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GASTROENTEROLOGIA · TEMA 6
HEPATITES VÍRICAS
HEPATITE B
O vírus da hepatite B é um vírus de DNA; isto explica o facto do vírus conseguir integrar o
genoma do hospedeiro (vírus cancerígeno porque pode causar mutações a nível do DNA
hospedeiro, tão graves que justificam a passagem de fígado normal a hepatocarcinoma sem
cirrose)! Já o HCV não tem este risco, só indivíduos com fígado cirrótico é que progridem para HCC
O vírus tem duas formas morfológicas, umas mais ovóides e outras mais circulares; apesar
desta diferença estrutural, todas as estirpes partilham vários componentes:
o HBV DNA (cadeia dupla de DNA)
o Antigénios de superfície (HBs)
o Antigénio do core (exposto quando o vírus ainda é muito imaturo e ainda está a ser
fabricado a nível do fígado; o vírus em circulação é sempre maduro)
Quando se está a replicar activamente, o vírus liberta prolongamentos deste
antigénio para a circulação, fragmentos designados de antigénios
endoplasmáticos ou HBe
Assim, em circulação nunca temos
o antigénio do core (só o
detectamos na biópsia hepática
em fases de replicação activa
através da imunocitoquímica), mas
antes o antigénio HBe
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QUER NA FASE DE INCUBAÇÃO, QUER NA FASE AGUDA DA DOENÇA TEMOS A POSSIBILIDADE DE PESQUISAR O DNA VIRAL
POR PCR; NO ENTANTO, OS CUSTOS NÃO SÃO COMPORTÁVEIS, PELO QUE NÃO SE FAZ HABITUALMENTE POR ROTINA
o Fase pós-infecção
Diminuição dos anticorpos anti-HBe ao fim de 2 anos
Restante serologia mantém-se: ↑ anticorpos anti-HBc + ↑ anticorpos anti-HBs
O indivíduo diz-se imune para toda a vida (não dizemos curado porque mantém
em circulação sempre algumas partículas do vírus)
Estes parâmetros laboratoriais são importantes para avaliarmos se o doente foi
vacinado ou teve a infecção:
Depois da infecção, o indivíduo vai ter:
o Anticorpos anti-HBc isoforma IgG
o Anticorpos anti-HBs
o [Anticorpos anti-HBe (+) ou (-) de acordo com a fase em apreço]
Depois da vacinação, o indivíduo só tem:
o Anticorpos anti-HBs
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Esta cinética serológica ocorre na maioria dos casos, é a chamada FORMA NATIVA do vírus
o Na esmagadora maioria dos casos (90% dos adultos) a infecção resolve
espontaneamente pela acção do sistema imunológico
NA SUSPEITA DE INFECÇÃO POR HBV, A PESQUISA DE ANTICORPO ANTI-HBe NÃO TEM VALOR PORQUE NÃO É
CONCLUSIVO QUANTO AO ESTADO DO HOSPEDEIRO!
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De uma forma geral, esta forma mutante, pelo seu potencial em ocultar o
antigénio HBe do sistema imunológico, está associada a um maior risco de
evolução para a forma crónica da doença (cronifica em 90% dos casos)
Não é linear que tenhamos uma forma mutante de base; o que ocorre na
maioria dos casos é o indivíduo ser infectado por uma forma nativa que,
com o intuito de escapar aos mecanismos de destruição imunológica,
sofre uma mutação no sentido de esconder o antigénio HBe
O facto de não ter o antigénio HBe em circulação também
justifica que o vírus seja menos virulento
Em determinados contextos (tuberculose, imunossupressão iatrogénica,
infecção por HIV, quimioterapia, entre outras), o vírus mutante anti-e
retrocede e volta a ganhar a sua capacidade de libertar o antigénio e,
tornando-se novamente mais agressivo e aumentando a sua taxa de
replicação (retrocedendo à forma mutante quando o sistema
imunológico se restabelece); assim, nestes contextos de
imunossupressão, é importante adicionar alguma terapêutica
farmacológica anti-vírica
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Nunca esquecer que o anticorpo anti-HBc isoforma IgM é um marcador da forma aguda!
Na forma crónica, temos:
o Níveis flutuantes de DNA viral (ora se detectam, ora não)
o Antigénio HBs (continua a prevalecer)
o Antigénio HBe (se for a forma nativa)
o Anticorpo anti-HBc
As formas crónicas raramente são do vírus nativo, mas antes das formas mutantes anti-e (90%)
A hepatite crónica mediada pelo vírus HBV sistematiza-se nos seguintes estádios:
1) Fase de Tolerância imunológica (= sistema imunológico inactivo)
Altos níveis de antigénio HBe (forma nativa)
Altos níveis de HBV-DNA
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Assim, em resumo:
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NUMA PRIMEIRA ABORDAGEM, PEDIMOS ANTIGÉNIO HBS, ANTICORPOS ANTI-HBS E ANTICORPOS ANTI-HBC IGM!
Por exemplo, se o HBs é (-), escusamos de pedir o HBe, porque se o vírus não está lá, certamente
não estará a replicar! Já se o HBs for (+), eu tenho que pedir o HBe e o anticorpo anti-HBe para
perceber se está a replicar e se é a forma mutante. Se a partir daqui o anti-HBe for (+), ainda temos
que pedir o HBV-DNA para perceber se o indivíduo está a curar ou é uma forma mutante
O pedido dos anticorpos anti-HBc nesta primeira abordagem serve para percebermos se o indivíduo
foi vacinado ou se foi infectado em contextos de HBs (-) e anti-HBs (+). No vacinado temos anti-HBc
(-), enquanto no infectado temos anti-HBc (+)
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Infecção neonatal
o Infecção aguda (2%)
Hepatite subclínica
Hepatite ictérica
Hepatite fulminante
o Infecção crónica (98%)
Hepatite mínima
Hepatite activa crónica
Hepatite persistente crónica
Infecção na infância e idade adulta
o Infecção aguda (90% pelo sistema imunológico mais competente)
Hepatite subclínica
Hepatite ictérica
Hepatite subaguda ou fulminante
o Infecção crónica (10%)
Hepatite mínima
Hepatite activa crónica
Hepatite persistente crónica
Nunca esquecer que pode haver casos de surgimento de carcinoma hepatocelular sem
background cirrótico porque se tratar de um vírus de DNA (no entanto, na maioria ele surge em
fígados cirróticos)
o Indivíduos jovens com a forma mutante têm que ser vigiados regularmente com
ecografia e medição dos níveis de alfa-fetoproteína (PORTADOR INACTIVO com
transamínases normais)
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HEPATITE B TRATAMENTO
Pelo facto do interferão apresentar muitos efeitos adversos, surgiram novos fármacos:
o LAMIVUDINA (muito raramente usada)
Transamínases aumentam e o antigénio HBs desce quase a nível zero
Quando suspendemos, o indivíduo tem uma recaída
Virostática (não viricida como o interferão)
Obrigatoriamente tem que ser feita cronicamente
Os níveis de vírus endógeno têm relação directa com o risco de desenvolvimento
de hepatocarcinoma, pelo que o seu uso é benéfico na redução do risco
Ineficaz em indivíduos que se tornam resistentes à lamivudina (formas mutantes
YMDD) = ao fim de 5 anos, cerca de 70% desenvolve a forma mutante
o ENTECAVIR E TENOFOVIR (ainda sem mutantes mas o tempo de estudo para já é
reduzido)
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Muito pouco frequente entre nós (raro no Porto; em Lisboa há alguns casos)
As partículas delta são incapazes de parasitar um doente sozinhas, necessitam que o doente já
esteja infectado pelo HBV (requerem as partículas de superfície do HBV para sobreviverem)
A sua infecção pode ocorrer de duas formas:
o CO-INFECÇÃO (infecção simultânea do vírus da Hepatite B e delta)
Diagnóstico
o IGM ANTI-DELTA (indicador de infecção aguda)
No caso particular da co-infecção:
IgM anti-delta
IgM anti-HBc
o PCR do delta (muito cara)
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HEPATITE A
Infecção não cronifica nem tem gravidade apesar de muito sintomática (no adulto é
tipicamente muito ictérica, mais aparatosa) ao contrário da infecção por HBV ou HCV
o Torna-se preocupante quando dá uma super-infecção em indivíduos com cirrose ou
uma infecção por HBV
Transmissão fecal-oral
IgM anti-HAV (+) na fase aguda (depois IgG)
o O diagnóstico de infecção por HAV nunca é feita pela pesquisa de anticorpos IgG anti-
HAV: mais de 90% da população tem esses anticorpos (+) por ser uma infecção muito
frequente (e indolente) na infância
Relação com países subdesenvolvidos e más condições higiénicas
HEPATITE A EPIDEMIOLOGIA
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Em áreas intermediarias (USA entre elas), a prevalência total permanece pelos 50% mas a
infecção parece ir em aumento em idades + avançadas este fenómeno poderá ser atribuído a
um grupo de doentes mais velhos que terão sido infectados na infância quando a infecção era
ainda mais comum, a melhoria de condições socioeconómicas e sanitárias e um declínio no
tamanho das famílias poderia ser responsável pelo declínio da HAV no presente.
Há poucos estudos longitudinais da HAV em populações normais
A prevalência da infecção por HAV varia dramaticamente consoante a região.
Zonas de alta prevalência incluem a maioria do norte de África e Médio-Oriente.
Em áreas de prevalência média (América do Centro e Sul, Sudeste africano, e subcontinente
indiano), bem como de alta prevalência, a maioria dos seus nativos (senão todos) são
infectados precocemente na vida, sendo que a doença é incomumente reportada na idade
adulta.
Viajantes para essas áreas (a partir de áreas de baixa prevalência) têm um risco aumentado de
adquirir a infecção por HAV, pelo que é importante fazer vacinação em doentes hepáticos
HEPATITE A CLÍNICA
Prevalência da icterícia
o Há uma diferença idade dependente na resposta clínica à HAV:
Nas crianças é geralmente assintomática ou ligeira com apenas uma
percentagem mínima de jovens com icterícia em contraste com a infecção no
adulto, que é sintomática, muitas vezes severa e geralmente ictérica, sendo
incerto o mecanismo subjacente a esta diferença que nitidamente é idade-
dependente
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GERALMENTE CURA COMPLETAMENTE SEM SEQUELAS E NUNCA ORIGINA INFECÇÃO CRÓNICA OU PERSISTENTE
Raramente pode ser fulminante e até fatal (mais em doentes com problemas hepáticos)
Há variantes clínicas raras, mas que usualmente curam:
o Hepatite colestática
Bilirrubina dramaticamente elevada (> 20 mg%)
Persiste por meses até curar
o Hepatite bifásica ou recidivante
Exacerbação dos sintomas e das alterações no perfil hepático durante a fase em
que já se observa declínio da fase aguda
o Hepatite prolongada
Duração de vários meses (mas a cura pode ser antecipada)
HEPATITE E
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Impropriamente categorizado
o NANB (ausência de HAV e HBV mas clínica
sobreponível)
o NANB entérico
Morfologia vírica
o Ácido nucleico ssRNA
o Classificação (supergrupo de vírus de positive-
strand RNA): calicivírus ou alfavírus
o Serótipo único com grande heterogeneidade génica
o Replicação in vivo nos hepatócitos
o Replicação in vitro nas células diploides embrionárias do pulmão humano
HEPATITE E DIAGNÓSTICO
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O HEV é responsável por surtos de hepatite relacionados com o consumo de água e é a causa
mais comum de hepatite esporádica no adulto jovem nos países subdesenvolvidos.
Surpreendentemente, a taxa de infecção associada aos contactos em casa é muito baixa
Nos EUA são vistos casos exclusivamente importados de países com alta incidência da infecção.
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HEPATITE C
O virião do HCV tem um invólucro lipídico que contém várias glicoproteínas e uma
nucleocápside que contém no seu interior ssRNA (logo não se integra no DNA do hospedeiro!)
Do ponto de vista organizacional, temos:
o Vírus ssRNA (+)
o 9400 nucleótidos
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HEPATITE C EPIDEMIOLOGIA
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Existem dois grandes grupos de doentes (associados a dois grandes grupos de HCV)
o SVR (Sustained Virologic Responders)
o NR (Nonresponders)
A principal modalidade de tratamento é o interferão!
HEPATITE C DIAGNÓSTICO
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CLÍNICA
o Hepatite aguda benigna
Assintomática (raramente fulminante) ao contrário das hepatites A e B
Anictérica em 75% dos casos
Raras manifestações extra-hepáticas
O sintoma mais frequente é a astenia (característico mas não muito frequente)
Cronifica em 90% dos casos
o Associação a anemia aplástica (?)
Antecedentes de PHT são frequentes
28% pós-OLP por HNANB (hepatite fulminante)
o Hepatite crónica silenciosa (transamínases inclusivamente normais)
o Cirrose muito indolente (sem clínica e com pouca actividade inflamatória)
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HISTOLOGIA
HEPATITE C COMPLICAÇÕES
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HEPATITE C EPIDEMIOLOGIA
HEPATITE C COMPLICAÇÕES
HEPATITE C TRATAMENTO
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ASSIM, MESMO QUE SEJA EXPECTÁVEL QUE O DOENTE NÃO RESPONDA, DEVEMOS TRATAR NO
SENTIDO DE DIMINUIRMOS O RISCO DE EVOLUÇÃO PARA CIRROSE HEPÁTICA!
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ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS
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Objectivos do tratamento
o Doença inicial/doença mínima = TERAPIA DE ERRADICAÇÃO
Remover o risco de progressão
Abolir infecciosidade
Restaurar a qualidade de vida
o Estadios pré-cirróticos/cirrose = TERAPIA SUPRESSIVA
Atrasar a progressão da doença
Reduzir as complicações
Aumentar a sobrevida
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