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Fundamentos em Entomologia | página 1

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu


em Fitossanidade

Fundamentos em Entomologia

Autores:
Maria Aparecida Cassilha Zawadneak
Joatan Machado da Rosa
Capa: Gustavo Hansen e Carolina Calomeno
Projeto Gráfico: Gustavo Hansen e Carolina Calomeno
Diagramação: Gustavo Hansen
Fotografia: Bráulio Santos

Curitiba, 2022

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou


parcial da apostila sem autorização do(s) autor(es), do Pecca e
da Universidade Federal do Paraná.

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Fundamentos em Entomologia | página 2

Sumário

Apresentação .............................................................................................. 4
1. Origem e Importância das Pragas Agrícolas ................................................. 5
1.1 Conceitos de Entomologia ..................................................................... 6
1.2 Definição de Praga de Plantas Cultivadas .............................................. 7
2. Noções de Morfologia e Fisiologia de Insetos ............................................. 13
2.1. Morfologia de Insetos ......................................................................... 13
2.2 Anatomia Interna e Fisiologia ............................................................... 18
2.3 Metamorfose ....................................................................................... 22
3. Interações entre Artrópodes e Plantas ....................................................... 25
3.1 Interação entre Plantas e Insetos ......................................................... 25
3.2 Preferência Alimentar .......................................................................... 26
3.3 Efeitos Ocasionados pelo Ataque......................................................... 26
3.4 Adaptações dos Insetos para Viver sobre as Plantas ............................ 27
3.5 Sistema de Defesa das Plantas ............................................................ 27
3.6. Aleloquímicos ..................................................................................... 29
3.7. Estratégias dos Insetos para Superar as Defesas das Plantas ............. 31
4. Identificação e Biologia de Insetos.............................................................. 33
4.1 Nomenclatura Zoológica ...................................................................... 33
4.2 Identificação dos Principais Grupos de Pragas ..................................... 34
5.Coleta, Montagem e Conservação de Insetos-Praga ................................... 43
5.1 Coleta de Insetos................................................................................. 43
5.2 Procedimentos para Sacrifício dos Insetos ........................................... 45
5.3 Montagem de Insetos .......................................................................... 46
5.4 Alfinetagem e Posição do Inseto .......................................................... 46
5.5 Posicionamento dos Apêncices ........................................................... 46
5.6 Etiquetagem ........................................................................................ 48
5.7 Conservação ....................................................................................... 49
6. Biologia de Insetos .................................................................................... 51
6.1 Tipos de Metamorfose ......................................................................... 51
6.2 Tipos de Reprodução .......................................................................... 52
7. Comunicação Química entre Insetos .......................................................... 54
7.1 Semioquímicos .................................................................................... 55
7.2 Comunicação Mediada por Aleloquímicos............................................ 55
7.3 Comunicação Mediada por Feromônios ............................................... 56
7.4 Monitoramento com Feromônios.......................................................... 58
7.5 Coleta Massal...................................................................................... 59
7.6 Confusão sexual .................................................................................. 60

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8 Amostragem de Pragas .............................................................................. 62


8.1 Avaliação do Agroecossistema ............................................................ 62
9. Princípios Gerais de Controle de Insetos .................................................... 65
9.1 Sistema de Controle de Insetos ........................................................... 66
9.2 Principais Métodos de Controle de Pragas ........................................... 67
10. Manejo Integrado de Pragas .................................................................... 72
10.1 Conceitos e Definições ...................................................................... 73
10.2 Densidade Populacional de uma Determinada Praga ......................... 74
10.3 Alicerces para a Decisão de Manejo .................................................. 76
10.4 Implementação de um Programa de MIP ........................................... 76
10.5 Vantagens do Manejo Integrado de Pragas ........................................ 77
11. Literatura Consultada .............................................................................. 79

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Apresentação
Esta apostila reúne, de forma sucinta, aspectos gerais sobre os fundamentos em
Entomologia, com ênfase em pragas de plantas cultivadas. Durante a leitura serão
abordados assuntos como a origem das pragas, importância, fisiologia e
morfologia de insetos, interações entre insetos e plantas, princípios gerais de
monitoramento, controle de pragas e MIP. Dessa forma, será possivel
proporcionar aos discentes do Curso Lato Sensu Em Fitossanidade – UFPR, uma
revisão de conceitos e exemplos práticos relacionados à Entomologia Agrícola.

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Capítulo

Origem e Importância das Pragas Agrícolas


O reino animal é constituído por mais de 1.200.000 espécies de seres vivos, sendo
que 96,6% são invertebrados (970.000 espécies pertencem ao Ramo
Arthropoda) e 3,4% vertebrados. A superclasse Hexapoda é formada em mais de
99,5% pela classe Insecta. Cerca de 950.000 espécies de insetos são
conhecidas, ou seja, representam 75% dos animais (25% são coleópteros). É o
maior grupo de animais que habita a terra. Podem ser úteis como as abelhas
(polinizadores) e bichos-da-seda, e, nocivos como os fitófagos e os vetores de
doenças para o homem.

Os fósseis indicam que os insetos surgiram há mais de 350 milhões de anos


(Período carbonífero, Era Paleozóica). Adaptaram-se de tal forma que o homem
(que surgiu a 1 milhão de anos), com toda sua inteligência não conseguiu
exterminá-los, numa luta desde os primeiros cultivos. Nessa guerra interminável,
o homem evoluiu bastante, aprendendo a conhecer o inimigo, suas
características, seus hábitos, seu comportamento, visando meios racionais e
econômicos e protegendo os seus aliados (os inimigos naturais das pragas).

Tanto para o controle de pragas quanto de doenças, em qualquer cultura, é


preciso que haja uma razão de ordem econômica. Todo agricultor tem a sua
lavoura como negócio e não como obra filantrópica. Assim, tudo que afeta a
produtividade da lavoura é motivo de preocupação por parte dos lavradores que
chegam, às vezes, ao exagero, tomando medidas antieconômicas visando a
solução do problema. Porém, com isso, prejudicando o meio ambiente e
contaminando alimentos.

Embora seja do conhecimento de todos que as plantas necessitam de folhas para


uma boa produção, esse conceito deve ser estudado para cada espécie vegetal
e segundo sua fase de crescimento. Na fase inicial do desenvolvimento, o
rendimento ou a produção de matéria seca é baixa, devido ao pequeno valor de
índice de área foliar, crescendo à medida que a folhagem aumenta em volume,
devido ao maior aproveitamento da luz. Entretanto, com o aumento do
sombreamento, a taxa de assimilação aparente diminui (ganho de produtos de
fotossíntese). Desta forma deve-se levar em consideração o que se pretende
explorar de uma cultura. Em se tratando de massa vegetal como fumo, hortaliças
ou erva-mate, quanto maior a área foliar, melhor. Já para a produção de flores,
frutos, sementes ou raízes, deve-se pesquisar a relação ideal entre área foliar e a
produção, isto é, conhecer o mínimo de folhas que permite a máxima produção.
As plantas produzem muito mais flores e frutos para a garantia da sobrevivência
da espécie. Assim, admite-se que a perda normal que a planta sofre pode ser

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consumida pela praga, pois nesse caso não haveria prejuízo para o agricultor.
Infelizmente as pragas não se limitam a consumir o que não é aproveitado; motivo
pelo qual, surgem os problemas com elas relacionados.

1.1 Conceitos de Entomologia

Entomologia é a parte da Zoologia que se dedica ao estudo dos insetos. Essa


palavra é derivada do grego (entomon=segmentado e logos= estudo), podendo
ser etimologicamente definida como a “ciência que estuda os animais
segmentados”. O termo “inseto”, de uso geral, vem da palavra latina intersectum,
significando entrecortado. Tanto um termo como outro fazem alusão à presença
da segmentação ou metameria somática.

A Entomologia é comumente dividida em Básica, ocupando-se do estudo dos


hexápodes, sem preocupações de ordem econômica ou importância para o
homem, e, Aplicada ou econômica, que estuda os insetos sob o ponto de vista de
sua utilidade ou nocividade (Figura 1). Comportam, como principais subdivisões,
as referidas a seguir:

Figura 1: Divisões das áreas da Entomologia

Entomologia básica ou acadêmica - Estuda os insetos com pesquisa geral ou pura


procurando conhecer as funções dos órgãos (FISIOLOGIA), tanto sua
organização anatômica externa e interna (MORFOLOGIA), como também o

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crescimento da sua população, funcionamento e reprodução (BIOLÓGICA); as


semelhanças e diferenças que ocorrem entre os insetos, classificando-os por
similaridade, formando grupos naturais, fundamentados, atualmente, em bases
filogenéticas (SISTEMÁTICA); seus hábitos e habitats, relação com o meio e
outras espécies.

Entomologia aplicada - Estuda os insetos e sua relação direta com os homem:


estudo de organismos tanto nocivos como úteis associados às plantas cultivadas
ou nativas, visando a identificação, manejo e controle (AGRÍCOLA e FLORESTAL)
sendo estas as que reúnem o maior número de pesquisadores e de publicações
no mundo; insetos de interesse como indicadores de poluição, especialmente
hídrica, e, ainda, para estimar os níveis da degradação de florestas (AMBIENTAL);
que proporcionam matérias primas para a fabricação de medicamentos
(FARMACÊUTICA); de insetos, ácaros e outros artrópodes que atacam cadáveres
humanos e que de alguma forma possam contribuir para o esclarecimento de
aspectos discutidos em âmbito judicial (FORENSE); estuda os insetos que
ocorrem nas habitações [residências, hotéis, restaurantes, cinemas, bibliotecas
etc], os quais podem molestar pela simples presença ou picada, como danificar
alimentos, objetos e outros bens humanos (HABITACIONAL) estuda os insetos
sob o ponto de vista da utilização industrial de seus produtos (INDUSTRIAL); os
que causam ou transmitem doenças ao homem (MÉDICA); que se ocupa da
procura e fabricação de substâncias destinadas ao controle de insetos
(QUÍMICA); da ação física e química dos inseticidas, resíduos em alimentos,
carência etc abrangendo os aspectos toxicológicos, incluindo os testes de
eficiência e seletividade de produtos (TOXICOLÓGICA); os insetos relacionados
com a saúde, que causam ou transmitem doenças aos animais domésticos
(VETERINÁRIA).

1.2 Definição de Praga de Plantas Cultivadas

Praga agrícola ou florestal compreende uma população de organismos capazes


de causar danos às plantas, seus produtos e subprodutos. O dano pode afetar o
rendimento do produto ou sua qualidade, através do consumo direto dos tecidos
ou órgãos da planta, frutos ou sementes, sucção de seiva, transmissão de
doenças, competição por espaço e por nutrientes. Além disso, deve-se considerar
o custo do controle destas pragas. O menor rendimento das colheitas, o valor
depreciado dos produtos pelo efeito do dano causado pelas pragas, aliado ao
custo das medidas de controle, significam para o agricultor uma redução
importante em seus lucros.

Por praga agrícola entende-se ainda: População de organismos que são capazes
de reduzir a quantidade ou a qualidade dos alimentos, rações, forragens, fibras,

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flores, madeiras; durante a produção, colheita, processamento, armazenagem,


transporte ou uso na agricultura, o conceito de inseto-praga está diretamente
relacionado com os efeitos econômicos produzidos pela sua alimentação nas
plantas. Um só inseto jamais poderá produzir um dano que compense a sua
eliminação da cultura. Apenas quando a densidade populacional atinge
determinada população é que eles irão consumir uma quantidade de alimento que
produzirá um prejuízo para a planta explorada pelo homem.

Portanto, o termo praga pode ser caracterizado no sentido numérico (densidade


populacional), onde uma determinada população do inseto se evidencia com seus
estragos, afetando a produção. Isto quer dizer que o fato de serem observados
danos nas diferentes partes vegetais, não significa que a produção foi ou será
afetada.

Classificação de Pragas:

a) Insetos-não-praga: Sua densidade populacional nunca atinge o nível de


controle, flutuando em torno da média do nível de equilíbio NE. São a maioria
dos insetos presentes nos agroecossistemas que usa recursos que não
comprometem a produção. Exemplo: Psocoptero em grão armazenado
Liposcelis spp. (Psocoptera: Liposcelidae);

b) Pragas-chave: São aqueles organismos sempre atingem o nível de controle.


Esta praga constitui o ponto chave no estabelecimento de sistema de manejo
das pragas. São poucas as espécies nesta categoria nos agroecossistemas,
em muitas culturas ocorre uma a duas praga-chave. Ela possui estabilidade
de ocorrência, em todos os anos acima do Nível de Controle NC. São
exemplos de praga-chave: mosca-das-frutas, Ceratitis capitata (Wiedemann)
(Diptera: Tephritidae); broca-da-cana, Diatraea saccharalis (Fabricius)
(Lepidoptera: Crambidae); bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis
Boheman (Coleoptera: Curculionidae); Spodoptera frugiperda (J.E. Smith)
(Lepidoptera: Noctuidae)

c) Pragas ocasionais ou secundárias: São aqueles organismos estão presentes,


mas que raramente atingem o nível de controle, ocorrendo em picos de forma
esporádica por condições climáticas atípicas, ou por uso de agrotóxicos; não
possuem estabilidade de ocorrência. Ex.: Besouro-amarelo Costalimaita
ferruginea Lefreve (Coleoptera: Chrysomelidae) em algodão; ácaro-vermelho-
do-cafeeiro Oligonychus ilicis (Mcgregor) (Acari: Tetranychidae);

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d) Pragas frequentes: São organismos que sempre estão presentes; que


frequentemente atingem o nível de controle; mas dificilmente dizima com a
lavoura. Exemplo: cigarrinha-verde Empoasca kraemeri Ross & Moore
(Hemiptera: Cicadellidae) em feijoeiro; bicheira-da-raiz do arroz Oryzophagus
oryzae (Costa Lima) (Coleoptera: Curculionidae);

e) Pragas severas: São organismos que apresentam o ponto de equilíbrio sempre


acima do nível de controle ou de dano econômico. Exemplo: saúvas Atta spp.
(Hymenoptera: Myrmicinae), gorgulho-do-milho armazenado [Sitophilus
zeamais (Motschulsky) (Coleoptera: Curculionidae] e afídeos transmissores de
viroses Myzus persicae (Hemiptera: Aphididae);

1.1.1 Principais Grupos de Organismos Pragas

a) Vertebrados: Aves e pequenos mamíferos, como os coelhos, lebres e ratos,


que devoram talos, folhagens, frutos, consomem sementes recém
germinadas, frutos e grãos;

b) Moluscos: Caracóis e lesmas que consomem folhagem;

c) Artrópodes: Insetos e ácaros em suas diferentes fases. Dentro da classe


Insecta está a grande maioria das pragas agrícolas (Ordens Coleoptera,
Diptera, Hemiptera, Hymenoptera, Isoptera, Lepidoptera, Orthoptera e
Thysanoptera).

d) Fungos, bactérias, protozoários e vírus: Causam doenças que deterioram os


tecidos externos e internos das plantas, reduzem sua capacidade reprodutiva
ou prejudicam a qualidade e conservação dos frutos;

e) Nematoides: vermes microscópicos que sugam conteúdo celular, debilitando


a planta.

1.1.2 Fatores de Origem das Pragas

Em áreas de vegetação nativa ou diversificada, raramente elas são encontradas


em grande quantidade causando a destruição das plantas. A intervenção
antrópica no ecossistema com o objetivo de aumentar os rendimentos das
culturas agrícolas propicia um ambiente favorável à ocorrência de artrópodes,
nematóides e moluscos-praga, além disso fatores ambientais, climáticos e outros
fatores inerentes à cultura que podem contribuir para esse incremento
populacional.

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Dentre os principais fatores para esse aumento populacional podemos citar:

a) Fatores econômicos

i. Monocultura: A produção em monocultivo propicia a disponibilidade de


alimento prontamente disponível e em abundância aos insetos e, como reflexo
observamos o aumento nas suas densidades populacionais; proporciona ao
inseto o alimento abundante pela quebra do ambiente natural;

ii. Uso inadequado dos inseticidas químicos: usar produtos não seletivos aos
inimigos naturais, ou adotar a redução ou aumento da dose recomendada;
utilizados de forma incorreta podem aumentar a pressão de seleção de insetos
resistentes, ocasionar a morte de insetos benéficos, inimigos naturais e
ocasionar a ressurgência de pragas;

iii. Técnicas culturais inadequadas e surgimento de novas técnicas de cultivo


como o plantio direto que favorece pragas que vivem no solo. Além disso, se
a cultura for conduzida fora de padrões técnicos adequados faz com que a
planta tolere menos os ataques de pragas pela diminuição do sistema de
defesa contra as pragas;

iv. Armazenamento impróprio: não realizar a limpeza ou tratamento de produto


que vem do campo ou depois de já armazenado;

v. Comércio: favorece a disseminação pelo transporte de mudas e sementes


infestadas para áreas exóticas;

vi. Melhoramento genético: A seleção de variedades mais produtivas reduz a


rusticidade das plantas;

vii. Introdução de espécies exóticas em novas regiões: ao serem introduzidos, as


pragas possuem a capacidade de rápida adaptação às condições ambientais
e busca de alimento. As introduzidas ou quarentenárias, como não evoluíram
naquela área/ambiente, não possuem inimigos naturais nativos eficientes, o
que pode contribuir para seu repentino aumento populacional;

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b) Fatores ambientais

Os fatores climáticos como temperatura e umidade relativa do ar ou do solo


podem afetar a biologia das pragas e seus inimigos naturais; podendo também
afetar o crescimento vegetal, deixando as plantas mais suscetíveis às populações
de organismos nocivos.

1.1.3 Danos Causados pelas Pragas

Os insetos causam danos diretos e indiretos. O dano direto é em função da ação


do inseto sobre a planta, ou seja, sua alimentação (causar uma desfolha, sugar
seiva, atacar um fruto). O dano indireto ocorre em função da transmissão de uma
doença (a injuria causada pode facilitar a entrada de microorganismos
fitopatogênicos), facilitando a proliferação de bactérias, virus, fungos e outros
patógenos.

Dentre os principais danos destacam-se:

a) Consumo de folhagem: Reduz a fotossíntese, induz o crescimento


compensatório, faz poda seletiva, interrompe translocação de seiva, abrem
portas para infecção de doenças;

b) Sucção de seiva: Pode causar um distúrbio no fluxo de seiva, interfere nos


produtos de fotossíntese, causa efeitos toxicogênicos e pode facilitar a
transmissão de doenças;

c) Broqueamento de hastes: O broqueamento de caules, hastes, raízes


enfraquece o suporte da planta e pode interromper o fluxo de seiva e a
assimilação de nutrientes;

d) Poda de raízes: Menor assimilação, enfraquece o sistema de suporte.

Uma observação no campo revelará a grande diversidade de pragas que são


encontradas e mostrará diretamente suas relações com as plantas e outros
organismos. A diversidade de hábitos é muito grande (Figura 2). Nesta
observação, chamam atenção os insetos fitófagos e os entomófagos (parasitoides
e predadores de outros insetos).

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Figura 2: Diversidade de hábitos de organismos fitófagos em plantas no campo e


no armazenamento.

Leitura complementar

DEGRANDE, P.E.; OMOTO, C. 2013. Estancar prejuízos.


Revista Cultivar, v.15, p. 30-34 Disponível
emhttps://aiba.org.br/wp-content/uploads/2014/01/pragas-
estancar-prejuizo-degrande-omoto.pdf

GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ,


2002. 920p.

GULLAN PJ, CRANSTON PS. Insetos: fundamentos da


entomologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Gen/Editora Roca; 2017,
912p.

NAKANO, O; Entomologia Econômica. Piracicaba, Otavio


Nakano, 2011 464p.

PEDIGO, L. P. Entomology and pest management. MacMillan


Pub. Co., New York, 1989, 646p.

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Capítulo 2

Noções de Morfologia e Fisiologia de Insetos


Os insetos se constituem no grupo com maior dominância entre os animais em
nosso planeta, ultrapassando em número, todas as outras espécies terrestres. Os
insetos podem ser encontrados praticamente, em todos os lugares. Como
sabemos, existem muitas espécies de insetos consideradas benéficas para o
homem, como as abelhas, o bicho-da-seda, os predadores e parasitoides de
pragas. Por outro lado, existem outras tantas que são consideradas pragas,
causando alergias, transmitindo doenças e atacando e consumindo produtos
indispensáveis para a sobrevivência humana. Dessa forma, o conhecimento da
morfologia, auxiliando na correta identificação, somando-se aos conhecimentos
de fisiologia de insetos, constituem-se na base para o desenvolvimento de
estratégias para o manejo de controle adequado desses indivíduos.

2.1 Morfologia de Insetos

A correta identificação de insetos ao nível específico requer um conhecimento


substancial de morfologia. A morfologia de insetos é apresentada com o objetivo
de instruir os interessados na identificação de insetos, principalmente de espécies
que entram em conflito com os interesses agronômicos ou aquelas espécies
benéficas que atuam como predadores e parasitoides. A morfologia compreende
o estudo de todas as partes que compõem externamente o corpo dos insetos. Os
insetos possuem corpo com simetria bilateral, constituído de anéis agrupados
entre si, formando três regiões distintas: a cabeça, o tórax e o abdome (Figura 3).
Estes anéis, também denominados metâmeros, constituem o exoesqueleto.

Figura 3: Divisões do corpo dos insetos (Foto: Google imagens)

O exoesqueleto funciona como uma armadura rígida protetora contra choques,


compressão e esmagamento. Além disso, essa estrutura proporciona aos insetos

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uma proteção à desidratação, protege contra a penetração de água e


microrganismos patogênicos, possibilita a sustentação de músculos e órgãos e
serve de ligação entre pernas, asas e outros apêndices.

2.1.1 Partes do Corpo dos Insetos

i. Cabeça

A cabeça apresenta os apêndices fixos (olhos compostos e ocelos) e apêndices


móveis (antenas e peças bucais). Os insetos adultos possuem um par de antenas
que possuem função sensorial. Os insetos possuem antenas de diversos tipos
(filiforme, denteada, plumosa, lamelada, clavada entre outras) e com inúmeras
modificações morfológicas para desempenhar outras funções como equilíbrio e
segurar a fêmea no momento da cópula.

A morfologia das peças bucais pode variar de espécie para espécie


principalmente devido às adaptações que ocorreram durante o processo de
evolução. O aparelho bucal é composto primitivamente de oito peças bucais.
Entretanto, para adequarem-se ao ambiente e aos diferentes tipos de alimentos
alguns grupos sofreram modificações e atrofias. Aparelhos bucais podem possuir
as seguintes peças bucais: lábio superior e inferior (proteção e manutenção do
alimento quando estão sendo triturado), mandíbulas (triturar, rasgar perfurar e
cortar o alimento), maxilas (peças auxiliares das mandíbulas no momento da
alimentação, podem possuir função tátil e gustativa), epifaringe (função gustativa)
e hipofaringe (função gustativa, tátil e função de canal alimentar em muitos
insetos).

Levando-se em conta os insetos de importância agrícola, os aparelhos bucais


podem ser classificados como aparelho bucal mastigador (besouros,
lagartas,vespas, traças); aparelho bucal sugador labial ou picador sugador que
apresenta as peças bucais modificadas em estiletes. (cigarrinhas, cochonilhas,
percevejos, pulgões, tripes, e moscas (diqueta)); aparelho bucal sugador maxilar
com maxilas modificadas de modo que, quando justapostas formam um tubo
chamado de espirotromba (borboletas e mariposas) e aparelho bucal lambedor
onde as mandíbulas são adaptadas para furar, cortar, transportar ou moldar cera.
As maxilas e o lábio inferior são alongados e unidos, formando um órgão lambedor
(abelhas e mamangavas).

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ii. Tórax

O tórax é dividido em três segmentos: protórax (que está unido à cabeça),


mesotórax (segmento mediano) e o metatórax (segmento que se liga ao abdome).
É a segunda região do corpo do inseto, a qual apresenta os apêndices
locomotores: pernas e asas:

(a) Pernas

As pernas são apêndices locomotores terrestres ou aquáticos. Os insetos adultos


apresentam seis pernas (hexápodes) e um número variável nas larvas. Além da
função básica de locomoção, as pernas são também adaptadas para escavar o
solo, coletar alimentos, capturar presas etc. Há um par de pernas em cada
segmento torácico, isto é, pernas protorácicas ou anteriores, mesotorácicas ou
medianas e metatorácicas ou posteriores. A correta identificação do tipo de
pernas dos insetos é de suma importância para associarmos o inseto aos seus
hábitos, e, consequentemente, traçar as melhores estratégias para o controle de
pragas agrícolas ou para auxiliar no reconhecimento de espécies benéficas. Os
principais tipos de pernas são: ambulatórias (sem modificação, usadas para andar
ou correr), saltatórias, preensoras, raptatórias, fossoriais, coletoras, natatórias
entre outras.

(b) Asas

Uma das vantagens adaptativas mais importantes na locomoção e dispersão, são


a presença de asas na fase adulta de alguns grupos de insetos. Estes, podem
possuir dois pares de asas inseridas no mesotórax e no metatórax. As asas são
achatadas e fortalecidas por nervuras esclerotizadas. Todavia, há insetos com
apenas um par de asas (dípteros) e outros desprovidos de asas no estado adulto
(ápteros). Os tipos mais comuns de asas encontrados em insetos são: asas
membranosas com escamas (borboletas e mariposas) ou sem escamas (moscas,
vespas, cigarras, libélulas, élitros (primeiro par de asas de besouros); tégminas
(grilos e gafanhotos), hemiélitros ( percevejos); asas franjadas (tripes) e outros
tipos de asas menos comuns.

Existem alguns casos que, apesar de possuírem asas, não as utilizam para o voo:
são os insetos aptésicos (mariposa do bicho-da-seda). Além de auxiliar no
momento do voo, também podem ser utilizadas como forma de proteção (élitros
de besouros), produção de sons (grilos e gafanhotos), equilíbrio durante o voo
(halteres ou balancins nos dípteros).

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(c) Abdome

É a terceira região do corpo dos insetos, se caracteriza por possuir uma


segmentação típica. É uma estrutura simples que não possui apêndices
locomotores. Apesar de apresentar aparência simplificada, o abdome pode ser
considerado uma região especializada, pois possui funções de conter as vísceras,
aparelho reprodutor e parte do aparelho respiratório, bem como auxiliar nos
movimentos respiratórios.

Existem três tipos de abdome, os quais são baseados na sua ligação com o tórax.
O abdome séssil é aquele que se liga ao tórax em toda a sua largura (besouros,
baratas, gafanhotos, etc.). O abdome do tipo livre apresenta uma constrição
pouco pronunciada no ponto de ligação com o tórax (moscas, abelhas, mariposas
e borboletas). Por fim, o abdome do tipo pedunculado que apresenta constrição
pronunciada no 2º ou 2º e 3º segmentos abdominais, enquanto o 1º segmento
está fundido ao tórax (formigas e vespas).

Alguns apêndices podem ser encontrados na região do abdome, com destaque


para falsas pernas ou pernas abdominais (lagartas), sifúnculos (pulgões), cercos
(tesourinha), filamentos (cochonilhas) e outros.

2.1.2 Tipos de Larva

A correta identificação de imaturos também pode ser considerada imprescindível


no monitoramento de determinadas pragas agrícolas, desenvolvimento de
programas de controle e correta aplicação de ferramentas para suprimir
populações de insetos-praga.

Os principais tipos de larvas são:

a. Campodeiforme. Larva com três pares de pernas torácicas alongadas;


normalmente são ágeis, Exemplo: Coccinellidae e Neuroptera.

b. Carabiforme. Larva alongada com três pares de pernas torácicas curtas.


Exemplo: Carabidae, Lampyridae e Chrysomelidae.

c. Cerambiciforme. Cápsula cefálica aparente, segmentação nítida, larva


semelhante a buprestiforme, porém com a segmentação mais nítida e a parte
anterior do corpo pouco destacada. Exemplo: Cerambycidae.
d. Curculioniforme. Larva ápoda, recurvada, com cabeça diferenciada e
quitinizada, branco-leitosa, típica da família Curculionidae (besouros), mas
ocorre em outros coleópteros como Bruchidae.

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e. Elateriforme. Larva alongada, achatada, com o corpo bastante quitinizado,


com três pares de pernas torácicas curtas. Exemplo: Elateridae.

f. Eruciforme. Larva apresenta três pares de pernas torácicas (um em cada


segmento do tórax) e cinco pares de pernas abdominais, no 3º, 4º, 5º 6º e 10º
urômeros, sendo estas portadoras de colchetes ou ganchos. Esse número de
pernas é variável, pois o 3º, 4º e 5º pares de pernas podem estar ausentes.
Ela é característica de lagartas de lepidópteros (borboletas e mariposas).
Exemplo: Pieridae ou Noctuidae

g. Escarabeiforme: Larva recurvada em forma de um “C”, com três longos pares


de pernas torácicas, com muitas dobras no tegumento e o último segmento
abdominal desenvolvido. É subterrânea e às vezes chamada de pão-de-
galinha. Ocorre em toda superfamília Scarabaeoidea (Coleoptera: Passalidae,
Scarabaeidae, Trogidae etc.).

h. Vermiforme. Larva ápoda, porção anterior afilada e posterior truncada; cabeça


pode ou não ser diferenciada. Exemplo Diptera.

2.1.3 Tipos de Pupa

A fase pupal caracteriza-se por aparente dormência. Nesse período os insetos


são extremamente sensíveis, ficam imóveis para que ocorram todos os processos
fisiológicos que culminam com a drástica modificação na forma.

Os tipos de pupa são:

i. Livre ou Exarada: Pupa com apêndices (por exemplo, antenas, pernas) visíveis
e afastados do corpo, sendo encontrada nos besouros, abelhas, formigas,
vespas etc.

ii. Coarctada: Pupa envolvida pela exúvia do último instar larval, portanto,
nenhum apêndice do futuro inseto é visível, sendo encontrada nos dípteros.

iii. Obteca: Pupa com os apêndices intimamente aderidos ao corpo, ou seja, a


visualização das antenas e pernas é mais difícil. É típica dos lepidópteros
(borboletas e mariposas).

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Fundamentos em Entomologia | página 18

2.2 Anatomia Interna e Fisiologia

A anatomia e a fisiologia dos insetos apresentam características que os


diferenciam dos demais animais, especialmente em relação ao seu tegumento,
sistema circulatório e sistema digestivo. Esses são temas que descrevem a forma
e o funcionamento dos órgãos, sistemas e aparelhos. Além disso compreendem
o estudo do tegumento, aparelho digestivo, sistemas circulatório, respiratório,
nervoso, excretor, muscular e glandular.

2.2.1 Tegumento

O tegumento que possui origem ectodérmica (produzido de dentro para fora por
células especializadas) é a parte externa do inseto, formado por três camadas
distintas: cutícula, epiderme e membrana basal (Figura 4). A cutícula recobre toda
a superfície do corpo, bem como as aberturas naturais como boca, orifícios
excretores, e espiráculos respiratórios. A cutícula é rica em quitina (polissacarídeo
estrutural que oferece proteção, suporte e sustentação ao corpo de insetos,
através do exoesqueleto). A epiderme é uma camada de células epiteliais
secretoras responsáveis pela formação da cutícula. Já a membrana basal é a
camada mais interna do tegumento que separa a epiderme da hemocele
(cavidade geral do corpo dos insetos).

Figura 4: Estrutura geral do tegumento de um inseto (Adaptado de Chapman,


1998).

Por ser uma estrutura rígida e inflexível, parte do tegumento precisa ser renovado
e o tegumento velho precisa ser abandonado a cada troca, acompanhando assim

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Fundamentos em Entomologia | página 19

o crescimento do inseto. O fenômeno de mudança de tegumento dos insetos é


chamado de ecdise, possibilitando que o inseto cresça (mudança de fase).
Primeiramente ocorre a formação de uma nova cutícula onde células epidérmicas
se tornam grandemente aumentadas, separando-se inicialmente da cutícula velha
por processos citoplasmáticos (apólise). Assim, a cutícula começa a ser formada
da parte mais interna para a externa, logo acima da epiderme. Uma fase de
atividade preparatória solta a velha cutícula (exúvia). Através de contrações
musculares e aumento do volume da hemolinfa, o inseto rompe o tegumento e
“escapa” da cutícula velha (Figura 5). Logo após a emergência, a nova cutícula
está mole e flexível, o que possibilita ao inseto a expansão da nova cutícula e o
seu crescimento. Após algumas horas, ocorre o endurecimento (ligação entre a
quitina e algumas proteínas) e escurecimento da cutícula.

Figura 5: Mudança de tegumento no processo de ecdise (Fonte:


http://www.masscic.org).

2.2.2 Sistema Digestivo

Grandes diferenças morfológicas no aparelho digestivo são observadas devido à


variedade de substratos alimentares (folhas, frutos, xilema, sementes, seiva e
outros fluidos). Insetos que se alimentam de substratos sólidos apresentam
tipicamente aparelho digestivo mais largo, reto, curto e com musculatura
desenvolvida. Insetos que se alimentam de néctar, seiva, sangue ou outros fluidos
apresentam aparelho digestivo mais longo, estreito e com várias dobras para
permitir o máximo de contato com o alimento, garantindo assim uma melhor
absorção dos nutrientes.

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Fundamentos em Entomologia | página 20

Algumas espécies de insetos apresentam aparelho digestivo atrofiado na fase


adulta (ex: Ordem Ephemeroptera). Por terem um período de vida extremamente
curto, estes não se alimentam e vivem apenas para a reprodução.

Nos insetos que possuem o sistema digestivo, ele é dividido em três regiões:

a) intestino anterior ou estomodeu, constituído de cavidade bucal, faringe,


esôfago e proventrículo. O estomodeu tem como principal função, a
estocagem de alimento e digestão inicial. Nas espécies sugadoras, a faringe
funciona como órgão de sucção. O proventrículo ou papo ocorre nas espécies
mastigadoras. Anexas ao tubo digestivo encontramos também glândulas
salivares de estrutura variável nos diferentes grupos;

b) intestino médio ou mesêntero, constituído pelo estômago e cecos gástricos. O


mesêntero tem como principal função a digestão e a assimilação de nutrientes;

c) intestino posterior ou proctodeu, formado pelo reto, ampola retal e ânus. Sua
estrutura varia nos diferentes grupos de insetos. O proctodeu tem como
principais funções, a coleta, condução e eliminação de excrementos, bem
como reabsorção de água e sais.

2.2.3 Sistema Circulatório

Os insetos possuem coração que é constituído por um vaso dilatado situado na


região dorso-longitudinal do corpo dos insetos. Sua função é propiciar a
movimentação da hemolinfa, auxiliando no transporte de materiais nutritivos a
serem absorvidos por todas as células e dos produtos de excreção a serem
levados aos tubos de Malpighi (órgãos responsáveis pela excreção e regulação
da composição da hemolinfa).

2.2.4 Sistema Respiratório

A maioria dos insetos possuem respiração aérea. O oxigênio chega às células


através de tubos, denominados de traqueias, as quais tornam-se extremamente
finas no interior do corpo dos insetos, sendo assim, denominadas de traquéolas.
As traquéias são tubos ventilados e elásticos que se ramificam por todo o corpo
do inseto, se comunicando com o exterior através dos espiráculos, situados
lateralmente ao tórax e abdome. Os espiráculos desempenham papel
fundamental auxiliando nas trocas gasosas, durante a perda de vapores de água
e durante a muda (ecdise), pois é o local por onde saem as traqueias velhas.

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2.2.5 Sistema Nervoso

O sistema nervoso propicia aos insetos a habilidade de responder a estímulos


internos e externos, alterando de alguma maneira o seu comportamento. Esse
sistema é composto por células nervosas (neurônios) as quais são altamente
especializadas para funções de sensação, condução e coordenação. Os
neurônios têm por função transmitir impulsos elétricos de uma parte do corpo à
outra, trazendo-os de órgãos dos sentidos localizados em diferentes partes do
corpo, para uma área de coordenação. Desta, em resposta, partem novos
impulsos que levam informações a músculos e órgãos, afetando o comportamento
do inseto.

Nos insetos, o sistema nervoso está localizado em uma posição ventral no corpo
dos insetos. O cérebro é o gânglio central e dorsal da cabeça que está conectado
ao gânglio subesofágico, na região do estomodeu, o qual, por conseguinte está
ligado ao cordão nervoso ventral que percorre as estruturas torácicas e
abdominais. A transmissão de informações entre células nervosas se dá através
da transmissão do impulso nervoso. Esse processo pode ocorrer de maneira
elétrica (através da diferença de potencial de membrana transporte ativo de íons)
e de maneira química (através de neurotransmissores).

As células nervosas apresentam potencial de membrana com carga negativa no


interior da célula com relação ao meio externo. Os principais íons envolvidos na
transmissão elétrica de um impulso nervoso são Na+, K+ e Cl-. A transmissão
química do impulso nas sinapses se dá por meio de substâncias químicas
conhecidas como neurotransmissores. Dentre esses destacam-se a acetilcolina,
o L-glutamato e o gaba (ácido gama-aminobutírico). Na célula nervosa existe uma
bomba de Na/K capaz de gerar potencial elétrico causando a despolarização da
membrana do axônio.

No Brasil, o controle químico de pragas através do uso de inseticidas


neurotóxicos, ainda é a estratégia mais amplamente utilizada. Sendo assim, o
conhecimento do funcionamento do sistema nervoso dos insetos pode ser
considerado essencial para a correta seleção ativos que apresentem eficiência de
controle em diferentes situações de campo.

2.2.6 Sistema Reprodutor

A reprodução nos insetos, geralmente, depende do encontro dos dois sexos, da


cópula e da fecundação do óvulo pelo espermatozoide. Porém, existem inúmeras
exceções em relação à forma mais comum de reprodução. Em geral, os insetos

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Fundamentos em Entomologia | página 22

possuem sexo separado, havendo alguns casos de partenogênese ou de


poliembrionia. Os órgãos sexuais masculinos são um par de testículos, um par de
dutos eferentes (ou laterais), uma vesícula seminal, um duto ejaculador, glândulas
acessórias, edeago e gonóporo. Os femininos constam um par de ovários, um par
de ovidutos laterais, um oviduto comum ou mediano, espermateca (bolsa para
armazenamento dos espermatozoides), gonóporo, vagina e glândulas acessórias.
Os principais tipos de reprodução serão discutidos no tópico “Biologia de insetos”
(Item 5.0).

2.3 Metamorfose

A metamorfose também pode ser considerada uma outra forma de garantir a


sobrevivência dos insetos, pois, durante as múltiplas transformações para se
tornarem adultos, são capazes de explorar diversas fontes de alimentos, as quais
variam do estádio imaturo (ninfa, larva) ao de adulto, reduzindo assim, a
competição dentro da mesma espécie.

A maioria dos insetos altera sua forma durante o desenvolvimento pós-


embrionário e os diferentes instares (período entre mudas) não são todos iguais.
A metamorfose pode ser incompleta ou hemimetabolia, onde as asas
desenvolvem-se externamente durante os estádios imaturos (percevejos,
cigarrinhas, pulgões) e metamorfose completa ou holometabolia, onde as asas se
desenvolvem internamente durante o estágio pupal, que precede a última muda
(abelhas, besouros, borboletas, formigas, mariposas, moscas, vespas etc.).
Alguns apresentam metamorfose considerada intermediária entre hemi e
holometabolia, com dois instares pré-imaginais quiescentes (não se alimentam)
(tripes). Existem também os insetos chamados de ametabólicos, os quais não tem
asas quando adultos e a única diferença óbvia entre ninfas e adultos é o tamanho.
Ex. Ordem Thysanura e Diplura.

2.3.1 Controle da Metamorfose

A metamorfose nos insetos é controlada por cinco hormônios: hormônio


prototoraxico-tropico ou cerebral (PTTH), Ecdisona (alfa-ecdisona), hormônio
juvenil (HJ), hormônio da eclosão e o bursicônio.
O PTTH é produzido por células neurossecretoras do cérebro e estimula as
glândulas protorácicas a produzir os ecdisteroides. O hormônio ecdisteroide (alfa-
ecdisona) produzido por glândulas protorácicas é liberado e circula na hemolinfa
durante o processo da ecdise. Provavelmente derivado do colesterol é o
componente presente em maior quantidade nos compostos responsáveis pela

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ecdise. Sua função é induzir a ecdise em todos os insetos, sendo o primeiro


hormônio esteróide identificado num invertebrado.

O JH é produzido em uma região conhecida como corpora allata. Esse hormônio


inibe a metamorfose, promovendo assim o desenvolvimento larval ou ninfal
adicional (manutenção das características imaturas do inseto). Quando ocorre
redução nas concentrações do JH de uma larva, observa-se que ocorre o
empupamento dela. No caso de insetos com metamorfose incompleta
(hemimetabolia), observa-se o desenvolvimento da ninfa para o estágio adulto,
quando a ecdisona está presente.

A injeção de hormônio juvenil em uma pupa fará com que a pupa se desenvolva
em uma segunda pupa. A injeção de JH em uma larva ou ninfa em último instar
causará a produção de um outro estágio larval ou ninfal na muda seguinte. Os
corpora allata estão ativos durante os instares iniciais e geralmente interrompem
a secreção de HJ no último instar pré-adulto. A ausência desse hormônio resulta
em metamorfose.

O comportamento para o início da ecdise é regulado por outro hormônio,


chamado hormônio da eclosão. Logo após a ecdise ocorre a expansão da nova
cutícula, o escurecimento e endurecimento da cutícula e da deposição da
endocutícula que são controlados pelo alfa-ecdisona.

O hormônio Bursicônio é produzido por células neurossecretoras do cérebro e


liberado por órgãos associados a gânglios torácicos e abdominais. Esse hormônio
é responsável pelo escurecimento do tegumento.

O nível de hormônios varia conforme o desenvolvimento do inseto. Com o


aumento de alfa-ecdisona (ecdisteroides) ocorre o processo de apólise e as
células da epiderme produzem a epicutícula. O tipo de cutícula a ser produzido
(larval ou ninfal, pupal e adulto) depende de o hormônio juvenil estar presente ou
não durante o período crítico de cada estádio de desenvolvimento. Se o JH está
presente o inseto mantém as características jovens, impedindo que ocorra
metamorfose precoce. Caso contrário, passa para a fase adulta em insetos
hemimetabólicos e para a fase de pupa e insetos holometabólicos. Na fase de
pupa, o hormônio juvenil está ausente e a produção de alfa-ecdisônio leva a
produção da cutícula do adulto.

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Leitura complementar

BORROR, D.J.; TRIPLEHORN, C.A.; JOHNSON, N.F. An


introduction to the study of insects. Saunders College
Publishing, 1989.

CHAPMAN, R.F. The insects: structure and function. Mass.


Harvard Univ. Press, 1982.

GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ,


2002. 920p.

GULLAN PJ, CRANSTON PS. Insetos: Fundamentos da


entomologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Gen/Editora Roca; 2017,
912p.

RAFAEL, J.A.; MELO, G.A.R.; DE CARVALHO, C.J.B;


CASARI, S.; CONSTANTINO, R. (ed.) Insetos do Brasil:
diversidade e taxonomia. Ribeirão Preto: Holos, 2012, 810p.

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3
Fundamentos em Entomologia | página 25
Capítulo

Interações entre Artrópodes e Plantas


Como relatado anteriormente, a relação entre plantas e artrópodes remonta ao
início das eras geológicas. No período carbonífero ocorreram as associações mais
antigas entre plantas e insetos. No período de desenvolvimento das angiospermas
(aproximadamente 130 - 200 milhões de anos) onde os hábitos alimentares dos
insetos herbívoros tornam-se mais diversificados, coincidindo propositalmente
com a evolução das plantas floríferas. Alguns estudos mostram que na metade do
período cretáceo (135 milhões de anos), foi detectada uma clara relação entre
lepidópteros e plantas em florescimento, coincidindo com o período de
dominância de angiospermas.

Plantas e outros artrópodes têm coexistido há milhões de anos e desenvolveram


uma série de relações as quais afetam esses organismos em todos os níveis: da
bioquímica básica até a genética de populações. Embora alguns desses
relacionamentos entre os dois Filos são mutuamente benéficos, tal como a
polinização, a interação mais comum envolve o consumo de plantas (herbivoria)
por artrópodes, provocando respostas dos mecanismos de defesa contra esses
herbívoros. Na base desta relação de longa data, não é surpreendente que as
estratégias utilizadas pelas plantas para tentar resistir ou “escapar” de ataques
destes herbívoros sejam muito diversas.

Viver sobre as plantas e retirar delas o seu alimento requer adaptações que nem
todas as espécies foram capazes de operar. Mas devido às abundâncias de
recursos vegetais e diversidade de plantas pode-se entender por que mais da
metade das espécies de insetos, por exemplo, são fitófagos.

3.1 Interação entre Plantas e Insetos

Os insetos são os principais consumidores da produção primária terrestre, a


despeito do seu tamanho quase sempre reduzido e do dano aparente sobre
plantas individuais ser normalmente pequeno. Cerca de um terço de todas as
espécies conhecidas de insetos exibe hábitos herbívoros, ao menos em uma fase
do seu ciclo de vida.

As interações entre plantas e insetos (e/ou outros artrópodes) enquadram-se em


duas categorias principais: relação antagônica e relação não antagônica. A
relação antagônica ocorre através da atividade alimentar dos insetos fitófagos, a
qual pode provocar danos à planta hospedeira. Neste cenário destacam-se os
mastigadores de folhas, broqueadores de sementes, caules e hastes, sugadores
de seiva, frugívoros e galhadores. No caso de relações não antagônicas ou

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Fundamentos em Entomologia | página 26

mutualísticas, destacam-se os insetos polinizadores, dispersores de sementes e


aqueles que protegem a planta contra outros animais herbívoros.

Para os insetos, uma planta-hospedeira, além de fonte de alimento, pode servir


também como sítio para acasalamentos, refúgio ou abrigo temporário ou mesmo
como um lugar para se estabelecer de modo permanente, os quais são requisitos
importantes para a sua sobrevivência.

3.2 Preferência Alimentar

Os insetos fitófagos podem ser classificados, segundo Gullan e Cranston (2017),


quanto a sua preferência alimentar em:

a) monófagos: os que têm uma relação específica com uma só espécie vegetal
como, por exemplo broca do pinhão Cydia araucariae (Pastrana)
(Lepidoptera: Tortricidae), broca do café (Hypothenemus hampei (Ferrari)
(Coleoptera: Curculionidae: Scolytinae);

b) oligófagos: os insetos que consomem um grupo de espécies vegetais como a


borboleta-monarca (Danaus plexippus (L.) (Lepidoptera: Nymphalidae)); a
lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis (Hübner) (Lepidoptera: Erebidae));
Epilachna paenulata (Germar) (Coleoptera, Coccinellidae);

c) polífagos: aqueles que são generalistas, que possuem baixa relação específica
com diferentes espécies vegetais tais como gafanhotos Schistocerca
cancellata (Serville) (Orthoptera: Acrididae); ácaro-rajado Tetranychus urticae
Koch (Acari: Tetranychidae); lagarta-militar (Spodoptera frugiperda (Smith)
(Lepidoptera: Noctuidae)); Lagarta rosca, Agrotis ipsilon (Hufnagel)
(Lepidoptera, Noctuidae), corós (Diloboderus abderus Sturm Coleoptera:
Scarabaeidae: Melolonthinae).

3.3 Efeitos Ocasionados pelo Ataque

Podemos observar três efeitos ocasionados pela herbivoria. a) Diminuição no


crescimento e produção: onde a planta possui a capacidade de compensar estes
danos. Dependendo da espécie vegetal, a produção pode ser afetada, ou os
danos causados pelo inseto podem ativar o desenvolvimento maior do que seria
sem o ataque; b) Aumento da atividade metabólica: O exemplo clássico é na
cultura da soja, onde a planta pode sofrer redução de 30% da área foliar antes do
estágio de formação das vagens (período suscetível ao dano), sem perda no
rendimento; c) Transmissão de microorganismos patogênicos: Ataques de insetos

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Fundamentos em Entomologia | página 27

e outros artrópodes podem servir de sítio de infecção (vulgarmente conhecido


como “porta de entrada”) para vírus e bactérias e outros microorganismos, os
quais acabam por causar o definhamento e depauperamento da planta.

3.4 Adaptações dos Insetos para Viver sobre as Plantas

Insetos e outros artrópodes podem produzir substâncias defensivas em glândulas


epiteliais especializadas, o que lhes confere uma forma de proteção ao ataque de
predadores. Além disso, alguns insetos extraem compostos tóxicos de seus
hospedeiros e assim, tornam-se adaptados a desenvolver coloração de
advertência (coloração aposemática). Esse processo serve para alertar seus
inimigos naturais sobre a sua impalatabilidade. No entanto, é necessário que o
inseto suprima o aparato físico-químico que compõe o sistema de defesa das
plantas para utilizar esses compostos vegetais.

3.5 Sistema de Defesa das Plantas

O acúmulo de compostos químicos secundários, derivados do metabolismo


primário, parece ser o sistema de defesa mais universal entre as plantas. As
plantas produzem produtos químicos para fins de defesa de duas maneiras
diferentes; primeiro, como substâncias constitutivas para repelir os herbívoros por
meio de toxicidade direta ou reduzindo a digestibilidade dos tecidos vegetais e,
em segundo lugar, como substâncias sintetizadas em resposta aos danos nos
tecidos por herbívoros. Essas estratégias são capazes de prevenir a maioria dos
herbívoros, embora haja um número reduzido de insetos capazes de se adaptar a
espécies específicas de plantas.

O sistema de defesa das plantas é qualquer mecanismo apresentado pela planta


que produz interferência em qualquer fase dos processos de herbivoria desde a
localização do hospedeiro até a obtenção de nutrientes. As plantas
desenvolveram diferentes mecanismos para reduzir o ataque de insetos, incluindo
respostas específicas que ativam diferentes vias metabólicas que alteram
consideravelmente seus aspectos químicos e físicos.

A “química das plantas” também conduziu à evolução dos herbívoros. Essa


interação representa um sistema dinâmico e coevolutivo, pois está continuamente
sujeito a mudanças. As plantas não são passivas a essas injúrias e desenvolveram
mecanismos de resposta. No intuito de diminuir os danos causados pela
herbivoria, as plantas desenvolveram diferentes tipos de mecanismos que podem
ser classificados como químicos, físicos ou relacionados à estrutura foliar.

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Fundamentos em Entomologia | página 28

Algumas espécies vegetais acumulam níveis elevados de compostos que


funcionam como defesas bioquímicas por meio de sua toxicidade, ou do seu
desenvolvimento de características físicas. Outras plantas não comprometem
recursos para a acumulação de compostos de defesa, mas procuram minimizar
os danos por herbívoros pelo rápido crescimento e desenvolvimento, dispersão,
ou escolha de habitat. Esses dois organismos estão intimamente associados, uma
vez que os insetos têm várias atividades benéficas, incluindo defesa e polinização,
enquanto as plantas fornecem abrigo, locais de oviposição e alimentos, os três
principais fatores solicitados para a proliferação de insetos. Por outro lado,
dependendo da densidade populacional e intensidade do ataque, os herbívoros
podem ser extremamente prejudiciais às plantas, levando-os à morte.

Dependendo das espécies vegetais e da diversidade de fitófagos que as cercam


no ambiente, dois tipos de defesa, ou ambas podem ser usadas para mitigar a
herbivoria:

a) Defesas físicas: Onde destacam-se a presença de pelos; tricomas; tecidos


mais rígidos (cerdas, madeira, espinhos e outros). Além disso, podemos
destacar a presença de tricomas glandulares; espessura da cutícula; sílica;
lignina; escletotização dos tecidos; quantidade de ceras e fibras celulares.

b) Defesas químicas: Onde destacam-se a produção de substâncias metabólicas


secundárias (aleloquímicos), a comunicação de uma planta com a outra de
mesma espécie (comunicação através da rizosfera, onde compostos e
exudados que são liberados através das raízes que faz com que elas se
comuniquem e revidem ataques de predadores); e a comunicação de plantas
com insetos parasitoides e predadores.

Atuando de forma isolada ou em associação, os mecanismos de defesa das


plantas podem afetar o desempenho dos insetos de forma direta, ou de forma
indireta:

A defesa direta (defesa intrínseca) das plantas contra o ataque de herbívoros


geralmente é classificada como defesa constitutiva ou defesa induzida.

i) Na defesa direta constitutiva, a planta naturalmente produz substâncias


antagônicas ou estruturas de proteção, mesmo a ausência de herbivoria.
Destacam-se compostos químicos tóxicos e estruturas morfológicas que
dificultam o acesso dos herbívoros às plantas, podendo afetar alguns
parâmetros do ciclo biológico, como o desenvolvimento e a reprodução dos
insetos fitófagos. Esses componentes podem ser encontrados em uma ou

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Fundamentos em Entomologia | página 29

mais partes da planta e, normalmente, suas concentrações e/ou quantidades


variam com a idade dela.

ii) A defesa direta induzida é qualquer mudança morfológica ou fisiológica


resultante da ação de herbívoros sobre as plantas, resultando na não
preferência de insetos por estas plantas, em um subsequente ataque. Entre as
alterações fisiológicas, algumas podem estar relacionadas com a redução da
qualidade nutritiva que as plantas apresentam para os herbívoros, dessa forma
deixa de ser um recurso utilizado.

A defesa indireta (defesa extrínseca) pode estar relacionada com a produção de


alimento alternativo, abrigo para predadores e parasitoides ou liberação de
compostos voláteis que atraem inimigos naturais dos insetos fitófagos que estão
atacando a planta.

3.6. Aleloquímicos

A habilidade de um inseto se alimentar, envolve uma sequência de


comportamentos: localização do habitat da planta hospedeira, encontrar a planta,
reconhecimento do alimento, aceitação, adequação. A composição química
básica das diferentes espécies de plantas é semelhante (carboidratos, proteínas,
lipídios; aminoácidos proteicos e ácidos orgânicos). Contudo, em rotas
biossintéticas paralelas, as plantas produzem uma imensidade de substâncias,
chamadas substâncias metabólicas secundárias (SMS) ou aleloquímicos, os quais
possuem as mais variadas funções, como atrair polinizadores, repelir invasores,
parasitas e até mesmo na comunicação entre plantas vizinhas.

Portanto, a especificidade dos insetos em relação às diferentes plantas se deve a


presença dessas substâncias chamadas aleloquímicos. Essas substâncias
(compostos nitrogenados, terpenos e fenóis) são produzidas pelo metabolismo
secundário das diferentes espécies vegetais e destinam-se exclusivamente a sua
defesa contra a herbivoria e ataque de patógenos; não sendo usados para
crescimento e reprodução do vegetal. Fazem parte das estratégias de
sobrevivência que as plantas desenvolveram em milhões de anos de adaptação
para sobreviverem no ecossistema terrestre.

Como descrito anteriormente, à princípio, os aleloquímicos não são essenciais ao


metabolismo básico das plantas, além disso há um custo energético alto para que
plantas produzam esses compostos secundários. Portanto, essas substâncias
metabólicas secundárias devem exercer uma função estratégica na sobrevivência
e preservação da planta, compensando o gasto metabólico para a sua produção.

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Fundamentos em Entomologia | página 30

Algumas espécies de insetos fitófagos evoluíram e se adaptaram para reconhecer


e mapear alguns compostos químicos secundários produzidos pelos vegetais e
assim, rastrear seus hospedeiros que provisionarão recursos alimentares. Dessa
forma, podemos tomar como exemplo curuquerê-da-couve Ascia monuste orseis
(Latreille) e borboleta-da-couve Leptophobia aripa (Boisduval) (Lepidoptera:
Pieridae) que são atraídas por plantas da familia Brassicaceae, devido a presença
de uma substância produzida para sua proteção, a sinigrina. Para outros insetos
não adaptados, ao se alimentarem de brassicas, a sinigrina torna-se um composto
tóxico e protege a planta contra estes insetos. Entretanto, tanto para o curuquerê
como para a borboleta-da-couve, essa substância secundária (sinigrina), não
causa danos ao seu desenvolvimento e ainda contribuem para facilitar a seleção
da planta hospedeira. Por esse motivo, pode-se afirmar que esses aleloquímicos
mediam a relação entre plantas e insetos, variando em grau e efeito.

A inibição bioquímica da herbivoria pelas plantas é conhecida como alelopatia


(Price, 1997). Sementes frutos e flores tornam-se impalatáveis; repulsivos ou até
mesmo venenosos. A concentração de SMS em diferentes partes da planta
depende em que parte da planta ela precisa de maior proteção à herbivoria.
Exemplo: Neem (Azadirachta indica) possui teores variados de SMS em suas
folhas, sementes e frutos (azadiractina), composto repelente e inibidor de
crescimento extraído e empregado no controle de pragas. Podemos destacar
ainda, outras substâncias metabólicas secundárias encontradas nas plantas
como: alcaloides; flavonoides; taninos quinonas; óleos essenciais; piretrina;
alcaloides nicotínicos; limonoides; sesquiterpenos; quinonas; terpenoides e
saponinas.

Dependendo do efeito que exerce na comunicação química entre insetos e


plantas os aleloquímicos podem ser divididos em:

a) Alomônios: Substâncias que induzem respostas em indivíduos de outras


espécies e que favorecem o emissor. Ex: produção de compostos tóxicos,
repugnantes pelas plantas produzindo uma resposta negativa no inseto.

b) Cairomônios: compostos ou misturas de compostos químicos emitidos por um


organismo (planta), que induz o indivíduo de outra espécie (inseto fítófago),
favorecendo o receptor. Ex: substâncias ou compostos voláteis de plantas que
favorecem o reconhecimento e a seleção da planta hospedeira.

c) Sinomônios: ambas espécies são beneficiadas. As substâncias químicas são


produzidas por uma espécie e recebidas por outra. Ex: odores liberados por
flores de plantas que acabam atraindo polinizadores (ambos se beneficiam).

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Fundamentos em Entomologia | página 31

3.7 Estratégias dos Insetos para Superar as Defesas das Plantas

Os insetos desenvolveram várias estratégias para superar as barreiras de defesa


das plantas, permitindo que eles se alimentem, cresçam e se reproduzam em suas
plantas hospedeiras. A composição química da planta é variável e representa um
desafio para a alimentação de insetos. No entanto, os insetos possuem um
poderoso conjunto de enzimas que constituem sua defesa contra substâncias
químicas tóxicas. Uma das estratégias para superar este problema é a
desintoxicação de produtos químicos de defesa por oxidação, redução, hidrólise
ou conjugação de moléculas.

Outra maneira dos insetos evitarem “venenos de plantas” é sequestrar e


desdobrar os esses compostos para seu próprio sistema de defesa, ou
simplesmente se alimentando de partes da planta que não possuem esses
compostos. Os lepidópteros sequestram metabólitos secundários de plantas,
como terpenos, fenóis e muitos compostos contendo nitrogênio, e os utilizam
como tóxicos ou intragáveis para os predadores. Um exemplo dessa adaptação é
ilustrado pela lagarta do tabaco Manduca sexta paphus (Lepidoptera:
Sphingidae). Este inseto acumula a nicotina sintetizada pelas plantas do tabaco
em seu próprio corpo, que é tóxico para a maioria dos insetos e o utiliza como um
impedimento para os parasitoides. Outro exemplo, lagartas de borboletas-
monarca (D. plexippus) alimentam-se de determinadas plantas tóxicas. Essas
toxinas são passadas para a fase adulta, quando pássaros tentam predar a
monarca, eles acabam regurgitando a borboleta devido às toxinas que impregnam
o corpo desses insetos. Além disso as monarcas desenvolveram coloração
aposemática a partir desses compostos para servir de alerta aos seus inimigos
naturais.

Os insetos possuem um grande conteúdo proteico e por esse motivo possuem


uma alta demanda de nitrogênio (proteínas e aminoácidos) e fosforo, além de
outros minerais importantes para seu desenvolvimento. Enquanto isso, as plantas
possuem altas concentrações de carboidratos oriundos do metabolismo primário.
Quando os índices de nitrogênio livre na planta aumentam, os parâmetros de
crescimento, sobrevivência, fecundidade e reprodução dos insetos também
aumentam e, consequentemente a sua população. Algumas plantas possuem a
estratégia de manter níveis impróprios de proteínas e aminoácidos para escapar
ou minimizar os danos por insetos. A herbivoria geralmente é realizada em partes
mais tenras e pontos de crescimento, isso se deve às maiores concentrações de
nitrogênio e aminoácidos nestas partes mais novas.

Por fim, a coevolução de plantas e insetos é muito intrigante. As plantas


desenvolveram mecanismos eficientes para protegê-las contra a herbivoria,

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Fundamentos em Entomologia | página 32

enquanto os insetos encontraram diversas formas de evitar os efeitos negativos


dos mecanismos de defesa de suas plantas hospedeiras. Embora muitas
pesquisas tenham aumentado o entendimento sobre a interação planta-inseto,
nosso conhecimento ainda é limitado. Sendo assim, a melhor compreensão deste
processo permitirá o desenvolvimento de métodos mais eficazes para o controle
de insetos-praga com ferramentas menos residuais, com destaque para o uso
produtos naturais, bioestimulantes de resistência e desenvolvimento de novas
variedades de plantas com defesas químicas aprimoradas a determinadas
situações de ataque de pragas.

Leitura complementar

BALDIN, E. L. L.; VENDRAMIM, J. D.; LOURENÇÃO, A. L.


Resistência de plantas a insetos: fundamentos e aplicações. FEALQ,
Piracicaba, SP, Brazil, 2019, 493p.

CARRANO-MOREIRA, A. F. Manejo integrado de pragas florestais:


fundamentos ecológicos, conceitos e táticas de controle. Ed. 1,
Technical Books Editora, 2014, 342p.

SARMENTO, R. A., DE LEMOS, F., DIAS, C. R., PALLINI, A.,


VENZON, M. Infoquímicos induzidos por herbivoria mediando a
comunicação entre plantas de tomate e o predador Cycloneda
sanguinea (Coleoptera: Coccinellidae). Ceres, v. 55, n. 5, 2015.

VILELA, E. F.; DELLA LUCIA, T. M. C. Introdução aos


semioquímicos e terminologia. IN: VILELA, E. F.; DELLA LUCIA, T.
(Ed.). Feromônios de insetos: biologia, química e emprego no
manejo de pragas. 2. ed. Ribeirão Preto: Holos, p. 9-12, 2001.

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4
Fundamentos em Entomologia | página 33
Capítulo

Identificação e Biologia de Insetos


4.1 Nomenclatura Zoológica

O objetivo da Nomenclatura Zoológica é dar nomes aos diferentes táxons das


classificações, de acordo com normas internacionais pré-definidas e válidas para
todos os países. O nome único, distinto e universal, dado a um inseto, permite a
comunicação entre os pesquisadores. A taxonomia é uma ciência tão antiga
quanto o próprio nome, pois os habitantes de uma determinada região são
capazes de reconhecer a fauna local agrupando os animais semelhantes,
separando um grupo do outro. O nome de um animal era sua descrição.

O primeiro homem a se preocupar com uma classificação mais racional dos


organismos foi Aristóteles. Ele afirmava que os animais podiam ser classificados
segundo suas partes corporais, modo de vida e comportamento. Lineu foi o
primeiro a usar de forma organizada um sistema de nomenclatura BINOMIAL,
codificando o sistema de nomenclatura popular. O latim foi usado para a grafia
dos nomes científicos por ter sido a língua universal do ensino. O nome genérico
evoca as características coletivas, o nome específico, as características
individuais. O Código de Nomenclatura tem por finalidade, promover a
estabilidade e a universalidade do nome científico para que só tenha um nome e
adote a Lei da Prioridade, isto é, o nome válido é o mais antigo aplicado a ele e
que não seja anterior a 1758.

a) Nome dos táxons: Podem ser uninomiais, binomiais, trinomiais ou tetranomiais.

i) Uninomiais: expressos por uma única palavra, com um substantivo ou adjetivo.


Para

Filo a Subtribo escritos em maiúscula e não são grifados. Exemplos Coelenterata


(Filo); Insecta (Classe); Curculionidae (Família). O nome dos táxons do grupo do
Gênero é uninominal, singular, escritos com inicial maiúscula e em itálico: Apis,
Sitophilus.

ii) Binomiais: usado para táxons da categoria da espécie. Consiste no nome do


gênero ao qual a espécie está classificada, seguido de um segundo termo,
próprio à espécie. Exemplo Sitophilus oryzae (Linnaeus, l763).

O nome científico é acompanhado do nome do autor que descreveu a espécie,


separado do ano de publicação do trabalho por vírgula. Quando o nome do autor
estiver entre parênteses, significa que ele descreveu a espécie ou subespécie em

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Fundamentos em Entomologia | página 34

outro gênero e não no gênero considerado. Exemplo: Anacassis cribum (Klug,


l829) Spaeth, 1913

iii) Trinomiais: para os nomes de táxons da categoria do subgênero e nome dos


táxons da subespécie. Para Subgênero: Inserido entre parênteses entre o
nome do gênero e o nome da espécie. É uninomial, singular e escrito com
maiúscula e em itálico: Glenea (Paraglenea) tigrinata

Para Subespécie: Atta sexdens rubropilosa

iv) Tetranomiais: formados por 4 termos, quando se combinam nomes das


categorias do subgênero e subespécie: Taricanus (Microcanus) tuqui
mexicanus.

4.2 Identificação dos Principais Grupos de Pragas

4.2.1. Principais Grupos de Pragas Agrícolas

Artrópodes

O Filo Arthropoda (Arthron = articulação, podos = pé) possui caracteristicas que


distinguem os membros deste filo dos membros de outros filos:

Epiderme produz exoesqueleto quitinoso segmentado, articulado e rígido


(esclerotizado), apêndices articulados com sistema muscular complexo; simetria
bilateral; celoma reduzido; sistema digestório completo; sistema circulatório
aberto; respiração através da superfície corpórea, brânquias, traquéias ou
pulmões foliáceos; glândulas excretoras pareadas; sistema nervoso seguindo o
plano anelidiano; sexos usualmente separados

Dois grupos principais são importantes representantes deste Filo considerados


pragas e organismos benéficos: os ácaros (Acari) e os insetos (Insecta).

I. Ácaros (Acari)

Os ácaros apresentam pequeno tamanho corporal; poucos excedem 0,5 mm de


comprimento. Eles apresentam seis pares de apêndices, que incluem um par de
quelíceras (apêndices retráteis adaptados para rasgar, cortar, fixar, perfurar,
dilacerar ou agarrar o alimento), um par de pedipalpos e quatro pares de pernas
locomotoras; uma fusão completa entre cefalotórax e abdome. O corpo dos
ácaros é dividido em dois tagmas exclusivos: idiossoma e gnatossoma. O

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Fundamentos em Entomologia | página 35

idiossoma é a porção posterior e corresponde a maior parte do corpo e é dividido


em podossoma (origem das pernas) e opistossoma (onde têm apêndices
locomotores e o gnatossoma que corresponde ao ápice da cabeça onde está o
aparelho bucal.

O grupo é muito diverso, incluindo onívoros, carnívoros e herbívoros, fungívoros.


Eles se alimentam exclusivamente de fluidos, os quais eles sugam através de uma
faringe muscular e algumas especies produzem teia. As principais familias de
ácaros-pragas de plantas são: Eriophyidae, Tetranychidae; Tarsonemidae,
Tenuipalpidae. Normalmente, os ácaros localizam-se na face inferior das folhas,
reduzem a área foliar interferindo na fotossíntese e eventualmente causam
necrose, queda das folhas e morte da planta, diminuindo a produção.

Dentre os ácaros com espécies predadoras estão as familias Erythraeidae,


Cunaxidae, Stigmaeidae e Phytoseiidae. Os ácaros da família Phytoseiidae são os
mais importantes no controle biológico.

a) Família Tetranychidae

Eles possuem corpo ovalado, setas longas distribuidas pelo dorso do corpo,
geralmente possuem duas manchas escuras de cada lado da parte dorsal de seu
corpo. As espécies desta familia são cosmopolitas e alimentam-se de uma grande
diversidade de plantas. Os ácaros tetraniquídeos possuem estiletes quelicerais
alongados que perfuram o tecido foliar ou radicular e se alimentam de conteúdo
celular ou de fluidos intersticiais. Ataca as folhas das plantas na face inferior onde
tecem teia para oviposição e para dispersão, ocasionando manchas branco-
prateadas. Na face superior, áreas de início cloróticas, tornam-se bronzeadas.
Quando o ataque é intenso, as folhas secam e caem, podendo causar a morte da
planta atacada.

No Genero Tetranychus estão ácaros polífagos, considerados pragas sérias de


culturas agrícolas, particularmente herbáceas anuais e árvores frutíferas. Os
ácaro-rajado (Tetranychus urticae Koch), ácaro-vermelho (Tetranychus evansi
Baker & Pritchard e Tetranychus ludeni Zacher) no início do ataque produzem
manchas cloróticas nas folhas do terço inferior da planta. Altas populações,
favorecidas sob temperaturas elevadas, alto teor de nitrogenio na planta e em
épocas secas, resultam na formação de teias nas folhas, flores e definhamento da
planta.

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Fundamentos em Entomologia | página 36

b) Família Tarsonemidae

Eles possuem corpo em formato de pera, coloração clara e não produzem teia.
Duas de suas pernas estão no início de seu corpo e as outras duas no meio de
seu corpo. Esta família inclui pragas agrícolas severas como o ácaro-branco
Polyphagotarsonemus latus (Banks), uma praga polífaga de muitas culturas
agrícolas. Ácaros desta familia comumente causam enrolamento das bordas das
folhas dos ponteiros ou do terço superior das plantas. A sua atividade interfere na
expansão foliar, tornando as folhas espessas, coriáceas e quebradiças ao toque.

c) Família Eriophyidae

Microácaros que medem até 0,19mm de comprimento. Eles possuem corpo com
formato modificado, alongados, semelhantes a vermes, têm apenas dois pares de
pernas na extremidade anterior do corpo. Todos são fitófagos obrigatórios,
usando seus estiletes curtos para perfurar células individuais. Ao se alimentarem
dos tecidos vegetais, geralmente provocam atrofia, enrolamento das folhas, danos
em órgãos reprodutivos e formação de galhas. Além disso, algumas espécies são
vetores de viroses.

A maioria das espécies é altamente específica para o hospedeiro, e uma única


espécie de planta pode abrigar muitas espécies neste grupo. São importantes
pragas desta familia: ácaro-da-falsa-ferrugem Phyllocoptruta oleivora (Ashmead);
Aceria litchii (Keifer), conhecido como ácaro-da-erinose-da-lichia; ácaro-da-galha
Colomerus vitis (Pagenstecher).

Eles induzem a formação de galhas características em folhas, brotos, caules,


flores ou frutos de suas plantas hospedeiras. Produtos químicos salivares imitam
certos hormônios de crescimento de plantas e induzem a formação de galhas nas
quais os ácaros vivem. As galhas simples se formam quando as células
epidérmicas produzem crescimentos alongados semelhantes a pelos, dos quais
os ácaros se alimentam. As galhas em bolsa são se formam em cavidades
alongadas dentro das quais os ácaros vivem. O ácaro do bronzeamento (Aculops
lycopersici) (Massee) coloniza a base da haste principal e as folhas do terço
inferior das plantas, conferindo à planta aparência bronzeada. Em geral, altas
populações estão associadas a temperaturas elevadas, baixa umidade relativa do
ar e uso exagerado de inseticidas, que eliminam os seus inimigos naturais.

d) Família Tenuipalpidae

Estes ácaros não produzem teias de seda nas plantas. Eles também são
conhecidos como ácaros planos porque a maioria das espécies é achatada

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Fundamentos em Entomologia | página 37

dorsoventralmente. Os gêneros Brevipalpus e Tenuipalpus são os mais


importantes economicamente. Tenuipalpideos se alimentam de hastes, frutas,
flores e folhas (geralmente na superfície inferior), e algumas espécies formam
galhas. Eles causam sérios danos a muitas culturas, como chá, videira, árvores
frutíferas, plantas ornamentais e gramíneas. Além disso, vários tenuipalpideos são
vetores confirmados de vírus ou doenças semelhantes a vírus de plantas.
Brevipalpus phoenicis (Geijskes), vetor do vírus da leprose dos citros, da mancha-
anelar-do-café e da pinta-verde do maracujá no Brasil.

II. Insetos (Insecta)

As principais características dos insetos são: corpo dividido em três partes, pernas
e antenas articuladas, exoesqueleto, simetria bilateral, circulação sangüínea
(hemolinfa) livre, sistema respiratório formado por tubos que atingem a parte
externa do corpo por orifícios, um par de antenas, três pares de pernas,
desenvolvimento por metamorfose e asas geralmente presentes nos adultos.

Características gerais das principais das ordens de insetos-praga de plantas

a) Coleoptera (Besouros)

Adultos tem grande diversidade de forma, coloração e tamanho que pode variar
de 0,3 a 200 mm de comprimento. Corpo muito esclerotisado, com primeiro par
de asas é engrossado e endurecido (élitro) e asas posteriores membranosas e em
repouso permanece dobrada embaixo do elitro. Suas larvas possuem cabeça
visível, três pares de pernas no início do corpo ou não. Eles são pragas tanto na
fase de larva como na fase adulta e possuem aparelho bucal mastigador.

Os principais grupos de besouros pragas são:

i. Carunchos (Bruchidae e Anthribidae) Possuem um prolongamento no ínicio da


cabeça menor que dos bicudos e suas asas não cobrem totalmente o abdome
Suas larvas são similares as dos gorgulhos;

ii. Corós (Scarabaeidae): Tambem conhecidos como escaravelho, cascudo,


coró e bicho-bolo, entre outros. Os adultos apresentam corpo compacto,
robusto e coloração variavel (fosca, brilhante e até metálica) e tamanhos de
1,4 milimetros até 16,6 centímetros. As antenas são curtas e lameladas (uma
antena geralmente com os 3 últimos segmentos maiores e organizados em
lamelas, como as páginas de um livro). Suas pernas geralmente apresentam
pequenos espinhos e garras afiadas. Suas larvas são esbranquiçadas,

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Fundamentos em Entomologia | página 38

possuem formato de “C”, final de seu corpo é dilatado e elas atacam órgãos
subterrâneos principalmente raízes;

iii. Gorgulhos (Curculionidae): Os adultos possuem rostro comprido (bico


encurvado ou tromba) onde estão o aparelho bucal. Por isso são conhecidos
também como bicudos. Suas larvas são esbranquiçadas e não possuem
pernas visíveis;

iv. Larva arame (Elateridae): Os adultos são escuros, possuem corpo fino, dois
espinhos no final da cabeça que o torna capaz de emitir um sonoro clique ao
mesmo tempo que produz um rápido e violento salto. As larvas são delgadas,
longas, cilíndricas ou ligeiramente achatadas, com revestimento quitinoso
relativamente duro quando comparadas com outras larvas. Os três pares de
pernas do tórax são curtas e as últimas (abdominais) são diretamente dirigidas
para baixo para servir de pseudopatas terminais; elas atacam órgãos
subterrâneos principalmente raízes;
v. Serra-pau (Cerambycidae): Adultos têm como característica as longas
antenas articuladas que possuem, em muitos casos, tendo mais que o dobro
do tamanho do próprio corpo do inseto. Suas larvas são esbranquiçadas,
possuem o início do corpo dilatado. Nome comum dado é em função do habito
de broquear caules e troncos;

vi. Vaquinhas (Chrysomelidae): Os adultos geralmente possuem corpo colorido,


antenas com 11 articulos, longas mas menores que o corpo. Eles se alimentam
de folhas e flores. Suas larvas são finas, esbranquiçadas e possuem três pares
de pernas e geralmente atacam órgãos subterrâneos principalmente raízes.

b) Diptera (Moscas)

As pragas de plantas na fase adulta apresentam as asas anteriores funcionais e


as posteriores modificadas, conhecidas como balancins ou halteres. Uma
característica que auxilia na identificação das moscas são cabeça, nitidamente
distinta e móvel, com dois grandes olhos formados por cerca de milhares de
omatídeos. O aparelho bucal é do tipo sugador labial. Suas larvas são vermiformes
(sem cabeça e sem pernas aparentes). Os principais grupos de moscas-praga de
plantas são:

i. Mosca-minadora (Agromyzidae) adultos são pequenas moscas com 1 a 5 mm


de comprimento, de coloração cinza a preta com manchas amarelas no
protorax. As larvas são polifagas e confeccionam minas finas e serpenteadas
nas folhas.

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Fundamentos em Entomologia | página 39

ii. Moscas das frutas (Tephritidae) Os adultos são moscas que possuem
desenhos em formatos variáveis de “S” e “V” nas asas em função da espécie
Essas moscas pertencem a dois gêneros: Anastrepha e Ceratitis. As moscas
do gênero Anastrepha são chamadas de mosca-sul-americana devido a sua
origem. Já as moscas do gênero Ceratitis (Ceratitis capitata) são chamadas
de mosca-do-mediterrâneo (mosca Med) devido a sua origem.

iii. Mosca-galhadora (Cecidomyiidae) Adultos são moscas pequenas com


tamanho de 1 a 5 mm, pernas longas e antenas geralmente relativamente
longas, e com venação das asas reduzida. A maioria são indutoras de galhas.
Outros se alimentam de plantas.

c) Isoptera (Cupins)

Possuem aparelho bucal mastigador, dois pares de asas membranosas iguais e


metamorfose gradual. Alimentam-se de celulose das raízes das plantas, madeiras
e húmus. São insetos sociais e vivem em ninhos com um ou mais casais de formas
sexuadas (reis e rainhas). Anualmente, produzem formas sexuadas (aleluias) que
através de revoadas, instalam novos ninhos. No interior de um ninho existem
operárias e soldados que executam tarefas diferentes. Os ninhos podem ser
construídos no solo, subsolo, árvores ou madeiras. Os cupinzeiros construídos na
superfície dos solos diminuem a área útil das culturas e dificultam os tratos
culturais.
As espécies-praga de plantas causam problemas nos estádios iniciais das
culturas devido à redução dos estandes.

d) Hemiptera

O nome se refere às asas anteriores, que são metade membranosas e metade do


tipo coriácea (do grego hemi = metade e pteron = asa). Insetos hemimetabolos de
tamanho, forma e coloração diversos e que se caracterizam pelo aparelho bucal
muito especializado adaptado para picar e sugar. O aparelho bucal em forma de
um rostro é constituido pelo lábio articulado onde se alojam as demais peças
bucais sugadoras e a posição do rostro é diagnóstica para as subordens.

A classificação antiga onde Homoptera era uma ordem foi abandonada, tendo a
mais recente apresentada como Subordens Heteroptera, Auchenorrhyncha e
Sternorrhyncha

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Fundamentos em Entomologia | página 40

i. Subordem Heteroptera (Percevejos)

Rostro originando-se na região anterior da cabeça. Asa anterior com metade basal
coriácea e a metade distal membranosa (hemiélitro). Causam danos às plantas
tanto na fase adulta como na fase jovem (ninfas). Nessa subordem, a morfologia
do rostro serve para reconhecermos percevejos fitófagos (rostro com 4
segmentos), hematófagos (rostro com 3 segmentoe e reto) e predadores (rostro
curvo com 3 segmentos).

ii. Hemiptera – Subordem Auchenorryncha (Cigarras e cigarrinhas)

Rostro originando-se na região posterior da cabeça, com 3 articulos. Antenas


setáceas, curta ou longa (Cicadelidae). Asa anterior com textura homogenea
(tegmina) e posterior membranosa. As ninfas são semelhantes aos adultos,
diferindo no tamanho, coloração e ausência de asas. Na sua maioria alimentam-
se de xilema, de floema e mesófilo

iii. Hemiptera – Subordem Sternorrhyncha (pulgões, cochonilhas, moscas-branca


e psilídeos)

Cabeça opistognata com rostro sugador, com 4 articulos perfurantes


aparentemente emergindo do esterno entre as coxas das pernas anteriores. São
insetos pequenos, variando de menos de 1 mm até 5mm de comprimento; podem
ser ápteros ou alados com antenas reduzidas ou com 3 a 10 articulos. Eles
formam colonias, sugam continuamente a seiva vegetal, provocando
amarelecimento, seca e definhamento das plantas.

e) Hymenoptera (Formigas)

Elas são insetos sociais e vivem em colônias subterraneas. A subfamilia


Myrmicinae são micetófagas e causam danos a centenas de culturas pelo corte
de material vegetal que fornecem ao fungo cultivado. As formigas cortadeiras mais
nocivas pertencem à tribo Attini apresentam 2 peciolos e onde estão as formigas
saúvas (Atta spp.) com três pares de espinhos no seu dorso e ninhos gigantes
(centenas a milhares de panelas) e as formigas quém-quéns (Acromyrmex spp.)
que possuem quatro pares de espinhos no seu dorso e seus ninhos são pequenos
e mais superficiais.

f) Lepidoptera (lagartas)

Seus adultos são chamados de mariposas (noturnos) ou borboletas (diurnos),


possuem dois pares de asas membranosas com escamas e aparelho bucal tipo

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Fundamentos em Entomologia | página 41

sugador maxilar, com maxilas modificadas, alongadas e justapostas. As gáleas


semitubulares e unidas formam um orgão chamado espirotromba. Asas com
formas, coloração e tamanhos variados. Sua forma jovem é chamada de lagarta
e possuem cabeça visível, três pares de pernas no início do corpo e falsas pernas
no final do corpo. As lagartas podem ser de três tipos básicos dependendo do
número de pseudopatas: lagartas (com quatro pares de pseudopatas), lagartas
falsa-medideiras (com dois pares de pseudopatas) e lagartas medideiras (com um
par de pseudopatas). Os hábitos alimentares dos adultos são distintos daqueles
das lagartas, já que estas possuem aparelho bucal mastigador e os adultos,
sugador se alimentando de nectar e pólen.

Entre as familias de lepidopteros-praga mais conhecidas estão: Plutellidae,


Lyonetiidae, Gelechiidae, Tortricidae, Pyralidae, Crambidae, Sphingidae, Pieridae,
Nymphalidae, Geometridae e Noctuidae.

g) Orthoptera (grilos, gafanhotos)

Os ortópteros mais importantes são os grilos e os gafanhotos e ambos possuem


o último par de pernas saltatória e na fase adulta seu primeiro par de asas são
chamadas de tégminas. Os grilos possuem coloração escura e as asas dos
adultos quando em repouso assumem posição horizontal eles tanto na fase jovem
(ninfas) como adulta atacam plantas pequenas cortando-as rente ao solo. Os
gafanhotos possuem diversas colorações e as asas dos adultos quando em
repouso assume uma posição inclinada. Tanto os adultos como a fase jovem
(ninfas) dos gafanhotos causam desfolha as plantas.

h) Thysanoptera (Tripes)

Os adultos variam de 0,5 a 15 mm de comprimento, corpo delgado, alongados e


asas quando presentes são franjadas e venação reduzida. Aparelho bucal
picador-sugador curto e assimétrico com mandíbula direita ausente. Eles são
encontrados na parte aérea das plantas (folhas, galhos, botões florais; flores e
frutos) alimentando-se do conteudo cellular de tecidos não lenhosos ou do
contúdo de grãos de pólen. Tripes são classificados em duas subordens Tubulifera
(família Phlaeothripidae) e Terebrantia (familia Thripidae entre outras).

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Fundamentos em Entomologia | página 42

Leitura complementar

GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ,


2002. 920p.

GULLAN PJ, CRANSTON PS. Insetos: fundamentos da


entomologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Gen/Editora Roca; 2017,
912p.

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5
Fundamentos em Entomologia | página 43
Capítulo

Coleta, Montagem e Conservação de Insetos-


Praga
Devido a características, como a facilidade de coleta, alguns grupos de
artrópodes (adultos e imaturos) são rotineiramente capturados por agricultores e
técnicos e enviados à taxonomistas e outros especialistas para a identificação da
espécie. Além disso, esses procedimentos têm sido amplamente utilizados para
confecção de coleções entomológicas utilizadas para treinamento de técnicos e
monitores de campo nos estabelecimentos agrícolas. O uso cada vez mais
frequente desses procedimentos é crucial para a correta identificação,
incorporação de técnicas de monitoramento e controle de pragas nas áreas
agrícolas.

Após a coleta representativa das amostras, o passo seguinte, e de importância


fundamental, é preservá-las adequadamente para a remessa ao especialista, se
necessário confirar a espécie. Entretanto, para a rápida identificação do problema
entomológico, é necessario que as amostras cheguem até o especialista no
melhor estado de conservação possível. É por demais conhecida entre os
taxonomistas a dificuldade de se analisar amostras vegetais e de espécies
coletadas por pessoas não familiarizadas com a atividade entomologica. Em sua
grande maioria, essas amostras chegam ao laboratório já deterioradas e sem
condições para um diagnóstico preciso, quase sempre por terem sido
impropriamente coletadas e/ou acondicionadas de maneira incorreta. Assim,
exemplares devem ser devidamente capturados, montados, etiquetados e
armazenados até o momento da correta identificação ou demais finalidades.

5.1 Coleta de Insetos

A coleta de insetos em áreas agrícolas pode ser realizada de várias formas (de
forma ativa ou passiva) e em diferentes locais. Os materiais mais comuns para a
realização da coleta são:

• pinças e pinceis (evitam que o coletor se machuque (insetos venenosos) e


evita que o insetos de corpo frágil se quebrem.

• Rede entomológica: utilizada para capturar insetos em pleno vôo. É


confeccionado de tecido fino transparente, o que facilita enxergar o inseto
capturado.

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Fundamentos em Entomologia | página 44

• Rede de varredura: utilizada para capturar insetos que estejam em repouso ou


se alimentando sobre a vegetação. É muito parecido com a rede
entomológica, mas é confeccionado com tecido de algodão resistente para
garantir sua durabilidade, já que ao entrar em contato com a vegetação podem
agarrar nos galhos, espinhos e folhas.

• Vidros contendo álcool 70%: para receber ácaros e insetos imaturos (larvas e
ninfas) ou insetos adultos de corpo mole (pulgões, tripes, cupins etc.). Estes
espécimes são jogados vivos diretamente no álcool 70%, onde permanecerão
para sua preservação. Se o álcool é 96°GL, usar 70 mL de álcool + 26 mL de
água.

• Frasco mortífero: frasco de vidro papel toalha picado e contendo gás tóxico
(éter, clorofórmio ou acetato de etila). Ideal para matar insetos adultos em
geral: moscas, libélulas, besouros, percevejos, formigas, gafanhotos, grilos e
outros.

• Caixas de papelão e frascos vazios: Servirão para acondicionar


temporariamente ou transportar insetos mortos ou vivos até um lugar
adequado para matá-los. Devem ser de tamanhos diversos e estar sempre à
mão no caso do inseto surgir de surpresa, sem que a busca tenha sido
planejada. Também devem fazer parte do material utilizado em expedições
com objetivo de captura de insetos para a coleção, uma vez que se deve evitar
o acúmulo de insetos em um só lugar para não os estragar. Para o transporte
de lepidópteros adultos, sugere-se o uso de envelopes entomológicos, estes
garantirão a integridade e a menor perda de escamas das asas desses insetos.

• Bandejas coloridas: são bandejas fundas pintadas de cor atrativa para os


insetos-alvo (amarelo é atrativo para grande parte dos insetos). No seu interior
coloca-se água e algumas gotas de detergente (para reduzir a tensão
superficial da água). Os insetos que pousarem na lâmina de água, morrerão
por afogamento.

Outros materiais podem ser utilizados no momento de coleta, com destaque para
aspirador entomológico, guarda-chuva entomológico, pano de batida, armadilhas
com atrativos alimentares, feromônios, armadilhas luminosas e armadilhas de solo
(pit-fall).

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5.2 Procedimentos para Sacrifício dos Insetos

Para garantir a integridade corporal, coloração e características morfológicas,


é recomendado que os insetos sejam sacrificados logo após a coleta no
campo.

Para realizar esse procedimento podemos utilizar:

• Uso de gases tóxicos: servem para matar grande parte dos insetos
capturados: besouros, moscas, vespas, percevejos, formigas etc.

• Álcool 70%: é utilizado para sacrificar ácaros e insetos adultos de corpo mole
e insetos jovens em geral (larvas e ninfas). São colocados vivos em frascos
contendo álcool 70%. O álcool vendido no comércio é encontrado em duas
concentrações: 42° GL, que corresponde a 96% e 36° GL, que corresponde
a 85%. Para o primeiro, pode-se preparar o álcool 70% com 70 ml de álcool
diluídos em 26 ml de água. O segundo tipo não é recomendado para este tipo
de uso.

• Água quente: serve para matar lagartas (fase jovem de borboletas e


mariposas). Estas devem ser colocadas vivas em água quente (antes do ponto
de ebulição), com o fogo desligado e deixadas por aproximadamente dois
minutos. Se estas forem sacrificadas diretamente no frasco mortífero podem
perder a coloração.

• Congelamento: Os insetos são colocados, dentro dos frascos de vidros, no


congelador ou freezer doméstico, permanecendo ali de 24 horas até por vários
dias. O único cuidado é quanto à umidade: se for baixa, os insetos ficarão
muito secos o que dificultará a alfinetagem. Se a umidade for elevada
provocará a condensação de água e os insetos podem mofar após a
alfinetagem. Para evitar problemas é aconselhado que se coloque papel
absorvente entre os insetos e no fundo do recipiente.

• Sacrifício de lepidópteros adultos: As mariposas de corpo volumoso podem


ser mortas com um aperto lateral no tórax. Esse procedimento realizado no
momento da coleta causará o rompimento dos músculos de voo,
consequentemente imobilidade do inseto, o que minimizará a perda de
escamas das asas.

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Fundamentos em Entomologia | página 46

5.3 Montagem de Insetos

Após o sacrifício dos insetos, o ideal é que eles sejam montados o mais rápido
possível. Se os insetos forem mal-conservados (insetos secos, quebradiços, ou
insetos moles com alta umidade corporal), certamente teremos problemas na
montagem. Se os insetos já estiverem endurecidos, tornar-se-ão quebradiços e
dificil manipulação. Assim, estes devem permanecer em câmara úmida até que
possam ser alfinetados e seus apêndices posicionados de forma correta. A
Câmara úmida consiste em um recipiente com abertura larga e tampa de boa
vedação. No fundo deste recipiente coloca-se uma camada de areia fina úmida e
pequenos pedaços de naftalina, para que não haja proliferação de fungos. Sobre
a areia, coloca-se papel-toalha ou similar para evitar o contato direto com a areia
e umidade em excesso. O pote deve permanecer hermeticamente fechado para
que os insetos amoleçam. O tempo necessário para hidratação do inseto depende
do seu tamanho e da temperatura ambiente. Pode variar de poucas horas
(moscas e insetos pequenos) a dias (grandes coleopteros, gafanhtos etc.).

5.4 Alfinetagem e Posição do Inseto

Para a transfixação, recomenda-se o uso de alfinetes entomológicos, os quais


dificilmente enferrujam e já possuem as dimenssões recomendadas para a
montagem e posterior conservação dos insetos por vários anos. O tamanho dos
alfinetes varia de 000, 00, 0, 1, os mais finos, até 7, os maiores e mais grossos.

De modo geral, o alfinete deve ser inserido verticalmente no tórax (Figura 6A),
entre o primeiro e segundo par de pernas da maioria dos insetos, de modo que
fique em um ângulo de 90° em relação ao eixo longitudinal do corpo do inseto
(Figura 6B). Cada grupo de insetos tem uma posição específica. Todos os
exemplares devem ser posicionados a uma mesma altura, cerca de 1,0 m abaixo
da cabeça do alfinete (para facilitar o manuseio e a transferência do inseto
transfixado de um local para outro). O uso de blocos de madeira com alturas
determinadas auxilia essa tarefa, bem como a altura das etiquetas que
acompanham os exemplares. Como a perfuração do corpo do inseto pelo alfinete
sempre causa algum dano ao exemplar, o ideal é que a inserção do alfinete se dê
ligeiramente deslocada para a direita, pois como estes possuem simetria bilateral,
as estruturas do lado esquerdo permanecerão intactas.

5.5 Posicionamento dos Apêncices

Após a transfixação, devemos primeiramente alinhar, ajustar as pernas do inseto.


O pimeiro par de pernas (pernas anteriores) deve ficar voltado para frente; o

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Fundamentos em Entomologia | página 47

segundo e terceiro pares, voltados para trás. Esta posição é obtida através da
utilização de alfinetes comuns (de costura) cruzados sobre isopor, de uma
maneira na qual as pernas dos insetos fiquem imóveis na posição que desejamos.
Recomenda-se que os alfinetes para posicionamento das pernas permaneçam
junto ao inseto por mais ou menos uma semana, até que o exemplar seja fixado
na posição desejada. Em lepidópteros não é preciso se preocupar com a posição
das pernas.

No que diz respeito ao posicionamento das asas, a grande maioria dos insetos
pode permanecer com as asas fechadas, cobrindo o abdome. Entretanto, as
borboletas, mariposas e libélulas devem ter as asas abertas facilitando a
visualização das nervuras, imprescindíveis para sua identificação.

Para lepidópteros podem ser utilizados “esticadores” de madeira ou isopor. Neste


caso, as asas anteriores devem formar um ângulo de 90° com o corpo do inseto
e as posteriores, estarem bem próximas das primeiras, sem espaço entre elas.
Para conseguir a fixação nesta posição, utiliza-se tiras de papel ou plástico presas
com alfinete de costura ao redor das asas. As antenas devem permanecer
voltadas para frente. Entretanto, no caso de antenas muito longas, estas devem
ficar voltadas para trás, contornando o corpo do inseto.

Por fim, insetos diminutos, os quais é inviável uma montagem tradicional, devem
ser montados em microalfinetes ou em triângulos de cartolina ou papel similar
(dupla montagem) (Figura 6C). Os triângulos devem ser brancos e medir
aproximadamente 8-10 mm de comprimento e e 3-5 mm na base. O alfinete deve
perfurar a base do triângulo. O inseto deve ser colado com uma pequena gota
esmalte de unha (incolor) na extremidade. O inseto deve ser colado pelo lado
direito do corpo (região mediana do tórax), na ponta do triângulo, ligeiramente
recurvado (Figura 6C).

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Fundamentos em Entomologia | página 48

Figura 6: Posição de alfinetagem no corpo dos insetos (A). Inserção correta e


incorreta do alfinete no momento da montage (B). Dupla montage em
microalfinete e triângulo (C).

Figuras: Adaptado de Almeida et. al. (1998).

5.6 Etiquetagem

Importante que no dia da coleta, cada inseto ou grupo de insetos coletados rereba
uma etiqueta contendo a data de coleta e o local e planta hospedeira onde foi
capturado. Outras informações também podem ser registradas como coletor do
material, planta que foi encontrada, altitude entre outras. No caso de insetos que
serão coletados e terão como destino museus entomológicos, são utilizadas duas
etiquetas, uma de procedência e outra de identificação. A etiqueta de procedência
deve possuir tamanho de 2,0 x 1,0 cm, papel de cor branca e de gramatura
resistente à deformação; a escrita pode ser com tinta nanquim, a lápis ou

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Fundamentos em Entomologia | página 49

impressas em impressora jato de tinta. Se o inseto for conservado em via líquida,


a etiqueta deve ser escrita a lápis. A etiqueta de procedência deve conter
informações como: Cidade, estado, país; data com mês em algarismo romano
(Exemplo: 22.IV.2022) e nome do coletor seguido da palavra abreviada “col.”
(Exemplo: PEREIRA, J.M col.). Abaixo desta etiqueta coloca-se outra com o nome
da planta hospedeira onde foi coletado.

A terceira etiqueta, a de identificação, fica logo abaixo do espécime. Ela deve


conter a informação que se tem sobre o exemplar coletado, ou seja, nome da
ordem, da família, gênero ou espécie e o nome de quem identificou o inseto. Nos
insetos alfinetados, as etiquetas devem ser colocadas de forma que fiquem
paralelas ao corpo do inseto, a uma altura uniforme no alfinete. Devem ser
orientadas de maneira que as informações ali contidas possam ser lidas todas do
mesmo lado. Nos insetos preservados em álcool, a(s) etiqueta(s) deve(m) ser
escritas à lapis e colocada(s) soltas no líquido, dentro do vidro.

5.7 Conservação

Uma vez montados e devidamente etiquetados, os insetos deverão permanecer


de preferência, em gavetas entomológicas, geralmente feitas de madeira com
tampa de vidro e hermeticamente fechadas ou de uma forma mais simples, em
caixas de papelão. Ambas devem conter um fundo com isopor, EVA, polipropileno
ou outro material apropriado para fixação e posicionamento dos insetos dentro da
caixa.

As coleções apresentam vário inimigos que são capazes de consumir e inutilizar


os insetos (Exemplo: micro besouros da família Dermestidae, traças e
psocopteros, mais conhecidos como piolo-dos-livros). Assim recomenda-se o uso
de naftalina em pó ou em bolas. A naftalina em bolas deve ficar presa a um alfinete
para não rolar e destruir os insetos da caixa. Para isso é necessário esquentar a
ponta mais larga do alfinete antes de introduzi-lo na bola de naftalina. Deve-se
tomar cuidado com o excesso de umidade do ambiente, assim como o contato
com a luminosidade que pode mudar a coloração dos exemplares. Se encontrar
insetos mofados na coleção, limpe-o com um pincel fino embebido em alcool ou
em mistura de xilol e eter (1:1). Os insetos adultos de corpo mole e os insetos
jovens devem preservados em álcool 70%. Assim como os insetos preservados
em via seca, os insetos preservados em álcool 70% correm o risco de perder a
coloração se expostos a luz. Portanto tembém devem ser guardados em caixas
ou armários. Todos os procedimentos descritos acima garantirão que os insetos
sejam devidamente coletados, montados e preservados, o que facilita a
identificação e a utilização deles para os mais variados fins.

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Fundamentos em Entomologia | página 50

Leitura complementar

ALMEIDA, L.M.; RIBEIRO-COSTA, C.S; MARINONI, L. Manual


de Coleta, Conservação, Montagem e Identificação de
Insetos. Ribeirão Preto: Holos, 1998, 78p.

BUZZI, Z.J. Entomologia Didática, Cutitiba: UFPR, 6.ed. 2013,


579p.

GULLAN PJ, CRANSTON PS. Insetos: fundamentos da


entomologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Gen/Editora Roca; 2017,
912p.

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6
Fundamentos em Entomologia | página 51
Capítulo

Biologia de Insetos
Durante o desenvolvimento, os insetos passam por transformações metabólicas
anatômicas de uma forma imatura para uma fase adulta, denominada
metamorfose. Tais modificações estruturais na forma corpórea desses animais
ocorrem em razão do tipo de desenvolvimento, que pode ser classificado da
seguinte forma:

6.1 Tipos de Metamorfose

a) Ametábolos (sem metamorfose) = A partir da eclosão do ovo surge um


organismo jovem, semelhante ao adulto de sua espécie, porém imaturo, ficam
maiores a cada muda sucessiva.

Exemplo: Traça-do-livro Lepisma saccharina Linnaeus (Thysanura:


Lepismatidae);

b) Hemimetábolos (metamorfose incompleta) = Do ovo eclode um organismo não


tão semelhante ao adulto, chamado de ninfa, com estágios de crescimento
gradual chamado de instares, posteriormente se diferenciando em adulto. A
ninfa possui asas em desenvolvimento (tecas alares), as quais ficam
completamente desenvolvidas na fase adulta.

Exemplo: Percevejo-da-soja Nezara viridula (Linnaeus) (Hemiptera:


Pentatomidae);

c) Holometábolos (metamorfose completa) = O desenvolvimento é indireto. Da


eclosão do ovo surge uma larva que após passar por vários instares se
transforma em pupa (crisálida), em seguida imago, atingindo o estágio adulto
após sucessivas mudas (crescimento gradual com troca do exoesqueleto).

Exemplo: Formiga saúva Atta laevigata (Smith) (Hymenoptera: Formicidae)

d) Intermediária = Metamorfose entre os dois tipos anteriores. São encontrados


em Thysanoptera (tripes). Os dois primeiros estádios não possuem asas e são
chamados de larvas. Os dois seguintes são inativos, com tecas alares (pré-
pupa e pupa); o estádio final é adulto, normalmente alado

Exemplo: Tripes-da-cebola Thrips tabaci Lindeman ((Thysanoptera: Thripidae)

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Fundamentos em Entomologia | página 52

6.2 Tipos de Reprodução

a) Oviparidade

É o tipo de reprodução mais comum. As fêmeas depositam os ovos que dão


origem às formas jovens (larvas ou ninfas). Os ovos possuem os mais variados
formatos e podem ser depositados separadamente ou em massa (unidos uns aos
outros). As posturas podem ser encontradas no solo (gafanhotos e grilos), nas
plantas (mariposas e percevejos), sobre animais, sobre ou dentro de outros
insetos (parasitoides) até mesmo na água (gorgulhos-do-arroz-irrigado).

b) Viviparidade

Neste tipo de reprodução, o desenvolvimento do embrião é completado dentro do


corpo da fêmea, a qual deposita larvas ou ninfas, em vez de ovos. Dessa forma, a
fêmea é chamada de vivípara. Ocorre principalmente em alguns dípteros e
pulgões. Em alguns casos, as formas jovens podem até chegar a se alimentar
dentro do corpo da mãe.

c) Partenogênese

Os óvulos sofrem completa maturação sem terem sido fertilizados; ocorre nas
abelhas, pulgões e de forma facultativa em ácaros fitófagos e tripes. Em função
do sexo dos indivíduos nascidos, a partenogênese é telítoca (origina fêmeas) (Ex:
os pulgões de clima tropical); na arrenótoca (origina machos) e na partenogênese
anfítoca (insetos de ambos os sexos são gerados) (Ex: os pulgões de clima
temperado).

d) Pedogênese

Insetos imaturos possuem ovários funcionais, cujos óvulos se desenvolvem por


partenogênese. Em casos extremos, os ovos eclodem dentro do corpo da larva-
mãe e se alimentam dos próprios tecidos da mãe (Famílias Cecidomyiidae e
Chironomidae).

e) Neotenia

Insetos que apresentam características de imaturos (larvas) mas possuem ovários


funcionais. Ex: o bicho cesto onde a fêmea adulta é semelhante a uma larva. Já o
macho (mariposa) procura a fêmea no cesto para acasalarem.

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Fundamentos em Entomologia | página 53

f) Poliembrionia

Nesse caso, há geração de dois ou mais (até centenas de) embriões a partir de
um único ovo. Ex: algumas vespas da família Braconidae.

g) Hermafroditismo

Os dois sexos encontram-se presentes no mesmo indivíduo, raramente funcional


entre os insetos; ex: o pulgão-branco-dos-citros Icerya purchasi que podem se
autofecundar.

Leitura complementar

GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ,


2002. 920p.

GULLAN PJ, CRANSTON PS. Insetos: fundamentos da


entomologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Gen/Editora Roca; 2017,
912p.

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Capítulo 7 Fundamentos em Entomologia | página 54

Comunicação Química entre Insetos


Devido à imensa quantidade de interações biológicas em nosso planeta, diversos
processos de comunicação foram desenvolvidos pelos seres vivos ao longo da
nossa evolução. De maneira geral, esses processos buscam assegurar
oportunidades de sobrevivência, tais como a busca de alimento, seleção de
hospedeiros, defesa, dispersão, reprodução entre outros. O processo de
comunicação ocorre quando se observa a ação de um organismo (emissor) que
altera o padrão comportamental de outro (receptor). Sendo esse processo
realizado de forma ativa ou passiva.

Várias formas de comunicação podem ser utilizadas pelos insetos, destacando-


se a comunicação sonora (grilos, gafanhotos e cigarras); a comunicação visual
(vagalumes, borboletas, alguns dípteros); a comunicação tátil (formigas e cupins),
bem como a comunicação química utilizada pela maioria dos insetos. Neste
contexto, os insetos desenvolveram uma comunicação química específica,
utilizada para a transferência de informações entre indivíduos da mesma espécie
ou indivíduos de espécies diferentes. Além das atividades citadas acima, os
insetos se beneficiam da comunicação química para desempenhar outras
atividades importantes, como a seleção de uma planta hospedeira, escolha de
locais para abrigo e oviposição, organização de atividades sociais entre outras
que serão discutidas a seguir.

Os insetos são dotados de uma vasta quantidade de receptores químicos


(estruturas sensoriais) que estão distribuídos por várias partes do corpo.
Geralmente, estruturas como antenas, palpos maxilares, labiais e a região tarsal
possuem estruturas quimiorreceptoras responsáveis pela percepção do olfato,
gustação e outros sentidos. Por esse motivo, os insetos são capazes de distinguir
com precisão, quantidades diminutas de odores ou misturas complexas de odores
no ambiente que os cercam.

Como exemplo, podemos citar uma fêmea acasalada buscando um local


específico para a oviposição, necessariamente precisará usar suas habilidades
para selecionar uma planta hospedeira e ignorar todos os outros odores que estão
presentes em ambientes complexos. Ao buscarem uma parceira para o
acasalamento, machos de mariposa oriental, Grapholita molesta (Lepidoptera:
Tortricidae) são obrigados a utilizar toda sua habilidade quimiorreceptora para
encontrar as sensíveis trilhas de odores deixadas pelas fêmeas nas vastas áreas
de cultivo de pomáceas. Sendo assim, a compreensão da comunicação química
em grupos de insetos interesse, se faz necessária para desenvolvermos e

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Fundamentos em Entomologia | página 55

aprimorarmos estratégias de detecção, monitoramento e controle de pragas de


plantas cultivadas.

7.1 Semioquímicos

Semioquímicos são substâncias ou compostos que promovem a interação


química entre os organismos, [do grego semion (= marca ou sinal)]. Os
semioquímicos são divididos em dois grupos: os feromônios que possuem ação
intraespecífica e os aleloquímicos que atuam de maneira interespecífica.

Os feromônios [do grego pherein (= transferência) + hormon (= excitar)],


substâncias produzidas e liberadas por organismos vivos e detectadas por outros
indivíduos da mesma espécie, proporcionando mudanças de comportamento no
indivíduo que recebe a mensagem química.

Os aleloquímicos podem ser definidos como substâncias não nutritivas produzidas


por indivíduos de uma espécie e que influenciam o comportamento, a biologia, a
sanidade e, consequentemente, o crescimento da população de outra espécie.

Independente do tipo de comunicação (intraespecífica ou interespecífica), no


momento que a ação de um organismo altera, de alguma forma, o padrão
comportamental de outro, ocorre uma interação, seja ela positiva ou negativa.
Desse modo, essas relações desempenham papel importante no comportamento
de indivíduos ou de populações, provocando respostas específicas como atração,
dispersão, agregação, marcação de território e outras.

7.2 Comunicação Mediada por Aleloquímicos

Como visto anteriormente, a comunicação química entre espécies diferentes


ocorre através de aleloquímicos. Essas substâncias produzidas por vegetais,
insetos e outros animais, podem ser classificadas como alomônio, cairomônio,
sinomônio, antimônio e apneumônio. Essa classificação varia de acordo com a
espécie que se beneficia com o sinal emitido.

Dessa forma, em uma relação inseto-planta, os alomônios são aleloquímicos que,


que favorecem a espécie emissora (geralmente substâncias de defesa da espécie
emissora), os cairomônios favorecem a espécie receptora, geralmente
substâncias produzidas por uma presa e que são percebidas pelo predador. Já os
sinomônios são substâncias produzidas por uma espécie e recebidas por outra,
nas quais ambas as espécies são favorecidas (por exemplo, compostos químicos
voláteis produzidos por flores para atrair polinizadores).

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Fundamentos em Entomologia | página 56

Além desses, para a comunicação geral, existem os antimônios que são


substâncias químicas produzidas por uma espécie é recebida por outra, sendo
que ambas são prejudicadas. Já os apneumônios, são substâncias químicas
provenientes de matéria morta que provocam uma reação comportamental ou
fisiológica a um organismo receptor.

7.3 Comunicação Mediada por Feromônios

Dentro de uma mesma espécie, a comunicação é mediada através de feromônios.


Podemos definir os feromônios, como “substâncias secretadas no ambiente
externo por um indivíduo e recebidas por outros indivíduos da mesma espécie,
provocando uma reação característica”.

Com base na resposta comportamental produzida pelos feromônios, essas


substâncias podem ser classificadas em: feromônios de agregação, dispersão,
alarme, territorialidade, marcação de trilha e feromônios sexuais.

a) Feromônios de agregação são substâncias químicas que podem ser


produzidas machos ou fêmeas para atrair um elevado número de indivíduos
de ambos os sexos quando encontram uma fonte de alimento, local para
moradia, para acasalamento ou local de oviposição, e normalmente, envolvem
também voláteis da planta atacada. Os feromônios de agregação já foram
identificados em espécies-praga de importância agrícola como o bicudo-do-
algodoeiro, moleque-da-bananeira, besouro migdolus, além de outras
espécies de insetos como formigas, abelhas e baratas.
b) Feromônios de alarme sinalizam perigo e ameaça, provocando a fuga; são
muito comuns em abelhas, vespas sociais, formigas e em cupins. Os
feromônios de dispersão agem na manutenção de um espaço mínimo para a
sobrevivência (formigas) e para antiagregação, em algumas espécies de
moscas-das-frutas.

c) Feromônios de trilha são encontrados em formigas, abelhas e cupins, esses


odores são utilizados para orientação, localização de alimento e exploração de
novas áreas.

d) Feromônios de marcação de território podem ser encontrados em diversas


espécies de formigas, incluindo as formigas cortadeiras, nas quais as
operárias marcam o território com um feromônio produzido no final da
extremidade do abdome.

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Fundamentos em Entomologia | página 57

e) Feromônio de oviposição é utilizado por algumas espécies de insetos para que


as fêmeas possam demarcar o local de oviposição, impedindo ou
“comunicando” outras fêmeas que esse substrato já foi utilizado para a
deposição de seus ovos, como é o caso em espécies de moscas-das-frutas.

f) Feromônios sexuais são aqueles que aumentam a probabilidade de sucesso


no acasalamento dos insetos e servem para a atração do sexo oposto quando
estes econtram-se aptos para reprodução. Os feromônios sexuais dos insetos
foram os mais estudados até hoje, pois apresentam perspectivas de emprego
no manejo de pragas. Esses estudos permitiram compreender os mecanismos
envolvidos na liberação dos feromônios sexuais, na percepção desses
compostos pelo indivíduo receptor, na excitação e resposta do sistema
nervoso central (SNC) às substâncias e de como os insetos se orientam até
encontrar o indivíduo que está liberando o feromônio.

7.3.1. Feromônios Sexuais Mediando o Encontro entre Machos e


Fêmeas

O feromônio sexual, quando liberado, é dissipado pelo vento, originando uma trilha
de odor que segue a turbulência e a direção da corrente de ar. Em geral, a
concentração do feromônio diminui à medida que aumenta a distância da fonte
emissora. Os insetos captam as moléculas de feromônio através de sensilos em
suas antenas e enviam impulsos nervosos para o cérebro, que traduz a
informação, induzindo à resposta comportamental.

Nos machos da ordem Lepidoptera, a sequência de respostas desencadeadas


pela presença do feromônio sexual geralmente começa pelo movimento das
antenas, seguido pelo caminhar, movimento das asas e início de voo errático e
em zigue-zague, até localizar a trilha de odores. Na sequência, os insetos voam
contra o vento, seguindo a trilha de feromônio, até localizarem a fonte emissora
ou áreas adjacentes, para então caminharem movimentando as asas até
encontrarem a fêmea. No momento em que o macho encontra a fêmea, uma série
de estímulos químicos, táteis e visuais ocorrem, determinando o comportamento
de curta distância, que culmina com a cópula.

7.3.2 Uso de Feromônios na Agricultura

A busca por sistemas de produção sustentáveis com qualidade e segurança do


alimento, sem comprometer o ambiente é um desafio para todos os profissionais
ligados à agricultura. Entre os problemas encontrados para a viabilização desses
sistemas está a ocorrência de insetos-praga. Por não haver fatores naturais que

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Fundamentos em Entomologia | página 58

reduzam a população de muitas pragas abaixo dos níveis de controle, a utilização


de inseticidas de amplo espectro ainda predomina na grande maioria das regiões
agrícolas. No entanto, cresce a preocupação entre técnicos e produtores em
racionalizar ou substituir o uso desses insumos, haja vista as diversas restrições
de uso impostas pelo mercado consumidor e a perda de eficácia devido à seleção
de populações resistentes. Uma das alternativas para o manejo de insetos-praga
é o controle por comportamento pelo uso de feromônios sexuais, que possibilita
interferir na comunicação normal dos insetos. Essa estratégia, embora seja
comum em muitos países com aptidão agrícola, é relativamente nova no Brasil,
apresentando possibilidades crescentes. A tecnologia pode ser usada para
diminuir o uso de agrotóxicos, sendo também, uma ferramenta segura para a
produção de alimentos sem agredir o ambiente e ocasionar riscos aos produtores
e consumidores.

7.3.3 Aplicabilidade dos Feromônios Sexuais no Manejo de


Insetos-Praga

Existem diferentes possibilidades de utilização dos feromônios na agricultura,


levando-se em consideração, o inseto alvo, a cultura e as características químicas
e físicas dos compostos químicos envolvidos. As pesquisas com feromônios
sexuais produzidos por insetos seguem duas direções: uma tem por objetivo atrair
os insetos para a fonte emissora de feromônio e a outra busca interromper ou
dificultar a sua localização. No primeiro caso, os feromônios são utilizados para o
monitoramento populacional ou para a coleta massal de indivíduos. No segundo,
visa impedir o encontro entre machos e fêmeas, consistindo na técnica
denominada “interrupção de acasalamento”.

7.4 Monitoramento com Feromônios

O monitoramento consiste num acompanhamento regular da população de um


inseto-praga, por meio de armadilhas contendo o feromônio sintético ou o sexo
emissor aprisionado em gaiolas numa área conhecida. Nas décadas de 1950 e
1960, principalmente nos EUA e na Europa, os focos de infestação e a densidade
populacional de pragas agrícolas e florestais eram estimados por meio de
armadilhas contendo fêmeas virgens. As armadilhas foram instaladas uma
semana antes da emergência da fase adulta dos insetos e vistoriadas a cada dois
dias. Os machos capturados eram contados e eliminados, enquanto as fêmeas
virgens eram substituídas por outras recentemente emergidas. Com o advento de
técnicas para síntese de compostos químicos, novas formas de utilização de
feromônios na agricultura vêm sendo utilizadas, com destaque para o uso de
septos de borracha impregnados com feromônios sintetizados em laboratório. Por

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Fundamentos em Entomologia | página 59

ter uma liberação controlada e constante do feromônio, esses dispersores têm


sido empregados em armadilhas para o monitoramento das pragas.

A partir do uso de um sistema de monitoramento com feromônios, é possível: 1)


detectar a presença de uma praga específica; 2) acompanhar os níveis
populacionais estimados e a distribuição da praga no cultivo e, 3) Conferir se
existe a necessidade de adotar medidas de controle, a fim de se evitar ou reduzir
os danos.

A utilização desta estratégia torna o controle da praga mais econômico e efetivo,


racionalizando as pulverizações e preservando os inimigos naturais no
agroecossistema. As armadilhas de feromônio sexual promovem capturas
seletivas, são de baixo custo e capazes de detectar a espécie-praga, mesmo
quando incide em baixa infestação. Essas armadilhas têm vantagens quando
comparadas às armadilhas luminosas e àquelas que usam atrativos, as quais
apresentam inconvenientes de não serem seletivas e de terem necessidade de
água, energia ou de outros complementos para seu perfeito funcionamento.

Programas de monitoramento com feromônios têm sido utilizados para o manejo


de pragas, alguns com eficiência comprovada e outros em fase de
aprimoramento. No Brasil, as tecnologias baseadas no uso de feromônios já
resultaram em mais de 18 produtos registrados e outros em fase de registro. A
aplicação dessas tecnologias está em expansão para o controle de insetos-praga
em frutíferas, plantas de lavoura e hortícolas. Dentre essas destacam-se:
mariposa oriental G. molesta, lagarta-enroladeira (Bonagota salubricola
(Lepidoptera: Tortricidae), mosca-do-mediterrâneo C. capitata, bicho-furão
(Gymnandrosoma aurantianum Lima (Lepidoptera: Tortricidae)), lagarta-do-
cartucho S. frugiperda, bicudo-do-algodoeiro Anthonomus grandis Boheman
Coleoptera: Curculionidae) lagarta-rosada-do-algodão Pectinophora gossypiella
(Saunders) (Lepidoptera: Gelechiidae)), lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis
includens (Walker) (Lepidoptera: Noctuidae), traça-do-tomateiro Tuta absoluta
(Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), entre outras.

7.5 Coleta Massal

A coleta massiva utilizando feromônios sexuais é uma forma de controle pela qual
utiliza-se grande número de armadilhas iscadas com atrativo sintético no intuito
de atrair e capturar os insetos, eliminando o maior número de machos da espécie-
praga antes do acasalamento. Esta prática permite reduzir progressivamente a
densidade da população ao longo do tempo. Quando efetiva, a coleta em massa
elimina o uso de inseticidas, trazendo benefícios econômicos e ambientais. Porém,

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Fundamentos em Entomologia | página 60

quanto maior a população de insetos e maior a área cultivada, menor é a eficácia


deste método.

Para uma redução significativa da população é necessário que: a) os atrativos


apresentem eficiência equivalente ou superior aos das fêmeas virgens da espécie;
b) as armadilhas sejam altamente eficientes no recrutamento e captura dos
machos; c) os atrativos sejam distribuídos em uma grande densidade de
armadilhas por área; d) a densidade populacional da praga-alvo esteja a um nível
que o atrativo possa competir de forma eficaz.

Quando se observa uma alta a densidade populacional da espécie-praga, a


possibilidade de encontro casual entre os sexos aumenta as chances de
acasalamento, o que diminui a eficiência da técnica de captura massiva, mesmo
que uma alta porcentagem da população de machos seja eliminada (>90%). Os
principais sucessos com a utilização de captura massal com feromônios estão
sendo obtidos em cultivos florestais e no manejo de pragas de produtos
armazenados. Falhas no controle foram registradas na horticultura e fruticultura,
provavelmente relacionadas a presença de altas densidades populacionais nestes
cultivos, o que dificulta consideravelmente o emprego desta técnica.

7.6 Confusão Sexual

A confusão sexual, também chamada de confundimento, interrupção ou


disrupção de acasalamento. Essa técnica envolve todos os processos que
interferem ou impedem a transmissão química ou olfativa entre os parceiros
sexuais. Como os insetos utilizam pequenas quantidades de feromônio para
comunicação sexual, esta pode ser interrompida pelo uso de grandes quantidades
de feromônio no habitat do inseto-praga. Assim, a aplicação dos emissores de
feromônio deve ser preventiva, visando impedir o acasalamento dos adultos.

É importante ressaltar que a técnica de confusão sexual ou disrupção de


acasalamento não apresenta efeitos sobre os insetos já acasalados ou seus
descendentes, no caso, ovos e formas jovens (lagartas). Dessa forma, pode
ocorrer deslocamento de fêmeas fecundadas de áreas vizinhas provenientes de
hospedeiros que permitam a reprodução e o desenvolvimento do inseto-praga
(exemplo: pomares de fundo de quintal e/ou frutíferas abandonadas e vizinhos que
não utilizam a técnica).

Alguns critérios são exigidos para a correta utilização da técnica de disrupção do


acasalamento, como conhecimento do histórico da área, incidência e índices
populacionais da praga, momento de aplicação (na detecção da praga), dose
correta do feromônio e necessidade de reaplicação.

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Fundamentos em Entomologia | página 61

O uso de feromônios associados a programas de manejo integrado de pragas


(MIP) vem se tornando um modelo estratégico bastante eficaz no controle de
insetos nos mais variados cultivos. Neste cenário, destacam-se os trabalhos
utilizando feromônios sexuais. Devido à simplicidade na aplicação e especificidade
no alvo de controle, a utilização de feromônios apresenta-se como uma medida
alternativa e promissora no combate às pragas agrícolas.

Leitura complementar

ARIOLI, C.J. et al. Feromônios sexuais no manejo de insetos-


praga na fruticultura de clima temperado. Florianópolis:
EPAGRI, 2013. 58p. (EPAGRI. Boletim Técnico, 159).

BALDIN, E. L. L.; VENDRAMIM, J. D.; LOURENÇÃO, A. L.


Resistência de plantas a insetos: fundamentos e aplicações.
FEALQ, Piracicaba, SP, Brazil, 2019, 493p.

EL-GHANY, N. M. A. Semiochemicals for controlling insect


pests. Journal of Plant Protection Research, v. 59, n. 1, p. 1-
11, 2019.

PICANÇO, M. Manejo integrado de pragas. Viçosa, MG: UFV,


2010, 146p.

VILELA, E. F.; DELLA LUCIA, T. M. C. Introdução aos


semioquímicos e terminologia. IN: VILELA, E. F.; DELLA
LUCIA, T. (Ed.). Feromônios de insetos: biologia, química e
emprego no manejo de pragas. 2. ed. Ribeirão Preto: Holos,
p. 9-12, 2001.

VILELA, E. F.; DELLA LUCIA, T. M. C. Feromônios de insetos:


biologia, química e emprego no manejo de pragas. 2. ed.
Ribeirão Preto: Holos, 2001. 206p.

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Capítulo 8 Fundamentos em Entomologia | página 62

Amostragem de Pragas
8.1 Avaliação do Agroecossistema

Neste componente procuramos desenvolver atividades de identificação simples e


correta das pragas chaves, pragas ocasionais e inimigos naturais-chave.

8.1.1. Planos de Amostragem

A amostragem é realizada para verificar-se o nível das populações de pragas e


dos inimigos naturais nas lavouras. A amostragem deve ser representativa da
realidade, barata, rápida (deve-se gastar no máximo uma hora/talhão), de fácil
obtenção (o agricultor deve executá-la facilmente) e barata (não deve representar
aumento significativo no custo de produção). Para geração de planos de
amostragem é necessário estudos intensos em campos de cultivo (lavouras
comerciais) para se obter a forma mais adequada de amostragem.

Existem dois tipos de planos de amostragem: os convencionais e os sequenciais.


Os planos amostragem convencionais são mais simples e adequados para
usuários iniciais. Já os planos de amostragem sequenciais são mais complexos,
portanto mais adequados para usuários mais tecnificados, com maior
conhecimento sobre a praga e que já empregam planos convencionais de
amostragem.

a) Plano de amostragem convencional

O plano convencional é executado por dois grupos de pessoas: os pragueiros e


os monitores. Os pragueiros normalmente formam duplas (um anotador e um
avaliador) e eles são responsáveis pela avaliação das intensidades de ataque das
pragas e densidades de inimigos naturais nos talhões. Já os monitores são
responsáveis pelo processamento dos dados coletados pelos pragueiros
calculando a intensidade média de ataque das pragas nos talhões como também
as densidades de inimigos naturais. O monitor decidirá em que talhões é
necessário a realização de medidas artificiais de controle. Também o monitor é
responsável pela fiscalização do trabalho dos pragueiros.

Os componentes de um plano de amostragem convencional de amostragem são:

i. Dividir a área em talhões: Mesmo genótipo, idade, espaçamento, sistema de


condução, tipo de solo e topografia;

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Fundamentos em Entomologia | página 63

ii. Tipo de caminhamento: O caminhamento representa a forma de deslocamento


para se fazer a amostragem (em U; C; X; Z; zigue-zague; em pontos etc)

iii. Amostras: as amostras representam a unidade de avaliação da praga ou


inimigo natural.

iv. Pode ser uma área de avaliação, uma planta ou parte da planta (caule, folha,
fruto, flor, etc.).

v. Técnica de Amostragem: é a forma de obtenção das amostras, estas podem


ser por:- Contagem direta da população do inseto. - Uso de aparatos como
armadilhas, bandejas, pano de batida, lupa, etc.

vi. Número de amostras/talhão: Nos planos convencionais de amostragem é fixo


o número de amostras/talhão.

vii. Época e Frequência de Amostragem: A amostragem deve ser realizada com


maior frequência em períodos de maior incidência das pragas e de maior
suscetibilidade da cultura. Geralmente em culturas anuais, hortaliças e
ornamentais as amostragens são realizadas semanalmente. Já em culturas
perenes as Amostragens são realizadas quinzenalmente em períodos de
maiores incidências da praga e mensalmente em períodos de menor
incidência.

b) Plano sequencial de amostragem

O plano sequencial de amostragem é executado por apenas um grupo de pessoas


que no campo avaliam e tomam decisões de controle. Os planos sequenciais são
mais representativos de cada talhão e economizam de 50 a 70% do tempo, custo
e mão-de-obra. Entretanto, esse plano de amostragem requer usuários mais
tecnificados. O plano sequencial tem os mesmos componentes do plano
convencional com exceção ao número de amostras que é diferente em cada
talhão e a tomada de decisão que é por faixas de decisão (não controle, continuar
a amostragem ou execução de controle).

A seguir são relatadas particularidades dos planos sequenciais de amostragem:

i. O número de amostragem a ser realizado é variável de tal forma a garantir


uma boa precisão da amostragem.

ii. Para tanto, são confeccionadas tabelas que possuem três colunas: a primeira
contém o número de amostras, a segunda o limite inferior e na quarta coluna

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Fundamentos em Entomologia | página 64

o limite superior, sendo que estes dados já vêm anotados nesta tabela. Na
terceira são anotados de forma acumulativa os dados provenientes das
amostragens.

iii. Se a unidade amostral não está atacada pela praga ela recebe nota “0” e se
ela está atacada recebe nota “1”, sendo que estes dados são anotados de
forma acumulativa.

iv. Se a população da praga for menor ao valor do limite inferior, a decisão é de


não controlar a praga.

v. Se for maior ou igual ao limite superior, a decisão será a de controlar a praga.

vi. Se o valor for intermediário entre os limites inferior e superior, deve-se fazer
mais amostragens até que esta caia em uma das duas situações anteriores.

vii. Se na última linha da tabela o valor obtido das anotações acumulativas é ainda
intermediário aos limites inferior e superior, deve-se em um período próximo
reamostrar este talhão.

Leitura complementar

GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ,


2002. 920p.

NAKANO, O; Entomologia Econômica. Editora Produção


independente, 1 ed, São Paulo, 464p.

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9
Fundamentos em Entomologia | página 65
Capítulo

Princípios Gerais de Controle de Insetos


A ocorrência de pragas em plantas cultivadas tem sido considerada como evento
inerente ao processo produtivo. A partir do momento que o homem começou a
modificar o ambiente natural para aumentar a produção de alimentos,
imediatamente identificou um aumento na densidade populacional de insetos-
praga e outros problemas fitossanitários. Esse processo se deve à perfeição
intrínseca dos processos naturais que ocorrem no ecossistema. Ao passo que
introduzimos uma grande densidade de plantas em uma área de cultivo
(simplificação ambiental), observamos uma reação imediata da natureza
promovendo um aumento na população de plantas daninhas, insetos e doenças
para competir com as plantas cultivadas. Uma resposta da natureza procurando
voltar para o seu estado de equilíbrio e diversidade natural.

A intervenção antrópica para reduzir populações de insetos remonta o período de


2500 anos A.C, quando os sumérios começaram a utilizar o enxofre para reduzir
populações de insetos e ácaros que invadiam suas sementeiras. Os chineses
usavam arsênico misturado com água para controlar insetos nos cultivos de limão
e laranja. Fitofármacos originados em fontes naturais como o piretro retirado de
flores de Chrysanthemum sp. e extrato de nicotina retirado das folhas de tabaco
eram usados para o controle de diversas espécies de insetos. Além de compostos
e extratos, o homem já utilizou diversas técnicas rudimentares para a supressão
de insetos nos seus cultivos, táticas como mudança da época de semeadura,
inundação, e introdução de colônias de formigas predadoras para redução de
desfolhadores em pomares já foram utilizadas ao longo da história mais antiga da
agricultura. As preocupações com ataques de “pragas” sempre existiram na
história, desde que iniciou a domesticação de plantas e animais.

O período pós segunda guerra mundial foi de grande entusiasmo na luta contra
pragas e insetos vetores. Nesse período a indústria química estava apta a
descobrir e desenvolver novas moléculas químico-sintéticas. Não obstante, nessa
época todas as atenções foram voltadas para uso intensivo da mecanização,
adubos minerais de alta solubilidade e principalmente, o desenvolvimento de
inseticidas clorados e na sequência a síntese dos organossintéticos fosforados.
Naquele período, as descobertas de novas moléculas inseticidas praticamente
decretaram o abandono de outras técnicas de controle de pragas, especialmente
em países desenvolvidos.

Devido ao amplo espectro de ação, grande período residual e malefícios para a


fauna e flora, muitas dessas moléculas foram entrando em desuso. Em
contrapartida, nessas últimas décadas diversas tecnologias e estratégias de

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Fundamentos em Entomologia | página 66

manejo têm sido preconizadas, com destaque para o uso moléculas seletivas, a
proteção de organismos não-alvo, o uso de inimigos naturais e microrganismos,
agricultura de precisão, biotecnologia, bioengenharia e uso de feromônios, ambas
voltadas para a produção de forma mais sustentável.

9.1 Sistemas de Controle de Insetos

Sistema convencional

No sistema convencional de controle de pragas, geralmente são adotadas


medidas de controle embasadas na utilização de métodos químicos. Além disso,
independente de outros fatores, o controle é realizado no momento da detecção
da praga no cultivo. Em alguns casos, o controle é realizado mesmo na ausência
do inseto-praga (tratamento preventivo). Na grande maioria das vezes, esse
sistema é utilizado devido à falta de informações técnicas sobre manejo do inseto-
praga, desinformação de técnicos e à “cultura instituída” da utilização dos
produtos químico-sintéticos como principal ferramenta de controle. No longo
prazo, além de elevar os custos de produção, esse sistema contribui para o
aumento da resistência de insetos a inseticidas, poluição ambiental e problemas
relacionados à saúde dos agricultores e consumidores.

Sistema baseado no Manejo Integrado de Pragas (MIP)

É um sistema de controle de pragas que procura preservar e incrementar os


fatores de mortalidade natural, através do uso integrado dos métodos de
monitoramento de pragas e métodos de controle selecionados, com base em
parâmetros econômicos, ecológicos e sociais. O MIP foi desenvolvido sobre uma
matriz multidisciplinar (Biologia, entomologia, fisiologia vegetal, meteorologia,
ecologia, economia, estatística e outras). Envolve diferentes ferramentas de
controle, como manejo cultural, uso de variedades resistentes, agentes biológicos
(predadores, parasitoides, bactérias, fungos e vírus), extratos de plantas,
feromônios e controle químico. O emprego dessas técnicas, de forma planejada
e harmônica, é a base para a solidez de um programa de MIP, considerado
fundamental para a sustentabilidade das tecnologias atuais.

Sistemas agroecológicos e orgânicos


Para minimizar os impactos causados pelos insetos-praga, o sistema
agroecológico de produção utiliza o princípio da conservação e ampliação da
biodiversidade como base no desenvolvimento sustentável. São utilizadas
práticas agronômicas e ecológicas que visam minimizar a artificialização do
ambiente natural, melhorar a capacidade produtiva do solo e manter as plantas

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Fundamentos em Entomologia | página 67

nutricionalmente equilibradas. Assim, esse sistema garante a fitossanidade


preventiva, aumentando a resistência das plantas ao ataque de pragas.

No sistema agroecológico, uma série de princípios são utilizados para estudar,


analisar e delinear o ambiente agrícola, com a finalidade de minimizar os danos
causados por insetos fitófagos. Destaca-se, que o sistema agroecológico de
produção visa a manutenção da complexidade ambiental, uso do
etnoconhecimento na fitossanidade preventiva. Além disso, está baseado na
pequena propriedade, uso de mão-de-obra familiar seguindo princípios sociais e
ecológicos adaptados às condições locais.

O sistema orgânico de produção preconiza a não utilização de agrotóxicos para


o controle de pragas, bem como, uso de fertilizantes inorgânicos e alimentos
geneticamente modificados. Entretanto, diferentemente da agroecologia,
podemos encontrar sistemas de produção orgânica em monocultivo (ambiente
simplificado), bem como a produção comercial em grandes propriedades. Ambos
os sistemas utilizam métodos culturais, biológicos e mecânicos para controle de
insetos-praga em contraposição ao uso de materiais químico-sintéticos.
Entretanto, o sistema agroecológico sempre terá como base, a diversificação
ecológica e atenção voltada para as questões sociais.

9.2 Principais Métodos de Controle de Pragas

a) Controle Cultural

Os métodos de controle cultural estão baseados na adoção de boas práticas


agrícolas e se iniciam a partir das decisões sobre os cuidados necessários para
as plantações. A partir da ideia de que a prevenção é a melhor solução, contar
com uma lavoura saudável é fundamental para resistir ou tolerar o ataque de
pragas.

Diversas estratégias para combater as pragas são utilizadas no método cultural,


com destaque para: época de plantio e colheita, escolha de variedades mais
adaptadas e tolerantes, plantio de sementes e mudas selecionadas e sadias, bons
níveis de fertilidade do solo (para que as plantas tenham desenvolvimento
adequado e, naturalmente, estejam mais resistentes ao ataque de pragas), uso
de cobertura, pousio, rotação de culturas, policultivos, eliminação de restos
culturais infestados entre outros.

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b) Controle Biológico

O controle biológico consiste no emprego de um organismo (predador, parasita


ou patógeno) que ataca outro que esteja causando danos econômicos às lavouras
e demais agroecossistemas. Esse método pode ser considerado o componente
fundamental do equilíbrio da natureza, cuja essência se baseia no mecanismo da
densidade recíproca, que pode ser explicado da seguinte maneira: o aumento da
densidade populacional de um inseto-praga implica em maior quantidade de
alimento disponível aos seus inimigos naturais, cujas populações também
aumentam, provocando um decréscimo na densidade da praga e na
disponibilidade de alimento, o que acarretará uma queda dos níveis populacionais
destes inimigos naturais, permitindo que a população da praga se recupere e volte
a crescer.

Apesar de estar sendo utilizado desde os primórdios da agricultura, com o


aumento dos danos e o surgimento de populações de insetos-praga resistentes a
diversos agrotóxicos, técnicos e agricultores têm utilizado o controle biológico
como uma alternativa de controle com capacidade de manter a população de
pragas em níveis satisfatórios, ou seja, em níveis abaixo daqueles que causariam
danos econômicos.

Como vantagens da utilização do controle biológico podemos destacar: Proteção


da biodiversidade; especificidade; Ausência do período de carência entre a
aplicação das técnicas de controle biológico e a comercialização dos produtos
agrícolas; menor exposição do agricultor a produtos químicos (agrotóxicos);

Redução do nível de resíduos de agrotóxicos nos alimentos; sustentabilidade do


sistema agrícola. Por outro lado, o controle biológico também apresenta algumas
desvantagens como: Especificidade (em culturas que apresentam um complexo
muito grande de pragas importantes); requer planejamento e exige conhecimento
técnico para implementação; condições favoráveis para aplicação e/ou liberação;
tempo de prateleira (validade) e padronização de produtos biológicos.

c) Controle químico

Na agricultura, o controle químico é atualmente o método mais utilizado tanto por


pequenos, médios quanto grandes produtores. O controle químico de pragas é
considerado uma das descobertas que revolucionaram a agricultura
mundialmente, permitindo que maiores quantidades de alimentos fossem
produzidas em uma mesma área, ao mesmo tempo.

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Fundamentos em Entomologia | página 69

O controle químico consiste no uso e aplicação de substâncias químicas


(sintéticas ou de origem natural) que levem a supressão das populações de
organismos considerados pragas em áreas de cultivo. É uma importante
alternativa a ser utilizada na redução das infestações de insetos-pragas,
principalmente quando observados e utilizados procedimentos corretos de
manipulação e aplicação, os conceitos da seletividade aos inimigos naturais e do
manejo da resistência de insetos a inseticidas. Vale ressaltar que o controle
químico pode ser realizado com produtos de origem natural, como extratos de
plantas, fermentados, óleos essenciais etc.

Como vantagens da utilização do controle químico de insetos, podemos destacar:


Eficiência comprovada (quando utilizados de acordo com as especificações);
ação rápida; facilidade de uso e aplicação e armazenamento. Como pontos
negativos (moléculas sintéticas), destacam-se, os efeitos adversos sobre o ser
humano; resíduos nos alimentos, solos e recursos hídrico; efeitos adversos sobre
a fauna benéfica; alívio temporário na redução da densidade populacional da
praga; seleção de insetos resistentes entre outros. Por esses motivos, o controle
químico só deve ser utilizado quando a praga atingir níveis populacionais críticos
ou atingir dano que justifique o custo do tratamento e os riscos ao homem e ao
ambiente.

d) Controle comportamental

Trata-se da exploração de sinais químicos entre os seres vivos: feromônios,


armadilhas, plantas repelentes e semioquímicos. Dentre esses destaca-se o uso
de feromônios que podem interromper o acasalamento ao impedir que machos e
fêmeas se encontrem (confusão sexual) e realização de coleta massal com auxílio
de armadilhas. Além disso, feromônios podem ser utilizados na técnica “atrai-
mata”, onde um inseticida é associado a um feromônio e no momento que os
insetos entram em contato com essa fonte atrativa, acabam intoxicados. Assim, é
possível utilizar esse método como uma forma de prevenir a proliferação de
insetos e outras pragas em grandes quantidades, impactando diretamente na
forma como eles se reproduzem.

e) Métodos de controle físicos e mecânicos

O método de controle físico baseia-se na manipulação do ambiente ou na adoção


de barreiras físicas que impeçam a ação das pragas. Nesse método destacam-se
o uso do fogo (queima de restos culturais infestados); Drenagem ou inundação
(empregada em culturas irrigadas); uso da temperatura (tratamento térmico para
matar ou paralisar as atividades de determinados insetos); Atração por cores
(armadilhas coloridas); Luz (armadilhas luminosas) e sons (armadilhas sonoras).

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Fundamentos em Entomologia | página 70

O método de controle mecânico baseia-se em práticas que envolvem a utilização


de barreiras e/ou destruição direta dos insetos. Dentre esses destacam-se a
catação/remoção dos insetos, uso de barreiras (ensacamento de frutos, cachos
ou plantas) e uso de pós abrasivos;

f) Controle genético

O controle genético de pragas é um método preventivo que ainda não


amplamente utilizado, porém, apresenta um enorme potencial no combate às
pragas. O controle genético visa promover uma interferência no genoma de
insetos e outras pestes como meio de eliminar sua capacidade reprodutiva,
inviabilizando ou reduzindo as gerações subsequentes. Um ótimo exemplo é o uso
da técnica de inseto estéril ou macho esterilidade para supressão da população
de moscas-das-frutas (mosca-do-mediterrâneo).

g) Controle varietal

Trata-se da utilização de variedades transgênicas que expressam proteínas


inseticidas (Bt) para realizar o manejo eficiente da praga. A tecnologia Bt é uma
ferramenta muito importante para a realização do manejo integrado de pragas em
culturas de soja, milho, cana e algodão. Porém, para que seja eficaz, é necessário
considerar alguns pontos, como escolher híbridos e cultivares adaptados e
recomendados para a região e aplicar boas práticas agronômicas para manejo
das culturas Bt. O controle varietal apresenta algumas vantagens do ponto de
vista agronômico. Dentre elas destacam-se a facilidade de uso e o baixo impacto
ambiental.

h) Controle Legislativo

As medidas de controle legislativo são baseadas em leis, portarias e decretos


federais, estaduais ou mesmo municipais, que obrigam ao cumprimento de
determinadas medidas de controle. Normatizam a eliminação obrigatória de
lavouras improdutivas; implantação do monitoramento e inspeções de população
das pragas; fiscalização quanto à produção, trânsito de partes vegetais;
zoneamento de áreas livres de pragas; normatização de vazio sanitário e
restrições quarentenárias.

Por fim, a escolha e aplicação do método mais adequado de controle é


fundamental para garantir uma produção satisfatória. Todavia, a atenção deve
estar voltada para o planejamento inicial e o monitoramento constante das pragas
nos cultivos tornam-se essenciais para a detecção e identificação de possíveis

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Fundamentos em Entomologia | página 71

ameaças nos cultivos. A agricultura moderna conta com inúmeras possibilidades


para mitigar os danos causados pelos insetos, entretanto não existe uma
ferramenta perfeita que possa ser usada de forma isolada. Recomenda-se a
combinação de técnicas e estratégias para manter as populações de insetos em
níveis que não causem danos econômicos.

Leitura complementar
ALTIERI, M.; SILVA, E.N.; NICHOLLS, C.I. O papel da biodiversidade no
manejo de pragas. Ribeirão Preto: Holos, 2003. 226p.

DENT, D.; BINKS, R. H. Insect pest management. 3ed. Cabi, 2020, 363p.

FONTES, E.M.G.; VALADARES-INGLIS. Controle biológico de pragas da


agricultura. Brasilia: EMBRAPA, 2020. 514p. Disponivel em:
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/212490/1/CBdocum
ent.pdf.

GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920p.

NAKANO, O; Entomologia Econômica. Editora Produção independente, 1


ed, São Paulo, 464p.

PARRA, J.R.P. Biological Control in Brazil: an overview Sci. agric., v. 71,


n.5, 2014 Disponivel em https://doi.org/10.1590/0103-9016-2014-0167
PEDIGO, L. P. Entomology and pest management. MacMillan Pub. Co.,
New York, 1989, 646p.

PICANÇO, M. Manejo integrado de pragas. Viçosa, MG: UFV, 2010, 146p.

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10
Fundamentos em Entomologia | página 72
Capítulo

Manejo Integrado de Pragas


Em épocas remotas, o homem já utilizou diversas técnicas rudimentares para a
supressão de pragas nos seus cultivos. Táticas como mudança da época de
semeadura, inundação, uso de extratos botânicos e introdução de colônias de
formigas predadoras para redução de desfolhadores em pomares foram utilizadas
ao longo da história mais antiga da agricultura. O período em torno da segunda
guerra mundial foi de grande entusiasmo na luta contra pragas e vetores, devido
ao advento da indústria química com o descobrimento do efeito inseticida dos
organo-sintéticos clorados e fosforados. Isto praticamente decretou o abandono
de outras técnicas de controle de pragas, especialmente em países desenvolvidos
como Estados Unidos da América.

A alta eficiência aliada ao baixo custo e a fácil obtenção dessas moléculas foram
as causas do sucesso inicial do controle químico. Porém a euforia durou pouco.
Em 1946 iniciaram os primeiros relatos de resistência de pragas a esses
compostos destacando os casos de moscas domésticas, ácaros, lagartas
desfolhadoras no milho, pulgões e lagartas de hortícolas. Paralelamente surge o
problema de biomagnificação desses produtos altamente persistentes (aumento
da concentração de clorados proporcionalmente a sua posição na cadeia trófica
devido à afinidade aos tecidos gordurosos – lipossolubilidade). Em poucos anos o
uso de organoclorados levou muitos animais à ameaça de extinção. No início dos
anos 50 surge o termo “controle integrado” filosofia que tinha como objetivo
associar intervenções com produtos químicos e uso de inimigos naturais.

Em 1962 é lançado o livro “Primavera silenciosa” de autoria de Rachel Carson que


fazia um alerta contundente ao uso indiscriminado dos produtos químicos. No livro
Rachel enfatiza a diminuição do número de pássaros na primavera, bem como
trazia evidências sobre contaminação da água, do solo, plantas e animais.

Em 1967 baseado em ideias do uso conjunto de duas ou mais práticas de controle


de insetos-praga é lançado o conceito de Manejo integrado de pragas (MIP),
contrastando com sistema convencional de cultivo da época, baseado em
aplicações calendarizadas. O MIP propôs tolerância das injurias causadas por
insetos que ainda não representassem prejuízos econômicos ao agricultor, bem
como uso racional de agrotóxicos de forma a minimizar os efeitos colaterais ao
homem e ao meio ambiente.

Desta forma, o MIP é um conceito instituído pela comunidade científica na década


de 1960, para otimização do controle de pragas agrícolas (tais como insetos,
doenças e plantas daninhas). Esse conjunto de medidas surgiu na Califórnia,

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Estados Unidos, e, foi empregado inicialmente em culturas como soja, algodão e


citros. Na década de 1980, começou a ganhar destaque no Brasil.

10.1 Conceitos e Definições

A definição de MIP adotada por um painel organizado pela FAO enuncia: “Manejo
Integrado de Pragas é o sistema de manejo de pragas que associa o ambiente e
a dinâmica populacional da espécie, utiliza todas as técnicas apropriadas e
métodos de forma tão compatível quanto possível e mantém a população da praga
em níveis abaixo daqueles capazes de causar dano econômico”.

Características

O MIP é multidisciplinar, possui base ecológica (busca explicação do porquê


atingiu o NDE), preconiza a utilização simultânea de diferentes técnicas de
supressão populacional (agrotóxicos são a última opção)

Este Sistema foi desenvolvido sobre uma matriz multidisciplinar (Biologia,


Entomologia, Fisiologia vegetal, Meteorologia, Ecologia, Economia, Estatística e
outras). Ele envolve diferentes ferramentas de controle (Item 8.2) como manejo
cultural, plantas-iscas, cultivares tolerantes ao ataque, agentes biológicos
(predadores, parasitoides, microorganismos), feromônios, variedades
transgenicas com tecnologia Bt (resistentes a insetos), pesticidas sintéticos,
produtos botanicos e liberação de machos estéreis por exemplo. O emprego
dessas técnicas, de forma planejada e harmonica, é a base para a solidez de um
programa de MIP, considerado fundamental para a sustentabilidade das
tecnologias atuais.

O MIP pode ser considerado uma filosofia de controle de pragas que procura
preservar e incrementar os fatores de mortalidade natural, através do uso
integrado dos métodos de controle selecionados com base em parâmetros
econômicos, ecológicos e sociológicos. Nesse sistema, que associa o ambiente
da lavoura à dinâmica populacional de pragas, o produtor deve lançar mão das
boas práticas agronômicas para manter a quantidade de pragas em níveis abaixo
daqueles capazes de causar danos econômicos. Uma de suas principais
recomendações é o monitoramento das áreas para verificar a presença de
organismos nocivos, sua identificação, tamanho populacional e o nível de danos
já provocados nas plantas. Com uma amostragem dessa população, é possível
decidir sobre as melhores estratégias de controle a serem adotadas. O
monitoramento da plantação é atividade fundamental que não deve ser
negligenciada, tanto para pragas-alvo, quanto para as consideradas secundárias

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e para avaliar a presença de organismos beneficos. Essa avaliação in loco deve


ser realizada durante todo o ciclo da cultura. Sua principal função é determinar o
momento correto da aplicação de agrotoxicos e analisar se é necessário fazer
mais de uma aplicação ou alternar principios ativos com diferentes mecanismos
de ação. A adoção do MIP ajuda a evitar a calendarização das aplicações, que
pode gerar um desequilíbrio entre as pragas nocivas e os inimigos naturais, e
representar custos desnecessários e excessivos ao produtor. Também é crucial
para evitar ou retardar o desenvolvimento de pragas resistentes. Portanto, o MIP
busca manter o equilíbrio do ecossistema e minimizar os riscos ambientais.

10.2 Densidade Populacional de uma Determinada Praga

Para o controle de pragas em qualquer cultura é preciso que haja uma razão de
ordem econômica. Sabemos que muitas plantas produzem muito mais flores e
frutos na sua fase inicial de desenvolvimento do que na fase final. Isso é uma
garantia que a natureza oferece para a perpetuação das especies, selecionando
de certa maneira, os mais vigorosos. Assim, admite-se que a perda normal que a
planta sofre pode ser consumida pela praga sem pejuízo para o agricultor. Mas,
as pragas não se limitam a consumir apenas o que não é aproveitado, motivo pelo
qual surgem problemas relacionados a elas.

Para a tomada de decisão de controle, deve-se tomar decisões de controle


artificial baseado em índices: a população da praga é alta (acima do nível de dano
ou do nível de controle) e a população dos inimigos naturais é baixa (abaixo do
nível de não ação). Ou seja, avaliando a densidade populacional de uma praga
em função do tempo pode-se executar ou não medidas de controle. Portanto, vale
aqui relembrar o que é praga, como visto anteriomente: É uma espécie de inseto
que em curto espaço de tempo é capaz de multiplicar rapidamente e atingir um
nível populacional que causa dano econômico às culturas. Do ponto de vista do
MIP, um organismo só é considerado praga quando causa danos econômicos.

Os fundamentos, tanto do Controle Integrado como do Manejo Integrado de


Pragas, baseiam-se em quatro elementos: na exploração do controle natural, dos
níveis de tolerância das plantas aos danos causados pelas pragas, no
monitoramento das populações para tomadas de decisão e na biologia e ecologia
da cultura e de suas pragas. Estas premissas implicam no conhecimento dos
fatores naturais de mortalidade, nas definições das densidades populacionais ou
da quantidade de danos causados pelas espécies-alvo equivalentes aos níveis de
dano econômico (NDE) e de nível de controle (NC), que fica imediatamente abaixo
do NDE. Outra variável importante seria a determinação do nível de equilíbrio (NE)
das espécies que habitam o agroecossistema em questão. Em função da
flutuação da densidade da espécie-alvo e de sua posição relativa a esses três

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níveis (NE, NDE E NC) ao longo do tempo, as espécies podem ser classificadas
em pragas-chave (densidade populacional sempre acima do NDE), pragas
esporádicas (densidade na lavoura raramente atinge o NDE) e não-pragas (a
densidade da espécie em questão nunca atinge o NDE) (Figura 7). Mais
recentemente tem sido proposto também o nível de não-controle (NNC), ou seja,
a densidade populacional de uma ou mais espécies de inimigos naturais capaz de
reduzir a população da espécie -alvo a níveis não econômicos, dispensando
assim, a utilização de medidas de controle.

Figura 7: Densidade populacional de uma praga em função do tempo

Nível de equilibrio (NE): Representa a densidade média da população do inseto


durante um longo período na ausência de mudanças permanentes no ambiente.

Nível de Controle (NC): Representa a densidade populacional na qual medidas de


controle devem ser tomadas para evitar os prejuízos econômicos.

Nivel de dano economico (NDE): Representa a menor densidade populacional


capaz de causar perdas econômicas significativas ao agricultor. Corresponde a
densidade populacional do organismo praga na qual ele causa prejuízos de igual
valor ao custo de seu controle.

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10.3 Alicerces para a Decisão de Manejo

• Taxonomia: reconhecer o agente causador


• Amostragem: quantificar a densidade populacional
• Níveis de controle: estabelecer os níveis/ ter níveis bem definidos
• Fatores climáticos: acompanhar se favoráveis ou não à praga
• Mortalidade natural do agroecossistema: monitorar os inimigos naturais

10.4 Implementação de um Programa de MIP

Passo 1: Avaliação/ diagnose do ecossistema

- Definir pragas principais e perenes;


- Reconhecer os inimigos naturais da praga na cultura na região;
- Acompanhar a flutuação populacional (amostragem e monitoramento frequente);
- Acompanhar a fenologia da cultura;
- Verificar os efeitos do clima;

Passo 2: Tomada de decisão

- Tendência do crescimento populacional do inseto em relação aoNDE;


- Dano provocado pelo inseto;
- Perdas econômicas decorrentes do dano;
- Valor econômico da produção
- Custo das medidas de controle
- Processo dinâmico: varia conforme o valor da produção

Passo 3: Escolha do método de controle

Envolve conhecimento da biologia, fisiologia, comportamento e ecologia da praga


e seus inimigos naturais; conhecimento da fisiologia vegetal, condições
ambientais, legislação; programação para emprego das medidas de controle.

Na decisão do uso de métodos de controle (Item 8.2), deve-se levar em conta


aspectos ecológicos (Impactos ambientais); aspectos econômicos (eficiência e
custo de controle); Aspectos sociais (toxicidade e perigo durante a aplicação).

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10.5 Vantagens do Manejo Integrado de Pragas

O Manejo Integrado de Pragas possui uma série de vantagens econômicas e


ambientais que permitem um sistema de cultivo com alta produção e cuidado com
o meio ambiente:

• Com as técnicas integradas, é possível fazer o controle efetivo das pragas de


forma menos agressiva ao meio ambiente, abaixo de um nível que cause danos
econômicos à cultura;

• Economia de defensivos: A manutenção da população de insetos em níveis


controlados permite a economia de defensivos agrícolas e restringe suas
aplicações somente em casos de real necessidade.

• Proteção de moléculas: A criação de novos produtos e descobrimento de


novas moléculas é um dos maiores desafios da agricultura moderna. O uso
indiscriminado de fungicidas, herbicidas e inseticidas tem gerado doenças,
plantas daninhas e insetos cada vez mais resistentes e de difícil controle.
Dessa forma, realizar o MIP é uma das maneiras de preservar os produtos já
existentes ao realizar as aplicações com parcimônia e dentro dos parâmetros
que este manejo propõe.

• Proteção de cultivares: Seguindo a mesma linha das moléculas de defensivos,


as cultivares transgênicas também se beneficiam da adoção de práticas de
manejo integrado e da adoção de outro fator importante, que são as áreas de
refúgio. Estas práticas permitem que a tecnologia transgênica permaneça com
alta eficiência por mais tempo, evitando a seleção de insetos resistentes.

• Segurança alimentar: A redução do uso de defensivos é um dos pilares do


Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. A adoção de
estratégicas como o MIP são extremamente importantes para a produção de
alimentos com alto índice de segurança tanto para o trabalhador quanto ao
consumidor.

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Fundamentos em Entomologia | página 78

Leitura complementar

CARRANO-MOREIRA, A. F. Manejo integrado de pragas


florestais: fundamentos ecológicos, conceitos e táticas de
controle. Ed. 1, Technical Books Editora, 2014, 342p.

DENT, D.; BINKS, R. H. Insect pest management. 3ed. Cabi,


2020, 363p.

EHLER, L. E. Integrated pest management (IPM): definition,


historical development and implementation, and the other IPM.
Pest Management Science, v.62, n.9, p. 787–789, 2006.
Disponivel em https://onlinelibrary-
wiley.ez22.periodicos.capes.gov.br/doi/epdf/10.1002/ps.124
7

GULATI R. Eco-friendly management of Phytophagous mites.


In: Abrol DP (ed.) Integrated pest management: current
concepts and ecological perspective. Academic Press, USA,
2014, pp. 461-491.

KOGAN M. Integrated pest management: historical


perspectives and contemporary developments. Annual Review
of Entomology, v.43, n.1, p.243–270. 1998.
doi:10.1146/annurev.ento.43.1.243.

PARRA, J. R. P. Biological Control in Brazil: an overview.


Scientia Agricola, v,71, n.5, p. 345- 355, 2014.

PICANÇO, M. Manejo integrado de pragas. Viçosa, MG: UFV,


2010, 146p.

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Capítulo 11 Fundamentos em Entomologia | página 79

Literatura Consultada
ALMEIDA, L.M.; RIBEIRO-COSTA, C.S; MARINONI, L. Manual de Coleta,
Conservação, Montagem e Identificação de Insetos. Ribeirão Preto: Holos, 1998,
78p.

ALTIERI, M.; SILVA, E.N.; NICHOLLS, C.I. O papel da biodiversidade no manejo


de pragas. Ribeirão Preto: Holos, 2003. 226p.
ARIOLI, C.J. et al. Feromônios sexuais no manejo de insetos-praga na fruticultura
de clima temperado. Florianópolis: EPAGRI, 2013. 58p. (EPAGRI. Boletim
Técnico, 159).

BALDIN, E. L. L.; VENDRAMIM, J. D.; LOURENÇÃO, A. L. Resistência de plantas


a insetos: fundamentos e aplicações. FEALQ, Piracicaba, SP, Brazil, 2019, 493p.
BERTI FILHO, E.; MACEDO, L.P.M. Fundamentos de controle biológico de
insetos-praga. Natal: IFRN Editora, 2010. 108p.

BUZZI, Z.J. Entomologia Didática, Cutitiba: UFPR, 6.ed. 2013, 579p.


CARRANO-MOREIRA, A. F. Manejo integrado de pragas florestais: fundamentos
ecológicos, conceitos e táticas de controle. Ed. 1, Technical Books Editora, 2014,
342p.

CHAPMAN, R.F. The insects: structure and function. Mass. Harvard Univ. Press,
1982.

DENT, D.; BINKS, R. H. Insect pest management. 3ed. Cabi, 2020, 363p.
EL-GHANY, N. M. A. Semiochemicals for controlling insect pests. Journal of Plant
Protection Research, v. 59, n. 1, p. 1-11, 2019.

GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920p.


GULLAN PJ, CRANSTON PS. Insetos: fundamentos da entomologia. 5. ed. Rio de
Janeiro: Gen/Editora Roca; 2017, 912p.

GULATI R. Eco-friendly management of Phytophagous mites. In: Abrol DP (ed.)


Integrated pest management: current concepts and ecological perspective.
Academic Press, USA, 2014, pp. 461-491.

KOGAN, M. Integrated pest management: historical perspectives and


contemporary development. Annual Review of Entomology, n. 43, p. 243-270,
1998.

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NAKANO, O; Entomologia Econômica. Editora Produção independente, 1 ed, São


Paulo, 464p.

PEDIGO, L. P. Entomology and pest management. MacMillan Pub. Co., New York,
1989, 646p.

PICANÇO, M. Manejo integrado de pragas. Viçosa, MG: UFV, 2010, 146p.


RAFAEL, J.A.; MELO, G.A.R.; DE CARVALHO, C.J.B; CASARI, S.;
CONSTANTINO, R. (ed.) Insetos do Brasil: diversidade e taxonomia. Ribeirão
Preto: Holos, 2012, 810p.

VILELA, E. F.; DELLA LUCIA, T. M. C. Introdução aos semioquímicos e


terminologia. IN: VILELA, E. F.; DELLA LUCIA, T. (Ed.). Feromônios de insetos:
biologia, química e emprego no manejo de pragas. 2. ed. Ribeirão Preto: Holos, p.
9-12, 2001.

VILELA, E. F.; DELLA LUCIA, T. M. C. Feromônios de insetos: biologia, química e


emprego no manejo de pragas. 2. ed. Ribeirão Preto: Holos, 2001. 206p.

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