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2.1 INTRODUÇÃO
Projetar e produzir bens não tem se mostrado uma tarefa muito difícil para as empresas. A
dificuldade está em projetar e produzir bens de forma organizada e eficiente, atendendo as
necessidades dos clientes. Veja-se o exemplo da indústria automobilística. Até a década de 80, para
se obter um carro de aceitação popular a baixo custo, como o famoso Fusca, as empresas
projetavam seus produtos e processos, e administravam suas fábricas, de maneira a obter uma
produção em grande escala desses bens. A ênfase era na redução dos custos fixos pelo aumento
cada vez maior dos lotes produtivos. Por outro lado, se o objetivo estratégico da empresa era atingir
um mercado automobilístico mais sofisticado para carros de luxo, procurava-se projetar e instalar
fábricas quase artezanais onde, com mão-de-obra super qualificada e inspeção 100%, buscava-se
produtos de qualidade em pequena escala.
Essas duas alternativas são pontos extremos para uma gama de soluções de projeto e
fabricação de automóveis. Tanto a busca pela redução dos custos fixos aumentando a capacidade
instalada, como a ênfase na qualidade pela produção artezanal, são soluções que se mostraram
ineficientes frente a concorrência globalizada desse final de século. Capitaneadas pela Toyota
Motors, as montadoras de automóveis reprojetaram suas fábricas, reduzindo a complexidade dos
processos e dando ênfase a prevenção da qualidade, de forma a redirecionar seu foco para o
atendimento simultâneo dos critérios competitivos atuais (qualidade, custo, flexibilidade e
desempenho de entrega) conforme proposto pela filosofia JIT/TQC.
Nos processos de produção em massa, como o das montadoras de automóveis, talvez essa
questão de perda de foco não fique bem clara, porém quando se desce um nível nessa cadeia
produtiva, olhando para os fornecedores de autopeças, com processos intermitentes em lotes, a
situação encontrada no final dos anos 80 era caótica. Fábricas de grande porte, centralizadas em
determinada região, buscavam atender a todos os seus clientes simultaneamente, produzindo de
forma antecipada as potenciais necessidades desses clientes. A medida em que novos clientes iam
aparecendo, procurava-se adicionar ao sistema atual mais capacidade produtiva para atendê-los.
Dessa forma, os administradores pensavam estar reduzindo seus custos fixos com o crescimento das
fábricas, porém na realidade, problemas de várias ordens afloravam agindo no sentido contrário,
como por exemplo:
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A Produtividade no Chão de Fábrica
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O que se pretende com a produção focalizada é reverter esse crescimento excessivo, fazendo
com que cada produto, ou família de produtos, possa ser tratado como um negócio específico, com
suas características produtivas e mercadológicas próprias, segundo a definição de uma estratégia
competitiva adequada para cada produto. Desta forma, as empresas dividiriam fisicamente seus
recursos, montando fábricas focalizadas em produtos, ou famílias, específicos. O crescimento não
se daria mais pelo aumento dos antigos departamentos e linhas de montagem, mas sim pela criação
de novas unidades de negócios focalizadas.
domínio do processo produtivo: por ser uma fábrica pequena as comunicações fluem
mais facilmente, permitindo que cada gerente, supervisor e funcionário conheça todos os
aspectos importantes da fabricação dos produtos. Dessa forma, aumenta-se a
identificação e solução de problemas;
gerência junto à produção: com o enxugamento dos níveis hierárquicos pela redução da
complexidade dos processos, a gerência pode ficar localizada próxima ao chão-de-
fábrica, aumentando a velocidade de resposta na tomada de decisões. O gerenciamento
pode ser mais centrado nos aspectos visuais do que em cima de relatórios periódicos;
staff reduzido e exclusivo: o pessoal de apoio pode ficar junto ao local onde presta o
serviço, especializando-se em suas tarefas. A focalização do staff facilita a programação
dos serviços de apoio aos clientes internos, reduzindo as paradas de produção e
acelerando a solução dos problemas;
estímulo à polivalência de funções: em fábricas pequenas tanto as funções produtivas
como as de apoio são executadas por um número menor de pessoas, induzindo ao
conceito de funcionário polivalente. As responsabilidades pela produção, qualidade,
manutenção, movimentação etc. são compartilhadas por todos e podem ser melhor
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A Produtividade no Chão de Fábrica
Produção Focalizada 23
Sistemas de Produção
A Produtividade no Chão de Fábrica
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Por exemplo, uma indústria metal-mecânica que tem sua produção centrada em
compressores de grande porte, fabrica paralelamente outros produtos, como elevadores hidráulicos,
morsas, pistolas manuais de pintura, entre mais de dez produtos diferentes. O roteiro de fabricação
desses produtos tem início em um processo de fundição, que atende a fábrica como um todo. Uma
vez fundido, cada lote de peças segue para um ponto específico da fábrica onde existe uma estrutura
produtiva focalizada que se encarrega de completar a fabricação e montagem de cada produto. Ao
visitar suas instalações, tem-se uma visão global de todas as subfábricas ali instaladas (sem paredes
entre elas), ficando bastante evidente o senso de organização e controle que se obtêm ao optar por
essa forma avançada de organização industrial.
Muitas vezes soluções não convencionais devem ser tentadas no sentido de balancear a
capacidade com a demanda. Shingo (SHINGO, 1996 : 171) apresenta o exemplo de uma indústria
metalúrgica que, no sentido de buscar um balanceamento em fluxo unitário de produção para as
peças, substituiu as convencionais cabinas de pintura de grande porte, por pequenas caixas de um
metro cúbico de volume com dispositivos de pintura em spray, posicionadas dentro da linha
imediatamente após a furação e o rosqueamento das peças. Ganhos significativos foram alcançados
não só em termos de eliminação do transporte e armazenagem intermediária das peças como,
principalmente, pela eliminação da insalubridade existente dentro da antiga cabina de pintura.
Conforme tratado no capítulo inicial, existe uma gama grande de tipos de sistemas de
produção. Várias formas de classificação foram propostas. Geralmente as empresas apresentam
sistemas de produção com uma composição de processos repetitivos em lotes na fabricação de
peças e processos repetitivos em massa na montagem de produtos acabados. Nos dois extremos
tem-se por um lado os processos contínuos, por princípio totalmente focalizados, e, por outro os
processos sob encomenda, impossíveis de serem focalizados a priori. No sentido de buscar um
modelo teórico para as alternativas viáveis de focalização, serão abordadas soluções para a
focalização nos processos de fabricação repetitiva em lotes, a focalização nos processos de
montagem e a focalização na armazenagem e movimentação dos materiais. Assim, espera-se
simplificar a apresentação do tema e, ao mesmo tempo, abranger um número maior de alternativas
de sistemas produtivos.
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Produção Focalizada 25
tipo de arranjo físico. Nessa figura pode-se ver quatro departamentos distintos, com funções
específicas de extrusar, serrar, tornear e soldar.
Serras Tornos
Extrusoras Soldas
Esse tipo de arranjo físico foi a solução encontrada pelas empresas para permitir um
crescimento de produção pelo emprego do tempo ocioso das máquinas. A capacidade de produção
de determinado departamento seria a soma das capacidades individuais das máquinas, não se
admitindo que qualquer uma delas possa ficar parada. Pode-se dizer que o maior incentivador dos
layouts departamentais foi o conceito contábil, amplamente aceito pelas empresas convencionais, de
valor agregado. Segundo esse conceito, cada vez que uma máquina é acionada para beneficiar uma
matéria-prima ou uma peça em processo, está se adicionando valor a essa matéria-prima ou peça,
mesmo que elas fiquem durante um longo tempo em estoques intermediários (WIP) ou de produtos
acabados a espera de clientes para consumi-las. A ênfase é de aumentar a produtividade individual
dos recursos, e não em acelerar o fluxo de conversão de matérias-primas em produtos acabados
segundo as necessidades dos clientes.
Além desse forte motivo de ordem contábil, outros fatores ajudaram a justificar a escolha
por layouts departamentais, como:
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em produtos acabados, como extrusoras para produtos plásticos, são mais fáceis de
serem dispostas em departamentos do que deslocadas para células.
Como forma de eliminar, ou pelo menos reduzir, esses desperdícios precisa-se repensar a
disposição das máquinas no layout fabril. Ao invés de agrupá-las por função, deve-se agrupá-las por
produto, focalizando-as a um produto ou família de produtos. A ênfase agora é de acelerar o fluxo
de conversão das matérias-primas em produtos acabados, buscando-se a formação de células que
disponham as máquinas na seqüência necessária a fabricação desses itens. A Figura 2.3 exemplifica
esse tipo de layout celular.
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Produção Focalizada 27
Família 2
Família 1
Família 5
Família 3 e 4
Conforme pode-se ver nessa figura, as máquinas antes agrupadas por departamentos com
funções afins agora são distribuídas em células encarregadas de processar completamente uma
família de produtos. Por exemplo, para produzir os itens da família 2 uma serra, dois tornos e uma
máquina de solda são colocadas em seqüência para atender ao roteiro de fabricação dessa família.
Com isso, o fluxo de produção (lead time) dessa família é acelerado. Pode-se empregar o conceito
de produção em fluxo unitário, utilizado originalmente em linhas de montagem contínuas, fazendo
com que os tempos de fabricação sejam reduzidos a praticamente a soma dos tempos das operações
individuais das máquinas. Todos os desperdícios de tempo associados à superprodução, espera,
movimentação e transporte, processamento, estoques e fabricação de produtos defeituosos podem
ser eliminados.
Os tempos que compõem o lead time de um item fabricado de forma intermitente em lotes
podem ser divididos em: tempo de tramitação da ordem de fabricação, tempo de espera na fila do
recurso, tempo de setup, tempo de processamento e tempo de movimentação. Com exceção do
tempo de tramitação da ordem de fabricação, reduzido pela aplicação de um sistema JIT de puxar a
produção, os demais tempos são drasticamente reduzidos, ou até eliminados, com a implantação do
layout celular (a redução dos lead times produtivos será tratada em detalhe no capítulo 5). Ou seja:
tempo de espera na fila: é eliminado pela disposição adequada das máquinas segundo o
roteiro de fabricação do item e pela produção em fluxo unitário. Dessa forma evita-se a
formação de estoques internos à célula, eliminam-se as filas de espera nas máquinas e o
conseqüente seqüenciamento das ordens nas filas, que acarretam tempos e custos
indesejáveis;
tempo de setup: o simples fato de organizar o fluxo de produção por item, ou famílias de
itens, já faz com que as máquinas fiquem alocadas prioritariamente ao item, evitando-se
os setups para o processamento de itens diferentes. Contudo, a própria mudança de
filosofia e a adoção do layout celular estimula e facilita a implantação de técnicas de
redução de setups, que serão discutidas mais adiante no capítulo 5;
tempo de processamento: com a redução dos tempos de setups estimulada pelo layout
celular, pode-se diminuir economicamente o tamanho dos lotes de fabricação, fazendo
com que o tempo médio de processamento dos itens em cada máquina necessária a sua
seqüência de fabricação se reduza, acelerando seu fluxo de conversão em produto
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A Produtividade no Chão de Fábrica
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Como conseqüência direta da redução dos lead times de fabricação dos itens, a adoção do
layout celular aumenta a flexibilidade do sistema produtivo e diminui a necessidade de estoques em
processo (WIP) entre células, pois há uma conversão mais rápida dos itens em produtos acabados,
podendo-se atender diretamente a demanda com a produção. Por outro lado internamente nas
células, empregando-se a produção em fluxo unitário, o item trabalhado em uma máquina é
imediatamente transferido para a próxima máquina da célula após o tempo de ciclo, não permitindo
a formação de WIP interno, a não ser em casos onde haja necessidade de conectar operadores ou
introduzir um tempo para inspeção ou cura dos itens.
Um bom exemplo desse potencial de ganhos é a fábrica da Azaléia em Parobé (RS) que
produz tênis esportivos da marca Olympikus (CAETANO, 1997 : 44). Após a implantação de
células de produção baseada nos conceitos da filosofia JIT/TQC, a Azaléia reduziu o lead time de
fabricação dos seus tênis de cinco dias para três horas e meia, fazendo com que os pedidos dos
clientes que antes eram atendidos dentro de um prazo médio de três meses caíssem para apenas dez
dias. A partir dessa melhora na velocidade e flexibilidade da produção, os lojistas ganharam a
liberdade de fazerem seus pedidos em grades abertas, só repondo os tamanhos que tenham mais
saída. Em virtude do tênis ser um produto com ciclo de vida curto (alguns não ultrapassam três
semanas no mercado, e os melhores ficam por seis messes), esse aumento de flexibilidade permitiu
que a Azaleia obtivesse uma grande vantagem competitiva em relação à concorrência ao atender sua
demanda (12.000 varejistas) de forma diferenciada, adaptando-se às variações da demanda a baixo
custo (seus tênis, com o mesmo desempenho e nível de qualidade, são oferecidos a preços 25%
inferiores dos importados).
Sistemas de Produção
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Produção Focalizada 29
Segundo Lorini (LORINI, 1993 : 20-28), os métodos empregados pela Tecnologia de Grupo
para a definição das famílias de itens a serem processados em uma célula podem ser divididos em
quatro grupos básicos:
inspeção visual: busca identificar famílias de itens pela análise visual de suas
características. É um método simples e rápido recomendado para soluções iniciais de
focalização, ficando limitado à experiência do analista e ao número de itens que
fisicamente podem ser manuseados;
análise do fluxo de produção (PFA): procura agrupar os itens levando em consideração
os seus roteiros de fabricação, ou fluxos de produção, através das máquinas. Os itens são
agrupados pela similaridade de roteiros, independente de suas características
dimensionais. Nesse método emprega-se uma matriz de incidência peça/máquina
preenchida com os índices 0 ou 1 (1 se a peça passa pela máquina da respectiva linha e 0
se a peça não passa pela máquina) onde são permutadas linhas e colunas, pelo emprego
de algoritmos de formação de grupos (clustering), com o objetivo de diagonalizar a
matriz e encontrar os itens que podem ser processados em grupos de máquinas. A Figura
2.4 apresenta um exemplo de matriz de incidência onde a partir de uma situação inicial
(a) se obtêm, através de trocas de posições nas linhas e colunas, uma situação idealizada
(b) que deixa claro a formação de duas células para os grupos de itens;
classificação por código: tem por objetivo desenvolver um sistema de código que
permita codificar os itens por atributos de projeto, processo ou ambos de maneira que, ao
se analisar os códigos dos itens, possa-se formar famílias com semelhanças de atributos.
A classificação por código é fundamental quando se busca uma visão integrada de
manufatura por computador (CIM) no sentido de permitir um fluxo rápido e lógico das
informações entre as etapas de engenharia (CAE), projeto (CAD), planejamento do
processo (CAPP) e manufatura (CAM);
reconhecimento de padrões: busca estabelecer algumas características geométricas ou
tecnológicas padrões para serem comparadas com as características dos itens que se
pretende agrupar de forma a obter certa similaridade entre esses itens. Empregam-se
funções analíticas para quantificar o grau de semelhança entre a característica do item e
o respectivo padrão, podendo inclusive ser utilizada ponderações diferentes conforme se
queira dar maior importância a determinada característica no agrupamento.
Dos métodos disponíveis para compor células dentro da Tecnologia de Grupo, o mais
adequado segundo os princípios de focalização da produção aqui tratados é o da análise do fluxo de
produção, pois pode ser empregado de forma rápida sem a necessidade de compor códigos
complexos que demandam tempo e retardam a implantação do JIT. Segundo Harmon e Peterson
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A Produtividade no Chão de Fábrica
Capítulo 2 30
(HARMON, 1991 : 157) “... a experiência da Andersen Consulting em mais de 400 fábricas em
todo o mundo mostrou não ser preciso codificar peças de modo a identificar possíveis células”.
Schonberger (SCHONBERGER, 1988 : 120) coloca que só o processo de codificação das
características dos itens pode levar alguns anos e que isso tende a atrapalhar o ritmo do progresso
em focalizar a produção.
Dentro dessa ótica, não se deve confundir a informatização das informações visando a
automação industrial com o conceito gerencial de produção focalizada. A produção focalizada pode
ser implementada com máquinas convencionais de operação manual ou com robôs e modernos
centros de usinagem CNC. O importante é que ao se focalizar a produção com os equipamentos
disponíveis no momento, os desperdícios serão potencializados e poderão ser mais facilmente
identificados e eliminados, fazendo com que a futura implantação de novas tecnologias de produção
possa ser feita de forma racional e produtiva. Um estudo desenvolvido pelo Massachusetts Institute
of Tecnology durante cinco anos dentro da cadeia produtiva automobilística (WOMACK, 1992 : 85)
concluiu que fábricas de alta tecnologia mal organizadas acabam adicionando tantos técnicos
indiretos e pessoal de manutenção extra que suplantam os ganhos obtidos pela remoção via
automação dos trabalhadores diretos.
Uma vez agrupados os itens por famílias com características afins, a questão seguinte na
montagem de células visando a focalização da produção nos sistemas de produção em lotes refere-
se ao balanceamento da capacidade produtiva das máquinas com a demanda dos itens nela
processados. Inicialmente, o formato das células tem um fator determinante nesse balanceamento da
demanda com a capacidade. O desenho ideal para a montagem de células é o com formato em “U”,
podendo-se empregar também os formatos de “V” ou “L”, ou combinações desses formando uma
serpentina. Existe algumas vantagens importantes em se empregar o layout celular com formato em
“U” (MONDEN, 1984 : 57-59), quais sejam:
Sistemas de Produção
A Produtividade no Chão de Fábrica
Produção Focalizada 31
Três operadores
Tempo de Ciclo
de 1,5 min./unidade
Dois operadores
Tempo de Ciclo
de 2,0 min./unidade
trabalho em grupo com tempos de ciclo predeterminados e o layout celular fazem com
que cada operador seja obrigado a manter o padrão individual do trabalho para atender a
demanda do seu “cliente” interno. Caso algum ponto do sistema tenha problemas e não
consiga completar as operações padrões dentro do tempo de ciclo, isso se tornará
evidente e prontamente poderá ser resolvido pela aplicação do conceito de “ajuda
mútua” entre os operadores;
facilidade em adequar o layout as instalações: o formato em “U”, ou em serpentina,
permite que as células possam ser comprimidas ou expandidas para se enquadrarem
dentro das dimensões atuais das fábricas, evitando gastos com novas instalações.
Levando-se em conta que novos produtos possam vir a ser fabricados, e que alguns dos
atuais deixem de ser fabricados no futuro, o potencial de reorganização das células é um
fator importante a ser considerado.
É comum nas fábricas com processos repetitivos em lotes a utilização das máquinas estar
bem abaixo da sua capacidade plena pois sempre existirá um ponto gargalo interno ou externo que
limitará a necessidade de acionamento dos recursos. Quando o gargalo for o mercado, a produção
plena estará apenas adicionando estoques ao almoxarifado. Esse desbalanceamento se deve a lógica
convencional de repor equipamentos a medida em que a demanda cresce. Schonberger
(SCHONBERGER, 1988 : 84) chama a isso de o “ciclo da supermáquina”, que é geralmente o
seguinte:
Sistemas de Produção
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Produção Focalizada 33
considera que em situações onde a capacidade de produção dos recursos está acima da capacidade
de absorção pela demanda, é preferível manter baixa a taxa de utilização das máquinas à manter
ociosa a mão-de-obra. Esse raciocínio deriva de dois pontos de vista peculiares. Primeiro, o de que
máquinas e equipamentos bem utilizados com manutenções eficientes, mesmo após serem
contabilmente depreciados, continuarão a ser empregados gerando lucro. Segundo, o custo por hora
do operador é geralmente maior do que o custo de depreciação da máquina e continuará a ocorrer
mesmo que o operador fique parado, enquanto que uma máquina parada não está se depreciando
“fisicamente”. O emprego de células com operadores polivalentes fez com que a Toyota obtivesse
uma produtividade por trabalhador de 20 a 30% superior as outras empresas concorrentes.
Por exemplo, uma família de itens pode ser produzida em duas células semelhantes. Quando
a demanda desses itens está alta, ambas as células operam em dois turnos produzindo os mesmos
itens. Porém, quando a demanda baixa, uma célula pode continuar operando em dois turnos e a
outra pode passar a operar um turno com essa família e o outro com outra família de itens. Caso a
demanda venha efetivamente a se reduzir pela metade, pode-se deixar apenas uma célula
trabalhando com esses itens e a outra, por ter máquinas mais simples, pode ser convertida para a
produção de outros itens.
Sistemas de Produção
A Produtividade no Chão de Fábrica
Capítulo 2 34
Inicialmente cabe salientar duas características associadas aos processos de montagem que
fazem com que os processos convencionais possam ser remodelados de forma simples e com
ganhos significativos. Primeiro, a grande maioria dos processos de montagem fazem uso intensivo
de mão-de-obra permitindo que técnicas motivacionais de trabalho em equipe possam ser
implantadas. Os investimentos nesse caso são muito inferiores aos investimentos em tecnologia, e
os ganhos potenciais de qualidade e produtividade dos montadores maiores. Segundo, os processos
de montagem são na sua grande maioria os geradores dos estoques por toda a fábrica. O tamanho da
linha está associado ao uso intensivo de estoques amortecedores (buffers) de componentes dentro da
mesma. Uma melhora no desempenho da linha fará com que não só os estoques diretos na linha se
reduzam, mas também que os estoques por toda a fábrica sejam solicitados de forma organizada e
previsível. Reduzindo a necessidade de buffers haverá redução de espaços físicos, de tamanhos de
lotes e contenedores, e aproximará os operadores simplificando a burocracia para administrá-los.
redução de espaço físico: quando dois ou mais produtos tiverem componentes comuns
pode-se juntar as linhas individuais em uma linha mista com necessidade menor de
espaço físico pois os buffers dos componentes comuns serão reduzidos;
ritmo regular de produção: a combinação das demandas dos produtos é mais estável do
que as demandas individuais dos mesmos, tendendo a um valor médio que dará o ritmo
da linha mista. Pode-se empregar mais facilmente o conceito de nivelamento do
programa-mestre de produção com a composição da demanda, passando também para os
processos fornecedores demandas niveladas, evitando-se a formação excessiva de
estoques em processo;
redução de defeitos: o trabalho em uma linha mista exige um grau de atenção maior dos
montadores, fazendo com que se erre menos devido a redução do tédio pela repetição
exagerada de operações únicas. Os montadores se sentem mais motivados com o
emprego da polivalência e da ajuda mútua;
Sistemas de Produção
A Produtividade no Chão de Fábrica
Produção Focalizada 35
Assim como nos processos de fabricação repetitivos em lotes, o layout das linhas de
montagem tem um significado próprio no atendimento das metas de redução dos desperdícios e
aumento da qualidade da filosofia JIT/TQC. Convencionalmente, as linhas de montagem são
modeladas de forma retilínea. Esse formato, quando as linhas são muito grandes, dificulta as
comunicações entre os postos e a supervisão das tarefas, limitando a movimentação dos operadores
e o potencial de ajuda mútua entre eles. Como as distâncias são grandes, tende-se a implementar
equipamentos caros e automatizados para movimentação das plataformas onde serão montados os
itens. Talvez o principal problema seja o baixo envolvimento dos operadores com o resultado global
da linha, pois cada um deles ficará restrito a sua área de atuação sendo pressionado a manter um
ritmo de produção acelerado.
A proposta da produção JIT, conforme foi visto nos tópicos anteriores, é fazer com que o
layout da fábrica favoreça as ações de trabalho em grupo voltadas para a garantia da qualidade.
Nesse sentido as linhas de montagem devem dar prioridade ao formato em “L” ou “U” para as
pequenas linhas (de dois a oito posições), e ao formato em serpentina para linhas maiores. A Figura
2.6 ilustra uma linha em serpentina.
Armazenagem Focalizada
Outra vantagem que pode ser obtida com as linhas de montagem em forma de “U” é a
possibilidade de desenvolver um layout global focalizado, integrando linhas de submontagens e
células de fabricação de peças componentes ao redor da linha de montagem final.
Um ponto importante relacionado com o layout das linhas de montagem diz respeito à forma
de acionamento da linha entre os postos de trabalho. Pode-se empregar linhas de acionamento
contínuo ou linhas com velocidade controlada pelo próprio montador, também chamadas de linhas
“stop-and-go”. A Figura 2.7 ilustra o funcionamento dessas duas alternativas.
projetados para absorver diferenças de ritmos de trabalho e problemas de forma geral. Caso a
demanda pelo produto montado se altere, acelera-se, ou reduz-se, a velocidade da linha para se
adequar ao novo tempo de ciclo exigido, e colocam-se, ou retiram-se, postos de trabalho com
funções idênticas de forma a manter a linha abastecida.
Nas linhas de acionamento contínuo é mais fácil fazer o balanceamento das atividades em
função das mudanças de demanda pela adição, ou subtração, dos montadores. Também é mais fácil
manter a linha operando pelo emprego dos buffers, mesmo que algum problema venha a acontecer
com algum montador. Linhas convencionais de montagem desse tipo estão mais preocupadas em
manter o nível de produção final de acordo com o previsto, do que buscar alternativas para uma
montagem eficiente, não só em termos de quantidade, mas principalmente quanto à qualidade e
custo do produto. Por outro lado, as linhas de montagem de sistemas de produção JIT procuram
atingir um nível superior de eficiência global com o uso de velocidades controláveis pelos próprios
montadores, dentro da lógica de puxar a produção.
A linha de velocidade controlada, como pode ser visto na Figura 2.7, posiciona os
montadores dentro da linha, obrigando-os a trabalharem em sincronia com o tempo de ciclo da
linha. Cada montador deve receber um número específico de tarefas que possa ser executado dentro
do tempo de ciclo definido pela demanda dos produtos. Caso a demanda, e consequentemente o
tempo de ciclo, pelo produto montado se altere, acelera-se, ou reduz-se, a velocidade da linha pela
adição, ou redução, do número de montadores que passarão a executar um novo conjunto de tarefas
dentro do novo tempo de ciclo estabelecido. A capacidade de produção da linha com velocidade
controlada é administrada pela mudança no conjunto de operações distribuída entre os montadores,
limitando dessa forma o tamanho viável que a linha pode atingir. Por outro lado, a linha
convencional de acionamento contínuo pode crescer teoricamente de forma ilimitada pois sempre
pode-se adicionar novos operadores e duplicar as tarefas para se obter tempos de ciclos mais
rápidos.
O ideal em uma linha de velocidade controlada é não manter buffers entre os montadores, de
forma que cada montador, ao completar seu conjunto de operações dentro do tempo de ciclo, passe
o produto que está sendo montado diretamente ao próximo montador. Isso garante a produção
puxada, fazendo com que só se exerçam atividades em cima de produtos que realmente estejam
sendo solicitados pelos clientes. O funcionamento da linha dessa forma obriga a eliminação de
desbalanceamento entre os postos, torna mais visível os problemas e garante taxas de produção
mais altas. Contudo, essa forma ideal de trabalho em linhas de montagem não é fácil de ser atingida
e necessita da aplicação conjunta de duas técnicas japonesas, características da filosofia JIT/TQC,
que são a ajuda mútua e os painéis de aviso (andon).
Conforme coloca Taiichi Ohno (OHNO, 1997 : 44), criador do Sistema Toyota de Produção,
os locais de trabalho dentro da empresa devem ser vistos como uma corrida de revezamento. Cada
operador deve passar o produto de sua operação diretamente ao próximo posto de trabalho. Essa é a
síntese da técnica de ajuda mútua. Caso ocorra algum problema com um dos postos adjacentes ao
seu, o operador deverá ajudá-lo a resolver o problema e, só então, retornar ao seu trabalho. O
objetivo do sistema produtivo deve ser sempre o de acelerar o fluxo de conversão dos produtos, e
não o de acelerar o ritmo das atividades individuais dos operadores, principalmente em linhas de
montagem onde o trabalho manual pode ser indiscriminadamente acelerado.
Com montadores polivalentes e a ajuda mútua entre eles, as linhas de montagem podem ser
balanceadas sem a necessidade do levantamento de padrões teóricos de trabalho muito detalhados,
pois deve-se buscar a velocidade natural de cada operador. A distribuição das tarefas passa a ser
Sistemas de Produção
A Produtividade no Chão de Fábrica
Capítulo 2 38
A ajuda mútua é uma alternativa mais inteligente de manter a linha operando sem a
necessidade de buffers. Contudo, em algumas situações os estoques protetores ainda são
necessários. Por exemplo, se os tempos de ciclo forem muito curtos, ou se a atividade de montagem
não permitir que mais de um montador participe simultaneamente do processo, os buffers ainda
terão que ser usados. Uma alternativa para garantir inicialmente a segurança de uma linha pode ser
a de colocar buffers apenas entre grupos, ou equipes, de montadores, de forma que dentro das
equipes se empregue a ajuda mútua, evitando-se os estoques.
Outra forma de aplicar o andon para manter o ritmo de linhas de montagem, consiste em
estabelecer um tempo de movimentação para a esteira transportadora associado ao tempo de ciclo
que se espera da linha. Ao final de cada tempo de ciclo, o montador que concluiu suas tarefas
aciona um interruptor dando autorização individual para que a esteira se movimente.
Simultaneamente sua luz de sinalização troca da cor amarela (operando) para verde (livre). Quando
todos os montadores acionam seus interruptores, a esteira transporta os produtos para os postos
seguinte. Caso algum montador não consiga terminar suas operações a tempo, a esteira não se
movimenta e a luz amarela sinaliza quem está com problemas.
Para completar esse capítulo sobre as questões relativas à focalização da produção está
faltando apresentar algumas considerações a respeito do que ocorre com a armazenagem e a
movimentação dos materiais em uma fábrica focalizada, já que em fábricas convencionais a rotina
em torno dos materiais é bem conhecida. Essa rotina tem sua origem na própria lógica de
funcionamento dos sistemas convencionais que admitem como indispensáveis os estoques para
resolver uma série de problemas (TUBINO, 1997 : 106-107) estruturais de funcionamento interno,
ou externo, do sistema, quais sejam:
permitir uma produção constante: sistemas produtivos que possuem variações sazonais
na sua demanda ou nas suas matérias-primas, estocam produtos acabados ou matérias-
primas para evitar que o ritmo de produção sofra grandes saltos nesses períodos;
possibilitar o uso de lotes econômicos: algumas etapas do sistema produtivo só permitem
a produção ou a movimentação econômica de lotes maiores do que a necessidade de
consumo imediata, gerando um excedente que precisa ser administrado;
reduzir os lead times produtivos: a manutenção de estoques intermediários dentro dos
sistemas produtivos permitem que os prazos de entrega dos produtos possam ser
reduzidos, pois ao invés de esperar-se pela produção ou compra de um item, pode-se
retirá-lo do estoque e usá-lo imediatamente;
como fator de segurança: variações aleatórias na demanda são administradas pela
colocação de estoques de segurança baseados no erro do modelo de previsão. Outros
problemas como a quebra de máquinas, o absenteísmo, a má qualidade do que é
produzido, uma programação da produção ineficiente, entregas de fornecedores fora do
prazo etc. também são administrados com a colocação de estoques protetores;
para obter vantagens de preço: algumas empresas incrementam seus níveis de estoques
para se prevenir de possíveis aumentos de preços, normalmente dos materiais comprados,
ou ainda, compram em quantidades superiores as necessárias visando obter desconto no
preço unitário. Por outro lado, as empresas também aumentam os níveis de estoques dos
produtos acabados quando sentem que seus preços no mercado irão subir.
No âmbito interno, cada célula de fabricação ou linha de montagem administra seus próprios
estoques dentro da lógica de puxar a produção, ou seja, cada processo fornecedor só produz e
repõem os estoques dos seus clientes na medida em que os mesmos são solicitados. Geralmente
emprega-se para isso o sistema de programação e controle de estoques conhecido como kanban, que
devido a sua importância para a produção JIT será detalhado em capítulo próprio. No sistema
kanban os estoques são distribuídos pela fábrica em pequenos almoxarifados de acesso livre aos
usuários, chamados de supermercados, devido a sua semelhança de operação com a lógica de
reposição dos produtos nas prateleiras dos supermercados.
Subfábrica 1 Subfábrica 2
Subfábrica 3 Subfábrica 4
Dessa forma, com a focalização dos estoques junto aos seus pontos de fabricação e uso, a
armazenagem e movimentação dos mesmos passa a ser mais uma função dos operadores
polivalentes, simplificando toda a burocracia associada à grandes almoxarifados centrais e
reduzindo drasticamente a mão-de-obra envolvida pela eliminação do pessoal de recepção,
contagem, inspeção, apontamento, movimentação, etc. Como os estoques estão próximos ao local
de uso os tempos de busca e acesso aos materiais se reduzem e as movimentações podem ser feitas
manualmente em pequenos lotes padronizados, reduzindo ainda mais a necessidade de capital de
giro e espaços físicos.
Sistemas de Produção
A Produtividade no Chão de Fábrica