3.1 Introdução
Tais desvios devem ser limitados e enquadrados em tolerâncias, de tal forma a não
prejudicar o funcionamento do conjunto.
) Portanto, o projeto de uma peça deve prever, além das tolerâncias dimensionais, as
chamadas tolerâncias geométricas, a fim de se obter a melhor qualidade funcional
possível.
Na maioria dos casos as peças são compostas de corpos geométricos ligados entre si
por superfícies de formato simples, tais como planos, superfícies planas, cilíndricas ou
cônicas.
Desvios de Forma: É o grau de variação das superfícies reais com relação aos sólidos
geométricos que os definem.
Microgeométricos: Rugosidade superficial;
Macrogeométricos: Retilineidade, circularidade, cilindricidade,
planicidade.
3.2.1 Simbologia
Características Símbolo
Retilineidade
Planicidade (planeza)
Circularidade
ELEMENTOS Perpendicularidade
ASSOCIADOS Inclinação
ASSOCIADOS Simetria
Superfície indicada
BATIMENTO Total
TG
Planos de
Medidas
TG
Planos de
Medidas
T2G
T1G
Se não for especificada nenhuma tolerância de retilineidade, a peça da Fig. 3.3 poderá
ter qualquer forma, desde que esteja dentro dos limites dos diâmetros máximo e
mínimo.
39,75 40,00
39,75 40,00
Reto dentro de
Reto dentro de 0,05 total
0,05 total
INTERPRETAÇÃO
Zona de Tolerância
0,05
φ40,00 φ39,75
É o espaço limitado por dois planos paralelos entre si. A superfície real deve estar
situada dentro da distância TB. (Fig. 3.5).
Planos de Medida
Superfície Real
(a) (b)
Fig. 3.6: Desvios de planicidade: (a) concavidade; (b) convexidade
É a diferença entre os diâmetros de dois círculos concêntricos. O perfil real deve situar-
se entre os dois círculos. (Fig. 3.7)
3. Desvios e Tolerâncias Geométricas -53-
Tk
d
D
Tolerâncias de Cilindricidade
D D D
d d
D1
d2 d1 d
D2 d1
D1
É o espaço limitado por duas linhas, entre as quais estão situados círculos de
diâmetros "t", cujos centros encontram-se sobre uma linha que representa o perfil
geométrico ideal. O perfil real deve estar compreendido entre as duas linhas paralelas.
(Fig. 3.11)
LINHA REAL
É o espaço limitado por dois planos, entre os quais estão situados círculos de
diâmetros "t", cujos centros encontram-se numa superfície que tem geometria ideal. O
perfil real deve estar compreendido entre as duas linhas paralelas. (Fig. 3.12)
ESFERA Ø Ts
) Estes desvios são definidos para elementos (linhas ou superfícies) que têm pontos
em comum através de intersecção de suas linhas ou superfícies.
3. Desvios e Tolerâncias Geométricas -57-
Planos de
Referência
Superfície Real
Ângulo
Nominal
Plano de Referência
(a) (b)
Fig. 3.13: Tolerância de inclinação
Tolerância de Perpendicularidade
Cilindro de Referência
Simbologia
Tpr
Plano Básico
Retas de
Referência
Plano Básico
Tolerância de Paralelismo
Falta de
Paralelismo
B
A
0,2 0,2
(b) Interpretação
76,30
X
75,90 A distância X
Interpretação não deve variar
76,30
da distância Y
mais de 0,05 mm
Y
75,90
76,30
75,90
B
Fig. 3.18: Tolerância de paralelismo entre um eixo e um plano
A
Superfícies
Reais
Superfícies
Planas
Superfícies de
Referência
Fig. 3.19: Tolerância de paralelismo entre dois planos
3. Desvios e Tolerâncias Geométricas -61-
Paralelo à
superfície A
dentro de
0,02 mm Total
Zona de Tol.
0,02 mm
Superfície A
Superfície A
DESENHO
Tolerância de Localização
Tolerância de Simetria
Plano de
Referencia
Linha Real
Plano de Medida
Ts
Tolerância de Coaxilidade
Eixo de Referência
Eixo Coaxial
τTco
Fig. 3.23: tolerância de coaxilidade
Supeficie de
Referencia
Tco
Eixo Comum
Tco
Tco
Concentricidade ocorre quando duas ou mais figuras geométricas regulares, tais como
cilindros, cones, esferas ou hexágonos têm um eixo comum. Qualquer variação do eixo
de simetria de uma das figuras com relação a um outro tomado como referência
caracterizará o desvio de concentricidade ou excentricidade.
Plano de
medida
eixo 1
Te
eixo de simetria
Fig. 3.26: tolerância de concentricidade
3. Desvios e Tolerâncias Geométricas -66-
TR
Tr
-Tm Tm
Superficie de
medicao
Tm
Tm
A B
Tr = 2 Tm(L.T.I)
Tc
A tolerância de batida axial "Ta" será definida como o campo de tolerância determinado
por duas superfícies paralelas entre si e perpendiculares ao eixo de rotação da peça,
dentro da qual deverá estar a superfície real, quando a peça efetuar uma volta
completa em torno do seu eixo de rotação (Fig. 3.30).
O desvio de batida axial também é conhecido como excentricidade frontal ou
excentricidade de face (face run-out).
Ta
Ta
Para a medição desta tolerância, faz-se girar a peça ao redor de um eixo perpendicular
à superfície a ser medida, impedindo seu deslocamento axial (Fig. 3.31). A Fig. 3.32
mostra casos comuns de medição do desvio de batida axial.
3. Desvios e Tolerâncias Geométricas -69-
Amín Amáx
Relógio Comparador
Superfície Frontal
Esfera
Os principais símbolos (padronizados pela norma ISO R-1101 para indicação dos
desvios geométricos) foram mostrados na Tab. 3.1.
Símbolo
Valor da Tolerância
Referência
0,1 B
Fig. 3.33: forma de indicação dos desvios de forma e posição
• Caso a indicação direta do elemento não seja adequada, pode-se indicá-la sobre o
prolongamento de seu contorno.
3. Desvios e Tolerâncias Geométricas -71-
• Os elementos de referência podem ser indicados por uma letra maiúscula dentro
de um retângulo, ligado ao elemento por uma linha em cuja extremidade se
encontra um triângulo cheio. A base do triângulo deve ser apoiada no elemento
de referência ou sobre seu prolongamento.
EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
0,05
0
-0,08
Ø570
0
-0,08
Ø570
0,03
• A linha de centro do diâmetro 570 mm (superior) deve estar situada entre duas
retas paralelas, cuja distância entre si é de 0,05 mm e que são respectivamente
paralelas à linha de centro do diâmetro inferior.
0,05
• No plano indicado, a linha superior deve estar entre duas retas paralelas cuja
distância entre si é de 0,05 mm e respectivamente paralelas à linha inferior.
0,05
3. Desvios e Tolerâncias Geométricas -73-
0,01
• O diâmetro externo deve ter uma batida radial máxima de 0,02 mm, ou seja, a peça
ao girar apoiada na linha de centros, tendo um relógio comparador colocado na
superfície indicada, este não deverá indicar mais que 0,04 mm (2X0,02). São
considerados nesta tolerância os erros de ovalização e excentricidade.
0,02
0,04
3. Desvios e Tolerâncias Geométricas -74-
φ C
φ
+0,18
0
16,1
8,2H 11
Vista C
• A linha de centro do rasgo com diâmetro 16,1 mm deve estar situada entre dois
planos paralelos, distantes entre si de 0,06 mm e respectivamente paralelos à linha
de centro da superfície A. Os rasgos deverão estar posicionados simetricamente em
relação à linha de centro da superfície A.
0,06
SISTEMA CARTESIANO
uma medida coordenada para outra. A Fig. 3.37 mostra o princípio de medidas
coordenadas. Se o diâmetro do furo D aumenta, ou seja, afasta-se da condição de
máximo material, pode-se admitir que a tolerância da distância x (posição) seja
proporcionalmente excedida.
Em certas situações a condição de máximo material não pode ser aplicada pois pode
afetar o funcionamento de pares cinemáticos como centros de engrenagens, furos com
roscas e ajustes com interferência.
A Fig. 3.38 mostra a interpretação geométrica para peças de forma cilíndrica. A peça
interna (furo) é adotada em sua posição teórica, que é estabelecida por dimensões
básicas sem tolerância a partir das superfícies de referência.
Tpoi DFi
FF
FN
Tpoe
FM
De
De
Fig. 3.38: Interpretação geométrica da tolerância de verdadeira posição
DFe
Di
Limites
Variação
Aceitáveis
possível
DFi
FOLGAS
Folga Funcional Ff: Determinará a folga mínima necessária entre as peças em
acoplamento, na condição limite de montagem.
Dfi − Dfe
Ff = = Dfi − Dfe − 2Ff = 0
2 (3.3)
Substituindo-se as Eqs. (3.1) e (3.2) na Eq.(3.3) obtém-se a equação geral para
tolerância de verdadeira posição:
Folga Nominal FN: FN determina a folga teórica, caso não existisse os desvios
geométricos. Assim,
Di - D e
FN= (3.5)
2
Folga Máxima (FM:): FM determina a máxima folga possível. Ela ocorre quando o furo
tem dimensão máxima Di+2TPOi e o eixo a dimensão mínima De-2TPOe. Assim, FM
pode ser calculada pela Equação
Di + 2 T POi - De + 2 T POe
Fm= (3.6)
2
Para determinação das folga funcional e máxima para eixos deve-se considerar três
casos distintos:
CASO A: A posição do eixo é controlada na operação de usinagem. Neste caso, os
eixos são usinados a partir do sólido, juntamente com a peça, não havendo sub-
montagens. ⇒ Aplicar a Eq.(3.4)
CASO B: A posição do eixo é obtida pelo desvio composto da submontagem advinda da
fixação de pinos ou parafusos rosqueados em furos. A posição do eixo (pino ou
3. Desvios e Tolerâncias Geométricas -80-
Re
T POe = T POi + (3.7)
2
Di - 4 T POi - De - Re - 2 F f = 0 (3.8)
Di + 4 T POi - De + Re
Fm=
2 (3.9)
CASO C: Semelhante ao grupo B, mas todos os furos são passantes. Neste caso os
eixos são auto-alinhados. Neste caso ter-se-á
*
Re
T POe = (3.10)
2
A Eq. (3.4) fica:
Di - 2 T POi - De - R* e - 2 F f = 0 (3.11)
Di - 2 T POi - De + R* e
Fm= (3.12)
2
sistema cartesiano as cotas do ponto são U±u e V±v, respectivamente nos eixos
horizontal e vertical. As tolerâncias nestes eixos são u e v. A zona de tolerância será
um retângulo com lados 2u e 2v. Em verdadeira posição, por definição, a zona de
tolerância será um círculo de raio w. Estas zonas (retangular e círculo) representam as
áreas nas quais devem estar localizados os centros dos furos. A comparação destas
duas zonas mostra como o sistema cartesiano pode restringir as tolerâncias de
fabricação, principalmente em médias e altas produções, onde a verificação é feita
através de calibradores de pinos circulares ou calibradores passa-não-passa.
V ±v
U ±u
M4
M2
M3 ω
ω = √u2 + v2
Zona de
Tolerância Zona de Tolerância
para o centro para o centro do furo
do furo Calibradores fixos
verificam esta região
w = u 2 + v2 (3.13)
Eixo do furo
em verdadeira
posição
Eixo do Eixo do
Diâmetro furo furo
mínimo
do furo Eixo de verdadeira
posição
(b) (c)
(a)
Eixo do furo está Eixo do furo é
Eixo do furo é coin-
fora do eixo de ver- inclinado à máxima
cidente com o eixo de
dadeira posição,
verdadeira posição posiçào dentro da
porém dentro da
zona de tolerância
zona de tolerância
1. Duas peças com furo com diâmetro mínimo 11,5 mm devem ser montadas com um
parafuso cujo diâmetro máximo é de 10 mm. As peças estão alinhadas com duas
superfícies de referência. Elas estão posicionadas em relação a estas superfícies de
acordo com as tolerâncias cartesianas u = v = 0,25 mm. Determine se a montagem
será sempre possível.
2. Para a montagem do exemplo anterior, se se adotar que os diâmetro dos furos seja
Di = 6,72 mm e o diâmetro do parafuso é De = 6,50 mm, determine os valores das
tolerâncias u e v para que a montagem seja sempre possível.
3. Desvios e Tolerâncias Geométricas -83-
3.5.4 Resumo
afastamentos relativos é
delimitado por círculos de
φt
diâmetro t = 0.03 mm. Os
Forma de um centros destes círculos
perfil qualquer encontram-se sobre a linha ideal
de contorno
A superfície real deve situar-se
entre duas superfícies onde o
afastamento é delimitado por
esferas relativas de diâmetro
Forma de uma esf φ Ts
t = 0.03 mm. Os centros destas
φt
de diâmetro t = 0.03 mm.
- contorno
duas retas paralelas
distanciadas de t = 0.1 mm.
A superfície tolerada deve
situar-se entre dois planos
paralelos distanciados de t =
Planesa 0.05 mm.
φt
ao eixo inferior (de referência).
superfície de referência e
distantes entre si de 0.01 mm.
t
Ao movimentar-se em torno do
eixo de referência AB, não pode
t haver um erro de giro superior
a t = 0.02 mm em qualquer
plano transversal ao cilindro.
Batimento radial
t
paralelos distanciados de t =
0.08 mm, posicionados
simetricamente em relação ao
Simetria
plano médio do elemento de
referência.
O eixo do elemento com
tolerância deve situar-se no
φt
Exemplo: