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P2 - Gabarito

5 de fevereiro de 2018
Questão 1 (1.5). Considere
 2
 x y ,

se ( x, y) 6= (0, 0)
4 2
g( x, y) = ( x, y + x2 ) e f ( x, y) = x + y .

0, se ( x, y) = (0, 0)

Mostre que:

(a) f e g admitem todas as derivadas direcionais em todos os pontos.

(b) f ◦ g não admite derivada direcional em (0, 0), para alguma direção.

Solução:

(a) Note que g é diferenciável em todos os pontos (pois suas componen-


tes o são), e portanto admite derivadas direcionais em todos os pontos.
Também, f admite todas as derivadas direcionais em pontos ( x, y) 6=
(0, 0), onde é diferenciável. Já em (0, 0), tomamos (h, k) ∈ R2 e calcu-
lamos a derivada direcional via a definição. Se h = 0 ou k = 0 é fácil
ver que o resultado existe e dá zero. Caso contrário, temos:

∂f f (th, tk ) − f (0, 0)
(0, 0) = lim
∂(h, k ) t →0 t
2
(th) (tk)
= lim
t→0 t (( th )4 + ( tk )2 )
t2 h2 k
= lim 4 4
t →0 t h + t 2 k 2
h2 k h2
= lim 2 4 = .
t →0 t h + k 2 k

1
(b) Como g( x, y) = (0, 0) se e somente se ( x, y) = (0, 0), a composta f ◦ g
pode ser calculada por substituição direta:
 2 2
 x (y + x ) , se ( x, y) 6= (0, 0)

( f ◦ g)( x, y) = x4 + (y + x2 )2 .

0, se ( x, y) = (0, 0)

Vamos ver que a derivada direcional (∂( f ◦ g)/∂(1, 0))(0, 0) não existe:

( f ◦ g)(t, 0) − ( f ◦ g)(0, 0) t2 (0 + t2 ) t4 1
lim = lim 4 2 2
= lim 5
= lim .
t →0 t t →0 t ( t + (0 + t ) ) t→0 2t t→0 2t

2
Questão 2 (1.0). Seja f : Rn → Rn derivável tal que para todo x ∈ Rn ,
D f ( f ( x)) ◦ D f ( x) = Id e f ( f ( x0 )) = x0 para algum x0 ∈ Rn . Prove que f
tem inversa que também é derivável.

Solução: Das condições dadas é razoável chutar que a inversa de f será


a própria f (logo, derivável). Ou seja, queremos ver que f ◦ f possui a
mesma derivada que a aplicação identidade, e que empata com ela em
um ponto. Estas são precisamente as hipóteses dadas no enunciado. A
conclusão segue pela conexidade de Rn .

3
Questão 3 (1.0). Sejam f : Rm → Rn contínua, e g : Rn → Rn e g ◦ f ambas
de classe C1 . Se para todo x ∈ Rm o conjunto {∇ gi ( f ( x)) | i = 1, . . . , n}
for linearmente independente, mostre que f é de classe C1 .

Solução: Fixe x0 ∈ Rm . Vamos mostrar que f é de classe C1 em um aberto


contendo x0 . Como ser de classe C1 é uma propriedade de caráter local
e x0 é arbitrário, isto basta. A independência linear de {∇ gi ( f ( x0 ))}in=1
nada mais nos diz que Dg( f ( x0 )) é um isomorfismo linear. Assim, sendo
g de classe C1 , o Teorema da Função Inversa nos dá um aberto U ⊆ Rn
contendo f ( x0 ) tal que g|U : U → g(U ) é um difeomorfismo C1 .
Mas f é contínua, donde f −1 (U ) é um aberto contendo x0 . Assim, te-
mos que f | f −1 (U ) = g−1 | g(U ) ◦ ( g ◦ f )| f −1 (U ) é uma composta de aplicações
de classe C1 , logo é C1 .

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Questão 4 (1.5). Prove que f ( x, y, z) = (e2y+2z , e2y−2z , x − y) é um difeo-
morfismo de classe C1 de R3 sobre um aberto de R3 .

Solução: Temos que

0 2e2y+2z 2e2y+2z
 

D f ( x, y, z) = 0 2e2y−2z −2e2y−2z  ,
1 −1 0

donde as propriedades usuais do determinante nos dão


 
0 1 1
det D f ( x, y, z) = 4e2y+2z e2y−2z det 0 1 −1 = −8e4y 6= 0.
1 −1 0

O Teorema da Função Inversa nos diz que f é um difeomorfismo local


C1 de R3 sobre um aberto de R3 . Falta ver que f é injetora. Com efeito,
a função exponencial é injetora, de modo que f ( x1 , y1 , z1 ) = f ( x2 , y2 , z2 )
nos dá imediatamente que

2y1 + 2z1 = 2y2 + 2z2

2y1 − 2z1 = 2y2 − 2z2 .

x1 − y1 = x2 − y2

Deste sistema segue que ( x1 , y1 , z1 ) = ( x2 , y2 , z2 ), como queríamos.

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Questão 5 (2.0).

(a) Verifique se f ( x, y, z) = (3xy, x2 + y2 , z) é Lipschitziana sobre R3 .

(b) Se A = {( x, y) | | x | + |y| < 2} e f : A → R é de classe C ∞ tem suas de-


rivadas parciais limitadas (em módulo) por 3 em A, mostre que f ( A)
é um intervalo e avalie seu comprimento.

Solução:

(a) Não. A componente x2 + y2 já nos leva a desconfiar de algum pro-


blema. Suponha por absurdo que fosse, para uma constante M > 0.
Então deveria valer que

k f (0, u, 0) − f (0, v, 0)k ≤ Mk(0, u, 0) − (0, v, 0)k,

quaisquer que fossem u, v ∈ R. Ou seja, teríamos

|u2 − v2 | = k(0, u2 − v2 , 0)k ≤ Mk(0, u − v, 0)k = M|u − v|,

e portanto |u + v| ≤ M para todos u, v ∈ R distintos. Contradição.

(b) Note que A é convexo, e portanto conexo. Pela continuidade de f ,


f ( A) é um conexo da reta, e portanto é um intervalo. Estimar o seu
comprimento é estimar o máximo entre todas as distâncias

| f ( x1 , y1 ) − f ( x2 , y2 )| ∈ R, com ( x1 , y1 ), ( x2 , y2 ) ∈ A.

Isto pode ser feito lembrando (Corolário 3.17, p. 41) que se uma função
diferenciável f : A ⊆ Rn → Rm está definida em um aberto convexo e
todas as suas derivadas são limitadas√em módulo por uma constante
M, então temos k f ( x) − f (y)k ≤ M mnk x − yk. Neste caso, é fácil
ver que diam( A) = 4, donde

| f ( x1 , y1 ) − f ( x2 , y2 )| ≤ 3 2 · 1k( x1 , y1 ) − ( x2 , y2 )k
√ √
≤ 3 2 · 4 = 12 2.

6
.
Questão 6 (2.0). Considere f : Rn → Rm derivável e F ( x, y) = f ( x) + f (y).
(a) Determine as derivadas direcionais de F em um ponto ( x0 , y0 ) pela
definição.
(b) Use (a) para mostrar que F é derivável, e explicite a matriz F 0 ( x0 , y0 ).
(c) Calcule DF ((1, 2), (2, 0))((2, 0), (1, 2)) para a função f : R2 → R dada
por f ( x1 , x2 ) = x1 x2 .
Solução:
(a) Dado (h, k) ∈ Rn × Rn , calculamos:
∂F F ( x0 + th, y0 + tk) − F ( x0 , y0 )
( x0 , y0 ) = lim
∂(h, k) t →0 t
f ( x0 + th) + f (y0 + tk) − f ( x0 ) − f (y0 )
= lim
t →0 t
f ( x0 + th) − f ( x0 ) f (y0 + tk) − f (y0 )
= lim +
t →0 t t
∂f ∂f
= ( x0 ) + ( y0 ),
∂h ∂k
pois f é derivável (de modo que suas derivadas direcionais existem).
(b) Em vista do item (a), a candidata é
DF ( x0 , y0 )(h, k) = D f ( x0 )(h) + D f (y0 )(k).
Vejamos que isto funciona:
F ( x0 + h, y0 + k) − F ( x0 , y0 ) − D f ( x0 )(h) + D f (y0 )(k)

=
k(h, k)k

f ( x + h) + f (y + k) − f ( x ) − f (y ) − D f ( x )(h) + D f (y )(k)
0 0 0 0 0 0
=

p
k h k2 + k k k2
k f ( x0 + h) − f ( x0 ) − D f ( x0 )(h)k k f (y0 + k) − f (y0 ) − D f (y0 )(k)k
≤ p + p
k h k2 + k k k2 k h k2 + k k k2
khk k f ( x0 + h) − f ( x0 ) − D f ( x0 )(h)k
=p +
k h k2 + k k k2 | khk
| {z } {z }
−1≤ ≤1 →0
kkk k f (y0 + k) − f (y0 ) − D f (y0 )(k)k
+p →0
k h k2 + k k k2 | kkk
| {z } {z }
−1≤ ≤1 →0

7
Em particular, temos
 
DF ( x, y) = D f ( x) D f (y) .

(c) Note que neste caso f é bilinear. Assim, temos:

DF ((1, 2), (2, 0))((2, 0), (1, 2)) = D f (1, 2)(2, 0) + D f (2, 0)(1, 2)
= f (1, 0) + f (2, 2) + f (2, 2) + f (1, 0)
= 0+4+4+0
= 8.

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Questão 7 (3.0). Seja f : Rn → Rn de classe C1 tal que k f ( x) − f (y)k ≥
k x − yk para todos x, y ∈ Rn . Mostre que:
(a) para todo x ∈ Rn , D f ( x) não admite autovalor nulo.

(b) f é um difeomorfismo de classe C1 sobre um aberto de Rn .

(c) f (Rn ) é um fechado de Rn . Conclua que f (Rn ) = Rn .

Solução:

(a) Suponha por absurdo que D f ( x0 )(v) = 0 para algum x0 ∈ Rn e v ∈


Rn não-nulo. Normalizando se necessário podemos supor que vale
kvk = 1. Usando a definição de derivada direcional e a continuidade
de k · k temos

f ( x0 + tv) − f ( x0 ) x0 + tv − x0
0 = lim ≥ lim = lim ktvk = 1,
t →0 t t →0 t t →0 | t |

contradição.

(b) Pelo item (a), f é um difeomorfismo local C1 sobre um aberto de Rn


(Teorema da função Inversa). Falta ver que f é injetora. Mas x 6= y nos

k f ( x) − f (y)k ≥ k x − yk > 0,
donde f ( x) 6= f (y), como queríamos.

(c) Vamos utilizar a caracterização de fechados por sequências. Seja y ∈


f (Rn ). Então existe (yn )n≥0 ⊆ f (Rn ) com yn → y. Em particular,
(yn )n≥0 é uma sequência de Cauchy. Para cada n ≥ 0, tome xn ∈ Rn
tal que yn = f ( xn ). Então

k xn − xm k ≤ k f ( xn ) − f ( xm )k = kyn − ym k

nos diz que ( xn )n≥0 é uma sequência de Cauchy em Rn . Como Rn é


completo, existe x ∈ Rn com xn → x. Da continuidade de f segue que
yn = f ( xn ) → f ( x). Pela unicidade de limites em Rn concluímos que
y = f ( x). Assim f (Rn ) é fechado, como queríamos.
Sendo f (Rn ) aberto, fechado e não-vazio em Rn , a conexidade de Rn
nos diz que f (Rn ) = Rn .

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