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Banco Central “autônomo” aumenta a “Taxa Selic”

pela quarta vez seguida e dá mais R$ 71 bilhões de


juros por ano para os rentistas
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Rodrigo Ávila

5/8/2021

Ontem, 4/8/2021, o Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central – que se


tornou completamente “autônomo” em fevereiro deste ano – aumentou pela quarta vez
seguida a chamada “Taxa Selic” para 5,25% ao ano, aumentando o custo da dívida
pública federal, que beneficia principalmente grandes bancos e investidores. O aumento,
de 1% ao ano, gera um crescimento inicial direto e imediato de R$ 25 bilhões anuais no
pagamento de juros da dívida, considerando que atualmente existem R$ 2,518 trilhões
de títulos da dívida pública indexados à Selic1.

Porém, o impacto real vai muito além deste. Aumentando seguidamente a taxa básica de
juros, o Banco Central manda um recado claro ao “mercado”, de que está disposto a
pagar taxas mais altas aos grandes bancos e investidores, que desta forma já têm exigido
taxas de juros mais altas também por outros tipos de títulos públicos. Prova disto é que
em junho de 2021 o custo médio da dívida pública federal interna era de 7,43% ao ano2,
ou seja, já bem superior à “Taxa Selic” e, à medida em que esta se eleva, todas as demais
taxas oferecidas também se elevam. Desta forma, pode-se estimar o impacto do aumento
de 1% na taxa de juros aplicando-o sobre toda a dívida interna federal (cujo estoque era
de R$ 7,084 trilhões em junho3), gerando um custo anual de R$ 71 bilhões de juros, que
são retirados daqueles que produzem riqueza (trabalhadores) para os rentistas,
concentrando ainda mais a renda e a riqueza no país. As projeções são ainda mais graves
considerando que, em nota, o próprio BC afirmou como cenário a previsão de que a
trajetória de juros “se eleva para 7,00% a.a. neste ano”4

A velha justificativa para este constante aumento de juros seria o “combate à inflação”,
de acordo com a suposta ideia de que os preços estariam subindo devido a um excesso de
demanda, como se as pessoas estivessem com muito dinheiro, comprando demais, e
tivessem que ser contidas por meio do aumento da taxa de juros, via restrição aos
financiamentos. Porém, a inflação existente no Brasil decorre principalmente da alta de
preços administrados pelo próprio governo (energia elétrica, combustíveis etc.) e de
preços de alimentos, devido à demanda do mercado internacional e impactos da
desvalorização cambial (que aumenta o preço dos alimentos em reais), devido à
equivocada priorização da agricultura de exportação e ausência de uma política de
segurança alimentar que priorize a agricultura familiar, principal produtora de alimentos

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para o mercado interno. Ou seja, aumentar juros não combate as principais causas da
inflação no Brasil, e pode até aumentá-la, pois os juros podem ser um dos componentes
do custo em inúmeros casos.

Tudo isso mostra a ilegitimidade de grande parte da dívida interna brasileira, cujo
principal fator de crescimento tem sido as altas taxas de juros, estabelecidas sob
justificativas completamente falsas. É por isso que o Banco Central quis e conseguiu ser
completamente “autônomo”, ou seja, blindado em relação às cobranças da população e
até mesmo de atuais e futuros governos, para se submeter às exigências dos rentistas.

AUDITORIA JÁ!!

1 Fonte: https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?
p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO_ANEXO:13949 – Anexo 2.1. Foram consideradas
as LFTs (indexadas à Selic), inclusive as que se encontram em poder do Banco Central
(BC), dado que o Tesouro paga juros para o BC sobre estes títulos, que por sua vez são
entregues a instituições financeiras nas chamadas “operações compromissadas”.

3 Fonte: https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?
p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO_ANEXO:13949 – Anexo 2.1. Inclui os títulos em
poder do Banco Central (BC), dado que o Tesouro paga juros para o BC sobre estes
títulos, que por sua vez são entregues a instituições financeiras nas chamadas “operações
compromissadas”.

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