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romantismo e harmonia da música popular

Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas


Udesc | Unicamp, 2oo7
Que acorde eu ponho aqui? Elementos para um estudo da harmonia popular urbana de poética dissonante 2
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ou
Que acorde eu ponho aqui? Elementos para um estudo da harmonia popular urbana de poética dissonante 3
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Componentes do magma ideológico romântico


que repercutem na teoria e na experiência estética
da harmonia da música popular de poética dissonante

a partir de
LEONARD B. MEYER
Terceira parte
_ Música e ideologia: esboço histórico da música do século XIX
_ O Romantismo: a ideologia dos igualitários elitistas
_ A persistência do Romantismo

Considerações parciais da pesquisa em curso


Que acorde eu ponho aqui?
Elementos para um estudo da harmonia popular urbana de poética dissonante
Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas
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três sugestivas epígrafes românticas...


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É igualmente fatal haver um sistema


e não haver um sistema.
Deve-se tentar combiná-los.

Friedrich Schlegel
(apud Rosen, 2000, p. 13)
Friedrich Schlegel
(1772-1829)

Friedrich Schlegel (1772-1829). Lingüista, crítico literário e filósofo alemão que desenvolveu a
concepção de que a poesia deve ser ao mesmo tempo filosófica e mitológica, irônica e
religiosa, iniciando o primeiro movimento romântico alemão. Irmão do poeta, tradutor e
crítico August Wilhelm Schlegel (1767-1845).

ROSEN, Charles. A Geração Romântica. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.
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Olha você tem todas as coisas


Que um dia eu sonhei prá mim
A cabeça cheia de problemas
Não me importo,
eu gosto mesmo assim.

Roberto Carlos
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... noutras palavras


sou muito romântico...

Caetano Veloso
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... foca-se aqui um estilo das músicas populares urbanas


claramente dedicado a essa artesanalidade miúda que,
de modo peculiar, dá evidente preferência
às formulações de expressividade dissonante...
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TAGG, Phillip.
Para qué sirve um musema? Antidepresivos y la gestión musical de la angustia. In: ULHÔA, Martha e OCHOA, Ana Maria (Org).
Música popular na América Latina: pontos de escuta. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005.

...essa poética pode ser descrita como


aquela que Phillip TAGG se refere como
“campo semântico geral da música tortuosa [...],
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TAGG, Phillip.
Para qué sirve um musema? Antidepresivos y la gestión musical de la angustia. In: ULHÔA, Martha e OCHOA, Ana Maria (Org).
Música popular na América Latina: pontos de escuta. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005.

da melodia caracterizada por perfil disjunto e/ou dissonância


melódica enfatizada [...], das melodias tortuosas [...] com suas
5ªs alteradas, 7ªs maiores, 9ªs dissonantes, etc. [...],
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TAGG, Phillip.
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Música popular na América Latina: pontos de escuta. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005.

da sonoridade do acorde menor com 9ª acrescentada,


do acorde meio-diminuto e sua inversão
como menor com 6ª [...],
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TAGG, Phillip.
Para qué sirve um musema? Antidepresivos y la gestión musical de la angustia. In: ULHÔA, Martha e OCHOA, Ana Maria (Org).
Música popular na América Latina: pontos de escuta. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005.

da movimentação das vozes com


todas aquelas 5ªs e 2ªs abaixadas [...],
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TAGG, Phillip.
Para qué sirve um musema? Antidepresivos y la gestión musical de la angustia. In: ULHÔA, Martha e OCHOA, Ana Maria (Org).
Música popular na América Latina: pontos de escuta. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005.

música que formula suas cadências


onde pelo menos um dos acordes
precisa ser extrínseco à tonalidade”.
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T S D T
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Com o fim de aclarar os princípios que relacionam tais traços entre si


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e que motivam a escolha justamente desses traços estilísticos,


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MEYER, Leonard B.
El estilo em la música. Teoria musical, história e ideologia. Madrid: Ed. Pirâmide, 2000.

... a partir do trabalho de Leonard MEYER,


O estilo na música: teoria musical, história e ideologia –
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MEYER, Leonard B.
El estilo em la música. Teoria musical, história e ideologia. Madrid: Ed. Pirâmide, 2000.

“um intento por mostrar [...] de modo mais específico


e concreto o possível as formas pelas quais as crenças
ideológicas de uma época [...] se traduziram em
constrições musicais e afetaram com isso as
escolhas” compositivas e teórico-analíticas”...
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MEYER, Leonard B.
El estilo em la música. Teoria musical, história e ideologia. Madrid: Ed. Pirâmide, 2000.

Meyer aborda a natureza do estilo em um ensaio


que se ocupa da “ideologia do romantismo: suas
bases sociais e políticas, suas crenças e atitudes
centrais e algumas de suas implicações gerais
para a estética da música”.
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MEYER, Leonard B.
El estilo em la música. Teoria musical, história e ideologia. Madrid: Ed. Pirâmide, 2000.

bem como, de mostrar “maneiras pelas quais os


princípios do romantismo se transladaram e
influíram sobre as escolhas musicais realizadas
por compositores do século XIX” (p. 251) na
Europa, e “cujos resultados ainda estão se
elaborando” (p. 254).
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... a partir de Meyer então,


a hipótese central a se desenvolver neste estudo
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é a de que facetas dogmáticas da ideologia do romantismo,


peculiarmente acomodadas,
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configuram-se como fundamento central e constante


das escolhas harmônicas e também teóricas
da comunidade epistêmica da poética dissonante.
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MARTINEZ, Alejandro. Teoría y experiência musical: consideraciones entorno a la noción de “estructura" en música.
In: FORUM DO CENTRO DE LINGUAGEM MUSICAL DA PUC-SP, 2000, São Paulo. Anais eletrônicos... Disponível em:
<http://www.pucsp.br/pos/cos/clm/forum/sumario.htm#>.

comunidade epistêmica

Uma comunidade epistêmica será aquela na qual seus


membros compartilham certos valores, um mesmo
vocabulário conceitual, concordam com razões para
aceitar ou rebater crenças, tem possibilidade de acesso
aos mesmos objetos perceptuais, etc..
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... o que se propõe aqui é, nesse


âmbito específico das músicas
populares, uma (re)escuta da
teoria da harmonia que
procure explicitar o peso da
ideologia romântica “que
penetrou em cada rincão da
cultura e em todos os níveis da
sociedade” (MEYER, p. 254)
ocidental(izada).
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... componentes do magma


ideológico romântico que
repercutem na teoria e na
experiência estética da
harmonia da música
popular de poética
dissonante:
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... ou, em outras palavras ...


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_ o efeito Beethoven
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DIEGO FISCHERMAN
Efecto Beethoven
Complexidade e valor na música de tradição popular
Buenos Aires: Paidós, 2004
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DIEGO FISCHERMAN
Efecto Beethoven
Complexidade e
valor na música de
tradição popular

Buenos Aires:
Paidós, 2004
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Voltando ao Meyer:

... componentes do magma


ideológico romântico que
repercutem na teoria e na
experiência estética da
harmonia da música
popular de poética
dissonante:
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1|

... a valorização do espontâneo, instintivo, vibrante,


arrebatado, sem ordem, irracional, complexo1...

1
São numerosos os estudos em torno das tensões entre o “classicismo apolíneo” e o “romantismo
dionisíaco”. “A arte clássica foi concebida pelos críticos alemães como “beleza”; a arte romântica,
como “energia”. O clássico era universal e ideal [...] plástico, finito, fechado e de gênero puro; o
romântico era individual e “característico” [...] pitoresco, infinito, aberto e mesclado.” (WIMSATT e
BROOKS apud MEYER, p. 253).
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glorificação do natural: elogio à franqueza,


a sinceridade e a veracidade naturais em
detrimento da aprendizagem fundada
na convenção: “A natureza não mente” (Rousseau);
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repúdio ao artificial, à ordem arbitrária,


à dependência ou submissão à autoridade externa;
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2|

valorização do que é individual e peculiar;


zelo pelo que é exclusivo de
uma pessoa ou obra,
a atenção se dirige para
o individual dos fenômenos;
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3|

valorização do empirismo (“prática”)


em detrimento das racionalizações
do método dedutivo (“teoria”);
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4|

acontextualismo:
irrelevância de toda origem,
linhagem e conexão contextual;

desprezo da referência:
as tradições são obstáculos
para a experiência estética direta
que é a única genuína;
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5|

depreciação das regras e teorias:

... tudo que é sistemático se torna


‘falso, trivial e convencional’ (Vitor Hugo);
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depreciação da educação:

“a virtude do defeito esta na sua verdade” (Thibaut).


O imperfeito, ou inclusive o deforme estão
necessariamente livres de todo artifício;
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6|

a depreciação dos gêneros e formas:


pois dependem de conhecimento prévio.

Valorização de formas de expressão imediatas:


uma arte que fale imediatamente e a todos
(contra uma apreciação que
depende de conhecimento);
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7|

o mistério da arte: a arte “sem teoria” (sem


generalização, em favor daquilo que é único) será
inexplicável e, por isso possuidor de uma aura
misteriosa.
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Depreciação da análise
que destrói a unidade e despoja a arte
de seu mistério ao traficar
com generalizações;
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8|

O que garante a verdade e a beleza é a


espontaneidade, a arte deve ser natural,
“sem referência a nenhum sistema
de conduta adquirido” (Sulzer);
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“A primeira idéia é sempre a mais natural e a melhor.


A razão erra o sentimento nunca” (Schumann).
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9|

valorização da beleza (que não se pode aprender, é o


domínio do gênio, a beleza é verdade e a verdade é
beleza),

em detrimento do gosto (que vem da educação, se


aprende se adquire, se cultiva, então é artificial);
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10|

o que guia o gênio não é o conhecimento


de regras ou habilidades aprendidas
ou escolhas calculadas, e sim a
inspiração espontânea
junto com a emoção sentida;
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Edu Lobo, Tom Jobim, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Zé Keti, Francis Hime, Luiz Eça, Dori Caymmi, Chico Buarque, Luiz Bonfá, Tuca,
Vinicius de Morais, Dircinha Batista, Nelson Mota e Braguinha, entre outros.
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11|

o mito do gênio incompreendido:


“santo e profeta” e adiante do seu tempo
o artista é incompreendido.
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A síndrome do mártir sofredor:


o artista sofrido e sacrificado realça
a crença do público na sinceridade
de sua inspiração, anima os ouvintes a escutar sua
música com devoção e aumenta a receptividade;
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12|

devoção reverencial à arte e ao artista criativo


“artistas são deuses”

[“Deus é uma artista” em uma inversão notável de


valores, agora Deus se equipara ao homem];
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Os mistérios da arte e da criatividade


estão conectados à aura “religiosa”
que rodeia a arte e os artistas;
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13|

o aparente paradoxo da valorização da norma:


a valorização da diversidade
só pode se dar frente à norma

(ser diferente implica em ser diferente de


alguma coisa, em conservar alguma coisa);
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14|

gradualismo:
as mudanças se concebem
como coisa gradual e contínua,
por incremento, sem rupturas radicais,
“são um tipo de bom senso
que está acessível a toda a gente” (Burke).

“A natureza não dá saltos” (Liszt);


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15|

As relações significativas do mundo


(aquelas que lhe dão sentido e coerência)
estão ocultas.
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16|

o organicismo
(metáfora central da estética romântica)
sustenta o desenvolvimento
dentro de um processo2,

2
Filósofos da história resgatam-na do arbitrário convertendo-a em um estudo da mudança necessária e
natural: O crescimento orgânico (Herder); o desenvolvimento dialético (Marx e Hegel); os processos
cíclicos (Wölflin). (MEYER, p. 260).
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o ‘Devenir’ contínuo
e não o ‘Ser’ estabelecido.3

3
O “orgânico” é natural e se associa com: o gênio e a inspiração, espontaneidade e liberdade,
inocência e candura, conhecimento inato e sentimento, beleza e bondade naturais, relações de
significado acontextuais (não é preciso cultura’ para gozar o que é organicamente natural).
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Unidade orgânica:

a obra de arte se entende como resultado


progressivo de um único germe ou princípio
subjacente.

A metáfora central do organicismo é uma


semente germinando e se desenvolvendo:
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o motivo é visto como germe


do todo o que há de se seguir;4

4
O que se propõe em nosso estudo, em certa medida, ainda é “uma teoria orgânica da harmonia”, onde
tudo saia de uma mesma semente, tudo faça parte de um organismo só.
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17|

Criação de coerência através da


similitude motívica.

O papel das relações de similitude para


garantir a unidade – normalmente através da
derivação ou transformação a partir de uma
única célula motívica germinal – foi
sublinhado por teóricos e compositores ao
longo do séclo XIX.
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O conceito de Unidade de Motivos5 é


compatível porque é ‘naturalmente’
‘econômico’ e suas ‘trocas são graduais’.

E mais importante, porque os princípios de


similitude são acontextuais, não dependem de
uma convenção sintática aprendida;

5
Flo Menezes fala em “Memória Motívica” (2002, p.170).
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18|

valorização da música instrumental:


a linguagem (texto) se associa com as
constrições sociais e o som orgânico celebra as
bondades da natureza.

A arte romântica brota do intento do homem


por transcender a esfera da cognição, por
experimentar coisas mais elevadas, mais
espirituais, e sentir a presença do inefável.
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Nenhum material estético é mais adequado


para a expressão do inefável que o som, a
matéria da música.

O âmbito próprio da ‘música verdadeira’ só


começa ali onde acaba a palavra;6

6
O complicador teórico: a música instrumental geralmente se chama ‘pura’ porque parece ser
independente das referências externas e as convenções da linguagem. Isso alimentou a confusão
porque nos fez acreditar que a música poderá ser explicada em seus próprios termos, como um
mundo aparte. Cf. DAHLHAUS, Carl. La idea de la música absoluta. Barcelona: Idea Books, 1999.
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19|

ser original
isto é contribuir na atualização da mudança natural e
necessária – é um tipo de obrigação estética ou moral,
é praticamente um imperativo histórico.
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Realizar-se é chegar a diferenciar-se dos demais.


Crença na plena realização da potência (a semente
deve se transformar em árvore);
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20|

valorização do Devenir:

busca por uma perfeição inalcançável, pelo


crescimento e afastamento contínuo
(harmonias expandidas), acha sua
expressão musical no uso de formas
abertas e estruturas implícitas.
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Devenir é um processo contínuo, por


incrementos e inacabado sem articulações
claras ou descontinuidades significativas.

As estruturas sintáticas (ser) são


substituídas pelas estruturas emergentes
(potência);
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21|

debilitação do fechamento.

Ênfase nas qualidades de abertura


que implicam em continuação.

O fechamento não chega a ser decisivo.


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A desvalorização da convenção implica no


rechaço (ou disfarce) das fórmulas de
fechamento tradicionais e,
correlativamente em um uso maior de
sinais ‘naturais’ de terminação.
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Implica no Devenir sem fim,


um estado especialmente
valorizado pelo romantismo,
em lugar dos atos realizados do mero ‘Ser’
que resultam em modelos
completos e cerrados;...
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22|

o estado de anseio (já que a perfeição é um ideal


não realizável).

A realização da perfeição seria ela mesma uma


imperfeição.
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... o acorde perfeito é uma imperfeição, porque o


fechamento e a consumação exigidos para a
realização (da perfeição) transforma o Devenir em
Ser, em “forma definitiva”...
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23|

a valorização do sublime:
para Burke, "tudo aquilo que serve para, de
algum modo, excitar as idéias de dor e
perigo, ou versa sobre objetos terríveis, ou
opera de maneira análoga ao terror, é
origem do sublime;
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... ou seja, é causador da


mais forte emoção que a mente é capaz de sentir.

(O artista é um “monstro” e não apenas “belo”)

“A expressão do sublime depende não da perfeição e


sim da magnitude”;7

7
Considera-se que a emoção básica a ser excitada é o espanto – a paixão que enche a mente e
impede o raciocínio – mas que existirão outras de caráter secundário (talvez porque contenham já
em si algo racional) a admiração, a reverência e o respeito.
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intensifica-se como ‘conflito’


o que se pensava antes como ‘contraste’.
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Valoração da diferença (plenitude e não escolha


seletiva): a representação da natureza em toda a
sua assombrosa diversidade.

Primado da inovação e da mudança;


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Componentes do magma ideológico romântico, a partir de Meyer (2000),


que repercutem na teoria e na experiência estética da harmonia da música popular urbana de poética dissonante
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Que acorde eu ponho aqui?


Elementos para um estudo da harmonia popular urbana de poética dissonante
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