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RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo analisar a prevalência de enteroparasitoses,


anemia e desnutrição energético-protéica e as suas correlações em meninas de 2 a
17 anos de idade, internalizadas em uma instituição localizada no município de
Marília (SP). Avaliou-se o estado nutricional pelas curvas da OMS/2006 e investigou-
se enteroparasitoses por meio de exames parasitológicos de fezes e para análise da
concentração de hemoglobina usou-se valores ≤ 11g/dL para se caracterizar o
estado da anemia, preconizado pela OMS. Com relação ao estado nutricional,
observou-se que 7,7% apresentavam desnutrição, 30,7% sobrepeso/excesso de
peso e 23% desnutrição/baixo peso/baixa estatura. A prevalência de parasitoses foi
de 38,46%, sendo encontrados Strongyloides stercoralis (23%), Hymenolepis nana
(8%), Entamoeba coli (8%) e Endolimax nana (8%). Já os indivíduos anêmicos
representam 8% da população estudada. Analisando os dados obtidos, não foi
possível concluir que houve correlação entre as enteroparasitoses, a anemia e o
estado nutricional nos indivíduos pesquisados.

1
ABSTRACT

This study aimed to examine the prevalence of intestinal parasites, anemia and
protein energy malnutrition and their correlations in girls 2-17 years of age,
internalized in an institution located in the city of Marília (SP). We evaluated the
niutritional status os the curves WHO/2006 and the intestinal parasites were
investigated by means of patasitological stool examinations and analysis of
hemoglobin concentration used ≤ 11 g/dL for characterizing the state of anemia, as
recommended by WHO. With respect to nutritional status, we found that 7.7% had
malnutrition, 30.7% overweight / overweight and 23% malnutrition / low weight /
height. The prevalence of parasitism was 38.46%, were found Strongyloides
stercoralis (23%), Hymenolepis nana (8%), Entamoeba coli (8%) and Endolimax
nana (8%). Yet individuals anemic 8% of the population studied. Analyzing the data
obtained, it was not possible to conclude that there was a correlation between
intestinal parasites, anemia and nutritional status in individuals surveyed.

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1. INTRODUÇÃO

As enteroparasitoses juntamente com as anemias, constituem um dos mais


sérios problemas de Saúde Pública no Brasil, principalmente pela sua correlação
com o grau de desnutrição das populações, afetando especialmente o
desenvolvimento físico e social de escolares. Crianças menores de cinco anos estão
entre os grupos mais vulneráveis a anemia, devido o aumento das necessidades de
ferro imposto pela expansão da massa celular e crescimento dos tecidos (ALMEIDA,
2007; FONTOURA et al., 2009; ANDRADE et al., 2010).

Uma das principais causas do desenvolvimento de anemia em crianças são


as doenças infecto-parasitárias, principalmente as enteroparasitoses, estas últimas,
doenças com alta prevalência nas comunidades mais desfavorecidas. Dados
fornecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam ainda que os
motivos para a proliferação das enteroparasitoses vão desde a ausência de
saneamento básico, clima quente, carência alimentar até a falta de informação
(ALMEIDA, 2007; FONTOURA et al., 2009; ANDRADE et al., 2010). )

A anemia é definida pela OMS como a condição na qual o conteúdo de


Hemoglobina do sangue está abaixo dos valores considerados normais para a
idade, o sexo, o estado fisiológico e a altitude, sem considerar a causa da
deficiência. O parâmetro usado para determinar a anemia é a dosagem de
hemoglobina cujos valores de referencia são: 13g/dL para homens, 12g/dL para
mulheres e crianças com idade entre 7 e 14 anos, e 11g/dL para gestantes e
crianças com idade inferior a 6 anos (QUEIROZ E TORRES, 2000; FERREIRA et al,
2002; CANTOS et al, 2003; ALMEIDA, 2007).

Dentre os fatores determinantes da anemia encontram-se as condições


socioeconômicas, as condições de assistência a saúde, o estado nutricional, a
presença de morbidades, o consumo alimentar e os fatores biológicos (QUEIROZ E
TORRES, 2000; FERREIRA et al, 2002; CANTOS et al, 2003; ALMEIDA, 2007).

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A causa mais comum, entretanto, é a anemia causada por deficiência de
ferro, denominada de anemia ferropriva (CANTOS et al., 2003; FONTOURA et al.,
2009). O ferro pode ser encontrado sob 2 formas: ferrosa (Fe++) e férrica (Fe+++) e
seu conteúdo corpóreo é de 3 a 5g, sendo que parte desempenha funções
metabólicas e oxidativas (70% a 80%) e outra encontra-se sob a forma de
armazenamento como ferritina e hemossiderina no fígado, baço e medula óssea
(20% a 30%). Mais de 65% do ferro corporal encontra-se na hemoglobina, cuja
principal função é o transporte de oxigênio e gás carbônico. Na hemoglobina, um
átomo de ferro divalente encontra-se no centro do núcleo tetrapirrólico (protoporfirina
IX), formando-se o núcleo heme. O ferro, portanto, é indispensável na formação da
hemoglobina (QUEIROZ E TORRES, 2000).

No Brasil, a anemia ferropriva constitui um importante problema de saúde


pública, em face da prevalência nacional, atingindo 50% dos menores de 2 anos e
35% das gestantes (QUEIROZ E TORRES, 2000; CANTOS et al., 2003; ALMEIDA,
2007).

Em crianças de idade escolar, a presença de doenças parasitárias costuma


determinar o aparecimento de anemia ferropriva, principalmente as que provocam
perdas sanguíneas crônicas (RODRIGUES, 1997; QUEIROZ E TORRES, 2000;
CANTOS et al., 2003; ALMEIDA, 2007).

Entre os determinantes desse tipo de anemia estão certos parasitas


intestinais, que podem reduzir em até 20% o ferro ingerido na dieta, sendo que a
causa orgânica imediata é a deficiência de ferro circulante. Na ancilostomose, a
anemia é causada pelo intenso hematofagismo exercido pelos vermes adultos de
Necator americanus e Ancylostoma duodenale, sendo que o primeiro suga de 0,1
mL a 0,4 mL sangue/dia, enquanto o segundo, 0,03 mL a 0,05 mL sangue/dia. Essa
espoliação, associada à deficiência nutricional, irá levar às manifestações que
caracterizam a anemia ferropriva. O Trichuris trichiura pode danificar a mucosa do
intestino delgado, se alimentando do sangue presente. Em infecções maciças, pode
provocar anemia, com grande perda de hemoglobina. Na ascaridíase e na
estrongiloidíase, a anemia geralmente é de ordem secundária, ocasionada pelas
hemorragias, que podem ser produzidas pelas larvas de Strongyloides stercoralis e
Ascaris lumbricoides em trânsito dos capilares para os alvéolos. Na estrongiloidíase,

4
esse quadro pode ser reforçado pelos pontos hemorrágicos que têm possibilidade
de surgir no intestino devido à penetração do S. stercoralis na submucosa do
intestino delgado (COSTA-MACEDO et al., 1998; CANTOS et al., 2003; NEVES,
2005; BARNABÉ et al., 2008; BISCEGLI et al., 2009).

Freqüentemente essas parasitoses afetam o estado nutricional nas diversas


etapas do ciclo vital, através da redução da ingestão alimentar, má digestão e má
absorção (FERREIRA et al., 2002 e 2006; BISCEGLI et al., 2009).

Essa deficiência nutricional, normalmente, é a protéico-calórica, que ocasiona


retardo na velocidade de crescimento. Exames clínicos e bioquímicos, que são
geralmente os procedimentos de escolha para o diagnóstico de deficiência de
micronutrientes (ferro, iodo, vitamina A, entre outros), não apresentam a mesma
utilidade quando relacionados à deficiência de proteínas e calorias, quanto o
diagnóstico apresentado pelas técnicas antropométricas. (20)

A antropometria é um importante método diagnóstico, fornecendo estimativa


de prevalência e gravidade das alterações nutricionais, mesmo quando restrita ao
peso e estatura. Isso se deve à sua facilidade de realização, objetividade da medida
e possibilidade de comparação com um padrão de referência de manuseio
relativamente simples (NEVES, 2005; MACHADO et al., 2008; PINHO et al., 2010).

Espera-se que este estudo a respeito do tema contribua para a análise da


prevalência de enteroparasitoses, anemia e desnutrição energético-protéica e as
suas correlações em indivíduos de 2 a 17 anos de idade internalizadas em uma
instituição localizada no município Marília (SP).

5
2. MATERIAIS E MÉTODOS

No período entre agosto e setembro de 2010, foram analisadas 13 amostras


de sangue e fezes de indivíduos do sexo feminino, na faixa etária de 3 a 17 anos de
idade abrigadas na Instituição Lar das Meninas “Amélie Boudet”, localizado no bairro
Parque São Jorge, no município de Marília (SP).

Durante o desenvolvimento do presente trabalho foi realizada visita à


instituição com o objetivo de analisar as condições ambientais e dados
socioeconômicos, através de observação direta e entrevista com a responsável pelo
local.

2.1. COLETA DAS AMOSTRAS

Antes de iniciar as coletas foi realizada uma entrevista com o responsável da


instituição para obtenção de dados de cada individuo, como: nome, idade, e se
faziam uso de alguma medicação.

As amostras de fezes foram coletadas em frascos coletores com tampa de


rosca, previamente identificados com nome, idade e sexo do individuo, entregues à
instituição após orientação de como proceder à coleta. O material foi mantido sob
refrigeração (4° C) e encaminhado para análise.

A coleta de sangue foi realizada utilizando agulha e seringa de 5 mL estéril e


descartável, com jejum de 3 horas antes da coleta. Foram coletados 5 mL de sangue
venoso, sendo 3 mL em tubo seco e 2 mL em tubo com EDTA. Os tubos foram
previamente identificados com o nome, idade e sexo do individuo.

2.2. PROCESSAMENTO E ANÁLISE DAS AMOSTRAS

O exame coproparasitológico foi realizado pelos métodos de centrífugo–


sedimentação em formalina e acetato de etila (método de Ritchie) e de centrífugo-

6
flutuação em solução saturada de sulfato de zinco (método de Faust) (DE CARLI,
2005).

A análise dos índices hematimétricos foi realizada em um sistema


automatizado KX SYSMEX®, com confirmação em lâmina.

Já a análise bioquímica para dosagem de ferro sérico utilizou o método


colorimétrico semi-automatizado (BIOPLUS®).

As amostras de sangue e fezes foram analisadas no Laboratório de Análises


Clínicas da Universidade de Marília (Marília – SP).

2.3. AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA

Para avaliação antropométrica foi utilizado o padrão da Organização Mundial da


Saúde (OMS) de 2006, avaliando-se peso, estatura e taxa de gordura corporal.

As crianças foram pesadas em balança digital portátil da marca Plena com


capacidade de 150 kg e precisão de 1 kg. Para a medida de estatura utilizou-se uma
fita métrica fixada em uma parede onde as crianças foram medidas descalças em
posição vertical. Já a taxa de gordura corporal foi aferida com o auxílio do
adipômetro.

O estado nutricional foi avaliado a partir de indicadores antropométricos: peso


para altura (P/A), peso para idade (P/I) e altura para idade (A/I), além de índice de
massa corpórea (IMC) segundo sexo e faixa etária, circunferência braquial (CB) e
prega cutânea triciptal (PCT).

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com relação às instalações físicas da instituição, foi constatado que o local


apresentava boas condições de higiene e saneamento básico além de dispor de
uma infra-estrutura de fornecimento de água própria (poço artesiano). Observou-se
que os funcionários eram instruídos nas boas práticas de manipulação de alimentos,
diminuindo os riscos dessa forma de contaminação.

Os exames coproparasitológicos mostraram-se positivos em cinco das 13


amostras analisadas (38,5%). Dentre os casos positivos, três indivíduos (60%)
estavam parasitados por Strongyloides stercoralis, um indivíduo (20%) por
Hymenolepis nana e um indivíduo (20%) apresentava parasitose mista por
Entamoeba coli e Endolimax nana (Figura 01).

Figura 01: Taxa de prevalência de enteroparasitas em meninas institucionalizadas


do Lar de Meninas “Amelie Boudet”, Marília (SP).

23% Strongyloides stercoralis

8% Hymenolepis nana
61%
8%
Endolimaxnana - Entamoeba coli

Nenhum

No exame hematológico observou-se a ocorrência de alterações na série


eritrocítica (anisocitose, hipocromia ou poiquilocitose) em três indivíduos, o que
corresponde a 23,1% do total de análises. Quanto à série leucocitária, dois
indivíduos (15,4%) apresentaram alterações (eosinofilia). (Tabela 01).

8
Tabela 01. Resultados das análises hematológicas em meninas institucionalizadas do Lar de Meninas “Amelie Boudet”, Marília (SP).

Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

ERITROGRAMA
eritrócitos (mm³) (VR: 4,0-5,4) 4,53 4,43 4,32 4,52 4,79 4,14 5,20 4,30 4,46 4,31 4,56 4,61 4,65
hemoglobina (g/dL) (VR: 12,0-16,0) 12,8 12,4 12,6 13,5 13,8 12,6 12,2 13,0 11,1 13,1 12,6 14,1 14,3
hematócrito (%) (VR: 36-49) 38,5 37,1 38,1 38,2 42,3 38,3 37,3 39,5 33,8 38,4 36,9 42,2 42,2
VCM (fL) (VR: 80-96) 84,8 83,0 88,2 84,4 88,2 92,5 71,8 91,8 75,7 89,2 91,2 91,5 90,8
HCM (pg) (VR: 27-32) 28,3 28,0 29,2 29,9 28,7 30,6 23,4 30,1 25,0 30,4 31,2 30,5 30,8
CHCM (%) (VR: 32-36) 33,4 33,5 33,3 35,5 32,5 33,0 32,6 32,8 33,0 34,1 34,2 33,3 33,9
RDW (%) (VR: 11-14) 15,2 16,6 14,7 17,4 15,6 14,8 17,1 15,7 16,7 15,3 - 15,7 15,1

LEUCOGRAMA
leucócitos totais / mm3 (VR: 10.000) 12.400 14.300 13.500 6.600 7.200 8.200 7.600 4.800 4.000 8.000 4.600 6.700 6.600
Blastos (VR: 0) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Promielócitos (VR:0) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Mielócitos (VR: 0) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Metamielócitos (VR: 0-1%) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
n. bastonetes (VR: 0-3%) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
n. segmentado (VR: 50-63%) 43 51 50 65 33 44 31 50 49 54 40 61 57
n. totais (VR: 50-66%) 43 51 50 65 33 44 31 50 49 54 40 61 57
Eosinófilos (VR: 1-4%) 2 3 17 1 20 3 30 1 2 3 3 1 1
Basófilos (VR: 0-1%) 1 1 0 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1
linfócitos típicos (VR: 20-33%) 50 39 30 30 41 47 34 46 40 34 49 32 34
linfócitos atípicos (VR: 0) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Monócitos (VR: 2-8%) 4 6 3 3 5 5 4 3 8 8 7 5 7

PLAQUETAS (mm³)
402.000 346.000 306.000 314.000 300.000 333.000 153.000 386.000 262.000 313.000 - 214.000 171.000
(VR 140.000 – 400.000)

9
A dosagem de ferro sérico não indicou alteração em nenhum dos indivíduos
analisados (Tabela 02).

Tabela 02. Dosagem de ferro sérico em meninas institucionalizadas do Lar de Meninas


“Amelie Boudet”, Marília (SP).

Amostra Ferro Sérico


(VR: 50 – 150 ug/dL)
1 59
2 60
3 75
4 82
5 81
6 98
7 80
8 112
9 108
10 108
11 96
12 116
13 145

O diagnóstico nutricional mostrou grande heterogenicidade em relação ao


estado nutricional do grupo estudado, desde desnutridos até indivíduos com excesso
de peso (Tabela 03 e Figura 02).

10
Tabela 03. Índices antropométricos observados em meninas institucionalizadas do
Lar de Meninas “Amelie Boudet”, Marília (SP).

indivíduo peso (Kg) estatura (cm) IMC (Kg/m²) CB (cm) PCT (mm)
1 11 92,5 12,9 14 -
2 16,1 102 15,5 6,5 08
3 24,3 120 16,9 18,5 10
4 28 131 16,4 18,5 11
5 32 137 17,1 19 08
6 47,1 138 24,8 27 18
7 19,6 146 9,2 27 27
8 44,9 151 19,6 27 18
9 49 161,5 18,9 21,5 10
10 57,6 157 23,4 30,5 24
11 48 151 21 23,5 12
12 54,1 146 25,4 29 28
13 65 158,5 26 30,5 29
IMC = índice de Massa Corporal; CB = circunferência braquial; PCT = prega cutânea triciptal

12

10

6
n
s
çdm
N
ú
ro
ia
ce

0
Estatura para idade Peso para idade IMC para idade
Abaixo do indicado 2 3 2
Adequado 11 6 7
Acimado indicado 0 4 4

Figura 02: Avaliação antropométrica em meninas institucionalizadas do lar de


Meninas “Amelie Boudet”, Marília (SP).

11
Observou-se que duas das três meninas parasitadas (66,7%) por S.
stercoralis apresentavam-se desnutridas ou abaixo do peso, enquanto aquelas
infectadas por outros parasitas, isso não se observou (Figura 03).

1 1 1

0 0 0 0 0

Desnutrição/Baixo peso Eutrof ia Sobrepeso/Excesso de


peso

Strongyloides stercoralis Entamoeba coli -Endolimax nana Hymenolepis nana

Figura 03: Relação observada entre os portadores de enteroparasitas e seus estados


nutricionais, em meninas institucionalizadas do Lar de Meninas “Amelie
Boudet”, Marília (SP).

Os resultados dos exames coproparasitológico, hematológico e bioquímico


estão representados na Tabela 04.

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Tabela 4: Resultados obtidos nas análises antropométricas, coproparasitológica e
hematológica em meninas internalizadas no Lar de meninas “Amelie
Boudet”, Marília (SP).

Indivíduo Idade Avaliação Diagnóstico Hemograma


Nutricional parasitológico
Strongyloides
1 3 a. Baixo peso Normal
stercoralis
2 4 a. Eutrofia/ normalidade Negativo Leve microcitose
Eutrofia/
Strongyloides Linfocitose
3 8 a. normalidade.
stercoralis Eosinofilia
Estatura baixa
4 8 a. Eutrofia/ normalidade Negativo* Leve microcitose
Neutropenia
5 9 a. Eutrofia/ normalidade Negativo
Eosinofilia
6 9 a. Excesso de peso Hymenolepis nana Normal
Discreta anisocitose,
Strongyloides discreta microcitose
7 9 a. Desnutrição
stercoralis e leve hipocromia.
Eosinofilia intensa
8 11 a. Normalidade Negativo Normal
Discreta microcitose
e hipocromia
9 11 a. Eutrofia/ normalidade Negativo
Raros eliptócitos e
dacriócitos
Sobrepeso
10 14 a. Negativo Normal

11 14 a. Eutrofia/ normalidade Negativo Normal


Entamoeba coli /
12 16 a. Sobrepeso Normal
Endolimax nana
13 17 a. Sobrepeso Negativo Normal

13
A ocorrência de enteroparasitas na população estudada pode ser, em parte,
atribuída às precárias condições de saneamento básico, segundo BARÇANTE et al.
(2008) e MACEDO et al. (1998). Na análise realizada, a Instituição apresenta
condições adequadas de moradia, higiene, saneamento básico, alimentação
balanceada, além de profissionais devidamente capacitados. Contudo, os indivíduos
internalizados permanecem na Instituição em período integral de segunda à sexta-
feira, sendo que dentre os treze residentes, uma freqüenta creche no período da
tarde, dez freqüentam uma instituição pública de ensino e duas trabalham no
período da tarde e estudam a noite. E aos finais de semana todas realizam visita aos
familiares.

No presente estudo não foram avaliadas as situações em que vivem as


famílias, portanto a relação entre o acometimento de enteroparasitoses nas análises
realizadas e a origem das infecções não pode ser determinada.

Os resultados deste trabalho apontaram positividade para os protozoários e


helmintos: Entamoeba coli, Endolimax nana, Hymenolepis nana e Strongyloides
stercoralis. A presença dos protozoários intestinais comensais E. coli e E. nana não
constitui agravo à saúde, porém indica contaminação por via fecal-oral, estando os
sujeitos suscetíveis à aquisição de patógenos (KUNZ et al., 2008).

As infecções por protozoários na população estudada podem estar


relacionada ao estreito relacionamento de crianças portadoras com crianças
suscetíveis no ambiente coletivo das creches ou no próprio peridomicilio. As
crianças usuárias de creches têm um maior contato íntimo entre si, o que favorece a
transmissão pessoa – pessoa. Além do hábito de brincar na terra e levar a mão na
boca, de acordo com BARÇANTE et al. (2008) e ANDRADE et al. (2010).

ANDRADE et al. (2010) ressalta que a estrongiloidíase é uma parasitose


causada pelo Strongyloides stercoralis, endêmica em países tropicais ou com
saneamento básico precário. Existem três formas de infecção: hetero ou
primoinfecção (quando as larvas presentes no solo penetram na pele), a
autoinfecção interna (penetração das larvas na mucosa intestinal de indivíduos
infectados, cronificando a doença por vários meses ou anos) e a autoinfecção
externa (as larvas penetram na pele da região perianal). ROSA et al. (2009) relata

14
que o costume das crianças andarem descalças e não possuírem hábitos corretos
de higiene favorece a infecção por este helminto.

Dentre os resultados positivos, 60% eram para Strongyloides stercoralis,


sendo que destes, 66,7% apresentaram eosinofilia. Os eosinófilos são capazes de
fagocitar bactérias ou qualquer outro material estranho. No entanto, a sua principal
função não é a fagocitose, mas sim a exocitose da PBM (proteína básica maior), que
e tóxica para parasitos, causando a sua morte. Os parasitos estimulam a população
de linfócito T-helper a produzir interleucina 4 (IL-4) e interleucina 5 (IL-5). A IL-4
promove aumento de IgE, que se liga a superfície do parasito. A IL-5 ativa os
eosinófilos, que se ligam ao imunocomplexo e secretam grânulos com componentes
enzimáticos.

A relação entre eosinofilia e protozoários é pouco descrita na literatura


cientifica. É importante assinalar que nem todos os parasitos intestinais,
principalmente aqueles que estão na luz do intestino, são capazes de induzir
eosinofilia, entretanto e pronunciada quando há invasão tecidual (MELO-REIS et al.,
2007).

Mesmo o parasitismo estando presente, não foi encontrado associação entre


anemia e parasitose, provavelmente devido à ausência de ancilostomose nas
crianças, parasitose mais envolvida na etiopatogenia da anemia ferropriva
(FONTOURA et al., 2009 ; ALMEIDA et al., 2007).

A análise dos dados antropométricos dos indivíduos da instituição Lar das


Meninas “Amélie Boudet” revelou que a maioria delas apresentou-se eutrófica e que
a obesidade prevaleceu sobre a desnutrição. Resultados semelhantes foram
observados em outro estudo que evidenciou um aumento da obesidade em todas as
camadas da população, mas, principalmente, em famílias de menor poder aquisitivo.

Um dos indivíduos do estudo encontrava-se desnutrido e com infecção


concomitante por S. stercoralis podendo estar relacionada à patogênese do
enteroparasita, visto que os demais indivíduos analisados encontravam-se em
padrões nutricionais considerados normais.

15
4. CONCLUSÃO

No trabalho não houve associação clara entre anemia observada e infecção


por enteroparasitas, mas mostrou que as crianças que tinham parasitoses
apresentavam pior estado nutricional que aquelas cujos exames estavam negativos.
Isso nos sugere que as parasitoses têm importância secundária na etiologia da
anemia ferropriva.

16
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ALMEIDA, J. L. V. Prevalência de Anemia Ferropriva Associada a Fatores de


Risco em Pré-Escolares da Creche Cantinho do Fiorello no Município de
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2. ANDRADE, E. C. et al. Parasitoses Intestinais: Uma Revisão sobre seus


Aspectos Sociais, Epidemiológicos, Clínicos e Terapêuticos. Revista APS,
Juiz de Fora, v. 13 n. 2, p. 231-240, 2010.

BARÇANTE, T.A. et al. Enteroparasitos em Crianças Matriculadas em Creches


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3. BARNABÉ, A. S. et al. Parasitose Intestinais em Crianças de uma Creche em


Santo André e em uma Unidade Básica de Saúde em Mauá. Saúde coletiva,
v.5, n.20, p.57 - 60, 2008.

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em Crianças Matriculadas em Creche. Revista Paulista de Pediatria, v.27 n. 3,
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