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i
ii Prefácio
Silva da Costa, Marco Cezar Fernandes e Zolacir Oliveira Junior. Quero aqui
também agradecer a hospitalidade do Instituto de Fı́sica da Universidade
Federal da Bahia, onde parte deste livro foi escrito durante um semestre
sabático, e a Beatriz Rocha pela revisão do português.
Brası́lia,
julho de 2009
Sumário
Prefácio i
1 Formalismo lagrangeano 1
1.1 Coordenadas generalizadas e vı́nculos . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Princı́pio de D’Alembert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Equações de Euler-Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3.1 Forças derivando de um potencial . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Princı́pio de mı́nima ação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.5 Sistemas com vı́nculos não-holonômicos . . . . . . . . . . . . . 10
1.5.1 Exemplo: partı́cula deslizando sem atrito sobre um disco 12
1.6 O problema de Kepler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.7 Pequenas oscilações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.8 Movimento de um corpo rı́gido . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.9 Formulação relativı́stica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.10 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
iii
iv Sumário
3 Simetrias e invariantes 47
3.1 Teorema de Nöther . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.2 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.2.1 Oscilador harmônico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.2.2 O campo eletromagnético . . . . . . . . . . . . . . . . 54
3.2.3 A equação de Schrödinger . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.3 Simetrias da ação e simetrias das equações de movimento . . . 58
3.4 Grupos de simetria a um parâmetro . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.5 Simetrias e invariantes das equações de movimento . . . . . . 64
3.5.1 Exemplo: partı́cula livre irradiando . . . . . . . . . . . 66
3.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
vii
viii Lista de Figuras
Formalismo lagrangeano
Toda a dinâmica clássica de corpos materiais é resumida através das três leis
básicas de Newton. Elas podem ser enunciadas da seguinte maneira:
1
2 Capı́tulo 1. Formalismo lagrangeano
resultados que delas decorrem. Cabe sempre lembrar que o enunciado mais
geral possı́vel das leis da Mecânica Clássica é o que acabamos de fazer, e
que certas restrições são sempre necessárias para se obter formulações mais
elegantes e possantes do ponto de vista formal.
Uma caracterı́stica importante das leis de Newton é que elas são invari-
antes em forma pelas transformações de Galileu, a saber, pelas mudanças de
sistema de referência inercial: se r é o vetor posição de uma partı́cula num
sistema e r0 em outro, eles são ligados por uma relação do tipo r0 = r − v∆t,
que denominamos de transformação de Galileu. O princı́pio de relatividade
de Galileu pode então ser enunciado como segue:
ηi (x, t) = 0; i = 1, . . . , M, (1.1)
(1.1). Para tal, vamos partir da segunda lei de Newton, que nos dá para as
partı́culas que compõem o sistema:
(a) ∂V (x, t)
Fi =− , (1.15)
∂xi
∂V (q, t)
Qi = − , (1.16)
∂qi
onde V (q, t) ≡ V (x(q), t). Nesse caso, dizemos que as forças derivam do
potencial V . Substituindo (1.16) em (1.14) temos finalmente as equações de
Euler-Lagrange:
d ∂L ∂L
− = 0; i = 1, . . . , n, (1.17)
dt ∂ q̇i ∂qi
onde
L≡T −V (1.18)
Z t2
S= L(q, q̇, t) dt. (1.20)
t1
δS = 0, (1.21)
t2
q
2
t1
q
1
da trajetória na forma
qi0 (t) = qi (t) + ηi (t). (1.22)
δS = S 0 − S, (1.23)
O último termo do lado direito de (1.27) se anula pois, por hipótese, os pontos
inicial e final são mantidos fixos pela variação, ou seja,
ou seja, as variações das ações são iguais e portanto, se S é estável com relação
a uma dada trajetória, S 0 também o será, e vice versa. Assim ambas as
10 Capı́tulo 1. Formalismo lagrangeano
que implica
n Z t2 n
Z t2 " # Z t2 X
X ∂V d ∂V
δ T dt = − ηi dt = − Qi ηi dt, (1.34)
t1 i=1 t1 ∂qi dt ∂ q̇i t1 i=1
uma variação virtual se anula, então a eq. (1.34) é verdadeira, assim como o
princı́pio de mı́nima ação.
Dito isso, passemos ao caso em que tenhamos um número m de condições
de vı́nculo da forma
χk = 0; k = 1, . . . , m, (1.35)
Comparando (1.39) com (1.14) vemos que as forças de vı́nculo são dadas por
m
(v) X
Qi = λk aki , (1.41)
k=1
dr = 0. (1.43)
1.6. O problema de Kepler 13
r̈ − mrθ̇2 + mg cos θ = λ,
mr2 θ̈ − mgr sen θ = 0,
ṙ = 0. (1.44)
1
E = mR2 θ̇2 + mgR cos θ. (1.45)
2
3 1
mgR cos θ = E + Rλ. (1.46)
2 2
dr
vr = ≡ ṙ,
dt
dθ
vθ = r ≡ rθ̇, (1.48)
dt
1
T = m(ṙ2 + r2 θ̇2 ). (1.49)
2
α
V (r) = . (1.50)
r
No caso de uma força atrativa temos que α < 0, e para uma força repulsiva
α > 0.
Obtemos então a lagrangeana
1 α
L = T − V = m(ṙ2 + r2 θ̇2 ) − , (1.51)
2 r
α
mr̈ − mrθ̇2 − = 0, (1.52)
r2
d
(mr2 θ̇) = 0. (1.53)
dt
1.6. O problema de Kepler 15
e então !#−1/2
L2
Z r "
2 α
t − t0 = dr E− − . (1.61)
r0 m r 2mr2
Calculando a integral em (1.61), escrevendo r em função de t e usando (1.54)
para determinar θ: Z t
L
θ − θ0 = dt, (1.62)
t0 mr2 (t)
temos as soluções para as equações de movimento iniciais (1.48) e (1.53).
As integrais em (1.61) e (1.62) podem ser calculadas explicitamente, em-
bora o resultado não seja necessariamente simples. No entanto, há uma
maneira de se obter a órbita3 da partı́cula sem muito esforço: de (1.60)
temos que
!#−1/2
L2
"
2 α
dt = E− − dr, (1.63)
m r 2mr2
que substituida em (1.62) nos dá
!#−1/2
L2
Z r "
L 2 α
θ − θ0 = E − − dr
r0 mr2 m r 2mr2
r
L/r + mα/L
= arccos q , (1.64)
− 2mE + m2 α2 /L2
r0
ou seja, por uma adequada escolha de eixo com relação ao qual θ é medido,
podemos escrever que
L/r + mα/L
θ = arccos q . (1.65)
2 2
− 2mE + m α /L 2
xk = Ak eiωt , (1.72)
Para que (1.73) possua uma solução não trivial para Aj é necessário que a
matriz dos coeficientes tenha determinante nulo:
x3 x'2
CM
x'1
r' x3'
R
r
x2
x1
v = V + ω × r0 , (1.79)
De fato, tomemos o sistema de referência O00 tal que r00 = r0 + d, onde d é constante.
4
Temos então que v = V00 + ω 00 × r00 e de (1.79) temos também que v = V + ω × r00 − ω × d,
e comparando essas duas expressões para todas as partı́culas do corpo temos que V00 =
V − ω × d e ω 00 = ω, ou seja, a velocidade angular é a mesma para qualquer sistema que
escolhermos. A escolha do centro de massa visa apenas simplificar a descrição final.
1.8. Movimento de um corpo rı́gido 21
temos que
(ω × r)2 = ω 2 r2 sen2 φ, (1.82)
O tensor de inércia é então representado por uma matriz 3×3 real e simétrica,
e portanto, hermitiana, o que garante que ela pode ser diagonalizada com
autovalores reais. Assim, se os eixos de O0 estiverem nas direções dos au-
tovetores do tensor de inércia, este último estará em uma forma diagonal.
Seus autovalores, que aparecem então na diagonal de Iαβ , são denominados
de momentos principais de inércia, e as direções dos autovetores de eixos
principais de inércia.
O momento angular L do corpo rı́gido é definido por
N
X
L= mi ri × vi . (1.88)
i=1
5
Para um vetor A qualquer é sempre possı́vel escrevê-lo em termos de componentes
cartesianas: A = (A1 , A2 , A3 ). As coordenadas da partı́cula i com relação ao centro de
massa são então representadas por xi = (x1,i , x2,i , x3,i ).
6
O sı́mbolo de Levi-Civita é definido da seguinte maneira: αβγ = 1 se (αβγ) é uma
permutação ı́mpar de (123), αβγ = −1 se (αβγ) é uma permutação par de (123) e αβγ = 0
nos demais casos.
1.8. Movimento de um corpo rı́gido 23
Por outro lado r̈0i = r̈i − R̈, que substituido em (1.93) nos dá
N N
dLCM X
mi r0i × r̈i = r0i × Fi = τ CM .
X
= (1.94)
dt i=1 i=1
x3
x3'
x '2
x2
ϕ
y
x1'
x1
dos ângulos de Euler projetando θ̇, ϕ̇ e ψ̇ nos eixos x01 , x02 e x03 , o que nos dá
I1 2 2 I3 2
T = ϕ̇ sen θ + θ̇2 + ϕ̇ cos θ + ψ̇ . (1.96)
2 2
x − vt
x0 = q ,
1 − v 2 /c2
y 0 = y,
z 0 = z,
t − vx/c2
t0 = q . (1.98)
1 − v 2 /c2
26 Capı́tulo 1. Formalismo lagrangeano
β 0 0 −v/β
0 1 0 0
S̃ = , (1.102)
0 0 1 0
−vβ/c2 0 0 β
É fácil ver que a lei de movimento dada pela segunda lei de Newton não é
covariante 8 por uma transformação de Lorentz. Ela deve ser substituida por
uma equação envolvendo vetores no espaço de Minkowski, i. e. entes a qua-
tro componentes. Como a dinâmica relativı́stica deve se reduzir à dinâmica
newtoniana, quando as velocidades envolvidas são pequenas com relação à ve-
locidade da luz, é natural tentarmos formulá-la com os mesmos conceitos que
anteriormente. Em particular, vamos supor que o princı́pio de conservação
da quantidade de movimento de um sistema fechado continua válido. Usando
a definição p = mv e analisando o choque entre duas partı́culas de massas
m1 e m2 , pode-se mostrar que para que a quantidade de movimento total
p1 + p2 seja constante em dois sistemas de referência inerciais quaisquer, as
massas não devem mais ser constantes (escalares) e dependem da velocidade
da partı́cula da seguinte maneira:
m0
m= q , (1.103)
1 − v 2 /c2
A energia cinética T é definida como nula no repouso e tal que sua variação
seja igual ao trabalho realizado pela força F sobre a partı́cula:
dT = F · dx. (1.107)
pi = mv i ; i = 1, 2, 3,
p4 = E/c, (1.111)
que ainda não é a forma covariante que buscamos. Para obtê-la, introduzimos
o intervalo de tempo próprio associado a uma partı́cula por
q
dτ = 1 − v 2 /c2 dt, (1.113)
i Fi
FM =q ,
1 − v 2 /c2
4 F·v
FM = q . (1.115)
c 1 − v 2 /c2
ou ainda
dp
= F, (1.118)
dt
como desejado.
1.10 Exercı́cios
1. Considere uma força F que deriva de um potencial generalizado V (r, v)
e que atua sobre uma partı́cula, onde r é o vetor posição com relação
a um dado sistema de referência e v a velocidade da partı́cula. Mostre
que as componentes de F definidas por Fi = −∂V /∂qi +d(∂V /∂ q̇i )/dt se
transformam como um vetor por uma mudança de coordenadas qi → qi0
qualquer. As Fi ’s são componentes contravariantes ou covariantes?
35
36 Capı́tulo 2. Sistemas com infinitos graus de liberdade - Campos
seja a n-upla σ(x) ≡ (σ1 (x), . . . , σ(x)) e um parâmetro real , então F [f (x)]
é dito contı́nuo em f (x) se o seguinte limite existir e for dado por:
Um funcional F [f (x)] é dito linear em f (x) se existir uma n-upla σ(x) tal
que Z
F [f (x)] =
σ(x) · f (x) dx. (2.3)
RN
Dizemos então que um funcional contı́nuo F em f (x) é diferenciável em f (x)
se o funcional
d
F [f (x) + σ(x)]
lim (2.4)
→0 d
existe para qualquer σ(x) contı́nuo3 e é linear em σ(x), o que nos permite
escrever que
d Z
δF
lim F [f (x) + σ(x)] = N σ(x) · dx, (2.5)
→0 d R δf (x)
onde δF/δf (x) é a derivada funcional de F em f (x).
De especial interesse fı́sico são os campos ditos locais, cuja lagrangeana pode
ser escrita na forma Z
L= L(φ, φx , φ̇, x) dx, (2.7)
RN
onde L é denominada de densidade lagrangeana e φx representa as diferen-
tes derivadas de φ com relação às coordenadas espaciais. As equações de
movimento podem ser obtidas diretamente de L como mostraremos mais
adiante.
As equações de Euler-Lagrange para uma teoria de campo podem ser
deduzidas do princı́pio variacional:
Z t2
δ L(φ, φ̇, t) dt = 0. (2.8)
t1
Esse princı́pio de mı́nima ação para um campo diz que a evolução de φ é tal
que a integral em (2.8) é estável por uma variação φ → φ + σ do campo,
com infinitesimal e σ qualquer satisfazendo σ(x, t1 ) = σ(x, t2 ) = 0. Para
mostrar que de fato (2.6) decorre de (2.8) usamos a definição (2.5) da derivada
funcional para escrever
Z t2 Z t2
L(φ + σ, φ̇ + σ̇, t) dt − L(φ, φ̇, t) dt
t1 t1
Z t2 Z " #
δL δL
= N · σ(x, t) + · σ̇(x, t) dxdt
t1 R δφ δ φ̇
Z t2 Z " #
δL d δL
= − · σ(x, t) dxdt = 0. (2.9)
t1 RN δφ dt δ φ̇
Essa equação é válida para σ(x, t) qualquer, e conseqüentemente obtemos
justamente as equações de Euler-Lagrange (2.6).
Vale a pena observar aqui que o princı́pio variacional na forma (2.8) pode
ser reobtida a partir dessa formulação5 . Fazendo uma integração por partes
obtemos que
" #
Z
∂L d ∂L
δS = − µ · σ(x) d4 x. (2.14)
M0 δφ(x) dx ∂φ,µ (x)
Como a variação σ(x) é arbitrária, obtemos as seguintes equações de movi-
mento:
d ∂L ∂L
µ
− = 0, (2.15)
dx ∂φ,µ ∂φ(x)
onde as derivadas totais com relação a xµ devem ser calculadas levando em
conta a dependência de φ e φ,µ nessas variáveis. Portanto, se pudermos achar
uma densidade lagrangeana escalar L que gere as equações de movimento
corretas através de (2.15), então essas mesmas equações podem ser deduzidas
de um princı́pio variacional dado por (2.10) e (2.12). Por outro lado, para
uma densidade lagrangeana escalar, as equações obtidas a partir de (2.15)
serão explicitamente covariantes por uma transformação de Lorentz. Note-se
também que se definirmos a lagrangeana por
Z
L= L d3 x, (2.16)
R3
as mesmas equações de movimento são obtidas a partir de (2.6). A diferença
essencial entre as formas equivalentes (2.6) e (2.15) está no fato que na última
a covariância é explı́cita enquanto que na primeira não.
Como para o caso discreto, a densidade lagrangeana L não é univoca-
mente definida. Para uma dada densidade lagrangeana L, obtemos uma
outra equivalente a partir de um vetor f µ = f µ (x, φ) por
d µ
L0 = L + f . (2.17)
dxµ
5
Na expressão (2.8) as variações de φ se anulam para t = t1 e t = t2 . Em (2.12) ela
se anula sobre a fronteira de qualquer região conexa M 0 . O caso anterior é recuperado
quando M 0 é a região entre os dois hiperplanos definidos por t = t1 e t = t2 .
2.4. Aplicações 41
0
Z
0
Z Z
d µ
δS = δ L dx = δ L dx + δ f dx
M0 M0 M0 dxµ
Z
d µ
= δS + δ f dx. (2.18)
M0 dxµ
O último termo pode ser transformado em uma integral de superfı́cie sobre
a fronteira de M0 , que independe da variação do campo, e implica então
δS 0 = δS, o que demonstra a equivalência das lagrangeanas.
No restante deste capı́tulo vamos aplicar o formalismo acima descrito para
um campo invariante por um tipo de transformação de simetria, denominada
transformação de calibre6 , e que possui propriedades importantes, que serão
aproveitadas na aplicação da teoria hamiltoniana para sistemas com vı́nculos
no capı́tulo 6. Faremos também aplicações à equação de Schrödinger e ao
campo de Klein-Gordon.
2.4 Aplicações
2.4.1 Campo eletromagnético
O campo elétrico E e o campo magnético B na presença de uma densidade de
carga ρ(x, t) e de um fluxo de carga j(x, t) obedecem às equações de Maxwell:
ρ
∇·E=
, (2.19)
0
∂B
∇×E=− , (2.20)
∂t
∇ · B = 0, (2.21)
j 1 ∂E
∇×B= 2 + 2 , (2.22)
c 0 c ∂t
6
Gauge Transformation em inglês
42 Capı́tulo 2. Sistemas com infinitos graus de liberdade - Campos
B = ∇ × A. (2.24)
Por sua vez, a equação (2.20) em conjunto com (2.24) garante a existência
de um campo escalar ϕ(x, t) tal que
∂A
E=− − ∇ϕ. (2.25)
∂t
∂ ρ
−∇2 ϕ − ∇·A= , (2.26)
∂t 0
∂ ∂ 2A j
−c2 ∇2 A + c2 ∇(∇ · A) + ∇ϕ + 2 = . (2.27)
∂t ∂t 0
Neste ponto notemos que A e ϕ não são univocamente definidos. De fato,
uma transformação da forma
A0 = A + ∇Λ(x, t),
∂
ϕ0 = ϕ − Λ(x, t), (2.28)
∂t
2.4. Aplicações 43
Ai = Axi , i = 1, 2, 3;
A0 = ϕ. (2.31)
2.5 Exercı́cios
1. Obtenha a equação de campo para a seguinte lagrangeana:
!3
Z
1 ∂ψ ∂ψ a ∂ψ b ∂ 2ψ
L= + − dx, (2.42)
2 ∂x ∂t 6 ∂x 2 ∂x2
Simetrias e invariantes
47
48 Capı́tulo 3. Simetrias e invariantes
dfµ0
L(x0µ , ψk0 , ψk,µ
0
) = L0 (x0µ , ψk0 , ψk,µ
0
)+ , (3.6)
dx0µ
∂x0µ
! !
dηµ dηµ
J = Det = Det 1 +
=1+ , (3.8)
∂xν dxν dxµ
df 0
" #
L(xµ , ψk , ψk,µ )d x = n
− µ0 dn x0
L(x0µ , ψk0 , ψk,µ
0
)
dxµ
dfµ n 0
= L(x0µ , ψk0 , ψk,µ
0
)dn x0 − d x, (3.9)
dxµ
onde fµ ≡ fµ (xν , ψk ) e dfµ0 /dx0µ = dfµ /dxµ + O(2 ). Usando (3.7) e (3.8)
chegamos à relação
" # !
dfµ dην
0
L(x0µ , ψk0 , ψk,µ ) = L(xµ , ψk , ψk,µ ) + 1− . (3.10)
dxµ dxν
L(xµ , ψk , ψk,µ )
" !#
∂L ∂L ∂L dξk dην
+ ηµ + ξk + − ψk,ν
∂xµ ∂ψk ∂ψk,µ dxµ dxµ
" # !
dfµ dην
= L(xµ , ψk , ψk,µ ) + 1− , (3.12)
dxµ dxν
ou ainda, após rearranjarmos os termos:
dfµ
DL = , (3.13)
dxµ
onde o operador D é definido por
!
∂ ∂ dξk dην ∂ dην
D ≡ ηµ + ξk + − ψk,ν + . (3.14)
∂xµ ∂ψk dxµ dxµ ∂ψk,µ dxν
A equação (3.13) é uma condição suficiente, mas não necessária, para que
a transformação dada por (3.3) e (3.4) seja uma transformação de simetria
do sistema. Ela não é necessária pois para deduzirmos (3.13) impusemos
que a integral de ação fosse invariante por essa transformação, o que não é
necessariamente o caso. De fato, como veremos mais adiante, podemos ter
transformações que mantenham invariantes as equações de movimento, mas
não a ação. Quando a ação for invariante por uma transformação falare-
mos de simetrias noetherianas e caso contrário, falaremos de simetrias não-
noetherianas.
Uma vez determinada uma transformação de simetria satisfazendo (3.13)
e o correspondente vetor fµ (xν , ψk ), podemos utilizá-la para determinar uma
constante de movimento do sistema, como passamos a mostrar. Partimos da
equação (3.13), e usando a identidade
d ∂L ∂L ∂L
L≡ + ψk,µ + ψk,ν,µ , (3.15)
dxµ ∂xµ ∂ψk ∂ψk,ν
3.2. Aplicações 51
chegamos à relação
" #
d ∂L
Lηµ + (ξk − ψk,ν ην )
dxµ ∂ψk,µ
" #
∂L d ∂L dfµ
+ − (ξk − ψk,ν ην ) = . (3.16)
∂ψk dxµ ∂ψk,µ dxµ
Obtemos então, para um sistema cuja dinâmica é determinada pelas equações
de Euler-Lagrange, a seguinte lei de conservação:
d
Gµ = 0, (3.17)
dxµ
onde a grandeza conservada Gµ é dada por
∂L
Gµ (xν , ψk , ψk,ν ) = Lηµ + (ξk − ψk,ν ην ) − fµ . (3.18)
∂ψk,µ
As equações (3.13) e (3.17) são a formulação do teorema de Nöether: toda
transformação de simetria definida por (3.3) e (3.4), que mantém a ação in-
variante, e portanto satisfaz (3.13), corresponde uma quantidade conservada
Gµ (xν , ψk , ψk,ν ) dada por (3.18). Como exemplos de aplicação veremos na
próxima seção o oscilador harmônico, o campo eletromagnético e a equação
de Schrödinger.
3.2 Aplicações
3.2.1 Oscilador harmônico
Tomemos uma partı́cula de massa m = 1 sob a ação de uma força da forma
F = −q, onde q é a distância a um ponto fixo O. Supondo que os vı́nculos
que agem sobre ela a forcem a se deslocar sobre uma reta passando por O, sua
energia cinética é dada por T = q̇ 2 /2 e sua energia potencial por V = q 2 /2.
A lagrangeana do sistema é portanto
1
L = (q̇ 2 − q 2 ). (3.19)
2
52 Capı́tulo 3. Simetrias e invariantes
t0 = t + η(q, t),
q 0 = q + ξ(q, t). (3.20)
η = g1 (t), (3.26)
onde g1 (t) deve ainda ser determinada. Usando (3.26) em (3.23) obtemos
para ξ a forma:
1
ξ = ġ1 (t)q + g2 (t), (3.27)
2
3.2. Aplicações 53
onde g2 (t) também é uma função arbitrária. Usando agora (3.26) e (3.27)
em (3.24) e (3.25) podemos escrever que
1 ∂f
g̈1 (t)q + ġ2 (t) = , (3.28)
2 ∂q
e também que
∂f
−ġ1 (t)q 2 − g2 (t)q = . (3.29)
∂t
A equação (3.28) nos dá para f a seguinte expressão:
1
f (q, t) = g̈1 (t)q 2 + ġ2 (t)q + g3 (t), (3.30)
4
1 ...
−g2 (t)q − ġ1 (t)q 2 = g 1 (t)q 2 + g̈2 (t)q + ġ3 (t), (3.31)
4
...
g 1= −4ġ1 ,
g̈2 = −g2 ,
ġ3 = 0, (3.32)
A única grandeza conservada com sentido fı́sico mais direto é G(3) , que é
proporcional à energia total do sistema E = T + V . As demais grandezas
conservadas (ou integrais primeiras) são funções das condições iniciais e per-
mitem obter diretamente a solução da equação de movimento.
x0µ = xµ + η µ (Aν , xν ),
A0 µ = Aµ + ξµ (Aν , xν ). (3.36)
dη σ dη µ df µ
!
∂L
µ ∂L dξµ ∂L
η + ξµ + − Aµ,σ ν + L = µ. (3.37)
∂xµ ∂Aµ dxν dx ∂Aµ,ν dxµ dx
3.2. Aplicações 55
x0µ = xµ + aµ
A0 µ = Aµ ,
fµ = 0, (3.38)
∂ψ(r, t) h̄2 2
ih̄ =− ∇ ψ(r, t) + V (r, t)ψ(r, t), (3.44)
∂t 2m
com r designando o vetor posição. Para simplificar, tomemos o caso a uma
dimensão:
∂ψ(x, t) h̄2 ∂ 2 ψ(x, t)
ih̄ =− + V (x, t)ψ(x, t). (3.45)
∂t 2m ∂x2
A densidade lagrangeana para essa equação é obtida considerando ψ e seu
complexo conjugado ψ ∗ como variáveis independentes:
η1 ≡ ηx , ψ1 ≡ ψ, ψ2 ≡ ψ ∗ ,
η2 ≡ ηt , x1 ≡ x, x2 ≡ t. (3.49)
3.2. Aplicações 57
η1 = 0, η2 = c (constante),
ξ1 = ξ2 = 0, f1 = f2 = 0, (3.50)
η1 = c (constante), η2 = 0,
ξ1 = ξ2 = 0, f1 = f2 = 0, (3.55)
58 Capı́tulo 3. Simetrias e invariantes
q̈ + q = 0. (3.57)
q 0 = q + η(q, t),
t0 = t + θ(q, t). (3.58)
dq 0 dq 0 dt
q̇ 0 = = = (q̇ + ηt + ηq q̇)(1 − θt − θq q̇)
dt0 dt dt0
= q̇ + [ηt + ηq q̇ − θt q̇ − θq q̇ 2 ], (3.59)
2
A generalização para campos é obtida considerando simetrias que dependem apenas
dos próprios campos e das variáveis independentes.
3.3. Simetrias da ação e simetrias das equações de movimento 59
Notemos que (3.62) é uma equação polinomial em q̇, o que nos permite igualar
a zero separadamente os coeficientes das potências de q̇:
θqq = 0, (3.63)
g̈1 (t)q + g̈2 (t) − 3g1 (t)q − 4g̈1 (t)q − 2ġ3 (t) = 0, (3.69)
e
g2 (t) = −c5 sen 2t − c6 cos 2t + c8 . (3.81)
x1 = q̇,
x2 = q, (3.85)
ẋ1 = −x2 ,
ẋ2 = x1 . (3.86)
n
!
0
X∂
g(x ) = 1 + ηi g(x). (3.89)
i=1 ∂xi
n
!
0 ∂
X
g(x ) = exp ηi g(x), (3.90)
i=1 ∂xi
n
X ∂
G(x) = ηi , (3.91)
i=1 ∂xi
ou equivalentemente
[F, G] ≡ F G − GF = 0, (3.97)
LG F = [F, G] = 0. (3.99)
3.5. Simetrias e invariantes das equações de movimento 65
t0 = t + θ(x, t) (3.107)
que implica
h
ẍ0 = ẍ + ηxx ẋ2 + ηxt ẋ + ηx ẍ + ηxt ẋ + ηtt
i
−θxx ẋ3 − θxt ẋ2 − 2θx ẋẍ − θxt ẋ2 − θtt ẋ − θt ẍ
× (1 − θx ẋ − θt )
h
= ẍ + ηxx ẋ2 + 2ηxt ẋ + ηx ẍ + ηtt − θxx ẋ3
i
−2θxt ẋ2 − 3θx ẋẍ − 2θt ẍ , (3.109)
...0 ...
h
x = x + ηxxx ẋ3 + 3ηxxt ẋ2 + 3ηxx ẋẍ + 3ηxtt ẋ
+3ηxt ẍ + ηttt − θxxx ẋ4 − 3θxxt ẋ3
−6θxx ẋ2 ẍ − 3θxtt ẋ2 − 9θxt ẋẍ − 3θx ẍ2
... ...
−4θx ẋ x −3θt x −θttt ẋ − 3θtt ẍ] . (3.110)
3.5. Simetrias e invariantes das equações de movimento 67
...0
x = kẍ0 . (3.111)
θxx = 0, (3.113)
θx = 0, (3.116)
θxxx = 0, (3.117)
que por sua vez é uma equação linear em x, e pode ser decomposta em
...
f 2 (t) = k f¨2 (t), (3.126)
e
...
f 3 (t) = k f¨3 (t). (3.127)
... k2 ˙
f 1 (t) = f1 (t), (3.131)
3
3.5. Simetrias e invariantes das equações de movimento 69
kt k 2 c7 kt/√3 k 2 c8 −kt/√3
3c1 e + 3c2 − √ e + √ e
3 3
√ √
2 kt/ 3 2 −kt/ 3
−c7 k e + c8 k e = 0, (3.133)
que implica
c1 = c2 = c7 = c8 = 0, (3.134)
e assim temos uma álgebra a cinco elementos dados pela solução geral das
equações de simetria (3.113-3.121):
θ = c9 , (3.135)
η = c3 x + c4 ekt + c5 t + c6 , (3.136)
que por sua vez nos dão os seguintes geradores infinitesimais de simetria:
∂ ∂ ∂
U1 = ; U2 = ; U3 = t ;
∂t ∂x ∂x
∂ ∂
U4 = ekt ; U5 = x . (3.137)
∂x ∂x
Para aplicar o método descrito na seção anterior, vamos reescrever a
equação (3.105) na forma de uma sistema equivalente de primeira ordem,
introduzindo as novas variáveis x1 = x, x2 = ẋ, x3 = ẍ. Como os geradores de
simetria envolvem explicitamente o tempo, introduzimos mais uma variável
x4 = t. Assim obtemos o sistema
ẋ1 = x2 ,
70 Capı́tulo 3. Simetrias e invariantes
ẋ2 = x3 ,
ẋ3 = kx3 ,
ẋ4 = 1, (3.138)
cujos geradores de simetria podem ser obtidos por extensão direta de (3.137)
acrescentando as componentes associadas às variações de x2 e x3 em (3.108)
e (3.109):
∂ ∂ ∂ ∂
G1 = , G2 = , G3 = x4 + ,
∂x4 ∂x1 ∂x1 ∂x2
∂ ∂ ∂
G4 = f (x4 ) + f 0 (x4 ) + f 00 (x4 ) ,
∂x1 ∂x2 ∂x3
∂ ∂ ∂
G5 = x1 + x2 + x3 , (3.139)
∂x1 ∂x2 ∂x3
onde f (x4 ) = exp(kx4 ).
Tomemos então {G1 , G2 , G3 , G4 } como conjunto de geradores linearmente
independentes. A matriz ηji em (3.102) é dada por
0 0 0 1
1 0 0 0
η= , (3.140)
x4 1 0 0
f (x4 ) f 0 (x4 ) f 00 (x4 ) 0
cuja inversa é
0 1 0 0
0 −x4 1 0
ζ= ,
(3.141)
0 g1 g2 g3
1 0 0 0
onde
f 0 x4 − f x4 1
g1 = 00
= − 2,
f k k
0
f 1
g2 = − 00 = − ,
f k
−kx4
1 e
g3 = 00 = . (3.142)
f k2
3.6. Exercı́cios 71
J1 = 1,
J2 = x2 − x3 x4 + g1 kx3 ,
J3 = x3 + g2 kx3 = 0,
J4 = g3 kx3 , (3.143)
3.6 Exercı́cios
1. Obtenha todas as simetrias de Nöther, e as correspondentes grandezas
conservadas, de um pêndulo cônico, considerando pequenas amplitudes
na equação de movimento. Interprete fisicamente as grandezas conser-
vadas.
Formalismo canônico e
equações de Hamilton
∂L
pi = . (4.1)
∂ q̇i
73
74 Capı́tulo 4. Formalismo canônico e equações de Hamilton
onde
∂f
ui ≡ . (4.3)
∂xi
Definimos então uma nova função g(u1 , x2 ) por
dg = df − x1 du1 − u1 dx1
= u2 dx2 − x1 du1 , (4.5)
como deve ser para uma função apenas de u1 e x2 . Na verdade, (4.5) demons-
tra que apesar de usarmos f , que é função de x1 e x2 , na definição de g, esta
última só depende de u1 e x2 . Temos então as seguintes relações entre as
variáveis:
∂g
u2 = , (4.6)
∂x2
4.1. Momentos generalizados e transformação de Legendre 75
∂g
x1 = −
. (4.7)
∂u1
A transformação (4.5) é denominada transformação de Legendre.
Tomando então a lagrangeana L(q, q̇, t) e calculando sua diferencial total:
" #
X ∂L ∂L ∂L
dL = dqi + dq̇i + dt , (4.8)
i ∂qi ∂ q̇i ∂t
podemos definir uma nova função H(q, p, t) por
X
H(q, p, t) = q̇i pi − L(q, q̇, t), (4.9)
i
J = Det K 6= 0, (4.15)
H = T + V, (4.20)
∂R
q̇i = ; i = s + 1, . . . , n, (4.28)
∂pi
∂R
ṗi = − ; i = 1, . . . , n, (4.29)
∂qi
∂R
pi = − ; i = 1, . . . , s. (4.30)
∂ q̇i
4.3. Equações de Routh 79
onde
α p2
Vef = − + θ 2, (4.36)
r 2mr
o que reduz nosso problema a uma dimensão, cuja solução foi obtida no
capı́tulo 1.
δS = 0. (4.38)
t2
Z t2 X " #
∂H ∂H X
δS = q̇i ξi − ξi − ṗi ηi − ηi dt + pi ηi , (4.42)
t1 i ∂pi ∂qi i t 1
δS + Eδt = 0. (4.45)
82 Capı́tulo 4. Formalismo canônico e equações de Hamilton
e portanto
δS0 = 0, (4.47)
Z
δ [2m(E − V )]1/2 ds = 0. (4.56)
que corresponde à equação de uma linha reta (a menor distância entre dois
pontos). O princı́pio de Maupertuis, expresso por (4.56), permite obter
equações para a órbita do sistema em termos das coordenadas apenas.
δL
πi = , (4.58)
δ φ̇i
e em conseqüência
δH
φ̇ = , (4.61)
δπ
δH
π̇ = − , (4.62)
δφ
que são as equações de Hamilton em termos dos campos e dos respectivos
momentos conjugados.
2
Usando a definição de derivada funcional, temos para um funcional A[φ] que
δA[φ]
A[φ + σ] = A[φ] + σ + O(2 ).
δφ
4.6. Sistemas contı́nuos - Campos 85
∂L
πi (x) = , (4.64)
∂ φ̇(x)
Z
H= H d3 x, (4.65)
onde
H = π · φ̇ − L. (4.66)
∂L ∂L
dH = φ̇ · dπ − · dφ − dx, (4.67)
∂φ ∂x
H = φ,µ · Πµ − L. (4.72)
4.7 Exercı́cios
1. Consideremos um sistema a n graus de liberdade, descrito pela hamil-
toniana H(q1 , . . . , qn , p1 , . . . , pn , t), onde t é o tempo. Mostre como
obter uma nova hamiltoniana, descrevendo o mesmo sistema, que seja
independente do tempo (defina uma novo momento pn+1 = t e procure
a coordenada correspondente de tal forma que as novas equações de
Hamilton se identifiquem com as anteriores).
Transformações canônicas e
formalismo simplético
89
90 Capı́tulo 5. Transformações canônicas e formalismo simplético
Como as duas situações descrevem o mesmo sistema, as ações nos dois casos
devem ser iguais a menos de uma constante aditiva. A outra possibilidade
5.1. Transformações canônicas 91
seria de que as ações fossem proporcionais, o que pode ser evitado fazendo
uma transformação de escala nas coordenadas da forma
Pi dQi − H 0 dt + dF,
X X
pi dqi − Hdt = (5.9)
i i
1. F é função de q e Q:
∂F
Pi = − , (5.12)
∂Qi
∂F
H0 = H + . (5.13)
∂t
Essa forma é particularmente útil quando conseguimos expressar os
momentos p e P em termos das coordenadas q e Q. Vemos também
que quando F não depende do tempo, as hamiltonias são iguais.
Neste caso introduzimos uma nova função geradora F2 dada pela trans-
formação de Legendre de F :
X
F2 (q, P, t) = F (q, Q, t) + Pi Qi . (5.14)
i
Qi dPi + (H 0 − H)dt,
X X
dF2 = pi dqi + (5.15)
i i
e conseqüentemente
∂F2
pi = , (5.16)
∂qi
∂F2
Qi = , (5.17)
∂Pi
∂F2
H0 = H + . (5.18)
∂t
Este caso se aplica quando pudermos obter Q e p em função de q e P .
A função F2 é também chamada de função geradora.
Pi dQi + (H 0 − H)dt,
X X
dF3 = − qi dpi + (5.20)
i i
e portanto
∂F3
qi = − , (5.21)
∂pi
∂F3
Pi = − , (5.22)
∂Qi
∂F3
H0 = H + . (5.23)
∂t
Este caso é útil quando conhecemos a expressão q e P em função de Q
e p.
que implica
Qi dPi + [H 0 − H] dt,
X X
dF4 = − qi dpi + (5.25)
i i
de modo que
∂F4
qi = − , (5.26)
∂pi
94 Capı́tulo 5. Transformações canônicas e formalismo simplético
∂F4
Qi = , (5.27)
∂Pi
∂F4
H0 = H + . (5.28)
∂t
X ∂qj ∂F
− pj =− , (5.31)
j ∂Pi ∂Pi
∂qi ∂F
H0 = H −
X
pi + . (5.32)
i ∂t ∂t
5.2. Condições de integrabilidade das transformações canônicas 95
que são as condições necessárias e suficientes para que exista uma função
geradora F , ou seja, para que a transformação q, p → Q, P seja canônica.
Notamos que em (5.40) e (5.41) os parêntesis de Poisson são calculados com
relação às coordenadas iniciais qi , pi .
O parêntesis de Poisson é definido em termos de um sistema de coorde-
nadas canônicas no espaço de fase. No entanto, podemos mostrar que ele é
invariante por uma transformação canônica. Para mostrar isso vamos usar o
argumento de Landau e Lifchitz, por sua simplicidade e elegância: primeira-
mente, notemos que o tempo entra apenas como um parâmetro nas trans-
formações canônicas, de modo que se provarmos a invariância do parêntesis
de Poisson para funções f e g independentes do tempo, então o mesmo será
igualmente válido para funções dependentes do tempo. Suponhamos então
que g é a função de Hamilton de algum sistema fictı́cio. A derivada total de
f é dada nesse caso por {f, g}. Como essa derivada não depende da escolha
de coordenadas canônicas no espaço de fase, o mesmo é verdade para {f, g}.
ω i = qi , (5.42)
ω i+n = pi , (5.43)
5.3. Notação simplética 97
ω 0µ = f µ (ω), (5.51)
ω 0µ = ω µ + η µ (ω). (5.52)
A condição (5.48) para que (5.52) seja canônica nos dá que (sempre retendo
termos até ordem ):
∂ω γ ∂η γ ∂ω σ ∂η σ
" #" #
µν
+ + = γσ , (5.53)
∂ω µ ∂ω µ ∂ω ν ∂ω ν
2
Por conectada continuamente entendemos que existe um subgrupo a um parâmetro,
do qual a transfromação em questão e a identidade fazem parte.
5.4. Transformações canônicas infinitesimais 99
que implica
∂η γ γν ∂η
σ
µσ
+ = 0. (5.54)
∂ω µ ∂ω ν
Multiplicando ambos os lados da equação (5.54) por ρσ λγ e somand em σ e
γ obtemos finalmente:
∂ ∂
µ
(νγ η γ ) − (µγ η γ ) = 0. (5.55)
∂ω ∂ω ν
A equação (5.55) implica que existe uma função ξ(ω) tal que3
∂ξ
µν η ν = , (5.56)
∂ω µ
que permite reescrever (5.52) na forma
dω µ µ αβ ∂ω
µ
∂ξ
= {ω , ξ} = . (5.61)
dα ∂ω0 ∂ω0β
α
Essa forma é particularmente útil pois podemos encontrar uma solução formal
para cada condição inicial:
α2
ω µ (ω0 , α) = ω0µ + α{ω0µ , ξ} + {{ω0µ , ξ}, ξ} + · · · (5.62)
2!
Tomemos agora uma função f (ω0 ). Queremos expressar f (ω) em termos dos
parâmetros α e ω0 :
f (ω) = fα (ω0 ). (5.63)
∂ ∂ ∂f dω µ
fα (ω0 ) = f (ω(ω0 , α)) =
∂α ∂α ∂ω µ dα
= {fα (ω0 ), ξ(ω0 )}. (5.64)
∂ µν ∂ξ(ω0 ) ∂
Gξ (ω0 ) = η µ (ω0 ) = . (5.66)
∂ω µ ∂ω ν ∂ω µ
5.4. Transformações canônicas infinitesimais 101
Assim, calculando o determinante das matrizes que aparecem nos dois lados
de (5.48), obtemos que
J 2 = 1, (5.75)
5.5. Teorema de Liouville 103
e portanto
J = ±1, (5.76)
VD = VD0 . (5.77)
e portanto
f (ω(t), t) = f (ω0 , 0), (5.81)
104 Capı́tulo 5. Transformações canônicas e formalismo simplético
5.6 Exercı́cios
1. Demonstre a relação (5.39).
105
106 Capı́tulo 6. Sistemas hamiltonianos com vı́nculos
Φm (q, p, t) = 0; m = 1, . . . , N, (6.2)
N N
∂H X ∂Φm X
ṗi = − − um ≈ {pi , H + um Φm }, (6.8)
∂qi m=1 ∂qi m=1
onde introduzimos o sinal ≈ de igualdade fraca, que expressa o fato que a
igualdade é válida após utilizar os vı́nculos Φm = 0, e isso apenas após todas
as derivadas terem sido calculadas. Para uma função dinâmica qualquer
temos que
N
df X ∂f
≈ {f, H + um Φm } + . (6.9)
dt m=1 ∂t
A partir deste ponto vamos fazer restringir o formalismo para sistemas autô-
nomos, i. e. para sistemas cujas lagrangeanas não dependam explicitamente
do tempo, o mesmo ocorrendo portanto com o hamiltoniano e com as funções
de vı́nculo Φm .
Vamos agora supor, para simplificar, que a lagrangeana não depende ex-
plicitamente do tempo. As equações de movimento (6.7) e (6.8) devem ser tais
que as condições de vı́nculo (6.2) sejam satisfeitas durante toda a evolução
temporal, de modo que
N
dΦl X
≈ {Φl , H + um Φm } ≈ 0, (6.10)
dt m=1
4. a equação (6.10) não se reduz a nenhum dos casos acima e uma nova
condição de vı́nculo é obtida, sendo denotada por χ(q, p) ≈ 0 e denom-
inada de vı́nculo secundário.
χr (q, p) ≈ 0; r = 1, . . . , M. (6.11)
Θα (q, p) ≈ 0; α = 1, . . . , K, (6.12)
Θα (q, p) ≈ 0; α = K + 1, . . . , N + M. (6.13)
Essas combinações devem ser tais que as funções Θα são linearmente inde-
pendentes, de tal forma que podemos escrever:
NX
+M
Φm = cmα Θα , (6.14)
α=1
e portanto
N
X NX
+M
um Φm = vα Θα , (6.15)
m=1 α=1
6.1. Formalismo de Dirac 109
onde
X
vα = um cmα . (6.16)
m
A equação de evolução para uma função dinâmica qualquer é então obtida
de (6.9) e (6.15):
NX+M
df ∂f
≈ {f, H + vα Θα } + . (6.17)
dt α=1 ∂t
Usando as condições de consistência para os vı́nculos Θα obtemos o seguinte
sistema de equações:
NX
+M
Θ̇α ≈ {Θα , H} + {Θα , Θβ }vβ
β=1
K
X NX
+M
≈ {Θα , H} + {Θα , Θβ }vβ + {Θα , Θβ }vβ ≈ 0. (6.18)
β=1 β=K+1
o que faz com que a matriz hessiana em (6.1) seja identicamente nula. Os
vı́nculos primários são obtidos de (6.30):
2
X
Φ i = pi − Γij qj ; i = 1, 2. (6.31)
j=1
∂f
f (ω 0 ) = f (ω) + {ω µ , ξ}
X
∂ω µ
µ
= f (ω) + {f, ξ}. (6.41)
Mostramos a seguir que uma outra escolha de multiplicadores ṽα , ligados aos
anteriores por
ṽα = vα + δvα , (6.42)
0
Htot = Htot + {Htot , ξ}
K
X K
X
= Htot + {H, ξ} + { vβ Θβ , cα Θα }. (6.44)
β=1 α=1
e
K
X
{Θα , Θβ } = dσαβ Θσ , (6.46)
σ=1
onde consideramos apenas termos em primeira ordem nos vı́nculos, pois ter-
mos de ordem superior resultam em termos fracamente nulos em (6.40).
Obtemos então que
K K
0
X X
Htot = Htot + bα + dασβ vσ cβ Θα . (6.47)
α=1 β,σ=1
ψα ≈ 0; α = 1, . . . , K, (6.49)
O formalismo de Dirac para sistemas com vı́nculos pode ser extendido direta-
mente aos sistemas contı́nuos. As funções de vı́nculo passam a ser funcionais
das componentes do campo φ e dos momentos canonicamente conjugados
Π. O parêntesis de Dirac construido em termos de um conjunto {Θα } de
vı́nculos de segunda classe se escreve como
e Cαβ (x1 , x2 ) é a inversa da matriz |{Θα (x1 ), Θβ (x2 )}| no seguinte sentido:
XZ
Cαβ (x1 , x2 ){Θβ (x2 ), Θγ (x3 )}dn x2 = δαγ δ(x1 − x3 ), (6.52)
β
e
Π0 (x) = 0. (6.57)
onde
Z
H̃ = H + uΦd3 x. (6.61)
onde fizemos uma integração por partes e supusemos que Πi (x) se anula no
infinito. Em (6.62) a notação f,µ significa a derivada de f com relação a xµ .
Temos então que
3
δH 1X 1
=− Πi,i ≡ − ∇ · Π(x). (6.63)
δA0 (x) 2 i=1 2
dF ∂F
≈ {Htot , F } + , (6.66)
dt ∂t
Π̇0 ≈ 0,
δHtot
Ȧ0 ≈ {A0 , Htot } ≈ = v1 ,
δΠ0
δHtot
Π̇i ≈ {Πi , Htot } ≈ − = (∇ × B)i = Ėi ,
δAi
δHtot
Ȧi ≈ {Ai , Htot } ≈ = Πi + A0,i − v2,i = Ȧi − v2.i , (6.68)
δΠi
onde usamos (6.56) na última relação. Temos então que v1 ≈ Ȧ0 e v2 cons-
tante, que, sem perda de generalidade, tomamos como nula. Dessa forma A0
é uma função arbitrária fixada pela escolha de um calibre. A Hamiltoniana
total se escreve finalmente como:
Z
1 2 1 2
Htot = Π + B + Ȧ0 Π0 − A0 ∇ · Π d3 x, (6.69)
2 2
onde o último termo do integrando foi obtido após uma integração por partes.
Os termos contendo a função arbitrária A0 geram assim transformações
canônicas infinitesimais, que são as transformações de calibre infinitesimais.
6.6. Exercı́cios 119
6.6 Exercı́cios
1. A equação de Dirac é dada por
∂ψ
iγ µ + mψ = 0, (6.70)
∂xµ
onde µ = 0, . . . , 3 e γ µ são as matrizes de Dirac definidas por
1 0 0 0 0 0 0 1
0 1 0 0 0 0 1 0
γ0 = , γ1 = ,
0 0 −1 0 0 −1 0 0
0 0 0 −1 −1 0 0 0
0 0 0 −i 0 0 1 0
0 0 i 0
0
0 0 −1
γ2 = , γ3 = , (6.71)
0 i 0 0 −1 0 0 0
−i 0 0 0 0 1 0 0
i ∂ψ i ∂ψ µ
L = ψγ µ µ − γ ψ + mψψ, (6.73)
2 ∂x 2 ∂xµ
onde ψ = ψ † γ 0 com ψ † = (ψ0∗ , ψ1∗ , ψ2∗ , ψ3∗ ) o adjunto de ψ. Na dedução
das equações de movimento ψ e ψ são considerados como indepen-
dentes.
Formalismo de Hamilton-Jacobi
∂S
H0 = H + = 0. (7.1)
∂t
∂S
pi = , (7.2)
∂qi
1
Poderiamos supor que S dependesse de outras variáveis em vez de q e P . A escolha
feita aqui é uma mera questão de conveniência.
121
122 Capı́tulo 7. Formalismo de Hamilton-Jacobi
∂S
Qi = , (7.3)
∂Pi
de modo que a equação (7.1) se escreve como
∂S ∂S
H(q, , t) + = 0, (7.4)
∂q ∂t
que nessa forma é a equação de Hamilton-Jacobi. Toda solução de (7.4) será
uma função geradora satisfazendo (7.1). A solução geral de (7.4) tem que
envolver n + 1 constantes arbitrárias, Uma delas sendo necessariamente uma
constante aditiva (pois apenas as derivadas de S aparecem na equação). A
solução geral tem a forma:
Pi = ci . (7.6)
Todo o método se resume então a obter uma solução geral das equações de
Hamilton-Jacobi (7.4).
O sentido fı́sico de S é obtido calculando sua derivada com relação ao
tempo:
" #
dS X ∂S ∂S ∂S
= Ṗi + q̇i +
dt i ∂Pi ∂qi ∂t
X
= pi q̇i − H = L. (7.7)
i
p2
!
1
H= + kx2 . (7.9)
2 m
S = F − c1 t, (7.21)
Ṗi = 0, (7.26)
∂H ∂H
Q̇i = = = δi1 , (7.27)
∂Pi ∂ci
cujas soluções são
Pi = ci , (7.28)
Q1 = t + Q1 (0), (7.29)
Qi = Qi (0), i 6= 1. (7.30)
px = mẋ,
py = mẏ,
pz = mż. (7.39)
ξ = r + z, (7.41)
η = r − z, (7.42)
ξ˙2 η̇ 2
" #
1 1
L = m(η + ξ) + + mξη φ̇2 − V (η, ξ), (7.44)
8 ξ η 2
com
2α 1
V (η, ξ) = + (η − ξ)F
η+ξ 2
f (ξ) + g(η)
= , (7.45)
η+ξ
onde
1
f (ξ) = α − F ξ 2 , (7.46)
2
1
g(η) = α + F η 2 . (7.47)
2
Os momentos conjugados a essas variáveis são
1 η+ξ ˙
Pξ = m ξ, (7.48)
4 ξ
1 η+ξ
pη = m η̇, (7.49)
4 η
pφ = mηξ φ̇, (7.50)
F1 = c2 φ. (7.55)
∂H 0
Q̇i = → constante, (7.62)
∂Pi
∂H 0
Ṗi = − = 0. (7.63)
∂Qi
Para que isso seja possı́vel, é necessário (e suficiente) que exista uma trans-
formação canônica tal que Pi = Gi (q, p, t).
Para tal, procuremos uma função geradora S, função dos qi ’s, Pi ’s e do
tempo, tal que
∂S
pi = , (7.64)
∂qi
∂S
Qi = , (7.65)
∂Pi
2
Um sistema é dito integrável por quadraturas quando existe uma mudança de variáveis
tais que sua solução possa ser obtida por uma integração direta (quadratura).
7.4. Teorema de Liouville sobre sistemas integráveis 131
∂S
H0 = H + . (7.66)
∂t
Expressando pi em função de Pi e qi e usando (7.64), vemos que S é da forma3
n Z qi
X
S= pi (q, P )dqi , (7.67)
i=1 ci
{Gi , Gj } = 0, i, j = 1, . . . , n. (7.68)
{Qi , Qj } = 0, (7.70)
7.5.1 Exemplos
Oscilador harmônico
A hamiltoniana é dada por (7.9). Neste caso precisamos apenas uma cons-
tante de movimento, que é fornecida pela própria hamiltoniana:
p2 kq 2
E = H(q, p) = + = constante. (7.85)
2m 2
136 Capı́tulo 7. Formalismo de Hamilton-Jacobi
1 I
I= p dq. (7.86)
2π
Sendo todo o toro M a própria elipse, o único percurso irredutı́vel γ se
confunde com M e I é igual à área da elipse dividida por 2π, o que nos dá
1 √ q q
I= π 2mE 2E/k = E m/k. (7.87)
2π
A hamiltoniana se escreve então como
q
H = I k/m, (7.88)
H = Iω. (7.90)
p21 p22
!
1
H= + + k1 q12 + k2 q22 . (7.92)
2 m m
H = ω1 I1 + ω2 I2 . (7.97)
Vemos então que para o oscilador isotrópico (k1 = k2 ), todas as órbitas são
fechadas, quaisquer que sejam os valores de I1 e I2 .
138 Capı́tulo 7. Formalismo de Hamilton-Jacobi
Capı́tulo 8
139
140 Capı́tulo 8. Teoria de perturbações e caos hamiltoniano
Apesar das variáveis I, θ serem canônicas, elas não são variáveis ângulo-
ação para o sistema perturbado. Vamos então tentar obter uma trans-
formação canônica entre as variáveis I, θ e novas variáveis I 0 , θ0 tais que
H(I, θ) = H(I 0 ), fazendo com que o sistema perturbado seja também in-
tegrável. Tomemos uma função geradora da forma S(I 0 , θ), e a respectiva
transformação canônica:
∂S
, Ii = (8.2)
∂θi
∂S
θi0 = 0 . (8.3)
∂Ii
O próximo passo consiste em supor que S pode ser escrita como uma série
de potências em λ, o termo de ordem zero correspondendo à transformação
identidade:
n
θi Ii0 + λS1 + λ2 S2 + . . . ,
X
S= (8.4)
i=1
H(I 0 ) = H0 (I 0 ). (8.6)
H1 (I 0 , θ) = H1,m (I 0 )eim·θ ,
X
(8.8)
m6=0
S1 (I 0 , θ) = S1,m (I 0 )eim·θ ,
X
(8.9)
m
K1 l K2
m1 m2
com
2
p2i
" #
1X
H0 (p, x) = + Ki x2i , (8.15)
2 i=1 mi
1
H1 (x) = (x1 − x2 )2 . (8.16)
2
Como vimos no capı́tulo anterior, as variáveis de ação para H0 são dadas
por (7.93) e (7.94):
Ei
Ii = , (8.17)
ωi
q
onde ωi = Ki /mi , enquanto que as variáveis de ângulo são obtidas através
da função geradora que é solução da eq. (7.22):
2 Z q
X 2 Z q
X
F = (2Ei − Ki x2i )mi dxi = (2Ii ωi − Ki x2i )mi dxi . (8.18)
i=1 i=1
∂F Z h i−1/2
θi = = ωi mi 2Ii ωi − Ki x2i mi dx
∂Ii
(Ki mi )1/4 xi
!
= arcsen √ , (8.19)
2Ii
onde
" √ √ #2
1 2I1 2I2
H1 (I, θ) = senθ1 − senθ2 . (8.22)
2 (K1 m1 )1/4 (K2 m2 )1/4
Podemos calcular a transformada de Fourier de H1 como
1 Z
Hn (I) ≡ Hn1 ,n2 (I) = H1 (I, θ)e−in·θ dθ1 dθ2
2π
1 Z
= H1 (I, θ)e−in1 θ1 e−in2 θ2 dθ1 dθ2 , (8.23)
2π
que pode ser calculada explicitamente usando (8.22). Os coeficientes de
Fourier da transformação geradora são dados, na ordem λ1 , por
iH1,n1 ,n2 (I1 , I2 )
S1,n1 ,n2 = , (8.24)
n1 ω1 + n2 ω2
quando as freqüências ω1 e ω2 são incomensuráveis.
yi = yi (ξ, η) = ηi + . . . , (8.32)
ζi = ξi + iηi , (8.38)
ζ i = ξi − iηi . (8.39)
10.0
0.0
-10.0 4.0
- 0.0 4.0
10.0 10.0
0.0 0.0
Figura 8.3: Mapa de Poincaré para o sistema na eq. (8.49), com λ = 0.05 e
λ = 0.07. As condições iniciais são as mesmas que na figura 8.2.
os toros invariantes para as condições inciais escolhidas ainda não foram des-
truı́dos pela perturbação. Para esse valor de λ poucos toros foram destruı́dos
e é difı́cel achar numericamente uma condição inicial que coincida com um
deles. Aumentando um pouco mais o parâmetro perturbativo para λ = 0.075
obtemos a figura 8.4 Vemos que todos os toros que tinhamos na figura 8.2
10.0 10.0
0.0 0.0
10.0 10.0
0.0 0.0
x = F (x), (8.50)
8.5. Teorema de Poincaré-Birkhoff 153
10.0 2.0
0.0 0.0
Figura 8.6: Mapa de Poincaré para o sistema na eq. (8.49), λ = 0.18 e λ = 10.
No primeiro retivemos apenas os toros que correspondem aos três toros mais
internos da figura 8.2, enquanto que o segundo gráfico corresponde a uma
única condição inicial.
xn = x + ∆xn . (8.51)
Assim se |λi | < 1 o ponto fixo é estável (xn se aproxima de x com n au-
mentando), e instável caso |λi | > 1 (xn se afasta do ponto fixo). De especial
interesse para nós são os pontos fixos tais que |λi | < 1 para certos valores
de i e |λi | > 1 para os demais valores. Estes pontos são ditos hiperbólicos
pois as soluções em sua vizinhança seguem linhas em forma de hipérboles.
Caso todos os autovalores sejam nulos temo um ponto fixo elı́ptico pois as
soluções da eq. (8.52) formam elipses em torno do ponto fixo. No exemplo
da eq. (8.49), a origem da seção de Poincaré é um ponto fixo elı́ptico para
|λ| = 1.
Consideremos novamente o caso com dois graus de liberdade. Fazemos
a seção de Poincaré utilizando o plano q2 , p2 e identificamos o ponto em
que a solução corta esse plano por x. Denotamos o correspondente mapa de
Poincaré por xi+1 = Mxi . Para um toro ressonante temos que ω1 /ω2 = n/m,
para n e m inteiros, e onde supomos que a fração já foi simplificada. Dessa
maneira vemos que após m voltas relativas à freqüência ω1 voltamos ao ponto
original. Em outras palavras, todos os pontos da seção de Poincaré desse toro
são pontos fixos do mapa de Poincaré iterado m vezes: xi+1 = Mm xi .
O teorema de Poincaré-Birkhoff enuncia que assim que a perturbação se
torna não nula, os toros ressonantes são destruı́dos e, em vez de termos uma
infinidade de pontos fixos do mapa Mm , temos m pontos elı́pticos interca-
lados por m pontos hiperbólicos. Em torno dos pontos elı́pticos formam-se
assim órbitas elı́pticas (do mapa Mm ) associadas a novos toros invariantes
criados, que delimitam as soluções erráticas na vizinhança, advindas dos toros
irracionais destruı́dos e que satisfazem a desigualdade (8.48). Nas figuras 8.4
a 8.6 vemos espaços vazios que não são acessados pelas soluções erráticas
8.6. Caos hamiltoniano 155
e que são ocupados por essas trajetórias elı́pticas. Tomando a figura 8.4,
notamos que na região irregular existia um toro ressonante com m = 10.
Os pontos fixos hiperbólicos têm um papel importante no aparecimento de
soluções caóticas, como discutido na próxima seção. Mais ainda, iterando
o mesmo raciocı́nio, essas novas órbitas elı́pticas dão origem a uma outra
cadeia de ponto elı́pticos e hiperbólicos, e assim indefinidamente. Fica fácil
perceber a estrutura complexa criada no espaço de fase.
3
É importante salientar aqui que nem todo sistema não-integrável é caótico.
Uma melhor discussão da noção de integrabilidade é encontrada nas referências
[Flaschka,1991] e [Goriely,2001]
156 Capı́tulo 8. Teoria de perturbações e caos hamiltoniano
a b c
mado por uma barra rı́gida, que pode oscilar livremente em um plano presa
por um de seus extremos. A barra tem comprimento L e momento de inércia
I. Usando como coordenadas canônicas o ângulo θ entre a barra e um eixo de
referência, e o correspondente momento angular p, a hamiltoniana do sistema
é dada por
p2
.H= (8.55)
2I
O sistema é claramente integrável e os toros invariantes correspondem a
linhas retas com p constante.
Perturbamos então esse sistema por uma força periódica na direção do
eixo de referência, aplicada no extremo livre da barra, com perı́odo T . Toma-
mos uma força instantânea com impulso J, de modo que o torque aplicado
à barra se escreve4 JLδ(t − nT ) sen θ. A hamiltoniana é assim
p2
H= + Kδ(t − nT ) cos θ, (8.56)
2I
onde K = JL. As equações de movimento são então:
p
θ̇ = , (8.57)
I
ṗ = Kδ(t − nT ) sen θ. (8.58)
K=0.1 K=0.2
6.0 6.0
4.0 4.0
p p
2.0 2.0
0.0 0.0
0.0 2.0 4.0 6.0 0.0 2.0 4.0 6.0
θ θ
5
Do inglês “standard map”.
160 Capı́tulo 8. Teoria de perturbações e caos hamiltoniano
K=0.4 K=0.6
6.0 6.0
4.0 4.0
p p
2.0 2.0
0.0 0.0
0.0 2.0 4.0 6.0 0.0 2.0 4.0 6.0
θ θ
K=0.8 K=0.8
6.0
2.70
4.0
2.60
p p
2.50
2.0
2.40
0.0 2.30
0.0 2.0 4.0 6.0 1.0 1.5 2.0 2.5
θ θ
e mais toros são destruı́dos. No lugar deles cadeias de ilhas aparecem. Por
sua vez os novos toros nessas cadeias acabam por ser destruı́dos também, for-
mando outras cadeias de ilhas em seu lugar, e assim por diante. Na figura 8.12
vemos cadeias de ilhas que aparecem no lugar de um toro anteriormente cri-
ado. Quando uma ilha de toros é destruı́da, o ponto elı́ptico de perı́odo q,
a ela associado, passa a ser um ponto hiperbólico enquanto aparecem novos
pontos elı́pticos de perı́odos 2q, com as respectivas ilhas de toros. Por sua
vez esses pontos serão destruı́dos ao aumentarmos ainda mais a perturbação,
gerando novos pontos elı́pticos de perı́odos 4q, e assim sucessivamente, em
uma cadeia de bifurcações com dobramento de perı́odos. Temos assim o que
se costuma denominar de “caminho” ou “rota para o caos” (vide apêndice C
para mais detalhes). A figura 8.13 mostra a destruição sucessiva de todos os
toros, a medida que a perturbação vai aumentando. Para K = 8, 0 nenhum
toro resta e todas as trajetórias são caóticas. Para essa situação uma única
condição inicial gera pontos que preenchem densamente o plano (θ, p).
k=1,0 k=1,2
6.0 6.0
4.0 4.0
2.0 2.0
0.0 0.0
0.0 2.0 4.0 6.0 0.0 2.0 4.0 6.0
k=2,0 k=2,0
6.0
4.9
4.7
4.5
4.0
4.3
4.1
2.0
3.9
3.7
0.0 3.5
0.0 2.0 4.0 6.0 3.5 4.0 4.5 5.0
rn+1 = rn ,
ϕn+1 = ϕn + R(rn ) mod 2π, (8.61)
8.6. Caos hamiltoniano 163
k=3,0 k=4,0
6.0 6.0
4.0 4.0
2.0 2.0
0.0 0.0
0.0 2.0 4.0 6.0 0.0 2.0 4.0 6.0
k=5,0 k=8,0
6.0 6.0
4.0 4.0
2.0 2.0
0.0 0.0
0.0 2.0 4.0 6.0 0.0 2.0 4.0 6.0
onde r é o raio do cı́rculo, ϕ um ângulo que dá a posição sobre o cı́rculo e R(r)
é uma função dependente do sistema considerado. Para um toro ressonante
temos que ϕn+q = ϕn onde q é o perı́odo do mapa desse toro. Assim todo
ponto do cı́rculo é um ponto fixo do mapa Mq obtido por q iterações do
mapa (8.61). Ao perturbarmos esse sistema obtemos um mapa ligeiramente
alterado ( 1):
∼r(ϕ)
−r(ϕ)
Figura 8.14: Curva r̃ e a curva que é a sua imagem pelo mapa Mq ().
curva fechada, definida por r(ϕ) sobre a qual o valor de ϕ não é alterado
sob Mq (), que altera apenas radialmente os pontos sobre ela. A figura 8.14
8.6. Caos hamiltoniano 165
mostra tal curva e a obtida pela atuação de Mq () sobre ela. Como a área no
interior de cada curva é a mesma, elas devem necessariamente se interceptar
em um número par de pontos que são pontos fixos do mapa Mq (). Assim
cada um desses pontos faz parte de uma órbita de perı́odo q do mapa M()
e teremos então um múltiplo de q desses pontos. Para determinar a estabil-
idade desses pontos fixos consideramos pontos em sua vizinhana̧ lembrando
que quando r > r(ϕ) eles são girados no sentido horário e se r < r(ϕ) no
sentido anti-horário, como indicado na figura. Concluı́mos que metade deles
são elı́pticos e a outra metade hiperbólicos.
166 Capı́tulo 8. Teoria de perturbações e caos hamiltoniano
Apêndice A
167
168 Apêndice A. Espaços métricos e campos tensoriais
i,j=1 ij=1
n i j
∂x 0k ∂x
dx0l ,
X
= ηij dx (A.4)
i,j,k,l=1 ∂x0k ∂x0l
e assim
n
∂x0i j
a0i =
X
j
a. (A.7)
j=1 ∂x
Notemos que tanto o vetor a como suas componente ai são funções das coor-
denadas do ponto p. Assim podemos encarar a(x1 , . . . , xn ) como uma função
que associa um vetor a cada ponto de A, recebendo nesse caso a denominação
de campo vetorial.
Definida a noção de campo vetorial, introduzimos a de forma linear como
uma aplicação linear de Vp em R, ou seja, se F é uma forma linear e a, b ∈ Vp
então temos para todo λ, σ ∈ R que
e em particular
n n
! !
∂ X
i
X
i ∂
F (a) ≡ F a = aF . (A.9)
i=1 ∂xi i=1 ∂xi
Assim basta conhecer como a forma atua na base de Vp para saber como ela
atua em um vetor qualquer. O espaço de todas as formas lineares em Vp
é denotado por Ṽp , que denominamos de espaço dual de Vp , e é um espaço
vetorial de mesma dimensão n. Para mostrar isso, notemos que F (a) pode
ser escrito como uma função das componentes de a, função essa homogênea
de primeira ordem nas componentes, o que nos permite escrever que:
n
F (a) = f (a1 , . . . , an ) = f i ai ,
X
(A.10)
i=1
170 Apêndice A. Espaços métricos e campos tensoriais
λF ↔ fi , (A.12)
o que garante que Ṽp é um espaço vetorial. Falta provar que sua dimensão é
n. Para tal, definimos as formas dxi ∈ Ṽp , i = 1, . . . , n, tais que
!
∂
dxi = δji , (A.13)
∂xj
pois
n n n
!
i j i ∂
f i ai ,
X X X
F (a) = fi dx (a) = fi a dx = (A.15)
i=1 i,j,=1 ∂xi i=1
que reproduz a relação (A.10). Para provar que os dxi são linearmente inde-
pendentes, basta mostrar que a relação
n
λi dxi = 0,
X
(A.16)
i=1
Como há uma relação biunı́voca entre elementos de Vp e Ṽp , e estes po-
dem ser usados para representar o mesmo ente, é comum se utilizar o termo
componentes covariantes de a para os coeficientes ai , e o termo componentes
contravariantes de a para os ai .
A generalização natural desses conceitos é obtida através dos tensores,
definidos como funções lineares de vetores e de formas lineares. Um tensor
172 Apêndice A. Espaços métricos e campos tensoriais
T (a1 , . . . , am |b̃1 , . . . , b̃l ) é dito um tensor m − l. Ele pode também ser escrito
em termos de componentes:
∂ ∂
T = Tji11,...,j
,...,il
dxj1 ⊗ · · · ⊗ dxjm ⊗ i
⊗ · · · ⊗ , (A.23)
m
∂x 1 ∂xil
onde introduzimos o produto tensorial entre elementos das bases de Vp e Ṽp ,
definido por sua aplicação sobre m vetores e l formas lineares:
∂ ∂
dxj1 ⊗ · · · ⊗ dxjm ⊗ i
⊗ · · · ⊗ i (a1 , . . . , am |b̃1 , . . . , b̃l )
∂x 1 ∂x!l !
j1 d ∂ ∂
≡ dx (a1 ) · · · xjm (am )b̃1 · · · b̃l . (A.24)
∂xi1 ∂xil
que pode ser obtida a partir das leis de transformação de ai e b̃i e do fato que
T (a1 , . . . , am |b̃1 , . . . , b̃l ) é um escalar (número real independente do sistema
de coordenadas). O tensor métrico de componentes ηij é um tensor 0 − 2, e
seu tensor dual de componentes η ij um tensor 2 − 0. Já o delta de Kronecker
δji é um tensor 1 − 1.
Podemos definir uma 2-forma a partir de duas formas F1 e F 2 utilizando
o produto exterior, definido pela seguinte relação [Schutz,1980]:
F1 ∧ F2 = F1 ⊗ F2 − F2 ⊗ F1 . (A.26)
1. d˜(F2 + F3 ) = dF
˜ 2 + dF
˜ 3,
173
˜ 1 ∧ F2 = dF
2. dF ˜ 1 ∧ F2 + (−1)p F1 ∧ dF
˜ 2,
3. d˜ dF
˜ 1 =0.
B.1 Grupo
i) se a, b, c ∈ G então a · (b · c) = (a · b) · c;
Se, além dos três axiomas acima, a lei de composição · for comutativa, ou
seja, se a · b = b · a para todo a, b ∈ G, dizemos que G é um grupo comutativo
ou abeliano.
175
176 Apêndice B. Grupos e álgebras de Lie
i) A1 ∪ A2 ∈ D;
ii) A1 ∩ A2 ∈ D;
iii) S ⊂ D.
ou
(y 1 , . . . , y n ) = φVr ◦ φ−1 1 n
Vs (x , . . . , x ). (B.3)
3
e de (B.14) decorre que
∂hj (γ, β) X ∂f [γ]
ξ˜i Ij f [α] = f [γ] − f [α] = − ξ˜i ,
X
(B.16)
i,j ∂βi β=γ̃ i ∂γi
X ∂f [γ]
Sij Ij f [γ] = , (B.17)
j ∂γi
com
∂hj (γ, β)
Sij = − , (B.18)
∂βi β=γ̃
que é um sistema de equações diferenciais de primeira ordem para f [α], com
a condição inicial
f [α]|α=0 = f [0]. (B.19)
3
Como g(β) correponde neste caso a uma transformação infinitesimal, de parâmetros
ξi , sua inversa é dada pelos parâmetros −ξi , ou seja, ξ˜i = −ξ.
B.5. Álgebra de Lie 181
∂ 2f ∂ 2f
= . (B.20)
∂γi ∂γj ∂γj ∂γi
∂ 2f
" #
X ∂Sik ∂f [γ]
= Ik f [γ] + Sik Ik
∂γi ∂γj k ∂γb ∂γj
" #
X ∂Sik X
= Ik f [γ] + Sik Sjl Ik Il f [γ] , (B.21)
k ∂γj l
Cijk Ik ,
X
Ii Ij − Ij Ii = (B.24)
k
Pode-se mostrar também que dois grupos que possuem o mesmo conjunto de
constantes de estrutura são isomorfos.
Os geradores infinitesimais Ii geram um espaço vetorial de dimensão m.
Podemos então escolher uma outra base nesse espaço formada por m vetores
I˜i linearmente independentes, para os quais temos:
I˜i =
X
Mij Ij , (B.26)
j
e
Mij−1 I˜j .
X
Ii = (B.27)
j
−1 ˜ ˜
Mil−1 Mjk (Il Ik − I˜k I˜l ) = Cijk Mkl−1 Il ,
X X
(B.28)
k,l kl
ou ainda
I˜l I˜k − I˜k I˜l = −1
Mli Mkj Cijk Mkp
X
Ip , (B.29)
i,j,k,p
C̃lqp = −1
Mli Mqj Cijk Mkp
X
. (B.30)
i,j,k
LV U = [V, U ]. (B.36)
Vimos então que para todo campo existe sempre um sistema de coorde-
nada no qual a congruência gerada pelo campo é uma das linhas de coor-
denadas. No caso de termos n campos Vi em um espaço n-dimensional, a
condição para que exista um sistema de coordenadas xi tal que
∂
Ui = , (B.37)
∂xi
é que os n campos comutem entre si, i. e.
[Ui , Uj ] = 0, (B.38)
Caos: exemplos e
caracterı́sticas principais
O primeiro ponto a ser observado é que não existe uma definição única do
termo caos na literatura, e por essa razão, procuraremos esclarecê-la através
de alguns exemplos clássicos. Tendo assim adquirido alguma intuição sobre
o significado do termo, discutiremos as principais caracterı́sticas do compor-
tamento caótico. Mais adiante, nas demais seções, veremos como quantificar
certas propriedades do sistema que indicam se este é ou não caótico.
185
186 Apêndice C. Caos: exemplos e caracterı́sticas principais
d2 r
= F(r, v, t), (C.1)
dt2
ẋ = p(x − y)
ẏ = −xz + rx − y
ż = xy − bz, (C.3)
x = y = z = 0, (C.4)
188 Apêndice C. Caos: exemplos e caracterı́sticas principais
e
q
x = y = ± b(r − 1), z = r − 1. (C.5)
Este último só existe, evidentemente, quando r > 1. Esses pontos fixos
podem ser estáveis ou instáveis, se condições iniciais próximas geram soluções
que se aproximam ou se afastam deles, respectivamente. Para 0 < r < 1 o
ponto fixo na origem é estável. Para r > 1 esse mesmo ponto se torna instável
e surgem os dois novos pontos fixos (C.5), que são estáveis. Dizemos que para
r = 1 existe uma bifurcação pois as soluções do sistema mudam radicalmente.
Para melhor ilustrar essas soluções mostramos alguns gráficos para a mesma
condição inicial x(0) = 8, y(0) = 10 e z(0) = 15, para b = 8/3, p = 10 e
diferentes valores de r. Notamos que para r suficientemente grande (r = 120
por exemplo) o comportamento do sistema é completamente errático, sem
nenhum tipo de periodicidade. Para esses valores dos parâmetros, o sistema
de Lorenz é caótico.
Assim, segundo os valores dos diferentes parâmetros, o mesmo sistema
pode apresentar comportamentos totalmente diferentes. Tomemos o caso
em que r = 160. Vemos pelo gráfico na figura C.2 que, após um regime
transitório, temos soluções periódicas. Isso é explicado pela existência de
uma solução periódica, formada por uma órbita fechada no espaço de fase
do sistema (o espaço tridimensional formado pelas variáveis x, y, z). Tal
solução atrai as condições iniciais que se situam em sua vizinhança, e é assim
chamada de ciclo limite. Uma outra denominação que iremos utilizar daqui
por diante é a de atrator, que designa uma solução que atrai outras soluções
em alguma vizinhança dela. Se formos diminuindo o valor de r, veremos que
repentinamente, para um valor próximo de r = 150, o perı́odo da solução
periódica dobra, como pode ser visto na figura C.2. Outro dobramento ocorre
aproximadamente em r = 146. A medida que vamos diminuindo r mais
C.2. Um exemplo em meteorologia: o sistema de Lorenz 189
300
250
200
z(t) 150
100
50
0 2 4 6 8 10 12
t
250
200
z(t) 150
100
50
0 2 4 6 8 10 12
t
200
180
160
z(t) 140
120
100
80
40 60
40
20 20
0
0 20
40 y(t)
x(t) 20
60
b
Nn+1 = aNn − Nn2 , (C.7)
2
180
160
140
z(t) 120
100
80
60
40 80
40 60
40
20 20
0
0 20
40 y(t)
x(t) 20 60
80
20
x(t) 10
2 4 6 8 10
t
±10
±20
0.4
0.3
0.2
0.1
0 2 4 6 8 10 12 14
0.62
0.6
0.58
0.56
0.54
0.52
0.5
0 2 4 6 8 10 12 14
0.75
0.7
0.65
0.6
0.55
0.5
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
0.8
0.7
0.6
0.5
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
0.90
0.80
0.70
0.60
3.2 3.4 3.6 3.8
0.95
0.90
0.85
0.80
3.50 3.60 3.70 3.80 3.90
0.92 0.900
0.90 0.895
0.88 0.890
0.86 0.885
0.84 0.880
3.50 3.55 3.60 3.65 3.560 3.570 3.580
C.5 Fractais
Dissemos que os atratores para o sistema de Lorenz e para o mapa logı́stico
são fractais, entes geométricos de dimensão não-inteira. Para falarmos de
dimensões fracionários, de onde o nome fractal, precisamos de uma gene-
ralização da noção de dimensão, que dê a dimensão correta para objetos
de dimensão inteira, e que possa ser aplicada aos fractais. Diferentes pos-
sibilidades existem e vamos apresentar aqui uma das mais simples. A di-
mensão de capacidade é definida da seguinte maneira: tomemos um conjunto
de caixas de lado L (linhas, quadrados, cubos, etc. segundo a dimensão do
espaço) empilhadas de tal maneira que contenham totalmente o objeto cuja
dimensão queremos calcular. Tomemos então o número mı́nimo de tais caixas
198 Apêndice C. Caos: exemplos e caracterı́sticas principais
201
202 Referências bibliográficas
205
206 ÍNDICE REMISSIVO
169
das componentes de uma forma
linear, 171
de calibre, 43, 115
para o campo eletromagnéti-
co, 118
de escala, 10
de Legendre, 75, 105
de simetria, 48, 62, 102
transformações de Lorentz, 25
vı́nculo, 3
de primeira classe, 108
de segunda classe, 108
em lagrangeanas degeneradas,
106
não-holonômico, 10
primário, 106
secundário, 108
variáveis ângulo-ação, 132–137
variedade, 177
diferenciável, 177
estável, 155
instável, 155