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Mecânica Clássica

Autor: Edson Sardella


Curso: Licenciatura e Bacharelado em Física
Data: Maio de 2021
Versão: Primeira
Mecânica Clássica
Edson Sardella

BAURU
MAIO DE 2021
© 2022 Edson Sardella, Bauru
Todos os Direitos Reservados.
Esta apostila pode ser distribuída livremente mediante permissão do autor.
edson.sardella@unesp.br
Ebook: Edson Sardella
Edição: Edson Sardella
Capa: Produzido por TikZ
Diagramação: Baseada no template ElegantLATEX
Sumário

1 Leis do Movimento de uma Partícula 1


1.1 As Leis de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Referenciais Inerciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Teorema do Trabalho-Energia Cinética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.4 Energia Potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.5 Forças Conservativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.6 Terceira Lei de Newton Revisitada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.7 Conservação da Energia Mecânica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.8 Momento Angular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2 Movimento Retilíneo 9
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2 Força Especificada por uma Função do Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3 Força Especificada por uma Função da Velocidade . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.4 Força Especificada por uma Função da Posição . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.5 O Oscilador Harmônico Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.6 Análise qualitativa do Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.7 Oscilador Harmônico Amortecido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.8 Oscilador Harmônico Forçado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Capítulo 2 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3 Movimento Curvilíneo 26
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.2 Coordenada Retangulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.3 Coordenadas Cilíndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.4 Coordenadas Esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.5 Projéteis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.6 Movimento de uma Partícula em um Campo Eletromagnético . . . . . . . . . . 32
3.7 Conservação do Momento Angular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.8 Equação da Órbita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.9 O Problema de Kepler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Capítulo 3 Problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Bibliografia 43
Capítulo 1 Leis do Movimento de uma Partícula

1.1 As Leis de Newton

Se todas as partes de um corpo em movimento sofrem o mesmo deslocamento em um


determinado intervalo de tempo, podemos considerar este corpo como um ponto material ou
partícula. Denotemos por r(𝑡) o vetor de posição da partícula em um determinado instante de
tempo 𝑡. A velocidade da partícula é definida por
𝑑r(𝑡)
v(𝑡) = , (1.1)
𝑑𝑡
e a aceleração por
𝑑v(𝑡)
a(𝑡) = . (1.2)
𝑑𝑡
O vetor velocidade sempre aponta no mesmo sentido do vetor deslocamento e é tangencial
à trajetória da partícula.
O movimento das partículas é descrito por três leis fundamentais primeiramente propostas
por Isaac Newton em 1687.
A primeira lei é enunciada como segue.
Lei 1.1. Primeira Lei de Newton
Uma partícula em repouso ou movimento a velocidade constante assim permanecerá a
menos que alguma força externa atue sobre esta partícula.

A segunda lei estabelece uma relação entre força e variação de velocidade, isto é, aceleração.
Ela é enunciada da seguinte forma.
Lei 1.2. Segunda
ei de Newton2aLei Se F é a resultante das forças que atua sobre uma partícula e a é sua
aceleração, então a lei afirma que
F = 𝑚a , (1.3)

onde 𝑚 é a massa da partícula.


A massa seria a resistência de uma partícula para coloca-la em movimento se estiver


inicialmente em repouso ou para detê-la se estiver em movimento.
Se 𝑚 for constante, a equação (1.3) pode ser escrita como
𝑑p
F= , (1.4)
𝑑𝑡
onde p = 𝑚v é o momento linear ou quantidade de movimento.
A segunda lei escrita desta forma pode sugerir que a primeira lei é um caso particular
da segunda. No entanto, a primeira lei tem status próprio pois é uma definição de referencial
inercial (ver Seção 1.2).
1.2 Referenciais Inerciais

Finalmente, a terceira lei pode ser expressa da seguinte forma.


Lei 1.3. Terceira Lei de Newton
Duas partículas exercem uma força sobre a outra de mesma intensidade e direção, porém
sentidos opostos. Além disso, a linha de ação das duas forças coincide com a linha reta
que une as duas partículas.

A este par de forças denominamos ação-reação. É importante observar que não há uma
relação de causa e efeito entre essas duas forças. Isto significa dizer que não se pode afirmar qual
força corresponde à ação e qual à reação.

1.2 Referenciais Inerciais

Seja r a posição de uma partícula em um certo sistema de referência 𝐴 e r0 a posição


da mesma partícula em um sistema de referência 𝐴 0 (ver Fig. 1.1). Assumiremos que 𝐴 e 𝐴 0
movem-se um em relação ao outro a uma velocidade constante V. Então

r = r0 + V𝑡 . (1.5)

y
y′

A
A′

r′
r
x′

R
x

Figura 1.1: O referencial 𝐴 0 move-se com relação a 𝐴 a uma velocidade V

Derivando com relação a 𝑡, temos que


𝑑r 𝑑r0
= +V, (1.6)
𝑑𝑡 𝑑𝑡
ou ainda
v = v0 + V , (1.7)

onde v = 𝑑r/𝑑𝑡 é a velocidade.

2
1.3 Teorema do Trabalho-Energia Cinética

Derivando pela segunda vez com relação a 𝑡 e considerando V constante, obtemos


𝑑v 𝑑v0
= ,
𝑑𝑡 𝑑𝑡
a = a0 . (1.8)

Multiplicando pela massa da partícula obtemos

F = F0 . (1.9)

Em outras palavras, a medida da força é a mesma nos referenciais 𝐴 e 𝐴 0. Tais referenciais


são ditos inerciais. Assim, a segunda lei de Newton é a mesma em todos os referenciais inerciais.
Isto é chamado de invariância de Galileu.

1.3 Teorema do Trabalho-Energia Cinética

A Mecânica tem duas formulações, uma em termos de força, e a outra em termos de uma
grandeza escalar chamada energia. Esta última formulação tem como base a definição de uma
grandeza chamada trabalho de uma força. Define-se o trabalho realizado por uma força F para
deslocar uma partícula de uma posição r1 até r2 por
ˆ r2
𝑊= F · 𝑑r , (1.10)
r1
onde 𝑊 deve ser entendido como uma integral de linha.
Combinando esta definição com a segunda lei de Newton (1.3), temos que
ˆ r2
𝑊 = 𝑚a · 𝑑r
r1
ˆ r2
𝑑v
= 𝑚 · 𝑑r
r1 𝑑𝑡
ˆ 𝑡2
𝑑v
= 𝑚 · v𝑑𝑡
𝑡1 𝑑𝑡
ˆ 𝑡2
𝑚 𝑑 (𝑣 2 )
= 𝑑𝑡
𝑡1 2 𝑑𝑡
1 2 1 2
= 𝑚𝑣 − 𝑚𝑣 , (1.11)
2 2 2 1
onde usamos a regra da cadeia para derivadas
𝑑 (𝑣 2 ) 𝑑 2
= (𝑣 + 𝑣 2𝑦 + 𝑣 2𝑧 )
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑥 !
2
𝑑 (𝑣 2𝑥 ) 𝑑𝑣 𝑥 𝑑 (𝑣 𝑦 ) 𝑑𝑣 𝑧 𝑑 (𝑣 2𝑧 ) 𝑑𝑣 𝑧
= + +
𝑑𝑣 𝑥 𝑑𝑡 𝑑𝑣 𝑦 𝑑𝑡 𝑑𝑣 𝑧 𝑑𝑡
 
𝑑𝑣 𝑥 𝑑𝑣 𝑧 𝑑𝑣 𝑧
= 2 𝑣𝑥 + 𝑣𝑧 + 𝑣𝑧
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡
𝑑v
= 2v · . (1.12)
𝑑𝑡
A quantidade
1 2
𝑇= 𝑚𝑣 , (1.13)
2

3
1.4 Energia Potencial

é conhecida como energia cinética. Assim, o trabalho realizado por uma força é igual à variação
da energia cinética,
𝑊 = Δ𝑇 . (1.14)

Esta equação é conhecida como teorema do trabalho-energia cinética. Podemos resumir


em forma de um teorema como segue.
Lei 1.4. Teorema do Trabalho-Energia Cinética
O trabalho realizado pela força resultante F sobre uma partícula de massa 𝑚 é igual à
variação de energia cinética entre dois pontos do espaço.

1.4 Energia Potencial

Definimos energia potencial de uma força F pela integral de linha


ˆ r
𝑈 (r) = − F · 𝑑r , (1.15)
r𝑠
onde r𝑠 é um ponto de referência escolhido arbitrariamente. A motivação para esta definição é
que ela nos conduz à conservação de uma quantidade escalar que discutiremos mais adiante.
Da equação (1.15) obtemos
ˆ r1 ˆ r2
−[𝑈 (r2 ) − 𝑈 (r1 )] = − F · 𝑑r + F · 𝑑r
r𝑠 r𝑠
ˆ r𝑠 ˆ r2
= F · 𝑑r + F · 𝑑r
r1 r𝑠
ˆ r2
= F · 𝑑r
r1
= 𝑊. (1.16)

Logo, o trabalho é o oposto da variação da energia potencial

𝑊 = −Δ𝑈 . (1.17)

Pelo teorema do trabalho-energia cinética (1.14), obtemos

Δ𝑈 + Δ𝑇 = 0 . (1.18)

À quantidade
𝐸 =𝑇 +𝑈 , (1.19)

damos o nome de energia mecânica, e, decorre de (1.18), que ela se conserva no tempo.

1.5 Forças Conservativas

Em geral, a integral de linha (1.10) pode depender do caminho que une os pontos 1 e 2.
No entanto, existem certos tipos de força onde esta integral é independente do caminho. A estas
forças dá-se o nome de forças conservativas. A equação (1.15) também pode ser escrita na forma

4
1.5 Forças Conservativas

diferencial como
𝑑𝑈 = −F · 𝑑r . (1.20)

Conhecendo-se F determinamos 𝑈 calculando-se uma integral de linha. A solução do


problema inverso é única e é dada por

F = −∇𝑈 . (1.21)

Para entender isto basta usar a regra da cadeia para derivadas parciais
𝜕𝑈 𝜕𝑈 𝜕𝑈
𝑑𝑈 = 𝑑𝑥 + 𝑑𝑦 + 𝑑𝑧
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
 
𝜕𝑈 𝜕𝑈 𝜕𝑈
= i +j +k · (i𝑑𝑥 + j𝑑𝑦 + k𝑑𝑧)
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
= ∇𝑈 · 𝑑r . (1.22)

Comparando-se as equações (1.20) e (1.22), obtemos a relação desejada (1.21).


De fato, a equação (1.21) satisfaz a definição de força conservativa pois,
ˆ r2
𝑊 = F · 𝑑r
r1
ˆ r2
= − ∇𝑈 · 𝑑r
r1
ˆ𝑈2
= − 𝑑𝑈
𝑈1
= −(𝑈2 − 𝑈1 ) , (1.23)

onde 𝑈𝑖 = 𝑈 (r𝑖 ). Se o percurso for fechado e se 𝑈 for uma função definida univocamente, então
𝑊 = 0. Uma forma alternativa de se entender isto é usando o teorema de Stokes num caminho
fechado 𝐶. Temos que
˛ ˛ ˆ
𝑊= F · 𝑑r = − ∇𝑈 · 𝑑r = ∇ × ∇𝑈 · n 𝑑𝑆 = 0 (1.24)
𝐶 𝐶 𝑆
pois o rotacional do gradiente de uma função escalar é identicamente nulo; 𝑆 é uma superfície
limitada por 𝐶 e n é um vetor unitário e normal à superfície em qualquer ponto.

C1 2

C2

Figura 1.2: Dois pontos do espaço conectados por dois caminhos distintos.

Um corolário deste resultado é o de que o trabalho realizado por uma força conservativa não
depende da trajetória seguida pela partícula. Pelo resultado acima, o trabalho realizado em um
percurso fechado é nulo. Seja 𝐶1 e 𝐶2 dois caminhos distintos que levam a partícula do ponto 1

5
1.6 Terceira Lei de Newton Revisitada

ao ponto 2 (ver Fig. 1.2). Assim, no percurso fechado temos que

𝑊 = 𝑊12,𝐶1 + 𝑊21,𝐶2 = 0 (1.25)

onde, por exemplo, 𝑊12,𝐶1 é o trabalho para deslocar a partícula de 1 a 2 através do caminho 𝐶1 .
Consequentemente 𝑊12,𝐶1 = −𝑊21,𝐶2 . Por outro lado,
ˆ r1
𝑊21,𝐶2 = F · 𝑑r
r2 ,𝐶2
ˆ r2
= − F · 𝑑r
r1 ,𝐶2
= −𝑊12,𝐶2 , (1.26)

ou seja, 𝑊12,𝐶1 = 𝑊12,𝐶2 .


Note que a energia potencial não é uma quantidade absoluta pois sempre pode-se adicionar
uma constante à função 𝑈 sem mudar a força F. Com base na equação (1.10), isto significa
dizer que a posição de referência r𝑠 pode ser escolhida arbitrariamente. Em outras palavras, a
descrição da dinâmica da partícula não depende da escolha do ponto de referência.

1.6 Terceira Lei de Newton Revisitada

Na argumentação que segue abaixo, tentaremos mostrar a plausibilidade da terceira lei


de Newton, mas não demonstra-la. Assumiremos que a energia potencial de um sistema de
partículas não depende de suas localizações mas sim de suas posições relativas, isto é, de suas
distâncias. Considere o caso simples de apenas duas partículas localizadas em r1 e r2 . Temos,

𝑈 = 𝑈 (|r1 − r2 |) . (1.27)

Usando regras de derivação, podemos facilmente mostrar que a força que uma partícula
exerce sobre a outra é dada por

F12 = ∇1𝑈 = −∇2𝑈 = −F21 . (1.28)

Esta é exatamente a afirmação da terceira lei de Newton; na equação acima os índices 1 e 2


referem-se às derivadas com relação às coordenadas (𝑥 1 , 𝑦 1 , 𝑧1 ) e (𝑥 2 , 𝑦 2 , 𝑧2 ) respectivamente.

1.7 Conservação da Energia Mecânica

Vimos anteriormente que a energia mecânica (1.19) é conservada se as forças que atuam
sobre uma partícula são conservativas. Iremos reconsiderar esta quantidade sobre um ponto de
vista mais geral de força não-conservativa e de energia potencial que depende explicitamente do
tempo. Temos
𝑑𝐸 𝑑𝑇 𝑑𝑈
= + . (1.29)
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡
Da definição de energia cinética (1.13), obtemos
𝑑𝑇 𝑑v
= 𝑚v · =F·v. (1.30)
𝑑𝑡 𝑑𝑡

6
1.8 Momento Angular

Para a energia potencial temos que


𝑑𝑈 (r(𝑡), 𝑡) 𝜕𝑈 𝑑𝑥 𝜕𝑈 𝑑𝑦 𝜕𝑈 𝑑𝑧 𝜕𝑈
= + + +
𝑑𝑡 𝜕𝑥 𝑑𝑡 𝜕𝑦 𝑑𝑡 𝜕𝑧 𝑑𝑡 𝜕𝑡
𝜕𝑈
= ∇𝑈 · v + . (1.31)
𝜕𝑡
Substituindo (1.30) e (1.31) em (1.29) encontramos
𝑑𝐸 𝜕𝑈
= (F + ∇𝑈) · v + (1.32)
𝑑𝑡 𝜕𝑡
Se a força total for conservativa, F = −∇𝑈 e a energia potencial não depender explicitamente do
tempo, então o lado direito da equação acima anula-se identicamente,
𝑑𝐸
=0, (1.33)
𝑑𝑡
logo 𝐸 é constante ao longo do tempo.
Supor agora que a resultante das forças pode ser separada em forças conservativas F𝐶 =
−∇𝑈 e não-conservativas f,
F = F𝐶 + f . (1.34)

Substituindo esta equação em (1.32) encontramos


𝑑𝐸 𝜕𝑈
=𝑃+ , (1.35)
𝑑𝑡 𝜕𝑡
onde 𝑃 = f · v é a potência da força f.

1.8 Momento Angular

Definimos momento angular relativo à origem de onde a posição r de uma partícula é


medida, por
L=r×p . (1.36)

Esta quantidade é importante para descrever o movimento orbital de uma partícula com
relação a algum ponto. Derivando a equação (1.36) com relação ao tempo, encontramos
𝑑L 𝑑r 𝑑p
= ×p+r×
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡
= v×p+r×F
= r×F, (1.37)

pois os vetores velocidade v e momento linear p possuem a mesma direção. Denominamos por
torque de uma força a quantidade da abaixo

N=r×F . (1.38)

Assim, podemos escrever


𝑑L
N= . (1.39)
𝑑𝑡
Esta é a segunda lei de Newton para o movimento orbital de uma partícula.

7
Capítulo 2 Movimento Retilíneo

2.1 Introdução

Quando uma partícula está sujeita a ação de uma força e move-se ao longo de uma reta, a
natureza vetorial da velocidade e da aceleração é irrelevante pois temos apenas dois sentidos para
estes vetores. Para um determinado tipo de força devemos resolver uma equação diferencial, a
qual, em alguns casos, podemos soluciona-la analiticamente e em outros somente por meio de
métodos numéricos. A seguir, consideraremos três casos distintos.

2.2 Força Especificada por uma Função do Tempo

Se a força é uma dada função do tempo 𝐹 (𝑡), pela segunda lei de Newton, 𝑎(𝑡) = 𝐹 (𝑡)/𝑚.
Integrando a equação da velocidade (1.1) e da aceleração, encontramos para a velocidade e para
a posição, respectivamente, ˆ 𝑡
𝑣(𝑡) = 𝑣 0 + 𝑎(𝑠) 𝑑𝑠 , (2.1)
𝑡0

ˆ 𝑡
𝑥(𝑡) = 𝑥 0 + 𝑣(𝑠) 𝑑𝑠 , (2.2)
𝑡0

onde 𝑥 0 e 𝑣 0 são as posição e velocidade iniciais em 𝑡 = 𝑡0 .

Exemplo 2.1
Considere uma partícula de massa 𝑚 sujeita a ação da força

𝐹 (𝑡) = 𝐹0 cos(𝜔𝑡) , (2.3)

onde 𝜔 é a frequência de oscilação da força externa e 𝐹0 sua intensidade máxima. Assumir


que no instante 𝑡 = 0, a partícula encontra-se em repouso em 𝑥 = 0. Resolva as equações de
movimento.
Solução: Usando as equações (2.1) e (2.2), obtemos
ˆ 𝑡
𝐹0
𝑣(𝑡) = cos(𝜔𝑠) 𝑑𝑠
0 𝑚
𝐹0
= − sin(𝜔𝑡) , (2.4)
𝑚𝜔
e,
ˆ 𝑡
𝐹0
𝑥(𝑡) = − sin(𝜔𝑠) 𝑑𝑠
0 𝑚𝜔
𝐹0
= [1 − cos(𝜔𝑡) . (2.5)
𝑚𝜔2
2.3 Força Especificada por uma Função da Velocidade

Note que no regime de tempo pequeno, 𝜔𝑡  1, cos(𝜔𝑡) ≈ 1 − (𝜔𝑡) 2 /2. Neste limite
 
1 𝐹0 2
𝑥(𝑡) = 𝑡 , (2.6)
2 𝑚
isto é, o movimento é uniformemente acelerado com aceleração 𝑎 = 𝐹0 /𝑚.

2.3 Força Especificada por uma Função da Velocidade

Frequentemente encontramos situações onde a partícula está sujeita a ação de uma força
de atrito que depende da velocidade. Por exemplo, uma partícula em queda livre, ou um barco
movendo-se sobre um fluido.
Pela segunda lei de Newton (1.3), podemos escrever
𝑑𝑣
𝑚 = 𝐹 (𝑣) , (2.7)
𝑑𝑡
a qual, na forma forma diferencial, também pode ser escrita como
1
𝑚 𝑑𝑣 = 𝑑𝑡 . (2.8)
𝐹 (𝑣)
Integrando ambos os lados da equação, vem que
ˆ 𝑣
1
𝑚 𝑑𝑢 = 𝑡 − 𝑡0 . (2.9)
𝑣0 𝐹 (𝑢)
O lado esquerdo desta equação depende de 𝑣. Invertendo a equação podemos obter 𝑣 como
uma função do tempo. Alternativamente podemos escrever
𝑑𝑣
𝑚𝑣 = 𝐹 (𝑣) . (2.10)
𝑑𝑥
Separando as variáveis e integrando obtemos
ˆ 𝑣
𝑢
𝑚 𝑑𝑢 = 𝑥 − 𝑥 0 , (2.11)
𝑣0 𝐹 (𝑢)
a qual permite-nos obter 𝑣 como função de 𝑥 e vice-versa.
Ilustremos esta situação através do do exemplo a seguir.

Exemplo 2.2
Considere uma partícula de massa 𝑚 em queda livre sujeita à resistência do ar. A queda é
amortecida por uma força
𝑓 (𝑣) = −𝑏𝑣 , (2.12)

onde 𝑏 é uma constante positiva que depende da forma do corpo em queda livre, mas não de sua
massa. O sinal menos indica que o sentido da força é contrário ao do movimento. Resolva as
equações de movimento.
Solução: O diagrama de corpo livre da partícula está ilustrado na Fig. 2.1. Levando em
conta a ação da gravidade, a força resultante é dada por

𝐹 (𝑣) = 𝑓 (𝑣) − 𝑚𝑔 = −𝑏𝑣 − 𝑚𝑔 , (2.13)

10
2.4 Força Especificada por uma Função da Posição

onde 𝑔 é a aceleração da gravidade local.

y
bv

•m

−mg
x
Figura 2.1: Uma partícula de massa 𝑚 em quela livre sob a ação da força peso e da resistência do ar.

Substituindo em (2.11), temos que


ˆ 𝑣
1
−𝑚 𝑑𝑢 = 𝑡 , (2.14)
0 𝑏𝑢 + 𝑚𝑔
onde adotamos a condição inicial 𝑣 0 = 0 em 𝑡0 = 0 (partícula largada do repouso). Uma simples
integração produz o resultado

𝑚𝑔  −𝑏𝑡/𝑚 
𝑣(𝑡) = 𝑒 −1 , (2.15)
𝑏
e substituindo a velocidade em (2.2), encontramos
𝑚2𝑔
 
𝑏𝑡 𝑏𝑡/𝑚
𝑦(𝑡) = 2 1 − −𝑒 . (2.16)
𝑏 𝑚
Imediatamente depois da partícula ser abandonada, 𝑏𝑡/𝑚  1. Então, 𝑒 −𝑏𝑡/𝑚 ≈ 1−(𝑏𝑡/𝑚)+
(𝑏𝑡/𝑚) 2 /2. Substituindo esta aproximação na última equação encontramos 𝑦(𝑡) = − 21 𝑔𝑡 2 .
Portanto, no início da queda o efeito da resistência do ar é pequeno. Consideremos a situação
inversa em que 𝑏𝑡/𝑚  1. Neste regime de tempo, o fator exponencial é muito pequeno e a
velocidade é praticamente constante, 𝑣 = − 𝑚𝑔
𝑏 . Esta velocidade é conhecida como velocidade
limite. Podemos determinar esta velocidade direto da força resultante (2.13) supondo 𝑑𝑣/𝑑𝑡 = 0,
isto é, 𝐹 (𝑣) = 0.

11
2.4 Força Especificada por uma Função da Posição

2.4 Força Especificada por uma Função da Posição

Para forças dependentes somente da posição, a segunda lei de Newton unidimensional pode
ser escrita como
𝑑𝑣
𝑚 = 𝐹 (𝑥) . (2.17)
𝑑𝑡
Usando a regra da cadeia, temos que
𝑑𝑣 𝑑𝑣 𝑑𝑥 𝑑𝑣
= = 𝑣 ;. (2.18)
𝑑𝑡 𝑑𝑥 𝑑𝑡 𝑑𝑥
Assim, podemos escrever
𝑑𝑣
𝑚𝑣 = 𝐹 (𝑥) , (2.19)
𝑑𝑥
que na forma diferencial pode ser reescrita na forma

𝑚𝑣𝑑𝑣 = 𝐹 (𝑥)𝑑𝑥 . (2.20)

Integrando esta equação, facilmente obtemos


ˆ 𝑥
𝑣 2 = 𝑣 20 + 2 𝑎(𝑤) 𝑑𝑤 , (2.21)
𝑥0
onde 𝑎(𝑥) = 𝐹 (𝑥)/𝑚. Esta equação é conhecida como equação de Torricelli.
O método descrito acima é útil para determinar a velocidade em função da posição. No
entanto, se desejarmos a velocidade e a posição em função do tempo, precisamos resolver
diretamente a equação diferencial (2.17), conforme veremos na Seção 2.5.

Exemplo 2.3
Uma partícula é lançada da superfície terrestre verticalmente para cima. A força gravita-
cional varia com o inverso da distância da partícula ao centro da Terra, 𝐹 (𝑥) = −𝑘/(𝑥 + 𝑅) 2 ,
onde 𝑘 é uma constante positiva, 𝑥 é a altura medida a partir da superfície terrestre, e 𝑅 é o raio
da Terra (ver Fig. 2.2). Determine a velocidade de lançamento para que a partícula alcance uma
altura igual a um quinto do raio da Terra. Desconsidere o movimento rotacional da Terra e a
resistência do ar.
Solução: A aceleração é dada por 𝑎(𝑥) = −𝑘/𝑚(𝑥 + 𝑅) 2 . Substituindo na equação de
Torricelli (2.21), podemos escrever
ˆ
2 2𝑘 𝑥 𝑑𝑤
𝑣 = 𝑣 20

𝑚 0 (𝑤 + 𝑅) 2
 
2 2𝑘 1 1
= 𝑣0 + − , (2.22)
𝑚 𝑥+𝑅 𝑅
de onde se obtém que s
2𝑘 𝑥
𝑣(𝑥) = 𝑣 20 − . (2.23)
𝑚𝑅 (𝑥 + 𝑅)

Ao atingir a altura máxima, a velocidade instantânea se anula. Assim, obtemos


s
2𝑘 𝑥
𝑣0 = . (2.24)
𝑚𝑅 (𝑥 + 𝑅)

12
2.5 O Oscilador Harmônico Simples
x

x
m

Figura 2.2: Uma partícula de massa 𝑚 lançada verticalmente para cima a partir da superfície da Terra.

Assim, para atingir a altura 𝑥 = 𝑅/5, a partícula deve lançada da superfície da Terra com
p
velocidade 𝑣 0 = 𝑘/3𝑚𝑅.
Pergunta: a velocidade inicial depende da massa da partícula?

2.5 O Oscilador Harmônico Simples

O oscilador harmônico simples é constituído de uma partícula de massa 𝑚 acoplada a uma


mola, que por sua vez é presa a uma superfície conforme ilustrado na Fig. 2.3. A mola exerce
sobre o bloco de massa 𝑚 uma força restauradora dada por

𝐹 (𝑥) = −𝑘𝑥 , (2.25)

onde 𝑘 é uma constante característica da mola.


Substituindo esta força na segunda lei de Newton
𝑑2𝑥
𝑚 = 𝐹 (𝑥) , (2.26)
𝑑𝑡 2
obtemos a seguinte equação diferencial de segunda ordem
𝑑2𝑥
𝑚 = −𝑘𝑥 . (2.27)
𝑑𝑡 2

k
m

Figura 2.3: Uma partícula de massa 𝑚 presa a uma mola de constante elástica 𝑘.

13
2.5 O Oscilador Harmônico Simples

Suponhamos soluções do tipo 𝑥(𝑡) = 𝑒 𝑝𝑡 . Substituindo na equação diferencial, encontramos


o seguinte polinômio característico

𝑚 𝑝2 + 𝑘 = 0 , (2.28)

cujas raízes são dadas por 𝑝 = ±𝑖𝜔0 , onde


r
𝑘
𝜔0 = (2.29)
𝑚
é a frequência natural de oscilação do sistema massa-mola e
r
2𝜋 𝑘
𝑇= = 2𝜋 (2.30)
𝜔0 𝑚
é o período.
Desta forma, temos duas soluções linearmente independentes da equação diferencial, 𝑒 ±𝑖 𝜔0 𝑡 .
A solução geral é obtida tomando-se uma combinação linear das duas soluções. Temos que,

𝑥(𝑡) = 𝐶1 𝑒 𝑖 𝜔0 𝑡 + 𝐶2 𝑒 −𝑖 𝜔0 𝑡
= 𝐶10 cos(𝜔0 𝑡) + 𝐶20 sin(𝜔0 𝑡) , (2.31)

onde 𝐶1 e 𝐶2 são duas constantes arbitrárias. Na passagem da primeira para a segunda linha
da equação acima usamos a fórmula de Euler, 𝑒 𝑖 𝜃 = cos 𝜃 + 𝑖 sin 𝜃. A equação acima pode ser
simplificada escrevendo-se as constantes 𝐶10 e 𝐶20 em termos de duas outras constantes

𝐶10 = 𝐴 cos 𝜙 , 𝐶20 = −𝐴 sin 𝜙 , (2.32)

Com efeito
𝑥(𝑡) = 𝐴 cos(𝜔0 𝑡 + 𝜙) , (2.33)

onde 𝐴 é a amplitude das oscilações e 𝜙 a fase.


A velocidade é obtida por meio de uma simples derivada,

𝑣(𝑡) = −𝐴𝜔0 sin(𝜔0 𝑡 + 𝜙) = 𝐴𝜔0 cos(𝜔0 𝑡 + 𝜙 + 𝜋/2) , (2.34)

As condições iniciais são especificadas pelas posição, 𝑥 0 , e velocidade, 𝑣 0 . Assim, devemos


expressar as constantes 𝐴 e 𝜙 em termos de (𝑥0 , 𝑣 0 ). Em 𝑡 = 0 temos,

𝑥 0 = 𝑥(0) = 𝐴 cos 𝜙 , 𝑣 0 = 𝑣(0) = −𝐴𝜔0 sin 𝜙 , (2.35)

cuja solução é dada por


s
2
  
𝑣0 𝑣0
𝐴= 𝑥 02
+ , 𝜙 = arctan − . (2.36)
𝜔0 𝜔0 𝑥 0
Uma forma alternativa de se determinar a posição em função do tempo para os casos em que
a força é especificada exclusivamente pela sua posição é integrar a equação da energia mecânica
(1.19). Assumiremos 𝐸 constante. Obviamente isto só é possível se 𝐹 (𝑥) for conservativa.
Temos que,
 2
1 2 1 𝑑𝑥
𝐸 = 𝑚𝑣 + 𝑈 (𝑥) = 𝑚 + 𝑈 (𝑥) . (2.37)
2 2 𝑑𝑡

14
2.6 Análise qualitativa do Movimento

ou ainda r
𝑑𝑥 2
= [𝐸 − 𝑈 (𝑥)] . (2.38)
𝑑𝑡 𝑚
Esta é uma equação diferencial de primeira ordem a qual pode ser resolvida separando as variáveis
𝑥 e 𝑡. Temos que r ˆ 𝑥
𝑚 1
p 𝑑𝑤 = 𝑡 − 𝑡0 . (2.39)
2 𝑥0 [𝐸 − 𝑈 (𝑤)]
Note que a solução de um problema mecânico, via segunda lei de Newton, é inteiramente
determinado pelas condições iniciais (𝑥0 , 𝑣 0 ). No entanto, se usarmos o método alternativo de
integração da energia mecânica, a solução é determinada pelas constantes (𝑥0 , 𝐸).
Como um exemplo consideremos o oscilador harmônico simples novamente. É fácil mostrar
que a energia potencial associada à força elástica (2.25) é dada por
1
𝑈 (𝑥) = 𝑘𝑥 2 . (2.40)
2
Substituindo em (2.39), temos que
r ˆ 𝑥
𝑚 1
2 𝑥0
q  𝑑𝑤 = 𝑡 − 𝑡0 . (2.41)
𝐸 − 12 𝑘𝑤 2
p p
Por meio da mudança de variável 𝑤 = 2𝐸/𝑘 𝑟 = 𝑟/𝑞, onde 𝑞 = 𝑘/2𝐸 podemos escrever
ˆ 𝑞𝑥
1
√ 𝑑𝑟 = 𝜔𝑡 , (2.42)
𝑞 𝑥0 1 − 𝑟2
onde adotamos 𝑡0 = 0. A integral do lado esquerdo da equação resulta em arcsin 𝑟. Definindo
𝜙 = arcsin(𝑞𝑥 0 ) − 𝜋/2, encontramos

𝑥(𝑡) = 𝑥 0 cos(𝜔0 𝑡 + 𝜙) , (2.43)

que é o resultado encontrado anteriormente.

2.6 Análise qualitativa do Movimento

A energia cinética é, por definição, sempre positiva. Assim, pela equação (1.19), o valor da
energia potencial é sempre inferior ou igual ao da energia mecânica. Temos que

𝐸 =𝑇 +𝑈 ⇒𝑇 = 𝐸 −𝑈 ≥ 0 . (2.44)

Do contrário teríamos velocidade imaginária, que é inadmissível, pois é uma quantidade mensu-
rável. Através do gráfico da energia potencial podemos prever alternativamente o movimento da
partícula sem resolver integralmente as equações de movimento. Vejamos como isto é possível.
Considere o caso da Fig. 2.4, onde a energia mecânica é representada por um linha horizontal.
Se 𝐸 = 𝐸 1 , então as regiões permitidas serão 𝑥1 ≤ 𝑥 ≤ 𝑥 2 , ou 𝑥 ≥ 𝑥4 . No primeiro caso, o
movimento é oscilatório e finito entre os pontos 𝑥 1 e 𝑥 2 . A estes damos o nome de pontos de
retorno. O ponto de mínimo entre estes dois pontos é chamado de ponto de equilíbrio estável.
No segundo caso, temos apenas um ponto de retorno, 𝑥 4 . Neste caso dizemos que o movimento

15
2.6 Análise qualitativa do Movimento

é infinito. Se 𝐸 = 𝐸 2 , 𝑥 = 𝑥 3 é um ponto de equilíbrio instável. As regiões onde a energia po-


tencial torna-se constante (não mostradas na figura), são denominadas por regiões de equilíbrio
indiferente.

U (x)
E = E2

E = E1

x
x1 x2 x3 x4

Figura 2.4: Energia potencial de uma partícula movendo-se uma dimensão.

Uma vez que a força é conservativa, o tempo que a partícula leva para ir de 𝑥 1 a 𝑥 2 é igual
ao tempo de volta. Portanto, pela equação (2.39) o período é dado por
r ˆ 𝑥
𝑚 2
1
𝑇= p 𝑑𝑤 . (2.45)
2 𝑥1 [𝐸 − 𝑈 (𝑤)]
Para algumas energia potencias, esta integral não pode ser calculada exatamente. No entanto,
nos casos onde isto não é possível, para pequenas oscilações em torno do ponto de equilíbrio
estável, podemos determinar um valor aproximado para o período. Para isto, procedemos da
seguinte forma. Seja 𝑥 0 um ponto de mínimo (global ou local). Expandindo a energia potencial
em série de Taylor em torno deste ponto, obtemos

1 00 1
𝑈 (𝑥) = 𝑈 (𝑥 0 ) + 𝑈 0 (𝑥 0 ) (𝑥 − 𝑥 0 ) +
𝑈 (𝑥 0 ) (𝑥 − 𝑥 0 ) 2 + 𝑈 000 (𝑥 0 ) (𝑥 − 𝑥 0 ) 3 + . . . . (2.46)
2! 3!
Tendo em vista que 𝑥 0 é um ponto extremo de 𝑈 (𝑥), ou seja, 𝑈 0 (𝑥 0 ) = 0, obtemos
1
𝑈 (𝑥) = 𝑈 (𝑥 0 ) + 𝑈 00 (𝑥 0 ) (𝑥 − 𝑥 0 ) 2 + . . . . (2.47)
2!
Considerando pequenas oscilações nas vizinhanças do ponto 𝑥 0 , podemos desconsiderar termos
de ordem superior a segunda ordem na expansão (2.46). Assim, obtemos
1
𝑈 (𝑥) = 𝑈 (𝑥 0 ) + 𝑈 00 (𝑥 0 ) (𝑥 − 𝑥 0 ) 2 . (2.48)
2!
Não é necessário considerar o termo 𝑈 (𝑥 0 ) na expressão acima, pois isto não altera a força.
Em outras palavras, a dinâmica da partícula não depende do ponto onde escolhemos o zero de
energia potencial. Assim, temos que
1 2
𝑈 (𝜉) = 𝑘𝜉 ; . (2.49)
2
onde 𝜉 = 𝑥 − 𝑥 0 e 𝑘 = 𝑈 00 (𝑥 0 ).
Consequentemente, de acordo com a equação (2.30), o período das pequenas oscilações é

16
2.6 Análise qualitativa do Movimento

determinado por r
𝑚
𝑇 = 2𝜋 . (2.50)
𝑈 00 (𝑥 0)

Exemplo 2.4
Uma partícula de massa 𝑚 move-se sob a ação de uma força dada pela energia potencial
𝑈0 𝑑 2 (𝑥 2 + 𝑑 2 )
𝑈 (𝑥) = − ,
𝑥 4 + 8𝑑 4
onde 𝑈0 e 𝑑 são constantes positivas. Determine os pontos de retorno para 𝐸 = −𝑈0 /8.
Determine o período das pequenas oscilações.

Z(y)
y2 y3
y
−10 −5 y1 5 10

−0.1

−0.2

−0.25

Figura 2.5

Solução: Primeiramente devemos determinar um esboço da função 𝑈 (𝑥). Para isto,


determinemos os limites assintóticos da energia potencial; nos limites 𝑥 → ±∞, 𝑈 (𝑥) → 0− .
De maneira que a curva 𝑈 (𝑥) não cruza o eixo dos 𝑥 em nenhum ponto. Em outras palavras, não
exite raízes da equação 𝑈 (𝑥) = 0.
Façamos a mudança de variável 𝑦 = 𝑥/𝑑. Temos que
𝑈 (𝑥) (𝑦 2 + 1)
𝑍 (𝑦) = =− 4 . (2.51)
𝑈0 𝑦 +8
Em seguida, determinemos os pontos extremos de 𝑍 (𝑦). Temos que
(2𝑦) (𝑦 4 + 8) − (𝑦 2 + 1) (4𝑦 3 )
𝑍 0 (𝑦) = −
(𝑦 4 + 8) 2
4 2
2𝑦(𝑦 + 2𝑦 − 8)
=
(𝑦 2 + 8) 2
2𝑦(𝑦 2 + 4) (𝑦 2 − 2)
=
(𝑥 2 + 8) 2
= 0, (2.52)
√ √
cujas raízes são dadas por 𝑥 1 = 0, 𝑥 2 = − 2𝑑, e 𝑥 2 = − 2𝑑. Conforme podemos observar através

17
2.7 Oscilador Harmônico Amortecido

da Fig. 2.5, 𝑦 1 = 𝑥 1 /𝑑 é um ponto de máximo de 𝑈 (𝑥), e portanto é um ponto de equilíbrio


instável. Os pontos 𝑦 2 = 𝑥2 /𝑑 e 𝑦 3 = 𝑥 3 /𝑑 são pontos de equilíbrio estável.
O movimento da partícula será limitado para todo 𝐸 < 0. Os pontos de retorno para
𝐸 = −𝑈0 /8 são dados pelas raízes da equação
𝑦2 + 1 1
= , (2.53)
𝑦4 + 8 8

cujas soluções são 𝑦 = ±𝑥/𝑑 = −2 2.
A segunda derivada da energia potencial é
𝑈0 00
𝑈 00 (𝑥) = 𝑍 (𝑦)
𝑑2
𝑈0 2(𝑦 6 + 38𝑦 4 + 72𝑦 2 − 64
 
= . (2.54)
𝑑2 (𝑦 2 + 8) 3
√ √
Assim, 𝑈 00 (± 2𝑑) = (𝑈0 /𝑑 2 )𝑍 00 (± 2) = 27𝑈0 /16𝑑 2 . Usando a equação (2.50), o período das
pequenas oscilações em torno dos pontos 𝑥 2 e 𝑥 3 será
s
𝑚𝑑 2
𝑇 = 8𝜋 . (2.55)
27𝑈0

2.7 Oscilador Harmônico Amortecido

No caso do oscilador harmônico simples, a solução das equações de movimento são os-
cilatórias no tempo sem que haja decaimento na amplitude das oscilações. Porém, na maioria dos
sistemas físicos, em maior ou menor grau, sempre haverá alguma dissipação. Isto ocasiona perda
de energia armazenada no sistema massa-mola, com consequente diminuição das amplitudes de
oscilação. O amortecimento pode ser descrito fenomenologicamente por uma força proporcional
à velocidade, isto é, −𝑏𝑣, onde 𝑏 > 0. Temos que
𝑑2𝑥
𝑚 = 𝐹 = −𝑏𝑣 = 𝑘𝑥 . (2.56)
𝑑𝑡 2
Note que para este caso, a força depende simultaneamente de 𝑥 e de 𝑣. lembrando que 𝑣 = 𝑑𝑥/𝑑𝑡,
podemos escrever
𝑑2𝑥 𝑑𝑥
𝑚 + 𝑏 + 𝑘𝑥 = 0 . (2.57)
𝑑𝑡 2 𝑑𝑡
Esta equação pode ser mais convenientemente escrita como
𝑑2𝑥 𝑑𝑥
2
+ 2𝛽 + 𝜔20 𝑥 = 0 , (2.58)
𝑑𝑡 𝑑𝑡
onde 𝜔0 é dada por (2.29) e
𝑏
𝛽= . (2.59)
2𝑚
Igualmente ao caso não amortecido suporemos que a solução seja do tipo exponencial
𝑥(𝑡) = 𝑒 𝑝𝑡 . Substituindo na equação de movimento obtemos o polinômio característico

𝑝 2 + 2𝛽𝑝 + 𝜔2 𝑥 = 0 . (2.60)

18
2.7 Oscilador Harmônico Amortecido

As soluções desta equação são dadas por


q
𝑝 = −𝛽 ± 𝛽2 − 𝜔20 . (2.61)

A seguir, analisaremos o movimento para três casos distintos.

2.7.1 Oscilador Harmônico Sub-Amortecido

Neste caso 𝛽 < 𝜔0 e as soluções para 𝑝 são complexas. Temos,

𝑝 = −𝛽 ± 𝑖𝜔1 , (2.62)

onde q
𝜔1 = 𝜔20 − 𝛽2 . (2.63)

A solução geral da equação de movimento é então dada por

𝑥(𝑡) = 𝑒 −𝛽𝑡 (𝐶1 𝑒 𝑖 𝜔1 𝑡 + 𝐶2 𝑒 −𝑖 𝜔1 𝑡 ) . (2.64)

Na Seção 2.4 mostramos como simplificar o termo entre parenteses. Obtemos,

𝑥(𝑡) = 𝐴𝑒 −𝛽𝑡 cos(𝜔1 𝑡 + 𝜙) . (2.65)

Derivando, encontramos a velocidade,

𝑣(𝑡) = −𝐴𝑒 −𝛽𝑡 [𝛽 cos(𝜔1 𝑡 + 𝜙) + 𝜔1 sin(𝜔1 𝑡 + 𝜙)] . (2.66)

Na Fig. 2.6 mostramos um esboço da posição em função do tempo para o caso 𝜙 = 0.


x(t)

Figura 2.6: As linhas tracejadas representam o decaimento exponencial da amplitude do movimento.

Vejamos como o decaimento exponencial da amplitude está relacionado com a dissipação


da energia mecânica do sistema massa-mola. Substituindo 𝑥(𝑡) e 𝑣(𝑡) em (1.34) e supondo que
a energia potencial não depende explicitamente do tempo, encontramos
𝑑𝐸
= (−𝑏𝑣)𝑣
𝑑𝑡
= −𝑏 𝐴2 𝑒 −2𝛽𝑡 [𝛽2 cos2 (𝜔1 𝑡 + 𝜙) + 𝜔21 sin2 (𝜔1 𝑡 + 𝜙)
+2𝛽𝜔1 cos(𝜔1 𝑡 + 𝜙) sin(𝜔1 𝑡 + 𝜙)] . (2.67)

Desprezaremos as oscilações na dissipação de energia substituindo a parte oscilante pelo


seu valor médio em um período 𝑇 = 2𝜋/𝜔1 1. Obtemos
´𝑇
1O valor médio temporal de uma função 𝑓 (𝑡) em um período 𝑇 é definido por < 𝑓 (𝑡) >= 𝑇1 0 𝑓 (𝑡) 𝑑𝑡.

19
2.8 Oscilador Harmônico Forçado

 
𝑑𝐸 2 −2𝛽𝑡 21 1
= −𝑏 𝐴 𝑒 𝛽 + 𝜔21
𝑑𝑡 2 2
−2𝛽𝑡
= −2𝛽𝐸 0 𝑒 , (2.68)

onde 𝐸 0 = 12 𝑘 𝐴2 é a energia armazenada na mola antes de ser colocada em movimento. Assim,


a energia mecânica decai em um tempo duas vezes maior que a amplitude de movimento.

2.7.2 Oscilador Harmônico Super-Amortecido

Neste caso 𝛽 > 𝜔0 , e a solução agora não é mais oscilante, pois os valores de 𝑝 são reais.
Portanto, a solução geral é dada por

𝑥(𝑡) = 𝑒 −𝛽𝑡 [𝐶1 𝑒 𝜔1 𝑡 + 𝐶2 𝑒 −𝜔1 𝑡 ] , (2.69)


q
onde as constantes de integração são determinadas pelas condições iniciais; aqui 𝜔1 = 𝛽2 − 𝜔20 .
No entanto, qualquer que sejam as condições iniciais, uma parte da solução decai em um tempo
1/(𝛽 − 𝜔1 ) e a outra em 1/(𝛽 + 𝜔1 ). Uma vez que 𝜔1 < 𝛽, podemos afirmar que a amplitude
decai mais lentamente que para o caso sub-amortecido, porém sem oscilações. De qualquer
modo, podemos afirmar que que no caso super-amortecido, a solução para 𝑥 e 𝑣 não oscila.

2.7.3 Oscilador Harmônico Crítico-Amortecido

Neste caso 𝛽 = 𝜔1 e 𝑝 = −𝛽 é uma raiz dupla. Uma solução é dada por 𝑥 1 (𝑡) = 𝑒 −𝛽𝑡 . A
segunda solução pode ser obtida como segue,
ˆ − ´ (−2𝛽) 𝑑𝑡
𝑥2 (𝑡) 𝑒
= 𝑑𝑡 = 𝑡 , (2.70)
𝑥1 (𝑡) [𝑒 −𝛽𝑡 ] 2
de onde se obtém 𝑥 2 (𝑡) = 𝑡𝑒 −𝛽𝑡 , onde zeramos todas as constantes de integração, pois estas não
modificam a solução geral da equação diferencial. Assim, a solução geral é dada por

𝑥(𝑡) = 𝑒 −𝛽𝑡 (𝐶1 + 𝐶2 𝑡) . (2.71)

No amortecimento crítico teremos uma única oscilação, dependendo do estado inicial. Para
ilustrar isto, consideremos a condição inicial 𝑥(0) = 0 e 𝑣(0) = 𝑣 0 . Da equação (2.71) obtemos
𝐶1 = 0 e 𝐶2 = 𝑣 0 , de tal modo que, 𝑥(𝑡) = 𝑣 0 𝑡𝑒 −𝛽𝑡 . A Fig. 2.7 mostra um esboço da posição em
função do tempo. Assim, a mola, ao atingir a máxima distensão, a partícula retornará à posição
de equilíbrio 𝑥 = 0 em 𝑡 = ∞.
Alternativamente, consideremos o estado inicial 𝑥(0) = 𝑥 0 e 𝑣(0) = 0. A solução que
satisfaz estas condições é 𝑥(𝑡) = 𝑥 0 (1 + 𝛽𝑡)𝑒 −𝛽𝑡 . A Fig. 2.8 ilustra a posição em função
do tempo. Podemos observar que, ao largarmos a partícula da posição 𝑥 0 > 0 com a mola
distendida, ela então retornará ao equilíbrio em 𝑡 = ∞ sem oscilar.

20
2.8 Oscilador Harmônico Forçado

x(t) t

Figura 2.7: Oscilador harmônico crítico-amortecido: posição da partícula em função do tempo con-
siderando o estado inicial 𝑥(0) = 𝑥0 e 𝑣(0) = 𝑣 0 .
x(t)

Figura 2.8: Oscilador harmônico crítico-amortecido: posição da partícula em função do tempo con-
siderando o estado inicial 𝑥(0) = 𝑥0 e 𝑣(0) = 0.

2.8 Oscilador Harmônico Forçado

Neste caso o oscilador harmônico amortecido encontra-se na presença de uma força externa
a qual fornece ou retira energia do sistema. Se esta força for uma função constante ou periódica,
a amplitude das oscilações tenderá a atingir um valor constante. Considere o caso de uma força
periódica do tipo

𝐹 (𝑡) = 𝐹0 cos(𝜔𝑡 + 𝜃 0 ) , (2.72)

onde 𝜃 0 é a fase da força.


Com efeito, a equação de movimento pode ser escrita como
𝑑 2 𝑥(𝑡) 𝑑𝑥(𝑡) 𝐹0
2
+ 2𝛽 + 𝜔20 𝑥(𝑡) = cos(𝜔𝑡 + 𝜃 0 ) . (2.73)
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑚
Solucionaremos esta equação usando variáveis complexas. Primeiramente notamos que

𝐹 (𝑡) = Re[F(𝑡)] , (2.74)

onde F = F0 𝑒 𝑖 𝜔𝑡 , F0 = 𝐹0 𝑒 𝑖 𝜃0 e Re indica a parte real da variável complexa2. Em segundo lugar,

2A notação que usamos para variável complexa é a de uma letra em negrito. Esta não deve ser confundida com a
notação vetorial.

21
2.8 Oscilador Harmônico Forçado

escrevemos a equação de movimento na sua versão complexa


𝑑 2 x(𝑡) 𝑑x(𝑡) F(𝑡)
2
+ 2𝛽 + 𝜔20 x(𝑡) = . (2.75)
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑚
Similarmente ao caso em que a equação é real, suponhamos que a solução seja do tipo

x(𝑡) = x0 𝑒 𝑖 𝜔𝑡 , (2.76)

onde x0 é uma constante a ser determinada. Esta suposição é razoável dada a forma complexa
da força (2.74). Uma simples álgebra nos leva a
F0
x0 = , (2.77)
𝑚(−𝜔2 + 2𝑖𝛽𝜔 + 𝜔20 )
a qual também pode ser escrita como
F0 𝑒 𝑖𝛾
x0 = , (2.78)
𝑖𝑚 [(𝜔2 − 𝜔20 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2 ]
onde na última passagem usamos o fato de que qualquer variável complexa 𝑧 = 𝑥 + 𝑖𝑦 pode ser
p
escrita como 𝑧 = 𝑟𝑒 𝑖 𝜃 , onde 𝑟 = 𝑥 2 + 𝑦 2 e tan 𝜃 = (𝑦/𝑥).
A fase 𝛾 é determinada por
! !
𝜋 2𝛽𝜔 𝜔20 − 𝜔2
𝛾 = − arctan 2 = arctan , (2.79)
2 𝜔0 − 𝜔2 2𝛽𝜔

𝜔20 − 𝜔2
sin 𝛾 =   1/2 , (2.80)
(𝜔2 − 𝜔20 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2

2𝛽𝜔
cos 𝛾 =   1/2 . (2.81)
(𝜔2 − 𝜔20 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2
Substituindo (2.77) de volta na equação (2.76), encontramos
𝐹0 𝑒 𝑖 ( 𝜔𝑡+𝜃0 +𝛾)
x(𝑡) =   1/2 . (2.82)
𝑖𝑚 (𝜔2 − 𝜔20 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2
A velocidade complexa é dada por
𝑑x(𝑡) 𝜔𝐹0 𝑒 𝑖 ( 𝜔𝑡+𝜃0 +𝛾)
= 𝑖𝜔x(𝑡) =   1/2 . (2.83)
𝑑𝑡 𝑚 (𝜔2 − 𝜔20 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2
Finalmente, extraindo a parte real da posição e da velocidade complexas, obtemos
𝐹0 sin(𝜔𝑡 + 𝜃 0 + 𝛾)
𝑥(𝑡) =   1/2 , (2.84)
𝑚 (𝜔2 − 𝜔20 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2

𝜔𝐹0 cos(𝜔𝑡 + 𝜃 0 + 𝛾)
𝑣(𝑡) =   1/2 . (2.85)
𝑚 (𝜔2 − 𝜔20 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2
A solução geral da equação de movimento é obtida somando-se as equações (2.84) e uma
das equações obtidas na Seção 2.7 para 𝑥(𝑡). Por exemplo, considerando caso sub-amortecido,
a solução geral do oscilador harm^nico forçado será
𝐹0 sin(𝜔𝑡 + 𝜃 0 + 𝛾)
𝑥(𝑡) = 𝐴𝑒 −𝑏𝑡 cos(𝜔1 𝑡 + 𝜙) +   1/2 , (2.86)
𝑚 (𝜔2 − 𝜔20 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2
Denominamos o primeiro termo de transiente e o segundo de estacionário.

22
2.8 Oscilador Harmônico Forçado

De forma semelhante a que procedemos na Seção 2.7, calcularemos a potência média


fornecida pela força periódica ao sistema massa mola devido exclusivamente ao estado esta-
cionário. Temos que

𝑃(𝑡) = 𝑣(𝑡)𝐹 (𝑡)


𝐹02 𝜔
= cos(𝜔𝑡 + 𝜃 0 ) cos(𝜔𝑡 + 𝜃 0 + 𝛾)
𝑚 (𝜔2 − 𝜔 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2  1/2
 2
0
𝐹02 𝜔
= ×
𝑚 (𝜔2 − 𝜔2 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2  1/2

0
×[cos(𝛾) cos2 (𝜔𝑡 + 𝜃 0 ) − sin 𝛽 sin(2(𝜔𝑡 + 𝜃 0 ))] . (2.87)

Substituindo as funções trigonométricas pelos seus valores médios, definido de acordo com
a equação da nota de rodapé (1), obtemos
𝐹02 𝜔 cos 𝛾
𝑃med (𝜔) =< 𝑃(𝑡) >= . (2.88)
2𝑚 (𝜔2 − 𝜔2 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2  1/2

0
Substituindo o fator de potência da equação (2.81), finalmente encontramos
𝐹02 𝛽𝜔2
𝑃med (𝜔) =  . (2.89)
𝑚 (𝜔2 − 𝜔20 ) 2 + 4𝛽2 𝜔2
Na Fig. 2.9 ilustramos 𝑃med em função de 𝜔 para vários valores de 𝛽. Note que o pico
máximo ocorre em 𝜔 = 𝜔0 . Em outras palavras, o valor máximo de absorção de energia ocorre
quando a frequência natural de oscilação do sistema massa-mola se iguala à força externa. Isto
é conhecido como fenômeno da ressonância.

Figura 2.9: Potência do oscilador harmônico forçado: s linhas tracejada, pontilhada, e contínua
encontram-se em ordem decrescente de 𝛽.

K Problemas k

1. Uma partícula de massa 𝑚 em repouso em 𝑡 = 0 está submetida à força 𝐹 (𝑡) = 𝐹0 sin2 (𝜔𝑡).
Determinar 𝑣(𝑡) e 𝑥(𝑡).
2. Uma partícula, cuja velocidade velocidade original seja 𝑣 0 , está sujeita à força dada pela

23
2.8 Oscilador Harmônico Forçado

equação



 0, 𝑡 < 𝑡0 ,
 𝑝

𝐹 (𝑡) = Δ𝑡
0
, 𝑡 0 ≤ 𝑡 ≤ 𝑡0 + Δ𝑡 ,


 0, 𝑡 > 𝑡0 + Δ𝑡 ,


onde 𝑝 0 e Δ𝑡 são constantes. Determine o movimento da partícula.
3. Uma partícula inicialmente em repouso está sujeita, começando em 𝑡 = 0, a uma força
𝐹 = 𝐹0 𝑒 −𝛾𝑡 cos(𝜔𝑡 + 𝜙). Determine o seu movimento.
4. Uma partícula de massa 𝑚 é impulsionada por uma velocidade 𝑣 0 a partir da origem em
um instante de tempo 𝑡 = 0. A força de atrito entre a partícula e a superfície é proporcional
à velocidade. Determine o movimento da partícula.
5. Um barco, cuja velocidade inicial é 𝑣 0 , é desacelerado por uma força de atrito 𝐹 = −𝑏𝑒 𝛼𝑣 ,
onde 𝑏 e 𝛼 são constantes positivas. (a) Determine o seu movimento; (b) Determine o
tempo e a distância necessários para parar o barco.
6. Aplica-se uma força P a um pistão cheio de óleo. Conforme o pistão se move, o óleo é
forçado através de orifícios no pistão, exercendo sobre este uma força adicional de módulo
𝑘𝑣, onde 𝑘 é uma constante e 𝑣 é a velocidade do pistão. Esta força tem sempre o sentido
oposto ao movimento do pistão. Supondo-se que o pistão, no instante inicial, parta de
𝑥 = 0, com velocidade 𝑣 = 0, obtenha 𝑣(𝑡) e 𝑥(𝑡).
7. O motor de um carro de corrida de massa 𝑚 fornece uma potência constante 𝑃 em sua
aceleração máxima. Supondo que o atrito seja proporcional à velocidade, ache a expressão
para 𝑣(𝑡), quando o carro é acelerado, a partir do repouso, com a potência máxima. Sua
solução comporta-se corretamente quando 𝑡 → ∞?
8. Determine 𝑣(𝑡) e 𝑥(𝑡) para uma partícula de massa 𝑚 que inicia o seu movimento em
𝑥 0 = 0 a velocidade 𝑣 0 e submetido à ação da força 𝐹 = ±𝑏𝑣 𝑛 com 𝑛 ≠ 1. Determine o
tempo necessário para a partícula parar e a respectiva distância percorrida.
9. Uma partícula de massa 𝑚 acha-se sob a ação de uma força, cuja energia potencial é dada
por
𝑈 (𝑥) = 𝑎𝑥 2 − 𝑏𝑥 3 ,

onde 𝑎 > 0 e 𝑏 > 0. Determine a força. Mostre que 𝑥 = 0 é um ponto de mínimo de 𝑈 (𝑥).
Determine a frequência das pequenas oscilações em torno deste ponto.
10. Uma partícula de massa 𝑚 está sujeita à ação de uma força
𝑘
𝐹 (𝑥) = −𝑘𝑥 + 2 𝑥 3 ,
𝑎
onde 𝑘 e 𝑎 são constantes positivas. Determine 𝑈 (𝑥) e discuta os possíveis movimentos
que possam ocorrer.
11. A energia potencial para a força existente entre dois átomos, numa molécula diatômica,
tem a seguinte forma aproximada,
𝑎 𝑏
𝑈 (𝑥) = − 6
+ 12 ,
𝑥 𝑥

24
2.8 Oscilador Harmônico Forçado

onde 𝑥 é a distância entre os átomos e 𝑎 e 𝑏 são duas constantes positivas. (a) Determine
a força. (b) Discuta os possíveis movimentos que possam ocorrer. (c) Determine a
frequência das pequenas oscilações em torno do ponto de equilíbrio.
12. Uma força 𝐹 (𝑡) = 𝐹0 𝑒 −𝑎𝑡 age sobre um oscilador harmônico de massa 𝑚, onde a constante
da mola é 𝑘 e constante de amortecimento é 𝑏. Determine uma solução particular da
equação do movimento, partindo da suposição de que existe uma solução com a mesma
dependência do tempo que a força aplicada.
13. Um oscilador harmônico sem amortecimento (𝑏 = 0), inicialmente em repouso, é sub-
metido, começando em 𝑡 = 0, a uma força 𝐹0 sin(𝜔𝑡). Determine o deslocamento 𝑥(𝑡).

25
Capítulo 3 Movimento Curvilíneo

3.1 Introdução

O estudo de alguns problemas de física em duas ou três dimensões podem ser estudados
no sistema de coordenadas retangulares. Como um exemplo, iremos descrever o movimento de
projéteis e de uma partícula carregada sob ação de uma força de Lorentz.
Por outro lado, muitos problemas em física exibem simetria esférica ou cilíndrica. Assim,
com a finalidade de explorar a simetria destes problemas, precisamos determinar a representação
da posição, velocidade, e aceleração nestes sistemas de coordenadas. Desta forma podemos
escrever as equações de movimento os sistemas de coordenadas curvilíneas. Como uma aplicação
destas equações, consideraremos o movimento de uma partícula sob a ação de uma força a qual
está direcionada para o centro de referência onde supostamente se encontra uma segunda partícula
de massa muito maior que a primeira. Tal força é chamada de força central. A intensidade da
força depende somente da distância da partícula em movimento e o centro de força. Exemplos
de sistemas que encaixam nesta descrição é o do movimento dos planetas em torno do sol, ou do
elétrons girando ao redor do núcleo atômico.

3.2 Coordenada Retangulares

A segunda lei de Newton para o movimento em duas ou três dimensões, na forma vetorial
assume a forma
𝑑2r
=F, (3.1)
𝑑𝑡 2
Decompondo a força resultante em três componentes cartesianas, podemos escrever

𝑚 𝑥¥ = 𝐹𝑥 ,
𝑚 𝑦¥ = 𝐹𝑦 ,
𝑚 𝑧¥ = 𝐹𝑧 ,
(3.2)

onde o ponto sobre o símbolos denotam a derivada com relação ao tempo, 𝑥¤ ≡ 𝑑𝑥/𝑑𝑡 e 𝑥¥ ≡
𝑑 2 𝑥/𝑑𝑡 2 . Assim, é mo se tivéssemos três movimentos retilíneos independentes. No entanto, a
superposição das três componentes do movimento produz um movimento curvilíneo.

3.3 Coordenadas Cilíndricas

Pela Fig. 3.1, podemos facilmente verificar que as coordenadas retangulares do ponto
(𝑥, 𝑦, 𝑧) podem ser expressas em termos das coordenadas cilíndricas pelas equações transforma-
3.3 Coordenadas Cilíndricas

✯ φ0

ρ0
z
r

y
φ ρ

x
Figura 3.1: Sistema de coordenadas cilíndricas.

tivas:
𝑥 = 𝜌 cos 𝜙 , 𝑦 = 𝜌 sin 𝜙 , 𝑧=𝑧, (3.3)

onde 0 ≤ 𝜌 < ∞, 0 ≤ 𝜙 ≤ 2𝜋, −∞ < 𝑧 < ∞.


As relações entre os vetores unitários (i, j, k) e ( 𝝆 0 , 𝜽 0 , k) são dadas pela teoria de coorde-
nadas curvilíneas. Temos,
1 𝜕r
𝝆0 = ,
ℎ𝜌 𝜕 𝜌
1 𝜕r
𝝓0 = ,
ℎ 𝜙 𝜕𝜙
1 𝜕r
k = , (3.4)
ℎ 𝑧 𝜕𝑧
onde as métricas são dadas por

ℎ𝜌 = 1 , ℎ𝜙 = 𝜌 , ℎ𝑧 = 1 . (3.5)

27
3.4 Coordenadas Esféricas

Lembrando que r = 𝑥i + 𝑦j + 𝑦k, e usando (3.3), obtemos

𝝆 0 = cos 𝜙 i + sin 𝜙 j ,
𝝓0 = − sin 𝜙 i + cos 𝜙 j ,
k = k. (3.6)

Usando regras de derivação é fácil mostrar que

𝑑 𝝆0 𝑑𝝓0
= 𝝓0 , = −𝝆 0 . (3.7)
𝑑𝜙 𝑑𝜙
Em coordenadas cilíndricas, o vetor de posição r pode ser escrito como

r = 𝜌𝝆 0 + 𝑧k . (3.8)

O vetor velocidade é dado por


𝑑r 𝑑𝝆
v(𝑡) = ¤ 0 + 𝜌 0 + 𝑧¤k ,
= 𝜌𝝆 (3.9)
𝑑𝑡 𝑑𝑡
Usando a regra da cadeia e as equações (3.7), obtemos
𝑑 𝝆 0 𝑑 𝝆 0 𝑑𝜙
= = 𝝓0 𝜙¤ , (3.10)
𝑑𝑡 𝑑𝜙 𝑑𝑡
logo
v = 𝜌𝝆 ¤ 0 + 𝑧¤k ,
¤ 0 + 𝜌 𝜙𝝓 (3.11)

Procedimento análogo pode ser usando para obter a aceleração. Temos que,

a = ( 𝜌¥ − 𝜌 𝜙¤2 ) 𝝆0 + (𝜌 𝜙¥ + 2 𝜌¤ 𝜙)𝝓
¤ 0 + 𝑧¥k . (3.12)

As componentes radial e azimutal contém termos que são familiares ao leitor, qual seja, a
aceleração centrípeta, −𝜌 𝜙¤2 , e a aceleração tangencial, 𝜌 𝜙,
¥ do movimento circular.
Consequentemente, a segunda lei de Newton, em coordenadas cilíndricas pode ser formulada
como

𝑚( 𝜌¥ − 𝜌 𝜙¤2 ) = 𝐹𝜌 ,
𝑚(𝜌 𝜙¥ + 2 𝜌¤ 𝜙)
¤ = 𝐹𝜙 ,

𝑚 𝑧¥ = 𝐹𝑧 . (3.13)

3.4 Coordenadas Esféricas

De acordo com a Fig. 3.2, as coordenadas retangulares do vetor de posição, em termos das
coordenadas esféricas, podem ser expressas por

𝑥 = 𝑟 sin 𝜃 cos 𝜙 , 𝑦 = 𝑟 sin 𝜃 sin 𝜙 , 𝑧 = 𝑟 cos 𝜃 , (3.14)

onde 0 ≤ 𝑟 < ∞, 0 ≤ 𝜙 ≤ 2𝜋, 0 ≤ 𝜙 ≤ 2𝜋. Se compararmos com as coordenadas geográficas


para localizar um ponto no globo terrestre, podemos ver que 𝜙 é análogo à longitude (ângulo
azimutal) e 𝜃 à latitude (ângulo polar).
Similarmente ao caso anterior, a relação entre os vetores unitários dos dois sistemas de

28
3.4 Coordenadas Esféricas
z

ro

(x, y, z) φo

θ r θo

(x, y, 0)

Figura 3.2: Sistema coordenadas esféricas.

coordenadas é dada por


1 𝜕r
r0 = ,
ℎ𝑟 𝜕𝑟
1 𝜕r
𝜽0 = ,
ℎ 𝜃 𝜕𝜃
1 𝜕r
𝝓0 = , (3.15)
ℎ 𝜙 𝜕𝜙
onde as métricas são dadas por

ℎ𝑟 = 1 , ℎ𝜃 = 𝑟 , ℎ 𝜙 = 𝑟 sin 𝜃 . (3.16)

Com efeito, obtemos

r0 = sin 𝜃 cos 𝜙 i + sin 𝜃 sin 𝜙 j + cos 𝜃 k ,


𝜽 0 = cos 𝜃 cos 𝜙 i + cos 𝜃 sin 𝜙 j − sin 𝜃 k ,
𝝓0 = − sin 𝜙 i + cos 𝜙 j . (3.17)

Um simples exercício de derivação nos leva as seguintes expressões


𝜕r0
= 𝜽0 , (3.18)
𝜕𝜃
𝜕𝜽 0
= −r0 , (3.19)
𝜕𝜃
𝜕𝝓0
= 0, (3.20)
𝜕𝜃
e
𝜕r0
= sin 𝜃𝝓0 , (3.21)
𝜕𝜙
𝜕𝜽 0
= cos 𝜃𝝓0 , (3.22)
𝜕𝜙
𝜕𝝓0
= − sin 𝜃r0 − cos 𝜃𝜽 0 . (3.23)
𝜕𝜙

29
3.5 Projéteis

Isso completa a base pra a determinação da velocidade e a aceleração de um ponto material


em coordenadas esféricas. Partindo de

r = 𝑟r0 , (3.24)

e usando a regra da cadeia para derivadas parciais, encontramos

v = 𝑟r ¤ 0 + 𝑟 sin 𝜃 𝜋𝝓
¤ 0 + 𝑟 𝜃𝜽 ¤ 0, (3.25)
a = (𝑟¥ − 𝑟 𝜃¤2 − 𝑟 𝜙¤2 sin2 𝜃)r0 + (𝑟 𝜃¥ + 2𝑟¤𝜃¤ − 𝑟 𝜙¤2 sin 𝜃 cos 𝜃)𝜽 0
+(𝑟 𝜙¥ sin 𝜃 + 2𝑟¤ 𝜙¤ sin 𝜃 + 2𝑟 𝜃¤𝜙¤ cos 𝜃)𝝓0 . (3.26)

Portanto, a segunda lei de Newton a coordenadas esféricas assume a forma

𝑚(𝑟¥ − 𝑟 𝜃¤2 − 𝑟 𝜙¤2 sin2 𝜃) = 𝐹𝑟


𝑚(𝑟 𝜃¥ + 2𝑟¤𝜃¤ − 𝑟 𝜙¤2 sin 𝜃 cos 𝜃) = 𝐹𝜃
𝑚(𝑟 𝜙¥ sin 𝜃 + 2𝑟¤ 𝜙¤ sin 𝜃 + 2𝑟 𝜃¤𝜙¤ cos 𝜃) = 𝐹𝜙 . (3.27)

3.5 Projéteis

Considere um caso particular de movimento em duas dimensões, o de uma partícula de


massa 𝑚 lançada para cima com uma velocidade inicial v0 = 𝑣 0𝑥 i + 𝑣 0𝑦 j de um ponto de
coordenadas (𝑥 0 , 𝑦 0 ). Se o lançamento for de curto alcance, a superfície terrestre pode ser
considerada aproximadamente horizontal (ver Fig. 3.3).


v0 −mg
y0 θ

m

x0 x

Figura 3.3: Trajetória de de um projétil lançado de um ponto (𝑥 0 , 𝑦 0 ) com velocidade v0 em uma direção
𝜃 com relação à horizontal.

Aplicando-se a segunda lei de Newton em coordenadas retangulares, vem que

𝑚 𝑥¥ = 0 ,
𝑚 𝑦¥ = −𝑚𝑔 , (3.28)

30
3.5 Projéteis

cuja solução, que satisfaz as condições iniciais, é dada por

𝑥(𝑡) = 𝑥 0 + 𝑣 0𝑥 𝑡 ,
𝑔
𝑦(𝑡) = 𝑦 0 + 𝑣 0𝑦 𝑡 − 𝑡 2 . (3.29)
2
As coordenadas da partícula estão parametrizadas pelo tempo 𝑡. Isolando o tempo da
primeira equação e substituindo na segunda, obtemos
𝑣 0𝑦 𝑔
𝑦(𝑥) = 𝑦 0 + (𝑥 − 𝑥 0 ) − 2 (𝑥 − 𝑥 0 ) 2 , (3.30)
𝑣 0𝑥 2𝑣 0𝑥
a qual é uma parábola de concavidade para baixo. O ponto de máximo da parábola é obtido
encontrando através da equação 𝑦 0 (𝑥) = 0. Obtemos 𝑥 − 𝑥 0 = 𝑣 0𝑥 𝑣 0𝑦 /𝑔. Substituindo em 𝑦
encontramos
𝑣 20𝑦
𝑦 𝑚 − 𝑦0 = . (3.31)
2𝑔
Assim, o projétil alcançará uma altura máxima de 𝑣 20𝑦 /2𝑔 acima da linha horizontal 𝑦 = 𝑦 0 .
Note que, se 𝑣 0𝑦 < 0, o ponto de máximo da parábola estará localizado a esquerda do ponto de
lançamento.
Suponhamos que o projétil é lançado de algum ponto da superfície, (𝑥0 , 0). Assim, o projetil
atingirá o solo a uma distância do ponto de lançamento que é dada por

𝑅 = 2(𝑥 𝑚 − 𝑥 0 )
𝑣 0𝑥 𝑣 0𝑦
= 2
𝑔
(𝑣 0 cos 𝜃) (𝑣 0 sin 𝜃)
= 2
𝑔
2
𝑣0
= sin(2𝜃) , (3.32)
𝑔
a qual é chamada como alcance horizontal. O valor de 𝑅 é máximo quando 𝜃 = 𝜋/2.
Se agora levarmos em conta a força de resistência do ar, as equações de movimento tornam-se

𝑚 𝑥¥ = −𝑏 𝑥¤ ,
𝑚 𝑦¥ = −𝑚𝑔 − 𝑦¤ , (3.33)

Assumindo que o projétil foi lançado da origem em 𝑡 = 0 com velocidade v0 = 𝑣 0𝑥 i + 𝑣 0𝑦 j, e


usando o método da Seção (2.3), a solução para este sistema de equações é
𝑚𝑣 0𝑥  
𝑥(𝑡) = 1 − 𝑒 −𝑏𝑡/𝑚 ,
𝑏
𝑣 𝑥 (𝑡) = 𝑣 0𝑥 𝑒 −𝑏𝑡/𝑚 ,
 2 
𝑚 𝑔 𝑚𝑣 0𝑦  −𝑏𝑡/𝑚
 𝑚𝑔
𝑦(𝑡) = + 1 − 𝑒 − 𝑡,
𝑏2 𝑏 𝑏
 𝑚𝑔  𝑚𝑔
𝑣 𝑦 (𝑡) = + 𝑣 0𝑦 𝑒 −𝑏𝑡/𝑚 − . (3.34)
𝑏 𝑏

31
3.6 Movimento de uma Partícula em um Campo Eletromagnético

Da primeira destas equações, encontramos


𝑏
𝑒 −𝑏𝑡/𝑚 = 1 − 𝑥,
𝑚𝑣 0𝑥
 
𝑚 𝑚𝑣 0𝑥
𝑡 = ln . (3.35)
𝑏 𝑚𝑣 0𝑥 − 𝑏𝑥
Substituindo na terceira das equações (3.34), obtemos a equação que descreve a trajetória do
projétil. Temos que
𝑚2𝑔
   
𝑚𝑔 𝑣 0𝑦 𝑚𝑣 0𝑥
𝑦(𝑥) = + 𝑥 − 2 ln , (3.36)
𝑏𝑣 0𝑥 𝑣 0𝑥 𝑏 𝑚𝑣 0𝑥 − 𝑏𝑥
a qual é válida para todo 𝑥 < 𝑚𝑣 0𝑥 /𝑏.
A Fig. 3.4 ilustra a trajetória de uma projétil sob a ação da resistência do ar. Note que quanto
menor o valor de 𝑏 mais e mais a trajetória se aproxima de uma parábola.

y
b decrescente

Figura 3.4: Trajetórias de um projétil: a linha tracejada corresponde ao caso sem resistência do ar; as
linhas sólidas incluem a força resistiva do ar. Note que quanto menor o valor de 𝑏 maior é o alcance
horizontal.

3.6 Movimento de uma Partícula em um Campo Eletromagnético

Considere uma partícula de massa 𝑚 e carregada com carga 𝑄 em movimento sob a ação de
um campo elétrico uniforme E = 𝐸 𝑥 i + 𝐸 𝑧 k e e um campo magnético também uniforme B = 𝐵i.
Assim, a força resultante que atuará sobre a partícula é dada por

F = 𝑄(E + v × B) , (3.37)

a qual é conhecida como força de Lorentz. Assim,



i j k


v × B = 𝑥¤ 𝑦¤ 𝑧¤


𝐵 0 0
= 𝐵 𝑧¤j − 𝐵 𝑦¤ k . (3.38)

Empregando a segunda lei de Newton para a força de Lorentz, encontramos as seguintes

32
3.6 Movimento de uma Partícula em um Campo Eletromagnético

equações de movimento

𝑚 𝑥¥ = 𝑄𝐸 𝑥 ,
𝑚 𝑦¥ = 𝑄𝐵 𝑧¤ ,
𝑚 𝑧¥ = 𝑄𝐸 𝑧 − 𝑄𝐵 𝑦¤ . (3.39)

Observe que a componente 𝑥 do movimento é uniformemente variado com aceleração


𝑎 𝑥 = 𝑄𝐸 𝑥 /𝑚. Logo,
1 𝑄𝐸 𝑥 2
𝑥(𝑡) = 𝑥0 + 𝑣 0𝑥 𝑡 + 𝑡 . (3.40)
2 𝑚
As duas outras equações de movimento podem ser reescritas da seguinte forma

𝑦¥ = 𝜔 𝑧¤ ,
𝑧¥ = 𝑎 − 𝜔 𝑦¤ , (3.41)

onde 𝜔 = 𝑄𝐵/𝑚 é conhecida como frequência de ciclotron e 𝑎 = 𝑄𝐸 𝑧 /𝑚. Para resolver as


equações é necessário desacopla-las. Derivado a primeira equação e usando a segunda, vem que

¨
𝑦 = 𝜔 𝑧¥
= 𝜔(𝑎 − 𝜔 𝑦¤ )
= 𝑎𝜔 − 𝜔2 𝑦¤ , (3.42)

que pode ser reescrita como


𝑑 2 𝑦¤
+ 𝜔2 𝑦¤ = 𝑎𝜔 . (3.43)
𝑑𝑡 2
Esta equação é similar a de um oscilador harmônico com frequência angular 𝜔 na presença
de uma “força” 𝑎𝜔. A solução geral da equação homogênea associada é igual a do oscilador
harmônico e a solução particular é 𝑎/𝜔. Superpondo a duas soluções, obtemos
𝑎
𝑦¤ = + 𝐴 𝑦 cos(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑦 ) . (3.44)
𝜔
Agora, derivando a segunda das equações (3.41) e usando a segunda, obtemos

¨
𝑧 = −𝜔 𝑦¥
= −𝜔(𝜔 𝑧¤)
= −𝜔2 𝑧¤ , (3.45)

a qual pode ser reescrita na forma


𝑑 2 𝑧¤
2
+ 𝜔2 𝑧¤ = 0 . (3.46)
𝑑𝑡
A solução para esta equação é
𝑧¤ = 𝐴 𝑧 cos(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑧 ) . (3.47)

As coordenadas 𝑦 e 𝑧 posição da partícula pode ser obtida integrando as equações (3.44) e

33
3.7 Conservação do Momento Angular

(3.47). Obtemos
𝑎 𝐴𝑦
𝑦(𝑡) = 𝐶 𝑦 + 𝑡+ sin(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑦 ) ,
𝜔 𝜔
𝐴𝑧
𝑧(𝑡) = 𝐶𝑧 + sin(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑧 ) . (3.48)
𝜔
Temos seis constantes de integração a serem determinadas (𝐶 𝑦 , 𝐶𝑧 , 𝐴 𝑦 , 𝐴 𝑧 , 𝜃 𝑦 , 𝜃 𝑧 ), e quatro
condições iniciais, 𝑦(0) = 𝑦 0 , 𝑧(0) = 𝑧0 , 𝑦¤ (0) = 𝑣 0𝑦 , e 𝑧¤ (0) = 𝑣 0𝑧 . A razão para isto ter
acontecido é que desacoplamos as equações diferenciais (3.41) de segunda ordem em duas
outras (3.43) e (3.46) de terceira ordem. Esta dificuldade pode ser contornada da seguinte forma.
Substituindo as soluções acima nas equações originais (3.41), encontramos

−𝜔𝐴 𝑦 sin(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑦 ) = 𝜔𝐴 𝑧 cos(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑧 ) ,


−𝜔𝐴 𝑧 sin(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑧 ) = −𝜔𝐴 𝑦 cos(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑦 ) . (3.49)

A solução para estas equações é única e é dada por

𝐴 𝑦 = 𝐴𝑧 ,
sin(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑦 ) = − cos(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑧 ) ,
sin(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑧 ) = cos(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑦 ) , (3.50)

qualquer que seja o instante de tempo 𝑡. As segunda e a terceira equações podem ser escritas
como

sin(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑦 ) = sin(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑧 − 𝜋/2) ,


sin(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑧 ) = sin(𝜔𝑡 + 𝜃 𝑦 + 𝜋/2) , (3.51)

as quais podem ser satisfeitas simultaneamente se, e somente se,


𝜋
𝜃𝑧 = 𝜃𝑦 + . (3.52)
2
Assim, substituindo
𝜋
𝐴 𝑦 = 𝐴 𝑧 = 𝐴𝜔 , 𝜃𝑦 = 𝜃 , 𝜃𝑧 = 𝜃 + (3.53)
2
nas equações (3.48), finalmente obtemos
𝑎
𝑦(𝑡) = 𝐶 𝑦 + 𝑡 + 𝐴 sin(𝜔𝑡 + 𝜃) ,
𝜔
𝑧(𝑡) = 𝐶𝑧 + 𝐴 cos(𝜔𝑡 + 𝜃) . (3.54)

A trajetória da partícula carregada dependera das condições iniciais. Por exemplo, assu-
mindo 𝐸 𝑥 = 0, e que a partícula inicialmente se encontra em repouso na origem do sistema de
coordenadas, obtemos 𝐶 𝑦 = 0, 𝐶𝑧 = 𝑎/𝜔2 , 𝐴 = −𝑎/𝜔2 e 𝜃 = 0. Substituindo nas equações
acima, encontramos
𝑎
𝑦(𝑡) = (𝜔𝑡 − sin(𝜔𝑡)) ,
𝜔2
𝑎
𝑧(𝑡) = (1 − cos(𝜔𝑡)) . (3.55)
𝜔2
Assim, a trajetória da partícula é cicloide em forma de pontas conforme ilustrado na Fig. 3.5.
Dependendo das condições iniciais, podemos também ter cicloides em forma de voltas ou ondas.

34
3.7 Conservação do Momento Angular

Figura 3.5: Trajetórias de uma carga sob a ação de um campo elétrico na direção 𝑧 e de uma campo
magnético na direção 𝑥.

3.7 Conservação do Momento Angular

Passaremos agora a considerar uma partícula sob a ação de uma força central. Uma vez
que a força aponta sempre em direção ao centro de referência, o movimento da partícula se dá
num plano. Seja 𝑥𝑦 este plano. A Fig. 3.6 exemplifica o movimento de uma partícula de massa
𝑚 seguindo uma trajetória elíptica em torno de um corpo de massa 𝑀  𝑚 em repouso na
origem. A força que 𝑀 exerce sobre 𝑚 sempre aponta para a origem do sistema de coordenadas,
de tal forma que a interação ente as partículas é atrativa. Este é o caso da força gravitacional.
A Fig. 3.7 mostra o caso de força central repulsiva, tipicamente entre duas partículas carregadas
com cargas de mesmo sinal 𝑄 e 𝑞. Tendo em vista estas considerações, a força pode ser escrita
como
F = 𝑓 (𝜌) 𝝆 0 . (3.56)

Se 𝑓 (𝜌) > 0 ( 𝑓 (𝜌) < 0) a força é atrativa (repulsiva).


Pela equação (1.38), o torque da força central é dado por

N = r × F = (𝜌𝝆 0 ) × ( 𝑓 (𝜌) 𝝆 0 ) = 0 . (3.57)

Consequentemente, o momento angular é um vetor contante. Uma vez que L = r × p, e não

35
3.7 Conservação do Momento Angular

y y
v

m v
r •
m
• x
M F
• x
M
Figura 3.6: Partícula de massa 𝑚 sob a ação de uma força central atrativa; 𝑀 é a massa do centro de
força.

q F

• x
Q

Figura 3.7: Partícula de massa 𝑚 sob a ação de uma força central repulsiva; 𝑀 é a massa do centro de
força.

varia em módulo, direção e sentido, então o movimento da partícula é restrito a um plano fixo,
conforme já havíamos predito anteriormente.
Não é difícil ver que a força central é conservativa. Para isto, mostraremos que o vetor ∇ × F
é identicamente nulo. Em coordenadas polares no plano, o operador del tem a representação
𝜕 1 𝜕
∇ = 𝝆0 + 𝝓0 , (3.58)
𝜕𝜌 𝜌 𝜕𝜙
de tal modo que

 
𝜕 1 𝜕
∇×F = 𝝆0 + 𝝓0 × 𝑓 (𝜌) 𝝆 0
𝜕𝜌 𝜌 𝜕𝜙
𝑓 (𝜌) 𝜕 𝝆 0
= 𝝓0 ×
𝜌 𝜕𝜙
𝑓 (𝜌)
= 𝝓0 × 𝝓0
𝜌
= 0, (3.59)
𝜕
onde usamos a primeira das equações (3.7) e que 𝝆 0 × 𝜕𝜌 ( 𝑓 (𝜌) 𝝆 0 ) = 0.

36
3.7 Conservação do Momento Angular

Em coordenadas polares no plano, o momento angular pode ser escrito como

L = 𝑚( 𝝆 × v) = 𝑚(𝜌𝝆 0 × ( 𝜌𝝆 ¤ 0 )) = 𝑚𝜌 2 𝜙k
¤ 0 + 𝜌 𝜙𝝓 ¤ , (3.60)

onde usamos a equação (3.11). Usando o resultado (3.57), encontramos


𝑑
(𝑚𝜌 2 𝜙)
¤ = 𝑚𝜌(𝜌 𝜙¥ + 2 𝜌¤ 𝜙)
¤ =0. (3.61)
𝑑𝑡
Então temos
𝑙
𝜙¤ = , (3.62)
𝑚𝜌 2
onde 𝑙 é a magnitude do momento angular.
Assim, conhecendo-se a função 𝜌(𝑡), podemos determinar o ângulo como função do tempo
por meio da integral ˆ 𝑡
𝑙
𝜃 (𝑡) = 𝑑𝑠 . (3.63)
𝑡0 𝑚𝜌(𝑠)
Agora, buscaremos uma equação para determinarmos 𝜌(𝑡). Com esta finalidade, partiremos
da energia mecânica da partícula em coordenadas polares no plano. Temos,
𝑚
𝐸 = 𝑇 + 𝑉 = [𝑥¤ 2 + 𝑦¤ 2 ] + 𝑉 (𝜌) , (3.64)
2
onde
ˆ r
𝑉 (𝜌) = − F · 𝑑r
r𝑠
ˆ 𝜌
= − ( 𝝆 0 𝑓 (𝜌)) · 𝝆 0 𝑑𝜌
ˆ 𝜌
𝜌𝑠

= − 𝑓 (𝜌) 𝑑𝜌 . (3.65)
𝜌𝑠
Usando coordenadas polares no plano, a equação (3.3), e usando regras de derivação,
podemos escrever

𝑥¤ = 𝜌¤ cos 𝜙 − 𝜌 sin 𝜙 𝜙¤ ,
𝑦¤ = 𝜌¤ sin 𝜙 + 𝜌 cos 𝜙 𝜙¤ , (3.66)

e quadrando os dois termos obtemos


𝑚 2
[ 𝜌¤ + 𝜌 2 𝜙¤2 ] + 𝑉 (𝜌) .
𝐸= (3.67)
2
Agora, pela equação de conservação do momento angular (3.62), obtemos
𝑙2
 
𝑚 2
𝐸= 𝜌¤ + 2 2 + 𝑉 (𝜌) . (3.68)
2 𝑚 𝜌
¤ encontramos
Resolvendo para 𝜌,
s 
𝑙2

2
𝜌¤ = 𝐸 − 𝑉 (𝜌) − , (3.69)
𝑚 2𝑚𝜌 2
de onde se obtém r ˆ 𝜌
𝑚 1
q 𝑑𝜌 = (𝑡 − 𝑡0 ) . (3.70)
2 𝜌0 𝐸 − 𝑉 (𝜌) − 𝑙2
2𝑚𝜌2

Para uma grande maioria de energias potenciais esta integral não admite solução exata.

37
3.8 Equação da Órbita

Além disso, nem sempre é possível inverter o resultado, a fim de obter 𝜌(𝑡). Outra forma de
obter a posição da partícula seria resolver as equações de movimento diretamente. Isto será feito
na próxima Seção.

φ
ρd
( t 2)
r
dφ t 1)
r(
x

Figura 3.8: Área varrida pelo vetor de posição.

Mostraremos agora que a taxa de área que a linha, a qual une a partícula ao centro de força,
varre é constante. Considere duas posições da partícula em diferentes instantes de tempo, r(𝑡1 )
e r(𝑡2 ), conforme ilustrado na Fig. 3.8. A área compreendida pelas duas linhas que unem as
posições da partícula e a origem, e a trajetória da partícula pode ser aproximada pela área de um
triângulo. No limite em que 𝑡1 → 𝑡2 podemos escrever
1 1 𝑑𝜙 𝑙
𝑑𝑆 = (𝜌𝑑𝜙) (𝜌) = 𝜌 2 𝑑𝑡 = 𝑑𝑡 , (3.71)
2 2 𝑑𝑡 2𝑚
onde usamos a equação de conservação do momento angular (3.62). Assim, temos que
𝑑𝑆 𝑙
= , (3.72)
𝑑𝑡 2𝑚
a qual é uma constante. Esta equação é conhecida como segunda lei de Kepler a qual é verdadeira
para qualquer força central. Assim, o tempo decorrido entre dois pontos pode ser obtido pela
intergral da equação (3.72). Temos que
2𝑚𝑆
𝜏= . (3.73)
𝑙

3.8 Equação da Órbita

Da equação (3.12), em coordenadas polares no plano, a aceleração é dada por

a = ( 𝜌¥ − 𝜌 𝜙¤2 ) 𝝆0 + (𝜌 𝜙¥ + 2 𝜌¤ 𝜙)𝝓
¤ 0, (3.74)

de tal forma que igualando as duas componentes da força dividida pela massa 𝑚 da partícula,
encontramos

𝑚( 𝜌¥ − 𝜌 𝜙¤2 ) = 𝑓 (𝜌) , (3.75)


𝜌 𝜙¥ + 2 𝜌¤ 𝜙¤ = 0 . (3.76)

38
3.9 O Problema de Kepler

A segunda destas duas últimas equações é uma reafirmação da conservação do momento


angular. A equação da órbita é uma expressão de 𝜌 em função de 𝜙. Com a finalidade de obter
esta, precisamos eliminar o tempo nas duas últimas equações acima. Usando (3.62), temos
𝑑𝜌 𝑑𝜌 𝑑𝜙 𝑙 𝑑𝜌
= = . (3.77)
𝑑𝑡 𝑑𝜙 𝑑𝑡 𝑚𝜌 2 𝑑𝜙
Analogamente,

𝑑2 𝜌
   
𝑑 𝑑𝜌 𝑑𝜙 𝑙 𝑑 𝑙 𝑑𝜌
= = . (3.78)
𝑑𝑡 2 𝑑𝜙 𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑚𝜌 2 𝑑𝜙 𝑚𝜌 2 𝑑𝜙
Substituindo na equação (3.75), obtemos
𝑙 2 1 𝑑 1 𝑑𝜌
   
1
− = 𝑓 (𝜌) , (3.79)
𝑚 𝜌 2 𝑑𝜙 𝜌 2 𝑑𝜙 𝜌3
a qual é conhecida como equação da órbita. Esta equação pode ser consideravelmente simplifi-
cada através da mudança de variável 𝑢 = 1/𝜌. Temos
𝑑𝜌 𝑑𝜌 𝑑𝑢 1 𝑑𝑢
= =− 2 , (3.80)
𝑑𝜙 𝑑𝑢 𝑑𝜙 𝑢 𝑑𝜙
de tal modo que
1 𝑑𝜌 𝑑𝑢
=− , (3.81)
𝜌 2 𝑑𝜙 𝑑𝜙
e
𝑙 2𝑢2 𝑑 2𝑢
 
− +𝑢 = 𝑓 . (3.82)
𝑚 𝑑𝜙2
Para uma dada força central 𝑓 (𝜌), usaremos esta equação para determinar a órbita.

3.9 O Problema de Kepler

Como um caso especial, e muito importante, consideremos a força central que varia com o
inverso do quadrado da distância entre a partícula e o centro de força,
𝑘
𝑓 (𝜌) = − 2 = −𝑘𝑢 2 , (3.83)
𝜌
onde 𝑘 > 0 para o caso de uma força atrativa. Substituindo na equação da órbita (3.82),
encontramos
𝑑2𝑢 𝑚𝑘
2
+𝑢 = 2 , (3.84)
𝑑𝜙 𝑙
a qual pode ser facilmente resolvida. Obtemos
𝑚𝑘
𝑢 = 2 + 𝐴 cos(𝜙 − 𝜙0 ) , (3.85)
𝑙
onde 𝐴 e 𝜙0 são constantes de integração; 𝐴 está relacionada com a energia da partícula e 𝜙0
com a orientação inicial da sua posição. Em termos de 𝜌, temos
𝑙 2 /𝑚𝑘 𝐴𝑙 2
=1+ cos(𝜙 − 𝜙0 ) . (3.86)
𝜌 𝑚𝑘
Esta é a equação de uma cônica com excentricidade 𝐴𝑙 2 /𝑚𝑘 e semi-eixo reto 𝑙 2 /𝑚𝑘; o
centro de força coincide com o foco.

39
3.9 O Problema de Kepler

3.9.1 Classificação das Órbitas

Por meio de uma simples integração, não é difícil ver que a energia potencial correspondente
à força central de Kepler é dada por 𝑉 (𝜌) = −𝑘/𝑟, supondo que o valor de 𝑉 nulo no infinito.
Assim, combinando a equação (3.77) e a expressão da energia mecânica (3.68), encontramos
" 2 #
𝑙2 1 𝑑𝜌 1 𝑘
𝐸= 2
+ 2 − . (3.87)
2𝑚 𝜌 𝑑𝜙 𝜌 𝑟
Podemos simplificar ainda mais a energia mecânica usando a equação (3.81). Temos
"  #
2
𝑙2 𝑑𝑢 2
𝐸= + 𝑢 − 𝑘𝑢 . (3.88)
2𝑚 𝑑𝜙
Agora, substituindo a equação (3.85), finalmente obtemos
𝐴2 𝑙 2 𝑚𝑘 2
𝐸= − 2 , (3.89)
2𝑚 2𝑙
ou ainda s
 2
2𝑚𝐸 𝑚𝑘
𝐴= + 2 . (3.90)
𝑙2 𝑙
Então, a excentricidade é dada por
r
𝐴𝑙 2 2𝑙 2 𝐸
𝑒= = 1+ . (3.91)
𝑚𝑘 𝑚𝑘 2
Com efeito, temos os seguintes casos:
1. Se 𝐸 > 0, então 𝑒 > 1 e a órbita é uma hipérbole;
2. Se 𝐸 = 0, então 𝑒 = 1 e a órbita é uma parábola;
3. Se −𝑚𝑘 2 /2𝑙 2 < 𝐸 < 0, então 0 < 𝑒 < 1 e a órbita é uma elipse;
4. Se 𝐸 = −𝑚𝑘 2 /2𝑙 2 , então 𝑒 = 0 e a órbita é um círculo.

3.9.2 Período de uma Órbita

Pela equação (3.73), o período de uma órbita completa é então dado por
2𝑚
𝑇= 𝑆. (3.92)
𝑙
Para uma elipse de semi-eixo maior 𝑎 e semi-eixo menor 𝑏, a área é dada por 𝑆 = 𝜋𝑎𝑏, onde
𝑙2
𝑎= ,
𝑚𝑘 (1 − 𝑒 2 )
𝑙2
𝑏= √ , (3.93)
𝑚𝑘 1 − 𝑒 2
de tal modo que, da relação 𝑇 = 2𝑚𝜋𝑎𝑏/𝑙, encontramos
𝑎3 𝑘
2
= 2 . (3.94)
𝑇 4𝜋 𝑚
Uma vez que 𝑘 = 𝐺 𝑀𝑚, onde 𝐺 a constante gravitacional universal e M a massa do centro de
força, a razão 𝑎 3 /𝑇 2 é constante. Esta é conhecida como terceira lei de Kepler.

K Problemas k

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3.9 O Problema de Kepler

1. Considere as equações (3.54). Assuma que a partícula inicialmente se encontra na origem


e velocidade inicial 𝑦¤ (0) = 𝑣 0𝑥 e 𝑧¤ (0) = 𝑣 0𝑦 . Mostre as constantes de integração
(𝐶 𝑦 , 𝐶𝑧 , 𝐴, 𝜃) são dadas por

𝑣 0𝑦 𝑎 𝑣 0𝑥
𝐶𝑦 = , 𝐶𝑧 = 2 ,
𝜔 𝜔 𝜔
r  
𝑣 0𝑦  2  𝑎 𝑣 0𝑥  2 𝜔𝑣 0𝑦
𝐴= + 2− , 𝜃 = arctan
𝜔 𝜔 𝜔 𝑎 − 𝜔𝑣 0𝑥
Usando estes resultados, podemos determinar as cicloides em forma de voltas e ondas,
conforme ilustrado na Fig. 3.5
2. Uma partícula de massa 𝑚 move-se sob a ação de uma força central cujo potencial é

𝑉 (𝜌) = 𝐾 𝜌 4 , 𝐾>0.

Para que energia e momento angular a órbita será um círculo de raio 𝑎 em torno da origem?
Qual o período deste movimento circular? Deslocando-se ligeiramente a partícula deste
movimento circular, qual será o período das pequenas oscilações radias em torno de 𝑟 = 𝑎?
3. De acordo com a Teoria das Forças Nucleares, de Yukawa, a força entre um nêutron e um
próton tem a seguinte potencial
𝑒 −𝛼𝜌
𝑉 (𝜌) = 𝐾 , 𝐾<0.
𝜌
(a) Determine 𝑙 e 𝐸 para o movimento em círculo de raio 𝑎. (a) Determine o período do
movimento circular e o período de pequenas oscilações radiais.
4. Discuta os possíveis movimentos para a seguinte força central:
𝐾 𝐾0
𝐹 (𝜌) = − 2 + 3 ,
𝜌 𝜌
Admita que 𝐾 > 0 e considere ambos os sinais para 𝐾 0. Resolva a equação orbital 3.82,
mostrando que as órbitas ligadas têm a forma (se 𝑙 2 > −𝑚𝐾 0)
1 𝑚𝐾
= 2 + 𝐴 cos(𝛼𝜙) ,
𝜌 𝑙
0 2
onde 𝛼 = 1 + 𝑚𝐾 /𝑙 .

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Bibliografia

[1] S. T. Thornton and J. B. Marion, Classical Dynamics of Particles and Systems, 5th ed., Thomson Brooks/Cole,
Belmont, 2004.
[2] K. R. Symon, Mechanics, 3rd ed., Addison-Wesley Massachusetts, 1971.
[3] L. D. Landau and L. M. Lifshitz Mechanics, 3rd ed., Pergammon, New York, 1976.

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