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Lindsay Armstrong
Julia 501
Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos, de fãs para fãs.
Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida.
Cultura: um bem universal.
O amor por Roderick fez Amanda esquecer tudo: a grande diferença de idade, o
desnível social, o preconceito dos amigos. Corajosa, ela se esforçava para ignorar as
críticas e agressões dos que se empenhavam em arruinar seu casamento.
Seu maior inimigo, sem dúvida, era Stephen Chandler, o jovem e ambicioso sócio do
marido na rede de hotéis. Temendo a ascensão de Amanda na empresa, ele decidiu
usar de todas as armas para destruí-la: do desprezo a um diabólico jogo de sedução!
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CAPÍTULO I
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pescoço e na mão direita um anel de brilhante e esmeralda, além da aliança
de casamento.
— Aqui está o suco de laranja — Aldo bradou, interrompendo-lhe os
pensamentos. — Os ovos com bacon ficam prontos num minuto.
— Obrigada — agradeceu, com um sorriso.
Meia hora depois, ao terminar o desjejum e degustar uma xícara de
café, Amanda se levantou. Andar até o prédio da Ballantyne certamente a
deixaria mais calma. Antes, todavia, abriu a bolsa e apanhou o estojinho de
pó compacto para retocar a maquilagem.
Seu rosto de feições delicadas e pele macia era claro, pois raramente
tomava sol. Os cabelos castanhos, como de costume, estavam repartidos ao
meio e terminavam em ondas suaves nos ombros.
Por fim, Amanda guardou o pó compacto na bolsa e saiu convencida
de que, aos vinte e cinco anos de idade, ainda não tinha aprendido a controlar
sua insegurança.
— Oh, como vai, sra. Ballantyne!? Está muito elegante hoje!
— Obrigada, Flora.
Flora Hardcastle trabalhava na recepção da firma fazia muitos anos, e
havia sido uma das poucas funcionárias que tinham aceito a ascensão de
Amanda de simples datilógrafa a esposa do diretor-presidente. Por isso, ela
dedicava-lhe uma grande afeição e juntas costumavam trocar confidencias.
Naquela manhã, porém, Flora parecia um tanto aflita.
— A reunião teve de ser adiada por meia hora, sra. Ballantyne: o sr.
Kidder telefonou avisando que atrasaria um pouco. Já o sr. Chandler aguarda
a senhora na sala dele.
— Agora? — Amanda perguntou, apreensiva.
— Pediu para avisá-la assim que chegasse — acrescentou Flora, em
voz baixa. — Creio que é acerca de um novo empreendimento nas ilhas
Whitsundays.
Amanda ficou perplexa. Sabia que a empresa possuía colônias de
férias espalhadas por todo o litoral da Austrália, mas não ouvira nada a
respeito da implementação de um projeto tão ambicioso.
— Por que ele quer falar comigo?
— Parece que nem todos os membros da diretoria estão de acordo.
Kidder e Ramsey são contra. O sr. Chandler e Jeff Whitby são a favor. Parece
que a senhora dará o voto de Minerva. Amanda empalideceu. Temia que isso
acontecesse mais cedo ou mais tarde.
— Por que não me disseram nada a respeito?
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— Bem… A decisão foi tomada da noite para o dia… Além do mais, é
melhor não deixar o sr. Chandler esperando. Para variar, ele não está de bom
humor.
— Tudo bem — murmurou Amanda.
Ao avistar a porta da sala onde se lia “Diretor-presidente“, ela fechou
os olhos e deu um longo suspiro, para tomar coragem antes de bater.
— Pode entrar.
— Bom dia, Stephen. Está fazendo uma manhã esplêndida.
O homem por trás da mesa ampla e repleta de papéis encarou-a com
frieza, e respondeu sem se levantar.
— Bom dia, Amanda. É realmente um dia muito bonito. Pena que
tenha de desperdiçá-lo dessa forma… — Havia arrogância na voz doce, e,
antes que ela pudesse dizer algo, Sthepen Chandler continuou. — Sente-se.
Você está elegante como sempre. Quanto custou esse traje modesto que está
usando?
— Não é de sua conta! Ou está querendo comprar um igual para você?
— Bem, desde que o tenha adquirido com o dinheiro da firma,
acredito que me deve explicações. Infelizmente, porém, não posso controlar
suas despesas.
Amanda sentiu-se tentada a apanhar o pesado cinzeiro de pedra na
mesa e atirá-lo. No entanto, tivera aqueles impulsos antes, e sabia que a
violência com Stephen não adiantava; aliás, ele queria justamente provocar
uma reação dessas. Em vez disso, conteve-se e perguntou:
— Por que me chamou aqui?
— Está calma demais hoje, Amanda.
— O que você quer, Stephen? Se deseja meu voto a favor das ilhas
Whitsundays, devia ir direto ao assunto.
— Como soube? — indagou ele, surpreso.
Amanda sentiu um calafrio, e arrependeu-se de ter tocado no assunto.
Sabia que Flora poderia ser punida por ter revelado a informação.
— Eu… eu tenho minhas fontes — gaguejou ela.
— Pelo visto, são mais eficientes do que pensava… Quem foi? Kidder,
por acaso? Só pode ter sido. Ele sempre desejou conquistá-la, não é mesmo? E
para isso não mediria esforços.
Os olhos de Amanda faiscaram de ódio. Contudo, foi incapaz de reagir
aos comentários insidiosos de Stephen, com medo de denunciar Flora.
— Ou foi Ramsey? Ele é tão tolo, que não consegue resistir a seus
encantos.
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Ela permaneceu impassível, o que o fez dar uma risada ainda mais
provocativa.
— Tudo bem, Amanda, não me interessa como soube do novo
empreendimento. Apenas quero lembrá-la de nosso acordo; não podemos
permitir que a reputação da empresa se torne alvo de comentários
maledicentes.
Então Stephen se levantou e deu a volta na mesa, em direção a ela.
Amanda teve vontade de deixar a sala naquele instante, porém estava
paralisada. Aquele homem sempre a deixava atônita, não só porque fazia de
tudo para atormentá-la, mas também pelo fascínio que exercia sobre ela. Com
trinta e três anos de idade, Stephen era alto, esbelto, e seu dinamismo
revelava o executivo bem-sucedido que era.
Amanda lidava com ele com um certo receio. Em várias ocasiões,
Stephen havia se valido de sua personalidade forte e arrogante para humilhá-
la. Sem dúvida, possuía suas razões para odiá-lo, embora não pudesse deixar
de, no fundo, alimentar uma profunda admiração por ele.
Naquele momento, temia que Stephen se aproximasse demais; no
entanto, ele sentou-se, cruzando os braços no canto da mesa, e ficou a
observá-la.
Após um breve silêncio, Amanda tomou coragem para enfrentá-lo. Era
visível a impaciência nas feições rígidas e bem marcadas.
— Não confunda minha vida particular com negócios, Stephen.
— Agora parece um pouco nervosa, Amanda — ele sussurrou, cínico,
deixando-a mais embaraçada. — O que foi?
— Nada. Apenas recuso-me a discutir assuntos que não se refiram a
negócios.
— Muito bem. Aceito.
— Então vamos ao que interessa. Mas, quero preveni-lo: outro insulto,
e eu vou embora.
— Está certo, Amanda — assentiu, intimidado, e a ironia cedeu lugar à
formalidade. — Vou contar por que chamei você até aqui. Na reunião desta
manhã, haverá uma votação sobre um novo projeto e quero que vote a favor.
Lembra-se de nosso trato? Você continua na diretoria, recebendo sua parte
dos lucros e, em troca, me apóia em todas as decisões da companhia. Afinal, a
empresa deve continuar se expandindo, concorda?
— Você acredita mesmo que pode me controlar, não é. Stephen?
— Pense como quiser.
— Eu poderia mover um processo contra você. A lei…
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— Amanda, seja realista. Você sabe muito bem que não teria a mínima
chance.
— Posso arranjar um bom advogado, Stephen.
— Mesmo? Vai precisar de um, se votar contra mim. E daí, qual é a
sua decisão?
— Espere e veja por si mesmo. — Para sua própria surpresa, Amanda
levantou-se sem hesitar e dirigiu-se para a porta. Antes que tivesse tempo de
sair, porém, Flora entrou na sala.
— Desculpem interromper, mas o sr. Kidder acabou de chegar. Todos
os diretores já se encontram na sala de reuniões.
— Obrigada, Flora — agradeceu Amanda, lançando um olhar de
desdém para Stephen Chandler.
A sala de reuniões ocupava o último andar do luxuoso arranha-céu.
Da varanda avistava-se a deslumbrante Costa Dourada, onde as águas
cristalinas do rio Nerang encontravam o oceano.
— Este é o momento ideal para implantarmos novos projetos —
anunciou Jeff Whitby, dando início à reunião. — O que Stephen e eu temos
em mente é um excelente negócio nas ilhas Whitsundays.
Jeff era um profissional competente, ligado ao ramo imobiliário havia
vários anos, tendo conquistado a confiança total de Stephen. Amanda tinha-
lhe uma certa simpatia, por ele tratá-la sempre com respeito e cordialidade.
Contudo, sentia um profundo desprezo por Ramsey e Kidder. Stephen
estivera certo sobre os dois; costumavam mandar flores para o apartamento
dela e convidavam-na constantemente para sair, com a intenção de iniciar um
romance.
Amanda examinou os dois homens, sentados a sua frente. Lance
Kidder, quarenta e dois anos, achava-se o homem mais atraente do mundo.
Ele vivia atrás de outras garotas, apesar de ter uma esposa dedicada e dois
filhos. Quanto a George Ramsey, era viúvo e às vezes revelava-se um homem
impertinente, elogiando e galanteando as mulheres fora de hora.
Perdida em pensamentos, Amanda não percebeu que Jeff havia
parado de falar, e que ela tinha se tornado o centro das atenções.
__ Algum problema? — indagou Stephen.
— Não, eu… eu estava prestando atenção, só isso — respondeu,
culpando a si mesma por estar tão distraída naquele instante. — Prossiga, por
favor, Jeff.
— Gostaria de fazer algumas observações a respeito — Lance Kidder
aparteou. — Segundo meus cálculos, as ilhas Whitsundays correm o risco de
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ficar saturadas. Acredito que a ilha Hamilton tem melhores condições de
receber milhares de turistas, assim que estiver terminada. Podemos
desenvolver colônias de férias em Daydream, Hayman, South Molk,
Lindeman e outras regiões, sem falar nas vantagens da praia Airlie. Já lhe
ocorreu Stephen, que Whitsundays não seja uma boa escolha?
— Pelo contrário, Lance — Stephen contestou, de forma decisiva. —
Nenhum dos lugares que mencionou parece apropriado para o tipo de
empreendimento turístico que pretendo construir. Em termos de luxo,
conforto…
— Pelo menos Hayman pode ser considerado um lugar luxuoso, e
Hamilton continua sendo altamente lucrativo — atalhou Lance.
— Aí está a diferença. O tipo de local que tenho em mente receberia no
máximo cinqüenta pessoas, como se fosse um refúgio tropical; um paraíso
para milionários
— Você quer dizer… algo como a ilha Lizard? — perguntou Amanda,
arrependendo-se logo em seguida. Fora naquela ilha que passara a lua-de-
mel, a vários quilômetros ao norte das Whitsundays.
— Exatamente — Stephen aquiesceu, olhando para ela.
— Existe uma outra vantagem que favorece o projeto — Jeff retomou a
palavra. — Quando o aeroporto de Hamilton entrar em funcionamento, as
ilhas Whitsundays terão um acesso mais fácil. Para chegar até lá, seria preciso
apenas uma curta viagem de helicóptero ou barco. Creio que os aviões de
companhia Ansett vão continuar fazendo vôos de Hamilton a Hayman, para
auxiliar nossos barcos que estão começando a operar de forma mais rápida e
confortável. Passamos a contar, também, com uma área de recepção para
turistas. Assim, as reservas podem ser feitas antes mesmo de se chegar até a
ilha.
— Bom, do jeito que fala, Jeff, tudo isso parece vantajoso — George
Ramsey argumentou, com cuidado. — No entanto, não acham que estão
sendo um tanto precipitados?
— A ilha está em nossas mãos — Stephen replicou. — podemos levar
anos para ter outra oportunidade como esta. E não estamos sendo
precipitados. Fiz estudos minuciosos sobre a rentabilidade do negócio, e
nosso presidente-fundador, o sr. Ballantyne, também. Devo lembrá-los de
que um dos sonhos dele antes de morrer era construir uma colônia de férias
em Whitsundays.
Amanda abaixou a cabeça, percebendo que Stephen estava olhando
diretamente para ela.
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— É verdade — Ramsey reconheceu. — Não temos, porém, recursos
para enfrentar uma eventualidade. É arriscado! Formar um consórcio de
investidores… Quando o sr. Ballantyne estava vivo…
— George, como diretor-presidente da Ballantyne, eu já fiz um mau
negócio?
— Claro que não, mas…
— Tenho tudo sobre controle, George. Você chegaria a esta conclusão,
se tivesse o trabalho de analisar os relatórios. E, mesmo se enfrentarmos
dificuldades financeiras, o que é difícil, o risco vale a pena, pois os lucros
serão enormes.
— Desculpe, Stephen. Estou velho demais para correr riscos
desnecessários.
— Então, eu sugiro colocarmos em votação.
— Não sei se é preciso — Lance Kidder objetou, um tanto aborrecido.
— Jamais tivemos uma divergência de opiniões nesta diretoria… De qualquer
forma, isso tinha de acontecer algum dia, não é mesmo? Amanda, acho que
você tem a palavra final. O que pensa do projeto?
Amanda empalideceu. Tinha consciência da responsabilidade que lhe
fora atribuída, e antes de anunciar sua opinião olhou para cada um dos
presentes.
— Sei muito bem que o último desejo de meu marido era ter uma
colônia de férias em Whitsundays. Se estivesse aqui, neste momento, faria de
tudo para realizar seu velho sonho. Portanto, sou a favor do projeto.
Houve um breve silêncio. Aí Stephen sorriu satisfeito e declarou:
— Obrigado, Amanda. É bom ver que você continua fiel ao velho
Ballantyne.
— Stephen! — Lance protestou. — Não vê que esta questão não pode
ser decidida por uma mulher?
— E sendo assim, você não devia ter permitido que o sr. Ballantyne a
nomeasse para a diretoria, Lance. Contudo, na hora, você concordou com a
decisão. De fato, todos vocês fizeram o mesmo. Fui o único que discordou da
indicação. Todos vocês se deixaram manipular, mesmo sabendo que ele
estava velho. E sabem por quê? Porque sonhavam com o dia em que o sr.
Ballantyne morreria, e desejavam, aqui, uma garota linda e inteligente que
pudessem manejar.
— Basta, Stephen! — George Ramsey exclamou, batendo na mesa.
— Isso não é verdade — bradou Jeff. — Sempre considerei o sr.
Ballantyne um homem lúcido e sensato; mesmo em seus últimos dias de vida.
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Além do mais, a sra. Ballantyne já contribuiu para a empresa com idéias
excelentes. É uma pena que não tenha uma participação mais ativa nas
decisões de nossa companhia, sra. Ballantyne — acrescentou, olhando para
Amanda.
O clima estava insustentável, e ela lutava para manter o controle. De
repente, o eixo da discussão tinha mudado.
— Está certo — Stephen admitiu. — Se pensa dessa forma, Jeff, talvez
eu esteja errado. Ela terá uma chance. Vou passar uma semana em Hamilton,
para inspecionar o segundo pavilhão, que já está terminado, e visitar as ilhas
Whitsundays com um engenheiro e um arquiteto. Você pode vir comigo,
Amanda, e me apresentar algumas de suas idéias fantásticas. O que acha, sra.
Ballantyne?
— Eu não iria a lugar nenhum com você! — exclamou Amanda,
pondo-se de pé, furiosa. — Por que não leva uma daquelas garotas que
aparecem nas colunas sociais a seu lado? Ou melhor, por que não leva todas?
Talvez possam lhe ser mais úteis. — E acrescentou, antes de deixar a sala: —
Bom dia, senhores!
Stephen observou-a atônito, e pôs-se a rir.
CAPÍTULO II
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Amanda lembrou-se da mãe, sempre preocupada com sua
insegurança: “Você precisa ser mais confiante, Amanda! A vida é difícil para
todos, porém é pior ainda para os que se preocupam demais com os
problemas e se deixam influenciar pelos outros”.
Amanda recostou a cabeça, recordando os momentos vividos ao lado
da mãe.
Leila Lawson fora sempre decidida, de personalidade forte, que
conquistara a liberdade por iniciativa própria. A mãe tinha contado que aos
dezesseis anos de idade, após abandonar os estudos, fez uma viagem por
vários países, entrando em contato com outros povos e lugares. Costumava
dizer que a única forma de conhecer as pessoas era convivendo e trabalhando
com elas, participando de seu dia-a-dia.
Anos depois, Leila voltou à cidade natal, Melbourne, e se envolveu
com política partidária. No calor dos debates eleitorais, apaixonou-se por um
homem casado.
Contudo, o fato de ser ele comprometido não os impediu de se
relacionarem, cada vez com maior freqüência, e o fruto daquela união acabou
sendo uma menina bastante parecida com o pai. Leila, cansada de esperar
pelo divórcio do amante, que sempre protelava, foi tomando consciência de
que sua felicidade ao lado daquele homem nunca poderia ser completa, e
resolveu desaparecer da vida dele para sempre.
Algumas semanas depois, ela percebeu que estava grávida; no
entanto, decidiu não revelar o fato ao pai da criança.
Amanda sabia do passado, porque a mãe lhe falara abertamente do
assunto:
— Sei que não fui justa com você, nem com ele… — admitiu, quando
Amanda já possuía idade suficiente para compreender. — Talvez você me
odeie pelo resto da vida, porém acredito que fiz o melhor para nós. Além
disso, seu pai ficaria numa situação difícil, se descobrissem que teve uma
filha com outra mulher.
— E a reação dele, qual seria?
— Não sei…
— Será que me rejeitaria?
— Não, não creio… — Havia dúvida nos olhos da mãe, como se pela
primeira vez em muitos anos ela se questionasse se tinha tomado a atitude
correta.
Contudo, a amizade entre Leila e a filha não se modificou depois da
revelação. Amanda continuou dedicando uma grande afeição à mãe, que
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sempre fora a razão maior de sua vida.
Pelo que podia recordar, tivera uma infância um tanto agitada, já que a
mãe conservara até o fim o espírito de liberdade. Leila Lawson desligara-se
de todas as relações passadas e iniciara carreira como cantora, levando
Amanda a diversas partes da Austrália.
Uma das frases mais comuns da mãe era:
— Aqui estamos nós, querida, sozinhas de novo!
Se Leila tomava suas decisões com firmeza e segurança, o mesmo não
se dava com Amanda. As constantes mudanças de uma cidade para outra, as
estadas em pensões, apartamentos alugados, contribuíram para torná-la uma
pessoa vacilante e dependente. No entanto, ela fazia o possível para esconder
da mãe a insegurança. Só para não deixá-la preocupada.
Então, certo dia aconteceu algo inesperado. Apesar de ter se firmado
como cantora, inclusive com uma boa popularidade, Leila Lawson
abandonou a carreira. Após tentar uma série de empregos em várias cidades,
decidiu passar um fim de semana na praia do Pôr-do-sol, onde um antigo fã a
reconheceu e ofereceu-lhe um contrato de dois anos, para trabalhar numa
imobiliária.
Graças a algumas economias, compraram um apartamento de frente
para o mar, e Amanda parecia mais feliz do que nunca. Terminara o último
ano no colégio, e pela primeira vez estava se acostumando a uma vida mais
estável.
Com o certificado de conclusão do segundo grau e nenhuma
experiência anterior, começou a procurar emprego. Trabalhou durante seis
meses numa pequena companhia, e acabou tendo uma oportunidade como
datilografa na Ballantyne, uma empresa de sólida reputação, com escritórios
em todo o país.
Amanda contava então dezenove anos e, ao completar um mês na
Ballantyne, aconteceu a tragédia: a mãe veio a falecer num acidente de
carro…
A polícia comunicou a notícia quando ela havia saído para almoçar,
cabendo a Roderick Ballantyne, seu patrão, contar-lhe a desgraça.
Ao saber da morte da mãe, Amanda ficou transtornada. Naquele
momento, achou que a vida tinha perdido a razão de ser. Sentindo-se fraca e
abandonada, ela foi para casa.
No mesmo instante, Roderick apanhou o telefone e pediu a Flora que
ficasse à disposição dela.
Foi com a colega de trabalho que Amanda conseguiu desabafar,
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contando-lhe a história de sua vida e os momentos saudosos ao lado da mãe.
— Acho que mamãe estava feliz, finalmente. E com o futuro garantido.
Tinha realizado um grande sonho, adquirindo um apartamento confortável
Flora Hardcastle narrou o que ouviu ao chefe, Roderick Ballantyne,
que demonstrou grande interesse em ajudar Amanda.
Amanda era uma funcionária competente e exemplar: dedicada ao
trabalho, mas quieta e reservada.
Decorridos alguns dias, Roderick estava passando por uma rua,
quando a viu dentro de um restaurante
Ele ficou hesitante entre se devia ou não entrar; àquela altura, já sabia
que seus sentimentos para com aquela moça ultrapassavam a simples
preocupação. Procurava observá-la sempre que podia, de forma discreta, e
aos poucos se percebera apaixonado. Ao mesmo tempo, começou a sentir
uma forte necessidade de protegê-la. Roderick sabia que Amanda havia
passado por dificuldades e enfrentara todos os problemas. Desde a morte de
Leila Lawson, ele pensava numa maneira de ajudá-la, sem ser mal
interpretado.
E naquela manhã ensolarada, enquanto tomava o café da manhã,
Amanda encontrou-o, fazendo com que se sentisse mais jovem e se
esquecesse de que era trinta anos mais velho. Daí ele entrou no restaurante e,
três meses depois, estavam casados.
Amanda demorou algum tempo para perceber as intenções de
Roderick. No início, desconfiou das razões que levavam o diretor-presidente,
a pessoa que construíra a poderosa Ballantyne, a vê-la com tanta freqüência
depois do expediente, sempre inventando uma desculpa. Chegara a ouvir
duas funcionárias falando sobre um suposto envolvimento afetivo entre eles,
desaprovando o fato em função da diferença de idade.
Amanda, na realidade, nem sabia quantos anos ele tinha, e ficara
surpresa ao descobrir que possuía quarenta e nove.
Quanto ao romance, Roderick sempre a convidava para sair e, como
temia ofendê-lo se recusasse o convite, acabava aceitando. Pouco a pouco, foi
descobrindo que gostava de partilhar da companhia dele. Tímida, foi se
deixando conquistar, sem imaginar que a relação de amizade acabaria se
aprofundando.
À medida que os encontros foram se tornando mais freqüentes, ela
descobriu que precisava de Roderick, e não se importou mais com os
mexericos. Ele a tratava como uma mulher adulta, e os momentos que
passavam juntos, na praia ou na casa de campo, pareciam os mais felizes de
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sua vida. Mas foi só depois do primeiro beijo que conseguiu definir os
próprios sentimentos. Encantada com aquela demonstração de paixão,
deixou-se envolver nos braços dele e não recusou quando Roderick a pediu
em casamento.
— Sou bem mais velho do que você, e nossa sociedade é muito
preconceituosa — ele declarara na ocasião, prevenindo-a das dificuldades
que teriam de enfrentar juntos. — Veja, Amanda, quando você tiver trinta
anos, terei sessenta. Eu não me importo, acredito no amor que sinto por você.
Não estou à procura de valores efêmeros, como a beleza física, apesar de
achá-la linda. Amanda… acredito que posso fazê-la feliz, dar-lhe segurança e
amor. Eu a amo, como nunca amei antes… — E falou-lhe sobre o primeiro
casamento, uma união infeliz e cheia de problemas.
“A única coisa acerca da qual Roderick não me preveniu foi para o
sócio. Stephen passou a me odiar desde o momento que me conheceu, na
recepção após o casamento…”, Amanda pensou, voltando à realidade. Podia
se lembrar perfeitamente da festa e de como Stephen a recebera.
A cerimônia fora realizada na suíte de Roderick, seguida de uma
pequena reunião para poucos convidados. Stephen Chandler acabara de
voltar dos Estados Unidos, onde estivera fazendo um curso de especialização
e chegara em tempo de cumprimentar os recém-casados. Jamais se esqueceria
do brilho de ódio nos olhos de Stephen, um ódio para ela inexplicável, até o
momento em que ele lhe dissera, ao encontrá-la:
— Bem, vejo que descobriu alguém para pagar as contas, não é,
querida? A propósito, meus parabéns. Sou Stephen Chandler. Seria o
sucessor de Roderick Ballantyne, se você não tivesse aparecido na vida dele.
Chocada com tamanha hostilidade, Amanda olhou ao redor,
procurando instintivamente pelo socorro do marido, que infelizmente não se
achava por perto no momento.
Desde essa época, iniciara-se um jogo surdo e cruel entre os três.
Roderick conhecia a posição do sócio em relação a sua mulher; todavia,
graças a Amanda, jamais chegou a tomar conhecimento dos insultos que
Stephen dirigia a ela de vez em quando.
Como se não bastasse, estava claro para Amanda que Stephen não era
o único a discordar daquele casamento. Muitos dos convidados presentes na
recepção não o aprovaram, julgando que ela havia se casado por dinheiro.
Apesar de tudo e de todos, Amanda e Roderick passaram quatro anos
juntos. Quatro anos de felicidade, que ninguém conseguira estragar. Com o
passar do tempo, Amanda conseguiu superar a própria insegurança e
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aprender muito com o marido.
Costumavam ler juntos, viajar pelo país, e Roderick incentivou-a a
desenvolver talentos que ela jamais imaginara possuir.
Certa vez, quando Amanda falou ao marido que gostava de pintar,
apesar de não se considerar uma boa pintora, que era fascinada por
arquitetura e decoração de interiores, ele começou a lhe comprar livros sobre
o assunto.
Roderick também transformou um dos quartos da casa num estúdio
de pintura, e ficou surpreso com o alto nível e a beleza das telas de Amanda.
Consciente do talento da esposa, sugeriu que ela trabalhasse como
projetista na Ballantyne.
— Como projetista? — perguntou ela, assustada. — Por quê?
— Não fique tão espantada! Venha para perto de mim e deixe-me
explicar com calma.
Nessa época, Amanda acabara de redecorar a suíte, e o resultado havia
sido tão bom, que ele decidiu aproveitar algumas de suas sugestões nos
escritórios.
— Mas eu não me sinto qualificada para assumir o emprego! —
exclamou Amanda, protestando.
— Veja as coisas dessa maneira: o que eu estou querendo, sei que pode
realizar, não há nada de especial. Estou interessado em suas idéias, seus
pontos de vista, só isso. Afinal, as boas sugestões são tão importantes quanto
o conhecimento técnico.
Todos, menos Stephen, concordaram em que Amanda fosse indicada
para a diretoria da Ballantyne. Quando ela foi eleita, Stephen votou contra,
mas foi voto vencido, pois Roderick controlava a maioria das ações e, em
decorrência, os outros diretores. Na ocasião, o choque entre os dois foi tão
sério, que Stephen chegou a viajar para o exterior.
Roderick falara do sócio a Amanda uma única vez, depois daquele
desentendimento. Havia dito que Stephen era muito competente, e só por
essa razão não desfazia a sociedade.
No entanto, Amanda sabia que, apesar das agora freqüentes
discussões de negócios, Roderick Ballantyne gostava de Stephen Chandler
como de um filho. Por isso, ela fazia de tudo para esconder do marido quanto
Stephen a desprezava.
Em meio àquele período de felicidade e amor, Roderick contraiu uma
grave doença e acabou falecendo. Pela segunda vez, Amanda sentiu-se só no
mundo, completamente desorientada.
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Num momento difícil e doloroso, em que a solidão era grande,
Stephen a convocara para uma reunião, e, num tom frio e áspero, dissera-lhe
que ela não tinha direito sobre os bens que o marido havia lhe deixado.
De acordo com o testamento, Amanda herdaria o apartamento, uma
parte das ações da Ballantyne e receberia uma renda fixa durante um certo
tempo.
Amanda tinha ficado furiosa. As palavras horríveis que Stephen havia
lhe dito quatro anos antes voltaram a memória, e, num acesso de raiva, ela
acabou afirmando que ele era mesquinho, desprovido de sentimentos, e que
ele, sim, só pensava em dinheiro.
Ao perceber que tinha ido longe demais, Amanda empalidecera. O
ódio que dominou Stephen naquele momento impediu-o até de falar durante
alguns instantes
— Fique sabendo, Stephen, que, se se opuser ao testamento, vou entrar
na justiça para garanti-lo — Amanda ainda afirmou, movida pela indignação.
O que aconteceu em seguida só serviu para aumentar o desprezo que
ela sentia por Stephen; até então, nenhum dos insultos chegara a uma
ameaça.
— Você vai acabar sem nada, Amanda. Se entrar na justiça, seu nome
estará em todas as colunas sociais, e o amor que nutria por Roderick se
transformará em motivo de fofocas. O bom nome da empresa será envolvido
num escândalo, mas acho que você não se importa muito, não é? Ou estou
enganado? Pense nisso, querida
— Você… você está sugerindo um acordo? Quer… quer que eu desista
de tudo? Em troca do quê?
— Você desistiria? — Stephen indagou, irônico. Ela não conseguia
responder.
— Não, eu sabia que não. Mas tenho outra coisa em mente. Roderick
não imaginava que, na sua falta, a diretoria ficaria dividida. De um lado, Jeff
Whitby e eu; do outro, Lance Kidder e George Ramsey. Agora que sou o
diretor presidente, sei que Kidder adoraria tomar meu lugar, e também que
Ramsey o apóia. Pensam que sou muito jovem e inexperiente, porem
pretendo permanecer no cargo, custe o que custar. Para isso, preciso de seu
apoio. Quero que vote a meu favor em todas as decisões.
Amanda franziu a testa, confusa.
— Você ainda não percebeu onde estou querendo chegar? —
perguntou ele, impaciente.
— Você não vai se opor ao testamento, se eu..
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— Exatamente. Como Roderick deixou metade das ações para os
funcionários e a outra metade para você, necessito contar com seu voto em
todas as questões da diretoria, para manter minha posição. Está vendo,
Amanda? Não sei se Roderick pretendia deixá-la com essa responsabilidade,
mas agora é você que decide.
Ela fechou os olhos, como se assim fosse mais fácil suportar o choque
daquela novidade.
— Como o destino é irônico! Você, que me agrediu tanto, agora
precisa de meu apoio. É inacreditável
— As coisas mudaram bastante nos últimos quatro anos, Amanda.
— Nisso você esta certo, Stephen. Rod não sabia que a situação
chegaria a esse ponto. Não esperava morrer tão cedo, e de uma coisa eu tenho
certeza… ele gostava de você. Nunca me perdoaria se eu o prejudicasse,
apesar dos desentendimentos que tiveram. Por isso, não se preocupe — ela
concordou. — Eu lhe darei meu voto.
Stephen não pareceu surpreso e murmurou, como se fosse dono da
situação:
— Só mais uma coisa: para preservar a imagem da empresa, vamos
manter a farsa de que você se casou com Roderick porque o amava. Isto é,
não deve se envolver com outro homem por um bom tempo. É para…
— Mas meu casamento não foi uma farsa! — exclamou ela.
— Então prove.
CAPÍTULO III
18
— Mesmo assim você vai me ouvir. Quer queira, quer não.
— Eu o odeio! — Nesse tom ríspido e ameaçador, Amanda mostrou-se
irredutível.
— Não aja como criança, Amanda; vamos nos comportar como
adultos.
— Você… você é insuportável! — desabafou ela, fazendo-o sorrir.
— Por que não me convida para sentar e não me oferece uma bebida?
Tive um dia horrível… E acredito que você também não teve um dia muito
fácil… — bradou ele.
— Tudo bem. — Encarou-o com firmeza. — Uma bebida e você me diz
porque veio até aqui, mas não espere muita coisa de mim.
— Combinado.
— O que quer beber? — Ela dirigiu-se para o bar.
— Uísque com água, por favor.
Stephen ficou no meio da sala, examinando a decoração, enquanto ela
preparava o uísque e um licor para si.
Ao servir a bebida, Amanda sentou-se na cadeira e fitou-o em silencio.
— Você andou fazendo algumas alterações aqui, não, Amanda?
— Sim.
— Esperou Roderick morrer?
— Não. A decoração foi feita há dois anos.
— Não sabia que fazia tanto tempo que não vinha para cá.
— É verdade. Mas vamos direto ao assunto. O que você tem para me
dizer?
— Amanda, quero que vá para a ilha Hamilton comigo.
— Deve estar brincando…
— Espere, deixe-me explicar…
— Não precisa se dar ao trabalho! Como espera que eu vá a qualquer
lugar com você! Seria a última coisa que faria na vida. E por quê? — indagou
ela, irritada. — Por acaso, vai afetar sua posição na diretoria, se eu não for?
— Não tem nada que ver com a diretoria.
— Então, por quê? Não me diga que deseja desfrutar o prazer de
minha companhia...
— Encare o problema dessa maneira: é hora de… tentarmos nos dar
bem e esta seria uma ótima oportunidade. Além disso, creio que Jeff está com
a razão, você tem um certo talento. Basta dar uma olhada neste apartamento,
para se ter certeza. A decoração é perfeita. Estou convencido de que podemos
aproveitar suas idéias no que se refere aos estilos de arquitetura e decoração,
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e gostaria que conhecesse a ilha, onde pretendemos instalar uma colônia de
férias.
— Stephen, não disponho de conhecimento técnico necessário. O que
está propondo exige muita responsabilidade e domínio do assunto, e tudo o
que eu tenho é… intuição.
— Não estou pedindo que assuma nenhuma responsabilidade. Só
preciso de boas idéias, nada mais. Não lhe parece razoável?
— Sim, mas…
— Você aceitaria se Roderick tivesse feito o convite em meu lugar?
— Talvez… Acredito que sim.
— Então? A Ballantyne era muito importante na vida de Roderick. Se
você aceitasse, Amanda, estaria prestando uma grande ajuda à empresa, além
de uma homenagem póstuma a Roderick.
— E você pensa que eu não sei? — retrucou ela, com a cabeça baixa.
— Você aceita?
— Não.
— Por quê? — Stephen deu um longo suspiro, e mostrou-se
impaciente.
— Pensei que fosse óbvio. Nos últimos quatro anos você me humilhou
diversas vezes, deixou claro o que pensava sobre mim, e tem transformado
minha vida num inferno.
— Não seja tão rigorosa comigo! Nós nos encontramos apenas quatro
vezes nos últimos anos, Amanda.
— Foi o bastante — ela revidou, com frieza. — O que mais me
impressiona é o fato de você pensar que pode controlar a situação sempre.
Você me trata com desprezo durante um bom tempo, e de uma hora para
outra decide passar por cima de tudo, como se nada tivesse acontecido! Se
julga que vou aceitar tudo isso com naturalidade, está enganado! Esta manhã
você insultou a memória de Roderick, ofendendo-me. Só me surpreende que
não tenha contado aos outros o que vem me dizendo, nos últimos anos… —
Amanda foi se exaltando, e, quando terminou de falar, os olhos estavam
rasos de água.
Depois de ouvir as acusações, ele colocou o copo na mesa e tomou-a
pelos braços, forçando-a a se levantar.
— Não! Solte-me…
— Está certa — aquiesceu, puxando-a para o sofá. — Sempre a tratei
de forma horrível. Mas eu tinha meus motivos.
— Quais? Posso sabre?
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— Claro, é para isso que estou aqui.
— Devem ser muitos e fortes, para justificarem seu comportamento.
Afinal, não poupou esforços para demonstrar sua antipatia em relação a mim.
— Tudo o que fiz foi pensando em salvar os interesses da empresa,
Amanda.
— Não seja cínico, Stephen!
— Pode acreditar. É a pura verdade.
— Ora, não me venha com essa! Pelo pouco que conheço de você, já
deu para perceber que é o tipo de pessoa que só se preocupa em proteger os
próprios interesses.
— Se pensa dessa forma a meu respeito, e não me der uma chance de
provar o contrário, jamais vamos nos entender.
— E quem foi que disse que quero me entender com você?
— Pelo menos, pode fazer o favor de me escutar, sem interromper —
Stephen replicou. — Sempre achei que você fosse uma ameaça a minha
posição dentro da empresa e, quando Roderick resolveu colocá-la na diretoria
da Ballantyne, senti-me enormemente prejudicado, pois eu era o braço direito
dele e você não tinha qualificação alguma para assumir um cargo de tamanha
responsabilidade. Quanto a mim, tive de conquistar um lugar na firma com
meu esforço pessoal e minha dedicação. É compreensível que me sentisse
injustiçado e ameaçado.
— Eu não queria entrar para a diretoria! — ela exclamou, nervosa. —
Nunca esperei nada de Roderick, a não ser ficar com ele… No entanto, de
certa forma, os prognósticos que ele fazia em relação a mim eram
diferentes…
— Está tentando dizer que a maneira de Roderick demonstrar seu
amor foi nomeá-la para a diretoria?
— Não sei o que ele tinha na cabeça, quando me nomeou para a
diretoria. O que posso dizer é que nunca deixou de admirar você. Mesmo
depois que se opôs a esta decisão dele. Poderíamos os três, eu, Roderick e
você, ter sido bons amigos. Infelizmente, você preferiu imaginar o pior a meu
respeito…
— Não acredito em boas intenções. Elas não existem no mundo dos
negócios.
— Duvida de mim? Então, por que acha que nunca contei a ele como
me tratava?
— Gostaria de saber, isto é, se é mesmo verdade que não contou.
— Porque Roderick o tinha em alta conta, e eu sabia que tal coisa o
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deixaria aborrecido. Por que acredita que dei a você meu apoio esta manhã?
— Você se refere à reunião da diretoria?
Amanda fechou os olhos e concordou com um gesto de cabeça.
— Bom, na realidade, eu só comecei a ver as coisas com clareza há
pouco tempo. Foi difícil crer que você realmente o amava, e não havia casado
por interesse.
— E o que o fez mudar de idéia?
— Eu… — Stephen hesitou, tentando esboçar um sorriso. — Sei que
posso parecer teimoso e infantil às vezes, mas… há algumas semanas vi um
de seus quadros, por acaso... Fiquei tão impressionado, que resolvi comprá-
lo, sem prestar muita atenção na assinatura. Nessa época, houve um jantar
em minha casa, e um dos convidados disse que também possuía uma tela de
Amanda Lawson.
— Como descobriu que se tratava de um de meus quadros? — ela
contrapôs, desconfiada.
— Não me lembrava de seu nome de solteira, porém tinha certeza de
que não havia muitas Amanda na Costa Dourada. Daí retornei à galeria e,
com um pouco de insistência, eles acabaram admitindo que Amanda Lawson
e Amanda Ballantyne eram a mesma pessoa.
— E o que isso tem que ver com sua visita?
— Muito simples. Eu pensei: se os quadros podiam lhe garantir uma
carreira estável como artista, você não era completamente dependente de
meu sócio; portanto, cheguei à conclusão de que meu comportamento em
relação a você foi equivocado. E aqui estou fazendo uma tentativa de
reconciliação.
— Seu raciocínio não está correto — ela contra-argumentou, com
franqueza. — Comecei a vender minhas telas muito recentemente. Sei que se
Rod me deixou bens no testamento, é porque se preocupava com meu futuro.
Penso que você não tem o direito de contestar o testamento. Por outro lado, a
última coisa que eu gostaria de fazer é entrar com uma ação na justiça contra
você.
Ambos permaneceram calados por algum tempo. Em seguida, Stephen
se levantou e foi até a janela.
— O quadro que comprei é um auto-retrato. Agora eu percebi… —
sussurrou, olhando para a cadeira onde Roderick costumava sentar-se. — Na
pintura, não é possível reconhecer a garota sentada no chão. Mas a expressão
dos olhos… ela está atenta à cadeira vazia, como se sentisse saudade de
alguém… Aquela é a mesma cadeira da pintura…
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Uma semana depois. Amanda estava ao lado de Stephen, dirigindo-se
para Brisbane num Mercedez cinza-metálico.
Era uma manhã ensolarada de domingo e havia pouco trânsito na
estrada. Enquanto observava a paisagem pelo vidro do carro, Amanda
perguntava a si mesma como se deixara convencer.
Estaria fazendo aquilo por Roderick? Talvez ainda se sentisse culpada
pelo relacionamento difícil entre os sócios, e pela memória de Rod
concordava com a viagem.
Stephen parecia ter sido sincero, e, depois de tantas explicações, como
ela poderia ter recusado?
Ainda na tarde anterior, pensara em ligar para Stephen e inventar uma
desculpa. Diria que, apesar de terem feito as pazes, precisava de tempo para
se acostumar com a idéia. Contudo, o que mais a incomodava era a idéia de
passarem uma semana numa ilha.
Amanda não chegou a telefonar. Tivera a certeza de que, por mais
resistência que oferecesse, acabaria cedendo.
— Alguma coisa errada? — indagou Stephen, interrompendo-lhe os
pensamentos.
— Não, nada — Amanda respondeu, um pouco sem jeito. Era difícil
conviver amigavelmente com o homem que odiara por tanto tempo.
— Parece que vai fazer calor por aqui. Você trouxe roupas leves?
— Sim, trago comigo algumas camisetas e bermudas.
— Vai precisar de alguns trajes mais formais. Há quatro restaurantes
em Hamilton e duas casas noturnas recém-inauguradas. Não pense que
vamos passar a semana inteira trabalhando, sem nenhum descanso. Esta
parece a ocasião ideal para juntarmos o útil ao agradável — Stephen
declarou, sorrindo.
Amanda estivera analisando-o durante parte da viagem, e naquele
momento teve um pressentimento.
Nos encontros anteriores, conhecera o lado frio daquele homem, e
agora estava descobrindo o outro… mais amável. O traje esporte emprestava-
lhe um ar descontraído, menos austero.
Vestia uma bermuda creme, camisa pólo com listras brancas e bege, e
sandálias de couro.
Após observá-lo por algum tempo, ela deu uma olhada na própria
roupa. Decidira-se por um jeans com corte moderno e pela camisa de algodão
amarela, uma de suas cores prediletas para o verão. Estava usando também
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um par de óculos de sol e, como de hábito, uma corrente de ouro e dois anéis:
na mão direita, a aliança de casamento; na esquerda, um delicado anel de
rubi.
Escolhera um esmalte vermelho-escuro, para combinar com o batom.
Por causa do banho de sol naquele dia, sua pele estava mais bronzeada do
que de costume, e recebera uma camada de loção à base de algas. Os cabelos
sedosos foram lavados pela manhã, e agora brilhavam à luz do sol.
À medida que se aproximavam de Brisbane, Amanda se perguntava
como uma pessoa podia mudar de atitude tão rápido.
A aparência informal de Stephen colaborava para deixá-la mais à
vontade, e, por um momento, Amanda se esqueceu dos desentendimentos
passados, procurando conhecer melhor o homem a seu lado.
O sol do meio-dia estava forte, e ela achou bom estar protegida por
óculos escuros. Temia aborrecer Stephen, deixando-o perceber seu
nervosismo.
Durante o trajeto, a conversa restringiu-se a assuntos banais, como
trânsito, clima etc. E quase não falaram, mergulhados nos próprios
pensamentos.
Ao passarem por Kingsford, porém, Stephen perguntou:
— Você trouxe seu material de pintura?
— Não, apenas um bloco de rascunho e alguns vidros de tinta. Mas
estou levando uma câmara, para tirar fotos da ilha.
— Ótimo! Talvez eu tenha o privilégio de adquirir uma de suas telas
em primeira mão.
— Será difícil… Normalmente, demoro muito para terminar um
quadro.
— Faz tempo que você desenha?
— Há quatro anos. Quando trabalhava como datilografa, na
Ballantyne, fazia alguns esboços nas horas vagas Só depois de meu
casamento é que comecei a pintar com maior regularidade.
— Você desenha muito bem.
— Obrigada.
— Bem, cá estamos! — Stephen parou do carro em frente ao aeroporto
de Eagle Farm. — Você se importa de esperar aqui com a bagagem, enquanto
guardo o carro no estacionamento?
— Não, é claro que não. Sempre fazia isso quando viajava com… —
Amanda parou, mordiscando o lábio “Quando viajava com Rod”, ia dizer. —
Veja, há um carrinho vazio ali! Vou apanhá-lo para pôr a bagagem.
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Enquanto esperava por Stephen, a ansiedade em relação à viagem
aumentou. Apesar do medo de viajar de avião, gostava do clima dos
aeroportos. Após tantas viagens a várias partes da Austrália, ainda
impressionava-se com o constante movimento de passageiros, o ruído dos
jatos e a sensação mágica de ir a um lugar novo.
Alguns instantes depois, Stephen juntou-se a ela e apanhou o carrinho.
— Que tal tomarmos algo? Está quase na hora do almoço.
— É uma boa idéia — assentiu ela.
— Primeiro, vamos checar as passagens e despachar a bagagem.
O funcionário do aeroporto mostrou-se solícito.
— Sr. e sra. Ballantyne — ele declarou, conferindo as passagens
erroneamente. — Vejo que são um casal de sorte… A ilha Hamilton é o lugar
ideal para um fim de semana. Gostariam de viajar na área para fumantes ou
na para não fumantes?
— Não fumantes — responderam ao mesmo tempo.
— Mas nós não somos casados… — Amanda corrigiu, embaraçada por
ter sido confundida como mulher de Stephen.
“O que o funcionário do aeroporto estaria pensando? Bem, se eles não
eram casados, poderiam passar por… amantes? Por outro lado… o que as
pessoas pensassem realmente importava?” refletiu Amanda.
Depois de embarcar as malas, Stephen aproximou-se:
— Eu expliquei ao funcionário e ele mandou pedir desculpas.
— Não tinha me ocorrido que as pessoas poderiam chegar a essa
conclusão, só por verem um homem e uma mulher juntos. — Amanda sorriu,
sem graça. — Espero que não aconteça de novo.
— Se está tão preocupada com o que as pessoas podem pensar, é
melhor relaxar e ir se acostumando. Basta verem um homem e uma mulher
juntos, e já acham que formam um casal. — Os olhos de Stephen traíam um
certo desgosto, e por um momento Amanda lembrou-se do homem agressivo
e hostil que havia conhecido. — Vamos tomar alguma coisa antes de partir?
— sugeriu ele, desfazendo o clima de tensão.
Mas aquela sensação de constrangimento, que a princípio fora
substituída pela expectativa em relação à viagem, voltara.
O jatinho aterrissou no aeroporto minutos antes do horário previsto.
Amanda sentara-se ao lado da janela, um pouco nervosa. Raras vezes
conseguia ficar calma antes da decolagem, e, de alguma forma, olhar pela
janela o avião se afastar do solo cada vez mais e senti-lo ganhando altura só a
deixavam nervosa. Nesses momentos procurava se distrair, olhando para o
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banco da frente ou para as mãos trêmulas, até que o aparelho ganhasse
estabilidade.
Em diversas ocasiões Roderick havia rido daquele seu mal-estar, e
sempre procurava confortá-la com um beijo. Amanda recordava-se dessas
coisas, quando Stephen lhe tomou a mão e cobriu-a com a dele. Tentou
distraí-la, falando sobre o funcionário que os tomara por marido e mulher.
— Desculpe pelo que aconteceu no aeroporto… Não tive intenção de
constrangê-la.
— Tudo bem. Às vezes, eu me preocupo demais com o que os outros
pensam.
— Você está aborrecida?
— Não, não é isso… O problema é que sempre fico nervosa antes de
partir…
— Está falando sério?
— Sei que parece bobagem, porem não suporto viagens de avião.
— Entendo. Procure não pensar muito no vôo em si. Não sei se você
sabe, mas o avião é um meio de transporte muito seguro. O índice de
acidentes é baixíssimo, e quando acontecem…
— Eu sei — ela o interrompeu. — Os momentos mais arriscados são a
decolagem e o pouso. E você não tem medo, Stephen?
— Um pouco.
— Quer dizer que também tem medo? — repetiu Amanda, sentindo-se
mais confortada com o fato.
— Infelizmente — ele admitiu, com um sorriso.
— Pensei que eu fosse a única pessoa no mundo que tivesse esse tipo
de problema.
— Não, é claro que não.
— Os outros passageiros parecem tão seguros… Você disfarça bem o
nervosismo.
— Disfarço nada. Você é que não estava olhando para mim. Até pensei
que estivesse brava comigo.
— Não, claro que não — Amanda assegurou, hesitante.
— Não, mesmo?
— Stephen, para mim é difícil aceitar essa sua mudança, você entende?
Tudo aconteceu tão rápido. Preciso de tempo para me acostumar com a nova
situação.
— Claro, claro — aquiesceu ele, baixando os olhos. — Há uma
semana, em meu escritório, estava tão irritada, que quase atirou um cinzeiro
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em minha cabeça. Lembra-se?
— Como assim?
— Bem, você ficou olhando para ele por tanto tempo…
Surpresa e, ao mesmo tempo, embaraçada, Amanda não pôde evitar
um sorriso.
— Não percebi que tinha me exposto tanto…
— Na realidade, creio que você conseguiu se controlar de forma
admirável, mas não vamos relembrar o passado. — E apertou a mão dela, de
um modo que enfatizasse as palavras. — Certo?
Amanda concordou com um gesto de cabeça, sentindo-se mais
aliviada. No entanto, algo em seu íntimo a precavia contra aquele homem.
Contudo, por que, se agora ele se mostrava tão gentil e atencioso?
Distraída com esses pensamentos, não percebeu quando a aeromoça se
aproximou, sugerindo:
— Gostariam de tomar um aperitivo, sr. e sra. Ballantyne?
De mãos dadas, Amanda e Stephen trocaram um olhar cúmplice e
sorriram.
O vôo para a ilha Hamilton levou quase uma hora e meia. Depois do
almoço, Stephen leu as principais notícias do jornal e Amanda instalou-se
confortavelmente na poltrona para apreciar a vista, um pouco sonolenta
depois da taça de vinho. Há tempo não tirava alguns dias para descansar,
longe dos escritórios da empresa, e aquela ilha parecia o lugar ideal.
O avião começou a descer ao sobrevoar o litoral de Mackay e o porto
de Hay Point, para onde eram levados os vagões dos campos de mineração
em Queensland.
Em meio ao oceano, blocos maciços de coral submerso formavam uma
mancha escura e extensa. Amanda ficou encantada ao ver as praias com
vegetação litorânea, baías isoladas, iates como minúsculos pontos brancos no
azul do mar, e as formações rochosas que, à luz do sol, refletiam variadas
cores e imagens.
— Aquela é a ilha Pentecost — Stephen declarou. — O capitão Cook,
como você já deve ter ouvido falar, descobriu a passagem entre estas ilhas há
muito, e deu nomes diferentes a cada uma delas. Devemos estar perto agora.
A voz do comissário de bordo confirmou a informação pelo alto-
falante. Estariam aterrissando na ilha Hamilton em poucos minutos.
Já se podia avistar a pista do aeroporto, e o avião iniciava um pouso
suave.
— Parece que não vai levar muito tempo — ela murmurou,
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apreensiva.
— Apenas o tempo necessário. — Stephen tentava fazê-la relaxar. —
Essa pista reduz o tempo da viagem. Antes, para chegar até a ilha, os turistas
tinham de pegar um avião para Proserpine e então tomar um barco em Shute
Harbour, ou alugar um helicóptero. Agora o acesso está muito mais fácil —
acrescentou, ouvindo as turbinas sendo desligadas. — Foi uma descida
suave, não?
— Foi. Mas preciso me acostumar às viagens de avião.
— Lembre-se de que não é a única que tem medo de voar.
— Já estou melhor. Quando sinto o avião em contato com a pista, fico
mais calma.
— Ótimo! Bem, seja bem-vinda a Hamilton! Vamos desembarcar?
Do lado de tora do avião, o ar estava quente e úmido. O terminal de
desembarque ainda não tinha sido acabado, e um jovem com megafone dava
as boas-vindas e orientava os passageiros.
— Vamos com os demais turistas, Stephen! Dispense nosso carro.
— Como quiser. Amanda.
O motorista do ônibus turístico era um homem simpatia e jovial. Antes
de dar a partida, informou o itinerário:
— Senhoras e senhores, sejam bem-vindos à ilha Hamilton. Vou levá-
los até o hotel primeiro, onde poderão confirmar suas reservas. Depois, se
quiserem, fico à disposição para apresentar-lhes a ilha — bradou
animadamente, antes de começar a descrever os pontos turísticos que havia
durante o trajeto. — À esquerda, vocês podem ver o porto de Hamilton, e
aquele é o Mariners' Inn, ótimo barzinho para se divertirem e cearem à noite.
Há várias lojas para os hóspedes do condomínio, onde poderão encontrar de
tudo! E agora, vamos passar para outro lado da ilha. À direita, estão os
chalés, bem no alto daquela colina, e estes são os do condomínio. À esquerda,
o Hotel Outrigger. E, finalmente, a recepção — anunciou, atravessando um
pórtico imponente.
— É enorme! — Amanda exclamou, impressionada.
— E ficará maior ainda — afirmou Stephen. — Estamos terminando
uma área de lazer, e há outra construção que nem começamos. Você quer
esperar aqui, enquanto vejo nossas acomodações?
— Não. Gostaria antes de conhecer o prédio por dentro. Parece
incrível!
Amanda estava certa. Enquanto caminhava pelo interior da recepção,
estudava cada detalhe da decoração impecável.
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O teto se elevava, como o topo de uma pirâmide, e era revestido de
madeira. O papel de parede clássico dava um tom discreto e elegante ao
ambiente, juntamente com alguns quadros de pintores famosos. A área
central, situada num nível mais baixo em relação à entrada principal,
chamava a atenção pelo jardim com plantas ornamentais, delimitado por uma
mureta em mármore branco. Por toda parte havia mesinhas com três ou
quatro poltronas. Por uma porta de vidro podia-se chegar a uma enorme
piscina, cuja principal atração era uma ilha artificial com palmeiras. Mais
adiante divisava-se a praia.
— Fantástico!… — Amanda exclamou, entusiasmada.
— Gostou do lugar? — indagou Stephen, aproximando-se dela.
— É bonito. A pessoa responsável pela decoração teve muita
criatividade e bom gosto. Possui uma influência polinésia bem marcante.
Parece ter sido projetado para combinar com as construções locais, as noites
quentes e úmidas, e… — Ela parou, percebendo que Stephen estava
examinando-a. — O que foi?
— Nada. Está absolutamente certa. Você conseguiu fazer uma
descrição perfeita do lugar. Foi por isso que a trouxe para cá, sra. Ballantyne.
— Você pretende copiar a decoração daqui?
— Não, de modo algum. Só quis reafirmar os motivos que me levaram
a trazê-la comigo. Quero dizer que foi por causa de suas idéias sobre estilos e
tendências que a trouxe para cá.
— Ah, bom! — Amanda sussurrou, com um sorriso. — Nesse caso, o
que acha de me oferecer uma xícara de chá? Preciso de uma para aguçar
minha sensibilidade.
— Negócio fechado! Um carro está a nossa espera, para nos levar até a
colônia Outrigger. Podemos tomar uma bebida mais estimulante, em
chegando lá.
O apartamento de Amanda ficava ao lado do de Stephen, numa das
alas mais luxuosas da colônia. Da varanda, ela podia apreciar melhor a
paisagem de beleza indescritível que se abria a seus olhos.
A colônia Outrigger estava situada de frente para o mar, e havia
muitas velas coloridas e alguns iates ancorados nas águas límpidas do oceano
Pacífico. Num extremo da praia via-se uma enorme lagoa cercada por
rochedos, e adiante uma colina íngreme coberta pela vegetação litorânea. O
lugar era conhecido como Passage Peak e a praia chamada de Areia das
Pérolas, devido à grande quantidade de ostras na região.
O recife de corais que partia de Passage Peak contornava toda aquela
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parte da ilha, terminando no cais. Outro recife dividia a lagoa em duas, e
acabava numa elevação rochosa, logo atrás do Hotel Outrigger.
As acomodações mais aconchegantes da ilha Hamilton eram os chalés,
construídos em estilo colonial, com amplas varandas que davam para um
imenso gramado. Todos eles possuíam as comodidades necessárias para um
fim de semana confortável.
Mas o que mais chamou a atenção de Amanda, enquanto observava a
paisagem, foi o prédio da recepção, com suas altas palmeiras e a enorme
piscina com serviço de bar e sauna.
— Isso é que é luxo! — exclamou, ouvindo passos do lado de fora do
quarto.
Era Stephen, com duas xícaras na mão.
— Você já tomou seu chá?
— Não, ainda não. Nem comecei a desfazer as malas… Estava
apreciando a vista.
— É muito bonita — ele bradou, entrando. — Gostou do quarto?
— Sim, é bastante aconchegante e confortável — afirmou, aceitando a
xícara que ele lhe oferecia.
O apartamento era constituído de uma suíte ampla e espaçosa. Possuía
uma cama de casal coberta com uma colcha de cetim, uma poltrona, duas
cadeiras, uma mesinha e três abajures. Ao lado da janela, havia uma pequena
geladeira com refrigerantes, sucos naturais e uma variedade de bebidas
alcoólicas.
— Gostaria de dar um passeio? — Stephen perguntou, terminado o
chá.
— Sim, mas… o arquiteto e o engenheiro da Ballantyne não estão
esperando por nós?
— Não, eles só chegam daqui a três ou quatro dias. Enquanto isso,
temos tempo suficiente para conhecer os principais pontos turísticos de
Hamilton.
— Você tem alguma sugestão?
— Bem, estava pensando em dar um mergulho. O que acha?
— Ótima idéia! A água deve estar uma delícia!
CAPÍTULO IV
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No dia seguinte, Amanda acordou bem cedo, disposta a andar pela
ilha. Como a maré estivesse baixa, caminhou horas com água pela cintura, até
chegar aos recifes.
Voltou do passeio por volta do meio-dia, e Stephen já a esperava para
almoçar, no restaurante do hotel
— Como está se sentindo? — ele quis saber, enquanto comiam.
— Ótima!
— Não esta gostando da comida?
— Como não? Dê uma olhada em meu prato! — ela brincou,
apontando para o enorme filé de peixe que estava saboreando e para a
variedade de saladas que ele lhe servira. — A propósito, sinto muito pela
noite passada. Creio que estava realmente cansada.
Após voltarem da praia no dia anterior, Amanda desfizera as malas
antes de se deitar, e tinha caído num sono profundo, vencida pelo cansaço da
longa viagem.
Eles haviam combinado jantar no restaurante Outrigger, mas Stephen
batera à porta do quarto dela diversas vezes, sem que ela despertasse.
— Não sei como consegui dormir tanto! — exclamou, experimentando
um pouco de salada. — Não dormia tão bem desde… bem, faz muito tempo.
— Pensei que tivesse acontecido algo, e quase fui até a portaria para
conseguir uma cópia da chave, porém me lembrei que você parecia cansada.
Assim mesmo, fiquei aliviado quando atendeu ao telefone esta manhã. Mais
um pouco de vinho? — ofereceu, com a garrafa na mão.
— Sim, obrigada. Depois de uma refeição como esta com vinho branco
bem gelado, preciso arrumar alguma coisa para fazer e gastar as calorias.
Stephen admirou o corpo esbelto e levemente bronzeado de Amanda,
que usava apenas uma leve saída-de-banho sobre o maiô. Ela pensou que ele
fosse lhe fazer algum elogio, mas Stephen mudou de assunto, dizendo:
— Que tal uma partida de tênis no final da tarde? Depois, quando a
maré baixar, poderemos dar um mergulho.
— Eu adoraria!
Amanda fechou os olhos e suspirou. Seria possível que tudo aquilo
estivesse realmente acontecendo? Stephen Chandler e Amanda Ballantyne
almoçando juntos, como velhos amigos? Aquele homem a seu lado, de short
e camiseta azul-marinho, seria o mesmo que conhecera cinco anos antes?
— O que foi?
— Nada — ela despistou. — Quero preveni-lo de que não sou uma
boa tenista, e nunca aceito um desafio quando suspeito que meu adversário
31
leva muita vantagem sobre mim.
— Fique sossegada. Eu não jogo muito bem…
— É o que todos dizem. Aí, você entra na quadra e descobre que o
outro jogador é um verdadeiro campeão! Bom, de qualquer forma, um pouco
de exercício fará bem.
CAPÍTULO V
40
viagem de helicóptero…
Após refletir por alguns instantes, decidiu afastar com determinação
qualquer pensamento sobre a noite anterior. Provavelmente, estivera sob o
efeito da bebida e da música, nada mais.
Já no aeroporto, os dois se dirigiram para o escritório da companhia
aérea. Não havia uma única nuvem no céu, e o ar quente da manhã indicava
que o dia seria maravilhoso.
Ela o observava discretamente, procurando esconder a tensão. Stephen
também havia escolhido um traje bem esportivo: calção amarelo e bata
branca. O conjunto simples o deixava terrivelmente bonito, realçando o
bronzeado da pele.
— E daí, Stephen, sua coragem está em alta? — ela perguntou
brincando, para disfarçar o nervosismo.
— Hoje, eu posso até saltar de pára-quedas… Mas… você está bem? —
E olhou-a, preocupado.
— Estou ótima! — ela mentiu. — Por que não haveria de estar?
— Você levantou cedo.
— Foram as gaivotas… Um bando delas! — exclamou, forçando um
sorriso que não o convenceu.
— Sei… Quer dizer que não está nervosa?
— Só um pouco. Li alguma coisa sobre a viagem. Parece que o
helicóptero vai pousar numa barca ao lado do recife, e que vamos conhecer os
bancos de coral numa nave com fundo transparente.
— É uma aventura e tanto!
— Para mim, parece assustadora!
— Você já mergulhou?
— Por incrível que pareça, já. Essa parte da viagem, pelo menos, tenho
certeza de que vou adorar.
— Ótimo! — bradou ele, tomando-lhe a mão. Amanda resolveu agir
com naturalidade e não ofereceu resistência ao contato.
Um guia turístico estava esperando por eles no escritório.
— Chegaram bem na hora! — Ele os recebeu com entusiasmo,
apontando para outros três passageiros. — Vamos apanhar o equipamento de
mergulho, e depois eu os levo até a pista.
O helicóptero era pequeno, e trazia o mapa e o nome da ilha Hamilton
nos lados, em letras bem grandes. Quando chegaram, o piloto parecia
preocupado, mas, assim que o outro funcionário surgiu com o café da manhã,
ele suspirou, aliviado.
41
— Pensei que vocês fossem ficar sem o desjejum esta manhã! —
brincou ele, e começou a explicar como deveriam usar o salva-vidas!
Pouco tempo depois, as portas do helicóptero já estavam fechadas, e o
piloto pediu que todos colocassem os fones de ouvido, por causa da
decolagem barulhenta.
O compartimento de passageiros era pequeno e apertado, apesar de
haver apenas quatro pessoas, com um quinto passageiro ao lado do piloto. E
o furor sibilante da partida, como fora avisado, era insuportável, mesmo com
os fones de ouvido.
Amanda fechou os olhos, arrependendo-se de ter concordado com a
excursão. Sabia que a viagem em si não ia levar muito tempo, mas a
estridência a deixava apavorada…
Stephen segurou-lhe a mão, numa tentativa de lhe transmitir ânimo.
Amanda sorriu, agradecida, e repousou a cabeça no ombro dele.
Em poucos instantes estavam ganhando altura, e o medo de Amanda
foi desaparecendo ante a visão fantástica que se abria ante seus olhos.
CAPÍTULO VI
49
descansar.
— Você não se importa?
— Claro que não. Só quero que descanse.
— Estou bem… Só um pouco cansada… — Sorriu, embaraçada.
— Não pense que me agrada ter de partir. Na realidade, gostaria de
ficar aqui e passar o dia inteiro com você… — Stephen inclinou-se para tocar-
lhe o bico dos seios com os lábios, provocando-lhe um arrepio. — Não sei por
que se preocupa tanto com eles… São tão bonitos.
— As mulheres, às vezes, têm preocupações estranhas — Amanda
brincou, afagando-lhe o cabelo.
— Bem, eu preciso ir agora. — Ele se levantou, despedindo-se com um
beijo. — Não posso deixar os rapazes esperando, certo? Não sei a que horas
volto, mas você não vai embora, vai?
— É claro que não. Por que pergunta?
Stephen ficou sério, como se um pensamento sombrio o preocupasse.
Então, deu de ombros e falou:
— Por nada… A propósito, eles servem o café da manhã até as dez.
Vejo você mais tarde.
Amanda ouviu a porta fechar suavemente e continuou na cama,
observando os raios de sol iluminando o quarto. Espreguiçando-se, levantou-
se depois de uns quinze minutos. Uma ducha quente acabou de vez com a
sonolência, e, disposta, ela desceu e dirigiu-se ao salão. Procurou por Brad e
Louise, lembrando-se em seguida de que tinham planejado visitar os recifes.
Então, pediu suco de laranja, chá e torradas, e acomodou-se numa mesa
pequena.
Àquela hora da manhã, a maré ainda estava alta, e a maioria dos
hóspedes se encontrava na piscina. Por isso, ela foi até a praia e instalou-se
confortavelmente debaixo do guarda-sol, juntamente com o material de
pintura.
O céu estava claro e a luz do sol faiscava nas águas límpidas do
oceano. Ao longe, as pequenas ilhas se destacavam como diminutos pontos
escuros num manto azul.
Amanda apanhou o lápis e fez os primeiros traços. Em pouco tempo,
podia-se distinguir no cavalete de pintura a praia das Pérolas com suas
palmeiras imponentes.
Quando ela consultou o relógio, já era quase meio-dia. Não reparara
como o tempo tinha passado depressa. Olhou para a tela e continuou
desenhando. Logo a silhueta de um homem surgiu na paisagem: Stephen.
50
Amanda só parou de desenhar quando o esboço estava pronto.
Satisfeita, ela apreciou o resultado do trabalho, e então guardou o material
para dar um mergulho.
Revigorada, foi até o bar da praia para comer um sanduíche e tomar
um suco de abacaxi. Ali, à sombra, saboreou seu lanche e divertiu-se
conversando com vários turistas que lotavam o lugar.
Ao vê-la fascinada a observar uma asa delta descrevendo um vôo
sobre o oceano, Marilyn, uma jovem veterinária que estava na ilha em lua-de-
mel, indagou:
— Você sabe voar?
— Eu?! — Amanda riu. — tenho medo até de viajar de avião. Ah, bem
que gostaria!
— Se esse esporte a empolga tanto, creio que deveria tentar. Nunca
vou me esquecer do curso de anatomia, na faculdade, quando o professor, na
primeira aula de dissecação de cadáveres, falou: “Tudo é uma questão de
hábito, meninada”. Ele era terrível. Morreu de rir quando alguns de meus
colegas tiveram de ir correndo para o banheiro. O danado, porém, tinha
razão. No final, essas aulas acabaram virando rotina.
Era uma conversa despretensiosa, mas Amanda se pôs a refletir sobre
as mudanças em sua vida. Sentia-se muito feliz… e também assustada. Não
havia planejado envolver-se com ninguém, depois da morte de Roderick. Não
que pretendesse levar uma vida solitária, porém, pensava em dar-se um
tempo maior para se recompor do choque da separação inesperada. Ainda se
julgava imatura para um novo relacionamento, ainda mais quando se
apaixonava por Stephen Chandler, o homem que havia poucas semanas era
seu grande inimigo.
— O que houve? — Marilyn perguntou, vendo-a pensativa, o olhar
distante.
— Desculpe-me. É que lembrei que preciso voltar ao hotel —
justificou-se, aproveitando o momento para juntar suas coisas.
Estava ansiosa com a demora de Stephen, e por isso nem parou para
conversar com Brad e Louise, que, à beira da piscina, dialogavam com um
grupo de amigos.
Chegou ao corredor tão distraída, que não percebeu que Stephen
vinha a seu encontro.
— Vai a algum lugar? — ele perguntou, pondo-se à frente de Amanda,
num movimento rápido.
— Stephen! Você me assustou!
51
— Eu só quis brincar, você parecia tão preocupada… — declarou ele,
abraçando-a.
— Aí, como o susto não me matou do coração, você notou que estava
enganado, certo? — ela falou, sorrindo, para disfarçar a forte emoção que a
tomava de assalto. Amanda gostaria de beijá-lo, de dizer-lhe que havia
sentido saudade, porém só conseguiu perguntar: — Como foi seu dia?
— Ótimo! Mas, antes de lhe contar tudo, que tal me oferecer uma
cerveja? Estou morrendo de sede…
— É claro.
Já em seu quarto, ela serviu-lhe uma lata de cerveja e abriu uma
garrafa de água mineral.
— Quer um copo?
— Não. A cerveja está deliciosa. E você, como passou o dia?
— Muito bem… Não fiz outra coisa o dia inteiro senão nadar. Aliás,
vou tirar o maiô e pôr algo mais confortável.
Amanda entrou no banheiro e encostou a porta. Mal acabara de tirar a
camiseta, viu Stephen entrar.
— Por que se esconder de mim, querida? — ele perguntou,
examinando-a de alto a baixo.
— Bem, eu… eu não estava tentando me esconder… — ela desviou o
olhar, embaraçada.
— Ainda bem. Posso ajudá-la?
Imediatamente após a pergunta, Stephen começou a tirar-lhe o maiô
devagar, fitando-se com intensidade. Quando a peça de roupa foi ao chão, ele
deixou as mãos deslizarem de forma suave pelo corpo de Amanda, que não
esperou mais para beijá-lo.
— Venha… — ele murmurou pouco depois, guiando-a até a cama.
E logo entregavam-se à paixão, conscientes apenas das deliciosas
reações de seus corpos, das carícias ardentes que os conduziram ao êxtase.
O sol desapareceu no horizonte e a noite caiu mansamente sobre a
ilha. Amanda e Stephen ficaram um longo tempo nos braços um do outro,
desfrutando a quietude e a paz que os invadiu depois que saciaram o desejo.
— Estive pensando em nós dois o dia inteiro — Stephen declarou,
afagando-lhe os cabelos.
— Eu também…
— O que quer fazer hoje à noite?
— Nada… Bem, quero dizer…
— Eu entendi. Prefere um programa bem calmo, apenas para nós dois.
52
— Sim.
— Então, tenho uma sugestão. Há um clube noturno em Hamilton,
que está chamando a atenção da maioria dos turistas. Assim, o Mariners' é
uma boa opção para um jantar tranqüilo à luz de velas. O que acha?
— Perfeito… e quanto ao arquiteto e ao engenheiro?
— Eles já se foram. Agora estamos sozinhos, para fazer o que
desejarmos. — Stephen beijou-a antes de se levantar para apanhar outra
cerveja. — Você quer mais alguma coisa?
— Não, obrigada.
Depois de enrolar uma toalha na cintura, Stephen foi até a varanda.
Quando voltou para junto de Amanda, entregou-lhe o roupão que estava ao
pé da cama.
— Venha dar uma olhada nisso.
Chegando à porta envidraçada, Stephen apontou para uma extensa
mancha escura no céu. Amanda observou aquela paisagem estranha,
intrigada.
— O que é aquilo?
— Um bando de cacatuas, milhares delas… Nunca vi tantas assim
reunidas.
Acompanharam os grandes papagaios que cruzavam o céu,
lentamente. Aí, a noite se tornou mais escura e foi impossível continuar a
observá-los.
— É lindo… — afirmou ela, admirada.
— Mesmo que estivessem voando longe, dava para notar que eram
enormes, não? Vamos voltar para a cama?
— Vamos.
— Sobre o que estávamos falando, Amanda? — indagou, recostando-
se no travesseiro. Ela ainda vestia o roupão e sentara-se a seu lado.
— Sobre a ilha… o arquiteto e o engenheiro…
— Ah, sim! Bem, o arquiteto voltou a Brisbane para desenhar alguns
esboços, e o engenheiro está organizando uma excursão técnica que vai durar
alguns meses. Até eles voltarem para cá, não podemos começar a trabalhar
em Whitsundays.
— Você já teve alguma idéia? — Amanda quis saber.
— Ainda não. — Ele permaneceu em silêncio, pensativo, e então fitou-
a com um sorriso nos lábios. — Para falar a verdade, passei o dia todo
distraído… — confessou, fazendo-a enrubescer. — Por que você ficou
vermelha?
53
— Não sei.
— Lógico que sabe. Por que vive reprimindo suas emoções?
— Acredito que por costume. Além disso, tenho medo de me expor
demais…
— Mesmo comigo? Acho perfeitamente natural pensarmos um no
outro o dia inteiro.
Claro, não havia nada de errado nisso, porém ela sempre tivera
dificuldade em falar de si mesma, em mostrar suas emoções. Vendo-lhe o
constrangimento, Stephen tratou de mudar de assunto.
— Está tudo bem — procurou acalmá-la, afagando-lhe o cabelo. —
Deixe-me falar sobre Whitsundays… É um pouco menor do que
imaginávamos, mas não tão pequena quanto Daydream…
Amanda ouvia atentamente a descrição da ilha, tentando visualizar as
praias isoladas e baías, as florestas e colinas íngremes, de onde se podia ter
um panorama da beleza e do encantamento de Whitsundays.
— Deve ser incrível! — Amanda exclamou, encantada com o relato de
Stephen. — Parece um lugar especial demais para ser partilhado com outras
pessoas. Seria ótimo se…
— Se pudéssemos ficar lá só nós dois? Sabe que pensei exatamente a
mesma coisa?
— Seria muito egoísmo de nossa parte, não? — ela replicou, sorrindo.
— Não seria justo privar os outros desse paraíso, é evidente, porém
vontade não falta.
— Estava pensando naquele passeio de helicóptero… O que faz de
Whitsundays um lugar especial é ainda existirem algumas ilhas virgens ou
desabitadas. Seria uma pena se todas as ilhas fossem ocupadas.
— Você parece ter as mesmas preocupações que tive um dia, Amanda.
— O que quer dizer com isso, Stephen?
— Quando estava na faculdade, eu era um ecologista.
— Você? Não acredito!
— O que há de estranho em alguém ser ecologista? — ele perguntou,
intrigado.
— Nada. Contudo, quando esse alguém é você…
— Não acredita em mim?
— Bem, para ser sincera, jamais o imaginei preocupado com a
preservação da natureza. Penso que só conheci o homem de negócios que há
em você… — Ela fez uma pausa ante a expressão maliciosa no rosto moreno.
— Quero dizer que… bem, ainda falta muito para nos conhecermos melhor.
54
— Por acaso julga que fomos precipitados?
— Não sei… De qualquer forma, não é possível voltar atrás.
Ele a olhou preocupado.
— Você fala como se tivesse cometido um erro. Seria bom que
conversássemos a respeito, não?
— Por favor, Stephen… não agora.
Ele mergulhou os dedos no cabelo de Amanda e observou-a
detidamente. Se forçasse uma situação, acabaria estragando o clima de
entendimento. Por essa razão, sugeriu:
— Que tal nos vestirmos para passar a noite no Mariners'? Vamos
jantar, dançar, e se quiser conversar para que nos conheçamos melhor, ótimo!
A sensibilidade de Stephen a tocou. Só o fato de ele não a pressionar já
lhe transmitia mais segurança.
Amanda levantou-se e foi tomar uma ducha fria para se refrescar.
Depois de passar uma suave loção após o banho, escolheu um conjunto de
saia-calça e miniblusa, uma roupa bem esportiva e adequada ao ambiente
descontraído do Mariners'.
Quando ela e Stephen chegaram ao restaurante, não havia muita
gente, e puderam escolher uma mesa afastada da pista de dança. Mas, ao
terminarem de comer, não resistiram à vontade de se juntarem aos muitos
casais que, àquela hora, já lotavam o salão e se deliciavam, movendo-se
lentamente ao ritmo suave de músicas românticas.
Amanda enlaçou Stephen e deixou-se conduzir para o meio do salão.
Surpreendeu-se com a própria desenvoltura, acompanhando com facilidade
os passos precisos de Stephen, que se revelava um hábil e estimulante
parceiro.
— Com você, acho que poderia dançar a noite inteira — ela elogiou,
fitando-o nos olhos.
— Não olhe para mim desse jeito, mocinha, a não ser que queira ser
beijada em público — Stephen brincou, atraindo-a para mais perto de si.
— Então eu vou olhar para o loiro charmoso, que está dançando com
aquela moça de vermelho — ela o provocou, e a reação de Stephen foi
imediata.
— Isso vai ensiná-la a comportar-se…
Ele se inclinou e não lhe deu chance de escapar de um beijo. O prazer
da carícia superou qualquer vestígio de pudor, fazendo-a corresponder ao
toque suave.
— Quer tomar alguma coisa? Um drinque? — Stephen ofereceu, ao
55
final da última música.
— Vou querer uma xícara de café. Você me dá licença por um
instante?
— Esteja à vontade. Há uma máquina de café expresso logo ali.
Enquanto esperava pelo café no saguão do Mariners', Amanda foi
abordada por uma senhora simpática, que a cumprimentou:
— Sra. Ballantyne! Enfim encontrei-a. Pensei que já tivesse ido embora.
Creio que não se recorda de mim, mas eu a conheci há alguns anos. Meu
marido, Bill, trabalhava com seu marido.
Amanda olhou-a com atenção, forçando a memória. Pouco a pouco o
rosto foi se tornando familiar.
— É claro, sra…
— Bingle. Bill e Dolly Bingle. Eu a reconheci logo que cheguei, e disse
a Bill: “Veja, lá está a sra. Ballantyne!”
Amanda tentou esboçar um sorriso.
— Desculpe, porém não os vi entrando…
— Você estava dançando, querida — Doll Bingle afirmou. —
Acabamos de chegar à ilha e estamos numa das mesas afastadas.
— Ah, então ainda não tiveram tempo de conhecer este paraíso! —
Amanda exclamou, gentilmente.
— De fato… É que o vôo de Brisbane para cá atrasou. Por isso, ainda
não tivemos ocasião de andar por aí. Como já estava escuro, resolvemos vir
jantar.
— Tenho certeza de que vão gostar daqui. Eu, pelo menos, estou
adorando.
— Que bom! Sabe, querida, fiquei muito chocada quando soube da
morte de Rod. Vocês dois eram tão felizes! Mas acho que você tem todo o
direito de começar uma vida nova. Afinal, ninguém vive eternamente de
recordações, não é? E, se alguém lhe disser o contrário, não dê muita
importância. Sei que você e Rod se amavam muito, e por isso falei a Bill
que…
Dolly parou de falar e mordeu o lábio, percebendo que fora indiscreta.
Tentou remediar a situação, abraçando-a carinhosamente e recomendando:
— Bem, não deixe seu companheiro esperando por mais tempo. Vou
tomar um pouco de ar fresco. Vejo-a na praia amanhã. Até logo!
Amanda deixou o saguão, atordoada. O encontro com aquela mulher,
que mal conhecera, tivera o poder de trazer o passado de volta à sua mente,
com toda intensidade. Roderick… como pudera esquecer-se dele?
56
Tomada por um forte sentimento de culpa, Amanda olhou a sua volta,
procurando por Stephen. A primeira pessoa que viu foi Bill Bingle, que a
observava com curiosidade.
Lembrou-se da primeira vez que vira esse homem magro, baixo e,
segundo Roderick, bastante orgulhoso.
Amanda sorriu e acenou em sua direção, e, pelo modo que Bill
retribuiu o cumprimento, descobriu o que Dolly não tivera coragem de dizer.
Bill Bingle apenas lançou-lhe um sorriso discreto e virou-se.
Provavelmente, falariam sobre ela. Viram-na dançando com Stephen, e
naquele momento Bill estaria cochichando para a mulher: Eu não lhe disse?
Ela se casou com Roderick Ballantyne só por dinheiro. Afinal, não faz um ano
que ele morreu, e olhe para ela!
— Amanda! — Era Stephen, que viera a seu encontro. — Aconteceu
alguma coisa?
— Não… — ela mentiu, fazendo o possível para parecer natural e
sorrir. — Esperava pelo café…
Por um momento, Stephen fitou-a em silêncio, enquanto tomava a
bebida. Depois, segurando-a pela mão, conduziu-a de volta à mesa.
Um pouco de orgulho ou auto-estima ajudou Amanda a manter-se
calma. Podia estar imaginando coisas, tentou convencer-se. Talvez Bill Bingle
não suspeitasse de seu romance com Stephen.
— Vamos embora? — ele sugeriu.
— Vamos.
— Quer tomar um táxi?
— Não, prefiro caminhar um pouco. O ar puro me fará bem.
Se Amanda soubesse o que estaria esperando por eles do lado de fora
do Mariners', teria preferido pegar um táxi.
Assim que atravessaram a rua, uma figura alta e familiar destacou-se
das sombras. Era Lance Kidder.
— Já tinha perdido a esperança de encontrá-los hoje à noite… Stephen,
Amanda, como vão?
— O que está fazendo aqui, Lance? — Stephen indagou, visivelmente
surpreso, e Amanda percebeu o quanto a presença de Lance o irritava. Ela
mesma estava apreensiva. Lance Kidder sorriu, irônico.
— O que há de estranho em minha presença aqui? — perguntou com
um certo ar de triunfo, como se os tivesse surpreendido numa falta.
— Nada. Só perguntei o que o trouxe a Hamilton, sem ao menos
avisar? — Stephen revidou, impaciente.
57
— Nada de muito importante… Apenas resolvi examinar a ilha com
meus próprios olhos, já que este é um empreendimento de vulto para a
Ballantyne. Tenho certeza de que é uma ótima forma de unir o útil ao
agradável… — Sem esconder a malícia, estudava cada gesto de Amanda,
provocando-lhe um forte constrangimento.
Antes que Stephen pudesse retomar a palavra, ele continuou:
— Tenho más notícias para você, meu caro Stephen!
— O que foi? — Stephen franziu a testa.
— É sobre Whitsundays. Parece que tinha razão para ficar
preocupado. Houve algumas alterações significativas no mercado nos
últimos dias, e achei que gostaria de saber. Planejei vir mais cedo, porém o
vôo sofreu um pequeno atraso, e quando cheguei ao hotel não consegui
encontrá-los. Mas estava certo de que eu os localizaria esta noite.
“Por quê?”, Amanda perguntava s si mesma, perturbada. Lance queria
apanhá-los de surpresa, numa situação comprometedora. Pelo tom irônico da
voz, parecia estar certo de que conseguira. Por quê? Era difícil entender o que
se passava. Para a diretoria estava claro que ela e Stephen se odiavam, e
Lance não poderia imaginar que as coisas haviam mudado tão depressa, por
mais esperto que fosse.
A voz seca e áspera de Stephen soou, interrompendo-lhe os
pensamentos.
— Onde está hospedado, Lance?
— No mesmo prédio em que você e Amanda estão.
— Se não se importa, gostaria de continuar a discussão a respeito dos
negócios lá.
Caminharam em silêncio até o hotel. O único que parecia à vontade
era Kidder. Ele assumia uma posição de poder, enquanto Stephen se
mostrava muito preocupado. Amanda, por sua vez, estava completamente
confusa.
Ao chegarem à porta do quarto dela, Stephen declarou:
— Você faz parte da diretoria, Amanda. Gostaria de participar da
reunião?
— Eu… eu preciso descansar um pouco, Stephen. Além do mais, não
entendo muito de negócios. Prefiro que me coloque a par da situação
amanhã.
— Está bem — concordou ele, inclinando-se para beijá-la no rosto. —
Durma em paz.
Amanda deu um longo suspiro ao captar o olhar triunfante de Lance
58
Kidder, antes de se juntar novamente a Stephen.
Após trancar a porta do quarto, ela se atirou na cama e mergulhou em
reflexões; o encontro inesperado com Lance, o mal-entendido com Bill e Dolly
Bingle… Não, não conseguiria mais suportar os olhares de desconfiança, o
sentimento de culpa e a lembrança de Roderick ao mesmo tempo… Cada
momento ao lado de Stephen parecia aumentar-lhe o sofrimento, e não existia
outra saída…
Escondeu o rosto nas mãos e, ao levantar, os olhos estavam marejados
de lágrimas. Após um instante de hesitação, apanhou o telefone e ligou para
a recepção. Recebendo resposta afirmativa do funcionário, apanhou uma
folha de papel e deixou um recado para Stephen. Aí, começou a fazer as
malas.
CAPÍTULO VII
59
paradisíaco e, de maneira covarde, nem sequer comunicara a decisão a
Stephen pessoalmente.
O resto do percurso fora completado de ônibus, avião e táxi. Pelo
menos, tivera tempo suficiente para refletir sobre o que acontecera. E agora
tinha de se preparar para um confronto com Stephen.
E, três dias depois, ele apareceu.
Durante esse pouco tempo, Amanda havia se convencido de que
Stephen não viria a seu encontro, pois nunca lhe perdoaria a partida daquela
forma intempestiva. Na certa, também ficara furioso com seu bilhete, que
começava com as seguintes palavras: “Perdoe-me, mas creio que nunca vou
conseguir esquecer Roderick”.
Embora estivesse certa de ter tomado a melhor decisão, ficou nervosa
ao ouvir a campainha tocar naquela tarde ensolarada. Como recebia poucas
visitas, concluiu que só poderia ser Stephen, e a idéia de enfrentá-lo a
assustava.
— Olá, Stephen! — cumprimentou-o, procurando parecer o mais
natural possível.
Ele a mediu da cabeça aos pés, e deteve-se no rosto como se quisesse
adivinhar-lhe os sentimentos. Os dele eram evidentes: mágoa, raiva,
desapontamento…
Ela abaixou a cabeça, envergonhada. Sentia-se culpada por rejeitá-lo,
culpada por desejá-lo… Naquele estado de espírito, como conseguiria
explicar a ele os motivos de sua atitude?
— Entre! Quer beber alguma coisa?
Ele a seguiu pelo hall e quebrou o silêncio com frieza:
— Sim, obrigado.
Amanda preparou um uísque com gelo para ambos. Após um
momento de hesitação, entregou-lhe a bebida. Ele, porém, não fez nenhum
movimento para apanhá-la, apenas ficou observando-a com as mãos nos
bolsos e um sorriso enigmático.
Amanda fez um gesto para colocar o copo na mesinha; contudo, ao
inclinar-se, ele a segurou pelo pulso.
— Querida Amanda, existem certas coisas irreversíveis. Você pode
fugir, inventar desculpas, mas há algo que não pode negar. Isto…
Stephen puxou-a para si e beijou-a longa e apaixonadamente.
Amanda usou de todas as forças para resistir, porém em vão. Ele
dominou-a com facilidade, enquanto lágrimas lhe escorriam pelo rosto. No
fundo, ela sabia que não estava lutando contra Stephen, e sim contra si
60
mesma.
Stephen interrompeu o beijo para lhe acariciar as faces e enxugar as
lágrimas. Voltou a beijá-la, e dessa vez ela correspondeu à intensidade.
— Viu o que quero dizer? — indagou Stephen, apertando-a nos
braços.
Ela o encarou, a emoção impedindo-a de falar.
— Amanda?
— Isso não muda nada entre nós, Stephen — ela conseguiu dizer.
— Como não? — o brilho dos olhos dele era tão intenso quanto a força
daquelas palavras. — Nós nos tornamos amantes porque desejávamos, por
que nos amamos. Não é verdade, Amanda?
— Sim, mas…
— Você, tanto quanto eu, queria que nossa relação chegasse ao ponto
em que chegou, não queria?
— Tudo bem! — Ela conseguiu se libertar e virou de costas. — Sim,
queria. No entanto, tal não significa que eu entenda o que esteja acontecendo.
Sinto que as pessoas censuram meu comportamento, como se estivesse
agindo de forma leviana. Talvez eles esteja certos… Lance Kidder, os
Bingle…
— Quem são os Bingle?
— Não importa agora.
— Importa, sim. Conte-me.
Ela narrou seu encontro com os Bingle naquela noite no Mariner's, as
palavras de Dolly e os olhares insinuantes de Bill.
— Eu sabia que havia acontecido algo — afirmou ele, franzindo a
testa. — Por que não me contou?
— Por quê? Não sei. Talvez não fosse tão importante.
— Bem, se não foi importante, o que a deixou abalada?
— Não foi o que Bill e Dolly Bingle falaram, porém a presença deles,
naquele momento, me perturbou. Eles me fizeram parar e pensar…
— Parece que todo mundo consegue fazê-la pensar, Amanda, menos
eu.
— Stephen, olhe, deixe-me terminar o que estava dizendo.
— Sobre o que as pessoas pensam de você?
Apesar de Stephen se mostrar cada vez mais tenso, ela prosseguiu:
— Sim. Às vezes me pergunto se tudo não passa de uma vingança de
sua parte.
— Em conclusão, é isso que a está preocupando?
61
— Não é só isso. Este não foi o único pensamento desagradável com
que fui obrigada a conviver… Na realidade, em minha vida já passei por
momentos piores.
— O que mais a incomoda, então?
Ela deu um longo suspiro, antes de continuar:
— O modo por que Lance Kidder olha para mim, e ele não é o único.
Durante todos esses anos, tantos comentários maliciosos e olhares
insinuantes… Cheguei até a pôr em questão meu casamento, o que é ridículo,
pois eu amava Rod… Daria tudo para tê-lo de volta, aqui… — confessou,
cobrindo o rosto com as mãos.
— Venha… — Stephen segurou-a pela mão e levou-a até o sofá. —
Sente-se aqui e beba isso. — Observou-a tomar o uísque, e, só quando ela
depôs o copo vazio na mesinha, tentou retomar a conversa: — Vamos falar do
nosso relacionamento sexual.
— Como assim? — Amanda indagou, assustada.
— Suas dúvidas começam a se tornar mais intensas quando pensa em
sexo, não é verdade?
— Como… como sabe? — Amanda abaixou a cabeça, encabulada. —
Não quero falar sobre isso. Menos ainda acerca de minha vida com Rod.
— Por quê Amanda?
— Eu estaria traindo a memória de Rod…
— Querida… se acha que estou interessado na vida íntima de vocês,
está enganada. Só quero saber quanto isso influencia nosso relacionamento.
Penso que é uma das razões de sua confusão e de seu conflito entre viver
solitária e voltar a amar de novo.
— Esqueça, Stephen. Não se trata disso.
— Não queira se enganar, Amanda. O romance que iniciamos há
alguns dias não tem nada que ver com seu casamento. Estamos apaixonados
um pelo outro. Se não acredita em mim, tente encontrar outro homem, e veja
se é a mesma coisa.
— O que está dizendo é horrível, Stephen.
— Horrível por quê?
— É um absurdo!
— Não está convencida ainda? — retrucou, com frieza. Ela
empalideceu, os olhos brilhando de ódio.
— Não!
— Nesse caso, vamos conversar. Aqui, não. Vou levá-la para jantar.
— Não estou com fome.
62
— Já que não está com fome, vamos dar uma volta.
— Eu…
— Não precisa trocar de roupa. Você está linda, como sempre…
Amanda estava indecisa. Por um momento, perguntou-se se não
deveria pensar um pouco mais em Stephen. Até agora havia pensado apenas
nos próprios problemas, na culpa que a atormentava. Mas havia se envolvido
com Stephen por vontade própria, e talvez não fosse a única a sofrer com
aquele relacionamento.
— Está bem… — concordou, afinal.
Stephen dirigia calado e apreensivo. Passaram por Brisbane e pela
praia dos Pescadores, contornando a baía de Runaway rumo à ilha das
Gaivotas. Quando chegaram à praia do Paraíso, Stephen deu a volta e parou
o carro no estacionamento de um camping. Dali podia-se ver a praia do Pôr-
do-sol, os edifícios como minúsculos pontos luminosos, àquela hora
cintilando sob a luz do crepúsculo.
O lugar tranqüilo e quase deserto ajudou Amanda a relaxar. Stephen
apoiou os braços no volante e ficou por alguns instantes contemplando a
paisagem. Aí, voltou-se para ela e tocou-lhe de leve o cabelo.
— Mocinha, o que a aflige tanto? Não acha que está dramatizando
demais nosso relacionamento?
Ela hesitou um pouco antes de responder. Contudo, não era justo
continuar guardando os problemas só para si, quando estavam afetando os
dois.
— Para mim foi uma experiência nova — confessou, visivelmente
tensa. — No entanto, é muito difícil explicar sem… sem…
— Sem colocar em jogo seus sentimentos por Roderick? — completou
ele.
— Isso mesmo!
— Não estou pedindo que o esqueça, Amanda!
Ela olhou pela janela e abriu o vidro do carro, para deixar entrar a
brisa fresca.
— Talvez lhe deva contar tudo desde o início, Stephen. Quando
conheci Rod, era muito tímida e quase não me relacionava com estranhos.
Minha mãe vivia conversando comigo, dando-me conselhos, porém não era
uma questão fácil de vencer. — Seus olhares se encontraram, e Amanda
sentiu que Stephen conseguia compreendê-la.
— Continue — incentivou-a.
— Então, eu fui conhecendo Roderick e a cada dia gostando mais dele.
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Ele me dava segurança e felicidade. E, pela primeira vez na vida, consegui
vencer a timidez, embora ainda levasse anos para superar o problema.
— Você se sentia inibida, ao se relacionar sexualmente com ele?
— Sim — Amanda admitiu, enxugando uma lágrima. — Mas, na
realidade, não havia motivos para me sentir assim. Ele sempre foi amável e
gentil e… bem, pouco a pouco comecei a apreciar cada momento nosso, até
conseguir retribuir e me entregar sem reservas. Nosso casamento tornou-se
muito especial. No entanto, durou tão pouco…
— Você ainda sente falta dele?
— Sinto falta, porém o que estou tentando lhe dizer é que ainda não
me refiz da situação toda. Sempre fui feliz ao lado de Rod. Costumávamos
fazer tudo juntos. Só que ninguém pode viver livre de intrigas em meio a
mexericos constantes. Sempre tinha alguém disposto a envenenar nossas
vidas. Nos olhares, nos comentários, era constante uma certa crítica ou
censura, quer por causa da diferença de idade, quer em razão do desnível
social. Alguns homens, como Lance Kidder, por exemplo, me tratavam como
uma mulher vulgar, que eles tinham o direito de abordar sem o menor
respeito. Não que Lance tenha feito tal coisa abertamente.
— Sinto muito… — Stephen desculpou-se, abaixando a cabeça. —
Eu…
— Com você era diferente… — ela atalhou. — Permanentemente
deixou claro sua hostilidade, e nunca demonstrou interesse algum por mim.
— Embora ele fizesse menção de interromper, Amanda prosseguiu: — Se
você quer saber, sempre o respeitei por isso. Acho que é mais fácil respeitar
um… um inimigo franco e declarado do que um amigo falso.
— E daí? Qual é o problema que a levou a se afastar de mim?
— Como disse, você era um inimigo, Stephen. Alguém que não
acreditava que eu era uma esposa feliz e satisfeita.
— Amanda, quero saber por que fugiu de mim em Hamilton.
Ela baixou os olhos e suspirou. Era tão difícil expor sentimentos, que
nem ela mesma conseguia entender direito.
— Se eu disser que o prazer que senti ao fazer sexo com você me
deixou com remorsos, seria capaz de entender? Não sei explicar, Stephen,
porém sinto que estou sendo infiel com Rod.
— Mas Roderick está morto, Amanda! — ele tentou chamá-la à razão.
Ela, contudo, estava fora de si.
— E se ele estivesse vivo? — replicou, chorando. — Se descobrisse que
existia outro homem que poderia me proporcionar mais prazer,
64
especialmente um amigo dele? Oh, Deus! Stephen, gostaria que nada tivesse
acontecido entre nós. Roderick e eu éramos muito felizes…
— Isso lá é verdade — Stephen concordou, quase rude. — E não pense
que ele não tenha feito de tudo para preservar seu amor.
— O que quer dizer?
— Não me admira que saiba tão pouco sobre seu casamento. Durante
o tempo em que estiveram casados, ele a afastou de tudo e de todos.
— Tal fato é mentira.
— Não, não é.
— Rod jamais me forçou a nada — ela defendeu-se e mordiscou o
lábio, nervosa.
— Estou tentando lhe explicar que… ele a privou de muitas coisas, e
por motivos pessoais.
— Certamente, porque sabia que pessoas cínicas podiam me
machucar.
— Não só por essa razão, acredite. Agora há pouco, você deu a
entender que era muito passiva no relacionamento, porém ele desejava que
fosse assim, e no fundo, você sabia disso o tempo todo.
— Não sei onde está querendo chegar…
— O que meu sócio mais gostava em você, Amanda, era a inocência, a
devoção cega a todas as vontades dele. Este seu jeito peculiar o encantava e…
permitia que ele a manipulasse. Mas eu não o culpo, não creio que tivesse
consciência da questão. Por um lado ele queira seu bem, e, por outro, impedia
que você crescesse. — Ao dizer aquelas palavras, calou-se, emocionado.
A análise de Stephen fazia sentido, e desconcertou-a. Ela nunca havia
notado o menor defeito no marido, e agora aquelas verdades a chocavam.
Depois de um longo silêncio, Amanda perguntou, com a voz
embargada:
— O que vamos fazer, Stephen?
— Primeiro, diga-me se concorda com meu ponto de vista — ele quis
saber, e ao mesmo tempo forçando-a a encará-lo.
— Está tentando dizer que meu amor por Roderick era muito mais um
amor paternal?
— De certo modo, sim. Contudo, não há nada de criminoso nisso,
Amanda. Acontece freqüentemente entre casais. Ele não era seu pai, mas
representava a segurança e a experiência que você vinha procurando há
tempo. Várias mulheres se casam por esse motivo e são felizes, até
descobrirem o verdadeiro amor de suas vidas.
65
— Eu teria sido feliz para sempre. E Roderick também.
— Não importa agora. É bobagem afligir-se pelo resto da vida com
uma mera hipótese. Acho que ele até tentou ajudá-la a amadurecer e a deixá-
la um pouco mais livre. Quando a colocou na diretoria da empresa, por
exemplo. Não há dúvida de que a amava muito, a ponto de lhe abrir
caminhos, quando no fundo desejava mantê-la afastada do mundo.
— Como pode ter tanta certeza?
— Um pouco por intuição e o resto pelo fato de conhecê-lo muito bem.
Ele era um homem desiludido e sem perspectivas. Afinal, havia passado por
um casamento infeliz, que acabou se transformando num pesadelo. Nos anos
seguintes, teve outras amantes e experiências, que não ajudaram muito. No
entanto, nunca amou nenhuma delas. Aí você apareceu, e era diferente de
todas as mulheres que Roderick havia conhecido. Infelizmente, ele levou
algum tempo para entender por que tinha se apaixonado por você, e o que
sentia de fato. Cheguei à conclusão de que tentava recuperar a juventude, e
você era a pessoa certa para ajudá-lo a resgatar o tempo perdido.
Amanda notou que estava chovendo. A tempestade que se formou
assim que chegaram da praia os apanhou de surpresa, e o céu escureceu
repentinamente.
— Obrigada, Stephen!
— Obrigada por quê?
— Por me ajudar…
— Não sei se conseguiu entender tudo… — Ela encarou-o, com um ar
de dúvida. — — Ainda não falamos sobre nós, Amanda. Nosso
relacionamento está claro para você?
— Não totalmente.
— Era o que eu temia — confessou, pesaroso.
— Stephen…
— Não — ele atalhou, trazendo-a para mais perto de si. — Antes que
diga qualquer coisa, responda: quer se casar comigo, Amanda?
— Oh, Stephen! Não sei, estou confusa. Não esperava esse pedido
agora.
— Isso mostra quão pouco você me conhece. O que imagina que eu
tinha planejado para nós? Pensou que procurava uma amante ou alguém
para passar algumas noites? — Notava-se um tom de desafio em sua voz. —
Desculpe, creio que me precipitei, não foi mesmo?
— Não, você não foi precipitado, Stephen, mas…
— Mas o quê? Vai me falar outra vez dessa velha história de nós não
66
nos conhecermos bem? Não é mais uma boa desculpa, Amanda. Afinal, já
conquistamos muita intimidade e aprendemos bastante sobre nós mesmos.
— Por favor, pare!
— Eu ia apenas dizer que está sempre linda, que me fascina. Que a vi
comparecer às reuniões da diretoria de cabeça erguida, mesmo sabendo que
faria tudo para humilhá-la… Podia ter cortado o último laço entre mim e meu
sócio, a qualquer momento, porém não o fez. É verdade que eu e você nos
afastamos cada vez mais, mas a culpa não foi sua.
— Stephen, de você só quero saber uma coisa.
— Eu já lhe falei muito a meu respeito. O que mais quer saber?
— Se me ama realmente.
— Ainda não acredita no que tem acontecido entre nós, não é? Por
alguma razão que desconheço, está decidida a não permitir que nosso amor
floresça. Por que não admitir que está lutando contra si mesma? Olhe, vou lhe
provar…
— Stephen, não… preciso pensar.
— Não, não precisa… Esta é a resposta, não percebe? — Começou a
beijar-lhe o rosto, o cabelo e a boca, deixando-a sem forças para reagir.
— Você quer vir para casa comigo?
Ela acenou afirmativamente com a cabeça, e procurou abrigo nos
braços dele.
A casa de Stephen, para surpresa de Amanda, era uma mansão
localizada na baía de Runaway.
O portão da garagem abriu-se silenciosamente, logo que Stephen
acionou o controle remoto no carro. Na garagem havia uma porta, que dava
para o interior da casa. Amanda hesitou antes de entrar.
— Não sabia que você morava tão bem… Pensei que residisse na praia
do Pôr-do-sol.
— Eu possuía um apartamento lá, mas, depois que comprei um iate e
um jato particular, achei melhor mudar-me para cá. — Acompanhou-a pelo
hall, acionando os interruptores das lâmpadas, e levou-a até as janelas amplas
para abrir as cortinas.
Quando acendeu as luzes da parte externa da casa, podia-se ver um
imenso gramado com piscina.
— Você está com fome? — perguntou ele, abrindo as janelas para
deixar entrar o ar fresco da noite.
— Um pouco… — Amanda sorriu, embaraçada. — Posso ajudá-lo?
— Não, estou acostumado a cozinhar.
67
— Deve estar brincando!
— Posso garantir que preparo um dos melhores lanches de toda a
região! — assegurou ele, com um sorriso. — Dê uma olhada na casa, se
quiser.
A sala de estar era confortável, mobiliada com um jogo de sofá de
veludo marrom e um magnífico tapete persa, as paredes sendo forradas com
um papel creme. A mesinha-de-centro redonda trazia um vaso de cristal, e as
luminárias de acabamento dourado proporcionavam ao ambiente uma
iluminação agradável.
Amanda atravessou o corredor acarpetado, examinando
detalhadamente cada um dos três dormitórios e o escritório com uma
escrivaninha repleta de papéis, uma televisão e uma confortável poltrona de
couro. Encontrou um lavabo luxuoso revestido com azulejos, e aproveitou
para lavar as mãos e mirar-se no espelho.
Apresentava olheiras profundas, resultado de várias noites sem
dormir.
O outro cômodo do corredor parecia uma sala de jantar. Amanda
hesitou por um segundo, receosa de estar invadindo a privacidade de
Stephen, mas, movida pela curiosidade, acendeu a luz. No mesmo instante,
sentiu um arrepio correr-lhe o corpo, pois o primeiro objeto que viu foi um de
seus quadros na parede, justamente o que retratava a cadeira de Rod.
Ficou a fitá-lo por algum tempo, arrependendo-se de tê-lo posto à
venda.
Estava tão distraída, que não ouviu Stephen se aproximar por trás;
apenas sentiu os braços dele enlaçando-a pela cintura. Recostou-se no corpo
forte e começou a relaxar. Como podia se entregar tão facilmente a ele, ainda
era um mistério…
— Amanda. — Stephen a fez virar-se para encará-lo. — Está tudo
acabado agora, não está? Você não precisa mais se sentir sozinha.
— Não.
— Quer se casar comigo?
— Sim…
— Quando?
— Quando você quiser.
— Pode ser mais cedo do que imagina… — Ele sorriu, estreitando
mais o abraço. — Assim que fizermos os preparativos?
— Está bem — aquiesceu ela, e aceitou o beijo que selou aquela
promessa.
68
Mais tarde, no quarto, Stephen lembrou:
— A estas horas meus sanduíches devem ter queimado.
— Você tem alguns ovos na geladeira?
— Tenho. Por quê?
— Ainda podemos salvar o recheio de frango e fazer uma omelete…
— Posso tentar, mas fique sabendo que omelete não é minha
especialidade.
Ela riu, espreguiçando-se na cama.
— Pensei que já estivesse acostumado a cozinhar…
— Ah, claro! Faço uns sanduíches ótimos… — brincou, acariciando-lhe
o cabelo. Em seguida, perguntou. — Foi bom para você?
— Eu… — Amanda hesitou. Seria aquela sensação horrível o
pressentimento de que algo estava errado? Não, depois de terem resolvido os
problemas, tudo estava bem. — Eu o quero muito, Stephen, eu o amo! —
murmurou, beijando-lhe o peito nu.
— Amanda! Você tem certeza?
— Como se eu ainda pudesse ter dúvida… Estou completamente a sua
mercê, morrendo de fome e esperando por um sanduíche de frango e
tomate…
— Reservei também uma garrafa de champanhe…
Ela riu e mudou subitamente de assunto.
— Stephen, por que decidiu morar nesta casa, sozinho?
— Por que pergunta?
— Você deve sentir solidão, às vezes.
— Bem, para ser franco, foi para satisfazer um sonho antigo.
— Como assim?
— Jamais morei numa casa de verdade, pelo menos não que me
lembre. Só em apartamentos e hotéis. Ei, o que foi? — ele indagou, ao
perceber que o sorriso no rosto dela se dissipara.
— Nada… É que também nunca morei numa casa que fosse só minha,
num verdadeiro lar. Um lugar sossegado onde pudesse ter meu próprio
jardim e cultivar minhas plantas.
— Agora você pode fazer tudo isso aqui, a meu lado.
CAPÍTULO VIII
69
Amanda cantarolava uma velha canção, enquanto arrumava o
armário. Dois dias antes aceitara o pedido de casamento de Stephen
Chandler, e na véspera ele viajara para Sydney a negócios, onde ficaria
durante alguns dias.
Diante das novas perspectivas, ela voltara para seu apartamento, para
arrumar as coisas e mudar-se dentro de uma semana.
Após esvaziar a última prateleira do armário, sentou-se para
descansar. O que levar e o que deixar para trás? Talvez fosse melhor levar
apenas roupas e objetos pessoais, embora cada mínima peça de decoração
representasse uma parte de sua vida.
Stephen pedira-lhe que o acompanhasse naquela viagem. Talvez
devesse ter aceito, para livrar-se daquele problema.
Antes de ele partir, Amanda havia lhe perguntado se a viagem se
relacionava com o projeto da Ballantyne, que Lance Kidder mencionara. A
resposta foi afirmativa, mas Stephen a beijou e pediu que não se preocupasse.
— A situação está sob controle — dissera então.
Na ocasião, ela estava feliz com o rumo dos acontecimentos, porém,
quando ele sugeriu que o acompanhasse a Sydney, imaginou a estada em
hotéis, os momentos de longa espera. Por isso, preferia ficar. Stephen não
gostou da decisão, mas acatou-a.
No entanto, quando o levou até o aeroporto, ele a manteve em seus
braços e, antes de partir, repetiu o que já dissera uma outra vez:
— Você não vai fugir de mim, vai?
— Como se eu pudesse…
A campainha tocou, interrompendo os pensamentos de Amanda. Com
o coração batendo mais forte, ela imaginou se seria Stephen. Correu até a
porta e, a decepção foi grande demais. Era Lance Kidder.
— Olá, Amanda! Posso entrar?
Ela encarou-o por algum tempo, hesitante.
— É uma visita de negócios — Lance assegurou-lhe.
— Bom, eu… tudo bem…
Lance acompanhou-a pelo hall, examinando a decoração da sala de
estar.
— Perfeito… é de muito bom gosto, sem dúvida. Rod era um homem
de sorte. Tinha em você uma mulher admirável.
Amanda fez o possível para manter a calma. Em vez de tratá-lo com
aspereza, resolveu agir com naturalidade.
— Quer beber alguma coisa?
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— Não, obrigado — agradeceu, lançando-lhe um olhar insinuante. —
Preciso lhe dar os parabéns…
— Posso saber por quê?
— Ora, em breve você e Stephen vão se casar.
Amanda ficou paralisada.
— Como sabe?
— Tenho minhas fontes.
— Quais? — Parecia inútil tentar esconder a verdade.
— Bem, já vou lhe dizer. — Lance Kidder estava sério, e qualquer
ponta de ironia em sua voz tinha desaparecido. — Posso me sentar? —
perguntou, e acomodou-se no sofá sem esperar resposta. — Você vai adorar
descobrir o que Stephen tinha em mente, ao levá-la para a ilha Hamilton.
— Não sei onde você quer chegar?
— Calma, que logo entenderá!
— Seja breve, pois não tenho muito tempo.
— Há de concordar comigo em que ele passou a tratá-la de forma
bem… diferente, não foi?
— Lance…
Ele fez um gesto para aparteá-la, e retomou a palavra:
— Por favor, deixe-me terminar de falar! Para mim, a mudança de
comportamento foi tão grande, que comecei a pensar. Desde que você deixou
a ilha, tirei minhas próprias conclusões, e, ao substituir Stephen enquanto
estavam viajando, tomei conhecimento de uma informação muito
alarmante… sobre o novo empreendimento.
— Não estou entendendo…
— É, eu calculei que não fosse compreender. Stephen lhe contou
alguma coisa?
— Não, mas…
— A propósito, ele ficou bastante irritado por você ter deixado a ilha
Hamilton daquela forma.
— Foi um mal-entendido.
— Sei… suponho que já tenha sido resolvido…
— Lance, deixe de rodeios e vá direto ao assunto.
— Está bem. Antes de partir para Hamilton, Stephen era o único que
sabia da real importância do empreendimento. Contudo, desempenhei minha
função da melhor maneira possível, acompanhei a transferência dos bens e,
acredite, Amanda, não devo nada a Stephen Chandler. Se eu estiver certo,
você ainda tem o voto decisivo.
71
Amanda ficou sem entender nada.
— Você compreende o que quero dizer? Sua cota-parte nas ações da
Ballantyne ainda influi na divisão do poder. Se a vendesse, a Ballantyne se
transformaria numa organização muito maior, o que Stephen odiaria, sem
dúvida, apesar de ser um bom negócio.
As mãos de Amanda começaram a tremer.
— Eu…
Lance Kidder esperou e, percebendo que ela não conseguia concatenar
as idéias, continuou:
— Com chantagem ou coisa parecida, Stephen manipulou-a por um
bom tempo. Mas não poderia continuar assim a vida inteira, não é? Quando
você esquecesse Rod, seria muito provável que encontrasse outro homem e se
apaixonasse novamente. E, mesmo que não acontecesse, o controle que ele
exercia sobre você teria de acabar um dia, não é verdade? — Lance fitou-a,
desafiando-a a negar os fatos.
— O que está dizendo, Lance?
— Acredito que sabe muito bem o que estou dizendo, porém vou
simplificar as coisas. Stephen percebeu que estava sem saída, e que você tinha
o futuro da Ballantyne nas mãos. E decidiu garantir os rumos da firma, do
mesmo modo que nos acusou de… colocar nossos interesses em primeiro
plano, na última reunião. Só que ele foi mais adiante: pretende se casar com
você, para ter o controle absoluto da empresa.
— É sua palavra contra a dele, Lance. A palavra de um homem
ambicioso que sempre odiou Stephen, e que daria tudo para conseguir a
presidência da Ballantyne.
Lance encolheu os ombros e contra-argumentou:
— Não vou perder meu tempo negando o fato — comunicou, com um
brilho de ódio nos olhos. — Contudo, se você não acredita em mim, por que
não pergunta a Jeff Whitby? Você confia nele, não confia? Se tiver dúvida,
Amanda, pense. Não é estranho que Stephen tenha mudado de
comportamento, em tão pouco tempo? Nos últimos anos ele humilhou-a
diversas vezes. Deixou bem claro a todos o que sentia por você. E agora, um
pedido de casamento…
— Saia já daqui, Lance! Se soubesse quanto eu o desprezo!
— Reflita bastante, Amanda. E, enquanto isso, por que não se junta a
nós? É a única forma de se livrar, de uma vez por todas, dessa… confusão.
72
CAPÍTULO IX
Amanda mergulhou numa depressão profunda. O nome de Stephen
veio-lhe à mente várias vezes, enquanto enxugavam o suor da testa com um
pano.
— Quanto tempo ainda? — ela perguntou com a voz rouca, segurando
a mão da enfermeira.
— Se seguir as instruções da médica, querida, tudo estará acabado em
poucos minutos. Esteve ótima. Continue respirando e fazendo força.
“Meu Deus, ajude-me!…”, Amanda suplicava em silêncio. De
repente…
— Está nascendo. É um… menino! — A médica parecia satisfeita e
aliviada com o andamento do parto. — Tem cabelo castanho e é lindo! Veja!
— exclamou, enquanto Amanda chorava de felicidade.
Amanda observava o crepúsculo pela janela do quarto. Era uma tarde
de outono, e seu filho dormia num berço ao lado da cama. A enfermeira
dissera-lhe que era o bebê mais bonito de todo o andar.
— Você vai ser alto, meu bem — declarou a enfermeira, que viera
ajudar Amanda a dar banho na criança. — Um homem bonito e charmoso,
como seu… — Ela mordiscou o lábio e calou-se, embaraçada.
“Como seu pai…”, Amanda completou em pensamento o que a
enfermeira não tivera coragem de dizer. Desde que chegara à maternidade,
havia muitos comentários sobre ela e o bebê. Por acaso, ouvira uma das
médicas dizendo a alguém:
— Não é justo ninguém vir para visitá-los! Gostaria de falar umas boas
ao pai dessa criança…
“Não podiam culpá-lo”, Amanda pensou. “Ele nem mesmo sabia que
tinha um filho.”
Aquela, sem dúvida, era outra razão pela qual o bebê despertava tanto
interesse: por não receber visita de nenhum parente próximo, especialmente a
do pai.
Amanda sentia-se grata às enfermeiras que se desdobravam em
atenções, cuidando em que não ficasse sozinha por muito tempo. Do lado de
fora do hospital, a vida agitada da cidade de Sydney prosseguia. Em breve
teria de abandonar a paz e o conforto da maternidade, para voltar para casa.
— Como está se sentindo? — a médica perguntou, entrando no quarto.
— Estou bem…
73
A dra. Thompson sentou-se na cama. Era uma mulher serena e calma,
de não mais de trinta anos.
— Amanda… nós duas já nos conhecemos há alguns meses, não é?
— Sim… — Amanda concordou, cautelosa.
— Durante todo esse tempo, nunca lhe perguntei nada sobre sua vida
pessoal, porque você queria que fosse assim, certo?
— Correto.
— Querida… Não quero me intrometer em sua vida, mas gostaria de
ter certeza de que sabe o que está fazendo. Nessa altura, você precisa pensar
na criança. Ela merece ter um pai. Ele é um homem casado?
— Não… — Amanda baixou a cabeça. — Na realidade, ele queria se
casar comigo, porém não por amor. Apenas por interesse. Infelizmente,
quando descobri tudo e o abandonei, não sabia que estava grávida.
— Esses… interesses, quais eram?
Amanda recostou-se no travesseiro, visivelmente nervosa.
— É como um conto de fadas… Nunca poderia imaginar que
aconteceria comigo.
— Olhe, você é minha última paciente hoje. Se quiser desabafar, temos
bastante tempo. Estou disposta a ajudá-la, se quiser…
— Bem, eu… — Amanda hesitou por alguns instantes, e então seu
relato começou a fluir, espontâneo: o desabafo que há muito vinha
reprimindo.
— Está convencida de que ele queria se casar com você só para
controlar a empresa?
— Quando descobri o que estava acontecendo, percebi que havia algo
errado. No fundo, sabia disso o tempo todo, mas nunca tive coragem de
enfrentar os fatos. É difícil explicar… — admitiu ela, enxugando as lágrimas.
— Aí você decidiu partir?
— Mais ou menos… Não queria acreditar que Stephen fosse capaz de
proceder de forma mesquinha. Na época, estava apaixonada… Contudo, a
versão de Lance Kidder explicava tantos fatos nebulosos, que eu não
conseguia entender… A mudança de atitude, o pedido de casamento, as
últimas palavras que ele me disse, como se estivesse com medo de que eu
descobrisse o que se passava… Stephen nunca me contou que o projeto era
tão importante assim para ele.
— O que você fez?
— Havia um dos diretores em quem confiava e pedi-lhe que
verificasse a situação. Falei-lhe a respeito de Lance e que eu queria sair da
74
diretoria. E mais: que devia ter tomado a decisão há muito e que desejava
transferir minhas ações para Stephen, porém seria impossível tratar do
assunto diretamente com ele. Com alguma dificuldade, consegui convencê-lo,
e encontramos uma solução. Esse diretor era totalmente leal a Stephen, e
então vendi-lhe minhas ações, na condição de que as repassasse a Stephen. E
me afastei da diretoria. Parecia a única maneira de… fugir.
— E você não chegou a conversar com Stephen?
— Não consegui. Ele estava viajando e se atrasou dois dias.
— Soube o que aconteceu depois de partir?
— Não. Preferi me afastar.
— Entendo… Parece-me que você cometeu um erro. Disse que o
amava, e não lhe deu uma chance de se defender.
— Havia um bom motivo… Quando estava ao lado dele, era incapaz
de dizer tudo o que devia. Concluí que era o momento de dar uma chance a
mim mesma, acreditar em minha intuição. Você entende, não posso culpá-lo
por nada.
— Mas você não estava a par da situação?
— Assim mesmo, sabia que não suportaria ouvir a verdade de
Stephen…
— Tudo bem. Há, porém, outro lado importante agora: o filho dele.
Acha que está sendo justa com ambos?
Amanda deu um longo suspiro, fechando os olhos.
— Se soubesse como é difícil… Foi exatamente nessa situação que
nasci, e só agora que aconteceu o mesmo comigo é que entendi a posição de
minha mãe.
— Ela não contou a seu pai?
— Não. Ele nunca soube de minha existência. Logo depois que ela
morreu, comecei a pôr em ordem seus papéis e descobri que ele tinha falecido
alguns anos antes. Mamãe havia lhe escrito uma carta e recebeu um
telegrama da mulher dele, dando a notícia. Sempre quis saber se, após todos
aqueles anos, mamãe tinha lhe falado sobre mim…
— Posso lhe dar um conselho, Amanda? Não deixe que aconteça o
mesmo com você e a criança. Pelo menos, conte ao pai dele. Pode ser que não
resolva nada e até lhe cause algum sofrimento, mas creio que o pai tem
direito de saber, e o filho também. Como você se sentia em relação a seu pai?
Amanda refletiu por um bom tempo, antes de responder.
— Agora, creio que daria tudo para tê-lo conhecido… É uma parte de
minha história que continua um mistério. Quando criança, tinha medo de
75
pensar demais nele, porque mamãe me dizia que tal coisa podia lhe
complicar a vida. Eu tinha a impressão de que papai me odiaria.
— E, sendo assim, não acha que tem a obrigação de deixar seu filho e o
pai dele fazerem seus próprios julgamentos?
Em Brisbane, o inverno era mais rigoroso do que em outras partes do
litoral australiano. E o tempo nublado e cinzento combinava perfeitamente
com o estado de espírito de Amanda.
Tomara um avião em Sydney, e agora estava instalada num quarto de
hotel. Richard, o bebê, tinha três meses de idade e dormira o tempo todo de
vôo, adaptando-se ao novo ambiente com facilidade.
Eles tinham chegado a Brisbane no dia anterior, e Amanda decidira
esperar para ver como o pequeno reagiria ao clima, antes de tomar alguma
decisão. Desejava acompanhar os primeiros meses de vida do bebê livre de
qualquer trauma, e também porque precisava reunir coragem para rever
Stephen e lhe falar sobre seu filho.
Agora, porém, não havia mais motivo para adiamentos. Richard
estava forte e saudável, e Stephen tinha todo o direito de conhecer a verdade.
Quanto mais adiasse esse momento, pior para todos.
Além do mais, Stephen era um homem sensível. Certamente
entenderia a opção dela pela separação, e poderiam chegar a um acordo, de
modo que Richard pudesse conviver com o pai e a mãe…
Amanda se sentou na cama do hotel e, após refletir acerca do assunto,
decidiu telefonar para Stephen.
— Sua ligação está completada — avisou a telefonista.
— Empresas Paradise. Em que posso ajudá-la? — atendeu a secretária
de Stephen, do outro lado da linha.
— Eu… eu não entendi…
— Empresas Paradise, antiga Ballantyne — a garota repetiu,
impaciente. — Em que posso ajudá-la?
— Poderia falar com o sr. Chandler?
Houve um breve silêncio. Aí a secretária de Stephen explicou:
— Sinto informá-la de que o sr. Chandler não trabalha mais nesta
organização. Se deseja falar de negócios, posso colocá-la em contato com
Lance Kidder, nosso atual diretor-presidente,
— Sim, eu… espere! Poderia falar com a sra. Flora Hardcastle?
Desculpe o incômodo, mas… eu trabalhava na Ballantyne.
— A sra. Hardcastle já se aposentou. Creio porém, que tenho o
endereço, dela. A senhora tem lápis e papel?
76
Amanda apanhou a bolsa e, após agradecer à garota, colocou o
telefone no gancho e perguntou a si mesma, chocada:
— Minha nossa! O que aconteceu?
CAPÍTULO X
83
estava?
— Bem, não li os jornais.
— Se tivesse entrado em contato com seu advogado, ele teria lhe
contado.
Ela não via como se defender.
— O que a deixa mais aborrecida? Ter eu vendido a Ballantyne para
lhe provar alguma coisa, ou ter recusado suas ações?
Pela primeira vez, Amanda considerou a hipótese de haver tomado a
atitude errada. De qualquer forma, não fazia muita diferença. Ele não iria
perdoar-lhe…
— Responda a minha pergunta, Amanda. Aliás, tenho outra indagação
a ser feita… Por que voltou? O que a fez mudar de idéia?
Ela tomou fôlego e, reunindo coragem, explicou:
— Voltei, Stephen, porque sabia que estava sendo injusta ao separar
você de Richard. Eu estaria cometendo o mesmo erro de minha mãe. Sempre
lamentei muito não ter conhecido meu pai… é uma sensação que não consigo
descrever… Pensei que poderíamos entrar num acordo.
— Você quer dizer… ficarmos juntos?
— Não.
— Entendo… Está disposta a me conceder o direito de visitar meu
filho e, quem sabe, até a dar a oportunidade de passarmos as férias juntos,
quando ele for mais velho.
— Bem… pode funcionar.
Stephen sorriu, amargo.
— Você está falando com um homem que passou uma infância assim,
Amanda. É a última coisa que eu desejaria a qualquer um de meus filhos.
Não, concordo com você, temos de agir como adultos e encontrar uma
solução melhor… E nós somos… suficientemente adultos e estamos aptos
para assumir a responsabilidade de criar nosso filho. Depois de tudo o que
passei, creio que não estou lhe pedindo muito. Pense em Richard…
— Não vai dar certo. — Os olhos dela estavam cheios de lágrimas. —
Como poderia dar, se você passou a me odiar e eu não?
— Quem disse que a odeio, Amanda? — atalhou Stephen. — Já faz
tempo que meus sentimentos por você mudaram. Na realidade, ainda me
sinto apaixonado, por mais estranho que pareça. Afinal, vendi a Ballantyne
para lhe provar isso.
— Como eu pensava… Você não precisava ter ido tão longe…
— E que mais podia eu ter feito? Você acreditaria em mim, se eu lhe
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contasse minha versão dos fatos?
Ela cobriu o rosto com as mãos, soluçando. Stephen deixou-a chorar
por algum tempo, mas, quando ela ameaçou sair dali, ele a deteve.
— Ouça, Amanda. Vou levar você e Richard para minha casa. Se
quiser, Flora virá conosco e ficará em Runaway Bay. Ela mesma sugeriu nos
acompanhar, porque o médico que a atendeu ontem falou que você precisava
descansar. E mais. Disse que estava tão fraca e debilitada, que poderia ter
uma recaída. Não precisa se preocupar comigo, pois não vou perturbá-la
enquanto estiver sob meu teto.
— Mas…
— Amanda… Vim para cá com a intenção de não aborrecê-la, e até
agora não abri o jogo, dizendo o que tinha em mente. Apesar de todos os
problemas de nosso relacionamento, não acha que temos a obrigação de dar
uma chance ao garoto? Não é por isso que voltou?
— Não é bem assim…
— Provavelmente, não. No entanto, você não quer que Richard passe
pelas mesmas dificuldades que passamos, quer?
— É claro que não!
— Em sendo assim, por que não damos uma oportunidade a nós
mesmos… e a nosso filho?
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Um inesquecível de amor!
Edição 502
DOCE MISTÉRIO
Leigh Michaels
A mulher que Max tinha nos braços naquele momento não parecia a Verônica que
havia conhecido. Ardente, ela se entregava quase com desespero ao ato do amor, como
se estivesse lhe dizendo adeus… Ele a apertou nos braços, emocionada Juntos tinham
conseguido superar uma barreira que ela julgara intransponível. Pena que precisasse
viajar na manhã seguinte e deixá-la por alguns dias. “Voltarei para você”, Max
reafirmou, ao ver a dúvida estampada nos olhos azuis; uma angústia que o fez
duvidar das próprias palavras…
Edição 503
O BEIJO DO ADEUS
Penny Jordan
Gilda aproximou-se da cama, tirou o robe e, antes que perdesse a coragem, deitou-se
ao lado de Luke. “Gilda, o que…” Ela o calou com um beijo. Sua ousadia era um
pedido de desculpas, o mais sincero voto de amor. Abraçaram-se e se tocaram até
saciar o desejo irrefreável que os alucinava.
Mas a esperança de que as mágoas estivessem dissolvidas se esvaíram logo ao
amanhecer. Gilda não esperava acordar com uma proposta de amor eterno, porém não
contava ser expulsa dali com frieza, com tão absurda grosseria!
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