Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO - Fragmento de osso pertencente ao cão tem mais de 10 mil anos e indica que o
melhor amigo do homem acompanhou nossa espécie vinda da Ásia pelo Alasca desde a
primeira migração humana em direção ao Novo Mundo
Nem os milhares de quilômetros percorridos, durante uma era glacial, numa das regiões mais
remotas do planeta, parecem ter abalado a fidelidade daquele que é conhecido como o
"melhor amigo do homem". Um estudo recém-publicado por uma equipe de pesquisadores da
Universidade de Buffalo, nos EUA, integrada por um biólogo graduado e mestre pela UFV,
identificou, num fragmento pré-histórico de osso descoberto no Alasca, o cachorro mais
antigo já encontrado no continente americano. E o bicho, possivelmente, surgiu na Sibéria, de
onde "teria vindo junto" com nossos ancestrais.
O artigo publicado na revista Proceeding of Royal Society B tem como primeiro autor o biólogo
viçosense Flávio Augusto da Silva Coelho - bacharel em Ciências Biológicas e mestre em
Biologia Animal pela UFV. Atualmente doutorando na Universidade de Buffalo, o pesquisador
- que estuda a evolução e biogeografia de mamíferos no sudeste do Alasca - explica os motivos
pelos quais a descoberta contribui para o entendimento do modo como os primeiros Homo
sapiens chegaram ao que, milhares de anos depois, viria a se tornar a América. "Desde que
foram domesticados, os cães sempre acompanharam os seres humanos. Por isso, a presença
deles é um forte indicativo da presença de nossa espécie, ajudando a entender a ocupação
do planeta por nós", afirma.
Uma das conclusões mais significativas no estudo também assinado por Stephanie Gill, Crystal
M. Tomlin Timothy H. Heaton e Charlotte Lindqvist diz respeito à trajetória dos seres humanos
em sua vinda da Ásia para o Alasca e além. Até agora, a teoria mais aceita era a de que o
deslocamento teria ocorrido numa rota surgida no interior do território, então ocupado por
duas grandes geleiras. Isso porque os restos do que antes era o cachorro mais antigo haviam
sido encontrados numa região central dos Estados Unidos, sugerindo um percurso por dentro
do continente.
"Nossas análises apoiam um caminho diferente, pela costa oeste, à margem do que hoje é o
Oceano Pacífico", observa Flávio, acrescentando que, na época, o "litoral" era bem distinto de
como é hoje. "A maior parte da água estava congelada nos polos, então o nível dos oceanos
era muito mais baixo, algo em torno de 150 metros. Isso tornava possível andar em muitas
áreas que estão atualmente submersas", complementa o pesquisador.
Vale observar que as aspas no primeiro parágrafo (em "teria vindo junto") se devem ao fato de
que o cão cujo fragmento de osso foi encontrado não era exatamente o próprio exemplar
saído da Sibéria, e sim um descendente já nascido onde viria a ser a América do Norte. Como
explica Flávio, ao mesmo tempo em que o estudo lança luzes sobre alguns aspectos, faz
também emergir outras perguntas. "Ainda não se sabe se a travessia aconteceu a pé ou em
algum tipo de embarcação, por exemplo. Nem por qual razão os seres humanos vieram. Mas
sabemos que, quem veio, teve a companhia de cachorros", afirma.
Marcel Angelo
Divulgação institucional - campus Viçosa