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Histórias em Quadrinhos na sala de aula: A prática do supervisor escolar


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Por: Edil de Souza Gonçalves


DO

Orientador(a): Vilson Sergio de Carvalho

Duque de Caxias
2014
2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA

Histórias em Quadrinhos na sala de aula: A prática do supervisor escolar


para além do convencional

Apresentação de monografia à AVM Faculdade


Integrada – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Supervisão Escolar

Por: Edil de Souza Gonçalves


3

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, Todo Poderoso, pela misericórdia de me


conceder saúde para concluir o presente curso.
Agradeço à minha família, Mônica, minha amada esposa que sempre me
apoiou e fez muitas concessões para que este trabalho fosse finalizado, Luísa,
minha filha mais velha bastante criativa e com uma imaginação sem fim e
Gabriela, minha caçula, que sempre acredita que tudo é possível.
Agradeço a minha querida irmã, Gabriela, que tão gentilmente fez a revisão
dessa monografia e sempre foi tão especial em minha vida.
Agradeço aos meus pais, pela presença constante em tudo.
4

DEDICATÓRIA

Dedico esta obra à família, que está o tempo todo comigo em tudo que
empreendo.
5

METODOLOGIA

A presente obra, por ser fruto de uma investigação baseada na prática de


implementação de oficina quadrinhos, foi elaborada com a intenção de
apresentar o quanto a relação da supervisão pode ser de grande influência para
o sucesso do empreendimento. Sendo assim, a metodologia utilizada foi a
pesquisa através de diálogos com colegas de trabalho na unidade escolar em
que implantei o projeto, a pesquisa bibliográfica que envolve o tema central, a
aplicação de exercícios planejados de leitura e interpretação de textos, a
investigação de iniciativas já existentes através de visitas in loco e visitas a sites
de divulgação dos projetos.
6

Resumo

O presente trabalho pretende apresentar as propostas iniciais de uma pesquisa


que procura rever os conceitos presentes na prática docente com o
desenvolvimento e implantação de oficinas de HQs (Histórias em Quadrinhos)
em salas de aula de anos iniciais de escolas de ensino fundamental. O público
que acolheu o projeto é, atualmente, oriundo da rede pública do município de
Petrópolis.
A proposta, que se encontra em execução numa etapa inicial na Escola
Municipal Governador Marcello Alencar, procura atender alunos de uma
comunidade carente na periferia do bairro Quitandinha. O projeto constitui-se de
utilizar o universo das HQs como método de aprendizagem e ferramenta de
apreensão dos conhecimentos consolidados; além de pretender fomentar na
prática o desenvolvimento de habilidades de maneira sócio interacionista e
propor alternativas que vão além do uso convencional e, de certa forma,
periférica dos quadrinhos.
Este trabalho divide-se em três capítulos. O primeiro define o conceito e a
filosofia presentes nas HQs e suas representações no imaginário popular. O
segundo parte expõe o uso devido e indevido dessa ferramenta em sala de aula
feito por profissionais da educação, evidenciando o senso comum presente
nestas práticas. O terceiro apresenta a pesquisa sendo implementada na sala
de aula, através de oficinas de leitura, produção de textos e confecção das
HQs, propriamente ditas. E, por fim, demonstra uma análise evolutiva dos
conceitos dos discentes desde o início até o atual estágio do projeto, os dados
preliminares da pesquisa, os contrastes em relação a formação dos professores
e as iniciativas externas que influenciaram o trabalho realizado pelo docente e
pelos alunos.

Palavras chave: Histórias em Quadrinhos. Imaginário. Instrumento pedagógico.


7

Sumário

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – Formação do Imaginário. 11

1.1) A Função Simbólica na Educação 14

CAPÍTULO II – Imaginário, Quadrinhos e


Prática Pedagógica. 16

CAPÍTULO III – As Iniciativas já Existentes,


a Proposta Alternativa e a Ação Supervisora. 26

3.1) Alguns Projetos Analisados 27


3.2) Proposta Alternativa 30
3.2.1) Personagens e Suas Utilizações 31
3.3) A comparação dos projetos e
a ação supervisora 38

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 42

WEBGRAFIA 45

ANEXOS 46
8

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto de um desdobramento de atividades


desenvolvidas por nós na docência dos anos iniciais do ensino fundamental em
projetos que envolvem o uso de Histórias em Quadrinhos (HQs) como
ferramenta de ensino e, possivelmente, aprendizagem.
À medida que tais iniciativas eram desenvolvidas, surgiam
questionamentos que nos fizeram repensar nossa prática, pois o maior desafio,
sem duvida foi a ausência de acompanhamento pedagógico de um supervisor.
O motivo de ter escolhido os temas são os laços estreitos que adquirimos com
a leitura de História em Quadrinhos (HQ’s), desde o período de adolescência e
as iniciativas que descobrimos, ao pesquisarmos ainda na graduação, que
utilizavam as HQs mais como elemento periférico do que como real
possibilidade de ferramenta de aprendizagem.
Após realizar os trabalhos da presente pós-graduação da Universidade
Cândido Mendes, pela AVM Faculdades integradas, e de por em prática a
implantação de oficina de produção de quadrinhos em uma turma de 5º ano em
uma escola de ensino fundamental da rede municipal de Petrópolis,
aprofundamo-nos na leitura de teóricos da educação1. Estes suscitavam
questionamentos referentes a formas de trabalho com os recursos didáticos em
sala de aula.
A partir deste “encontro” com os teóricos, surgiram inquietações que nos
levaram a fazer uma conexão com o hábito da leitura dos HQ’s, e os
conhecimentos formais contidos neles.
Observamos a forma como os HQ’s são trabalhados pelos docentes no
processo ensino-aprendizagem. É uma utilização que, na maioria das vezes,
reduz os quadrinhos a meras ilustrações, desprovidas de contextualização,
tanto dos personagens em si, quanto das histórias e suas relações com o
período em que foram concebidas.

1
Referimo-nos aos seguintes autores: Jean Piaget, Paulo Freire, Friedrich Froebel, Célestin Freinet, Lev
Seminovitch Vygotsky, entre outros.
9

A primeira de nossas inquietações diz respeito exatamente à forma de


utilização dos HQ’s. Analisar as características dos personagens, pontuando
sua personalidade e atitudes em relação ao ambiente da história, não suscitaria
questões que poderiam ser desenvolvidas com o corpo discente? O período
histórico em que foram escritas, não tem nenhuma relação com as
características dos personagens? E a mensagem que querem transmitir, não é
importante também para entendermos melhor o universo do escritor, o tempo
de criação e a função social que as HQ’s podem ter?
Questionamos também a função das HQ’s, enquanto instrumento
pedagógico. Será que têm somente a função de ilustrar a explanação do
docente? O seu uso se limita a momentos de distração e recreação? O
processo de ensino-aprendizagem deve ser realizado levando em conta todas
as possibilidades de apreensão e compreensão da realidade. Nesse sentido,
entendemos que os quadrinhos se enquadram nessas possibilidades e que
devemos utilizá-los como uma ferramenta concatenada com a produção do
conhecimento.
Entendemos que o conhecimento deve ser produzido a partir da
realidade do aluno, sendo o professor um agente muito importante para
desenvolver no aluno, questões que o façam refletir sobre a realidade, a partir
do imaginário, neste caso, as HQ’s.
A partir daí sugerimos, neste trabalho, algumas respostas a essas
questões.
Apropriamo-nos do conceito de formação do imaginário de POSTIC, no
primeiro capítulo, para fundamentar a ideia de que a HQ é uma fonte imagética
que pode levar o aluno a questionar sua realidade.
No segundo capítulo, tratamos do conceito dos quadrinhos,
principalmente nacionais, as informações neles contidas, um breve histórico das
produções de HQ’s contestadoras e a atual prática pedagógica.
No terceiro capítulo, analisamos algumas iniciativas aplicadas em sala de
aula e propomos uma forma alternativa de trabalho com as obras do artista
Laerte Coutinho.
10

Por fim, o capítulo faz um comparativo entre as iniciativas elencadas


anteriormente e os resultados obtidos durante a experiência de implantação de
oficina de quadrinhos, descrevendo como a presença do supervisor educacional
podem ter contribuído para o sucesso do projeto, uma vez que os conceitos
trabalhados durante o curso de especialização dão conta da proposta de
implantação de projetos e supervisão com o objetivo de garantir aprendizado
relevante e de qualidade.
11

CAPÍTULO I

FORMAÇÃO DO IMAGINÁRIO

“É preciso honrar o imaginário, permitir que aflore em todos os


momentos da vida. Não cultivá-lo como simples enfeite, para
embelezar o cotidiano, mas em sua qualidade de componente
intrínseco do mundo humano. Nem analisá-lo como código fantástico
que se deve a todo custo decifrar para desvendar os mistérios da
alma. Deixar apenas que convivam conosco todos esses bichos
estranhos que fazem parte de nossa própria natureza." (AUGRAS,
1995, p. 156)

Para começar a falar da imaginação é impossível não citar a construção


da inteligência que, segundo Piaget2, encontra-se através de estágios
sucessivos. Dentre eles, temos imenso interesse pelo estágio das operações
formais que, estando associado ao adolescente, nos dá considerações
importantes como o desenvolvimento de noções de tempo, espaço,
causalidade, etc., ou seja, segundo Piaget, é nesse estágio que dominamos a
abstração através das representações.
É neste estágio também que o ser humano passa a fazer uso da
teorização, ou seja, no auge da sua capacidade, trabalha-se plenamente o
possível tanto quanto com o real. Ele relativiza a quebra de regras e a punição,
ou seja:
“A mentira é agora vista como algo intencionalmente falso. Regras e
leis devem ser moralmente certas e aplicadas com justiça. (...) Agir
mal ainda merece punição, mas somente para aquele que age mal. A
punição do grupo por causa de violações, quando existem membros
inocentes no grupo, é vista como grosseira injustiça.” (CHARLES,
1980, p. 35).

Mas a imaginação, ao contrário do pensamento, não se dá de forma


ordenada e linear. Segundo MARCEL POSTIC (1993) a imaginação tem sua
progressão através da aglutinação de elementos do real, de várias fontes,
usando como propulsora a própria criação.
2
Apud CHARLES, C. M. Piaget ao alcance dos professores. RJ: Ao Livro Técnico, 1980.
12

Para o autor, que é um pesquisador, entre outras, na área da Educação,


o sucesso escolar necessita de ferramentas que auxiliem o fazer pedagógico.
Tudo isso ocorre porque o indivíduo se dá conta dos diversos elementos que o
influenciam e lhe dá suporte intelectual para ressignificar o mundo. Dentre estes
elementos norteadores do pensamento do ser humano, encontramos a
imaginação. Mas ela não é construída como a inteligência, é concebida através
da alimentação proveniente de várias fontes que, acrescentando-se, tem um
propulsor que é a criação.
É a partir dessa definição de imaginação que pretendemos estabelecer
diálogo entre o que o homem recebe do mundo e o que ele ressignifica e o
transforma.
Para POSTIC (1993), esse processo imaginativo deve ser entendido, não
como meramente abstração, ou imagens do subconsciente. Na verdade ele
deve fazer parte do ser humano como elemento que desenvolverá a função
simbólica em outro processo de transformação daquilo que é real.
O mesmo conclui que, “imaginação é um processo. O imaginário é o seu
produto” (1993, p. 13).
Portanto, chega-se à conclusão de que o imaginário é uma parte tão
importante da realidade humana que não se pode desprezá-la de forma
alguma. Mas o que é relevante ressaltar é que, tanto para Piaget, quanto para
Postic, as maturações intelectuais, simbólica e afetiva, só serão possíveis de
acordo com a influência cultural que o indivíduo estiver exposto. O que acaba
corroborando com a teoria de Vygotsky, em sua ZDP3. Pois, se para Postic, a
simbolização do mundo depende da realidade que está em constante contato,
para Piaget, os indivíduos não avançam nos estágios da mesma forma e,
rigidamente, nas mesmas idades. Isso, graças à sua bagagem cultural e aos
elementos que povoam sua imaginação.
A diferença encontra-se no fato de Postic não considerar que exista um
único caminho e um único destino para uma construção do imaginário. Piaget
considera um ponto de chegada, um caminho sem volta. Postic, o tempo todo,

3
Como é descrito no livro: Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão.
13

fala sobre revisão dos conceitos e símbolos em um movimento que chama de


espiral.
Porém, como ordenar o uso da imaginação e como diferenciá-lo daquilo
que é tangível?
De acordo com POSTIC (1993), toda forma de imaginação deve ser
usada na resolução de problemas. É através dela que podemos sonhar, ter
esperanças e até desprezar as dores e as dificuldades. Mas, ao contrário do
que se pensa, imaginar não é relacionar fatos e ordenar as ideias, é capturar as
imagens e explorar a visão que existe por trás destes fatos, é esgotar as
possibilidades para promover a equilíbrio do sujeito.
Ela deve ser alimentada, portanto por todo tipo de informação: textual,
imagético, sonoro, táctil, etc. para que haja uma apropriação mais consistente
do que nos cerca, como explicita Bachelard:

“(...) As imagens nos fazem apreender o universo de modo


instantâneo. Enquanto os pensadores que reconstroem o mundo
percorrem um longo caminho de reflexão, a imagem cósmica é
imediata. Ela nos oferece o todo antes das partes (...).” (Apud
POSTIC, 1993, p. 14).

Entender este “todo” de que fala Gaston Bachelard, é envolver-nos em


uma dinâmica de absorver o mundo, que nos provoca a todo instante, e,
através do elemento simbólico, promover a troca o tempo todo do real pelo
possível. Isso nos leva à segunda indagação, pois, se o que nos diferencia dos
outros animais é a capacidade de perseguir nossos sonhos e a nossa
imaginação deve ser uma ferramenta útil para a relação funcional na
comunicação entre os homens, então como diferenciar o real do abstrato?
O que na verdade, Postic considera é que, o imaginário é a forma do
homem criar seus modelos de referência para estabelecer diálogo com seu
próximo e idealizando a consciência do que é possível. Por incrível que pareça,
o imaginário é, também, uma forma de divisar o real do não real. É uma forma
encontrada pelo autor de ter um aliado quando somos confrontados pela
realidade e temos de reagir.
14

Dependendo de nossa maturidade imaginativa, ou ficamos paralisados ou


dominamos nossas imagens e formulamos esquemas para chegar à criação.
Este processo assemelha-se muito com a desequilibração e
reequilibração daquilo que temos conformado em nossas mentes, mas o
processo é mais abrangente, por se mover através da criação. Ou seja, se para
Piaget, a inteligência evolui através de um curso linear, a imaginação se dá de
forma cônica, espiralada, de acordo com Postic, pois ela tem que dar conta das
imagens de forma múltipla que requer a constante presença de modelos e
recriações do mundo real, para, paradoxalmente, entendê-los e modificá-los.

1.1) A função simbólica na educação.

O que assusta na relação professor-aluno?


Esta pergunta geralmente é recheada de uma carga afetiva que vai de
encontro com a prática pedagógica como instrumento de promoção de
autonomia. Pois, se a educação deve cumprir o papel de harmonizadora e
libertadora do homem, tensão deveria ser a última coisa que educadores e
educandos esperassem do ambiente escolar. Mas existe um ponto que deve
ser considerado nesta relação: o medo quase absoluto de travar diálogos
consistentes que evoquem a reflexão dos alunos.
O item levantado diz respeito à falta de atenção com aquilo que é
apresentado durante todo o capítulo: O imaginário e seus simbolismos. Ou seja,
a prática filosófica não aplicada em sala de aula, é efeito, se não em todo, mas
em grande parte da falta de orientação na construção de nossa função
simbólica. E tudo se reflete na tensão entre aquele que ensina e aquele que
aprende. MARCEL POSTIC (1993) enfatiza que o ser humano desde que nasce
desenvolve a capacidade de simbolizar as coisas e, equivale a dizer que, a
partir de nossa infância, somos “bombardeados” com informações de todos os
tipos que nos fazem criar ideias e estereótipos, conceitos e preconceitos, etc.
Todos esses símbolos fazem com que enfrentemos situações cotidianas de
diferentes formas, em casa, na escola, no trabalho e tantos outros lugares. Eles
serão elementos importantes no que tange a formação de nosso caráter e
15

personalidade. Infelizmente, para muitos educadores, fomentar esta prática e


entendê-la como se deve não é tarefa das mais fáceis em sala de aula, pois
crescemos sob um espectro de senso comum que nos leva a exercer papéis
sem entendê-los totalmente.
Em primeiro lugar, não deveria existir a dicotomia ensinar-aprender, pois
essa relação só existe para demarcar uma função de controle social, já que o
mestre é identificado como detentor do saber sem a necessidade da
observação do “mundo” do aluno. Pois, enquanto o professor alimenta a
imaginação de seu aluno com informações desconhecidas para ele (o aluno), a
própria imaginação do mestre está sendo abastecida por elementos que lhe são
estranhos.
Em segundo lugar, não devemos ter medo da discussão em sala de aula,
que geram dúvidas, que geram perguntas, que geram ressignificações de
símbolos. Tais discussões só servem para desenvolver ainda mais o imaginário
no sentido da representação do real e recriar aquilo que POSTIC (1993)
denomina como uma dinâmica relacional que pode ser incrementada pela
cooperação. E aí chegamos ao cerne da questão: a cooperação é aquilo que
falta na relação professor-aluno (que deveria se chamar aluno-aluno) assim
como na relação professor-professor, infelizmente.
Postic acaba preocupando-se, portanto, em encontrar meios
pedagógicos que permitam o sucesso escolar, mas propõe como já foi citado,
tudo em cooperação. Ou seja, neste sentido o educador deve ser um “fanático”
pela busca do bom relacionamento em grupo e promover, para isso, já que a
imaginação é algo inerente ao homem, a alimentação constante dos símbolos
que mediam esta relação. Seja através de textos, imagens ou sons, a função
simbólica na educação deve ser uma ferramenta útil para que o estudante
alcance uma cosmovisão de seus sentimentos. POSTIC (1993) dá a entender,
portanto, que o ato de imaginar em plena forma, e em conformidade com a
capacidade racional do indivíduo de executar suas tarefas cotidianas, gera
muito mais do que armazenar conteúdos e decodificar informações gera a
criatividade, de forma honesta e sem limites. Objetivamente falando, o
imaginário é o campo onde se simula e tem início a construção do real.
16

CAPÍTULO II

IMAGINÁRIO, QUADRINHOS E PRÁTICA PEDAGÓGICA.

“O imaginário está povoado de representações simbólicas do real. Eis


porque cada um de nós se encontra perto dos mitos, onde é encenado
o drama do homem, de sua condição de homem, envolvido pelo que o
assedia no mundo, presa de suas pulsões e de suas angústias.”
(POSTIC, 1993, pág. 14)

Durante esta pesquisa podemos ver várias formas de utilização do


imaginário infantil e adolescente em projetos da e para a escola que utilizam as
Histórias em Quadrinhos (HQ) como pano de fundo4.
Estes projetos têm, na maioria das vezes, a intenção de promover o
alimento da imaginação utilizando elementos vivos e próximos das crianças.
Porém o que acabamos constatando é a repetição daquilo que já é feito com
outras fontes mais tradicionais, como livros de leitura e materiais didáticos na
maioria das salas de aula5.
As práticas e os motivos são diversos, assim como as realidades em que
cada iniciativa é aplicada, mas o discurso é praticamente o mesmo: o uso como
entretenimento, o uso da análise sintática, o uso em aulas de diferentes
disciplinas de forma tradicional, etc., sem a preocupação de estabelecer-se uma
definição quanto ao próprio objeto, como considera Didier Quella-Guijot, em seu
livro sobre o uso dos quadrinhos em sala de aula na França dos anos 1970:

“O autor se colocava o problema de apresentar a HQ à escola, mas


não a escola à HQ. Em outras palavras, que atitude se deveria ter
diante dessa literatura: ensinar com ela, ensinar por meio dela ou
simplesmente ensina-la?” (DIDIER QUELLA-GUIJOT, 1994, p. 43).

Mas o que pretendemos constatar aqui é a utilização dos Quadrinhos de


forma ainda preconceituosa e sem entusiasmo, analisando as definições

4
A explanação mais detalhada desta pesquisa encontra-se no capítulo 3 deste trabalho.
5
Aqui tomamos como parâmetro para definir o termo “tradicional” a concepção de Paulo Freire ao tratar a
questão da educação sendo trabalhada de uma forma fragmentada, ou seja, sem fomentar a
problematização dos recursos didáticos.
17

erradas a respeito tanto das HQ’s, como, principalmente, de quem as lê. Para
isso, quero listar alguns equívocos: a) a utilização errada da ideia de herói e dos
mitos que o envolvem; b) a infantilização das HQ’s, a nível nacional; c) a
utilização dos quadrinhos como instrumento de reprodução social e não de
compreensão.

a) A necessidade da relativização dos mitos.

O verdadeiro herói é filho da ordem; sua missão é garanti-la; e seu


culto é a garantia das tradições, dos credos e das sociedades
instituídas. (CARLYLE, apud FEIJÓ, 1984, pág. 34).

De acordo com CIRNE (1977), dentro daquilo que pode ser externado
pelo imaginário infantil e adolescente, nada foi mais analisado e teorizado no
estudo das HQ’s do que a questão do herói e dos demais mitos.
Para Piaget (apud Charles, 1978), durante a infância, as relações do ser
humano com o meio que o cerca dão a ele interpretações da realidade de uma
forma muito positivista, ou seja, sua relação com seus pais se dará, na maioria
das vezes, de forma perfeita, afinal, para ele tanto seu pai como sua mãe não
cometem erros. Suas impressões sobre as autoridades se darão de uma
maneira inquestionável.
Quando alcança sua fase adolescente (a partir dos doze anos), seus
medos, seus mitos e suas concepções passam a mudar de direcionamento. Se
quando era criança, seus pais eram dotados de perfeição, agora eles já
cometem erros e decepcionam muitas vezes. Sua relação com os amigos, seus
familiares e autoridades em geral tomam formatos e dimensões diferentes. E é
neste ponto que gostaríamos de nos prender. Como conclui C.M.Charles sobre
a fase das operações formais de Piaget:

“A mentira é agora vista como algo intencionalmente, falso. Regras e


leis devem ser moralmente certas e aplicadas com justiça. (...) Agir
mal ainda merece punição, mas somente para aquele que age mal. A
punição do grupo por causa de violações, quando existem inocentes
no grupo, é vista como grosseira injustiça.” (CHARLES, 1978, p.38).
18

Para a maioria dos críticos como Moacy Cirne (1977), por exemplo, as
representações do herói e do mito em geral, por parte dos quadrinhos
importados representam as ferramentas, dentre outras, dos aparelhos
ideológicos de Estado orientados para um movimento que tem por finalidade o
consumo.
Mas, uma coisa é conseguir enxergar essa manipulação do herói em
personagens como Batman ou Superman. Outra completamente diferente é
trabalhá-los em sala de aula simplesmente porque os alunos os apreciam, sem
fazer qualquer análise crítica tanto desta questão, quanto do fato inequívoco de
que tais histórias refletem e “vendem” todo um estilo de vida. Este é um dos
pontos de discussão.
Outro que chamamos a atenção (e que não conseguimos ver em
nenhuma publicação a respeito) é o fato de não se estabelecer atualização
desses conceitos. Não que Cirne (1977) não estivesse certo, o problema é
aceitar como prontas e acabadas essas teorias sem sequer procurar relativizá-
las entre os jovens para saber se os conceitos continuam os mesmos ou não.
Em outras palavras, uma criança de, aproximadamente dez anos, hoje
vivendo em uma região como a cidade do Rio de Janeiro, tendo um tipo de
família diferente do modelo tradicional (pais divorciados, pais casados, mas
ausentes, sem pais, etc.), entenderá que seus genitores são heróis e, portanto
aceitarão sem questionar as representações familiares contidas em algumas
HQ’s? Ou então, um jovem de mais ou menos 15 anos aceitará os modelos de
heróis propostos pelas principais edições norte americanas sem identificar a
apologia ideológica ao estilo de vida deles?
As respostas não são simples, primeiro porque se precisa levar em
consideração a bagagem cultural e o grau de “maturidade” imaginativa citada
no capítulo anterior. Segundo, porque a representação por parte dos alunos
para os mitos pode ter diferenciado ou não, e estar atento a esta questão é
importante para evitar teorias formuladas de fora para dentro e de cima para
baixo. Sensibilidade, talvez seja o que falta para que alguns educadores
19

percebam tais mudanças que, às vezes, são sinalizadas pelos alunos. Mas isso
faz parte de uma discussão muito maior, que não cabe no momento.
Então, estar desconectado dessa realidade (do aluno), apesar das
condições de trabalho, não rende muitos resultados. Ou seja, trabalhar com
formas alternativas de aprendizado exigem preparação prévia e séria como
qualquer outra, até mais, às vezes.
O que constatamos é que, em uma dinâmica ou oficina, certos valores
não continuam os mesmos, mas isso é tratado no próximo capítulo e no
capítulo final, mas como exemplo documentado existe o caso do professor
Leitão6, que desenvolve esse tipo de trabalho com alunos de um CIEP em Pau
Grande, no Rio de Janeiro. Lá, através das produções dos educandos, revela-
se a representação de seres que, apesar da comicidade, nos demonstram
desejos de reverter suas realidades, muitas vezes, sem grandes perspectivas.
Como declara Postic:

“(...) Uma história escrita, filmada, um livro, uma história em


quadrinhos, uma novela de televisão, permite-nos a identificação com
heróis, não apenas porque encarnam valores, mas porque suscitam
admirações e sonhos com aventuras (...).” (POSTIC, 1993, p. 15).

Porém, tais esforços são válidos na medida em que se podem retirar


reflexões críticas para a vida dos envolvidos. Porque, da mesma forma que
achar que toda criança e todo adolescente se desenvolvem de maneira igual,
sem levar em consideração sua imagem de mundo, é pensar que não há
variação na relação do homem com seus mitos. Esta preocupação deve ser
constante para o bom diálogo no ambiente escolar.
Para Martin Cezar Feijó não existe uma concepção única de herói, e sim
diversos tipos:

“Nosso primeiro porto será nos tempos heróicos, (...). Por fim,
acompanharemos o herói no seu aparentemente triunfal regresso.
Nisso tudo, acabaremos passando pelo herói-mitológico”, herói-épico,
herói-trágico, herói-problema, herói-revolucionário, até o herói sem
nenhum caráter (...).” (FEIJÓ, 1984, p.11).

6
Conforme reportagem do “Caderno de Educação”, suplemento do jornal “Folha Dirigida”, do dia 20 de
março de 2007.
20

Feijó apresenta dentre outros o herói épico (Hércules), o herói confuso


(Dom Quixote) e principalmente o herói sem caráter (Macunaíma), este último
apontado como o tipo de herói mais próximo do brasileiro. Porém, se isto é
verdade, então se forma aí a nossa própria ideologia, muito difundida em outros
países, caracterizando-nos como irresponsáveis e dotados, unicamente, da
vontade de aproveitar-nos uns dos outros.
Tal ponto de vista só nos fazem iguais àqueles que criticamos e, quando
isto é externado em projetos, parece haver uma legitimação de conceitos
arraigados pelo senso comum dentro das favelas. Ou seja, ao apoiar-se a ideia
de uma única visão em torno da formação de um povo sem levar em
consideração uma historiografia, o educador parte da realidade do aluno, e não
permite que o mesmo saia do conhecimento do senso comum. E isso também
faz parte de tentar entender os anjos e demônios na mente humana.
Mais à frente, tentaremos relacionar alguns personagens e suas linhas
ideológicas. No momento vamos avançar para o próximo item levantado.

b) Os Quadrinhos brasileiros ou “GIBIS”.

O mercado editorial brasileiro foi bombardeado desde as décadas de


1940 e 1950 com os produtos norte americanos e, nesta época, o nicho que
eles exploravam era um público bem menos adulto do que é hoje com histórias
infantis e ditas despretensiosas.
Na verdade, até o que era apresentado no Brasil, não parecia ter
intenção além do entretenimento. Com isso, não expressaria o respeito devido
aos leitores. As histórias raramente eram compradas completas, havia
mutilações nas tiras apresentadas e até mesmo, adaptações mal feitas. Por
exemplo, de acordo com Cirne (2002), algumas histórias do personagem
Mandrake (Lee Falk e Phil Davis) foram ambientadas no espaço porque, na
falta de material original, usou-se como pano de fundo, as tiras do Personagem
Flash Gordon (Alex Raymond).
21

A produção nacional adotou este estilo e deu prosseguimento à


exploração deste nicho de mercado. Quadrinhos como da Turma da Mônica (M.
Sousa) são herdeiros deste tempo. Não que outros estilos não existissem
desde esta época, não é isto, mas o próprio mercado incentivou estes tipos
diferentes que não eram voltados única e exclusivamente para o entretenimento
infanto-juvenil. Uma das exceções deste tempo é a criação de Ziraldo, segundo
Cirne (1973), com seus personagens da Turma do Pererê.
Ziraldo conseguiu reunir vários elementos em suas tramas,
desvinculando-se um pouco das mesmices de sua época. Com um traço único
e bem definido, deu vida a vários personagens representantes das lendas
folclóricas brasileiras e figuras baseadas nos tipos humanos do interior. Alguns
ali tinham uma tônica filosófica interessantíssima, como a onça Galileu. Até
mesmo seu Menino Maluquinho defende uma visão alternativa do modo de
tratar a criança.
Mas, sendo do formato infanto-juvenil não conseguiu fugir de alguns
estereótipos, como as tendências preconceituosas quanto ao índio e as às
influências de sua época. O cartunista também tenta criar em seu universo um
tipo de padrão de identidade nacional, o que acaba limitando o incentivo à
busca de outras linhas de raciocínio.
Acreditar na formação do povo brasileiro a partir da mistura de três etnias
distintas é aceitável, embora reducionista, outra questão completamente
diferente, é desprezar os embates violentos que existiram neste processo.
Mas, é no final da década de 60 que surge, pelo próprio Ziraldo, um
jornal de crítica e militância, O Pasquim, que trazia trabalhos que criticavam a
ordem social no formato de charges, tirinhas, entre outros. Por ele passou
grandes nomes do humor brasileiro, como Jaguar, Henfil, Laerte, etc.
Este estilo de quadrinhos críticos, políticos e contestadores é que
pretendemos defender na utilização em sala de aula em capítulo posterior.
Outras publicações do gênero surgiram, posteriormente, como a revista
Circo de editora homônima, e até uma obra de orientação às produções de
22

comunicações dos sindicatos, chamada Ilustração Sindical do Laerte, do


próprio Laerte Coutinho7.
Mas, a consolidação no mercado nacional ficou por conta, mesmo, dos
quadrinhos infantis. Tanto nas produções regulares nacionais (leia-se Turma da
Mônica da editora Globo), como na própria designação do tipo de material,
criou-se no inconsciente coletivo alguns conceitos e preconceitos quanto à “arte
sequencial” (Eisner, 2001), ou seja, além de ser “coisa de criança” é “coisa de
alienado” e, portanto, não pode ser levado a sério na escola e em outras
esferas sociais.
Termos distintivos como “revistinhas” e “gibis” são algumas das
definições pejorativas presentes até em publicações especializadas no ramo. A
denominação “GIBI” apareceu pela primeira vez como título de uma revista
infantil publicada em 1939 por Roberto Marinho e passou a ter conotação
pejorativa quando seus inimigos o acusavam de publicar revistas que
desvirtuavam as crianças8. Por um lado o material estrangeiro sempre foi tido
como instrumento de desvio moral dos jovens, mas traz uma sequenciação
mais próxima ao mundo em que vivemos onde existe morte, ódio, amor, traição,
etc. Por outro, temos os periódicos “ingênuos” que agradam milhares de leitores
e despreocupam pais, educadores e psicólogos por não conter cenas violentas,
mas que não fazem a menor questão de estarem em sintonia com a realidade
da criança e do jovem (os personagens da Turma da Mônica não envelhecem e
ainda bebem Tubaína, por exemplo). Mas o mais interessante é que os dois
tipos usam definições extremas dos estilos de família, herói, expectativa de
futuro, etc., que povoam o imaginário do jovem. E ambos fazem a promoção da
ideologia que move uma sociedade consumista e alienada.
Isto pode ser entendido como uma manipulação do imaginário infanto-
juvenil para aquilo que a sociedade julga ser adequado. Esse jogo de espelhos

7
Livro publicado com o intuito de assessorar o departamento de comunicação de partidos e entidades de
classe que, até aquele momento (década de 1970) ainda não tinham formalizado a idéia de organização de
seus respectivos departamentos de divulgação, que hoje recebem a nomenclatura de departamento de
marketing.
8
Gonçalo Junior, apud CAVALCANTI, Carlos. As mil faces do herói. In História, Imagem e narrativas,
nº 2, ano 1, abril/2006.
23

que acabam refletindo imagens distorcidas de valores durante a formação de


personalidade do indivíduo fará com que ele interiorize, com a ajuda de outras
mídias, conceitos de consumismo e pseudo-aprofundamento de informações.
No caso das HQ’s infantis nacionais, a ingenuidade e a pureza ficam apenas no
teórico, pois em uma análise mais consistente, veremos muito mais do que o
autor se propõe a expor.
Em uma entrevista citada no livro de MOACY CIRNE (1977), por
exemplo, Maurício de Sousa declara que seu estilo é mais neutro buscando o
que chama de universal, pois desta forma vende mais facilmente para o
mercado editorial nacional. O que na verdade acaba perdendo o compromisso
de abrasileirar as HQ’s sendo, com isso, subjugado pela lógica do idealismo. E
declara, também:
“Para uma população semi-alfabetizada, o quadrinho é importante. A
estória em quadrinho pode perfeitamente ser de uma valia sem
tamanho para a divulgação da cultura e de uma filosofia de vida bem
brasileiras, adequadas às nossas condições socioeconômicas. O
quadrinho pode ser uma arma fabulosa em favor do espírito brasileiro,
da nacionalidade e da cultura.” (Mauricio de Sousa, apud CIRNE
9
1973, pág. 46).

c) A HQ e a reprodução social.

Não somos ingênuos o suficiente para achar que a HQ fugiria à regra de


reproduzir aspectos da sociedade que está inserida, assim como acontece com
todas as mídias. Todos somos influenciados pelo nosso tempo, no entanto, é
necessário que haja uma interpretação constante, séria e honesta daquilo que
temos à nossa disposição dentro e fora da sala de aula.
Muitas HQ’s acabam legitimando o senso comum presente no imaginário
coletivo, quando trazem alguns elementos em suas páginas.
O respeito irrestrito às autoridades, a falsa exaltação de alguma etnia
para, na verdade, favorecer seu detrimento, a ausência de embasamento
teórico na criação de personagens e de um universo verossímil, a ausência de

9
Entrevista à revista Vozes, n.7, Petrópolis: Vozes, julho 1969.
24

cronologia na maioria das histórias, são alguns exemplos de formatação que


parecem ter o intuito único de servir de veículo de comunicação para manter os
papéis sociais vigentes.
Isso pode ser observado tanto nos quadrinhos nacionais infantis, quanto
nos norte-americanos, chamados adultos. Como exemplo, poderíamos citar
alguns personagens emblemáticos, como o Capitão América, que sempre foi a
personificação do soldado perfeito carregando as cores da bandeira dos
Estados Unidos. Dependendo de quem os norte-americanos estejam contrários
no cenário político mundial, este herói luta contra seus inimigos pela liberdade e
democracia. Foi assim durante a Segunda Grande Guerra e na Guerra Fria.
Ele é representante do ponto de vista do seu governo e, atualmente,
ganhou nova roupagem ao lado de outros heróis para combater ameaças
extraordinárias que, curiosamente, atacam os Estados Unidos da América.
Outros heróis seguem o mesmo estilo, ora refletindo a simbologia dos
homens e seus mitos fundamentais (Eliade, 2002), ora seguindo o modismo,
mas sempre buscando “vender” um estilo de vida inalcançável para muitos.
Com certeza, porém, deixam viva a chama do incompleto. Esses quadrinhos,
podemos admitir, têm cronologia e buscam sempre a verossimilhança, mas, o
fazem porque seus editores já descobriram a linguagem do Marketing de
instigar a curiosidade para o próximo número.
Já nas produções nacionais, os personagens são, na maioria das vezes,
crianças e usam uma linguagem fácil, simulando o cotidiano das travessuras e
molecagens. Por isso, acabam sendo tão bem aceitos pelos mais
conservadores, que servem de comunicação aberta e irrestrita para levar às
crianças e adolescentes, no mínimo, uma alienação política e social
impressionante. Ainda como agravante, em publicações como da Turma da
Mônica, por exemplo, o autor (que apenas assina os desenhos, atualmente)
insere uma ideologia própria e mantém um universo cristalizado (Cirne, 2002),
que só serve de veículo de venda dos produtos licenciados: bonecas, canecas,
mochilas, parques temáticos, etc.
Ainda seguindo a análise deste estilo, destacamos a utilização de
algumas ferramentas artísticas, como: a metalinguagem, recurso amplamente
25

utilizado na ausência de soluções mais criativas para algumas tramas; o


encontro de personagens do mesmo universo, mas de diferentes épocas,
com o intuito de agradar aos diversos leitores; a renovação de personagens
clássicos com idades diferentes, que é o caso da Turma da Mônica Jovem;
a introdução de temáticas da moda, como a inclusão das pessoas com
necessidades especiais10, preservação ambiental e até mesmo a exaltação de
datas comemorativas11.
Maurício de Souza, no começo de sua carreira até pôde inovar com seus
traços e argumentos. Porém, ao alcançar status e reconhecimento, passou a ter
essa postura mais comercial.
Mas nem tudo é desprezível em seu trabalho. Ele criou o Horácio (1963),
o personagem mais humano de todos (mesmo sendo um dinossauro), que não
chega a ser um Charlie Brown de Charles Schulz, mas tem viva a questão
existencialista e filosófica da vida. Questões como o bem e o mal, homem e
mulher, fracasso e sucesso, morte e vida, são temas que deveriam ser levados
a sério em nossas publicações. Há também, a tendência da utilização desse
tipo de quadrinhos em campanhas educativas promovidas pelo próprio governo,
com a justificativa de que usam uma linguagem de fácil assimilação pelo público
alvo. Uma dúvida surgiu sobre este assunto: há algum tipo de estudo da
eficácia dessas iniciativas governamentais?
Enfim, se para alguns as HQ’s estrangeiras desvirtuam os jovens, e por
isso defendem os quadrinhos infantis, há que se levar em consideração, que os
materiais nacionais infantis podem ser tão nocivos e tendenciosos quanto os
que eles criticam. O imaginário pode ser visto, portanto, como a mediação para
interagir e interferir no mundo exterior. Ignorá-lo na prática pedagógica ou, pior,
manipulá-lo usando recursos artísticos como as HQ’s sem fazer uma
consideração adequada, é desprezar a própria inteligência da criança. Pois,
como coloca Jean Paul Sartre, é tomar posse daquilo que se deseja através da
encantação derivada dela (imaginação). (Apud Postic, 1993).

10
Ver imagem I nos anexos de imagens.
11
Ver imagem II nos anexos de imagens.
26

Capítulo III

AS INICIATIVAS JÁ EXISTENTES E A PROPOSTA ALTERNATIVA.

“A História em Quadrinhos, para começar, não é nem uma ferramenta


nem um artifício, mas uma arte à qual precisamos servir antes de nos
servirmos dela e de pô-la a nosso serviço”.
(QUELLA-GUIJOT, 1994, pág. 38).

O que pretendemos com este capítulo é pontuar o uso incorreto das


HQ’s em sala de aula e propor um material alternativo para os trabalhos já
existentes.
Em primeiro lugar gostaria de esclarecer alguns pontos observados a
partir da constatação na prática em sala de aula:
1º - Quem trabalha com quadrinhos, obrigatoriamente é um leitor
assíduo; isso equivale dizer que a ideia de um trabalho desses, sendo feito por
qualquer um sem embasamento teórico do assunto, está fadada ao fracasso;
2º - Todas as iniciativas que tivemos conhecimento exigiram do
profissional de educação um esforço no sentido de aprofundar-se em assuntos
tratados nos quadrinhos, que desmontam a ideia de que o material é alienador;
3º - Não há como se desvincular prática da leitura/processo de confecção
das HQ’s. Os alunos acabam exigindo isto;
4º - O uso de forma estanque ou modista. É um desrespeito com o
verdadeiro leitor. Quem gosta de quadrinhos vai notar quando o trabalho é mal
feito;
5º - Vivemos em um mundo globalizado e de hipertextos, e os
quadrinhos usam essa linguagem “picotada” e fazem referências a vários
assuntos. Usar este recurso sem considerar quais são seus alunos é “suicídio
pedagógico”.
6º - Este último ponto é o que consideramos como primordial. A maioria
dos educadores prefere trabalhar com os quadrinhos mais infantis com o intuito
de alfabetizar e por considerá-los inofensivos. O professor não deve ter medo
de relativizar seu trabalho e usar recursos que tragam discussões
27

enriquecedoras para a sala de aula. Quando se usa qualquer HQ sem a menor


preocupação com sua carga ideológica, corre-se o risco de um empobrecimento
do assunto, já citado neste trabalho anteriormente. Sem falar no desrespeito à
bagagem cultural e imaginativa do aluno, mesmo que este não saiba ler ainda.
Ter em mente o diálogo franco e aberto e dar vazão a este imaginário, com
suas simbologias e significações farão a diferença no produto final.
Diante destas afirmações, podemos entender algumas distorções do uso
deste elemento que, como todos os outros, pode ser útil ou não na prática
pedagógica.
A HQ foi considerada um suporte muito bom, porém, subestimada em
sua potencialidade. Embora o educador tivesse boa vontade, caía no erro de
utilizar o recurso da mesma forma que os outros, compartimentada, sem fazer
muitas conexões entre o todo e as partes. Não contrapondo às constatações
acima relacionadas.
Pois, ao trabalhar as HQ’s de maneira crítica, a apreensão da realidade à
volta do homem, passa a ser feita através de recursos intelectuais, levando-o à
interiorização e recriação da mesma. Como declara Bachelard (1989), em sua
obra “A Poética do Espaço”: “Possuo melhor o mundo na medida em que eu
seja hábil em miniaturizá-lo”.
E são poucos os que utilizam as HQ’s como um canal para a formação
“na” cidadania com consciência política. Estes últimos fazem parte do “time” dos
que propõem alternativas a seus educandos, como produções nacionais,
artistas independentes, fanzines, etc. Afinal, acreditamos, esse material não
pode ser visto (pedagogicamente) apenas como suporte para alfabetização.

3.1) Alguns Projetos Analisados.

Vamos à análise de três destes projetos:


O uso tradicional das HQ’s como material didático de alfabetização na E.
M. Governador Marcello Alencar, para crianças do primeiro ano do ensino
fundamental, no município de Petrópolis, no primeiro semestre.
28

Corroborando com a ideia de senso comum, é encarado de forma banal.


É utilizado como um recurso de apoio, sem que sejam feitas maiores reflexões
metadidáticas. Os estilos adotados, sem maiores inovações, são: a Turma da
Mônica (80%), Disney (10%) e super-heróis (10%).
Como pontos negativos, podemos ressaltar: a falta de tempo e
sensibilidade para promover a produção do grupo; a ausência de conexão com
outras fontes de informação, como textos literários, letras de músicas, etc; o
tempo rígido para trabalhar com os projetos que são determinados pela
Secretaria de Educação.
O ponto positivo desta iniciativa foi a oportunidade de propor uma
alternativa de trabalho com o gênero para as turmas mais velhas dos anos
iniciais do ensino fundamental, uma vez que a coordenação resolveu nos apoiar
para tentar reverter o quadro de dificuldade de aprendizagem dos alunos.
Infelizmente, não foi possível apresentar neste trabalho as reproduções
resultantes da iniciativa inicial.
O segundo exemplo é a iniciativa do professor Anderson Leitão do CIEP
Mané Garrincha em Pau Grande, interior do Estado do Rio de Janeiro,
observação realizada em reportagem citada na página 13 do presente trabalho.
Ele é professor de Artes Plásticas e especialista em Arte-Educação. Até
O Ano de 2009 oferecia um curso, pela Internet, que ensinava a aplicação
didática dos quadrinhos. Atualmente dedica-se a manutenção do seu blog para
divulgação de trabalhos realizados em sala de aula com seus alunos com
diferentes expressões artísticas.
Sua iniciativa surgiu na escola através do desejo de alguns alunos
montarem um clube de quadrinhos. Durante o processo, eles produziam seus
próprios personagens e, de acordo com o professor, passavam a apresentar
maior interesse em várias disciplinas escolares que eram abordadas pelas
HQ’s.
A ideia dessas oficinas estruturadas de forma adequada é ótima, se
considerarmos seus efeitos na vida do aluno enquanto o impulsiona na busca
de novos horizontes.
29

Os pontos negativos desta experiência específica eram: a falta de


preocupação com a formação sócio-política dos educandos, para que eles se
tornassem mais críticos e autônomos na (re) construção de suas realidades.
Apesar de o projeto fazer uso de HQ’s adultas, só conseguimos ver produção
de conhecimento quando estes se resumiam a mero material de aprendizagem
daquilo que é academicamente aceitável.
Como exemplo do potencial que se perde no mau uso dos quadrinhos,
os alunos da escola do professor Leitão buscavam, por conta própria, aprender
a língua japonesa para ler os mangás (quadrinhos nipônicos) direto do original
para não terem que esperar até cinco anos para que fossem publicados em
português, na época.
O terceiro exemplo a ser explorado neste trabalho é a produção de
quadrinhos para criação de uma cartilha geohistórica da baixada fluminense,
através do programa do Programa Integrado de Pesquisa e Cooperação
Técnica da Baixada Fluminense (PINBA), que é uma iniciativa com participação
dos três departamentos (Matemática, Geografia e Pedagogia) que pertencem a
Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF).
Essa iniciativa procurava relacionar os pontos históricos da Baixada
Fluminense e contextualizá-los com o desenvolvimento regional. Para isso, foi
criada uma cartilha que apresentava de maneira bastante lúdica o potencial e a
memória desses espaços, através de histórias em quadrinhos com
personagens e cenários criados a partir de um programa chamado HAGÁQUÊ,
que pode ser adquirido gratuitamente através do site:
http://penta3.ufrgs.br/tutoriais/hagaque/.
O projeto do PINBA foi inovador do ponto de vista da criação e
metodologia com o intuito de formar professores da educação básica com
alguma instrumentalidade para desenvolver trabalhos semelhantes e utilizar o
material pronto, mas do ponto de vista da construção de conhecimento em sala
de aula deixa a desejar no quesito universalização da aplicação metodológica,
pois necessita de equipamentos de multimídia para apresentar a cartilha aos
estudantes, uma vez que o formato é inteiramente digital.
30

O Programa encontra-se, atualmente, inativo. Um dos motivos é a


carência de artistas que se disponibilizem a criar desenhos e gráficos próprios
para o projeto. Ou seja, o projeto original parece não ter sido planejado para
abarcar a perspectiva da criação independente através da imaginação que não
fica restrita às técnicas e temas iniciais. Em outras palavras, acreditamos que
um projeto deve ser idealizado com a previsão de dar espaço para desenvolver-
se de maneira independente e com personalidade própria através do diálogo
entre o criador e seu público alvo.

3.2) Proposta Alternativa

O que propomos com esta obra é uma nova visão do fazer pedagógico
através de uma produção extremamente rica que foge aos padrões pré-
estabelecidos.
Os trabalhos que gostaríamos de ver nas salas de aula são aqueles que,
ao contrário dos que presenciamos e tivemos notícias, procuram potencializar
áreas de aprendizagem que não se prendam tanto na mera consolidação de
conteúdos disciplinares. Para tanto, sugerimos a utilização de materiais de
autores engajados na militância política e com visível consciência social. Por
isso, escolhemos como exemplo o quadrinista Laerte Coutinho.
Sua arte é concebida, na maioria das vezes, no formato de “tirinhas”, que
são literalmente tiras, faixas de sequência de quadrinhos em uma página,
quase sempre de jornal. Embora Laerte publique coletâneas dessas tiras em
livros periodicamente lançados até hoje pela Devir Editora.
O autor criou vários personagens em sua carreira, todos carregados com
muito humor sarcástico e com diversas referências políticas e literárias. Mais
adiante estão listados vários deles com suas principais características.
As metodologias que podem ser adotadas através da escolha deste tipo
de material vão variar de acordo com o tipo de aluno encontrado na sala. Ou
seja, entendemos que cada aluno é diferente do outro e merece ser respeitado
31

em sua individualidade. Outra coisa muito importante é a atenção que o


professor deve ter em fomentar a atividade em grupo, pois o trabalho com
quadrinhos demanda a junção de várias funções, como roteirista, desenhista,
coloridor, arte-finalista, etc. Isso faz com que os alunos se envolvam mais uns
com os outros.
Um ponto crucial é a forma de analisar a linguagem contida no material.
Os quadrinhos que propomos têm uma tônica que associam várias referências
a si e, portanto, merecem mais do que serem tratados como veículos de
informações escolares. Deve-se ter em mente que os discentes precisam
exercitar o hábito da pesquisa e da construção do conhecimento de forma
multidisciplinar. Por conseguinte, os currículos necessitam ser reavaliados,
quando se trata de trabalhar com projetos, ou seja, o fator tempo precisa ser
dissociado do resultado para evitar o mau uso dos recursos.
É preciso ficar atento, também, ao amadurecimento da imaginação da
criança e do adolescente. Porque ficar seletivo e ter mais perspectivas não
pode significar perder a criatividade e os seus simbolismos do que é real para
forjar o real12.
É lógico que o educador não deve ficar preso ao discurso político
apenas, no entanto deve procurar evidencia-lo nas obras utilizadas e identificar
outros pontos de igual importância, como a questão de gênero, divindade, bom
e mau, vida e morte, e suas apresentações nessas tiras.
A seguir estão listados os principais personagens de Laerte, suas
características e seus possíveis pontos de discussão no dia a dia escolar.

3.2.1) Personagens e Suas Utilizações.

OVERMAN13.

Este é a melhor representação do que é um herói moderno, pois, segundo


o próprio autor, enfrenta problemas comuns como todo mortal e falho sempre.

12
Para Postic, o imaginário constitui-se de representações simbólicas do real. Este conceito foi trabalhado
no capítulo primeiro do presente trabalho.
13
Ver imagem III nos anexos de imagens.
32

De acordo com ele, também, foi concebido com elementos de pessoas


“normais”. Sua comicidade fica por conta da obscuridade de sua origem e
eternas trapalhadas na resolução dos problemas. Ele é auxiliado por seu
companheiro de quarto Ésquilo (extraído da mitologia grega), que funciona
como sua consciência, satirizando o Robin do Batman. Como todo herói dos
quadrinhos, tem seus próprios vilões, porém diferentemente dos vilões
convencionais, são seres cômicos que tem nomes bem sugestivos: Capitalista
Imundo, que é uma criatura que, óbvio, só pensa em dinheiro; Maníaco
Flatulento, cuja forma de agressão principal são os gases que exala.

Esse tipo de personagem pode ser trabalhado na desconstrução do mito


do herói perfeito, por exemplo, pois traz vários conflitos que são comuns a
todos. As referencias que faz a outras leituras (seu uniforme, por exemplo, foi
uma homenagem ao antigo personagem Spaceghost, da Hanna-Barbera), e
seus adversários demonstram o tipo de critica social que o autor faz.

Os Gatos14.

São, na verdade uma família com três integrantes: o Gato, sua mulher a
Gata e seu filho Messias.
O macho tem uma personalidade influenciável e retrata um ser que tenta
ser profundo nas emoções, mas acaba refletindo uma superficialidade
disfarçada utilizando seu gosto musical. É mais ou menos um reflexo de como o
autor enxerga o gênero masculino moderno. Seu oposto é sua esposa, a Gata
que tem uma personalidade definida e está sempre enganando o Gato. Trata-
se, na verdade de uma fêmea independente, como define o próprio Laerte15:
“Ela é uma fêmea absoluta, acima das espécies e das estrelas”.
Já o filho do casal, é um gatinho inteligente e de imaginação fértil, muitas
vezes mais esperto que seu pai e bastante atualizado com o mundo a sua volta.
14
Ver imagem IV nos anexos de imagens.
15
Citação extraída feita pelo autor em seu site oficial: www2
http://www2.uol.com.br/laerte/personagens/gatos/, acessado no dia 8 de dezembro de 2013.
33

É possível despertar o interesse das crianças para um tipo de gosto


musical mais eclético que pode variar de musicas clássicas à MPB através da
análise dos diálogos dos textos que, constantemente, citam intérpretes e
canções que não são tão comuns a elas (como Beethoven e Luiz Melodia).
Os conflitos retratados nas histórias ajudam para que se entenda melhor
a relação homem – mulher e relativizar sempre as regras impostas pela
sociedade ao estabelecer os papéis de cada gênero de forma rígida. O
contrário pode ser pensado também, pois, saber o porquê dessas regras e
julgar se a realidade merece ser reformulada é válido, julgamos.

O Condomínio.

É, literalmente, um condomínio com todos os problemas e implicações


positivas e negativas do cotidiano de cada morador. Nele se concentram vários
personagens cada qual com suas manias e noções de realidade, porém, todos
com os mesmos desafios dos habitantes de uma cidade grande: sobreviver à
especulação imobiliária, à falta de segurança, alto custo de vida, convivência
mutua com pessoas de diferentes personalidades, etc.
A seguir, estão listados seus principais personagens com suas
respectivas características:

1- Hugo Baracchini

Ele é uma critica do homem (sexo masculino) moderno e seus conflitos


cotidianos. Laerte o coloca diante de questões que sempre trazem dúvidas e
inquietações como: sexo: ele (Hugo) já teve complexo por causa do tamanho de
seu pênis em uma das histórias; vida e morte: constantemente está diante de
conflitos internos e em uma das tiras já encontrou Deus, outro personagem de
34

Laerte. Pequenos problemas, também, já o fizeram perder a paciência: a


operação de seu computador, a relação com sua namorada Beth e reparos em
seu carro, são exemplos de confusões retratadas de forma bem humorada do
dia a dia de um homem atual.
Este personagem, que em suas tramas já sentiu até saudade da
ditadura, estreou nas páginas do caderno de informática da Folha de São
Paulo.
Com as situações hilárias de Hugo, os alunos podem aprender a se
relacionar melhor com as questões de um mundo em constantes
transformações, assunto que, na maioria das vezes, não é bem trabalhado
dentro da sala de aula.
Através desta criação de Laerte, os alunos, se orientados da forma
adequada, poderão ter a oportunidade de fazer uma releitura das tecnologias e
das comodidades que os cercam. Pois, entendemos, que nem sempre o fato de
possuirmos acesso às tecnologias, como no caso do microcomputador e do
automóvel, estas sejam essenciais à vida do homem. Esta ideia perpassa a
noção de consumismo, a qual o docente deve salientar como sendo uma
construção histórica.
Os conflitos internos de Hugo podem ser trabalhados como forma de
fazer com que os educandos despertem a capacidade de problematizar suas
situações cotidianas buscando identificar soluções simples para uma
convivência social mais harmoniosa.

2 – Zelador

Este é uma amostra do tipo popular de trabalhador, que é explorado por


seu chefe superior, não tem grandes perspectivas, mas vive sonhando com um
futuro milionário (ele sempre joga na loteria). Seu nome é desconhecido, e até
seus amigos o chamam de zelador, o que determina a visão crítica do autor,
pois não é raro que um trabalhador simples receba a alcunha da função que
desempenha. Ele é constantemente humilhado pelo sindico e acaba exercendo
atividades fora de suas atribuições sem remuneração maior.
35

Através desse, que consideramos um das maiores representações


artísticas de Laerte, no que diz respeito ao pensamento de Max Weber (apud
Mendonça, 2002) de que o homem busca a dominação do próprio homem pelo
desejo do poder, pode-se dialogar sobre estas relações e suas implicações na
realidade do adolescente. Este pode, tanto relativizar sua realidade quanto
melhorar a autoestima ao tratar de um assunto, que é uma questão delicada e
mal resolvida até para adultos: a mobilidade social.

3 - Síndico

Considera-se o “todo poderoso” do condomínio. Respeita sempre


aqueles que aparentam distinção, mesmo não a tendo de verdade, e os
militares fardados.
Ele está sempre explorando o Zelador com suas cobranças absurdas e
faz questão de usar sua condição para privilegiar-se, mesmo que tenha que
passar por cima das regras do condomínio, no entanto faz questão de frisar
para os mais simples que normas devem ser cumpridas custe o que custar.
Na leitura que fazemos deste personagem, reconhecemos a presença
marcante da fase militante do autor na época do Pasquim, pois o Sindico não
representa o militar no poder, mas o poder que os militares franqueavam aos
civis durante sua ditadura. Com a justificativa de estar exercendo uma função
que ninguém quer, o “sindico-ditador” faz-se de submisso para os poderosos e
tirano para os humildes, torcendo assim a realidade de acordo com sua
imaginação.
Tudo isso pode ser muito bem trabalhado no ambiente escolar para tratar
os impactos do regime militar na vida dos brasileiros até hoje e dos perigos da
atribuição de poder nas mãos de pessoas sem responsabilidade.

4 - Deus

É, como toda criação de Laerte, baseado no gênero humano. Mais como


uma projeção subjetiva do autor sobre o conceito de divindade, este
36

personagem se destaca dos demais por trazer elementos de fé, diferentes


crenças e um ponto de vista do funcionamento do mundo.
Para seu criador, ele não é onipotente, deixando tudo por conta da
metafísica e gastando seu tempo resolvendo problemas diferentes. Em suas
historias é possível assisti-lo jogando cartas com Buda ou criando porquinhos
da Índia ou, ainda discutindo com o Arcanjo Gabriel.
Este conceito do divino vai ao encontro do pensamento de tentar
materializar o sobrenatural, atitude muito frequente nas crianças e
adolescentes, que tentam trazer para o concreto aquilo que para a maioria das
pessoas só é aceito por meio da fé e para outros não passa de mito. É verdade
que sala de aula alguma dará conta de esgotar este assunto, na verdade
acreditamos que ninguém pode. Porém, deixar de aborda-lo é uma covardia
pedagógica sem razão.

5 - Piratas do Tietê

A obra que com certeza consagrou Laerte no cenário artístico e que lhe
rendeu algumas experiências fora das tirinhas – os Piratas viraram peça de
teatro (Piratas do Tietê, O Filme), revista periódica com histórias mais longas e
um projeto para um longa-metragem de desenho animado.
Nesta produção estão presentes piratas que saíram do mar e ancoraram
em pleno rio Tietê, passando assim a aterrorizar a capital paulista com saques,
assassinatos e todo tipo de desordem. Sob o comandado do Capitão e seu
contramestre Jack, eles são a personificação da sátira e da crítica à ordem
estabelecida, aceita por toda a sociedade sem nenhuma contestação. A forma
como o autor faz essa representação pode parecer, muitas vezes, grosseira,
mas deve ser entendida sob o ponto de vista de alguém que passou pela
repressão e, como forma de enfrentamento, usa o humor negro de forma
irreverente.
Então, quais elementos podem ser retirados destas obras?
Para um público mais maduro, acreditamos que seja a relação do
homem com a ordem social e os possíveis meios de enfrentamento na
37

construção de uma sociedade consciente, e não meramente reprodutora de


valores.
A estética do desenho pode parecer agressiva, porém, quantos meios de
comunicação se utilizam largamente da violência sem nenhuma avaliação
concreta? Se os Piratas são explicitamente sangrentos para, acreditamos,
denunciar uma sociedade apática, o que dizer, então, das surras gratuitas que o
Cebolinha ganha da Mônica com seu coelho Sansão?
É óbvio que para quem defende o Capitão e seus seguidores, as
praticas existentes nas historias da Mônica e sua turma não deveriam
representar violência alguma. Porém, o que acontece nos chamados
quadrinhos “ingênuos” é a exaltação de uma prática violenta velada, com a
justificativa de ser a representação do universo infantil. Em outras palavras,
violência não é permitido, mas sim o incentivo ao consumismo, retratando
sempre um conjunto de famílias de classe media numa cidade que nem em
sonhos tem a possibilidade de existir.
Se de um lado Mauricio de Sousa retrata o mundo dessa forma, por
outro Laerte chegou a representar de forma bem humorada a realidade de uma
casa de correção para menores infratores. Isso sim pode ser utilizado em sala
de aula como reflexão das instituições que temos e que queremos.

6 - Suriá, A menina de circo16.

É a representação da criança em seu estado perfeito, ou seja, Suriá é


uma criança de 9 anos de idade criativa, inteligente e forte, que vive num circo
onde trabalha como trapezista e lá ajuda a todos a enfrentarem seus
problemas. A personagem, que foi batizada com o nome da sobrinha do autor,
tem suas aventuras baseadas nas historias que Laerte contava para sua filha
Laila, e figura como a primeira voltada exclusivamente para o publico infantil,
mostrando com isso a versatilidade do autor em compor personagens
diferentes.

16
Ver imagem V nos anexos de imagens.
38

A menina é um dos raros personagens negros no mundo dos quadrinhos


- mérito e demérito para Laerte, pois, apesar dessa iniciativa, demorou muito
tempo para compor um personagem com estas características.
Com essa criança é possível trabalhar pontos interessantes com outras,
como o companheirismo, a vida em um grupo tão misto como é o circo, o
próprio fato de existirem poucos personagens negros no mundo dos
quadrinhos, afinal, Mauricio de Sousa criou o Pelezinho e depois o Ronaldinho,
porém, por que nunca houve uma criação sem o interesse unicamente do
marketing para suas revistas? Essa é uma questão que também pode ser
trabalhada em sala de aula.
Mas com a Suriá de Laerte, pode-se evidenciar também a presença de
uma heroína que conta apenas com sua simplicidade e sua imaginação. Outra
coisa igualmente importante é a presença dos elementos intertextuais que são
comuns em suas obras, como por exemplo, a cultura do circo e os elementos
que ele foi buscar para compor a personagem: o nome do leão (Daniel)17 que
faz clara alusão ao episódio narrado na Bíblia18, entre outros.
Esses foram apenas alguns dos personagens que o autor tem concebido
em sua consagrada carreira, e suas possíveis utilizações em sala de aula. É
claro que o professor tem, de acordo com sua interpretação, plenas condições
de retirar muito mais do que foi colocado aqui. Basta para isso, alimentar sua
imaginação desses elementos imagéticos que tornam qualquer criança capaz
de conceber um mundo maravilhoso de encanto e magia para, então,
representá-lo de maneira mais bela e mais feliz.

3.3) A comparação dos projetos e a ação supervisora.

Os projetos analisados têm diferentes recortes e, portanto, diferentes


objetivos. Não quer dizer que não sejam para o mesmo público alvo, muito pelo

17
Ver imagem VI nos anexos de imagens.
18
Conforme episódio narrado no livro de Daniel, capítulo 6, no Antigo Testamento, o profeta Daniel foi
sentenciado à morte pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor, sendo trancado em uma caverna habitada por
leões, que deveriam devorá-lo, mas, de acordo com a narrativa, Daniel saiu ileso no dia seguinte. (BÍBLIA
DE JERUSALÉM, 2002, pág: 1373 a 1375).
39

contrário, o direcionamento que cada um oferece à criança e ao adolescente


reforça o caráter multifacetado do trabalho com projetos de histórias em
quadrinhos, nos dando formas diferentes de enxergar resultados diferentes.
O primeiro que foi listado é o PINBA (pág. XX) que oferece a
possibilidade de utilização de cartilhas digitais da geografia e história da
Baixada Fluminense, com layout de quadrinhos para as séries finais do ensino
fundamental.
O outro projeto a ser descrito é o que decidimos colocar em prática e,
portanto, nos fizeram reconduzir o objeto de estudo na pós-graduação. Nessa
empreitada, procuramos trabalhar os diversos aspectos listados nos capítulos
anteriores para nortear nossa atuação. Ao ingressarmos no Município de
Petrópolis como docente dos anos iniciais, constatamos que a clientela
atendida na escola em que estava lotado (E. M. Governador Marcello Alencar,
bairro do Quitandinha) era carente de uma proposta que desse conta do
aprendizado de maneira efetiva e que os auxiliasse a apreender o cotidiano a
sua volta. Ao constatar essa realidade, compreendemos que estávamos diante
de uma oportunidade de “tirar do papel” o projeto que vinha sendo planejado de
ir além do mero aprendizado de conteúdos científicos consagrados pela
academia, mas sinalizar que é possível entender e se apoderar da consciência
de ser agente do próprio cotidiano e, portanto, ressignificar a realidade.
O primeiro passo foi fazer uma sondagem na turma para averiguar as
reais necessidades de aprendizagem. Ao propormos uma série de exercícios de
interpretação de imagens e textos literários, pudemos verificar que os alunos do
quinto ano do ensino fundamental estavam em defasagem em relação aos
conteúdos considerados como padrões para o ano de escolaridade. Além disso,
usamos questionários socioeconômicos de levantamento de dados para definir
o clima organizacional. Com o auxilio da supervisora educacional, que foi
fundamental para a possibilidade de implantação do projeto, pudemos traçar um
plano de ação que consistia na criação de uma oficina de quadrinhos para
auxiliar a aprendizagem.
Em primeira instância, o trabalho da supervisão parecia apenas de
orientar a distância e cobrar resultados práticos, mas, ao contrário, ajudou a
40

desenvolver o projeto e tabular os resultados que nortearam de fato para


implantarmos o projeto.
Foi a partir daí que começamos a repensar a atitude do supervisor
educacional como facilitador e parceiro muito valioso. Como o processo ainda
está na fase de organização e desenvolvimento inicial, o projeto conta com a
ajuda dos gestores da unidade escolar e vem se delineando sem a emergência
dos resultados. Suas inferências nos deram, até agora subsídios importantes
para refletir sobre a ação do supervisor educacional na implantação e gestão de
projetos.
De acordo com Libâneo (1999, pág. 59.), o supervisor moderno deve ter
em mente a implantação de projetos como meio ou ferramenta pedagógicas de
grande alcance para enfrentar as novas realidades dos processos educativos
nos diferentes espaços, escolares ou não. Desse modo, o autor pondera:

“Todos os educadores seriamente interessados nas ciências da


educação, entre elas a Pedagogia, precisam concentrar esforços em
propostas de intervenção pedagógica nas várias esferas do educativo
para enfrentamento dos desafios colocados pelas novas realidades do
mundo contemporâneo.”

Em termos organizacionais, aparentemente, o supervisor, ou pedagogo,


devem observar a prática da sala de aula e direcionar os esforços para que o
educando não tenha desperdício de energia nem corra o risco de pensar
sozinho, uma vez que a gestão de projetos se dá no coletivo e não é
propriedade privada nem do professor e nem da coordenação pedagógica.
Com estes princípios, pudemos repensar a atuação, pois o projeto se
delineou de maneira a atender a realidade que o supervisor da escola já havia
mapeado na época da construção do PPP (Projeto Político Pedagógico). Os
dados colhidos ali puderam nortear quanto às demandas da comunidade.
Desse modo, a ação integradora e bastante democrática no ambiente escolar
foi fundamental para essa empreitada.
Para comparar o PINBA com o projeto de nossa autoria, é necessário
pontuar algumas diferenças.
41

Primeiro, o projeto idealizado pela Universidade do Estado do Rio de


Janeiro (UERJ), no campus da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense
(FEBF), em Duque de Caxias, é uma iniciativa do curso de Licenciatura em
Geografia e contempla a formação de professores, portanto, destina-se a um
público com interesse na educação de alunos de diversos anos de
escolaridade.
Já o projeto que descrevemos anteriormente, em fase de implantação na
E. M. Governador Marcello Alencar, no município de Petrópolis, na região
serrana do Rio de Janeiro, destina-se a buscar métodos de orientação escolar
com base em oficinas de quadrinhos. Está formatado para atender os
educandos do 4º e 5º anos iniciais do ensino fundamental que, de acordo com o
levantamento das demandas educacionais, feito antes da implantação do
projeto, tem como principal objetivo a melhoria da qualidade de aprendizagem
dos alunos através do trabalho de produção dos próprios discentes.
Os dois projetos tem funções que desafiam a metodologia tradicional da
sala de aula. Os dois se propõem a desenvolver consciência crítica em relação
ao mundo em que vivemos e mudar o foco da aprendizagem dos alunos, uma
vez que os educandos estão em sintonia com o mundo dinâmico e repleto de
hipertextos que remetem a informações cada vez mais diversas.
O projeto PINBA está em constante remodelação e representa o esforço
de desenvolvimento de pesquisas direcionadas na área educacional. O projeto
da escola Marcello Alencar procura se consolidar sem que haja um tempo para
isso.
42

CONCLUSÃO

Apesar dessas propostas necessitarem de um aprofundamento maior, já


que estão em estágio inicial, na aplicação e averiguação dos resultados, todas
as ideias trabalhadas aqui podem suscitar bons resultados na prática docente.
Pois, valorizar o indivíduo em sua plenitude e alimentar sua imaginação com o
objetivo de fazer com que, através dela se torne um cidadão crítico, consciente
de seu papel de agente social, deve ser a finalidade do educador.
Mais do que fazer com que o aluno aprenda conteúdos, o respeito deve
permear sua consciência na hora de apresentar uma ferramenta tão rica quanto
os quadrinhos críticos.
Durante todo o trabalho foi possível perceber, e então afirmamos que
não existe limite temporal para o exercício da imaginação. A criação de
símbolos é inerente ao ser humano, não se restringindo somente ao período da
infância, mas abrangendo também o adulto indo para além da abstração, para a
construção da realidade através dos elementos imaginários que puderam dar
subsídios para essa ressignificação.
A prática dos quadrinhos em sala de aula não é nova. Portanto, estamos
apresentando uma proposta diferenciada de abordagem, que abarca temas
bem mais complexos que os trabalhados nos projetos já existentes.
Acreditamos positivamente na possibilidade de se colocar em prática tal
sugestão pedagógica, como forma de enriquecimento intelectual tanto do aluno
quanto do professor, fomentando assim, reflexões para que o tema seja tratado
com mais seriedade no futuro. E, para isso, defendemos a mediação com os
sujeitos da comunidade escolar, a saber: professor, aluno e o supervisor
educacional ou pedagógico. Sobre tudo a pessoa do supervisor torna-se
essencial uma vez que o educador precisa equacionar questões como currículo,
avaliações formais, material pedagógico e datas escolares.
43

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SURIÁ, A GAROTA DO CIRCO <http://www.devir.com.br> Acesso em 12 out.


2013.
47

ANEXOS

INDICE DOS ANEXOS

1) Breve Histórico do autor 47

2) Imagens 48
48

1) Breve Histórico do autor

Laerte Coutinho19I nasceu em São Paulo em 10 de junho de 1951,


concluiu o curso livre de desenho, em 1968, na Fundação Armando Álvares
Penteado, uma instituição filantrópica localizada em Higienópolis, São Paulo.
Mais tarde cursou música e jornalismo na USP, ambos até o terceiro ano sem
ter concluído nenhum deles.
Após trabalhar, no começo da carreira, em fanzines como o Sibila,
participou de diversas publicações das revistas O Balão, Isto É, Veja, dos
jornais O Pasquim, Folha de São Paulo, etc.
Por volta de 1978, criou a editora Oboré, que publicou a revista de
orientação para o setor de comunicação de sindicatos chamada “Ilustração
Sindical do Laerte”.
Em 1975 fez a coordenação de produção dos cartões de solidariedade
do movimento de auxílio aos presos políticos.
Em 1986, após outros trabalhos e várias coberturas de copas do mundo
pela Folha de São Paulo, começou a publicar a tira “Condomínio”, distribuída
pela FUNARTE, sob a gestão de Ziraldo. No ano seguinte, lançou a revista
Circo, pela editora homônima. Mesma editora que, mais tarde em1990, lançou a
revista “Pirata” com as tiras dos “Piratas do Tietê”.
Depois de ter seus personagens publicados em vários jornais em todo
país, a partir de 1995 publica regularmente livros20 com suas tiras pela editora
Devir e mantém seu site oficial pelo provedor UOL.

19
Ver imagem VII nos anexos de imagens.
20
Ver imagem VIII nos anexos de imagens.
49

2) Imagens

FIGURA I FIGURA II

FIGURA IV
FIGURA III
50

FIGURA V

FIGURA VI

FIGURA VII
(AUTO-RETRATO)

FIGURA VIII

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