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FICHA DE TRABALHO

ANO LETIVO: 2020 /2021


Ciências Naturais 7º Ano

Aluno (a): ________________________________________ Nº _________ Data: __ /__ /__

Lisboa, 1755
O Portugal do século XVII devia ao mar a sua
grandeza. Graças às viagens aventureiras, ao
longo da costa atlântica de África, promovidas
pelo Infante D. Henrique, o Navegador, a
passagem do cabo da Boa Esperança por
Bartolomeu Dias em 1488, a abertura do caminho
marítimo para a Índia por Vasco da Gama e a
“descoberta” do Brasil por Pedro Álvares Cabral
em 1500, pelo ano do Senhor de 1750, o pequeno
reino de Portugal tinha-se tornado um império,
estendendo-se desde a África às Américas e à
Ásia.
Livre do jugo espanhol e dos invasores mouros,
Portugal era uma monarquia absoluta governada
pelo débil rei D. José I, dirigida de facto pelo
progressista, ainda que brutal, ditador Marquês de
Pombal, que tinha lutado com sucesso contra a
nobreza, abolido as Cortes e enfrentado a
influência da Igreja Católica, representada pelos
poderosos Jesuítas.
Por volta das 9:30 da manhã, a sudoeste do Cabo
Lisboa, a capital do reino e um dos centros
de São Vicente (Banco de Gorringe), a tensão
comerciais mais importantes da Europa, era uma
acumulada durante séculos num setor da cintura
encantadora cidade com 275 mil habitantes onde
alpina foi bruscamente libertada e, partindo de um
magníficos palácios da nobreza confinavam com
ponto abaixo da superfície da Terra, chamado
igrejas e mosteiros, mais numerosos que em
foco, três grandes ondas de choque irradiaram em
qualquer outra cidade europeia, com possível
rápida sucessão, demolindo muitas casas na zona
exceção de Roma.
baixa da cidade. A cúpula da catedral foi destruída
Alfama, o velho bairro da cidade, de origens e o teto e o campanário arderam a seguir, ficando
romanas e mouriscas, elevava-se em socalcos de pé apenas o coro e a fachada. Uma igreja
pelas encostas das colinas a leste e estava pejado gótica, a venerada Igreja do Carmo, erigida no
de casas modestas, dispostas ao longo de século XIV, sofreu danos terríveis; só a abside, os
íngremes e sinuosos becos. O aspeto mais pilares das naves laterais e as paredes exteriores
característico da cidade era – e ainda é – a colina ficaram de pé. Toda a cidade se tornou, num
rochosa circundada pelo castelo de S. Jorge, uma instante, numa ruína.
cidadela mourisca.
Minutos passados, o tremor fez-se sentir em Fez,
A cidade, cujo antigo nome, Olissipo, faz alusão a Argel, Madrid e Estrasburgo, enquanto as notícias
uma cidade mítica fundada por Ulisses, não era levaram quase duas semanas a chegar a Londres.
estranha a tremores de Terra. Não obstante, O tremor foi tão poderoso que as águas do lago
embora a Sé Patriarcal, fundada em 1150 por D. Lomond, na Escócia, subiram e desceram quase 1
Afonso Henriques, tivesse sido destruída por um m e as dos lagos nos planaltos dos Alpes
tremor de terra e reconstruída em 1380, os agitaram-se, baloiçando para trás e para diante, no
habitantes de Lisboa não estavam preparados para que é chamado uma seicha. E Lisboa, como se
os acontecimentos que se desenrolaram no dia 1 não tivesse sido suficientemente castigada, sofreu
de novembro de 1755, Dia de Todos os Santos. duas réplicas devastadoras.

1
Finalmente, ao meio-dia de 1 de novembro,
quando uma nuvem de pó cobriu a cidade em
ruínas e transformou a manhã brilhante numa
tarde tenebrosa, um último abalo atingiu a parte
norte da cidade e, pouco depois, irromperam
fogos por todo o lado. O palácio real, o
recentemente concluído edifício da ópera e a
magnificente Sé Catedral (que, ainda que
danificada, tinha sobrevivido ao tremor de terra)
foram consumidos pelo fogo.
Nos terríveis tempos que se seguiram (no ano
seguinte foram mais de 500 as réplicas sentidas),
A seicha é uma onda estacionária que se desenvolve, por
vezes, em corpos hídricos confinados (bacias portuárias,
um homem usou os seus poderes para devolver a
estuários, lagos, baías, mares, albufeiras, etc.). As seichas sanidade mental aos cidadãos lisboetas; o
podem ser provocadas por sismos. Marquês de Pombal queria os edifícios
reconstruídos e os mortos enterrados antes que a
Por volta das 10 da manhã, o mar recuou, peste se instalasse. Impassível perante o desastre,
deixando a descoberto um monte de areia à ele alimentava um sonho: ver a cidade
entrada do estuário, mas regressou sobre a forma reconstruída segundo um plano mais magnificente
de um tsunami, uma onda de 12 m de altura que que o da capital destruída. Era um ditador brutal e
subiu pelo estuário, submergindo os cais e admitia que nada podia acontecer no mundo sem a
afundando todos os barcos fundeados no Tejo. As vontade de Deus, mas também acreditava que o
águas do rio precipitaram-se então para o porto de tremor de terra não tinha sido um castigo divino,
Lisboa em três vagas sucessivas, arremessando mas antes um fenómeno natural e que aquele era o
para terra os barcos ancorados, destruindo as tempo para construir e não para ouvir os profetas
docas e arrasando os principais edifícios da da desgraça. A porta para o estudo científico dos
principal praça da cidade, o Terreiro do Paço. tremores de terra, a sismologia, tinha sido aberta
Grandes ondas do tsunami continuaram o seu por este homem odiado mas extraordinário. Em
movimento de fluxo e refluxo durante dois dias, poucas décadas, Lisboa ficou reconstruída.
deslocando-se em todos os sentidos no Atlântico e
atingindo, a norte, a Holanda, com 3 m de altura, Mathys Levy, Porque Treme a Terra
e a ocidente, com 4 m, as ilhas tão distantes de
Antígua e Martinica, nas Caraíbas.

1. Refere qual o assunto do texto. _________________________________


2. Situa, no tempo e no espaço, o sismo, referindo:
2.1. o século em que ocorreu. _______________________________________________
2.2. quem governava Portugal nessa altura. _______________________________________________
2.3. o local de Lisboa onde o primeiro tremor foi sentido. ____________________________________

3. Refere se o sismo teve origem em terra ou no mar. Justifica a tua resposta com uma frase do texto.

4. Transcreve dois excertos que descrevam:


4.1. uma réplica.

4.2. um tsunami.

5. Refere quem ordenou a reconstrução de Lisboa.

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