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simulação computacional
Capítulo 7: Sistema de dois níveis
J. Ricardo de Sousa
v
Chapter 1
1.1 Introdução
Existem inúmeros exemplos onde, em primeira aproximação, um sistema
complexo pode ser modelado como um sistema de dois níveis de energia E1 e
E2 . Em física, onde a aproximação são quase sempre inevitáveis, vale a pena
explorar o assunto. É atraente o fato que, em geral, o sistema de dois níveis
tem solução exata, assim podemos fazer previsões espetaculares e precisas.
1
2 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
Figure 1.1: Estruturas dos anéis da molécula aromática (C6 H6 ) que formam
o benzeno
efeito de ressonância.
Ao construir os estados j'1 i e j'2 i com as con…gurações mostradas na
…gura 7.1, esperamos que E1 = E2 = Eo , ou seja, o sistema é degenerado,
assim, o Hamiltoniano (Ho ) do sistema será representado
® por uma matriz
2 £ 2 diagonal com elementos Hoij = 'i jHo j 'j = Eo ± ij . Porém, devido ao
acoplamento entre os átomos de carbono da molécula, que representaremos
por W , a matriz do Hamiltoniano do sistema agora, incluindo este acompla-
mento, H = Ho + W , não será diagonal, desta maneira, a degenerescência
é removida. Na linguagem da MQ, a matriz do Hamiltoniano é escrita na
forma 0 1
Eo W12
H=@ A; (1.1)
W21 Eo
®
onde Wij = 'i jW j 'j = Wji¤ .
O Hamiltoniano (1.1) é um caso particular do Hamiltoniano geral para
um sistema de dois níveis que iremos discutir mais adiante, onde o objetivo
será primeiro fazer o processo de diagonalização encontrando os autovalores
e autovetores e depois fazer cálculos de grandezas de interesses, como, por
exmeplo, valores esperados de observáveis, probabilidades, evolução tempo-
ral, etc.
1.1.2 Molécula H+
2
Um outro exemplo interessante de sistema de dois níveis é o íon da molécula
de hidrogênio (H2+ ). A molécula H2+ é constituída por dois prótons (núcleos)
e um elétron que se move entre eles, ou seja, o elétron é disputado pelos dois
núcleos, conforme está esquematizado pela …gura 7.2.
Quando os núcleos estão longe um do outro, o elétron poderá …car a
mover-se em torno de um qualquer deles, formando uma orbital de hidrogênio
em torno desse núcleo. Uma solução aproximada poderia ser obtida com
auxílio do átomo isolado, considerando que existem dois estados quânticos
para o elétron: o estado j'1 i corresponde o elétron ligado ao núcleo 1; e o
estado j'2 i que corresponde o elétron ligado ao núcleo 2. Estes dois estados
têm a mesma energia Eo. Isto corresponderia
® a um Hamiltoniano (Ho ) di-
agonal na forma Hoij = 'i jHo j 'j = Eo ± ij . Ao construir os estados j'1 i
e j'2 i com as con…gurações da …gura 7.2, encontramos, por exemplo, a con-
…guração (1). Devido ao acoplamento elétron-elétron e núcleo-núcleo (W ),
4 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
! ¡
¡ !
Terra temos T = 24 horas). Na física clássica estas duas grandezas L e S
estão conceitualmente corretas, mas na MQ esta de…nição do spin não está
correta (provaremos no capítulo 11).
Esta expressão (1.2) da energia potencial pode ser útil para explicar
porque um material imantado (o ímã) atrai pedaços limalhas de ferro ou
até mesmo um prego feito de ferro (ou liga metálica semelhante). Estes ma-
teriais em gerais são constituídos de muitos momentos magnéticos (da ordem
do número de Avogadro » 1024 ), e o que diferencia um material imantado de
outro não imantado é a existência de interação forte (origem não-magnética)
entre os momentos de dipolos. Na ausência de campo magnético externo, es-
tas interações causarão uma ordem magnética no sistema, que no caso de um
material ferromagnético
¿ corresponderá
À a um valor da magnetização (espon-
¡
! P !
¡
tânea) M (T; 0) = 1V
¹i abaixo de uma certa temperatura T (temper-
c
i
atura de Curie), onde h:::i é a média térmica, que na mecânica estatística
corresponde ao ensemble canônico.
¡!
A existência de um valor …nito não nulo de M (T; 0) signi…ca o material
composto por dois polos (magnéticos) que caracteriza um ímã, onde o sentido
¡
!
de M (T; 0) corresponderá a direção do polo norte ao polo sul. Isto sign…ca
!
¡
que a presença de magnetização resultará em um campo magnético B na
¡
!
mesma direção e sentido de M , ou seja, um material magnetizado gera um
campo magnético no espaço. No caso dos materiais não magnetizados, de
uma maneira geral, as interações existentes são fracas o su…ciente em com-
paração com a energia térmica kB T destruindo qualquer tipo de ordenamento
¡
!
(i. e., M = 0). Por exemplo, no caso do ímã a energia responsável pelo or-
denamento dos momentos (J, de origem elétrica quântica) é fraca quando
1.2 PARTíCULA DE SPIN 1=2 7
atingimos temperaturas maiores que Tc (Tc ' 103 K para o níquel, por ex-
emplo), por isto dizemos que o ímã está desmagnetizado. É o que ocorre com
um cartão bancário ou o cartão de uma porta do quarto do hotel. Magneti-
zar signi…ca fazer com que os momentos magnéticos se orientem numa dada
direção do espaço, nestes exemplos isto é conseguido colocando os cartões na
presença de um campo “forte”.
Por outro lado, um pedaço de ferro qualquer (não magnetizado) tem mag-
netização (espontânea) nula para qualquer temperatura ambiente, uma vez
que a interação dipolar existente em qualquer material magnético é fraca o
su…ciente para temperaturas T & 10¡3 K [estimamos este valor de temper-
2
atura comparando a energia dipolar » ¹a3 (a » 1 Å é o parâmetro de rede do
cristal) com a energia térmica kB T ], e dizemos que estes materiais não têm
magnetização espontânea. Na presença de um campo magnético externo,
devido ao acoplamento dos dipolos com o campo, Eq. (1.2), teremos uma
¡
!
magnetização induzida M (T; B) apontada na direção do campo, que corre-
sponde ao mínimo de energia. Assim sendo, quando um prego for colocado
na presença de um ímã permanente, o polo norte do ímã gerará um campo
com sentido divergindo ao polo (i. e., na direção e sentido ao polo norte).
Devido ao acoplamento com o campo, os momentos do prego se orientarão
!
¡
na mesma direção e sentido de B (gerado pelo ímã) criando uma estrutura
tipo um ímã, com o polo sul na parte mais próxima ao ímã, induzindo as-
sim uma atração magnética. Invertendo a polarização do ímã, a discussão é
equivalente e o prego também sofre atração.
Do ponto de vista da eletrodinâmica clássica, o momento de dipolo mag-
nético é de…nido como sendo uma espira percorrida por uma corrente elétrica
(i), onde o seu módulo é igual ao produto desta corrente pela área da espira
(A), isto é, j¡
!
¹ j = iA. O sentido do momento de ¡ !
¹ é dado pela “regra da
mão direita”, orientada pelo sentido da corrente i. Se usarmos como pro-
tótipo o átomo de hidrogênio, o elétron orbitando (carga ¡e e massa m) ao
redor do núcleo descreve uma espira e, portanto, resultará num momento
magnético orbital ¡!¹ L cujo sentido da corrente elétrica é contrária (sentido
convencional) ao movimento do elétron. Assim sendo, ¡ !
¹ L e o momento an-
! ¡
¡ ! !
¡
gular L = r £ p terão sentidos contrários, e usando a órbita circular no
modelo de Bohr mostramos que o operador momento de dipolo magnético
(orbital) é dado por
!
¡
!
¡ L
¹ L = ¡¹B ; (1.3)
}
8 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
e}
onde ¹B = 2m = 9; 27400899(37) £ 10¡24 J¢T¡1 é chamado de magneton
de Bohr (quantum do momento de dipolo). Note que usamos a notação
! ¡
¡ ! ¡ ! !
¡
L = R £ P para designar o operador momento angular na MQ, e L é o
equivalente do observável na mecânica clássica.
Ä Teste 7.1: Use o modelo atômico de Bohr para mostrar que o momento magnético
associado a corrente elétrica (movimento do elétron ao redor do núcleo) é expresso pela
Eq. (1.3).
! b
¡
Não demonstraremos aqui, mas o conjunto de operadores {Ho , L 2 , Lz}
formam um CCOC (conjunto completo de observáveis comutáveis), assim
sendo, terá uma base comum que designaremos pelo ket jn; l; ml i. Na lin-
guagem da MQ, a …m de que (1.5) resulte no termo adicional da energia
(1.4), este ket comum satisfaz a equação de autovalor
bz jn; l; ml i = ml } jn; l; ml i :
L (1.6)
Desta maneira, teremos
¢EB = hn; l; ml jWB j n; l; ml i (1.7)
o que justi…ca a expressão (1.4).
}
Sz j§i = § j§i ; (1.11)
2
com 8
< h§j §i = 1; h§j ¨i = 0 (ortonormalidade)
: (1.12)
: j+i h+j + j¡i h¡j = I (completeza)
2£2
sendo 0 1
1 0
¾z = @ A (1.14)
0 ¡1
5
Ver o trabalho: High-brilliance Zeeman-slowed cesium atomic beam, por Lison, Schuh,
Haubrich e Meschede, em Phys. Rev. A 61, 013405 (1999).
1.2 PARTíCULA DE SPIN 1=2 13
sendo 8 0 1
>
> 0 1
>
>
>
> ¾x = @ A
< 1 0
0 1 (1.16)
>
> 0 ¡i
>
>
>
> ¾ =@ A
: y i 0
as componentes x e y da matriz de Pauli6 .
As matrizes de Pauli (1.14) e (1.16) satisfazem as seguintes propriedades:
a) Relação de comutação
Combinando as matrizes (1.14) e (1.16), …camos com
[¾ x ; ¾ y ] = ¾ x ¾ y ¡ ¾ y ¾ x
0 10 1 0 10 1
0 1 0 ¡i 0 ¡i 0 1
= @ A@ A¡@ A@ A
1 0 i 0 i 0 1 0
0 1 0 1 0 1
i 0 ¡i 0 1 0
= @ A¡@ A = 2i @ A;
0 ¡i 0 i 0 ¡1
ou
[¾ x ; ¾ y ] = 2i¾ z : (1.17)
Seguindo o mesmo procedimento anterior, mostramos a relação geral
[¾ a ; ¾ b ] = 2i 2abc ¾ c ; (1.18)
6
Existe um argumento muito elegante de se obter as matrizes de Pauli (1.16) sem
fazer uso da teoria do momento angular. Para o leitor interessado pode consultar o livro:
Mecânica quântica moderna, por Sakurai e Napolitano, 2a edição (Bookman Editora LTDA,
Porto Alegre, 2013), página 25.
14 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
por exemplo, 8
>
> 2 =2 =2 = 1
>
< xyz yzx zxy
2xzy =2zyx =2yxz = ¡1 : (1.20)
>
>
>
: 2 =2 = :::: = 0
xxz yzy
Ä Teste 7.2: Mostre para as outras componentes da matriz de Pauli que a relação
de comutação (1.18) está correta.
b) Algumas identidades
Analisando as matrizes de Pauli, mostamos claramente que elas satisfazem
as seguintes identidades: 8
>
> det(¾ a ) = ¡1
>
<
T r(¾ a ) = 0 ; (1.21)
>
>
>
: ¾2 = I a
e 8
>
> ¾ ¾ = ¡¾ z ¾ y = i¾ x
>
< y z
¾ z ¾ x = ¡¾ x ¾ z = i¾ y ! f¾ a ; ¾ b g = 2± ab I; (1.22)
>
>
>
: ¾ ¾ = ¡¾ ¾ = i¾
x y y x z
}2
Ä Teste 7.3: Mostre as relações: [Sa ; Sb ] = i} 2abc Sc e fSa ; Sb g = ± I:
2 ab
1.2 PARTíCULA DE SPIN 1=2 15
X1
1 X 1
(¾ a )2n X1
(¾ a )2n+1
e¸¾a = (¸¾ a )n = (¸)2n + (¸)2n+1
n=0
n! (2n)! (2n + 1)!
|n=0 {z } |n=0 {z }
termos pares termos ímpares
"1 # "1 #
X 1 2n
X 1 2n+1
= I (¸) + ¾a (¸) ;
n=0
(2n)! n=0
(2n + 1)!
| {z } | {z }
cosh(¸) sinh(¸)
ou
e¸¾a = I cosh(¸) + ¾ a sinh(¸): (1.23)
Ä Teste 7.4: Mostre que ei¸¾a = I cos(¸) + i¾ a sin(¸), onde ¸ é um número real.
! ¡
¡ !
Ä Teste 7.5: Considere A e B dois operadores vetoriais no espaço bidimensional
que comutam com as componentes das matrizes de Pauli. Prove a seguinte identidade
vetorial: ³ ´³ ´ ³ ´ ³ ´
¡
! !
¡ ¡
! !
¡ ¡ ¡
! ! ¡ ¡
! !
¾ ¢A ¾ ¢ B = A ¢ B I + i¡
!
¾ ¢ A£B : (1.24)
Ä Teste 7.6: Mostre que os autovetores do operador ¾ y são dados pelas expressões
em (1.34).
sendo 0 1
cos µ e¡i' sin µ
¾n = @ A: (1.38)
i'
e sin µ ¡ cos µ
Diagonalização do operador ¾ n
Considerando que o autovetor de ¾ n é dado de uma maneira geral por um
ket normalizado conforme Eq. (1.26), então, escrevemos
0 10 1 0 1
¡i'
cos µ e sin µ x x
¾ n j"n i = "n j"n i ! @ A @ A = "n @ A ; (1.39)
ei' sin µ ¡ cos µ y y
ou 8
< (cos µ ¡ " ) x + e¡i' sin µy = 0
n
: (1.40)
: ei' sin µx ¡ (cos µ + " ) y = 0
n
18 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
(1 ¡ cos µ) ei' x
y= = tan(µ=2)ei' x; (1.44)
sin µ
1.2 PARTíCULA DE SPIN 1=2 19
ou
0 1
cos(µ=2)
"n = 1 ! j+in = cos(µ=2) j+i + ei' sin(µ=2) j¡i = @ A : (1.46)
i'
e sin(µ=2)
ou
}
Sn j§in = § j§in : (1.49)
2
¥ Exemplo 7.1: Mostre que os autovetores gerais (1.46) e (1.47) reduzem-se aos
autovetores dos operadores ¾ x , ¾ y e ¾ z escritos anteriormente com escolhas apropriadas
para os ângulos µ e '.
Solução
note que j¡i e ei' j¡i descreve o mesmo estado do operador ¾ z com autovalor ¡1. Do
postulado 1 vimos que o estado (puro) de uma partícula é determinada a menos de um
fator multiplicativo de fase arbitrária ei' .
Para a componente ¾ x escolhemos µ = ¼=2 e ' = 0 arbitrário, então, das Eqs.
(1.46) e (1.47) obtemos
8
< j+i = cos(µ=2) j+i + ei' sin(µ=2) j¡i ! j+i
n x
; (1.51)
: j¡i = sin(µ=2) j+i ¡ ei' cos(µ=2) j¡i ! j¡i
n x
Solução
Como vimos em (1.41), os valores das medidas do observável Sn são §}=2, onde os
seus respectivos autovetores são dados em (1.46) e (1.47). De acordo com 3o postulado da
MQ, as probabilidades das medidas deste observável são dadas por
todos os p
dois estados são igualmente prováveis, assim sendo, teremos j®j =
j¯j = 1= 2. O primeiro …ltro prepara os átomos num determinado estado
correspondente ao estado j+in1 do observável Sn1 com autovalor }=2. Este
…ltro é usualmente chamado de polarizador. O segundo aparato SG realiza
então uma medida do observável Sn2 . Este segundo aparato é usualmente
chamado de analisador. Como o estado abtes da entrada neste aparato é
conhecido, a MQ permite calcular as probabilidades associadas aos possíveis
resultados desta medida. Como há apenas dois valores possíveis de medidas,
as suas respectivas probabilidades são dadas por
P(Sn2 = §}=2) = jn2 h§j ªn1 ij2 ; (1.62)
sendo
jªn1 i = j+in1 (1.63)
o estado preparado pelo polarizador (primeiro aparato SG).
Se o segundo aparato também atua como um …ltro, deixando passar ape-
nas os átomos para os quais o resultado da medida do observável Sn2 seja
o valor }=2 (estado j+in1 ), a razão I2 =I1 das intensidades dos feixes antes e
depois da passagem pelo analisador fornecerá a probabilidade P(Sn2 = }=2)
de…nida na MQ pela expressão (1.62). Temos assim uma maneira prática de
determinar probabilidades em sistemas quânticos, em especial aqui no trata-
mento das medidas do spin. Consideramos a seguir alguns casos particulares
deste arranjo experimental com dois aparatos SG colocados sucessivos.
i) Experimento 1
Considere na …gura 7.4 (b) os campos nos dois aparatos escolhidos de modo
b1 = x
que n be n b2 = zb. Na saída do polarizador (pimeiro aparato SG), os
átomos foram preparados no estado j+ix (intensidade I1 ), então a probabil-
idade de obter o valor }=2 da medida do observável Sz no segundo aparato
SG (analisador) vale
P(Sz = }=2) = jh+j +ix j2 ; (1.64)
usando a expressão do autovetor j+ix dado em (1.31), obtemos
I2 1
P(Sz = }=2) = = : (1.65)
I1 2
Note que as intensidades dos feixes I1 e I2 são determinados através da con-
tagem do número de partículas no dado estado de spin.
24 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
ii) Experimento 2
Considere na …gura 7.4 (b) os campos nos dois aparatos escolhidos de modo
b1 = x
que n ben b2 = zb. Este experimento 2 é semelhante ao anterior. Na saída
do polarizador (pimeiro aparato SG), os átomos foram preparados no estado
j+ix (intensidade I1 ), então a probabilidade de obter o valor ¡}=2 da medida
do observável Sz no segundo aparato SG (analisador) vale
I20 1
P(Sz = ¡}=2) = = ; (1.67)
I1 2
comparando os resultados (1.65) e (1.67), concluimos que I20 = I2 .
iii) Experimento 3
Considere que invertemos os campos da …gura 7.4 (b) do experimento 1, ou
b1 = zb e n
seja, n b2 = x
b. Na saída do polarizador (pimeiro aparato SG), os
átomos foram preparados no estado j+i (intensidade I1 ), então a probabili-
dade de obter o valor }=2 da medida do observável Sx no segundo aparato
SG (analisador) vale
I2 1
P(Sx = }=2) = jx h+j +ij2 = = : (1.68)
I1 2
iv) Experimento 4
Considere agora três aparatos SG conforme está esquematizado na …gura
7.5. No primeiro aparato (polarizador) o campo foi escolhido na direção zb,
no segundo na direção xb e, …nalmente, no terceiro aparato (analisador) foi
escolhido o campo na direção zb.
Este experimento é meramente uma combinação dos experimentos 2 e 3.
Na saída do polarizador (pimeiro aparato SG), os átomos foram preparados
no estado j+i (intensidade I1 ), então a probabilidade de obter o valor }=2
da medida do observável Sx no segundo aparato SG vale
I2 1
P(Sx = }=2) = jx h+j +ij2 = = : (1.69)
I1 2
1.2 PARTíCULA DE SPIN 1=2 25
Figure 1.6: Esquema do aparato SG com três …ltros sucessivos de spin com
autovalor }=2 para gradientes de campos nas direções zb, x
b e zb rspectivamente.
O segundo aparato foi colocado um …ltro de modo que apenas feixe de átomos
(intensidade I2 ) no estado j+ix é permitido. No terceiro aparato (analisador)
foi colocado um …ltro inibindo o feixe de átomos no estado j+i, onde antes da
medida os átomos foram preparados no estado j+ix de modo que a probabil-
idade de obter o valor ¡}=2 da medida do observável Sz no terceiro aparato
SG vale
I3 1
P(Sz = ¡}=2) = jh¡j +ix j2 = = : (1.70)
I2 2
Combinando os resultados (1.69) e (1.70), …camos com
I3 I3 I2 1
= £ = : (1.71)
I1 I2 I1 4
v) Experimento 5
Suponha remover o segundo aparato SG (…ltro intermediário) da …gura 7.5.
Na saída do polarizador, os átomos estão no estado j+i, logo, a probabilidade
de obter o valor ¡}=2 da medida do observável Sz vale
I3
P(Sz = ¡}=2) = jh¡j +ij2 = = 0: (1.72)
I1
Assim, a remoção do …ltro intermediário do experimento 4 não resultou numa
maior probabilidade de passagem dos átomos pelo aparato. Pelo contrário,
na ausência do …ltro, a passagem é impossível, enquanto que, com o …ltro
intermediário se torna possível, Eq. (1.71). Embora este comportamento
26 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
contradiz a ideia usual de …ltro d epartículas, ele é semelhante aos dois …ltros
polaróide utilizados para fabricar óculos de sol. Aliás, a descrição matemática
do spin¡1=2 é bastante semelhante com o processo de polarização da luz,
onde o fóton é descrito em termos de dois estados (ver seções 6.3 e 6.4).
I2§
MQ temos que as probabilidades relativas I1
serão dadas por
8 ¡µ¢
< I2+
I1
= P(Sz = }=2) = jh+j +in j2 = cos2 2
I2¡ ¡ ¢ : (1.74)
: 2
= P(Sz = ¡}=2) = jh¡j +in j = sin2 µ2
I1
ou
}
hSx i = sin µ cos ': (1.76)
2
28 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
sendo
}wo
E§ = § : (1.86)
2
Existem, portanto, dois níveis de energias E+ e E¡ , conforme estão
esquematizados na …gura 7.7, onde a separação ¢E = E+ ¡ E¡ = }wo é
proporcional ao campo magnético, assim de…nimos uma única frequência de
Bohr associada a esta transição:
¤E wo
º +¡ = = : (1.87)
h 2¼
(1.82), para isto necessitamos saber qual é o estado inicial jª(0)i. Considere
que o sistema foi preparado no estado jª(0)i = j+in , que é autovetor da com-
ponente Sn com autovalor }=2. Usando o autovetor (1.46) e o Hamiltoniano
(1.84) em (1.82), …camos com
£ ¤
jª(t)i = e¡iHt=} cos(µ=2) j+i + ei' sin(µ=2) j¡i
= cos(µ=2)e¡iHt=} j+i + ei' sin(µ=2)e¡iHt=} j¡i ;
Por serem vetores (grandezas reais), reescrevemos as soluções (1.94) nas for-
mas: 8
> £ ¤
>
> Sx (t) = Re ®ei(wo t+±x )
< £ ¤
Sy (t) = Im ¯ei(wo t+±y ) : (1.96)
>
>
>
: Sz (t) = C
Usando as condições iniciais (1.95) em (1.97), obtemos
8
>
> }
> ± x = '; ® = 2 sin µ
<
± y = '; ¯ = }2 sin µ ; (1.97)
>
>
>
: C = }2 cos µ
logo, …camos com
8
>
> S (t) = }
sin µ cos (' + wo t)
>
< x 2
} (1.98)
Sy (t) = sin µ sin (' + wo t) ;
>
>
2
>
: }
Sz (t) = 2
cos µ
onde estas componentes do vetor de spin descrevem o movimento de precessão
!
¡
de S mostrado na …gura 7.8.
ou
}
hSx i (t) = sin µ cos (' + wo t) ; (1.99)
2
que tem a mesma forma da função da componente Sx (t) do vetor em (1.98).
De maneira análoga, obtemos as os valores esperados das outras componentes
de spin, y e z, que são dadas por
8
< hS i (t) = hª(t) jS j ª(t)i = } sin µ sin (' + w t)
y y 2 o
: (1.100)
: hS i (t) = hª(t) jS j ª(t)i = } cos µ
z z 2
Probabilidade
Vamos aplicar agora o 3o postulado da MQ analisando o comportamento
da expressão (1.88). A probabilidade de encontrar o sistema no estado, por
exemplo, da medida Sz = }=2, no instante de tempo t, é dada por
1
P(Sx = }=2; t) = jx h+j ª(t)ij2 = [1 + sin µ cos (' + wo t)] ; (1.103)
2
36 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
sendo
°Bo L
wo ¿ = : (1.111)
v
Da expressão (1.110) temos que a transmissão do feixe pelo analisador
será completa (i. e., I2 = I1 ), se os parâmetros envolvidos no sistema
satisfazer a condição:
°Bo L ¼
wo ¿ = = + 2¼n (n = 0; 1; 2; ::), (1.112)
v 2
e será completamente cortado (i. e., I2 = 0) se
°Bo L 3¼
wo ¿ = = + 2¼n (n = 0; 1; 2; ::). (1.113)
v 2
Os resultados (1.112) e (1.113) podem ser usados como instrumento de me-
dida a …m de determinar um dos parâmetros °, Bo , L ou v envolvidos no nosso
sistema. Formalizamos, assim, um procedimento de medidas de grandezas
físicas relevantes.
Equação de Schrodinger
Sendo o Hamiltoniano dependente do tempo, nao podemos mais resolver
equação de autovalor, nem mesmo usar a expressão (1.82), assim devemos
atacar o problema na sua forma geral:
2 3 0 12 3
¡iwt
d a(t) w w e a(t)
i} 4 5= }@ o 1
A4 5; (1.117)
dt b(t) 2 w1 eiwt ¡wo b(t)
resultando em 8
< i da = wo a(t) + w1 e¡iwt b(t)
dt 2 2
; (1.118)
: i db = w1 eiwt a(t) ¡ wo b(t)
dt 2 2
Mudança de variáveis
Para resolver o sistema (1.118) é conveniente de…nir as novas variáveis:
8
< a(t) = e¡iwt=2ea(t)
: (1.119)
: b(t) = eiwt=2eb(t)
onde ¢w = w ¡ wo .
O sistema (1.120) pode ser reescrito na forma
d ¯¯ e E ¯
e ¯¯ª(t)
e
E
i} ¯ª(t) =H ; (1.121)
dt
com 2 3
¯ E e
a (t)
¯e
¯ª(t) = 4 5; (1.122)
eb(t)
40 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
e 0 1
¡¢w w1
e= }@
H A: (1.123)
2 w1 ¢w
A transformação (1.119) tornou a equação de Schrodinger (1.121) com
¯ um E
e ¯e
Hamiltoniano H independente do tempo. Desta maneira, a solução ¯ª(t)
será dada por ¯ E ¯ E
¯e e ¯e
¯ª(t) = e¡iHt=} ¯ª(0) ; (1.124)
¯ E
¯e
onde ¯ª(0) = jª(0)i.
sendo 8 q
< = w 2 + (¢w)2
1
p : (1.128)
: w = 2 ( § ¢w)
§
sendo 8
<a = w+
( ¡ ¢w)
1 2w1
: (1.131)
:a = w¡
( + ¢w)
2 2w1
43
44 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
d d
B jà E i = ¡ jà E i ; B jà D i = ¡ jà D i :
2 2
onde a > 0.
a) Quais os valores possíveis da energia dos sistema?
b) Qual é a probabilidade de encontrar o elétron na vizinhança de E se o
sistema está no estado fundamental?
c) Considere que o elétron está no estado jà E i para t = 0. Obtenha o
estado do sistema como função do tempo.
P 7.3 (EUF-2016/2) Considere uma partícula de spin 1=2 sob ação de
!
¡
um campo magnético uniforme B = Bb z . O Hamiltoniano para este sistema
é dado por
H = °BSz;
onde ° é uma constante. Sejam os estados j§i tais que Sz j§i = §(}=2) j§i.
a) Quais os autovalores do Hamiltoniano?
b)pNo instante t = 0 a partícula se encontra no estado jª(0)i = (j+i ¡
j¡i)= 2. Calcule o estado da partícula em um instante t > 0 qualquer.
c) Calcule as médias dos operadores Sx , Sy e Sz para qualquer instante de
tempo t ¸ 0. Lembre-se de que Sx j§i = (}=2) j¨i e Sy j§i = §i(}=2) j¨i.
d) Qual é o menor valor de t > 0 para o qual o estado volta a ser igual
ao estado inicial?
P 7.4 (EUF-2016/1) Seja um sistema composto por um par A e B de
spins 1=2 descrito pelo estado
onde 8 ¯ ® ¯ ®
>
> SAx ¯xA = § }2 ¯xA
>
< § §
¯ A® ¯ ®
SAy ¯y§ = § }2 ¯y§A
>
> ¯ A® ¯ A®
>
: SAz ¯z§ = § }2 ¯z§
(e analogamente para a particula B) e onde escrevemos os operadores de spin
como
0 1 0 1 0 1
} 0 1 0 ¡i 1 0
Srx = @ A ; Sry = } @ A ; Srz = } @ A (r = A; B)
2 1 0 2 i 0 2 0 ¡1
Responda:
a) Qual é o valor da constante real de ® para que jªi esteja normalizado?
b) Qual é a probabilidade de se medir na direção z: ¡}=2 para o spin A
e +}=2 para o spin B?
c) Qual é a probabilidade de se medir na direção x: +}=2 para o spin A
e ¡}=2 para o spin B?
d) Qual é a probabilidade de se medir na direção z: ¡}=2 para o spin A
e na direção x +}=2 para o spin B?
6-(EUF-2015/1) Seja o estado do spin de um elétron dado por
à p !
2
jªi = ® jz+ i ¡ jz¡ i ;
2
com
0 1 0 1
1 0
jz+ i = @ A ; jz¡ i = @ A :
0 1
8
>
> }
> Sx jx§ i = § 2 jx§ i
<
Sy jy§ i = § }2 jy§ i
>
>
>
: S jz i = § } jz i
z § 2 §
Suponha que eles estão ortonormalizados e que apenas esses dois estados
sejam acessíveis ao sistema, de forma que podemos descrevê-lo usando a base
formada por j1i e j2i. Nessa base, o Hamiltoniano H do sistema é dado por
0 1
Eo ¡E1
H=@ A
¡E1 Eo
1 2
jªi = p j1i ¡ p j2i
5 5
}
Sz j§i = § j§i :
2
48 CHAPTER 1 SISTEMAS DE DOIS NíVEIS
!
¡
A partícula encontra-se sujeita a um campo magnético uniforme B = Bb y,
orientado ao longo do eixo y, de forma que o Hamiltoniano é dado por
!
¡
H = ¡¡
!
¹ ¢ B = °BSy :
b) Mostre que os únicos valores que podem ser obtidos numa medida de
b.
Sn são +}=2 e ¡}=2, qualquer que seja a direção n
1.3 DINÂMICA DE SPIN 49
são as matrizes de Pauli. Se essa partícula está imersa num campo magnético
!
¡
uniforme B, o Hamiltoniano que governa a dinâmica do spin é H = ¡¡ !¹ ¢ B.
No que segue, suponha que o campo magnético esteja na direção do eixo z.
a) Dê a forma explícita do operador Hamiltoniano como uma matriz 2£2,
em termos do °, } e B.
b) Escreva as expressões para os estados estacionários como vetores-
coluna normalizados e indique suas respectivas energias.
c) No instante inicial, t =0, a partícula é preparada no estado de spin
0 1
1 1
jÂ(0)i = p @ A (com ® real)
2 ei®
4a(t) ¡
! ¡ !
H= S 1 ¢ S 2;
}
sendo a(t) = ao , constante, para 0 < t < ¿ e a(t) = 0 pata t < 0 e t > ¿ .
Em t = ¡1 o estado do sistema é j+¡i, sendo j§i autovetores de Siz com
autivalores §}=2.
a) Escreva a matriz H na base dos autovetores de S1z e S2z .
b) Determine os autovalores e autovetores de H.
c) Qual é o estado jª(t)i do sistema para 0 < t < ¿ qualquer?
d) Qual é o estado jª(t)i do sistema para t > ¿ qualquer?
e) Qual a probabilidade de uma medida S1z fornecer o valor }=2 para
t > ¿?
f) Após ¢t segundos dessa medida, qual a probabilidade de uma medida
de S2z dar o valor ¡}=2?
P 7.13 (EUF-2006/2) Considere um sistema quântico descrito por um
espaço vetorial de duas dimensões gerado por dois vetores de base ortonor-
mais j1i e j2i. Seja H o Hamiltoniano do sistema, cujos elementos de matriz
são
h1 jHj 1i = h2 jHj 2i = a
h1 jHj 2i = h2 jHj 1i = b
h1 jAj 1i = ¡ h2 jAj 2i = 1
h1 jAj 2i = h2 jAj 1i = 0
b) Suponha que o estado do sistema seja jªi = p12 (j1i + j2i). Quais os
possíveis resultados, com suas respectivas probabilidades, das medidas de H
e A?
c) Suponha que em t = 0 o sistema esteja no estado jª(0)i = j1i. Qual
o estado para um tempo t > 0, jª(t)i? Para quais instantes de tempo uma
medida de A fornece o valor ¡1 com 100% de probabilidade?
e) Os operadores A e H podem ser diagonalizados simultaneamente? Jus-
ti…que.
P 7.14 (EUF-2005/1) O Hamiltoniano de um sistema quântico de dois
níveis é representado por 0 1
" ¸
H=@ A
¸ "
No
0 instante
1 t = 0, o sistema se encontra no estado representado por jª(0)i =
1
@ A.
0
a) Obtenha os autoestados e respectivos autovalores do Hamiltoniano.
b) Mostre que a probabilidade de encontrar o sistema no mesmo estado
inicial para t > 0, varia harmonicamante com t, com frequência que tende a
zero quando ¸ ! 0
P 7.15 (UFPE-1997/1) Um elétron na presença de um campo magnético
!
¡
uniforme B = Bo zb encontra-se em t = 0 no auto-estado do operador Sy com
autovalor ¡}=2.
a) Obtenha o estado jª(t)i num instante t qualquer.
b) Qual a probabilidade de uma medida de Sx encontra o valor }=2 no
instante t?
P 7.16 (UFPE 2014/1) Um sistema quântico consiste em uma partícula
de spin-1=2. Dois tipos de preparações são feitas neste sistema. No primeiro
caso o estado preparado é puro e é descrito pelo vetor
p p
jÃi = a j+i + b j¡i ;
(1 ¡ i) (1 + i)
jei = j+i + j¡i
2 2
D ¯ ¯ E D ¯ ¯ E D ¯ ¯ E2
¯b ¯ ¯ ¯ ¯ ¯
b) Calcule o valor médio e ¯Sz ¯ e e a quantidade e ¯Sbz2 ¯ e ¡ e ¯Sbz ¯ e .
Interprete …sicamente os resutados.
c) Considere que o operador polarização linear do fóton na direção µ tenha
a representação na base L dada por
0 1
1
cos 2µ sin(2µ)
Pb = @ 2 A
1
2
sin(2µ) sin 2µ
D ¯ ¯ E
¯ b b¯
Calcule e ¯[Sz ; P ]¯ e e inteprete os resultados para µ = 0 e µ = ¼=4.
1.3 DINÂMICA DE SPIN 53