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A avaliação de projetos e

a tomada de decisões na
empresa – Introdução e
Payback – Parte 2
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O valor do dinheiro no tempo

Para intuir a importância da discussão sobre o valor do dinheiro no tempo para as decisões nos
negócios, vam os refletir a respeito da seguinte pergunta: você preferiria ganhar R$ 1 milhão hoje,
ou R$ 1 milhão daqui um ano? Por quê? Naturalmente, a intuição já sugere uma resposta:
normalmente, as pessoas preferem ganhar o dinheiro hoje. Agora vamos refletir sobre por que
isso acontece.

Em essência, isso acontece porque o dinheiro tem valor ao longo do tempo. Há alguns motivos
que justificam a preferência pelo dinheiro hoje. Um primeiro e bem intuitivo motivo refere-se a
questões inflacionárias. Na presença de inflação, o dinheiro perde poder de compra ao longo do
tempo. Assim, R$1 milhão hoje compra maior quantidade de bens do que o mesmo R$ 1 milhão
será capaz de comprar no futuro, pois, com a inflação, os preços em uma economia, em geral,
tendem a subir, de forma que, com uma mesma quantidade de recursos, o poder de compra
torna-se menor com o tempo. No Brasil, assim como na maioria dos países , costuma ser fácil
compreender o poder dos efeitos inflacionários, uma vez que, em nossa história recente, vivemos
períodos com altos índices de inflação. A perda do poder de compra do dinheiro é algo natural e
intrínseco ao dia a dia das pessoas, tanto em suas finanças pessoais como profissionais.

Além da inflação, no entanto, há outros motivos para o dinheiro ter valor ao longo do tempo. Um
motivo adicional decorre de o dinheiro ser um recurso escasso, ou seja, a disponibilidade de
recursos não é ilimitada. Sendo assim, suponhamos que você dispõe hoje de R$ 500 mil e decida
investir em determinado projeto de longo prazo como, por exemplo, abrir uma franquia de
serviços estéticos. Se, porventura, daqui a alguns meses surgir uma nova oportunidade de
investimento, mesmo que seja ainda melhor do que a anterior, você talvez não disponha dos
recursos para investir nessa segunda alternativa. Mas, caso você ainda tivesse os R$ 500 mil
disponíveis, poderia escolher essa outra oportunidade de investimento. Sendo assim, o segundo
motivo que justifica o valor do dinheiro no tempo é que, uma vez aplicado o recurso, o investidor
estará abrindo mão de outras oportunidades de investimento e, para aceitar essa perda de
possíveis oportunidades, ele certamente irá exigir algum tipo de remuneração pelo tempo
transcorrido. Esse motivo está associado ao fato de que o dinheiro tem utilidade quando
disponível aos agentes e que, caso estivesse com liquidez, poderia ser utilizado para outras
oportunidades de investimento ou até para aquisições a fim de obter melhorias em qualidade de
vida, por exemplo.

Por fim, há um motivo final − não menos importante − que sustenta a importância de considerar
o valor do dinheiro no tempo. Esse último motivo é o risco. Um agente irá preferir receber R$1
milhão hoje − e não no futuro − porque o futuro é incerto e, portanto, arriscado. Se o agente
optar pelo dinheiro hoje, garante o recebimento. Mas, se optar pelo recebimento futuro, estará
assumindo o risco de que algo aconteça de errado e impeça o recebimento do valor, ou reduza
o seu recebimento.
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Quanto maior o risco incorrido pelo agente ao assumir determinado investimento, maior será o
ganho que ele espera obter para aceitar o projeto. Sendo assim, quanto mais risco, mais
retorno esperado. Naturalmente, nenhum investidor estaria satisfeito com uma taxa de retorno
inferior ao que poderia ser obtido por meio de um investimento em ativo livre de risco − em um
título do governo que, no caso brasileiro, remunera a taxa Selic. Essa se trata de uma referência
de remuneração livre de risco em dada economia, e não haveria sentido econômico na existência
de um negócio com risco que remunerasse consistentemente retornos inferiores à Selic.

O dinheiro tem valor ao longo do tempo devido: (i) a questões


inflacionárias; (ii) ao fato de o dinheiro ser um recurso escasso e limitado,
que tem utilidade, e abrir mão da liquidez pode ocasionar perdas de outras
oportunidades de negócio; e (iii) ao risco.

Dado esse contexto, surge a intuição sobre a TMA − Taxa Mínima de Atratividade. Uma taxa
mínima de atratividade representa aquele nível de remuneração mínimo que deverá ser
proporcionado pelos projetos para que satisfaçam às expectativas dos acionistas. Es sa TMA
deve ser composta de um mínimo de remuneração, para fazer frente à remuneração livre de
risco da economia, mais um adicional de remuneração que represente um prêmio pelo risco
corrido nesse projeto.

Para exemplificar, suponhamos que um investidor esteja avaliando um projeto que demande
R$100,00 de investimento inicial. Sabemos que:

• dado o nível de risco do projeto, o investidor gostaria de obter ganhos anuais de, no
mínimo, 15% ao ano;
• o projeto tem duração de um ano apenas.

Sendo assim, o investidor vai querer ter um ganho, ao final de um ano, de, no mínimo, R$15,00
(15% de R$100, 00), de forma que espera obter um fluxo de caixa futuro superior a R$115,00 −
os primeiros R$100,00 para recuperar o investimento, e os outros R$15,00, no mínimo, para
compensar a sua TMA. A figura a seguir ilustra esse investimento com remuneração de 15% ao
ano.
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A formação do dinheiro ao longo do tempo sustenta-se em algumas


funções fundamentais da matemática financeira. Uma delas é o regime de
juros compostos, que pressupõe a remuneração de juros sobre juros. Isso
significa que o investidor será remunerado pelo capital investido e também
pelos juros acumulados ao longo do tempo nesse investimento.

Em que:

• FV = valor futuro ou future value;


• PV = valor presente ou present value;
• i = taxa de remuneração do dinheiro ao longo do tempo (quando discutindo a análise
de projetos, essa taxa pode se referir à TMA já mencionada);
• n = quantidade de tempo transcorrido (lembrando que a unidade do tempo deve ser
igual à unidade da taxa. Logo, se a taxa é 15% ao ano, o tempo deverá ser medido
em anos);

Dessa forma, dado um investimento inicial de R$100,00, considerando uma taxa de juros de
15% a.a, o investidor terá, ao final do Ano 1:
𝐹𝑉 = 100 × (1 + 0,15)1 = 115,00
Já ao final do Ano 2, o investidor terá:

𝐹𝑉 = 100 × (1 + 0,15)2 = 132,25


Ao final do segundo ano, o investidor terá um total de R$132,25, considerando uma
remuneração de 15%a.a. ao longo de dois anos, e incidindo juros sobre o capital inicial e
também sobre os juros acumulados ao longo do Período 1.

O exemplo anterior do investidor que aplica R$100,00 e recebe R$115,00 ao final de um ano
trata-se de um caso simplificado, que conta com apenas uma saída de caixa (data zero) e uma
entrada (data um). Quando se fala na avaliação de projetos, no entanto, estamos analisando
fluxos um pouco mais complexos. São os fluxos de caixa não uniformes. Tipicamente, a
avaliação de projetos envolve: um investimento inicial, uma série de fluxos de caixa futuros, e
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um valor terminal (residual) a ser obtido no encerramento do projeto. A imagem a seguir ilustra
os elementos dos investimentos:

Sendo assim, é possível observar que a decisão do investimento (investimento inicial) foi tomada
no momento presente − podendo ser a aquisição de uma nova máquina. Esta máquina irá gerar
fluxos de caixa no futuro (fluxos esperados) e, após certo período, há a opção de vender esse
ativo por um valor residual (valor terminal).

Como cada fluxo de caixa possui valores diferentes ao longo do tempo, é preciso avaliar se esse
conjunto de fluxos está remunerando o investidor por aquela TMA esperada, dado seu
investimento inicial. Essa TMA é também conhecida por algumas outras referências na avaliação
de projetos:

TMA = custo de capital = taxa de desconto

As ferramentas de avaliação de investimento são usadas, então, com o objetivo de verificar se


esse conjunto de fluxos de caixa será atrativo ao investidor, dada sua TMA.

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