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PRINCÍPIOS E PERSPECTIVAS DA AGROECOLOGIA

Marlete Turmina Outeiro


CAPROAL, F. R.; AZEVEDO, E. O. De. (Org.). Princípios e Perspectivas da Agroecologia. Instituto Federal
Paraná - Educação a Distância. 2011.

O texto discute a epistemologia e sua relação com a teoria do conhecimento, aborda tanto o conhecimento
científico, quanto os saberes do cotidiano, especialmente, relacionados na sabedoria dos agricultores, sobretudo,
no campo da filosofia da ciência. O autor denomina como crise do modelo produtivista, tendo como base os
preceitos da revolução verde. Em seguida, aborda a fase pioneira do Modelo Empirista de Ciência, destaca Francis
Bacon, René Descartes e Auguste Comte, no período entre os séculos XVI a XVIII. Menciona a importância dessa
análise histórica a partir de Descartes, por entender que nem tudo significa o mesmo e pelo caráter progressista
das propostas para o que era dominante nas épocas em que surgiram. Por fim, discute sobre o paradigma da ciência
na contemporaneidade e ainda a articulação entre o conhecimento científico e cotidiano.
O empirismo de Bacon enfatiza a centralidade da ideia de domínio sobre a natureza a partir da experiência e dos
sentidos. Bacon parte dos fatos empíricos do mundo natural para promover a dúvida crítica com respeito ao saber
tradicional, ainda, para ele, o conhecimento é construído de forma metódica, sistemática, com rigorosa
experimentação e aplicação prática. Sua metodologia indutiva era baseada em regras simples e infalíveis.
Descartes surgiu em oposição à filosofia empirista. Defendia que os conhecimentos válidos e verdadeiros sobre a
realidade, eram procedentes da razão e não dos sentidos e da experiência. Ambos tinham como objetivo o domínio
sobre a natureza e a confiança no saber absoluto. A base filosófica de Descartes partia de princípios gerais para
posteriormente utilizar a dedução, portanto, apoiava-se no método dedutivo.
Auguste Comte, positivista, defende a ideia de que o conhecimento era proveniente dos sentidos, para ele, os fatos
são os únicos objetos possíveis de conhecimento. Com o surgimento da industrialização, a época de Comte
constituiu o marco da nova ordem social, ou seja, o homem não só pode, mas tem que transformar a natureza.
Nesse sentido, como forma de dominação, assinalada também por Bacon empregava-se o lema: “conhecer para
dominar, dominar para apropriar-se”.
Na década de 20, em Viena, um grupo de cientistas criou uma teoria da ciência como disciplina filosófica
autônoma, denominado “Círculo de Viena”. Estes deram início ao neopositivismo, conhecido também como
empirismo lógico ou positivismo lógico. Esta corrente tinha como característica a intenção de unir o empirismo
com a lógica formal simbólica, ressaltada com os instrumentos da lógica matemática. Este pensamento prevaleceu
durante a década de 1930 a 1940, dando lugar ao Racionalismo Crítico de Karl Popper.
Popper centra seus estudos no desenvolvimento e no aumento do conhecimento científico e desenvolve o
racionalismo crítico em oposição aos critérios neopositivistas de busca da verdade na ciência. Para ele, o
conhecimento será sempre provisório, nunca definitivo nem verdadeiro. Vale ressaltar a importante contribuição
de Popper na produção do conhecimento agrário baseado no método indutivo e na experimentação repetitiva.
A ciência pós-empírica ou pós-positivista defende a existência de uma base empírica teoricamente neutra, a
importância exclusiva do contexto da justificação, onde são manejados as técnicas e métodos de pesquisa, e o
caráter acumulativo do desenvolvimento científico. Este estuda as propriedades dos paradigmas, programas,
tradições, domínios, etc. Neste sentido, a consolidação da Agroecologia como novo paradigma poderá vir a
ocorrer, mas depende de esforço intelectual, prática política e ajustes institucionais.
Entende-se a ciência como uma atividade prática, e que deve ser considerado o contexto em que ela acontece, a
inovação, a avaliação científica atribuída a ela e a sua aplicação. O central no novo paradigma é a superação do
sujeito-objeto, linguagem-realidade, partes-todo, filosofia-ciência e liberdade-necessidade.
O conceito de paradigma ecológico, centrado em Capra (1992) enfatiza a vida, o mundo em que vivemos e as
relações que nele existem. Para ele, se a ciência fosse mais democrática, refletiria melhor a necessidade e a vontade
da sociedade, implicando, por exemplo, em mais recursos para a ecologia e menos para a biologia molecular e a
engenharia genética. enfatiza-se aqui o conhecimento cotidiano, oriundo das ações culturais, históricas e sociais,
assim como, as científicas, responsáveis pelo desenvolvimento sistematizado, metódico e comprovado. Estes
implicam no desenvolvimento agrícola através da Agroecologia. Entende-se que esta manterá mais opções
ecológicas e culturais para o futuro e trará menos efeitos perniciosos para a cultura e o meio ambiente do que a
tecnologia agrícola moderna por si só.
Por fim, é preciso entender que o conhecimento e a tecnologia são fundamentais para a Agroecologia, possíveis
para a criação de um novo paradigma, novas visões de homem e natureza, de modo a fortalecer a participação de
todos na busca de um novo processo de construção do conhecimento.

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