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Governo Federal

Secretaria de Assuntos Estratégicos da Secretaria Especial de Políticas para


Presidência da República as Mulheres – SPM
Ministro Daniel Barcelos Vargas (interino)
Secretária Especial Nilcéa Freire
Instituto de Pesquisa Econômica Secretária Adjunta Teresa Cristina
Aplicada – IPEA Nascimento Souza

Presidente Subsecretaria de Articulação Institucional


Marcio Pochmann Sônia Malheiros Miguel
Subsecretaria de Monitoramento e Ações
Diretor de Administração e Finanças Temáticas
Fernando Ferreira Aparecida Gonçalves

Diretor de Estudos Macroeconômicos Subsecretaria de Planejamento de


João Sicsú Políticas para as Mulheres
Lourdes Maria Bandeira
Diretor de Estudos Sociais
Jorge Abrahão de Castro Assessora Especial
Odisséia Pinto de Carvalho
Diretora de Estudos Regionais e Urbanos
Liana Maria da Frota Carleial Chefe de Gabinete
Cíntia Rodrigues Dias Gouveia
Diretor de Estudos Setoriais
Márcio Wohlers de Almeida Conselho Nacional dos Direitos da Mulher
Susana Cabral – Secretária Executiva
Diretor de Cooperação e Desenvolvimento
Mário Lisboa Theodoro
Organização Internacional do
Chefe de Gabinete Trabalho
Persio Marco Antonio Davison
Assessor-Chefe de Comunicação Diretora do Escritório da OIT no Brasil
Daniel Castro Laís Abramo
Oficial de Programas de Promoção da
URL: http://www.ipea.gov.br Igualdade de Gênero e Raça no Mundo do
Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria Trabalho – OIT/Brasil
Solange Sanches
Oficial de Projetos – OIT/Brasil
Marcia Vasconcelos
Assistente Senior – OIT/Brasil
Rafaela Egg
© Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – ipea 2009

Equipe técnica
Luana Pinheiro - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
Marcelo Galiza - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Natália de Oliveira Fontoura - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Hildete Pereira de Melo - Universidade Federal Fluminense
Alberto Di Sabbato - Universidade Federal Fluminense
Solange Sanches - Organização Internacional do Trabalho
Márcia Vasconcelos - Organização Internacional do Trabalho
Roberto Gonzalez - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Proposição de indicadores e tabulações especiais


Ana Sabóia – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Cimar Azeredo – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Impacto da crise sobre as mulheres / Observatório Brasil


da Igualdade de Gênero.- Brasília: Ipea: SPM: OIT,
2009.
70 p.: gráfs., tabs.

Inclui bibliografia.
ISBN 857811032-3

1. Mulheres. 2. Trabalho Feminino. 3. Igualdade de


Gênero. 4. Crise Econômica. 5. Brasil. I. Observatório
Brasil da Igualdade de Gênero. II. Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada. III. Brasil. Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres. IV. Organização Internacional
do Trabalho.

CDD 305.42

As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e de inteira


responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o
ponto de vista das instituições parceiras. É permitida a reprodução
deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são proibidas.
SUMÁRIO

1 Introdução....................................................................................................... 7
2 Sobre o que estamos falando: a crise internacional e seus
impactos no mundo....................................................................................... 9
3 A crise a partir de uma perspectiva de gênero....................................... 13

3.1. Indicadores estruturais do mercado de trabalho feminino ....................................... 13

3.2 O espaço “feminino” da economia brasileira: o setor de serviços.............................. 22


3.2.1 Trabalho doméstico........................................................................................ 38

3.3 Os impactos recentes da crise no mercado de trabalho brasileiro: olhar de gênero ... 41
3.3.1 Os impactos gerais da crise na economia brasileira......................................... 41
3.3.2 Os resultados recentes do mercado de trabalho sob a perspectiva de gênero . 44

4 Considerações Finais................................................................................... 59
5 Referências bibliográficas......................................................................... 61
6 Anexo Estatístico.......................................................................................... 63
INTRODUÇÃO 7

A crise econômica internacional e os (possíveis) impactos sobre a vida


das mulheres1

1 Introdução
Os últimos nove meses vêm sendo marcados, no Brasil e no mundo, por
uma farta e densa discussão sobre a crise econômica e financeira que se abateu
sobre a economia mundial. Ampliaram-se, ao longo dos meses, as matérias pro-
duzidas pela mídia em geral e pelos veículos especializados, bem como os encon-
tros destinados a discutir, com públicos variados, as causas, impactos e (possíveis)
respostas dos governos para enfrentar e debelar a crise que tem tirado o sono e os
empregos de milhões de mulheres e homens em todos os continentes.
A crise entrou decisivamente na agenda nacional e alguns dos temas que
têm merecido espaço neste cenário são aqueles relacionados às consequências pro-
duzidas no mercado de trabalho brasileiro. Tem se conferido especial atenção aos
movimentos das taxas de desemprego, dos níveis de ocupação e da massa salarial,
quase sempre a partir de uma análise que privilegia os impactos diferenciados se-
gundo os setores de atividade econômica e as regiões metropolitanas (ou unidades
da federação, quando possível). As grandes bases de informação que possibilitam
este tipo de acompanhamento conjuntural são a Pesquisa Mensal de Emprego
(PME), o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) e a Pes-
quisa de Emprego e Desemprego (PED), produzidas todos os meses, respectiva-
mente, pelo IBGE, pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diesse)/Fundação Sea-
de2, em parceria com instituições regionais de estatística e pesquisa.
As principais discussões sobre o tema, no entanto, realizadas em veículos da
mídia ou em fóruns especializados, têm ignorado os impactos diferenciados da
crise sobre a oferta e a qualidade do emprego por sexo ou por raça/cor. As análises
produzidas neste contexto consideram, portanto, os trabalhadores como um con-
junto homogêneo, cujos diferentes marcadores identitários em nada interferem
na forma de inserção e participação dos grupos sociais no mercado de trabalho.

1. Este artigo é resultado de um esforço integrado de diversas organizações que integram o grupo de trabalho para
acompanhamento da crise no âmbito do Observatório Brasil da Igualdade de Gênero. Contribuíram para a elaboração
deste estudo os/as técnicos/as do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) - Natália Fontoura, Marcelo Galiza e
Roberto Gonzalez; da Organização Internacional do Trabalho (OIT) - Solange Sanches e Márcia Vasconcelos; do Institu-
to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Ana Sabóia e Cimar Azeredo; da Universidade Federal Fluminense (UFF)
- Hildete Pereira de Melo e Alberto Di Sabbato; e da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) - Luana
Pinheiro. Agradecemos, ainda, a leitura atenciosa e as sugestões de Nina Madsen e Fábia Souza, também da SPM.
2. No âmbito do convênio com MTE/Fundo de Amparo ao Trabalhador.
8 impacto da Crise sobre as mulheres

É exatamente esta perspectiva que se procura enfrentar com o trabalho aqui


desenvolvido e que teve origem na criação do grupo de trabalho para monitora-
mento dos impactos da crise sobre as mulheres no âmbito do Observatório Brasil
da Igualdade de Gênero. O Observatório é uma iniciativa da Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM), em parceria com
outras instituições públicas, organismos internacionais e organizações da sociedade
civil, que pretende dar visibilidade, fortalecer e ampliar as ações do Estado brasileiro
para a promoção da igualdade de gênero e dos direitos das mulheres.
Originalmente, o Observatório se estruturou em torno de quatro grupos de
trabalho: Indicadores, Políticas Públicas, Monitoramento da Mídia e Legislação
e Legislativo. No entanto, com o desenrolar da crise internacional e os impactos
que se fizeram sentir no Brasil, tomou-se a decisão de vincular mais um grupo de
trabalho ao Observatório, neste caso, um grupo ad hoc, que pudesse identificar
e monitorar os impactos diferenciados da crise sobre homens e mulheres. As-
sim, surge o GT da crise, composto por representantes da SPM, que o coordena,
do Ipea, do IBGE e da OIT, além de pesquisadores/as renomados/as na área de
gênero e mercado de trabalho. Neste primeiro momento, o objetivo central do
Observatório é monitorar a participação de homens e mulheres no mercado de
trabalho brasileiro – considerando-se também a perspectiva étnico-racial – de
modo a que se possa identificar resultados diferenciados da crise sobre cada um
dos grupos sociais.
Para contribuir com este debate no cenário nacional, o presente artigo se
estrutura em três seções, além desta breve introdução. A seção seguinte apresenta
um breve panorama sobre a crise internacional, sendo seguida por uma discussão
que aprofunda a relação entre crise e gênero a partir de uma análise que retrata
o contexto sobre o qual a crise se desenvolve – com dados sobre a estrutura do
mercado de trabalho feminino e, mais especialmente, sobre o setor de serviços – e
também os primeiros resultados do acompanhamento conjuntural dos indicado-
res da PME, da PED e do CAGED sob essa ótica. Finalmente, são apresentadas
algumas considerações finais que retomam e reforçam a importância de se analisar
os processos de crise econômica com enfoque de gênero, a partir de uma perspec-
tiva que privilegia o desenvolvimento econômico e social.
CAPÍTULO 2 9

2 Sobre o que estamos falando: a crise internacional


e seus impactos no mundo
A crise atual pode ser considerada como a maior já ocorrida no mundo des-
de 1929, tanto em termos de sua abrangência, quanto da profundidade de seus
impactos. Segundo estudo do Ipea, “o ano de 2009 começa com a previsão de
decréscimo do comércio mundial, o primeiro desde 1982 e possivelmente o mais
profundo desde a Grande Depressão” (Ipea, 2009a).
As origens da crise mundial remontam a um processo de crescente desregu-
lamentação dos sistemas financeiros em nível mundial, que teve como resultado
uma quebra real e de confiança nas instituições bancárias nos países desenvolvi-
dos, tendo produzido “efeitos de contágio sobre as principais praças financeiras
do mundo e demandado ações de política econômica de múltiplos países para
tentar conter os impactos sobre o sistema produtivo” (Ipea, 2009a).
Importante destacar, porém, que esta é uma crise diferente das anteriores,
pois se inicia nos países do centro do capitalismo e somente depois se espraia para
os países pobres e em desenvolvimento. Em sentido inverso, as crises anteriores
iniciaram-se com a quebra de países pobres ou em desenvolvimento, a exem-
plo das vivenciadas primeiramente no México, em 1982 e 1994-95; na Ásia, em
1997-98; e na Rússia, em 1999 (ver quadro 1).

Quadro 1
Cronologia das crises desde 1980
Ano Países

1982 Crise da dívida externa, na América Latina, com início no México.

1990 Bolha especulativa japonesa.

1992-93 Ataques especulativos às moedas no mecanismo de taxas de câmbio europeu.

1994-95 Crise econômica do México de 1994: ataque especulativo e inadimplência do México.

1997-98 Crise financeira asiática: desvalorizações e crise bancária em vários países da Ásia.

1998-99 Crise financeira russa: desvalorização do rublo e inadimplência da Rússia.

2001-02 Crise econômica da Argentina: quebra do sistema bancário.

Fonte: Luc Laeven e Fabian Valencia (2008), ‘Systemic banking crises: a new database’. International Monetary Fund Working
Paper 08/224.
10 impacto da Crise sobre as mulheres

Foi assim que a crise se iniciou no segmento financeiro estado-unidense e


se propagou a partir da falência do banco de investimento Lehman Brothers, no
final de 2008. Crise anunciada, os primeiros sinais de que as instituições bancá-
rias dos países centrais vinham trabalhando em níveis arriscados de endividamen-
to deram-se através do aumento da inadimplência nos chamados subprimes. Em
sentido amplo, subprime é um crédito de risco, concedido a um tomador que não
oferece garantias suficientes para se beneficiar da taxa de juros mais vantajosa. Em
sentido mais restrito, o termo é empregado para designar uma forma de crédito
hipotecário para o setor imobiliário, surgida nos Estados Unidos e destinada a
tomadores de empréstimos que representavam maior risco. Esse crédito imobili-
ário tinha como garantia a residência do tomador e muitas vezes era acoplado à
emissão de cartões de crédito ou a aluguel de carros.3
Desta forma, a crise instaura-se primeiro como uma crise financeira – pro-
vocando uma forte diminuição do crédito porque é uma crise de confiança na
qualidade dos ativos financeiros –, mas rapidamente se transforma em crise do
setor real, produtivo da economia, trazendo fortes impactos – como a quebra de
grandes empresas, além de bancos e financeiras, e enormes prejuízos nos setores
industriais e de importação e exportação no mundo todo.
A crise vem afetando as regiões de forma diferenciada até o momento, sen-
do muito intensa nos países centrais e parte dos asiáticos, como o Japão, e com
intensidade variável naqueles em desenvolvimento, como a China e a Índia, e em
alguns países da América Latina, como o Brasil, a Argentina, o Chile e o México
(ver quadro 2). “A turbulência na economia internacional afeta diferenciadamen-
te os países com menor grau de desenvolvimento, mas atinge de forma mais dura
aqueles com maior dependência da demanda internacional, sobretudo os de viés
primário-exportador. Mas, de um modo geral, o impacto imediato foi a redução
da liquidez internacional, com a consequente escassez e encarecimento das linhas
de crédito. Isto ocorreu porque os investidores internacionais tornaram-se mais
avessos ao risco e buscaram ativos de maior liquidez e menor risco. Os efeitos da
crise para os países em desenvolvimento no médio e longo prazo dependem da
duração e intensidade dos efeitos da crise financeira dos EUA” (Ipea, 2009a).

3. Wikipédia, acesso em 26/06/2009.


CAPÍTULO 2 11

Quadro 2
Situação das economias dos países: estimativas em dezembro de 2008.

Países em recessão oficial (dois trimestres consecutivos)


Países em recessão não-oficial (um trimestres)
Países com desaceleração econômica de mais de 1.0%
Países com desaceleração econômica de mais de 0.5%
Países com desaceleração econômica de mais de 0.1%
Países com aceleração econômica
(Entre 2007 e 2008, como estimativas de Dezembro de 2008 pelo Fundo Monetário Internacional
N/A

Fonte: Fundo Monetário Internacional.

No caso brasileiro, os impactos da crise são diferentes daqueles vivenciados


em momentos passados, uma vez que a situação econômica e social do país é hoje
também bastante diversa daquela encontrada em contextos de crises anteriores: a
economia brasileira apresenta baixa inflação, há um montante elevado de reser-
vas, não há dívida externa significativa (ao contrário, o país é credor em dólares) e
a dívida interna está em níveis controlados. No Brasil, o déficit público encontra-
se em cerca de 3% do PIB, enquanto nos EUA já atinge 12%.
A crise chegou ao Brasil nos últimos meses de 2008 e atingiu os setores
econômicos em diferentes tempos e intensidades. As contas externas brasileiras
foram afetadas, mas o ano de 2008 não fechou sua contabilidade macroeconômi-
ca com saldo negativo no balanço de transações correntes, já que a crise foi restrita
aos últimos três meses do ano e isto, provavelmente, possibilitou um resultado
ainda positivo. Apesar de apresentar retração, o PIB brasileiro vem diminuindo
menos do que nos países centrais e os indicadores de saúde financeira do país são
bons. O risco país vem apresentando queda e, após um período de alta, o dólar
vem diminuindo seu valor frente ao real depois do 1º trimestre de 2009.
12 impacto da Crise sobre as mulheres

No entanto, o país sofre os efeitos da crise mundial e, dentre os setores


mais afetados, também aqui estão os setores exportadores e os industriais, com
impactos importantes no emprego. De fato, a crise vem interromper uma traje-
tória positiva dos indicadores de mercado de trabalho no Brasil, com o retorno
do crescimento das taxas de desemprego e a desaceleração do crescimento da
ocupação e da geração de postos de trabalho formais, tal como se poderá observar
nas seções seguintes.
De maneira geral, os governos optaram por responder à crise – inicialmente
– a partir de ações mais vigorosas no âmbito fiscal e creditício. Os bancos centrais
têm atuado para, num primeiro momento, reverter as perdas envolvendo operações
subprime e, posteriormente, para restabelecer a confiança no sistema financeiro. No
caso brasileiro, as medidas preconizadas levam em conta uma situação macroeco-
nômica mais sólida e perspectivas mais concretas de inclusão social. Diante disso,
destacam-se as seguintes medidas: i) redução do superávit primário, em 2009, de
4,3% para 3,8%; ii)·injeção de dólares pelo Banco Central; iii) atuação dos bancos
estatais para comprar ações de bancos em crise; iv) incentivo às exportações; iv)
antecipação do desembolso para agricultura de R$ 5 bilhões; v) financiamento da
construção civil de R$ 3 bilhões (linha de capital de giro); vi) crédito do Banco do
Brasil de R$ 4 bilhões para o setor automobilístico; vii) política fiscal cujo eixo é a
manutenção dos investimentos (PAC e Pré-sal), dos programas sociais e da conten-
ção do crescimento de gasto de custeio. (Ipea, 2009a).
Não é possível, ainda, avaliar os impactos desta crise nas economias e na
sociedade de forma geral. É importante, porém, que as políticas econômicas e
sociais sejam manejadas conjuntamente de modo a evitar um cenário ainda mais
desfavorável em termos de indicadores macroeconômicos e sociais. Estas políticas
de caráter geral devem considerar ainda estratégias de enfrentamento da crise que
sejam exclusivas para os diferentes grupos da população, uma vez que cada um
deles tem sido afetado de forma distinta por este contexto econômico. É isso que
as próximas seções evidenciam a partir de indicadores desagregados para os que-
sitos de sexo e cor/raça dos/as trabalhadores/as.
CAPÍTULO 3 13

3 A crise a partir de uma perspectiva de gênero


Desde que os primeiros efeitos da crise se fizeram sentir no país, os fóruns
de discussão e diálogo dos movimentos feministas e de mulheres, em especial,
passaram a questionar sobre a existência de (possíveis) impactos da crise na vida
das mulheres ou de impactos diferenciados segundo o sexo do/a trabalhador/a.
Até o momento, porém, nenhum estudo havia se debruçado sobre estas questões,
sistematizando as informações e, a partir dos indicadores disponíveis, eviden-
ciando as consequências diferenciadas da crise para homens e para mulheres. Há
aqueles/as que argumentam que a crise pode prejudicar mais intensamente a po-
pulação feminina em razão de sua inserção mais precária no mercado de trabalho.
No entanto, à luz dos dados disponíveis, outros argumentos mostram que, neste
momento inicial, a crise tem impactado mais os homens, por estar concentrada
no setor industrial, majoritariamente ocupado pela população masculina. Ainda
assim, há uma percepção de que a crise, em função dos encadeamentos da cor-
rente produtiva, pode alcançar os setores do comércio e serviços, bem como o do
emprego doméstico e, nesse caso, seus efeitos se farão sentir de forma mais intensa
sobre as mulheres. Analisar estes cenários com base nos indicadores disponíveis é,
portanto, o objetivo deste artigo.
Uma vez que mulheres e homens – assim como brancos e negros – não ocu-
pam os mesmos postos e espaços no mercado de trabalho, e estando as mulheres
e os negros mais concentrados em ocupações de pior qualidade (com menor ní-
vel de proteção social e piores remunerações), faz-se fundamental que os órgãos
governamentais tenham conhecimento de quais são os grupos mais fortemente
atingidos – em termos de participação no universo laboral – em cada momento
da crise econômica e internacional. Busca-se, assim, oferecer subsídios impor-
tantes para a identificação e proposição de alternativas de ação governamental de
natureza anticíclica, mas que estejam adequadas à realidade vivenciada no campo
do trabalho por cada grupo social.

3.1 Indicadores estruturais do mercado de trabalho feminino


Os efeitos da crise internacional no mercado de trabalho feminino e mas-
culino dependem fundamentalmente da forma como homens e mulheres parti-
cipam deste espaço. Fatores como a disponibilidade para entrada no mercado, as
probabilidades de conquista de uma ocupação, a qualidade do posto de trabalho
ocupado, os setores e posições alcançados determinam a intensidade maior ou
menor das consequências sentidas pelo/a trabalhador/a em um contexto de crise,
como a vivenciada desde finais de 2008 em todo o mundo. É por isso, então, que
esta seção traz um panorama da estrutura do mercado de trabalho de homens e
14 impacto da Crise sobre as mulheres

mulheres – sempre considerando-se também a perspectiva racial, já que não há


homogeneidade entre os grupos – como uma contextualização necessária para o
entendimento dos efeitos do cenário econômico internacional.
Inicialmente, é preciso considerar que “o campo de atuação profissional é de
fundamental importância para a autonomia dos indivíduos, para a construção de
identidade, para o reconhecimento social, para o acesso a bens de consumo, entre
outras dimensões, tanto materiais quanto simbólicas, cada vez mais importantes
nas sociedades do século XXI” (Pinheiro et al., 2008). É neste espaço, também,
que os processos de discriminação e desigualdade se tornam ainda mais evidentes,
produzindo consequências claras e perceptíveis pela análise dos indicadores pro-
duzidos anualmente pelo IBGE. Além das desigualdades sociais, as desigualdades
étnico-raciais e de gênero se somam, contribuindo para a construção de uma hie-
rarquia que se repete em praticamente todos os indicadores analisados: homens
e brancos estão, em geral, em melhores condições de inserção no mercado de
trabalho do que mulheres e negros.
Outro dado importante a ser considerado nesta análise é o que informa sobre
a maior e melhor inserção das mulheres no espaço educacional. De fato, ao longo
do século XX, o acesso à escola foi sendo ampliado para os diferentes grupos popu-
lacionais antes excluídos do processo educacional formal no país. Com isto, as mu-
lheres passaram a ter a oportunidade de estudar, o que hoje em dia se reflete em sua
vantagem na maior parte dos indicadores educacionais. Tal vantagem, no entanto,
ainda não se reflete no mercado de trabalho. Se muito já se avançou na inserção da
população feminina nesse espaço potencialmente produtor de autonomia econômi-
ca e social, muito há, ainda, que caminhar no que se refere à garantia de condições
igualitárias de entrada, permanência e ascensão profissional no mercado, bem como
de remuneração pelas atividades ali desenvolvidas.
Os últimos quinze anos têm presenciado um fenômeno que poderia ser cha-
mado de feminização do mercado de trabalho: desde o início da década de 1990
é possível verificar um aumento significativo na participação das mulheres nesta
esfera. De fato, nestes últimos anos este mercado foi bastante afetado pela revolu-
ção feminista, que desmistificou o quadro nefasto criado pelos papéis masculino e
feminino que relegava às mulheres a situação sagrada de mães, donas-de-casa e/ou
trabalhadoras secundárias, produzindo mudanças nos valores relativos aos papéis
e espaços destinados às mulheres (Abramo, 2007). Além deste, outros importan-
tes fatores se somaram para impulsionar o ingresso das mulheres no mercado de
trabalho, dentre os quais se destacam a queda nas taxas de fecundidade – especial-
mente a partir do advento da pílula anticoncepcional – e o aumento nas taxas de
escolaridade feminina.
CAPÍTULO 3 15

Assim, enquanto em 1996, 52,2% das mulheres de 16 anos ou mais se


encontravam ativas, ou seja, empregadas ou à procura de emprego, este valor
alcançou 58,6% em 2007, um importante acréscimo, quando se pensa que a taxa
de atividade masculina apresentou tendência de queda no mesmo período. No
entanto, é importante considerar que o nível de atividade das mulheres, embora
tenha aumentado, ainda é bastante inferior àquele verificado para os homens:
81,6%, em 2007 (ver tabela 1).

Tabela 1
Taxa de atividade da população de 16 anos ou mais, por sexo. Brasil, 1996 e 2007.

Ano Feminino Masculino Total


1996 52,2% 83,3% 67,1%

2007 58,6% 81,6% 69,6%

Fonte: Pinheiro et al., 2008, com base nos microdados da PNAD/IBGE.

Dois importantes fatores contribuem para esta disparidade. O primeiro de-


les refere-se à não contabilização do trabalho doméstico realizado de forma não
remunerada, ou seja, do trabalho das donas-de-casa. Ainda que trabalhem de
forma exaustiva e continuada, contribuindo decisivamente para a reprodução da
vida social e gerando riqueza para a economia nacional, estas mulheres são ainda
hoje consideradas inativas perante as estatísticas oficias do país. Se contabilizadas,
certamente estas distâncias nas taxas de atividade seriam reduzidas.
O segundo fator importante refere-se à persistente divisão sexual dos tra-
balhos, que faz com que mulheres tenham uma sobrecarga com as obrigações
relativas ao trabalho doméstico, de cuidado com a casa e com os filhos, dificul-
tando assim sua inserção no mercado de trabalho. Os dados do IBGE apontam
que enquanto 90% das mulheres ocupadas dedicavam-se, em 2007, aos afazeres
domésticos, uma parcela bastante inferior dos homens (50,7%) encontrava-se na
mesma situação, o que aponta para uma inegável dupla jornada para a população
feminina4. A intensidade com que se dedicam a esses afazeres também é dife-
renciada: as mulheres gastam em torno de 27 horas semanais cuidando de suas
casas e de seus familiares, enquanto os homens que executam estas tarefas gastam
pouco mais de 10 horas por semana.
Além das dificuldades para entrar no mercado de trabalho, esta sobrecarga
também determina o tipo de atividade passível de ser realizado por estas mulhe-

4. Vale salientar que, ainda que modesto, é possível observar um movimento na direção de uma maior igualdade entre
homens e mulheres no compartilhamento das tarefas domésticas. Isso porque entre 1996 e 2007 houve um cresci-
mento de 6 pontos percentuais na proporção de homens que declararam realizar afazeres domésticos e uma redução
de quase 3 pontos na proporção de mulheres na mesma situação.
16 impacto da Crise sobre as mulheres

res, levando a que, em muitos casos, elas encontrem como alternativa o emprego
em jornadas de trabalho menores e que também remuneram menos. Assim, em
2007, enquanto apenas 18,6% dos homens trabalhavam habitualmente menos
de 40 horas semanais, esse percentual atinge significativos 41% quando se fala de
trabalhadoras do sexo feminino.
Se a disponibilidade das mulheres para participar no mercado de trabalho
é significativamente menor que a dos homens, é importante perceber que a de-
cisão de ingressar no mercado não é concretizada na mesma intensidade para
os trabalhadores dos dois sexos. O Gráfico 1 permite visualizar claramente esta
situação: enquanto a taxa de desemprego masculina foi de 5,1%, em 2007, a
feminina atingiu 9,8%, o que representa um contingente de quase 1,3 milhão
de mulheres desempregadas a mais em comparação aos homens. Há um movi-
mento de redução nas taxas de desemprego entre os anos de 2004 e 2007, mas
que mantém inalteradas as desigualdades existentes. Assim, mesmo após a queda,
os homens brancos apresentavam uma taxa de desemprego de 5,3%, enquanto
mulheres negras chegavam a 12,2%, em 2007. Se de um lado, as mulheres negras
são excluídas de um conjunto de empregos por serem mulheres, de outro são
também excluídas de muitos outros empregos considerados femininos, como o
atendimento ao público, por serem negras.

Gráfico 1
Taxa de desemprego das pessoas de 16 anos ou mais de idade, por sexo e cor/raça.
Brasil, 2004 e 2007.

5,3% 6,4% 9,2% 12,2%

2007
6,0% 7,4% 10,1% 13,2% 2004

Homens Brancos Homens Negros Mulheres Brancas Mulheres Negras

Fonte: Pinheiro et al., 2008, com base nos microdados da PNAD/IBGE.


CAPÍTULO 3 17

Uma vez que consigam colocar-se no mercado de trabalho, as mulheres con-


centram-se em espaços bastante diferentes daqueles ocupados pelos trabalhadores
do sexo masculino, tanto em termos de setores de atividade econômica, quanto
em termos de ocupações conquistadas. Neste processo, os lugares ocupados pelas
populações feminina e negra tendem a ser mais precários do que aqueles ocupados
pela masculina e branca, e com menor – ou nenhum – nível de proteção social.
No que diz respeito aos lugares ocupados por mulheres e homens no merca-
do de trabalho, a tabela 2 apresenta a distribuição da população segundo posição
na ocupação para os anos de 1996 e 2007. A análise das informações mostra
que existe uma segmentação ocupacional entre homens e mulheres que não se
modifica ao longo do tempo. Assim, as mulheres concentram-se naqueles postos
comumente chamados de informais e que asseguram pouco ou nenhum nível de
proteção social: 43% da população feminina empregada está ocupada em postos
sem carteira de trabalho assinada, como trabalhadoras domésticas (onde mais de
70% não possuem carteira assinada) ou como trabalhadoras sem remuneração (na
tabela identificada na categoria “outros”). Nestas mesmas posições encontram-se
apenas 26,3% dos homens ocupados, indicando uma inserção no mercado de tra-
balho de mais qualidade e segurança para eles do que para elas. Entre as mulheres
também há profundas desigualdades: entre as mulheres brancas, 36,5% estavam,
em 2007, empregadas em ocupações aqui definidas como informais, enquanto
esta proporção salta para impressionantes 50,6% quando se trata de analisar as
mulheres negras.
Finalmente, esta inserção mais precária para a população feminina não é
um fenômeno passageiro ou conjuntural. Tal como mostra a tabela 2, a distri-
buição dos/as trabalhadores/as pelas diferentes categorias de ocupação se manteve
praticamente inalterada nos últimos 12 anos, indicando que a desigualdade ou
a segmentação ocupacional fundada em gênero e também em raça estrutura o
mercado de trabalho e dá as bases, portanto, para que este se organize sobre uma
estrutura desigual, hierárquica e discriminatória.
18 impacto da Crise sobre as mulheres

Tabela 2
Distribuição da população ocupada de 16 anos ou mais, segundo sexo, por posição
na ocupação. Brasil, 1996 e 2007.
Masculino Feminino
Posição na Ocupação
1996 2007 1996 2007

Funcionário público e militar 5,4 5,3 9,7 9,4

Com carteira 33,8 38,1 25,0 28,7

Sem carteira 20,7 19,8 11,5 13,4

Conta própria 27,8 25,3 16,5 16,4

Empregador 5,0 4,9 2,1 2,4

Empregado doméstico 0,8 0,8 17,1 16,3

Outros* 6,5 5,7 18,1 13,3

Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: Pinheiro et al., 2008, com base nos microdados da PNAD/IBGE.

Nota: * Englobam os/as trabalhadores/as ocupados/as sem remuneração e aqueles/as empregados/as na produção para auto-
consumo e na construção para o próprio uso, portanto, também sem remuneração.

Outro importante aspecto a ser considerado, especialmente no contexto da


crise internacional hoje em curso refere-se à distribuição dos/as trabalhadores/
as pelos diferentes setores da economia. Uma rápida análise da tabela 3 que se-
gue permite identificar uma distribuição extremamente desigual entre homens
e mulheres nos setores de serviços sociais e domésticos e no de construção civil.
No caso desta última, o perfil do setor é predominantemente masculino, con-
centrando 11% dos homens ocupados e somente 0,5% das mulheres. Atividade
tradicionalmente desempenhada por homens, o setor de construção civil apenas
muito recentemente tem se aberto para a participação feminina que hoje repre-
senta apenas 3% do total de trabalhadores em ocupações desta área.
No outro extremo, encontram-se as atividades realizadas no setor de serviços.
Considerando apenas a categoria de serviços sociais e domésticos – diretamente
relacionados aos estereótipos sobre capacidades e habilidades femininas e à divisão
sexual do trabalho –, tem-se que mais de um terço das mulheres ocupadas encon-
tra-se neste setor, enquanto somente 4,5% dos homens está na mesma condição5.
Somando-se a estes percentuais a participação de trabalhadores e trabalhadoras nos
setores de serviços auxiliares e outras atividades (cuja maioria também é formada
por atividades de prestação de serviços), chega-se a mais de 52% das mulheres ocu-
padas em atividades neste setor, proporção que alcança reduzidos 26% dos homens.
Pela importância que tem para as mulheres, o setor de serviços foi alvo de investiga-
ção especial, cujos resultados encontram-se no item 3.1.2 deste texto.

5. Do total de ocupados/as neste setor, quase 85% eram mulheres, em 2007.


CAPÍTULO 3 19

Tabela 3
Distribuição da população ocupada de 16 anos ou mais, segundo sexo, por setor de
atividade econômica. Brasil, 2007. (em %)
Setor de Atividade Masculino Feminino

Administração Pública 5,5 4,6

Agrícola 20,4 13,4

Comércio 19,0 16,5

Serviços sociais e domésticos* 4,5 33,6

Construção Civil 11,5 0,5

Indústria 17,4 12,7

Serviços auxiliares** 10,4 6,1

Outras atividades*** 11,3 12,6

Total 100,0 100,0

Fonte: Pinheiro et al., 2008, com base nos microdados da PNAD/IBGE.


Notas: * Engloba os serviços de educação, saúde, serviços sociais e domésticos.
** Engloba os serviços de alojamento, alimentação e transporte.
*** Engloba as atividades de armazenagem e comunicação, outros serviços coletivos, sociais e pessoais e outras atividades.

É importante destacar, ainda, a participação feminina no setor industrial,


espaço relativamente mais importante para homens do que para mulheres: cerca
de 17% e 12% deles, respectivamente, encontravam-se ocupados em atividades
neste campo. Ao se observar a distribuição dos trabalhadores do setor por sexo,
no entanto, fica mais evidente o perfil majoritariamente masculino das ocupa-
ções industriais. Com efeito, em 2007, 65% dos empregados deste setor eram
homens, contra 35% de mulheres que encontram-se em áreas específicas da in-
dústria, como a têxtil e a de calçados, reforçando uma segregação verificada no
contexto geral, mas que se repete dentro de um mesmo setor.
Estas diferenças na forma de inserção no mercado de trabalho, aliadas à
existência de mecanismos discriminatórios e preconceitos baseados em estereó-
tipos, tais como o de incapacidade feminina para a liderança ou de inabilidade
para desenvolvimento de certas tarefas, fazem com que a remuneração mensal
de mulheres e, mais especialmente de mulheres negras, seja inferior à verificada
para homens (brancos). Os lugares ocupados por mulheres, tal como apresen-
tado anteriormente, não são somente aqueles com maior precariedade e menor
vínculo empregatício, mas são também aqueles de menor prestígio e valoração
social, o que impacta decisivamente na média salarial alcançada por cada grupo.
É assim, por exemplo, quando se observam as professoras e os executivos de ins-
tituições financeiras ou as assistentes sociais e os analistas de sistemas. A despeito
da importância que cada uma destas categorias tem para a formação dos indivíduos
20 impacto da Crise sobre as mulheres

e para a economia nacional, o status de que dispõe na sociedade – cujo valor pode
ser aproximado pela remuneração conferida aos trabalhadores – é bastante desigual.
O resultado deste conjunto de fatores é que, em 2007, as mulheres ocupa-
das ganhavam, em média, 65% do rendimento auferido pela população mascu-
lina e os negros somente cerca de metade do salário dos brancos, tal como dis-
posto na tabela 4 a seguir6. Os dados evidenciam a dupla descriminação sofrida
pelas mulheres negras no mercado de trabalho. Enquanto as mulheres brancas
ganham, em média, 62% do que ganham homens brancos, as mulheres negras
ganham 67% dos homens do mesmo grupo racial e apenas 34% do rendimento
médio de homens brancos.

Tabela 4
Rendimento médio mensal da ocupação principal, por sexo e raça/cor. Brasil, 1996
e 2007.
1996 2007

Homens 1.009,1 961,2

Mulheres 589,4 630,3

Brancos 1.095,1 1.065,6

Negros 506,9 563,0

Homens Brancos 1.326,1 1.278,3

Homens Negros 599,0 649,0

Mulheres Brancas 753,3 797,1

Mulheres Negras 357,9 436,5

Fonte: Pinheiro et al., 2008, com base nos microdados da PNAD/IBGE.

Apesar das persistentes desigualdades verificadas, é importante notar que os


diferenciais de remuneração entre os grupos aqui analisados vêm caindo ao longo dos
anos. De fato, somente entre 1996 e 2007, as desigualdades de renda entre brancos e
negros e entre homens e mulheres se reduziram em cerca de 13% e 10%, respectiva-
mente. Ao longo deste período, há uma queda no rendimento médio da população
brasileira, cuja recuperação, iniciada em 2004, já foi suficiente para tornar os salários
femininos maiores do que os de 1996, mas não permitiu o mesmo para os homens,
que ainda não conseguiram alcançar o mesmo patamar do início da série.

6. Estes dados não controlam as diferenças de escolaridade, região, ocupação, jornada de trabalho ou qualquer outra
variável que não o sexo e a raça/cor dos/as trabalhadores/as. Sabe-se que as diferenças salariais entre os grupos se
reduzem quanto mais se controlam estes atributos. No entanto, para os efeitos deste trabalho, os dados da forma como
aqui apresentados são relevantes e suficientes para evidenciar as desigualdades existentes, ainda que não se possa
dizer quanto se deve à discriminação na esfera do mercado de trabalho e quanto aos outros atributos (que também
podem guardar processos discriminatórios).
CAPÍTULO 3 21

Como último ponto a ser ressaltado nesta seção, destaque-se a dificuldade


que as mulheres têm para alcançar postos de poder e decisão nos espaços onde se
encontrem ocupadas. Esta é uma realidade imposta tanto para trabalhadoras do
setor privado, quanto para aquelas do setor público. As dificuldades de ascensão,
que produzem o chamado “teto de vidro”, fundamentam-se, em grande parte das
vezes, em visões estereotipadas e preconceituosas a respeito da disponibilidade e
do interesse dessa população para ocupar cargos na alta hierarquia. Assim, é re-
corrente o entendimento de que mulheres não traçam como objetivo na carreira
a ocupação de postos importantes e que não poderiam ocupar estes espaços, em
função das suas tarefas como “cuidadora”, ou seja, por terem que se ausentar para
cuidar dos filhos ou pela impossibilidade de realizar viagens a trabalho em função
dos compromissos domésticos. Além de ter um forte viés discriminador, o “teto
de vidro” é também um fator determinante para que os salários médios de ho-
mens e mulheres permaneçam distantes.
O gráfico 2 traz uma aproximação da distribuição das mulheres pelos cargos
de direção a partir da análise da presença da população feminina nas diferentes
faixas de rendimento. As classes de trabalho com maior rendimento são uma boa
aproximação dos cargos superiores, pois quanto mais elevada a hierarquia do car-
go, maior o salário. Assim, as trabalhadoras são maioria entre as ocupações que
não remuneram pelas atividades desenvolvidas (quase 60%), mas ficam cada vez
menos presentes à medida que se sobe na escala salarial: entre os trabalhadores
com renda mensal de mais de 20 salários mínimos, somente 20% eram mulheres.

Gráfico 2
Distribuição da população ocupada, por faixas de rendimento mensal*, segundo o
sexo. Brasil, 2006.
Mais de 20 79,94% 20,06%
salários mínimos
Mais de 10 a 20 72,75% 27,25%
salários mínimos.
Mais de 5 a 10 67,93% 32,07%
salários mínimos
Mais de 3 a 5 67,33% 32,67%
salários mínimos
Mais de 2 a 3 69,10% 30,90%
salários mínimos
Mais de 1 a 2 60,51% 39,49%
salários mínimos

Até 1 salário mínimo 50,30% 49,70%

Sem rendimento 40,33% 59,67%


Homem Mulher

Fonte: PNAD/IBGE, Apud. Melo e Oliveira, 2008.


Nota: * Refere-se ao rendimento de todos os trabalhos.
22 impacto da Crise sobre as mulheres

Da aridez dos números ao colorido dos gráficos, é possível perceber que o


país encontra-se em uma trajetória de diminuição das desigualdades, ainda que
não no ritmo desejado. No entanto, não se pode deixar que os avanços ofusquem
os desafios ainda existentes. As desigualdades de gênero e raça no mercado de
trabalho são ainda muitas e intensas e pela sua característica estrutural, difíceis
de serem rompidas. Qualquer variável que se utilize para elucidar aspectos desta
questão mostra que as desigualdades entre os sexos se apresentam com razoável
regularidade estatística. De maneira geral, se manifestam duas formas básicas de
desigualdades de gênero, fortemente determinadas por manifestações de discri-
minação: desigualdade hierárquica, que se refere às mulheres sub-representadas
nos cargos superiores, a despeito de sua participação massiva na atividade; e desi-
gualdade territorial, que trata do fato de que as atividades econômicas se revelam
como se possuíssem sexo, as mulheres estão mais presentes em algumas atividades
e excluídas de outras, seguindo sua cultura de gênero (Pérez Sedeño, 2001).
Para qualquer estudo que se faça sobre mercado de trabalho feminino - e mais
ainda para um estudo que procura lançar idéias sobre os impactos da crise sobre
este trabalho -, faz-se fundamental analisar dois aspectos centrais: i) a segregação
setorial, explicitada pela presença maciça de trabalhadoras no setor de serviços
e a participação limitada em outras áreas; e ii) a grande concentração no serviço
doméstico remunerado, principal ocupação feminina e que se configura como um
trabalho precário e de baixa qualidade. Nesse sentido, as seções seguintes tratam
de discutir brevemente estes dois espaços privilegiados de atuação profissional das
mulheres, nos quais se imagina que os impactos de um eventual aprofundamento
da crise possam se fazer sentir com mais intensidade para as mulheres.

3.2 O espaço “feminino” da economia brasileira: o setor de serviços


Tal como apresentado anteriormente, o setor de serviços é especialmente
importante para o conjunto de mulheres ocupadas no mercado de trabalho. Nes-
se sentido, esta seção traz uma análise sobre este setor e suas diferentes atividades,
por meio das variáveis sexo, raça/cor, idade, escolaridade, posição na ocupação
e rendimentos. Em um quadro de crise, conhecer as características da evolução
do setor de serviços é, na verdade, a base sobre a qual se constrói a pauta a ser
enfrentada para qualquer intervenção do Estado, valendo-se de políticas públicas
que estimulem a manutenção e criação de postos de trabalho.
As últimas décadas foram marcadas por transformações no mercado de tra-
balho provocadas tanto pela intensificação do processo de urbanização e cres-
cimento da população ocupada em atividades não agrícolas, sobretudo nas ati-
CAPÍTULO 3 23

vidades de serviços, quanto pelas mudanças na participação feminina7. Neste pro-


cesso, cabe destacar a grande participação que as atividades terciárias passaram
a ter na economia brasileira. O crescimento nestas atividades foi acentuado nos
últimos 26 anos: enquanto em 1985 o setor de serviços respondia por 49,3%,
em 1995 elevou-se para 54,5% e, em 2007, atingiu 61% dos/as trabalhadores/as
ocupados/as (Melo et alli, 1998).
Este aumento da participação do setor de serviços no emprego não é uma
característica apenas da sociedade brasileira, mas um fenômeno mundial. Em
todas as economias, o crescimento do emprego nos serviços foi extraordinário,
seja pela retração do setor agropecuário, seja pela retração do setor industrial (Gu-
tierrez, 1993, p. 86). No caso brasileiro, os processos de industrialização e urbani-
zação observados após a II Grande Guerra (1945) provocaram um acréscimo da
força de trabalho nestas atividades, principalmente naquelas que exigem menor
qualificação – caracterizando os serviços como importante absorvedor de mão de
obra urbana pouco qualificada.
A literatura explica este comportamento tanto pelo incremento das ativida-
des de distribuição de mercadorias e serviços financeiros, responsáveis pelos servi-
ços modernos, como pelo desenvolvimento das tecnologias industrial e agropecu-
ária, caracterizadas pela baixa absorção da mão de obra. Desta forma, a população
“expulsa” pelas novas atividades encontra ocupação nas cidades, na construção
civil e nos serviços. De fato, a absorção dos migrantes de baixa qualificação que
buscaram a cidade, deu-se, primordialmente, nas atividades tradicionais do co-
mércio e da prestação de serviços pessoais (Melo et alli, 1998).
Outra questão importante sobre estas atividades relaciona-se ao papel an-
ticíclico dos serviços. Este é um comportamento mundialmente observado nas
economias desenvolvidas e subdesenvolvidas. Nota-se que há certa estabilidade
do emprego no setor de serviços com relação às oscilações da conjuntura eco-
nômica, o que, em parte, se deve aos empregos na administração pública, cuja
oferta depende mais das injunções políticas que das econômicas, e, em parte, à
própria configuração do mercado de produto das demais atividades de serviços.
Em suma, o setor de serviços constitui-se em uma espécie de colchão amortecedor
do ciclo econômico, pois muitas de suas atividades servem de refúgio aos desem-
pregados, sejam oriundos da crise econômica ou da reestruturação produtiva.
Em relação especificamente às mulheres, importante destacar a importân-
cia que tais atividades têm para o emprego feminino, especialmente quando se
compara à população masculina. A tabela 5 evidencia as diferenças na proporção
de homens e mulheres em ocupações do setor de serviços: enquanto 75,1% das

7. As atividades predominantemente urbanas alcançaram mais de 2/3 da mão de obra nacional, não havendo diferen-
ças significativas na distribuição por sexo da população ocupada (mulheres 81,6% e homens 78,%).
24 impacto da Crise sobre as mulheres

mulheres encontram-se ocupadas em atividades neste setor, entre os homens este


percentual é de 50,9%. Ou seja, é claro que também para os homens estas ativi-
dades são importantes, mas a relevância para as trabalhadoras é significativamente
maior, o que indica que, em contextos econômicos nos quais o setor de serviços
seja negativamente afetado, serão as mulheres certamente as mais prejudicadas,
seja na perda de postos de trabalho, seja na queda da remuneração.

Tabela 5
População ocupada de 10 anos ou mais de idade, por setor econômico, segundo o
sexo. Brasil, 2007
Setores Número absoluto Distribuição por sexo Distribuição por setores
Homem Mulher Total Homem Mulher Total Homem Mulher Total
Agropecuária 10.742.333 5.247.884 15.990.217 67,2 32,8 100,0 20,5 13,7 17,6
Extr. Mineral 342.933 35.569 378.502 90,6 9,4 100,0 0,7 0,1 0,4
Ind. de Transformação 8.259.105 3.993.117 12.252.222 67,4 32,6 100,0 15,8 10,4 13,5
Constr. Civil 5.920.875 186.151 6.107.026 97,0 3,0 100,0 11,3 0,5 6,7
SIUP* 279.015 61.443 340.458 82,0 18,0 100,0 0,5 0,2 0,4
Serviços 26.818.938 28.898.656 55.717.594 48,1 51,9 100,0 51,2 75,2 61,4
Total 52.363.199 38.422.820 90.786.019 57,7 42,3 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.
Nota: * Refere-se aos serviços industriais de utilidade pública, a saber: produção e distribuição de energia e abastecimento
de água.

Considerando o universo total de trabalhadores nos serviços, verifica-se que


há uma predominância de mulheres, que representam quase 52% do total, taxa que
é praticamente a mesma da verificada no perfil demográfico da população nacional.
Este destaque dos serviços na estrutura laboral feminina deve-se, entre outros fato-
res, à facilidade da entrada das mulheres nessas atividades, em virtude da flexibilida-
de e informalidade que tais atividades apresentam na economia. Com exceção dos
serviços, não há um só dos grandes setores econômicos em que as mulheres repre-
sentem pelo menos metade da ocupação; na agropecuária e na indústria de trans-
formação chegam perto, mas permanecem ainda inferiores a 50% (ver tabela 5).
Já quando se observa a estrutura econômica segundo um recorte de raça/cor,
tem-se que, grosso modo, o mercado de trabalho apresenta a mesma repartição
racial da demografia nacional: brancos e negros são mais de 90% da população
brasileira e também dos/as ocupados/as nacionais. No entanto, este desenho não
pode esconder a desigualdade existente, pois é possível perceber que aqueles se-
tores que se caracterizam por relações de emprego mais precárias em termos de
rendimentos, escolaridade e posição na ocupação são também aqueles em que há
uma maior predominância de negros, tais como, agropecuária, construção civil e
extração mineral (ver gráfico 3).
CAPÍTULO 3 25

Gráfico 3
Distribuição da população ocupada de 10 anos ou mais de idade, por setor econô-
mico, segundo sexo e cor/raça. Brasil, 2007.
100%

90%
80%

70%

60% Outras
50% Parda
Preta
40% Branca
30%

20%

10%

0%
Mulher

Mulher

Mulher

Mulher

Mulher

Mulher
Homem

Homem

Homem

Homem

Homem

Homem
Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.
Nota: * Refere-se aos serviços industriais de utilidade pública, a saber: produção e distribuição de energia e abastecimento
de água.

A estrutura do setor de serviços por subsetores


Feita esta breve contextualização da importância do setor de serviços para as
mulheres no contexto econômico nacional, importante iniciar uma análise que
nos permita conhecer mais profundamente este setor e, assim, ter informações
importantes para o debate a respeito da crise internacional e seus possíveis im-
pactos futuros sobre homens e mulheres. Assim, destaque-se que a heterogenei-
dade marca o setor de serviços, e esta talvez seja uma das razões para o relativo
“esquecimento” destas atividades na agenda dos pesquisadores socioeconômicos.
Evidencia-se uma enorme dificuldade para analisar atividades tão díspares, como
aquelas ligadas à produção (tais como, serviços financeiros, de informática, de
engenharia, de propaganda e publicidade); aos serviços distributivos (como trans-
porte, comércio e comunicação); e aos serviços pessoais (que atendem à demanda
individual, como os serviços sociais, que englobam serviços de saúde e ensino, e
os serviços comunitários).
A tabela 6 apresenta os treze subsetores que compõem o setor de serviços,
agregados em seis grandes subcategorias: 1) comércio; 2) transportes; 3) comuni-
cações; 4) instituições financeiras; 5) administração pública; e 6) outros serviços,
que englobam serviços técnico-profissionais prestados às empresas, sociais, de
reparação e conservação, de hospedagem e alimentação, doméstico remunera-
do, pessoais e distributivos. Como é possível observar, este amplo conjunto de
26 impacto da Crise sobre as mulheres

atividades contem, ao mesmo tempo, segmentos estruturados social e tecnologi-


camente que convivem com outros atrasados do ponto de vista tecnológico e que
expressam relações sociais arcaicas.

Tabela 6
População ocupada de 10 anos ou mais de idade, por subsetores de serviços, segun-
do sexo. Brasil, 2007.
% H/M % s/ total
Subsetores de Serviços Homem Mulher Total
Homem Mulher Homem Mulher Total

Comércio 7.986.426 6.235.310 14.221.736 56,2 43,8 30 21,6 25,6

Transportes 3.001.461 253.214 3.254.675 92,2 7,8 11,3 0,9 5,9

Comunicações 393.636 238.282 631.918 62,3 37,7 1,5 0,8 1,1

Instituições Financeiras 499.955 488.293 988.248 50,6 49,4 1,9 1,7 1,8

Administração Pública 3.691.618 5.378.483 9.070.101 40,7 59,3 13,9 18,6 16,3

Outros Serviços 11.072.337 16.269.150 27.341.487 40,5 59,5 41,6 56,4 49,3

Técnicos
1.623.204 1.179.416 2.802.620 57,9 42,1 6,1 4,1 5,0
Profissionais

Serviços Prestados
2.722.706 1.011.336 3.734.042 72,9 27,1 10,2 3,5 6,7
a Empresas

Serviços Sociais 1.725.483 3.352.645 5.078.128 34,0 66,0 6,5 11,6 9,1

Reparação e
1.990.462 118.932 2.109.394 94,4 5,6 7,5 0,4 3,8
Construção

Hospedagem e
1.615.117 1.735.829 3.350.946 48,2 51,8 6,1 6,0 6,0
Alimentação

Doméstico
418.261 6.313.444 6.731.705 6,2 93,8 1,6 21,9 12,1
Remunerado

Serviços Pessoais 736.359 2.492.700 3.229.059 22,8 77,2 2,8 8,6 5,8

Serviços
240.745 64.848 305.593 78,8 21,2 0,9 0,2 0,6
Distributivos

Total 26.645.433 28.862.732 55.508.165 48,0 52,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.

Os dados evidenciam que o comércio, a mais antiga das atividades do setor,


continua ainda como a principal atividade absorvedora de força de trabalho. Em
2007, a ocupação no comércio foi de 25,6% da ocupação total nos serviços. A
segunda ocupação mais importante foi o subsetor da administração pública, com
16,3% da participação total do setor (que engloba administração propriamente
dita, mais educação, saúde pública e previdência), seguida do serviço doméstico
remunerado, com 12,1%, e dos serviços sociais, com 9,1% (serviços de saúde e
educação privados e serviços comunitários). Seguem-se a esses: serviços presta-
dos às empresas (entre outros, serviços auxiliares à agropecuária, aos transportes,
serviços de aluguéis, condomínios prediais, segurança e vigilância), hospedagem
CAPÍTULO 3 27

e alimentação, transportes, serviços pessoais, técnico-profissionais, reparação e


conservação, financeiros e comunicações.
Desagregando os dados por sexo, é possível perceber que, mesmo sendo
o setor de serviços tipicamente feminino, evidencia-se uma segregação ocupa-
cional entre homens e mulheres, havendo sobre-representação das ocupadas nos
subsetores da administração pública e outros serviços8 e sub-representação nos
de comunicação, comércios e, especialmente, transportes (ver tabela 6). Obser-
vando detalhadamente as informações da tabela 3, percebe-se que as mulheres
ocupadas no setor de serviços estão principalmente nas atividades de domésticas
remuneradas (21,9%) – e estas atividades representam o maior contingente de
trabalhadoras do Brasil –, seguido das comerciárias (21,6%) e funcionárias públi-
cas (18,6%): estas ocupações responderam por 62,1% do emprego feminino no
setor, em 2007. Já os homens apresentam-se relativamente mais pulverizados: são
comerciários (30%), seguidos de funcionários públicos (13,9%) e de ocupados
no subsetor de transportes (11,3%), e estas três ocupações significam 55,2% do
emprego masculino na área.
Esta tabela sugere, portanto, que as mulheres estão alocadas naquelas ati-
vidades caracterizadas como uma extensão do trabalho reprodutivo (dos cuida-
dos) - além das citadas acima: os serviços sociais, pessoais e de hospedagem e
alimentação. Os homens predominam no mundo da produção de mercadorias:
maioria nos serviços técnico-profissionais, prestados às empresas, de reparação
e conservação e distributivos (armazenagem, atividades de televisão, agência de
notícias). Um destaque é a feminização ocorrida no subsetor instituições finan-
ceiras: atualmente esta ocupação conta com a participação de homens e mulheres
praticamente na mesma proporção.
A distribuição do emprego pelos diversos subsetores dos serviços espelha a
intensa feminização deste mercado, mas também as definições que a sociedade
consagrou para a demarcação dos papéis feminino e masculino, representados tão
bem nesta estrutura ocupacional. O subsetor de transportes, tipicamente mascu-
lino, faz um contraponto com o serviço doméstico remunerado, marcadamente
feminino. Ambos apresentam taxas de participação próximas entre si e maiores
que 90% quando abertos por sexo.
Esta divisão, no fundo, remete à própria desigualdade de gênero presente
na sociedade. As mulheres foram massivamente para o mercado de trabalho nos
últimos trinta anos e encontraram a porta aberta nas atividades terciárias, primei-
ro, porque nelas há um nicho tradicional – “lugar de mulher: o serviço domés-
tico remunerado” – e, segundo, porque a administração pública exige concurso

8. Há, portanto, uma feminização destas atividades, provavelmente devido à maleabilidade que estas atividades apre-
sentam com respeito a estruturas de mercado mais precarizadas e com baixa organização sindical.
28 impacto da Crise sobre as mulheres

público para admissão nas suas atividades, o que, seguramente, permitiu que as
mulheres mais jovens e mais escolarizadas do final do século XX pudessem invadir
este espaço do mercado de trabalho. Melo et alli (1998) constatam esta tendência,
comparando os anos de 1985, 1990 e 1995, e o crescimento gradual da ocupação
feminina neste subsetor de serviços.
Chamamos atenção para o fato de que estas informações mostram certa cris-
talização dos papéis masculino e feminino. A comparação do trabalho de Melo et
alli (1998) com as informações da PNAD/IBGE de 1995 mostra que a distribui-
ção da ocupação em “outros serviços”, segundo seus subsetores, apresentou uma
distribuição muito similar à de 2007. Aquelas que eram atividades masculinas ou
femininas permanecem como tal. Eram e continuam masculinos os postos de tra-
balho das atividades de reparação e conservação – que compreende mecânicos de
veículos e eletrodomésticos –; os serviços prestados às empresas – correspondentes
a vigilância e guarda, limpeza, atividades relacionadas às empresas produtoras de
bens, aluguel e outras mais –; e, numa escala menor, os serviços de distribuição,
isto é, os ocupados em rádio e televisão, que elevaram a participação masculina,
quando comparado com 1995. Eram e continuam femininos os serviços domés-
ticos remunerados, os serviços sociais e os pessoais. Estes últimos experimentaram
um crescimento da participação masculina quando comparado a 1995, provavel-
mente devido aos serviços relacionados ao corpo (ver gráfico 4).

Gráfico 4
Distribuição da população ocupada de 10 anos ou mais de idade, por segmentos do
subsetor “Outros”, segundo sexo. Brasil, 1995 e 2007.
100%
90%
80%
70%
60%
Mulher
50%
Homem
40%
30%
20%
10%
0%
1995 2007 1995 2007 1995 2007 1995 2007 1995 2007 1995 2007 1995 2007 1995 2007

Técn. Prof. Serv. Prest. Serv. Rep. e Cons. Hosp. e Dom. Serv. Serv. Distr.
Empr. Sociais Alim. Remun. Pessoais

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 1995 e 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.
CAPÍTULO 3 29

A distribuição dos ocupados por raça/cor é emblemática quanto à discri-


minação que ainda marca a sociedade brasileira (gráficos 5A e 5B e tabela 1 do
anexo). Nestes gráficos, estão lado a lado as atividades de serviços e aquelas tam-
bém conhecidas como “outros serviços”. Visivelmente, os subsetores de serviços
mais modernos e dinâmicos apresentam uma maioria de ocupados/as brancos/
as. O caso das instituições financeiras é particularmente curioso, pois 74% dos/
as trabalhadores/as destas instituições declararam-se brancos/as. Sabe-se que não
é apenas a escolaridade que justifica tal taxa de participação, pois a presença de
negros na população economicamente ativa com a escolaridade exigida para in-
gresso nestas instituições é bastante superior à proporção de negros empregados
nos estabelecimentos do setor, evidenciando haver algum viés na escolha de pes-
soal destas instituições.
Os subsetores de serviços técnico-profissionais e sociais também têm mais
de 60% dos seus/suas ocupados/as brancos/as, são estruturas de mercado mais
pulverizadas e talvez prevaleça o recorte de educação superior no pessoal ocupado
destes segmentos. A administração pública fica praticamente no limite da partici-
pação demográfica, mas são negros/as os/as trabalhadores/as domésticos/as, como
mostram os gráficos abaixo.

Gráfico 5A
Distribuição dos ocupados do sexo masculino nos subsetores de serviços, segundo
cor/raça. Brasil, 2007.
100%
90%
80%
70%
60% Outras
Parda
50% Preta
40% Branca

30%
20%
10%
0%
Dom. Remun.
Comunicações

Técn. Prof.

Rep. e Cons.

Hosp. e Alim.

Serv. Pessoais
Serv. Prest. Empr.
Transportes

Inst. Financ.

Adm. Pública

Serv. Sociais

Serv. Distr.
Comércio

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.
30 impacto da Crise sobre as mulheres

Gráfico 5B
Distribuição dos ocupados do sexo feminino nos subsetores de serviços, segundo
cor/raça. Brasil, 2007.
100%
90%
80%
70%
60% Outras
Parda
50% Preta
40% Branca

30%
20%
10%
0%

Dom. Remun.
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Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.

A estrutura do setor de serviços por faixa etária


A variável faixa etária complementa o perfil do pessoal ocupado no setor de
serviços e não apresenta grandes novidades quando comparada aos anos de 1985
e 1995 (Melo et alli, 1998). De forma interessante, houve uma retração da mão
de obra de 60 anos ou mais na ocupação do setor, em direção à taxa verificada em
1985: os trabalhadores nesta faixa etária apresentaram uma taxa de participação
de 4,7%, em 2007, e esta taxa foi de 4,6% e 5,6%, respectivamente, em 1985 e
1995. Ainda analisando a estrutura da economia, nota-se que a agropecuária e os
serviços respondem por cerca de 83,5% da mão de obra de 10/17 anos, repartidos
da seguinte forma: 46,5% no setor de serviços e 37% na agropecuária. Quando se
separam as faixas de 10/14 anos e de 15/17 anos de idade, a situação muda entre
estes grandes setores econômicos: a agropecuária responde por 54% dos traba-
lhadores infantis (10/14 anos) e os serviços por 35%; e, considerando os jovens/
adolescentes de 15/17 anos, a situação inverte-se: os serviços ocupam 52,4% e a
agropecuária 28,3% destes jovens.
A análise da distribuição etária dos subsetores de serviços mostra que, em
relação a 1995, houve uma retração do trabalho infantil e os homens apresentam
maiores taxas de participação nas faixas etárias mais jovens. O sexo masculino está
mais concentrado nos serviços de reparação/conservação e as mulheres no serviço
doméstico remunerado. A situação feminina permanece idêntica à dos anos 1990,
mas a masculina apresenta alteração devido à substituição da mão de obra infantil
e juvenil nas atividades de comércio.
CAPÍTULO 3 31

Assim como em 1995, chamamos atenção para a distribuição etária dos


funcionários públicos, que não segue o mesmo curso dos demais subsetores, isto
é, a taxa de participação dos mais jovens é maior no mercado de trabalho do setor
privado (ver gráfico 6 e tabela 2 do anexo).

Gráfico 6
Distribuição dos ocupados nos subsetores de serviços, segundo a faixa etária. Brasil,
2007.
100%
90%
65 ou mais
80% 60 a 64
50 a 59
70%
40 a 49
60% 30 a 39
50% 25 a 29
18 a 24
40% 15 a 17
30% 10 a 14

20%
10%
0%

Dom. Remun.
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Serv. Prest. Empr.
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Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.

A estrutura do setor de serviços por grau de instrução


Na avaliação das informações de escolaridade, fica evidente mais uma vez a
heterogeneidade do setor de serviços. De um lado, há subsetores com mais de 20%
dos seus/suas trabalhadores/as somente com até 4 anos de escolaridade: transportes,
serviços prestados às empresas, reparação/conservação, hospedagem/alimentação e
domésticas remuneradas. De outro, há segmentos com mais de 40% dos/as ocupa-
dos/as com mais de 12 anos de estudo, tais como: instituições financeiras, técnico-
profissionais, administração pública e serviços sociais. Este requerimento de qualifi-
cação não foi alterado pelos novos tempos globais, pois esta relação é praticamente
a mesma encontrada para o ano de 1995 (ver tabela 3 do anexo)
Devido à importância das atividades de serviço doméstico remunerado para
a ocupação feminina, o gráfico 7 mostra a escolaridade das suas trabalhadoras e
trabalhadores. Interessante verificar que, ainda que as mulheres ocupem as posições
mais precárias nesse subsetor, são elas as mais escolarizadas, seguindo o padrão de
diferenças educacionais estabelecido para o país como um todo. Assim, 39% das
ocupadas em emprego doméstico tinham até 4 anos de estudo e 21% tinham mais
que 8 anos de escolaridade. Estes percentuais eram de 53% e 16%, respectivamente,
quando se tratou de analisar os trabalhadores homens empregados nesse subsetor.
32 impacto da Crise sobre as mulheres

Gráfico 7
Distribuição dos ocupados no serviço doméstico remunerado, segundo sexo e anos
de estudo. Brasil, 2007.

Mulher

0
1a4
5a8
9 a 11
12 a 14
15 ou mais
Não det.
Homem

0% 10 % 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.

A estrutura do setor de serviços por posição na ocupação


A análise da variável “posição na ocupação” permite analisar as condições da
inserção da população na economia, a partir de uma aproximação de “qualidade”
do emprego. Ao longo do século XX, houve um progressivo crescimento do em-
prego com contrato de trabalho por tempo indeterminado, em tempo integral,
com um empregador único. Esta situação generalizou-se e permanece ainda para
a maioria dos países, embora nos últimos 20 anos assista-se ao surgimento de ou-
tras formas de contratos de trabalho, que combinam precarização e terceirização.
O fenômeno também tem sido observado no Brasil e, como o país nunca havia
promovido uma homogeneização das relações trabalhistas, a globalização apro-
fundou esta desigualdade.
Certamente, foi o processo de industrialização, tanto para o caso brasileiro,
como para os demais países, o vetor da constituição daquela forma de contrato
de trabalho que se expandiu ao longo do século XX e que, no Brasil, foi definido
como empregados com carteira de trabalho, sujeitos à legislação laboral. Todavia
há outras modalidades de relações de emprego que perduram e que cresceram
na última década, tais como: empregados sem carteira, trabalhadores por conta
própria/autônomos, empregadores, trabalhadores sem remuneração.
No conjunto dos setores econômicos brasileiros é possível perceber uma hete-
rogeneidade na qualidade da ocupação predominante. A primeira constatação são
as diferenças entre o emprego urbano e rural, evidenciado pela baixa participação
CAPÍTULO 3 33

dos trabalhadores com carteira na agropecuária9. A segunda é que o emprego in-


dustrial é o locus por excelência do contrato de trabalho assalariado, como fica claro
nesta tabela: quase 70% dos seus trabalhadores possuem carteira de trabalho. A ter-
ceira é a precariedade explicitada pelo setor de serviços: a heterogeneidade das suas
atividades permite uma flexibilidade das relações de emprego no seu interior que,
em parte, explica a elevação de sua participação na ocupação e na renda.
Observa-se que, no setor de serviços, apenas 33,3% dos ocupados têm carteira
de trabalho assinada. Burlar a legislação trabalhista e contratar trabalhadores sem o
aparato legal, isto é, fugindo dos encargos trabalhistas, é bastante usual na sociedade
brasileira: são os trabalhadores sem carteira ou desprotegidos. De forma interessan-
te, esta relação de emprego atravessa todos os setores econômicos, em parte, em
função da falta de fiscalização, que ajuda a difundir este tipo de subcontratação.
Outra modalidade de flexibilização da relação de emprego é o trabalho por
conta própria, que também aparece em todos os setores econômicos. Expressa
uma estratégia corrente das empresas, associada ao atual contexto de desemprego
crescente, para escapar das obrigações do contrato de trabalho, obrigando seus
trabalhadores a adotar um estatuto jurídico de trabalhador autônomo. Entende-
se, portanto, que a queda no crescimento da economia brasileira, a partir dos
anos 1980, acentua este traço das atividades que permitem a existência de formas
precárias de relações de emprego.
A análise da qualidade da ocupação dos diversos segmentos do setor de ser-
viços pode ser visualizada nos gráficos 8A e 8B abaixo10. De imediato percebem-
se fortes diferenças entre as diversas atividades: os segmentos de comunicações,
instituições financeiras, serviços prestados às empresas, serviços sociais e os dis-
tributivos tiveram, em 2007, mais de 50% dos/as empregados/as com carteira de
trabalho assinada. Estes, ao lado dos funcionários públicos, completam o perfil
do trabalho decente e seguro. De outro lado, encontram-se as/os trabalhadoras/
es desprotegidas/os, atuando sem carteira ou qualquer vínculo formal, como as/
os trabalhadoras/es domésticas/os e o contingente dos informais, que trabalham
por conta própria nos segmentos de serviços pessoais, transportes, reparação/
conservação e comércio. Consagra-se, desta forma, o perfil heterogêneo para as
atividades terciárias, com alguns subsetores altamente formalizados e outros que
apresentam um grau de formalização muito baixo11.

9. Dentre os setores econômicos, o da agropecuária, por razões específicas das relações de trabalho aí estabelecidas,
não incorpora o assalariamento totalmente.
10. Ver, ainda, a tabela 4 do anexo.
11. Note-se que a taxa de participação desta mão de obra com carteira e de funcionários públicos soma 44,3% do
total do setor. É preciso destacar que 19,5 % dos/as trabalhadores/as destas atividades são informais e 16,8% são
“sem carteira”, o que perfaz um contingente de 36,3% do setor de serviços com ocupações precárias e desprotegidas.
34 impacto da Crise sobre as mulheres

Na desagregação dos dados por sexo, percebem-se algumas situações im-


portantes, visibilizadas nos gráficos 8A e 8B. Inicialmente, é visível a elevada
proporção de mulheres que são ocupadas, mas não recebem remuneração pelas
atividades desempenhadas. Esta é uma realidade verificada em diversos segmen-
tos, mas especialmente no de comércios, reparação/construção e hospedagem/
alimentação. Ao se observar o gráfico 7A, porém, percebe-se que esta é uma situa-
ção praticamente inexiste para os ocupados do sexo masculino e, mesmo quando
existe não remuneração pelo trabalho, é em proporção significativamente inferior
à verificada para as mulheres. Em alguns subsetores há alternância entre mulheres
com carteira assinada e homens como conta-própria. Esse é o caso, por exemplo,
do setor de transportes, no qual as trabalhadoras estão em maior proporção como
empregadas com carteira, enquanto os trabalhadores estão como autônomos. A
categoria “conta-própria” é também bastante heterogênea, pois engloba desde o
pipoqueiro que trabalha com seu carrinho, até o profissional liberal da área de
medicina. De todo modo, é uma ocupação que demanda, em geral, um capital
inicial para investimento nos equipamentos, situação mais difícil de concretizar-
se para mulheres que, assim, tendem a procurar empregos nas empresas e, portan-
to, aparecem menos como conta-própria e mais como empregadas. Finalmente,
no trabalho doméstico, a situação é bastante precária para os trabalhadores de
ambos os sexos, mas é ainda pior para as mulheres: 60% dos homens ocupados
neste subsetor não tinham carteira assinada, contra 73% das mulheres.

Gráfico 8A
Distribuição dos ocupados do sexo masculino, pelos subsetores de serviços, segun-
do a posição na ocupação. Brasil, 2007.

100%
90%
80% Não remun.
70%
Empregador
60%
50% Conta própria

40% Func. públ.


30% Empr. s/ cart.
20%
Empr. c/ cart.
10%
0%
Dom. Remun.
Comunicações

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Hosp. e Alim.

Serv. Pessoais
Serv. Prest. Empr.
Transportes

Inst. Financ.

Adm. Pública

Serv. Sociais

Serv. Distr.
Comércio

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.
CAPÍTULO 3 35

Gráfico 8B
Distribuição dos ocupados do sexo feminino, pelos subsetores de serviços, segundo
a posição na ocupação. Brasil, 2007.
100%
90%
80% Não remun.
70%
Empregador
60%
50% Conta própria

40% Func. públ.


30% Empr. s/ cart.
20%
Empr. c/ cart.
10%
0%

Dom. Remun.
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Técn. Prof.

Rep. e Cons.

Hosp. e Alim.

Serv. Pessoais
Transportes

Inst. Financ.

Adm. Pública

Serv. Sociais

Serv. Distr.
Comércio

Serv. Prest. Empr.

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.

A estrutura do setor de serviços por faixas de renda


O setor de serviços funciona como importante absorvedor de mão de obra
expulsa dos demais setores. Portanto, averiguar os rendimentos auferidos pelos
seus ocupantes permite conhecer melhor a dinâmica interna destas atividades.
O gráfico 912 apresenta a heterogeneidade intrínseca ao setor e a variável renda,
aqui analisada para cada segmento, apresenta esta questão de forma contundente:
coerente ao apontado nas demais características do setor, há uma convivência de
atividades de baixa remuneração e outras com rendimentos mais elevados.

12. Ver também a tabela 5 do anexo


36 impacto da Crise sobre as mulheres

Gráfico 9
Distribuição dos ocupados pelos subsetores de serviços, segundo a faixa de renda
do trabalho principal (em salários mínimos).
100%
90%
80%
Não def.
70% Mais de 10
60% Mais de 6 a 10
50% Mais de 4 a 6
40% Mais de 2 a 4
30% Mais de 1 a 2
20% Mais de 0 a 1
10% 0
0%

Dom. Remun.
Comunicações

Serv. Prest. Empr.

Hosp. e Alim.
Técn. Prof.

Serv. Pessoais
Rep. e Cons.

Serv. Distr.
Inst. Financ.
Transportes

Adm. Pública

Serv. Sociais
Comércio

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.

Estas informações também possibilitam concluir que a economia brasileira


caracteriza-se por remunerar sua mão de obra com baixos salários: 69,7% dos/as
ocupados/as do país recebem até dois salários mínimos, sendo que, no setor de
serviços, esta taxa é de 64,6%. Ao se observar as desigualdades entre os sexos, tem-
se que as mulheres estão concentradas nas ocupações que pagam até dois salários
mínimos: são 74% das ocupadas no setor terciário, frente a uma taxa de 54,5%
para os homens13. (Tabela 7).

Tabela 7
Distribuição dos ocupados pelos subsetores de serviços, segundo a faixa de renda
do trabalho principal e sexo (em salários mínimos).
Subsetores Mais Mais Mais Mais Mais Mais Não
0 Total
de Serviços de 0 a 1 de 1 a 2 de 2 a 4 de 4 a 6 de 6 a 10 de 10 def
Homem
Comércio 3,3 22,6 35,2 22,6 5,5 5,0 3,9 1,9 100,0
Transportes 0,5 14,9 30,7 36,4 7,6 5,0 3,1 1,7 100,0
Comunicações 0,8 8,1 33,7 33,7 9,5 5,4 6,2 2,7 100,0
Inst. Financ. 0,1 4,0 16,4 26,5 14,9 17,4 16,7 4,0 100,0
Adm. Pública 0,3 15,6 23,8 27,3 12,7 9,6 8,7 2,0 100,0
Técn. Prof. 1,5 11,7 25,5 23,7 8,7 11,3 13,4 4,2 100,0
Serv. Prest. Empr. 2,0 20,2 40,6 23,5 3,5 3,9 4,0 2,3 100,0
Serv. Sociais 3,3 18,6 30,3 23,9 6,8 6,3 8,2 2,5 100,0

13. Estes números refletem as péssimas remunerações dos subsetores serviço doméstico remunerado, serviços pesso-
ais, hospedagem/alimentação, comércio e reparação/conservação.
CAPÍTULO 3 37

Subsetores Mais Mais Mais Mais Mais Mais Não


0 Total
de Serviços de 0 a 1 de 1 a 2 de 2 a 4 de 4 a 6 de 6 a 10 de 10 def
Rep. e Cons. 2,3 25,9 35,4 26,9 4,2 2,5 1,2 1,7 100,0
Hosp. e Alim. 4,6 27,1 36,1 20,9 3,5 3,1 2,0 2,6 100,0
Dom. Remun. 0,9 53,8 35,4 7,7 0,4 0,4 0,1 1,4 100,0
Serv. Pessoais 1,8 25,8 29,8 25,3 7,6 3,9 3,4 2,4 100,0
Serv. Distr. 0,3 26,5 27,8 22,6 6,0 4,9 6,6 5,3 100,0
Total 2,1 20,2 32,2 25,3 6,8 5,8 5,3 2,2 100,0
Mulher
Comércio 7,7 32,4 37,8 14,6 2,7 2,0 1,1 1,5 100,0
Transportes 4,6 16,5 38,0 22,6 6,2 5,9 4,3 1,9 100,0
Comunicações 1,2 14,0 51,4 19,8 4,0 3,9 3,0 2,8 100,0
Inst. Financ. 0,4 10,7 25,5 31,7 11,2 10,3 6,2 3,9 100,0
Adm. Pública 0,5 20,2 31,8 26,8 9,4 6,4 3,6 1,4 100,0
Técn. Prof. 1,7 17,6 34,8 22,3 7,2 7,7 5,6 3,2 100,0
Serv. Prest. Empr. 3,7 23,1 41,4 17,6 4,3 4,2 3,1 2,5 100,0
Serv. Sociais 4,6 23,8 36,7 20,7 4,7 4,3 2,8 2,4 100,0
Rep. e Cons. 24,2 22,3 31,2 13,1 3,8 2,1 0,8 2,6 100,0
Hosp. e Alim. 10,4 35,5 39,3 9,3 1,8 1,3 1,0 1,5 100,0
Dom. Remun. 0,4 70,3 25,6 2,8 0,1 0,0 0,0 0,8 100,0
Serv. Pessoais 1,8 46,6 31,2 14,5 1,9 1,3 0,9 1,8 100,0
Serv. Distr. 2,9 21,5 25,6 21,8 12,0 5,8 9,1 1,3 100,0
Total 3,5 37,2 33,3 15,5 3,9 3,1 1,9 1,6 100,0

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.

Interessante, ainda, ver que este é um fenômeno observável para todos os


setores analisados – independente da proporção de mulheres ou da proporção de
empregos de maior qualidade. As diferenças na presença de mulheres e homens
nas faixas mais baixas de renda (até 2 salários mínimos) alcançam 22 pontos
percentuais no caso do subsetor de serviços pessoais (que é majoritariamente
feminino) e 17 pontos no de hospedagem e alimentação. As menores diferenças
aparecem nos subsetores de serviços prestados a empresas e no de emprego
doméstico. Neste último, tem-se 90% dos homens e 96% das mulheres rece-
bendo até 2 salários mínimos, o que evidencia a precariedade geral que marca
esta atividade. O único segmento no qual há mais homens nesta faixa de renda
do que mulheres é o de serviços distributivos, majoritariamente ocupado pelos
trabalhadores do sexo masculino.
38 impacto da Crise sobre as mulheres

3.2.1 Trabalho doméstico


No bojo das atividades desenvolvidas no setor “serviços”, pode-se identifi-
car, tal como apresentado anteriormente, uma subcategoria basicamente femi-
nina, tanto em termos de presença numérica, quanto em termos daquilo que se
construiu como sendo típico do feminino nas sociedades modernas, qual seja, o
trabalho doméstico remunerado.
É sobre esta categoria que muito se tem especulado sobre possíveis impactos
da crise financeira internacional. Por um lado, estão aqueles que argumentam que
as trabalhadoras domésticas seriam facilmente demitidas em um contexto no qual
haja redução de rendimentos e aumento do desemprego. De outro, há argumen-
tos de que o trabalho doméstico não se constituiria em um bem do qual se possa
abrir mão fácil e rapidamente. Nesse sentido, seria possível haver impacto sobre o
nível de emprego desta categoria, mas não na intensidade defendida por outros.
Qualquer análise neste momento, porém, é mera especulação, pois não se
sabe o cenário futuro no campo econômico internacional e nem mesmo como
o emprego doméstico responde a variações de salário dos empregadores. Impor-
tante, portanto, é conhecer a estrutura desse sub-setor ocupacional e ter, assim,
subsídios para identificar possíveis impactos futuros e responder aos diferentes
cenários macroeconômicos encontrados.Fundamental iniciar, então, ressaltando
o peso que o trabalho doméstico remunerado tem para as mulheres que estão
ocupadas no mercado de trabalho.
De fato, em 2007, pouco mais de 16% das trabalhadoras se encontravam
neste ramo ocupacional, o que representa um contingente de 6,3 milhões de
mulheres14. Já entre os homens, esses valores eram de reduzidos 0,8%, ou quase
418 mil ocupados. Para além das diferenças quantitativas, sabe-se que há um
diferencial no tipo de atividade doméstica exercida por cada um dos sexos: para a
população feminina o nicho tradicional de ação é mesmo o trabalho exercido na
residência dos empregadores no cuidado com a casa ou com as crianças; já para os
homens, há uma prevalência de caseiros, jardineiros e motoristas. Há, portanto,
uma segregação ocupacional mesmo quando se trata de uma ocupação tão reco-
nhecida como feminina.
Ademais, sabe-se que o emprego doméstico tem também um viés racial que
se manifesta quando se compara o total de mulheres brancas ocupadas neste sub-
setor (13,4%, em 1996, e 12,1%, em 2007) com o de mulheres negras (23%, em
1996, e 21,4%, em 2007). Ou seja, mesmo havendo uma “pequena queda em
ambos os dados na década, persiste ainda o fato de que o trabalho doméstico re-

14. Mesmo revelando um discreto decréscimo (1 p.p.) em relação a 1996, o padrão se manteve: o trabalho doméstico
remunerado é, ainda, persistente e majoritariamente feminino no Brasil
CAPÍTULO 3 39

munerado no Brasil é uma atividade tradicionalmente desempenhada por mulhe-


res negras (...) [e] reúne em si a continuidade dos traços mais perversos da herança
escravista e patriarcal. Como se poderá perceber, os dados apontam para injunção
desses dois sistemas ideológicos fundantes da sociedade brasileira na manutenção
de uma situação de desigualdade. Situação essa tomada como natural na maior
parte das vezes, a exemplo do tratamento desigual que somente esta categoria de
trabalhadoras recebeu na Constituição Federal de 1988 sob argumentos, ainda
em voga, que escondem a ingerência dessa herança” (Pinheiro et al., 2008).
Como resultado de suas próprias características e raízes históricas, o trabalho
doméstico jamais foi encarado como as demais relações de trabalho, que se dão no
espaço público tendo se constituído, assim, em um trabalho bastante precário, tal
como evidenciam os dados apresentados nas tabelas 8 e 9 abaixo. Ainda são pou-
cas as trabalhadoras que contam com proteção do Estado, assegurada pela posse
de carteira de trabalho assinada e pela realização de contribuições previdenciária:
em 2007, eram apenas 27% e 30%, respectivamente. Isto significa que um enor-
me contingente de mulheres trabalhadoras encontra-se sem qualquer proteção
social, estando submetidas a longas jornadas de trabalho e baixos salários, além de
exercerem um trabalho reconhecidamente exaustivo. Além de estarem desprote-
gidas na idade produtiva, sua situação de informalidade implica em desproteção
também na senilidade.
Dois aspectos merecem ser ressaltados nesta análise: o primeiro deles refere-
se ao crescimento dessas taxas ao longo do ano, o que indica que as iniciativas
governamentais têm tido certo impacto no sentido de estimular a formalização e
a filiação previdenciária das trabalhadoras domésticas e de ampliar não apenas os
seus direitos, mas também o grau de conhecimento sobre os mesmos. O segundo
deles, por sua vez, diz respeito aos diferenciais significativos nesses valores quan-
do consideramos os atributos de raça/cor das trabalhadoras. Enquanto entre as
brancas 30,5% possuíam carteira de trabalho assinada e 34,3% contribuíam para
a previdência, esta proporção chega a inferiores 25,2% e 30,4%, respectivamente,
para as mulheres negras. Vale mencionar, por fim, que a despeito do aumento nes-
sas proporções ao longo dos anos, as distâncias verificadas entre brancas e negras
permanecem, evidenciando a força dos processos discriminatórios ainda vigentes.
40 impacto da Crise sobre as mulheres

Tabela 8 Tabela 9
Proporção de trabalhadoras domés- Proporção de trabalhadoras domésti-
ticas com carteira assinada, por raça/ cas contribuintes da previdência so-
cor. Brasil, 1996 e 2007. cial, por raça/cor. Brasil, 1996 e 2007.
  Branca Negra Total   Branca Negra Total
1996 23,6 18,7 20,9 1996 24,6 19,2 21,6

2007 30,5 25,2 27,2 2007 34,3 28,0 30,4

Fonte: Pinheiro et al., 2008, com base nos microdados Fonte: Pinheiro et al., 2008, com base nos microdados
da PNAD/IBGE. da PNAD/IBGE.

Nos últimos anos, uma importante transformação na estrutura do mercado


de trabalho doméstico vem sendo observada: o aumento da categoria de diaristas
em substituição às tradicionais mensalistas. Em 2007, a proporção de trabalha-
doras que prestavam serviço em mais de um domicílio chegou a 25,0% do total,
um aumento de 7,5 pontos percentuais no curto espaço de tempo de uma déca-
da. É curioso observar que aqui a proporção entre brancas e negras se inverte: se
as negras são maioria entre as trabalhadoras domésticas, entre as diaristas são as
brancas que apresentam maior proporção – 26,7% contra 24,1% de negras neste
regime.
A peculiaridade do regime de diarista está em que, apesar de tender a situa-
ções ainda mais precarizadas no que diz respeito à formalização15, é possível supor
que permite ganhos maiores para as trabalhadoras. Isso significa, portanto, que
em contextos de crise, como o atualmente vivenciado, as trabalhadoras diaristas –
cuja participação na economia vem crescendo rápida e sustentavelmente – podem
vir a ser mais fortemente afetadas pelo desemprego, uma vez que, mais do que
as mensalistas, não contam com vínculos de emprego formais que as assegurem
quaisquer direitos em casos de demissão.
Outros indicadores poderiam ser levantados para reafirmar a situação de
precariedade e exclusão social a que estão submetidas estas trabalhadoras, a
exemplo daqueles que apontam para a excessiva jornada de trabalho e para o
reduzido índice salarial. Ainda que possam ser observados movimentos positivos
nos indicadores aqui apresentados ao longo dos anos, é possível perceber que
estas mudanças não foram capazes de alterar a estrutura do mercado de trabalho
doméstico, vez que esta se encontra fortemente enraizada na sociedade.

15. Decisão da 7ª turma do Tribunal Superior do Trabalho estabeleceu, em maio de 2009, que diaristas que traba-
lhassem por até três dias por semana na mesma casa não teriam direitos trabalhistas assegurados, uma vez que não
haveria configuração de vínculo empregatício.
CAPÍTULO 3 41

3.3 Os impactos recentes da crise no mercado de trabalho brasileiro: olhar


de gênero
Tendo como pano de fundo, a estrutura do mercado de trabalho feminino
e as diferenças verificadas quando se compara este mercado àquele ocupado pelos
homens, esta seção tem por objetivo apresentar dados conjunturais sobre empre-
go e desemprego que possibilitem avaliar, em caráter inicial, os impactos produ-
zidos pela crise econômica e financeira internacional sobre homens e mulheres.
Para tanto, serão apresentados e analisados indicadores conjunturais sobre
emprego e desemprego que permitem avaliar, em caráter inicial, os primeiros im-
pactos produzidos pela crise econômica e financeira internacional na participação
no mundo do trabalho e na ocupação masculina e feminina. Foram utilizados
indicadores produzidos a partir do Caged/MTE, da PME/IBGE e, em alguma
medida, da PED/Dieese-Seade. O Caged é um registro administrativo produzido
pelo MTE que traz informações mensais sobre todos os estabelecimentos que
tenham efetuado qualquer tipo de movimentação (admissão, desligamento ou
transferência) em seu quadro de empregados com contrato de trabalho regido
pela CLT. Permite, assim, uma avaliação conjuntural do mercado de trabalho
formal do país, ou seja, apenas dos trabalhadores que possuem carteira assinada.
Já a PME, do IBGE, é uma pesquisa domiciliar, realizada mensalmente nas seis
principais regiões metropolitanas (RMs) do país (Recife, Salvador, Belo Horizon-
te, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) que traz informações, também de
natureza conjuntural, referentes à condição de atividade, condição de ocupação,
rendimento médio, posição na ocupação, posse de carteira de trabalho assinada,
entre outras, contemplando, assim, toda a população ocupada ou à procura de
trabalho, e não apenas os trabalhadores assalariados com carteira assinada. A PED
funciona nos mesmos moldes da PME, cobrindo as RMs de Recife, Salvador,
Belo Horizonte, Distrito Federal, São Paulo e Porto Alegre. A análise destas fontes
diversas – uma censitária, mas restrita ao mercado de trabalho formal; e outras
que abarcam todo o mercado de trabalho, mas amostrais e restritas a regiões me-
tropolitanas – possibilita um olhar mais completo sobre a economia brasileira e,
mais especialmente, sobre as trabalhadoras que se encontram proporcionalmente
mais presentes no setor informal da economia.

3.3.1 Os impactos gerais da crise na economia brasileira


Desde 2004, os dados disponíveis sobre o mercado de trabalho brasileiro
assinalam uma trajetória de crescimento do emprego no país, em especial da de-
manda por trabalho formal. Esse período de virtuosa formalização do mercado de
trabalho foi propiciado tanto pelo dinamismo do comércio internacional como
pelo aquecimento do mercado interno. A partir de setembro de 2008, entretanto,
a situação mudou radicalmente. A crise do mercado de hipotecas subprime, nos
42 impacto da Crise sobre as mulheres

Estados Unidos, ganhou dimensão internacional, espalhando desconfiança pelos


mercados financeiros e desencadeando uma crise de liquidez com sérios efeitos
sobre a produção, o emprego e a renda ao redor do mundo.
Os primeiros sinais da crise internacional sobre o mercado de trabalho bra-
sileiro parecem ter se manifestado em outubro de 2008, quando começa a haver
uma diminuição no ritmo de queda do desemprego verificado no país, que é se-
guida, a partir de janeiro, pelo aumento das taxas de desemprego em proporções
superiores ao que se poderia atribuir à sazonalidade do período. Segundo os dados
da PME, nos sete meses que se seguiram à crise (outubro/2008 a abril/2009), a
proporção de trabalhadores/as desempregados/as subiu de 7,5% para 8,9%, um
aumento de 1,4 ponto percentual. No mesmo período dos anos anteriores (ou-
tubro/2007 a abril/2008) a tendência verificada era inversa, com redução de 0,2
pontos percentuais na taxa de desemprego medida para as seis principais regiões
metropolitanas do país (ver gráfico 10).

Gráfico 10
Taxa de desemprego das seis regiões metropolitanas, segundo sexo. 2007 a 2009.

10,9

9,4
8,9

7,5 7,2

5,9
jan/07
fev/07
mar/07
abr/07
mai/07
jun/07
jul/07
ago/07
set/07
out/07
nov/07
dez/07
jan/08
fev/08
mar/08
abr/08
mai/08
jun/08
jul/08
ago/08
set/08
out/08
nov/08
dez/08
jan/09
fev/09
mar/09
abr/09

Total Mulheres Homens

Fonte: Pesquisa Mensal de Emprego/IBGE.

No caso dos empregos formais, também a partir de outubro se nota um ní-


tido desaquecimento na geração de novos postos de trabalho medido pelo Caged,
conforme se observa no gráfico 11. Se a média de criação de empregos com cartei-
ra assinada no mês de outubro dos anos de 2004 a 2007 foi de, aproximadamen-
te, 146 mil, em outubro de 2008 apenas 61 mil novas vagas foram abertas. Em
novembro, já se constata uma retração no número de postos com carteira assinada
CAPÍTULO 3 43

no país, o que se verifica também nos meses de dezembro de 2008 e janeiro de


2009. É certo que o resultado desfavorável nesses meses, particularmente no mês
de dezembro, não se justifica apenas pela crise internacional. Fatores sazonais as-
sociados ao ciclo da cana-de-açúcar, com seus desdobramentos sobre o complexo
sucroalcooleiro, bem como o ajustamento do emprego nos setores industriais, a
fim de compatibilizar a demanda de trabalho a uma oferta cujo patamar não está
mais influenciado pelo boom de fim de ano, entre outros fatores, contribuíram
também para a eliminação de postos de trabalho celetistas. De qualquer forma,
fica patente no gráfico 11 que a magnitude da queda em dezembro é significati-
vamente mais acentuada em 2008 que nos anos anteriores.

Gráfico 11
Resultado líquido de empregos com carteira assinada (Admissões - Desligamentos).
Brasil: 2004-2009.
450.000

250.000

50.000
Mai

Mai

Mai
Mar

Mai
Abr

Mar

Mai
Abr

Mar
Abr

Mar
Abr

Mar
Abr

Mar
Abr
Ago

Out

Ago

Out

Ago

Out

Ago

Out

Ago

Out
Jul

Jul

Jul

Jul

Jul
Jun

Nov

Jun

Nov

Jun

Nov

Jun

Nov

Jun

Nov
Set

Set

Set

Set

Set
Dez

Dez

Dez

Dez

Dez
Jan

Jan

Jan

Jan

Jan

Jan
Fev

Fev

Fev

Fev

Fev

Fev
2004 2005 2006 2007 2008 2009

-150.000

-350.000

-550.000

-750.000

Fonte: MTE, Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Elaboração: DISOC/IPEA.

Observa-se também no gráfico 11 que os meses de fevereiro a abril de 2009


apresentaram um incremento no número de postos de trabalho formal. A des-
peito desses resultados serem positivos, são bastante inferiores aos verificados nos
mesmos meses de anos anteriores. Portanto, não é possível afirmar, ainda, que os
desdobramentos da crise sobre o emprego já foram todos observados. Essa leve
recuperação não indica, por si só, que a tendência a partir de agora é o restabe-
lecimento da trajetória anterior de crescimento acelerado do emprego formal. A
ameaça de crescimento do desemprego e da informalidade persiste, pois o ritmo
de criação de vagas celetistas observado nos últimos três meses no Caged ainda é
44 impacto da Crise sobre as mulheres

lento. Nesse sentido, a preocupação com a evolução do emprego formal se justifi-


ca por pelo menos dois motivos: pelo impacto direto nas condições de vida dos/
as trabalhadores/as e pelo fato de que a massa de rendimentos (determinada pelo
nível de emprego e de salário) é um dos principais componentes da demanda
interna – logo, sua evolução pode contribuir para abrandar ou ampliar os efeitos
da crise (IPEA, 2009b).

3.3.2 Os resultados recentes do mercado de trabalho sob a perspectiva de gênero


Considerando essas duas relevantes dimensões do emprego, vale a pena ana-
lisar com mais cautela as informações disponíveis sobre os primeiros meses de
reação do mercado de trabalho brasileiro à crise internacional, na tentativa de
compreender sua dinâmica e identificar que grupos de trabalhadores já foram ou
ainda podem ser afetados. Muitas têm sido as análises dos efeitos da crise sobre o
mercado de trabalho a partir de variáveis como faixa de renda, faixa etária, tempo
de serviço, setor de atividade, unidades da federação, grau de instrução e tipo de
município. Inexistem, porém, estudos que privilegiem o enfoque sobre gênero,
avaliando como a crise pode ter afetado distintamente trabalhadores do sexo mas-
culino e feminino.
Com o objetivo de ampliar o debate nacional sobre impactos da crise eco-
nômica, esta seção se propõe a analisar os dados oriundos da PME, da PED e do
Caged a partir da variável sexo dos/as trabalhadores/as e de sua intersecção com a
dimensão racial, sempre que possível. Inicialmente, serão apresentados os dados
da PME e da PED, que abarcam todas as formas de inserção ocupacional, assim
como o contingente de desocupados, mas que se referem somente a algumas me-
trópoles. Posteriormente, faz-se um corte sobre o mercado de trabalho formal, a
partir dos dados do Caged, no qual se encontram os empregos de maior qualidade
e com maior nível de proteção social.

Mercado de trabalho metropolitano: dados da PME e PED


As informações produzidas pela PME e pela PED permitem um olhar sobre
o mercado de trabalho brasileiro bastante amplo em termos de cobertura, pois
abarcam os empregos formais – entendidos como aqueles com carteira assinada e,
portanto, com proteção do Estado quanto aos riscos enfrentados durante a vida
dos/as trabalhadores/as –, as ocupações informais, que englobam desde as do tipo
conta-própria (os autônomos), passando pelos empregados sem carteira assinada
(dentre os quais destacam-se as trabalhadoras domésticas), até atingir aqueles que,
apesar de ocupados, não recebem pelo trabalho realizado e, ainda, os empregado-
res. A PED também permite esta análise mais ampla do mercado de trabalho e
traz resultados que reiteram aqueles encontrados pelo IBGE.
CAPÍTULO 3 45

Nos oito meses que se seguiram aos primeiros efeitos da crise no país (se-
tembro-2008 a abril-2009), o crescimento da população economicamente ativa16
(PEA) feminina foi menor que o crescimento da PEA masculina em todas as
RMs pesquisadas pela PED. Houve decréscimo da PEA feminina em Salvador
(-3,0%), em Belo Horizonte (-1,5%), em Porto Alegre (-2,3%) e em São Pau-
lo (-1,9%), enquanto para os homens não se verificou decréscimo da PEA em
nenhuma das RMs. Há, neste caso, uma reversão de fenômeno verificado em
anos anteriores, quando se notava uma leve tendência ao crescimento maior da
PEA feminina em relação à PEA masculina, havendo indícios, portanto, de que
o contexto de crise econômica retirou, relativamente, mais mulheres do mercado
de trabalho do que homens. Em outras palavras, parece que o baixo dinamismo
econômico tem empurrado as mulheres para a inatividade17.
As informações da PED sobre a taxa de participação de homens e mu-
lheres no mercado de trabalho deixam mais clara essa tendência que, apesar de
leve, é nítida e previsível, na medida em que expressa traços de nossa cultura
patriarcal. Isso porque em situações de perda de emprego/ocupação no núcleo
familiar (com consequente redução dos rendimentos mensais), há maior pro-
babilidade de que mulheres retornem às suas casas e se responsabilizem pelas
atividades domésticas do que homens, seja pelo fato de que trabalhavam em pe-
quenos empreendimentos familiares que não sobreviveram à crise, seja porque a
perda de rendimento familiar impossibilitou a manutenção de uma trabalhadora
doméstica que desenvolvia atividades que agora deverão ser desempenhadas por
ela – ao passo que a trabalhadora doméstica dispensada também pode voltar
para a “inatividade”. Aos homens usualmente cabe continuar no mercado de
trabalho, em busca de emprego e renda para sustento da família, permanecendo,
portanto, economicamente ativos. Assim, entre setembro/2008 e abril/2009, a
taxa de participação das mulheres caiu mais do que a dos homens em todas as
RMs pesquisadas. Os dados mostram que há queda na taxa de participação dos
homens nas regiões metropolitanas, mas esta queda é sempre menos acentuada
que a verificada entre as mulheres (ver gráfico 12).

16. Refere-se à população que se encontra ocupada no mercado de trabalho ou desocupada, mas à procura de empre-
go. Tratam-se, portanto, daqueles indivíduos que estão à disposição do mercado.
17 Parcela da População em Idade Ativa – PIA que não está ocupada nem procurando alguma ocupação.
46 impacto da Crise sobre as mulheres

Gráfico 12
Variação da taxa de participação entre setembro de 2008 e abril de 2009, por Re-
gião Metropolitana, segundo sexo.

0%
-1,8% -0,3% -1,7% -1,1% -2,5% -1,4%

-10%

-20%

-30%
-1,3% -0,7% -0,3% -1,2%
-0,9% -0,7%
-40% -3,4%
-4,2%
-50%

-60% -2,6%
-1,9%
-1,3%
-70%

-80%

-90%

-100%
Belo Horizonte Distrito Federal Porto Alegre Recif e Salvador São Paulo

Total Homens Mulheres

Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego/Dieese.

No que diz respeito ao nível de emprego, tal como já apontado, a crise eco-
nômica foi capaz de reverter, no país, uma tendência de redução do desemprego
e geração de novos postos de trabalho, especialmente no setor formal. O gráfico
13 mostra, a partir dos dados da PME, a inflexão que ocorre entre as taxas de
desemprego nos oito meses posteriores à crise e nos oito imediatamente anterio-
res. Assim, enquanto entre janeiro e agosto de 2008 se pôde verificar redução na
desocupação para todos os grupos pesquisados, à exceção das mulheres negras
que tiveram variação nula, nos meses de setembro/2008 a abril/09, há aumento
significativo do desemprego para a população brasileira em geral.
CAPÍTULO 3 47

Gráfico 13
Variação da taxa de desemprego em períodos selecionados, segundo sexo e cor/
raça. Regiões Metropolitanas, 2008 e 2009.
4,1%

24,1%

11,2%
21,3%

-
-
4,8% -5,0% 12,5% 0,0%

Homens Mulheres Mulheres brancas Mulheres negras

Ago08 / Jan08 Abril09 / Set08

Fonte: Pesquisa Mensal de Emprego/IBGE.

Historicamente, as taxas de desemprego femininas são sempre muito mais


elevadas que as masculinas e os dados da PME e da PED confirmam esta tendência,
tal como pôde ser observado no gráfico 10. No contexto de crise, entretanto, parece
haver um movimento diferenciado, no qual as taxas de desemprego masculinas
tendem a se elevar mais, em termos relativos. Assim, quando se toma o período
compreendido entre os meses imediatamente posteriores à crise, há um aumento
da ordem de 24% na taxa de desemprego dos trabalhadores do sexo masculino nas
seis regiões metropolitanas pesquisadas pela PME, enquanto este valor é de 11,2%
quando se trata d as trabalhadoras (ver gráfico 13). Entre estas, foram as brancas as
que apresentaram maior ampliação do desemprego no período (21,3%).
De forma complementar, faz-se importante analisar os dados relacionados
à ocupação, cujas variações nos meses pós-setembro de 2008 foram, de forma
geral, negativas para homens e mulheres, novamente com variações relativas um
pouco mais acentuadas no caso das mulheres (-3,13% contra -1,57%). Em anos
anteriores, a ocupação feminina crescia mais, relativamente, quando comparada
à ocupação masculina. Ou seja, parece que a crise refreou um processo, até então
existente, de feminização do mercado de trabalho. Na análise por raça/cor das
trabalhadoras, verifica-se que foram as mulheres negras as que, proporcionalmen-
te, menos perderam ocupações no período, confirmando os dados relativos ao
desemprego (ver gráfico 14).
48 impacto da Crise sobre as mulheres

Gráfico 14
Variação do nível de ocupação em períodos selecionados, segundo sexo e cor/raça.
Regiões Metropolitanas, 2008 e 2009.

4,0%

1,6% 3,3%

3,0%

- 1,6% - 3,1% - 4,5% - 1,8%

Homens Mulheres Mulheres brancas Mulheres negras

Ago08 / Jan08 Abril09 / Set08

Fonte: Pesquisa Mensal de Emprego/IBGE.

A observação dos dados de desemprego e ocupação parece revelar uma


contradição, pois se a ocupação cai mais entre as mulheres, seria de se esperar que
houvesse um maior aumento do desemprego para elas, em comparação aos tra-
balhadores. No entanto, o que justifica a menor elevação na taxa de desemprego
entre as mulheres parece ser a inatividade que as acomete mais intensamente no
período de crise. Desse modo, as trabalhadoras que perdem seus postos de tra-
balho não se tornam necessariamente desempregadas, pois desistem de procurar
emprego e caem na inatividade. Estas mulheres não contribuem, portanto, para o
cálculo da taxa de desemprego e, por isso, as taxas masculinas acabam revelando-
se superiores às femininas.
Desagregando os dados segundo os setores de atividade econômica, obser-
va-se que as maiores quedas relativas na ocupação feminina ocorreram na indús-
tria extrativa e de transformação, produção e distribuição de eletricidade, gás e
água (-8,38%) e no comércio, reparação de veículos e objetos pessoais (-5,82%).
Entre os homens, as maiores quedas relativas foram em serviços domésticos
(-5,66%) e também na indústria (-4,81%) (ver gráfico 15). Foi realmente o setor
industrial o mais afetado neste primeiro momento de crise, tal como apontado
em diversos estudos realizados a partir de dados do Caged e das pesquisas do-
miciliares de emprego. Seria de se esperar, portanto, que, tanto para homens,
quanto para mulheres, fosse esse o setor com maiores taxas de desligamentos.
CAPÍTULO 3 49

Interessante notar, porém, que, apesar de ser a indústria um campo de traba-


lho altamente masculinizado, foram as trabalhadoras as que, proporcionalmente,
mais perderam empregos neste setor. E entre essas mulheres, as negras foram
ligeiramente mais afetadas na perda de ocupações industriais: - 9,96%, frente a
uma taxa de -7,73% para as brancas. Ou seja, a crise provocou um aprofunda-
mento do perfil masculino e branco da indústria brasileira18.

Gráfico 15
Variação do nível de ocupação entre setembro/2008 e abril/2009, segundo sexo e
setor de atividade. Regiões Metropolitanas.

-1,3%
17,5% 3,0% 4,3% 0,7%

- 4,8% - 3,2% - 5,8% -1,3% 2,3% - - 5,7% - 4,6%

- 3,0%
- 8,4%

- 0,9%

Indústria, água, Comércio, reparação Intermediação financeira, Adm. Pública, Outros serviços
Construção civil Serviços domésticos
luz e gás de veículos, etc atividades imobiliárias saúde, educação, etc

Homem Mulher

Fonte: Pesquisa Mensal de Emprego/IBGE.

Outro aspecto merecedor de destaque refere-se às atividades de trabalho


doméstico que, conforme mostra o gráfico 15, desempregaram proporcional-
mente muito mais homens do que mulheres: -5,66% e -0,89%, respectivamente19.
O que estes dados parecem mostrar é que o trabalho doméstico executado por
homens não se configura em um bem de primeira necessidade para as famílias,
podendo ser mais facilmente dispensado do que o executado por mulheres. Isso
ocorre devido à estrutura diferenciada do mercado de trabalho feminino e mas-

18. Segundo a PNAD 2007, 17,4% dos trabalhadores homens e 12,7% das mulheres estavam empregados/as no
setor industrial. Considerando-se a perspectiva racial, tem-se que 11,4% das mulheres negras e 13,9% das mulheres
brancas estavam neste mesmo campo.
19. A queda do emprego doméstico para mulheres foi toda concentrada entre aquelas de cor/raça branca. Para elas,
verificou-se, pelos dados da PME, redução de 2,52% no nível de ocupação, enquanto para as negras verificou-se uma
estabilidade no total de trabalhadoras deste setor, com um ligeiro crescimento de 0,06% para o período posterior a
setembro de 2008.
50 impacto da Crise sobre as mulheres

culino, no qual as atividades desenvolvidas por trabalhadores e trabalhadoras do-


mésticas são intrinsecamente diferentes: enquanto a eles cabem ocupações como
jardineiro, caseiro e motorista, às mulheres cabem as tarefas de cuidado com casa
e crianças, que se constituem em atividades fundamentais para a reprodução co-
tidiana das famílias. Abrir mão do trabalho exercido por esta trabalhadora parece
ser, portanto, algo mais “custoso” para as famílias, mas especialmente para as
mulheres, pois o trabalho dito “reprodutivo” lhes impõe jornadas maiores e mais
intensas de trabalho e impacta decisivamente suas oportunidades de entrada e
permanência no mercado de trabalho.
Finalmente, nota-se que a crise econômica produziu – nos sete meses se-
guintes a sua instalação no país – certa substituição da mão de obra masculina
pela feminina nos empreendimentos da construção civil. De fato, os dados da
PME apontam para uma queda de pouco mais de 3% no conjunto de postos ocu-
pados por homens neste setor, enquanto há uma elevação da ocupação feminina
da ordem de 17%. Este movimento de feminização da construção civil já vinha
sendo verificado em períodos anteriores: nos meses de janeiro a agosto de 2008,
houve crescimento de mais de 23% no total de mulheres empregadas no setor
e de apenas 6% entre os homens. A crise, portanto, não produziu impactos no
sentido de reversão deste fenômeno, tendo reduzido a velocidade do crescimento
das ocupações masculina e feminina, com mais intensidade para as primeiras.
Vale mencionar, ainda, a existência de movimentos de sentidos opostos para
trabalhadoras brancas e negras no setor da construção civil. Nos oito primeiros
meses de 2008 podia-se verificar um crescimento no nível de ocupação significati-
vamente mais intenso para brancas do que para negras: 32,40% e 12,23%, respecti-
vamente. Este processo de “embranquecimento” da força de trabalho feminina da
construção civil foi intensificado no período pós-setembro, pois houve aumento da
ocupação para mulheres brancas (47,6%) e queda para as negras (-13,76%).
O detalhamento por posição na ocupação é ainda mais revelador. Foram
os/as trabalhadores/as ocupados/as em postos de trabalho de pior qualidade
aqueles que mais perderam seus empregos, o que reforça a fragilidade das ocu-
pações com pouco ou nenhum vínculo empregatício frente a qualquer cenário
econômico desfavorável (ver gráfico 16). A maior queda na ocupação feminina
ocorreu entre as empregadas sem carteira no setor privado (-13,53%),20 dando
elementos para justificar uma aparente divergência de resultados entre a PME e
o Caged, que aponta uma leve tendência à feminização do mercado de trabalho
formal após setembro de 2008, tal como se verá a seguir21. Ou seja, as demissões

20. Entre as negras, este percentual alcança superiores 17,17%, contra 12% para as brancas.
21. Deve-se observar, entretanto, que a divergência persiste, pois as informações da PME revelam um crescimento do
emprego com carteira assinada entre os homens e uma queda entre as mulheres, diferença que pode ser explicada, por
exemplo, pelo fato de o Caged considerar todo o território nacional, e não apenas as regiões metropolitanas.
CAPÍTULO 3 51

enfrentadas pelas mulheres no período de crise se deram especialmente entre


aquelas que não contavam com carteira de trabalho assinada.

Gráfico 16
Variação do nível de ocupação entre setembro/2008 e abril/2009, segundo sexo e
posição na ocupação. Regiões Metropolitanas.

0.2% 0.8% 8.9%

- 5.7% - 3.7% -0.6% -10.1% -2.2% -0.9% -13.7%

-2.7%

-3.4%
-13.5%

- 0.9%

Household Civilian With formal Without formal Own-account Employer Unpaid


work and military contract contract
civil service
Men Women

Fonte: Pesquisa Mensal de Emprego/IBGE.

No mesmo período, houve um aumento na ocupação feminina no trabalho


sem remuneração, indicando que, no contexto desta crise econômica, os postos
de trabalho que se abriram para as mulheres foram aqueles de natureza mais
precária, para os quais não há remuneração para o trabalho realizado. Uma das
hipóteses é a de que as mulheres antes empregadas em outras ocupações, desem-
pregadas ou inativas tenham tido que se inserir nos empreendimentos familiares
– talvez substituindo trabalhadores que tiveram que ser desligados – na condição
de colaboradoras, que trabalham, mas não têm renda própria. Este, que já era um
cenário historicamente vivenciado pelas mulheres22, foi intensificado, revertendo
uma tendência anterior de queda (no período janeiro a agosto de 2008 verificou-
se queda de quase 17% neste tipo de ocupação e crescimento nas ocupações de
maior qualidade – servidoras públicas e empregadas com carteira) e reafirmando
os valores sexistas fundantes da sociedade brasileira.

22. Tal como apontado na seção 3.1 deste artigo.


52 impacto da Crise sobre as mulheres

Entre os/as trabalhadores/as ocupados/as na categoria empregadores, ou seja,


donos de seus próprios negócios, verifica-se uma redução no nível de ocupação tan-
to para homens quanto para mulheres, em maior intensidade para elas, de -0,94%
e -2,75%, respectivamente. Entre as empregadoras negras, essa queda alcança sig-
nificativos 26,5%, enquanto entre as brancas nota-se até mesmo criação deste tipo
de ocupação, que alcançou pouco mais de 4%, no período de setembro/2008 a
abril/2009. Pode-se imaginar que a maior precariedade dos empreendimentos femi-
ninos e, dentre estes, dos de propriedade de mulheres negras, seja o principal fator a
explicar as desigualdades verificadas neste contexto de crise internacional.
Já para os trabalhadores do sexo masculino, a principal redução nos postos de
trabalho após setembro de 2008 foi justamente entre os não-remunerados, para os
quais se verificou uma queda de quase 14%, intensificando movimento verificado
nos seis meses imediatamente anteriores, quando se observou redução de 3% neste
tipo de ocupação. Houve também uma redução significativa no total de ocupados
sem carteira assinada (-10,08%), revertendo tendência anterior de aumento deste
tipo de ocupação e, diferentemente do observado para as ocupadas do sexo femini-
no, verificou-se um ligeiro crescimento nos postos com carteira assinada (0,82%),
um pouco mais intenso do que o encontrado nos primeiros oito meses de 2008.
De forma geral, o que os dados da PME e da PED permitem inferir é que
há mesmo impactos diferenciados da crise conforme o sexo e a cor/raça dos/as
trabalhadores/as. A estrutura do mercado de trabalho brasileiro, sua segmentação
por sexo e suas desigualdades determinam a forma como o emprego masculino e
feminino variam em contextos de retração econômica.
Nesse sentido, parece existir um movimento de freio na feminização do
mercado de trabalho, caracterizado pela retirada das mulheres do mercado em
direção à inatividade, enquanto os homens seguem buscando emprego, contri-
buindo, assim, para a ampliação de suas taxas de desemprego. Ademais, reforça-se
a precariedade do trabalho feminino, pois os novos postos gerados no contexto
de crise estão concentrados entre aqueles sem remuneração, enquanto para os
homens este tipo de trabalho se reduz no período.
Importante, também, perceber como o emprego doméstico remunerado,
exercido por cerca de 17% das mulheres ocupadas, reveste-se de importância
para a sociedade brasileira, pois, mesmo no cenário de crise econômica, prati-
camente não há variações no nível de ocupação desta categoria, reiterando a
essencialidade deste trabalho para a reprodução das famílias e para o funciona-
mento do país. A perda de emprego na indústria e a feminização da constru-
ção civil são também fenômenos verificados neste contexto e que merecem ser
acompanhados ao longo dos próximos meses.
CAPÍTULO 3 53

Finalmente, vale dizer que os dados das pesquisas domiciliares de emprego


reafirmam as desigualdades de remuneração entre homens e mulheres. Com a
crise, houve uma queda nos rendimentos médios de forma geral, não havendo
muitas evidências de que foi mais intensa para um ou outro grupo.

O mercado de trabalho formal: dados do Caged23�


Os resultados apresentados até aqui, com base nas pesquisas domiciliares
de emprego, possibilitaram uma análise do mercado de trabalho global, ou seja,
tanto daquelas ocupações precárias e com pouco vínculo e proteção social, quanto
daquelas de maior qualidade e proteção e, inclusive, da categoria de empregado-
res. É interessante, porém, conhecer em maior nível de detalhamento o funciona-
mento do mercado de trabalho formal e suas reações frente a um quadro de crise,
pois a destruição de ocupações formais gera consequências distintas tanto para
trabalhadores, quanto para empresas e mesmo para o governo – que tem reduzida
sua arrecadação e ampliados seus gastos no pagamento, por exemplo, do benefício
do seguro-desemprego. Os dados do Caged permitem este tipo de análise mais
aprofundada do mercado formal, pois trazem informações sobre desligamentos e
admissões de todos os trabalhadores com carteira assinada.
A partir da tabela 10, verifica-se claramente que os primeiros efeitos da
crise internacional relativos ao emprego formal foram sentidos na indústria de
transformação e na construção civil, confirmando movimento já verificado nos
dados da PME. Sob a perspectiva de gênero, este fato merece grande atenção. A
indústria de transformação e a construção civil são, tradicionalmente, setores de
atividade econômica masculinos. Nesse sentido, se os impactos da crise interna-
cional sobre o emprego, até o momento, foram mais seriamente verificados nesses
setores, espera-se que os homens tenham sido mais afetados.
Assim como aponta a PME, os dados do Caged confirmam que, em termos
absolutos, foram os homens que perderam mais postos de trabalho no setor in-
dustrial. Como este foi o setor mais afetado pela crise, os movimentos gerais do
emprego formal foram por ele determinados. Neste contexto, no período anali-
sado, ocorreu uma eliminação de 585.912 postos de trabalho formais, dos quais
apenas 5.273 eram ocupados por mulheres (0,90%). Em termos relativos, o es-
toque de trabalhadores homens reduziu-se 2,85% após o período de sete meses
analisado, enquanto a redução no contingente de mulheres ocupadas no mercado
formal foi de apenas 0,05%. Nesse sentido, pode-se sugerir a existência de uma
“feminização” do mercado de trabalho formal, contrastando com a tendência ve-
rificada na análise do mercado metropolitano, a partir da PME.

23. As análises relativas aos dados oriundos do Caged não contemplam a perspectiva racial, por se tratar de um regis-
tro administrativo que ainda não garante o adequado preenchimento do quesito cor/raça.
54 impacto da Crise sobre as mulheres

Tabela 10
Variação absoluta e relativa* de empregos com carteira assinada, por subsetores de
atividade econômica, segundo sexo. Brasil, de out/2007 a abril/2008 e de out/2008
a abril/2009.
Saldo CAGED - Outubro/07 a Abril/08 Saldo CAGED - Outubro/08 a Abril/09

SUSETORES DE ATIVIDADE Homem Mulher Total Homem Mulher Total


ECONÔMICA

Var. Ab- Var. Re- Var. Ab- Var. Re- Var. Ab- Var. Re- Var. Ab- Var. Re- Var. Ab- Var. Re- Var. Ab- Var. Re-
soluta lativa1 soluta lativa1 soluta lativa1 soluta lativa1 soluta lativa1 soluta lativa1

Extrativa mineral 4.655 2,80% 984 5,55% 5.639 3,06% -5.650 -3,17% -268 -1,36% -5.918 -2,99%

Indústria de Transformação 71.637 1,40% 71.915 3,48% 143.552 2,00% -397.992 -7,41% -94.485 -4,22% -492.477 -6,48%

Ind. produtos minerais não metálicos 7.479 2,49% 1.348 3,54% 8.827 2,61% -12.451 -3,91% -329 -0,80% -12.780 -3,55%

Ind. metalúrgica 34.180 5,51% 5.252 6,51% 39.432 5,63% -67.032 -9,87% -4.524 -4,95% -71.556 -9,29%
Ind. mecânica 28.791 7,18% 5.737 7,92% 34.528 7,29% -41.745 -9,39% -7.298 -8,73% -49.043 -9,29%

Ind. material elétrico e comunicaçoes 8.210 4,71% 6.382 7,32% 14.592 5,58% -16.262 -8,55% -14.511 -14,62% -30.773 -10,63%

Ind. material transporte 23.212 5,38% 3.736 6,69% 26.948 5,53% -53.203 -11,21% -6.153 -9,71% -59.356 -11,03%
Ind. madeira e mobiliário -8.251 -2,18% 1.463 1,82% -6.788 -1,48% -23.790 -6,39% -3.618 -4,35% -27.408 -6,02%
Ind. papel, editorial e gráfica 4.559 1,73% 3.389 3,18% 7.948 2,15% -8.286 -3,04% -2.632 -2,30% -10.918 -2,82%
Ind. borracha, fumo, couros, peles,
5.733 2,65% 3.725 4,00% 9.458 3,06% -10.975 -4,94% 1.132 1,15% -9.843 -3,07%
similares

Ind. química, produtos farmacêuticos,


8.026 1,66% 5.549 2,72% 13.575 1,97% -22.747 -4,46% -8.410 -3,84% -31.157 -4,27%
veterinários, perfumaria

Ind. têxtil, vestuário e artefatos de tecidos 496 0,14% 10.306 1,80% 10.802 1,15% -18.879 -5,00% -24.400 -4,02% -43.279 -4,40%

Ind. calçados -254 -0,15% 7.023 4,30% 6.769 2,07% -16.806 -9,83% -15.770 -8,83% -32.576 -9,32%

Ind. produtos alimentícios, bebidas e


-40.544 -3,12% 18.005 3,50% -22.539 -1,24% -105.816 -7,93% -7.972 -1,43% -113.788 -6,01%
álcool etílico

Serviços industriais utilidade


4.987 1,75% 1.376 2,50% 6.363 1,88% -699 -0,24% 657 1,14% -42 -0,01%
pública

Construção civil 125.251 8,34% 10.089 9,63% 135.340 8,43% -63.082 -3,54% 3.745 2,96% -59.337 -3,11%

Comério 135.836 3,38% 111.732 4,25% 247.568 3,73% 5.855 0,14% 46.423 1,63% 52.278 0,74%
Comércio varejista 105.109 3,26% 97.191 4,20% 202.300 3,65% 3.909 0,11% 42.000 1,68% 45.909 0,78%
Comércio atacadista 30.727 3,86% 14.541 4,67% 45.268 4,09% 1.946 0,23% 4.423 1,29% 6.369 0,54%
Serviços 213.976 3,36% 185.418 3,63% 399.394 3,48% 27.537 0,41% 99.302 1,81% 126.839 1,03%
Instituiçoes crédito, seguros e
7.599 2,27% 8.883 2,50% 16.482 2,39% -1.436 -0,41% -165 -0,04% -1.601 -0,22%
capitalizaçao

Serv. com. e adm. imóveis, valores


90.063 3,87% 80.771 6,57% 170.834 4,81% -2.483 -0,10% 22.479 1,64% 19.996 0,52%
mobiliários, serv. técnico.

Serv. Transportes e comunicaçoes 33.135 2,12% 3.500 1,09% 36.635 1,94% -1.495 -0,09% 7.094 2,12% 5.599 0,28%

Serv. de alojamento, alimentaçao,


66.007 4,56% 55.180 3,39% 121.187 3,94% 15.823 1,02% 27.369 1,58% 43.192 1,31%
reparaçao, manutençao

Serv. médicos, odontológicos e


9.412 3,40% 25.917 2,98% 35.329 3,08% 9.205 3,11% 30.168 3,26% 39.373 3,23%
veterinários
Serv. Ensino 7.760 1,82% 11.167 1,59% 18.927 1,68% 7.923 1,79% 12.357 1,69% 20.280 1,73%

Administraçao pública direta e


2.978 0,90% 7.346 1,59% 10.324 1,30% -1.416 -0,42% -1.186 -0,25% -2.602 -0,32%
autárquica

Agropecuária -72.207 -5,45% -16.611 -7,24% -88.818 -5,71% -145.192 -10,71% -59.461 -22,48% -204.653 -12,63%

Total 487.113 2,55% 372.249 3,49% 859.362 2,89% -580.639 -2,85% -5.273 -0,05% -585.912 -1,84%

Fonte: MTE, CAGED. Elaboração: DISOC/IPEA.


Nota: * A variação relativa refere-se ao saldo líquido de admissões e desligamentos do período em análise dividido pelo esto-
que estimado de trabalhadores celetistas no início desse período. Para estimar o estoque de trabalhadores celetistas
no início de outubro de cada ano, utilizou-se o estoque de trabalhadores celetistas ativos em dezembro de 2007,
obtido por meio da RAIS, e ajustou-se tal resultado a partir da movimentação de emprego do CAGED. Por exemplo, o
estoque no início de outubro de 2007 equivale ao estoque de trabalhadores celetistas ativos em dezembro de 2007
subtraído do saldo líquido do CAGED no período de outubro de 2007 a dezembro de 2007.
CAPÍTULO 3 55

Nos setores da indústria de transformação e da construção civil, nota-se


que as mulheres foram menos atingidas no que diz respeito ao nível de ocupa-
ção. No início de outubro de 2008, 70,58% dos postos de trabalho da indústria
de transformação eram ocupados por homens. Passados sete meses após a crise
internacional, a participação dos homens no setor caiu 0,71 pontos percentuais,
indicando que o número de postos de trabalho ocupados por mulheres na indús-
tria caiu menos que proporcionalmente em relação à queda do número de postos
ocupados por homens. De fato, a redução no número de homens ocupados na
indústria foi de 7,41%, enquanto no número de mulheres foi de 4,22%, confor-
me se observa na tabela abaixo.
Esse processo de “feminização” do emprego formal é ainda mais curioso
na construção civil. No período analisado, o resultado líquido entre admissões e
desligamentos nesse setor foi -59.337. Desagregando esse resultado por sexo do
trabalhador, nota-se que a redução de postos de trabalho ocupados por homem
foi de 63.082. Ou seja, no mesmo período, o número de postos de trabalho ocu-
pados por mulheres na construção civil aumentou 3.745, revelando que ocorreu
uma substituição de homens por mulheres, a exemplo do verificado nos dados
da PME. Em termos relativos, observa-se que a queda no estoque de homens na
construção civil foi de 3,54%, enquanto a elevação no contingente de mulheres
ocupadas nesse setor foi de 2,96%.
Essas constatações bastante gerais, entretanto, não refletem o que ocorreu em
todos os ramos de atividade da indústria. Na indústria do material elétrico e de
comunicações, por exemplo, o estoque de mulheres ocupadas caiu 14,62% entre
outubro de 2008 e abril de 2009, enquanto o número de homens ocupados caiu
8,55%, indicando um movimento inverso do verificado para a indústria de trans-
formação de forma geral. Há que se considerar, também, que, apesar de se tratar
de um setor prioritariamente masculino, as mulheres têm significativa participação
em alguns subsetores da indústria de transformação, o que pode significar grande
número de demissões de mulheres, ainda que em menor proporção do que o veri-
ficado entre os homens. Esse é o caso das indústrias têxtil e de calçados, nas quais
61,64% e 51,10% do total de trabalhadores, respectivamente, eram mulheres no
início de outubro de 2008. Nesses dois subsetores da indústria, foram eliminadas
40.170 vagas femininas com carteira assinada nos últimos sete meses.
Outro setor que apresentou grande retração no estoque de empregos formais
no período analisado foi a agropecuária. No total, foram perdidos 204.653 postos
de trabalhos nesse setor, dos quais 59.461 (29,05%) eram ocupados por mulheres.
Não se deve atribuir, porém, tal resultado apenas à crise internacional. Pelo menos
56 impacto da Crise sobre as mulheres

grande parte dessa retração no emprego formal é explicada por fatores sazonais, em
especial à entressafra da cana-de-açúcar. Nota-se que no período compreendido
entre outubro de 2007 e abril de 2008, o saldo verificado foi de -88.818 vagas. Ou
seja, ainda que o resultado negativo na agropecuária para esse período fosse espera-
do, sua magnitude nos últimos sete meses foi bastante expressiva.
Ainda sobre a agropecuária, é interessante observar que os cortes também
não foram neutros em relação à composição do emprego no setor por sexo. A
redução no número de postos de trabalho ocupados por mulheres (-22,48%), em
termos relativos, foi bastante superior à registrada entre os homens (-10,71%).
Assim, nos sete últimos meses, a participação das mulheres no emprego na agro-
pecuária caiu 1,84 pontos percentuais.
Os setores terciários (comércio e serviços) registraram crescimento do empre-
go formal no período analisado. Isso não significa, contudo, que eles não foram
afetados pela crise internacional. Comparando-se os resultados dos últimos sete
meses com os obtidos no período outubro/2007 – abril/2008, nota-se que aqueles
foram bastante tímidos. No comércio, entre outubro de 2007 e abril de 2008, fo-
ram criados 247.568 empregos, enquanto entre outubro de 2008 e abril de 2009
esse número foi de apenas 52.278. Já nos serviços, foram 399.394 contra 126.839.
De todo modo, esses foram os setores que mais empregaram nos últimos
sete meses, em especial as mulheres. No comércio, praticamente todos os novos
postos de trabalho foram ocupados por mulheres: 46.423 (88,80%) de um total
de 52.278 postos gerados. Já nos serviços, do total de 126.839 vagas criadas nos
últimos sete meses, 99.302 (78,29%) foram ocupadas por mulheres. Nesse con-
texto, a participação das mulheres nos setores terciários cresceu no período (como
o estoque de emprego nesses setores é grande, a “feminização” do emprego formal
não acarretou grande alteração percentual na composição do emprego segundo
sexo. No comércio, a participação das mulheres aumentou 0,36%; nos serviços,
a elevação foi de 0,34%).
Os dados até aqui analisados revelam que a crise internacional afetou o mer-
cado de trabalho formal de maneira distinta, atingindo com maior intensidade a
indústria de transformação e a construção civil. Como consequência, os trabalha-
dores homens foram mais acometidos pelas demissões, uma vez que esses setores
de atividade econômica são tradicionalmente masculinos. Ressalta-se, entretanto,
que a crise internacional ainda não foi debelada e, confirmando-se os sinais de es-
tagnação na economia, a tendência é que o emprego em outros setores também
seja afetado, inclusive o trabalho doméstico, predominantemente feminino. Nesse
sentido, acompanhar as próximas movimentações do mercado de trabalho formal,
mantendo o enfoque na diferenciação de trabalhadores por sexo, parece relevante.
As constatações feitas até aqui também sugerem que o acompanhamento da
CAPÍTULO 3 57

dinâmica do mercado de trabalho nesse contexto de crise envolve não apenas uma
reflexão sobre o nível de ocupação e de desemprego, mas também uma discussão
sobre as estratégias do empresariado em relação aos critérios de demissão e admissão
de trabalhadores. O ambiente de incerteza provocado pela crise pode levar os empre-
sários a optarem por empregar de forma mais precária. Em termos práticos, isso pode
representar, por exemplo, uma substituição de salários altos por salários mais baixos.
A “feminização” do mercado de trabalho formal verificada no período anali-
sado, nesse sentido, pode ser uma expressão desse movimento. Certamente, deve-
se reconhecer que a “feminização” do mercado de trabalho brasileiro é um fenô-
meno em processo, e representa, sobretudo, a emancipação da mulher. Contudo,
é bastante provável que a substituição de trabalhadores do sexo masculino por
mulheres trabalhadoras nos níveis verificados neste estudo esteja revelando uma
estratégia de precarização do emprego no contexto de crise.
Sabe-se que a discriminação de mulheres ainda é bastante presente no mer-
cado de trabalho brasileiro, e esta se manifesta principalmente em mais baixos
salários em relação ao masculino. Os dados da tabela 11 abaixo confirmam que,
no período de outubro de 2008 a abril de 2009, os salários de admissão das
mulheres foram, inequivocamente, mais baixos que os salários de admissão dos
homens, controlada a escolaridade, em qualquer setor/subsetor de atividade eco-
nômica, seja ele predominantemente masculino ou feminino. Essa desigualdade
salarial foi ainda mais acentuada na faixa de escolaridade mais elevada, na qual as
mulheres foram admitidas com um salário inicial que corresponde, em média, a
65,39% do salário inicial dos homens admitidos.
Tabela 11
Razão entre o salário médio das trabalhadoras e dos trabalhadores admitidos com
carteira assinada, por subsetores de atividade econômica, segundo nível de escola-
ridade. Brasil, out/2008 a abril/2009.

Salário Médio dos Admitidos - Mulheres / Homens (em %)


SUSETORES DE ATIVIDADE ECONÔMICA
Até 8 anos de estudo (até Entre 9 e 11 anos de estudo (até 12 ou mais anos de estudo (pelo
fundamental completo) médio completo) menos superior incompleto)

Extrativa mineral 74,97% 82,67% 63,90%

Indústria de Transformação 83,61% 76,84% 61,48%

Ind. produtos minerais não metálicos 90,40% 90,98% 56,01%

Ind. metalúrgica 76,09% 78,70% 59,04%

Ind. mecânica 63,21% 75,31% 62,87%

Ind. material elétrico e comunicaçoes 77,38% 79,33% 60,04%

Ind. material transporte 73,11% 80,40% 64,53%

Ind. madeira e mobiliário 86,13% 87,46% 67,96%

Ind. papel, editorial e gráfica 81,62% 81,66% 75,53%

Ind. borracha, fumo, couros, peles, similares 83,53% 80,79% 64,61%

Ind. química, produtos farmacêuticos, veterinários,


86,20% 82,22% 67,88%
perfumaria

Ind. têxtil, vestuário e artefatos de tecidos 90,79% 89,33% 64,09%

Ind. calçados 87,26% 83,41% 65,66%

Ind. produtos alimentícios, bebidas e álcool etílico 89,90% 82,60% 65,00%

Serviços industriais utilidade pública 86,92% 86,79% 67,04%

Construção civil 79,83% 86,26% 63,42%

Comério 87,38% 89,22% 70,58%

Comércio varejista 87,56% 90,40% 77,81%

Comércio atacadista 88,43% 89,53% 67,74%

Serviços 76,35% 82,26% 69,61%

Instituiçoes crédito, seguros e capitalizaçao 68,91% 85,50% 68,61%


Serv. com. e adm. imóveis, valores mobiliários, serv. técnico. 76,82% 80,95% 63,63%

Serv. Transportes e comunicaçoes 69,57% 79,25% 68,86%

Serv. de alojamento, alimentaçao, reparaçao, manutençao 82,92% 82,96% 80,04%


Serv. médicos, odontológicos e veterinários 86,99% 89,08% 72,23%

Serv. Ensino 86,24% 83,54% 85,35%

Administraçao pública direta e autárquica 76,35% 72,91% 60,93%

Agropecuária 87,84% 82,46% 63,10%

Total 80,63% 81,26% 65,39%

Fonte: MTE, CAGED. Elaboração: DISOC/IPEA.

Portanto, o atual momento de crise econômica parece aumentar os desafios


no que diz respeito à compatibilização do acesso ao trabalho pelas mulheres, que
faz parte do processo de emancipação feminina e minimiza as formas de domina-
ção patriarcal no espaço doméstico, com a eliminação das desigualdades existen-
tes na divisão sexual do trabalho.
CAPÍTULO 4 59

4 Considerações Finais
Num contexto de economia mundializada, em que investimentos, capitais, pessoas
e empresas de dezenas de países se relacionam diretamente, se deslocam, se afetam
e se misturam, dificilmente uma crise financeira e econômica desencadeada em um
país central deixa de ser sentida em muitos outros. A atual crise, desencadeada em
2008 nos Estados Unidos, vem fazendo sentir seus efeitos nos últimos meses no
Brasil. Apesar de um contexto interno que permite que esses efeitos sejam consi-
deravelmente diminuídos em comparação ao que poderia estar ocorrendo e ao que
vem acontecendo em outras economias, nosso mercado de trabalho vem sofrendo
impactos em diversos de seus setores. De maneira geral, pode-se dizer que os mo-
vimentos de expansão do emprego e de formalização que vinham ocorrendo desde
o ano de 2004 no mercado de trabalho brasileiro foram refreados e que os setores
primário e secundário da economia foram os mais atingidos. Este tipo de análise já
está sendo feito nos últimos meses por variadas instituições.
O objetivo do presente documento foi analisar os dados recentes sob a pers-
pectiva das relações de gênero. Se homens e mulheres têm inserções bastante dife-
renciadas no mundo do trabalho, provavelmente serão diferentemente atingidos
num contexto de crise. Esta hipótese inicial foi confirmada com o exame dos da-
dos das pesquisas mensais de emprego e do cadastro de desligamentos e admissões
do Ministério do Trabalho e Emprego.
Como se viu, o processo de feminização do mercado de trabalho, obser-
vado nos últimos anos, foi refreado. Apesar de os homens terem perdido mais
empregos que as mulheres no setor formal – e isto porque os setores de atividade
econômica mais atingidos, indústria da transformação e construção civil, são tra-
dicionalmente de ocupação masculina –, as mulheres, em geral, se retiraram mais
do mercado de trabalho. A população que se encontra à disposição do mercado
– ocupada ou à procura de ocupação – se masculinizou no período que sentiu os
maiores impactos da crise.
Cada setor de atividade econômica tem seus próprios mecanismos de rea-
ção, assim como se comportam de maneira diferenciada os setores mais ou menos
estruturados da economia. Apesar da limitação dos dados, e da própria natureza
conjuntural da análise, incapaz de captar todas as tendências e movimentos exis-
tentes, as informações disponíveis sugerem que pode estar havendo uma preca-
rização geral do emprego como reação à crise, que se manifesta na elevação da
inatividade e também no aumento de mulheres em postos mais precários, como
trabalho sem remuneração e trabalho sem carteira assinada. Por outro lado, há
que se mencionar evidências de uma “feminização” do mercado de trabalho for-
mal, o que é positivo, mas pode também expressar uma estratégia do empresaria-
do em contratar de forma mais precária.
60 impacto da Crise sobre as mulheres

O período de análise aqui coberto ainda é curto para qualquer avaliação defi-
nitiva sobre as consequências produzidas neste cenário de retração econômica sobre
homens e sobre mulheres. É importante acompanhar os movimentos do mercado
de trabalho nos próximos meses no sentido de que se possa perceber a continuidade
ou não das tendências aqui apontadas. Neste sentido, vale considerar que, ainda que
sejam, de maneira geral, os setores da indústria e da construção civil os mais afeta-
dos neste primeiro momento, os efeitos de encadeamento da economia podem, em
um futuro próximo, produzir impactos também em outros setores cuja presença
feminina é significativa, a exemplo dos de serviços e comércio.
Nas últimas décadas, o setor de serviços foi o que mais expandiu o emprego
e mais contribuiu para a geração de postos de trabalho, com um crescimento sis-
temático de sua participação no emprego urbano. Este processo de terciarização
da economia brasileira foi marcado pela dualidade: expandiram-se tanto os servi-
ços tradicionais como os novos serviços, mas é inegável o significativo papel destas
atividades para o emprego. Nestes tempos de crise econômica, é preciso destacar
a característica de “colchão anticíclico” do setor de serviços. Deve-se, contudo, ter
consciência de que a heterogeneidade que marca as diferentes dinâmicas de suas
atividades expressa desproteção laboral. Para as mulheres, este significado é ainda
mais forte, pois esta flexibilidade permite uma triste complementaridade entre
o trabalho produtivo de bens materiais e aquele responsável pela reprodução da
vida, que cristaliza a invisibilidade do trabalho feminino.
Muitos são os estudos internacionais que concluem que a igualdade entre
mulheres e homens é um elemento não somente de consolidação dos direitos da
cidadania, como também de desenvolvimento econômico e social24. Com vistas a
promover a igualdade de gênero, é de crucial importância a garantia de oportuni-
dades para o acesso, permanência e ascensão de homens e mulheres no mundo do
trabalho. O trabalho das mulheres deve ser valorizado em todas as suas formas e
homens e mulheres devem ter oportunidades e direitos equitativos.
Neste sentido, é de grande importância compreender os efeitos diferencia-
dos da atual crise econômica sobre os distintos grupos populacionais, uma vez
que vivemos um cenário em que se colocam sob risco os avanços – uns mais tí-
midos, outros menos – obtidos ao longo dos últimos anos, no sentido da redução
da distância existente entre homens e mulheres. É preciso, portanto, evitar que os
efeitos da crise se aprofundem e coloquem a perder as vitórias obtidas no sentido
da promoção da igualdade e da diminuição das injustificáveis discriminações vi-
venciadas pelas mulheres brasileiras no mundo do trabalho.

24. Um reflexo disto é a inserção, por exemplo, do objetivo de “promover a igualdade entre os sexos e a autonomia
das mulheres” entre os chamados Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da Organização das Nações Unidas,
pactuados entre centenas de países no ano 2000.
CAPÍTULO 5 61

5 Referências bibliográficas

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trabalho secundária? Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia,
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CAPÍTULO 6 63

6 Anexo Estatístico
Tabela 1
População ocupada de 10 anos ou mais de idade, pelos subsetores de serviços,
segundo cor/raça e sexo. Brasil, 2007.
Subsetores Cor/raça
de Serviços Indígena Branca Preta Amarela Parda Sem decl. Total
Homem
Comércio 16.438 4.334.219 549.532 60.839 3.019.475 5.923 7.986.426
Transportes 10.275 1.544.375 228.446 11.280 1.207.085 0 3.001.461
Comunicações 217 229.274 32.739 1.309 130.097 0 393.636
Inst. Financ. 632 369.806 24.535 7.017 97.965 0 499.955
Adm. Pública 16.486 1.952.070 288.771 20.512 1.413.103 676 3.691.618
Técn. Prof. 5.846 1.060.589 93.067 18.068 443.562 2.072 1.623.204
Serv. Pr. Empr. 7.999 1.284.830 302.178 11.288 1.115.542 869 2.722.706
Serv. Sociais 3.379 1.022.892 144.612 16.221 537.212 1.167 1.725.483
Rep. e Cons. 6.873 953.908 186.924 10.454 831.690 613 1.990.462
Hosp. e Alim. 5.236 789.604 128.362 9.695 681.765 455 1.615.117
Dom. Remun. 1.936 167.821 45.158 363 202.475 508 418.261
Serv. Pessoais 7.021 376.705 68.495 3.579 280.148 411 736.359
Serv. Distr. 764 117.199 29.856 1.528 91.398 0 240.745
Total 83.102 14.203.292 2.122.675 172.153 10.051.517 12.694 26.645.433
Mulher
Comércio 13.252 3.536.052 361.361 53.883 2.268.190 2.572 6.235.310
Transportes 918 155.527 15.396 2.164 79.209 0 253.214
Comunicações 1.551 146.495 17.013 2.129 71.094 0 238.282
Inst. Financ. 949 361.171 20.942 9.167 96.064 0 488.293
Adm. Pública 14.004 3.081.053 374.495 32.314 1.876.617 0 5.378.483
Técn. Prof. 1.132 809.487 70.165 10.000 287.639 993 1.179.416
Serv. Pr. Empr. 5.803 601.807 81.708 4.371 317.196 451 1.011.336
Serv. Sociais 11.312 2.120.665 234.204 24.135 961.001 1.328 3.352.645
Rep. e Cons. 509 78.371 5.369 414 34.036 233 118.932
Hosp. e Alim. 8.323 827.782 148.811 9.424 739.921 1.568 1.735.829
Dom. Remun. 22.074 2.436.955 848.410 21.533 2.984.472 0 6.313.444
Serv. Pessoais 10.773 1.297.728 215.840 22.687 945.439 233 2.492.700
Serv. Distr. 0 44.674 4.309 0 15.865 0 64.848
Total 90.600 15.497.767 2.398.023 192.221 10.676.743 7.378 28.862.732
Total
64 impacto da Crise sobre as mulheres

Subsetores Cor/raça
de Serviços Indígena Branca Preta Amarela Parda Sem decl. Total
Comércio 29.690 7.870.271 910.893 114.722 5.287.665 8.495 14.221.736
Transportes 11.193 1.699.902 243.842 13.444 1.286.294 0 3.254.675
Comunicações 1.768 375.769 49.752 3.438 201.191 0 631.918
Inst. Financ. 1.581 730.977 45.477 16.184 194.029 0 988.248
Adm. Pública 30.490 5.033.123 663.266 52.826 3.289.720 676 9.070.101
Técn. Prof. 6.978 1.870.076 163.232 28.068 731.201 3.065 2.802.620
Serv. Pr. Empr. 13.802 1.886.637 383.886 15.659 1.432.738 1.320 3.734.042
Serv. Sociais 14.691 3.143.557 378.816 40.356 1.498.213 2.495 5.078.128
Rep. e Cons. 7.382 1.032.279 192.293 10.868 865.726 846 2.109.394
Hosp. e Alim. 13.559 1.617.386 277.173 19.119 1.421.686 2.023 3.350.946
Dom. Remun. 24.010 2.604.776 893.568 21.896 3.186.947 508 6.731.705
Serv. Pessoais 17.794 1.674.433 284.335 26.266 1.225.587 644 3.229.059
Serv. Distr. 764 161.873 34.165 1.528 107.263 0 305.593
Total 173.702 29.701.059 4.520.698 364.374 20.728.260 20.072 55.508.165

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.

Tabela 2
População ocupada de 10 anos ou mais de idade, pelos subsetores de serviços,
segundo idade e sexo. Brasil, 2007.
Faixas de idade (em anos)
Subsetores
de Serviços 10 15 18 25 30 40 50 60 65
Total
a 14 a 17 a 24 a 29 a 39 a 49 a 59 a 64 ou mais
Homem
Comércio 145.950 347.018 1.666.604 1.156.997 1.855.287 1.452.728 906.358 211.409 244.075 7.986.426
Transportes 23.434 45.845 342.681 361.716 813.000 776.941 480.878 95.802 61.164 3.001.461
Comunicações 0 5.701 92.455 81.242 107.055 66.084 37.861 1.869 1.369 393.636
Inst. Financ. 0 6.752 94.360 92.200 116.665 129.041 49.020 8.179 3.738 499.955
Adm. Pública 2.571 41.867 463.130 438.462 959.607 988.568 599.350 130.274 67.789 3.691.618
Técn. Prof. 5.874 51.086 332.115 269.851 406.276 263.975 195.915 52.671 45.441 1.623.204
Serv. Pr. Empr. 24.935 52.385 399.744 373.082 737.426 613.218 357.207 84.724 79.985 2.722.706
Serv. Sociais 13.072 42.354 294.338 257.432 420.100 340.860 221.901 66.917 68.509 1.725.483
Rep. e Cons. 41.209 126.406 376.839 252.025 474.227 394.816 220.548 55.664 48.728 1.990.462
Hosp. e Alim. 38.311 90.865 333.967 208.988 334.039 281.450 221.200 55.866 50.431 1.615.117
Dom. Remun. 8.390 17.424 42.209 53.740 103.488 78.722 66.482 26.134 21.672 418.261
Serv. Pessoais 11.000 24.795 143.557 118.006 183.435 127.414 76.530 25.208 26.414 736.359
Serv. Distr. 224 5.371 42.403 39.682 69.298 53.379 22.830 2.897 4.661 240.745
Total 314.970 857.869 4.624.402 3.703.423 6.579.903 5.567.196 3.456.080 817.614 723.976 26.645.433
CAPÍTULO 6 65

Faixas de idade (em anos)


Subsetores
de Serviços 10 15 18 25 30 40 50 60 65
Total
a 14 a 17 a 24 a 29 a 39 a 49 a 59 a 64 ou mais
Mulher
Comércio 80.556 181.995 1.440.585 1.051.528 1.522.694 1.141.559 576.594 120.996 118.803 6.235.310
Transportes 949 8.750 48.148 42.055 71.463 61.630 17.460 1.930 829 253.214
Comunicações 949 3.621 81.450 58.661 57.583 26.385 7.596 1.812 225 238.282
Inst. Financ. 0 17.328 140.179 88.638 117.471 92.518 30.580 1.127 452 488.293
Adm. Pública 2.649 30.269 464.281 638.819 1.474.045 1.662.791 928.913 128.707 48.009 5.378.483
Técn. Prof. 3.430 37.890 285.824 232.293 292.862 197.518 107.304 11.645 10.650 1.179.416
Serv. Pr. Empr. 4.330 19.616 171.367 157.205 282.608 225.267 119.778 17.411 13.754 1.011.336
Serv. Sociais 13.169 70.088 591.692 563.799 910.455 728.662 353.420 65.458 55.902 3.352.645
Rep. e Cons. 2.274 5.923 25.080 15.831 32.319 27.286 7.075 2.633 511 118.932
Hosp. e Alim. 21.182 61.351 310.996 223.156 460.800 385.407 208.769 34.160 30.008 1.735.829
Dom. Remun. 98.566 260.142 837.655 748.002 1.750.638 1.579.390 808.398 137.370 93.283 6.313.444
Serv. Pessoais 18.943 67.077 333.681 299.197 642.683 554.564 383.170 98.395 94.990 2.492.700
Serv. Distr. 0 554 21.763 14.199 14.075 8.121 4.874 619 643 64.848
Total 246.997 764.604 4.752.701 4.133.383 7.629.696 6.691.098 3.553.931 622.263 468.059 28.862.732
Total
Comércio 226.506 529.013 3.107.189 2.208.525 3.377.981 2.594.287 1.482.952 332.405 362.878 14.221.736
Transportes 24.383 54.595 390.829 403.771 884.463 838.571 498.338 97.732 61.993 3.254.675
Comunicações 949 9.322 173.905 139.903 164.638 92.469 45.457 3.681 1.594 631.918
Inst. Financ. 0 24.080 234.539 180.838 234.136 221.559 79.600 9.306 4.190 988.248
Adm. Pública 5.220 72.136 927.411 1.077.281 2.433.652 2.651.359 1.528.263 258.981 115.798 9.070.101
Técn. Prof. 9.304 88.976 617.939 502.144 699.138 461.493 303.219 64.316 56.091 2.802.620
Serv. Pr. Empr. 29.265 72.001 571.111 530.287 1.020.034 838.485 476.985 102.135 93.739 3.734.042
Serv. Sociais 26.241 112.442 886.030 821.231 1.330.555 1.069.522 575.321 132.375 124.411 5.078.128
Rep. e Cons. 43.483 132.329 401.919 267.856 506.546 422.102 227.623 58.297 49.239 2.109.394
Hosp. e Alim. 59.493 152.216 644.963 432.144 794.839 666.857 429.969 90.026 80.439 3.350.946
Dom. Remun. 106.956 277.566 879.864 801.742 1.854.126 1.658.112 874.880 163.504 114.955 6.731.705
Serv. Pessoais 29.943 91.872 477.238 417.203 826.118 681.978 459.700 123.603 121.404 3.229.059
Serv. Distr. 224 5.925 64.166 53.881 83.373 61.500 27.704 3.516 5.304 305.593
Total 561.967 1.622.473 9.377.103 7.836.806 14.209.599 12.258.294 7.010.011 1.439.877 1.192.035 55.508.165

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.
66 impacto da Crise sobre as mulheres

Tabela 3
População ocupada de 10 anos ou mais de idade, pelos subsetores de serviços,
segundo escolaridade e sexo. Brasil, 2007.
Subsetores de Faixas de escolaridade (em anos de estudo)
Serviços 0 1a4 5a8 9 a 11 12 a 14 15 ou mais Não det. Total
Homem
Comércio 409.451 1.210.931 2.214.664 3.200.700 450.095 468.172 32.413 7.986.426
Transportes 142.918 680.735 1.044.366 966.792 81.084 76.144 9.422 3.001.461
Comunicações 2.412 18.983 52.084 203.333 52.101 62.503 2.220 393.636
Inst. Financ. 2.909 13.967 23.128 151.128 104.944 203.422 457 499.955
Adm. Pública 105.872 342.446 471.565 1.433.691 415.091 912.713 10.240 3.691.618
Técn. Prof. 20.677 63.965 159.999 591.151 200.176 585.688 1.548 1.623.204
Serv. Prest.
199.828 524.039 710.319 973.195 126.414 175.793 13.118 2.722.706
Empr.
Serv. Sociais 52.192 164.325 265.792 542.270 194.642 501.042 5.220 1.725.483
Rep. e Cons. 89.896 390.903 786.962 644.537 37.451 30.050 10.663 1.990.462
Hosp. e Alim. 86.813 327.664 524.297 565.309 59.064 46.319 5.651 1.615.117
Dom. Remun. 69.972 153.320 126.376 63.959 1.851 411 2.372 418.261
Serv. Pessoais 23.960 107.751 213.370 309.598 39.688 38.617 3.375 736.359
Serv. Distr. 11.618 41.032 56.845 76.915 21.857 31.209 1.269 240.745
Total 1.218.518 4.040.061 6.649.767 9.722.578 1.784.458 3.132.083 97.968 26.645.433
Mulher
Comércio 229.960 690.631 1.288.373 3.156.613 431.903 401.285 36.545 6.235.310
Transportes 4.286 19.530 45.921 120.805 32.975 29.697 0 253.214
Comunicações 1.546 1.058 14.222 141.950 37.222 41.641 643 238.282
Inst. Financ. 517 3.125 16.973 169.914 104.735 193.029 0 488.293
Adm. Pública 89.380 307.939 437.540 1.733.191 868.795 1.918.331 23.307 5.378.483
Técn. Prof. 10.790 27.048 85.719 486.251 179.501 386.683 3.424 1.179.416
Serv. Prest.
45.652 117.942 205.648 397.276 97.005 140.353 7.460 1.011.336
Empr.
Serv. Sociais 54.333 208.251 365.547 1.298.339 461.600 953.808 10.767 3.352.645
Rep. e Cons. 3.563 9.713 28.443 63.719 6.007 6.202 1.285 118.932
Hosp. e Alim. 95.698 322.326 569.773 622.178 59.784 54.140 11.930 1.735.829
Dom. Remun. 590.751 1.904.196 2.396.188 1.331.533 24.884 10.276 55.616 6.313.444
Serv. Pessoais 113.000 419.759 805.224 962.730 94.958 83.519 13.510 2.492.700
Serv. Distr. 946 4.234 3.646 21.552 16.347 17.492 631 64.848
Total 1.240.422 4.035.752 6.263.217 10.506.051 2.415.716 4.236.456 165.118 28.862.732
Total
CAPÍTULO 6 67

Subsetores de Faixas de escolaridade (em anos de estudo)


Serviços 0 1a4 5a8 9 a 11 12 a 14 15 ou mais Não det. Total
Comércio 639.411 1.901.562 3.503.037 6.357.313 881.998 869.457 68.958 14.221.736
Transportes 147.204 700.265 1.090.287 1.087.597 114.059 105.841 9.422 3.254.675
Comunicações 3.958 20.041 66.306 345.283 89.323 104.144 2.863 631.918
Inst. Financ. 3.426 17.092 40.101 321.042 209.679 396.451 457 988.248
Adm. Pública 195.252 650.385 909.105 3.166.882 1.283.886 2.831.044 33.547 9.070.101
Técn. Prof. 31.467 91.013 245.718 1.077.402 379.677 972.371 4.972 2.802.620
Serv. Prest.
245.480 641.981 915.967 1.370.471 223.419 316.146 20.578 3.734.042
Empr.
Serv. Sociais 106.525 372.576 631.339 1.840.609 656.242 1.454.850 15.987 5.078.128
Rep. e Cons. 93.459 400.616 815.405 708.256 43.458 36.252 11.948 2.109.394
Hosp. e Alim. 182.511 649.990 1.094.070 1.187.487 118.848 100.459 17.581 3.350.946
Dom. Remun. 660.723 2.057.516 2.522.564 1.395.492 26.735 10.687 57.988 6.731.705
Serv. Pessoais 136.960 527.510 1.018.594 1.272.328 134.646 122.136 16.885 3.229.059
Serv. Distr. 12.564 45.266 60.491 98.467 38.204 48.701 1.900 305.593
Total 2.458.940 8.075.813 12.912.984 20.228.629 4.200.174 7.368.539 263.086 55.508.165

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.

Tabela 4
População ocupada de 10 anos ou mais de idade, pelos subsetores de serviços,
segundo posição na ocupação e sexo. Brasil, 2007.
Subsetores de Posição na ocupação
Serviços Empr. c/ cart. Empr. s/ cart. Func. públ. Conta própria Empregador Não remun. Total
Homem
Comércio 3.438.429 1.459.250 7.497 2.111.972 712.639 256.639 7.986.426
Transportes 1.313.957 436.540 20.063 1.140.465 74.679 15.757 3.001.461
Comunicações 261.484 52.596 40.516 27.633 9.657 1.750 393.636
Inst. Financ. 377.067 54.954 45.707 13.634 7.980 613 499.955
Adm. Pública 620.894 743.632 2.316.716 0 1.921 8.455 3.691.618
Técn. Prof. 703.122 290.433 19.123 430.049 156.588 23.889 1.623.204
Serv. Prest.
1.569.032 510.895 28.001 468.287 94.015 52.476 2.722.706
Empr.
Serv. Sociais 838.902 455.315 75.026 199.809 106.720 49.711 1.725.483
Rep. e Cons. 482.624 579.193 586 715.864 166.881 45.314 1.990.462
Hosp. e Alim. 562.480 347.640 0 471.719 159.942 73.336 1.615.117
Dom. Remun. 166.433 251.828 0 0 0 0 418.261
Serv. Pessoais 107.158 176.924 5.869 376.231 56.924 13.253 736.359
Serv. Distr. 114.411 62.284 2.615 54.448 6.377 610 240.745
Total 10.555.993 5.421.484 2.561.719 6.010.111 1.554.323 541.803 26.645.433
68 impacto da Crise sobre as mulheres

Subsetores de Posição na ocupação


Serviços Empr. c/ cart. Empr. s/ cart. Func. públ. Conta própria Empregador Não remun. Total
Mulher
Comércio 2.592.144 890.458 11.689 1.931.185 333.297 476.537 6.235.310
Transportes 153.224 44.500 3.499 31.918 8.747 11.326 253.214
Comunicações 195.664 26.831 9.072 618 3.754 2.343 238.282
Inst. Financ. 375.669 70.401 32.685 5.600 2.569 1.369 488.293
Adm. Pública 1.004.678 1.127.519 3.219.431 0 2.163 24.692 5.378.483
Técn. Prof. 634.569 264.014 22.866 186.408 51.713 19.846 1.179.416
Serv. Prest.
629.437 171.006 13.172 121.454 39.012 37.255 1.011.336
Empr.
Serv. Sociais 1.855.191 689.609 182.485 385.139 94.228 145.993 3.352.645
Rep. e Cons. 36.896 25.986 0 14.877 12.756 28.417 118.932
Hosp. e Alim. 630.957 426.190 528 407.193 92.193 178.768 1.735.829
Dom. Remun. 1.666.955 4.646.489 0 0 0 0 6.313.444
Serv. Pessoais 230.999 398.132 6.036 1.714.061 98.774 44.698 2.492.700
Serv. Distr. 40.242 16.383 2.081 915 3.371 1.856 64.848
Total 10.046.625 8.797.518 3.503.544 4.799.368 742.577 973.100 28.862.732
Total
Comércio 6.030.573 2.349.708 19.186 4.043.157 1.045.936 733.176 14.221.736
Transportes 1.467.181 481.040 23.562 1.172.383 83.426 27.083 3.254.675
Comunicações 457.148 79.427 49.588 28.251 13.411 4.093 631.918
Inst. Financ. 752.736 125.355 78.392 19.234 10.549 1.982 988.248
Adm. Pública 1.625.572 1.871.151 5.536.147 0 4.084 33.147 9.070.101
Técn. Prof. 1.337.691 554.447 41.989 616.457 208.301 43.735 2.802.620
Serv. Prest.
2.198.469 681.901 41.173 589.741 133.027 89.731 3.734.042
Empr.
Serv. Sociais 2.694.093 1.144.924 257.511 584.948 200.948 195.704 5.078.128
Rep. e Cons. 519.520 605.179 586 730.741 179.637 73.731 2.109.394
Hosp. e Alim. 1.193.437 773.830 528 878.912 252.135 252.104 3.350.946
Dom. Remun. 1.833.388 4.898.317 0 0 0 0 6.731.705
Serv. Pessoais 338.157 575.056 11.905 2.090.292 155.698 57.951 3.229.059

Serv. Distr. 154.653 78.667 4.696 55.363 9.748 2.466 305.593

Total 20.602.618 14.219.002 6.065.263 10.809.479 2.296.900 1.514.903 55.508.165

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.
CAPÍTULO 6 69

Tabela 5
População ocupada de 10 anos ou mais de idade, pelos subsetores de serviços,
segundo rendimento no trabalho principal e sexo. Brasil, 2007.
Faixas de rendimentos no trabalho principal (em salários mínimos)
Subsetores de
Serviços Mais de Mais de Mais de Mais de Mais de 6 Mais de
0 Nãodef. Total
0a1 1a2 2a4 4a6 a 10 10
Homem
Comércio 260.556 1.801.677 2.810.751 1.806.681 441.197 401.061 312.950 151.553 7.986.426
Transportes 15.757 448.597 922.374 1.092.431 228.749 150.913 92.669 49.971 3.001.461
Comunicações 3.005 31.993 132.842 132.548 37.316 21.243 24.244 10.445 393.636
Inst. Financ. 613 19.974 81.765 132.685 74.660 86.843 83.388 20.027 499.955
Adm. Pública 9.290 575.419 880.006 1.007.436 469.165 354.194 320.529 75.579 3.691.618
Técn. Prof. 24.721 189.904 413.827 384.838 141.067 184.191 217.076 67.580 1.623.204
Serv. Prest.
53.981 550.583 1.106.055 639.283 95.281 106.353 108.812 62.358 2.722.706
Empr.
Serv. Sociais 56.325 321.128 523.085 411.919 117.502 109.423 142.195 43.906 1.725.483
Rep. e Cons. 45.314 514.758 704.018 535.871 83.536 48.869 24.766 33.330 1.990.462
Hosp. e Alim. 74.762 438.080 583.389 337.287 56.594 50.249 32.968 41.788 1.615.117
Dom. Remun. 3.953 224.999 147.917 32.343 1.530 1.577 218 5.724 418.261
Serv. Pessoais 13.253 189.741 219.691 186.398 56.279 28.732 24.755 17.510 736.359
Serv. Distr. 610 63.907 66.913 54.298 14.556 11.854 15.794 12.813 240.745
Total 562.140 5.370.760 8.592.633 6.754.018 1.817.432 1.555.502 1.400.364 592.584 26.645.433
Mulher
Comércio 480.587 2.021.318 2.359.756 913.180 169.300 127.039 69.790 94.340 6.235.310
Transportes 11.631 41.857 96.156 57.173 15.689 15.060 10.850 4.798 253.214
Comunicações 2.753 33.354 122.370 47.260 9.534 9.209 7.211 6.591 238.282
Inst. Financ. 1.979 52.474 124.598 154.837 54.746 50.184 30.383 19.092 488.293
Adm. Pública 25.867 1.088.552 1.710.012 1.440.180 503.432 343.147 192.557 74.736 5.378.483
Técn. Prof. 19.846 207.742 409.986 262.530 85.202 90.841 65.489 37.780 1.179.416
Serv. Prest.
37.559 234.050 418.273 177.708 43.737 42.582 31.640 25.787 1.011.336
Empr.
Serv. Sociais 153.861 797.970 1.228.759 693.816 158.371 145.240 94.067 80.561 3.352.645
Rep. e Cons. 28.828 26.497 37.091 15.535 4.526 2.466 916 3.073 118.932
Hosp. e Alim. 180.127 615.941 681.646 161.120 31.113 22.211 16.940 26.731 1.735.829
Dom. Remun. 25.424 4.437.651 1.616.923 179.138 4.588 0 0 49.720 6.313.444
Serv. Pessoais 44.698 1.161.077 778.491 362.027 48.067 32.261 22.316 43.763 2.492.700
Serv. Distr. 1.856 13.973 16.577 14.106 7.808 3.788 5.881 859 64.848
Total 1.015.016 10.732.456 9.600.638 4.478.610 1.136.113 884.028 548.040 467.831 28.862.732
Total
70 impacto da Crise sobre as mulheres

Faixas de rendimentos no trabalho principal (em salários mínimos)


Subsetores de
Serviços Mais de Mais de Mais de Mais de Mais de 6 Mais de
0 Nãodef. Total
0a1 1a2 2a4 4a6 a 10 10
Comércio 741.143 3.822.995 5.170.507 2.719.861 610.497 528.100 382.740 245.893 14.221.736
Transportes 27.388 490.454 1.018.530 1.149.604 244.438 165.973 103.519 54.769 3.254.675
Comunicações 5.758 65.347 255.212 179.808 46.850 30.452 31.455 17.036 631.918
Inst. Financ. 2.592 72.448 206.363 287.522 129.406 137.027 113.771 39.119 988.248
Adm. Pública 35.157 1.663.971 2.590.018 2.447.616 972.597 697.341 513.086 150.315 9.070.101
Técn. Prof. 44.567 397.646 823.813 647.368 226.269 275.032 282.565 105.360 2.802.620
Serv. Prest.
91.540 784.633 1.524.328 816.991 139.018 148.935 140.452 88.145 3.734.042
Empr.
Serv. Sociais 210.186 1.119.098 1.751.844 1.105.735 275.873 254.663 236.262 124.467 5.078.128
Rep. e Cons. 74.142 541.255 741.109 551.406 88.062 51.335 25.682 36.403 2.109.394
Hosp. e Alim. 254.889 1.054.021 1.265.035 498.407 87.707 72.460 49.908 68.519 3.350.946
Dom. Remun. 29.377 4.662.650 1.764.840 211.481 6.118 1.577 218 55.444 6.731.705
Serv. Pessoais 57.951 1.350.818 998.182 548.425 104.346 60.993 47.071 61.273 3.229.059
Serv. Distr. 2.466 77.880 83.490 68.404 22.364 15.642 21.675 13.672 305.593
Total 1.577.156 16.103.216 18.193.271 11.232.628 2.953.545 2.439.530 1.948.404 1.060.415 55.508.165

Fonte: PNAD/IBGE, microdados, 2007. Elaboração própria. Melo & Di Sabbato, 2009.
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Editorial

Editoração Njobs Comunicação


Patricia Dantas (diagramadora)

Revisão
Luana Nery Moraes

Tradução espanhol e inglês


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