Você está na página 1de 8

REVISTA PEDAGOGIA EM DEBATE – DESAFIOS O slogan, expresso na frase “a educação é sempre

CONTEMPORÂNEOS. Disponível em um ato político” é debatido por Saviani em seu


http://www.utp.br/mestradoemeducacao/vpedagogiaem
livro Escola e Democracia, onde o autor procura
debate/pddgd.htm acessado em 5/3/2007 as 8h
separar a prática pedagógica da prática política,
A DIMENSÃO POLÍTICA DO PROJETO evitando com isso a dissolução da especificidade
POLÍTICO-PEDAGÓGICO: do fenômeno educativo (1997, p. 91).
RUMO À AUTONOMIA POLÍTICA E Para o autor (ibid), a vinculação do político com o
PEDAGÓGICA DA ESCOLA PÚBLICA. pedagógico, no sentido de se criar uma identidade
única, deverá ser rejeitada, porem ele reconhece
Gilmar Dias   * que em duas situações esse slogan está correto.
Universidade Tuiuti do Paraná
  Tomando “político” como um adjetivo da prática
social global , onde todo o ato humano é político,
Segundo Aristóteles, “o homem é um animal produzindo com isso uma tautologia do tipo: tudo
político”, portanto, todas as sua ações se dão de é tudo, nada é nada.
forma intencional e nas relações sociais. A
educação sendo uma construção humana e No outro momento onde Saviani aceita o slogan,
ocorrendo nas relações sociais de forma se refere a dimensão política da educação
intencional, passa a ser um ato político. A independentemente de ter ou não ter consciência
educação engendra desde sua gênese uma disso.
contradição histórica em sua práxis, com Concluindo, Saviani afirma que “Com efeito, eu só
interesses antagônicos construídos e posso afirmar que a educação é um ato político
desenvolvidos nas relações sociais do meio onde a (contém uma dimensão política) na medida em que
escola está inserida. A administração escolar, nela eu capto determinada prática como sendo
incluída o ato de planejar as ações educacionais, primordialmente educativa e secundariamente
pode ser feita de forma centralizada e autoritária, política” (1997, p. 101).
como participativa e democrática, includente ou
excludente. Quando a mesma assume a forma Podemos concluir com isso, que a educação é um
participativa e includente, permite uma maior ato político a partir do pressuposto que é um ato
eficiência social e educacional. Para tanto, humano, ou seja, confirmando Aristóteles que
necessitamos de um instrumento de planejamento disse que “o homem é um animal político”, todas
que permita a participação de todos os atores de as suas ações são políticas na medida em que são
forma democrática, para isso surge o Projeto ações tomadas dentro de uma coletividade, tendo
Político-Pedagógico, que quando elaborado e as influências da aplicação dessas ações também
executado de forma participativa, tem se nessa coletividade.
mostrado um importante instrumento de inclusão Como tudo que o homem faz, faz no sentido de
social e de gestão democrática da escola pública. estabelecer a sua relação com outros humanos e
A qualidade no ensino, é o ponto central de com o meio ambiente onde está inserido, isso
qualquer proposta para a escola pública. também poderá ser entendido como um ato de
Abordamos nesse artigo, as questões relacionadas educação, por estes atos, passarem a influenciar
ao Projeto Político-Pedagógico, como um outras pessoas.
instrumento de gestão democrática na escola
pública. A qualidade que se busca implica Já para Veiga, “Político e pedagógico têm assim
dimensões indissociáveis entre a técnica e a uma significação indissociável.” (In, VEIGA 1995,
política. Uma não está subordinada à outra; cada p. 13).
uma delas tem perspectivas próprias. Portanto, o Veiga ainda afirma que existe uma reciprocidade
político e o pedagógico, sempre deverão andar na vivência democrática da escola, onde a
juntos, quando se tratar de uma ação intencional dimensão política e a dimensão pedagógica,
de educação escolar. coexistem harmoniosamente, ou seja, para que
Palavras-chave: projeto político-pedagógico, exista uma vivência democrática é necessária a
autonomia,  escola pública. existência de uma ação política e pedagógica da
escola. 
 
A escola é um espaço social e democrático,
“o homem é um ser político” composto pelos alunos e seus familiares,
Aristóteles professores, funcionários e por demais membros
da comunidade.

CEWK – CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES 1


Prof. Rosângela Menta Mello – março/2007
Quando o Estado, através de ações políticas Por isso, todo projeto pedagógico da escola é
coercitivas, ou seja, ações que impedem ou também político.” (In MEC, 1998, p. 16).
não estimulação a participação da comunidade
Entendemos que essa autonomia é relativa, pois a
dentro do espaço escolar, não dando
escola ainda está atrelada a um aparato estatal de
oportunidade para que essa comunidade onde
rígido controle, onde praticamente todas as suas
a escola está inserida, de participação direta e
ações administrativas e pedagógicas são
efetiva na elaboração do seu planejamento das
regulamentadas e controladas pelos órgãos oficiais
ações educacionais ali produzidas, essas ações
de gestão educacional, não tendo a escola
passam a ser entendidas como obrigações ou
nenhuma ou quase nenhuma autonomia sobre as
determinações superiores, inibindo a
verbas escolares e gestão dos recursos humanos a
participação de todos nos rumos da escola,
ela afeto. A busca pela autonomia nessas áreas é
além de produzir a sensação de que a sua
ainda uma meta muito distante.
contribuição não é importante ou não é bem
vinda. A escola deve ser um espaço onde todos
participem do planejamento e execução de
O Estado brasileiro possui um histórico de
todas as sua ações, onde o conjunto de
intervencionismo em todas as áreas de nossa
valores, normas e relações obedecem a
sociedade, sendo a sua política maior ao longo
uma dinâmica singular e viva” (VEIGA e
de décadas a do assistencialismo, mantendo o
RESENDE, 1998).
cidadão como “cliente” do Estado, e a
sociedade e a educação escolar sobre controle. Para que isso ocorra, é necessário que o
planejamento de todas as suas ações sejam de
Ao nosso ver, a única forma eficiente de
forma coletiva e democrática, dando a todos que
quebrar essa lógica perversa, é diminuir  a
estão direta ou indiretamente ligados a escola,
ingerência do Estado sobre os rumos da
oportunidade de participarem da elaboração de um
educação brasileira, dando autonomia (ainda
projeto de vida, de um projeto que irá afetar de
que relativa) com gestão democrática da
forma positiva ou não os destinos de todos que por
escola pública (participação efetiva e intensa
ele serão influenciados. Citamos ainda
de todos os atores que de forma direta ou
Vasconcellos, que dá grande ênfase ao
indireta estão presentes nas ações educativas
planejamento das ações educacionais, afirmando
decididas pela escola), e com isso, condições
que “cabe ao planejamento a oportunidade de
dela se planejar para atender aos anseios da
repensar todo o fazer escolar, como um caminho
comunidade da qual faz parte.
de formação dos educadores e dos educandos,
A gestão democrática na escola pública, bem como de humanização, de desalienação e de
necessita do envolvimento político de  todos libertação.” (1995, p. 92).
que a compõem, isso é confirmado por Zilah
Nesse sentido,
Veiga, que afirma, “é preciso desencadear um
movimento no sentido de organizar o trabalho o projeto político pedagógico, ao nosso
pedagógico com base na concepção de ver,  passa a ser o único instrumento
planejamento participativo e emancipador.” democrático para que a comunidade
(In, VEIGA1998, p. 124). escolar possa se organizar e construir
dentro de seu espaço, a sua autonomia,
A escola está organizada basicamente em
que será o impulsionador da
instancias colegiadas tais como, Conselho
descentralização de suas ações e o
Escolar, Conselho de Classe, Associação de
fortalecimento de atitudes democráticas e
Pais e Mestres (APM) e o Grêmio Estudantil
comunicativas (CARVALHO e DIOGO, apud,
(ibid, p. 114). A constituição do Conselho de
VEIGA e RESENDE, 1998, p. 113).
Escola, que é “um colegiado formado por
todos os segmentos da comunidade escolar: A autonomia e a gestão democrática da escola
pais alunos, professores, direção e demais pública a qual nos referimos, se faz necessária
funcionários.” (Ciseki In, MEC, 1998, p. 49) , ao para a democratização do espaço escolar e das
nosso ver é o primeiro passo para a autonomia ações por ela planejada. A montagem do seu plano
e a gestão democrática da escola pública, de educação com base em um projeto de vida, ao
sendo o segundo passo, a construção de forma nosso ver, deve envolver a toda a comunidade,
democrática e participativa do Projeto Político- tornando essa escola um local de educação para
Pedagógico. todos e não apenas para os seus alunos,
permitindo com isso, mobilizar essa comunidade na
Segundo Gadotti, “Não se constrói um projeto
construção de um projeto que permita o
sem uma direção política, um norte, um rumo.

CEWK – CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES 2


Prof. Rosângela Menta Mello – março/2007
surgimento de uma nova sociedade, onde a aglutinar  pessoas e recursos na concretização
sua cultura e os seus valores possam ser desse projeto, que para nós, antes de tudo é  um
preservados e ensinados, e que todos possam projeto de vida, de no mínimo uma geração, que
participar dos rumos dessa nova escola. Para necessita de pessoas envolvidas na sua construção
nós, esse projeto é o Projeto Político- e execução, que tenham bem definidas uma visão
Pedagógico. de homem, uma visão de sociedade e uma visão
de mundo, que tenham bem claro, que homem
Reforçando ainda essa posição da necessidade
que essa escola irá formar, para qual sociedade e
da comunidade escolar participar do
para qual mundo, mundo esse que devido ao
planejamento educacional, citamos Paulo
fenômeno da globalização afeta qualquer ser
Freire, onde ele afirma que:
humano em qualquer parte do nosso planeta
Todo o planejamento educacional, para Terra.
qualquer sociedade, tem que
Reforçando o nosso entendimento sobre a
responder ás marcas e aos valores
importância do Projeto Político–Pedagógico em ser
dessa sociedade. Só assim é que pode
um instrumento poderoso para a gestão
funcionar o processo educativo, ora
democrática da escola pública, para a formação da
como força estabilizadora, ora como
consciência coletiva, para a mudança de hábitos
fator de mudança. Às vezes,
tanto dos alunos, seus familiares e da comunidade
preservando determinadas formas de
em geral, e na imersão do homem na vida pública
cultura. Outras, interferindo no
de sua comunidade, citamos novamente o nosso
processo histórico, instrumentalmente.
grande mestre Paulo Freire (2002, p. 96), que
De qualquer modo, para ser autêntico,
afirma,
é necessário ao processo educativo
que se ponha em relação de O que importa é que a escola de nossa
organicidade com a contextura da atualidade eduque seu aluno e suas
sociedade a que se aplica (2002, p.10) famílias no sentido da responsabilidade
social e política, de que somos tão
Por que consideramos importante manter o
carecentes ainda. Responsabilidade que só
nome de Projeto Político-Pedagógico e não
se ganha vivendo. Que só se obtém
de Projeto Educativo, ou Projeto de Escola, ou
inserindo em projetos onde seja ela
mesmo Plano Diretor importante.  Porque a
experimentada.
palavra Político no nome, lembrará a todos que
a ação política ocorre nas relações sociais, Autonomia é uma palavra de origem grega -
porque deverá envolve à todos na sua autonomía que segundo o Vocabulário Técnico e
construção, porque a ação política tem a Critico de Filosofia de André Lalande, o seu
capacidade de aglutinar pessoas entorno de significado etimológico é “...condição de uma
idéias e ideais, porque é essencialmente uma pessoa ou de uma coletividade autônoma, quer
ação democrática e participativa, porque não dizer, que determina ela mesma a lei à qual se
pode ser feito por uma única pessoa ou por um submete”, na mesma obra, no sentido Ético, a
grupo que não represente a totalidade de definição seria “A autonomia da vontade para Kant
vertentes e correntes culturais, sociais e é a característica da vontade pura enquanto ela
políticas que estão presentes na comunidade apenas se determina em virtude da sua própria
afetadas pela escola onde esse Projeto Político- essência, quer dizer, unicamente pela forma
Pedagógico está sendo construído. universal da lei moral, com exclusão de todo
motivo sensível”. Continuando na busca da
Pedagógico por envolver as ações educacionais
definição de autonomia, citamos novamente
da escola, do planejamento pedagógico, da
Lalande, que  afirma que:
elaboração do currículo, das atividades internas
e externas, enfim, de todas as ações que Liberdade moral, enquanto estado de fato,
cominem na “assimilação do saber oposto, por um lado, à escravidão dos
historicamente construído e sistematizado impulsos, por outro, à obediência sem
pelos homens” (Saviani, 1997, p. 56). críticas à regras de conduta sugeridas por
uma autoridade exterior. ‘É esta servidão
Podemos entender que a autonomia é uma
que os homens chamam heteronomia; e
questão vital para a gestão democrática da
eles lhe opõem, com o nome de
escola pública, e que ao nosso ver o Projeto
autonomia, a liberdade do homem que,
Político-Pedagógico é um instrumento
pelo esforço da sua própria reflexão, dá a
eficiente e capaz de dar a essa escola pública,
si mesmo os seus princípios de ação. O
condições de se planejar e buscar meios e

CEWK – CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES 3


Prof. Rosângela Menta Mello – março/2007
indivíduo autônomo não vive sem atores envolvidos em suas ações educacionais,
regras, mas apenas obedece às regras porém, essas regras estarão sujeitas a uma lei
que ele escolheu depois de examiná- maior, que em primeiro lugar é a Constituição
las;  (1996, p. 115). Federal e a LDB vigente, além das normas do
Conselho Nacional de Educação – CNE e do
Como podemos observar, o sentido de
Conselho Estadual de Educação – CEE de seu
autônomo, está diretamente relacionado a
Estado.
liberdade de escolha, ou seja, quem detém
autonomia, tem a prerrogativa de escolher o Portanto, uma escola autônoma, é uma escola que
que deve ou não deve fazer. Outra teve a liberdade de montar o seu Projeto Político-
característica é o fato da autonomia não Pedagógico e o seu Regimento Interno de forma
isentar as pessoas ou os grupos, possuírem democrática, obedecendo a legislação vigente, mas
regras e as segui-las, apenas faculta a escolha acima de tudo, faz desses documentos o seu guia
das regras a serem seguidas. nas suas ações educacionais e administrativas que
norteiam todo o fazer escolar.
Para Gadotti e Romão, no Brasil, a autonomia
na escola encontra suporte na própria Para Padilha, a palavra autonomia significa dentro
Constituição, promulgada em 1988, que institui da perspectiva da democracia social “a
a “democracia participativa” e cria possibilidade de aproveitar a liberdade, a
instrumentos que possibilitam ao povo exercer inteligência criadora e a iniciativa no
o poder “diretamente” e cria instrumentos que gerenciamento de sua vida individual, familiar e
possibilitam ao povo exercer o poder associativa.” (2001, p.65).
“diretamente” (Art. 1º). No que se refere à
Para Castro Neves, o conceito de autonomia
educação, a Constituição de 1988 estabelece
também está ligado ao de liberdade e democracia,
como princípios básicos: o “pluralismo de
que segundo a autora são valores inerentes aos
idéias e de concepções pedagógicas” e a
homens. A autora também concorda que
“gestão democrática do ensino público” (Art.
autonomia não significa falta de regras, não é um
206). Esses princípios podem ser considerados
valor absoluto, fechado em si mesmo, porém “um
como fundamentos constitucionais da
valor que se define numa relação de interação
autonomia da escola. (2000, p. 44).
social”. (In VEIGA, 1995, p. 97).
A nova LDB trata a questão da autonomia no:
Continuando a citar a autora, a autonomia serve
Art. 15. Os sistemas de ensino para encaminhar de forma rápida e urgente, as
assegurarão às unidades escolares soluções que são reclamadas pelos alunos, pais,
públicas de educação básica que os professores e direção, na busca de atender as
integram progressivos graus de necessidades do dia-a-dia, na busca da qualidade.
autonomia pedagógica e administrativa
A autonomia da escola, é pois, um
e de gestão financeira, observadas as
exercício de democratização de um espaço
normas gerais de direito financeiro
público: é delegar ao diretor e aos demais
público.
agentes pedagógicos a possibilidade de dar
Sousa e Corrêa, também percebem a questão respostas ao cidadão (aluno e responsável)
da autonomia na Lei 9.394/96 – LDB, como a quem servem, em vez de encaminha-lo
sendo parte do trabalho da escola, que são para órgãos centrais distantes onde ele
orientados por cinco eixos (flexibilidade, não é conhecido , muitas vezes, sequer
autonomia, responsabilidade, planejamento e atendido. A autônima coloca na escola a
participação), que devem ser observados na responsabilidade de prestar contas e, ao
construção do projeto político-pedagógico da aproximar escola e famílias, é capaz de
escola, sendo que a autonomia se fará na permitir uma participação realmente
pratica cotidiana da escola. (In VIEIRA, 2002, efetiva da comunidade, o que a caracteriza
p. 56). como uma categoria eminentemente
democrática. (CASTRO NEVES, op. cit., p.
A escola autônoma, não é uma escola sem
99).
regra ou sem controle do Estado, a escola
autônoma que deseja caminhar para se tornar Para Cavagnari, autonomia da escola pública é
uma escola cidadã, necessita compreender que uma questão de competência e compromisso,
a sua autonomia se limita a estabelecer as sendo a competência o elemento fundamental à
regras pelas quais ela será gerida, de forma conquista da autonomia, se dando na dimensão 
democrática, com a participação de todos os política  através do compromisso social de seus

CEWK – CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES 4


Prof. Rosângela Menta Mello – março/2007
profissionais de educação de ensinar, e ensinar decidir e assumir ações coletivas no âmbito
bem a todos. (In VEIGA e RESENDE, 1998, p. da escola (In VIEIRA, 2002, p. 52).
98).
Para Vasconcelos, a autonomia precisa ser vista
Segundo o mesmo autor, “Uma autonomia que com cuidado, pois ao poder público transferir para
não é dada, mas que se efetiva pela a escola a responsabilidade da elaboração do seu
capacidade e pela responsabilidade da escola e projeto político-pedagógico, transfere também a
do grupo de educadores de colocar em ação o questão do seu sucesso ou fracasso, podendo ser
seu projeto político-pedagógico” (CAVAGNARI, uma estratégia de descompromisso e de
In VEIGA e RESENDE, op. cit., p. 98-99). transferência de responsabilidade por parte do
Estado.  (2000, p. 173).
Para Saviani, é necessário:
Não devemos pressupor, no entanto,  que a
Assegurar a autonomia das escolas e
autonomia desejada por nós seja a que isole a
universidades na elaboração do projeto
escola da sociedade, que a mantenha como uma
político-pedagógico de acordo com as
célula social que pensa e age sem um sentido de
características e necessidades da
unidade. A liberdade conquistada pela autonomia
comunidade, com financiamento
deverá ser no sentido de permitir que ela dirija o
público e gestão democrática, na
seu destino através das decisões tomadas de
perspectiva da consolidação do
forma participativa e democrática, porém
Sistema Nacional de Educação (1998,
fundamentada nas legislações a que a escola está
p. 138).
subordinada.
Saviani afirma ainda que é necessário “Garantir
Para Gadotti e Romão, “A ampliação da
autonomia político-pedagógica às Instituições
autonomia da escola não pode opor-se à
de educação básica e superior, assegurando-
unidade do sistema. Deve-se pensar o sistema
lhes condições materiais e financeiras
de ensino como uma unidade descentralizada.
adequadas e suficientes” (op. cit., 139).
Descentralização e autonomia caminham
A escola enquanto um “parelho” do Estado, juntas.” (2000, p. 47).
visa reproduzir as relações sociais de
A autonomia desejada é a que permite a escola
produção, dificultando com isso a sua
escolher os seus rumos, decidir o seu futuro,
autonomia política, onde a educação de
dentro de uma unidade nacional, respeitando as
qualidade ira buscar a superação dessas
leis e normas da educação nos seus três níveis
relações sociais de produção. Para Martins,
administrativos – Federal, Estadual e Municipal. A
Há um consenso sobre a necessidade gestão democrática da escola pública é o caminho
de a escola ser autônoma, pois a mais seguro para a sua autonomia e para a sua
construção e o exercício da autonomia concretização como uma escola cidadã.
incentivam o pluralismo de idéias, o
Para Padilha, “A autonomia , na escola cidadã,
respeito às diferenças e a emergência
pressupõe, pois, a alteridade, a participação, a
de atores sociais criativos e
liberdade de expressão, o trabalho coletivo na sala
responsáveis (In OLIVEIRA e ROSAR,
de aula, na sala de professores, na escola e fora
2002, p. 120).
dela.” (2001, p. 65).
Gadotti acredita que “A autonomia e a gestão
A razão fim da busca pela autonomia escolar, rumo
democrática da escola fazem parte da própria
a escola cidadã., deverá ser a da qualidade do
natureza do ato pedagógico. A gestão
ensino e da formação moral e cívica de todos os
democrática da escola é, portanto, uma
seus atores, que sentindo a sua importância no
exigência de seu projeto político-pedagógico.” 
fazer escolar, possa com isso buscar a sua inserção
(In MEC, 1998, p. 17).
nos demais “aparelhos” do Estado, e nos rumos de
Para Sousa e Corrêa, nossa sociedade.
Ao procurar articular tais demandas, o Nesse sentido, Padilha afirma ainda que
projeto pedagógico necessita escutar o
a escola projetada com base na referida
que a prática dos sujeitos que o
autonomia tem a finalidade de formar seus
constroem tema dizer, ao mesmo
educandos para a vida, para o trabalho,
tempo em que deve amadurecer neles
para a construção de relações humanas e
a idéia de que o princípio de
sociais civilizadas, justas e  éticas para o
autonomia implica o compromisso de
exercício  e a prática da cidadania crítica e

CEWK – CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES 5


Prof. Rosângela Menta Mello – março/2007
ativa e para resistir a toda forma de VEIGA, Ilma Passos Alencastro; RESENDE, Lúcia
exclusão (ibidi., p. 65). Maria Gonçalves (Orgs.).  Escola: espaço do
projeto político-pedagógico.  Campinas: Papirus,
A qualidade no ensino, é o ponto central de
1998.
qualquer proposta para a escola pública.
Abordamos nesse artigo, as questões relacionadas  
ao Projeto Político-Pedagógico, como um
instrumento de gestão democrática na escola
pública. * Mestrando no Programa de Pós Graduação em
Educação da Universidade Tuiuti do Paraná, na
Para Veiga, “A qualidade que se busca implica
linha de Políticas Publicas e Gestão da Educação,
dimensões indissociáveis: a formal ou técnica e a
sob a orientação do Prof Dr. Sidney Reinaldo Silva.
política. Uma não está subordinada à outra; cada
Especialista em Administração Financeira e
uma delas tem perspectivas próprias.” (In, VEIGA,
Informatização pela  FADEPS- Faculdade de Placido
1995, p. 16).
e Silva. Graduado em Pedagogia pela UFPR. 
Observamos até aqui, que os autores citados, Professor Assistente da Graduação e da Pós
buscam dar uma dimensão política ao ato Graduação Lato Sensu da UTP.
pedagógico, enquanto fazer escolar, buscando
com isso, que se tenha uma intencionalidade no
planejamento escolar e que essa intencionalidade SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE
possibilite o engajamento de todos os atores PORTO ALEGRE. Projeto político-pedagógico.
envolvidos nas ações educacionais. Disponível em
Portanto, o político e o pedagógico, sempre http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smed/default.php?
deverão andar juntos, quando se tratar de uma reg=1&p_secao=29 acessado em 5/3/2007 às 8h.
ação intencional de educação escolar.
 
Projeto Político-Pedagógico
REFERÊNCIAS
LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico
da filosofia.  2. ed. São Paulo : Martins Fontes, ITENS SUGERIDOS
1996.
MEC – Secretaria de Ensino a Distância.  Salto Introdução
para o futuro: construindo uma escola cidadã. 
Brasília: MEC/SEED, 1998. A instituição apresenta sua PPP, explicitando suas
concepções quanto a esta matéria e relata aspectos
PADILHA, Paulo Roberto.  Planejamento que julgar importantes do processo de elaboração do
Dialógico: como construir o projeto político- documento, incluindo envolvimento com as famílias,
pedagógico da escola.  São Paulo: Cortez; comunidade. A redação desta parte deve ser feita ao
Instituto Paulo Freire, 2001. final do processo.
SAVIANI, Dermeval.  Escola e democracia:
teorias da educação, curvatura da vara, onze Diagnóstico
teses sobre educação e política.  31. ed. 
Campinas: Autores Associados, 1997. Diagnóstico da realidade global na qual a instituição
______.  Da nova LDB ao novo plano nacional está inserida – mundial, do país, estado, cidade,
de educação: por uma outra política bairro,.. explicita como a instituição “vê” o mundo ao
educacional.  Campinas: Autores Associados, redor.
1998.
Fundamentos a considerar na PPP
VASCONCELOS, Celso dos S.  Planejamento:
projeto de ensino-aprendizagem e projeto
A instituição apresenta as
político-pedagógico.  7. ed. São Paulo:
concepções/visões/princípios que norteiam sua PPP,
Libertad, 2000.
sua utopia em relação à função social de uma
VEIGA, Ilma Passos Alencastro.  Projeto instituição educativa, no caso, voltada à faixa etária de
político-pedagógico da escola: uma construção 0 a 10 anos, explicitando o referencial teórico em que
possível.  11. ed. Campinas: Papirus, 1995. se apóia.

CEWK – CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES 6


Prof. Rosângela Menta Mello – março/2007
• Filosóficos: ou pontuais e voluntários) . Descrever quais
Visão de mundo, sociedade, homem, profissionais e com que proposta de trabalho se
conhecimento, criança, infância, instituição de inserem na implementação da PPP da instituição.
Educação Infantil, educador/a ...
• Organização da ação educativa: explicitar a forma
como a instituição organiza/planeja a ação didático-
• Sócio-antropológico: pedagógica, que elementos são considerados neste
Visão do contexto sócio-cultural das crianças e de planejamento. Por exemplo: através da Pedagogia de
suas famílias, concepções sobre as relações com Projetos; Tema Gerador; Rede Temática,... Descrever
as famílias, com a comunidade, com outras as fontes a partir das quais a instituição define sua
entidades, movimentos sociais, orgãos da cidade. ação.

• Formação de profissionais: Concepção sobre a


• Psico-pedagógicos: formação de profissionais para a Educação Infantil
Visão de desenvolvimento infantil, de ensino- (inicial e continuada)
apredizagem, de construção do conhecimento. Descrever periodicidade e abrangência. Ex:
participação de todos/as os/as profissionais, enfoque
permanente, outros,...
Considerar objetivos da ação pedagógica, tais Referir o envolvimento das famílias
como autonomia, criatividade, criticidade,.... para
definição desta ação. • Acompanhamento e Registro:
Explicitar concepções e critérios sobre como se dá a
Histórico avaliação e o acompanhamento do trabalho, por
exemplo: avaliação como processo; avaliação como
Breve histórico da instituição; marcas de sua meio/investigação; registros descritivos; aspectos a
origem na comunidade; o momento sócio-histórico avaliar; periodicidade; outros,...
de seu surgimento ( surgiu a partir de quais Questões: o quê avaliar, como avaliar, quem avalia e
demandas, interesses, objetivos?); histórico de quem é avaliado (crianças, profissionais, comunidade,
seu surgimento a partir da instituição instituição?
mantenedora – se for o caso.

Organização do trabalho na instituição ANOTAÇÕES:

• Planejamento da instituição: explicitar que


concepção esta tem de planejamento e a
organização interna (espaços e tempos) da
instituição para sua realização. Ex: como o coletivo
realiza seu planejamento, se por níveis de
abrangência (coletivo, grupos etários, turmas,...)
ou periodicidade (plurianual, anual, semestral,... )

• Organização dos grupos etários:  Descrever e


justificar a organização das crianças por grupo,
considerando o espaço físico e o número de
profissionais.

• Organização do ambiente físico: Explicitar e


justificar a organização e a utilização dos espaços
físicos da instituição, considerando o tempo de
permanência das crianças na instituição e a
qualificação da ação educativa.

• Equipe  multi-profissional: Descrever a equipe de


profissionais envolvida nas ações educativas da
instituição (profissionais fixos em sala e fora
desta/serviços, assessorias de apoio sistemáticas

CEWK – CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES 7


Prof. Rosângela Menta Mello – março/2007
CEWK – CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES 8
Prof. Rosângela Menta Mello – março/2007

Você também pode gostar