, J., Linear Operators, Vol I, Interscience,
New York, 1958.
[5] GELBAUM, B. R. e OLMSTED, J. M. H., Counterexamples in Analysis,
Holden-Day, San Francisco, 1964.
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[7] LANG, Serge, Analysis II (Real Analysis numa edição posterior),
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[8] LOEB, Peter A. e TALVILA, Erik, Lusin's theorem and Bochner integra-
tion, Scientiæ Mathematicæ Japonicæ Online, Vol 10, 2004, 55–62.
[9] MACHADO, Armando, Introdução à Análise Funcional, Escolar Editora,
Lisboa, 1991.
[10] RUDIN, Walter, Real and Complex Analysis, McGraw-Hill, USA, 1974.
[11] SCHWARTZ, J. T., Nonlinear Functional Analysis, Courant Institute of
Mathematical Sciences, New York University, 1965.
[12] STROMBERG, Karl R., Introduction to Classical Real Analysis,
Wadsworth, Inc. USA, 1981.
[13] YEH, J., Real Analysis, Theory of Measure and Integration, World
Scientific, Singapore, 2008.

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