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FICHA TÉCNICA Edição, Validação e Homologação - UNA - SUS

Paulo Biancardi Coury


Coordenador de Produção de Educação a Distância)
Jitone Leônidas Soares
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& SE/UNASUS & Universidade de Brasília Autores
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Sumário
Organização....................................................................................................... 5 Inseticidas piretróides.............................................................................. 28

Objetivos.............................................................................................................. 6 Reguladores de crescimento


e análogos de hormônio juvenil....................................................... 30
Apresentação.................................................................................................... 7
Atividade 3 - Formulações de inseticidas....................................32
Atividade 1 - Histórico dos inseticidas.............................................. 8
Atividade 4 - Resistência de insetos vetores.............................39
Atividade 2 - Tipos de Inseticidas...................................................... 18
Mecanismos de resistência..................................................................40
Inseticidas organoclorados....................................................................19
Mecanismos de resistência: veja como acontece................. 42
Inseticidas organofosforados...............................................................23
Mecanismos de resistência.................................................................. 43
Inseticidas carbamatos............................................................................25
Sobre o autor.................................................................................................. 46
Inseticidas piretróides...............................................................................27
Organização

5
Objetivos

6
Apresentação

Olá, tudo bem? Seja bem-vindo(a) à Unidade de Classificação tais vetores e a resistência deles aos produtos utilizados no seu
e Formulação de Inseticidas e Resistência de Insetos Vetores! controle. Esse conhecimento é importante porque as técnicas
de controle químico atuais preveem o uso de inseticidas 7
Esta unidade aborda aspectos das substâncias químicas, conforme preconizado pela Organização Mundial da Saúde.
conhecidas como inseticidas, larvicidas e adulticidas.
Embora esses inseticidas sejam submetidos a um rígido
Para desenvolver atividades relacionadas ao controle químico protocolo de segurança para sua indicação, é fundamental que
de vetores de interesse da saúde pública, é importante os agentes de saúde que trabalham diretamente com esses
conhecer as propriedades desses produtos, sua interação com insumos conheçam previamente os riscos potencias que essas
atividades oferecem, evitando-se acidentes durante o trabalho.
Atividade 1
Histórico dos inseticidas

Em muitos países, os programas de controle de vetores centralizados e verticais foram sendo substituídos por programas
descentralizados e integrados com diversos outros serviços de saúde.

Nos últimos anos, as responsabilidades das ações de controle vetorial passaram para os Estados e Municípios que apresentam
prioridades específicas, cenários complexos e heterogeneidade de ambientes.
Hoje, sabem-se os efeitos prejudiciais dos inseticidas no meio ambiente, os seus potenciais problemas de intoxicação humana e o
8
efeito acumulativo na cadeia alimentar de alguns produtos.

De forma geral, o controle químico deveria ser a última opção de escolha, quando todas as tentativas não tiveram êxito e não há
mais o que fazer para reduzir a densidade da população alvo.

Porém, seu uso ainda é bastante comum, principalmente quando se trata de epidemias produzidas por insetos vetores, na qual se
necessita de um controle rápido e efetivo.
Indicadores entomológicos foram utilizados junto com indicadores ambientais, demográficos e socioeconômicos para analisar
a vulnerabilidade para transmissão vetorial de T. cruzi no Brasil (Vinhaes et al., 2014). Nesse estudo, foram analisados dados de
ocorrência de triatomíneos domiciliados no Brasil entre 2007 e 2011. A vulnerabilidade dos municípios foi avaliada com base em
indicadores socioeconômicos, demográficos, entomológicos e ambientais e verificou-se que 2.275 municípios foram positivos
para, pelo menos, uma das seis espécies de triatomíneos (Panstrongylus megistus, T. infestans, T. brasiliensis, T. pseudomaculata, T. 9
rubrovaria e T. sordida). Os municípios que eram mais vulneráveis à transmissão vetorial ocorreram na região Nordeste e exibiram
maior ocorrência de triatomíneos domiciliados, baixos níveis socioeconômicos e áreas antropizadas mais extensas. Essas análises
permitiram identificar os estados e municípios mais vulneráveis à transmissão de T. cruzi por triatomíneos domiciliados, o que é
fundamental para direcionar atividades adequadas de vigilância, de prevenção e de controle.

Nos estados da região Norte, mais Maranhão e norte do Mato Grosso esses indicadores não são adequados, porque o comportamento
dos triatomíneos dessa região é diferente, pois dificilmente colonizam as casas. Em vez disso, eles ocorrem em habitats naturais
ao redor de casas, como palmeiras, por exemplo (Abad-Franch et al., 2015).
O que é pesticida?
É qualquer substância ou mistura de substâncias de ingredientes químicos ou biológicos que é destinado ao combate de insetos,
ácaros, roedores e outras espécies indesejáveis de plantas e animais que são prejudiciais ao homem. Já para a saúde pública,
o uso de pesticidas é voltado ao controle de insetos de importância para a saúde, ou seja, aqueles que são transmissores de
patógenos ao ser humano e aos animais.

Agora que já definimos o que são pesticidas, podemos avançar para conhecer sua classificação.

Você sabia que a classificação dos pesticidas pode ser realizada de acordo com a praga a ser combatida? Sendo assim, temos:

1 Bactericidas: são pesticidas usados no controle de bactérias nocivas ao plantio;

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2 Determinação da densidade dos vetores;

3 Impacto potencial das medidas de intervenção contra o vetor;

4 Custo e factibilidade da intervenção versus eficácia;

5 Existência de medidas eficazes de profilaxia e de controle;

6 Identificação de área do vetor sujeita ao risco de transmissão humana.

O primeiro pesticida utilizado foi o enxofre, o qual, depois, deu lugar


a outros compostos químicos, como o arsênio e o mercúrio.
Continuando com mais história... 1ª geração de pesticidas...

A partir do século XVII, passaram a utilizar, em larga escala, pesticidas à base de nicotina, substância extraída
da folha do tabaco. Os produtos à base de substâncias químicas inorgânicas (arsênio, chumbo, mercúrio etc.) e
botânicas (nicotina, sabadina, piretro e retenona) foram a primeira geração de inseticidas utilizados.

Em meados da década de 30, iniciou-se a “era moderna” dos inseticidas orgânicos, quando houve um melhoramento
da relação entre estruturas químicas com a atividade biológica. A maioria dos inseticidas não era seletiva e nem
apresentava boa eficiência até 1940.

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Em resumo...

As primeiras gerações de inseticidas apresentaram em sua composição básica substâncias inorgânicas, botânicas (piretro, nicotina
etc.) e compostos químicos voláteis no estado de vapor ou gás que eram aplicados em sistemas herméticos para desinfestação de
materiais, de objetos e de instalações (brometo de metila, ácido cianídrico, óxido de etileno etc.).
Mas... Continuando com mais história... 2ª geração de pesticidas...

Eis que uma descoberta espetacular acontece! Estamos falando do Diclorodifeniltricloroetano (DDT), em 1939, por
Paul Müller, que revolucionou o controle de insetos, tanto na agricultura, quanto na saúde pública, marcando o
começo da segunda geração de inseticidas e o surgimento da família dos organoclorados. O DDT foi amplamente
utilizado durante a Segunda Guerra Mundial para combater as pulgas que transmitiam peste bubônica, a qual
acometia os soldados. Além disso, também foi muito efetivo para o controle da malária em vários países.

Porém, na década de 1960, foram registrados os efeitos adversos do DDT, o qual era um produto que permanecia
por longo período no ambiente (acumulativo), pouco seletivo e com grande potencial para contaminação
ambiental. Além disso, muitas espécies de insetos-alvos desenvolveram resistência ao DDT, o que culminou em
falhas significativas no controle de doenças transmitidas por insetos de importância na saúde pública.

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Atualmente, existem muitas discussões a respeito da utilização do DDT na saúde pública, como, por exemplo, na África e na Índia.

No entanto, sua elevada persistência no meio ambiente e a possibilidade de provocar neoplasias humanas impediram seu uso a
partir de 1972, em muitos países.
Reconhecidas as limitações, as desvantagens e os problemas dos organoclorados. foram necessários que
os químicos sintetizassem novos produtos. Assim, os organofosforados surgiram no mercado com distintas
propriedades físicas, modo de ação e diferentes formulações.

Em seguida, surgiram os carbamatos com amplo espectro de ação biológica. Ambos os grupos de inseticidas foram
alvos de questionamentos toxicológicos e, em pouco tempo de uso, surgiram populações resistentes, situação que
acelerou o desenvolvimento dos piretróides, com propriedades toxicológicas maiores para os insetos e menos
contaminação ambiental.

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A segunda geração de inseticidas atua no Sistema Nervoso Central (SNC) e são classificadas em quatro grupos distintos, conhecidos
como organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretróides.

Os organoclorados e piretróides atuam nos canais de sódio, enquanto que os carbamatos e os orgofosforados ligam-se à enzima
acetilcolinesterase durante a transmissão do impulso nervoso.

Agora que já falamos da primeira e da segunda gerações de inseticidas,


vamos falar sobre a terceira. Preparados? Vamos lá!
Continuando com mais história... 3ª geração de pesticidas...

A terceira geração compreende os reguladores de crescimento de insetos (IGR) e os análogos de hormônio


juvenil, que se caracterizam por interferir na metamorfose do inseto por meio da interrupção da ecdise, ou seja,
atuam interferindo no processo normal de crescimento das fases do inseto ou mimetizam o hormônio juvenil (HJ),
favorecendo a retenção de estruturas juvenis.

Vocês já tiveram oportunidade de conhecer, na Unidade 2, as características morfológicas dos insetos vetores.
Agora, vamos acrescentar a esses conhecimentos um pouco do mecanismo de ação desses inseticidas.

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Os centros nervosos do inseto, as


glândulas protorácicas, secretam
ecdisona, o qual induz o processo de
muda, e a Corpora allata libera o HJ,
que tem a função reguladora tanto na
metamorfose quanto na reprodução
(Figura 1).

Figura 1. Localização da glândula protorácica e Corpora allata nos insetos.


Para que ocorra o desenvolvimento
pleno e satisfatório de cada fase da
muda da larva, torna-se necessária a
liberação de quantidade precisa de HJ.
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Ao final dos estádios larvais, o HJ é
inibido. Essa paralisação na produção
de HJ faz com que o inseto mude para a
fase de pupa e adulto.

Figura 2. A: Atividade de Hormônio Juvenil e Ecdisona no desenvolvimento do


mosquito e B: atuação do Análogo de Hormônio Juvenil Pyriproxyfen.
Por fim, a ecdisona induz o processo de
muda e o HJ leva à formação de pupa
ou adulto (Figura 2A).
16 A aplicação de IGR impede o
crescimento nos estádios larvais e um
análogo de HJ acarreta uma interrupção
na muda das formas imaturas para a
fase adulta (Figura 2B).

Figura 2. A: Atividade de Hormônio Juvenil e Ecdisona no desenvolvimento do


mosquito e B: atuação do Análogo de Hormônio Juvenil Pyriproxyfen.
Sem dúvida nenhuma, a produção de novas substâncias e de
tecnologias continuará a aumentar nos próximos anos.

Além disso, novas alternativas de controle, tais como mosquitos


infectados por Wolbachia, mosquitos dispersores de inseticidas,
mosquitos transgênicos, esterilização de insetos por irradiação,
nebulização espacial intradomiciliar residual (IRS) e telas e 17
roupas impregnadas com inseticidas estão sendo pesquisadas Sugestões de leitura: artigo Organoclorados: um problema
para uso no mercado, conforme mostra Zara et al. (2016). de saúde pública e artigo Estratégias de controle do Aedes
aegypti: uma revisão. E o livro Primavera Silenciosa, de
Apesar disso, os produtos químicos são e continuarão a Rachel Carson!
ser a ferramenta mais importante no controle de pragas da
agricultura e na saúde pública.
Atividade 2
Tipos de Inseticidas

Nesta atividade, vamos conhecer os tipos de inseticidas


químicos. Para isso, é importante saber que os principais grupos
de inseticidas utilizados nos programas de controle vetorial são
sintéticos. Esses podem ser:

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Em seguida, vamos aprender as principais características


Nos últimos anos, os piretróides substituíram os demais das diferentes substâncias utilizadas no controle de insetos
compostos citados. vetores...
Inseticidas organoclorados

Olá, tudo bem? Seja bem-vindo(a) à Unidade de Classificação e Formulação de Inseticidas e Resistência de Insetos Vetores!

Esta unidade aborda aspectos das substâncias químicas, conhecidas como inseticidas, larvicidas e adulticidas.

Para desenvolver atividades relacionadas ao controle químico de vetores de interesse da saúde pública, é importante conhecer as
propriedades desses produtos, sua interação com tais vetores e a resistência deles aos produtos utilizados no seu controle. Esse 19
conhecimento é importante porque as técnicas de controle químico atuais preveem o uso de inseticidas conforme preconizado pela
Organização Mundial da Saúde.

Embora esses inseticidas sejam submetidos a um rígido protocolo de segurança para sua indicação, é fundamental que os agentes
de saúde que trabalham diretamente com esses insumos conheçam previamente os riscos potencias que essas atividades oferecem,
evitando-se acidentes durante o trabalho.

Esses produtos foram usados entre 1940 e 1950


Para melhor compreender os Grupos:
organoclorados, vamos classificá-
los e descrever brevemente suas DIFENIL-ALIFÁTICOS
características e o mecanismo de ação.
HEXACLOROCICLOHEXANO
Os organoclorados são classificados
em quatro grupos. CICLODIENOS

Vamos conhecê-los! POLICLOROTERPENOS

DIFENIL-ALIFÁTICOS – DDT
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O DDT é o mais conhecido, porém incluem-se mais quatro análogos relacionados ao DDT (dicofol, etileno,
clorobenzilato e metoxicloro): o dicofol é um acaricida, semelhante ao clorobenzilato; o etileno é utilizado para
Grupo 1: impregnação de madeira, protegendo-a contra o ataque de cupins e o metoxicloro é um inseticida de jardins.

Quanto ao modo de ação, conforme já especificado anteriormente, todos os inseticidas sintéticos interferem no
funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC). São considerados neurotóxicos e afetam a transmissão dos
impulsos nervosos dos insetos.

HEXACLOROCICLOHEXANO – HCH
O HCH, também conhecido como benzenohexacloro (BHC) é considerado o mais antigo dos sintéticos clorados.
Grupo 2: Os isômeros do HCH são alfa, beta, gama, delta e épsilon.

Após diversos trabalhos de laboratório para separar e identificar esses isômeros, somente o isômero gama
apresenta propriedades inseticida. O Lindano é um produto comercializado que contém 99% de isômero gama.
CICLODIENO – HCH
Observe que, nos cicloedienos, a primeira parte do nome refere-se à estrutura cíclica, em forma de anel, e a
segunda (dieno) significa que tem dupla ligação. A maioria dos ciclodienos foi sintetizada depois da Segunda
Guerra Mundial. O Aldrin e o Dieldrin, sintetizados em 1948, são exemplos desse grupo. Geralmente, são
Grupo 3: persistentes e estáveis no solo e relativamente estável à ação da luz solar. Também são equitóxicos, isto é,
apresentam efeitos iguais para mamíferos, insetos e aves.

Quanto ao modo de ação, os ciclodienos atuam no mecanismo de inibição dos receptores de GABA (ácido gama-
amino-butírico). Esses receptores, em condições normais, aumentam a permeabilidade dos neurônios aos íons 21
cloreto, após ligação do neurotransmissor. Os ciclodienos impedem a entrada dos íons cloreto nos neurônios.

POLICLOROTERPENOS

Grupo 4: O toxafeno e o estrobane foram desenvolvidos em 1947 e em 1951, respectivamente. São utilizados sempre
em combinação com o DDT, uma vez que, sozinho, tem poucas qualidades inseticidas. Somente esses dois
policloroterpenos foram produzidos.
22
Inseticidas organofosforados

De um modo geral, o termo refere-se a todos os inseticidas que contém fósforo. Foram desenvolvidos na década de 1940, mas são
utilizados até hoje, tanto na agricultura, como em saúde pública para controlar mosquitos. São classificados em três subgrupos: os
alifáticos (Malathion, Vidrin, Vapona etc.), os derivados de fenil (etil e metil parathion, fenitrotion etc.) e os heterocíclicos (chlorpirifos,
chlorpirifos metil etc.). 23

Quando comparados aos organoclorados, são biodegradáveis, não se acumulam nos tecidos; contudo, apresentam baixa persistência,
o que torna obrigatórios novos ciclos de aplicação. A falta de persistência se deve pela presença de ligações éster. Essas ligações são
facilmente hidrolizáveis, produzindo o álcool e o ácido de origem.

Esses produtos foram usados entre 1950 e 1975


Destaca-se que o Malathion é o único organofosforado indicado
para tratamento espacial de mosquitos no extradomicílio conforme
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Essa preocupação ocorreu devido à implicação potencial da


24
disponibilidade ou indisponibilidade de Malathion para controle
vetorial no contexto da doença do vírus Zika.

Ao final desta atividade, recomenda-se a leitura do documento


intitulado Use of malathion for vector control, da OMS.
Inseticidas carbamatos

Assim como os inseticidas fosfóricos são derivados do ácido fosfórico, os carbamatos são derivados do ácido carbônico. São solúveis
em solventes orgânicos, inodoros e sistêmicos para as plantas, uma vez que são relativamente solúveis em água. Apresentam
elevado custo e persistência de 1 a 3 meses no meio ambiente. 25

Os carbamatos são tóxicos aos seres humanos e aos animais, são bem absorvidos por inalação e via oral e pouco absorvidos pela
pele, podendo causar efeitos adversos aos Sistemas Nervosos Central e Periférico, além de ações imunodepressoras e cancerígenas.

Esses produtos começaram a ser usados em 1960


São instáveis e voláteis, podem ser degradados por excesso de
umidade, altas temperaturas e luminosidade.

São metabolizados por seres vivos (animais, vegetais e


microrganismos de um modo geral), e sua decomposição produz
26 substâncias tóxicas, como amônia e dióxido de carbono, e outros
compostos, como aminas, álcoois e fenóis.

Sua comercialização iniciou-se nos anos 60, sendo que os mais


utilizados em saúde pública são o Propoxur, Carbaril e o Bendiocarb.
Inseticidas piretróides

Ao longo do tempo, os inseticidas organoclorados, organofosforados e carbamatos foram sendo gradativamente substituídos pelos
inseticidas piretróides.

Hoje, as combinações de estruturas moleculares dos piretróides resultam em produtos mais fotoestáveis e com maior ação inseticida,
portanto, aumentando o seu uso, com uma larga margem de segurança, tanto no meio agrícola, quanto na saúde pública.

Somente em 1995, o uso de piretróides representou aproximadamente 23% do crescimento do mercado mundial de inseticidas.

Por volta de 1940, os Estados Unidos declararam o piretro como material estratégico de guerra devido à sua grande utilidade
no combate aos mosquitos transmissores da malária. Várias tentativas de cultivo de crisântemos, em território norte-americano,
fracassaram. A dificuldade para obtenção de matéria-prima, durante a guerra, induziu os Estados Unidos e a Inglaterra a sintetizarem
derivados das moléculas naturais. 27

Com os esforços iniciados, durante a Segunda Guerra Mundial, foi lançado no mercado americano o primeiro piretróide, a aletrina,
em 1948. Sua síntese era muito complexa, necessitando de 22 reações químicas para obtenção do produto final. Esse inseticida
representou a primeira geração dessa família.

No século XVII, os distintos habitantes do Montes Caucasianos conheceram as propriedades inseticidas das flores de crisântemo, as
quando utilizaram no combate de piolho do corpo. Em 1924, os químicos suíços Hermann Staudinger e Leopold Ruzilka revelaram
as primeiras características estruturais das piretrinas, sendo que, anos depois, foram premiados com o Nobel por seus avanços nos
diversos campos da química.

As piretrinas são encontradas em toda parte, principalmente nas folhas de plantas herbáceas da família Compositae. Das espécies
Chrysantemum cineraraefolium e C. coccineum, pertencentes a essa família, são extraídas substâncias naturais que são utilizadas
para produção de diversos piretróides sintéticos.

Esses produtos começaram a ser usados em 1948


Inseticidas piretróides

Naqueles anos, o desafio enfrentado pelos químicos era sintetizar novas moléculas que reunissem as seguintes propriedades:

• eficazes contra os insetos, mesmo quando empregadas em baixas concentrações;



• não serem tóxicas ao homem e animais domésticos;

• serem de fácil obtenção de manipulação;

• apresentarem ação rápida e estabilidade ao ar livre e;

• serem econômicos.
28
Após 20 anos, foi obtido o primeiro piretróide com características ideais e com toxicidade em mamíferos menor que as piretrinas.
Esse composto foi chamado de resmetrina. Além da resmetrina, outros compostos foram sintetizados entre 1960 e início da década
de 1970, tais como tetrametrina, bioresmetrina, bioaletrina e phonotrina, representando a segunda geração dessa família.

Os piretróides de terceira geração (fenvalerato e permetrina) surgiram entre 1972 e 1973 e foram os primeiros a serem utilizados
na agricultura por serem mais eficazes e fotoestáveis. Modificações estruturais posteriores, como, por exemplo, incorporação de
grupo ciano a estrutura dos piretróides, permitiram um aumento considerável na ação inseticida.
A deltametrina é um dos cianopiretróides, amplamente efetiva
contra importantes pragas agrícolas, sanitárias e domésticas.

As modificações estruturais sistemáticas de distintas partes das


moléculas de piretrinas produziram compostos altamente efetivos
em doses baixas, que incluem a bifentrina, lambdacialotrina,
cipermetrina, ciflutrina, fenpropatrina, flucitrinato, fluvalinato, 29
teflutrina, tralometrina e zeta-cipermetrina.

Todos esses inseticidas, juntamente com a deltametrina,


correspondem à quarta geração, e a mais atual desse grupo, a qual
se estendeu entre os anos 80 e 90.
Reguladores de crescimento e análogos de hormônio juvenil

Nos últimos anos, os reguladores de crescimento de insetos foram sendo introduzidos no controle de mosquitos, particularmente
como larvicidas. São conhecimentos como análogos de hormônio juvenil e inibidores de síntese de quitina.

Os análogos de hormônio juvenil têm sua principal atuação na inibição de emergência de adultos, ou seja, fazem com que as
larvas sobrevivam e a mortalidade ocorra principalmente no estágio de pupa. Caso haja sobrevivência das pupas, a mortalidade irá
30 ocorrer durante a emergência do adulto.

Destacam-se o methoprene e pyriproxifen para controle de Aedes sp em água potável.

Os inibidores de síntese de quitina, como o diflubenzuron e o triflumuron, atuam sobre as larvas, ocasionando a morte durante
a ecdise. A larva não consegue eliminar a cutícula velha, pois, aparentemente, devido à inibição da deposição de quitina, não há
rigidez suficiente para isso. As larvas podem sobreviver por algum tempo, mas eventualmente morrerão.

Para maiores informações, recomendamos a leitura do relatório intitulado Avaliação da eficácia de análogos de hormônio juvenil e
inibidores da síntese de quitina no controle de Aedes aegypti, publicado em 2005 pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da
Saúde (SVS/MS) para subsidiar, junto com outros elementos, as futuras decisões sobre utilização desses produtos como inseticidas.
Chegamos ao final da Atividade 2. Sem dúvida nenhuma, a utilização de produtos químicos para o controle de vetores, assim
como sua produção, continuará aumentando nos próximos anos. Novas gerações de inseticidas surgirão no mercado como uma
importante ferramenta para o controle de insetos de importância na saúde pública e na agricultura, assim como novas tecnologias
serão implantadas em larga escala para diminuir e/ou reduzir a transmissão de doenças que afetam a população humana no
Planeta.

31

Recomendamos a leitura:

Mulla, (1995). The future of insect growth regulators in vector control. J. Mosq. Control Assoc. 11:269 -273.

Silva & Mendes (2007). Susceptibility of Aedes aegypti (L) to the insect growth regulators diflubenzuron and methoprene in
Uberlândia, State of Minas Gerais. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 40(6): 612-616.

Zara, Ana Laura de Sene Amâncio et al. (2016). Estratégias de controle do Aedes aegypti: uma revisão. Epidemiol. Serv. Saúde
[online]. Vol. 25, n. 2, 391-404. ISSN 1679-4974.
Consulta no site http://www.who.int/ipcs/en/
Atividade 3
Formulações de inseticidas

As formulações consistem na técnica que permite calcular e


misturar o inseticida Grau Técnico (puro) ou concentrado com
elementos inertes, sólidos ou líquidos, com a função de REBAIXAR
sua concentração para facilitar sua manipulação, seu transporte e
32 sua aplicação.

Assim, tornam-se fundamentais a escolha correta do inseticida e


a formulação mais adequada para o controle químico de insetos
vetores.
As formulações podem variar conforme a solubilidade do inseticida Formulação = ingrediente ativo (técnico ou puro)
e a forma com que o produto é aplicado. Dessa forma, os cálculos + coadjuvantes.
para a preparação da formulação a ser usada no campo têm que
ser precisos, corretos e sem falha, pois qualquer erro pode gerar
interferência na preparação final, ou seja, se for muito fraca, não irá
atuar sobre o inseto-alvo.

Por outro lado, se for muito forte, haverá consequências perigosas


à saúde e à contaminação do meio ambiente.

Como já mencionamos, a formulação torna-se necessária para Geralmente, a composição de um formulado possui um
garantir que a sua utilização seja a mais apropriada e conveniente, ingrediente ativo que confere eficácia ao produto ou diluentes
tornando-o mais seguro para o manuseio, estável e propício para e um coadjuvante para melhorar o desempenho dos produtos
misturas de produto técnico ou puro. formulados.

33

Para a preparação de qualquer mistura destinada ao uso no campo, devemos determinar o tipo, a quantidade e a concentração
final da preparação de uso no campo; calcular a quantidade de inseticida GT ou de concentrado que servirá de base para a
preparação; misturar os componentes; medir e pesar as cargas. Em alguns casos, podem ser utilizados sinergista, substâncias que
potencializam a ação de determinada molécula

Agora, vamos falar sobre o uso das formulações em si.


Pó molhável (PM ou WP) – trata-se de formulações sólidas
na forma de pó que são moídas para serem diluídas em água,
formando suspensões dotadas de grande estabilidade. Essa
formulação contém, geralmente, de 20 a 80% de princípio
ativo. Trata-se de formulações comerciais, destinadas à
preparação no campo de suspensões de baixa concentração
pela adição de água.

São usados de preferência nos tratamentos residuais


(contato de superfície), e os principais componentes PM
são inseticida grau técnico, elemento inerte, elemento
umectante, elemento anti-compactante e elemento
dispersante (retardador de sedimentação).

34

Pó seco (PS) – são formulações sólidas aplicadas diretamente


na superfície, em forma de pó, com a utilização de
equipamentos, nos quais o produto ativo pode ser disperso
com o auxílio de material inerte, por exemplo, o talco que
aumenta o volume e possibilita a distribuição por meio de
polvilhamento.

As concentrações dos produtivos ativos são baixas (1-20%),


mas suficientes para garantir uma distribuição uniforme do
produto.
Concentrado emulsionável (CE) – emulsão é um meio
heterogêneo, bifásico, instável, constituído pela dispersão
de gotículas muito finas, de um líquido em outro líquido,
o qual é insolúvel, com o fim de obter-se um conjunto
temporariamente estável que permita aplicação uniforme.
É formada por dois líquidos não miscíveis, um deles uma
substância oleosa (inseticida líquido ou dissolvido em um
líquido) e a água.

Geralmente, constituem-se de formulação líquida e


homogênea, que, após diluição na água, forma uma
emulsão de aspecto leitoso. Essa emulsão permite manter
por determinado tempo a estabilidade do ingrediente ativo,
obtendo-se, assim, a máxima eficiência do produto para o
fim a que foi designado. 35
Pó molhável (PM ou WP) – as vantagens desses produtos
são o fácil manuseio, o transporte e a armazenagem, a
pouca absorção dermal e o baixo custo. As desvantagens
são a inalação do pó, a agitação constante, o entupimento
e a abrasão nos bicos e a dificuldade de misturá-lo em água
muito alcalina (água dura).

O produto é aplicado em suspensão aquosa e o veículo,


neste caso, é a água.

Pó molhável + água = suspensão


Suspensão concentrada (SC) ou Flowables (FW) – trata-se
de formulação constituída de uma suspensão estável de
ingrediente(s) ativo(s), podendo ser diluídas em água. São
formulações comerciais líquidas, destinadas à preparação,
no campo, de suspensões de baixa concentração. Na
verdade, trata-se de formulações pó molháveis “pré
molhada” e apresentadas em recipientes plásticos. São
formadas por um sistema turvo que contém partículas (talco,
argilas especiais etc.), as quais se mantêm suspensas num
corpo líquido (água), precipitando-se quando em repouso.
A estabilidade da calda é garantida pelo pequeno grau de
finura das partículas, que são aperfeiçoadas pela adição de
substâncias umectantes e outros coadjuvantes.

36

Concentrado emulsionável (CE) – sua concentração varia


de 5 a 100% do ingrediente ativo. Além do ingrediente
ativo, podem conter solvente poderoso, estabilizador,
emulsificantes (um ou dois), agente molhante e
antiespumante. As vantagens desses produtos são fácil
manuseio, transporte e armazenagem; requerem pouca
agitação da calda e são não abrasivos aos bicos. As
desvantagens são absorção rápida pela pele, manchas nas
pinturas, mármores etc.; deterioram embalagens plásticas
e apresentam risco de incêndio, pois utilizam solventes
orgânicos).

No campo, deve-se diluir apenas o suficiente para uso


imediato (no máximo, em 24 horas) e nunca pode ser
devolvido ao recipiente original.
Granulados – também existem os granulados em formas
de barras compactas, semelhantes a comprimidos, os
quais, em inglês, são conhecidos como “pellets”. Trata-se de
formulações comerciais, destinadas a tratamentos larvários,
nos quais os grânulos facilitam o lançamento a distância e a
diluição lenta.

Os granulados são formados por inseticida grau técnico,


grânulos inertes (areia especial) e agentes agregadores.
Geralmente, possuem menos de 10% de ingrediente ativo
na formulação, podendo ser aplicados com equipamento
mecânico ou manualmente.

37

Granulados – formulação sólida uniforme que pode ser


aplicada diretamente no alvo desejado ou ser ingerida
por ele. Possui aspecto de areia fina com tamanhos de
partículas, que oscilam de 0,2 mm a 1,5 mm, podendo ser
diferenciadas em:

1. macrogranulados (de 2000 a 6000 micras);


2. granulados finos (de 300 a 2500 micras) e
3. microgranulados (de 100 a 600 micras).
38

Microencapsulado – formulação constituída por suspensão


estável de cápsulas, contendo o(s) ingrediente(s) ativo(s),
num líquido, para aplicação após diluição em água. O
ingrediente ativo localiza-se no interior de pequenas esferas,
as quais rompem-se em contato com tegumento do inseto.

São de fácil manuseio, transporte e armazenagem, e as


cápsulas podem evitar contaminação dermal. Porém,
possuem desvantagens, tais como as abelhas poderem Comumente, os produtos à base de concentrado emulsionável
transportar pólen contaminado para o interior das colmeias, (CE) são aplicados com o auxílio de equipamentos, conhecidos
provocam entupimento dos bicos e requerem agitação como Ultra Baixo Volume (costal ou pesada), e as formulações
constante. suspensão concentrada (SC) e Pó Molhável (PM) são utilizados
no tratamento de efeito residual.
Atividade 4
Resistência de insetos vetores

O uso de inseticidas, em larga escala, iniciou-se após a década


de 1940. As propriedades inseticidas do DDT e dos compostos
organofosforados foram descobertas entre 1939 a 1945 e os
39
carbamatos e piretróides, entre 1950 a 1960.

Durante esse período, em várias partes do globo terrestre, a


introdução de inseticidas sintéticos resultou em forte pressão de
seleção em diversas populações taxonomicamente diferentes.
Mecanismos de resistência

Poucas décadas depois, mais de 500 espécies de insetos apresentaram populações resistentes para um ou mais inseticidas.

A resistência acontece quando frequentes aplicações de um mesmo inseticida podem selecionar indivíduos de uma
população que resistem às doses recomendadas. Os indivíduos sobreviventes, ao se reproduzirem, transferem o material
genético para a próxima geração.
40
Após vários ciclos de “seleção”, ocorre um aumento da prevalência de genes resistentes, e o tratamento com inseticidas
torna-se ineficiente contra o inseto-alvo.

A resistência pode surgir de diferentes maneiras, dependendo da natureza dos mecanismos de resistência. Todos os
inseticidas sintéticos interferem no funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), são considerados neurotóxicos e
afetam a transmissão dos impulsos nervosos dos insetos, de modo que têm sido utilizados amplamente nos programas
de controle de doenças transmitidas por vetores.

Os quatro grupos principais de inseticidas atuam no SNC, em diferente sítio-alvo: os inseticidas organofosforados e os
carbamatos atuam sobre a acetilcolina, e os organoclorados e os piretróides mantêm abertos os canais de sódio.

A simples modificação de um aminoácido, tanto na acetilcolinesterase (ACE) quanto nos canais de sódio, pode causar uma
redução na sensibilidade aos inseticidas, levando a uma diminuição da afinidade entre o inseticida e seu sítio ativo.
41
Mecanismos de resistência: veja como acontece...

A resistência a inseticidas organofosforados e carbamatos pode ocorrer quando há uma alteração ou diminuição à
sensibilidade da Acetilcolinesterase (ACE). A acetilcolina liberada na fenda sináptica é a responsável pela propagação
do estímulo nervoso, e essa enzima provoca abertura dos canais de sódio da membrana do nervo pós-sináptico. Após
o término do estímulo, a acetilcolina é removida pela ACE. Os organofosforados e carbamatos agem inibindo a ACE que
regula os níveis de acetilcolina.

Como o acúmulo de acetilcolina nas junções nervosas impede a interrupção de propagação do impulso elétrico,
42 consequentemente, o SNC continuará sendo estimulado, desencadeando o processo de paralisia, podendo culminar com
a morte do inseto. Esses inseticidas não serão mais capazes de inibir a ACE, permitindo a interrupção normal do estímulo.

A resistência pode ocorrer pela redução de sensibilidade dos Canais de Sódio– os inseticidas piretróides e organoclorados
(DDT) atuam nos canais de sódio, distribuídos ao longo do axônio, prolongando a abertura ou impedindo o fechamento
normal desses canais após a transmissão do impulso nervoso, causando um fluxo excessivo de íons Na++ para o interior
da célula nervosa.

Como o acúmulo excessivo de íons Na++ resulta num completo descontrole nervoso central e periférico do inseto, as
descargas produzirão sintomas de intoxicação, hiperexcitabilidade, perda de postura e, consequentemente a morte do
inseto. Então, se há a redução de sensibilidade nesses canais, poder-se-á levar à resistência
Mecanismos de resistência

De forma geral, após o primeiro contato dos insetos com os inseticidas, tais substâncias são absorvidas, distribuídas,
armazenadas, metabolizadas e excretadas. Devido à característica lipofílica dos inseticidas, a penetração pelo exoesqueleto
é o mecanismo mais comum, sendo dissolvidas facilmente na superfície cuticular dos insetos.

Depois de atravessar o tegumento, a hemolinfa distribui o inseticida por todo o organismo. Por causa das características
lipofílicas, as moléculas de inseticida somente poderão ser excretadas após sofrerem uma série de modificações químicas
que alteram sua polaridade. Essas transformações são realizadas pelas enzimas detoxificantes, e elas convertem substratos
liposolúveis em produtos hidrosolúveis fáceis de excretar.

Três principais classes de enzimas que contribuem para eliminação ou inativação das substâncias tóxicas circulantes nos
insetos são: citocromo P450 (oxigenase de função mista), Glucationa – S – Transferases (GST) e Esterases. 43

A elevada expressão dessas enzimas é um dos mecanismos que contribui para a resistência a inseticidas.

Você conhece o mecanismo de resistência cruzada?

Quando uma enzima detoxificante atua em mais de um tipo de inseticida da mesma classe, pode ocorrer uma resistência cruzada,
por exemplo, se uma população é resistente a um tipo de piretróide, habitualmente poderá conferir resistência contra todo o
grupo de piretróides. Outro exemplo de resistência cruzada é a insensibilidade da acetilcolinesterase para organofosforados e
carbamatos.
A co-ocorrência de dois mecanismos de re-
sistência caracteriza-se como uma resistên-
cia múltipla, por exemplo, em inseticidas
organofosforados, poderá ocorrer insensi-
bilidade da acetilcolinesterase combinada
com aumento da detoxificação por meio de
enzimas.
44
Certamente, dentro do gênero Aedes, a es-
pécie Aedes aegypti tem sido amplamente
estudada em relação aos aspectos fisiológi-
cos e bioquímicos da resistência a insetici-
das químicos. A Figura 3 mostra o mapa de
resistência de Aedes aegypti e Aedes albopic-
tus no mundo.

Figura 3. Localidades mostrando a resistência de Ae. aegypti e Ae. albopictus aos


organofosforados e piretróides, 2006 a 2015.
Por fim, a Figura 4 mostra o perfil de resistência de populações
de Triatoma infestans resistentes a piretróides.

A fim de garantir o sucesso das ações de tratamentos residual,


espacial e larvário no Brasil e no mundo, todo programa de
controle vetorial necessita de avaliações periódicas e frequen-
tes a respeito do perfil de suscetibilidade dos insetos vetores!

Viana-Medeiros et al. (2017). Insecticide resistance, associated


mechanisms and fitness aspects in two Brazilian Stegomyia 45
aegypti (= Aedes aegypti) populations. Med Vet Entomol, (4),
340-350.

Dos Santos Dias et al. (2017). Toxicity of spinosad to temephos-


resistant Aedes aegypti populations in Brazil. PLoS One, 12(3):
e0173689.

Pessoa et al. (2015). History of insecticide resistance of


Triatominae vectors. Rev Soc Bras Med Trop., 48(4), 380-9.

Mougabure-Cueto et al. (2015). Insecticide resistance in vector


Chagas disease: evolution, mechanisms and management.
Acta Trop., 49, 70-85. Figura 4. Distribuição geográfica de populações de Triatoma
infestans. Circulo vermelho: resistentes. Circulo azul: suscetíveis.
Sobre o autor

Marcos Takashi Obara


Mestre e Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Membro do
Comitê Técnico Assessor de Vetores do Ministério da Saúde. Atualmente é Professor Adjunto da Universidade
46 de Brasília/UnB. Tem experiência nas áreas de Epidemiologia e Entomologia Médica, com ênfase em sistemática
e taxonomia de insetos vetores, vigilância entomológica, controle vetorial e resistência de insetos vetores aos
inseticidas químicos.

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