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Termodinâmica Aplicada

Notas de Aula

Curso de Termodinâmica Aplicada


(1059)

Engenharia Química

Escola Superior de Química


Faculdades Oswaldo Cruz

Professor Reinaldo Antonio Cardoso

reinaldo_a_cardoso@hotmail.com

2013

Prof. Reinaldo 1
Termodinâmica Aplicada

Bibliografia
Principal:
1. “Princípios de Termodinâmica para Engenharia”, M. J. Moran, H. N. Shapiro
2. “Introdução à Termodinâmica para Engenharia”, R. E. Sonntag, C. Borgnakke
3. “Introdução à Termodinâmica da Engenharia Química”, J.M. Smith, H.C. van
Ness

Apoio:
1. “The properties of gases and liquids”, R.C. Reid, J.M. Prausnitz, B.E. Poling.
2. “Fundamentos da Termodinâmica Clássica”, G.J. van Wylen, R.E. Sonntag.
3. “Manual Termotécnico”, W. Trevisan.
4. “Físico Química”, G.W. Castellan.

Prof. Reinaldo 2
Termodinâmica Aplicada

Prefácio
Este texto tem como objetivo servir de guia para o estudante de Engenharia
Química da Escola de Química das Faculdades Oswaldo Cruz durante a evolução da
disciplina de Termodinâmica Aplicada.
Em nenhum momento deve-se imaginar que o conteúdo deste texto é completo
no sentido de conter todas as informações e tópicos que serão discutidos nas aulas,
nos exercícios e demais atividades ou de reunir todos os tópicos de avaliação.
A participação ativa nas aulas, a consulta à bibliografia e a pesquisa por
iniciativa própria fazem parte integrante do curso e da vida do Engenheiro e devem
ser praticadas como parte fundamental do curso.
São também fornecidos como parte integrante deste guia, tabelas, gráficos e
planilhas de domínio público que podem ser usados livremente para desenvolvimento
das atividades do curso; todo o material é disponibilizado de boa fé e todo o esforço
possível para garantir sua correção e precisão foi empregado na sua elaboração. O
autor, no entanto, não se responsabiliza pelo uso desse material de apoio em
atividades estranhas ao curso de Termodinâmica Aplicada.

Poeminha quântico

Partículas subatômicas
se comportam de um jeito
quando são observadas
e de outro quando estão sós.
Como, aliás,
todos nós.

Luis Fernando Veríssimo


(Da série Poesia numa hora destas?!)

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Termodinâmica Aplicada

Conteúdo Programático:
1. Introdução à Termodinâmica ....................................................................................................... 6
1.1. Definições e termos fundamentais ....................................................................................... 6
1.2. Grandezas fundamentais e suas unidades............................................................................. 9
1.3. Grandezas derivadas e suas unidades ................................................................................... 9
1.4. Lei Zero da Termodinâmica e suas aplicações................................................................... 11
1.5. Estados da matéria e mudança de estado, diagramas T x v................................................ 11
1.6. Tabelas de propriedades, diagramas P x v ......................................................................... 14
1.6.1. Aplicação: Estimativa de densidades usando as tabelas e diagramas ............................ 15
1.7. Dedução da expressão geral para trabalho de compressão e expansão .............................. 16
2. O Primeiro Princípio da Termodinâmica (PPT)......................................................................... 17
2.1. Modelo matemático para sistemas fechados ...................................................................... 18
2.2. Modelo matemático para sistemas abertos ......................................................................... 18
2.3. Entalpia............................................................................................................................... 18
2.4. Tabelas de propriedades, diagramas P x h ......................................................................... 19
2.5. Propriedades dos gases ideais ............................................................................................ 20
2.6. Aplicação: Balanço de energia em sistemas isobáricos ..................................................... 21
2.7. Aplicação: Pressurização de sistemas expostos ao calor ................................................... 22
2.8. Aplicação: Balanço de energia em sistemas de escoamento .............................................. 24
2.9. Aplicação: Balanço de energia em válvulas e outras restrições ......................................... 25
3. Compressão e expansão de gases ............................................................................................... 26
3.1. Compressão e expansão isotérmica – Teoria e Aplicação ................................................. 26
3.1.1. Desenvolvimento do modelo matemático (para gás ideal) ............................................ 26
3.1.2. Aplicação: Compressores a pistão refrigerados ............................................................. 27
3.2. Compressão e expansão adiabática – Teoria e Aplicação .................................................. 27
3.2.1. Desenvolvimento do modelo matemático (para gás ideal) ............................................ 27
3.2.2. Aplicação: Compressores de deslocamento positivo ..................................................... 29
3.2.3. Aplicação: Expansores ................................................................................................... 30
3.3. Compressão politrópica – Teoria e Aplicação ................................................................... 31
3.3.1. Desenvolvimento do modelo matemático (para gás ideal) ............................................ 31
3.3.2. Aplicação: Compressores centrífugos e axiais ............................................................... 32
3.3.3. Generalização para processo politrópico de gás não ideal ............................................. 33
3.4. Efeito Joule-Thomson (JT)................................................................................................. 33
3.4.1. Aplicação: Refrigeração por expansão........................................................................... 34
4. O Segundo Princípio da Termodinâmica (SPT)......................................................................... 36
4.1. Enunciados do SPT ............................................................................................................ 37
4.2. Aplicação dos enunciados em sistemas de potência e refrigeração ................................... 38
4.3. Eficiência de ciclos............................................................................................................. 40
4.3.1. Escalas de temperatura ................................................................................................... 41
4.3.2. O ciclo de Carnot............................................................................................................ 41
4.4. Entropia .............................................................................................................................. 43
4.4.1. Desigualdade de Clausius............................................................................................... 43
4.5. Tabelas de propriedades, diagramas T x s e h x s .............................................................. 44
4.6. Aplicação: Expansores e turbinas (modelagem alternativa) .............................................. 44
4.7. Aplicação: Compressores e bombas (modelagem alternativa) .......................................... 45
4.8. Aplicação: Ciclos de potência a vapor ............................................................................... 46
4.8.1. Ciclo de Rankine simples ............................................................................................... 46
4.8.2. Melhorias no Ciclo de Rankine – Superaquecimento do vapor ..................................... 48
4.8.3. Melhorias no Ciclo de Rankine – Reaquecimento do vapor .......................................... 49
4.8.4. Melhorias no Ciclo de Rankine – Regeneração ............................................................. 50

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4.9. Aplicação: Ciclos de refrigeração e bombas de calor ........................................................ 51
4.9.1. Ciclo de refrigeração por compressão e evaporação: ..................................................... 51
4.9.2. Ciclo de refrigeração por compressão e evaporação em vários estágios: ...................... 52
4.9.3. Bomba de calor (uso em destilação): ............................................................................. 54
5. Estimativa de propriedades dos fluidos não- ideais .................................................................... 55
5.1. O fator de compressibilidade e o PEC ............................................................................... 55
5.2. Densidade de gases pela equação do virial ........................................................................ 57
5.2.1. Estimativa do coeficiente do virial ................................................................................. 58
5.3. Densidade de gases por equações de estado (EOS) cúbicas .............................................. 59
5.4. Densidade de líquidos por equações empíricas e semi-empíricas...................................... 61
5.5. Entalpia e entropia de gases e líquidos............................................................................... 62
5.5.1. Relações matemáticas entre as propriedades termodinâmicas ....................................... 62
5.5.2. Estimativa de h e s para gases – Funções de excesso..................................................... 63
5.5.3. Estimativa das funções de excesso pela equação do virial............................................. 64
5.5.4. Estimativa das funções de excesso pelas equações cúbicas ........................................... 65
5.5.5. Estimativa de h e s para líquidos .................................................................................... 65
5.5.6. Psicrometria (Umidificação e Secagem) ........................................................................ 67
5.5.7. Torres de Resfriamento .................................................................................................. 71
6. Anexos : Tabelas e Gráficos....................................................................................................... 76
6.1. Tabela de propriedades da água: líquido e vapor saturados ............................................... 77
6.2. Tabela de propriedades da água: líquido subresfriado e vapor superaquecido .................. 78
6.3. Tabela de propriedades da amônia (R-717) ....................................................................... 79
6.4. Diagramas P x h: ................................................................................................................ 80
6.4.1. Metano (R-50) ................................................................................................................ 80
6.4.2. Amônia (R-717) ............................................................................................................. 80
6.4.3. Freon-12 (R-12).............................................................................................................. 80
6.4.4. Freon-22 (R-22).............................................................................................................. 80
6.5. Fator generalizado de compressibilidade (Z) ..................................................................... 81
6.6. Diagrama psicrométrico para o nível do mar ..................................................................... 82

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Termodinâmica Aplicada

1. Introdução à Termodinâmica
Termodinâmica é a disciplina que estuda a energia, suas diferentes
manifestações (como calor e trabalho) e as mudanças nas propriedades das
substâncias e sistemas relacionadas com essas manifestações de energia.
Os princípios da Termodinâmica são aplicados pelos Engenheiros de diferentes
modalidades para projetar, construir, operar ou modificar instalações de forma a
conseguir melhor desempenho, maiores volumes de produção, menores consumos de
matéria-prima, melhor utilização da energia, menor impacto ambiental e melhor
retorno econômico.

1.1. Definições e termos fundamentais

a) Sistema: É um espaço, dispositivo ou conjunto de dispositivos em estudo.

b) Vizinhanças: Tudo o que é externo ao sistema.

c) Fronteira: É uma separação (física ou imaginária) entre o volume de controle e


as vizinhanças, A fronteira pode ou não permitir a troca de massa, energia
(calor e trabalho) e quantidade de movimento entre o sistema e as vizinhanças.
Dependendo das propriedades atribuídas à fronteira podemos definir vários
tipos de sistemas:
o Sistemas rígidos :possuem fronteiras fixas (ou estacionárias);
o Sistemas móveis :possuem fronteiras livres (ou móveis);
o Sistemas abertos :fluxos de massa podem passar através da
fronteira;
o Sistemas fechados :as fronteiras são impermeáveis aos fluxos de
massa;
o Sistemas isolados :não trocam massa ou energia com o meio.

d) Volume de controle: É uma porção do Universo que contém o sistema.

Fronteira

Massa Sistema Energia

Vizinhanças ou Meio
Figura 1: Sistema, fronteira e vizinhanças

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e) Propriedade: é uma característica macroscópica do sistema como massa,


temperatura, pressão, volume ou energia que pode ser conhecida sem saber o
“caminho” que conduziu o sistema à condição atual. As propriedades são ditas
extensivas quando dependem do tamanho do sistema (massa, volume, energia,
etc.) e ditas intensivas quando não dependem do tamanho do sistema
(densidade, temperatura, pressão, etc.).

f) Estado: é condição de um sistema caracterizada por um conjunto de


propriedades mensuráveis como temperatura, pressão, composição, densidade
de uma substância ou mistura.

g) Processo: é a modificação das propriedades de um estado inicial para um estado


final. Se as propriedades de um sistema não variam com o tempo pode-se dizer
que esse sistema está em regime permanente ou atingiu um estado estacionário.
Se, no entanto, as propriedades de um sistema variam no tempo temos um
regime transiente.

h) Ciclos termodinâmicos: quando um sistema sofre um processo e como resultado


final retorna às mesmas condições do estado inicial temos um ciclo. Pode haver
ciclos mecânicos nos quais o fluido de trabalho não execute um ciclo
termodinâmico (motor a combustão interna, por exemplo).

i) Fase: é uma quantidade de matéria homogênea (com as mesmas propriedades).


Duas ou mais fases podem coexistir simultaneamente separadas por interfaces
ou fronteiras.

j) Equilíbrio: é um estado no qual não se observam variações nas propriedades


macroscópicas das fases de um sistema ao longo do tempo. As propriedades de
estado das substâncias e misturas no ponto de equilíbrio definem as
propriedades do sistema. Os estados de equilíbrio podem ser:
o equilíbrio térmico: se a temperatura de todas as fases que compõem o
sistema forem iguais e constantes no tempo.
o equilíbrio mecânico: se a pressão de todas as fases que compõem o
sistema forem iguais e constantes no tempo.
o equilíbrio de fases e equilíbrio químico: se a concentração de cada
componente não variar com o tempo em todas as fases do sistema.
Atenção: a concentração de um componente pode ser diferente em cada
fase no estado de equilíbrio.
o equilíbrio termodinâmico: o sistema está em equilíbrio em relação a todas
as mudanças de estado possíveis.

k) Processo de não-equilíbrio: nos processos reais, o equilíbrio pode ser admitido


no estado final e no estado inicial, mas não nas etapas intermediárias (processo

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de não-equilíbrio); Nesses processos, a Termodinâmica é capaz, a partir da


caracterização do estado inicial e do estado final, de prever as trocas de calor
e trabalho envolvidas no processo, mas não é capaz de caracterizar os estados
intermediários ou prever a velocidade do processo.

Massa
Processo
Gás

Gás

Figura 2: Processo de não-equilíbrio

l) Processo de quase-equilíbrio: é uma idealização dos processos reais. Imagina-se


que o processo total é realizado em uma sucessão de etapas muito próximas e,
cada uma delas, em equilíbrio. Nesses processos, a Termodinâmica pode prever
o estado de qualquer etapa intermediária.

Massa Massa Massa Massa


Massa Massa Massa
Massa Massa
Massa
Gás
Gás
Gás
Gás

Figura 3: Processo de quase-equilíbrio

m) Tipos de processos: recebem nomes específicos se alguma propriedade


permanece constante. Assim:
o Processo isotérmico: temperatura constante.
o Processo isobárico: pressão constante.
o Processo isocórico: volume constante.
o Processo adiabático: não troca calor com o meio.

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1.2. Grandezas fundamentais e suas unidades

Neste curso usaremos principalmente o Sistema Internacional de Unidades (SI)


que usa as seguintes unidades para as grandezas fundamentais:

Grandeza Unidade Símbolo


Massa quilograma kg
Comprimento metro m
Tempo segundo s
Força Newton N

Cabe observar que a força, a massa, o comprimento e o tempo estão


relacionados pela Segunda Lei de Newton:

ma
F [1.1]
gc

O termo gc compatibiliza as diferentes definições entre as unidades


fundamentais em cada sistema de unidades e pode assumir os seguintes valores:

kg  m lb  ft kg  m
gc  1  32,174  9,80665 [1.2]
N s 2
lbf  s 2
kgf  s 2

1.3. Grandezas derivadas e suas unidades

a) Volume, volume específico e densidade:

O volume é expresso em m3 no SI ainda que o uso do litro (L) seja comum.


O volume específico expressa o volume ocupado por unidade de massa.

V 1
v  [1.3]
m 

b) Pressão:

A pressão é expressa em Pascal (Pa) no SI, mas usa-se com freqüência o bar.
Nos cálculos de Termodinâmica é necessário usar a pressão absoluta que é
aquela lida nos manômetros (pressão manométrica) acrescida da pressão
atmosférica local.

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0 bara P atmosférica Escala Absoluta

- P atmosférica 0 barg Escala Manométrica

P atmosférica 0 bar

Vácuo Pressão
Total Atmosférica
Local

Figura 4: Escalas de pressão

c) Energia:

A energia pode ser definida como a capacidade de produzir um efeito em um


sistema. Os valores de energia são expressos em Joules (J).
Na escala microscópica, a energia se acumula nas moléculas que constituem um
sistema na forma de energia potencial intermolecular (forças entre moléculas),
de energia cinética molecular (velocidade de cada molécula) e de energia
intramolecular (associada à estrutura das moléculas e dos átomos).
Essa energia acumulada nas moléculas é muitas vezes chamada de energia
interna (U)
Macroscopicamente, a energia se acumula em um sistema principalmente na
forma de energia potencial e cinética.

d) Calor e Trabalho:

Também se expressam em Joules (J).


Calor e trabalho são formas de energia em trânsito entre um sistema e suas
vizinhanças através da fronteira. Um sistema não acumula energia na forma de
calor de calor ou trabalho, mas sim como energia interna, cinética ou potencial.
O Calor sempre se transfere do corpo de maior temperatura para o de menor
temperatura e pode ser classificado em calor sensível (quando a temperatura
muda durante a transferência de calor) ou calor latente (associado à mudança
de fase que, numa substância pura, ocorre isotermicamente).

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Temperatura

Ponto de ebulição

Ponto de fusão

S S+L L L+V V Calor


Calor Calor Calor Calor Calor
Sensível Latente Sensível Latente Sensível

Figura 5: Calor sensível e calor latente

e) Fluxo de calor e Potência:

Nos processos em regime permanente ou transientes, a energia é trocada com o


meio por um intervalo de tempo. A quantidade instantânea de calor trocado (em
kJ/s ou kW) é denominada fluxo de calor enquanto a quantidade instantânea de
trabalho trocado é denominada potência (em kJ/s ou kW).

f) Temperatura:

A escala usada será e escala Celsius ( oC) que é referenciada ao ponto triplo da
água e a escala Kelvin (K) que é a escala absoluta associada.

1.4. Lei Zero da Termodinâmica e suas aplicações

“Se dois corpos têm igualdade de temperatura com um terceiro então eles
têm igualdade de temperatura entre si.”

Essa afirmação (bastante óbvia) é a base da medição de temperaturas, pois


garante que a igualdade entre temperatura lida em um termômetro, a temperatura do
corpo que se analisa e o padrão no qual o termômetro foi calibrado.

1.5. Estados da matéria e mudança de estado, diagramas T x v

Entende-se por estado a condição de um sistema definida por suas


propriedades. Como as propriedades de estado são função uma das outras, é possível
definir completamente o estado de um sistema com o conhecimento de um conjunto
relativamente modesto de propriedades.
Um significado mais restrito da palavra estado está relacionado com a formação
de fases diferentes (“estado sólido”, “estado líquido”, “estado vapor”).
O problema de determinar em qual o “estado” que uma substância ou mistura
estará em um dado conjunto de temperaturas e pressões é um problema clássico e

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importante para o Engenheiro Químico uma vez que a execução de condensações,


vaporizações e cristalizações forçadas são operações executadas na indústria para
promover a purificação de produtos ou permitir seu transporte.
O número mínimo de propriedades necessárias para definir um estado depende
do número de componentes da mistura e do número de fases.
Tomemos a água pura como exemplo. O gráfico abaixo mostra a variação do
volume específico da água com a temperatura em diferentes pressões e alguns pontos
notáveis para discussão.

500

450

400
Ponto crítico

350 VSA @ 10 bar e 350 oC


Temperatura [oC]

300

250

200 LS @ 10 bar 25% Vapor @ 10 bar


VS @ 10 bar
1% Vapor @ 10 bar 50% Vapor @ 10 bar
150

100

50
LSR @ 10 bar e 25 oC
0
0.0001 0.0010 0.0100 0.1000 1.0000 10.0000 100.0000 1000.0000
Volume específico [m3/kg]

Figura 6 : Diagrama T x v para a água

Cinco estados mostrados no diagrama acima são importantes e merecem


especial atenção:
 Líquido sub-resfriado (LSR) : é o estado de uma substância pura
abaixo da temperatura de saturação a uma dada pressão (ou acima da
pressão de saturação a uma dada temperatura). É necessário definir duas
propriedades independentes para caracterizar esse estado (T e P, T e v,
P e v, etc).
 Líquido saturado (LS) : é o estado de uma substância pura
líquida exatamente na temperatura de saturação a uma dada pressão (ou
na pressão de saturação a uma dada temperatura). É necessário definir
apenas uma propriedade para caracterizar esse estado (Tsat, Psat, vsat,

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etc). Qualquer quantidade de calor adicionada ao LS inicia um processo


de vaporização.
 Vapor saturado (VS) : é o estado de uma substância pura
vaporizada exatamente na temperatura de saturação a uma dada pressão
(ou na pressão de saturação a uma dada temperatura). É necessário
definir apenas uma propriedade para caracterizar esse estado (Tsat,
Psat, vsat, etc). Qualquer quantidade de calor removida do VS inicia um
processo de condensação.
 Vapor superaquecido (VSA) : é o estado de uma substância pura acima
da temperatura de saturação a uma dada pressão (ou abaixo da pressão
de saturação a uma dada temperatura). É necessário definir duas
propriedades independentes para caracterizar esse estado (T e P, T e v,
P e v, etc).
 Mistura bifásica (L+V) : é o estado de uma substância pura
parcialmente vaporizada a uma dada temperatura ou pressão. Coexistem
uma fase líquida e uma fase vapor ambas saturadas e em equilíbrio nas
mesmas temperatura e pressão.

No estado bifásico, as propriedades da mistura como um todo são calculadas


ponderando as propriedades das fases LS e VS através da fração mássica da fase
vapor (chamada TÍTULO).

mV mV
X  [1.4]
mT mL  mV

X=0 para líquido saturado (LS)


X=1 para vapor saturado (VS)
0 <X <1 para misturas bifásicas (L+V)

VT  VL  VV
vT  mT  v LS  mLS  vVS  mVS
vT  (1  X )  v LS  X  vVS [1.5]

X
vT  vLS 
vVS  vLS 

Por um raciocínio análogo chega-se a relações semelhantes para outras


propriedades de estado como entalpia e entropia:

T  (1  X )   LS    vVS

X T
   LS 
[1.6]
VS   LS 
  v , h , s , etc

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1.6. Tabelas de propriedades, diagramas P x v

Qualquer par de propriedades de estado pode ser usado como base para
elaboração de um diagrama de fases.
Os diagramas de uso mais comum na Termodinâmica são os diagramas Txv (visto
acima), Pxv, Txs, Pxh e hxs. Todos os pontos notáveis e o conceito de título se aplicam
de forma análoga para cada um deles; apenas a aparência do gráfico se altera em
função da escolha das variáveis.
Abaixo temos o diagrama Pxv para a água com os mesmos pontos notáveis
aplicados para comparação. Os demais diagramas serão apresentados e utilizados ao
longo do curso.

1000.0

Ponto crítico

100.0
VSA @ 10 bar e 350 oC
25% Vapor @ 10 bar

50% Vapor @ 10 bar


1% Vapor @ 10 bar

VS @ 10 bar
LS @ 10 bar
Pressão [bar]

10.0
LSR @ 10 bar e 25 oC

1.0

0.1
0.0001 0.0010 0.0100 0.1000 1.0000 10.0000 100.0000 1000.0000
Volume específico [m3/kg]

Figura 7 : Diagrama P x v para a água

Os diagramas são bastante úteis para ilustrar o comportamento de uma


substância ou mistura durante uma transformação, mas a obtenção de dados
numéricos mais precisos é muitas vezes feita com o uso de tabelas de propriedades.
Como anexos a estas notas de aula são fornecidas tabelas de propriedades da
água e outros componentes importantes em formatos pdf ou xls para consulta e uso
nos exercícios.

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1.6.1. Aplicação: Estimativa de densidades usando as tabelas e diagramas

Exercício 1:
Usando as tabelas completas de propriedades da água determine:

a) o volume específico da água a 55 oC e 1 bar;


b) o volume específico da água como líquido saturado a 200,5 oC;
c) o volume específico da água como líquido saturado a 20,8 bar;
d) o volume específico da água como vapor saturado a 200,5 oC;
e) o volume específico da água como vapor saturado a 20,8 bar;
f) o volume específico da água a 20 bar e 250 oC;
g) o volume específico da água a 20 bar e 405 oC;
h) o volume específico da água a 21 bar e 305 oC;
i) a densidade aparente de uma mistura de 30% de líquido e 70% de vapor de água
em equilíbrio a 20 bar;
j) a quantidade de líquido e vapor de uma mistura em equilíbrio a 100 oC que
apresenta um volume específico aparente de 0,75 m3/kg.

Exercício 2:
Um vaso cilíndrico de 20 m3 de volume total sofre uma injeção de vapor saturado a 1
bar até que todo o ar tenha sido expulso. Quando totalmente cheio com vapor
saturado a 1 bar, todas as entrada e saídas do vaso são bloqueadas e ele é deixado em
repouso até se equilibrar com a temperatura ambiente de 25 oC.

a) Trace um gráfico da pressão do vaso contra a temperatura interna desde a


condição inicial até o equilíbrio;
b) Usando o diagrama T x v e P x v, indique o “caminho” seguido pela
transformação descrita;
c) Se o vaso fosse projetado para suportar uma faixa de pressões entre 0,25 e
1,5 bar, por exemplo. O que aconteceria com ele no processo descrito acima?
Assista ao vídeo “Ex-02_Video.gif” para ver a resposta.
d) Que medidas de proteção deveriam ser usadas para o vaso?

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1.7. Dedução da expressão geral para trabalho de compressão e expansão

Os processos ou transformações que se aproveitam da variação do volume


específico com a temperatura e pressão são de grande importância industrial, pois são
a base dos mecanismos de geração de potência (motores, turbinas) ou de
movimentação de fluidos (compressores, bombas, etc).
Uma expressão geral para cálculo da quantidade de trabalho gerado pela
expansão ou consumido na compressão de um fluido em um sistema fechado pode ser
deduzida imaginando que um volume de gás é submetido à ação de uma força como
mostrado abaixo:

dW  F  dx
dW   P  A  dx
dW   P   A  dx
dW   P  dV [1.7]
V2

W    P  dV
V1

Notar que, neste curso, usaremos a convenção de sinais que atribui o SINAL
POSITIVO a toda a energia que entra em um sistema (como calor ou trabalho) e o
SINAL NEGATIVO a toda a energia que sai de um sistema (como calor ou trabalho).
Essa convenção é a razão do sinal negativo na expressão [1.7].

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2. O Primeiro Princípio da Termodinâmica (PPT)


O PPT pode ser ilustrado de maneira simples por um dos célebres experimentos
de Joule:

DZ

Figura 8 : Experimento de Joule

A mesma quantidade de trabalho (mesmo Δz) provoca sempre a mesma


alteração de temperatura na água (mesmo ΔT).
A temperatura original do sistema pode ser restaurada fazendo um corpo frio
entrar em contato com o sistema.
Conclusões do experimento:
a) existe uma relação quantitativa entre calor e trabalho;
b) o calor é uma forma de energia.

Questão para reflexão:


Se a energia no experimento é adicionada como trabalho e removida como calor,
o que acontece com ela entre o instante da adição e o da remoção?

Resposta:
Essa energia fica contida na água sob a forma de “Energia Interna” (U).

A energia interna está associada com a energia contida nas moléculas na forma
de vibração, translação, rotação e de interações das moléculas com seus campos de
força.

DU do Calor ou Trabalho

Sistema

Figura 9: Relação entre U, Q e W

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Termodinâmica Aplicada

Note que calor e trabalho só existem quando em trânsito pela fronteira. Um


corpo não acumula calor ou trabalho, apenas energia interna.

2.1. Modelo matemático para sistemas fechados

ΔEnergiado sistema  ΔEnergiadas vizinhanças


ΔEnergiado sistema  DU  DEk  DEp
[2.1]
ΔEnergiadas vizinhanças  Q  W
DU  DEk  DEp  Q  W

Como ΔEk + ΔEp normalmente são desprezíveis para sistemas fechados:

DU  Q  W
[2.2]
dU  d Q  d W

2.2. Modelo matemático para sistemas abertos

DU do
Calor ou Trabalho
Sistema

Figura 10: Sistema aberto

ΔEnergiado sistema  ΔEnergiadas vizinhanças


Du  DeK  DeP  q  w
2
 v  g
Du  D   Dz  q  we  P2  v2  P1  v1
 2  g c  gc
2 [2.3]
 v  g
Du  D   Dz  q  we  DP  v 
 2  gc  gc

 v2  g
Du  DP  v   D   Dz  q  we
 2  gc  gc

2.3. Entalpia

O termo U + PV aparece em várias expressões termodinâmicas e recebe o nome


de entalpia (H).

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Termodinâmica Aplicada

H U  P V
DH  DU  DP  V  [2.4]
dH  dU  d P  V 

Substituindo a definição de entalpia chega-se à expressão final do PPT para


sistemas abertos.

 v2  g
Dh  D   Dz  q  we [2.5]
 2  g c  gc

2.4. Tabelas de propriedades, diagramas P x h

Uma vez que a entalpia é uma função de estado, é possível construir diagramas
usando h ao invés de v como coordenada. O diagrama para a água é mostrado abaixo
com os mesmos pontos notáveis das Figuras 6 e 7 para comparação.

1000.0

Ponto crítico

100.0

VSA @ 10 bar e 350 oC


25% Vapor @ 10 bar

50% Vapor @ 10 bar

VS @ 10 bar
LS @ 10 bar
Pressão [bar]

10.0
LSR @ 10 bar e 25 oC

1% Vapor @ 10 bar

1.0

0.1
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
Entalpia específica [kJ/kg]

Figura 11 : Diagrama P x h para a água

Da mesma forma, aplicam-se os conceitos de título e o método de uso das


tabelas de propriedades já vistos para o caso do volume específico.

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Termodinâmica Aplicada

Exercício 3:
Usando as tabelas completas de propriedades da água determine:

a) a entalpia específica da água a 55 oC e 1 bar;


b) a entalpia específica da água como líquido saturado a 200,5 oC;
c) a entalpia específica da água como líquido saturado a 20,8 bar;
d) a entalpia específica da água como vapor saturado a 200,5 oC;
e) a entalpia específica da água como vapor saturado a 20,8 bar;
f) a entalpia específica da água a 20 bar e 250 oC;
g) a entalpia específica da água a 20 bar e 405 oC;
h) a entalpia específica da água a 21 bar e 305 oC;
i) a entalpia específica aparente de uma mistura de 30% de líquido e 70% de
vapor de água em equilíbrio a 20 bar;
j) a quantidade de líquido e vapor de uma mistura em equilíbrio a 100 oC que
apresenta uma entalpia específica aparente de 2000 kJ/kg.

2.5. Propriedades dos gases ideais

A estimativa das propriedades termodinâmicas mais comuns (u, v e h) para os


gases podem ser derivadas diretamente da Lei dos Gases e da própria definição de
gás ideal (sem interações moleculares e volume nulo a pressão infinita); as deduções e
expressões mais úteis são listadas abaixo a título de recordação:

P  v  R T
P  PM

R T [2.6]
P1  v1 P2  v 2

T1 T2

 u   u 
du    dT    dv (válida para qualquer gás ideal ou não)
 T V  v T

Para uma transformação a v = constante (dv=o):


 u   u 
d q  P  dv    dT    dv
 T V  v T [2.7]
 u   u  dq
dq    dT      CV
 T V  T V dT

Apenas para o gás ideal:


du  CV  dT

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Termodinâmica Aplicada

 h   h 
dh    dT    dP (válida para qualquer gás ideal ou não)
 T  P  P T

Para uma transformação a p = constante (dq = dh):


 h   h  dq [2.8]
d q    dT      Cp
 T  P  T  P dT

Apenas para o gás ideal :


dh  CP  dT

h  u  Pv mas P  v  R  T
h  u  R T
dh  du  R  dT
[2.9]
Cp  dT  Cv  dT  R  dT
Cp  Cv  R
Cp  Cv  R

2.6. Aplicação: Balanço de energia em sistemas isobáricos

Apliquemos o modelo matemático do PPT a um sistema fechado que troca calor e


trabalho com as vizinhanças a pressão constante.

du  d q  d w
du  d q  P  dv
du  d q  d P  v  [2.10]
d q  du  d P  v 
d q  dh

Portanto, APENAS PARA SISTEMAS ISOBÁRICOS a variação de entalpia em


um processo coincide com o valor da energia trocada sob a forma de calor com as
vizinhanças.

Questão para reflexão:


Por que, até agora sempre usamos Q = m.Dh ou Q = m.Cp.DT nos balanços de energia
sem nos preocuparmos com a pressão?

Resposta:
A maior parte dos processos químicos ocorre com variações de pressão relativamente
pequenas e podem ser considerados isobáricos. A estimativa de Q pode ser obtida
normalmente com boa precisão. Os processos fortemente não isobáricos (como
pressurizações em sistemas fechados, compressores, expansores, etc) não podem ser
calculados segundo a premissa acima.

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2.7. Aplicação: Pressurização de sistemas expostos ao calor

Exercício 4:
Um fazendeiro pretende aumentar suas receitas instalando um biodigestor onde
o resíduo orgânico da plantação e do rebanho produzirá metano que poderá ser usado
como combustível para a secagem de grãos na cooperativa.
O metano produzido será armazenado em dois gasômetros selados a água como
na figura abaixo. O peso do gasômetro é tal que a pressão de gás poderá ser mantida
em 3 bar em qualquer nível de enchimento.
O fazendeiro pretende que o gasômetro “A” esteja cheio até uma altura de 5
metros pela manhã quando ele poderá alinhar o gás para o consumidor enquanto o
biodigestor enche o gasômetro “B”.
Antecipando que possa haver um problema qualquer na cooperativa e que o
tanque cheio possa ficar até seis horas exposto ao sol sem consumo de gás, ele decide
encomendar um cilindro de 5,1 m de altura total de forma que o gás possa expandir
sob a ação do sol.
Você é o inspetor da companhia de seguros com a qual o fazendeiro pretende
segurar a instalação contra acidentes e lucros cessantes. Elabore um laudo técnico
verificando se o gasômetro é seguro no cenário apresentado.
Assuma as seguintes hipóteses e dados:
 gás = metano (considere gás ideal)
 massa molecular = 16,043 kg/kmol
 Cp = 36,256 kJ/(kmol.K)
 Temperatura inicial do gás = 25 oC.
 Insolação local = 2.800 kJ/h
 Diâmetro do gasômetro (parte móvel) = 10 m

METANO PARA
CONSUMIDOR

Metano

GASÔMETRO A GASÔMETRO B

Água Água

METANO DO
BIODIGESTOR

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Exercício 5:
Um vaso metálico rígido cilíndrico de 0,75 m de diâmetro interno e 2,5 m de
altura foi projetado para operar pressurizado com butadieno-1,3 como vapor saturado
a 30 oC.
No caso de irromper um incêndio, esse vaso tende a absorver calor das
vizinhanças e a pressão deve aumentar na medida em que ele se aquece. Para a
proteção do vaso, uma válvula de segurança operada por mola foi instalada e calibrada
para abrir quando a pressão interna atingir 5,5 bar (máxima pressão de projeto
mecânico).
Considere as seguintes propriedades termodinâmicas para o butadieno (que
pode ser assumido como gás ideal):

Substância = 1,3-BUTADIENE
FORMULA = C4H6 Fórmula molecular
MOLWT = 54.092 Massa molecular
TFP = 164.3 K Temperatura normal de fusão
TB = 268.7 K Temperatura normal de ebulição
TC = 425 K Temperatura crítica
PC = 42.7 atm Pressão crítica
VC = 221 cm3/gmol Volume crítico
ZC = 0.27 Fator de compressibilidade crítico
OMEGA = 0.195 Fator acêntrico
LIQDEN = 0.621 g/cm3 Densidade do líquido na temperatura ref.
TDEN = 293 K Temperatura de ref. para densidade do líq.
DIPM = 0 debyes Momento dipolar
CPVAP A = -0.403 Coeficientes da eq. do Cp do gás ideal :
CPVAP B = 0.08165
Cp=A+BxT+CxT2+DxT3
CPVAP C = -0.00005589
T em K e Cp em cal/(gmolxK)
CPVAP D = 1.513E-08
VISB = 300.59 Coeficientes da eq. da visc. do líquido :
log(Visc) = VISB x (1/T - 1/VISTO)
VISTO = 163.12
T em K e Visc em cP
DELHG = 26.33 kcal/gmol Entalpia padrão de formação a 298 K
Energia Livre padrão de formação a 298 K e
DELGF = 36.01 kcal/gmol
1 atm
ANTA = 15.7727 Coeficientes da eq. de Antoine :
ANTB = 2142.66
ln(Pv)=A - B/(T + C)
ANTC = -34.3
T em K e Pv em mmHg
TMX = 290 K
(válida entre as temperaturas TMN e TMX)
TMN = 215 K
HARA = 0 Coeficientes da eq. de Harlacher :
HARB = 0
ln(Pv)=A + B/T + Cxln(T) + DxPv/T2
HARC = 0
T em K e Pv em mmHg
HARD = 0
HV = 5370 cal/gmol Entalpia de vaporização em TB

 Qual a pressão normal de operação para o vaso em bar?


 Qual a temperatura no momento de abertura da válvula de segurança?
 Qual a quantidade de calor absorvido pelo vaso até o momento da abertura da
válvula em kJ? Admita que o Cp do butadieno é constante e igual ao valor do Cp
do gás ideal a 30 oC.

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2.8. Aplicação: Balanço de energia em sistemas de escoamento

Retomemos a expressão do primeiro princípio para um sistema aberto


[expressão 2.3] e comparemos termo-a-termo com a equação de Bernoulli para
escoamento incompressível:


 v2  g
Du  DP  v   D   Dz  q  we
 2  gc  gc

DP  v2 
 D   Dz  DJ  w
g  2 g 

Questão para reflexão:


Qual a relação entre o termo de perda de carga da equação de Bernoulli e a variação
de energia interna no PPT?

Questão para reflexão:


Todos os termos do PPT aplicados em sistemas de escoamento tem a mesma
importância relativa? Em que situações os termos de energia cinética e potencial são
insignificantes?

Exercício 6:
Uma turbina a vapor é usada para acionar um gerador de energia el étrica.
Nessa instalação, 5.000 kg/h de vapor são admitidos em uma tubulação de 4” de
diâmetro interno a 20 bar e 370 oC. O vapor é conduzido até a turbina onde se
expande e abandona a turbina por uma tubulação de 10” de diâmetro interno como
vapor saturado a 1 bar.
As perdas de calor devido a isolamento imperfeito das tubulações e pela
carcaça da turbina totalizam 30.000 kJ/h.
Sabe-se ainda que os pontos de medição de temperatura e pressão do vapor na
entrada e na saída da turbina estão respectivamente a 5 e 3 m de altura em relação ao
solo.
Qual a potência fornecida pela turbina?

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2.9. Aplicação: Balanço de energia em válvulas e outras restrições

Analisemos o caso genérico de um fluido escoando por um tubo cilíndrico regular


parcialmente obstruído por uma placa furada no centro. Tomando um ponto antes da
placa e outro depois, não ocorre aplicação ou remoção de trabalho mecânico ou calor e
podemos inferir que a contribuição da energia potencial é pequena o que leva o PPT
para sistemas abertos a:


 v2  g
Dh  D   Dz  q  we
 2  gc  gc
 [2.11]
 v2 
Dh  D   0
 2  gc 

A variação de velocidades é maior se o fluido em questão for um gás do que no


caso do líquido, mas, normalmente, a variação de energia cinética é bastante pequena
para poder ser desprezada e o balanço de reduz a:

Dh  0 [2.12]

Exercício 7:
Amônia gasosa é transportada a 15 bar e 75 oC em uma tubulação de aço. Um
processo corrosivo provoca o aparecimento de um pequeno furo no tubo por onde a
amônia vaza para o ambiente. Estime a temperatura da amônia após passar pelo furo.
Admita a pressão ambiente de 1 bar.

Exercício 8:
Amônia gasosa é transportada como vapor saturado a 15 bar em uma tubulação
de aço. Um processo corrosivo provoca o aparecimento de um pequeno furo no tubo
por onde a amônia vaza para o ambiente. Estime a temperatura da amônia após passar
pelo tubo, Admita a pressão ambiente de 1 bar.

Exercício 9:
Amônia transportada como líquido saturado a 15 bar em uma tubulação de aço.
Um processo corrosivo provoca o aparecimento de um pequeno furo no tubo por onde a
amônia vaza para o ambiente. Estime a temperatura e estado físico da amônia após
passar pelo tubo, Admita a pressão ambiente de 1 bar.

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3. Compressão e expansão de gases


Gases e vapores são fluidos importantes para a Engenharia Química quer como
matérias primas e produtos que precisam ser manipulados, transportados e
armazenados quer como fluidos motrizes de máquinas ou meios de transporte de
sólidos.
Para o transporte e armazenamento de gases, é muitas vezes necessário
comprimi-los enquanto a liberação da energia contida para uso como fluido motriz
depende da expansão.
Neste item estudaremos os processos de compressão e expansão,
desenvolvendo modelos matemáticos baseados no PPT e na equação de trabalho de
expansão e compressão de gases.

3.1. Compressão e expansão isotérmica – Teoria e Aplicação

3.1.1. Desenvolvimento do modelo matemático (para gás ideal)

P  v  R T
P  v  Constante

Se a compressão ocorrer em um sistema fechado:


d w   P  dv
R T
dw    dv
v
v2
dv
w  R T  
v1
v
v 
w   R  T  ln 2 
 v1 
 R T P  [3.1]
w   R  T  ln  1 
 P2 R T 
P 
w   R  T  ln 1 
 P2 
P 
w  R  T  ln 2 
 P1 
w  R  T  lnr 

du  d q  d w
CV  dT  d q  d w
d q  d w
q  w

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Se a compressão ocorrer em um sistema aberto chega-se à mesma expressão:



 v2  g

Dh  D   Dz  q  we
 2  g c  gc
q   we
3.1.2. Aplicação: Compressores a pistão refrigerados

Exercício 10:
Um compressor de ar deve produzir 10 Nm3/hi de ar comprimido a 7 bar a
partir de ar atmosférico a 1 bar e 30 oC.
O compressor possui um pistão refrigerado a água de forma que opera
isotermicamente.
Calcule a potência necessária para o motor do compressor e plote em um
diagrama P x v o processo de compressão descrito.
Suponha que o ar possa ser considerado um gás ideal em toda a faixa de
trabalho do compressor e considere o pistão como um sistema fechado durante a
compressão.

3.2. Compressão e expansão adiabática – Teoria e Aplicação

3.2.1. Desenvolvimento do modelo matemático (para gás ideal)

du  d q  d w
du  d w
CV  dT   P  dv
R T
CV  dT    dv
v
dT R dv
 
T CV v
[3.2]

C P  CV  R
CP R
1 
CV CV

k  1  R
CV

i 0 o C e 1 atm

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dT R dv
 
T CV v

 k  1 
dT dv
T v
T  v 
ln 2   k  1  ln 2 
 T1   v1 
T  T P 
ln 2   k  1  ln 2  1 
 T1   T1 P2 
T  P 
k  ln 2   k  1  ln 2 
 T1   P1 
 k 1 
 T2   k 
   r
 T1 
P1  v1 P2  v2

T1 T2
T2 P2 v2
 
T1 P1 v1
k 1
 P2  k  P2   v2 
       
 P1   P1   v1 
P1  v1k  P2  v2k
P  v k  Constante

Se a compressão ocorrer em um sistema fechado:


du  d w
w  CV  T2  T1 
R T 
w  T1   2  1
k  1  T1 
  k 1 
  
R  T1  P2   k  
w    1
k  1  P1  
 

Se a compressão ocorrer em um sistema aberto:


 v2  g
Dh  D   Dz  q  w
 2  g c  gC
 v2  g
w  q  Dh  D 
 Dz
 2  gc  gC
 v2  g
w  T  ds  Dh  D   Dz
 2  g c  gC
 v2  g
w  Dh   v  dP  Dh  D   Dz
 2  gc  gC

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w   v  dP
1
dP
w  P  v1  
k
1
Pk
k  k 
1 k k 1 k 1
w  R  T1  P1 k    P2  P1 k 
k 1  
 k 1

k  R  T1  P2  k
w     1
k  1  P1  
 

Na prática de projeto e operação de máquinas, os compressores de


deslocamento positivo, turbinas a vapor e expansores são modelados como máquinas
adiabáticas e é definida uma eficiência adiabática que corrige os resultados “ideai s”
(calculados para um processo reversível) para resultados “reais” (processos
irreversíveis). Exemplos de uso da eficiência adiabática serão estudos no capítulo dos
ciclos de potência.
A definição dessa eficiência adiabática é:

wA
wREAL  [3.3]
A

3.2.2. Aplicação: Compressores de deslocamento positivo

Exercício 11:
Repita os cálculos do exercício 10 supondo agora que o compressor tivesse o
pistão isolado e operasse adiabaticamente. Admita o Cp do ar como gás ideal
constante e igual a 29.3 kJ/(kmol.K).

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3.2.3. Aplicação: Expansores

Exercício 12:
Uma instalação de distribuição de gás natural recebe uma carga constituída
basicamente por metano a 100 bar e 20 oC e deve reduzir a pressão para 10 bar para
possibilitar o envio aos consumidores. A redução de pressão é feita passando o gás por
um expansor acoplado a um gerador de energia elétrica.
Admitindo o metano como gás ideal com Cp constante e igual ao valor calculado a
o
20 C e que o expansor comporte-se adiabaticamente calcule a potência desenvolvida
no expansor e a temperatura do metano na saída desse expansor.

Substância = METHANE
FORMULA = CH4 Fórmula molecular
MOLWT = 16.043 Massa molecular
TFP = 90.7 K Temperatura normal de fusão
TB = 111.7 K Temperatura normal de ebulição
TC = 190.6 K Temperatura crítica
PC = 45.4 atm Pressão crítica
VC = 99 cm3/gmol Volume crítico
ZC = 0.288 Fator de compressibilidade crítico
OMEGA = 0.008 Fator acêntrico
LIQDEN = 0.425 g/cm3 Densidade do líquido na temperatura ref.
TDEN = 111.7 K Temperatura de ref. para densidade do líq.
DIPM = 0 debyes Momento dipolar
CPVAP A = 4.598 Coeficientes da eq. do Cp do gás ideal :
CPVAP B = 0.01245
Cp=A+BxT+CxT2+DxT3
CPVAP C = 0.00000286
T em K e Cp em cal/(gmolxK)
CPVAP D = -2.703E-09
VISB = 114.14 Coeficientes da eq. da visc. do líquido :
log(Visc) = VISB x (1/T - 1/VISTO)
VISTO = 57.6
T em K e Visc em cP
DELHG = -17.89 kcal/gmol Entalpia padrão de formação a 298 K
Energia Livre padrão de formação a 298 K e
DELGF = -12.15 kcal/gmol
1 atm
ANTA = 15.2243 Coeficientes da eq. de Antoine :
ANTB = 897.84
ln(Pv)=A - B/(T + C)
ANTC = -7.16
T em K e Pv em mmHg
TMX = 120 K
(válida entre as temperaturas TMN e TMX)
TMN = 93 K
HARA = 30.715 Coeficientes da eq. de Harlacher :
HARB = -1300.61
ln(Pv)=A + B/T + Cxln(T) + DxPv/T2
HARC = -2.641
T em K e Pv em mmHg
HARD = 0.442
HV = 1955 cal/gmol Entalpia de vaporização em TB

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Termodinâmica Aplicada

3.3. Compressão politrópica – Teoria e Aplicação

3.3.1. Desenvolvimento do modelo matemático (para gás ideal)

P  v n  cte  n  1
1
 P n
P1  v1n  P2  v2n  v1   2   v2
 P1 
1 n 1
P1  v1 P2  v2 P  P n P T P  n
  1   2   2  2   2 
T1 T2 T1  P1  T2 T1  P1 

Se a compressão ocorrer em um sistema fechado:


[3.4]
  n 1 
  
R  T1  P2   n  
w    1
n  1  P1  
 

Se a compressão ocorrer em um sistema aberto:


 n 1

 
n  R  T1  P2 n
w     1
n  1  P1  
 

O coeficiente politrópico “n” é relacionado com o adiabático “k” pela eficiência


politrópica:

n  k 
  P [3.5]
n  1  k  1

As potências adiabáticas e politrópicas, portanto, podem ser convertidas umas


nas outras e na potência efetiva de compressão pela expressão:

wA wP
wREAL   [3.6]
A p

Na prática de projeto e operação, os compressos centrífugos e axiais são


modelados como máquinas politrópicas e o resultado corrigido pelo uso da eficiência
acima. A aplicação será estudada juntamente com os ciclos de refrigeração.

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Termodinâmica Aplicada

3.3.2. Aplicação: Compressores centrífugos e axiais

Exercício 13:
O butadieno-1,3 é uma matéria-prima importante para a indústria da borracha
sintética. Em razão de sua reatividade é possível polimerizá-lo com facilidade
originando um substituto da borracha natural de boa qualidade e aplicável na
formulação de vários produtos (pneus, luvas, adesivos, etc). A reatividade do
butadieno-1,3 impõe, no entanto, sérias limitações ao seu manuseio. Ele deve sofrer
injeção de agentes antipolimerizantes para ser armazenado, não deve ser estocado
por longos períodos mesmo em temperatura ambiente, não deve ter contato com
agentes oxidantes e não pode ser aquecido a mais de 100 oC durante sua purificação.
Uma patente recente descreve um processo de purificação a baixa pressão no
qual o butadieno gasoso é produzido quase puro por absorção e dessorção com
solvente seletivo a apenas 2 bar e 60 oC e, em seguida, é comprimido até a pressão de
condensação a essa temperatura. Os agentes inibidores de polimerização são
adicionados na fase líquida após a condensação antes de enviá-lo ao armazenamento e
distribuição. Admitindo que o processo de compressão seja politrópico com eficiência
de 75% e que o butadieno possa ser considerado um gás ideal nas condições do
processo com Cp constante e igual ao valor calculado a 60 oC, avalie se as condições
propostas nesse processo são coerentes com as boas práticas de manuseio descritas
acima.
Discuta uma solução para qualquer desvio identificado.
Propriedades de substâncias puras.
fonte : "The proprties of Gases and Liquids", Prausnitz, Reid e Sherwood

Substância = 1,3-BUTADIENE
FORMULA = C4H6 Fórmula molecular
MOLWT = 54.092 Massa molecular
TFP = 164.3 K Temperatura normal de fusão
TB = 268.7 K Temperatura normal de ebulição
TC = 425 K Temperatura crítica
PC = 42.7 atm Pressão crítica
VC = 221 cm3/gmol Volume crítico
ZC = 0.27 Fator de compressibilidade crítico
OMEGA = 0.195 Fator acêntrico
LIQDEN = 0.621 g/cm3 Densidade do líquido na temperatura ref.
TDEN = 293 K Temperatura de ref. para densidade do líq.
DIPM = 0 debyes Momento dipolar
CPVAP A = -0.403 Coeficientes da eq. do Cp do gás ideal :
CPVAP B = 0.08165
Cp=A+BxT+CxT2+DxT3
CPVAP C = -0.00005589
T em K e Cp em cal/(gmolxK)
CPVAP D = 1.513E-08
VISB = 300.59 Coeficientes da eq. da visc. do líquido :
log(Visc) = VISB x (1/T - 1/VISTO)
VISTO = 163.12
T em K e Visc em cP
DELHG = 26.33 kcal/gmol Entalpia padrão de formação a 298 K
Energia Livre padrão de formação a 298 K e
DELGF = 36.01 kcal/gmol
1 atm
ANTA = 15.7727 Coeficientes da eq. de Antoine :
ANTB = 2142.66
ln(Pv)=A - B/(T + C)
ANTC = -34.3
T em K e Pv em mmHg
TMX = 290 K
(válida entre as temperaturas TMN e TMX)
TMN = 215 K
HARA = 0 Coeficientes da eq. de Harlacher :
HARB = 0
ln(Pv)=A + B/T + Cxln(T) + DxPv/T2
HARC = 0
T em K e Pv em mmHg
HARD = 0
HV = 5370 cal/gmol Entalpia de vaporização em TB

Prof. Reinaldo 32
Termodinâmica Aplicada

3.3.3. Generalização para processo politrópico de gás não ideal

Se a compressão ocorrer em um sistema aberto:


 n 1

n  R  T1  P2  n [3.7]
w  Z avg      1
n  1  P1  
 

3.4. Efeito Joule-Thomson (JT)

Se usarmos os dados coletados em um processo de passagem de um fluido em


um estrangulamento (expressão [2.12]) e aplicamos na expressão da derivada total da
entalpia calculada em na expressão [2.8] teremos:

 h 
dh  C P  dT    dP
 P T
 h 
0  C P  dT    dP [3.8]
 P T
 h   T 
   C P   
 P T  dP  h

A derivada parcial no lado direito da expressão é o coeficiente de Joule-


Thomson e mede a variação da temperatura que ocorre em um processo de
estrangulamento de um fluido.

 h 
   C P   JT
 P T
[3.9]

dh  C P  dT  C P   JT  dP

Um coeficiente de Joule-Thomson positivo implica que a temperatura do fluido


diminui quando ele passa pelo estrangulamento (DP<0) e um coeficiente negativo
implica que ele se aquece.

Questões para reflexão:


Que exemplos do efeito JT observamos no dia-a-dia e na indústria?
Para que fluidos ou condições é possível observar o efeito de um coeficiente negativo?

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Termodinâmica Aplicada

3.4.1. Aplicação: Refrigeração por expansão

Exercício 14:
Os processos industriais que se utilizam de temperaturas muito baixas para a
purificação de certas substâncias são chamados processos criogênicos.
Dentre os vários processos criogênicos de importância destacam-se os de
liquefação do ar atmosférico através dos quais o ar é fracionado em oxigênio e
nitrogênio quase puros. O oxigênio é de vital importância para a purificação do aço e o
nitrogênio para a produção de amônia e fertilizantes.
O processo de liquefação de ar mais tradicional é o processo Linde. Para atingir
as baixas temperaturas necessárias para liquefazer o ar sem recorrer a caros
sistemas de refrigeração, este processo usa uma etapa de auto-refrigeração que se
aproveita do efeito JT.
Uma corrente de ar comprimida a 35 bar e resfriada contra água até 40 oC
alimenta um trocador de calor a placas onde é resfriada até temperaturas muito
baixas (aprox. -140 oC) e parcialmente liquefeita (título de cerca de 98,5%).
A pequena fase líquida formada é separada no vaso e enviada para o
fracionamento enquanto a fase gasosa é expandida em uma válvula até cerca de 2 bar.
Pelo efeito JT a temperatura da fase gasosa cai a menos de -185 oC e essa
corrente fria é usada para refrigerar o trocador a placas e é liberada na atmosfera a
37 oC.
Apesar da pequena produção de ar liquefeito, os únicos gastos significativos
dessa unidade são a energia para comprimir o ar e a água de resfriamento.

Trocador de
calor a placas

6 5

Válvula de
1 expansão
4

Vaso de
separação

Figura 12: Processo de autorefrigeração

A figura 12 ilustra o processo descrito.

a) Com base na descrição acima complete a tabela com os valores das variáveis de
processo para uma alimentação de 1.000 kg/s de ar atmosférico.

Prof. Reinaldo 34
Termodinâmica Aplicada

Corrente 1 2 3 4 5 6
Vazão
(kg/s)
Temperatura
(oC)
Pressão
(bar)

b) Usando uma equação de estado simples, pode-se derivar a seguinte expressão para
o coeficiente JT a partir das expressões de [3.9]:

 2a 
 b
 R T 
 JT 
Cp
para o nitrogênio:
a  1,34 L2  atm  mol 2
b  0,039 L  mol 1
Cp  5 cal  mol 1  K 1

Aplique a expressão acima para cálculo da temperatura a jusante da válvula de


expansão e compare o resultado com a descrição do processo.

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Termodinâmica Aplicada

4. O Segundo Princípio da Termodinâmica (SPT)


O primeiro princípio da Termodinâmica é uma aplicação da conservação de
massa e energia e muitas vezes não é suficiente para uma análise termodinâmica
completa.
A principal deficiência do primeiro princípio é a incapacidade de prever a
“direção” de processos espontâneos.

Corpo Corpo Corpo


@ @ @
To > T amb To > T > T T = T amb
amb

Corpo Corpo Corpo


@ @ @
Po > P amb Po > P > P P = P amb
amb

Zo > 0

Zo > Z > 0

Z= 0

Para cada um dos processos acima existe uma “direção” espontânea


representada pela seta sólida. A “direção” oposta só é possível pela adição de calor ou
trabalho externo.
Tanto a “direção” espontânea como a oposta obedecem ao primeiro princípio e,
apenas por sua aplicação, não se pode determinar a condição final o do sistema.
A utilidade de determinar a “direção” espontânea de um sistema consiste em
determinar a possibilidade de aproveitamento da liberação de calor, trabalho de
expansão ou de trabalho mecânico de um sistema em transformação.
O segundo princípio permite não apenas fazer a determinação da “direção” de
um processo, mas também:

 determinar as condições de equilíbrio final além das quase um processo não avança,
 estabelecer o melhor desempenho teórico de processos cíclicos e
 avaliar quais as restrições impedem a melhoria de desempenho de um processo em
estudo.

Prof. Reinaldo 36
Termodinâmica Aplicada

4.1. Enunciados do SPT

Ao contrário do enunciado único do primeiro princípio (conservação da energia),


o segundo princípio pode ser enunciado de uma infinidade de formas equivalentes.
Dentre os enunciados possíveis, dois são particularmente úteis e importantes e serão
aqui detalhados.

Enunciado de Clausius:
“ É impossível para qualquer sistema operar de maneira que o único resultado seja a
transferência de energia sob a forma de calor de um corpo mais frio para um corpo
mais quente.”

FONTE QUENTE

Q2 Q2
Q Q W
CICLO CICLO
TERMODI TERMODI
NÂMICO NÂMICO

Q1 Q1

FONTE FRIA

POSSÍVEL IMPOSSÍVEL IMPOSSÍVEL POSSÍVEL

Enunciado de Kelvin-Planck:
“É impossível para qualquer sistema operar em um ciclo termodinâmico e fornecer uma
quantidade líquida de trabalho para suas vizinhanças enquanto recebe energia por
transferência de calor de um único reservatório térmico.”

FONTE QUENTE

Q Q1 Q1

W W W
CICLO CICLO Sistema
TERMODI TERMODI não
NÂMICO NÂMICO cíclico

Q2

FONTE FRIA

IMPOSSÍVEL POSSÍVEL POSSÍVEL

Prof. Reinaldo 37
Termodinâmica Aplicada

Equivalência dos enunciados:

FONTE QUENTE

QH Q

QC W W

+ =
CICLO CICLO
TERMODI TERMODI
NÂMICO NÂMICO

QC

FONTE FRIA

IMPOSSÍVEL POSSÍVEL IMPOSSÍVEL


POR CLAUSIUS POR KELVIN-PLANCK POR KELVIN-PLANCK

Um processo qualquer é dito reversível quando tanto o sistema quanto as


vizinhanças puderem retornar aos seus estados iniciais.
Nos processos irreversíveis é possível fazer o sistema retornar ao seu estado
inicial, porém as vizinhanças ficariam em um estado diferente. Essa impossibilidade de
retorno é causada por uma série de irreversibilidades entre as quais se destacam:

1. Transferência de calor através de uma diferença finita de temperatura;


2. Expansão não resistida de gás ou líquido até uma pressão mais baixa;
3. Reação química espontânea;
4. Mistura espontânea de matéria em estados ou composições diferentes;
5. Atrito de qualquer tipo (rolamento, escoamento, etc);
6. Resistência elétrica;
7. Magnetização com histerese;
8. Deformação inelástica;
9. Etc., etc., etc.,....

Na prática, todo o processo real encontra irreversibilidades tanto internas ao


sistema como externas (nas vizinhanças) e nunca podem ser considerados reversíveis

4.2. Aplicação dos enunciados em sistemas de potência e refrigeração

Para um conjunto de etapas que partem de um estado inicial conhecido e


retornam para o mesmo estado após uma série de etapas pode-se aplicar o PPT para
cada etapa individualmente e então obter uma expressão geral:

Prof. Reinaldo 38
Termodinâmica Aplicada
DE1  Q1  W1
DE2  Q2  W2

(+)
DEi  Qi  Wi [4.1]

DEn  Qn  Wn
DECICLO  QCICLO  WCICLO

Como o estado final e o estado inicial do ciclo são coincidentes, a variação total
de energia interna é nula e a expressão [2.9] se reduz a:

QCICLO  WCICLO [4.2]

Dentre os possíveis arranjos em ciclos termodinâmicos, três são de maior


interesse:
 Ciclos de potência : ciclos que consomem combustível (calor) e geram
potência útil (ex. ciclos a vapor, motores a combustão, turbinas a gás, etc.).
 Ciclos de refrigeração : ciclos que consomem energia mecânica e removem
calor de uma fonte fria (refrigeradores domésticos, aparelhos de ar
condicionado, ciclos de refrigeração industriais, etc.).
 Bombas de calor : ciclos que consomem energia mecânica e adicionam
calor a uma fonte quente (colunas de destilação com bomba de calor,
aquecedores de piscinas, etc.)

Fonte quente Fonte quente Fonte quente

Q entra
paraba FQ
paraba FQ
liberado
pela FQ

liberado
liberado
Calor

Calor
Calor

Q sai Q sai

Ciclo de Potência líquida


W ciclo Ciclo de Potência líquida
W ciclo Bomba de Potência líquida
W ciclo
produzida consumida consumida
Potência Refrigeração calor
rejeitado
para a FF

absorvido

absorvido

Q sai Q entra Q entra


Calor

da FF

da FF
Calor

Calor

Fonte Fria Fonte Fria Fonte Fria

Figura 13: Ciclos Termodinâmicos

Prof. Reinaldo 39
Termodinâmica Aplicada

4.3. Eficiência de ciclos

Os ciclos de potência são avaliados por sua eficiência térmica enquanto os ciclos
de refrigeração e as bombas de calor são avaliados por seu coeficiente de
desempenho definidos como abaixo.

W Q SAI
   CICLO  1   (ciclosde potência)
Q ENTRA Q ENTRA

Q ENTRA Q ENTRA
COP   (ciclosde refrigeração) [4.3]
W CICLO Q SAI  Q ENTRA
Q Q SAI
COP  SAI  (bombas de calor)
W CICLO Q SAI  Q ENTRA

Nenhum ciclo é capaz de operar totalmente sem perdas e, mesmo os


considerados ideais, têm um rendimento máximo.
Tomando o caso de um ciclo de potência, se a quantidade de calor rejeitada para
a fonte fria QSAI fosse nula, a eficiência do ciclo seria 100% porém teríamos um ciclo
violando o enunciado de Kelvin-Planck.
Dessa forma pode-se afirmar que todo o ciclo deve ter uma eficiência menor
que 100% independentemente da substância que constitui o sistema, da série de
processos do ciclo ou da reversibilidade das operações.
Outros dois corolários (Corolários de Carnot) do segundo princípio são:

1. a eficiência de um ciclo irreversível é sempre menor que a de um ciclo reversível


que opere entre as mesmas fontes quente e fria.
2. todos os ciclos reversíveis que operam entre as mesmas fontes quente e fria
tem as mesmas eficiências.

Exercício 15:
É proposta a construção de uma usina termelétrica com potência de saída de 1.000
MW tendo vapor d´água como fluído de trabalho.
Os condensadores operam com pressão de 0,1 bar usando água de um rio como fluído
de refrigeração enquanto as caldeiras geram o vapor a 550 oC.
Qual o menor aumento esperado para a temperatura do rio à jusante da usina?
Os demais dados do problema estão na figura abaixo.

Prof. Reinaldo 40
Termodinâmica Aplicada

4.3.1. Escalas de temperatura

Se a eficiência de um ciclo reversível operando entre duas fontes de calor é


função apenas das temperaturas dessas fontes é possível usar esse conceito para
estabelecer uma escala de temperaturas:
W Q
   CICLO  1   FRIA
QENTRA QQUENTE
TFRIA Q FRIA
f (TFRIA , TQUENTE )   (escolha de Kelvin) [4.4]
TQUENTE Q QUENTE
 Q 
TFRIA  TQUENTE   FRIA 
 Q 
 QUENTE  REV

4.3.2. O ciclo de Carnot

Da definição de escalas de temperaturas é possível escrever uma expressão


para a eficiência de todos os ciclos de potência reversíveis:
W Q T
   CICLO  1   FRIA  1  FRIA [4.5]
QENTRA QQUENTE TQUENTE
Um raciocínio análogo conduz a:
W Q T
   CICLO  1   SAI  1- FRIA (ciclosde potência)
QENTRA QENTRA TQUENTE
Q Q ENTRA TFRIA
COP  ENTRA   (ciclosde refrigeração) [4.6]
  
WCICLO QSAI  QENTRA TQUENTE  TFRIA
Q Q SAI TQUENTE
COP  SAI   (bombas de calor)
W CICLO Q  Q
SAI T
ENTRA T
QUENTE FRIA

Prof. Reinaldo 41
Termodinâmica Aplicada

Todas essas expressões resultam na eficiência máxima atingível por qualquer


ciclo que opere entre as fontes de calor determinadas.
Para o caso específico de um ciclo de potência, existe um ciclo chamado ciclo de
CARNOT composto por:
1. uma compressão adiabática entre T FRIA e TQUENTE (com absorção de trabalho
das vizinhanças);
2. uma expansão isotérmica em T QUENTE (com absorção de calor da fonte quente);
3. uma expansão adiabática entre T QUENTE e TFRIA (com liberação de trabalho para
as vizinhanças);
4. uma expansão isotérmica em T FRIA até o estado inicial (com liberação de calor
para a fonte fria).

Ciclo de Carnot
100.000
Comp. Adiab. Rev.

Exp. Isot. Rev.

Exp. Adiab. Rev.


Ponto 2
10.000
Comp. Isot. Rev.

Ponto 3
T = T Fonte Fria
P (bar)

T = T Fonte Quente

Ponto 1
1.000 Ponto 1

Ponto 2

Ponto 4
Ponto 3

Ponto 4
0.100
0.000 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000
v (m3/kmol)

A expressão de eficiência do ciclo de Carnot coincide com 4.5.

Exercício 16:
A partir do PPT e das definições de rendimento, du, dq e dw deduza a expressão do
rendimento do Ciclo de Carnot para um gás ideal.

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Termodinâmica Aplicada

4.4. Entropia

Para processos cíclicos reversíveis:


W Q T
   CICLO  1   FRIA  1  FRIA
Q Q
ENTRA T
QUENTE QUENTE

Q FRIA T
 FRIA [4.7]

QQUENTE TQUENTE
Q FRIA Q QUENTE

TFRIA TQUENTE

A razão Q/T é uma propriedade de estado que recebe o nome de entropia. Na


forma diferencial, para um processo reversível:

dQR
dS 
T
[4.8]
dQ
DS   R  0
T

4.4.1. Desigualdade de Clausius

FONTE QUENTE @ T1 Para os processos reversíveis:


Q1

WR  dQ  Q1  Q2R  0
R dQ Q1 Q2R
Q2R
 T  T1  T2  0
FONTE FRIA @ T2

FONTE QUENTE @ T1 Para processos irreversíveis:


Q1

WI  WR  Q1  Q2I  Q1  Q2R  Q2I  Q2R


WI
I  dQ  Q1  Q2I  0
Q2I dQ Q1 Q2I
 T  T1  T2  0
FONTE FRIA @ T2

Generalizando para qualquer processo:

dQ dQ
 T
 0  dS  dS 
T
[4.9]

Observar que os processos adiabáticos reversíveis são também isoentrópicos.

Prof. Reinaldo 43
Termodinâmica Aplicada

4.5. Tabelas de propriedades, diagramas T x s e h x s


500

450

400
Ponto crítico

350 VSA @ 10 bar e 350 oC

300
Temperatura [oC]

250

200 LS @ 10 bar
25% Vapor @ 10 bar
VS @ 10 bar
1% Vapor @ 10 bar 50% Vapor @ 10 bar
150

100

50

LSR @ 10 bar e 25 oC

0
0.0000 1.0000 2.0000 3.0000 4.0000 5.0000 6.0000 7.0000 8.0000 9.0000 10.0000
Entropia Específica [kJ/(kg.K)]

4.6. Aplicação: Expansores e turbinas (modelagem alternativa)


Vapor

Pás rotativas

Pás Estacionárias

Vapor

Turbina a vapor e turbina hidráulica

 2
  2

d
Esist   Q  We   m e   he  ve  g  ze    m s   hs  vs  g  z s 
dt  2   2 
[4.10]
 v 2  vs2   0
Q  We  m  he  hs   e 
 2 

As máquinas reais não têm um comportamento adiabático (isoentrópico). Para


contornar esse desvio da idealidade, usa-se conceito de eficiência adiabática:

DhREAL WREAL
 AD   [4.11]
DhADIAB WADIAB

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Termodinâmica Aplicada

Exercício 17:
Uma turbina aspira 100t/h de vapor d´água a 30 bar e 350 oC e o vapor exausto sai a
1 bar. Se a eficiência adiabática esperada é de 60%, calcule a temperatura do exausto
e a potência real desenvolvida pela máquina.

4.7. Aplicação: Compressores e bombas (modelagem alternativa)

Compressor ou bomba
a pistão
(deslocamento
positivo)

Estatores

Rotores

Compressor axial

Impelidor

Compressor
ou bomba
centrífuga

 2
  2

d
Esist   Q  We   m e   he  ve  g  ze    m s   hs  vs  g  z s 
dt  2   2 
[4.12]
 v 2  vs2   0
Q  We  m  he  hs   e 
 2 

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Termodinâmica Aplicada

4.8. Aplicação: Ciclos de potência a vapor

4.8.1. Ciclo de Rankine simples

COMPONENTES DE UMA INSTALAÇÃO


SIMPLES PARA GERAÇÃO DE POTÊNCIA A
VAPOR

+ -
TURBINA
CALDEIRA
[1]
COMBUSTÍVEL

GERADOR
AR
[2]

TORRE DE
CONDENSADOR RESFRIAMENTO

[4] REPOSIÇÃO
[3]
BOMBA DE BOMBA DE
ÁGUA DE ÁGUA DE
CALDEIRA RESFRIAMENTO

[4] [1]

CALDEIRA
TURBINA Wt

Qc
Wb BOMBA
Qcd

CONDENSADOR
[3] [2]

Os processos que constituem um ciclo de Rankine ideal simples são:


 entre [1] e [2] :expansão isoentrópica de vapor saturado desde a pressão
de vaporização até a pressão de condensação;
 entre [2] e [3] :condensação isobárica do exausto da turbina até o estado
de líquido saturado;
 entre [3] e [4] :compressão isoentrópica do condensado da pressão de
condensação até a pressão de vaporização;

Prof. Reinaldo 46
Termodinâmica Aplicada

 entre [4] e [1] :vaporização isobárica da água de caldeira até o estado de


vapor saturado.

400

350

300

250
[1]
Temperatura [oC]

200

150

100
[4]

50
[3] [2]
0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Entropia [kJ/kgK]

O modelo matemático para o ciclo de Rankine ideal simples acima é:


QC  m  h1  h4  s 2  s1
WT  m  h2  h1  s 4  s3
QCd  m  h3  h2  P1  P4
WB  m  h4  h3  P2  P3 [4.13]

WT  WB m  h2  h1   m  h4  h3  h2  h1   h4  h3 


  
QC m  h1  h4  h1  h4 

Exercício 18:
Determine os fluxos de calor e trabalho de um ciclo de Rankine simples que opera com
circulação de 100 t/h de vapor d´água cuja pressão no condensador é 0,25 bar e na
caldeira é 30 bar.
Calcule também o rendimento do ciclo.

Prof. Reinaldo 47
Termodinâmica Aplicada

4.8.2. Melhorias no Ciclo de Rankine – Superaquecimento do vapor

CICLO DE RANKINE COM


SUPERAQUECIMENTO DE VAPOR

+ -
TURBINA
CALDEIRA
[1]
COMBUSTÍVEL

GERADOR
AR
[2]

TORRE DE
CONDENSADOR RESFRIAMENTO

[4] REPOSIÇÃO
[3]
BOMBA DE BOMBA DE
ÁGUA DE ÁGUA DE
CALDEIRA RESFRIAMENTO

Nesta variante do ciclo de Rankine, o vapor gerado na caldeira (VS) é


superaquecido “ganhando” entalpia. Nas instalações reais o superaquecimento é
conseguido aproveitando o calor dos fumos de combustão da chaminé em um banco de
tubos (banco de convecção) ou, mais raramente, em um forno separado.

400

350 [1]

300

250
Temperatura [oC]

200

150

100
[4]

50
[3] [2]
0
0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0
Entropia [kJ/kgK]

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Termodinâmica Aplicada

Exercício 19:
Determine os fluxos de calor e trabalho de um ciclo de Rankine que opera com
circulação de 100 t/h de vapor d´água cuja pressão no condensador é 0,25 bar e na
caldeira é 30 bar. O vapor produzido é superaquecido até 350 oC.
Calcule também o rendimento do ciclo.

4.8.3. Melhorias no Ciclo de Rankine – Reaquecimento do vapor

[3]
[6]
[2]
CALDEIRA [1]
Wt
Qc

Wb BOMBA TURBINAS
Qcd

CONDENSADOR
[5] [4]

Nesta modificação, a turbina é dividida em dois estágios ou mais e o exausto


do(s) estágio(s) com exceção do último são reaquecidos “ganhando” entalpia e
proporcionando capacidade extra de geração de trabalho na turbina.
Novamente, o reaquecimento pode ser feito usando os gases de combustão que fluem
pela chaminé como fluido quente.

Exercício 20:
Determine os fluxos de calor e trabalho de um ciclo de Rankine que opera com
circulação de 100 t/h de vapor d´água cuja pressão no condensador é 0,25 bar e na
caldeira é 30 bar.
Neste ciclo a turbina tem dois estágios; o primeiro expande o vapor até 10 bar e o
envia à caldeira onde é reaquecido até 250 oC, o segundo recebe o vapor reaquecido e
completa a expansão para o condensador.
Calcule também o rendimento do ciclo.

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Termodinâmica Aplicada

4.8.4. Melhorias no Ciclo de Rankine – Regeneração

TURBINAS

Wt
[2]
[1]
[9]
CALDEIRA [2] [4] [5]
Wb BOMBA
[3]
[8] Qc

PAM
Qcd
Wb
CONDENSADOR
[7] [6]
BOMBA

TURBINAS

PAC
Wt
[2]
[1]
[10]
CALDEIRA [2] [5] [6]
Wb BOMBA
[3]
[9] Qc
PA C

Q cd
Wb
CONDENSADOR
[8] [7]
BOMBA

[4]

A regeneração prevê o aquecimento da água que alimenta a caldeira usando


vapor exausto de um ou mais estágios da turbina para reduzir o consumo de
combustível. É uma solução diferente do aquecimento de água usando gases de
combustão.
O aquecimento pode ser realizado em trocadores de calor (pré-aquecedores de
contato) ou por mistura direta (pré-aquecedores de mistura).

Exercício 21:
Determine os fluxos de calor e trabalho de um ciclo de Rankine que opera com
circulação de 100 t/h de vapor d´água cuja pressão no condensador é 0,25 bar e na
caldeira é 30 bar. O vapor produzido é superaquecido até 350 oC.
Neste ciclo pequena parte do vapor expandido na turbina é retirado a 10 bar e o
restante é condensado.

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Termodinâmica Aplicada

O condensado produzido é bombeado a 10 bar e misturado com o vapor retirado da


turbina até produzir líquido saturado.
Esse líquido saturado é novamente bombeado até 30 bar fechando o ciclo.
Calcule também o rendimento do ciclo.

4.9. Aplicação: Ciclos de refrigeração e bombas de calor

4.9.1. Ciclo de refrigeração por compressão e evaporação:

Qv

[4] [1]
VAPORIZADOR

VÁLVULA DE COM-
Wc
EXPANSÃO PRESSOR

CONDENSADOR
[3] [2]

Qcd

Um ciclo de refrigeração por compressão e evaporação visa remover calor de


uma fonte fria e transferi-lo para uma fonte quente usando energia mecânica.
O funcionamento depende de um fluido de refrigeração adequado que evapora a
baixa temperatura em uma pressão também baixa no vaporizador absorvendo o calor
da fonte fria. O vapor gerado é então comprimido até uma pressão suficientemente
alta para que condense na temperatura da fonte quente onde o calor absorvido e a
energia mecânica consumida são rejeitados.
Após a condensação, o líquido expande em uma válvula gerando uma mistura
bifásica que alimenta o vaporizador. Repare que a parte gasosa da mistura não
contribui para a refrigeração (é um vapor “parasita” do sistema).
Os fluidos de refrigeração devem possuir algumas características importantes:
1. vaporizar em temperatura menor que a fonte fria na pressão do vaporizador;
2. condensar em temperatura maior que a fonte quente no condensador;
3. possuir alta entalpia de vaporização;
4. ser facilmente comprimido;
5. não ser tóxico, corrosivo, inflamável, explosivo ou instável nas condições do
ciclo;
6. ser disponível e barato.
Entre os fluidos de refrigeração mais importantes podemos citar a amônia, o
propano e toda a família do clorofluorcarbonos.

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Termodinâmica Aplicada

ISOTERMAS ISOTENTRÓPICAS

[3] [2]
PRESSÃO

[1]
[4]

ENTALPIA

4.9.2. Ciclo de refrigeração por compressão e evaporação em vários estágios:

[2] [3]

[1a] [1b] [1c]


[4a] [4b] [4c]

[3a] [3b]

Arranjo usado para sistemas de grande capacidade que fornecem refrigeração


para usuários em temperaturas diferentes.
Se o sistema é grande pode ser mais vantajoso do que usar vários ciclos simples
em paralelo.

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Termodinâmica Aplicada

ISOTERMAS ISOTENTRÓPICAS

[3] [2]
PRESSÃO

[3b] [1c] [2b]

[4c]

[3a] [1b] [2a]


[4b]

[1a]

[4a]
ENTALPIA

Exercício 22:
Um sistema de refrigeração com FREON-22 opera entre +30 e -30 oC. Considerando
que a quantidade de calor a remover da fonte fria é 1x10 6 kcal/h calcule:
a) a pressão de condensação;
b) a pressão de vaporização;
c) as quantidades de calor e trabalho envolvidas;
d) a vazão de fluido circulante.

Exercício 23:
Um processo químico necessita que 1x10 6 kcal/h sejam removidas a -40 oC.
Considerando que o ciclo de refrigeração deve ser condensado com água, a
temperatura de condensação não deve ser menor que 40 oC.
Escolha um fluido de refrigeração adequado e calcule os fluxos de calor, a potência e
o coeficiente de performance.

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4.9.3. Bomba de calor (uso em destilação):

REFLUXO

ISOTERMAS ISOTENTRÓPICAS

[1]
CARGA

PRESSÃO
[3] [2]

[2] [1]

ENTALPIA
FUNDO [3]

DESTILADO

É um arranjo usado em colunas de fracionamento de grande porte como


fracionadoras de etileno e propileno.
O vapor do topo da coluna (no ponto de orvalho) é comprimido e se aquece até
uma temperatura suficientemente alta para ser usada como fluido quente no
refervedor onde condensa.
O líquido condensado expande e o líquido formado é o refluxo da torre.
O uso de bombas de calor permite que a coluna opere sem uso de utilidades
frias e quentes (ou com uso mínimo) e fica dependente apenas de energia de
acionamento do compressor (usualmente energia elétrica).

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5. Estimativa de propriedades dos fluidos não-ideais


5.1. O fator de compressibilidade e o PEC

Princípio dos estados correspondentes:


“Todos os gases, quando comparados nas mesmas pressões e temperaturas reduzidas,
tem o mesmo fator de compressibilidade e afastam-se do comportamento ideal
aproximadamente da mesma maneira.”

P v
Z  f TR , PR 
T P
Z TR  PR  [5.1]
R T TC PC

Exercício 24a:
Um cilindro de 1 m3 de volume contendo HBr gasoso inicialmente a 15 atm e 20
o
C foi usado em um laboratório até que sua pressão atingisse 1 atm na mesma
temperatura.
Por um erro do encarregado pela manipulação do material, o cilindro não foi
pesado quando retirado cheio do almoxarifado nem quando foi enviado ao
fornecedor para recarga.
O fornecedor propôs que o faturamento fosse feito calculando a massa
consumida pela lei dos gases ideais.
Qual o erro dessa estimativa comparada com o uso da carga generalizada?
O uso da carta generalizada é tecnicamente justificável? Explique.

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Figura 14: Fator generalizado de compressibilidade

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5.2. Densidade de gases pela equação do virial

Ponto Diagrama P x v para a água


Crítico

250.0

Na região do gás, as
230.0
isotermas são contínuas
PC T2 T1
(curvas + comportadas)
210.0 TC Gás ou
Líquido T3 Vapor Superaquecido
Sub-
190.0
resfriado

170.0
Pressão (bara)

150.0 T4
Vapor
Saturado
Líquido
130.0 +
Vapor
110.0
T5 Isotermas

90.0

X2 X3
X1
70.0 Líquido
Saturado

50.0
0.0010 vC 0.0060 0.0110 0.0160 0.0210
Volume específico (m3/kg)

Figura 15: Região de validade para a equação do virial

Por uma expansão em série de potências (puramente matemática):

P V  a  b  P  c  P 2  
P V  a  1  B  P  C   P 2  
lim P0 P V   a  R  T gás ideal P  0

P V
Z  1  B  P  C   P 2  D  P 3  
R T
ou
P V B C D
Z  1  2  3  [5.2]
R T V V V
onde
B C  B2
B  C  etc...
R T R T 2

A termodinâmica estatística permite relacionar o termo B/V com as interações


entre pares de moléculas; C/V2 com as interações entre grupos de três moléculas e
assim por diante.

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Como as interações entre 2 moléculas são mais freqüentes que aquelas entre 3
e estas mais freqüentes do que aquelas entre 4; a significância dos coeficientes de
ordem elevada é cada vez menor na série.
Em densidades baixas (baixa P e/ou alta T) existe pouca probabilidade de
“encontros” de moléculas e poucos termos na série de potência são capazes de prever
o comportamento do gás com elevada precisão. Quanto maior a pressão (ou menor a
temperatura) mais termos são necessários para uma estimativa precisa.
Para densidades pequenas ou moderadas, a série é truncada no segundo
coeficiente do virial e a expressão em função de “B” é como mostrado abaixo. O uso
prático da equação truncada é limitado aos casos em que o volume reduzido é maior ou
igual a 2.

P V BP v
Z  1 válido para vR  2 [5.3]
R T R T vC

O problema que resta é determinar o valor de “B” para cada caso já que esse
coeficiente assume diferentes valores para diferentes substâncias, para diferentes
temperaturas e pressões.
Existem valores experimentais de “B” para vários gases em faixas estreitas de
T e P e poucos dados para os coeficientes superiores; um método para estimas o valor
do coeficiente a partir de poucas informações é necessário.

5.2.1. Estimativa do coeficiente do virial

Na região vR ≥ 2, o segundo coeficiente pode ser estimado a partir de Pc e Tc o


o desvio do princípio dos estados correspondentes é corrigido pelo uso do fator
acêntrico (ω) principalmente para moléculas apolares ou pouco polares.

P V BP  B  PC  PR
Z  1  1    
R T R T  R  TC  TR
 B  PC 
   B 0    B1 (correção de Pitzer)
 R  TC  [5.4]
0,422
B 0  0,083  1, 6
TR
0,172
B1  0,139 
TR4, 2

Quando vR < 2, a equação truncada não dá bons resultados. A alternativa de


acrescentar mais termos à série esbarra a dificuldade de obter os valores dos
coeficientes de ordem superior de forma que outros métodos como a correlação de
Pitzer ou as equações cúbicas de estado devem ser empregados. Neste curso nos
limitaremos ao estudo das cúbicas.

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Outros fatores como a polaridade e afinidade química das moléculas que


constituem o gás podem acrescentar desvios aos métodos de estimativa. Sempre que
possível prefira o uso de dados experimentais.

Exercício 24b:
Repita o cálculo do exercício 24a usando agora a equação do virial ao invés da carta
generalizada.

5.3. Densidade de gases por equações de estado (EOS) cúbicas

Raiz sem significado


PRESSÃO

físico
Isotermas
Traçado da EOS cúbica Reais

Raiz correspondente Raiz correspondente


à densidade do vapor saturado à densidade do vapor saturado

VOLUME

Figura 16: Equação cúbica de estado

As equações cúbicas de estado são populares, pois dão resultados bastante


precisos desde densidades baixas até as proximidades do ponto crítico e são fáceis de
resolver analítica ou numericamente. Os parâmetros das cúbicas podem ser
determinados a partir de dados experimentais ou estimados a partir das constantes
críticas.
Existem várias equações de estado cúbicas:

a) Equação de Van der Waals (mais antiga e hoje em desuso);


b) Soave-Redlich-Kwong ou SRK (uma das mais populares atualmente);
c) Peng-Robinson;
d) BWRS (usadas para sistemas de compressão e expansão);
e) ...

A equação de Van der Waals ilustra bem a forma das equações cúbicas:

R T a
P  [5.5]
v  b v2

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O termo “b” leva em consideração o volume das moléculas do gás não-ideal


enquanto o termo a/v2 corrige a pressão em função das forças de atração entre as
moléculas. Para o gás ideal a = b = 0.
Se não existirem dados experimentais para determinar “a” e “b” pode-se usar a
informação que, no ponto crítico, existe uma inflexão na isoterma, ou seja:

 P   2P 
  0 e  2   0
 v Tc  v 

As derivadas acima conduzem a um sistema de duas equações e duas incógnitas


em “a” e “b” que podem ser manipulados para dar:

27 R 2  TC2
a 
64 PC
[5.6]
1 R  TC
b 
8 PC

As equações cúbicas raramente são expressas e resolvidas na forma mostrada


em [5.5]; prefere-se expressá-la em termos do fator de compressibilidade:

 
Z 3  1  B *  Z 2  A*  Z  A*  B *  0
aP
A*  2 2
R T
bP
B* 
R T [5.7]
27 R 2  TC2
a 
64 PC
1 R  TC
b 
8 PC

Exercício 24c:
Repita o cálculo do exercício 24a usando agora a equação de van der Waals ao invés da
carta generalizada.

Outras equações cúbicas diferem na forma e na quantidade de fatores de


correção introduzidos na equação do gás ideal.
Para a equação de Soave temos:

R T a
P  2
v b v  bv [5.8]
3 2

Z Z  A B B * * *2
 Z  A  B
* *
0

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aP
A* 
R 2 T 2
bP
B* 
R T
R  TC
  
2 2
2
a  0,42748  1  fW  1  TR0,5
PC
fW  0,48  1,574   0.176  2
R  TC
b  0,08664
PC

Exercício 24d:
Repita o cálculo do exercício 24a usando agora a equação de Soave ao invés da carta
generalizada.

5.4. Densidade de líquidos por equações empíricas e semi-empíricas

Ao contrário dos gases, a teoria cinética dos líquidos não é tão desenvolvida e
as equações gerais para estimativa de propriedades em termos de PVT não dão
resultados tão bons.
O uso de equações cúbicas para determinar o fator de compressibilidade na
fase líquida (raiz menor da cúbica) geralmente conduz a resultados ruins.
Essa dificuldade é parcialmente compensada pela determinação experimental
simples e pela pouca influência da pressão na densidade dos líquidos fora da região
crítica.
Para estimar o volume molar de líquidos saturados é muito comum o uso da
equação de Rackett:

1TR 0 , 2857
v SAT
 vC  Z C [5.9]

Na maior parte dos casos, assumir que o volume molar do líquido é uma
constante para uma dada pressão igual ao valor na temperatura de saturação não
conduz a erros maiores. Quando essa hipótese não for válida, a correção pode ser
feita por vários métodos descritos na literatura.

Exercício 25:
Calcule a densidade da amônia como líquido saturado 760 mmHg usando a equação de
Rackett.

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5.5. Entalpia e entropia de gases e líquidos

5.5.1. Relações matemáticas entre as propriedades termodinâmicas

Entre U e S:
du  d q R  d wR
d q R  T  ds  du  T  ds  P  dv [5.10]
d wR   P  dv

Note que a primeira expressão para du foi escrita para um processo reversível
mas, como u é uma variável de estado, é válida para qualquer transformação que se dê
entre os mesmos estados inicial e final.
Entre H e S:

dh  du  d P  v 
dh  du  P  dv  v  dP  dh  T  ds  v  dP [5.11]
dh  T  ds  P  dv  P  dv  v  dP

Entre A (energia livre de Helmoltz) e S:


da  du  d T  s 
da  du  T  ds  s  dT  dh   P  dv  s  dT [5.12]
dh  T  ds  P  dv  T  ds  s  dT

Entre G (energia livre de Gibbs) e S:


dg  dh  d T  s 
[5.13]
dg  T  ds  v  dP  T  ds  s  dT  dg  v  dP  s  dT

Comparando as expressões finais de 3.18 a 3.21 com as diferenciais totais de u,


h, a e g temos:
 u   u 
du  T  ds  P  dv  du     ds     dv
 s  v  v  s
 h   h 
dh  T  ds  v  dP  dh     ds     dP
 s  P  P  s
 a   a 
dA   P  dv  s  dT  da     dv     dT
 v T  T  v
 g   g 
dg  v  dP  s  dT  dg     dP     dT
 P T  T  P

Usando o primeiro par de expressões como exemplo e comparando termo-a-


termo podemos estabelecer as seguintes igualdades:

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 u   u 
  T    P
 s  v  v  s

Fazendo uma nova derivação:

    u         u  
      T        P
 v  s  s  v  v  s  s  v  v  s  s  v
 2u  T   2u  P 
    
s  v  v  s s  v  s  v
 T   P 
    
 v  s  s  v
Se repetirmos o raciocínio acima para as demais expressões chegaremos a
quatro expressões chamadas relações de Maxwell:

 T   P   T   v 
        
 v  s  s  v  P  s  s  P
[5.14]
 P   s   v   s 
        
 T  v  v T  T  P  P  P
As expressões acima são extremamente úteis, pois permitem relacionar a
entropia (uma variável de estado “abstrata”, sem medição direta) com temperaturas,
pressões e volumes (variáveis “reais” que podem ser medidas ou estimadas com
elevada precisão). Conhecida a entropia, as relações acima permitem estimar também
todas as demais variáveis de estado importantes. Elas também permitem afirmar que
qualquer método de previsão de volume específico (ou densidade) como o virial ou as
equações de estado cúbicas já estudadas pode ser derivado convenientemente e usado
para estimar entropias, entalpias etc. Os métodos de previsão dessas propriedades
serão apresentados a seguir.

5.5.2. Estimativa de h e s para gases – Funções de excesso

Entalpia do gás Entalpia do gás ideal


Entalpia de excesso
@TeP @TeP
@TeP
[5.15]
↓ ↓ ↓
h = h’ - Dh’

Entropia do gás Entropia do gás ideal


Entropia de excesso
@TeP @TeP
@TeP
[5.16]
↓ ↓ ↓
s = s’ - Ds’

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As funções de excesso são correções das propriedades termodinâmicas devido


ao desvio do comportamento da substância em relação ao comportamento de um gás
ideal nas mesmas T e P.

Entalpia do gás ideal no


Entalpia do gás ideal Variação de entalpia do
estado de referência
@TeP gás ideal entre To , Po e
@ To e Po
T, P
[5.17]
↓ ↓ ↓
T

h’ = h0’   C P  dT
T0

Entropia do gás ideal no


Entropia do gás ideal Variação de entropia do
estado de referência
@TeP gás ideal entre To , Po e
@ To e Po
T, P
[5.18]
↓ ↓ ↓
C P
T
P
s’ = s0’   dT  R  ln 
T0
T  P0 

Observar que as expressões acima são válidas desde que não ocorra mudança de
fase entre a transição do estado de referência (T 0, P0) e o estado no qual se deseja
determinar a função de estado (T, P).
Caso não seja possível fixar um estado de referência sem que ocorra uma
mudança de fase, correções apropriadas devem ser introduzidas levando em
consideração os calores latentes e sensíveis adequados.

5.5.3. Estimativa das funções de excesso pela equação do virial

Quando vR ≥ 2 as funções de excesso para entalpia e entropia podem ser


expressas por:
dB 0 0,675
 2, 6
dTR TR
dB1 0,722
 5, 2
dTR TR
 dB 0 B 0  [5.19]
Dh  dB1 B1 
 PR          
R T   dTR TR   dTR TR 
Ds   dB 0   dB1 
 PR        
R  R 
dT  R 
dT

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Termodinâmica Aplicada

Quando vR < 2 a equação do virial truncada no segundo coeficiente não é precisa


e uma outro método deve ser usado (como uma equação de estado cúbica por exemplo).

Exercício 26:
Calcule a carga térmica necessária para aquecer 10.000 kg/h de metano a 25 oC e 50
atm até 100 oC isobaricamente usando a equação do virial.

5.5.4. Estimativa das funções de excesso pelas equações cúbicas

As funções de excesso expressas pela equação de Soave são:

 0  0,42748
R T
v* 
P0
1 1
a   2  T  2
 R   0   f w   a  C 
T  T   PC 
a  Z   Z  B*   v  [5.20]
a  a0   ln   R  T  ln    R  T  ln * 
b Z B 
*
 Z  v 
1 a  Z   Z  B*   v 
s  s0     ln * 
 R  ln   R  ln * 
b T Z  B   Z  v 
 Ds   s  s 0
 Dh   a  a 0   T  s  s 0   R  T  Z  1

Exercício 27:
Calcule a carga térmica necessária para aquecer 10.000 kg/h de metano a 25 oC até
100 oC isobaricamente usando a equação de Soave.

5.5.5. Estimativa de h e s para líquidos

Nos líquidos, o efeito da pressão nas propriedades termodinâmicas e


volumétricas é normalmente pequeno exceto na região do ponto crítico e pode-se,
nesses casos, atribuir ao líquido sub-resfriado as propriedades do líquido saturado na
mesma T com um erro aceitável.
As propriedades do líquido saturado, por sua vez, podem ser estimadas por:

hLIQ = hVAP - DhLV


↑ ↑ ↑
Entalpia ou entropia do Entalpia ou entropia do Entalpia ou entropia de
[5.21]
líquido saturado vapor saturado vaporização @ T
↓ ↓ ↓
sLIQ = sVAP - DsLV

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Termodinâmica Aplicada

A entalpia e entropia de vaporização podem ser estimadas por uma série de


correlações como a equação de Clapeyron ou a partir do valor tabelado da entalpia de
vaporização no ponto normal de ebulição pelas expressões:

0 , 38
DhLV  1  TR 
  
TEB 
DhLVTEB
 1  TR  [5.22]
Dh
Ds LV  LV
T

Nos casos em que a aproximação da propriedade do líquido pela do lí quido


saturado não puder ser usada, existe na literatura uma grande coleção de valores de
Cp ou de suas expressões polinomiais que permitem a integrar Cp x dT ou (Cp/T) x dT
e obter valores de h e s mais precisos.
Outra possibilidade é usar a raiz menor das equações cúbicas de estado para
estimar um fator de compressibilidade para o liquido e aplicar as expressões usadas
para estimativas das propriedades dos gases. Normalmente esta abordagem traz
erros maiores que as anteriores já que as equações cúbicas são bem menos precisas
para estimativa de densidades de líquidos do que para os gases.

Exercício 28:
Estime o consumo de combustível de uma caldeira que queima gás natural (PCI =
10.000 kcal/kg) e que deve produzir 100 t/h de vapor a 50 bar e 400 oC a partir de
água desmineralizada a 50 bar e 150 oC. Considere que a caldeira tem uma eficiência
média de 85%.
Resolva este exercício com as tabelas de vapor e com as equações de Soave e de
Clapeyron. Compare os resultados obtidos.

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5.5.6. Psicrometria (Umidificação e Secagem)

Uma mistura de grande interesse na indústria é aquela constituída por ar e água


uma vez que sua manipulação é a parte central de operações de condicionamento de ar,
umidificação, secagem e seus efeitos térmicos são importantes em sistemas de
resfriamento de água industrial.
O sistema ar+água é geralmente considerado como uma mistura de gases (ar +
vapor d´água) em contato com água líquida ou gelo e sobre esse sistema são
normalmente adotadas as seguintes simplificações válidas para a maioria dos casos de
interesse:

1. A fase sólida ou líquida não contém gases dissolvidos;


2. A fase gasosa é ideal;
3. O equilíbrio entre a fase condensada e seu vapor não é afetado pelos demais
componentes incondensáveis (pressão parcial do vapor = pressão de saturação
do líquido @ T).

Com base nas simplificações acima podemos definir:

Pressão parcial da água na fase vapor : Págua


0

Pressão parcial do ar na fase vapor : Par0  Patm  Págua


0

0
Págua
Umidade relativa : UR   
Psat
[5.23]
mvapor MWágua  Págua
0 0
Págua
Umidade absoluta : UA      0,622
mar sec o MWar  Par0 Par0
  Par0

0,622 Psat

Exercício 29:
Considere 60 m3 de ar úmido (UR=70%) a 30 oC e 1 bar.
Calcule a umidade absoluta, a temperatura de orvalho e as massas de ar e vapor
d´água envolvidas.

Outra conseqüência importante das simplificações adotadas é que qualquer


balanço de energia pode ser feito tratando separadamente ar e vapor/água para os
cálculos de entalpia e energia interna. Desta forma as variações de entalpia do vapor
podem ser calculadas pelas tabelas de vapor d’água e as variações para o ar podem ser
calculadas pelas equações dos gases.

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Exercício 30:
Uma instalação de ar condicionado recebe ar a 30 oC e 1,0335 bar com umidade
relativa de 80% e fornece ar frio a 20 oC e 1,0203 bar com umidade de 95%. Qual a
carga térmica a ser removida do sistema em kcal/kg de ar seco?
Considere o Cp do ar 0,24 kcal/kgK.

Um conceito importante envolvendo o balanço combinado de massa e energia


com misturas ar+água é a saturação adiabática usado em processos de umidificação. A
figura abaixo ilustra o funcionamento de um saturador adiabático.

Considerando a entrada como ponto 1 e a saída de ar saturado como ponto 2, o


balanço combinado de massa e energia fornece:

h1ar  1  h1vapor  2  1   h2água  h2ar  2  h2vapor

ou (rearranjando) : [5.24]

1  h1vapor  h2água   Cp ar  T2  T1   2  h2vapor  h2água 

Esse balanço mostra que, para uma dada condição de entrada (P, T e UR), a
temperatura de saída (temperatura de saturação adiabática) é função apenas da
pressão na saída.
Outros conceitos importantes são as temperaturas de bulbo seco e de bulbo
úmido como ilustrado na figura abaixo.

FLUXO DE AR FLUXO DE AR

TBS
TBU

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A temperatura de bulbo seco (TBS) é a temperatura lida diretamente no


termômetro seco. No segundo termômetro que está com o bulbo de medição úmido
com água ocorre um abaixamento da temperatura provocada pela evaporação da água
que umedece o bulbo; esta é a temperatura de bulbo úmido (TBU).
Uma vez que um ar atmosférico mais úmido causa uma evaporação menor no
bulbo, um par TBS e TBU pode ser usado para caracterizar a umidade do ara
atmosférico de uma maneira mais simples e direta do que a análise físico-química do ar
por qualquer método analítico.
TBS, TBU, UR, UA e h se relacionam através do diagrama psicrométrico.
A temperatura de saturação adiabática e a temperatura de bulbo úmido são
conceitualmente diferentes (TSA = equilíbrio; TBU = troca de calor e massa), mas
seus valores são praticamente iguais para misturas ar+água em temperaturas e
pressões ambiente.
Muitos dos cálculos envolvendo misturas ar+água podem ser simplificados
usando a carta psicrométrica ao invés das equações mostradas anteriormente. É
recomendável usar a carta com atenção à pressão para a qual a carta foi traçada e
aplicar as correções disponíveis.

Exercício 31:
Repetir os exercícios 29 e 30 usando o diagrama psicrométrico.

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5.5.7. Torres de Resfriamento

São equipamentos de rejeição de calor que aproveitam os efeitos térmicos da


umidificação de ar para resfriar grandes quantidades de água para instalações de ar
condicionado e de resfriamento de água circulante em indústrias.

Os principais tipos de torres de resfriamento (segundo o tipo de circulação de


ar e o sentido do contato entre ar e água) são:

As torres de tiragem induzida e fluxo contracorrente são normalmente modelos


compactos de capacidade pequena ou média muito comuns em instalações de
condicionamento de ar centrais ou em pequenos circuitos de refrigeração industrial.
As torres de fulo cruzado são equipamentos de maior capacidade muito usados
nos grandes sistemas de refrigeração da indústria química, petroquímica, petrolífera
ou geração de energia.
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Forced Draft

Natural draft

As torres de tiragem natural são equipamentos de grande porte que dependem


de uma significativa diferença de temperatura entre a água quente de retorno e o ar
atmosférico para operar satisfatoriamente. Essa necessidade deriva da necessidade
de circular o ar através de um termossifão que, para diferenças de temperatura
reduzidas, tem pequena capacidade. São equipamentos mais comuns em países de clima
temperado e relativamente raros em regiões tropicais.
Uma torre de resfriamento está inserida em sistema que, além da própria torre,
inclui uma bomba de circulação, os trocadores de calor que removem o calor do
processo, facilidades para purga e reposição de água e sistemas de controle de
qualidade de água circulante (pH, biológico, salinidades, etc)

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A figura abaixo ilustra um circuito simples de resfriamento no qual se


identificam as seguintes correntes e parâmetros:

C = circulação de água (m3/h)


M = reposição ou “make-up” de água (m3/h)
P = purga ou “blow-down” de água (m3/h)
E = evaporação de água (m3/h)
A = perdas por arraste (m3/h)
HVAP = entalpia de vaporização da água (cerca de 540 kcal/kg)
Cp = calor específico da água (1 kcal/kg.K)
DT = diferença entre as temperaturas de entrada e saída da torre (K ou oC)

A função da purga e reposição é manter o inventário de água circulante ao


mesmo tempo em que se impede o aumento da circulação de sais no circuito uma vez
que a água evaporada não contém nenhum sal.

Se chamarmos de X a concentração (em ppm massa) dos sais solúveis


(normalmente cloretos) presentes na água define-se um parâmetro de controle
chamado “ciclo de concentração” como a relação entre a concentração de saias na
circulação e a concentração na reposição ou seja:

XC
Ciclo  normalmente 3 < Ciclo < 7 [5.25]
XM

E A

AR ATM

P
PROCESSO

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Os balanços de massa ao redor da torre levam a:

M  E  A P
M  X M   A  P  X C
[5.26]
XC M M
 
X M  A  P  M  E 

Se considerarmos que a reposição, as perdas por arraste e a purga acontecem


na temperatura de saída e desprezarmos os efeitos térmicos da variação de calor
sensível no ar, um balanço de energia simplificado fornece:

M  CP  Tout  To   C  C p  Tin  T0   C  C p  Tout  T0 


 E  CP  Tout  T0   HVAP    A  P  CP  Tout  To 

Assumindo a temperatura de entrada como referência:


[5.27]
M  C P  Tout  Tin   C  C P  Tout  Tin   E  C P  Tout  Tin   H VAP    A  P   C P  Tout  Tin 
M  E  A  P  C  C P  Tout  Tin   E  H VAP 
C  C p  DT
E
H VAP

O balanço acima é normalmente considerado apenas uma aproximação já que o


ar atmosférico apresenta um pequeno ganho de entalpia devido ao calor sensível. Essa
pequena variação de entalpia multiplicada pela vazão de ar (normalmente grande) gera
uma diferença apreciável para equipamentos de maior porte.

Quando o balanço acima não é aceitável, um cálculo através do diagrama


psicrométrico leva a um resultado mais realista.

Nos balanços acima, o termo referente à perda por arraste é difícil de medir e
um valor constante é assumido em função do tipo de torre:

A = 0.3 a 1.0 % de C para torres de tiragem natural sem eliminadores de


arraste
A = 0.1 a 0.3 % de C para torres de tiragem induzida sem eliminadores de
arraste
A < 0.005 % de C se a torre tem eliminadores de arraste

Um projeto rigoroso de uma torre de resfriamento envolve, além dos balanços


descritos acima, a determinação do volume e dimensões do recheio. Esses cálculos
devem levar em conta os coeficientes de transporte de massa e a eficiência dos
recheios além das trocas de energia calculadas com o auxílio da psicrometria.

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Exercício 32:
Uma indústria química deseja instalar-se em um local onde a TBS é 27 oC e a
TBU é 23oC.
As instalações compreenderão 3 unidades produtivas que devem receber água a
o
29 C no máximo e rejeitam a quantidade de calor da tabela abaixo.

Unidade Carga Térmica Temperatura da água de


retorno
#1 3 Gcal/h 35oC
#2 5 Gcal/h 32oC
#3 60 Gcal/h 36oC

A torre de resfriamento será composta de um número a determinar de unidades


pré-fabricadas com capacidade para 1.600 m3/h de água e 2.000.000 de kg/h de ar
seco cada,
Considerando que o sistema operará com um ciclo de concentração de 5 e o
arraste é de 0,1% da circulação:

1. Calcule as condições (T e vazão) da água alimentada à torre.


2. Estabeleça o balanço material da instalação.
3. Determine o número de células necessárias.

E+A
#1

#2
Ar

#3
C
M
P

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6. Anexos : Tabelas e Gráficos

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6.1. Tabela de propriedades da água: líquido e vapor saturados

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6.2. Tabela de propriedades da água: líquido subresfriado e vapor


superaquecido

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Termodinâmica Aplicada

6.3. Tabela de propriedades da amônia (R-717)

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Termodinâmica Aplicada

6.4. Diagramas P x h:
6.4.1. Metano (R-50)
6.4.2. Amônia (R-717)
6.4.3. Freon-12 (R-12)
6.4.4. Freon-22 (R-22)

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Termodinâmica Aplicada

6.5. Fator generalizado de compressibilidade (Z)

Prof. Reinaldo 81
Termodinâmica Aplicada

6.6. Diagrama psicrométrico para o nível do mar

Prof. Reinaldo 82

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