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Misérias da sociedade de consumo

Vilmar Berna

Segundo cientistas, se todos os países adotassem o mesmo estilo de desenvolvimento


dos chamados países do Primeiro Mundo, seriam necessários cerca de quatro planetas
terra de recursos naturais e, como só temos um, a conclusão é muito simples: os que po
dem estão avançando sobre os recursos dos que não tem como impedir o saque. E por que
os oprimidos não reagem? Por que estão contentes com a situação e nem pensam em se liber
tarem. Muito pelo contrário! Bombardeados o tempo todo por uma informação comprometida
com o consumo, as pessoas passaram a acreditar que não há nada de errado com a Soci
edade de Consumo, onde se diz que as oportunidades são iguais para todos. Se a pes
soa se esforçar mais, trabalhar mais e melhor, se endividar e pagar as prestações, então
alcançará os mesmos patamares de consumo e de qualidade de vida dos ricos e famosos
!
Ninguém gosta da pobreza muito menos apóia desigualdades, mas é graças à existência de tais
misérias em nossas sociedades que uns podem acumular mais que os outros. Gandhi al
ertou que existem recursos no planeta para todos, mas não para a ganância de uns pou
cos e que a paz é fruto da justiça.
Paulo Freire afirmava que o grande papel da educação deveria ser o de libertar as pe
ssoas da escravidão do consumismo. Entretanto, somos estimulados o tempo todo, des
de criancinhas, e por todos os meios a consumir sem parar! Ao invés de tentarmos n
os libertar, ou de questionarmos este modelo, queremos consumir mais e mais, num
padrão tão elevado quanto o dos ricos e famosos, incensados pela mídia para que os to
memos como modelo a serem seguidos e invejados.
Os shoppings tornaram-se templos de consumo do deus Mercado, verdadeiras ilhas d
a fantasia onde até o ar que se respira tem a temperatura controlada. A moda, a pr
opaganda e a informação - comprometidas com este modelo - são os principais carros-che
fe dessa nova religião e cumprem o papel de dar velocidade e legitimidade ao consu
mo, criando novos desejos e necessidades, tornando o novo já ultrapassado e obsole
to assim que o consumidor sair da loja.
Somos levados a confundir a posse de bens com felicidade e reconhecimento social
, e a nos avaliarmos não pelo que somos, mas pelo que possuímos. Somos induzidos a c
onsumir não por que precisamos, mas por que merecemos, desejamos, podemos. A falta
de dinheiro, que deveria funcionar com um limitador, é superada rapidamente pelo
crédito fácil e prestações a perder de vista que beiram a irresponsabilidade. Os consumi
dores acabam escravizados às suas dívidas, obrigando-se a dedicarem as melhores hora
s de suas vidas ao trabalho, para gerar os excedentes que os permitam pagar suas
dívidas e adquirirem logo novas modernidades muitas das vezes nem tão necessárias ass
im.
O tempo passou a ser o bem mais precioso e as pessoas passaram a dedicá-lo quase t
odo ao trabalho e mal conseguem ter tempo para elas próprias, para suas famílias, pa
ra cultivar uma arte, um esporte, um lazer, ler um livro, ouvir uma música, dançar,
reunir com os amigos. Tendemos a passar mais tempo com os colegas do trabalho qu
e com nossa família, filhos ou a pessoa amada. Não temos mais tempo para comer com c
alma, e comer virou uma forma de tentar preencher o vazio e a ansiedade. As cida
des estão cada vez mais cheias de gente solitária que tentam preencher este vazio co
m mais consumo.
Entretanto, enquanto uns perdem a liberdade, outros perdem a vida. O desemprego
está entre um dos principais motivos para os suicídios, por que, numa sociedade de c
onsumo, pessoas que não conseguem ganhar dinheiro, sentem-se um peso para as demai
s. Pessoas depressivas e solitárias também se matam diante das frustrações ao descobrire
m que a posse de bens de consumo e de riquezas não se converteu nas prometidas fel
icidade, prazer e reconhecimento social. A própria vida humana perde importância, já q
ue só é importante o que tem preço e não o que tem valor. E como a vida não tem preço, entã
não interessa para o negócio. Vidas fora do mercado não interessam.

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