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22/08/2021 E se um asteroide não tivesse aniquilado os dinossauros?

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DINOSSAUROS

E se um asteroide não tivesse aniquilado os


dinossauros?
A teoria mais difundida diz que a extinção dos dinossauros foi necessária
para a aparição dos humanos, mas há quem sugira que esta era inexorável

DANIEL MEDIAVILLA

16 SET 2019 - 12:08 BRT

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/13/ciencia/1568381767_417077.html?rel=listapoyo 1/7
22/08/2021 E se um asteroide não tivesse aniquilado os dinossauros? | Ciência | EL PAÍS Brasil

Fotograma do filme 'Parque Jurásico', um dos poucos espaços nos que conviveram humanos e dinossauros

Em 1982, o paleontólogo Dale Russell se perguntou o que teria acontecido se os


troodontídeos não tivessem sido extintos com a queda de um asteroide há 66 milhões de
anos. Aqueles dinossauros tinham cérebros excepcionalmente grandes, visão binocular e
garras com as quais podiam agarrar objetos. Se o cataclismo não tivesse acabado com eles,
milhões de anos de evolução depois eles poderiam ter dado lugar a uma espécie de
dinossauro inteligente que, na mente de Russell, era um humanoide verde que em vez de
amamentar suas crias lhes daria o alimento regurgitando-o da boca.

O desastre que extinguiu os dinossauros, do qual esta semana se conheceu a reconstrução


mais precisa até hoje, foi mais um evento aleatório dos tantos que infestam a história do
universo, mas alguns humanos, pouco inclinados a assumir que a realidade é caótica, o
transformaram em um mito institucional. A desgraça dos dinossauros —que nunca
saberemos se teriam evoluído para essa espécie de alienígena proposta por Russell—
propiciou a ascensão dos mamíferos, e entre eles os ancestrais dos humanos. Mas o que
teria acontecido se um asteroide não tivesse sacudido a Terra, provocando a extinção de
75% da vida daquele momento?

Em primeiro lugar, se não tivessem sido extintos, nada garante que os tiranossauros e
tricerátops teriam sobrevivido até nossos dias. Em seus melhores tempos, cada uma das
espécies não superava um milhão de anos de existência, de modo que os dinossauros do
século XXI seriam diferentes dos da época do meteoro.

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/13/ciencia/1568381767_417077.html?rel=listapoyo 2/7
22/08/2021 E se um asteroide não tivesse aniquilado os dinossauros? | Ciência | EL PAÍS Brasil

“É uma lei que nos ensinam os fósseis:


todos nós vamos desaparecendo”, afirma
Fidel Torcida, diretor do Museu de
Dinossauros de Salas de Los Infantes
(Espanha). O Cretáceo, período que
termina com a queda do asteroide na
península de Yucatán (México), era um
tempo de intenso efeito estufa, em que a
temperatura média do planeta alcançava
os 24 graus (atualmente é de 14). Isso,
somado aos elevados níveis de CO2,
favorecia o crescimento de uma vegetação
exuberante que permitiu aos herbívoros
como os saurópodes alcançar tamanhos
descomunais. Os milhões de anos de
esfriamento que se seguiram e o fim
daquele mundo tropical teriam exigido
Modelo do dinossauro inteligente teorizado pelo
paleontólogo Dale Rusell JIM LINWOOD adaptações que transformariam os
dinossauros. Assim como houve mamutes
com a pele coberta por lã durante os
séculos de glaciação do Pleistoceno, poderiam ter existido dinossauros cobertos de uma
plumagem espessa para sobreviver ao frio.

A hipótese mais frequente sobre os beneficiados pela extinção dos dinossauros diz que os
mamíferos, até então pequenos animais noturnos que viviam nas margens do planeta,
aproveitaram as vagas deixadas pelo asteroide para ocupar seus nichos ecológicos, crescer
e se diversificar.

Nessa explosão os ancestrais dos humanos teriam progredido. Eram protoprimatas como
os Purgatorius, parecidos com um pequeno rato, mas contendo em seu interior o germe de
uma espécie capaz de viajar à Lua ou aprontar o Brexit. Se os dinossauros não tivessem
deixado esse vazio, especula-se, nossa espécie não teria tido possibilidades para parecer.
Carles Lalueza-Fox, geneticista do Instituto de Biologia Evolutiva (CSIC-UPF) de Barcelona,
acredita que essa interpretação não é necessariamente correta. “Vemos isso com as
espécies invasoras. Pode haver um tipo de vespa, perfeitamente adaptada a um
ecossistema europeu, e de repente chega outra de fora e toma conta desse espaço que
parecia bem coberto”, observa.

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22/08/2021 E se um asteroide não tivesse aniquilado os dinossauros? | Ciência | EL PAÍS Brasil

Para Lalueza-Fox, um dos aspectos mais interessantes do exercício de ficção paleontológica


é imaginar se a vida tem possibilidades infinitas ou se existem limitações, e se, com grandes
extinções ou não, a vida acabaria criando animais parecidos, incluindo os humanos.
“Stephen Jay Gould escreveu em Vida Maravilhosa sobre a fauna do período Cambriano,
que tem tipos de fósseis estranhíssimos. Lá, Gould propõe que, se pudéssemos rebobinar a
evolução e começar tudo novamente, apareceriam formas completamente diversas”, conta.
“Mas depois houve gente que criticou essa postura e que diz que a organização dos seres
vivos ao nível do genoma tem certas restrições que não podem ser alteradas, e outras que
sim”, acrescenta. O pesquisador comenta que o sequenciamento de centenas de genomas
mostrou que, entre espécies muito diferentes, há zonas que não mudam, como um conjunto
de opções que depois se ativam ou desativam dependendo das circunstâncias. “Vemos, por
exemplo, que quando os animais vivem em ilhas, se não tiverem predadores eles diminuem
de tamanho, e isso acontece sempre”, explica. “E não há espécies com rodas, nem tudo é
possível”, conclui.

María Martinón-Torres, diretora do CENIEH (Centro Nacional de Pesquisa sobre a Evolução


Humana), em Burgos (Espanha), recorda que, junto à ideia de uma evolução aleatória
exposta por Gould, segundo a qual sem o asteroide não se dariam as condições necessárias
para a aparição dos seres humanos, há outros paleontólogos, como Simon Conway Morris,
que defendem o surgimento de uma espécie inteligente, consciente e social como um algo
praticamente inevitável. “Ele não diz que a evolução tenha finalidade. A adaptação é
oportunista, mas a vida não tem formas infinitas de responder à necessidade de se adaptar
e tende à complexidade. De alguma forma, cedo ou tarde acabaria aparecendo algo muito
parecido a nós, um ser social, inteligente e autoconsciente, porque são capacidades que
permitem explorar um nicho ecológico e são uma resposta da vida para responder à
necessidade de adaptação.”

Mas essa resposta não teria por que dar lugar necessariamente a personagens como nós.
Torcida recorda como as aves, que “são dinossauros, ou pelo menos seus herdeiros
diretos”, demonstram uma inteligência notável. “Elas têm capacidade de colaborar, de
resolver problemas, recordam como resolveram um problema e fazem igual”, afirma. Se a
evolução tiver respostas limitadas às mudanças que a Terra sofre, talvez as aves sejam
como aqueles mamíferos do Cretáceo, limitados pela presença de seres dominantes,
escondidos à espera de sua oportunidade para dar lugar a uma nova espécie inteligente.
Uma nova mudança drástica nas condições do planeta poderia dar lugar à extinção dos
humanos e a um retorno da estirpe dos dinossauros como chefes do galinheiro.

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A IMPOSSIBILIDADE DE PREDIZER O FUTURO

Embora as respostas da vida às mudanças não sejam aleatórias, as provas impostas pelos
processos geológicos e as vicissitudes da Terra em sua viagem pela galáxia são tão
variadas que tornam impossível prever o futuro. Assim como às vezes se atribui a chegada
dos humanos à queda dos dinossauros, a aparição destes animais se vincula a outra
grande extinção. Há 252 milhões de anos, ao final do período Permiano, uma erupção
descomunal na Sibéria provocou uma cadeia de eventos que acabou com 96% das
espécies que habitavam a Terra na época.

Os dinossauros chegaram para cobrir esse vazio, mas não alcançaram o sucesso global
desde o começo. Naquele tempo, toda a terra emersa do planeta estava fundida em um só
continente, e isso provocava um clima com variações bruscas entre estações secas e
úmidas, frias e quentes. “As condições climáticas eram muito duras, e os dinossauros
estavam encurralados. Basicamente, durante muito tempo se dedicaram a sobreviver”,
recorda Torcida. “Mas depois, a Pangeia se rompe, passamos ao Jurássico, e não se sabe
muito bem por que chega a grande era dos dinossauros”, acrescenta.

Os humanos organizam as idades geológicas empregando grandes cataclismos para dividir


o tempo, como quando classificamos os períodos históricos em torno de um só fato,
fazendo de conta que a vida pode ser dividida em estantes com uma separação precisa.
Mas isso só é possível com a perspectiva dada pelo tempo. Dentro de milhões de anos,
talvez se possa identificar um grupo de espécies que estavam esperando seu momento de
glória e hoje ainda parecem insignificantes.

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Os dinossauros e o fim das coisas que


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parecem eternas

CIÊNCIAA longa noite de dois anos que


extinguiu os dinossauros

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