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A FÍSICA DAS ARMAS E DO TIRO

Apresentação: Durante os anos em que trabalhei como instrutor de armamento e tiro na


Polícia Militar da Bahia pude perceber o grande interesse dos alunos da Academia de Polícia
Militar e da Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Praças na compreensão dos principais
tópicos do conteúdo daquela importante disciplina mais a fundo, principalmente no tocante às
explicações dos fenômenos físicos atinentes aos projéteis, quanto às suas características
anatômicas, os efeitos verificados durante o seu vôo e impacto no alvo, e também quanto aos
processos mecânicos de funcionamento das armas de repetição, semi-automáticas e
automáticas. Anotei os principais questionamentos e neste artigo pretendo trazer as
explicações básicas atinentes a cada um deles, procurando tornar este texto útil como material
didático complementar a ser proposto na disciplina, sem ter, é claro, a pretensão de esgotar o
assunto. O trabalho foi produzido na forma de perguntas e respostas e cada conjunto de
questões foi organizado pela respectiva área de conhecimento da física.

Por: Alexnaldo Meneses de Castro Neves, 1º Ten PM, email: neves@pm.ba.gov.br


I - Energia Mecânica

1ª - Questão: Quando efetuamos disparos para cima, os chamados “tiros de advertência”


podemos estar colocando em risco a vida ou a integridade física das pessoas? Os projéteis ao
retornarem para a Terra possuem potencial letal?
Resposta:
O estudo dos lançamentos oblíquos nas proximidades da superfície da Terra, a noção de
energia mecânica e de força de resistência do ar nos dará o caminho necessário para esta
explicação.
Os disparos para cima devem ser evitados, vejamos o porquê:
Um corpo qualquer, que possua uma massa “m” e que se mova com uma determinada
velocidade “v” possui a energia de movimento, a energia viva, ou normalmente conhecida
como energia cinética “Ec”, matematicamente estabelecida na forma:
Ec = (m.v²)/2
Por outro lado qualquer corpo localizado dentro do campo gravitacional Terrestre adquire um
peso “P”, que é constante nas proximidades da Terra e é diretamente proporcional a massa
“m” do corpo e a intensidade do campo gravitacional “g”, escrito matematicamente na forma
P = m.g, que surge devido à ação da força
gravitacional exercida pela Terra sobre
corpo. O corpo também acumula energia
potencial gravitacional “Ep”, que é
diretamente proporcional a sua massa
“m”, a intensidade do campo gravitacional
“g” e a altura “h” relativa ao nível de
referência adotado. Matematicamente:
Ep = m.g.h
A energia total do corpo é denominada de
Energia Mecânica “E” e é dada pela soma
entre a energia cinética e a energia
potencial gravitacional: E = Ec + Ep
Pela lei da conservação da energia
podemos constatar que a energia mecânica
do corpo se conserva durante seu
movimento, ou seja, a soma Ec + Ep
sempre terá um valor constante, desde que
desprezemos a força de resistência do ar.
Ou seja, quando efetuamos o lançamento
de um corpo para cima podemos verificar
que à medida em que ele sobe começa a
ganhar cada vez mais altura “h”,
aumentando sua energia potencial gravitacional Ep, mas sobe perdendo velocidade vertical
“v” (movimento retardado), diminuindo assim sua energia cinética Ec. Se adotarmos como

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nível de referência à própria posição da arma de fogo podemos dizer que no momento do
disparo temos para o projétil a máxima energia cinética e a mínima energia potencial
gravitacional, por outro lado, quando o projétil alcança a altura máxima em relação ao nível de
referência adotado, momento em que ele deixa de subir e passa logo depois a descer, podemos
dizer que sua velocidade vertical de subida se anulou, ou seja, v = 0, tornando mínima a sua
energia cinética mas tornando máxima a sua energia potencial gravitacional, pois teremos aqui
a maior altura h. Na descida a situação se inverte. À medida que o corpo desce aumenta sua
velocidade no decorrer do tempo (movimento acelerado), devido à aceleração “g” provocada
pela gravidade terrestre, com isto a energia cinética passa a adquirir valores cada vez maiores,
enquanto que a energia potencial gravitacional passa a diminuir devido à perda da altura.
Teoricamente, quando o projétil alcançar novamente o mesmo nível de referência do qual foi
lançado, terá a mesma energia mecânica Emec de quando saiu pela boca do cano da arma,
possuindo assim a mesma capacidade letal, podendo perfurar facilmente, telhas, janelas,
vitrais ou mesmo chapas de veículos. Na figura fica claro que durante a subida o corpo
desloca-se no sentido contrário à força peso P, o que lhe confere uma taxa regular de redução
da velocidade, uma aceleração negativa, denominada de movimento retardado. Na descida por
sua vez o movimento do corpo tem o mesmo sentido da força peso P, o que lhe confere uma
taxa regular e positiva de aumento da velocidade, que se denomina de movimento acelerado.
Esta explicação baseia-se numa análise meramente teórica pois na realidade não podemos
desprezar a força de resistência do ar. Para que tenhamos uma idéia de sua importância vamos
considerar o caso das gotas de chuva. As gotas de chuva se formam numa altura média de
2km. Caindo desta altura, num campo gravitacional que lhe confere uma aceleração de
aproximadamente 10m/s², as gotas poderiam chegar à superfície com a velocidade de 200 m/s.
Nesta velocidade até as gotas de chuva poderiam provocar sérios danos materiais e lesões
físicas. Devido à resistência do ar isto não ocorre. Sobre esta força de resistência podemos
dizer que:
Quando um objeto desloca-se no ar, surge uma força de atrito que resiste ao movimento do
objeto e que é proporcional a sua área frontal “A”, ao seu coeficiente aerodinâmico “K” (que
depende do seu formato e da densidade do fluido), e ao quadrado de sua velocidade “V”. Matematicamente
temos:
Far = K.A.V²
Ou seja, quando um objeto se movimenta dentro da atmosfera terrestre surge nele uma força
resistiva, decorrente do atrito entre as partículas do ar e o seu corpo que denominamos de
Força de Resistência do Ar “Far”, que é sempre contrária ao sentido do deslocamento do
corpo.

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Na figura ao lado vemos o que ocorre na trajetória
descendente do projétil levando-se em consideração a força
de resistência do ar. Como podemos observar o projétil
inicia sua queda aumentando sua velocidade no decorrer do
tempo, o que pode ser visto pelo maior distanciamento
entre suas posições verticais sucessivas. Como a
velocidade do corpo vai crescendo a força de resistência do
ar também cresce, pois como vimos acima Far depende da
velocidade do corpo e é diretamente proporcional a ela. Em
dado momento a força peso P, que é responsável pela
queda do corpo, equilibra-se com a força de resistência do
ar Far, o que confere ao projétil a anulação de sua
aceleração.
Para compreendermos esta parte lembremos da 2ª lei do
movimento: Fr = m .a, onde “Fr” é a força resultante sobre
o corpo, “m” a sua massa e “a” a sua aceleração, como
“Fr” é o somatório vetorial de todas as forças que atuam no
corpo e neste caso temos que “P” e “Far” possuem a
mesma intensidade, mesma direção, mas sentidos contrários, teremos:
Fr = P + Far = 0, ou seja: 0 = m.a, como “m” é a massa do corpo e esta não pode fisicamente
ser nula, para que esta equação seja verdadeira teremos que ter a = 0, ou seja, o corpo não têm
aceleração, não aumenta nem diminui sua velocidade no decorrer do tempo, deslocando-se
com movimento uniforme, ou seja, com velocidade constante. A esta velocidade constante de
queda chamamos de velocidade terminal “Vt”.
Graficamente teríamos a curva V x t conforme indica a
figura ao lado. Podemos ver que inicialmente a
velocidade cresce com o tempo até um dado instante
“t”, em que surge a velocidade terminal “Vt”,
constante no tempo.
Este mesmo fenômeno também ocorre com o pára-
quedista. Em dado momento da queda o pára-quedista
abre o pára-quedas e a força de resistência do ar, que
também depende da área “A” do corpo em deslocamento, aumenta consideravelmente se
equilibrando com o peso do pára-quedista, ele então passa e fazer sua descida com uma
velocidade terminal constante e segura. No caso do projétil em queda esta velocidade terminal
é bem menor do que a que ele teria caso não houvesse a força de resistência do ar, o que reduz
muito o seu poder de perfuração, mas mesmo assim o projétil possuirá energia suficiente
para causar lesões físicas graves se atingir diretamente pessoas ou animais, desta forma,
como dissemos anteriormente, os tiros de advertência para cima devem ser evitados.

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2ª - Questão: Como ocorre o lançamento de projéteis em armas de fogo?
Resposta:
Antes necessitamos saber como é constituído o cartucho. Vejamos a figura abaixo:
Espoleta ou cápsula de
espoletamento (tipo “berdan”), na
qual existe a mistura iniciadora
que, após sofrer o choque
mecânico, provoca a combustão do
elemento propelente pela liberação
Cartucho de centelhas após o choque
completo mecânico do percussor. Existem
orifícios no local do encaixe da
espoleta para que as centelhas
adentrem na parte interna do estojo

Projétil, geralmente de chumbo, parte que é


lançada nos alvos (observar a existência de
substância lubrificante na cor abóbora, que
possui a finalidade de diminuir o atrito com o Estojo, contendo no seu
a alma do cano). interior a substância
Culote, saliência ou sulco combustível (pólvora) e a
existente na base, responsável comburente (ar)
pela fixação do cartucho na
câmara de combustão e auxilia
o processo de extração do
cartucho

Vejamos agora os processos físicos que ocorrem para o lançamento do projétil:


O percussor, uma fina barra cilíndrica de aço que é impulsionada pela mola recuperadora das
armas, realiza o choque mecânico na espoleta.
Neste processo o energia potencial elástica da mola é convertida em energia cinética no
percussor, que adquire grande velocidade e no momento do choque a sua energia cinética é
totalmente convertida em calor, vibração e deformação na espoleta. Na parte interior da
espoleta, a mistura iniciadora, geralmente uma espécie de nitrato, entra em ignição, jogando
suas centelhas para a parte interna do estojo, onde estão os ingredientes combustível, a
pólvora, e comburente, o ar. A pólvora, que detém uma grande quantidade de energia
potencial química, explode, liberando uma grande quantidade de gás em alta temperatura, o
que, no pequeno espaço volumétrico do interior do estojo, faz surgir uma enorme pressão. O
projétil, encaixado na parte frontal do estojo, recebe um poderoso impulso provindo da força
dos gases, adquirindo grande energia cinética é lançado para dentro do cano da arma,
percorrendo o trajeto retilíneo que lhe confere uma trajetória também retilínea após a sua saída
pela boca do cano. O estojo permanece na arma, apenas o projétil é lançado. Observamos
neste processo as diversas transformações das energias nos diferentes estágios.

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3ª - Questão: A velocidade dos projéteis para uso policial deve ser baixa em relação aos
projéteis usados em guerras. Como podemos medir a velocidade do vôo de projéteis
disparados por armas de fogo utilizando recursos mais simples do que os meios eletrônicos?
Resposta:
Através do pêndulo balístico, que passamos a descrever abaixo:

Nesta construção temos um bloco de


madeira cheio de areia afixada nas suas
quatro extremidades por fios
inextensíveis de mesmo tamanho a um
plano horizontal superior. O bloco
encontra-se perfeitamente nivelado com
a horizontal. Fixamos a arma numa
prensa mecânica localizada a
aproximadamente 5 metros do bloco
para aproveitarmos bem o alcance de
utilização da arma. (esta fixação é necessária para
que a trajetória seguida pelo projétil seja perfeitamente
paralela às paredes do bloco, evitando-se um torque no
sistema, o que acarretaria em erros).
O projétil, de massa “m”, percorre sua trajetória com velocidade “V1”, desconhecida, até
atingir frontalmente o bloco de massa “M”. Após a colisão o projétil penetra no bloco até uma
certa profundidade, sem transfixá-lo. O conjunto bloco+ projétil, com massa M’ = m+M,
desloca-se para a direita com velocidade desconhecida “V2” e atinge a altura “h”, medida.
A medida de h pode ser feita por diversos processos, como por exemplo à utilização de uma
fina haste metálica (o raio de uma jante de bicicleta, por exemplo) pressa entre os dois fios
traseiros do bloco, que durante o movimento do mesmo produza um fino risco em uma parede
paralela ao bloco e revestida com massa de modelar. Através do risco teremos a leitura direta
da altura. Veja o desenho abaixo:
Para determinarmos a velocidade de
escape do projétil na saída da boca do
cano da arma temos que utilizar duas leis
da física: a conservação da quantidade de
movimento e a conservação da energia
mecânica e considerar que o sistema seja
fechado, ou seja, não sofre a influência de
nenhum agente externo ou forças
dissipativas de um modo geral.
Pela lei de conservação da quantidade de
movimento afirmamos que a quantidade
total de movimento do sistema projétil /
bloco antes da colisão, que denominamos
de Qinicial, é igual à quantidade total de

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movimento do mesmo sistema após a colisão, que chamamos de Qfinal . Como a quantidade de
movimento é definida pela pelo produto entre a massa de a velocidade, teremos o seguinte:
Qinicial = m . V1 onde m é a massa do projétil e V1 sua velocidade. Antes da colisão apenas o
projétil têm velocidade. A quantidade de movimento do bloco é nula.
Qfinal = M’ . V2 e como M’ é m+M: Qfinal = (m+M) . V2
Como a velocidade V2 do conjunto projétil+bloco após o choque tem a mesma direção e
sentido da velocidade V1 podemos escrever diretamente: Qinicial = Qfinal o que nos dá:
m . V1 = (m+M) . V2 Isolando o termo que queremos calcular: V1 = [(m+M) . V2 ] / m
Com o bloco na posição de repouso, adotando-se como nível de referência à base da altura h
podemos dizer que energia potencial gravitacional é nula, temos apenas como energia
mecânica e energia cinética do conjunto no instante da colisão, que é dada por:
Ecin = M’. V2² / 2, ou:Ecin = (m+M). V2² / 2.
No ponto mais alto do deslocamento do sistema bloco+projétil, determinado pela altura h,
teremos como energia mecânica apenas a energia potencial gravitacional, pois o bloco deixa
de subir, anulando sua velocidade de subida. A energia potencial gravitacional é dada por Ep
= M’. g .h, ou melhor:
Ep = (m+M).g.h, onde g é a aceleração da gravidade local. Como a energia mecânica se
conserva, a energia mecânica total antes da colisão (apenas cinética) deve ser igual à energia
mecânica total depois da colisão (apenas potencial gravitacional), ou seja:
[(m+M). V2² / 2] = (m+M).g.h, cancelando o termo (m+M) membro a membro, teremos que:
V2² / 2 = g.h, ficando finalmente:

Substituindo este resultado na expressão anterior para V1 teremos o seguinte:


½
V1 = [(m+M) . (2.g.h) ] / m ou seja, como todos os valores desta equação são conhecidos ou
podem ser medidos, poderemos calcular o velocidade V1 do projétil, ao sair da boca do cano
da arma, com boa precisão, sem utilizarmos recursos tecnológicos sofisticados e caros.
Para ver uma aplicação prática desta equação consulte o anexo 2.

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4ª - Questão: Como podemos explicar o “coice” ou recuo produzido nas armas durante o
disparo?
Resposta:
Através do entendimento da conservação da quantidade de movimento ou momento linear que
ocorre no instante do disparo. Conforme vimos na questão acima, a quantidade total de
movimento em um sistema fechado deve se conservar, ou seja: Qinicial = Qfinal
Qinicial é a quantidade de movimento do sistema arma+projétil antes do disparo, que é nula pois
não existe nenhuma velocidade do projétil. Como a quantidade de movimento do sistema se
conserva a quantidade final Qfinal , depois do disparo, também deve ser nula. Como isso é
possível se existe a velocidade do projétil?
Não devemos esquecer que a quantidade de movimento é um ente físico vetorial, ou seja, para
ser perfeitamente determinado devemos saber sua intensidade, sua direção e o seu sentido,
então o sentido da velocidade do projétil deverá ser contrário ao sentido da velocidade da
arma. Se o projétil for lançado para a direita com velocidade V, a arma adquirirá velocidade
para a esquerda, representada por –v, (o sinal negativo mostra o sentido contrário) e adotamos
o v minúsculo para representar a velocidade da arma porque a mesma deve ser menor em
módulo do que a velocidade V do projétil, pois a arma têm uma massa bem maior.
Para ver uma aplicação prática deste conteúdo consulte o anexo 2.

5ª - Questão: A linha de visada é paralela à trajetória do projétil?


Resposta:
Só até o alcance de utilização, descrito pelo fabricante. Para tiros de longo alcance teremos
que utilizar o ajuste da alça de mira, também chamado de alcance de alça.
Alcance de alça- É o alcance registrado na alça de mira, presente nas armas que efetuam o
tiro a longas distâncias com boa precisão (rifles e fuzis), tem o objetivo de realizar a
compensação gravitacional na trajetória do projétil, que começa a sofrer a ação da força peso
“P” (provocando um trajetória descendente), deste modo, apesar de o atirador efetuar sua
visada de modo retilíneo, o cano da arma sofrerá pequena inclinação ascendente, realizando
um lançamento oblíquo, como demonstrado abaixo:

Ajuste de alça Trajetória do projétil

Linha de visada

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6ª - Questão: Como podemos explicar o “Stopping Power” ou poder de parada produzido no
momento do impacto do projétil no alvo? Porque os projéteis expansivos são mais eficientes?
Resposta:
A importância dos estudos acerca do “stopping power”, ou poder de parada, consiste na
necessidade de se estabelecer de modo coerente quais as armas, calibres e munições mais
adequadas para o uso policial, tendo em vista que, diferente do tiro realizado em guerras, o
tiro policial deve ser direcionado de modo inequívoco, atingindo apenas o oponente, sem
transfixá-lo, de forma a incapacitá-lo imediatamente para o combate, sem, no entanto,
produzir ferimento em inocentes, que, por ventura, se localizem nas proximidades, devido ao
efeito da transfixação ou através de ricochete. Observe abaixo os efeitos produzidos por
diferentes calibres e projéteis em um bloco de plastilina:

Orifício de saída
Orifício de Projétil Expansão Orifício
entrada interna: de
cavidade entrada
temporária

Como podemos ver acima, utilizando a munição de calibre .45 hollow point, obtivemos um
resultado mais satisfatório pois o projétil não transfixou o alvo, lhe transmitindo porém muito
mais energia no momento do impacto, o que pode ser visto claramente na expansão interna do
corpo atingido, que recebe o nome entre os peritos de cavidade temporária. Como podemos
explicar este efeito usando os conceitos da Física?
Utilizaremos para esta explicação o exemplo dos projéteis
jaquetados de ponta oca, como o visto à esquerda. Tais projéteis
de chumbo são “encapados” com uma fina lâmina de liga
metálica, o que lhe confere maior dureza e resistência à alta temperatura
dos gases decorrentes da explosão da pólvora.
Neste caso, quando ocorre o contato com o corpo humano, o projétil se
deforma devido à ação da pressão dos fluidos internos do corpo na sua
cavidade frontal, como mostra a figura ao lado.

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O projétil adquire o formato parecido ao de um cogumelo. Tal deformação causa o aumento
do diâmetro do projétil e conseqüentemente o aumento de sua área frontal. Neste instante
temos que lembrar do conceito físico de pressão:
A pressão exercida por um objeto numa superfície é diretamente proporcional à intensidade
da força de contato entre o objeto e a superfície e inversamente proporcional a área de
contato entre ambos. Matematicamente escrevemos P = F / A.
Conseqüentemente, com o aumento do diâmetro do projétil dentro do corpo, o mesmo passará
a exercer uma menor pressão, e conseqüentemente uma menor perfuração, sem no entanto
perder a força que lhe foi conferida pelo impulso da explosão dos gases decorrentes da queima
da pólvora. Com este novo formato o projétil passa também a ter um novo e maior coeficiente
aerodinâmico. Qual a conseqüência do maior coeficiente aerodinâmico? O projétil passará a
ter sobre ele uma maior força de resistência do fluido, o que também contribuirá para a
redução da sua penetração e aumento do seu poder de parada, o qualificando como mais
adequado para a utilização policial.
Um exemplo de projétil expansivo bastante eficiente é o modelo “black talon”, que quando se
expande dentro do corpo passa a ter a forma de uma flor em pétalas, abrindo suas garras
perfuro-cortantes, o que aumenta o seu poder letal. Veja sua imagem frontal e seu perfil na
figura abaixo:

Vistas de um projétil “black talon” expandido em meio aquoso (dentro de uma piscina).

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7ª - Questão: Como podemos explicar o funcionamento das armas automáticas e semi-
automáticas?
Resposta:
Vamos abordar os dois tipos de mecanismos mais usuais:
Ação dos gases sobre o ferrolho (ação direta): Neste processo, a expansão dos gases
decorrentes da explosão da pólvora impulsiona o projétil para frente e o estojo para trás,
obedecendo à conservação do momento linear. Este movimento do estojo é comunicado ao
ferrolho que também é recuado, e, desta forma, aciona o extrator, que ejetará o estojo vazio da
arma; o sistema de percussão, por sua vez, será novamente armado, e a mola recuperadora
pressionada impulsionará o ferrolho para frente, que por sua vez, colocará um novo cartucho
na câmara. Como exemplo de arma que utiliza este processo temos as pistolas semi-
automáticas e a submetralhadora Taurus MT-12 A. Este processo têm a vantagem ser muito
rápido, aumentando a velocidade teórica de tiro.

Os momentos do funcionamento estão descritos no diagrama abaixo:


Comunicação com o cão e Mola recuperadora 1º- Conjunto percussor/ferrolho. Momento da
mecanismo de ejeção totalmente distendida percussão

2º-Projétil ganha energia cinética

2º-Expansão dos gases: o


projétil é lançado para a frente
e o estojo e ferrolho para trás.
Mola recuperadora
totalmente contraída:
3º-Ejeção do estojo pela ação
acúmulo de energia
do extrator e novo
potencial elástica para
engatilhamento. Após isso um
um próximo tiro.
novo cartucho é levado à
câmara.
Ação dos gases sobre o êmbolo(ação indireta): neste processo, após a deflagração, os gases
impulsionarão o projétil para frente, que iniciará o seu percurso dentro do cano da arma. Em
certo ponto do cano existe um pequeno orifício que se comunica ao receptáculo do êmbolo,
por onde parte dos gases decorrentes da explosão penetrarão e empurrarão o êmbolo para trás,
por sua vez, o êmbolo acionará o ferrolho, que, então, produzirá os processos de ejetar o
estojo vazio e com a ação da mola recuperadora colocar outro cartucho na câmara. Este
sistema foi desenvolvido com o principal objetivo de causar um retardamento mecânico no
funcionamento automático, com vistas a diminuir a velocidade teórica de tiro de armas que,
devido ou seu peso e dimensões, seriam de difícil controle se disparassem 600 tiros por
minuto, a exemplo do fuzil AK-47, que utiliza a potente munição cal 7,62 mm. O esboço
gráfico deste processo mecânico segue na página seguinte:

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Mola do êmbolo Válvula de ajuste de pressão (obturador do cilindro de
Êmbolo
gases)

Expansão dos gases


Comunicação com o ferrolho projétil

II - Momento angular

8ª - Questão: O que produz o movimento giratório dos projéteis e como isso influencia no
vôo e no impacto?
Resposta:
O movimento giratório é produzido pela passagem do projétil no raiamento da alma do cano,
que se constitui de trilhos paralelos e helicoidais que conferem ao projétil uma rotação em
torno do seu eixo longitudinal. Após adquirir este movimento o projétil ganha maior
estabilidade em seu vôo pois passa a agir a lei física da conservação do momento angular, que
passaremos abordar:
Quando um corpo passa a mover-se de modo giratório em torno de um de seus eixos de
rotação e passa a ter uma certa quantidade de movimento rotacional, denominado também de
momento angular. O momento angular “L” é dado pelo produto entre o momento de inércia
“I” de um corpo e sua velocidade angular ou rotacional “w”. Sobre o momento de inércia “I”
podemos dizer que é uma quantidade que nos informa sobre a distribuição da massa do corpo
em torno do eixo rotação considerado, assim, quanto mais distante do eixo de rotação estiver
distribuída à massa de um corpo maior será seu momento de inércia e conseqüentemente
maior será a sua dificuldade para girar. Matematicamente temos: L = I . w
Quando um corpo é posto para girar o seu momento angular tende a se conservar devido à
inércia (1ª lei do movimento), e desta forma a se estabilizar. Lembremos do movimento
exercido pelo pião, um brinquedo que é posto a girar e se mantém “em pé” por alguns
instantes. Se não fosse o atrito entre a ponta do pião e o solo e a ação das forças de resistência
do ar sobre o seu corpo ele não mais pararia de girar, manteria a sua estabilidade de
movimento, no entanto se tentarmos equilibrar um pião “em pé” sem antes colocarmos ele
para girar, simplesmente não conseguiremos.
Quando um projétil adquire o movimento de rotação em torno do seu eixo longitudinal nele
passa agir a lei da conservação do momento angular, o que confere maior estabilidade no seu

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vôo pois tenderá a manter a sua trajetória retilínea durante o seu percurso pelo ar, ou seja, fica
mais difícil desviá-lo do seu caminho por ações externas, como ventos laterais, por exemplo.
Além de ganhar estabilidade no vôo o movimento giratório também aumenta a eficiência
destrutiva no momento do impacto com o alvo pois o projétil estará mais energizado, ou seja,
terá além da energia cinética de translação dada pela expressão Ecin = (m.v²)/2 (conforme
analisamos na questão 1), a energia cinética de rotação “Ecin.rot”, dada pela expressão
Ecin.rot = (I. w²)/2, onde os termos I e w são os mesmos da expressão do momento angular
“L”, visto acima. Com isto a energia cinética total “Ecin.total” será dada por: Ecin.total =
[(m.v²)/2 ] + [(I. w²)/2]. Transferindo maior energia mecânica para o corpo do alvo, estaremos
produzindo lesões corporais mais eficazes, aumentando assim a possibilidade de incapacitar o
oponente.

III - Impulso

9ª - Questão: O que explica o fato de um mesmo tipo de cartucho que pode ser utilizado tanto
numa pistola quanto numa metralhadora atingir maior velocidade de vôo e maior alcance
quando disparado de uma metralhadora se o princípio de funcionamento é o mesmo?
Resposta:
O maior comprimento do cano das carabinas e metralhadoras em relação ao dos revólveres e
pistolas faz com que os gases decorrentes da explosão da pólvora exerçam sua força “F” sobre
o projétil por um caminho mais longo, e conseqüentemente por um maior tempo “t”. Com
isto, estaremos aumento o impulso “I” ( I = F.t ) sobre o projétil, o que lhe conferirá maior
variação da sua quantidade de movimento “‘Q”.
Devemos lembrar que o impulso “I” também determina a variação da quantidade de
movimento de um corpo, matematicamente: I = Q(final) – Q(inicial). , logo quanto maior I, maior
será a diferença entre as quantidades de movimento final e inicial.
Como a quantidade de movimento depende da massa “m” e da velocidade “v” do projétil (Q =
m.v) e seu valor inicial é zero, pois o projétil parte do repouso (v=o), a maior variação da
quantidade de movimento constitui-se no aumento da sua velocidade de escape, que é a
velocidade do projétil na saída da boca do cano.
Com uma maior velocidade de escape o projétil terá uma maior energia cinética “Ec”
[Ec= (m.v²)/2], o que lhe qualificará com maior energia no momento do impacto e também lhe
dará um maior alcance horizontal.

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Conclusão:

Visando atingir principalmente o público acadêmico militar, que na sua maioria estacionou o
seu conhecimento em física e matemática no nível médio este artigo busca evidenciar
principalmente os fatores qualitativos dos fenômenos estudados, com uma linguagem simples
e direta, procurando dar ao leitor o conhecimento básico que certamente será útil na sua
trajetória profissional, quer seja nas atividades docentes quer seja na confecção de relatórios
técnicos que compõem peças de feitos investigatórios que tenham em seu escopo apurar
situações envolvendo armas de fogo.

Bibliografia:

Curso de Física Básica – H. Moysés Nussenzveig, 3ª edição, Editora Edgard Blücher ltda.
Física 1- John P. Mc Kelvey e Howard Grotch, Editora Harbra.
Física 1- Mecânica da Partícula e dos Corpos Rígidos, Francis Sears, Mark W. Zemansky e
Huch D. Young, 2ª edição, editora LTC S.A.
Física 1 – David Halliday, Robert Resnick Kenneth S. Krane, 2ª edição, editora LTC S.A.
Física 1- Mecânica, GREF, Editora EDUSP, 7ª edição.
Física Clássica – Dinâmica, estática e hidrostática, Caio Sérgio Calçada e José Luiz Sampaio,
editora Atual.
Física Série Brasil, Alberto Gaspar, Ensino médio, volume único, editora Ática.
Os Fundamentos da Física – Física 1 – Mecânica – Francisco Ramalho Júnior, Nicolau
Gilberto Farraro e Paulo Antonio de Toledo Soares, 8ª edição, editora Moderna.
Física – Volume 1- Mecânica – Djalma Nunes Paraná, 5ª edição, editora Ática.
Universo da Física - vol 1 - Caio Sérgio Calçada e José Luiz Sampaio, editora Atual.
Curso de Física, vol 2, Antonio Máximo e Beatriz Alvarenga, editora Scipione.
Armas, Munições e Técnicas Policiais, Alexnaldo Meneses de Castro Neves, 1º Ten PMBA.

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ANEXO – 1

Definições Básicas

Arma de fogo- todo instrumento que lança projéteis devido à ação da pressão dos gases
decorrentes da explosão de um elemento propelente, geralmente a pólvora.
Ferrolho – parte do mecanismo das armas automáticas e semi-automáticas responsável pelo
processo de ejeção dos estojos deflagrados e recarregamento das armas com novos cartuchos.
Calibre- é o diâmetro interno do cano tomado entre dois cheios opostos. Para as armas de
alma lisa existe um critério curioso para o estabelecimento do calibre, sendo que neste caso
observa-se o número de esferas de chumbo que possuem o mesmo diâmetro interno da boca
do cano da arma que são necessários para juntas “pesarem” 1 libra (453,6 gramas), assim,
quando nos referimos, por exemplo, ao calibre 12, estamos dizendo que são necessárias doze
esferas de chumbo de diâmetro igual ao da alma do cano para se chegar ao “peso” de 1 libra.
Projétil- É o corpo maciço, geralmente de chumbo, que é lançado devido à expansão dos
gases decorrentes da deflagração do elemento propelente. Através dele, podemos ter a
informação do calibre real da arma em que foi ou será utilizado, como veremos mais adiante,
existem diversos tipos de projéteis, tendo cada um, de acordo com sua forma, um
comportamento diferenciado no momento do impacto.
Cartucho- É a peça que se constitui basicamente de estojo, espoleta e projétil, que é utilizada
para “alimentar” as armas de fogo.
Estojo - é o corpo cilíndrico que se constitui em um tubo com a base fechada, no qual são
afixados o projétil e a espoleta, estando dentro do mesmo o elemento propelente.
Espoleta - parte do cartucho que sofre a ação da percussão, acarretando pelo atrito a produção
de centelhas que se comunicam com o elemento propelente, causando a combustão. As
centelhas são produzidas por substâncias sensíveis ao atrito, como o nitrato de bário ou
fulminato de mercúrio.
Munição - é o termo que designa o conjunto de cartuchos que podem ser utilizados pela
mesma arma de calibre definido, existindo entre os mesmo diferenciações como a quantidade
e/ou qualidade do propelente ou o formato e constituição do seu projétil, assim podemos dizer
que existe uma grande variedade de cartuchos para a munição em calibre .38 polegadas.
Alma- É a parte interna do cano, que pode ser de parede lisa ou raiada.
Raias- São sulcos helicoidais paralelos e abertos na alma, os quais possuem a função de
transferir ao projétil um movimento giratório em torno do seu próprio eixo e com isto lhe
qualificar com maior estabilidade em sua trajetória pois lhe confere certa quantidade de
momento de inércia, bem como aumentando o seu poder vulnerante no momento do impacto
pois facilita a perfuração.
Cheios- São protuberâncias entre as raias, ou seja, são as partes mais elevadas que podem ser
vistas na alma do cano. Como conseqüência do atrito existente entre o projétil e parede interna
do cano surgem as micro-estrias, que são pequenos sulcos irregulares produzidos no corpo do
projétil em decorrência das imperfeições no gume das ferramentas que produziram o
raiamento. Testes experimentais já provaram a impossibilidade de existência de duas armas

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que produzam microestrias iguais, o que nos fornece portanto a "impressão digital" de cada
arma, fator importantíssimo na área da investigação criminal. Atualmente, já existem projéteis
que possuem revestimento em teflon que derretem devido ao calor produzido durante o atrito
na passagem do projétil pelo cano, evitando a formação das micro-estrias, existindo também
projéteis explosivos ou fragmentários que se desintegram no momento do impacto para,
assim, dificultarem ou mesmo impossibilitarem a identificação balística. Veja abaixo uma
figura que traz a vista de uma alma raiada.

Cheios
Raias
Alça de mira- Parte do aparelho de pontaria que fica mais próximo do olho do atirador no
momento da visada, constituindo-se em um entalhe ou circulo vazado por onde deve ser feito
o enquadramento com a massa de mira para a realização do tiro.
Massa de mira- Ponto fixo, na grande maioria das armas localizado no cano, que, depois de
alinhado a alça de mira, indica a direção do tiro.
Alça de mira Massa de
mira

Fuzil AR - 15

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Linha de visada – A linha de visada consiste no alinhamento entre o olho do atirador a alça, a
massa de mira e o alvo, para tanto, quando estivermos mirando não podemos focalizar dois
pontos distantes ao mesmo tempo com a mesma nitidez então devemos manter o foco nítido
na alça e massa, sendo que o alvo permanece pouco desfocalizado.

Massa de mira
Alcance de
utilização- é o
alcance que aproveita
melhores qualidades

Olho do Alça de mira em forma de entalhe: Alvo


atirador Enquadramento entre alça e massa de mira é
feito ajustando a mesma “quantidade de luz”
dos dois lados da massa de mira. Linha de visada

balísticas do projétil, aproveitando sua primeira trajetória (retilínea), neste caso a linha de mira
é paralela à linha da trajetória do tiro.
Alcance máximo- É o máximo alcance que pode chegar o projétil, sem considerar nenhuma
precisão. Para determiná-lo podemos verificar a equação cinemática do alcance máximo
horizontal de corpo lançados obliquamente nas proximidades da superfície da Terra, que é
dada por: A = (V².sen2ө)/g , onde “A” é o alcance máximo horizontal, “V” é a velocidade do
projétil no momento da saída do cano da arma, “ө” (teta) é o ângulo de inclinação da arma em
relação ao nível horizontal e “g” é a aceleração da gravidade local, que ao nível do mar vale
aproximadamente 9,8m/s/s. Conforme podemos observar na equação o melhor ângulo para
atingirmos o alcance máximo horizontal é aquele que torna a expressão “sen(2ө)”, o maior
possível, ou seja, 1, (lembremos que a função seno só pode variar no intervalo de -1 a 1), desta
forma, como o maior seno possível é o seno de 90º, o termo 2ө deve ser igual a 90º.
Equacionando: 2ө = 90º, o que dá: ө = 45º. Em suma, para atingirmos o alcance máximo de
um determinado projétil devemos efetuar o tiro inclinando a arma de 45º em relação ao solo
horizontal.
Velocidade teórica de tiro- Trata-se da velocidade de cadência de tiro, em regime
automático, que uma arma possui, numa determinada unidade de tempo, sem levar em
consideração as recargas, correção de incidentes ou outros manuseios, para melhor
entendimento vejamos o exemplo: vamos supor que dispomos de uma arma automática, e que
esta, por sua vez, tem um carregador de capacidade infinita, então, disparamos sem
interrupções, pelo tempo máximo de um minuto, após isso, fazemos a contagem dos estojos
deflagrados e então chegamos à conclusão de que a arma efetua 400 tiros por minuto.

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ANEXO 2

Aplicações práticas.
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Pêndulo balístico

Utilizando um pêndulo balístico calcule a velocidade de um projétil considere sua massa igual
a 20 gramas, ou 20.10-3 kg; a massa do bloco no valor de 3 kg e a altura h medida em 15 cm
ou 15.10-2 m. Adote para a aceleração da gravidade o valor de 9,8 m/s/s. ( lembre-se que
temos que converter todas as unidades para um mesmo sistema métrico, no caso adotamos o
Sistema Internacional).
Utilizando a expressão encontrada acima teremos:
½
V1 = [(20.10-3 + 3 ) . (2.9,8. 15.10-2) ] / 20.10-3 o que nós dá uma velocidade
aproximadamente de: V1 = 259 m/s.

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Recuo das armas após o tiro

Vamos considerar um caso prático, com valores que se aproximam da realidade:


Uma arma com massa de 4 kg dispara um projétil de 20 g com uma velocidade de 259 m/s.
determine a velocidade de recuo da arma.
Vamos considerar a seguinte legenda:
m = massa do projétil
M = massa da arma
Vi = velocidade do projétil antes do disparo
Vf = velocidade do projétil depois do disparo
vi = velocidade da arma antes do disparo
vf = velocidade da arma depois do disparo
Qi = quantidade total de movimento antes do disparo
Qf = quantidade total de movimento depois do disparo
Qi.arma = quantidade de movimento da arma antes do disparo
Qf.arma = quantidade de movimento da arma depois do disparo
Qi.projétil = quantidade de movimento do projétil antes do disparo
Qf.projétil = quantidade de movimento do projétil depois do disparo
Agora podemos escrever: Qi = Qi.arma + Qi.projétil, ou Qi = M.vi + m.Vi, e
Qf = Qf.arma + Qf.projétil, ou Qf = M.vf + m.Vf, como Qi = Qf, teremos:
M.vi + m.Vi = M.vf + m.Vf, como vi e Vi são iguais a zero: M.vf + m.Vf = 0, ou
M.vf = - m.Vf. Isolando o termo que queremos calcular: vf = -m.Vf / M. Substituindo pelos
valores dados, teremos: vf = - 20.10-3 . 259 / 4, o que dá aproximadamente: vf = -1,3 m/s.
É exatamente esta velocidade que a arma adquire para trás, produzindo em nosso corpo o que
vulgarmente se denomina de “coice”.

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